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SALVADOR, SÁBADO, 30 DE NOVEMBRO DE 2013 4e5 Você tem, mas já compartilhou? Não existe manual para ser solidário, mas bons exemplos ajudam a transformar o que é só vontade em atitude. Dá para melhorar a escola, a rua, a casa: depende de você Divulgação Dylan, 6, escreveu um livro para ajudar Jonah, 7 PAULA MORAIS odo mundo tem vários sentimentos: amor, ódio, raiva e alegria. Alguns aparecem e a gente nem percebe. Já outros precisam ser fortalecidos com atitudes, como a solidariedade. É o que está fazendo Dylan Siegal, 6. O americano escreveu o livro Chocolate Bar (Barra de Chocolate, em português) para ajudar o melhor amigo, Jonah Pornazarian, 7, que tem uma doença incurável. Dylan quer juntar um milhão de dólares com De dentro para fora Francielle Tude, 10, e Maicon Santana, 11, são monitores na Escola Municipal Amai Pro, em Campinas de Pirajá. Eles ajudam estudantes nos laboratórios de informática e rádio. Depois das aulas, os dois são voluntários. Eles orientam como mexer no computador e procurar exercícios de matemática, leituras e pesquisas escolares. Na aula de rádio, ensinam como apresentar um programa musical. “Sei que minha contribuição vai servir de alguma coisa para as crianças menores quando elas crescerem”, contou Maicon. Ele não prestava atenção e conversava durante as aulas. A professora perguntou se ele queria ser voluntário e ele Sentimento natural Se todos têm o sentimento, por que tem gente que não mostra? “Porque não conseguiram desenvolvê-lo”, explicou o cientista social Geraldo Ramos, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A falta de exemplo em casa ou na escola pode contribuir para isso. Ser solidário com nós mesmos é uma forma de ampliar o sentimento e transformá-lo em gestos. É que só podemos dar o que temos, de acordo com Geraldo Ramos. “Se a gostou da ideia. Há três meses, melhorou o comportamento e sente-se respeitado por ajudar. SOLIDARIEDADE SEM SABER Os dois colegas não sabem o significado da palavra solidariedade, mas acreditam que tenha algo a ver com ajudar. “A gente troca conhecimentos aqui. Não é porque ensino que não posso aprender. Um ajuda o outro”, falou Francielle. A diretora da escola, Edneusa Cardoso, explicou que os voluntários primeiro ensinaram aos professores e, depois, aos próprios colegas. “A solidariedade é tão natural neles que não precisam saber o significado para fazê-la”, disse. a venda do livro. Até agora foram vendidas 11 mil cópias e arrecadados 400 mil dólares. Mais de 800 mil reais, o que dá para comprar 200 mil barras de chocolate de R$ 4. O valor será doado à Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, para que cientistas saibam mais sobre a doença de Jonah, o que poderá ajudar outras pessoas. Igual a Dylan, qualquer um pode agir assim, é só querer. Em Salvador, não é diferente. gente dá o que falta na gente, vamos querer cobrar do outro. Pedir algo em troca não é solidariedade”. Já reconhecer o que alguém sente é se colocar no lugar da pessoa, ensinou a professora de psicologia da Ufba Ilka Bichara. Ver alguém triste e dar um abraço, por exemplo. “O nome disso é empatia. Se preocupar com o outro”. Os exemplos ajudam, mas não existe manual. Cada um tem a sua forma de ser solidário. Isadora, 11, cuida de animais em uma feira de adoção Fotos Fernando Vivas/ Ag. A TARDE Francielle, 10, aproveita o tempo livre na escola para ensinar aos colegas como usar o computador para aprender Maicon, 11, lê notícias no programa de rádio da escola, onde é voluntário T A DOAÇÃO PARA O PROJETO CHOCOLATE BAR PODE SER FEITA PELO SITE WWW.CHOCOLATEBARBOOK.COM/DONATE Até o início deste ano, Isadora Simões, 11, tinha medo de cachorros. Mas, em fevereiro, tornou-se voluntária da Associação Baiana Protetora dos Animais (ABPA). Ela conheceu a ABPA por causa de um amigo da mãe. Decidiu perder o medo e, desde então, acorda aos sábados pela manhã e colabora na feirinha de adoção, no bairro da Pituba. “Sei que não dá para salvar o mundo, mas é meu modo de ajudar a melhorar”, disse. Isadora coloca ração, dá água e brinca com os filhotes na feirinha. Já cuidou de 15 em um dia. Cuidar dos animais é prazeroso para ela, e nada é feito por obrigação. “Não acho errado que o ser humano pense em si. Mas acho importante não esquecer dos outros também”, falou Isadora. Ajudar por prazer

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Publicação no suplemento infantil A Tardinha - Jornal A Tarde

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SALVADOR, SÁBADO,30 DE NOVEMBRO DE 2013 4e5

Você tem, mas já compartilhou?Não existe manual para ser solidário, mas bons exemplos ajudam a transformar o que é só vontade em atitude. Dá para melhorar a escola, a rua, a casa: depende de você

Divulgação

Dylan, 6,escreveu umlivro paraajudar Jonah, 7

PAULA MORAIS

odo mundo temvários sentimentos:amor, ódio, raiva e

alegria. Alguns aparecem ea gente nem percebe. Jáoutros precisam serfortalecidos com atitudes,como a solidariedade.

É o que está fazendoDylan Siegal, 6. Oamericano escreveu o livroChocolate Bar (Barra deChocolate, em português)para ajudar o melhoramigo, Jonah Pornazarian,7, que tem uma doençaincurável. Dylan quer juntarum milhão de dólares com

De dentro para foraFrancielle Tude, 10, e MaiconSantana, 11, são monitores naEscola Municipal Amai Pro, emCampinas de Pirajá. Eles ajudamestudantes nos laboratórios deinformática e rádio.

Depois das aulas, os dois sãovoluntários. Eles orientam comomexer no computador eprocurar exercícios dematemática, leituras e pesquisasescolares. Na aula de rádio,ensinam como apresentar umprograma musical.

“Sei que minha contribuiçãovai servir de alguma coisa paraas crianças menores quandoelas crescerem”, contou Maicon.

Ele não prestava atenção econversava durante as aulas. Aprofessora perguntou se elequeria ser voluntário e ele

Sentimento naturalSe todos têm osentimento, por que temgente que não mostra?“Porque nãoconseguiramdesenvolvê-lo”, explicouo cientista social GeraldoRamos, da UniversidadeFederal da Bahia (Ufba).

A falta de exemplo emcasa ou na escola podecontribuir para isso.

Ser solidário com nósmesmos é uma formade ampliar o sentimentoe transformá-lo emgestos. É que sópodemos dar o quetemos, de acordo comGeraldo Ramos. “Se a

gostou da ideia. Há três meses,melhorou o comportamento esente-se respeitado por ajudar.

SOLIDARIEDADE SEM SABER

Os dois colegas não sabem osignificado da palavrasolidariedade, mas acreditamque tenha algo a ver comajudar. “A gente trocaconhecimentos aqui. Não éporque ensino que não possoaprender. Um ajuda o outro”,falou Francielle.

A diretora da escola, EdneusaCardoso, explicou que osvoluntários primeiro ensinaramaos professores e, depois, aospróprios colegas. “Asolidariedade é tão naturalneles que não precisam saber osignificado para fazê-la”, disse.

a venda do livro.Até agora foram

vendidas 11 mil cópias earrecadados 400 mildólares. Mais de 800 milreais, o que dá paracomprar 200 mil barras dechocolate de R$ 4.

O valor será doado àUniversidade da Flórida,nos Estados Unidos, paraque cientistas saibam maissobre a doença de Jonah,o que poderá ajudar outraspessoas. Igual a Dylan,qualquer um pode agirassim, é só querer. EmSalvador, não é diferente.

gente dá o que falta nagente, vamos querercobrar do outro. Pediralgo em troca não ésolidariedade”.

Já reconhecer o quealguém sente é secolocar no lugar dapessoa, ensinou aprofessora de psicologiada Ufba Ilka Bichara. Veralguém triste e dar umabraço, por exemplo. “Onome disso é empatia.Se preocupar com ooutro”.

Os exemplos ajudam,mas não existe manual.Cada um tem a suaforma de ser solidário.

Isadora, 11, cuidade animais em

uma feira deadoção

Fotos Fernando Vivas/ Ag. A TARDE

Francielle, 10, aproveita o tempo livre na escola para ensinar aos colegas como usar o computador para aprender

Maicon, 11, lênotícias no

programa derádio da escola,

onde évoluntário

T

A DOAÇÃO PARA O PROJETO CHOCOLATE BAR PODE SER FEITA PELO SITE WWW.CHOCOLATEBARBOOK.COM/DONATE

Até o início deste ano, Isadora Simões, 11, tinha medode cachorros. Mas, em fevereiro, tornou-se voluntáriada Associação Baiana Protetora dos Animais (ABPA).

Ela conheceu a ABPA por causa de um amigo damãe. Decidiu perder o medo e, desde então, acordaaos sábados pela manhã e colabora na feirinha deadoção, no bairro da Pituba.

“Sei que não dá para salvar o mundo, mas é meumodo de ajudar a melhorar”, disse. Isadora colocaração, dá água e brinca com os filhotes na feirinha. Jácuidou de 15 em um dia.

Cuidar dos animais é prazeroso para ela, e nada éfeito por obrigação. “Não acho errado que o serhumano pense em si. Mas acho importante nãoesquecer dos outros também”, falou Isadora.

Ajudar por prazer