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Wilson Colares da Costa - Academia de Letras de Teófilo Otoni · Suplente: Gilberto Gouveia Lima Conselho Fiscal ... Priscilla dos Santos Gomes ... com natural exuberância a paisagem

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Wilson Colares da Costa organizador

Rio Mucuri e Todos os SantosProsa & Verso

Academia de Letras de Teófilo Otoni2015

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Academia de Letras de Teófilo Otoni

Diretoria Executiva:Presidente: Elisa Augusta de Andrade Farina

Vice-Presidente: Antonio Jorge de Lima GomesSecretário-Geral: Wilson Colares da Costa

Tesoureiro-Geral: Leuson Francisco da CruzPresidente Emérita: Amenaide Bandeira Rodrigues

Publicações Especiais: Coletânea Coleção Prof. Albert Schirmer

Nº 5/2015

RevisãoSmirna Cavalheiro

CapaLeito do Rio Mucuri, em grafite, produzido por Elton Antônio Gonçalves de Oliveira. A

composição final e tratamento de imagens foram realizadas pelo design gráfico Matheus Serôa.

Editoração eletrônicaRoberto Actschin

Impressão e acabamentoGráfica Exclusiva

Caixa postal 103 - Teófilo Otoni - MG - 39800-970www.letrasto.com

[email protected][email protected]

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Conscientizar e preservar

Em 2003, surge por meio de ecologistas, a ONG “Movimento Pró Rio Todos os Santos e Mucuri”, com a finalidade de proteger, recuperar, defender e conservar o meio ambiente, a paisagem natural, cultural, histórica e social, bem como promover e incentivar o desenvolvimento econômico-sustentável das bacias hidrográficas dos rios Todos os Santos e Mucuri, conforme previsto no estatuto social da entidade.

Diretoria ExecutivaPresidente: Jairo Lisboa RodriguesVice-Presidente: Iesser Anis Lauar

Primeiro Secretário: Mayra Soares SantosSegundo Secretário: Luiz Felipe Gouvea Guedes

Primeiro Tesoureiro: Cleide Aparecida BomfetiSegundo Tesoureiro: Eduardo Jorge Marx

Comunicador Social: José Nogueira

Conselho DeliberativoEfetivos:

Márcio Achtschin, Luciana Carvalho Lima Porto, Izabel Cristina Marx, Luciano Ramos Lauar de Castro, Jairo Lisboa Rodrigues, Iesser Anis Lauar, Mayra Soares

Santos, Luiz Felipe Gouveia Guedes, Cleide Aparecida Bomfeti, Eduardo Jorge Marx, José Nogueira Filho, Carlos Eduardo Miranda da Silva, Ruth Lopes Negreiros, Henrique Starick e Alice Lorentz de Faria Godinho. Suplente: Gilberto Gouveia Lima

Conselho FiscalEfetivos:

Márcia Cristina da Silva Faria, Ivanilde Cassemiro dos Santos e Gentil Teixeira Ferraz.Suplente: Bruna Godinho Cruz

“A água faz parte do patrimônio do planeta.Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade,

cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.”

Declaração Universal dos Direitos da ÁguaRio de Janeiro, 22 de março de 1992

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Sumário

Rio Todos os SantosRio Todos os Santos - Amirah Molaib de Paula ........................................................8Os Rios da minha cidade - Isaura Caminhas Fasciani .............................................9O rio da minha infância - Humberto Luiz Salustiano Costa. ....................................10Rio Todos os Santos - Guiomar Sant’Anna Murta . .................................................11Carta aos insensíveis - João Batista Vieira de Souza. ...........................................12Os rios de minha infância - Llewellyn Medina . .......................................................13Rio Todos os Santos: paradoxo existencial - Elisa Augusta de Andrade Farina .....15A agonia do rio Todos os Santos - Sebastião Lobo. ...............................................16Rio Santo de Todos - José Geraldo Silva . ..............................................................17Rio que te quero Todo Santo - Egmon Schaper. .....................................................18A ponte de pedra - Leônidas Conceição Barroso. ..................................................19Todos os Santos - Seme Handeri . ..........................................................................20Lamentos de um Rio - Sandra Helena Barroso. .....................................................21O rio que levava o trem - Salvador Araújo...............................................................23Rio Todos os Santos - Aloízio Lula .........................................................................25Memórias que não são minhas e saudades do que não vivi em Teófilo Otoni às margens do rio Todos os Santos - Larissa Duarte Araújo Pereira. .....................26Meu nome - Ricardo Maia. ......................................................................................28Nascedouro - Vânia Rodrigues Calmon. ................................................................29Ao rio Todos os Santos - Therezinha Mello Urbano de Carvalho. ..........................30Rio de todos os Santos - Almir Fernandes de Souza. ............................................31Água e saúde na bacia hidrográfica do rio Todos os Santos - Priscilla dos Santos Gomes. .................................................33O Todos os Santos e a fazenda Suíça - Leuson Francisco da Cruz. .....................36Rio Todos os Santos - Antonio Sérgio Torres Ferreira. ..........................................37Memórias de um Rio - Marlene Campos Vieira. .....................................................38Rio Todos os Santos - Antônio Jorge de Lima Gomes. ..........................................40Rio Todos os Santos, aquele abraço! - Dalva Neumann Keim. ...............................41

Rio MucuriTodos os Santos - Hilda Ottoni Porto Ramos. ........................................................43Um Vale que tanto vale - Márcio Barbosa dos Reis. ...............................................47Relatório da expedição de Victor Renault: a certidão de nascimento dos rios Mucuri e Todos os Santos - Márcio Achtschin Santos. ....................................48Rio Mucuri - Jader Moreira Rafael ..........................................................................51O futuro dos peixes e da pesca no rio Mucuri - Paulo dos Santos Pompeu. ..........52Oh, “pobre” grande rio Mucuri! - José Geraldo Silva. .............................................54Dois rios - José Moutinho dos Santos ....................................................................55Em memória das águas do Mucuri - Marcos Antônio Nunes. ................................57Carta à sociedade - Vinícius Pereira Martins . ........................................................59Rio Mucuri: meu velho amigo, o Mucuri - Sebastião Lobo. ....................................60Rio Mucuri - Antonio Sérgio Torres Ferreira. ...........................................................61Um dia... Mucuri? - Seme Handeri. .........................................................................62

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Meu Saudoso Mucuri - Leônidas Lorentz ...............................................................63Rio Mucuri - Antônio Altivo Gomes. .........................................................................64Mucuri e Todos os Santos, esperança que não cala - Leandro Luiz Reis Vieira . .66..., rio de mim - Ailton Ferraz. .................................................................................67Nossas riquezas naturais e sua história - Wilson Ribeiro. ......................................69Formações geológicas do rio Mucuri - Antônio Jorge de Lima Gomes . .................71Remanescentes florestais na porção mineira da Bacia do Rio Mucuri (1989 a 2008): interpretação da influência das sedes municipais e rodovias no desmatamento - Miguel Fernandes Felippe / Justine Margarida Magela Martins Bueno / Alfredo Costa ...................................................75Vale do Mucuri: um rio de histórias - Kátia Storch Moutinho. ..................................78

Academia de Letras: Histórico e quadro social .......................................................80

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Apresentação

“Ao elemento líquido, chamou Deus de água...E Deus viu que era bom...”

Gênesis 1,10

Com certeza, Deus viu que era muito bom, como também necessária para sobrevivência do ser humano na terra.

Foi num cantinho minúsculo deste planeta que borbulhou uma água cristalina que encantava os animais que a ela recorriam para saciar a sede. Essa fonte cresceu, se ampliou e curiosa desceu serra abaixo, atravessando os prados verdejantes, florestas tropicais e chegou ao oceano.

Esse ato nos traz um exemplo de doação. Tanto fazemos e nos entregamos para que o mundo seja um pouco maior, um pouco melhor depois que o deixarmos.

Realmente os oceanos são imensos, profundos porque pequenas fontes chegam até eles.

Com os rios Mucuri e Todos os Santos não foi diferente... pequenas nascentes, aqui e acolá, foram se transformando em rios caudalosos e tranquilos, serpenteando entre pedras e vales, atravessaram colinas e com certeza eram límpidos e movimentados por cardumes diversificados. Orgulhosos avisavam a natureza que estavam às margens quando faziam barulhos e espumas brancas entre uma cachoeira e outra.

Mas... um dia o homem chegou e reprimiu seu barulho cercando sua correnteza para produzir energia. Desviou e sufocou seu leito para ampliar sua morada e seus quintais. Colocou nele seu lixo e dejetos, obrigando-o a conduzi-los para longe.

O rio se cansou com o peso que foi obrigado a transportar. Se escureceu com a qualidade dos dejetos que recebeu.

Foi desta forma que o nosso rio Mucuri e Rio Todos os Santos se transformaram e, diante dos nossos olhos se agonizam.

Vamos lançar votos de esperança que um dia eles voltem a reluzir diante dos raios solares.

Parabenizo a todos que participaram com seus belos textos e poemas nesta obra ontológica.

Enquanto conscientemente falamos e perpetuamos num livro, nossas ideias, lamentos e alegrias, a esperança será alimentada e num tempo bem próximo, concretizada.

Iracema das Graças FerreiraSecretária Municipal de Educação

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Rio Todos os Santos

Letra: Amirah Molaib de PaulaMúsica: Marisa Porto Pinto Araújo

Quero viver por você/Faça algo meu amigo!Reze pra Todos os Santos,

São Diogo, São José, Santo Antônio, São JacintoReze pra São Benedito,

Que nem tudo está perdido.São todos meus afluentes,

Chorando, secando, sumindo,Morrendo junto comigo.

Rio Todos os Santos,Ouvi seu pranto e suas mágoas

Rio dos meus encantos,Preciso tanto de suas águas!E neste canto que ora canto

Eu vou salvar as suas águas, vou salvar as suas águas...E neste canto que ora canto,

Vou salvar as suas águas, vou salvar as suas águas!

Grite socorro por mim,/Alerte criança e adultoO que mais me faz sofrer,/É que poluído e doente

Eu contamino você.Sem esgoto, sem detrito,/Sou um belo rio

Sem inseto e sem mosquitoAumento minha água,/Sou piscoso e sadio.

O dia 1º de novembro é considerado o Dia Municipal de Salvação e Preservação do Rio Todos os Santos, conforme Lei Municipal nº 3.087, de 22 de maio de 1989.

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Os Rios da minha cidade

Isaura Caminhas Fasciani

Os rios da minha cidade, outroraÁguas transparentes e fartasHoje não são mais assim!...

Suas águas poluídas, esverdeadas,Recebem lixos, esgotos...

Seus leitos se estreitam dia a diaOs peixes estão morrendo!

Nas suas margens despidas de verdeNão mais árvores onde os pássaros se aninhavam

Não mais flores. Não mais cantares.Só tristeza e desolação!

Baratas, mosquitos e ratos proliferamOs urubus fazem ronda

“Como se em mesa redonda”Discutissem

O destino daquelas águas tão sujas!Deus, meu! O que fizeram das águas do meu rio?

Quem diria – ao vê-las hoje – que um diaElas foram farturosas e límpidas?

Havia peixes em abundânciaE as lavadeiras tagarelas entoavam

Ternas cantigas e a roupa suja lavavam!Enquanto as crianças felizes e arrulhantes

Nas suas águas banhavam.Naquela época de encantamentos

Quantas vezes me debruceiNas balaustradas da ponte, só pra ver

O serpentear alegre das águas cantantesA dança airosa das plantinhas aquáticas

Entre as quais borboletas mimosas brincavam– O que fizeram das águas do meu Rio?

Nós, os seus algozes, precisamos socorrê-lo!Num grito lancinante peço socorro!...

Num S.O.S., que perdido fica– até quando? –

Ecoando inutilmente pelos ares!...

FASCIANI, Isaura Caminhas (¶1916 - V 2008). Os rios da minha cidade. In: Brindando à vida: poemas. Teófilo Otoni: Gráfica Expresso, 2007, p.94.

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O rio da minha infância“...Foi um rio que passou em minha vida.

E meu coração se deixou levar”

Humberto Luiz Salustiano Costa*

Dele guardo muitas recordações. O velho Todos os Santos, que um dia foi navegável. Segundo reza a história, serviu de cenário de um tempo em que os rios seguiam seus cursos normais, deixando em sua passagem as marcas da sua verdadeira destinação – fornecer a água para saciar a sede e fertilizar o solo, dentre outras funções. Vida pela vida.

No caso específico do Todos os Santos, somos levados a recordar, com imensa saudade, a figura da lavadeira, aquela serviçal abnegada, em sua faina diária, utilizando suas águas para o desempenho da sua tarefa. Mossoró, em barra comprida e característico também em sua mistura de cores, era o sabão da vez. Era bonito de se ver inúmeras lavadeiras se valendo das águas límpidas do grande rio, onde um dia crianças e adultos se banharam, nadaram, ou mostraram suas habilidades nos mergulhos acrobáticos do alto das suas barrancas e do alto das suas mal-acabadas pontes de madeira.

Cortando a cidade, em todo seu perímetro urbano, o Todos os Santos compunha com natural exuberância a paisagem da Teófilo Otoni dos nossos sonhos e dos nossos amores. Nele, os pescadores conseguiam bons pescados, sendo rica a sua concentração de peixes. Dele também se extraiu toda a areia necessária às construções, cuja extração era feita normalmente por canoeiros, ficando o transporte a cargo dos carroceiros, fazendo da venda daquele produto um meio de subsistência para eles e suas famílias. Mal sabiam que aquele expediente representava um dano irreparável do ponto de vista de sua degradação. Era a chegada do progresso causando sérios prejuízos à natureza.

Ninguém, de sã consciência, podia imaginar que viria o tempo de lamentarmos o destino a que foi relegado o Todos os Santos, destino este que ele jamais fez por merecer, e que nós mesmos construímos na volúpia do crescimento desordenado, sem respeitar os espaços naturais de suas margens e até transformando-o em esgoto a céu aberto.

Do Todos os Santos, do Santo Antônio, dos córregos e riachos seus afluentes, que povoaram a nossa infância, antes da poluição, hoje só restam lembrança e saudade. Do poeta gostaria de possuir o dom, para neste pedaço de escrita singela testemunhar em versos o que de fato o rio Todos os Santos e todos os demais rios que estão a cada dia morrendo, representam na vida dos povos. Versar sobre a expressão do nosso afeto maior, bendizendo suas existências em nossas vidas.

Eles serão eternos em nossa memória, enquanto existir gratidão em nossos corações. Haveremos sempre de lembrá-los em seus momentos de esplendor e em seus momentos de dor, sabendo-os fontes de vida que vão se definhando pela capacidade de destruição de que são vítimas impiedosas de uma geração bem diferente da geração de outrora, em que os rios se prestavam unicamente à sua verdadeira destinação.

*Membro da Academia Caratinguense de Letras – Membro Honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni – Diretor Presidente do Sistema Caratinga de Comunicação.

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Rio Todos os Santos

Guiomar Sant’Anna Murta*

Sua história é maior do que seu leito...Teve o curso mudado, foi refeito,

servia aos pescadores, lavadeiras,deu areia aos pedreiros, juntou prantode pais aflitos de afogado, enquanto

acolhia devotas benzedeiras.

Inundou, várias vezes, os quintais,deu banho em muita gente, em animais,

e alegrou com traíra os pescadores.Quantas luas seu leito refletiu,

entre serestas... Cada ponte ouviuconfidências: políticas e amores.

Muita seiva nutriu de plantas rarasde bambuzais sedentos e taquaras

que enfeitavam barrancos da cidade.Também derrubou pontes, ressentido,vendo tolher sua margem, comprimidoo seu leito em canal... Necessidade!

Entendeu o progresso. Tudo aceita.Sua honra de rio só rejeita:

estigma da esquistossomose!Sofre, ao saber-se foco da doença,

sem distinguir o que seu povo pensa,sentindo poluir-se, em alta dose!

Todos os Santos, vítima do acaso,sem prevenção, sofrendo mais o atraso

da mente não ligada à ecologia.Pobre rio querido, resta a sorte...

Há projeto de lei, defesa fortede um grupo fiel à ideologia!

Também fiz livro com seu nome, amigo,pois tanta história eu guardei comigo

que meu neto menor foi vê-lo, um dia...Voltou, mostrou-me a foto, e disse triste:

“O seu rio, vovó, já não existe...”Restou do rio, em mim, só poesia!

*Escritora, assistente social e professora universitária aposentada. É Convidada de Honra da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Carta aos insensíveis

João Batista Vieira de Souza*

Já faz algum tempo que venho observando esta gente... Povo mal humorado, estressado, confuso e mal agradecido. Vocês são uns reclamões enrustidos!

Às minhas velhas margens, escutei muito escárnio, buzinaço... Vi homens e máquinas trabalhando e um desvio imenso do trânsito. Uns metros a mais e quilômetros de insatisfação.

Então percebi que estavam a salvar-me ou inundar-me de vez no ostracismo. Por alguns dias, o transtorno foi imenso... Mas, e para quem espera há mais de cem anos? Por mais de dez décadas fui suprido pelas suas fezes, seus objetos e eletrodomésticos estragados, pneus e ferros retorcidos. Motoristas embriagados ou desatentos já caíram em meu leito sórdido, pescadores desavisados aventuraram-se a saciar a fome com meus peixes cascudos e descaracterizados. O seu padrão de limpeza sou eu; o seu padrão de beleza sou eu. Virei lugar inóspito. Refúgio de ratos e malfeitores. Sou a imagem do seu espelho.

Eu sou o seu lixo... Eu sou o seu desperdício... Eu sou o seu vício voraz, dadas as garrafas jogadas em mim. Queria ser seu fascínio, sua metade; seu socorro. Entretanto, sou o seu desprezo, seu escárnio, seu castigo... Sua indiferença. Sou um resto de rio... “Um rio às avessas!”

Fizeram para mim canções... Não tocam em seu rádio: o lixo é outro; fizeram poemas em minha homenagem... Mas esgoto a céu aberto não vira best seller: o vício é outro; fizeram imagens das minhas águas turvas... Mas o programa assistido está em outro leito de morte.

A única alegria que me aparece são os Ipês na Primavera... Faz-me ter a ilusão de que sou desejado, sobretudo quando saio em famigerados calendários ou cartões políticos postais. Eu posso esperar, você tem muita pressa... Eu posso morrer à míngua, minhas águas não servem mais. De vez em quando recebo um banho, não para limpar-me... Mas por medo das minhas revoltas.

Eu sinto frio... Tenho o curso incerto! Estou no centro da sua cidade, mas não sou o centro das atenções. Tenho sede de saúde, tenho fome de dias melhores. Vamos trocar de lugar por alguns segundos e sentirá na pele como é ser ignorado.

Já fui navegável, sabia? Quem me fez me incumbiu de saciar todos àqueles que se achegassem com sede. Mas quem me corrompeu grita aos quatro ventos que me ama. Minha nascente brota a esperança, mas tenho receio de passar por aqui. Homens cruéis, insensíveis... Matam-me e morrerás junto. Esta não é a cidade que conheci. Anoiteço e amanheço só! Minhas águas são apenas a ponta do seu iceberg.

Eu sou o palco das suas caminhadas. Mesmo quando você está de óculos escuros; sou sua frustração. Meus ouvidos doem de tanto te ouvir falar de outros rios... Lindos... Caudalosos e imponentes! Suas viagens e seus encantos enojam-me. O seu luxo é o meu lixo. O seu bem-estar é o meu refluxo.

Eu não preciso do seu desprezo, preciso do seu bom senso! Ainda não morri. Estou em agonia, se não faz nada para ajudar-me, não atrapalhe. O progresso e o futuro desta terra começam por mim... Muito prazer, eu me chamo RIO TODOS OS SANTOS!!! Pronto, falei!

*Professor de Língua Portuguesa, escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 10.

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Os rios de minha infância

Llewellyn Medina*

Uma lenda embalava aqueles mágicos diase que dizia ser o mundo tão pequenocabia todo nos limites do Pau Velho

e o rio Santo Antônio banhava aqueles sonhose depois era apenas o mundo o vasto mundo

o rio Santo Antônio vinha da Baixinhavinha da Vila Pedrosa

vinha da Bela Vistavinha de longe muito longe

de muito longe vinha

Banhava o campinho de nossas peladasserpenteava ao longo da Rio-Bahiachegava quase ao Beco do Coelhoquase à farmácia de seu Menezespeixinhos de ouro fisgavam anzóise depois saltitavam impertinentes

como se arrependidos de sua curiosidademeus olhos guardavam aqueles momentos

fugidios furtivos etéreos momentosque o rio Santo Antônio lambia

Dizia-se que o rio morria no rio Todos os Santosdizia-se que morria no “quente e frio”

lugar distante de meu universo sem fimnão se sabia onde o Todos os Santos morria

naquele tempo os rios não morriamcomo morrem hoje

como hoje morrem até os rios imortaise o rio repousava nas águas barrentas do Mucuri

que tinha sede do mardo mar carecia

e o rio Todos os Santose o rio Santo Antônio

e o rio Mucuri no mar morriam

Quem se lembra do Todos os Santosquando se enfurecia

e ficava tão grande que diziamser grande o oceano mar

ficava tão grande que até a Rio-Bahiadeixava-o lamber sua pele lisa cinzenta

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São lembranças que impregnam as lembranças daqueles dias de sonhos

sonhos que já não sonho maisenvelheceram os sonhoscomo envelhecem os rios

que correm vacilantes por minhas veiase dizem dessa lembrança já tão longínqua

que está prestes a morrer comigo.

*Magistrado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 02.

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Rio Todos os Santos: paradoxo existencial

Elisa Augusta de Andrade Farina*

Em minhas caminhadas matutinas observo a natureza, as pessoas, situações que inadvertidamente surgem fazendo-me refletir sobre o homem e sua capacidade de mudar o foco das coisas.

Num dia desses, absorta em meus pensamentos, vi-me frente a um quadro ímpar que gostaria de compartilhar com todos aqueles que amam a natureza. Às margens do Rio Todos os Santos, que corta a nossa cidade sesquicentenária, que foi num passado distante imenso, de águas cristalinas e cheio de vida, mas que hoje sobrevive a duras penas, repleto de sujeira, mal cheiroso, resultante da inoperância dos governantes e a insensatez dos habitantes da cidade.

Vi duas esguias e soberbas garças brancas dividindo o espaço do rio com seis asquerosos urubus que, desengonçados, pululavam em busca do que comer nos emaranhados que obstruem a passagem das águas opacas e fétidas do leito do rio. Imediatamente, pensei no longo caminho percorrido pelo rio em sua nascente, a sudeste da cidade de Diamantina, para depois encontrar-se com o rio Mucuri e desaguar no Atlântico, ao sul de Porto Seguro.

O rio Todos os Santos nasceu majestoso e durante décadas desempenhou o seu papel de relevância para a cidade de Teófilo Otoni. As suas margens já foram palco de eventuais usuários como as lavadeiras, que entoavam o cantar triste ou alegre de melodias enquanto lavavam roupas para os cidadãos como fonte de renda e sobrevivência.

Entre o cantar do rio no seu incessante vai e vem e das laboriosas lavadeiras, a paisagem era harmoniosa e havia uma troca tácita entre o rio que “emprestava” as suas águas límpidas e transparentes em troca das cantigas que faziam com que se sentisse importante e útil na sua caminhada de levar vida e alento aos habitantes de suas margens.

De volta ao que estava vivenciando, refleti que o que destoava da paisagem eram as elegantes garças que tornavam a figura de seus “companheiros” de desdita a mais macabra possível. O que fariam essas desgarradas garças num rio onde a penúria é latente? Fiquei a meditar.

Os urubus, estavam desempenhando o papel a eles reservado pela natureza: o de “limpadores” de ambientes, apesar do quadro dantesco representado. Mas, e as garças? O que estariam representando? Fiquei a imaginar...

Sei que somos levados a pensar o inimaginável que sempre descortina na nossa mente fazendo com que criemos situações inusitadas.

Lembrei-me dos tempos da minha infância que,assim como as águas daquele rio, estão perdidos no tempo.

Deu-me uma imensa tristeza em pensar que o destino daquele rio será como os das minhas lembranças: sepultadas no esquecimento.

O tempo é inexorável. Não poupa nada e ninguém. Que pena, poderia ser de outra maneira...

*Escritora, educadora e Presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 06.

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A agonia do rio Todos os Santos

Sebastião Lobo*

A primeira reação de quem vê o rio Todos os Santos totalmente poluído é de repúdio aos transgressores deste precioso elemento da natureza. Como está, o Todos os Santos é um atestado vivo de uma omissão criminosa e conivente dos responsáveis pela violência perpetrada.

O rio maravilhoso de outrora, orgulho teófilo-otonense, agora não passa de um fétido esgoto a céu aberto que envergonha a capital mundial das pedras preciosas. Seu leito está infestado de imundícies e dejetos humanos que o tornam alvo das aves e animais carniceiros.

É de estarrecer quando se sabe que esta fonte essencial de vida, convertida em séria ameaça à saúde pública, corta o centro de uma grande e bela cidade, espalhando fedentina e carregando em seu dorso as amostras nauseabundas do abandono e da destruição.

Doente, pedindo socorro, o rio Todos os Santos não tem, afetivamente, contado com todos os santos que também o esqueceram em seu leito de agonia, negando-lhe a constância das chuvas milagrosas, dadivosas e vivificantes.

Enquanto vai cumprindo dolorosamente a sua triste trajetória, o rio se debate nas imundícies que o infestam, que lhe tiram o brilho e a pureza, torturando-o, aniquilando-o entre as dúcteis muralhas pedregosas que o circundam.

O espetáculo deprimente e vergonhoso tem sido um desafio para os responsáveis pela sua solução que esbarra no indiferentismo, no descaso e na falta de compromisso.

Esquecendo-se de que hoje a escassez de água é um problema mundial e uma ameaça a existência humana, Teófilo Otoni ignora um dos seus tesouros naturais, estrangulando, devastando e tornando-o decadente e repugnante, apressando-lhe o fim, a missão sacrossanta, sublime e bela.

Contudo, é preciso salvar o rio Todos os Santos antes que ele morra e respondamos por um crime ecológico de indescritível crueldade.

Não podemos nos esquecer de que, obviamente, sem água não existe vida. E que a água é a essência da própria vida.

*Jornalista, advogado, escritor e membro honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Rio Santo de Todos

José Geraldo Silva*

Sois de todos os santosNosso santo de todosMas não sei a qual santoDe joelhos ou de pé pedirQue socorra tua situaçãoQue tal ação praticadapelo homem atrevidoAo usar de tanta ingratidãoFazendo esta gente indignadaAo continuar roubando-te a doce vidaTransformando tuas claras águasEm esgoto tamanha poluiçãoEstreitou teu largo leitoReduziu tua grande vazãoTirando tuas alternadas curvasE as tuas margensA necessária e virgem vegetação.O lixo encobre-te na extensãoImpede que volte a ser agradável,Rio que mata a sede do ser humanoAmarga o descanso do homem levianoQue só te suga para a derrotaE a cada dia que passaFaz-te aos poucos morrer!

De tantos santos que ésA um pelo menos peço clemênciaVenha logo por amor te socorrerPara que forças ainda possas terNão minguar tuas águas poderosasQue são alimento, que são vidaMesmo para quem não te prezaHá necessidade de ti pra sobreviver!

Oh santos milagreiros, eu clamoSocorra teu patrimônio tão divino!Porque aceitar o homem cretinoTomar-te glorioso direitoPor ignorância, por maldadePor vontade alheia ou fraquezaOu, talvez, apenas por quererQuando antes de minha avançada idadeHá tanto tempo tenho visto com certezaAos poucos tua fertilidade morrer?Rio santo de todosQue todos os santosTenham forças para te salvar!

*Escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 11.

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Rio que te quero Todo Santo

Egmon Schaper*

Relato a você, caro leitor, alguns fatos que ocorreram, norteando a vinda dos antigos colonos alemães, do século XIX, recém-chegados à então Philadélfia, precisamente a família Schaper, à qual pertenço.

Uma trajetória de muitas lutas e conquistas, mas também de muitos percalços e desafios nesse caminho rumo ao desconhecido Vale do Mucuri.

Os fatos que aqui narro são reminiscências coletadas por Franz Schaper.

“Depois de uma viagem de nove semanas, o veleiro que nos trazia ao Brasil, aportou no Rio de Janeiro. Desde aí até Philadélfia, a viagem foi patrocinada pela ‘Companhia Mucuri’. Em São José, fomos embarcados em um pequeno barco a vapor, o qual deveria nos trazer até Santa Clara, pelo Mucuri. O vapor encalhou várias vezes, devido ao baixo nível das águas nessa época. [...] Quando soubemos que no Rio Grande do Sul estavam radicadas muitas famílias alemãs, decidimos emigrar para lá, em companhia das famílias Werbeling e Schulz [...]. [...] Um mês inteiro tivemos de aguardar aí a vinda do vapor (Porto de Santa Clara). Nesse tempo, o diretor Teófilo Otoni fez uma viagem ao Rio de Janeiro e, por coincidência, encontrou-se conosco na rua. Depois de muito relutarmos, cedemos, afinal,às persuasões e, às expensas da Companhia, retornamos a São José.Como o vapor estivesse imprestável, foi preciso subir o Mucuri nas lanchas de cobre. Até Santa Clara levamos seis dias [...]”.

Agora, depois de quase 160 anos, os nossos rios não são mais os mesmos. Lamentável!

Como estariam tristes os aventureiros de outrora ao vê-los assim.Cabe a nós mudarmos este legado. Digo a você, caro leitor, que é possível.

*Ator, artista plástico e assessor parlamentar.

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A ponte de pedra

Leônidas Conceição Barroso*

Minha meninice foi vivida na Teófilo Otoni dos anos dourados (década de 1950). Residia à direita do rio Todos os Santos, onde hoje é o bairro Marajoara. Naquela época, havia dois bairros por ali. De um lado, fronteiriço ao morro do Cemitério, o Arrasta-Couro. Tinha medo do “dito-cujo”. Escutava dizer que, à meia-noite, ele passava pela rua arrastando um pesado couro e nunca àquela hora me atrevi acordado. Do outro lado, ao pé do Morro do Orfanato, o Barro Branco. Nesse local, a Estrada de Ferro Bahia e Minas construiu algumas casas, que alugava a preços simbólicos a seus funcionários. Elas existem até hoje. Morávamos numa delas: pai, mãe e sete filhos, dois meninos e cinco meninas. Entre os dois bairros, um brejo cheio de taboas e um lixão, que romanticamente chamávamos de lagoa. A linha de trem, presente na vida de todos da cidade, ficava entre a nossa casa e o rio Todos os Santos. Mas era o rio a nossa fonte de alegria. Era nele que a garotada se divertia. O prazer de nadar, pescar piau, lambari, bagrinho, ver canoas trafegando de um lado para o outro e apreciar o trabalho das lavadeiras, que cumpriam o ofício entoando belas canções.

Certo dia, fui com meu pai conhecer a “ponte de pedra”. Fiquei eufórico com o convite do meu companheirão. A imaginação não me atendia, ao tentar antever a tal ponte de pedra. Conhecia apenas as de madeira e as pinguelas que davam acesso aos bairros à esquerda do rio. Podia ouvir, lá de casa, quando a noite trazia consigo mais silêncio, o barulho do atrito dos pneus nas pranchas de madeira da ponte do mercado. Enfim, saímos para conhecer a tão esperada ponte de pedra. Era fora da cidade. Viajamos um bom tempo numa estrada empoeirada, levados em um pequeno caminhão por um compadre de meus pais. Finalmente, avistamos a ponte. Era muito grande, imponente, majestosa mesmo, erguida sobre pilares bem altos. Mas eu não via pedra alguma na ponte. Pedras, só no leito do rio, as águas passando por entre os lajedos.

Cerca de cinquenta anos depois, durante uma expedição no rio Mucuri, cruzei de carro uma bela ponte de concreto e, de cima, contemplei, lá embaixo, as águas escoando por entre lajedos. E no fundo de minha memória busquei o lindo passeio que fiz com meu pai. Quem sabe, naquele momento revisitava a ponte de pedra que tanto me encantou na infância.

*Professor da Universidade FUMEC em Belo Horizonte/MG e da PUC Minas, Belo Horizonte/MG. É membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 22.

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Todos os Santos

Seme Handeri*

Se um dia mergulhei em tuas águas Já nem me lembro.

Se alguma vez te vi revolto,Talvez em algum dezembro.

Às vezes, passando junto ao teu leito Ouço um lamento.

Um lamento triste, cheio de rancor. Vejo tua caminhada lenta rumo ao Mucuri,

Carregando toda sujeira de uma cidade insensível, perversa.

Meu pobre rio, nem todos os santos conseguiramLivrar-te da fúria dos homens.

Nem todos os santos conseguiram tirar do teu leitoa lama, o limo, o lodo, o lixo.

Olhando daqui, não vejo peixes Não vejo cor, nem vida, não ouço a tua voz.

Apenas um espectro se arrastando tristecomo se pedisse socorro ao teu algoz.

Meu velho rio, tua agonia é muda Ninguém tem tempo para cuidar de ti,

gritar por ti, velar por ti. Ninguém vai tuas águas limpar,

Meu velho rio, não te iludas,ninguém vai te salvar.

*Advogado e procurador do município de Teófilo Otoni.

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Lamentos de um Rio

Sandra Helena Barroso*

Venho de um berço santo que me deram, inclusive um nome de santo, ou melhor, de todos os santos. Minhas águas calmas e serenas embalavam a pequena cidade das pedras preciosas. Ah, Teófilo Otoni... cidade querida... como é maravilhoso estar tão junto de ti! Jamais me esquecerei dos pescadores domingueiros, que vinham ver os peixes que saltitavam em minha correnteza. Eram tantos que eu me enchia de orgulho!

Lembro-me das crianças que brincavam por entre as árvores perto de minhas margens. Ah, como eu me sentia honrado ao ver aquelas criaturinhas correndo junto de mim, com os rostinhos estampados de alegria.

Como é bom lembrar a brisa suave que embalava minhas águas e me conduzia pelas correntezas da vida. Vida de um rio feliz!

Vi tantas pessoas que, sentadas em bancos tão próximos de mim, me admiravam com alegria.

Fui testemunha de tantas histórias... Lembro-me de uma garotinha inocente que não tinha nem três anos de idade e que já tentava fugir de casa... Carregava em sua mãozinha uma trouxinha... Via a pequena passar sob a ponte, e também vi um senhor que a segurou pelas mãos e a conduziu, fazendo-a retornar até sua casa, no antigo Arrasta Couro. Ah, garotinha fujona, como eu lembro tão bem de ti!

Como me sentia maravilhado ao ver sobre as pedras que habitavam junto a mim, tantas tartarugas verdinhas, que se alimentavam das riquezas que existiam em mim. Foi agradável fornecer vida a todos aqueles seres que estavam perto das minhas correntezas. Sem esquecer-me dos diversos pássaros que com seus biquinhos bebiam minhas águas translúcidas. Também observava as grandes amigas árvores frondosas que pareciam curvar-se diante de mim!

São doces lembranças que invadem a velha memória de um rio que um dia foi o rio de Todos os Santos. Por força do destino, será que todos os santos se esqueceram de mim? Hoje faço as minhas preces aos santos e a todos da minha querida cidade: Por favor... Não se esqueçam de mim! Não me deixem no abandono, ainda há tempo! Não quero ficar na memória apenas como o rio que fui, quero permanecer vivo como o rio que ainda sou! Apesar de tudo, amo a cidade e ainda quero ser testemunha de tantas outras histórias! Não me deixem ficar no esquecimento!

Ainda sou o rio de Todos os Santos! Peçam em suas orações, de acordo com suas crenças, que me façam novamente respirar! Quero ainda correr pelas correntezas! Quero ver crianças à minha volta! Quero ver as flores plantadas junto às minhas margens, a florir e perfumar as tardes primaveris teófilo-otonenses! Quero sentir a chuva cair de mansinho e encher minha cabeceira! Quero ver as borboletas multicoloridas e os pássaros cantores saborearem minhas águas límpidas. Quero ver o sol tímido a me iluminar e sorrir nas manhãs ensolaradas. Quero ver a lua cheia prateada refletida em minhas águas.

Ah... Como eu quero que toda a cidade se orgulhe de mim! Na vida tudo pode ser um recomeço e eu anseio em recomeçar! Por favor, me ajudem a renascer e transbordar de águas límpidas para junto de ti! Prometo que serei o orgulho da cidade

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e fornecerei a ela o que puder.O mundo tem sede de água e eu tenho sede do mundo para que salve as

minhas águas! Ainda posso saciar a sede de pessoas e animais. Ainda posso ser o responsável pela vida dos peixes. Ainda posso ser fonte de vida para a cidade. Ainda posso... Desde que queiram que eu permaneça junto de vós!

Não quero que me façam um rei. Quero apenas que tratem de minhas águas sofridas... Quero apenas que me façam respirar novamente. Sou como o pulmão da cidade, e preciso viver! Quero novamente que se orgulhem de mim: Quero que olhem para mim e digam: Esse é meu velho e doce amigo: o rio de Todos os Santos!

Perdoe-me se um dia eu lhes magoei. Tudo o que rabisquei neste papel é o que vem à memória. Para não ficar no esquecimento, ousei dizer apenas... Que tudo isso nada mais é que... Lamentos de um Rio!

*Mestranda do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ciências da Religião Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas/Belo Horizonte. Reside em Santa Luzia/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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O rio que levava o trem

Salvador Araújo*

Depois da última curva, antes do encontro com as águas do Santo Antônio, um uivo estranho, mas alvissareiro, fez-se ecoar na várzea. Pelo ar de Filadélfia, uma alegria indizível levitava docemente, como a recitar o salmo do progresso. Lá longe, aparecia o “Morro do Quenta Sol”, ainda verde: uma falésia no mar invisível de Pogirum. Abriam-se as portas do século XX.

Quem olhasse a pacata cidade de uma das muitas elevações que a circundam distinguiria um rio de águas ligeiras, frias e cristalinas, a correr, altaneiro, por baixadas e grotões. Batizado em um dia 1º de novembro, ganhou o nome de rio Todos os Santos. Em suas margens, o cordão verde azulado da mata ciliar dava de comer a meninos e bichos, com suculentos ingás, araçás e gabirobas. Havia, ainda, uma infinidade de tubérculos e sementeiras, tudo conspirando para que toda a fauna procriasse. E na copa das árvores cantava o bem-te-vi. Na corrente de água, piaus enchiam puçás e remansos, subiam à nascente ao tempo da desova.

Entretanto, a partir do ano de 1898, o olhar do observador passou a distinguir um caminho feito de ferro que ia margeando o rio. Os trilhos, em um falso estado de morbidez, assistiam ao avolumar-se das águas, com a chegada de riachos e ribeirões, muitos com nomes de santos. Dessa forma, a estrada de ferro e o “Todos os Santos” passaram a constituir, harmoniosamente, uma unidade, simbiose perfeita alimentada de riquezas, amores, despedidas e reencontros; hoje, cinzas de saudade.

Quanta estranheza causou aquele apito nunca antes ouvido no vale! O guizo da grande serpente de ferro acordou até a alma do cacique marajoara, fez tremelicar a ramagem das parasitas, hibernou o pio das juritis. Naquele ano, o fruto serôdio esqueceu-se de sua estação. Dali em diante, tudo mudaria, naquele sacolejar frenético e extasiante de um interminável “café-com-pão”. Assim foi que o intrépido rio Todos os Santos, pela primeira vez, levou o trem de volta ao encontro do Mucuri, de onde a composição retornou a Ponta de Areia.

O rio jamais abandonava a estrada, nem esta àquele. Quando se afastavam um pouco, era pelo aclive de um boqueirão ou pela sisudez de uma montanha. Mas pareciam se olhar de longe, calculando onde o outro estaria. E, depois que o rio vencia a corredeira ou o trem atravessava o túnel, os dois se entrecruzavam por intermédio de pontilhões: ferro alemão em terras brasileiras.

A esse tempo, o rio já tinha feito história. Conta-se que foi ele que trouxe a gente do empreendedor Otoni até estas terras. Não dá nem para imaginar a comitiva pioneira, partindo do Porto de São José, hoje, Mucuri, no extremo sul do Estado da Bahia, a subir o grande rio. Depois de alguns dias rio acima, os viajantes encontraram, à margem esquerda do Mucuri, um afluente caudaloso e seguro. Aquele rio os levaria, dias depois, ao encontro com a outra equipe que partira do arraial do Serro, nas terras adamantinas.

Por certo, o estilo das embarcações era o mais rudimentar possível. Conforto passava ao longe. Sorte era poder se equilibrar no diminuto espaço de uma igara, na maioria das vezes, fabricada por caboclos ou indígenas. E, como se não bastasse, o rio tinha também seus mistérios e perigos. Malária, picadas de insetos e de cobras

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venenosas não tinham nada de lendas. Era comum ver um companheiro tombar, inane e vencido, sem que se pudesse fazer nada por ele. Às margens do nosso rio, certamente repousaram, a caminho do eterno, muitos adeptos do grande líder republicano. Que durmam em paz!

Nota-se, assim, que foi difícil domar este sertão. Quem vencesse as peripécias do rio encontrava uma região selvagem, construída de montanhas e florestas intermináveis: eram os domínios dos botocudos. Ao aceno de caciques valentes, como Poton e Giporok — àquele tempo, inimigos mortais entre si –, toda a selva se levantava. E era um inferno de flechas e golpes de tacapes. As primeiras incursões à Vila de Filadélfia tiveram de enfrentar a fúria dos krenaks e dos naknenuks, pertencentes aos terríveis aimorés.

Tais relatos eram ouvidos entre os trilhos e o rio, em um paralelismo que durou algumas décadas. No caminho dos dois, vicejaram povoações, muitas dessas denominadas “Turma”. Esses arrabaldes eram numerados sequencialmente rumo ao litoral e serviam de apoio para a “Maria Fumaça”. Também se formaram distritos para imortalizar nomes como Pedro Versiani, Chrispim Jacques Bias Fortes, Presidente Pena e Mayrink, denominações que tanto o rio quanto a locomotiva sabiam pronunciar.

Assim se passaram os anos. Meninos brincaram de ser Teófilo Otoni, em amizade com Timóteo, para vencer Imã. Meninas charmosas cantaram rodinhas; depois, deram descendentes a “gazzinellis”, “otonis” e “hollerbachs”. Vieram as pedras, o maior topázio do mundo, floriram os cafezais. E as águas ainda corriam os mesmos 70 quilômetros de hoje, de Valão e Brejaúba ao distrito do Pena, região pertencente ao antigo Urucu. Ali, o Mucuri sempre esperou o Todos os Santos. Também o trem passou muitas vezes, de Araçuaí a Ponta de Areia, em uma harmonia que, só agora, pode-se calcular.

E, então, veem-se, hoje, baixadas e espigões a dormirem em seu silêncio ingênuo, tornaram-se campinas verdejantes viciadas em cheiro de boi. A vegetação atlântica foi extirpada para dar lugar à brachiaria, o jacarandá virou eucalyptus e, em troca de um trem, ganhou-se uma rodovia. Por essa estrada, não é raro cruzar-se com um ribeirinho assoreado, de águas poluídas e barrentas. Poucos viajantes se dão conta de que estão margeando o majestoso rio Todos os Santos de épocas atrás. De vez em quando, a vista do curioso ainda divisa alguns pontilhões que se levantam no horizonte, em um cenário casmurro e aziago. Acredita-se que esses engenhos ainda estejam à espera da velha composição: o guerreiro “puchichá”.

*Professor, escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 28.

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Rio Todos os Santos

Aloízio Lula

Atravessando hoje ainda, um riacho transparente.Que aflora da mata.

Mexe com as emoções da gente.De alguém muitas vezes pegou, dessa água com lata.

Uma vida difícil d’um povo sem terÁgua encanada.

Foi neste riacho indócil,Que a cidade tinha a roupa lavada.

As lavadeiras do rio,Traziam no rosto suas dificuldades.

No seu labor, no seu brio,Um jeito de sobreviver com dignidade.

As pedras arredondadas do leito,Transformam em quaradores na labuta.

Um visual colorido perfeito,Como se elas mantivessem sempre a mesma conduta.

A longo do rio, anzóis que “pegam” lambari!“Pescam” piabas e bagre e roncador,

Que perfuram o fluxo das águas com bisturis...Este rio era um universo de pescador.

Um dia talvez despoluído,Vira patrimônio nacional.

Espaço pro lazer e turismo.Pois estão todos a olharem o rio de forma especial.

LULA, Aloízio (¶1959 - V 2009). Rio Todos os Santos. In: Um olhar uma visão. Teófilo Otoni: [s.e.], 2009. p.77.

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Memórias que não são minhas e saudades do que não vivi em Teófilo Otoni às margens

do rio Todos os Santos

Larissa Duarte Araújo Pereira*

Ao que indicam os documentos que remontam a história do Vale do Mucuri, o rio Todos os Santos foi fundamental no período de colonização desta região. Não que antes de ser colonizada não houvesse residentes ali, pois ouço em meu interior encantadora história, perpassa em minha mente a voz dela, linda e bela, que vos apresento a seguir.

Minha memória sugere que eu e minha família, posteriormente denominada de tribo, vivíamos às margens de um extenso rio. Durante o lazer os pais banhavam-se junto aos filhos, avós e tios, esses momentos proporcionavam diversão e contentamento. Peixes a nadar mordiscavam nossos pés a par e as crianças a brincar os imitavam a mergulhar.

Dali nada se tirava, mas tudo prosperava. Havia flores, frutas e folhas, todas filhas da Mãe Natureza que nos honrou com árvores belíssimas, nossa casa era também lar dos animais. Ouço ainda o conversar dos tucanos, o canto do pica-pau e a delicadeza da arara azul. Ao anoitecer, o cururu iniciava o seu som na companhia das cigarras, serenata não nos faltava. Micos-leão também havia, muriquis, tamanduás, ah, e é claro, o bicho preguiça também morava ali. Dos nossos receios, em alguns momentos apareciam grandes jacarés, jiboias e cobras coral, não que fossem inimigos, mas, se em despreparo encontrássemos, virava vendaval.

Certamente não eram só alegrias, em alguns momentos as perdas vinham. Além das rivalidades por espaço com outras tribos, outras lutas não esperávamos. Todavia, a maior querela ocorreu quando se aproximaram aqueles que de nós eram afastados. Pois leiam bem o que vos conto...

Ouvi rumores da tentativa de aproximação de pessoas que usavam de linguagem diferente das nossas, eles tiveram dificuldade de aproximar de nosso povo. Não me surpreendeu tanto temor, a mata é proteção, é a casa da harmonia e não instalação de sua brutalidade e imposição de monarquia.

As onças se agitaram, até mesmo os ramos entrelaçaram, formaram escudo e proteção para que não houvesse a destruição. Esses homens almejavam explorar vastos tesouros, em busca de pedras preciosas e belos minerais avançaram em insistência para esta região dantes já ocupada.

Ao chegarem, encontraram resistência de muitas tribos, mas o coração do ser humano é humano, é sentimento e compaixão. Apresentamos nossas casas, cedemos nossas redes, os alimentamos com o melhor, mas, para nossa surpresa, eles traziam com eles, além da nova língua, a ganância nas atividades que retiravam da Mãe Terra mais do que ela conseguia produzir.

Vi meus filhos crescendo, poucos eram os netos, mas os vi sem teto, nossas árvores foram devastadas. Diziam que estas eram importantes em outros lugares e deram-lhes o nome de madeiras. Construíram grandes casas e trouxeram trabalhadores, depois de muito desmatar, até nossos animais se espantaram, não

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ouvimos mais o som das aves e nem tivemos a companhia das capivaras a nadar.Nosso rio, dantes tão largo, passou a ser via de grandes transportes. Nós

também assim o usávamos, mas não com canoas tão pesadas. Avisamos que com tanta perda de mata logo não o teríamos tão fundo... não nos ouviram.

Construíram lindas praças, começaram a vender o alimento que a Mãe Terra nos dava. Homem feio, ali não havia troca, havia exploração. Quando de tudo, tudo acabava em nossa flora, encontraram o tesouro das rochas, dali tiraram o brilho das águas marinhas, ametistas, esmeraldas e grandes granitos. Oh, amigo, homem branco, seja bem-vindo, mas nos ajude a cuidar!

O tempo passou, muitos nasceram, cresceram, chegaram pelas estradas e eu já há muito tempo me fui. Hoje o que vejo daqui vos conto...

Além das praças que nos trouxeram são, também, bonitas as casas que ali tiveram. Até mesmo a igreja construída é graciosa, os trens que por ali passaram carregaram muita alegria, narrativas por meio de trilhos, além da memória da companhia. Entre as pessoas vi muito carinho, troca de afeto, construção de famílias e até uniões que chamavam de casamento, essas junções tão consonantes soavam como o encontrar do Todos os Santos com o Mucuri. Primorosas festas, tais como as nossas, alegravam seus dias. É uma pena que não viram a perda de nosso lar.

Redirecionaram as águas do rio, rio este que alimenta. As atividades que ali impuseram não são mais as que lhes sustentam. Aos poucos o rio se revoltou, quase o vi virar mar. Das construções ao seu redor vi muitas a embarcar. De tristeza se encolheu, em seu percurso uma barragem estabeleceu. De tantas lágrimas esbaldar, chegou a definhar.

Canalizado, diminuído, se viu recebendo todo o lixo produzido. Sem tratamento, sem amor, sem afeto e até sem canoa. Mas há esperança para ele! Eis que o homem acordou, levantou e sentiu falta! De tanto judiar veio a despertar. Muita coisa não voltará, mas o homem há de acertar. Estação de tratamento de esgoto ali implantou, cuidado com a saúde da água tomou, tem procurado a todos conscientizar e ao rio ajudar. Hoje há o que chamam de comitê de Bacia Hidrográfica, há uma Academia de Letras, há grupos e interessados e pesquisadores atinados.

Ah, Todos os Santos, eu sei quanto foi belo, sinto sua falta! Tão cheio de histórias, alegrias e memórias. Espero que nos reencontremos em paz. Eu já fui, parti, me denominaram índia, mas fui apenas ser e segui. Que a Mãe Terra te abrace e tenha compaixão de ti.

*Bióloga; Mestre em Ensino de Ciências e Matemática – Ênfase em ensino de Biologia; Doutoranda em Geografia – Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

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Meu nome

Ricardo Maia*

Antes do descobrimento do Brasil.Eu já estava aqui.Eu não tinha nome, podia ser comparado a uma veia. Mas já estava aqui.Minhas amigas, as nascentes que podemos chamar de vasos, meus colegas, os rios,maiores do que eu, podemos chamar de artérias.Já estávamos aqui.Vamos nos misturando até chegarmos na imensidão das águas, dos mares e oceanos. Onde vamos trocando ideias, nos misturamos mais ainda.E devolvemos o que não é nosso para os nossos usuários, um tal de ser humano que ainda não sabe conviverem equilíbrio com este conjunto chamado de natureza. Eu faço parte desta teia líquida.Que podemos comparar ao corpo humano. Somos o sangue que leva os nutrientes para a natureza. Também nutrimos a flora, fauna e o ser humano.Temos o nosso grande amigo, o Sol, o gerador de energia. Temos outro grande amigo, o solo, que nos ajuda filtrar as impurezas.E as raízes que nos transportam para as folhas.Aí, evapotranspiramos.Temos o nosso amigo vento que nos leva para cima e voltamos em forma de chuva. Faço parte deste ciclo que leva o equilíbrio e vida ao planeta. Era assim limpo, cheiroso e muito feliz.Tinha meus cílios que mantinha as minhas margens no lugar certo.Mas continuamos aqui.Conhecemos as entranhas de cada ser que viveu ou vive aqui.Recebemos as suas lágrimas e seus dejetos, fazemos parte da sua história.Hoje em dia tenho até nome: rio Todos os Santos. Sou até homenageado como manancial Todos os Santos considerado uma Área de Proteção Especial Estadual (APEE).Sou lembrado uma vez por ano com um grande abraço.Mas não me sinto respeitado, sou depreciado, recebo lixo e esgoto.Constroem às minhas margens.Me sinto apertado estrangulado. Dói-me sentir poluído.Sou obrigado a levar toda esta sujeira ao meu irmão, Rio Mucuri.Eu era mais feliz quando não tinha nome, era limpo e formoso.De quando em quando me revolto com o ato da enchente para tentar sensibilizar os meus usuários, mostrando o que eu recebo, devolvo quase tudo, derrubando casas, pontes etc.De quem é a responsabilidade?Eu já estava aqui.Vou continuar aqui.E você, continuará aqui me tratando esta forma?

*Gestor e analista ambiental com pós-graduação em Auditoria e Perícia Ambiental. É sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri.

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Nascedouro

Vânia Rodrigues Calmon*

Varnhagen, em 1877, fez a primeira visita prática ao local, onde definiu o lugar mais apropriado para a construção da futura capital: um triângulo formado pelas lagoas Feia, Formosa e Mestre d’Armas [...]

Principalmente uma cidade nos conformes dos planos como essa, que escolheu o dia de Tiradentes para fazer os seus 55 anos, em 2015, buscou a vizinhança de boa aguada para se fincar.

Aos milhares e de todo tamanho, os rios assentam em derredor de si montinhos de gente. Essa gente vai se amontoando e rendendo, se transformando e evoluindo até perderem de vista o que pispiou o sucedido.

De se ver que o assunto, pelo menos ao começo, é com a aguada. Serve a plantas, a gado, a miúdos em seus banhos; serve a asseio de roupa e a gameladas de vasilhas. Boa de beber...

Os povoadinhos, se têm boa sina, crescem e viram ricas vilas, cidades de um e de outro lado do riozinho. Depois se esquecem dele. Ficam ali atrapalhando.

Com o Todos os Santos foi assim. Antes, se via um rio de cima da ponte de tábua corrida. Às vezes, não corriam até o final e, de repente, buraco de dar medo. Acontece. O rio passava assanhado por debaixo. Tempo de grossas chuvas, barrenta corredeira arrulhando. Dava medo e era bonito aquele disparate da natureza. Na seca, aquela gigantesca mansidão. Águas clarinhas pelo meio, só turvada da sombra dos cardumes de lambaris na areia do fundo. Mais para as beiradas, corriam em filete escuro do barro da barroca, laminhas de fabricar girinos, geometricamente.

Quem vai acreditar? Depois desse passado de uso de fossas e rio limpo, veio o presente de esgotar as sujeiras para o rio. E o Todos os Santos foi martirizado, melhor canalizado. Foi, porque as águas crescerem nas grandes chuvas, é uma coisa; agora, supitar para as beiradas aquilo que virou do rio... Restado que era, o nome: Rio Todos os Santos. Primeiro, porque não se pode abandonar um sítio desprotegido, ainda mais de toda uma santa legião e, também, por ser a mesma a estrada que arrancha o passeio dos santos.

E o rio passa e vai descendo para fora da cidade colhendo um Santo aqui e outro ali nos distritos. O esgoto vai ficando para trás, a podridão dissolvida pela correnteza é sugada pelas areias do fundo. Tornam os lambaris pelo meio, os girinos nas beiras, o milharal se estende a perder de vista, mais adiante o colonião, o capim gordura (o meloso), alguma roça de feijão e verdura de horta. O gado engorda de um lado e do outro do rião. É gado a língua que o povo entende por ali. Só mudou o capim Braquiária ou brachiaria semeado... Capim da mãe África, dotado de robustez.

O Todos os Santos ainda é rio naqueles distritos. De se ver no Pena. Em Presidente Pena é que o Todos os Santos é rio. Mas é virar rio e desvirar em água para engrossar o Mucuri. Mais adiante...

Na aguada do cerrado, nasceu a capital do país. Da água boa do rio de todos os santos, um povoado, guardião da fé, sem esperança que seja de virar cidade tem missão de salvar o rio: rio Todos os Santos.

*Professora de música, estudante de Direito, palestrante, escritora, teófilo-otonense, reside em Vila Velha/ES, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Ao rio Todos os Santos

Therezinha Mello Urbano de Carvalho*

Amo todas as águas.Fazem parte da minha vida.

Vida aguada.Vida molhada.

Pelos rios e riachos.Os que conheço e os que nunca vi.

São todos representados pelo Rio Araçuaí.Rio dos meus folguedos

que lavavam corpo e almade quem até hoje chorapor suas águas clarasque poluídas estão.Mas não é o meu rio

que devo homenagear...“Todos os Santos”, ajude-me!

A falar das águasque conheço pouco

mas amo mesmo assim.

Dizem que “todos” não é “ninguém”Mas santos queridos não esqueçam

O vale do Mucuri.Tão carregada de sonhos, de patriotismo

A história que marcou a vidado grande mineiro

que deu nome a Teófilo Otoni.Sonho foi transformado em cidade: FiladélfiaNa estrada de ferro que carregava riqueza

que transportava genteEra esperança na região.

A Bahia e Minas margeava os rios do vale do Mucuri.Sem análise profunda,

esta estrada foi extinta por ser deficitária.Homens, mulheres, autoridades do vale

abaixaram a cabeça e aceitaram a decisão.A Estrada Bahia e Minas ficou só na saudade

Hoje ideias afloram para defender os riosVigor e conhecimento da sua importância

Para a humanidade.Louvemos o “Rio Todos os Santos”

Todos os santos, rogai por nós.Louvemos: o rio, o vale do Mucuri.Pelo que já foram e poderão ser.

LutemosDepende de nós.

*Escritora e poetisa, membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 25.

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Rio de todos os Santos

Almir Fernandes de Souza*

Longe estava o desbravador Teophilo Benedicto Ottoni de sonhar que apenas um pequeno olho d’água que encontrara no distrito de Poté-MG seria o principal manancial de abastecimento de água à grande cidade que levaria seu nome num futuro próximo. Era, coincidentemente, dia primeiro de novembro, dia de Todos os Santos, e religioso que era, não titubeou embatizá-lo com o nome de Todos os Santos.

Aquele minúsculo olho d’água era a nascente do hoje conhecido rio de Todos os Santos, que banha a cidade de Teófilo Otoni, presenteando a todos que ali têm o privilégio de morar, além da beleza de suas águas correntes ao longo da cidade, o fornecimento do líquido mais precioso da terra: a água. Depois de percorrer toda a cidade, continua o belo rio até receber seu principal afluente, o rio Santo Antônio.

Em sua caminhada rumo ao município de Carlos Chagas, o rio de Todos os Santos agora semeia beleza associada à utilidade pública, beneficiando milhares de pessoas em todo seu trajeto, até desaguar no rio que dá nome ao vale: rio Mucuri.

Rio Mucuri

O rio Mucuri, que nasce em Santo Antônio do Mucuri, no município de Malacacheta-MG, depois de receber o rio de Todos os Santos, seu principal afluente, recebe no município de Carlos Chagas, uma pequena hidrelétrica, e continuando seu trajeto rumo a Nanuque, ganha outros afluentes importantes: rio Pampâ e Negro. Já no município de Nanuque, recebe outra hidrelétrica, a Santa Clara, esta de maior porte e continua a caminhada até sua foz no município que tem seu nome, município de Mucuri/BA, onde deságua no mar.

Ao longo do seu curso, banha centenas de fazendas, emprestando sua riqueza à agricultura e à pecuária de grande porte, formando um vale riquíssimo e valorizado por suas águas. Além da hidrelétrica de Santa Clara, na divisa entre Minas e Bahia, fornece suas águas ao abastecimento da cidade de Nanuque, embelezando-a e partindo-a ao meio. Certo escriba, empolgado por sua beleza, assim o descreve no poema “Cântico de Exaltação a Nanuque”:

“O Mucuri te parte ao meio/Tal o Sena faz com Paris/Enquanto abrigas no teu seio/Gente de todo matiz.”Independentemente da beleza do Rio Mucuri, em toda sua extensão,

principalmente na região de Nanuque, encontramos várias indústrias compostas por um grande frigorífico e duas usinas de açúcar, além de vastas plantações de cana-de-açúcar, eucaliptos e diversas outras. Destacamos, também, a parte baiana, que é navegável para pequenas embarcações e abriga, dentre outras, uma indústria de grande porte da empresa Suzano, que produz celulose em alta escala, destinada principalmente à exportação para o mundo inteiro e, como consequência, oferece milhares de empregos, além de imensas áreas usadas na plantação de eucaliptos no município de Mucuri, o que se traduz no município que mais arrecada impostos na região, portanto, o maior produtor. Lamentavelmente, o legendário lago de Santa Clara, com uma extensão de aproximadamente vinte quilômetros de comprimento,

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tem suas águas contaminadas por plantas aquáticas, em sua maioria aguapé, e ainda recebe todo o esgoto, principalmente dejetos humanos in natura, de toda acidade de Nanuque, com quarenta e dois mil habitantes, sendo, portanto, vítima de inqualificável crime ecológico, crime este que, por incrível que pareça, permanece impune até nossos dias.

Com todas as vênias ao romantismo do poeta que existe em todos nós, temos de admitir que a poluição que enodoa as águas do lago de Santa Clara, tornando-as impróprias ao consumo humano e até mesmo ao turismo, constitui-se em verdadeiro calcanhar de Aquiles, o que é na verdade uma espinha atravessada na garganta do nosso caudaloso rio Mucuri.

Os peixes outrora existentes: surubins, dourados, robalos e outros, a cada dia cedem seus lugares aos menos nobres, como: traíras, piaus, tambaquis, bagres, cascudos e tilápias que, como sabemos, são peixes considerados de aproveitamento duvidoso para o consumo humano, sobretudo se considerarmos a alimentação inadequada que recebem.

Resta apenas, se é verdade que Deus é brasileiro, que Ele se apiede de nós, os ribeirinhos, devolvendo nossa esperança para que voltemos a sorrir e melhor aproveitemos a beleza de nosso caudaloso e amado rio Mucuri.

*Escritor e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Nanuque/MG.

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Água e saúde na bacia hidrográfica do rio Todos os Santos

Priscilla dos Santos Gomes*

Na cidade de Teófilo Otoni o fornecimento de água é garantido pela bacia hidrográfica do rio Todos os Santos, que apresenta extensão de cerca de 170 km desde sua nascente, localizada no município de Poté, até a sua foz, no rio Mucuri, em Presidente Pena, próximo a Carlos Chagas, com uma vazão média de cerca de 700 L/s fora do período de estiagem.

No ano de 2012 uma barragem foi construída para atender ao abastecimento urbano e visa a atender ao consumo para os próximos cinquenta a cem anos, com uma demanda média de 130 mil habitantes.

Este empreendimento utilizou recursos na ordem de R$ 45 milhões sob a responsabilidade da COPASA. É denominada barragem Aécio Ferreira Cunha e funciona como um reservatório que armazena a água da chuva, evitando que o Rio Todos os Santos transborde e inunde os espaços urbanos e, quando cheio, poderá abastecer a cidade; sobretudo regularizar a vazão do rio.

A barragem tem uma área inundada de 128 hectares que lhe permite aumentar a oferta de água para a população, o que significa um abastecimento regularizado, mesmo nos períodos de estiagem prolongada. Esta foi uma obra do governo do Estado de Minas Gerais em parceria com a Prefeitura de Teófilo Otoni.

A barragem tem 196 metros de comprimento, 33 metros de altura e capacidade de armazenamento de 12 bilhões de litros d’água.

De acordo com a ONU (1992), a utilização da água implica respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.

O Dia Mundial da Água foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 22 de março de 1992. A cada ano, a data é destinada à discussão dos diversos temas relacionados a este importante bem natural.

O reconhecimento e o direito ao acesso à água é um direito humano fundamental e que deve ser distribuído de modo igualitário a todos os cidadãos, sob pena de se ferir a dignidade humana, haja vista que não existe vida sem água e não há como se viver dignamente se seu acesso for falho ou até mesmo não ser acessível.

A responsabilidade sobre a água é destacada no artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos da Água, promulgada pela ONU, em 1992: “A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos” (ONU, 1992).

A água é um recurso natural essencial como componente de seres vivos, meio de vida de várias espécies vegetais e animais, elemento representativo de valores sociais e culturais, fator de produção de bens e de produtos agrícolas.

A água doce é um recurso finito e indispensável para a sobrevivência e manutenção de todas as formas de vida no planeta Terra. Entretanto, este bem vem sendo alvo de discussões sobre a poluição, escassez e suas mais variadas formas de uso.

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Nas zonas rurais a agricultura consome cerca de 70% da extração global de água (ONU, 2015), mas a irrigação da agricultura com água residual reaproveitada deveria ser mais utilizada se políticas e tecnologias disponíveis fossem mais acessíveis.

A relação entre água e saneamento, de um lado, e saúde, de outro, pode ser avaliada fundamentalmente pela visão de proteção da saúde da população. A água doce do planeta, que pode estar disponível para o uso do homem, é de cerca de 0,3% do total (BASSOI, 2005).

Os problemas relacionados à qualidade da água são muitos, e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que 25 milhões de pessoas no mundo morrem por ano devido a doenças transmitidas pela água, como cólera e diarreia. A OMS indica ainda que nos países em desenvolvimento 70% da população rural e 25% da população urbana não dispõem de abastecimento adequado de água potável (ZANCUL, 2006).

A saúde é condição indispensável à garantia da vida humana, e que valor maior terá a vida se ela for vivida com decência, outra não poderia ser a ponderação quanto à impossibilidade de se dissociarem os vetores da dignidade da pessoa humana do direito à vida e à saúde.

A saúde encontra-se entre os bens intangíveis mais preciosos do ser humano, digna de receber a tutela protetiva estatal, pois se consubstância em característica indissociável do direito à vida.

A Constituição Federal brasileira de 1988, emseu art. 198, dispõe sobre as ações e os serviços públicos de saúde, que devem ser garantidos a todos os cidadãos para a sua promoção, proteção e recuperação, isto é, dispõe sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), sendo esta uma conquista popular em permanente processo de construção e aperfeiçoamento, inspirada num projeto de Estado de Bem-Estar Social.

O SUS é um sistema que pertence à rede pública de saúde e tem como finalidade prestar o acesso à saúde de forma gratuita para todos. O acesso à água também é saúde.

Segundo a ONU (2015), estima-se que um bilhão de pessoas não terá água para beber em 2025. A água potável é mal distribuída no planeta e, com a crise hídrica, automaticamente outras desigualdades crescerão.

A previsão para o Brasil é que, em 2025, um terço da população não tenha água. No Brasil, a norma que estabelece os padrões de portabilidade e vigilância sanitária da água destinada ao consumo humano é a Portaria nº 2.914, do Ministério da Saúde (2011).

A crise global da água condena uma considerável parte da humanidade a vidas de pobreza, vulnerabilidade e insegurança. Deste modo, o papel do Estado na promoção dos serviços de água e saneamento, em geral, é orientado por uma visão de saúde coletiva que busca enxergar esta relação nos tempos atuais e possui importante suporte às políticas públicas.

A falta de água potável e de esgoto tratado facilita a transmissão de doenças no Brasil. Mais de três milhões de famílias não recebem água tratada e um número de casas duas vezes e meia maior que esse não tem esgoto (ONU, 2015).

O desenvolvimento dessas regiões, com características de integração e sustentabilidade requer garantia da segurança da produção de água em quantidade e

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qualidade satisfatória, ao uso e a perenidade, com capacidade de atender a demanda atual e, garantir recursos para as populações futuras.

A interferência do homem na bacia hidrográfica do rio Todos os Santos tem quebrado o equilíbrio natural, o que afetará as gerações futuras e causará a indisponibilidade das águas.

Deste modo, a bacia hidrográfica do rio Todos os Santos ganha o papel de patrimônio na história do município de Teófilo Otoni, sendo necessário que sejam tomadas providências para sua proteção e conservação.

A poluição, a degradação ambiental, a crescente demanda e o desperdício, têm diminuído intensamente a disponibilidade e qualidade de seus recursos hídricos, sendo importante a consciência de toda a sociedade em se mobilizar, para ter o direito de usar a água como acesso à saúde, sobretudo de maneira sustentável na bacia do rio Todos os Santos.

Referências

BASSOI, L. J. Poluição das Águas. In: PHILIPPI JR., A.; PELICIONI, M. C. F. Educação ambiental e sustentabilidade. Barueri: Manole, 2005.p. 175-193

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Brasília, DF: Senado, 2004.

ONU.Declaração Universal dos Direitos da Água, 1992.

ZANCUL, M. S. Água e saúde. Revista Eletrônica de Ciências, São Carlos, n. 32, abril 2006. Disponível em: <http://www.copasa.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2684&sid=129&tpl=printerview>Acesso em: 20 maio 2015.

ONU. Água residual. Disponível em: <http://nacoesunidas.org/onu-alerta-apenas-20-da-agua-residual-e-tratada-provocando-riscos-para-saude-e-biodiversidade/>Acesso em: 15 e 21 maio2015.

BLOG DO BANU. Jequitinhonha e Mucuri. 2013. Disponível em: http://blogdobanu.blogspot.fr/2013/03/jequitinhonha-e-mucuri-sofrem-com-o.htmlhttp://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_32/atualidades.html>Acesso em: 22 maio2015.

SBPCNET.ORG. Resumos. Disponível em: <http://www.sbpcnet.org.br/livro/65ra/resumos/resumos/8230.htm>Acesso em: 20 maio2015.

*Doutoranda em Sociologia, Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e Sindicalismo pela Universidade de Coimbra/Portugal; mestre em Ciências da Educação; especialista em Gestão Educacional e bacharel em Direito.

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O Todos os Santos e a fazenda Suíça

Leuson Francisco da Cruz*

Na encosta de uma colinaE banhada por um ribeirão

À quase uma légua do povoadoCom muito verde e plantações.

Um lugar de belo encantoCom formoso engenho de serraSuas moses giravam dia e noite

Movidas pelas águas clarasDo ribeirão de “Todos os Santos”.

Com lavouras de feijão e milhoPróximo à sede e o quintal

Havia um pequeno canavial.Em uma área um tanto íngreme

Algumas fileiras de caféQue não tinham frutos ainda.

Quando a cana estava madura.Era colhida, lavada e moídaPara fazer açúcar mascavoE alguns tijolos de rapadura.

*Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Rio Todos os Santos

Antonio Sérgio Torres Ferreira*

Seiva que lhe escorre,Das veias, de antes limpa,

Cristalina como os dias,Banhando os campos verdejantes.

Singrando as terras deste vale,Correm águas regando flores que acompanham,

O campo de verde vivaz,Cheio de vidas, riquezas a olhos vistos.

Com um grito de socorro,Ecoando por toda natureza,

Faz-se como lamento de carpideiras,Em mar de resíduos, fétido odor.

Toda a pompa, ora apenas na memória,E como o toar de sinos nos clamando,Piedade aos que defendem a natureza,

Para deixar de ser, e passar a ter,Um futuro, de leito, veramente muito maculado,Conduzindo e sendo uma calha de chorume...!

*Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 21.

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Memórias de um Rio

Marlene Campos Vieira*

Olhando nossas fotos do passado, repassando nossas memórias, sempre encontraremos saudosas lembranças dos tempos idos.

Em meio a tantos sorrisos da meninada, nossas águas são o realce de pura alegria. Felizes em seus banhos, dando imensas braçadas, nas águas puras do rio. Lá estão eles e seus amigos. A seguir os pais se reúnem na pescaria. O verde domina a paisagem. No ar ouve-se um som, e a nítida impressão de ouvir as árvores bebendo água com suas raízes. A mulherada, aproveita e lava roupa com fartura, estendem para quarar e secar. Quanta diversificação para o nosso rio. Alegria, diversão, alimento, utilidade, em resumo: vida. Tudo poderia ser intitulado: “Um dia e o Rio”. Era assim a história de vida de muitos dos nossos homens; crianças daquele tempo. São recordações gravadas no mais profundo da alma. Assim canta Paulinho da Viola: “Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar”.

Os casos do rio Todos os Santos ficaram nas histórias repassadas boca-a-boca.

Ouvi de um amigo a episódio acontecido na casa de seu bisavô, que residia na zona rural; bem perto da cidade de Teófilo Otoni. Impossibilitada de comparecer ao trabalho, sua faxineira pediu a uma parente para substituí-la. O fazendeiro recebeu-a orientou-a rapidamente e se retirou. Ao retornar depois de algum tempo, encontrou o café na mesa. Perguntou então se ela encontrara todos os utensílios, ela respondeu: demorei apenas para encontrar o poço. Cismado, o fazendeiro pediu que ela lhe mostrasse o poço por ela encontrado. Ela seguiu para o banheiro e apontou o vaso sanitário.

Só então ele entendeu que ainda não fazia parte da vida de todas as torneiras, os banheiros e demais avanços. As pessoas consideravam o rio como referência, e tinham seus poços nos quintais. Tudo veio a seu tempo, e os casos ficaram na história.

O nosso rio Todos os Santos atravessa a cidade de Teófilo Otoni e é o principal manancial de nossa cidade, no sentido de abastecimento. Certamente com este pensamento visionário seu nome foi dado por Teófilo Benedito Ottoni, que, ao desbravar as florestas existentes, deparou-se com a nascente de nosso tão importante rio e deu-lhe o nome Todos os Santos, no dia primeiro de novembro. São 70 quilômetros desde sua nascente até sua foz no rio Mucuri. Pesquisando sobre a palavra Mucuri, que tanto tem a ver com a nossa região, descobri que se trata, originalmente, de um fruto. Mas, por estar à beira de um rio que recebe as águas de Todos os Santos, teve a primazia de ter seu nome dado ao rio. E o rio abraçou o fruto, porque o rio é muito mais forte. Todo rio já nasce com uma direção, e este nome, que tanto revela, já nasce verbo. Um verbo com direção certa: o mar. Seja em que lugar ele estiver. O nosso rio Mucuri não é diferente. Ou melhor, é diferente. É um rio misterioso, cheio de história, que banha Minas, Bahia e o Espírito Santo. Foi uma importante rota de comunicação de Minas Gerais, que sabemos, não teve, certamente por divinas razões, o privilégio de ser banhado pelo mar. Mas talvez seja por isso: o rio Mucuri, rico e diverso em peixes e plantas nativas na Mata Atlântica. Quantas vezes me vi admirando aquele rio que

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parece calmo, que tem suas águas desviadas pelas rochas que incrustam seu leito e seu próprio caminho. Pode ser que isso tenha motivado Caetano Veloso, observador como é, já em seu primeiro disco, em 1967, quando gravou, “ Onde eu nasci passa um Rio”. Logo ele, que nasceu na Bahia, Estado banhado por um frondoso mar. “Onde eu nasci passa um rio, que passa no igual sem fim, igual, sem fim, minha terra, passava dentro de mim! Passava como se o tempo nada pudesse mudar, passava como se o rio não desaguasse no mar. O rio deságua no mar, já tanta coisa aprendi, mas o que é mais meu cantar, é isso que eu canto aqui. Hoje eu sei que o mundo é grande e o mar de ondas se faz, mas nasceu junto com o rio, o canto que eu canto mais. O rio só chega no mar depois de andar pelo chão, o rio da minha terra deságua em meu coração”.

Todos os Santos, um rio de nome poderoso, aquele que nos abraçou, nos acolheu e escolheu, queremos que o seu futuro seja límpido como o seu passado.

*Escritora e educadora. Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 29.

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Rio Todos os SantosCanção

Antônio Jorge de Lima Gomes*

Rio da EsperançaRio da Utopia

Todos os SantosRio da Alegria.

És pequeno e mui valentePorteira da liberdade.

Abasteces vida e morteAo cruzar o campo e a cidade.

És a bênção das raposasAmigas dos maxacalis.

Bebedouro dos botocudosDe tribos selvagens e gentis.

Rio da EsperançaRio da Utopia

Todos os SantosRio da Alegria.

És são Diogo, São JacintoSão Benedito, São José,

És Pedro, Antônio e Francisco,Ribeirão Santo da fé.

És veia da FiladélfiaCidade do amor fraternal.

Todos os santos te cortejamPara Teófilo Otoni um manancial.

Rio da EsperançaRio da Utopia

Todos os SantosRio da Alegria.

*Professor Adjunto da Universidade Federal do Jequitinhonha e Mucuri, membro da Sociedade Brasileira de Geofísica, do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri. Vice-Presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 5.

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Rio Todos os Santos, aaaaaqqqqquuuueeeelllleeeea braço!!!!!!!!!!!!!

Dalva Neumann Keim*

Que bom abraçar-te de novo – em pensamento – meu querido rio...Digo “de novo”, pois já o abracei na minha infância, quando ia à casa da minha

avó Emma Maria, que era sua vizinha. Ela morava no seu lado esquerdo logo abaixo da Turma 37. Naquele tempo suas águas eram límpidas, brilhantes, fresquinhas, e tínhamos o maior prazer em nos refrescar nelas nos dias de calor – quando não chovia –pois aí seu leito se tornava fundo, revolto e ameaçador. Você ficava bravo... ameaçava até a cidade, de tanta água você recebia dos outros rios com nomes de santos.

Íamos aos bandos às suas margens, meus irmãos e eu, meus primos e quem mais visitasse a vó, como passarinhos livres, na maior algazarra, sonhando em encontrar ingás nas belas ingazeiras que o margeavam de um e outro lado. Aí, era quando acontecia “aquele abraço!”, pois nós subíamos nas árvores imensas e, sem medo do perigo que nos espreitava, atravessávamos de uma margem à outra através dos galhos cheios de flores, frutos novos, outros maduros, que se entrelaçavam num verdadeiro e grande abraço da mãe natureza em ti e, era aí que nós, juntos, também o abraçávamos.

As árvores que o margeavam eram tão férteis que era raro não nos oferecer seus frutos, os quais, quando novos, mais pareciam velhos, pois eram enrugados, marrons, esquisitos... mas quando maduros, se tornavam gordos, rechonchudos, com a macia e alva polpa que envolvia suas sementes... que delícia suculenta, adocicada... ainda hoje me dão água na boca ao lembrar...

Como em suas águas moravam muitas espécies de peixes, de vez em quando, se a vó deixasse, íamos pescar. Os primos e meu irmão sempre pegavam muitos. Diva quase não ia. Eu era péssima na pescaria. Acho que me faltava paciência de esperar os peixes morderem a isca que, às vezes, era milho verde, noutras, gordas minhocas e os meninos diziam que os peixes comiam também os ingás que caíam nas águas e por isso andavam sem fome... acho que era para me contentar e não desanimar acompanhá-los.

Numa dessas pescarias – até que enfim – consegui fisgar um peixe enorme e que marcou minha vida de pescadora. Que medo tive de cair nas suas águas rio que, naquele dia, estavam barrentas, pois havia chovido muito e o nível havia subido muito, tomando as margens, e eu estava num galho fino de uma ingazeira, que, com meu peso, beijava-te de vez em quando e também porque o peixe, numa força danada queria se livrar do anzol a qualquer custo puxando a linha. Mas consegui fisgá-lo. Quando o vi, tive vontade de soltá-lo. Sua beleza me comoveu. Vejo até hoje seus lindos olhos amarelos me olhando, sua grande boca com dentes serrilhados com o malvado anzol nela traspassado. Suas escamas douradas com um fio escuro no meio do seu corpo logo se deu a conhecer aos meninos que gritavam: Viva, viva, hoje vamos comer peixe... Dalva pegou um enorme piau... e logo o tiraram da armadilha colocando-o no cesto dos peixes.

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Até hoje, não como peixe de rio, pois continuo vendo os lindos olhos amarelos daquele seu filho-peixe piau que marcou a minha infância quando o fisguei. Sempre que me oferecem peixe de algum rio relembro você, rio Todos os Santos, que me proporcionou junto aos meus primos, irmãos e amigos doces e alegres encontros e saudáveis e inesquecíveis momentos em nossa infância... no tempo em que todos podiam comer peixe de um limpíssimo rio como você...

Gostaria muito de vê-lo ainda com suas margens reflorestadas, suas águas limpas e cardumes fagueiros nadando nelas, procriando e se alimentando dos deliciosos ingás – se é que peixes os comem como os meninos diziam – gostaria também que crianças, jovens, famílias inteiras passeassem em suas margens e pudessem também abraçá-lo como nós o fizemos no passado. Quem sabe na forma de esportes modernos como o atual arvorismo e outros, que valorizam a natureza.

Acho que somente através da educação, que significa – no modo mais simples de explicar – mudança de comportamento, tudo é possível, se há comprometimento e boa vontade...

Torcemos para que haja maior compromisso e boa vontade nos políticos, nos órgãos responsáveis e na população, em preservar o meio ambiente e o ser humano – coroa da criação – em todo o lugar do planeta, principalmente na população brasileira, que precisa urgentemente de uma educação competente, eficiente, que a anime a ser cooperadora, e que se sinta responsável em preservar o que lhe foi legado, para que as futuras gerações possam usufruir melhor do que também lhes foi deixado por herança e possam sempre abraçá-lo de novo com todo o amor e carinho, da forma merecida e necessária, querido e amado rio Todos os Santos.

*Escritora, historiadora e pedagoga aposentada.

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Todos os Santos

Hilda Ottoni Porto Ramos*

Coitadinho!Já foi navegável na época da colonização, deslizando até desaguar no rio Mucuri,

rumo ao mar na cidade de Mucuri, na Bahia.Rio de peixes,

Os pescadores ostentavam envaidecidos a variedades: lambaris, piaus, piabinhas, bagres, traíras etc.

Hoje, o que falar?O desrespeito à natureza, que parece chorar, sofre com a insensatez humana!

“O que foi deixou de ser”Já não é o Todos os Santos do meu, do seu, do nosso passado:

Limpinho, volumoso, piscoso.Saudades!

Aos nossos olhos, tristes lembrançasAos nossos ouvidos, um grito de tristeza:

“Salvem-me antes que eu desapareça completamentee deixe como prova: meu leito como lembrança”.

*Escritora, poetisa e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 8.

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Um Vale que tanto vale

Márcio Barbosa dos Reis*

Tens muitas belezas, a fauna e a flora; não é como outrora, mas é graças à sábia natureza, que não se encerra aos desmandos, ao vilipêndio e aos ataques humanos. Tens árvores, pedras, pastos, gado, cana, leite e mel, e o céu...Ah! O céu, este é tão lindo e maravilhoso, nas águas do sinuoso rio reflete, também os astros, as estrelas, e, em particular, a Lua, majestosamente! Sua gente é criativa, amiga e valente; prossegue... prossegue... prossegue... com seu guia maior que é Cristo. Possuis tantas coisas ímpares:Peixes... pássaros... calor... vida, água límpida. Imponente e caudaloso Rio Mucuri. Ao longo do trajeto descreve o Vale, de Mucuri a Mucuri, do início em Minas ao fim na Bahia deixa rastro de vida.Obrigado por existir, meu querido Rio Mucuri, neste Vale que muito me vale.

*Ex-professor de Matemática, contabilista, teólogo, psicanalista, pós-graduado em direito tributário e em Matemática. Atualmente é acadêmico do curso de direito, Auditor Fiscal da Receita Estadual de Minas Gerais e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 20.

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Relatório da expedição de Victor Renault: a certidão de nascimento dos rios Mucuri e Todos os Santos

Márcio Achtschin Santos*

O rio Mucuri e seus afluentes ocuparam as narrativas de colonizadores desde o século XVI, sendo a região uma das primeiras a ser visitada pelos portugueses em busca do ouro. A documentação portuguesa relata a expedição de Martim Carvalho, em 1550, chegando até o Córrego do Ouro, afluente do Rio Todos os Santos, onde retiraram algumas amostras para serem analisadas.

No entanto, apesar de ser mencionada aqui e ali em expedições à procura de metais preciosos, até as primeiras décadas dos anos de 1900 a região era praticamente desconhecida. O pouco que se sabia, pela facilidade de acesso, era de sua foz, onde se localizava à época uma pequena vila, com quarenta habitações de pescadores, chamada Vila de São José do Porto Alegre (atual Mucuri, Bahia), e considerada como uma das melhores barras na costa sul do Brasil.

Foi somente a partir do século XIX que iria a bacia do Mucuri, e tudo que a cerca, ser descrita com abundância, especialmente pelos viajantes europeus, tornando-se tema de diversas publicações realizadas por naturalistas, botânicos, médicos, e membros da nobreza europeia. Entre os mais renomados estão Auguste de Saint-Hilaire, o príncipe Maximilian, barão Tschudi, Robert Avé-Lallemant. Pelas lentes desses viajantes se registraram a fauna, a flora e a vida dos grupos indígenas que viviam no Mucuri. Esses relatos se transformaram em obras literárias avidamente consumidas no Velho Continente.

Mas dos escritos produzidos nesse período o que mais impacto trouxe para a formação do vale do Mucuri foi o “Relatório da expedição dos rios Mucuri e Todos os Santos”, produzido pelo engenheiro Pierre Victor Renault, em 1837. Renault nasceu em Metz, no ano de 1811, e morreu em 1892, chegando ao Brasil em 1835 com a promessa de trabalhar em uma mina de ouro como engenheiro na província de Minas Gerais. Não se empregou na mineradora e, em 1836, a pedido do governo mineiro, foi contratado para explorar as matas do Mucuri com a finalidade de avaliar a região para construiru ma colônia de “degredados e vagabundos”. Ele saiu de Minas Novas em 25 de abril de 1836 e em 7 de agosto do mesmo ano, ainda fazendo o levantamento do local que seria instalado o presídio, recebeu novas ordens do governador Antônio da Costa Pinto, agora para explorar o rio Mucuri e o rio Todos os Santos. Concluiu a medição do terreno para o degredo entre esses dois rios e partiu em 13 de setembro para expedição em uma viagem que teria a duração de 16 dias.

Terminada a expedição, Renault produziu um relatório ao governo da província mineira datado de abril de 1837, descrevendo com muita riqueza os rios, os grupos indígenas, as matas e a flora do vale do Mucuri.

Do rio Mucuri, ele o retratou como “largo e majestoso”, com muita correnteza, oferecendo vantagens para a navegação por ser rápido, mas não perigoso. Diferente de outras bacias próximas, como a do rio Doce e Jequitinhonha, onde os “habitantes são diariamente assolados por inúmeras epidemias”, não existem, segundo o documento, nas margens do rio Mucuri, “febres malignas nem sezões”. Suas margens são ricas

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em madeiras de lei, como o jacarandá, ipê, aroeira e braúna. Quanto ao rio Todos os Santos, o identificou com grande diferença de nível, onde atravessa por “[...] grandes rochedos, que produzem nele imensas cachoeiras”, mas que o principal afluente do rio mucuri tem em seu leito pequena quantidade de água, o que torna ainda mais difícil sua navegação. Foram contados 24 córregos afluentes do rio Todos os Santos, sendo somente cinco mantidos em época de seca.

Em relação aos índios, fazia referência a eles com desprezo. Para Renault, eram seres rudes, traiçoeiros, de práticas antropofágicas e ausentes da fé cristã. Esse protótipo construído em torno da figura do indígena esteve presente no imaginário desde o início do período colonial e foi preservado até o século XIX, perfil fantasioso que procurava justificar o extermínio e/ou a catequização dos nativos. Desses botocudos, genericamente chamados os nativos da região, alguns já haviam sidos pacificados, mas outros, como os Jiporocas, cometiam “atrocidades” que “horrorizavam”.

Tomando como referência outro grupo, os Nak-nanuks, o relatório procurou identificar genericamente os botocudos como “vingativos” e quanto à crença que suas “[...] ideias religiosas são poucas ou nenhumas”. Eram considerados como nômades e antropófagos, gostando “principalmente de negros”. Desconhecendo qualquer planta medicinal, usavam para a cura, segundo o francês, cinza ou terra para qualquer ferimento que tinham. Não considerando os indígenas como brasileiros, afirmava Pierre Renault que o “único obstáculo que se offerece, pois, a pôr uma communicação por água entre esta tão desgraçada Comarca de Minas Novas, é o número de Bugres que infesta as margens do Mucury”e concluía,com a força do ideário civilizador do período, que o problema seria resolvido com a “cathequisação dos selvagens habitantes d’essas mattas”.

Ainda que vista com regras próprias e cheia de mistérios, das matas do Mucuri existe em Renault a percepção de uma natureza de abundância e riqueza. Mas apenas de sua flora. Da fauna não faz um comentário sequer. Nenhuma ave, nenhum réptil ou inseto. O encantamento da floresta e o que as plantas podem oferecer é o que chama atenção dele. A vegetação é diversificada, as árvores gigantescas e majestosas: “À vista destas mattas tão vastas, [...] bellas e ricas regadas por tão abudantes rios; à vista desses magestosos arvoredos, cujas frondosas copas impediam a penetração do Sol [...]”. Carregados de magia, os frutos são drogas milagrosas, capazes de curas imediatas. Assolado por uma febre durante a expedição, Renault fez uso de uma fruta nativa e relata o resultado: “[...] sentindo-me com uma febre bastante forte, cansado, soffrendo um inverso rigoroso, fiz d’ella bebida que me foi tão favorável e proveitosa que fiquei immediatamente alliviado do encommodo”. Enumerou muitas espécies que encontrou nas selvas do Mucuri: quina, sassafraz, congonha, gonum, Kapamja. As que não conhecia, carregou amostras para serem estudadas. Do seu encantamento quanto aos poderes da cura através da natureza, anos mais tarde publicou obras sobre o uso medicinal das plantas que arrancou elogios de pesquisadores ilustres como Peter Lund.

Após a expedição, Pierre Victor Renault se estabilizou em Barbacena, onde trabalhou como médico homeopata, engenheiro e educador. Bem informado e morando na província mineira, provavelmente Renault acompanhou o resultado de sua obra. Viu nascer e desaparecer a Companhia do Mucuri, como deve ter tomado conhecimento da emancipação da cidade de Teófilo Otoni, em 1878, e da chegada dos padres capuchinos para catequizar os “bugres”. Ainda estava vivo quando da

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construção da Estrada de Ferro Bahia e Minas que margeava no seu trajeto o rio que desbravou. Mas não ganhou a fama e prestígio como outros viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil, motivo de lamentação em carta ao irmão em Léon, em 1877: “Eu teria querido publicar todas as minhas viagens e as descobertas que eu fiz, mas eu não tenho mais energia [...]”.

Porém, o seu relatório de 1837 encheu os olhos dos investidores assim que foi publicado. O prussiano Luiz Moretzsohn propôs ao Estado, no mesmo ano que o documento foi produzido, uma Companhia de colonização na região do Mucuri. Mais tarde, a partir das informações existentes no documento, Teófilo Benedicto Ottoni, apostando na navegabilidade do rio descrita pelo francês e das vantagens econômicas que poderia obter, criou a Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri. A comunicação do Alto Jequitinhonha e a capital Rio de Janeiro seria encurtada em muito, conforme escreveu Renault: “[...] abrirá communicação immediata com o Oceano, podendo-se ir de Minas Novas a [São José do] Porto Alegre em 13 dias (com canôas carregadas) e d’ahi por mar até [...] o Rio de Janeiro [...] em 3 dias”. Após a criação da Companhia do Mucuri, Ottoni explorou a região pessoalmente e constatou que o Rio Mucuri não era navegável. Mas já era tarde para voltar atrás no seu empreendimento. Superou o problema criando a primeira estrada de rodagem do Brasil, a Santa Clara.

Às vésperas de fazer 180 anos, não foi dado ao relatório de Renault sua devida grandeza. A esse documento foi oferecido um papel secundário na história regional, sendo obscurecido por outros marcos. Se tornou um apêndice, nota de rodapé de uma história que nem sempre dá de forma equitativa espaço e voz a todos os fatos e seus atores envolvidos.

Fontes:

ANTROPOLOGIA UNIVERSAL. Carta 1877. Disponível em: <http://antropologiauniversal13.blogspot.com.br/2012/05/carta-de-pierre-victor-renault.html>

WIKISOURCE. Relatório. Disponível em: <http://pt.wikisource.org/wiki/Relat%C3%B3rio_ da_Expedi%C3%A7%C3%A3o_dos_Rios_Mucury_e_Todos_os_Santos> Acesso em: maio de 2015.

*Doutor em História e Cultura Política pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

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Rio Mucuri

Jader Moreira Rafael*

*Advogado, escritor e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

Corre sereno Às vezes, violentoQuantos incautosNas suas águasSe afogaram?

Quantas brincadeirasDe menino eQuantas cenas de amorNas suas margensForam presenciadas?

Quantos segredosNa sua históriaSe perderam?Você corre serenoRaramente violentoPor todo o tempoIninterruptamente

Admiro sua resistênciaRio Mucuri!Juro por Santa ClaraEmbora fremem suas águasPermanece firme

Suas águas gritamNas rochas durasEm direção ao marLevando a minha alegriaPor longas terrasEm direção à vida

Você herói Da cabeceira à fozSerpenteando em corredeirasÉ a grande testemunhaDa existência deste povo

A terra seca e sedentaSorve suas águasPara saciarO seio do pescadorSedento de peixe

Envolva-me rioEm seu bojoFaça-me mensageiroAfluente Leva a miséria deste valeNa próxima enchente

Lá se vão os anosVão-se as históriasDe um rioCujas águas levam memóriasEste é o seu caminhoMontanhoso e brutoDilacerado e torto

Cortado, tomadoFaz gigante a sua energiaPara os todos admirarNo Tombo das suas águasNas gotas das suas mágoasAcúmulo de aguapésVerde sem desaguar

Piscoso, gostosoTrilha de verde prazerNavegante fabulosoBonito de se verMucuri caudalosoAdmiro você.

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O futuro dos peixes e da pesca no rio Mucuri

Paulo dos Santos Pompeu*

Introdução

O rio Mucuri faz parte de um conjunto de bacias independentes que drenam a região leste do Brasil, e possui mais de 90% de sua área de drenagem em território mineiro. Seus principais afluentes são os rios Todos os Santos e Pampã. O primeiro drena a cidade de Teófilo Otoni e encontra-se hoje bastante degradado e com pequeno volume de água. O rio Pampã, por outro lado, apresenta melhores características ambientais. No entanto, toda a bacia e, consequentemente, o rio, tem sofrido com o processo de retirada da Mata Atlântica que recobria toda a região.

Os peixes e a pesca no Mucuri

A atividade de pesca profissional no rio Mucuri pode ser considerada intensa. É desenvolvida com barcos de madeira movidos a remo, utilizando-se principalmente redes de emalhar e tarrafas. Participam da pesca o pescador, encarregado de armar as redes ou jogar a tarrafa, e um ajudante encarregado de remar, que geralmente é um membro da família. Piaus, cascudos, curimatás e tilápias são as espécies mais importantes para a pesca. Apesar da predominância dessas espécies, podem ser observadas diferenças com relação à composição das capturas nas diversas regiões do rio. Espécies marinhas, como o robalo, a tainha e o xaréu são mais capturadas nas regiões inferiores do rio. Por outro lado, a vermelha, espécie hoje considerada ameaçada de extinção, é capturada principalmente nas regiões mais altas da bacia.

A fauna de peixes do rio Mucuri começou a ser estudada no início do século XIX, quando naturalistas estrangeiros passaram pela região coletando exemplares de sua fauna e flora. Atualmente, são conhecidas pelo menos 61 espécies de peixes, das quais sete são exóticas (foram trazidas de outras bacias) e 12 de origem marinha. A maioria das espécies nativas é de pequeno porte (comprimento até 20 cm), sendo que na bacia somente espécies de origem marinha, como o robalo e o tarpão, alcançam comprimento superior a 50 cm.

A presença de espécies marinhas é fato comum nas bacias que drenam o leste brasileiro. Dessas se destacam os robalos e tainhas (ou pratibús), que compunham parte expressiva da pesca até a cidade de Nanuque. Atualmente, são encontradas principalmente na região abaixo da barragem da UHE Santa Clara. A presença de peixes marinhos no rio Mucuri está ligada ao seu uso como local de alimentação, já que a desova dessas espécies não ocorre em água doce.

Apesar da ictiofauna diversa, pelo menos sete espécies de outras bacias foram introduzidas no rio Mucuri. Em diferentes bacias, a introdução de espécies tem causado profundas alterações na fauna local, chegando a causar extinção de espécies. Porém, ainda não está claro seus efeitos sobre as espécies nativas do Mucuri. Cabe salientar que a tilápia, de origem africana, representa hoje boa parte do pescado. Também chama atenção a presença do bagre-africano, da curimatá do

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São Francisco e do tambaqui, que foram acidentalmente introduzidos quando alguns açudes se romperam durante o período de cheias de 1999/2000, e que hoje são capturados com frequência.

O futuro dos peixes e da pesca no Mucuri

A manutenção da pesca e do conjunto da biodiversidade aquática do rio Mucuri dependerá da nossa habilidade em mitigar ou reverter os diferentes impactos a que o rio vem sendo submetido. Como boa parte das bacias hidrográficas brasileiras, as maiores ameaças estão relacionadas à poluição da água por esgotos doméstico e industrial, assoreamento, introdução de espécies exóticas e construção de barragens. É possível então afirmar que o futuro dos peixes e da pesca dependerá da forma e velocidade com que seremos capazes de implementar de forma eficiente o tratamento dos efluentes de diferentes naturezas, restaurar as matas ciliares e manter longos trechos de rios sem barramentos.

A pesca também poderia ser considerada um impacto adicional, mas desde que seja exercida respeitando-se os parâmetros estabelecidos pela legislação, pode ser considerada como uma atividade sustentável. Uma vez que os pescadores são um componente cultural importante e detentores de um vasto conhecimento sobre o rio, sua manutenção deve ser incentivada, já que a atividade pode até servir como um termômetro da integridade ambiental do rio.

BibliografiaPOMPEU, P. S. Os peixes do rio Mucuri/MG. Biota, v. 2, p. 36-43, 2010.

*Biólogo, mestre em Ecologia e doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG. Atualmente é professor na Universidade Federal de Lavras, atuando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada.

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Oh, “pobre” grande rio Mucuri!

José Geraldo Silva*

*Escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 11.

MucuriGigante que embeleza a naturezaCom sua magnitude certezaConduz teus afluentes até o marCom tuas poucas águas turvasAinda desperta teu papel importanteDe servir a quem te precisou,E ainda precisa de tuas águasE mesmo a quem não te ama.Mucuri dos lendáriosMucuri dos pescadoresMucuri das lavadeirasMucuri dos boiadeirosMucuri dos fazendeirosMucuri dos remadoresDos raros e poucos peixesSustento dos animaisRio dos ex-navegadoresDe tradições reconhecidasMucuri que meteu medoVai se perdendo entre meioO pedregulho visto a olho nuA chorar tua desdenhada morteDeflagrada pelo homem malvadoQue te roubou a fortalezaAo massacrar-te no dia a diaSem piedade e sem dor

Poluindo tuas doces águasAo tirar de tua ribeirinhaAs matas, a proteção verdejanteQue te sustentava a vidaDava-te força indescritível de percorrerEm cheio teu frutífero caminho.O que enfrentavas não dava tréguaLevando à frente o que podiaArrastando o que te invadiaAté fazendo intenso medoQuem a sua margem residia.Mas há quanto tempo choras!O grande desprezo de quem te usouA falta de atenção dos políticosQue não te enxergaQuando só fizeste bemA quem só te explorou.Choras a falta de aconchegoA dor de um massacre imperdoávelSomando ao crivo de uma desonraA falta de ação planejadaPara te socorrerTodavia o silencioEnclausura de ingratidãoTodos que te sente, te veemEm tal situaçãoOh, “pobre” grande rio Mucuri!

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Dois rios

José Moutinho dos Santos

Mucuri e Todos os Santos. Nas vicejantes colinas dos municípios de Malacacheta e Ladainha – no Nordeste Mineiro –, brotam em seus distritos Santo Antônio do Mucuri e Concórdia do Mucuri, os córregos: Mucuri do Sul e Mucuri do Norte, “olhos d’água” que se juntaram, em outro ponto, formando aí a bacia e o nascimento do Rio Mucuri, podendo ser chamado de “Integração Regional”, pois, juntando-se ao Rio Jequitinhonha, formou o vale que deu o nome a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonhae Mucuri (UFVJM), campus em Teófilo Otoni, cidade polo da região, para acolher estudantes dos vales e de outras plagas, aos diversos cursos que ela oferece.

O Mucuri, a considerar de sua nascente até a divisa com o Estado da Bahia, registra-se de 346 km, e daí até a foz no Oceano Atlântico, no município de Mucuri (BA), área de rara beleza, apesar do assoreamento, cem quilômetros, somando-se, pois, 446 km à sua extensão, com largura média de 45 metros.Na área de sua nascente, há uma cobertura vegetal nativa considerável que caracteriza e justifica a topografia e os relevos geográficos da região que obstaculizam aproveitá-lo nas atividades agropecuárias. O rio não banha a cidade de Teófilo Otoni, o seu percurso, porém, da nascente às cidades de Carlos Chagas e Nanuque, a distância não impede a estreita ligação entre si, as pessoas e as informações, tornando-se um marco de “integração de notável grandeza” para a imensa região e adjacências.

O Mucuri foi objeto de estudos e pesquisas feitas por Teófilo Ottoni, que buscava torná-lo navegável. Criou-se em 1847 a Companhia de Navegação e Comércio do Mucuri, com o objetivo principal de ligar o centro-oeste da então província de Minas Gerais ao litoral, sendo por ele dirigida. Este, por sua vez, conseguiu penetrar por territórios ainda desconhecidos, o que possibilitou a construção de estradas, fazendas, e mesmo a fundação da freguesia de Filadélfia, atual cidade de Teófilo Otoni.

Principais afluentes: à margem direita, o rio Todos os Santos, à esquerda, o Marambaia, Pampã e Negro, e, ainda, o (rio) “Córrego Novo”– não catalogado, mas existe no município de Pavão/MG,banha diversas áreas rurais e as cidades de Carlos Chagas e Nanuque/MG e Mucuri/BA e os distritos de Mucuri e Maravilha, no município de Teófilo Otoni e Mayrinque no município de Carlos Chagas/MG, é cadastrado em “Cursos de Água por Bacia e sub-bacia” na Secretaria Nacional de Recursos Hídricos (SRH) com o nº 55 e Código 55310000.

O rio que conheci – lugar onde eu nasci e cresci – era verdejante, e “gordo”, com as águas abundantes das chuvas e de seus afluentes, tinha peixe com fartura, até jacaré e Pitu. Caudaloso e respeitado. Hoje, o meu vale, meu Mucuri está “magro” e “triste”em diversos pontos. As chuvas diminuíram, o verde também, os peixes escassearam, o canto dos pássaros não tem... Há vários fatores de degradação, atribui-se esse estado de coisa. Sabe-se, por exemplo, que o saneamento básico no país é uma lástima, imaginemos que os esgotos, o assoreamento e o não trato das nascentes, dos diversos riachos e córregos que recebem dejetos das cidades que cortam, levam para o rio, e esse se encarrega de entregar ao Oceano Atlântico, destrói as águas e piora nossa saúde – sofre também a agropecuária, aí lembramos

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a natureza e a escassez da chuva, e a qualidade das águas.O rio Todos os Santos, nasce no distrito de Valão município de Poté/MG, na

serra “Barrinha de Todos os Santos”, tem o comprimento de 70 km, corta a cidade de Teófilo Otoni/MG, é seu principal manancial do sistema de abastecimento de água, e afluente do rio Mucuri pela margem direita, em Presidente Pena, distrito de Carlos Chagas-MG, onde se encontram.

Seu nome foi dado pelo desbravador Teófilo Benedito Ottoni, que ao descobrir sua nascente, no dia primeiro de novembro, dedicado a todos os santos, batizou-o com esse nome. É formado pelos afluentes córrego de Brejaúba, pela margem esquerda, e córrego Paiva, pela direita, entra no município de Teófilo Otoni pela fazenda do Sr. Luiz Gomes, recebendo aí o rio Santo Antônio seguindo seu curso, passa pelos túneis e recebe os córregos Niágara, São José e Capitólio, até o rio Mucuri, de quem é afluente.

Referências

MOVIMENTO ÁGUAS DO MUCURI.ORG. Institucional. Disponível em: <http://www.movimentoaguasdomucuri.org.br/index.php/caracterizacao> Acesso em: 22 abr. 2015.SCIELO. Mucuri. Disponível em: <http://www.scielo.br> Acesso em: 30 abr. 2015.

Escritor e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Belo Horizonte/MG.

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Em memória das águas do Mucuri

Marcos Antônio Nunes*

“Todos os rios correm para o mar, contudo o mar nunca se enche...”, palavras grafadas no Eclesiastes que expressam o destino do precioso líquido. E se essas águas pudessem regressar para testemunhar o que os olhos humanos não viram? Fluidas que são, poderiam preencher as lacunas deixadas por historiadores e memorialistas, revelando o que a tinta não pôde imprimir no papiro da história do rio Mucuri.

Águas que partiram errantes, tranquilas e turbulentas. Águas escassas e abundantes, que se retiraram, serpenteando serras e colinas que guarneciam o denso bioma brasileiro. Exuberante Mata Atlântica que abrigava sob a escuridão de suas copas os primórdios seres que a habitavam. Águas nômades, que antes de se dirigirem ao mar, em simbiose, deram vida à fauna e à flora tropicais e saciaram a sede dos temidos botocudos desse Mucuri.

Águas que brotavam em fileiras nas fronteiras dos vales, borbulhavam formosas dando origem a rios piscosos. De gota em gota, filetes se constituíam límpidos córregos e ribeirões, que de forma arborescente alimentavam os seus tributários – quão lindo esse Pampã! Águas drenadas dessas terras que dão vida ao Mucuri.

Águas singradas pelas canoas dos ávidos bandeirantes em expedições sem fim, cujas terras palmilhadas eram promessas do reluzente ouro e das pedras preciosas da lendária Serra das Esmeraldas. Águas que se tornaram marinhas, o verde turmalinoso que se disfarçou de esmeraldino, matizes dessas matas tão temidas pelos desbravadores do Mucuri.

Águas que desrespeitaram a lógica da geometria euclidiana e constituíram caminho mais curto até o mar. Do serro Frio, no Alto Jequitinhonha, já se dizia serem essas águas navegáveis para se esquivar da ínvia floresta. Palavras do engenheiro Victor Renault que lançaram luz ao intrépido Teófilo Ottoni, fundador da Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri.

Águas que abasteceram colonos, imigrantes do velho continente que “se tropicalizaram” nessas selvas. Águas que se turvaram com a abertura de clareiras, à base de fogo e machado, para a instalação de fazendas e suas lavouras. Águas que se tornaram perigosas, pela contaminação e descuido do homem. No paraíso da abundância, logo os iludidos colonos encontraram dificuldades, doenças, fome e morte, descritas pelo barão Tschudi em suas viagens pelo Mucuri.

Águas finalmente navegadas pelo primeiro vapor Peruípe, barco que subia e descia as águas tranquilas deste trecho do rio, entre São José do Porto Alegre, no litoral, até Santa Clara. Sobre as águas pessoas misturadas às mercadorias, produtos da terra, alegria, satisfação e esperança de progresso... Águas que levaram para longe o sonho republicano de Ottoni. Com problemas de toda sorte, ele viu naufragar a Companhia de Comércio e Navegação, e o Peruípe deixaria de singrar as águas do Mucuri.

Águas que continuam vertendo das serras e colinas, não são mais as mesmas. Tristes afluentes que em seu pranto tornam salobras essas águas. Mucuri que segue o seu caminho, rumando ao mar em melancólica procissão, entre os remanescentes

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de matas e as ricas terras desnudas. Escassas águas do desmatamento, viveiro de sedimentos que hoje dão nova cor às águas do Mucuri.

Ah, se essas águas regressassem... Fluidas que são, poderiam preencher lacunas deixadas por historiadores e memorialistas, revelando o que a tinta não pôde imprimir no papiro da história deste Mucuri.

*Doutorando e mestre em Geografia pelo Instituto de Geociências (UFMG); pesquisador e coordenador do Setor de Geografia do Instituto de Geoinformação e Tecnologia (IGTEC).

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Carta à sociedade

Vinícius Pereira Martins*

*Estudante das Faculdades Doctum, campus Teófilo Otoni.

Eu vou cortando os vales,Abrindo caminho por entre as matas;Fazendo zigzag pelos sertões;Arrastando alegrias, partindo corações...Levo diversão a pescadores, que, à tarde,Buscam aqui acolá, um peixinho para a janta.

Daqui, vejo vilas, cidades,Estradas, rodovias, fazendas.

Infelizmente, não sou bonzinho o tempo todo.Já houvecasos em que me chamaram de assassino:Levei embora vidas inocentes...Crianças, adultos e idosos já caíram em minhas águas,E não voltaram à superfície.

Gostaria de avisar que tomem cuidado,Infelizmente, não tenho domínio próprio;Procuro satisfazer a todos,Mas, às vezes, acabando me atrapalhando e tirando vidas....me perdoem.

Nos últimos tempos, eu até tenho me expressado de forma ruim,Não são todos que têm o mesmo cuidado comigo;Alguns retiram de meu leito troncos de árvores,Que porventura poderiam causar danos,Só que as pessoas estão se preocupando apenasCom o que lhes convêm, Me procuram apenas na época do calor,Afim de refrescarem-se em minhas águas,Mas reclamam que estou poluído, cheio de lixo...Lixo que elas mesmas jogaram...

O ser humano não é bom...Se fosse, cuidaria melhor do que lhe faz bem.Eles querem o melhor,Mas esquecem de dar o seu melhor;Fazem o que querem, usam e abusam, Depois jogam fora,De qualquer forma, em qualquer lugar.

Aos que dizem ter consciência de seus atos, eu lhes peço:Me ajudem a viver...Quero dar o melhor de mim, mas para isso,Preciso da colaboração de todos...Faça sua parte...Estou esperando...Enquanto espero, vou cortando os vales,Abrindo caminho por entre as matas,Fazendo zigzag pelos sertões;Arrastando alegrias, partindo corações...

Desde já, agradeço.Rio Mucuri

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Rio Mucuri: meu velho amigo, o Mucuri

Sebastião Lobo*

Eu e meu velho amigo, o Rio Mucuri, nos conhecemos há pelo menos 45 anos. É uma amizade que vem desde os saudosos tempos da extinta Bahia e Minas. Conheci-o ainda límpido com suas águas transparentes e espelhantes, correndo paralelamente à estrada de ferro.

Via-o todos os dias quando morava em Nanuque e atravessava a cidade de um lado para outro em uma longa pinguela oscilante que só faltava matar a gente de medo. Lembro-me de vê-lo cheio de margem a margem em qualquer estação do ano.

Tinha um amigo comerciante de explosivos, chamado João de Deus, um nortista de Tucano, que possuía bela ilha em uma das margens do rio. Eu ia muito lá nos fins de semana comer churrasco, pescar e jogar pelada, enfim divertir-me. Era um lugar realmente maravilhoso e muito bem cuidado. O acesso à ilha repleta de plantas das mais variadas espécies, era feito através de uma ponte flutuante, à semelhança dessas que o Exército fornece em casos excepcionais de enchentes ou pontes interditadas.

De forma que meu convívio com o Mucuri não é de hoje. Suas margens eram tão naturalmente arborizadas que me permitiam tomar banho às vezes nuzinho, nos remansos recheados de peixes e plantas aquáticas, sem receio de ser contaminado por qualquer tipo de poluição. Era delicioso sentir aquela água pura, refrescante, suave, cobrir-me todo em longos e contínuos mergulhos. Sentia-me outro e revigorado.

Quantas e quantas vezes este rio que tanto amo, do qual sempre hei de me lembrar, fora conivente comigo num amor proibido que tive, ocultando-me em suas ingazeiras floridas e nas suas compactas touceiras de lírios perfumados!

Hoje, estarrecido diante do que vejo, fico me perguntando o que fizeram com aquele santuário líquido dos meus sonhos. Custa-me acreditar na realidade chocante que tenho diante dos olhos. Do Mucuri que conheci pujante e belo, pouco ou quase nada resta, senão a lembrança de um grande rio que fora outrora, que agora agoniza na poluição e vai sendo tragado pelas secas sistêmicas, impiedosas e devastadoras.

*Jornalista, advogado, escritor e membro honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Rio Mucuri

Antonio Sérgio Torres Ferreira*

Águas que levavam,Progresso a banho aos vales,Cheio de um pouquinho,De cada um dos afluentes.

Majestoso em seu veio,Definitivo, represado em sua magnitude,Para gerar energia, abundante vida que transborda,Para fertilizar campos até o mar.

Como serpente, conduz suas águas,Com potencial para ser bem amado,Por todos ribeirinhos de onde passa,Pois leva vida povoando suas margens.

Mesmo que antes habitou as portas da morte, pela degradação,De quem nunca o considerou, como a veia que transporta o sangue,Seiva da vida, enriquecendo o solo pobre,De uma região carente, precisando de atenção.

Desde a nascente até o seu último suspiro como rioTransporta águas, levando cheias de esperança, de tais comunidades,Com as medidas protetivas que se vislumbram, de futuro promissor,Ao importante rio Mucuri...!

*Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 21.

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Um dia... Mucuri?

Seme Handeri*

Sem nada dizer ela olhou o céuEra um dia triste, cinzento, sem luz.

Chegou na janela, nada havia de alegre A natureza estava morta.

Não havia arvores, nem pássaros O último canto do sabiá, se foi.

Bateu asas e voou para nunca mais.Nem mesmo se ouvia o piado dos pardais.

O bem-te-vi que cantava na janela Foi encontrado sem vida no quintal

Asfixiado pela poluição do arProvocado pelas impiedosas queimadas

Não teve mais força para voar.

O Mucuri, que era belo, majestoso, imponenteHoje é um arremedo do que foi

Desnudado de suas águas apenas se vê Um caminho sinistro de pedras

Como um esqueleto estendido no seu leito.

Em breve nada vai resistir, Nada vai sobreviver a não ser as cinzas,

Cinzas de uma floresta que não existe maisCinzas de um vale devastado pelas “bralandas” do mundo,

Cinzas de um rio que aos poucos vai se transformando em Córrego. Córrego que irá virar nascente e que um dia, o que será...Mucuri?

*Advogado e procurador do município de Teófilo Otoni.

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Meu Saudoso Mucuri

Leônidas Lorentz

Mucuri! Mucuri! Corres em cantarolas,Mansamente descendo, a caminho do mar!...Vences a natureza e soberano rolas,Atravessando a mata, onde vive o jaguar.

Tens no vale as rútilas corolas,Mutum e zabelê melodiosa a cantar!...Campos senhoriais, que invades, estiolas,Como serpe agressiva, em fúria secular.

Por ti, na velha Europa, há damas feiticeiras,Com gemas naturais das tuas cabeceiras,Rio, que dás ao mundo a riqueza e o esplendor.

Quantas vezes subi tuas altas colinasE em teu seio cheguei às fontes cristalinas,Quantas, para que cante e chore de amargor!...

LORENTZ, Leônidas (¶1914 - V 1993). Meu saudoso Mucuri. In: Minas Gerais em versos. Rio de Janeiro: [s.e.], 1972. p 186.

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Rio Mucuri

Antônio Altivo Gomes*

Estou com 78 anos e aos 8 me banhei em suas águas, e jamais imaginei que pudesse vê-lo tão raso quase a cortar as suas águas. As coisas acontecem sem que se perceba, e só depois é que a gente vê que algo podia ter sido feito para evitar tamanha calamidade.

Ao ver hoje o amado Mucuri a verter degradante no seu leito raso que mal cobre o tornozelo, pelos cálculos, se não cuidarem das nascentes e das retenções das estradas e dos focos de erosão, ele deve secar em grande extensão dentro de seis ou sete anos. As águas estão drasticamente sendo drenadas para os riachos e rios, seguindo rapidamente para uma concentração no mar d’onde está ocorrendo uma disforme evaporação a provocar chuvas irregulares cada ano mais catastróficas, embora a ciência não tenha falado nisso, pois nada que concentra funciona em harmonia.

É incrível constatar que os especialistas ambientais não atentem para o fato de se tratar de uma sangria desatada e que é urgente estancá-la antes que o sangue da terra se esgote. Não dá para falar no momento mais em reflorestamento, conscientização nas escolas e acabar com o desmatamento. É preciso segurar urgentemente as águas das chuvas, para que, retidas, elas possam recarregar as nossas águas subterrâneas para retornarem às nascentes e alimentarem os rios voltando novamente os ciclos normais das chuvas.

Enquanto isso vamos trabalhando nos reflorestamentos principalmente os ciliares, as conscientizações das novas gerações, cujos resultados só serão no médio e no longo prazo. No momento é urgente cobrar dos governos as retenções em todas as estradas federais e estaduais, retenções nos focos de erosões, as curvas de níveis em massa, orientação aos fazendeiros sobre os manejos adequado do gado nas pastagens onde o excesso de animais, endurecem e desnudam a terra conduzindo as águas com rapidez para o indevido escoamento para o mar.

Cada pequena estrada mesmo para um sítio ou roça, é um novo dreno, e é fácil imaginar a multiplicidade de estradas a transformar o país em um labirinto de drenos a conduzir as águas das chuvas na concentração marítima. Se não vivemos mais sem estradas, é preciso disciplinar as suas aberturas e orientar os operadores de máquinas, devido ao fato de estarem aumentando também em cada município o número de máquinas de mecanização da terra. É preciso também disciplinar a corrida para os poços artesianos. Se destruímos mecanicamente o sistema ambiental, porque não reter as águas também mecanicamente?

Segundo o Dr. Luciano Cordoval, da Embrapa de Sete Lagoas, uma retenção de 15 metros de diâmetro por dois de profundidade no centro, retêm por ano com chuvas normais 20 caminhões pipas de água e custa apenas R$ 350,00 cada. Imaginem mil retenções destas em cada um dos vinte sete municípios do Vale do Mucuri? Seriam mais ou menos nove milhões de reais.

O programa das caixas d’água para a região ficou em 123 milhões, foi muito bom, mas nem triscou no problema que é recarregar o lençol freático cada vez mais exaurido a aumentar as secas escasseando as chuvas.

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Creio que só assim podemos garantir a perenidade dos rios Todos os Santos e Mucuri. Sem isso o rio Mucuri não aguenta mais dez anos, pois esse já é o segundo ano que seca a sua nascente, nascente na Mumbuca onde nasce em Concórdia do Mucuri, onde visitei há poucos meses e em 2006 foi organizada uma excursão com mobilização em nível regional, e até hoje sequer cercaram a sua nascente. Daí a necessidade de conscientização real do problema está nos próprios poderes de comando decisório e financeiro. Já imaginou toda essa água de chuvas infiltrando na terra a transbordar através das nascentes? Começaria a pantanar os bairros construídos em brejos aterrados? Mas, aí já estariam resolvidos os problemas dos rios Mucuri e Todos os Santos revividas todas as nascentes e córregos secos ocorridos nos 60 anos. Será que é ignorância dos que comandam? Ou é o sonho de um velho maluco, que viveu a experiência de ver tudo acontecer com as nossas águas? O projeto é barato e não dá renda para as empreiteiras? Ou não dá visibilidade para gerar votos? Com a palavra os governos, órgãos e instituições ambientais.

*Diretor e redator do jornal A Pedra, do município de Ladainha/MG.

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Mucuri e Todos os Santos, esperança que não cala

Leandro Luiz Reis Vieira*

Rio que encanta e desencantaQue leva e traz

Seguindo seu curso no ritmo do tempoEsperança e tristeza são personagens das correntezas

O rio que é bonito por sua beleza naturalQue demonstra sutileza na zona rural

Também enriquece a vida da zona urbanaTrazendo aconchego e sobrevivência

Distante ou pertoNão há como viver

Quando o descobri fiquei emocionadoPor tamanha beleza criada por Deus

Eu amo a natureza e suas riquezasQue fazem parte da minha pequena beleza

Assim vou no caminhar da vidaComo curso dos rios que levam a água até o mar.

*Natural de Santa Margarida/MG, estudante de Direito, técnico em Agropecuária e Informática, assistente social, reside na Zona da Mata, em Minas Gerais, é oficial de apoio na Comarca de Abre Campo/MG.

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..., rio de mim

Ailton Ferraz*

Agora me vês, outrora ti vi, serpenteando as montanhasHipnotizando os pescadores, encantando amantes e seus amores Ziguezagueando caudaloso, a tua volúpia era tamanha E jorrava... Jorrava... Altivo, fragrante, inebriante e pomposo.

Tuas margens, tuas fontes, agora abundantesNão te falta divina e devota proteçãoCom essa montra, espelho fascinanteJá é imenso o teu e o nosso galardão.

Jerimum, jiló, beterraba e berinjelaCana, cacau, couve, coco e faiançaUma sopa de maniçoba só para ela“Sodade” das “horta” de dona “Constânça”.

O caiaque nas mãos do bom remadorNão naufraga e não se perde o rumoMas se a vaga muito forte forVago, e sem enfado acerto o prumo.

Pelo teu leito sinuoso vou singrandoMãos calejadas, mas não quero compaixãoCoração partido e sangrando mãeO mar é a minha obstinada direção.

Agora eu era o pirata a extorquir a tua beleza E em rústica piroga veloz, desafiar a tua estruturaÁvido, incauto e destemido, subjugou a naturezaO sublime sonho tornou-se ingênua aventura.

Vaguei por infinitos horizontes. Êta mar grande, meu Deus!“Quem passou pela vida em branca nuvemE em plácido repouso adormeceu:Quem não sentiu o frio da desgraçaQuem passou pela vida e não sofreuFoi espectro de homem, não foi homem,Só “passou pela vida, não viveu”1.

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Estou voltando mãe, o mar é tenra ilusãoSó os amantes cantam e enaltecem a tua belezaAbraço o rio, que como eu, míngua em solidãoÀs margens da terra ressequida, definho em vil tristeza.

Lançaram às margens deste rio, mãe, algo odoríficoDo qual, indignado e deliberadamente inspiroEncharcou-me os pulmões, por isso, abundante, sangroImploro-te arranque esse empecilho do caminho.

Tu que cantas viva, degustas as coisas da naturezaPorque o meu leme não é o meu lemaE o que tu temes não é o mesmo que temoDá-me tua mão e sigamos com firmeza.

Sem saber fazer poemas, sem saber compor poesiaMinha vida é um dilema, por que arvorar isto um dia?“Gostaria de não saber escrever2” Mas... “o que escrevi, escrevi3”

Notas:1Francisco Otaviano2Nero3João 19:22

*Escritor e Agente de correios em Teófilo Otoni.

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Nossas riquezas naturais e sua história

Wilson Ribeiro*

Refere-se à mesorregião do vale do Mucuri, uma das 12 mesorregiões, localizado na região lestedo Estado de Minas Gerais. É formada pela união de 23 municípios. Seu nome é devido ao fato de o vale ser percorrido pelo rio Mucuri. Entre suas principais cidades se encontram Teófilo Otoni, conhecida por sua economia, voltada às pedras preciosas, e Nanuque, com a pecuária e agricultura como pontos fortes.

Segundo os historiadores, esta região começou a ser desbravada no decorrer do século XVI. Capistrano de Abreu, em seu livro “Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil”, relata que, em 1532, o padre João de Aspicueta de Navarro e Francisco Bruza de Espinoza chefiaram uma expedição que percorreu o Vale do Mucuri à procura de metais e pedras preciosas. O Imperador do Brasil, Dom João III, resolveu também aventurar, pensando na riqueza que poderia adquirir para o seu reino, organizou expedições para visitar esta região. Sendo a primeira, iniciada em 1550, foi chefiada por Martim Carvalho. Devido aos inúmeros obstáculos, essa expedição regressou, sem ter alcançado o seu objetivo, que era descobrir a existência do vale das riquezas a “Serra das Esmeraldas”. Nas décadas seguintes destacaram-se nas de Sebastião Fernandes Tourinho, em 1573, e Antonio Dias Adorno, em 1580, sendo que ambas contribuíram para que fosse feito um “mapeamento” da região. A região continuou desabitada até o começo do ano de 1750, quando se afixa o mestre de campo João da Silva Guimarães. Na mesma época é construída, a mando de Antonio José Coelho, a Fazenda Mestre Campos, hoje sede da Colônia Francisco Sá, que reúne colonos nacionais, alemães, austríacos e outros. Em 1836, o engenheiro Pedro Victor Renault, em uma demorada excursão, percorreu o vale dos rios Todos os Santos e Mucuri,tendo atingido a foz do oceano, no Estado da Bahia. Em 1847, foi criadaa “Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri, que tinha vários objetivospara desenvolvimento e expansão a saber:

• ligar o nordeste de Minas Gerais com o litoral do Brasil, através de densas florestas, chapadas e serras, que acompanham a costa brasileira de norte a sul;

• fundar uma cidade que se tornasse o centro propulsor e distribuísse progresso para a região;

• abrir estradas para o comércio em outras regiões. Esses eram os objetivos principais.

Em 1851, a Companhia de Comércio e Navegação do Mucuriorganiza o transporte fluvial e terrestre para explorar a região. Em 1853, iniciou a construção de Filadélfia, atual cidade de Teófilo Otoni. Em 1856, chegam os primeiros descendentes de alemães e suíços, vindos através de anúncio publicado na Alemanha, convocando colonizadores que tinham amparo por parte da Companhia Mucuri, que colaboraram na construção das estradas. A estrada ligando Filadélfia ao povoado de Santa Clara foi a primeira rodovia do interior do Brasil, tendo sido inaugurada em agosto de 1857. Tinha cerca de 170 km e trafegavam por ela uma média de 40 carros particulares puxados por bestas, 200 carros de boi e 400 lotes de burros, em 1859. Em 1879, foi

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criada a Estrada de Ferro Bahia-Minas (EFBM), suas obras são iniciadas no ano de 1881. Baiminas, como era conhecida a ferrovia, tinha o objetivo de ligar Minas Gerais a Bahia e por onde passava promovia desenvolvimento socioeconômico da região. A partir de então, intensificou-sea exploração da madeira na região. A Estrada de Ferro Bahia e Minas ligouo extremosul da Bahia e o nordeste de Minas Gerais entre os anos de 1882 a 1966. A partir do estudo da ocupação do nordeste mineiro, da análisedas políticas de desenvolvimento nacionais e locais que atravessavam o período acima, sobre o processo de mudança da estatal com relação ao transporte ferroviário no Brasil,o ptaram na política de erradicação dos trilhos, o que acabou com o transporte ferroviário, causando um grande impacto econômico e social para a região atendida pela ferrovia.

No decorrer do século XX, a principal cidade do vale do Mucuri, Teófilo Otoni, continuou a se destacar no ramo da extração de pedras preciosas, sendo reconhecida como a “Capital Mundial das Pedras Preciosas”. Promove anualmente feiras e exposições do ramo que atrai mercado consumidor de outros países, usando recursos tecnológicos cada vez mais avançados na extração dos minerais. A cidade é considerada como um centro macrorregional.

Vamos divulgar sempre a história de nossa rica região, buscando cada vez mais o progresso para todos.

*Escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 30.

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Formações geológicas do rio Mucuri

Antônio Jorge de Lima Gomes*

O conhecimento das formações geológicas no entorno do rio Mucuri visa a contribuir para a consolidação de planejamentos urbanos e ambientais em todos os municípios do vale do Mucuri, com o intuito de se conhecer as rochas e os solos existentes no curso d’água, sobretudo para a elaboração de projetos de engenharia, tipos de uso do solo, estudos ambientais e mapeamento de áreas de risco.

A bacia hidrográfica do rio Mucuri encontra-se no nordeste de Minas Gerais, no vale do Mucuri. Segundo o IGAM, esta bacia compreende 13 sedes municipais e apresenta uma área de drenagem de 14.640 km², sendo que mais de 90% desta situa-se no Estado de Minas Gerais.

O rio Mucuri é formado pela junção dos rios Mucuri do Norte e Mucuri do Sul. O primeiro nasce no município de Malacacheta, na altitude de 720 m, e o segundo nasce no município de Ladainha, com altitude de 750 m.

A partir da junção, o rio Mucuri corre no rumo NNE até um ponto a jusante de seu cruzamento com a BR-116, de onde passa a correr na orientação NNO-SSE até sua foz no Oceano Atlântico. O rio Mucuri percorre 242 km desde a nascente até Nanuque, onde deixa o Estado de Minas Gerais na cota altimétrica em torno de 90 m (GOMES ET AL, 2015).

A nascente do rio Mucuri do Sul está situada geologicamente na formação Serra Negra, com paragnaisse rico em intercalações de anfibólio bandado, quartzito e itabirito; é dominantemente constituída por gnaisses; o conjunto é de idade arqueana (CPRM, 1996; FAGUNDES ET AL, 2012; CODEMIG, 2012).

Pesquisas abrangendo estudos geológicos da área e levantamentos bibliográficos com base no Programa de Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil (PLGB), que foi executado pela CPRM – Serviço Geológico do Brasil, através de suas unidades regionais, sob a coordenação do Departamento de Geologia (DEGEO), além da análise de mapas geológicos da região e informações de poços, permitiram que neste estudo se verificasse a existência de 18 formações geológicas diferentes no entorno do rio Mucuri, que serão descritas neste artigo.

As formações geológicas têm como origem o Grupo Guanhães, Grupo Rio Doce, Suíte Intrusiva Galileia e Suíte Intrusiva Aimorés, que, em geral, são formações antigas pertencentes às eras pré-cambriana e paleozoica, com exceção dos solos de aluvião, que são aqueles transportados pelas águas e depositados quando a corrente sofre uma diminuição da velocidade.

A identificação das formações ao entorno do rio Mucuri começa na nascente do rio Mucuri do Sul, no município de Malacacheta onde temos a formação Serra Negra, pertencente ao Grupo Guanhães e é on arqueano, cuja formação consiste em biotita-gnaisse bandado, localmente migmatizado. Contém comumente intercalações centimétricas a métricas de anfibolito.

Na região da bacia hidrográfica do rio Mucuri são observadas também intercalações de quartzito recristalizado.

Na Folha Teófilo Otoni encontram-se formações pertencentes ao neoproterozoico, sendo estas:

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a) Formação Concórdia do Mucuri (Grupo Rio Doce): Biotita gnaisse cinza com bandamento de até poucos centímetros de espessura, ocasionalmente com cordierita, silimanita e granada, comumente com mobilizados quartzo-feldspáticos. Níveis de quartzito recristalizado e de calcissilicática ocorrem frequentemente como intercalações;

b) Leucogranito Caraí (granito sin a tardi-tectônicos): biotita granitos diversos, de gerações distintas, com predominância de tipos brancos de granulação média a fina, foliados, e de tipos de cor cinza-claro a branca, de granulação média a grossa, isotrópicos, comumente com granada

c) Formação Tumiritinga (Grupo Rio Doce): biotita gnaisse xistoso, cinza, ocasionalmente com cordierita, silimanita e granada, por vezes migmatizado, com calcissilicática e biotita xisto intercaladas. Mármore ocorre localmente;

d) Tonalito São Vitor (Granito sin a tardi-tectônicos): biotita tonalito, hornblenda-biotita tonalito e, subordinadamente, biotita franodiorito, de cor cinza granulação média a grossa, foliado e, ocasionalmente, com megacristais de feldspato mostrando textura de fluxo magmático;

e) Gnaisse Kinzigítico (granito sin-a tardi-tectônicos): biotita-cordierita-granada gnaisse cinza escuro, listrado.

Na Folha Mucuri encontram-se rochas referentes ao neoproterozoico, como: a) Tonalito São Vitor (granito sin-a tardi-tectônicos): biotita granito cinza-claro,

médio com restólitos de gnaisses e xistos da formação tumiritinga;b) GranodioritoTopázio (granito sin-a tardi-tectônicos): biotita granodiorito

cinza-claro, grosso, porfirítico (felspato até 2cm);c) LeucogranitoFaísca (granito sin-a tardi-tectônicos): cordierita-biotita-granada

leucogranito (granodiorito e tonalito subordinados), médio e grosso, isotrópico a discretamente orientado, com restos de linzigito, associado a enderbito;

d) Granito Wolff (granito sin a tardi-tectônicos): cordierita-biotita-granada leucogranito cinza claro (subordinamente granodiorito e tonalito).

E ainda na Folha Mucuri temos granito tardi-a pós-tectônicos do eocambriano, da suíte Intrusiva Aimorés:

a) Granito Caladão: hornblenda-biotita granito grosso, muito porfirítico, com feldspato de 2 a 7 cm;

b) Charnockito Padre Paraíso: charnockito (hiperstênio granito) porfirítico (K-feldspato esverdeado de até 7 cm), com matriz hiperstênio-biotítica subordinada, de granulação grossa e coloração cinza-esverdeado.

Na Folha Carlos Chagas percebe-se a existência de granitos sin a tardi-tectônicos do neoproterozoico, com exceção da presença do charnockito Padre Paraíso, além do solo de aluvião, formação recente do cenozoico quaternário (areia com níveis de cascalho, silte e argila subordinados). Os granitos presentes nessa Folha são:

a) Leucogranito Carlos Chagas: leucogranito cordierita-silimanita-granada-biotita, frequentemente foliado e localmente com restos de granada-biotita gnaisse bandado, restos de calcissilicática e gnaisse a hiperstênio;

b) Gnaisse Kinzigítico: cordierita-sillimanita-granada-biotita gnaisse bandado, de granulação média, cinza escuro, com núcleos de rocha calcissilicática cinza-esverdeado;

c) Granito Ataléia: silimanita-granada-biotita granito (+granodiorito e tonalito)

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cinza, foliado, geralmente porfirítico, com enclaves de granada-biotita gnaisse bandado;

d) Granito Nanuque: cordierita-silimanita-granada-biotita granito (eventualmente granodiorito e tonalito) cinza, porfirítico, foliado, com matriz de granulação grossa muitas vezes subordinada. Pode ocorrer rocha charnockítica;

e) Enderbito Mangalô: Granada enderbito e charnockito, cinza-esverdeados, isotrópicos a localmente foliados e porfiroblásticos.

Na Folha Nanuque encontra-se o Charnockito Padre Paraíso com granulação média a grossa, enclaves de granito, granodiorito e biotita gnaisse.

O granito rio Mucuri encontra-se na Folha Nanuque pertencente ao neoproterozoicona foz do rio Mucuri (zona de transição kinzigito-granito).

A maioria das formações geológicas estudadas são áreas pré-cambrianas, que predominam solos rasos e pouco desenvolvidos (OLIVEIRA et al., 2009).

Salienta-se, também, que a geomorfologia possui um papel fundamental para a elaboração de diagnósticos ambientais, uma vez que procura integrar todas as variáveis existentes no meio (CUNICO; OKA-FIORI, 2006).

As formações geológicas que seguem o curso d’água do rio Mucuri apresentam características de rochas do neoproterozoico (granitos sin a tardi-tectônicos, da suíte intrusiva Galileia, do grupo rio Doce), e do Eocambriano (granitos tardi-a pós-tectônicos da suíte intrusiva Aimorés), ou seja, são rochas antigas chegando de 585 a 630 Ma.

Ao longo do rio Mucuri, em muitos locais, existem lugares onde foi encontrado o solo de aluvião recente do período quaternário.

Abaixo se apresenta o mapa resultante das 18 formações geológicas encontradas no curso do rio, vejamos:

Mapa com a indicação das 18 formações geológicas do curso do rio Mucuri.

As dezoito formações geológicas encontradas no curso do rio Mucuri são as seguintes:

1-Formação Serra Negra; 2-Formação Concórdia do Mucuri; 3-Leucogranito Caraí; 4-Formação Tumiritinga (Mármore); 5-Formação Tumiritinga; 6-Tonalito São Vitor; 7-Granodiorito Topázio; 8-Leucogranito Faísca; 9-Granito Wolff; 10-Granito Caladão; 11-Charnockito Padre Paraíso; 12-Gnaisse Kinzigítico; 13-Leucogranito Carlos Chagas; 14-Granito Ataleia; 15-Aluvião; 16-Granito Nanuque; 17-EnderbitoMangalô; 18-Granito Rio Mucuri.

As áreas de menor inclinação apresentam menor ação no transporte de sedimentos, e tendem a acumular sedimentos finos em sua subsuperfície, formando os solos de aluvião, que estão presentes neste artigo e apresentam importância à

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agricultura e criação de gado da região.Muitos locais da região apresentam solo de aluvião indicados para o cultivo de

gramíneas adaptadas ao alagamento do rio.São necessárias, ainda, muitas pesquisas para melhor conhecimento da

geologia da bacia hidrográfica do rio Mucuri, no sentido de melhorarmos e ampliarmos os estudos das formações geológicas, para melhor uso dos solos e da água sempre visando ao planejamento urbano e rural de todos os municípios do vale do Mucuri, com vistas à conservação do meio ambiente e ao progresso regional.

Referências bibliográficas

CODEMIG. Projeto Leste: Folha Malacacheta-SE.23-X-D-VI. Belo Horizonte: CPRM, 2012. Carta Geológica. Escala 1:100.000.CPRM. Projeto Leste: Folha Carlos Chagas-SE.24-V-C-VI. Belo Horizonte:SEME/COMIG, 1996. Carta Geológica. Escala 1:100.000.CPRM. Projeto Leste: Folha Nanuque-SE.24-V-D-IV. Belo Horizonte:SEME/COMIG, 2000. Carta Geológica. Escala 1:100.000.CPRM. Projeto Leste: Folha Padre Paraíso-SE.24-V-C-II. Belo Horizonte:SEME/COMIG, 1996. Carta Geológica. Escala 1:100.000.CPRM. Projeto Leste: Folha Teófilo Otoni-SE.24-V-C-IV. Belo Horizonte:SEME/COMIG, 1996. Carta Geológica. Escala 1:100.000.CPRM. Projeto Leste: Folha Mucuri-SE.24-V-C-V. Belo Horizonte:SEME/COMIG, 1996. Carta Geológica. Escala 1:100.000.CPRM. Projeto Leste: Folha Medeiros Neto-SE.24-V-D-I. Belo Horizonte:SEME/COMIG, 2000. Carta Geológica. Escala 1:100.000.CUNICO, C.; OKA-FIORI, C. Dinâmica geomorfológica das bacias hidrográficas dos rios Serra Negra e Tagaçaba– Litoral Paranaense. In: VI Simpósio Nacional de Geomorfologia e Regional ConferenceonGeomorphology. Goiânia. Anais. 2006.FAGUNDES, M. et al. Implicações geológicas e ecológicas para assentamentos humanos pretéritos–estudo de caso no complexo arqueológico Campo das Flores, área arqueológica de Serra Negra, vale do Araçuaí, Minas Gerais. Revista Espinhaço, v. 1, n. 1, p. 41-58, 2012.GOMES, J.L.S.; COLARES, L.F.; GOMES, A.J.L. Identificação das formações geológicas no planejamento ambiental da bacia do rio Mucuri.XII Congresso Nacional de Meio Ambiente de Poços de Caldas, 2015.OLIVEIRA, L.B. et al. Morfologia e classificação de luvissolos e planossolos desenvolvidos de rochas metamórficas no semiárido do nordeste brasileiro. Rev. Bras. Ciênc. Solo, Viçosa, v. 33, n. 5, 2009.

Professor adjunto da Universidade Federal do Jequitinhonha e Mucuri, membro da Sociedade Brasileira de Geofísica, do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri. Vice-presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 5.

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Remanescentes florestais na porção mineira da Bacia do Rio Mucuri (1989 a 2008): interpretação

da influência das sedes municipais e rodovias no desmatamento

Miguel Fernandes Felippe*Justine Margarida Magela Martins Bueno**

Alfredo Costa***

A vegetação é um dos elementos do quadro natural de maior susceptibilidade à intervenção antrópica. Desde os primórdios, as ocupações humanas no espaço são invariavelmente precedidas pela alteração ou retirada da cobertura vegetal. Ademais, o modelado da paisagem é largamente influenciado pela vegetação, determinante em diversos processos geomorfológicos: além de minimizar a intensidade dos processos erosivos e resguardar o solo da ação da chuva, ela também favorece a infiltração das águas e a consequente recarga dos aquíferos, garantindo a perpetuação do ciclo hidrológico.

Na porção mineira da bacia do rio Mucuri (nordeste de Minas Gerais, Brasil) os processos históricos e atuais de ocupação resultaram na substituição de florestas nativas por pastagens. Acredita-se que apenas 20% da área da bacia é hoje coberta por remanescentes nativos (primários ou secundários) de vegetação e a distribuição dos fragmentos desta vegetação não é homogênea. Neste contexto, apresenta-se aqui uma síntese de estudos1 realizados com objetivo de elaborar uma interpretação espaço-temporal da retirada da cobertura vegetal na porção mineira da bacia do rio Mucuri2 a partir dos remanescentes florestais atuais e verificar, a partir da análise de buffers3, a influência das sedes municipais e principais rodovias no desmatamento na bacia do Mucuri, na perspectiva de confirmar ou refutar a hipótese de que estas tendem a ser vetores de desmatamento. Os procedimentos metodológicos foram baseados na interpretação manual de imagens Cbers 2 e Landsat 5 para os anos de 2008 e 1989, respectivamente. Além disso, buffers de 50, 100, 250, 500, 1.000, 2.500 e 5.000 metros a partir das rodovias e sedes municipais foram elaborados para se calcular a cobertura florestal em cada faixa.

Os resultados mostram que o percentual de florestas aumenta significativamente com o aumento da distância em relação aos centros urbanos e aos eixos viários. Verificou-se que na bacia a influência dos centros urbanos no desmatamento é maior que a influência das estradas. Os principais resultados do levantamento podem ser verificados nas Tabelas 1, 2 e 3, e no mapa a seguir. O comportamento das estradas em relação à cobertura vegetal é mais sutil que o das sedes, pois: a) não há floresta até 250 m de distância das sedes; b) muitas sedes permanecem sem remanescentes até maiores distâncias; c) com 5 km de distância das sedes a taxa de cobertura florestal ainda não é equivalente à média da bacia; d) a taxa de cobertura vegetal é maior em todas as faixas de buffer para as estradas; e e) com 2,5km de distância das estradas a taxa de cobertura vegetal já é superior à média da bacia.

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Conclui-se que o desmatamento recente é significativo, com prognósticos críticos para o futuro próximo e é inegável a influência das sedes e estradas sobre a retirada da cobertura vegetal nativa, que se configuram como vetores de desmatamento.Mantendo-se a taxa de desmatamento do período avaliado (1,06% a.a.), o percentual de remanescentes florestais na bacia seria de 18%, em 2018 e de 7%, em 2108.Além disso, pode-se afirmar que há uma necessidade iminente de melhorianas condições de conservaçãodos remanescentes florestais,bem como a criação de possibilidades para a regeneração de áreas de capoeiras. Com isso,haveria uma redução na taxa de desmatamento e, consequentemente,

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um aumento relativo nopercentual de cobertura de matas.

Notas

1O ex-Instituto de Geociências Aplicadas (IGA), hoje Instituto de Geoinformação e Tecnologia (IGTEC), vinculado à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Governo de Minas Gerais, com o patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), foi o responsável pela execução do projeto endogovernamental: “Diagnóstico Socioambiental da Bacia do Mucuri em Minas Gerais: geo-história, (re)estruturações espaciais, desenvolvimento humano e econômico” – DEG 2.338/2007, sob a coordenação de Marcos Antônio Nunes, de onde advém o trabalho. 2Síntese dos artigos “Desmatamento na Bacia do Rio Mucuri (MG, Brasil) no período de 1989 a 2008: uso de imagens Cbers e Landsat na espacialização dos remanescentes florestais” e “Influência das sedes municipais e rodovias no desmatamento da Bacia do Mucuri (MG) a partir de imagens Cbers2”, ambos publicados nos Anais do XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto de 2009. 3Em termos gerais, pode se caracterizar o termo buffer como uma faixa de tamanho definido gerada a partir dos limites de um objeto, que pode ser interna ou externa a ele.

*Professor doutor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG).**Consultora ambiental, mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFMG.***Consultor ambiental, doutorando em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFMG.

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Vale do Mucuri: um rio de histórias

Kátia Storch Moutinho*

Ah... vida de histórias repletas para se conseguir adentrar o vale, descobrir seus segredos e ligar o rio ao mar . A mata atlântica de portas fechadas, impedindo todas as entradas de possíveis invasores. Terra de riquezas escondidas, mas sabidas; cantos dos pássaros não vistos mas ouvidos e a natureza humana dos homens com sede de desbravar.

Vidas indígenas ali incrustadas, espiando homens estranhos entre as folhagens das matas. Nada havia senão riquezas, céu, sol, água e sobre esta superfície navega o vapor Peruípe, sob o comando do bendito Teófilo Ottoni que em missão de paz conquista os índios botocudos.

Descortina as matas, constroi estradas e funda então a Filadélfia, palavra que ao traduzir descobrimos, vem do grego e significa amor fraternal. O significado da palavra passou a ser a grande alcunha da população local. Grande desbravador ganha merecida homenagem e a Filadélfia se torna Teófilo Otoni, cidade polo do Vale do Mucuri - Minas Gerais.

Minas com sua vastidão, encantos de norte a sul e de leste a oeste, delimita regiões para crescer e reconhecer cada situação geográfica, cultura e poder atender as necessidades de povos tão diferentes e tão iguais nas suas essências.

Surge o vale do Mucuri com suas Águas Formosas! Léia se ata em amor e transforma-se em Ataléia; polis, palavra de origem grega, se casa com Berto e nasce Bertópolis. Minas sem Igrejas não existe e Campanário mostra a Fé existente no vale. Logo vem a palavra indígena, pequena e rica em vogais de nome Caraí, nome para rimar com sorrir.

Matas cerradas, insetos estranhos e doenças desconhecidas. Dr Carlos, mineiro, médico, pesquisador é o nome de destaque contra a malária e as doenças tropicais; logo nasce a cidade de Carlos Chagas, hoje com seus ricos pastos e gado nos currais.

Lá se vai quase todo o alfabeto a compor o vale do Mucuri o rio a seguir. Cada qual com sua história: Catuji, Crisólita, Franciscópolis, Frei Gaspar, Fronteira do Vale, Itaipé, Itambacuri, Ladainha, Machacalis, Malacacheta, Ouro Verde de Minas, Santa Helena de Minas e ainda tem mais, para compor o vale das igrejas, serestas, feiras, artesanatos e muito sol e gente de bem.

Uma parada em Nanuque. A história conta que antes era predominada por serrarias, tímida e muito distante da capital. Hoje a cena é outra: imensas plantações de cana e eucalipto, para servirem as usinas de álcool e de celulose. Segunda maior cidade do vale do Mucuri, à sua frente Teófilo Otoni que abraça a todos os municípios e munícipes com o sempre amor fraternal.

Também tem oriente no ocidente, a cidade de Novo Oriente, mais uma terra da gente. Pavão para se admirar, com ou sem penas pelo ar, cidade pra descansar. Do nada a vontade se ser um simples Pescador e daí o nome se faz, de gente que sonha e é capaz. Poté em tupi, pode significar abelha negra (que inclusive está representada na bandeira do município); antes da sua colonização habitavam os potenis, tribo amistosa e seu cacique tinha nome de “Poté”, vejam a história ao pé da letra, que beleza!

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Mas o vale ainda não está completo. Ele nada seria se não existisse para completar suas riquezas e belezas, o povo bonito por natureza de Serra dos Aimorés, Setubinha e Umburatiba.

Diga-me, precisamos de mar? Ah vale do Mucuri, com seu rio nas entranhas deste estado! Entrecorta espaços entre o gado, soa suas cantigas aquáticas, desliza por extensas terras e cidades. O sol ilumina suas águas, bronzeia a pele e as pessoas se abraçam com graça pelas praças. Há sempre mil motivos para se viver no vale do Mucuri, difícil descrever aqui.

Vamos deixar o rio fluir, reflorestar, ressurgir e desfrutar de toda beleza ímpar deste lugar. É doce ver a vida pulsar saudável em cada canto e lugar. Dentro e fora do rio Mucuri vidas tão ricas; é necessário cuidar, amar e preservar. Vamos lá?

*Escritora, membro da Academia Nacional Letras do Portal do Poeta Brasileiros, teófilo-otonense residente em Vitória/ES, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Academia de Letras de Teófilo OtoniHistórico e quadro social

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Fundada oficialmente em 20 de dezembro de 2002, é composta por 30 membros titulares e efetivos; cada cadeira é designada numericamente e tem um patrono, imutável, em homenagem a personalidades que tenham se notabilizado nas letras, nas ciências, nas artes, na política, na educação e na imprensa; conta ainda com um quadro social de membros honorários, beneméritos, convidados de honra e correspondentes. A entidade temporobjetivos: congregar pessoas que se dediquem às atividades literárias e artísticas nas mais diversas formas de expressão; realizar estudos e pesquisas na área da literatura local e regional; promover e incentivar a cultura através da realização de conferências, exposições, concursos, cursos e outras atividades de natureza cultural; propagar o culto, o estudo, a exaltação e a divulgação da vida e obra de personagens históricas e figuras literárias que ajudaram a construir a grandeza do município e região; coletar, pesquisar, elaborar e divulgar estudos e informações de cunho cultural, relacionados aos interesses da entidade, e, por fim, promover o aprimoramento da língua pátria nos seus aspectos científico, histórico e artístico.

Realiza, anualmente, a tradicional Noite do Café-com-Letras, com recital, lançamento da revista literária Café-com-Letras, com trabalhos dos acadêmicos e convidados especiais e, ocasionalmente, posse de novos membros e lançamentos literários. Mantém a Biblioteca Dª Didinha – espaço para difusão da cultura e incentivo ao hábito da leitura junto à comunidade e o Núcleo de Documentação e Memória da Literatura Isaura Caminhas Fasciani – destinado ao resgate, guarda e conservação de livros, documentos (manuscritos e iconográficos) e demais objetos de valor histórico e cultural com referência à literatura no município de Teófilo Otoni e região do vale do Mucuri.

Desenvolve em parceria com a União Estudantil de Teófilo Otoni e Conselho Municipal da Juventude, atividades de estímulo à leitura e escrita por meio da realização anual do Prêmio Literário Jovem Escritor: Troféu Cultural Prof. Fábio Pereira para os alunos na faixa etária dos 14 aos 29 anos, matriculados na educação básica e superior.

Outorga, a cada dois anos, o Prêmio Academia de Letras de Teófilo Otoni: Troféu Isaura Caminhas Fasciani – com o objetivo de reconhecer iniciativas de pessoas físicas ou jurídicas, na área literocultural quer como promotores, incentivadores ou de produção do conhecimento com ações voltadas especificamente para o município de Teófilo Otoni ou do Vale do Mucuri. O prêmio é distribuído nas seguintes modalidades: conjunto de obra literária; produção técnico-científica e intelectual: dissertação, ensaio, artigo científico, jornalístico ou monografia; expressiva atividade elevadora da cultura teófilo-otonense: pessoas físicas, jurídicas ou veículos de comunicação social; livro do ano: por obra poética ou em prosa lançada no decorrer do ano; pessoas jurídicas incentivadoras ou promotoras da arte e cultura no município e escritor ou personalidade do ano.

Outrossim, concede a cada ano a Medalha de Mérito Cultural Dª Didinha – destinada a homenagear pessoas físicas e jurídicas que tenham se destacado na criação e promoção literocultural, através de atividades pertinentes às contribuições literárias, culturais, artísticas, religiosas e pesquisas em favor do desenvolvimento da pessoa humana e da sociedade teófilo-otonense ou pelo estabelecimento de políticas e projetos para o desenvolvimento da educação, o ensino e civismo no município e região do Vale do Mucuri. Ainda realiza, anualmente, o projeto Cestas Literárias, cuja iniciativa consiste na doação de cestas com livros literários para o enriquecimento de acervos bibliográficos de entidades sociais e culturais do município.

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Quadro socialMembros Titulares

Amenaide Bandeira RodriguesAntônio Sérgio Torres FerreiraAntonio Jorge de Lima Gomes

Elisa Augusta de Andrade FarinaEder Machado Silva

Gecernir ColenHilda Ottoni Porto RamosJair Duarte Pêgo Junior

Márcio Barbosa dos ReisMaria Laura Pereira da Silva Couy

Marlene Campos VieiraNeuza Ferreira Sena

João Batista Vieira de SouzaJosé Geraldo Silva

José Carlos PimentaJosé Salvador Pereira Araújo

Leuson Francisco da CruzLeônidas Conceição Barroso

Lizia Maria Porto RamosLlewellyn Davies Antonio Medina

Marcos Miguel da SilvaOlegário Alfredo da Silva

Raquel Melo Urbano de CarvalhoSérgio Abrahão Aspahan

Therezinha Melo Urbano de CarvalhoWilson Colares da Costa

Wilson Ribeiro

Convidados de HonraDom Aloísio Jorge Pena Vitral

Gilson de Castro PiresGuiomar Sant’Anna MurtaHilda Ottoni Porto Ramos

Isaura Caminhas Fasciani – In memoriamLaiz Ottoni Barbosa FerreiraLuiz Gonzaga Soares Leal

Maria Eny Leal Fernandes da SilvaMaria Laura Pereira da Silva Couy

Neusa Guedes CarneiroSuzana Maria Rêgo

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Membros HonoráriosGervásio Barbosa Horta

Humberto Luiz Salustiano CostaIvan Claret Marques Fonseca – In Memoriam

Sebastião José LoboWilson Pires Neves

Membros BeneméritosArnaldo Gomes Pinto Júnior

Detsi Gazzinelli Jr.Gilberto Ottoni Porto

João Carlos da Cunha MelloMaria José Haueisen Freire

Theomar Sampaio Paraguassu

Membros CorrespondentesAdão Alves de Oliveira Filho – Uberlândia/MG

Adão Wons – Cotiporã/RSAlberto Slomp – Araraquara/SP

Alcione Sortica – Porto Alegre/RSAlexandra Vieira de Almeida – Rio de Janeiro/RJ

Alexandre Cezar da Silva – Ocara/CEAlda das Dores Alves Barbosa – Unaí/MG

Alfredo Nogueira Ferreira – Florianópolis/SCAlmir Fernandes de Souza – Nanuque/MGAltamir Freitas Braga – Rio de Janeiro/RJ

Angelica Maria Villela Rebello Santos – Taubaté/SPAntonia Aleixo Fernandes – São Paulo/SP

Arahilda Gomes Alves – Uberaba/MGAurineide Alencar de Freitas de Oliveira – Dourados/MSBenvinda da Conceição de Melo Lopo – Lisboa/Portugal

Bruno Resende Ramos – Teixeiras/MGCarlos Henrique Pereira Maia – Niterói/RJ

Carlos Lúcio Gontijo – Santo Antonio do Monte/MGCarmem Lúcia Hussein – São Paulo/SP

Carmem Terezinha Rodrigues Moraes – Porto Alegre/RSCecília Maria Rodrigues de Souza – Manaus/AM

Celso Gonzaga Porto – Cachoeirinha/RSCharlene dos Santos França – Rio de Janeiro/RJ

Cícero Barbosa Teixeira – Inhapi/ALCláudio de Almeida – São Paulo/SP

Cláudio de Almeida Hermínio– Belo Horizonte/MGClevane Pessoa de Araújo Lopes – Belo Horizonte/MG

Cosme Custódio da Silva – Salvador/BADaniel Antunes Júnior – Belo Horizonte/MG

Danielli Rodrigues – Paraná/PRDarlan Alberto Tupinabá Araújo Padilha – São Paulo/SP

Décio de Moura Mallmith – Porto Alegre/RSDilercy Aragão Adler – São Luiz/MA

Elba Gomes de Andrade – Paranaguá/PR

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Eliane Silvestre da Costa – Brasília/DFElizabeth Abreu Caldeira Brito – Goiânia/GO

Elmo Notélio – Frei Inocêncio/MGEloisa Antunes Maciel – São Martinho da Serra/RS

Else Dorotéia Lopes – Nova Lima/MGEmerson Maciel Santos – Laranjeiras/SE

Erika Lourenço Jurandy – Rio de Janeiro/RJEugênio Maria Gomes – Caratinga/MG

Fátima Cristina Sampaio Luiz – Belo Horizonte/MGFernando Catelan – Mogi das Cruzes/SP

Fernando da Matta Machado – Rio de Janeiro/RJFlávia Assaife Campos Almeida – Rio de Janeiro/RJ

Flaviana Tavares Vieira – Diamantina/MGFlávio Sátiro Fernandes – João Pessoa/PB

Francisco Alves Bezerra – São Bernardo do Campo/SPFrancisco de Assis Dantas – João Pessoa/PB

Francisco José da Silva – Bom Jesus do Galho/MGFrancisco Martins Silva – Uruçui/PI

Francisco Soriano de Souza Nunes – Rio de Janeiro/RJGeraldo José Sant’Anna – São José do Rio Preto/SP

Gessimar Gomes de Oliveira – Montes Claros/MGGilmar da Silva Cabral – Rio de Janeiro/RJ

Gilmar Ferraz da Silva – Teixeira de Freitas/BAGleidston César Rodrigues Dias – Lagoa da Confusão/TO

Helena Selma Colen – Ladainha/MGHelenice Maria Reis Rocha – Belo Horizonte/MG

Hélio Pedro Souza – Natal/RNHélio Pereira dos Santos – Contagem/MGIeda Cunha Cavalheiro – Porto Alegre/RSIlda Maria Costa Brasil – Porto Alegre/RSIrineu Barone Costa – Belo Horizonte/MGIsabel Cristina Silva Vargas – Pelotas/RS

Isadora Cristiana Alves da Silva – Capoeiras/PEIvonette Santiago de Almeida – Brasília/DF

Jacqueline Bulos Aisenman – Genebra/SuiçaJader Moreira Rafael – Nanuque/MG

Jane Guilherme da Silva Rossi – Guarulhos/SPJaneuce Maciel Cordeiro – Turmalina/MG

Jean Albuquerque – Nova Viçosa/BAJelvisson dos Santos Nascimento – Salvador/BAJoão Carlos de Oliveira Tórtora – Petrópolis/RJ

João de Souza Neres – Mata Verde/MGJoão Marques de Oliveira Neto – Osasco/SP

João Santos Gomes – Medeiros Neto/BAJohnathan Felipe Bertsch – Jaguará/SC

Joilson Maia dos Santos – Una/BAJorge Fregadolli – Maringá/PR

Jorge Henrique Vieira Santos – Nossa Senhora da Glória/SEJosé Amalri do Nascimento – Rio de Janeiro/RJ

José Anchieta de Souza – Gravatá PE

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José Aparecido Araújo – São Paulo/SPJosé Feldaman – Maringá/PR

José Geraldo Tavares – In MemoriamJosé Moutinho dos Santos – Belo Horizonte/MG

José Rodrigues Arruda – Serrinha/RMJuarez Silva Dantas – Belo Horizonte/MG

Júlio César Bridon dos Santos – Gaspar/SCJussara Santo Pimenta – Porto Velho/RO

Kátia Storch Moutinho – Vitória/ESLeandro Bertoldo da Silva – Padre Paraíso/MG

Leandro Campos Alves – Caxambú/MGLenival Nunes de Andrade – Catolé do Rocha /PB

Lilian de Sousa Farias – Aracaju/SELindalva Silva Qintino dos Santos – Belo Horizonte/MG

Lucas Menck – Curitiba/PRLúcia Helena Pereira – Natal/RN

Luciana Tannus de Andrade – Aracaju/SELuciene Barros Lima – Salvador/BA

Lucilene Ianino Lima Peçanha – Belo Horizonte/MGLucivalter Almeida dos Santos – Nazaré/BA

Luiz Gonzaga Marcelino – In memoriamLuiz Paulo Lírio de Araújo – In memoriam

Magali Maria de Araújo Barroso – Belo Horizonte/MGMamede Gilford de Meneses – Itapipoca/CEMarcelo Allgayer Canto – Cachoeirinha/RSMarcelo de Oliveira Souza – Salvador/BA

Márcia de Jesus Souza – Ribeirão das Neves/MGMárcia Devincenzi Reis Terra – Águas Claras/DF

Marco Aurélio de Freitas Lisboa – Belo Horizonte/MGMarcos Coelho Cardoso – Dourados/MS

Marcos Pereira dos Santos – Ponta Grossa/PRMarcus Vinícius Bertolini Rios – Iúna/ES

Maria Aparecida Araújo Moreira Alves – Guarulhos/SPMaria Cristina Carone Murta – Belo Horizonte/MG

Maria da Conceição Rodrigues Moreira – Belo Horizonte/MGMaria da Glória Oliveira Brandão Marques – Itabuna/BA

Maria de Lourdes – Schenini Rossi Machado – Porto Alegre/RSMaria Helena Sleutjes – Juiz de Fora/MGMaria José Alves Coelho – In MemoriamMaria Luciene da Silva – Fortaleza/CE

Maria Norma Lopes de Macedo – Turmalina/MGMaria Telma Barbosa de Lima – São Paulo/SP

Marilene Pereira Godinho Soares – Caratinga/MGMargareth das Dores Rafael Moreira Costa – Itambacuri/MG

Marlene Bernardo Cerviglieri – Ribeirão Preto/SPMarise Fátima Andreatta – Dourados/MS

Marly Rondam Pinto – São Paulo/SPMarrippe Faul Abei9lice – Belo Horizonte/MG

Márson Alquati – Nova Roma do Sul/RSMaurício Antônio Veloso Duarte – São Gonçalo/RJ

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Mauro Marques de Carvalho – Manaus/AMMônica Yvonne Rosemberg – São Paulo/SP

Nelci Veiga Mello – Campo Mourão/PRNeri França Fornari Bocchese – Pato Branco/PRNorma Disney Soares de Freitas – Fortaleza/CE

Nylton Gomes Batista – Cachoeira do Campos/MGOdenir Ferro – Rio Claro/SP

Odyla Pinto de Paiva – Rio de Janeiro/RJOrmuz Barbalho Simonetti – Natal/RN

Paulo André Gazzinelli – Belo Horizonte/MGPaulo Cesar de Almeida – Andrelândia/MG

Paulo Dias Neme – São Paulo/SPPaulo Murilo Carneiro Valença – Recife/PE

Paulo Roberto de Oliveira Caruso – Rio de Janeiro/RJRegina Batista Magalhães Silva – Bebedouro/SP

Renata Rimet Ramos Silva – Salvador/BARoberto de Piratininga Ferrari – Carapicuiba/SPRoberto Prado Barbosa Junior – São Vicente/SPRodrigo Marinho Starling – Belo Horizonte/MGRogério Ferreira de Araújo – São Gonçalo/RJ

Rogessi de Araújo Mendes – Recife/PERossana Monteiro Cruz – Aracajú/SE

Rossidê Rodrigues Machado – São Vicente/SPRozelene Furtado de Lima – Teresópolis/RJ

Sandra Avelino da Silva – São Paulo/SPSandra Helena Barroso – Santa Luizia/MG

Sandra Ramalho de Oliveira – Caratinga/MGSérgio Rodrigues Piranguense – Belo Horizonte/MG

Stefany Nayara Santanna Alves – Guarulhos/SPTeresa Cristina Carvalho Mércuri Azevedo – Campinas/SPUmbelina Linhares Pimenta Frota Bastos – Inhumas/GO

Valdeck Almeida de Jesus – Salvador/BAValdivino Pereira Ferreira – Turmalina/MG

Valter Bitencourt Júnior – Salvador/BAVânia Rodrigues Calmom – Vila Velha/ES

Vanina Miranda da Cruz – Salvador/BAValéria Victorino Valle – Anápolis/GO

Varenka de Fátima Araújo Garrido – Salvado/BAVilson Barbosa Costa – Belo Horizonte/MG

Walter Teófilo Rocha Garrocho – Im MemorianWeder Ferreira da Silva – Rio de Janeiro/RJ

Wenderson Cardoso – Contagem/MGWilson de Oliveira Jasa – São Paulo/SP

Yara Regina Franco – Araraquara/SPZenir Izaguirre Carvalho – São Jerônimo/RS

Voluntários da Secretaria GeralEduardo Amorim SilvaEgmon Schaper Filho

Última atualização do Quadro Social: 20/08/2015

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