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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE
VITÓRIA - EMESCAM
GABRIELA LOUISE CALDAS KOENE
VÍTIMAS DE QUEIMADURAS: CONCEPÇÕES SOBRE O TRABALHO DE
ENFERMAGEM NA PERSPECTIVA DE PACIENTES E PROFISSIONAIS
VITÓRIA, ES
2018
GABRIELA LOUISE CALDAS KOENE
VÍTIMAS DE QUEIMADURAS: CONCEPÇÕES SOBRE O TRABALHO DE
ENFERMAGEM NA PERSPECTIVA DE PACIENTES E PROFISSIONAIS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado a Escola Superior de Ciências
da Santa Casa de Misericórdia de Vitória -
EMESCAM, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Enfermagem.
Orientador (a): Profa. Dra. Italla Maria
Pinheiro Bezerra.
VITÓRIA, ES
2018
Aos meus mestres, que contribuíram
enormemente para o ser humano que me
tornei, muito mais crítico e racional e ao
mesmo tempo humano e zeloso!
AGRADECIMENTOS
Sempre em primeiro lugar serei grata a Deus, por permitir que eu nascesse em uma
família que me norteou a buscar sempre os melhores e mais dignos caminhos a trilhar, por eu
ter chegado até aqui com a ajuda de tantos que já passaram e ainda estão na minha vida e por
consentir a cada dia minha aproximação e aprendizado com os meus semelhantes, exercendo o
cuidado humano com sabedoria, amor e integridade.
A minha mãe Sandra, o meu amor incondicional, que foi a minha guia e inspiração para
que eu pudesse hoje estar onde estou! Que me conhece mais até do que eu mesma e me auxilia
e luta comigo em todos os momentos. Não consigo imaginar minha vida sem você. Obrigada
pela motivação e por acreditar tanto em mim, obrigada por ser o exemplo de mulher de valores
que tanto batalho para seguir! Eu te amo!
A minha irmã Anna Clara, que me ensina todos os dias a simplicidade e pureza da vida,
com seu carisma e luz inexplicáveis! Se existe no mundo uma pessoa de alma doce, indulgente
e cheia de esperança frente a qualquer reveze da vida, ela é você! Obrigada por me inspirar! A
irmã te ama muito!
Aos meus avós, Hilma e à memória de Durval, pessoas ímpares que sempre se
dedicaram a mim desde que nasci e desejaram um futuro promissor fazendo os sacríficos que
fossem necessários em nome disso. Sem vocês haveria um grande vazio em mim e certamente
aqui não estaria. Muito obrigada por tudo, a vocês dedico eternamente o meu amor de neta!
Ao meu companheiro e amigo que divide e almeja tantos planos comigo, Apóstolos,
que me apoiou, ajudou e incentivou na realização desse projeto, sempre acreditando no meu
potencial e suportando meus momentos mais cansativos e difíceis com muita paciência. Que
possamos continuar crescendo juntos, buscando os conhecimentos que sabemos precisar para
sermos seres ainda melhores. Amo você!
A minha orientadora Prof. Dra. Italla, que aceitou de prontidão me acompanhar no
desenvolvimento de um trabalho tão importante, mesmo sabendo dos meus horários nada
flexíveis. Que foi paciente e acreditou mesmo com meus atrasos que eu poderia chegar na
conclusão do projeto. Obrigada pelo exemplo de enfermeira multifacetada que você se tornou
para mim: inteligente, humana, íntegra, ética, responsável, dedicada e além de exímia
profissional é mãe que se esforça por educar e cuidar de sua pequena a todo custo. Posso não
ser uma de suas alunas mais comunicativas e presentes, mas saiba que em meu íntimo eu lhe
enxergo exatamente assim. Serei eternamente grata a você!
Aos que contribuíram com o meu projeto: enfermeiros e pacientes dos centros de
tratamento de queimados que visitei, meu muito obrigada! Quando idealizei essa pesquisa, eu
sabia que teria muito a aprender com todos vocês. Saibam que foram provedores de
conhecimentos excepcionais para minha formação.
Aos meus amigos, em especial a duas que estimei e amei desde o começo disso tudo:
Natália e Maria Júlia! E como se não bastasse duas amizades lindas, Deus me concedeu com
mais oito de mesma intensidade e amor: Christiane, Gleice, Jamilly, Ana Paula, Anne Kelly,
Lucas, Mara e Rose! Muito obrigada por tudo! Que sejamos enfermeiros competentes e
humanos como aprendemos juntos na academia!
E por último, mas não menos importante, ao meu cachorro Argos! Que ficou
literalmente do meu lado enquanto eu estudava e dissertava meu estudo mesmo nas
madrugadas, demonstrando ser como sempre, meu melhor amigo!
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma
humana seja apenas outra alma humana”
Carl G. Jung
RESUMO
INTRODUÇÃO: Diversos agentes podem acarretar o detrimento da pele, e os que são capazes
de produzir calor excessivo a ponto de danificar tecidos e morte celular são os causadores da
queimadura. A equipe de enfermagem é considerada fundamental no cuidado aos pacientes
vítimas de queimaduras, tendo em vista sua aproximação frequente a estes no processo
assistencial. De acordo com a literatura, ainda existem lacunas pertinentes a ação da equipe de
enfermagem nos centros de tratamento de queimados: dificuldade no gerenciamento da dor
aguda; falta de formação e atualização; equipe totalmente tecnicista; falta de preocupação para
identificar os problemas do paciente e solucioná-los; não aplicabilidade dos processos de
enfermagem; desgaste físico, mental e emocional oriundos da complicada convivência com o
sofrimento alheio, a responsabilidade solicitada e a dificuldade em ser imparcial do profissional.
OBJETIVO: Analisar a atuação da equipe de enfermagem na reabilitação de pacientes vítimas
de queimaduras. MÉTODO: Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva desenvolvida a partir
de abordagem qualitativa, conduzida de acordo com a guideline internacional para pesquisas
qualitativas COREQ (Critérios consolidados para relato de pesquisa qualitativa), obedecendo
aos 32 itens estabelecidos pelo checklist. RESULTADOS: Foram entrevistados 18 indivíduos,
sendo 10 profissionais enfermeiros e 8 pacientes usuários do centro de tratamento de
queimados. Com o resultado do estudo foi evidenciado que a atuação do enfermeiro frente a
vítimas de queimaduras compartilha discursos muito semelhantes no que tange a preocupação
da prática de assistência de qualidade. Assim, tanto na perspectiva do usuário quanto na
perspectiva do enfermeiro, as estratégias do serviço ocorrem de forma satisfatória.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A assistência de enfermagem frente a vítimas de queimaduras
apresenta percepções de relevância positivas tanto pelos profissionais quanto para os pacientes.
Em contrapartida, evidenciou-se que as necessidades dos pacientes não são atendidas em sua
totalidade, sendo os achados corroborantes com as deficiências indicadas pela literatura.
Descritores: Enfermagem, Assistência, Queimaduras, Centros de queimados
ABSTRACT
INTRODUCTION: Several agents can cause skin damage, and those that are capable of
producing excessive heat to the point of damaging tissues and cell death are the causers of burn.
The nursing team is considered fundamental in the care of patients who are victims of burns, in
view of their frequent approach to them in the care process. According to the literature, there
are still gaps pertinent to the action of the nursing team in the burn treatment centers: difficulty
in the management of acute pain; lack of training and updating; totally technical staff; lack of
concern to identify patient problems and solve them; non applicability of nursing processes;
physical, mental and emotional exhaustion arising from the complicated coexistence with the
suffering of others, the requested responsibility and the professional difficulty in being
impartial. OBJECTIVE: To analyze the performance of the nursing team in the rehabilitation
of burn patients. METHOD: This is a descriptive research developed from a qualitative
approach, conducted according to the international guideline for qualitative research COREQ
(Consolidated criteria for reporting qualitative research), obeying the 32 items established by
the checklist. RESULTS: 18 individuals were interviewed, of whom 10 were nurses and 8
patients users of the burn treatment center. With the result of the study, it was evidenced that
the nurses' action with burn victims shares very similar discourses regarding the concern of the
practice of quality assistance. Thus, according to the perspective of the user and of the nurse,
the strategies of the service occur satisfactorily. FINAL CONSIDERATIONS: Nursing care
with burn victims presents perceptions of positive relevance by both professionals and patients.
On the other hand, it was evidenced that the patients' needs are not attended in their totality,
being the findings corroborating with the deficiencies indicated in the literature.
Keywords: Nursing, Assistance, Burns, Burn Units
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 14
2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 14
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 14
3. MÉTODO ............................................................................................................................ 15
3.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................ 15
3.2 CENÁRIO DO ESTUDO ................................................................................................... 15
3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ...................................................................................... 15
3.3.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DOS PARTICIPANTES DO ESTUDO
.................................................................................................................................................. 15
3.4 PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS .............................................................. 15
3.5 ANÁLISE DE DADOS ...................................................................................................... 16
.................................................................................................................................................. 17
3.6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS ............................................................................................ 17
3.6.1 RISCOS E DESCONFORTOS ....................................................................................... 18
3.6.2 BENEFÍCIOS .................................................................................................................. 18
4. RESULTADOS ................................................................................................................... 19
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES ............................................................... 19
4.2 TÉCNICA DE ORGANIZAÇÃO DOS DADOS E EVIDÊNCIAS PERCEBIDAS ........ 19
5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 21
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 35
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 36
APÊNDICE A – ENTREVISTA ENFERMEIROS ............................................................. 39
APÊNDICE B – ENTREVISTA USUÁRIOS ...................................................................... 40
APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........... 41
APÊNDICE D – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISAS COM SERES
HUMANOS ............................................................................................................................. 44
APÊNDICE E – CARTA DE ANUÊNCIA I ........................................................................ 47
APÊNDICE F – CARTA DE ANUÊNCIA II ...................................................................... 48
11
1. INTRODUÇÃO
A pele é o maior órgão do corpo humano, e dentre suas funções é responsável pela
proteção dos órgãos e do corpo de forma geral contra agentes infecciosos e ambientais, controle
de perda de água e calor bem como regulação de temperatura. A pele é o órgão que possibilita
um dos sistemas sensoriais mais delicados: o tato, que é o primeiro a se tornar funcional em
todas as espécies até então pesquisadas: humanas, animais e aves, além de ser o primeiro sentido
que se desenvolve no embrião humano (MONTAGU, 1988). É através do tato que as
percepções de dor e temperatura são sentidas. (BRASIL, 2012)
Diversos agentes podem acarretar o detrimento da pele, e os que são capazes de produzir
calor excessivo a ponto de danificar tecidos e morte celular são os causadores da queimadura.
A pele é o órgão mais frequentemente danificado, entretanto a malignidade da lesão dependerá
da extensão atingida, do comprometimento tecidual e do agente agressor. Entendem-se como
fatores etiológicos os artigos térmicos, químicos, elétricos ou radioativos que favorecem a
destruição parcial ou total do tegumento e seus anexos, ou seja, podem atingir do tecido celular
subcutâneo até os ossos. (MONTES, BARBOSA, NETO, 2011; BRASIL, 2012)
Estima-se que no Brasil, ocorram em torno de 1.000.000 de acidentes com queimaduras
por ano. Destes, 100.000 pacientes procurarão atendimento hospitalar e cerca de 2.500 irão
falecer direta ou indiretamente de suas lesões. É, portanto, um problema de saúde pública e a
principal forma de reduzir os índices é a atuação na prevenção. Enquanto promovedor de saúde,
o enfermeiro tem autonomia para atuar neste âmbito através da aplicação de princípios
epidemiológicos, campanhas de conscientização ou programas educativos. (CRUZ,
CORDOVIL, BATISTA, 2012; BRASIL, 2012; ROCHA, et al. 2007)
As lesões causadas por queimaduras são na maioria das vezes dolorosas, e por este fato,
a dor é considerada como um sinal tão importante quanto os outros, a julgar por ser reconhecida
como quinto sinal vital em pacientes vítimas de traumas térmicos. (AZEVEDO, RIBEIRO,
2011)
O sobrevivente do trauma térmico, apresenta além da dor física grande impacto
emocional, haja vista que as cicatrizes culminam na distorção de sua imagem para sempre,
sendo um potencial fator que interfere em sua recuperação (OLIVEIRA, MOREIRA,
GONÇALVES, 2012). É extremamente complexo de se cuidar. A prestação da assistência deve
ser especializada e humanizada, uma vez que as dores são contínuas e o tempo de internação é
longo (DUARTE, NORO, 2010). Por se tratar de um setor crítico, o centro de tratamento de
12
queimados vive uma rotina em que o limiar entre a vida e a morte se torna tênue. (COSTA, et
al., 2010)
A equipe de enfermagem é considerada fundamental no cuidado aos pacientes vítimas
de queimaduras, tendo em vista sua aproximação frequente a estes no processo assistencial.
Além disso, o prognóstico do quadro álgico de pacientes queimados depende em grande parte
da maneira como suas dores física e psicológica são levadas em consideração pelos
profissionais que participam do processo de reabilitação, sendo indispensável a real
compreensão destas de modo a evitar que uma dor traumática se torne psicologicamente
agravada. (AZEVEDO, RIBEIRO, 2011)
As concepções de administração e da psicologia e em referenciais da sociologia e outros
são competências relacionadas ao sistema de cuidados do enfermeiro, uma vez que se
compreende a sua prática como prática social a partir de um processo dinâmico que envolve
uma rede de relações, interações, associações e significados. (DIRCE, et al., 2008)
Nessa direção, a abordagem multidimensional é requerida deste profissional frente a
assistência de pacientes vítimas de queimaduras. O olhar holístico deve estender-se além do
paciente até a sua família, bem como as dores serem tratadas alternativamente, em formas
farmacológicas e não farmacológicas dentro do respaldo científico que o profissional deve ter.
(MONTES, BARBOSA, NETO, 2011; BACKES, et al., 2008)
De acordo com a literatura, ainda existem lacunas pertinentes a ação da equipe de
enfermagem nos centros de tratamento de queimados: dificuldade no gerenciamento da dor
aguda; falta de formação e atualização; equipe totalmente tecnicista; falta de preocupação para
identificar os problemas do paciente e solucioná-los; não aplicabilidade dos processos de
enfermagem; desgaste físico, mental e emocional oriundos da complicada convivência com o
sofrimento alheio, a responsabilidade solicitada e a dificuldade em ser imparcial do profissional.
Tudo isso implica em uma assistência desumana e precária. (AZEVEDO, RIBEIRO, 2011;
SILVA, CASTILHOS, 2010)
Conforme apontam os estudos, ainda se percebe a necessidade de se aproximar da
equipe de enfermagem para identificar habilidades frente a atuação com esses pacientes. Assim
questiona-se: como está a assistência de enfermagem nos centros de tratamento de queimados
nos dias atuais? Tem-se como hipótese que a atuação da equipe de enfermagem acontece de
forma a garantir a recuperação segura, entretanto faz-se necessário levantar as facilidades e
dificuldades de forma a aprimorar ainda mais essa assistência.
O presente estudo torna-se relevante uma vez que a capacitação desses profissionais
deve ser minimamente de alta qualidade tendo em vista a complexidade do serviço a ser
13
prestado e da responsabilidade que compete a enfermagem. Desta forma, dando visibilidade a
esta problemática, ações devem ser tomadas para compreender o porquê de o profissional não
estar preparado para atuar neste campo. Devem-se desenvolver políticas públicas, redirecionar
ações no cuidado, implicar na importância da capacitação dos profissionais, promover reforma
da matriz curricular na graduação de forma a explorar mais os processos de queimadura e
reabilitação, reorientar os serviços de saúde dentre outros. Assim, a sociedade em geral é
beneficiada, pois sabe-se que a efetividade do serviço de reabilitação é de suma importância
para minimizar as consequências pós trauma, desde as manifestações físicas, psicológicas às
psicossociais.
14
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Analisar a atuação da equipe de enfermagem na reabilitação de pacientes vítimas de
queimaduras.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Descrever a percepção quanto a importância da atuação da equipe de enfermagem frente
a pacientes vítimas de queimaduras;
b) Descrever ações desenvolvidas pela equipe na reabilitação frente a pacientes vítimas de
queimaduras;
c) Identificar facilidades ou dificuldades da equipe de enfermagem durante a assistência
prestada;
d) Identificar facilidades ou dificuldades de pacientes durante a assistência recebida.
15
3. MÉTODO
3.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva desenvolvida a partir de abordagem
qualitativa, conduzida de acordo com a guideline internacional para pesquisas qualitativas
COREQ (Critérios consolidados para relato de pesquisa qualitativa), obedecendo aos 32 itens
estabelecidos pelo checklist. (TONG. SAINSBURY, CRAIG, 2007)
A abordagem qualitativa de acordo com Minayo (2012), surge diante da impossibilidade
de investigar e compreender por meio de dados estatísticos alguns fenômenos voltados para a
percepção, intuição e subjetividade. Ainda segundo a autora, essa abordagem trabalha com o
universo de significados motivos, aspirações, crenças, valores, atitudes, o que corresponde ao
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis.
3.2 CENÁRIO DO ESTUDO
Este estudo foi desenvolvido em dois hospitais públicos de referência para tratamento
de vítimas de queimaduras na Grande Vitória, no estado do Espírito Santo.
3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO
Existem no estado, um total de 13 enfermeiros atuantes nos centros de tratamento de
queimados, sendo que 3 não puderam participar do estudo devido a incompatibilidade de
horário com as coletas, totalizando 10 entrevistas de profissionais. Outrossim, oito pacientes
internados no centro de referência para adultos contribuíram para o estudo.
3.3.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DOS PARTICIPANTES DO ESTUDO
Foram incluídos nesta pesquisa os profissionais enfermeiros atuantes nos centros de
tratamento de queimados disponíveis para as entrevistas, assim como os pacientes que estavam
em processo de reabilitação na internação, maiores de 18 anos e em condições propícias para
participarem das entrevistas.
3.4 PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS
Para fechar o quantitativo de participantes, foi considerado no estudo o processo de
saturação de falas com o objetivo de atingir o final da coleta de dados. Considera-se que o
processo de saturação de falas consiste quando o pesquisador, após analisar as informações
coletadas com um certo número de participantes, percebe que novas entrevistas passam a
16
apresentar repetições de conteúdo, trazendo acréscimos pouco significativos para a pesquisa
em vista de seus objetivos. (TURATO, ER, 2005)
Para coleta de dados, foram utilizados dois instrumentos a saber: 1) entrevista
semiestruturada direcionada aos profissionais enfermeiros (Apêndice A) que abordou acerca da
percepção da assistência, saberes e práticas, facilidades e dificuldades relacionados ao processo
da assistência praticada junto às vítimas de queimaduras, e 2) entrevista semiestruturada
direcionada aos usuários (Apêndice B) que contemplou quanto a vivência no processo de
queimadura e no centro de tratamento, abordando a percepção da assistência recebida. Para
cada grupo de participantes, deu-se um momento precedente a coleta de dados com o propósito
de esclarecer os objetivos da pesquisa e assim solicitar autorização por escrito destes, através
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C) comprovando a participação e
assegurando a autonomia dos envolvidos.
As entrevistas aconteceram no próprio cenário em local reservado respeitando o
processo de trabalho dos profissionais e da vivência do paciente no centro de tratamento,
considerando o horário de funcionamento do setor e a disponibilidade dos profissionais e
usuários de contribuírem com a pesquisa, sendo estes últimos selecionados de forma aleatória,
tendo como base o membro que estava no dia de coleta de dados. As entrevistas foram aplicadas
pela pesquisadora acadêmica de enfermagem, que passou por um processo de capacitação pela
Doutora pesquisadora principal da pesquisa. As entrevistas coletadas foram transcritas na
íntegra; a identidade dos informantes foi preservada, para tanto receberam um código numérico
(profissionais identificados pela letra “E” seguida do número de entrevista; e pacientes
identificados pela letra “P” seguida do número de entrevista) sendo garantido a liberdade de
desistirem de sua participação no grupo quando desejassem.
3.5 ANÁLISE DE DADOS
As entrevistas foram inicialmente organizadas por questões e posteriormente iniciada a
organização seguindo técnica de análise de conteúdo segundo Bardin, 2010 que dispõe de três
etapas para melhor direcionar a análise, a conhecer:
1) Pré-análise: Que é a fase de organização propriamente dita. Nela escolhem-se os
documentos que serão submetidos a análise, há a formulação das hipóteses e dos
objetivos e a elaboração dos indicadores que fundamentem a interpretação final.
2) Exploração do material: Esta fase consiste essencialmente de operações de codificação,
desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas.
17
3) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: Nesta fase os resultados brutos são
tratados de forma que ao final possuam um significado. Nela, o analista pode propor
inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou que digam
respeito a outras descobertas inesperadas.
Dessa maneira, de acordo com a proposta da técnica de organização de dados
segundo Bardin, o estudo se resume a organização dos dados conforme figura 1 abaixo:
Figura 1: Apresentação das categorias analíticas. Fonte: elaboração própria
3.6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS
O projeto desta investigação foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Juazeiro do Norte, via Plataforma Brasil, cumprindo as exigências formais
dispostas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, que
dispõe sobre pesquisas envolvendo seres humanos, sendo aprovado pelo parecer 2.296.675
(Apêndice D). Esta pesquisa faz parte do estudo intitulado “Vítimas de Queimaduras:
Concepções sobre o trabalho de enfermagem na perspectiva de pacientes e profissionais” que
18
tem como pesquisadora Cíntia de Lima Garcia, orientanda da Profa. Dra. Italla Maria Pinheiro
Bezerra, e que compõe o mesmo grupo de pesquisa.
Para atender os princípios éticos da pesquisa científica, os instrumentos de pesquisa
(entrevistas) ficarão guardados sob responsabilidade da colaboradora da pesquisa por um
período de cinco anos.
Foi solicitada a autorização para a realização da pesquisa aos diretores dos hospitais
supracitados, através de processo de análise a anuência junto à Secretaria de Estado de Saúde
(Apêndice E, Apêndice F).
3.6.1 RISCOS E DESCONFORTOS
O tipo de procedimento apresentou um risco mínimo, mas que foi reduzido mediante
orientações e avisos da total proteção à confidencialidade, com particular ênfase na garantia do
sigilo de informações confidenciais e sigilosas, obtidas na pesquisa, através do anonimato dos
participantes, por meio da adoção de códigos. Nos casos em que o procedimento utilizado no
estudo ocasionou desconforto, foi informado ao entrevistado que ele tinha o direito de retirar-
se da pesquisa a qualquer momento, não havendo qualquer tipo de constrangimento entre as
partes. Nos casos em que os profissionais já estavam contribuindo com o procedimento e
alguma condição adversa ocorreu impossibilitando a sua continuação, a entrevista foi
interrompida e retomada quando possível.
3.6.2 BENEFÍCIOS
Os benefícios esperados com o estudo foram no sentido de instigar o redirecionamento
do cuidado neste campo de prática assistencial, tendo em vista a complexidade do serviço e
importância de se garantir a sociedade um atendimento de qualidade pela equipe de
enfermagem, além de promover através da capacitação continuada desta, profissionais com
conhecimento e domínio maior acerca do atendimento fundamentado e personalizado do
usuário. Assim, contribuir com informações valiosas para a comunidade científica, para o
sistema de saúde e para os gestores em saúde sobre as práticas desenvolvidas pela equipe de
enfermagem para otimização das políticas públicas neste âmbito.
19
4. RESULTADOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
Foram entrevistados 18 indivíduos, sendo 10 profissionais enfermeiros, constituindo-se
nove do sexo feminino, entre faixa etária de 26 a 57 anos e com média de um mês até sete anos
de atuação no setor. Ainda fizeram parte desse estudo, 8 pacientes usuários do centro de
tratamento de queimados, sendo 5 do sexo masculino entre faixa etária de 20 a 59 anos e
escolaridade que varia entre ensino fundamental e médio.
4.2 TÉCNICA DE ORGANIZAÇÃO DOS DADOS E EVIDÊNCIAS PERCEBIDAS
A partir da organização dos dados mediante os depoimentos dos participantes do estudo
e de acordo com a técnica de análise de conteúdo segundo Bardin (2010), foram identificadas
as unidades de registro e de contexto que emergiram nas categorias analíticas que seguem.
Tabela 1: Organização do material empírico segundo técnica de análise de dados de Bardin. Vitória, Brasil,
2018
Unidades de registro Unidades de contexto Evidências Categorias
Analíticas
Olhar diferenciado;
Responsabilidade;
Banho e curativos;
Redução de tempo
de internação
Através do olhar
diferenciado, o enfermeiro
entende a situação holística
do paciente, facilita a
terapêutica dos banhos e
curativos e atua com
responsabilidade nas
necessidades do paciente
de forma geral reduzindo o
tempo de internação.
Satisfação de
pacientes
Hospital Referência
Percepção da
assistência às
vítimas de
queimaduras
Admissão;
Histórico de
enfermagem;
Gerenciamento de
riscos;
Procedimentos
O paciente é admitido,
conhecido através de
histórico de enfermagem e
origem de queimadura, os
diagnósticos são padrões e
representados pelo
gerenciamento de risco. Os
procedimentos necessários
são realizados.
Clareza nas
informações
Saturação de falas
Protocolo
Institucional
Não elaboração de
diagnósticos fora do
padrão
Ações
desenvolvidas
20
Formação precária;
Prática hospitalar;
Protocolos
diferenciados
Com a formação precária
advinda da academia, a
maioria dos profissionais se
sentem inseguros no setor,
tendo que acompanhar a
prática dos já inseridos na
rotina para conseguirem se
adaptar. Além disso, os
protocolos hospitalares
divergem de instituição
para instituição.
Grade curricular
superficial
Falta de
oportunidades
durante a academia
Desinteresse em
capacitações
Competência
Prática assistencial;
Trabalho em equipe;
Falta de
conhecimento;
Gestão do setor;
Desgaste emocional;
Tratamento da dor;
Morte
Dentre as facilidades,
destacam-se a prática
assistencial e o trabalho em
equipe. A falta de
conhecimento, gestão do
setor, desgaste emocional,
tratamento da dor e morte
encontram-se nas
principais dificuldades
mencionadas.
Experiência dos
mais antigos com a
rotina
Empenho da equipe
em progredir
tecnicamente
Gravidade do
paciente
Facilidades e
dificuldades para
desenvolvimento de
práticas
Fonte: Elaboração própria
Conforme ilustrado na tabela 1, de acordo com o resultado do estudo foi evidenciado
que a atuação do enfermeiro frente a vítimas de queimaduras compartilha discursos muito
semelhantes no que tange a preocupação da prática da assistência de qualidade. Assim, tanto na
perspectiva do usuário quanto na perspectiva do enfermeiro as estratégias do serviço ocorrem
de forma satisfatória, como por exemplo a prática do olhar amplo, a responsabilidade para com
o paciente e o empenho na assistência técnica de forma correta. Preocupam-se com os
procedimentos padrões do hospital, em contrapartida não exploram a autonomia do enfermeiro
fora da rotina tecnicista. Além das facilidades do serviço que são a prática assistencial rotineira
e o trabalho em equipe, dificuldades foram apontadas, tais como: falta de conhecimento, gestão
do setor, desgaste emocional, tratamento da dor e morte.
21
5. DISCUSSÃO
A enfermagem é uma profissão que objetiva favorecer e restaurar a saúde. Com o passar
dos anos ela reformula seus conceitos, revisa o seu fazer e reconhece que vai além das barreiras
do tecnicismo através da real compreensão do ato de cuidar. A enfermagem tem sido, portanto,
uma ciência que rompe paradigmas institucionalizados, buscando a renovação de suas práticas,
preservando o indivíduo assistido de forma integral levando em consideração seu contexto de
vida e suas necessidades. Com esse processo torna-se possível a prática humana do olhar
holístico, e a não fragmentação do ser. Olhar, zelar, proteger, ouvir, confortar e aliviar são
algumas palavras chaves que resumem a prática do enfermeiro. (CRIVARO, et al, 2007)
Prestar assistência de enfermagem ao paciente vítima de queimadura demanda alto nível
de conhecimento científico sobre as alterações fisiológicas decorridas do trauma
(GONÇALVES, et al. 2012), tendo em vista que lesões teciduais afetam a pele, o maior órgão
do corpo humano e que dentre suas funções, é responsável pela proteção dos órgãos e do corpo
de forma geral contra agentes infecciosos e ambientais e controle de perda de água e calor bem
como regulação de temperatura. A pele é o órgão que possibilita um dos sistemas sensoriais
mais delicados: o tato, que é o primeiro a se tornar funcional em todas as espécies até então
pesquisadas: humanas, animais e aves, além de ser o primeiro sentido que se desenvolve no
embrião humano (MONTAGU, 1988). É através do tato que as percepções de dor e temperatura
são sentidas. (BRASIL, 2012)
Segundo Montagu, (1988, p. 23)
Em diferentes partes do corpo, a pele varia quanto a textura, flexibilidade, cor, odor,
temperatura, inervação e ainda outros aspectos. Além disso a pele, especialmente a do
rosto, registra as tentativas e os triunfos de toda uma vida, e com isso transporta a
memória de suas experiências. A beleza encontra sua profundidade.
Diversos agentes podem acarretar o detrimento da pele, e os que são capazes de produzir
calor excessivo a ponto de danificar tecidos e morte celular são os causadores da queimadura.
A pele é o órgão mais frequentemente danificado, entretanto a malignidade da lesão dependerá
da extensão atingida, do comprometimento tecidual e do agente agressor. Entendem-se como
fatores etiológicos os artigos térmicos, químicos, elétricos ou radioativos que favorecem a
destruição parcial ou total do tegumento e seus anexos, ou seja, podem atingir do tecido celular
subcutâneo até os ossos. (MONTES, BARBOSA, NETO, 2011; BRASIL, 2012)
Estima-se que no Brasil, ocorram em torno de 1.000.000 de acidentes com queimaduras
por ano. Destes, 100.000 pacientes procurarão atendimento hospitalar e cerca de 2.500 irão
falecer direta ou indiretamente de suas lesões. É, portanto, um problema de saúde pública e a
22
principal forma de reduzir os índices é a atuação na prevenção. Enquanto promovedor de saúde,
o enfermeiro tem autonomia para atuar neste âmbito através da aplicação de princípios
epidemiológicos, campanhas de conscientização ou programas educativos. (CRUZ,
CORDOVIL, BATISTA, 2012; BRASIL, 2012; ROCHA, et al. 2007)
A equipe de enfermagem é a mais próxima da assistência ao paciente, independente do
setor de referência. Como profissional responsável pelo cuidado em todas as dimensões, possui
percepções acerca do trabalho prestado com o perfil dos indivíduos atendidos, e isso é
necessário para atendê-los em suas necessidades. Ao aproximar-se dos profissionais atuantes
dos centros de tratamento de queimados, observou-se que essas percepções se assemelham.
Assim, considerando essa temática, ao abordar os participantes sobre a percepção da
assistência de enfermagem a pacientes vítimas de queimaduras, verificou-se que se
preocupam em prestarem assistência holística aos pacientes:
“Acho que você tem que ter uma visão mais ampla porque são pacientes que podem
descompensar a qualquer momento, possuem risco psíquico bem grande, as vezes
com quadro depressivo, a pele não volta ao normal, eles têm que lidar com uma
deformidade”; (E18)
“...a gente busca que ele se reabilite o mais rápido [...] temos muitos pacientes vítimas
de suicídio, homicídio, e o emocional abala muito. É importante o enfermeiro atuar
nessa hora, porque o emocional interfere muito na cicatrização das feridas”; (E4)
“A importância do enfermeiro é muito relevante porque você avalia a dor, você tem
a responsabilidade e o olhar mais atento porque os pacientes queimados, tem perfil
de muita dor”; (E8)
“A minha participação hoje dentro do CTQ é voltada para algo que eu me preocupei:
reduzir o tempo de permanência da criança internada. Porque isso? Primeiro, essa
criança quando fica aqui dentro é afastada da família. A mãe entrega ela para nós, e
tem horário para vir visitar [...] você é a pessoa que tem que se preocupar com essa
criança queimada, irritada, os curativos são com analgesia, o maior tempo dela é em
jejum, e todo dia você tem que fazer curativo com balneoterapia, que é o curativo
com anestesia durante o banho. Então, essa criança fica contida, precisa conter o
paciente para ter uma mobilização, uma punção... então isso para mim é muito
triste”; (E19)
“...a gente precisa ter um olhar diferenciado que o paciente queimado exige, que é a
expansão volêmica maior, controle rigoroso dos fluidos corporais, a gente tem que
estar observando o balanço, o direcionamento do pessoal também, bem diferenciado
pelo perfil do paciente, mas não que a enfermeira tenha função diferenciada de uma
UTI ou centro cirúrgico, é mais pelo perfil”. (E1)
O trabalho é reconhecido pelos pacientes, que além de estarem internados em unidade
de referência de estado, demonstram satisfação pelo atendimento recebido:
“São bem calmas, bem sorridentes, conversam comigo, me fazem rir mesmo nessas
condições, não tenho nada a reclamar sobre elas. Estou sendo muito bem tratado,
melhor hospital do ES”; (P11)
“Ótimo atendimento. Melhor hospital que fui atendido desde que cheguei [...] Sempre
tem alguém que me atende, nunca passei por situação ruim, chamo a enfermeira ela
vem na hora”; (P5)
“No momento que eu cheguei aqui foi um momento excelente, me trataram bem,
foram atenciosos, tiveram medo de eu cair, observaram os momentos de levantar para
23
não machucar, foram responsáveis, cuidam da gente para nossa própria segurança”.
(P10)
O sobrevivente do trauma térmico, apresenta além da dor física grande impacto
emocional, haja vista que as cicatrizes culminam na distorção de sua imagem para sempre,
sendo um potencial fator que interfere em sua recuperação (OLIVEIRA, MOREIRA,
GONÇALVES, 2012). É extremamente complexo de se cuidar. A prestação da assistência deve
ser especializada e humanizada, uma vez que as dores são contínuas e o tempo de internação é
longo (DUARTE, NORO, 2010). Por se tratar de um setor crítico, o centro de tratamento de
queimados vive uma rotina em que o limiar entre a vida e a morte se torna tênue. (COSTA, et
al., 2010)
O trabalho da enfermagem é considerado fundamental na reabilitação dos pacientes
vítimas de queimaduras, principalmente pela proximidade no processo assistencial. Além disso,
a dor nesses pacientes é um sinal tão importante quanto os outros, sendo classificada como
quinto sinal vital (AZEVEDO, RIBEIRO, 2011). Ela pode e deve ser tratada alternativamente,
em formas farmacológicas e não farmacológicas dentro do respaldo científico que o profissional
deve ter, uma vez que o prognóstico do quadro álgico depende em grande parte de como suas
dores física e psicológica são levadas em consideração pelos profissionais, sendo indispensável
a real compreensão destas de modo a evitar que uma dor traumática se torne psicologicamente
agravada. (MONTES, BARBOSA, NETO, 2011; BACKES, et al., 2008; AZEVEDO,
RIBEIRO, 2011)
Segundo Rossi, et al. (2010), a hospitalização do queimado implica para ele os
sentimentos de impotência e medo. Os procedimentos de terapêutica realizados com eles trazem
muita dor e incômodo apesar de serem necessários para reabilitação. Em alguns casos, o
autocuidado é totalmente dependente da equipe de enfermagem. As condutas do cuidado são
desenvolvidas a partir da gravidade do paciente e de suas necessidades. Tem como objetivos
principais a estabilização, convalescença e, por conseguinte, diminuição do tempo de
internação.
Podem-se relacionar os resultados apresentados com a confiança dos pacientes pela
equipe de saúde, principalmente por estarem em uma unidade de referência estadual. A forma
com que são atendidos aliviam o sofrimento. Os profissionais entrevistados apresentam visões
que corroboram com os achados dos autores, mostrando-se cientes da responsabilidade que
possuem diante de um paciente tão crítico e dependente de seus cuidados, sejam eles técnicos
ou não.
24
Por se tratar de um setor crítico, onde o cuidado é complexo de se prestar, e a dimensão
de assimilações com relação ao contexto do paciente é requisitado pelo enfermeiro, faz-se
necessário conhecer a sua rotina de trabalho e minimamente a razão dos acidentes ocorridos
que geraram os traumas térmicos.
Assim, ao se aproximar dos profissionais e indagado sobre as ações desenvolvidas
pelos enfermeiros, percebeu-se que houve clareza nas informações fornecidas, identificando
padrão de ações desde o momento da chegada do paciente até a alta de acordo com o protocolo
da instituição de referência. A sistematização da enfermagem e os procedimentos técnicos
durante a internação visando a regulação dos pacientes apresentaram-se em saturação de falas
conforme os fragmentos de depoimentos que seguem:
“...a gente faz admissão, a sistematização da assistência de enfermagem que é todo
histórico dele, comorbidades, alergias, se ele tem problema de saúde crônica, de
onde veio, porque se queimou, a gente faz um mapa de queimadura do paciente [...]
a gente tem uma IN (instrução normativa), sendo que qualquer pessoa que entra no
hospital vai saber conduzir uma queimadura. [...] a prescrição é modificada
conforme a necessidade do paciente. Se ele não está mais com acesso não tem
porque a gente observar flebite, se ele não é um paciente que a gente precisa
observar o neurológico, ele não precisa estar mais na prescrição. Porque a
prescrição precisa estar atrelada com o quadro de gerenciamento de risco”; (E1)
“...tem o gerenciamento de risco e toda a papelada administrativa que a gente tem
que fazer; a rotina é a avaliação contínua das feridas junto com o médico na sala
da balneo [...] nunca tive habito de fazer prescrições e levantar outros diagnósticos
além do gerenciamento de risco”; (E18)
“A equipe da enfermagem é com a questão de curativo e acesso. [...] fazemos
diagnósticos de enfermagem, gerenciamento de risco aqui do hospital, que é tudo
padronizado. [...] se a gente coloca além disso, bate a fiscalização da qualidade e
se não entra no gerenciamento é como se fosse não conformidade. [...] na alta a
gente faz o plano de cuidados que envolve tanto a parte da farmacologia e cuidados
de enfermagem com curativo, os cuidados de hidratação, caso ele tenha febre
retornar [...] ”; (E14)
“Fico na UTI, então ele passa pela balneo, faz curativo e chega para nós.
Observamos se o paciente vai precisar de uma profunda, entrar com sedação, todo
esse processo. Pacientes com queimaduras elétricas a gente observa enzimas
cardíacas, fazemos eletro, para observar os batimentos. Também tem a questão de
hidratação, monitoração. [...] A instituição estipula os diagnósticos, que são o
gerenciamento de riscos. Trabalhamos em cima dele. Podemos trabalhar em cima
de outros, mas classificando ele fora do padrão da instituição. Eu acho que quando
eles fizeram o gerenciamento de risco eles pensaram muito nos riscos desse perfil
de paciente“. (E4)
O gerenciamento de risco citado integralmente por todos os profissionais entrevistados
faz referência ao que se segue na tabela 2.
Tabela 2: Classificação do gerenciamento de riscos assistenciais preconizada pela instituição de referência
pesquisada para reabilitação de vítimas de queimaduras adultos
25
GERENCIAMENTO DE RISCOS ASSISTENCIAIS
RISCO DE QUEDA
Deixe a campainha ao alcance do paciente
Mantenha as grades de proteção da cama sempre elevadas
Acompanhe o paciente quando sair da cama, inclusive no banheiro ou
chame a enfermagem
Utilize a luz de cabeceira durante a noite
Caso o paciente se encontre contido (amarrado) no leito, NÃO o solte.
Este procedimento é para SEGURANÇA do paciente.
Oriente ao paciente a utilizar as barras de segurança no banheiro
Não manipule o paciente sozinho, solicite a presença da enfermagem
Avise a equipe de enfermagem todas as vezes que se ausentar da
enfermaria
Mantenha a área de circulação do paciente livre de obstáculo e seus
pertences o mais próximo
RISCO DE
INFECÇÃO
Higienizar as mãos antes e após contato com o paciente
Seguir medidas de prevenção e controle de infecção estabelecida pela
CCIH
Não trazer para o hospital alimentos ou flores
Não deitar, sentar ou colocar pertences no leito do paciente
Prestar assistência SOMENTE ao seu paciente. “Não cuidar do paciente
ao lado”
RISCO PSÍQUICO
Não deixe o paciente sozinho
Mantenha as janelas fechadas ou as grades de proteção travadas
Caso o paciente se encontre contido (amarrado) no leito, NÃO o solte.
Este procedimento é para SEGURANÇA do paciente.
Avise a equipe de enfermagem todas as vezes que se ausentar da
enfermaria
Evite objetos cortantes e/ou pontiagudos no ambiente do paciente
RISCO DE
INTEGRIDADE DA
PELE PREJUDICADA
Monitore, se a enfermagem está realizando a mudança de decúbito.
Auxilie quando necessário
Evite atritos ou fricção (arrastar) ao movimentar o paciente no leito
Encoraje o paciente a ingesta dietética, seguindo orientações da nutrição.
Não traga alimentos de casa
Mantenha os couxins para auxiliar na mudança de decúbito. Evite o
contato direto das proeminências ósseas
Monitore, se os lençóis do leito estão secos e sem dobras
RISCO DE
BRONCOASPIRAÇÃO
Acionar a campainha se houver qualquer intercorrência durante a infusão
da dieta
Mantenha a cabeceira do leito elevada
Fonte: Tabela temática exposta no setor
Com o propósito de compreender minimamente a dor e o contexto de vida dos
pacientes atendidos e vincular o tratamento com a rotina dos profissionais enfermeiros,
questionou-se como eles se envolveram em situações precedidas de queimaduras:
“Meu pai jogou thinner em mim e tacou fogo. Fui atendido na Glória e de lá me
encaminharam para cá. Tem uma semana hoje que estou internado”; (P11)
“Fui acender o fogão com álcool, com pressa para ir na casa de um amigo, e o fogo
pegou na minha camisa, e da camisa passou para o corpo”; (P6)
“Fui fritar uma galinha, o cabo da frigideira torceu, voou o óleo todo para cima de
mim”; (P10)
“Eu fui tentar sair do centro de macumba e não me deixaram, me queimaram. Atingiu
minhas duas pernas e meus dois cotovelos, um pouco no bumbum, um pouco na
barriga e na costela”; (P15)
26
Evidencia-se assim através dos relatos, que as ações dos serviços prestados pelos
enfermeiros são padrões de acordo com os protocolos da instituição conforme ocorre com o
gerenciamento de risco e a instrução normativa supracitados, ambos com relação a técnicas e
orientações gerais que são de extrema importância no processo de tratamento. Os profissionais
preocupam-se unanimemente em realizar os trabalhos conforme rotina do setor e estabelecer a
recuperação do paciente. Além disso, as falas dos pacientes coadunam com as declarações dos
enfermeiros sobre a complexidade do cuidado na categoria da percepção da assistência prestada
a vítimas de queimaduras, fazendo compreender que lidam com a dor oriunda da queimadura
física/emocional acidental ou física/emocional proposital e suas consequências sendo esta
última ocasionada pelo próprio paciente ou por terceiros. Ressalta-se que apesar de relatarem
os momentos precedidos das queimaduras como acidentes, alguns pacientes afirmaram após a
entrevista que estes teriam sido causados propositalmente na tentativa de suicídio.
Os primórdios significativos da assistência de enfermagem lançados por Florence
Nightingale, até hoje são discutidos e aprimorados no processo de assistência vigente. Com o
passar dos anos, diversos teoristas contribuíram com o enriquecimento do significado de cuidar,
destacando-se como exemplo Wanda de Aguiar Horta, que abordou acerca das necessidades
humanas básicas e sua aplicação, propiciando o desenvolvimento da sistematização da
assistência de enfermagem. (GARCIA, DA NOBREGA, 2009)
A sistematização da assistência de enfermagem (SAE) é atividade privativa do
profissional enfermeiro, reconhecida, portanto, como método científico para operacionalizar a
resolução dos problemas dos pacientes e personalizar o atendimento, uma vez que cada
indivíduo precisa ser atendido em suas necessidades. Essa prática embasa e fundamenta as
ações do enfermeiro. (ZANARDO, ZANARDO, KAEFER, 2013)
No que tange as queimaduras, os acidentes são responsáveis por sequelas psicológicas
tanto ao acidentado como sua família. (CRUZ, CORDOVIL, BATISTA, 2012)
Quando questionado ao que se refere a abordagem junto a família do paciente, observou-
se os seguintes achados:
“Mas enquanto enfermeiro, recebemos o paciente, fazemos o acolhimento dessa
criança com a mãe, tranquilizando ela [...] eu escolhi sentar e explicar para as mães,
porque nesse setor, nesse hospital pouca gente conversa com o acompanhante, pouca
gente tranquiliza”; (E19)
“Temos ainda muito que caminhar com relação a assistência da família. Na minha
visão não é que falte assistência com relação a minha omissão de atendimento, mas
sim da estrutura da instituição. Nós orientamos com os cuidados ao paciente, tudo
baseado no gerenciamento de risco. Orientamos o que é cada risco e o familiar assina
[...] muito raramente eles conseguem conversar com a psicóloga. Eu já fiz grupos de
famílias, acompanhantes, coloco os pacientes juntos, tem paciente que toca e aí eu
sempre estimulo a ter esses momentos para interação. Mas que é algo que sempre é
27
feito não é. [...] acho isso muito importante. Eu gosto de passar leito por leito e
conversar, entender quem é aquela pessoa, o familiar, a história. Eu exerço o
cuidado. Mas não é algo que a instituição preconiza. Tanto que não evoluo essas
práticas”; (E1)
“Eles são orientados sobre cuidados com a lesão. [...] se eu vejo que o acompanhante
está abalado, eu encaminho para o serviço social com tratamento com a psicologia
do hospital. Mesma coisa com o paciente”; (E2)
Frente aos achados com relação as ações desenvolvidas, pode-se dizer que os
profissionais enfermeiros se empenham na tentativa de solucionar a problemática do paciente,
entretanto voltando-se principalmente para estabilização física. Fazem isso visando os
protocolos institucionais e a rotina tecnicista se sobressai, enquanto que os pacientes claramente
demonstram na mesma intensidade a necessidade de assistência junto as questões psicossociais
oriundas ou não do processo de queimadura e que deveriam ser parte do decurso de internação
dentro do plano de cuidados.
Os relatos dos profissionais divergem daquilo que é compreendido com relação a
assistência integral e humanizada, principalmente na elaboração de diagnósticos de
enfermagem, tendo em vista que neste contexto só trabalham de acordo com o gerenciamento
de risco da instituição de referência, demonstrando pouco ou quase nenhum interesse em ir
além disso, sendo que a confecção e utilização dos mesmos é um processo constituinte da
assistência privativa do enfermeiro que norteia a prática das intervenções e prescrições de
enfermagem, compreendendo o indivíduo de forma holística e atendendo-o em suas
necessidades, sejam elas básicas, psicológicas ou de autorrealização conforme preconiza a
teoria de Wanda Horta.
Um estudo realizado em 2009 no Brasil, teve como objetivo investigar os diagnósticos
de enfermagem de pacientes vítimas de queimaduras no período próximo a alta hospitalar.
Verificou-se que esses pacientes se preocupam mais com seus aspectos psicossociais do que
aos aspectos físicos e os cuidados relacionados. (GOYATÁ, ROSSI, 2009)
É importante salientar que a assistência prestada pelos enfermeiros abordados, embora
desprovida de uma autonomia mais presente dentro de suas próprias práticas, é reconhecida
pelos pacientes de forma positiva e satisfatória, e concomitantemente prospectada pelos
profissionais em totalidade como relevante e fundamental com esse perfil de usuários
conquanto não possuírem uma rotina de trabalho que seja de fato consoante a visão ampla de
que afirmam ter de possuir frente a um paciente complexo de se cuidar.
Percebe-se ainda, a lacuna existente no que concerne à assistência junto a família do
usuário, que faz parte de seu contexto de vida e necessita de cuidados tanto quanto o paciente,
28
não só direcionados para assistência física, mas também a mental, em função das sequelas
irreversíveis do trauma térmico do ente envolvido e de seus cuidados secundários.
A prática do enfermeiro ainda possui enfoque mecanicista do saber tradicional. Ou seja,
a técnica ainda prevalece sobre ações que não menos importantes que esta última, mas que em
conjunto, podem inovar o cuidado e assim dar visibilidade as ações de enfermagem. Isso
implica em dizer que o enfermeiro ainda tem o seu papel colocado de forma pouco específica,
uma vez que estudos apontam que apesar da busca pela integralidade das ações em saúde, o ser
humano ainda é concebido em fragmentos no processo de doença, tanto quanto a sua família.
As competências acabam se tornando confundidas com frequência com o fazer do técnico e do
auxiliar de enfermagem. (BACKES, et al. 2008)
Ainda de acordo com Backes, et al. (2008), mesmo que o papel do enfermeiro seja
reconhecido pela equipe multidisciplinar e pelo próprio profissional, é preciso que ele
compreenda seu ofício absoluto e se identifique como elemento primordial frente as
necessidades do usuário e de sua família, podendo ser as atividades secundárias empregadas
aos técnicos da área.
As consequências da queimadura podem se agravar em decorrência da estigmatização
desses pacientes na reinserção social. As avaliações negativas de outras pessoas diante de uma
distorção de imagem permanente são reconhecidas como estigmatizantes pelas vítimas de
queimaduras. Segundo estudos apontam, essas avaliações podem ser através de olhares,
comentários ou perguntas e até mesmo bullying, evidenciando a evitação, provocação e pressão
para que o envolvido mude sua aparência. Os indivíduos, portanto, possuem a tendência de
isolamento social, podendo ser esse processo acompanhado de depressão e baixa autoestima.
(GOFFMAN, 1982)
Apesar de não ter sido objeto deste estudo, dois instrumentos de análise da percepção
de fatores psicossociais foram criados nos Estados Unidos a saber: 1) Perceived Stigmatization
Questionnaire (PSQ) – visa mensurar a percepção de comportamentos estigmatizantes aos
indivíduos com distorção de imagens; e 2) Social Comfort Questionnaire (SCQ) – construído
em conjunto com o primeiro, visa avaliar o conforto social entre indivíduos com alterações na
aparência. Ambos, segundo apontam os estudos, tem-se mostrado eficaz junto a pessoas que
sofreram traumas térmicos. Um estudo recente realizado no Brasil, teve como objetivo a
validação e adaptação desses instrumentos de acordo com diretrizes internacionais para o
português do Brasil, haja vista que não havia instrumentos disponíveis para avaliar os
constructos da população de queimados. Foram nomeados como BR-PSQ-R e BR-SCQ-R,
respectivamente. Os resultados da aplicação do mesmo demonstraram eficiência na avaliação e
29
mensuração dos comportamentos estigmatizantes comumente relatados por adultos
sobreviventes a queimaduras. Ainda de acordo com o estudo realizado, os instrumentos podem
ser úteis para auxiliar os profissionais da equipe assistencial a controlar os potenciais problemas
psicossociais e traçar as linhas de conduta visando a recuperação do envolvido neste âmbito.
(FREITAS, 2016; NOÉLLE, 2018)
É possível exprimir que a falta de estratégias e ações autônomas dos enfermeiros
impliquem em uma assistência voltada para técnica e principalmente centrada na reabilitação
física do paciente, deixando desvinculado da assistência os cuidados voltados aos aspectos
psicossociais que envolvem o paciente e também sua família. O empenho no trabalho é
existente, entretanto a assistência seria mais refinada e aprimorada caso houvesse o agir além
de protocolos institucionais e mais exploração dos próprios recursos privativos da categoria.
Segundo Silva, Sousa e Lima (2011), o egresso do curso de enfermagem precisa ser
promotor da saúde integral do ser humano, tendo sempre como base o rigor científico. Nesse
contexto, para Torres (2001) e Perrenoud (2001), as competências não são representadas
apenas em saberes, mas sim “a capacidade de agir eficazmente em determinado tipo de situação,
apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a eles”. Ao serem indagados se a formação
acadêmica era suficiente para se prestar assistência a queimados, evidenciou-se:
“...a teoria com relação aos queimados é muito superficial, não dá para a gente
aprofundar, não tem estágio, não tem oportunidade de estágio nessa área também
para quem tem interesse[...] a gente só aprende os graus de intensidade da
queimadura e como fazer o cálculo da superfície corporal queimada, mas até aí cada
setor tem seu quadro diferente de cálculo, então quando você chega aqui tem que
aprender tudo do zero”; (E3)
“Impossível. A formação acadêmica não te dá margem para trabalhar com queimado
não”; (E8)
“... tive que fazer trabalho voluntário por 6 meses [...] na faculdade não consegui
nada, foi um choque para mim, porque nunca tive esse contato na academia”; (E14)
“...de 0 – 10, me considerava com 4. Eu estava dentro do conhecimento que é o que
a faculdade te dá, o resto é conhecimento técnico. Então se há um hospital com
recurso de montar equipes, você evolui, se não tem recurso você aprende com o que
você encontra”. (E19)
Devido a todos os profissionais apresentarem insatisfação com a grade curricular de
suas formações no que tange à base para assistência a vítimas de queimaduras, questionou-se
acerca da realização de capacitações profissionais e se elas melhoraram de alguma forma os
processos de trabalho, ao que se obteve:
“Não fiz capacitação. Tudo adquirido no hospital. Estou fazendo pós em UTI. Mas a
pós hoje para mim faço mais como título”; (E2)
“A pós que eu tenho é de oncologia. Precisei acompanhar a prática no hospital para
saber o que o paciente precisa, qual a primeira entrada de soro de um grande
queimado, como se atua numa intercorrência, então assim, a graduação foi apenas a
teoria superficial. “ (E3);
30
“A gente aprende mais com a prática do que com uma capacitação, mas eu fiz uma
que teve uma grade sobre queimados”; (E8)
“O meu conhecimento aqui está sendo com a prática mesmo. Também não tenho
intenção em fazer nenhuma pós específica”; (E18)
Conforme relatos, apesar dos enfermeiros se considerarem despreparados para atuarem
com vítimas de queimaduras frente a formação acadêmica que receberam, as capacitações
profissionais não são vistas como ferramentas de ensino aprendizagem significativas, optando
a maioria por acompanhar a rotina hospitalar para adquirir a prática da assistência eficaz.
As lesões oriundas da queimadura podem ser tanto locais quanto sistêmicas. Os
enfermeiros constantemente necessitam tomar atitudes de caráter imediato com técnicas
adequadas (OLIVEIRA, MOREIRA, GONÇALVES, 2012). Os pacientes geralmente têm suas
necessidades básicas prejudicadas, tais como oxigenação, hidratação, nutrição e outros. De
acordo com Gathas et al. (2011) é preciso ter habilidade, competência e estar atualizado em
relação às novidades do mercado tecnológico, visando contribuir para diminuição da taxa de
mortalidade, menor número de complicações, sequelas físicas e patológicas.
O enfermeiro precisa estar sempre alerta aos sinais de choque hipovolêmico, intervir
imediatamente com reposição de líquidos e eletrólitos, além de controlar respostas respiratórias
e a dor, conforme indicação terapêutica adotada pelo médico. Uma das medidas de enfermagem
imediatas na admissão de um grande queimado é a obtenção de acesso venoso calibroso. Os
cuidados devem ser realizados com técnicas assépticas, para evitar proliferação bacteriana em
um indivíduo já fragilizado a tal processo. Estudos indicam que as causas mais comuns de
infecção em pacientes queimados são por bactérias, como Staphylococcus e Pseudomonas. A
enfermagem deve estar sempre atenta aos sinais de infecção no local de queimadura, analisando
a ferida com os aspectos de coloração, secreções e sintomas sistêmicos, como hipertermia e
contagem de leucócitos. Além disso, saber empregar produtos adequados aos curativos visando
sua cicatrização. Concomitantemente, dar suporte emocional ao paciente, uma vez que o
estresse e a depressão interferem na cicatrização de feridas. (OLIVEIRA, MOREIRA,
GONÇALVES, 2012)
Desde a sua criação, a enfermagem vem sofrendo reformulações, em função das
mudanças nas políticas de saúde e modelos assistenciais. Contudo, para almejar uma
transformação faz-se necessário avançar não apenas no preparo de uma graduação diferenciada,
mas acima de tudo, de um profissional crítico, cidadão, preparado para aprender e criar, propor
e também construir. (FAUSTINO, et al. 2003)
Segundo Gathas, et al. (2011) os profissionais precisam contribuir para ampliação dos
conteúdos concernentes aos processos de queimadura relacionados a atuação do enfermeiro.
31
Isto pode ser feito através de trabalhos científicos, teses ou pesquisas haja vista que as
publicações a respeito são escassas.
Ainda segundo Gathas, et al. (2011), as instituições de formação em enfermagem devem
inserir em suas disciplinas conteúdos que contemplem assuntos sobre a assistência de
enfermagem as vítimas de queimaduras.
É plausível afirmar frente aos resultados achados que a falta do aprofundamento de
conhecimentos relacionados a assistência com queimaduras desde a graduação, desmotiva o
enfermeiro a buscar capacitações, uma vez que frente a falta de conhecimentos mas já inseridos
no ambiente de trabalho, optam unicamente por empenharem-se na rotina técnica, indo de
encontro ao que afirma Gathas (2011) sobre ser necessário ter habilidade, competência e estar
atualizado em relação as novidades do mercado tecnológico. Esse processo desencadeia uma
série de outras lacunas na assistência, como as já discutidas no presente estudo: assistência
integral ao paciente e a família e aplicabilidade da sistematização da assistência de enfermagem,
corroborando com o que Gathas et. al. (2011) também declarou: a falta de atualização do
enfermeiro dificulta a aplicação dos diagnósticos, já que só por meio do embasamento científico
se consegue reconhecer as necessidades básicas dos mesmos.
Visando ainda uma melhor compreensão do serviço prestado dentro dos centros de
tratamento de queimados estudados, questionou-se a respeito de facilidades e dificuldades
para desenvolvimento de práticas da rotina assistencial do enfermeiro. Assim, ao se
aproximar dos profissionais percebeu-se que as pontuações levantadas se assemelhavam entre
eles e que as dificuldades sobressaíam em quantidade. Os relatos foram divididos de acordo
com a saturação das falas conforme seguem.
Facilidades:
"...a assistência e comprometimento dos profissionais são as facilidades daqui. [...]
nós sabemos o que estamos fazendo, não estamos falando bobagem. Hospitais
particulares não tem o conhecimento que nós produzimos aqui dentro. Nós que eu
falo é equipe multiprofissional, desde a minha funcionária da limpeza até o
cirurgião". (E19)
Dificuldades:
"Minha facilidade acho que é o conhecimento que tenho com relação ao perfil de
pacientes"; (E7)
"Eu me acostumei a lidar com esses pacientes e o perfil de ferida é bem semelhante
um do outro, então eu diria que eu tenho facilidade com ter um olhar crítico e saber
o que usar na ferida, como ela está"; (E8)
"A facilidade é que as pessoas já inseridas aqui são todas capacitadas, e assim facilita
nosso trabalho para fazer a assistência"; (E17)
32
Consoante aos fragmentos dos relatos, verifica-se que existe confiança no trabalho da
equipe, desde a segurança em realizar uma abordagem de qualidade com o paciente até a
obtenção da prática em meio aos profissionais já inseridos. Entretanto, conforme discutido na
categoria acerca de competências, observou-se que essa prática isolada não converge com a
prestação de assistência de qualidade, uma vez que não há continuação do processo
educacional tecnológico voltado para o cuidado inovador e holístico, sendo comprovado pelas
evidencias do serviço prestado através do destaque para técnicas e protocolos institucionais
exclusivamente.
Logo, a falta de conhecimento com que chegam ao setor referente aos cuidados
específicos ao perfil de usuários é significante em termos de dificuldades, assim como desafios
enfrentados junto a gestão hospitalar. Ocorre que, um dos centros de tratamento de queimados
contava com estrutura de ponta, moderna e munido de quantidade de pessoal adequado para o
serviço, enquanto o outro, apesar de ser chamado de centro de tratamento de queimados, não
possuía ao menos uma unidade de tratamento intensiva acoplada, e só contava com a atuação
de um único enfermeiro, diarista. Isto é, o serviço no final de semana só existe com a
monitoração de técnicos, haja vista que os médicos e enfermeiros plantonistas do hospital não
"acho que a dificuldade é que na academia a gente não vivencia muito a avaliação
tecidual do queimado, então a dificuldade que eu tive e procurei na literatura foi
identificar qual tipo de lesão, primeiro grau, segundo e terceiro grau, identificar o
que é tecido desvitalizado, o que é fibrina, o que é um tecido de granulação, o que
é necrose, mas não aquela necrose que aprendemos de só uma ulcera com borda, o
que é uma ferida em delimitação, qual o produto utilizado"; (E1)
"...estamos nos adaptando a uma nova escala, trabalhamos em quase todos os finais
de semana, isso desgasta"; (E3)
"No sábado e domingo ninguém quis colocar o curativo porque não tinha
enfermeiro. Quem admite no final de semana é o médico plantonista, que chama o
enfermeiro plantonista que avisa por telefone para botar uma cama lá e pronto.
Meu serviço para. [...] aqui no CTQ nós não temos UTI, então esse paciente não
vai para UTI do hospital. Eu tenho que improvisar com respirador, e montar uma
UTI aqui dentro e aí a minha equipe de enfermagem está apta a dar assistência
ventilatória ao paciente, a fazer o monitoramento, medicação, tudo isso graças a
equipe de educação continuada que hoje a gente tem. [...] se eu preciso de alguma
coisa eu preciso enquanto enfermeiro sair daqui e ir atrás, não tenho secretária de
clínica, eu tenho minha equipe e um monte de médico cobrando as coisas"; (E19)
"Minha dificuldade é o psicológico [...] A saúde mental do trabalhador deveria ser
levada mais em consideração. Hoje em dia isso não é visto da forma que deveria
ser pela gestão. Principalmente os profissionais envolvidos em áreas críticas. Hoje
existem profissionais que se suicidam pelo desgaste emocional na área da saúde.
Conheci uma enfermeira que se matou exatamente assim"; (E2)
"Sinto muita dificuldade quando venho fazer complementação na enfermaria no que
diz respeito ao tratamento da dor"; (E4)
"Com relação as dificuldades eu acho que seja a questão de termos pacientes
difíceis de lidar, que estão sempre com dor..."; (E7)
"Eu presto assistência e me dou o máximo para isso, mas eu não sei lidar com a
morte ainda. Eu fico super arrasada, e tem paciente que me abala muito. Essa
semana mesmo houve um, e foi difícil. A gente fica muito tempo com eles, isso
influencia muito". (E14)
33
ficam no referido setor, prejudicando a assistência do paciente que precisa ser hospitalizado
neste período.
Segundo Seixas e Melo (2008), os desafios enfrentados frente a gestão hospitalar se
dão principalmente pela falta de recursos financeiros na saúde. No Brasil, mesmo com um
bom investimento, ainda há dificuldades em encontrar o profissional que está capacitado para
utilizar os recursos de forma correta e com qualidade, gerando de qualquer forma uma
assistência precária.
Além da falta de conhecimentos, de estrutura e de profissionais qualificados, a
dificuldade em termos de jornada de trabalho resultante em desgaste do profissional também
foi apontada no que tange a gestão dos serviços.
Apesar da grande rotatividade e renovação na área assistencial das instituições de
saúde, a área administrativa, ao contrário, segundo estudos, tende a ficar estagnada, gerando
acomodação do administrador e falta de mudanças nas rotinas. (SEIXAS, MELO, 2008)
Assim, verifica-se frente aos achados, que as dificuldades oriundas da assistência de
modo geral, podem estar associadas a má qualificação do profissional, falta de interesse em
capacitar-se, falta de recursos financeiros de órgãos responsáveis para investimento estrutural
e pessoal bem como de uma gestão ainda falha.
Por se tratar de um setor crítico e demandar do profissional uma postura técnica e
mental centradas ao lidar com o próximo, grande parte dos enfermeiros relataram desgaste
físico/emocional oriundos do processo de trabalho com vítimas de queimaduras. Sugeriram
programas de acompanhamento a saúde do trabalhador, tendo em vista que já conheceram
colegas que se esgotaram até se tornarem também enfermos. Podemos afirmar que os aspectos
que representam essa dificuldade são o manejo da dor e o enfrentamento da morte
acompanhados das dificuldades administrativas do processo de trabalho. É importante
ressaltar que o cuidado junto as vítimas de queimaduras é difícil tanto para o paciente quanto
para o enfermeiro.
Com o objetivo de auxiliar os profissionais de enfermagem na melhoria da prestação de
serviços assistenciais com pacientes vítimas de queimaduras dentro dos parâmetros desejados,
ou seja, multidimensional; técnico e ao mesmo tempo humano e holístico, faz-se necessário
investir na capacitação permanente, para elaborar e fortalecer estratégias no gerenciamento da
dor aguda, crônica ou emocional do paciente e dos próprios profissionais. (DE OLIVEIRA
NEGROMONTE, DE ARAUJO, 2011)
Isto posto, evidencia-se que as dificuldades na prestação de assistência a vítimas de
queimaduras ainda se apresentam em maior proporção, ratificando com os estudos que
34
sinalizam as principais lacunas pertinentes a ação da equipe de enfermagem: dificuldade no
gerenciamento da dor aguda; falta de formação e atualização; equipe totalmente tecnicista; falta
de preocupação para identificar os problemas do paciente e solucioná-los; não aplicabilidade
dos processos de enfermagem; desgaste físico, mental e emocional oriundos da complicada
convivência com o sofrimento alheio, a responsabilidade solicitada e a dificuldade em ser
imparcial do profissional, resultando em uma assistência desumana e precária. (AZEVEDO,
RIBEIRO, 2011; SILVA, CASTILHOS, 2010)
Apesar de apresentarem percepções condizentes acerca da importância da condução de
um trabalho íntegro e de qualidade na assistência a pacientes vítimas de queimaduras e serem
reconhecidos pela postura ética e responsável pelos pacientes, os enfermeiros atuantes dos
centros de tratamento de queimados estudados apresentam pouca autonomia na atuação de suas
próprias atividades privativas, resultando em uma assistência com enfoque técnico e
desvinculado da abordagem multidimensional requerida frente aos assistidos e suas famílias,
que apresentam além das necessidades físicas, as de dimensões psicossociais. Colige-se que os
achados se justificam da formação dos profissionais concernentes a esse perfil de pacientes, a
falta de capacitação e atualização, dificuldade no manejo da dor e desgaste físico e emocional
devido à complexidade do trabalho.
35
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A assistência de enfermagem frente a vítimas de queimaduras apresenta percepções de
relevância positivas tanto pelos profissionais quanto para os pacientes. Em contrapartida,
evidenciou-se que as necessidades dos pacientes não são atendidas em sua totalidade, sendo os
achados corroborantes com as deficiências indicadas pela literatura.
36
REFERÊNCIAS
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assistência à dor do paciente queimado. São Paulo, v.12, n. 4, p: 342-348, 2011. Disponível
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39
APÊNDICE A – ENTREVISTA ENFERMEIROS
ENTREVISTA EQUIPE DE ENFERMAGEM
Código Idade Sexo
Local de trabalho
HEDJSN
HEINSG
1- Relate qual a sua percepção com relação ao seu trabalho com pacientes vítimas de
queimaduras.
2- Qual é a sua conduta na admissão, rotina durante a reabilitação e saída do paciente no
CTQ?
3- Fale sobre sua formação acadêmica e a relação que ela teve com o seu atual trabalho.
Você se saiu preparado(a) para trabalhar nesse setor?
4- Como você aplica os diagnósticos e prescrições de enfermagem com os pacientes do
CTQ?
5- Como suas capacitações profissionais melhoraram o seu processo de trabalho? Por quê?
6- Quais são as facilidades que você percebe na sua rotina de trabalho? Por quê?
7- Quais são as dificuldades que você percebe na sua rotina de trabalho? Por quê?
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APÊNDICE B – ENTREVISTA USUÁRIOS
ENTREVISTA USUÁRIO
Código Idade Sexo
1- Relate qual a sua percepção com relação ao atendimento recebido desde a sua chegada.
2- Como foi a conduta na admissão e está sendo a rotina durante sua reabilitação no CTQ?
3- O que ocasionou a sua queimadura? Como aconteceu?
4 - Quais os pontos positivos e negativos da assistência recebida? Por quê?
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APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pesquisador Responsável: Gabriela Louise Caldas Koene
Endereço: Av. Nossa Senhora da Penha, 595
CEP: 29056-245 – Vitória – ES
Fone: (27) 99505-6940
E-mail: [email protected]
O Sr. (a) está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa “A
ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES
VÍTIMAS DE QUEIMADURAS”. Neste estudo pretendemos analisar a atuação do enfermeiro
na assistência aos pacientes vítimas de queimaduras com o intuito de promover a otimização
das políticas públicas neste âmbito.
O motivo que nos leva a estudar é que de acordo com a literatura, ainda existem lacunas
pertinentes a ação da equipe de enfermagem nos centros de tratamento de queimados:
dificuldade no gerenciamento da dor aguda; falta de formação e atualização; equipe totalmente
tecnicista; falta de preocupação para identificar os problemas do paciente e solucioná-los; não
aplicabilidade dos processos de enfermagem; desgaste físico, mental e emocional oriundos da
complicada convivência com o sofrimento alheio, a responsabilidade solicitada e a dificuldade
em ser imparcial do profissional. Tudo isso implica em uma assistência desumana e precária.
Para este estudo adotaremos uma pesquisa do tipo descritiva desenvolvida a partir de
abordagem qualitativa. O tipo de procedimento apresenta um risco mínimo, mas que será
reduzido mediante orientações e avisos da total proteção à confidencialidade, com particular
ênfase na garantia do sigilo de informações confidenciais e sigilosas, obtidas na pesquisa,
através do anonimato dos participantes, por meio da adoção de nomes-fantasia/pseudônimos.
Nos casos em que o procedimento utilizado no estudo traga algum desconforto, eu Gabriela
Louise Caldas Koene, serei responsável para informar ao entrevistado que ele tem o direito de
retirar-se da pesquisa a qualquer momento, não havendo qualquer tipo de constrangimento entre
as partes.
42
Os benefícios esperados com o estudo serão no sentido de instigar o redirecionamento
do cuidado neste campo de prática assistencial, tendo em vista a complexidade do serviço e
importância de se garantir a sociedade um atendimento de qualidade pela equipe de
enfermagem, além de promover através da capacitação continuada desta, profissionais com
conhecimento e domínio maior acerca do atendimento fundamentado e personalizado do
usuário. Assim, contribuir com informações valiosas para a comunidade científica, para o
sistema de saúde e para os gestores em saúde sobre as práticas desenvolvidas pela equipe de
enfermagem para otimização da assistência.
Para participar deste estudo você não terá nenhum custo, nem receberá qualquer
vantagem financeira. Você será esclarecido (a) sobre o estudo em qualquer aspecto que desejar
e estará livre para participar ou recusar-se a participar. Poderá retirar seu consentimento ou
interromper a participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em
participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido pelo
pesquisador.
O pesquisador irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo.
Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o
material que indique sua participação não será liberado sem a sua permissão.
O (A) Sr (a) não será identificado em nenhuma publicação que possa resultar deste
estudo.
Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma via
será arquivada pelo pesquisador responsável, na Escola Superior de Ciências da Santa Casa de
Misericórdia de Vitória - EMESCAM e a outra será fornecida a você.
Caso haja danos decorrentes dos riscos previstos, o pesquisador assumirá a
responsabilidade pelos mesmos.
Eu, ____________________________________________, portador do documento de
Identidade ____________________ fui informado (a) dos objetivos do estudo “A ATUAÇÃO
DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES VÍTIMAS DE
QUEIMADURAS”, de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer
43
momento poderei solicitar novas informações e modificar minha decisão de participar se assim
o desejar.
Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma via deste termo de
consentimento livre e esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as minhas
dúvidas.
Vitória, _________ de __________________________ de 2018.
____________________________
Participante
____________________________
Pesquisador
____________________________
Testemunha
Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar
a pesquisadora responsável.
44
APÊNDICE D – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISAS COM SERES
HUMANOS
45
46
47
APÊNDICE E – CARTA DE ANUÊNCIA I
48
APÊNDICE F – CARTA DE ANUÊNCIA II