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“Eu pego carona, conheço pessoas e vivo em busca do novo’’ “Quando eu falo que sou lixeiro ninguém acredita em mim’’ Ricardo dos Anjos, p.10 Bruno Gabialti, p.3 “Quando chamamos a atenção eles dizem: - Mas se não fosse o meu lixo o que seria de você?” Isabel Tobias, p.10 “Aprendi que a gente também tem que tentar gostar de fazer alguma coisa.” Áuster de Oliveira, p.4

Vozes anônimas

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Suplemento produzido para a disciplina de Jornalismo Impresso II, 2015, do curso de Jornalismo da Unesp, câmpus Bauru, sob a orientação do Prof. Dr. Angelo Sottovia Aranha

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Page 1: Vozes anônimas

“Eu pego carona, conheço pessoas e vivo

em busca do novo’’

“Quando eu falo que sou lixeiro ninguém

acredita em mim’’Ricardo dos Anjos, p.10Bruno Gabialti, p.3

“Quando chamamos a atenção eles dizem:

- Mas se não fosse o meu lixo o que seria de

você?”Isabel Tobias, p.10

“Aprendi que a gente também tem que

tentar gostar de fazer alguma coisa.”

Áuster de Oliveira, p.4

Page 2: Vozes anônimas

Editoral

Nesta Edição

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Reitor

Dr. Julio Cezar Durigan Vice-reitora

Dra. Marilza Vieira Cunha Rudge

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – FAAC Diretor

Dr. Nilson Ghirardello Vice-diretor

Dr. Marcelo Carbone Carneiro

Departamento de Comunicação Social Chefe

Dr. Juarez Tadeu de Paula Xavier Vice-chefe

Dr. Angelo Sottovia Aranha

Curso de Jornalismo Coordenador

Dr. Francisco Rolfsen Belda Vice-coordenadora Dra. Suely Maciel

Jornalismo Impresso IIProfessor Dr. Angelo Sottovia Aranha

Planejamento Gráfico-Editorial em Jornalismo IIProfessor Dr. Francisco Rolfsen Belda

RedaçãoAmanda Costa

Isabel SilvaIsadora de Oliveira

Naiara TeixeiraThais Viana

Av Eng Luiz Edmundo Carrijo Coube, nº 14-01Bairro: Vargem Limpa

CEP: 17.033-360 – Bauru, SPFone: (14) 3103-6063

Amanda Costa

Isadora de Oliveira

Isabel Silva

Naiara Teixeira

Thaís Viana

Você já falou “bom dia” para o catador de lixo? Sabe o nome do porteiro do seu prédio? Estamos sempre correndo e presos na rotina do dia a dia e nem percebemos as pessoas que nos cercam. Lemos notícias de celebridades caminhando na praia, mas não sabemos o nome do moço que recolhe o lixo que jogamos na rua. Já parou pra pensar que as embalagens de chiclete que você joga na calçada não desaparecem como mágica?

Existem rostos, pessoas, nos bastidores da nossa cidade, que realizam as atividades que desdenhamos. Atividades que são importantes e que ignoramos no nosso cotidiano. Mas se não existissem essas atividades como viveríamos?

O Vozes Anônimas foi escrito com o objetivo de dar voz para quem não tem, voz para quem não é notado, voz para quem passa despercebido, e mos-trar as diferentes realidades e identidades brasileiras.

É importante ressaltar a dificuldade encontrada pelo grupo para entre-vistar diversas categorias de trabalhadores, pois eles só poderiam conceder entrevistas com a permissão de seus superiores, ou através da assessoria de imprensa da empresa em que eles trabalham.

Percebemos que agora, mais do que nunca, a comunicação foi institu-cionalizada, de modo que os trabalhadores perderam ainda mais suas vozes. Com isso, dificilmente, eles conseguem ser ouvidos e se tornam anônimos.

Se a rotina do dia a dia nos impede de saber mais sobre a vida desses trabalhadores, encontramos aqui um espaço para mostrar aos leitores quem são essas pessoas que trabalham muitas vezes nos bastidores das cidades.

Podemos resumir essa experiência de entrevistar gente como a gente em uma única palavra: aprendizado. Em gestos e palavras, o carteiro, o gari, o lixeiro, o vendedor, conseguiram mostrar como os seus trabalhos e suas histórias de vida são importantes para a nossa sociedade.

A Redação

Um serviço para a sociedade“Não quero papel não, moço”

O hoje é o amanhã que você procura Pelas ruas de Bauru

Salvadores de uma noite de domingoTrabalho de risco

Uma profissão de 352 anos no BrasilMuito mais do que vitrines

Uma história na multidãoUm jeito próprio de ser feliz

Leve às ruas cidadaniaProfissões em números

02 | Maio 2015 |

334567899

101011

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Um serviço para a sociedadeUm trabalho importante para a cidade porém pouco valorizado

Por Thais Viana

A coleta de lixo na cidade é com cer-teza umas das

atividades mais importantes que visam cuidar da higiene e da saúde da população, no entanto estamos tão acostumados com essa práti-ca que nem sempre reparamos em quem presta este serviço para nós. É comum percebemos que ele, o coletor de lixo não passou, quando notamos que o incomodo lixo ainda está lá na porta ou quando ele está passando e esquecemos de tirar o lixo! Fora isso, são raras ás vezes que dedicamos algum pensamento para esses colegas. Em uma conversa com eles, durante uma pausa no trabalho, em que comiam uma pizza doada por uma pizzaria, ouvi histórias bem curiosas e também as dificul-dades de trabalho. Um dos maiores percalços presente no serviço deles é a falta de material de segurança para a coleta. São oferecidas luvas domésticas para a retirada do lixo, o que faz com que cortes profundos aconteçam, “todo dia tem alguém lá na EMDURB com um corte, ficam 10 dias em casa ou mais”, outro acrescenta “isso quando não cai do caminhão. Eu caí no meu terceiro dia de serviço”. Por isso se sentem mais valorizados pelos munícipes do que pelo empregador, mas pe-dem para que a população também descarte o lixo corretamente. Segundo um artigo publica-do por Silvia Marangoni, João Tas-cin e Luiz Porto no XIII Simpósio de

Engenharia de Produção da Unesp de Bauru em 2006, os principais riscos à saúde são problemas bio-lógicos e de ergonomia. Esse artigo foi elaborado com as informações cedidas pela Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ru-ral, EMDURB de Bauru. O estudo definiu que 47% dos acidentes são devido a coleta de objetos cortan-tes, seguido de 13% de entorse e os outros 30% são referentes a mordi-da de cão, atropelamentos, quedas, lombalgia e outros. Um dos coletores, Bruno Gabialti, 28 anos, conta uma histó-ria curiosa: “coisas que você nem imagina já encontramos no lixo, teve uma vez que eu achei um crâ-nio e foi assustador”. Susto passa-do, a polícia foi acionada para fazer o boletim de ocorrência. Segundo Bruno, o crânio foi descartado por um estudante da área de biológi-cas. Essa história que aconteceu em fevereiro de 2014, foi parar no Jor-nal da Cidade e no Bom dia. Para Bruno, ser coletor o aju-dou a se comunicar melhor com a sociedade, “poucos querem fazer nosso trabalho, mas eles reconhe-cem que é complicado” e comple-ta “muita gente passa no concurso mas são poucos os que permane-cem”. Segundo o edital publicado no site da EMDURB, para partici-par do concurso é necessário ter 18 anos e ensino fundamental comple-to (8º serie). O salário oferecido é de R$ 912,82 com uma jornada de 36 horas trabalhadas, de segunda a sá-

Bruno Gabialti, 28 anosLixeiro

bado. As coletas acontecem em três períodos, manhã, tarde e noite. Bruno comenta que a jorna-da de trabalho é uma das melhores coisas, ele entra às 18h e sai ás 23h40, mas quando terminam o trabalho antes eles podem ir embora mais cedo. Nesses seis dias de trabalho, ele trabalha alternadamente em dois setores que abrangem vários bairros da cidade. Ele não se sente totalmente invisível, “os munícipes têm um carinho pela gente, alguns até me chamam pelo nome. Isso

eu acho muito legal”. Ele que é de uma família de quatro filhos, sendo o mais velho, conta que a família se interessa pelo seu trabalho e que a maioria das pessoas não acreditam quando ele conta que é coletor de lixo. Antes de trabalhar nesta área, já tinha trabalho como frentista, au-xiliar de produção, auxiliar de lim-peza, estoquista e eletricista, “esse ano eu ia fazer faculdade, mas a turma não fechou. Quero fazer en-genharia elétrica, uma continuação do que estudei no Senai”.

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Talvez o hoje seja o amanhã que você procura...

Todos têm suas formas de buscar a felicidade, o vigia Áuster de Oliveira constrói a felicidade dele todos os dias

Por Isabel Silva

Áuster Domingos de Oliveira, 29 anosAgente de Vigilância e Inpeção

{ {Morador de Paulistânia, há

50 km de Bauru, Áuster Domingos de Oliveira,

de 29 anos, sempre trabalhou no campo, na cultura de cana de açú-car, até a usina em que trabalhava vir à falência.

“No serviço que eu tinha não havia estabilidade, fazia de tudo um pouco, trabalhava com pragas e doenças de cana, levantamento de perdas no campo, até [a usina] vir à falência, só saí de lá porque faliu”, conta Áuster.

Em busca de estabilidade, o jovem biólogo, que sonhava em se tornar agrônomo, resolveu perse-guir novos objetivos em sua vida.

Além de entrar para um curso de vigilância, Áuster chegou a pres-tar doze concursos públicos seguidos até passar no concurso para assumir o cargo de Agente de Vigilância e Inspeção da UNESP/ Bauru.

Há um ano e meio, Áuster per-corre o trecho Paulistânia – Bauru todos os dias, e podemos encontrá-lo cumprindo seus turnos de vigi-

lância entre o campus da UNESP e o Colégio Técnico Industrial Prof. Isaac Portal Roldán (CTI).

Mesmo tendo custos com as viagens entre as cidades diaria-mente, o vigilante diz que não pretende trocar o aconchego da sua pequena cidade de 1.200 ha-bitantes, onde sempre viveu, para morar em Bauru.

Não deseja conquistar mais do que precisa para ser feliz

Sua maior objeção deve-se à falta de segurança da “Cidade Sem Limites”. “[Em Paulistânia] tenho segurança, não tem enchen-te, posso sair e deixar minha por-ta aberta. Qual o lugar seguro que você moraria aqui em Bauru? Lá é como um condomínio, mas estou do lado dos meus parentes, e não vivo trancado”, afirma.

Apesar de seu nome lembrar a palavra “austero”, cujo significa-do nos remete à inflexibilidade e

rigidez, Auster se distancia muito desses termos, se mostrando uma pessoa flexível aos acontecimentos da vida, aberto às mudanças que o amanhã pode lhe trazer, mas pre-parado para viver o hoje .

“Eu acredito que a gente tem que fazer o que gosta, mas aprendi que a gente também tem que ten-tar gostar de fazer alguma coisa. Se eu vou ser vigilante, eu vou ten-tar gostar de ser vigilante. É mais fácil eu fazer isso, do que eu tentar lutar contra isso. Não sei o que vai ser amanhã. Pode ser que aconteça algo e eu tenha que dar aula, vou ter que aprender a gostar de dar aula”.

Casado e ainda sem filhos, o vigilante acredita que devemos buscar objetivos na vida. No mo-mento, ele encontrou a estabilida-de profissional que procurava, e ainda quer melhorar, mas não de-seja conquistar mais do que preci-sa para ser feliz.

Apesar de nunca ter exercido sua área de formação, a biologia, a faculdade lhe abriu um novo mun-do, se não tivesse feito, não teria alcançado suas conquistas atuais.

“Para fazer faculdade eu tive que trabalhar. Trabalhava o dia todo

e a noite estudava”Teve que trabalhar para man-

ter seus estudos, aprendeu a bata-lhar pelo que acreditava. “A maio-ria das pessoas buscam ganhar bem e com estabilidade, não importa o que ela vá fazer, é a primeira coisa que ela quer, e depois disso ela vai procurar fazer o que ela gosta.

Porque hoje, a maioria da po-pulação, para estudar alguma coi-sa tem que estar trabalhando. Para fazer faculdade eu tive que traba-lhar. Trabalhava o dia todo e a noi-te estudava. E atuar na área ou não depende de qual é o seu objetivo.

O objetivo da minha vida é ter um emprego com estabilidade, construir minha casa, ter minha mulher e meus filhos e está bom, não preciso mais do que isso.

Às vezes você está sempre procurando mais para ser feliz, quer isso e quer aquilo, mas você não viveu a vida”.

“ O objetivo da minha vida é ter um emprego com estabilidade,

construir minha casa, ter minha mulher e meus filhos e está bom,

não preciso mais do que isso.”

{ {

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Pelas ruas de BauruA história de um entregador de jornal

O entregador de jornal é um profissional que di-ficilmente vemos pelas

ruas. Veloz, ele trabalha durante a madrugada e muitas vezes passa despercebido.

Quando era jovem, Altair so-nhava em ser jogador de futebol, mas os problemas no joelho lhe im-pediram de lutar pelo seu sonho. A vida lhe reservava outros rumos.

Hoje, Altair Maximiano, tem 45 anos, sendo que há 18 anos ele trabalha como entregador de jornal. Todos os dias, de segunda a segun-da, ele chega ao Jornal da Cidade, às 01h30min e espera cerca de meia hora para começar as entregas. Per-corre diariamente 45km, 30km no Vista Alegre e 15km no centro de Bauru, onde entrega todos os dias 955 jornais.

Durante os feriados e datas fes-tivas, quando muitos estão acostu-mados a comemorar ao lado da fa-mília, Altair está trabalhando para garantir que os jornais cheguem aos seus leitores. E ele dificilmente tem férias, pois quando tira uma folga,

precisa pagar para alguém substi-tuí-lo. Além disso, o substituto leva cerca de 20 a 30 dias para aprender sua rota de trabalho.

Apesar dos perigos das noi-tes bauruenses, felizmente ele nunca sofreu nenhum tipo de violência, nada colocou em risco sua segurança durante todos es-ses anos de trabalho.

Há 18 anos ele trabalha

como entregador de jornal

Ele, assim como os outros 31 co-legas de trabalho, não possuem vín-culos com o jornal, são autônomos. Recebem 0,18 centavos por cada jornal entregue, e com esse salário também devem arcar com as despe-sas de suas próprias motos que são utilizadas para a entrega do jornal.

O jornaleiro está satisfeito com a profissão que possui. O tra-

balho noturno não é um problema para ele, ao contrário, gosta do fato de trabalhar apenas três ou quatro horas diariamente, pois, assim, ele tem o restante do dia disponível. Ele aproveita as horas vagas para jogar futebol com os amigos.

Em relação ao futuro, Altair afirma que pretende se aposentar

Por Isadora de Oliveira

Altair Maximiano, 45 anosEntregador de Jornal

como entregador de jornal. Ele re-conhece que ganha um bom salá-rio, o suficiente para ter uma boa vida, que incluí o pagamento da faculdade da filha, estudante de engenharia ambiental. O orgulho do pai. Mas afirma que se a filha quisesse seguir a profissão do pai, ele não a proibiria, mas aconselha-ria ela a fazer uma faculdade.

{ {

Percurso feito por Maximiano

Elaborado por Thaís Viana

Page 6: Vozes anônimas

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Trabalho de riscoA rotina de quem permite que a energia

elétrica chegue em sua casaPor Isadora de Oliveira

Marcelo Dias Guagliareli, 36 anosTécnico de Substações de Energia

Elétrica { {Diariamente Marcelo Dias

Guagliareli, de 36 anos, coloca sua vida em risco.

Ele trabalha há 17 anos, para a empresa CPFL, na manutenção de equipamentos de alta tensão de quatro subestações de energia na região de Bauru.

O trabalho apesar de inco-mum é de extrema importância para a civilização moderna. Sem a energia elétrica, retrocederíamos milhares de anos. Voltaríamos ao trabalho manual e caçaríamos prezas para nos alimentar. A so-ciedade moderna é totalmente de-pendente da energia elétrica.

Para trabalhar em seguran-ça, Marcelo utiliza equipamen-tos de segurança como roupas anti-chamas, botas, luvas, capa-cete e óculos de proteção.

Apesar de nunca ter sofrido nenhum acidente de trabalho, ele toma todos os cuidados necessá-rios para que isso nunca aconteça, pois sabe que isso acontecer, pro-vavelmente será fatal.

Marcelo e seus colegas de tra-balho, transformam a energia re-cebida da empresa transmissora de 138 mil Volts para 13.800 Volts. E é essa energia que chega na ca-sas bauruenses todos os dias, 24 horas por dia.

Para que isso aconteça, há uma central, em Campinas que monitora todas as subestações da região, incluindo Bauru. E quan-do ocorre alguma emergência que compromete a distribuição de energia, não importa o dia, ou

a hora, os técnicos são chamados para resolver o problema. Aos sá-bados, domingos e feriados, eles também ficam de sobreaviso.

Marcelo transforma a

energia recebida da empresa transmissora de 138 mil V

para 13,8 mil V

Apesar de ser um incomômo-do para ele, o fato de estar cons-tantemente exposto a riscos, ele se diz satisfeito com o seu trabalho.

Quando perguntei, se ele mu-daria de profissão, caso tivesse outra oportunidade de emprego, ele não hesitou em dizer que não. Para ele, com o curso técnico de eletricista que possuí, não encon-traria um emprego que lhe pro-porcionasse melhores condições de trabalho e um salário maior.

Em relação a sua remunera-ção, ele se diz satisfeito, pois ga-nha um salário que está dentro da média do mercado. Mas como todo mundo, ele também gostaria de ganhar mais. Claro!

Marcelo sabe a importância que o seu trabalho tem para a comunidade, e não se incomoda com o fato do seu trabalho não ser reconhecido e muitas vezes até mesmo desconhecido.

Como a energia elétrica chega até sua casa

A energia elétrica pode ser produzida através de diversas fontes: carvão mineral, derivados de petróleo, bagaço de cana, entre outros.

18 mil V

Nas usinas hidrelétricas, a queda d’água movimenta um gerador, criando um campo magnético, que produzirá a corrente elétrica. Em seguida a energia passa pelas estações de transmissão que aumentam sua voltagem.

A energia vai para as cidades através das torres de transmissão de alta ten-são, sendo transportada em altíssima voltagem, para reduzir as perdas ener-géticas durante a transmissão.

765 mil V

Quando a energia chega à cidade, ela passa pelos transformadores de tensão nas subestações, onde sua voltagem é reduzida.

13,8 mil V

Marcelo Gaguiareli atua nessa etapa do processo.

A voltagem da energia é reduzida novamen-te nos transformadores de distribuição dos postes. Só então, ela é distribuída pela fiação e segue para as residências.

127V e 220V

Elaborado por Isabel SilvaFonte: CPFL Energia Revista Nova Escola

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08 | Maio 2015 |

352 anos de históriaProfissão sofreu mudanças com a internet

Por Thais Viana

Q uem nunca trocou cartas com alguém distante não sabe o que é esperar ansio-

samente pela visita do carteiro. Eu na minha adolescência e até hoje cultivo esse hábito de enviar car-tas, além disso sou colecionadora de cartões postais há mais de cinco anos.

Segundo o carteiro Carlos Passine, de 58 anos, o costume de enviar cartas caiu muito nesses oi-tos anos que trabalha na profissão. “Hoje nem os boletos são em gran-de quantidade, porque a maioria das pessoas recebem via e-mail. O volume maior de cartas vem dos presidiários”.

Carlos é natural de Araçuaí, uma cidade no interior do Norte de Minas Gerais que tem cerca de 37 mil habitantes. Terceiro filho de uma família com oito irmãos, saiu de lá com 18 anos para trabalhar em usinas de corte de cana no in-terior do Paraná, depois trabalhou como eletricista, mecânico até se tornar carteiro. Seu primeiro em-prego nesta área foi em Ibaté, inte-

rior de São Paulo, “eu via colegas trabalhando e sempre tive a curio-sidade, eles entraram na época que era por indicação, mas eu prestei concurso”. Em Ibaté trabalhou por três anos caminhando. “Quem mais fica feliz em me ver é a criançada, os cachorros sempre ficam rosnan-do”. Depois veio para Bauru e aqui começou a fazer entrega de Sedex com o carro da companhia, além disso ele é responsável por colocar os malotes de cartas para os colegas que caminham. Está atividade con-siste em deixar as cartas em pontos pré combinados e próximos das zonas que os colegas trabalham, as-sim quando o malote deles acabam, eles pegam outro. Esses pontos são geralmente prédios e estabeleci-mentos comerciais. As mulheres pegam incialmente 8kg de corres-pondência e os homens 15kg.

O dia de Carlos começa ás 6h da manhã quando sai de Macatuba, cidade próxima de Bauru, ele pre-fere trabalhar aqui, porque lá teria que caminhar e o trabalho é sobre-carregado, essa também é uma das

reclamações sobre a jornada de tra-balho: — tem poucos carteiros em Bauru. Começa seu trabalho ás 8h e até ás 17h05 entrega cerca de 315 Sedex por dia. Só entrega corres-pondências menor no sábado, que a jornada de trabalho é reduzida, só até o meio dia.

Para se candidatar a vaga de

carteiro é necessário ter o segun-do grau completo, ser maior de 18 anos e passar no concurso que tem cerca de 50 questões. Segundo o site dos Correios o salário oferecido é de R$706,48.

A profissão foi oficializada em 25 de janeiro de 1663 quando foi nomeado o primeiro carteiro.

Carlos Passine, 58 anosCarteiro

Elaborado por Thais Viana

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Muito mais que vitrinesEnquanto centenas de pessoas se divertem

no shopping, outras centenas trabalham

Não é preciso ser um gênio da matemática para chegar à conclu-são que em um shopping diaria-mente circulam centenas, senão milhares de pessoas em um dia. Mas, talvez em nenhum desses passeios tenham se perguntado o que há por trás dos bastidores. É ai que conhecemos o Gilberto Costa, que trabalha há 23 anos em um shopping de Bauru.

Seu trabalho consiste em monitorar todos os setores da empresa, garantindo que nada irá faltar, em ser responsável pela segurança e manutenção. Segun-do uma colega de emprego, Gil-berto é o tipo de funcionário que se faltar ao trabalho, o shopping não funcionará naquele dia. Ele brinca, acha exagero, mas talvez não tenha idéia mesmo de sua importância. Para ocupar o seu cargo tem que ter noções de ele-tricidade, ele fez alguns cursos nesta área e explica que atual-mente para concorrer a vaga dele é preciso ser engenheiro elétrico

e ter experiência com administra-ção.

Essa brincadeira de 23 anos começou ainda na adolescência. Segundo filho de uma família de sete irmãos, veio de Vitória da Conquista do estado da Bahia com 17 anos. Seu primeiro em-prego foi no shopping, começou como segurança e foi sendo pro-movido até chegar ao atual cargo de Coordenador de segurança e operações.

“O shopping para mim é uma faculdade, você aprende de tudo e tem

a chance de ser bem recompensado”

Segundo Gilberto, trabalham para o centro comercial cerca de 120 funcionários, excluindo as 1600 lojas e funcionários. Ele não se acha invisível. “O cliente que frequenta o shopping há mais tempo me conhece”. E ainda com-

pleta: “o shopping para mim é uma faculdade, você aprende de tudo e tem a chance de ser bem recompensado”.

Seu dia começa ás 7h30 da manhã e termina as 18h30. Ás vezes trabalha aos finais de semana, quando está de folga não quer “nem passar perto do shopping”. A pri-meira vez que ele foi a um sho-pping foi aos 17 anos e não saiu mais de lá, por isso aos finais de semanas que tem folga, prefere praticar esportes: “sou corredor,

Por Thais Viana

o meu limite até agora foi 52 km, quero chegar aos 100 km”.

Os fins de semana que traba-lha, quando o fluxo de clientes é maior, a maioria são adolescen-tes. Quando perguntado sobre os rolezinhos, ele comenta: “sempre existiu isso, os jovens vêm para cá se divertir, é um lugar seguro para eles e a bagunça deles é devi-do a idade. Nunca tivemos proble-mas sérios com eles. Alguns saem dessa fase e passam a trabalhar aqui no shopping.”

Gilberto Costa, 40 anosCoordenador de segurança e operações

Uma história na multidãoPor Isabel Silva

Diariamente, milhares de pessoas da cidade e de ci-dade vizinhas, sejam elas

consumidores ou mesmo traba-lhadores, circulam pelo centro co-mercial de Bauru. Há 22 anos foi construído o Calçadão de Bauru, desde então, o comércio da cida-de se desenvolveu, agregando di-versas lojas no entorno da região do Calçadão. Na tarde de uma se-gunda-feira ensolarada em Bauru, encontramos Kerolen, na esquina com a Rua Rio Branco com a Rua Primeiro de Agosto, no centro da cidade, a uma quadra da Pça Rui Barbosa, em meio a algumas pro-motoras de operadoras de celular.

No centro da cidade pode-mos encontrar, pelo menos, duas promotoras de vendas de opera-doras de celular a cada esquina. Elas trabalham na rua em horário comercial, abordando potenciais clientes, promovendo produtos e serviços, distribuindo panfletos ou amostras grátis e vendendo

Kerolen, 28 anosPromotora de operadora de celular

chips para celulares. No Estado de São Paulo, a média salarial de um promotor de vendas é de R$1025,00.

Kerolen Mayara Figueiredo Simões, cujo nome foi dado pela mãe inspirado em uma persona-gem de filme estrangeiro, compõe a equipe da operadora de celular há 5 anos. A jovem de 22 anos que mora no Bairro São Geraldo, co-meça seu dia de trabalho às 9hrs e termina às 18hrs e aos sábados trabalha até às 13hrs.

A promotora saiu da casa dos pais aos 16 anos para se casar, mas o casamento não perseverou por muito tempo. Mesmo após o divórcio, Kerolen não quis voltar para a casa de seus pais e quando ela tinha 17 anos, uma amiga que já trabalhava na empresa de ope-radora de celular a indicou para o trabalho, desde então Karolen se sustenta com a renda gerada na área de promoção de vendas.

Pergunto à Kerolen se ela

gosta de trabalhar como promo-tora de vendas, ela afirma que gosta do trabalho, muitos clien-tes gostam de conversar e contar sobre suas vidas, e as conversas são gostosas. Mas a moça só en-trou na área porque precisava se

sustentar. Ex- estudante de Pe-dagogia, Karolen, ela começou o curso , mas não concluiu. Agora, com a renda gerada pelo trabalho, a jovem diz que pretende voltar aos estudos e dar continuidade ao curso.

{ }

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Um jeito próprio de ser feliz A escolha de uma vida despretenciosaPor Amanda Costa

Ricardo do Anjos, 30 anos

Artesão

Leve às ruas cidadaniaA gari que redefiniu o significado de gentileza

A Isabel Tobias é a tipica bra-sileira. Uma mulher forte que trabalha pela família e

se alegra por suas conquistas. Ne-gra, 46 anos, gari. É fácil notar na pele a agressão de anos sob o sol quente. Já são dois anos limpando as ruas de Bauru, das sete as quatro da tarde, na mesma rotina. O sorriso no rosto que nunca lhe deixa é a prova de que flores-ce esperança na adversidade. Dona Isabel não reclama do trabalho que possui, antes de virar gari, já foi inspetora na Ernesto Monte, esco-la pública da cidade. A rotina em uma escola pode ser extremamen-te estressante, quatro em cada dez professores já sofreram algum tipo de violência em escolas do Estado de São Paulo, segundo o Instituto Data Popular. São muitas as déficits na área da educação pública, mas a cultura de desvalorização que atinge cada um desses personagens incita o desrespeito e aos poucos levaram Isabel a desistir dessa realidade.

Hoje em dia, acordar as seis, vestir o uniforme laranja e sair para tra-balhar é para ela dignidade. “Eu acho que lidar com ser humano é muito difícil. Aqui a gente também corre riscos, mas em comparação ao pessoal lá é muito melhor. Na escola eles xingam a gente, não va-lorizam o trabalho. São adolescen-tes e pessoas que não te respeitam, por isso que na rua tenho muito mais respeito. Por exemplo, outro dia ganhei um refrigerante, sem-pre alguém oferece uma água, uma sombra. Esse serviço para mim é ótimo. É paz.” Conclui Isabel. Quando questionada sobre a abor-dagem das pessoas na ruas, Isabel conta que o clima é tranquilo, ape-sar de cansativo, o trabalho nunca lhe rendeu nenhuma agressão ou preconceito direto. O que inco-moda a gari é a falta de educação alheia. “Vocês acabou de limpar, eles jogam lixo. Se quer jogar tenha respeito ao menos e não jogue no chão.Quando chamamos a atenção eles dizem ‘Mas se não fosse o meu

lixo o que seria de vocês’.” Guerreira, Dona Isabel é mãe de dois filhos que com orgulho cur-sam a universidade. Quando ques-tionada sobre a vida familiar,ela ressalta que é divorciada e o mo-tivo apenas demonstra a força da mulher moderna. “Sou divorcia-da porque acho que a vida a dois é muito triste, muito difícil. Sabe, a gente está em um trabalho mui-to pesado, quando você chega em casa só quer descansar. O marido chega e já pergunta se a camisa está passada. Trabalhei o dia todo, o que custa ele mesmo passar a cami-sa? Tenho um namorado há alguns anos, mas é assim:cada um no seu

quadrado, eu na minha casa e ele na dele. Sem roupa para la-var e nada disso.” O trabalho de um gari é parte dos serviços essenciaisem uma sociedade,a cada rua limpa são menos enchentes e poluição urbana. Dona Isabel é apenas um rosto entre esses garis que lutam para sobrevi-ver com uma renda entre R$800 e R$1200, que fingem ignorar o sol enquanto limpam o suor com a manga da blusa, pegam a sua lata jogada na calçada en-quanto você passa ignorando o sorriso de bom dia..

Por Naiara Teixeira

Isabel Tobias, 46 anosGari

Era quase meio-dia. Sob o sol quente, resolvi sentar em um dos bancos na praça Rui

Barbosa, centro de Bauru. Sentei próximo a um rapaz que trançava fios para fazer uma pulseira. Fiquei ali por um bom tempo admirando aquele trabalho e a paciência do ra-paz em trançar peça por peça. Como estava perto, não pude deixar de ouvir a conversa entre ele

perguntou se eu queria dar uma olhada em seu trabalho. Respondi que sim e logo iniciamos uma con-versa. Perguntei se ele trabalhava como artesão fazia muito tempo e como tinha aprendido a fazer bi-juterias tão bonitas. Ricardo me contou que aprendeu a fazer suas bijuterias ainda na adolescência. Quando mais jovem, o artesão costumava frequentar a praça Rui Barbosa e, assim conheceu hippies que viviam na região. Eles lhe en-sinaram a produzir bijuterias com pedras, arames, barbantes e penas. Ricardo é natural de Bauru e tem família na cidade, mas nos úl-timos 13 anos não parou por aqui. 14 estados e incontáveis cidades brasileiras estão na lista dos lugares conhecidos pelo artesão.

“Eu pego carona, e vivo em busca

do novo .” { {

Para ter esse estilo de vida despreocupado e sem endereço fixo, Ricardo contou que a cada “dinheirinho” junta-do com a venda de seu trabalho, ele segue para outra cidade. Depois de muito con-versamos, contou-me que, por incrível que pareça, a vida sem destino nem sempre pertenceu a ele. O artesão é formado em Pedagogia e vivia em Santo An-dré, Grande São Paulo. “ Hoje eu tenho na vida o que preciso. Arrumo um dinheiro, conheço pessoas e lugares com esse trabalho aqui há quase 14 anos e sou feliz.” declarou, Ri-cardo.Uma vida mais simples e de-spretensiosa parece estranha para uma sociedade contur-bada e cheia de exigências, não é mesmo? Conversar com Ri-cardo por alguns minutos me fez pensar que ele é a prova que cada pessoa tem um seu próprio jeito de ser feliz e isso deve ser respeitado sempre.

e um amigo. E notar a empolgação dos dois ao se reencontrarem. O trançador de pulseiras acabará de voltar de uma temporada na Ba-hia.Ele se chama Ricardo, tem 30 anos e há 13 trabalha nas ruas trançando, moldando fios e arames para fazer belas bijuterias. Ao perceber que eu prestava atençãp na conversa, Ricardo logo

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