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TEORIA E QUESTÕES V ítor C ruz Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E agora? MANUAL PARA OS PRIMEIROS PASSOS C oordenação Vicente Paulo Marcelo Alexandrino *** n r* E 0,1 TORA METODO SÃO PAULO I Vicente Marcelo

Vítor Cruz - Vou Ter Que Estudar Direito Constitucional e Agora - Manual Para Os Primeiros Passos - Ano 2010

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Vítor Cruz - Vou Ter Que Estudar Direito Constitucional e Agora - Manual Para Os Primeiros Passos

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  • TEORIA E QUESTES

    V tor Cruz

    Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E agora?

    MANUAL PARA OS PRIMEIROS PASSOS

    C oordenao

    Vicente Paulo Marcelo Alexandrino

    *** n r *E 0,1 TORA METODO

    SO PAULO

    IVicenteMarcelo

  • EDITORA MTODOUma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacionai

    Rua Dona Brgida, 701, ViSa Ma ria na - 04111-081 - So Paulo - SP Tel.: (11) 5080-0770 / {21} 3543-0770 - Fax: (11) 5080-0714

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    Coordenador Editorial: Leandro Cadenas Prado

    CIP-BRASiL CATALOGAO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

    C965v

    Cruz, Vtor, 1948-Vou ter que estudar direito constitucional! E agora? / Vtor Cruz ; coordenao [da

    srie] Vicente Pauto, Marcelo Alexandrino. - Rio de Janeiro : Forense; So Paulo : MTODO, 2010 .

    (Teoria e questes)

    Inclui bibliografia ISBN 973 -85- 309-3371-5

    1. Direito constitucional. 2 . Direito constitucional - Problemas, questes, exerccios. 3 . Servio pblico - Brasil - Concursos. I. Ttulo. II. Srie.

    10-5378 . CDU: 342

    A Editora Mtodo se responsabiliza pelos vcios do produto no que concerne sua edio (impresso e apresentao a fsm de possibilitar ao consumidor bem manuse-lo e l-lo). Os vcios relacionados atualizao da obra, aos conceitos doutrinrios, s concepes ideolgicas e referncias indevidas so de responsabilidade do autor e/ou atualizador.Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que resguarda os direitos autorais, proibida a reproduo total ou parda! de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrnico ou mecnico, inclusive atravs de processos xeragrficos, fotocpia e gravao, sem permisso por escrito do autor e do editor.

    Impresso no Brasil Printed in Brazi

    2011

    http://www.editorametodo.com.brmailto:[email protected]
  • NOTA DO AUTOR

    O ttulo desta; obra reflete com clareza a inteno ao escrev-la: retirar as barreiras e facilitar o estudo de uma disciplina to complexa e ampla. Embora existam no mercado diversos livros excelentes sobre Direito Constitucional, grande parte dos alunos demora a entender a matria como um todo devido sua extenso e profundidade, o que acaba gerando lacunas no estudo, ou criando uma averso ao tema.

    Ao criar um manual para os primeiros passos, meu objetivo foio de apresentar ao aluno um Direito Constitucional simples, agradvel e de fcil assimilao. A inteno levar o leitor construo de uma viso geral, abrangente e rpida da disciplina. H ainda a preocupao de apresentar os principais tpicos da matria ao longo da obra. Com isso, espero que seja criado um alicerce slido para um aprofundamento futuro por parte daqueles que assim desejarem.

  • SUMRIO

    CAPTULO 1 - VOU TER QUE ESTUDAR DIREITO CONSTITUCIONAL! E AGORA?..................................................... 9

    CAPTULO 2 - DIREITO E O ESTADO.................................................... 11

    CAPTULO 3 - QUAL A DIFERENA ENTRE LEI E CONSTITUIO? .................................................................................... 13

    CAPTULO 4 - 0 DIREITO CONSTITUCIONAL.................................. 17

    CAPTULO 5 - EM QUE SE BASEIA O ESTUDO DO DIREITO CONSTITUCIONAL?..................................................................... 23

    CAPTULO 6 - PRINCIPAIS TPICOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL ............................................................................... 25

    CAPTULO 7 - COMO SURGE UMA CONSTITUIO? - PODERCONSTITUINTE............................................................... 35

    CAPTULO 8 ~ OS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DA REPBLICAFEDERATIVA DO BRASIL.............................................. 39

    CAPTULO 9 - DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS............. 45

    9.1 Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5.)............ 469.2 Direitos sociais (arts. 6. a 11)............................................. 569.3 Direitos de nacionalidade (arts. 12 e 13)............................ 579.4 Direitos polticos (arts. 14 a 16)............ ............................. 599.5 Direitos relativos existncia e funcionamento dos partidos

    polticos (art. 17).................................................................... 61

    CAPTULO i a - ORGANIZAO DO ESTADO.................................... 63

  • Vou ter que estudar DIREITO CONSTiTUCONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    CAPTULO 11 - ORGANIZAO DOS PODERES................................ 67

    11.1 Poder Legislativo .............. ................................................. 6711.2 Poder Executivo .................................................................. 7411.3 Poder Judicirio .............................................. .................... 75

    CAPTULO 12 - REVISO DOS CONCEITOS QUE DEVEM SERFIXADOS.......................................................................... 79

    CAPTULO 13 - COMENTRIOS FINAIS............................................... 83

    CAPTULO 14 - EXERCCIOS COMENTADOS PARA FIXAO.... 85

    Respostas dos Exerccios ............................................................ 94Comentrios................................................................................ 95

    CAPTULO 15 - TERMOS COMUMENTE USADOS NO DIREITO ... 101

    CAPTULO 16 ~ TERMOS LATINOS JURDICOS COMUMENTEUSADOS........................................................................... 105

    BIBLIOGRAFIA 109

  • VOU TER QUE ESTUDAR DIREITO CONSTITUCIONAL!

    E AGORA?

    Essa a pergunta que passa na cabea de muitas pessoas que nunca tiveram contato com a matria e pretendem, por exemplo, prestar um concurso pblico na rea ou esto iniciando os estudos de tal disciplina na universidade. Nesta obra, tentaremos, de forma agradvel e motivadora, introduzir o estudo daqueles que buscam conhecer o tema, seja por vontade prpria ou por presso.

    Quem vos escreve algum que j se perguntou exatamente isso: E agora? Vou ter que estudar esse tal de Constitucional. Anos se passaram e percebi que minha vida poderia ter sido bem mais fcil se algum tivesse me ajudado a retirar essa barreira, me mostrando que aquele monstro no possua sete cabeas e nem mesmo era um monstro.

    Ora, quem nunca teve dvidas como: Que negcio esse de medida provisria?, O que uma emenda constitucional?, Por que somos uma repblica federativa?, Qual a diferena entre Congresso e Senado?, Quais os meus direitos como cidado? e, afinal, o que ser cidado?

    Esperamos que em pouco tempo essas sejam dvidas completamente ultrapassadas e vocs possam, sozinhos, sem medo e confiantes, aprofundar o estudo desta disciplina e desenvolverem-se, assim, principalmente como cidados.

  • Captulo L

    DIREITO E O ESTADO

    Desde que o homem decidiu viver em sociedade, no se poderia imaginar cada pessoa fazendo o que bem entendesse. Deveria haver regras de bom comportamento, para que no houvesse invaso por parte de uma pessoa no espao de outra. Assim, pode-se dizer que o Direito existe porque surgiu a necessidade de que ficassem regulamentadas as relaes da sociedade. Era necessrio impor limites e conceder liberdades, e que isso tudo fosse bem claro e de conhecimento de todos.

    * Mas, afinal, o que o direito?Pelo que vimos acima, podemos entender o Direito, em um

    conceito bsico, como o conjunto das normas que regulam as relaes de uma sociedade. Esse o conceito de Direito Objetivo, pois um objeto de estudo.

    Ao longo de nosso estudo, veremos que o termo direito tambm pode ser entendido de outra forma, por exemplo, na expresso: eu tenho o direito de fazer isso! Ter direito de fazer algo quer dizer que voc o sujeito que exercer uma ao. Assim, estamos falando do direito subjetivo (sempre que voc se deparar com o termo subjetivo, lembre-se de que subjetivo = pertencente a um sujeito).

    J sei o que direito objetivo e subjetivo, mas o que o Estado tem a ver com isso?

    Com o surgimento do direito, surge tambm a necessidade da garantia de que essas imposies no seriam descumpridas. Ento, da vontade do povo em sociedade - para garantir os interesses do prprio povo nasce o Estado, o qual tem, entre os seus elementos constitutivos, o. Governo.j.'

  • 12 Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    No confunda esse Estado que citamos com o Estado do Rio de Janeiro ou o Estado de So Paulo etc. Para fins de nosso estudo, na maioria das vezes em que estivermos falando em Estado, estaremos nos referindo ao conceito de entidade organizada que surge das relaes entre o povo e seus governantes dentro de um territrio, sempre com o objetivo de alcanar o bem comum. Teremos ento o Estado Brasileiro, o Estado Francs e etc.

    Todo Estado possui ento necessariamente 3 elementos:

    1 - Povo: constitudo somente por aquelas pessoas efetivamente ligadas ao Estado, os nacionais daquele lugar, No se confunde com populao, que qualquer um que esteja no territrio.

    2 - Territrio: o limite para o exerccio do poder de umEstado.

    3 - Governo soberano: O governo justamente a entidadecriada pelo prprio povo, para que, no interesse da sociedade, promova as regulamentaes das relaes e faa cumprir o que foi regulamentado. O governo soberano, pois dentro do territrio ele o poder mximo, o poder que representa os interesses do seu povo, e no estar submetido vontade de nenhum interesse que no seja originrio da vontade de seus nacionais.

    Todo Estado criado com uma finalidade: alcanar o bem comum.

    Na histria, nem sempre o governo foi formado por representantes do povo. Tivemos pocas em que o poder era exercido pelo mais forte ou por um lder revestido sob uma forma divina (monarquias teocrticas), mas, atualmente, principalmente aps a Revoluo Francesa e a Independncia dos Estados Unidos (final do sc. XVIII), o cidado se fortaleceu e um Estado, para ser considerado efetivamente como tal, deve possuir uma Constituio que garanta ao menos as liberdades individuais para seu povo e expresse como estar organizado o exerccio do Poder.

  • Captulo

    QUAL A DIFERENA ENTRE LEI E CONSTITUIO?

    Atualmente, no h consenso entre os estudiosos sobre o que efetivamente seria uma Constituio, pois ela poder tomar diversos sentidos, caso tomemos diferentes prismas de observao, mas o fato que: A Constituio a norma mxima de um Estado, que deve ser observada por todos os seus integrantes e tambm servir de base para todas as demais espcies de normas, alm de ser um instrumento de organizao da sociedade e do Poder Poltico, capaz de regular as relaes entre governantes e governados, e destes entre si.

    O termo "lei empregado de diversas formas no Direito. Em um sentido amplo, a lei pode ser empregada como sendo qualquer norma, ou seja, qualquer direcionamento que serve para regulamentar algo. Em sentido estrito, mais especfico, lei ser somente aquela norma que teve participao do Poder Legislativo na sua criao (veremos isso mais detalhadamente frente).

    A Constituio at pode ser considerada uma lei (em sentido amplo), alis, a lei maior, a norma suprema em um Estado. Mas acontece que nem sempre a Constituio pode, e nem deveria, entrar em detalhes sobre algum assunto, apenas se limita a fazer meno ao tema e deixar que os detalhamentos sejam feitos pelas leis (em sentido estrito), que alguns chamam de leis menores (em oposio ao termo lei maior, sinnimo de Constituio).

    Assim, a lei propriamente dita, aquela lei em sentido estrito, elaborada para dispor sobre assuntos de forma mais palpvel, para no ficar apenas na previso abstrata da Constituio. Essa lei que ir efetivamente fazer valer os direitos e trazer as obrigaes ao povo dentro da sociedade.

    A Constituio Federal estabeleceu no seu art. 5., II, que ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno

  • 1 9 Vou ter que estudar DRBTO CONSTITUCIONAL! Agora? - Vtor Cruz

    em virtude de lei. Este o chamado princpio da legalidade ou liberdade.

    Essas leis so chamadas comumente tambm de normas infra- constitucionais, pois se posicionam em uma hierarquia logo abaixo da Constituio.

    Existem outras normas que podero ser criadas para regulamentar ainda mais a matria. Estas so principalmente elaboradas pelo Poder Executivo, chamadas normas infralegais. Elas so infralegais porque se posicionam hierarquicamente abaixo das leis propriamente ditas. Exemplos destas normas so as portarias, regulamentos etc.

    Exemplo hipottico:

    Dizeres da uma Constituio do Pas A

    Dizeres de uma lei infraconstitucional

    Dizeres de uma norma infralegai

    assegurado o direito aposentadoria.

    A aposentadoria poder ser requerida por aqueies que trabaiharam por 35 anos, recolhendo a efetiva contribuio.

    O recolhimento da contribuio dever ser feito at o dia 10 de cada ms, atravs de guia especiai, usando-se os ndices percentuais que encontram-se no ANEXO il a este regulamento.

    Um jurista austraco chamado Hans Kelsen elaborou a seguinte pirmide hierrquica:

    Constituio

    Leis infraconstitucionais

    Normas infralegais

    Esta pirmide revela vrias nuances. A primeira delas que a Constituio mais enxuta tem poucos detalhes e dela que irradiam todas as outras normas, que vo cada vez mais encorpando o chamdo ordenamento jurdico (conjunto das normas em vigor).

  • Cap. -3 - QUAL A DIFERENA ENTRE LEI E CONSTITUIO? mDevido ao fato de a Constituio ser a origem das demais nor

    mas, o estudo do Direito Constitucional acaba se tornando a melhor ferramenta para se ter uma base slida no estudo do Direito. No se consegue ser um especialista em algum ramo desta disciplina sem que se saiba, ao menos de forma razovel, o Direito Constitucional.

    Outro ponto que extramos da pirmide de Kelsen que a Constituio hierarquicamente superior s leis, e estas so hierarquicamente superiores s normas infralegais. Assim, importante que digamos que as leis s podem ser elaboradas observando-se os limites da Constituio, e as normas infralegais s podero ser elaboradas constatando-se os limites da lei a qal regulamentam e, assim, indiretamente tambm devero estar nos limites da Constituio.

    Dessa forma, pode ser que ocorra o que chamamos de incompatibilidade, ou seja, caso uma norma contrarie de alguma forma o que dispe utra, hierarquicamente superior a ela, a norma ser incompatvel. Essa incompatibilidade ser chamada de ilegalidade quando uma ndrma infralegai contrariar uma lei, ou inconstitucionalidade, quando!uma norma infraconstitucional contrariar a Constituio.

    Observao: No existem hierarquias dentro de cada patamar, ou sejaj, no existe qualquer hierarquia entre quaisquer das normas constitucionais nem qualquer hierarquia de uma lei perante outra lei, jainda que de outra espcie.

    Sempre que for verificada a incompatibilidade de normas, a norma ilegal oju inconstitucional dever ser declarada nula, sendo retirada do ordenamento jurdico.

    Normas infralegais apenas excepcionalmente cometem inconstitucionalidade, j que, na maioria das vezes, antes de ferir o disposto na Constitio, j feriram o que est disposto em uma lei, sendo ento declarada nula por ilegalidade. Diz-se, ento, que, embora a norma infralegai v contra a Constituio, ela comete uma inconstitucionalidade apenas de forma indireta (tambm chamada de reflexa), pois, antes de atingir diretamente os preceitos constitucionais, j atingiu a lei a qual regulamenta.

  • Captulo T r

    O DIREITO CONSTITUCIONAL

    Como j vimos, o Direito, grosso modo, seria o conjunto de todas as normas (inclusive os princpios no expressos em nenhum documento escrito) que regulamentam a vida em sociedade. O Direito Constitucional definido como o ramo de direito pblico que estuda os conceitos relacionados ordem constitucional, ou seja, analisa a lei mxima de um pas e o que estiver atrelado a ela. E um direito amplo, pois acaba albergando as noes gerais de diversos outros direitos.

    Falamos em ramo do direito pblico, mas o que seria isso?O direito visto como um corpo nico indivisvel, pois no

    h competio entre as normas, j que se completam para, em conjunto, regulamentar as relaes. Porm, existem divises didticas para facilitar o estudo do direito e a principal a que divide-o em2 ramos: o direito pblico e o direito privado.

    Direito Privado Regulamenta as relaes enre particulares (pessoas): Direito Civil, Direito Comerciai e Direito Internacional Privado.

    Direito Pblico Regulamenta a poltica do Estado e as relaes entre os seus rgos, ou entre estes e os particulares.

    Assim, podemos dizer que o direito privado engloba os ramos da disciplina onde no h superioridade de nenhuma das partes da relao. Desta forma, quando o Cdigo Civil estabelece algo como, por exemplo, as regras de um contrato, as pessoas podero buscar este algo, firmar este contrato, em p de igualdade, sem haver o pressuposto de superioridade de uma em relao outra.

  • Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    No direito pblico isso no acontece. Teremos como uma das partes o Estado, o qual defender o interesse pblico e, dessa forma, poder se sobrepor aos particulares, j que o interesse geral , em regra, mais importante para a sociedade do que para o individual.

    importante salientar que nem sempre estaremos falando em direito pblico quando o Estado estiver como parte da relao, pois, algumas vezes, o Estado tambm ser regido por direito privado, por exemplo, quando est comprando ou vendendo algum bem ou mercadoria, ou quando est prestando servios no exclusivos de Estado, como transporte pblico, ou alugando um edifcio pblico.

    Voltando ao Direito Constitucional, podemos dizer que, para fins de estudo, ele se divide em basicamente 3 espcies:

    Direito Constitucional Comparado - Tem como objeto de estudo a comparao entre ordenamento constitucional de vrios pases (critrio espacial), ou de um mesmo pas em diferentes pocas de sua histria (critrio temporal), com o objetivo de aprimorar o ordenamento atual.

    Direito Constitucional Geral (ou comum) - o estudo dos conceitos e princpios constitucionais de forma geral, ou seja, sem se preocupar com um ordenamento constitucional especfico. um estudo terico.

    Direito Constitucional Positivo (ou especial) - o direito constitucional propriamente dito, que vai estudar um ordenamento especfico que esteja vigorando em um pas. Diz-se positivo pois est em vigor, capaz de impor a sua fora.

    Como j foi dito, o Direito Constitucional, por estudar a Constituio, acaba por adentrar, ao menos superficialmente, no campo dos diversos direitos. No h um consenso sobre a nomenclatura e a abrangncia exata de cada ramo, mas podemos destacar os principais deles e quais seriam os seus objetos, em uma viso geral:

  • Cap. 4 - 0 DIREITO CONSTITUCIONAL

    DireitoAdministrativo

    o ramo do direito pblico que cuidar dos elementos inerentes administrao pblica, ou seja, os rgos pblicos, agentes pblicos etc. A Constituio Federal traz nos seus arts. 37 a 41 as principais normas e princpios a serem observados.

    Direito Ambiental o ramo que estabelece as condutas que devem ser adotadas para a interao do homem com o meio ambiente.

    Direito Civil

    o ramo que cuida das relaes entre particulares. Regulamenta, entre outras diversas coisas, como sero os contratos particulares, o direito de propriedade, direito herana, casamento, divrcio etc. 0 atual Cdigo Civil foi institudo em 2002 (Lei 10.406); o anterior era o de 1916.

    Direito Comercial

    o ramo amplo que abrange Direito Empresarial, o Direito Falimentar e as relaes comerciais como contratos e ttulos de crdito. O Direito Comercial regula a definio de empresa, seus tipos, como se far o registro; passa pelas relaes entre as empresas, os contratos, os ttulos de crdito (cheque, duplicata, promissria...) e vai at a sua falncia. O Cdigo Comerciai foi quase em sua totalidade revogado pelo Cdigo Civil de 2002. Atualmente, o Cdigo Comercial regula apenas o Direito Martimo e o restante regulado pelo Cdigo Civil e por leis diversas, espalhadas, como a Lei de Falncias (Lei 11.101/05).

    Direito do Consumidor

    Ramo de grande relevncia e divulgao na atualidade. Basicamente, tem como objeto o Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC - Lei 8.078/90). Cuida das relaes onde esto presentes um fornecedor e um consumidor final (j que aquee que compra para revender e no para consumir no ser regulado pelo CDC e sim peto Direito Comercial).

    Direito Eleitoral o ramo que estabelece normas para regular o sistema eleitoral. No Brasil, as principais normas eleitorais so o Cdigo Eleitoral (Lei 4.737/65) e a Lei Geral das Eleies (Lei 9.504/97).

    Direitointernacional

    Privado

    o ramo que, grosso modo, cuida da aplicao interna (em casos extraordinrios) do Direito que vigente em um outro pas. Por exemplo, ao julgar um estrangeiro no Brasil, o fato de ela ter ou no capacidade civii (ser maior ou menor de idade) analisado de acordo com a legislao de seu pas de domiclio. A principal lei que versa sobre direito internacional privado a Lei de Introduo ao Cdigo Civil - LICC (Dec-lei 4.457/42).

  • 20 Vou ter que estudar DIRETO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    DireitoInternacional

    Pblico

    o ramo que cuida das relaes existentes entre os diversos Estados do mundo, organizaes internacionais ou inter governamentais, ou demais entidades que possuam personalidade de direito pblico internacional. A regulamentao dessas relaes ocorre por meio de tratados ou convenes internacionais (multlaterais ou bilaterais).

    Direito Financeiro

    o ramo que cuida basicamente de como o Estado vai auferir recursos e como eie gastar estes recursos. Dessa forma, o Direito Financeiro estabelece normas que devem ser seguidas por ocasio das arrecadaes de receitas e para um gasto responsvel do dinheiro pblico.

    Direito Penal

    o ramo que cuida do direito e do dever que o Estado possui de punir pessoas que cometam atos ilcitos, ou seja, atos que contrariem as normas do bom convvio em sociedade. As condutas somente sero consideradas ilcitas, proibidas, se estiverem expressamente dispostas em lei (chama-se, ento, conduta tpica, pois est tipificada na Sei). A principal lei penal no Brasil o Cdigo Pena! de 1940. Este cdigo no exclui a previso de condutas penais em outras leis.

    DireitoPrevidencirio

    Ramo que cuida de diversos direitos sociais. A previdncia social (ou seguro social) o amparo que ser dado pelo Estado quele trabalhador que recolhe contribuies do seu sairio para o sistema de previdncia. Assim, esto no mbito da previdncia social diversos benefcios, como aposentadoria, penso por morte, auxlio-acidente, auxlio- -doena etc. No se deve confundir previdncia social com assistncia social. Esta prestada peio Estado quelas pessoas de baixa renda. Independentemente de contriburem, a previdncia assegurada somente queles que recoiham contribuies. Tambm no se deve confundir previdncia (ou seguro) social com o termo seguridade social, j que seguridade o termo amplo que abrange as aes da previdncia sociai, assistncia social e sade.

    Direitos Processuais

    (Civil, Penai, do Trabalho...)

    Os direitos processuais podem ser de vrias reas, mas tm em comum o fato de regulamentar os procedimentos, os ritos que devem ser seguidos dentro de cada ramo dito "material1'. Assim, o Direito Processual Civil ir estabelecer os procedimentos para se alcanar o que assegurado no Direito Civil, da mesma forma o Direito Processual Pena) com o Direito Penal, o Processual do Trabalho com o Direito do Trabalho e o Processual Tributrio com o Direito Tributrio.

    Direito do Trabalho

    o ramo que estabelece um conjunto de normas que regulam as atividades entre os empregadores e os empregados. No Brasil, estas normas esto basicamente dispostas na Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), que no exclui a possibilidade da presena de outras leis, como a Lei do

    ^Estgio etc.

  • Cap. 4 - 0 DiREITO CONSTiTUCIONAL

    Ramo do direito pblico que cuida das arrecadaes tributrias. Alguns o consideram como parte do Direito Financeiro, outros como ramo autnomo do Direito. Para ser tributo, e ento estar no campo estrito do Direito Tributrio, deve-se faiar em uma arrecadao compulsria, em que o cidado no pode escolher se pagar ou no, por isso, deve tambm vir instituda em lei; deve ser uma cobrana em valor monetrio ou, ao menos, passivel de ser expressa em moeda; al cobrana no pode se confundir com punies, multas etc. Tributo no punio, mas uma contribuio do povo para o financiamento do Estado, para que este defenda os interesses da coletividade. A principal lei tributria o Cdigo Tributrio Nacional (CTN - Lei 5.172/66).

  • EM QUE SE BASEIA O ESTUDO DO DIREITO CONSTITUCIONAL?

    Para estudar Direito Constitucional, teremos que nos basear, principalmente, em trs pilares:

    1 - A Constituio Federal: No Brasil, tivermos 8 Constituies(na verdade, foram 7, pois a de 1969 no foi exatamente uma Constituio, mas uma emenda Constituio de 1967, que mudou tanta coisa que a consideram uma Constituio separada - mas deixemos isso para depois). A atual Constituio do Brasil foi elaborada em 1988. Tivemos anteriormente as de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1969. A literalidade das normas escritas na Constituio ser a principal fonte de estudo.

    2 - A doutrina: Consiste em um estudo terico. So os pensamentos dos juristas e estudiosos que, por meio de seus livros, artigos e palestras, expem seus pensamentos e teses que muitas vezes direcionam os julgamentos proferidos pelo Poder Judicirio e auxiliam inclusive na elaborao de leis e outras normas.

    3 A jurisprudncia: Grosso modo, o entendimento queos tribunais, em especial o Supremo Tribunal Federal (no caso do Direito Constitucional), fixam sobre determinados assuntos. Assim, quando o tribunal decide uma causa baseada na Constituio, ele interpreta as normas desta e, com isto, direciona o modo de aplicao desta norma no futuro, notadamente quando a interpretao permanece uniforme ao longo do tempo, por meio de reiteradas decises no mesmo sentido. Geralmente, quando um tribunal quer manifestar que pensa de tal modo, aps reiteradas decises, divulga

  • 24 Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    a chamada smula de jurisprudncia, que nada mais do que um verbete publicado oficialmente expondo seu entendimento.

    Esses trs pontos citados, como dito, so os principais objetos do nosso estudo, mas no os nicos. Eles iro se juntar a outros, tais como os usos e costumes, as diversas leis ordinrias e complemen- tares (que veremos frente) e at mesmo outras normas, como os regimentos dos tribunais e das Casas Legislativas (Senado Federal, Cmara dos Deputados) e atos do Poder Executivo (regulamentos, decretos...), para formarem as fontes do Direito Constitucional, ou seja, o lugar de onde nasce o Direito Constitucional, de onde provm tal direito. Isto tudo que foi citado ser usado para de alguma forma dar eficcia s disposies que o texto constitucional nos trouxe.

    Percebe-se, ento, que o Direito Constitucional uma matriz, um direito amplo que ir alcanar tudo aquilo que de certa forma veicula ou permite a aplicao da norma-me de um Estado: sua Constituio.

  • Captulo

    PRINCIPAIS TPICOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL

    0 Direito Constitucional, por ser um direito amplo, no permite que um estudo sistemtico, por partes, se tome eficiente, dada a grande correlao entre os preceitos. Assim, precisamos ter sempre em mente a viso conjunta, principalmente daquilo que estabelecido pela Constituio Federal. Para que comecemos a formar essa viso conjunta, passaremos rapidamente pelos principais tpicos que sero estudados nesta disciplina e o que se ver em cada um deles.

    A) Estudo Terico:1 - Teoria Geral do Estado: o estudo da formao histrica

    dos Estados, analisando seus elementos, as fases de sua formao, a finalidade de sua criao. J demos uma pincelada sobre isso no incio desta obra, quando falamos sobre Direito, Estado e Constituio. A chamada TGE no est exatamente dentro da disciplina do Direito Constitucional, mas disciplina auxiliar e ajuda muito no real entendimento dos preceitos da teoria constitucional.

    2 - Constitucionalismo: O constitucionalismo tambm um estudo terico. Nele, estuda-se o surgimento da Constituio. Alguns autores j enxergam o constitucionalismo desde a poca do povo hebreu, dizendo que constituio seria toda forma escolhida para organizar a sociedade. Outros autores (maioria) consideram Constituio somente aquela que se formou em um documento escrito a partir da Revoluo Francesa, criada para organizar o Estado e limitar o poder dos governantes em face do povo. Importante dizer que o constitucionalismo dinmico, pois a Constituio, bem como os seus conceitos conexos, no pode ser entendida como estagnada, mas em constante evoluo. Assim, o constitucionalismo algo que ocorreu e est ocorrendo em todos os pases, j que a prpria histria da Costiuio,''C'

  • m Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz3 - Classificao e sentidos (concepes) das Constituies:

    Na Classificao das Constituies sero estudadas as diversas classificaes que a doutrina, ao longo dos anos, passou a estabelecer para diferenciar uma Constituio de outra. Por exemplo: Constituio escrita x Constituio no escrita; Constituio promulgada (elaborada pela vontade do povo) x Constituio outorgada (imposta pelo governante). As concepes ou sentidos das Constituies so o estudo do que os principais filsofos, juristas e doutrinadores diziam como reposta pergunta: Afinal, o que uma Constituio?. Alguns davam como resposta tudo aquilo que escreveram em um texto e disseram que a Constituio, outros responderiam no todo o texto escrito, mas s a parte que organiza o Estado e traa os limites do seu poder, e ainda outros que chegavam a falar no nada do que est escrito, a Constituio so as prprias relaes que a sociedade estabelece no seu dia a dia.

    4 - Interpretao (hermenutica) Constitucional: Interpretar extrair o verdadeiro significado de algo. Interpretar a Constituio tentar chegar exata finalidade de cada uma das normas escritas no texto constitucional. Nesse estudo terico da interpretao constitucional, tambm chamado de hermenutica constitucional, estudam-se os diversos princpios que devem ser observados para se interpretar as normas constitucionais, e os diversos mtodos que devem ser utilizados para realizar esta interpretao.

    5 - Eficcia e aplicabilidade das normas constitucionais: Toda norma constitucional possui eficcia jurdica. Isso quer dizer que toda norma da Constituio tem o poder de se impor sobre o ordenamento jurdico (conjunto de todas as normas que regulam as relaes de um Estado), devendo obrigatoriamente ser observada, no podendo nenhuma outra norma ir contra os mandamentos ali estabelecidos. Embora todas elas tenham eficcia jurdica, a doutrina resolveu distinguir as formas pelas quais esta eficcia se manifesta. A doutrina majoritria segue a classificao do professor Jos Afonso da Silva, mas existem outras classificaes relevantes, como as da professora Maria Helena Diniz, entre outras. O professor Jos Afonso separa as normas constitucionais em 3 grupos:

    Normas que possuem eficcia plena - So as normas que esto prorjtas para serem aplicadas e j possuem tudo aquilo

    ~ que for necessrio para seu emprego diretamente traado pela

  • Cap. 6 - PRINCIPAIS TPICOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL

    Constituio. Diz-se que estas normas possuem a aplicao imediata, no precisando de nenhum outro esforo do Poder Legislativo. Ex.: Ningum poder ser compelido a associar-se ou permanecer associado (CF, art. 5., XX).

    Normas que possuem eficcia contida - So aquelas normas que, da mesma forma que as plenas, podem ser aplicadas de imediato, tambm esto prontas. Porm, a Constituio deu espao para que o Poder Legislativo pudesse editar uma lei que viesse restringir o alcance dessa aplicao. Ex.: livreo exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendida as qualificaes profissionais que a lei estabelecer (CF, art. 5., XIII). Ou seja, as pessoas podem exercer de forma plena qualquer trabalho, ofcio ou profisso, salvo se vier uma lei estabelecendo certos requisitos que podero conter essa plena liberdade.

    * Normas que possuem a sua eficcia limitada - Neste grupo se enquadrara as normas que no possuem uma regulamentao suficiente para que possam ser aplicadas de imediato. Assim, diz-se que so normas de aplicabilidade mediata, j que somente quando o Poder Legislativo elaborar uma lei para mediar os efeitos delas, que podero ser aplicadas. Ex.: O Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor (art. 5., XXXII). Se a lei no estabelecesse o Cdigo de Defesa do Consumidor, no se poderia aplicar essa norma por si s.

    6 - Poder Constituinte: Poder constituinte o poder de se elaborar ou de se modificar uma Constituio. No estudo do Poder Constituinte, analisa-se cada uma de suas espcies e os requisitos e limitaes para se modificar a Constituio.

    7 Controle de Constitucionalidade: J foi dito por diversas vezes que a Constituio a principal norma da ordem jurdica, devendo se impor sobre todas as demais normas (princpio da supremacia da Constituio). Para que a Constituio consiga efetivamente se impor, no sendo ignorada, precisamos controlar a constitucionalidade dos demais atos normativos, ou seja, verificar se as normas esto de acordo com os preceitos estabelecidos na Constituio. Assim, controlar a constitucionalidade, nada mais do que fazer um controle de? compatibilidade.

  • 28 Vou ter que estudar ORE1TO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Wfor Cruz

    No Brasil, o controle de constitucionalidade feito basicamente pelo Poder Judicirio, que pode julgar se uma lei inconstitucional ou no por meio de 2 formas:

    Controle direto ou abstrato - Ocorre quando o Supremo Tribunal Federal julga uma das aes prprias deste controle (Ao Direta de nconstitucionalidade - ADI; Ao Declaratria de Constitucionalidade- ADC, ou Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental- ADPF). Essas aes so ajuizadas somente por algumas pessoas especialmente relacionadas no art. 103 da Constituio. O nome do controle direto, pois levado diretamente ao principal rgo da justia brasileira - o STF - e abstrato porque se faz uma impugnao da lei: independentemente de qualquer caso concreto (situao ocorrida), olha-se somente para a compatibilidade da lei com a Constituio, sem levar em considerao os efeitos que essa lei gerou na vida da sociedade.

    Controle difuso ou concreto - O controle concreto ocorre quando tenta-se, no curso de um processo judicial (caso concreto), argumentar que certa norma est causando efeitos indevidos, e isso porque contrria ao que foi estabelecido pela Constituio. Assim, a pessoa que acha que a norma inconstitucional no pede diretamente queo juiz declare a norma como invlida, mas sim que resolva o seu problema concreto. A declarao de nconstitucionalidade da norma apenas um meio para resolver a controvrsia. Dizemos que este controle difuso (aberto), pois ele no possui um rgo especfico para seu controle, e nem mesmo possui uma ao prpria para queo judicirio tome conhecimento da causa.

    Alertamos que no s o Judicirio que faz controle de constitucionalidade, embora seja o principal. Durante o estudo de tal tema, voc ver que existe a possibilidade de rgos do Poder Executivo e do Poder Legislativo tambm realizarem o controle da constitucionalidade dos atos normativos.

    B) Estudo da Constituio Federal:Como vimos, a atual Constituio do Brasil a que foi elaborada

    em 1988 (por isso chamaremos de CF/88). Alguns autores no gostam de chamar a Constituio de Constituio Federal, pois o seu nome^verdadeiro Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Chamar a nossa Lei Maior de Federal pode induzir, erroneamente,

  • Cap. 6 - PRINCIPAIS TPICOS .0 0 DIREITO CONSTITUCIONAL

    a se imaginar que ela s se aplica ao Poder Pblico Federal (ou seja, no mbito da Unio). Na verdade, ela uma lei que se aplica a toda a Repblica, no s Unio, como todos os Estados, todos os Municpios, e o Distrito Federal devem observar e fazer cumprir tudo que ali est escrito. Assim, no se trata de uma norma apenas federal, mas uma norma nacional.

    Em que pese estas discusses e consideraes doutrinrias, continuaremos a adotar nesta obra o nome Constituio Federal e a sigla CF/88, apenas por pragmatismo, no querendo, de forma alguma, ignorar o carter nacional da Constituio.

    A CF/88, ento, a nossa oitava Constituio. Tivemos anteriormente as de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1969. A CF/1969, na verdade, no foi exatamente uma Constituio, foi uma emenda constitucional (EC 1/1969) feita Constituio de 1967, que alterou tanta coisa, que passou a ser considerada uma Constituio autnoma.

    A CF/1988 uma constituio promulgada (elaborada por representantes do povo, no interesse do povo), foi elaborada por uma assembleia constituinte, assim como as de 1891, 1934 e 1946. J as demais foram outorgadas (impostas) em virtude do Imprio (1824), Estado Novo (1937) e Ditadura Militar (1967 e 1969).

    A CF/1988 possui 2 partes:

    1 - Parte Permanente: Formada pelo Prembulo + 250 artigos,divididos em 9 ttulos:Ttulo I: Princpios Fundamentais Ttulo II: Dos Direitos e Garantias Fundamentais Ttulo III: Da Organizao do Estado Ttulo IV: Da Organizao dos Poderes Ttulo V: Da Defesa do Estado e das Instituies DemocrticasTtulo V: Da Tributao e do Oramento Ttulo VII: Da Ordem Econmica e Financeira Ttulo VIII: Da Ordem Social Ttulo IX: Das Disposies Constitucionais Gerais

    2 - Parte Transitria: Formado por artigos que estabelecemregras,.* temporrias, os chamados Atos das Disposies

  • Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    Constitucionais Transitrias comumente conhecidos como ADCT.

    Vejamos o que dispe, em linhas gerais, cada um dos elementos acima:

    1 - Prembulo: O prembulo no uma norma, uma citao. Trata-se da porta de entrada da Constituio, a sntese do pensamento e intenes dos constituintes ao se dar incio a um novo ordenamento jurdico. Prembulo da Constituio de 1988:

    Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional com a soluo pacfica das controvrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

    2 ~ Princpios Fundamentais: Estes princpios esto dispostos nos arts. l. a 4. da Constituio. O nome escolhido (Princpios + Fundamentais) de grande importncia. So princpios, pois so diretrizes a serem observadas, pontos de partida. So fundamentais por formarem a base, o alicerce da Constituio. Os Princpios Fundamentais definem a ordem poltica de nosso Estado (tudo o que for chamado de poltico recebe este nome porque est direcionando, organizando), ou seja, so eles que definem a estrutura do Estado. Ao longo da Constituio, diversas normas decorrero dos princpios fundamentais.

    3 - Dos Direitos e Garantias Fundamentais: Os direitos so diferentes das garantias. Diz-se que direito uma faculdade de agir, exercer, fazer ou deixar de fazer algo, uma liberdade positiva. As garantias no se referem s aes, mas sim s protees que as pessoas possuem frente ao Estado ou mesmo frente s demais pessoas. Diz-se que as garantias so protees para que se possa exercer um direito. Ex.: Art. 5., XXII - garantido o direito de propriedade; Art. 5.,IX - livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, independentemente de censura ou licena.

  • Cap. 6 -"PRINCIPAIS TPICOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL mOs direitos e as garantias que so fundamentais (bsicos) esto

    dispostos nos arts. 5. a 17 da Constituio, divididos em cinco espcies:

    a) direitos e deveres individuais e coletivos ~ art. 5.;b) direitos sociais - arts. 6. a 11;c) direitos de nacionalidade - arts. 12 e 13;d) direitos polticos - arts. 14 a 16; ee) direitos relativos existncia e funcionamento dos partidos

    polticos - art. 17.

    4 - Da Organizao do Estado: Este ttulo vai explorar os seguintes temas:

    a) Organizao Poltico-Administrai iva - arts. 18 e 19 - dispe sobre a organizao do territrio nacional e a repartio territorial do Poder. O Poder fica ento desmembrado e exercido por 4 entidades autnomas (Unio, Estados, Municpios e Distrito Federal). A organizao poltico-administrativa versa ainda sobre como os territrios de Estados e Municpios podem ser reorganizados e quais as proibies que essas entidades devem observar.

    b) Disposies acerca das competncias e peculiaridades da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municpios e dos Territrios Federais - arts. 20 a 33.

    c) Interveno - arts. 34 a 36 - casos onde a Unio poder intervir nos Estados, ou os Estados podero intervir nos Municpios.

    d) Administrao Pblica - arts. 37 a 42 - regulamentam como ser exercida a atividade administrativa do Poder Pblico, os servidores pblicos e os militares estaduais.

    e) Disposies referentes s Regies - art. 43 - tratando sobre a possibilidade de a Unio, para efeitos administrativos, direcionar as suas aes de forma articulada em uma certa regio, visando a seu desenvolvimento e reduo das desigualdades regionais.

    5 - Da Organizao dos Poderes: As funes do Estado so exercidas por 3 Poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judicirio. A Constituio ir ento definir suas atribuies da seguinte forma:

  • 32 Vou ter que estudar DIREITO CO NSTiTUCi O NAU E Agora? ~ Vtor Cruz

    a) Arts. 44 a 75 - disposies sobre o Poder Legislativo, sendoque nos arts. 70 a 75 encontraremos disposies sobre a fiscalizao contbil, financeira, oramentria, ou seja, uma atividade do Poder Legislativo, em que fiscaliza o cumprimento, por parte do Executivo, do Judicirio e do prprio Legislativo, dos mandamentos constitucionais no que tange gesto das verbas pblicas;

    b) Arts. 76 a 91 ~ Disposies acerca do Poder Executivo;c) Arts. 92 a 126 - Disposies sobre o Poder Judicirio;d) Arts. 127 a 135 - Versa sobre as Funes Essenciais

    Justia - so dispositivos que regulamentam a atividade do Ministrio Pblico, da Advocacia, e das Defensorias Pblicas e Advocacia Pblica.

    6 - Da Defesa do Estado e das Instituies Democrticas: Sodisposies encontradas nos arts. 136 a 144, que versam sobre:

    a) Decretao de Estado de Defesa e Estado de Stio;b) Foras Armadas;c) Segurana Pblica.

    7 - Da Tributao e do Oramento: Do art. 145 ao art. 169, a Constituio ir versar sobre o Sistema Tributrio Nacional (arts. 145 a 163) e sobre as normas que se referem elaborao das leis oramentrias (arts. 164 a 169).

    8 - Da Ordem Econmica e Financeira: Neste ttulo, que engloba os arts. 170 a 192, a Constituio dispe sobre alguns princpios gerais que devem ser observados quando do exerccio da atividade econmica, mostrando o papel do Estado como regulador da atividade econmica. Tambm se estudam neste ttulo as normas referentes s polticas de ordenamento das zonas urbana e rural. Por fim, traa algumas poucas disposies sobre o Sistema Financeiro.

    9 - Da Ordem Social: Nos arts. 193 a 232, a Constituio fala sobre Sade, Assistncia Social, Previdncia Social, educao, cincia e tecnolgia, desporto, cultura, comunicao, meio ambiente, famlia e ndios.

  • Cap. 6 - PRINCIPAIS TPICOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL

    10 - Das Disposies Constitucionais Gerais: Como o nome sugere, traz diversas medidas genricas, que no se enquadraram em nenhum dos ttulos anteriores.

    11 - ADCT: Formado por artigos que estabelecem regras temporrias, os chamados Atos das Disposies Constitucionais Transitrias. Geralmente fixando datas para se faa um ato ou prazo par a vigorarem certas medidas.

  • Captulo

    COMO SURGE UMA CONSTITUIO? - PODER

    CONSTITUINTE

    Aqui se faz necessrio fazer uma observao bsica para auxiliaro estudo: sempre tente relacionar os termos e expresses ao seu significado; isso tomar mais simples a compreenso do direito como um todo e facilitar o enraizamento dos conceitos.

    Poder Constituinte o poder de constituir, ou seja, capaz de elaborar uma Constituio (ou norma equivalente). O poder constituinte bsico chamado de originrio, pois o que d origem Constituio, a qual poder sofrer modificaes com o passar dos anos. Somente o poder constituinte capaz de modific-la, mas, agora, no se diz poder constituinte originrio e sim poder constituinte derivado, j que no se trata de um poder capaz de originar uma Constituio, mas que deriva do originrio, e assim a modifica.

    muito mais difcil elaborar uma Constituio do que uma lei, pois a constituio se sobrepe a todo o ordenamento jurdico, a lei suprema, difcil de ser criada e difcil de ser modificada.

    Existem basicamente duas formas de se criar uma Constituio: a primeira pela imposio feita por um governante a um povo - a chamada Constituio outorgada ou imposta. A segunda fazer com que o prprio povo escolha representantes para que, em nome da coletividade, elabore um texto constitucional que expresse a vontade da nao - o que se chama de Constituio promulgada. Estes representantes formam a denominada assembleia constituinte.

    Alguns doutrinadores defendem que no poderamos sequer chamar de Constituio esta norma que imposta por um governante; chamam ento de mera carta outorgada. Isso porque o termo Constituio, segundo os conceitos sedimentados aps a Revoluo Francesa e a independncia dos Estados Unidos, pressupe obrigatoriamente a limitao do poder que os governantes exercem em face

  • 36 Vou ter que estudar DIREiTO CONSTITUCiONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    do seu povo. A Constituio deve respeitar os direitos individuais. A carta imposta muitas vezes no respeita esses direitos.

    O poder de se criar uma Constituio propriamente dita est somente nas mos do povo e no poder nenhuma outra pessoa usurp-lo. Quando o povo escolhe representantes para que, em as- sembleia, faam uma Constituio, ele est apenas permitindo que pessoas usem o seu poder poltico para elaborar o texto segundo a vontade da coletividade.

    Este poder capaz de elaborar uma Constituio chamado de poder constituinte originrio, pois a origem de todo o ordenamento jurdico. um poder poltico. Tudo o que for chamado de poltico deve ser entendido como aquilo que organiza.

    Pode-se tambm modificar a Constituio futuramente. Isso se faz por meio das chamadas emendas Constituio. Porm, no falaremos mais em um poder constituinte originrio, mas sim em um poder constituinte derivado, pois um poder que derivou do originrio; no inicial e sim posterior, pois vem modificar algo que o originrio fez. O poder derivado no mais um poder poltico, ele um poder jurdico, pois ele no instituiu, mas sim foi institudo.

    O poder constituinte derivado, pode ser basicamente de 3 tipos:

    Reformador: o poder de se elaborar emendas Constituio (Emendas Constitucionais). Emendar o texto da Constituio deve ser entendido como qualquer alterao, acrscimo, subtrao ou excluso de dispositivo constitucional. O Poder Constituinte Derivado Reformador deriva diretamente do originrio que estabeleceu, no art. 60 da Constituio, essa previso.

    e Revisor: Foi usado para fazer a Reviso Constitucional. A Reviso Constitucional foi um procedimento previsto pela Constituio, em seu art. 3. (ADCT), que tinha o objetivo de restabelecer rapidamente uma possvel instabilidade gerada pelo advento da nova Constituio. A reviso foi prevista para acontecer 5 anos aps a promulgao da Constituio e tambm criaria emendas constitucionais, mas estas emendas, chamadas de emendas constitucionais de reviso, seriam elaboradas de forma bem mais simples do que aquelas criadas pelo poder reformadr, at porque o objetivo era, rapidamente, restabe- lecer a ordem. O medo da instabilidade no se consumou,

  • Cap. 7 - COMO SURGE UMA CONSTITUSO? - PODER CONSTITUINTE

    e ainda assim a reviso foi feita e gerou seis emendas de reviso. No se admite mais que seja feita uma nova reviso constitucional.

    Decorrente: Este poder aquele que os Estados-membros de nossa federao (Rio de Janeiro, So Paulo, Gois...) possuem para elaborar as Constituies Estaduais, que sero as normas mais importantes de seu ordenamento jurdico (depois, claro, da Constituio Federal, que a norma mais importante do Estado Brasileiro, devendo ser respeitada por qualquer outra no territrio nacional). O poder decorrente tambm derivado, pois o poder constituinte originrio, ao criar a Constituio Federal, admitiu que os Estados-membros criassem as suas constituies (art. 25 e ADCT, art. 11).

    No existe qualquer limitao para o uso do Poder Constituinte Originrio e nem existe uma forma especfica para ele ser exercido, por isso chamado de poder inicial, ilimitado, irrestrito e incondi- cionado.

    ^-^WvOteryo': Alguns douirinadores entendem que existe um direito, chamado direito natural, que de carter supranacional e supraconstitucional, ou seja, direitos humanos que estariam acima da vontade do legislador originrio, limitando assim a sua atuao. A doutrina majoritria (dominante) do Brasil e a jurisprudncia no reconhecem, porm, tal limitao.

    J o poder constituinte derivado, como vimos, no mais inicial e sim institudo, derivado, e tambm limitado, pois deve respeitar as restries que o prprio poder originrio fixou. Ele condicionado tambm a um processo especfico para seu exerccio.

    A ttulo de esclarecimento, o art. 60 da Constituio estabeleceu todo o processo para o exerccio do poder constituinte derivado reformador, e assim disps em seu 4. sobre as chamadas clusulas ptreas. Clusulas ptreas uma expresso que faz meno ao Cdigo de Hamurabi, a qual significa imutvel, j que, uma vez talhada em pedra, a lei no poderia ser modificada.

    Art. 60, 4.. No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tepdente a abolir:

  • 38 Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    I - a forma federativa de Estado;II - o voto direto, secreto, universal e peridico;III - a separao dos Poderes;IV os direitos e garantias individuais.

    Segundo os tribunais brasileiros, as clusulas ptreas no so sinnimo de imutabilidade na concepo original da palavra, mas devem ser entendidas como: no ser objeto de deliberao proposta de emenda constitucional tendente a abolir ou sequer reduzir a eficcia de tais institutos. Desta forma, pode haver modificao do texto, mas a emenda que versar sobre tais temas s poder fortalec-los, nunca enfraquec-los.

    E importante dizer que, ao usar o poder constituinte originrio, dando origem a uma nova constituio, todas as normas constitucionais anteriores perdem sua eficcia, so revogadas. Porm, aproveitam-se as normas infraconstitucionais que forem compatveis materialmente com o novo texto constitucional. Esse fenmeno chamado de recepo. Diz-se materialmente, pois essa compatibilidade verificada pelo contedo independentemente de como foi o procedimento de feitura da lei.

  • OS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DA REPBLICA FEDERATIVA

    DO BRASIL

    essencial que o estudante que pretenda adentrar no estudo do Direito Constitucional tenha sempre uma Constituio atualizada ao seu alcance para uma pronta consulta. De posse da Constituio, deve-se criar o hbito de ler a norma constantemente.

    Os primeiros artigos (1. ao 4.) de nossa atual Constituio trazem os princpios fundamentais da Repblica Federativa do Brasil. Assim dispe o art. 1.:

    Art. L. A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unioindissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal,constitui-se em Estado Democrtico de Direito (...).

    Como vimos, os princpios fundamentais so matrizes, normas que sintetizam vrios conceitos, e o art. 1. j mostra diversas informaes importantes. Ele nos mostra o nome de nosso Estado: Repblica Federativa do Brasil.

    Porque somos uma repblica?Pois, no Brasil, o povo o detentor do poder (repblica - res

    publica = coisa pblica, coisa de todos). Desta forma, seria diferente se o Brasil fosse uma monarquia (monarquia = mono + arquia = poder de um s).

    Diz-se que a repblica a escolha que fez o Brasil para a sua forma de governo, ou seja, de que modo o pas ser governado.

    Quais as decorrncias dessa escolha?Ao escolher a forma republicana de governo, implicitamente, a

    Constituio determina que:

  • m Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agcra? - Vtor Cruz1 - Os governantes sero escolhidos por meio de eleio, pois

    o povo, que o detentor real do poder, que deve definir quem sero os seus representantes.

    2 - Os governantes tero mandatos temporrios, havendo eleiesperidicas, para que haja um revezamento dos exercentes do poder.

    3 - Dever haver uma transparncia da gesto pblica, com regularprestao de contas e uma conseqente responsabilizao dos governantes que fizerem mau uso das verbas pblicas.

    Nos pases monrquicos, o governante possui vitaliciedade (ficar por toda a vida no poder) e a mudana de governante se faz por hereditariedade (passa de pai para filho).

    Mas o Brasil no apenas uma repblica, uma repblica federativa, ou seja, alm de sermos uma repblica, tambm somos uma federao.

    * Por que somos uma federao?Pois, ao escolher a sua forma de Estado, o Brasil resolveu

    fracionar o seu territrio em diversos entes dotados de autonomia. Assim, o Brasil possuiu Estados (Rio de Janeiro, So Paulo, Gois, Acre...), Municpios e um Distrito Federal, com plena autonomia para elaborarem as suas prprias leis, escolherem seus prprios governantes e administrarem seus recursos de forma independente uns dos outros. Essa trplice autonomia dos entes (auto-organizao, autogovemo e autoadministrao).

    Para harmonizar possveis impasses ente um ente e outro, resolver conflitos federativos, e para estabelecer polticas de mbito nacional (normas gerais) ou at mesmo internacional, o Brasil possui ainda um poder central. Este poder central recebe o nome de Unio. A Unio tambm autnoma, tal como os Estados, Municpios e o Distrito Federal, possuindo seus prprios recursos, governantes e leis. As coisas que esto no mbito da Unio so o que chamaremos de federais.

    Veremos um pouco mais sobre isso em Organizao do Estado.

    Alm de ser uma Repblica Federativa, o Brasil ainda ura Estado Democrtico de Direito. O que isso?

    _ Q Estado e direito, pois se submete aos comandos da lei. Os governantes e os agentes pblicos s podem fazer aquilo que a

  • Cap. 8 - OS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASL 41

    lei permita ou autorize, e os cidados podem fazer tudo aquilo que a lei no proba. Alm disso, o Estado democrtico, pois tem o povo como regente dos rumos do pas, e essa regncia pelo povo pode se dar diretamente, por meio de plebiscitos (quando o povo vota para definir algo), referendos (quando o povo vota para confirmar ou no algo que j foi feito) e por intermdio de iniciativa popular (o povo subscrevendo projetos de lei) ou pode reger os rumos do pas de forma indireta, o que se d com as decises tomadas por seus representantes eleitos (Presidente, Deputados, Senadores...). J a juno dos termos formando o Estado democrtico de direito, segundo J. Afonso da Silva, mais do que a mera juno do Estado Democrtico com o Estado de Direito. Temos ento um Estado pautado na justia, e cujas leis refletem a finalidade de alcanar o bem comum. Assim, as decises polticas devem refletir efetivamente a vontade do povo e promover a busca de uma justia social.

    Agora j podemos entender o que diz o art. l. da Constituio como um todo, vejamos:

    Art. L A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos:

    I ~ a soberania;II - a cidadania;III - a dignidade da pessoa humana;IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V - o pluralismo poltico.Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce

    por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.

    Tripartio funciona! do Poder:O art. 2. da Constituio fala sobre a chamada tripartio das

    funes do Poder Poltico, comumente denominada de tripartio do poder ou separao dos poderes'. Assim diz o art. 2.:

    No recomendamos o uso destes termos, j que o que se separa no o Poder ou os Poderes, e sim somente as funes do Poder, que unitrio, indivisvel e tem o povo como seu tituir.

  • 42 Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    Art. 2 So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio.

    Temos ento a instituio de 3 poderes:

    Legislativo - Sua funo bsica elaborar leis e exercer controle das contas pblicas (o chamado controle externo);Executivo - Sua funo bsica administrar, executando as polticas pblicas;Judicirio - quem ir julgar tanto os cidados quanto os governantes no que tange ao cumprimento dos direcionamentos das leis;

    Expomos acima aquilo que se chama de funes tpicas dos Poderes. Porm tais poderes exercem tambm, secundariamente, funes atpicas, ou seja, funes que seriam precpuas de outro poder.

    Legislativo - Existem alguns casos em que ele tambm poder julgar (Ex.: O Senado ir julgar o Presidente da Repblica nos crimes de responsabilidade). O Legislativo tambm poder administrar, quando for definir as coisas referentes sua estrutura interna;Executivo - Tambm poder julgar, como acontece nos processos administrativos de seus servidores, e poder legislar quando introduzir decretos regulamentares estabelecendo os detalhes para o cumprimento das leis;Judicirio - Poder, da mesma forma que o Legislativo, administrar sua estrutura interna, e poder legislar quando estabelecer os regimentos dos tribunais.

    Quadro esquemtico:

    ; -Poder : _. V Funottpica - J - Funo AtpicaExecutivo Administrar Julgar e legislar

    Legislativo Legislar e fiscalizar mediante o controle externoJulgar e administrar

    . -udiciario - Julgar Legislar e administrar

  • Cap. 8 - OS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 43

    Essas funes tpicas e atpicas so decorrentes daquilo que o art. 2. diz: os poderes so independentes e harmnicos entre s i.

    * Por que a nossa Lei Maior diz que eles so independentes, porm harmnicos entre si?

    Primeiramente pelo fato de que, como vimos, cada um dos Poderes possui, alm das suas funes tpicas, outras, atpicas. Outra face dessa harmonia que o exerccio de um Poder nunca absoluto, arbitrrio, pois sempre estar sujeito a algum freio ou um contrapeso por parte de outro Poder. Assim, diz-se que essa independncia e essa harmonia formam um sistema de freios e contrapesos (checks and balances).

    Exemplos dos inmeros freios e contrapesos previstos na Constituio:

    - Cabe ao Presidente da Repblica (Executivo) definir quem sero os Ministros do STF (Judicirio) e os escolhidos passaro por uma sabatina no Senado (Legislativo), para ratificar ou no a escolha presidencial

    - O Executivo tem liberdade para gerir as verbas pblicas, mas os gastos sero submetidos a um posterior controle feito pelo Legislativo.

    - Se o Presidente da Repblica no cumprir fielmente os seus deveres presidenciais, ele poder ser submetido a julgamento perante o Senado (Legislativo).

    - Se o Legislativo elaborar uma lei que v contra os direcionamentos da Constituio, o Judicirio poder anular esta lei, declarando-a inconstitucional.

    Desta forma, embora percebamos que nenhum dos Poderes absoluto, pois estar de alguma forma sujeito a controle realizado por outro Poder, isso no rompe a independncia entre eles. Ou seja, embora no possa exercer seu poder de forma absoluta e arbitrria, a regra a no interferncia de um Poder no outro, no podendo, assim, por exemplo, o Judicirio exigir que o Legislativo faa uma lei, ou o Executivo querer se intrometer na organizao judiciria.

    Importante tambm ressaltar que todas as hipteses de ingerncia de um Poter m outro devem estar obrigatoriamente elencadas

  • m Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    na Constituio, no podendo ser criadas novas hipteses fora dos limites constitucionais.

    6 Objetivos fundamentais e Princpios que regem as relaes internacionais:

    Nos arts. 3. e 4., temos algumas normas programticas, ou seja, alguns direcionamentos feitos pela Constituio. No art. 3., vemos direcionamentos para serem seguidos no mbito interno do pas, e no art. 4., os que devero ser seguidos nas relaes internacionais. Vejamos:

    Art. 3. Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:

    I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as de

    sigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa,

    sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.Art. 4. A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas

    relaes internacionais pelos seguintes princpios:I - independncia nacional;II prevalncia dos direitos humanos;III - autodeterminao dos povos;IV - no interveno;V - igualdade entre os Estados;VI - defesa da paz;VII ~ soluo pacfica dos conflitos;VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo;IX - cooperao entre os povos para o progresso da huma

    nidade;X - concesso de asilo poltico.Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar

    a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-

    _ -americana de naes.

  • Captulo

    DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

    Podemos dizer que garantias so protees. Direitos so faculdades, uma liberdade para agir ou deixar de agir, uma permisso para receber, exercer ou fazer algo. Os direitos e garantias fundamentais so aquelas protees e aquelas faculdades que o Legislador Constituinte (quem escreveu a Constituio) se preocupou em estabelecer no texto constitucional.

    Exemplo de uma garantia fundamental: So inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao (CF, art. 5., X).

    Exemplo de um direito fundamental: direito dos trabalhadores urbanos e rurais, o seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntrio (CF, art. 7., II).

    A Constituio Federal de 1988 estabeleceu cinco espcies de direitos e garantias fundamentais:

    1 - Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5.);2 - Direitos sociais (arts. 6. a 11);3 - Direitos de nacionalidade (arts. 12 e 13);4 - Direitos polticos (arts. 14 a 16); e5 ~ Direitos relativos existncia e funcionamento dos partidos

    polticos (art. 17).

    O prof. Ingo Sarlet ensina que, embora direitos humanos e direitos fundamentais sejam termos comumente utilizados como sinnimos, a distino ocorre pelo fato de que o termo direitos humanos de aspecto universal, supranacional, enquanto direitos fundamentais :'so' aqueles direitos do ser humano que foram efe

  • 46 Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vitor Cruz

    tivamente reconhecidos e positivados na Constituio de um determinado Estado.

    9.1 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (ART. 5.)

    Os direitos e deveres individuais e coletivos so basicamente aquilo que um indivduo ou grupo de indivduos podem usar para no sofrerem abusos, sejam por parte do Poder Pblico (proteo vertical) ou por parte de outros indivduos (proteo horizontal).

    Dessa forma, a relao ali exposta serve para orientar o cidado quanto ao que no podem fazer contra ele, e tambm quanto ao que ele no pode fazer contra outras pessoas.

    Os direitos individuais so comumente classificados como direitos de l.a dimenso (ou 1 gerao), pois foram historicamente as primeiras conquistas dos cidados.

    O art. 5. da Constituio Federal, que estabelece quais so os direitos, as garantias e os deveres de cada cidado brasileiro, uma relao no exaustiva, pois o prprio artigo diz em seu 2.: os direitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte.

    O referido artigo compe-se de 78 incisos e 4 pargrafos, que no podem ser abolidos da Constituio pelo fato de serem clusula ptrea.

    J foi dito que todos que querem estudar realmente o Direito Constitucional devem estar sempre de posse de uma Constituio (atualizada). O art. 5., seus 78 incisos e 4 pargrafos devem ser lidos constantemente. Vamos ver as principais (no todas) disposies do art. 5.:

    Caput do art. 5.:Art. 5.. Todos so iguais perante a lei, sem distino de qual

    quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeirosresidentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade,

    ' ' SRLET, Ingo Woifgang. A eficcia dos direitos fundamentais. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 35-36.

  • Cap. 9 - DIREITOS GARANTIAS FUNDAMENTAIS

    igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes (...).

    Veja que so cinco os direitos individuais: direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade. Porm, eles se desdobram em diversos outros ao longo dos incisos do art. 5..

    Veja tambm que h o termo residente, porm o STF decidiu que deve ser entendido como todo estrangeiro que estiver em territrio brasileiro e sob as leis do pas. Mesmo que apenas transitando no precisam necessariamente ter residncia no pas para que sejam a eles assegurados os direitos do art. 5..

    Nenhum desses direitos absoluto, todos so relativos, pois o exerccio de um direito est condicionado ao no prejuzo de outro. Por exemplo: No posso exercer minha liberdade de expresso agredindo o direito privacidade de algum.

    Princpio da isonomia ou igualdade entre homens e mulheres:I - homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos

    termos desta Constituio;

    O caput tambm faz meno a este princpio, quando diz: todos so iguais perante a lei.

    Princpio da legalidade ou liberdade:II ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma

    coisa seno em virtude de lei;

    Sem que haja uma lei para dizer o que pode e o que no pode, o cidado poder fazer o que ele bem entender. Como vimos, isso diferente quando se fala da legalidade para os governantes e administradores pblicos: enquanto os cidados podem fazer tudo aquilo que a lei no os proba, os agentes pblicos s podem fazer aquilo que a lei permita ou autorize.

    Manifestao do pensamento e direito de resposta:IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o

    anonimato; - ,

  • Vou ter que estudar DIREI i O CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    V assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem;

    Como vimos, os direitos e garantias se condicionam. Assim, embora seja livre a manifestao do pensamento, no se pode usar o anonimato, e caso essa manifestao atinja a imagem ou cause algum prejuzo a algum, ser assegurado o direito de resposta, sem que isso exclua uma possvel indenizao pelo mau uso da liberdade conferida pela Constituio.

    Liberdade de pensamento e a censura:IX - livre a expresso da atividade intelectual, artstica,

    cientfica e de comunicao, independentemente de censura ou licena;

    Nenhuma lei pode ir contra a liberdade de expresso. Esta, porm, deve ser condicionada, conforme vimos, pela observncia dos demais direitos individuais.

    Inviolabilidade da vida privada, honra e imagem:X so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e

    a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao;

    Inviolabilidade de domiclio:XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela po

    dendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial;

    Vemos que o domiclio no possui uma inviolabilidade absoluta, e poder algum adentrar no recinto se:

    Tiver o consentimento do morador; Ainda que sem o consentimento do morador, se o motivo

    for:- Flagrante delito;- Desastre;

  • ' Cap. 9 - DIREJTOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

    - Prestar socorro;- Ordem judicial (mas, neste caso, somente durante o dia).

    Liberdade profissional:XIII livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso,

    atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer;

    Enquanto a lei no estabelecer requisitos a serem cumpridos para determinada profisso, esta poder ser exercida de forma plena. Entretanto, se for editada uma lei que regulamente o exerccio (como a medicina, advocacia etc.), as pessoas s podero exerc-la caso cumpram os seus requisitos.

    * Direito de ir e vir:XV - livre a locomoo no territrio nacional em tempo de

    paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

    O legislador constituinte fez questo de dizer que em tempo de guerra no ser bem assim. Veja que esta liberdade assegurada apenas em tempo de paz. importante observar o uso da expresso nos termos da lei; isso quer dizer que a locomoo em territrio nacional plenamente livre e, embora tambm sejam livres a entrada e a sada de pessoas em nosso pas, juntamente com os seus bens, elas esto condicionadas aos termos da lei, ou seja, aos requisitos exigidos por ela.

    * Direito de reunio:XVI ~ todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo

    cais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio anteriormente convocada parao mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade competente;

    Esse o direito de reunio em locais abertos ao pblico, que deve ser exercido de forma pacfica, e para que as pessoas possam se reunir em locais abertos ao pblico, devem informar a autoridade competente, para que esta fique ciente da manifestao. Veja que a autoridade no precisa nem deve autorizar a reunio, apenas ficar ciente de que jla 'ocorrer.

  • 50 Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    0 Desapropriao:

    0 Direito de Propriedade um direito fundamental da pessoa. Todos tm o direito de possuir bens, mveis ou imveis. A Constituio porm estabelece hipteses em que ocorrer a desapropriao, veja:

    XXIV - a lei estabelecer o procedimento para desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, mediante justa e prvia indenizao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituio;

    Existem ainda na Constituio outras 3 hipteses de desapropriao:

    1 - Desapropriao de imveis rurais para fins de reformaagrria;

    2 - Desapropriao daquele imvel que no esteja cumprindoa sua funo social (por exemplo, um terreno subutilizado, no edificado ou mal utilizado em pleno centro da cidade de So Paulo);

    3 - Desapropriao de propriedades (chamadas de glebas) queestejam cultivando ilegalmente plantas psicotrpicas. Este o nico caso em que a desapropriao ser feita sem qualquer indenizao ao proprietrio.

    Requisio administrativa da propriedade:XXV - no caso de iminente perigo pblico, a autoridade com

    petente poder usar de propriedade particular, assegurada ao proprietrio indenizao ulterior, se houver dano;

    Aqui, no desapropriar, mas apenas usar temporariamente. A indenizao s ocorrer posteriormente e se houver dano propriedade.

    * Inafastabilidade do Judicirio:XXXV a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio

    leso ou ameaa a direito;

  • Cap. 9 - DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS mEste princpio evita que o Judicirio fique afastado da apreciao

    de alguma leso ou ameaa aos direitos. Assim, pela inafastabilidade do Judicirio, algum poder acessar o Poder Judicirio sem necessariamente esgotar as esferas administrativas. Ser apenas o Poder Judicirio que far a coisa julgada em definitivo.

    Limitao retroatividade da lei e irretroatividade da leipenal:XXXVI a lei no prejtidicar o direito adquirido, o ato jur

    dico perfeito e a coisa julgadaXL - a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru;

    Estas garantias so para dar a chamada segurana jurdica. Ou seja, para que a sociedade no fique preocupada que uma lei seja editada e tudo mude. Assim, quando uma lei criada, ela no retroage para modificar as coisas que j foram consumadas. Ela s vai valer dali para frente.

    Com a lei penal ocorre o mesmo. Em regra, ela irretroativa, mas admite-se que, se for para beneficiar a pessoa, a lei futura mais benfica seja aplicada, sendo, assim, uma hiptese excepcional de retroao.

    Legalidade penal:XXXIX no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena

    sem prvia cominao legal;

    Individualizao e sucesso da pena:XLV nenhuma pena passar da pessoa do condenado, podendo

    a obrigao de reparar o dano e a decretao do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, at o limite do valor do patrimnio transferido;

    XLVI - a lei regular a individualizao da pena e adotar, entre outras, as seguintes:

    a) privao ou restrio da liberdade;b) perda de bens;c) multa;d) prestao social alternativa;e) susphso ou interdio de direitos;

  • 52 Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! EAgora? Vtor Cruz

    XLVII - no haver penas:a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos

    do art 84, XIX;b) de carter perptuo;c) de trabalhos forados;d) de banimento;e) cruis;

    6 Direitos dos presos:XLVIII - a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de

    acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do dpenado;XLIX - assegurado aos presos o respeito integridade fsica

    e moral;L - s presidirias sero asseguradas condies para que possam

    permanecer com seus filhos durante o perodo de amamentao;LXIII o preso ser informado de seus direitos, entre os quais

    o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistncia da famlia e de advogado;

    LX7V- o preso tem direito identificao dos responsveis por sua priso ou por seu interrogatrio policial;

    LXV - a priso ilegal ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciria;

    LXVI ningum ser levado priso ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisria, com ou sem fiana;

    LXXV- o Estado indenizar o condenado por errojudicirio, assim como o que ficar preso alm do tempo fixado na sentena;

    Devido processo legal (wdue process of iaw):LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem

    o devido processo legal;

    Este um dos mais importantes princpios de nossa Constituio, pois garante que a pessoa no seja presa nem perca os seus bens, a no ser que se observe o devido processo legal, que implicitamente significa ter um julgamento pela autoridade competente, de forma clere, com direito de apresentar sua defesa, aln^de uma proporcionalidade e razoabilidade no julgamento, entre outras garantias.

  • Cap. 9 - DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 53

    * Contraditrio e a ampla defesa:LV aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e

    aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

    Esa mais uma garantia, que tambm uma das faces do devido processo legal: a presena do contraditrio (direito de negar e se opor s acusaes) e da ampla defesa (direito de usar amplos meios para provar sua inocncia).

    Presuno de inocncia:LVJ - ningum ser considerado culpado at o trnsito em

    julgado de sentena penal condenatria;

    Trnsito em julgado ocorre quando no se pode mais recorrer da deciso judicial. Existem duas formas bsicas para isso acontecer:

    1 - A deciso foi proferida pela instncia mxima, em que noh mais para onde recorrer;

    2 - Quando caberia recurso contra a deciso, mas durante oprazo para apresentar o recurso no o fizeram.

    * Remdios constitucionais:Os remdios constitucionais recebem esse nome porque so aes

    constitucionais que funcionam como verdadeiros remdios contra os abusos cometidos.

    Por exemplo, se algum sofrer abuso ao seu direito de locomoo, esse mal ser remediado com um habeas corpus e, se o abuso for relativo ao direito de informao, ser usado um habeas data. Vejamos estes remdios de forma mais analtica:

    * Habeas corpus:LXVIII - conceder-se- habeas corpus sempre que algum

    sofrer ou se achar ameaado de sofrer violncia ou coao em sua liberdade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder;

    Assim, o habeas corpus ser usado no caso de restrio, com abuso de pod

  • 54 Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    possuem, ele poder ser usado preventivamente (apenas ameaa de coao liberdade) ou repressivamente (j est sofrendo coao sua liberdade).

    Habeas data:LXX11 ~ conceder-se~ habeas data ;a) para assegurar o conhecimento de informaes relativas

    pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de carter pblico;

    b) para a retificao de dados, quando no se prefira faz-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

    Veja que temos duas hipteses possveis de habeas data. A primeira a mais clssica, a qual ocorre contra o abuso do no fornecimento de informaes que so do interesse da prpria pessoa. Importante ressaltarmos que, na jurisprudncia dos tribunais, esta hiptese uma exceo ao princpio da inafastabilidade do judicirio, j que os tribunais s admitem que se use o habeas data depois de ter pedido administrativamente os dados, e este pedido ter sido negado ou ento ter a administrao permanecido inerte. Assim, se algum tentar ir direto ao Judicirio, impetrando um habeas data, sem que antes tenha feito o pedido administrativo, no ter o seu remdio atendido.

    Mandado de segurana:LXIX - conceder-se- mandado de segurana para proteger

    direito lquido e certo, no amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsvel pela ilegalidade ou abuso de poder fo r autoridade pblica ou agente de pessoa jurdica no exerccio de atribuies do Poder Pblico;

    Primeira coisa: o mandado de segurana um remdio subsidirio. Antes, temos que ver se caso para impetraao de habeas corpus ou habeas data, porque somente se no for ocorrncia para estes remdios que poder se impetrar o mandado de segurana.

    Outra coisa importante: o mandado de segurana visa proteo de~?4ireito lquido e certo. A expresso lquido e certo deve ser entendida como um direito sem complexidade, capaz de ser pronta

  • Cap. 9 - DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS mmente comprovado, sem que sejam necessrias dilaes probatrias como percias, testemunhas etc.

    O mandado de segurana, tal qual o habeas corpus, pode ser preventivo ou repressivo, admitindo ainda as modalidades individual e coletiva, veja:

    LXX - o mandado de segurana coletivo pode ser impetrado por:a) partido poltico com representao no Congresso Nacional;b) organizao sindical, entidade de classe ou associao le

    galmente constituda e em funcionamento h pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados',

    Na jurisprudncia do STF, esse requisito de constituda e em funcionamento h pelo menos um ano aplicvel somente s associaes. No se aplica aos sindicatos e s entidades de classe.

    Mandado de injuno:LXXI conceder-se- mandado de injuno sempre que a falta

    de norma regulamentadora torne invivel o exerccio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes nacionalidade, soberania e cidadania;

    O mandado de injuno aplicvel quelas normas de eficcia limitada que vimos no incio desta obra. Existe uma norma constitucional que no est conseguindo alcanar com plenitude os seus destinatrios, pois falta uma regulamentao por meio de outras leis ou regulamentos. Assim, a pessoa ou grupo de pessoas (embora no esteja expresso, admite-se o mandando de injuno coletivo, observando-se os mesmos requisitos do mandado de segurana coletivo) que se sentir frustrado no exerccio de direitos e prerrogativas pela falta desta lei ou norma regulamentar, poder impetrar um mandado de injuno, para que o Judicirio possa dizer de que modo ele poder exercer este direito enquanto o Poder Pblico no elabora a norma que est faltando.

    * Ao popular:LXXIII qualquer cidado parte legtima para propor ao

    popular quemse a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de

  • 56 .Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia;

    Ao popular proposta somente pelo cidado, ou seja, pela pessoa capaz de gozar de seus direitos polticos (veremos isso frente quando falarmos em direitos polticos). O objetivo da ao popular que os cidados faam um controle do patrimnio pblico, levando ao conhecimento do Poder Judicirio os atos que estejam atentando contra bens e valores de interesse da sociedade.

    Direito de petio e direito de obter certides:XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pa

    gamento de taxas:a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de

    direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;b) a obteno de certides em reparties pblicas, para defesa

    de direitos e esclarecimento de situaes de interesse pessoal;

    O direito de petio o direito que qualquer pessoa tem de se dirigir a uma autoridade pblica e pedir que ela adote providncias em defesa de seus direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.

    O direito de obter certides o direito que qualquer pessoa possui de pedir atestados e certificaes em reparties pblicas, para que possa defender algum direito ou esclarecer alguma situao de interesse pessoal.

    9.2 DIREITOS SOCIAIS (ARTS. 6. A 11)

    Os Direitos Sociais pertencem segunda dimenso (ou gerao), pois, historicamente, somente depois que os cidados conseguiram a proteo dos direitos e garantias individuais que vieram a conquistar tais direitos (sociais).

    Estes direitos expem no apenas uma proteo, mas exigem tambm que o Poder Pblico venha a agir efetivamente, criando polticas para a sociedade. A Constituio, ento, estabelece:

  • Cap. 9 - DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS mArt. 6. So direitos sociais a educao, a sade, a alimen

    tao, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infnciar a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio.

    Para poder garantir estes direitos, o poder pblico deve agir em dois campos: criar leis para regulamentar a prestao dos direitos e agir administrativamente para executar essa leis criada.

    Ainda so elencados como direitos sociais os direitos dos trabalhadores, dispostos nos arts. 7. a 11, inclusive quanto sindicalizao (art. 8.) e ao direito de greve (art. 9.).

    9.3 DIREITOS DE NACIONALIDADE (ARTS. 12 E 13)

    No que se refere aos direitos da nacionalidade, a Constituio define de que forma algum poder vir a se tomar um brasileiro (nato ou naturalizado).

    Assim, brasileiro nato (aquisio originria de nacionalidade):

    1 - Quem nasceu no solo brasileiro - Esta a regra: senascer em solo brasileiro, ser brasileiro nato, ainda que os pas sejam estrangeiros (isso se chama ias soli - direito pelo solo diferentemente de outros pases que usam o ius sanguini - direito pelo sangue - , onde o que importa a nacionaldiade dos pais). A nica hiptese de nascer em solo brasileiro e no ser considerado brasileiro nato se os pais forem estrangeiros que estejam a servio de seu pas.

    2 - Ainda quem no tenha nascido em solo brasiliero,mas:a) O pai for brasileiro ou a me for brasileira, e qualquer

    deles esteja a servio do Brasil;b) O pi for brasileiro ou a me for brasileira, mesmo que

    no estejam a servio do Brasil, mas, neste caso, o filho dever ser registrado em repartio brasileira competente ou, ento, vir a residir na Repblica Federativa do Brasil e optar, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade (18 aps),. pela nacionalidade brasileira.

  • S8 Vou ter que estudar OIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    0 fato de no ter se enquadrado nas hipteses acima no exclui a possibilidade de algum vir a ser brasileiro, podendo apenas se tomar naturalizado, no mais um brasileiro nato. Para se naturalizar brasileiro (aquisio derivada de nacionalidade), a Constituio estabelece que:

    1 - se for originrio de pas de lngua, dever:- residir no Brasil por 1 ano ininterrupto; e- ter idoneidade moral.

    2 - Se for originrio de qualquer outra nacionalidade, dever:- residir no Brasil por 15 anos ininterruptos;- no ter condenao penal; e- requerer a nacionalidade brasileira.

    O Estatuto do Estrangeiro - Lei n. 6.815/80 - em seu art. 112, facilita esta ltima espcie de naturalizao, abrindo a possibilidade de que algum se naturalize antes dos 15 anos, bastando apenas residncia contnua no Brasil nos 4 anos antes de pedir a naturalizao. Mas, para isto, precisar:

    - ter capacidade civil (maior de 18 anos e no ser interditado ou ser incapaz de manifestar sua vontade);

    - ter visto permanente no Brasil;- saber ler e escrever em portugus;- ter boa sade;- ter profisso ou bens suficientes para manter a famlia;- ter bom procedimento;- mostrar a inexistncia de denncia, pronncia ou condenao

    no Brasil ou no exterior por crime doloso ao qual se aplique pena abstrata de priso por mais de 1 ano.

    Segundo a Constituio, a lei no pode diferenciar quem brasileiro nato e quem brasileiro naturalizado, mas a prpria Constituio pode. Tanto pode que estabelece alguns cargos pblicos como o de Presidente da Repblica, Ministro do Supremo, Oficial das Foras Armadas, que S podero ser providos por brasileiros natos (vide CF, art. 12, 3.).

  • Cap. 9 - DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS mm

    Os portugueses tm no Brasil os mesmos direitos que os brasileiros, no sendo necessrio se naturalizar. A condio que se exige apenas a de que haja reciprocidade em relao aos brasileiros em Portugal. Assim, diz-se que o portugueses so equiparados em direitos aos naturalizados, no podero exercer direitos privativos de brasileiros natos, como, por exemplo, ocupar aqueles cargos citados no art. 12, 3., da Constituio.

    Existe ainda hiptese de perda da nacionalidade. A Constituio estabelece (CF, art. 12, 4.) que ser declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

    - tiver cancelada sua naturalizao, por sentena judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

    - adquirir outra nacionalidade, a no ser que:- tenha sido reconhecido como brasileiro nato por outro pas;- tenha sido obrigado a se naturalizar como condio para

    permanncia no territrio estrangeiro ou para o exerccio de direitos civis naquele pas.

    9.4 DIREITOS POLTICOS (ARTS. 14 A 16)

    com o exerccio dos direitos polticos que se pratica a cidadania. Uma pessoa s ser considerada cidad se estiver de acordo com as suas obrigaes eleitorais e no tiver tido seus direitos polticos perdidos ou suspensos.

    Vimos na parte dos princpios fundamentais que somos uma democracia mista (ou semdreta), j que elegemos representantes para que ajam em nosso nome (tpico de uma democracia representativa), mas tambm agimos diretamente .com o uso do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular. Veja o que diz a Constituio:

    Art. 14. A soberania popular ser exercida pelo sufrgio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos,e, nos termos da lei, mediante:

    I ~ plebiscito;II - referendo;III - iniciativa popular.

  • Vou ter que estudar DIREITO CONSTITUCIONAL! E Agora? - Vtor Cruz

    Segundo a Lei n. 9.709/98, em seu art. 2., plebiscito e referendo so consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matria de acentuada relevncia, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa.

    Plebiscito: convocado antes de um ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar a proposta.

    Referendo: convocado posteriormente ao ato legislativo ou administrativo, para que o povo faa a ratificao ou rejeio.