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“WIRÁHU”

“WIRÁHU” - ISPN - Instituto Sociedade, População e ... · Fonte: Pequeno Atlas do Maranhão ... 2009 – 1ª Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena – Criação

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“WIRÁHU”

FICHA TÉCNICA

RealizaçãoINSTITUTO SOCIEDADE POPULAÇÃO E NATUREZA - ISPN

Coordenação ExecutivaFábio Vaz

Coordenação Técnica Geral ISPN - Santa Inês - MARuthiane Silva Pereira

Comissão de ElaboraçãoArlete Viana dos Santos Guajajara

Eloiza Rodrigues Guajajara

Maria Suely Dias Cardoso

Railson dos Santos Guajajara

Sirlene Viana Guajajara

Weldeson Coelho Guajajara

Organizadora

Maria Suely Dias Cardoso

Revisão João Guilherme Nunes Cruz

Projeto gráficoRoberto K-zau

Diagramação, capa, produção gráfica e tratamento de imagensRoberto K-zau - Naza Almeida

DesenhosArlete Viana dos Santos Guajajara - Clemilda Dádiva Guajajara da Silva - Dimarães Viana dos Santos Guajajara - Eliana Guajajara Neves - Erisvaldo de Sousa Guajajara - Eloiza Rodrigues Guajajara - Francisco Viana Guajajara - Francisca Rodrigues Sousa Guajajara - Jefferson Viana Guajajara - Karlan Viana Guajajara - Marcilene Liana Guajajara - Maria Iranilde Fonseca Guajajara - Maria Irene Fonseca Guajajara - Marisa Caragiu Viana Guajajara - Marlan Santana Guajajara - Pedro Caragiu Rodrigues Guajajara - Railson dos Santos Guajajara - Robson Nonato de Sousa Guajajara - Sirlene Viana Guajajara - Weldeson Coelho Guajajara.

Fotos das atividades presenciais - Maria Suely Dias Cardoso. Fotos “festa do moqueado “ - Maria Suely Dias Cardoso.

Fotos das atividades de dispersão nas aldeias - Arquivo dos cursistas.

Fotos dos sábios - Arquivo dos cursistas.

“WIRÁHU” Apresentação “ WIRÁHU”

Na língua Guajajara, Wiráhu significa águia, passáro conhecido pelos indígenas como aquele que vê longe e voa alto e segundo os cursistas, simboliza os seus objetivos enquanto futuros gestores.

Proposta de elaboração e publicação da revista “WIRÁHU” surgiu durante a execução do I Módulo do Curso de Gestores Indígenas de Projetos,

oferecido a 20 indígenas do povo Guajajara das Terras Indígenas Caru e Rio Pindaré. A imensa riqueza do material produzido motivou cursistas, colaboradores e a coordenação do curso a pensar em uma publicação para compartilhar com as outras pessoas um pouco da experiência do Curso .

Dessa forma, a revista aqui apresentada sintetiza, em imagens e textos, os temas trabalhados, as atividades realizadas e os resultados obtidos nesta primeira etapa do Curso.

O Curso de gestores possui uma carga horária total de 1500 horas aula, divididas entre 05 módulos presenciais de 120 horas aula cada e 05 estudos dirigidos de dispersão com 180 horas aula cada. A proposta é que para cada módulo seja publicado um material informativo compartilhando os conhecimentos adquiridos pelos cursistas. Além do conhecimento, esta iniciativa proporciona aos cursistas o exercício da produção textual, posto que compõem a equipe de elaboração da publicação.

O módulo I ocorreu no período de 04 a 26 de outubro de 2016 (presencial), no Sítio dos Padres, localizado em Santa Inês – MA e nos meses de novembro/16 e janeiro/17, as atividades de dispersão, nas aldeias.

Ruthiane Pereira Silva - Coordenadora do ISPN - Santa Inês

A

Os desenhos ao longo da revista, resultam das atividades dirigidas pela professora Lúcia Hussak, na disciplina "Cultura, tradição, identidade e conhecimento", em que estimulou os cursistas a representarem na forma de imagens o que eles consideram como sendo o patrimônio material e imaterial do seu povo.

Apresentação

Curso de Formação de Gestores Indígenas de Projetos..................................................................3

Módulo I - Realidade Indígena Brasileira ..........................................................................................4

História indígena e da colonização da Amazônia e do Brasil.

A relação dos Povos Indígenas e o Estado Brasileiro ......................................................................5

Papel das organizações indígenas - conjuntura nacional e regional ...........................................8

Cultura, tradição, identidade e conhecimentos indígenas .............................................................9

Antropologia dos povos Indígenas no Maranhão Contexto estadual e Povo Tenetehara Guajajara ..............................................................................................................................................12Política de educação diferenciada: Educação escolar indígena x educação indígena ...........13

Política de saúde indígena ...................................................................................................................13

Legislação ambiental e indigenista ....................................................................................................14

Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas - PNGATI ...........15

O Papel dos projetos no plano de vida das comunidades: Confecção de instrumentospara análise da realidade local ...........................................................................................................17

Roda de Conversa: Políticas Indigenistas ........................................................................................20

Atividades de dispersão nas aldeias .................................................................................................21

Aldeia Piçarra Preta ..............................................................................................................................22

Aldeia Novo Planeta .............................................................................................................................24

Aldeia Areião ..........................................................................................................................................26

Aldeia Januária.......................................................................................................................................28

Festa do Moqueado: patrimônio cultural Guajajara .....................................................................30

Aldeia Maçaranduba ............................................................................................................................32

Cronograma de atividades realizadas nas aldeias .........................................................................34

Quando serão realizados os próximos módulos do Curso? ........................................................35

Fotos dos Sábios entrevistados ...........................................................................................................35

Fotos dos cursistas em ação ................................................................................................................36

Sumário

No Projeto Pedagógico do Curso de Formação de Gestores Indígenas de Projetos pressupõe-se a articulação entre os conhecimentos científicos e culturais, práticos e teóricos, e sua aplicação, ora individualmente, ora coletivamente, no meio econômico, social, político e cultural em que os Guajajara vivem.

O indígena como agente principal de transformação da sua realidade requer autonomia intelectual, que deve ser alcançada por meio do uso do conhecimento sistemático, crítico da realidade que o cerca e consciente no uso de diferentes linguagens.

Dessa forma o ISPN deseja contribuir para a formação de gestores indígenas que atuem em suas organizações de maneira qualificada e que possam contribuir também com o movimento indígena como protagonista na formulação e execução das ações necessárias à contínua melhoria da qualidade de vida e autoestima do seu povo.

Fábio Vaz - Coordenador Executivo - ISPN

Os cursistas foram selecionados via processo seletivo orientado por edital público coordenado pelo ISPN e apoiado pela FUNAI. Participaram da Comissão de seleção um representante da Terra Indígena Caru (Lindalva Guajajara); um representante da Terra Indígena Rio Pindaré (Daniel Guajajara); uma representante da Vale (Nina Fassarela); um representante da FUNAI/CTL (Maria Douro) e uma representante do ISPN ( Suely Dias).

Curso de Formação de Gestores Indígenas de Projetos faz parte do Subprograma Fortalecimento Institucional que compõe o

Plano Básico Ambiental/EFC/Vale do componente indígena Awa e Guajajara das terras indígenas Caru e Rio Pindaré – PBACI.

O Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN conta com a parceria da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA/Santa Inês, que certificará os cursistas na modalidade curso de extensão. A Fundação Nacional do Índio – FUNAI se constitui parceira nas atividades da implementação do PBACI.

Esse curso destinado a 20 indígenas e pretende contribuir para ampliar os conhecimentos dos Guajajara das Terras Indígenas Caru e Rio Pindaré sobre a gestão organizacional, elaboração e implementação de projetos; qualificar a atuação de gestores e lideranças em suas organizações e projetos; colaborar para o empoderamento das associações comunitárias e fortalecer a capacidade de diálogo das associações comunitárias com instituições governamentais e não governamentais em relação a projetos comunitários e políticas públicas.

Por se tratar de um curso de formação de Gestores de Projetos o seu objetivo central será a busca de alternativas para o fortalecimento dos povos indígenas e a ampliação da sua autonomia e controle sobre os seus “Planos de Vida”.

O

Curso de Formação de Gestores Indígenas de Projetos

Curso de Gestores Indígenas de Projetos tem o formato da alternância, sendo 20 dias presenciais O

MÓDULO I: a política nacional de gestão ambiental e territorial em terras indígenas, a PNGATI. Foram desenvolvidas as temáticas acerca dos conhecimentos tradicionais, patrimônio material e imaterial. Versou sobre a questão indígena no estado do Maranhão, especialmente sobre o povo Guajajara e, por fim, desenvolveu o papel dos projetos no plano de vida das comunidades e os instrumentos para realização do diagnóstico e análise da realidade local. O Módulo I da dispersão concluiu a primeira etapa do curso, no qual os cursistas colocaram em prática o uso das ferramentas do DRP- Diagnóstico Rápido Participativo para a elaboração de um diagnóstico inicial da realidade de suas aldeias.

a cada dois meses e possui cinco módulos presenciais e cinco módulos de dispersão, nos quais os cursistas realizam atividades práticas nas suas aldeias. O primeiro módulo presencial foi realizado no período de 04 a 26 de outubro de 2016 no Sítio dos Padres em Santa Inês/MA, local onde também os cursistas se hospedaram.

O Módulo I teve como tema central a “Realidade Indígena Brasileira”, abordou em linhas gerais a história da política indigenista e o Estado Brasileiro; a organização do movimento indígena e a conjuntura atual; tratou sobre a legislação e licenciamneto ambiental; os direitos no âmbito das políticas públicas, especialmente a política nacional de saúde; a política nacional da educação;

Realidade Indígena Brasileira

A aula inaugural “Projetos sociais e povos indígenas no Brasil”foi ministrada pelo professor e pesquisador, o antropólogo Márcio Meira. Participaram: os familiares dos cursistas, as lideranças e indígenas representando todas as aldeias, além de representantes da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, do Instituto Federal e Tecnológico do Maranhão - IFMA.

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História indígena e da colonização da Amazônia

e do Brasil. A relação dos Povos Indígenas e o

Estado Brasileiro.

Por meio da apresentação de imagens (gravuras, pinturas, fotografias, bases cartográficas, etc.), o antropólogo Márcio Meira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, trouxe um panorama amplo das relações entre povos indígenas no Brasil e as diversas frentes de colonização protagonizadas por Portugal e, após, pelo estado brasileiro.

Nesse sentido, as imagens serviram como aporte metodológico para ilustrar

Mapa1: Região entre São Luís e Belém – século XVII nesse mapa aparece o registro do povo GuajajaraFonte: Pequeno Atlas do Maranhão – João Teixeira Albernaz I, 1629 / Biblioteca Nacional do Brasil

as concepções embutidas em cada época frente ao território e aos povos que aqui viviam, buscando analisar criticamente os desdobramentos dessas percepções para as vidas dos povos indígenas.

Aldeia Tupinambá – Século XVI Fonte: Le Théatre du Nouveau Monde, les grands voyages Théodore de Bry, 1592 - Biblioteca do Serviço Histórico da Marinha da França - https://pt.wikipedia.org

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Criação da FUNAI – 1967 Fonte: www.brasil247.com

Trabalho indígena – Século XVIII Fonte: Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira, 1783 - Biblioteca Nacional do Brasil

Criação do SPI – início do Século XX

Figura canto esquerdo abaixo - Índios Meinake presenteando os expedicionários do SPI com beiju - Foto: Heinz Forthmann/Museu do Índio/FUNAI www.projetomemoria.art.br

Figura canto direito no alto – Índios soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos – tela de Jean – Baptiste Debret - https://pt.wikipedia.org

1910 – Serviço de Proteção ao Índio(SPI): contato e integração dos indígenas à sociedade brasileira

1916 – Código Civil: Regime tutelar

1934 – Direito sobre as terras reconhecido constitucionalmente (Demarcação das terras em áreas descontínuas e, muitas vezes não tendo como parâmetro a concepção de territorialidade)

1961 – Criação por Decreto dos Parques do Xingu e do Tumucumaque

1967 – Substituição do SPI pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI

1973 – Lei nº 6001: Estatuto do Índio

1988 – Constituição Federal: reconhece os direitos originários às terras tradicionalmente ocupadas – fim da tutela

1991 – Homologação da TI Yanomami

1992 – Criação do PPTAL-PPG7 – Demarcação de Terras Indígenas na Amazônia Legal

2004 - Promulgação da Convenção 169

2005-06 – Decreto cria a CNPI - Comissão Nacional de Política Indigenista

2007 - Brasil apoia Declaração da ONU - Organização das Nações Unidas

2009 – 1ª Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena – Criação dos Territórios Etnoeducacionais

2010 – Decreto cria a SESAI - Secretaria Especial de Saúde Indígena

2010-12 – Decreto reestrutura a FUNAI

2012 – Decreto cria a PNGATI - Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas

2015 – Decreto transforma a CNPI em Conselho - 1ª Conferência Nacional de Política Indigenista

Resumo Prof. Márcio Meira

MarisaAldeia Januária - Ti Rio Pindaré

Maria IranildeAldeia Maçaranduba - Ti Caru

WeldesonAldeia Januária - Ti Rio Pindaré

KarlanAldeia Januária - Ti Rio PindaréC

URSISTAS Política Indigenista no Brasil

FranciscaAldeia Januária - TI Rio Pindaré

EloizaAldeia Areão - TI Rio Pindaré

Clemilda Aldeia Januária -TI Rio Pindaré

DimarãesAldeia Januária - Ti Rio Pindaré

O tema foi desenvolvido por Valéria Paye Pereira, indígena do povo Tiriyo/Kaxuyana, militante do movimento indígena e graduanda de Ciências Sociais da Universidade de Brasília.

Para Weldeson Guajajara, uma lição aprendida com o curso da Valéria Paye, segundo suas palavras:

“O movimento indígena é uma arma muito poderosa que nós temos, no entanto, o Estado Brasileiro vem crescentemente criminalizando o movimento e suas ações Mas o povo indígena diante dessa dificuldade, procurou estratégias para se organizar, não para mostrar uma nova visão dos indígenas, mas para que os povos indígenas se fortaleçam mais”.

Valéria apresentou o contexto histórico desde a colonização, explicitando o papel do Estado enquanto tutor, aquele que decide e faz; apresenta o movimento indígena a partir dos anos 1970, as mudanças ocorridas com a Constituição de 1988; o movimento nos anos de 1990 e o contexto geral hoje, mostrando alguns desafios e mensagens para a reflexão do momento atual.

CURSISTAS

Papel das organizações indígenas - conjuntura nacional e regional

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Foi o tema tratado por Lúcia Hussak Van Velthem, antrópologa e pesquisadora do Museu Emílio Goeldi, de Belém, Pará.

Para a cursista Arlete Guajajara, a professora Lúcia ressaltou coisas importantes acerca da necessidade de valorização da cultura de cada povo, conforme relata:

“A professsora Lúcia contribuiu com todos nós no sentido de enfatizar a importância de valorizarmos tudo relacionado à nossa cultura, desde os nossos costumes até a vivência com a natureza mesmo, que tudo dentro da nossa cultura deve ser respeitado e praticado por nós. Sobre patrimônio cultural dos povos indígenas, patrimônio material e imaterial, ela destacou que dentro da nossa cultura, os patrimônios material ou imaterial, tem muita importância, não só para nós enquanto povos indígenas, mas para a própria história do Brasil e até do mundo. Embora a cultura seja diferente e costumes também, todos nós vivemos a mesma realidade. Que um bem não é só uma casa, um carro ou dinheiro, mas um bem, pode ser a história do seu povo, os cantos, o artesanato, etc.

ArleteAldeia Januária - TI Rio Pindaré

ElianaAldeia Januária - TI Rio Pindaré

Railson Aldeia Maçaranduba - Ti Caru

Cultura, tradição, identidade e conhecimentos indígenas

PedroAldeia Januária - TI Rio Pindaré

CURSISTAS

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Prosseguindo, a antropóloga destacou a existência de várias formas de se preservar um patrimônio, através de fotografia, vídeo, no próprio museu, formas que garantem uma das melhores maneiras de se preservar alguns patrimônios.

O cursista e colaborador da revista, Railson Guajajara, descreveu alguns conceitos que a Profa. Lúcia explanou, relacionado-os com a sua cultura :

O que é cultura?

Cultura é uma forma de expressão, de conhecimento de cada povo, de cada comunidade. É um conjunto de conhecimentos de homens e mulheres que vivem em sociedade em lugares diferentes, que a forma de trabalhar não é igual, por exemplo, a forma de pescar, a forma de caçar, de preparar uma comida, as formas de se organizar. A forma de cada comunidade no seu dia a dia é diferente, por isso nós devemos respeitar cada comunidade.

RobsonAldeia Januária - TI Rio Pindaré

Jefferson Aldeia Novo Planeta -TI Rio Pindaré

FranciscoAldeia Piçarra Preta - Ti Rio Pindaré

ErisvaldoAldeia Maçaranduba -TI Caru

CURSISTAS

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O que é expressão cultural

É uma coisa, uma forma de cada povo, da maneira de cada um. Os Guajajara, os Awá Guaja. As expressões culturais são uma forma, um jeito próprio do povo Guajajara. É a maneira que os Guajajara caçam, pescam, trabalham e muitas outras coisas.

O que é Patrimônio Cultural Material

Os bens de natureza material são aqueles que podem ser vistos, percebidos, tocados. Esses bens podem ser imóveis como um barco, uma rede um cocar, um colar.

O que é Patrimônio Cultural Imaterial

São aqueles que não podemos perceber, não podemos ver. São o conhecimento, a história, os contos e as lendas.

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SirleneAldeia Novo Planeta -TI Rio Pindaré

MarcileneAldeia Maçaranduba - Ti Caru

CURSISTAS

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Para tratar essa temática, foi convidada a Profa. Kátia Núbia, antropóloga formada na Universidade Federal do Maranhão, pesquisadora do povo Krikati localizado nos municípios de Amarante, Montes Altos e Sítio Novo, estado do Maranhão.

Kátia Núbia enfatizou a necessidade da adoção, por parte dos povos indígenas, de uma postura crítica quando o Estado ou qualquer outra instituição, tentam submetê-los aos seus projetos e programas inadequados aos indígenas. Nesse sentido, a turma iniciou uma reflexão e fez questionamentos sobre a política educacional, a política de saúde, indagando se realmente essas políticas têm respeitado a cultura Guajajara e se tem atendido suas reais necessidades.

“Se de fato a educação que temos é a que queremos, se é diferenciada de acordo com os nossos costumes, a nossa cultura e como vivemos. Se tudo que temos nas nossas comunidades é realmente o que precisamos, ou tá de acordo com as leis que nós temos a nosso favor ou que nos favorece em todas essas situações. Não podemos aceitar tudo que vier ou que vem pra gente, temos que nos questionar se de fato é aquilo que queremos pra nossas comunidades ou terras”, indagou a cursista Arlete Guajajara.

Antropologia dos povos Indígenas no Maranhão - Contexto estadual e Povo Tenetehara/Guajajara

MarlanAldeia Januária - TI Rio Pindaré

Maria Irene Aldeia Maçaranduba - Ti CaruC

URSISTAS

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Esse assunto foi desenvolvido no curso por Lirian Monteiro, antropóloga e assessora do ISPN, que fez um breve histórico da construção, ao longo do tempo, da política de saúde, específica para os povos indígenas, pelo Estado Brasileiro. Ressaltando as conquistas do movimento indígena para essa política e os desafios atuais. A cursista e colaboradora da revista, Eloiza Guajajara destacou suas impressões acerca da aula:

"A temática da Política Nacional de Saúde Indígena tratou da luta do indígena, do período colonial até os dias atuais, na qual os indígenas buscam uma política de saúde diferenciada, com respeito a sua cultura,

A profa. Kátia Núbia trouxe contribuições, ressaltando a necessidade de uma política diferenciada para os povos indígenas, além de apresentar o histórico da construção da atual política de educação e seus fundamentos legais.

Para reforçar a temática foi realizada uma roda de conversa sobre a educação indígena e educação indigenista com a contribuição da profa. Daniela Ferraro, na qual os cursistas debateram a partir de suas realidades como a educação indígena está sendo tratada, constatando que ainda há necessidade de se consolidar uma política específica de educação para os índios com a participação efetiva do povo indígena na elaboração e implementação dessa política.

tradição, modo com que cuidam da sua saúde, desde rituais e plantas medicinais e também com um órgão que cuide exclusivamente dos povos indígenas, embora hoje exista, pois antes quem cuidava era FUNAI sendo transferido para o Ministério da Saúde por meio da FUNASA e dede o ano de 2010 até esse ano 2016 a SESAI tem trabalhado com os povos indígenas juntamente com os postos de Saúde, pelas bases e as Casas de Saúde Indígenas (CASAI's)".

Política de educação diferenciada: Educação escolar indígena x educação indígena

Política de Saúde Indígena

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Tema desenvolvido pelo Prof. Rodrigo Folhes, antropólogo e doutorando na Universidade Federal do Maranhão. O objetivo central foi oferecer aos cursistas um painel compreensivo do procedimento administrativo de licenciamento ambiental a partir de uma perspectiva histórica, antropológica e crítica.

Foram discutidas as noções de meio ambiente, impacto e licença ambiental de modo a refletir sobre o licenciamento ambiental e suas prerrogativas legais; e estimular o debate sobre como os cursistas o observam enquanto plano de futuro.

Legislação ambiental e indigenista

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Uma das colaboradoras dessa revista, a cursista Arlete Guajajara, fez algumas observações sobre o curso do prof.Rodrigo Folhes: "Pudemos compreender melhor como ocorre todo processo de licenciamento ambiental pra se instalar um empreendimento em terras indígenas ou não. Se uma empresa, quer realizar um empreendimento que vai impactar as terras indígenas, em primeiro lugar, tem que haver uma consulta prévia junto aos indígenas e a partir daí, sendo consentido, a empresa deverá obter a licença de instalação; ela precisa, primeiro que a FUNAI e o IBAMA deêm a licença de funcionamento daquele empreendimento. Então vimos que nós povos indígenas, temos o direito de sermos informados sobre todo o empreendimento em nossas terras; temos leis que nos garante a participação no processo, porque quem vai sofrer os impactos somos nós povos indígenas. E temos que saber sobre muitas leis, para poder lutar pelos nossos direitos.

Na sequência do Módulo I, o Prof. João Guilherme, do ISPN, apresentou a PNGATI, política que foi Instituída pelo Decreto Presidencial nº 7.747 de 05 de junho de 2012 e tem como objetivo “garantir e promover a proteção, recuperação, conservação, e uso sustentável dos recursos dos territórios indígenas, para assegurar plenas condições de reprodução física dos povos indígenas e a integridade de seu patrimônio”. Ele apresentou as diretrizes da PNGATI e sua importância para os povos indígenas além de

Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas - PNGATI

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tratar dos desafios para a sua implementação, destacando que essa política pode trazer bons resultados para os povos indígenas, como a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar das comunidades; a geração de condições adequadas e qualidade de vida para as gerações futuras; a intensificação da proteção territorial das áreas destinadas ao usufruto dos indígenas; o aumento dos níveis de preservação ambiental e o aumento da oferta às comunidades indígenas de alternativas produtivas, seja para o consumo próprio da comunidade, seja para a geração de renda. A cusista e colaboradora da revista, Sirlene Guajajara, traçou algumas notas do que foi tratado na aula: "Foi falado o que é a PNGATI -Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas. Foram mostradas suas características, quando foi criada e quais seus objetivos. E quando ela foi criada, teve a participação dos próprios indígenas, que lutaram pelo o apoio para a proteção dos seus territórios, algo que sempre foi feito pelos indígenas. É uma política que pode contribuir muito com a vida dos indígenas, sendo uma conquista para nosso povo. Foi feito uma comparação da implementação da PNGATI em outros povos com os Guajajara da TI Caru, na qual já estão sendo realizadas, ações de proteção territorial, como parte do Plano de Gestão Territorial - PGTA, instrumento importante no âmbito da PNGATI."

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Com esse tema o Prof. Carlos Aparecido Fernandes trabalhou as questões centrais para realização do diagnóstico da realidade, com os objetivos de intensificar a troca de experiências entre os cursistas Guajajara no trabalho desenvolvido nas aldeias indígenas das Terras Indígenas Caru e Rio Pindaré; internalizar atitudes condizentes com o processo participativo de gestão de projetos; exercitar instrumentos que facilitam a elaboração e gestão de projetos para as organizações e aldeias; desenvolver a habilidade dos futuros gestores em conduzir processos de diagnóstico rápido participativo.Em mais uma colaboração, Arlete Guajajara, aponta um pouco do aprendizado com o curso do prof. Carlos Aparecido Fernandes, que na sua percepção: "Contribuiu com o grupo de cursistas, apresentando o método, as ferramentas e técnicas para colher informações primárias e secundárias, fazer o mapeamento participativo, a fazer um diagnóstico rápido

e participativo. Compreendemos o que é o papel do gestor e o que não é papel do gestor; o gestor tem que fazer a diferença na sua comunidade, respeitando as lideranças e ser uma pessoa disponível e compromissada e tem que trabalhar com a comunidade para que os projetos possam dar certo. O que é projeto e o que é gestão; como fazer a gestão; como trabalhar em grupo, respeitando a opinião dos colegas e trocar ideias; como liderar de forma que todos saiam satisfeitos; como se organizar pra fazer uma reunião com a comunidade; como fazer um roteiro de reunião; como obter autorização pra fazer uma entrevista, tudo isso foi repassado ao grupo". No desenvolvimento da disciplina, foram elaborados, pelos cursistas, cartazes e desenhos para visualização do conteúdo. Foi desenvolvida atividade com o grupo, na qual apresentaram, em desenhos, a visão de futuro de sua Terra Indígena, apresentada nas páginas 18 e 19.

O Papel dos projetos no plano de vida das comunidades - Confecção de instrumentos para análise da realidade local

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VISÃO DE FUTUROTI Rio Pindaré

O QUE TEMOS

O QUE QUEREMOS

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O QUE TEMOS

O QUE QUEREMOS

TI Caru

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Roda de Conversa: Políticas Indigenistas

O primeiro módulo foi concluído com a roda de conversa entre os cursistas e os gestores públicos sobre as Políticas Indigenistas. Foram convidadas instituições municipais, estaduais e federais que executam ações da política indigenista. Participaram o senhor Daniel Cunha de Carvalho, Coordenador Regional da FUNAI, que apresentou a estrutura e a política executada pela FUNAI, assim como os desafios enfrentados com o enfraquecimento do órgão; e o senhor Raimundo Nonato Pires, servidor representando a Secretaria de Estado da Agricultura Familiar, que discorreu sobre as ações existentes nessa Secretaria, para os povos indígenas, ressaltando que estão iniciando no atual governo, pois anteriormente não existia uma política específica para os indígenas, no âmbito da política da agricultura familiar. Nessa atividade estavam presentes

o coordenador executivo do ISPN, Fábio Vaz; a coordenadora do ISPN de Santa Inês, Ruthiane Pereira; assessores do ISPN e o assessor do CTI – Centro de Trabalho Indigenista, Kleber Karipuna.

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Os cursistas realizaram as atividades do

módulo de dispersão I, com a finalidade

principal de realizar o diagnóstico inicial

da realidade de suas aldeias e ao mesmo

tempo exercitar o uso das ferramentas do

Diagnóstico Rápido Participativo - DRP.

Apropriando-se das técnicas e ferramentas,

para obtenção de dados, abordadas no

curso do prof. Carlos Aparecido Fernandes,

os cursistas de cada aldeia agruparam-se e

realizaram o diagnóstico acerca de alguns

aspectos da cultura material e imaterial.

Destacando-se a "festa do moqueado",

considerada por eles como o patrimônio

cultural do povo Guajajara, acompanhando

o ritual com observações diretas e

participativas; por meio de entrevistas com

os sábios, mostraram um pouco da história

da sua aldeia; identificaram os recursos

naturais existentes e seus usos atuais,

através do mapeamento participativo,

bem como a estrutura e o formato de sua

aldeia; levantaram informações sobre as

organizações existentes na sua aldeia,

entrevistando lideranças e gestores públicos

e identificaram quais projetos existentes.

Na página 22 e seguintes, apresentamos por

aldeia, o resumo das informações obtidas,

destacando que o diagnóstico realizado

possui muito mais dados.

Atividades de dispersão nas aldeias

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Aldeia Piçarra Preta

A história da aldeia Piçarra Preta, conta que o seu primeiro líder foi Manoel Viana e na sua época não havia cacique.

A entrevista com a senhora Antonia Viana Guajajara, realizada pelo cursista Francisco Viana Guajajara traz outras informações:

P: Como surgiu a aldeia Piçarra Preta?

Surgiu através de um centro de trabalho.

P: Quem foram os primeiros moradores?

Foi Manoel Viana e sua família

P: E por que o nome Piçarra Preta?

Porque na época havia muitas piçarras pretas, então Manoel Viana usou como referência de seu local de trabalho.

P: Nessa época havia cacique?

Não, havia um líder da família (Manoel Viana)

P: Quem foi o primeiro cacique? E quem é o atual?

O primeiro foi Cipriano Viana Guajajara e o atual hoje é Pedro Viana Guajajara

P: Quais foram as mudanças que ocorreram na aldeia Piçarra Preta ? cite-as:

Moradia: as primeiras casas eram feitas de taipa, então veio as de tijolos

Energia: Não tinha, agora tem.

Estrada: Não tinha, era só veredas por baixo da mata.

Saúde: Eram poucos os atendimentos na área da saúde, porém não havia muitas doenças, pois eram usadas ervas que servem para medicamentos.

Destacamos nessa seção, algumas informações sobre a história das aldeias, conforme a descrição dos cursistas, que ora se apresenta em texto, ora por meio de entrevistas com os sábios. Apresentamos os dois mapas, que foram elaborados coletivamente com a comunidade em cada aldeia, os quais mostram os recursos naturais e seus usos, os limites da terra e a estrutura da aldeia e o seu formato.

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Modo de vida: Antigamente os indígenas viviam mais da caça, pesca e coleta de frutos, pois havia muita mata. Hoje: Há outros modos de vida de sobrevivências. Ex: aposentadoria, empregos, benefícios social, mais ainda é praticada a caça, pesca e saiu a coleta de frutos e entrou o cultivo de roça.

Na cultura: Moqueado, cantos, caças, pinturas, adereços, artesanatos, língua materna.

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Aldeia Novo Planeta

Os cursistas Jefferson e Sirlene entrevistaram os sábios Margarida Silva Guajajara e Manoel Pacífico os quais falaram dos primeiros moradores identificados como Germano Guajajara (Ginú) e Maria Deuzuita Viana Guajajara (Zulita) que fundaram a aldeia aproximadamente no ano de 1977, no intuito de terem um lugar próprio para moradia.

Somente no ano de 1999 tiveram acesso ao serviço público de educação, com o ensino do pré até o 5 ano fundamental e desde 2006 a disciplina da língua materna foi inserida. Já os serviços de saúde se iniciaram em 2003 com a contratação dos primeiros agentes de saúde. Atualmente conta com atendimento odontológico, consultas, exames, vacinas e outros.

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Aldeia Areião

A cursista Eloiza entrevistou os sábios da aldeia Areião, Raimundo dos Santos, Maria das Graças e transcreve as informações dos entrevistados: "Eles relataram que seus pais eram da localidade Lagoa Comprida, no município de Santa Luzia do Tide e lhes contaram que aldeia surgiu a partir do momento que eles precisaram fugir dos ataques das epidemias de sarampo e outras doenças, ou dos brancos que tomaram suas terras, refugiando-se na aldeia Januária. Mas com o passar do tempo, precisaram procurar um local para fundar uma aldeia que seria futuramente de seus filhos que iriam casando e tendo filhos e assim iria crescendo; a aldeia então foi fundada e tinha apenas duas casas, passou a se chamar Areião e o nome Areião foi dado pelo fundador da aldeia José Raimundo dos Santos Guajajara.

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Nesse tempo existia apenas um cacique da aldeia Januária, Manoel Viana, mais conhecido como Paraipé, que representava todas aldeias e também a nossa alimentação era mais caça, fruta do mato ou dá roça por exemplo, inhame, (cará) macaxeira e milho, que era o nosso café da manhã, mas hoje tudo está diferente, as pessoas já não valorizam tanta essas comidas tradicionais, querem é comida do branco como pão, café em pó; as festas da nossa cultura também não são muito valorizadas pelo jovens, a língua está quase se acabando por que muitos têm vergonha de falar ou não se preocupam em aprender."

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Aldeia Januária

A história da Aldeia Januária foi contada por Pedro Micuraw Guajajara e Sinhazinha Guajajara, reconhecidos sábios da aldeia.

Eles relataram que onde é hoje a Januária, era uma fazenda e o nome verdadeiro da aldeia é Kriwiri, então a aldeia surgiu com a chegada de Manoel Viana Guajajara.

Zezinho Luís Guajajara e Manoel Viana Guajajara foram os primeiros moradores e

o primeiro cacique foi Manoel, segundo Dona Sinhazinha, ele foi o melhor cacique que já passou pela aldeia.

Nos relatos, sobressaem a fartura que existia de peixes, de caças, de frutas. Eles afirmaram que os indígenas trabalhavam

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muito de roça e não precisavam de muita coisa do branco, em termo de comidas e até de remédios, e tudo era feito pelos próprios índios.

Segundo os depoimentos desses sábios, o que mudou é que hoje há muita facilidade em relação à transporte, escolas, posto de saúde; que o índio sabe se virar sozinho, não depende da FUNAI pra quase nada, muitos trabalham na cidade ou aqui mesmo na aldeia.

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Porque eles são acompanhados pelos espíritos ruins, pois os espíritos fazem as pessoas não se sentirem bem.

P: Quais os tipos de caças que podem ser usadas no monqueado?

Paca, cutia, porco queixado, catitu, mutum, zakami, nambu, uru, juriti, macaco e capelão.

P: Por que os meninos não podem bater o maracá?

Na tradição dos Guajajara é permitido o uso do maracá para que eles possam ter a prática desde pequeno, mas devido a inclusão da cultura dos Tembé na dos Guajajara, isso foi modificando as tradições.

P: Por que é passado a carne da caça em algumas partes do corpo dos brincantes?

Para que não envelheça rápido e que não criem cabelos brancos.

P: Antes dessa pintura, existia outra?

Não, sempre foi essa pintura.

P: Tem que ter o número certo de brincantes no monqueado?

Antigamente brincava de dois a quatro, duas moças e dois jovens e não podia passar dessa quantidade.

P: Por que os meninos e meninas usam as vestes brancas somente no domingo para o encerramento da festa?

É a tradição

P: O que significa o rabo de camaleão?

Não foi explicado porque faz parte da cultura dos Tembé.

P: Por que os participantes da festa do monqueado não podem olhar para os lados e

nem sorrir?

É muito perigoso, pois podem ficar cegos e com a boca torta e até mesmo doidos.

P: Quais os deveres dos pais no momento da festa?

Está sempre perto dos filhos, orientando e dizendo o que podem e o que não podem fazer durante o ritual.

Conhecida também como “Festa da Menina Moça” ou “Festa do Monqueado’, foi considerada pelos cursistas como um importante patrimônio cultural do povo Guajajara. No diagnóstico foi realizada uma pesquisa sobre esse ritual, e trazemos aqui uma síntese, elaborada pelo cursista Pedro Caragiu, uma entrevista realizada pela equipe de cursistas com o sábio Pedro Micuraw, da aldeia Januária e uma análise da cursista Marcilene Guajajara, da aldeia Maçaranduba.

O ritual segundo Pedro Caragiu: A festa do monqueado é um rito de passagem, no qual os rapazes e as moças entram para fase adulta. E ela tem como elementos principais: os cantos, as vestes, as caças, a tinta do jenipapo.

Durante o período da festa, desde a caçada até a execução da mesma, os brincantes passam por uma preparação, a qual segue várias regras.

Segundo os sábios, muita coisa se modificou, principalmente a festa do monqueado, hoje em dia já não cantam os mesmos cantos, já não tem os mesmos cuidados de antes e os jovens já não tem o “resguardo” adequado, e desrespeitam a tradição.

Entrevista sobre a festa do monqueado Pedro MicurawP: Por que o cachorro não pode entrar no local da festa?

Festa do Moqueado: patrimônio cultural Guajajara

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P: Por que os enfeites de sábado são diferentes dos enfeites de domingo?

É o costume da tradição

P: Para quê é feita a fumaça e o que é usado?

Para afastar os espíritos e não baixar no corpo dos cantores e cantoras, e na fumaça é usado a resina própria do mato.

P: Os cantos que são cantados no monqueado é dos Guajajara?

Alguns, mas a maioria é dos Tembé

P: O resguardo quanto tempo durava?

Durava 15 dias e não podia comer certos tipos de alimentos, só depois de tomar a “kina” (pau amargo).

Descrição e análise sobre a Festa do Moqueado A cultura antigamente

A festa do moqueado era diferente porque antes de iniciar a caçada, o cacique chamava toda comunidade para avisar que tal dia ia ter uma caçada, mas, antes ele dizia pra comunidade dele que iriam precisar de bastante farinha e de tirarem a goma para darem ao cantor e assim era feito. Quando chegava o dia da caçada, toda a comunidade se reunia e ia para a mata, lá passavam um mês, quando voltavam da caçada, já vinham cantando até chegar ao local da brincadeira e lá já ficavam todos os seus instrumentos, como os maracás, os kocais e as roupas das meninas e botavam todos eles em cima de uma esteira, todo tempo de cabeça baixa, não podiam olhar para lugar nenhum, enquanto elas estavam se pintando.

Para os Maíra, os cantores pediam proteção para a dona do moqueado, aí chegava o grande momento. Cada menina tinha que brincar com dois cantores o dia todo, eles também se enfeitavam com penas no corpo, kocar na cabeça e cigarro na mão, porque eles

não podiam cantar sem o cigarro deles, para eles o cigarro espantava as coisas ruins das meninas, porque naquele tempo existiam bastante pajés e era muito perigoso quando eles estavam fazendo as festas deles. As meninas não podiam nem sair do local da brincadeira, porque fazia mal, principalmente ao meio dia, era quando os bichos estavam soltos e já tinha um pajé ali, preparado para combater o mal das meninas.

Antigamente, enquanto a tinta não saísse das meninas, elas não podiam sair, porque o jenipapo tem o cheiro muito forte e acaba atraindo muitas coisas nojentas, como a cobra de duas cabeças, lagartas, cobra d’agua, vagalume, por isso que tinha que ter todo cuidado com as meninas. Elas eram proibidas de banhar nos rios por causa da mãe d’agua, que podia se agradar delas. Durante a cantoria, as mulheres passavam a noite fazendo fogueira, porque não tinha energia na época; outras mulheres eram responsáveis somente pelo mingau e chibel para os cantores; os cantores eram cantores das aves da água, penas, caças.

As primeiras roupas das meninas eram de imbira, pena no corpo e kocar na cabeça. Quando finalizava, o cacique agradecia a todos os cantores e cantoras, porque naquela época os cantores e cantoras ficavam ate o fim da cantoria e assim terminava a brincadeira.

Marcilene Guajajara

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Aldeia Maçaranduba

Os sábios, Antonio Guajajara, Luiza Guajajara, Manoel Guajajara, José Fonseca e Domingos Alves Guajajara da aldeia Maçaranduba relataram um pouco da história da aldeia, que segundo eles surgiu quando um pequeno grupo de índios, veio a procura de uma vida melhor. Os cursistas transcrevem a narrativa dos sábios entrevistados:

“Quando os índios Tomazinho e Marciano chegaram aqui se depararam com muita

fartura, pois logo avistaram muita caça, muitos peixes e uma floresta muito bonita que rodeava o rio inteiro, vendo tudo isso, eles voltaram para trazer suas famílias, daí fundaram a aldeia, os primeiros moradores foram estes, e o cacique foi Tomazinho.

A vida dos indígenas antigamente

A vida dos indígenas era uma vida totalmente isolada, pois não mantínhamos contato com ninguém, não tínhamos conhecimento de quase nada.

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P. O que mudou?

Hoje muita coisa mudou, a cultura ficando de lado, os costumes que antes eram um privilégio, hoje para alguns uma vergonha, a nossa língua materna, muitos não se interessam para aprender, poucos são os que realmente se interessam por nossa cultura e tradição. Outra mudança que vemos é que hoje nós temos escolas e antes não tínhamos dentro da comunidade e já se encontra um posto de saúde em funcionamento com uma equipe de saúde completa”.

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Cronograma das atividades realizadas nas aldeias

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Quando serão realizados os próximos módulos do Curso?

SÁBIO

S ENTREVISTADOS

Margarida Januário Guajajara Aldeia Novo Planeta

Pedro Micuraw Guajajara Aldeia Januária

Domingos Guajajara Aldeia Maçaranduba

Sinhazinha Souza Guajajara Aldeia Januária

Manoel Guajajara Aldeia Maçaranduba

Antonizinho Guajajara Aldeia Maçaranduba

Pedro Guajajara Aldeia Maçaranduba

Raimundo dos Santos Guajajara Aldeia Areião

Antonia Viana Guajajara Aldeia Piçarra Preta

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Cursistas em ação

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