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CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E GEOFÍSICA MARINHA - MESTRADO PRH-11
MARCELO MACHADO DA CRUZ
APLICAÇÃO DE PERFILAGEM GEOFÍSICA E
SÍSMICA NA CARACTERIZAÇÃO DA FACIOLOGIA DO RESERVATÓRIO
DE NAMORADO
NITERÓI 2003
ii
RESUMO
O Campo de Namorado, descoberto em 1975, localiza-se na porção centro-
norte da zona de acumulação de hidrocarbonetos da Bacia de Campos, a cerca de 80
km do litoral do estado do Rio de Janeiro, sob lâmina de água de 110 a 250m. O
reservatório, composto por arenitos arcoseanos de idade Albiano-Cenomaniana, situa-
se em um nível estrutural entre –2500 e –3300m, caracterizando-se por apresentar
uma excelente porosidade e permeabilidade. Esta unidade corresponde a um dos mais
importantes “ plays” petrolíferos da Bacia de Campos na área de plataforma
continental.
Neste trabalho, propõe-se uma aplicação da perfilagem geofísica para a
caracterização da faciologia do reservatório de Namorado, tendo como objetivo
principal a identificação das eletrofácies nos perfis elétricos deste reservatório, através
de uma metodologia robusta e consistente. A metodologia aplicada neste trabalho
envolve técnicas estatísticas, técnicas de estratigrafia de sequência aplicadas a perfis
de poço e a modelagem da geometria interna do reservatório, utilizando atributos
petrofísicos derivados de perfis (exemplo: porosidade e permeabilidade).
Para se chegar a um modelo de eletrofácies realístico, é necessário a
interferência do intérprete para a extrapolação da interpretação do conjunto de perfis
de poço, adotando uma abordagem supervisionada de modo a honrar os dados
geológicos diretos (testemunhos) para cada poço correspondente. A partir disto,
obtem-se como resposta um modelo de densidade específico para cada poço, onde
cada pico deste modelo corresponde a uma eletrofácies.
A partir de um conjunto de informações “hard” (diretas), propõe-se neste
trabalho uma caracterização do reservatório e suas fácies baseada em informações
iii
diretas de poço, de forma que sejam mais adequadas à implementação de modelos
numéricos integrados aos reservatórios, através da aplicação de perfilagem geofísica.
Este modelo, tem aplicação direta no gerenciamento do reservatório, permitindo boas
condições de controle e uma boa simulação da exploração / explotação.
Como resultado deste trabalho, obteve-se um conjunto de seis eletrofácies
aplicado para todo o reservatório, composto por rochas reservatório e não
reservatório, além de uma correlação lateral de alguns dos poços num modelo
faciológico 2D do reservatório.
iv
ABSTRACT
Namorado Field, discovered in 1975, is located in the center-north portion of
the zone of accumulation of hydrocarbons of Campos Basin, 80 km the from eastern
coast of Rio de Janeiro State, under water depths of 110 to 250 m. The reservoir,
composed by Albian-Cenomanian arcosean sands is located at structural levels
between –2500 and –3300m, being characterized by an excellent porosity and
permeability. This unit is one of the most important plays of Campos Basin in the
continental shelf.
This study, aims to apply borehole geophysics to characterize the sedimentary
facies of Namorado reservoir, with the main objective to identify the eletrofacies of
this reservoir, through a robust and consistent methodology. The methodology applied
in this study involves statistical techniques, the application of sequence stratigraphy
interpretation to well logs and the modeling of the internal geometry of the reservoir,
using petrophysical attributes such as porosity and permeability.
To create a realistic eletrofacies model, the interference of the interpreter is
required to extrapolate the interpretation of a group of well logs, adopting a
supervised approach in order to honor the direct observed geological data. Obtained
from cores for each corresponding well, specific density model for each well is
derived from this approach, where each pick of the model corresponds to an
eletrofacies.
Starting from a group of hard information, it was proposed in this study to
characterize the reservoir and its facies, based on direct information from the wells, so
that they are more adapted to the an aplication of numeric models integrated into the
reservoirs, through the application of borehole geophysics. These models can be
v
directly applied to the reservoir management, allowing good control conditions and a
good simulation of the exploration/explotation.
As a result of this study, a group of six eletrofacies, was obtained and applied
for the whole reservoir, characterizing rocks of reservoir and non reservoir quality,
and allowing a lateral correlation of some of the wells in a 2D facies model of the
reservoir.
vi
Em especial, manifesto minha gratidão a Deus pela sustentação, sabedoria e
saúde.
Expresso minha gratidão ao meu orientador Prof.º Adalberto da Silva, que
contribui para o esclarecimento, desenvolvimento e aperfeiçoamento no decorrer da
realização desta dissertação.
Agradeço aos professores, alunos e funcionários do curso de pós graduação
em Geologia e Geofísica Marinha (LAGEMAR) da Universidade Federal Fluminense,
pelo apoio no decorrer do curso.
Aos amigos da Paradigm Geophysical: Alexandre, Bianca, Ernesto e Henrique
pelo incentivo e ajuda. Aos colegas de turma Alexandre Maul e Flavia Carvalho pelo
apoio no decorre destes períodos. As colegas Maira Tanaka e Suely Ferreira pela
amizade e apoio.
Agradeço a Agência Nacional de Petróleo (ANP), pela bolsa de mestrado, que
possibilitou o custeio das minhas despesas durante este período de dedicação aos
estudos.
Dedico este trabalho,
Aos meus pais Waldemir e Marilena pela força e motivação dada. As minhas
irmãs Aline e Vanessa pelos incentivos. A minha noiva Viviane pela sua paciência e
compreensão. Dedico ainda a cada familiar que direta ou indiretamente me apoiaram
nesta etapa da minha vida.
AGRADECIMENTOS
vii
ÍNDICE
Resumo ii
Abstract iv
Agradecimentos vi
Ídice vii
Índice de Figuras viii
Anexos xiv
I – Introdução 1
II – Objetivo e Relevância 6
III – Contexto Geológico 7
III.1 – Geologia Regional 7
III.2 – Geologia Local 16
III.2.1 – Faciologia do Reservatório de Namorado 18
IV – Base de Dados e Metodologia 23
V – Resultados 36
V.1 - Sísmica 35
V.2 – Correlação de Poços 46
V.3 – Eletrofácies 52
V.3.1 – Correlação das Eletrofácies 88
VI – Conclusão 93
VII – Referência Bibliográfica 96
VIII – Software Utilizado 102
viii
ÍNDICE DE FIGURAS Fig.1 – Mapa de localização da Bacia de Campos - modificado de (Dias et al.,
1990). 2
Fig.2 – Mapa de Localização do Campo de Namorado, modificado de (GUARDADO
et al, 2000) 3
Fig.3– Carta Estratigráfica da Bacia de Campos, modificada de (RANGEL, 1993) 9
Fig.4 – Seção Esquemática Geológica da Bacia de Campos, representando as
principais formações estratigráficas da bacia, modificado de (Dias et al., 1990). 15
Fig.5 – Modelo esquemático de depósito de canal, modificada de (Souza Jr.,
1997). 22
Fig.6 – Modelo esquemático de depósito de canal de levee, modificada de (Souza Jr.,
1997). 22
Fig.7 – Mapa de Localização de alguns Poços liberados da ANP. 23
Fig.8 – Mapa de Localização das Linhas Sísmicas 2D. 24
Fig.9 – Mapa de Localização do Bloco Sísmico 3D. 24
Fig.10 – Testemunho de um poço liberado pela ANP. 25
Fig.11 – Exemplo de um modelo sísmico 3D do Campo de Namorado. 26
Fig.12 –Exemplo de alguns Perfís de Poço (7Na11A) no Campo de Namorado. 27
Fig.13 – Modelo de Eletrofácies - modificado de (O. Serra., 1986). 29
Fig.14 – Perfis de poço amarrado aos testemunhos – exemplo poço 7Na11A. 30
Fig.15 – Correlação lateral de poços – exemplo correlação entre os poços: RJS42,
Na02, Na19, Na04. 31
ix
Fig.16 - Mapa base representando as linhas sísmicas 2D e 3D do Campo de
Namorado, localização dos principais poços estudados e demarcação do Campo de
Namorado e vizinhos Cherne e Bagre. 32
Fig.17 – Modelo Sísmico do Campo de Namorado, contendo os horizontes e as
sequências mapeadas por (Johann, 1997), correlacionáveis com os horizontes deste
trabalho (amarelo e vermelho), modificado de (Johann, 1997). 34
Fig.18 - Seção Sísmica 2D (linha 241) do Campo de Namorado, representando
alguns horizontes mapeados, falhas e o reservatório de Namorado. 36
Fig. 19- Mapa de gridagem realizado em todo o reservatório, representando um
sistema canalizado. Observa-se que no geral o formato do Campo de Namorado está
encaixado dentro deste sistema canalizado. 38
Fig. 20 – Bloco Sísmico 3D do Campo de Namorado, com ênfase no corte do eixo Z
(tempo) em 2500 ms. 39
Fig.21 – Representação da superfície adquirida pelo mapeamento do horizonte
vermelho, cortada pela Xline 738, visualizando as erosões provocadas pelo canal
turbidítico. 40
Fig.22 - Representação da superfície adquirida pelo mapeamento do horizonte
vermelho, cortada pela Inline 2805, visualizando as erosões provocadas pelo canal
turbidítico. 41
Fig.23 – Superfície mapeada em função do horizonte estudado, enfatizando as
anomalias das amplitudes encaixadas dentro do canal erosional turbidítico. 42
Fig.24 – Mapa de “profundidade” em tempo suavizado do horizonte vermelho,
mapeada no Campo de Namorado. 43
Fig.25 – Bloco 3D da superfície estudada, representando os poços e a anomalia das
amplitudes dentro do canal erosional. 44
x
Fig.26 – Representação das amplitudes no tempo 2500ms, enfatizando as anomalias
no canal. 45
Fig.27 - Perfil de poço representando uma quebra do contraste da densidade e da
radioatividade. 46
Fig.28 – Seção Geológica da Bacia de Campos, representando sucessões turbidíticas
(corpos arenosos) entre as margas (Formação Lagoa Feia), modificado (Brun &
Walker, 1995). 47
Fig.29 - Correlação lateral dos marcos estratigráficos, entre 4 poços verticais
selecionados, através do método pico a pico. 48
Fig.30 - Quadro evolutivo da deposição do Arenito Namorado na seção estudada. 49
Fig.31 – Seção esquemática de uma correlação lateral entre poços, a partir das
semelhanças entre as assinaturas geofísicas. 50
Fig. 32 – Seção litológica correspondentes a seção esquemática analisadas. 51
Fig.33 – Mapa do Campo de Namorado, enfatizando os poços verticais estudados
(modificado de Silva, 1992). 53
Fig.34 – Exemplo da formulação de uma eletrofácies, através da limitação dos
campos. 54
Fig.35 – Conjunto de variáveis necessárias para a aplicação da eletrofácies. 55
Fig.36 – Histograma das variáveis RhoB e dT do poço 3Na01, representando uma
bimodalidade. 56
Fig.37 – Histograma das variáveis Gr e PhiN do poço 3Na01, representando uma
bimodalidade dos valores. 57
Fig.38– Representação da população do poço 3Na02, através do Histograma de
RhoB 58
Fig.39 – Representação da população do poço 3Na02, através do Histograma Gr. 59
xi
Fig.40 – Representação da população do poço 3Na02, através do Histograma dT. 59
Fig.41 – Representação da população do poço 3Na02, através do Histograma de
PhiN. 60
Fig.42 – Representação da população de rochas reservatório e não reservatório,
através da percentagem de porosidade, exemplo do poço 3Na04. 61
Fig.43 – Variável RhoB utilizada como sendo a principal, para a caracterização dos
seis campos específicos. 62
Fig.44 – Conjunto de Cross-plot para os poços estudado, representando uma
distribuição X-Y para um arranjo entre as variáveis de cada poço, exemplo poço
3Na01. 64
Fig.45 – Cross-plot da variável porosidade X radioatividade do poço 3Na04. 65
Fig.46 – Cross-plot da variável densidade X sônico do poço 3Na04. 66
Fig.47 – Cross-plot da variável densidade X radioatividade do poço 3Na04. 67
Fig.48 – Cross-plot da variável densidade X porosidade do poço 3Na04. 68
Fig.49 – Histograma de PhiN do poço 3Na04 – representando 6 campos de
porosidade distintas, demonstradas por cores (amar. 8-12; mar. 12-16; rosa 16-20;
verm. 20-24; verde 24-28; azul 28-32). 69
Fig.50 – Histograma de RhoB do poço 3Na04 – representando no histograma de
densidade os 6 campos de porosidade representados anteriormente, demonstradas por
cores (amar. 8-12; mar. 12-16; rosa 16-20; verm. 20-24; verde 24-28; azul 28-32). 70
Fig.51 – Cross-Plot de RhoB X PhiN para o poço 3Na04 – representando dois trends
diferentes (rochas reservatório e não reservatório). Os balões coloridos representam a
porosidade (amar. 8-12; mar. 12-16; rosa 16-20; verm. 20-24; verde 24-28; azul 28-32)
– Este cross-plot demonstra que a variável RhoB influência nos trends. 71
xii
Fig.52 – Cross-Plot de RhoB X Gr para o poço 3Na04 – representando dois trends
diferentes (rochas reservatório e não reservatório). 72
Fig.53– Conjuntos das variáveis estudadas para o poço 3Na04, contendo a litologia
referente ao testemunho, refletindo no processo supervisionado da eletrofácies. 74
Fig.54 – Histograma da variável porosidade (PhiN), representando a frequência de
cada litologia para este poço. 75
Fig.55 – Cross-plot da variável porosidade (PhiN), representando a frequência de
cada litologia para este poço, demonstrando as rochas reservatório e não
reservatório. 75
Fig.56 – Representação em frequência de cada litologia do poço 3Na04. 76
Fig.57 – Cross-plot da variável porosidade x densidade para o poço 3Na04,
representando os campos distintos de rochas não reservatório. 77
Fig.58 – Cross-plot da variável porosidade x densidade para o poço 3Na04,
representando os campos distintos de rochas reservatório. 78
Fig.59 – Modelo de densidade supervisionado Kerne l, representando cada litologia
por um pico. 79
Fig. 60 - Modelo de densidade a partir das eletrofácies respectivas, onde cada pico
representa um eletrofácies respectivamente. 80
Fig.61 – Comparação entre os perfis geofísicos de poço com os testemunhos X os
perfis geofísicos com as eletrofácies. 81
Fig.62a – Correlação entre os modelos de densidade de todos os poços verticais. 83
Fig.62b – Continuação da correlação entre os modelos de densidade de todos os
poços verticais 84
Fig.63 – Modelo de densidade base para a formulação e geração das eletrofácies. 85
xiii
Fig.64 – Modelo de eletrofácies gerado para o poço 3Na04, representando os
“pacotes” prováveis para a perfuração. 86
Fig.65– Modelo esquemático das 6 eletrofácies ident ificadas. 87
Fig.66 – Representação do marco estratigráfico utilizado para a correlação entre os
poços. 88
Fig. 67 – Mapa de localização representando a seção estudada (Centro do
Reservatório) (Modificado de Silva, 1992). 89
Fig. 68 – Correlação lateral entre os poços estudados, baseado nos marcos
estratigráfico identificado. 90
Fig.69 – Seção Geológica do Reservatório de Namorado, representando a distribuição
lateral das eletrofácies identificadas neste trabalho. 92
xiv
ANEXOS Poço1 – Exemplo do perfil de poço 3Na01, demonstrado pelo perfil de radioatividade
(Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes. 103
Poço2 – Exemplo do perfil de poço 3Na02, demonstrado pelo perfil de radioatividade
(Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes. 104
Poço3 – Exemplo do perfil de poço 3Na04, demonstrado pelo perfil de radioatividade
(Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes. 105
Poço4 – Exemplo do perfil de poço 4RJS032, demonstrado pelo perfil de
radioatividade (Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes. 106
Poço5 – Exemplo do perfil de poço 7Na07, demonstrado pelo perfil de radioatividade
(Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes. 107
1
I – INTRODUÇÃO
Bacia de Campos, principal província petrolífera do Brasil, localizada na
região Sudeste do país, na margem leste do litoral brasileiro (Fig.1), entre os estados
do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Abrange uma área de aproximadamente 100.000
km², sendo a parte submersa até uma lâmina d’água de 3.400 metros e uma pequena
porção estendendo-se para o continente (Guardado et al, 2000). Esta bacia, limita-se
ao sul com a Bacia de Santos na região do Alto de Cabo Frio e ao norte com a Bacia
do Espírito Santo através do Alto de Vitória, coincidindo com o prolongamento para
leste da Cadeia Vitória-Trindade.
Geologicamente, esta bacia foi preenchida por uma seqüência vulcano-
sedimentar na sua base, originada pela tectônica rifte, capeada por evaporitos e acima
por um espesso pacote de rochas siliciclásticas e carbonáticas marinhas depositadas
durante a abertura gradual do Oceano Atlântico Sul.
Com a intercomunicação entre o Oceano Atlântico Sul e o Atlântico Norte,
ocorreram mudanças climáticas, acarretando alternâncias entre calcilutitos e margas,
representando uma transgressão marinha com um grande aporte sedimentar e
subsidência térmica. E por fim, uma regressão marinha associada à baixa taxa de
subsidência térmica e ao aumento do aporte sedimentar.
Os turbiditos do Cretáceo Superior, adquiriram grande importância depois da
descoberta de Roncador (outubro de 1996), um campo de petróleo gigante em águas
profundas na parte nordeste da bacia. Esta acumulação, fica em reservatórios do
Maastrichtiano com net-pay total de 153 m e porosidade média de 29%, sendo
dividido em quatro zonas principais intercaladas por folhelhos. O volume de petróleo
2
recuperável estimou-se em 2,9 bilhões de barris (Rangel et al., 1998 apud Cainelli &
Mohriak, 1998).
A Petrobrás, descobriu 71 acumulações de hidrocarbonetos, sendo oito delas
campos gigantes de petróleo. Turbiditos do Cretáceo e Terciário representam quase
90% dos 7,2 bilhões de barris de reservas explotáveis da bacia. Após 25 anos de
exploração, a Bacia de Campos tornou-se a mais importante província de
hidrocarbonetos do Brasil, respondendo por cerca de 80% das reservas explotáveis
totais e 70% da produção total do país. A produção média diária em 1998 encontrava-
se em torno de 700.000 barris de petróleo, com picos de produção que chegavam a
cerca de 1 milhão de barris/dia.
Fig.1 – Mapa de localização da Bacia de Campos – modificado de (Dias et al, 1990).
3
O reservatório Namorado, um dos mais importantes plays petrolíferos da
porção rasa da Bacia de Campos, é composto por rochas de idade albiana-
cenomaniana. O Campo de Namorado (Fig.2) situa-se na Bacia de Campos, parte
norte da plataforma continental do Estado do Rio de Janeiro, posição intermediária
entre o campo petrolífero de Garoupa na plataforma continental e o campo petrolífero
de Marlim no talude. O Campo de Namorado, um dos reservatórios da Bacia de
Campos mais bem estudados e já em 1986, contava com cerca de 121 km2 de dados
sísmicos 3D processados. Além disto, apresenta uma excelente produção de óleo
acumulado, atingindo cerca de 45,3 milhões de barris/dia em dezembro de 2000.
Fig.2 – Mapa de Localização do Campo de Namorado,
modificado de (GUARDADO et al, 2000).
4
O sistema turbidítico de Namorado é o primeiro evento deposicional
importante que se sucede à implantação da megassequência marinha transgressiva da
Bacia de Campos (Bacoccoli et al., 1980), sendo fortemente condicionado por
falhamentos de origem halocinética. São depósitos bastante encaixados,
desenvolvendo amplas feições canalizadas e alongadas, gerando jazidas com uma
expressão reduzida em área, mas com grande espessura porosa associada.
A identificação de 7 facies sedimentares e 6 sub-facies (Souza Jr., 1997), a
partir da descrição de testemunhos de 14 poços do Campo de Namorado, interpretadas
como resultantes de uma tectônica gravitacional, foi de extrema importância para esta
dissertação, pois o mesmo é utilizado como parâmetro de correlação na aplicação de
novas técnicas neste trabalho, possibilitando estabelecer uma faciologia coerente para
o reservatório de Namorado.
Para caracterizar um reservatório petrolífero é necessário definir a geometria
externa e a morfologia interna do reservatório, caracterizando um modelo geológico
para o reservatório através da integração do modelo sísmico tridimensional e do
modelo conceitual geológico.
A caracterização e a modelagem de atributos de reservatório são fundamentais
para exploração e explotação de jazidas de petróleo e gás. A faciologia e a
distribuição no espaço de propriedades das rochas-reservatório e não-reservatório se
constituem em ferramentas básicas, tanto no desenvolvimento quanto no
gerenciamento da produção.
O desenvolvimento deste trabalho de pesquisa, objetiva uma caracterização do
play para as rochas reservatório e não reservatório do campo de Namorado, tendo em
vista a boa base de dados existente e o grande interesse deste tema no âmbito da
indústria petrolífera e da pesquisa.
5
Para se modelar a faciologia do reservatório de Namorado, foram aplicadas
técnicas estatísticas aos dados de poço, utilizando o conceito de eletrofácies. Além
desta ferramenta, foram utilizadas novas técnicas de análise de perfis e procedimentos
convencionais para a correlação, adequando à elaboração de modelos numéricos de
reservatório.
6
II – OBJETIVOS E RELEVÂNCIA
Este trabalho, tem como objetivo principal modelar a faciologia do
reservatório de Namorado, fornecendo subsídios necessários para a elaboração de
modelos numéricos 2D e 3D do reservatório, promovendo uma metodologia que
envolva as técnicas estatísticas disponíveis para a identificação das eletrofácies.
A caracterização e modelamento de atributos de reservatório são fundamentais
na exploração e explotação de jazidas de petróleo e gás. A faciologia e a distribuição
no espaço de propriedades das rochas-reservatório e não-reservatório, constituem em
ferramentas básicas tanto no desenvolvimento quanto no gerenciamento da produção.
Propõe-se neste trabalho:
• Aplicar as diversas técnicas de manuseio com perfis de poço,
• Caracterizar a faciologia do reservatório como: rochas-reservatório e não
reservatório;
• Gerar um modelo da geometria interna do reservatório e de sua envoltória,
• Caracterizar as regiões do reservatório segundo atributos petrofísicos de
interesse à explotação (porosidade, permeabilidade etc.);
• Gerar um modelo de distribuição de fácies reservatório e não reservatório para
uma seção 2D do reservatório Namorado;
• Aplicar técnicas de manuseio e visualização de sísmica 2D e 3D;
• Caracterizar o reservatório na seção sísmica.
7
III – CONTEXTO GEOLÓGICO
III.1 – GEOLOGIA REGIONAL
Bacia de Campos, uma das principais províncias petrolíferas do Brasil,
localizada na região sudeste do país (Fig.1), na margem leste do estado do Rio de
Janeiro (Silva, 1992), ocupa uma superfície de aproximadamente 100.000 km2,
limitada a leste pela cota batimétrica de 3.400 m (limite do Platô de São Paulo)
(Bender et al., 1989), ao Norte, pelo Alto de Vitória e ao sul, pelo Alto de Cabo Frio
(Almeida, 1960 e Asmus, 1978).
A geologia regional da bacia sedimentar de Campos, descrita através de
inúmeros trabalhos anteriores (Figueiredo & Mohriak, 1984; Asmus, 1984; Guardado,
1989; Dias et al, 1990; Souza Cruz, 1995); e outros, baseados em dados adquiridos no
decorrer de cada estudo, elaborou modelos estratigráficos e sedimentológicos a partir
destes dados.
Como exemplo, podemos citar o trabalho de Ponte et al. (1971), que
evidenciaram as primeiras deformações do super continente Gondwana, induzindo
esta deformação inicial ao surgimento da fase rift continental pela distensão da
litosfera e deslocamento divergente das placas tectônicas.
Posteriormente a década de 70, outros trabalhos foram realizados, como o de
Figueiredo & Mohriak (1984); Dias et al. (1987); Dias et al. (1990) e outros que
identificaram a evolução tectono-sedimentar da Bacia de Campos, definindo a
estratigrafia da bacia e descrevendo a movimentação halocinética no Cretáceo.
Na Bacia de Campos, a Megasseqüência Continental (Chang et al., 1988) do
Cretáceo Inferior, unidade mais antiga, com rochas sedimentares de idade Aratú a
Jiquiá (Fig.3), depositadas sobre basaltos sub-alcalinos (Mizusaki et al., 1988).
8
Em geral, os sedimentos continentais de idade Aratú a Jiquiá de toda a
margem leste são compostos por folhelhos avermelhados, intercalados com os
arenitos arcoseanos e recobertos por arenitos que variam de finos a conglomeráticos,
depositados a partir de leques aluviais e lagos interiores (Asmus, 1984).
A extrusão dos basaltos ocorreu durante as primeiras fases do rifteamento
Mesozóico, com a quebra do Supercontinente Gondwana entre o Jurássico Superior e
o Neocomiano, após o início da separação das placas Sulamericana e Africana, com a
implantação do Proto Oceano Atlântico (Souza Cruz, 1995).
No início da fase rifte, observa-se um intenso vulcanismo (Dias et al., 1987)
provocado pelo afinamento crustal e deslocamento divergente das placas tectônicas,
associado a uma tectônica extensional. O evento vulcânico datado de 120 a 130 Ma
para os basaltos, é equivalente em tempo à grande extrusão de basalto da Serra Geral
(Cainelli & Mohriak, 1998). Os basaltos da Bacia de Campos, estão presentes em
alguns paleo-altos e são produtores em alguns campos como os de Badejo e Linguado.
Segundo Dias et al. (1988) e Guardado et al. (1989), foram estabelecidas as
seguintes fácies para a Megassequência Continental (Chang, et al., 1988) para a Bacia
de Campos: (i) leques aluviais e deltáicos; (ii) margas e folhelhos lacustres; e (iii)
calcarenitos do tipo coquinas.
As fácies de leques aluviais encontram-se nas bordas proximais do rifte,
compostas por conglomerados e arenitos. Estas rochas, depositadas em condições
semi-áridas, intercalam-se lateralmente com folhelhos finamente laminados, os quais
apresentam gretas de ressecamento devido à exposição subaérea. Em ambientes
transicionais apresentam conglomerados conchíferos laminados, folhelhos marrom-
avermelhado e pequenas lentes de coquinas.
9
Fig.3 – Carta Estratigráfica da Bacia de Campos, modificada de (RANGEL, 1993).
10
As condições extremamente anóxicas do fundo do lago com águas entre
salinas e hipersalinas de afinidades alcalinas, permitiram o depósito de folhelhos
pretos ricos em matéria orgânica, principal fonte de hidrocarbonetos da Bacia de
Campos (Cainelli & Mohriak, 1998).
Acumulações de coquinas, compostas principalmente por calcarenitos e
calciruditos, apresentam-se mais desenvolvidas ao longo dos flancos e cristas dos
altos estruturais, longe do fluxo dos sedimentos terrígenos. Estas coquinas e os
basaltos fraturados são os únicos reservatórios em produção da fase rifte na Bacia de
Campos (Dias et al., 1990).
A fase seguinte é a Megassequência Evaporítica (Chang, et al., 1988),
representada por uma mudança drástica na sedimentação, indo de fácies lacustre da
fase rifte, para fácies lacustre/lagunar até evaporitos no topo da seqüência. A
sucessão litológica varia de rochas siliciclásticas do Aptiano Inferior a evaporitos que
vão do Aptiano Superior ao início do Albiano, marcando o fim do estiramento crustal
e rifteamento da crosta continental.
A halocinese ou tectônica do sal é de extrema importância na distribuição do
petróleo por toda a Megasseqüência Marinha (Chang, et al., 1988), controlando a
migração ascendente através das falhas lístricas e a distribuição das fácies superpostas
dos carbonatos e turbiditos arenosos.
Os carbonatos Albianos e também os turbiditos Albiano/Cenomanianos foram
estruturados por movimentos subjacentes do sal através de almofadas e diápiros
perfurantes, formando uma série de trapas estruturais e estratigráficas (Figueiredo &
Mohriak, 1984), apresentando grandes ocorrências na Bacia de Campos. Nesta
acomodação geram-se depósitos terrígenos (Arenito Namorado), preenchendo
depressões controladas pela tectônica salífera.
11
Em geral, a passagem da megasseqüência Transicional evaporítica (Chang, et
al., 1988) para a megasseqüência Marinha (Chang, et al., 1988) posterior é gradual e
localmente apresenta discordâncias sub-regionais de menor amplitude. O movimento
progressivo de afastamento entre a placa Sul-Americana e a placa Africana provocou
um abrupto resfriamento e contração da litosfera, resultando em crescente subsidência
térmica. A contínua subsidência provocou um mergulho da bacia em direção a
“offshore” que começou a dissipar as barreiras de restrição do Proto-Oceano Atlântico
Sul.
Parte da megasseqüência Marinha, estende do Albiano Inferior ao
Cenomaniano Superior, ainda é marcada por instabilidade ambiental com condições
hipersalinas e anóxicas. Somente próximo ao final do Turoniano começaram a
prevalecer condições marinhas cada vez mais abertas, com maio res profundidades
batimétricas controlando a sedimentação.
A Superseqüência Marinha Restrita (Chang et al., 1988), foi também
subdividida, com base nas características ambientais e litológicas, em seqüências
nerítica e hemipelágica/batial (águas profundas).
A seqüência nerítica, do Albiano Inferior ao Médio, é marcada por um
ambiente de alta energia em que foram depositados carbonatos de água rasa na
plataforma. Sobre estes, depositaram-se as seqüências hemipelágica/batial, do Albiano
Superior ao Turoniano, representando o alargamento da plataforma
contemporaneamente ao evento anóxico de amplitude global (Turoniano), compostos
por calcilutitos, margas e turbiditos arenosos, depositados em condições profundas de
neríticas a batiais (Esteves et al., 1987; Guardado & Spadini, 1987 e Guardado et al.,
1989).
12
A seqüência Nerítica Carbonática, depositada do Albiano Inferior ao Médio,
constitui-se na base pela superseqüência Marinha Restrita (Chang et al., 1988),
formada pelas rochas carbonáticas de águas rasas (calcarenitos e dolomitos), incluídos
na Formação Macaé.
As seqüências hemipelágica e batial, depositadas entre o Albiano Superior e o
Turoniano, representam o final dos carbonatos cretácicos de água rasa na margem
brasileira. Neste período, ocorreu um aumento na paleo-batimetria da margem,
culminando no depósito de um folhelho preto rico em matéria orgânica, relacionado a
um evento anóxico mundial ocorrido nas idades Cenomaniano/Turoniano.
No início do Turoniano os estratos siliciclásticos foram depositados em
condições anóxicas, em profundidades de lâmina d`água variando de 200 a 300 m
(Guardado et al., 1989). Estes arenitos turbidíticos com cerca de 200 m de espessura,
foram depositados de forma confinada em cânions e vales, controlados por falhas
devido à intensa fase halocinética. Estes turbiditos, constituem importantes
reservatórios no Campo de Namorado, estão associados a conglomerados e depósitos
de fluxo de detritos, revelando mudanças abruptas da espessura lateral.
A Superseqüência Marinha Aberta (Chang et al., 1988) marca a fase
estritamente oceânica nas bacias orientais brasileiras, caracterizada por uma relativa
estabilidade ambiental e maior diversificação biológica. Durante o Terciário, o
gradual resfriamento da crosta continental na área oceânica provocou uma crescente
subsidência, enquanto a área continental era rejuvenescida devido à crescente rigidez
flexural e à carga sedimentar (Cainelli & Mohriak, 1998).
Em seguida, um evento transgressivo curto e de extrema importância regional
ocorreu durante o Oligoceno, resultando na formação de uma fina seção condensada
de calcilutitos pelágicos e fossilíferos. Esta seção condensada é chamada “marco
13
azul” na Bacia de Campos, associada a um grande deslocamento de dezenas de
quilômetros, em direção a terra até a borda da plataforma. O “marco azul”, um
refletor sísmico contínuo de alta amplitude, sobreposto pelos mais importantes
turbiditos arenosos da Bacia de Campos.
Os arenitos turbidíticos, mais antigos do Eoceno, são controlados por vales e
cânions sindeposicionais formados pelo movimento halocinético, por isso são restritos
lateralmente embora espessos. Já os mais novos, oligocênicos, devido ao contínuo
preenchimento destas depressões, têm maior extensão lateral.
O mecanismo primário de modificação estrutural foi a atividade tectônica do
sal, causada principalmente pela carga sedimentar. A migração dos depocentros
sedimentares causadas por períodos de rebaixamento do nível relativo do mar,
associada aos movimentos do sal subjacente, resultou na instabilidade de áreas
inteiras da plataforma e talude, provocando a transferência de enormes volumes de
sedimentos em direção às bacias, tais como fluxos de massas, principalmente de
arenitos, conglomerados e diamictitos. A cada episódio de movimento significativo do
sal nas áreas da plataforma e do talude, corresponde uma superfície erosiva
generalizada (limite de seqüência), (Peres, 1993).
Estes limites de seqüências são caracterizados pela presença de falhas lístricas,
pela erosão em grandes extensões da plataforma e pela geração de cânions
submarinos, através do desenvolvimento de turbiditos no sopé do talude continental e
nas partes mais profundas da bacia.
Posteriormente, a alta taxa de sedimentação durante o Mioceno provocou a
cobertura deste complexo de turbidítos do Oligoceno com mais de 1.000 m de
sedimentos pelíticos, acarretando num grande acúmulo de sedimentos e reiniciando a
14
movimentação das camadas de sal, desenvolvendo os conjuntos de falhas lístricas que
estruturaram os reservatórios turbiditos do Oligoceno.
Em 1979, turbiditos do Cretáceo e do Eoceno tornaram-se importantes alvos
de exploração e até 1984 os turbiditos do Eoceno e do Oligoceno representavam 50%
dos alvos (Mohriak et al., 1990). A partir de 1984, as atividades exploratórias
dirigiam-se para a província de águas profundas, e por volta de 1990 os turbiditos do
Eoceno, Oligoceno e Mioceno representavam 90% dos alvos, com um índice de
sucesso exploratório da ordem de 50%. Em 1996, turbiditos Terciários respondiam
por 60% dos alvos exploratórios, os turbiditos do final do Cretáceo por 35% e os
carbonatos do Albiano por 5%, com um índice de sucesso em torno de 60%.
Os turbiditos do Cretáceo Superior adquiriram grande importância depois da
recente descoberta de Roncador (outubro de 1996), um campo de petróleo gigante em
águas profundas na parte nordeste da bacia. Esta acumulação fica em reservatórios do
Maastrichtiano com net-play total de 153 m, porosidade média de 29% e está dividido
em quatro zonas principais intercaladas por folhelhos. O volume de petróleo
recuperável está atualmente estimado em 2,9 bilhões de barris (Cainelli & Mohriak,
1998).
O grande volume de petróleo descoberto na Bacia de Campos está diretamente
relacionado ao grande potencial de geração de hidrocarbonetos indicado pelas rochas
geradoras. Estas rochas são folhelhos depositados durante a fase rifte do Barremiano e
os folhelhos apresentam teores de carbono orgânico entre 4 e 9%. Grandes
acumulações estão distribuídas em reservatórios de diversas idades, incluindo arenitos
lacustres da Megasseqüência Continental (Chang et al., 1988), arenitos marinhos da
Superseqüência Albiana Marinha Restrita e arenitos turbidíticos da Superseqüência
Terciária Marinha Aberta.
15
Fig.4 – Seção Esquemática Geológica da Bacia de Campos, representando as principais formações
estratigráficas da bacia, modificado de Dias et al., (1990).
16
III.2 - GEOLOGIA LOCAL
O Campo de Namorado, descoberto em 1975, localiza-se na porção centro-
norte da zona de acumulação de hidrocarbonetos de Bacia de Campos, a cerca de 80
km do litoral e sob lâminas de água de 110 a 250 m (Fig.2) (Souza Jr., 1997). O
reservatório, composto por rochas de idade albiana-cenomaniana, situa-se a um nível
estrutural entre –2500 e –3300 e caracteriza-se por excelente porosidade (da ordem
de 26%) e permeabilidade (cerca de 400 mD) (Souza Jr., 1997). É constituído de
corpos arenosos turbidíticos, com excelentes características petrofísicas. Segundo
Souza Jr. (1997), a trapa do óleo pode ser estrutural ou estratigráfica, apresentando
uma estrutura ao longo da direção NW-SE, sendo os hidrocarbonetos acumulados na
direção NE-SW. O arenito Namorado corresponde a um dos mais importantes “plays”
petrolíferos da Bacia de Campos na área de plataforma continental.
A tectônica post-rift da Bacia de Campos é caracterizada pela instabilidade
gravitacional dos evaporitos aptianos e pela formação dos diápiros de sal associados
às falhas lístricas sin-deposicionais. Assim, os falhamentos halocinéticos têm uma
grande importância no controle de sedimentação, sendo que os corpos turbidíticos do
campo de Namorado encontram-se encaixados nestes falhamentos. A geometria deste
reservatório é condicionada pelas falhas existentes, além de estruturas como “pinch
out and swell” que delineam o campo petrolífero estudado. A migração e acumulação
dos hidrocarbonetos são fortemente influenciadas pela tectônica halocinética.
O sistema da sub-bacia que constitui o campo de Namorado é proveniente de
depressões topográficas, geradas pelas escavações dos cânions, onde estes são
condutos para o transporte dos sedimentos da plataforma até o talude, conduzindo
através de correntes de turbidez (Souza Jr., 1997) e por sua vez erodindo o material já
17
depositado anteriormente. Os cânions são formados devido a um forte controle
tectônico associado aos processos erosivos da corrente de turbidez.
O reservatório de Namorado é caracterizado pelo desenvolvimento de corpos
arcoseanos espessos, extensiva cimentação carbonática, e boa porosidade efetiva,
ocupando a porção superior da Formação Macaé, com idades de Albiano a
Cenomaniano (Souza Jr., 1997). É composto por brechas, conglomerados e arenitos
arcoseanos intercalados com espessos pacotes de margas e lentes de calcilutitos
(Souza Jr., 1997). Sismicamente, o pacote sedimentar apresenta velocidades bastante
elevadas, tanto pela cimentação dos arenitos quanto pela intercalação com corpos de
margas e calcilutitos.
O sistema turbidítico de Namorado, segundo Souza Jr. (1997), caracteriza-se
pela formação de três sistemas de deposição, representando as diferentes fases do
reabastecimento do canal turbidítico. A primeira fase corresponde aos depósitos
grossos ligados às correntes turbidíticas de alta densidade, que formam os ciclos
granodecrescentes caracterizados pela associação vertical dos microconglomerados e
pelas areias grossas a médias maciças. A segunda fase é representada pelos depósitos
de corrente de turbidez de baixa densidade. A última fase de reabastecimento do canal
turbidítico corresponde ao sistema de deposição de mar alto, constituindo-se por uma
associação de fácies pelíticas (argilas, margas e calcilutitos), representando a
sedimentação hemipelágica da bacia.
18
III.2.1 – Faciologia do Reservatório de Namorado
Os critérios de análise e interpretação das fácies de um depósito turbidítico,
baseiam-se nos processos de transporte e no mecanismo de deposição, através de
interpretações descritivas e genéticas (Homewood et al, 1992). Na interpretação
descritiva, as fácies turbidíticas são obtidas através de alguns parâmetros observados,
como: o aporte de areia/argila, a textura sedimentar, a geometria dos planos e a
estrutura sedimentar, obtendo uma unidade turbidítica coerente (Mutti & Ricci
Lucchi, 1972 e 1975). A interpretação genética tem como objetivo principal a
identificação de um conjunto de rochas geneticamente interligadas e definidas entre
si, gerando uma seção estritamente cronoestratigráfica, apresentando como unidade
fundamental a sequência de fácies do fluxo gravitacional semelhantemente nos termos
de composição e textura.
A partir da descrição de 552 m de testemunhos em 14 poços do campo de
Namorado, foi possível distinguir 7 fácies sedimentares e 6 sub-fácies, interpretados
como resultantes de uma tectônica gravitacional (Souza Jr., 1997) (Fig.5 e Fig.6).
Em seguida, será sumarizado o conjunto de fácies e sub-fácies descrito por
Souza Jr. (1997) da base para o topo:
• Fácies F_1 : Microconglomerados e arenito com seixos
Esta fácies corresponde a fácies de canal (Fig.5), dividindo-se em duas sub-
fácies, a primeira constituída por microconglomerados poligenéticos (sub-fácies
SF_1.1), e a segunda de granulometria grossa a média, constituída por arenitos com
seixos e matriz arenosa (sub-fácies SF_1.2). A textura destas sub-fácies compreende
grânulos centimétricos de quartzo e feldspato com arredondamento de subangular a
19
subarredondado. Esta sequência é composta por uma base erosiva, formada por uma
unidade com intervalo de arenitos/grânulos sobre um intervalo de arenito médio a
grosso, caracterizando uma sequência granodecrescente da base para o topo.
Geneticamente, estas fácies correspondem aos depósitos residuais de canal ou
escorregamentos gerados pela corrente de turbidez de alta densidade.
• Fácies F_2 : Arenitos maciços
A fácies F_2 constitui a principal rocha reservatório do Campo de Namorado,
composta por arenito arcoseano representando uma fácies de canal (Fig.5), bem
selecionado e sem matriz argilosa. A granulometria varia de muito grossa a fina,
apresentando ocasionalmente na base do corpo grânulos e seixos milimétricos. As
estruturas sedimentares desta fácies correspondem a laminação plano paralela difusa e
estruturas de escape d’água. Verticalmente, o corpo arenoso se caracteriza pelo
amalgamento das sequências granodecrescentes ascendentes separadas por uma
superfície de erosão. A espessura desta sequência varia entre 60 cm e 2,0 m.
Esta fácies corresponde ao fluxo turbidítico de alta densidade, sendo o
mecanismo de deposição a sedimentação instantânea.
• Fácies F_3 : Turbiditos de Bouma de laminação espessa
Esta fácies corresponde à fácies de canal e levee (Fig.6), apresentando um
intervalo de Bouma Ta e Tab sobre os corpos mais grossos que representa a principal
característica desta fácies. Granulometricamente este corpo apresenta areias médias,
variando entre finas a grossas, com uma base erosiva e uma espessura variando entre
50 cm e 2,0 m. Verticalmente, observam-se dois padrões distintos para esta fácies: o
primeiro é formado pela sequência de areias médias sem estrutura interna, passando
20
progressivamente a areias finas de alta corrente; o segundo representa uma passagem
brusca entre as areias médias e os siltitos bioturbados. Esta fácies representa uma
deposição de corrente de turbidez com baixa densidade, caracterizada pela presença
de pequenos canais com baixa profundidade e associada aos depósitos de inundação.
• Fácies F_4 : Turbiditos de Bouma de laminação delgada
Esta fácie é formada por corpos de areias finas alternados aos corpos de argila
laminados e bioturbados. Estão ligadas às correntes de turbidez com densidades muito
baixas, associadas aos depósitos de transbordamento de canal (Fig.5) e eventualmente
depósitos de crevasse splay (Fig.6), representam um estágio avançado do sistema
turbidítico. Em função da granulometria e da espessura dos corpos grossos, esta fácies
é subdividida em duas sub-fácies, representando a evolução proximal e distal dos
depósitos turbidíticos.
A sub-fácies SF_4.1, representa as rochas mais proximais, caracterizando uma
granulometria fina a média com espessura 3,0 m. A espessura dos bancos grossos são
em média de 30 cm, com um aporte de areia / argila na ordem de 1:5 a 1:10, sendo o
contato inferior do corpo caracterizado por uma superfície de erosão. A sub-fácies
SF_4.2, representa o depósito mais distal e caracteriza-se por uma razão areia/argila
muito baixa (1:8 a 1:14).
• Fácies F_5 – Conglomerado suportado por matriz
Na parte basal do reservatório, os depósitos de fluxo de detritos são muito
abundantes, representando uma fácies de canal (Fig.5) e a quantidade, tamanho e
natureza dos elementos são bastante variados. Duas sub-fácies foram reconhecidas em
21
função da natureza dos elementos imersos na matriz argilosa: siliciclástica e
carbonática.
A sub-fácies SF_5.1, apresenta na sua base depósitos de fluxo de detritos com
elementos carbonáticos de espessura muito variada, normalmente entre 0,5 e 2,0 m,
associados aos depósitos de slumps, representando uma base erosiva. A matriz é
constituída por carbonatos da plataforma, variando entre alguns milímetros a alguns
decímetros.
A sub-fácies SF_5.2, corresponde aos depósitos de fluxo de detrito com
elementos siliciclásticos, constituídos por areia fina a média e espessura do corpo não
passando de 10 cm.
• Fácies F_6 : Slumps
As fácies de slumps apresentam uma espessura que varia entre 30 cm e 2,5 m,
constituindo-se de sedimentos finos (calcilutitos, margas, argilas e areias finas). As
estruturas sedimentares predominantes são as dobras convolutas e as dobras
atectônicas geradas por escorregamentos (slump folds) (Fig.5).
As fácies de slumps são associadas aos escorregamentos de comportamento
elástico, que envolvem um movimento de massa coesivo dos sedimentos, sendo o
plano basal de cisalhamento relacionado à instabilidade da borda do canal (Fig.6).
• Fácies F_7 : Lamitos
Os depósitos de lamitos identificados na análise se caracterizam pela
alternância entre silte, argila, margas e calcilutitos muito bioturbados, representando
fácies de transbordamento (Fig.5). A espessura destes corpos varia entre 30 cm e 7,0
m. Os calcilutitos e as margas são normalmente ricos em calci-esferulitos e
22
foraminíferos planctônicos, tendo uma característica essencialmente hemipelágica
muito bioturbada.
Fig.5 – Modelo esquemático de depósito de canal, modificado de Souza Jr. (1997)
Fig.6 – Modelo esquemático de depósito de canal e levee, modificado de (Souza Jr., 1997)
23
IV – BASE DE DADOS E METODOLOGIA
Os dados utilizados neste estudo consistem de dados geofísicos de poço,
testemunhos, petrofísicos e sísmicos do campo escola de Namorado disponibilizados
pela ANP para as Universidades. Estes dados são compostos por 65 poços (Fig.7)
com a suite de curvas: Gama Ray (GR); Resistividade (ILD); Densidade (RHOB);
Porosidade (PHIN) e Sônico (DT) no formato padrão .LAS, 5 linhas sísmicas 2D
(0038-0027, 0038-0261, 0058-0617, 0214-0173, 0241-0007) em formato SEGY
(Fig.8), um cubo sísmico 3D Migrado (0228_CAMPOS_SUL_10A) (Fig.9),
testemunhos em formato Anasete (Fig.10) e dados petrofísicos (permeabilidade,
porosidade, pressão capilar, permeabilidade relativa nos poços e propriedades de
fluidos).
Neste trabalho, foram analisados principalmente os dados de geofísica de poço
e testemunhagem. Infelizmente, devido a ausência de uma tabela
tempoXprofundidade e da disponibilidade do perfil sônico somente no nível do
reservatório não foi possível uma correlação precisa entre os perfis sísmicos e dados
de poço. Mesmo assim, foram gerados neste estudo mapas de volumes sísmicos para
visualização do sistema turbidítico e representação do reservatório (Fig.11).
Fig.7 – Mapa de localização de alguns dos poços liberados da ANP.
24
Fig.8 – Mapa de Localização das Linhas Sísmicas 2D.
Fig.9 – Mapa de Localização do Bloco Sísmico 3D.
25
Fig.10 – Testemunho de um poço liberado pela ANP
26
Fig.11 – Exemplo de um modelo sísmico 3D do Campo de Namorado.
* Confeccionado no VoxelGeo
Neste trabalho foi analisado um conjunto de dados de poço (RhoB - densidade,
Gr - radioatividade, PhiN - porosidade e dT - sônico) (Fig.12), para aplicar a
ferramenta eletrofácies. Estes dados numéricos são utilizados como informações
principais, relacionados aos dados geológicos (rochas) de testemunhos, para a
obtenção das eletrofácies no reservatório.
Concomitantemente a este processo, foram aplicadas técnicas de estratigrafia
de sequências, correlacionando lateralmente os perfis de poço, identificando “marcos
estratigráficos” e diversos episódios deposicionais.
27
Fig.12 – Exemplo de alguns Perfís de Poço (7Na11A) no Campo de Namorado.
* Confeccionado no EasyTrace
Este estudo utilizou de uma metodologia robusta que envolve técnicas
estatísticas disponíveis para a ident ificação das eletrofácies no reservatório de
Namorado, realizada anteriormente por Souza Jr. (1997), possibilitando a
identificação de rochas reservatório e não reservatório a partir da compreensão das
28
ferramentas de eletrofácies disponíveis (Fig.13). Esta técnica é muito utilizada no
gerenciamento do reservatório em firmas de grande porte para melhor compreensão
matemática do reservatório. Neste trabalho foram aplicadas novas técnicas e
ferramentas para a obtenção das eletrofácies.
A eletrofácies é definida através da interpretação da função de densidade
multivariada, onde combina-se uma análise estatística com os dados de poço
interpretados geologicamente. Para chegar a este resultado, pode-se utilizar dois
métodos de classificação: o método sob forma supervisionada ou o método sob forma
não supervisionada.
A classificação adotada neste trabalho, foi a forma supervisionada que recebe
a informação do geólogo e direciona a pesquisa conforme os dados existentes (Ex.
Petrofísica, Bioestratigrafia, etc...), determinando em seguida o número de classes a
ser obtido. Já o método não supervisionado utiliza somente as informações de perfis
de poço para definir uma interpretação, obtendo um número de classes conforme as
características da amostragem através da detecção e análise da variação da densidade
no hiper-espaço, possibilitando a detecção dos conjuntos e resultando no número de
classes a partir do número de picos da função de densidade.
Durante esta análise estatística, os dados de poço são comparados,
apresentando como característica comum somente as unidades de medida. Para esta
interpretação litológica é necessário somente utilizar os perfis que não apresentem um
grande número de parâmetros tendenciosos, pois estes influenciariam nos valores
resultantes, dificultando a interpretação do conjunto de dados. Para controlar estes
resultados é importante que se observe os padrões de cross-plots, histogramas e perfis
obtidos durante a análise.
29
Para se chegar no resultado esperado, precisa-se de uma boa estimativa da
função de densidade (modelo estatístico), aplicando dois métodos implementados no
software EasyTrace para obter uma estimativa de densidade acurada e definir as
eletrofácies a partir de informações geofísicas (perfis elétricos) e geológicas de poço
(testemunhos).
O método de kernel (K) (manual EasyTrace, 1999), consiste na derivação da
função de densidade de Kernel para obter uma suavização dos valores de histogramas
a partir da conclusão espacial de cada histograma pela wavelet gaussiana ou
Epanechnikov (manual EasyTrace, 1999), o método de aproximação dos vizinhos
(KNN) (manual EasyTrace, 1999) retrata uma estimativa da função de densidade a
partir da suavização dos valores em relação ao número de valores dos vizinhos,
controlada pela suavização da densidade estimada.
Fig.13 – Modelo de Eletrofácies - modificado de O. Serra., (1986)
30
O termo eletrofácies foi proposto inicialmente por O. Serra (1986), onde foi
elaborada uma classificação de “fácies” através de um conjunto de perfis e sua
correlação física com a rocha. Em inglês, utiliza-se o termo "wireline log" pois a
ferramenta liga-se ao registrador por um cabo. Enfim, a transmissão do dado é por um
cabo elétrico não importando se estamos medindo raio gama, sônico ou resistividade.
O. Serra (1986), propôs por eletrofácies, pois "no jargão” trata-se genericamente por
perfil elétrico toda a aquisição geofísica de poço.
Nesta dissertação, foram definidas eletrofácies a partir da interpretação da
função de densidade (modelo estatístico de eletrofácies) e correlação com os
testemunhos disponíveis. Cada modelo de eletrofácies gerado neste trabalho baseia-se
num conjunto de perfis de poço amarrado aos testemunhos (Fig.14), permitindo uma
extrapolação da interpretação para os outros poços do reservatório.
Fig.14 – Perfis de poço
amarrados aos testemunhos –
exemplo poço 7Na11A.
* Confeccionado no EasyTrace
31
O método de correlação de poço aplicado neste trabalho é um método usual,
consistindo na identificação das assinaturas dos perfis de poço através da observação
dos trechos diferenciados nestes perfis, identificando quebras e tendências típicas
(Fig.15). Após isto, observa-se um zoneamento de cada poço, tentando correlacionar
respostas de perfis similares entre os poços lateralmente estudados. Ocasionalmente,
os eventos geológicos associados a estas características do perfil são de caráter
regional e auxiliam o geofísico no mapeamento e na definição do modelo geológico
dos reservatórios de hidrocarbonetos. A técnica de correlação de poço foi utilizada
para amarrar e nivelar os poços de acordo com os eventos deposicionais, sendo esta
técnica aplicada na correlação lateral de “marcos estratigráficos”, correlacionando os
poços entre o topo e a base do reservatório.
Fig.15 – Correlação lateral de poços – exemplo correlação entre os poços: RJS42, Na02, Na19, Na04.
* Confeccionado no EasyTrace e trabalhado no CorelDraw
32
Adicionalmente, foram analisados neste trabalho os dados sísmicos 2D e 3D,
liberados pela ANP para fins didáticos. Este conjunto de dados é composto por 5
linhas sísmicas 2D e um conjunto de linhas sísmicas 3D (Fig.16), compreendendo um
levantamento sísmico realizado pela Petrobrás próximo aos Campos de Namorado,
Viola e Cherne, enfatizando principalmente o Campo de Namorado.
Para a realização do estudo sísmico, propõe-se trabalhar com ferramentas de
ponta da indústria petrolífera, utilizando softwares avançados de interpretação e
visualização sísmica. Os softwares utilizados neste trabalho fazem parte da suíte de
produtos da Paradigm Geophysical, compreendendo de programas de interpretação e
visualização de linhas sísmicas e volume sísmico, respectivamente (SeisX e
VoxelGeo), e o Map para elaboração de mapas e contornos das superfícies elaboradas.
Fig.16 - Mapa base representando as linhas sísmicas 2D e 3D do Campo de Namorado, localização dos principais poços estudados e demarcação do Campo de Namorado e seus vizinhos Cherne e Bagre. * Confeccionado no SeisX
33
Além disto, correlacionou-se alguns trabalhos anteriores para se obter uma
melhor caracterização do reservatório de Namorado, tendo em vista a falta de
informações da localização exata do reservatório em profundidade.
O trabalho de Johann (1997), foi utilizado como fundamental para a
interpretação sísmica realizada neste trabalho, pois aplica vários atributos sísmicos
para caracterizar o reservatório, como por exemplo aplicação de volumes de
impedância acústica para se extrair porosidade que correlacionada com os dados de
poço e modelo geológico de Souza Jr, (1997), caracterizam as anomalias do
reservatório. Este trabalho demonstra que as três sequências de rochas reservatório e
não reservatório encontram-se aproximadamente entre o tempo de 2475 - 2575 ms
(Fig.17) do Campo de Namorado, indicando 3 pulsos turbidíticos neste contexto.
Tentou-se neste estudo reproduzir estas anomalias, utilizando diversas técnicas
de visualização e interpretação para os dados sísmicos. Obteve-se como resposta uma
superfície canalizada e erosional, provocada possivelmente pelas correntes de turbidez
durante o transporte do material dentro do cânion.
34
Fig.17 – Modelo Sísmico do Campo de Namorado, contendo os horizontes e as sequências
mapeados por Johann (1997), correlacionáveis com os horizontes deste
trabalho (amarelo e vermelho), modificado de Johann (1997).
35
V – RESULTADOS V.1 - SÍSMICA Nas linhas sísmicas do Campo de Namorado, foram mapeados alguns
horizontes e falhas a partir de características visíveis da sísmica e pela similaridade
das estruturas comuns no contexto geológico da Bacia de Campos, utilizando como
guia os trabalhos anteriores de Johann (1997), Souza Jr. (1997) e Souza Cruz (1995).
A partir de alguns atributos sísmicos como amplitude, identificou-se diferentes
refletores sísmicos para caracterizar geometrias realísticas com o modelo geológico
proposto por Souza Jr. (1997), e próximos ao modelo sísmico gerado por Johann
(1997).
Foram identificados 3 horizontes baseando-se nas geometrias e fatores
geológicos dos nossos dados. O horizonte azul (Fig.18) representa o fundo do mar,
composto possivelmente por sedimentos finos e recentes, demonstrando uma boa
continuidade lateral. Os horizontes vermelho e amarelo foram mapeados a partir de
semelhanças da geometria de um canal entre o tempo de 2570 – 2500 ms (Fig.17),
conforme descrito por Johann (1997).
Além dos horizontes mapeados, foram interpretadas algumas falhas normais
(vermelha), que podem ser dutos (Fig.18) para a migração do óleo até as rochas
reservatório.
36
Fig.18 - Seção Sísmica 2D (linha 241) do Campo de Namorado, representando alguns horizontes
mapeados, falhas e o reservatório de Namorado.
* Confeccionada no SeisX
Analisando as linhas sísmicas interpretadas e correlacionando com os
trabalhos anteriores da área em estudo, achou-se melhor fazer um estudo mais
detalhado do horizonte vermelho mapeado, pois o mesmo horizonte apresenta
características de feições morfoestruturais e similaridade com o horizonte base do
trabalho de Johann (1997), caracterizando uma forma de canal na sísmica (Fig. 18),
onde possívelmente as fácies do reservatório estariam associada de acordo com o
trabalho de Souza Jr (1997), representados nos modelos de faciologias (Fig.5 e Fig.6).
37
Inicialmente, procurou-se rastrear o horizonte vermelho (Fig.18) da linha de
controle 0241 (Fig.16) e nas demais linhas sísmicas 2D, a partir de algumas
características, como: similaridade, tempo (aproximadamente 2500 ms), e
principalmente através dos pontos de controle da linha transversal 0241.
A partir deste mapeamento, interpolou-se o horizonte vermelho das 5 linhas
sísmicas 2D, gerando um “grid” em tempo deste horizonte entre as linhas sísmicas
(0241-0007, 0214-0173, 0058-0617, 0038-0027 e 0038-0261), representado pelo
mapa em tempo do horizonte vermelho rastreado (Fig.19).
A parte central deste mapa, representado pela cor azul, indicando uma
“profundidade” em tempo de aproximadamente 2450 ms sugere o formato de um
“possível” canal com direção N-S na porção superior, mudando para NW-SE. Esta
feição pode ser interpretada como canal alimentador do corpo turbidítico referido por
Souza Jr. (1997), representados pelas fácies de canal. (Fig.19).
Na borda deste canal, representada pela cor verde numa “profundidade” em
tempo de aproximadamente 2500 ms, possívelmente estão as fácies de
transbordamento, referido pelo Souza Jr. (1997) (Fig.19), e as cores
amarelo/vermelho representam uma “profundidade” em tempo de aproximadamente
2575 ms, representando possívelmente as fácies de escorregamento e canal de Souza
Jr. (1997) (Fig.19), ilustrado para o campo de Cherne.
38
Fig. 19- Mapa de gridagem realizado em todo o reservatório, representando um sistema canalizado; observa-se que no geral o formato do Campo de Namorado está encaixado dentro deste sistema
canalizado. * Confeccionada no SeisX e trabalhado no CorelDraw.
39
Para facilitar a visualização do corpo turbidítico, é conveniente trabalhar com
um volume sísmico, pois a visualização dos dados em 3D permite melhor
compreender as formas do corpo bem como aplicar outras técnicas mais robustas para
facilitar a visualização e carcaterizar um reservatório. Como os dados sísmicos 3D
originais estão formatados como um conjunto de linhas 2D, necessitou-se integrá-los
para transformar-se em um volume 3D (Fig.20).
Na figura abaixo (Fig.20), mostra-se o formato do volume sísmico adquirido
pelo processamento, facilitando a visualização deste cubo sob a forma de caixa, onde
pode-se visualizar o eixo Z (Time) em 2500 ms, o eixo X (Inline) ≈ 2800 e o eixo y
(Xline) ≈ 700.
Fig.20 – Bloco Sísmico 3D do Campo de Namorado com ênfase no corte do eixo Z (tempo) em 2500 ms. * Confeccionada no VoxelGeo
40
Com os resultados analisados anteriormente, gerou-se uma superfície (Fig.21)
em tempo através do mapeamento do horizonte vermelho (Fig.18), representando
nitidamente um canal erosivo. Observa-se na interceptação desta superfície com a
Inline 664, que o horizonte estratigráfico na linha sísmica apresenta uma forma de
canal, evidenciando uma erosão do horizonte anterior.
Fig.21 – Representação da superfície adquirida pelo mapeamento do horizonte vermelho, cortada pela Xline 738, visualizando as erosões provocadas pelo canal turbidítico.
* Confeccionada no VoxelGeo.
Legenda Superfície tempo (ms)
Legenda Amplitude
41
Para melhor visualizar a estrutura canalizada NW-SE, gerou-se uma superfície
em tempo referente ao mapeamento do horizonte vermelho, interceptada pela Inline
2805 (Fig.22), constituindo-se por uma depressão alongada e um traçado sinuoso
(Fig.23), com forma de cotovelo bem marcante para as curvas ou quebras do relevo
formadas por alguma barreira natural. Em geral, os cânions em planta possuem um
traçado em forma de ziguezague característico, indicando um forte cond icionamento
estrutural, esta forma é indicadora de sua atuação como zona de passagem de
sedimentos da plataforma para águas profundas, propiciando a formação de um
sistema turbidítico.
Fig.22 - Representação da superfície adquirida pelo mapeamento do horizonte vermelho, cortada pela
Inline 2805, visualizando as erosões provocadas pelo canal turbidítico.
* Confeccionado no VoxelGeo
Legenda Superfície tempo (ms)
Legenda Amplitude
42
Outra etapa realizada foi gerar uma fatia no tempo em 2500ms, ajustando a
opacidade da paleta de cores da sísmica de forma a ressaltar as amplitudes. Observou-
se posteriormente ao se sobrepôr a superfície gerada antes, que estas anomalias estão
encaixadas no canal erosivo (Fig.23) desta superfície mapeada. Indicando numa
análise inicial, que o material depositado pode ser uma possível rocha reservatório.
Fig.23 – Superfície mapeada em função do horizonte estudado, enfatizando as anomalias das amplitudes encaixadas dentro do canal erosional turbidítico.
* Confeccionado no VoxelGeo
Legenda Amplitude
Legenda Superfície tempo (ms)
Anomalias amplitudes negativas
43
Após obter a superfície analisada, foi feito um mapa suavizado (Fig.24), do
horizonte vermelho. Este mapa reflete a “profundidade” em tempo da superfície,
indicando na parte verde a “profundidade” do canal erosivo. A parte central do canal
erosivo tem uma profundidade de 2490 ms, sendo bem representada pela figura
abaixo.
Fig.24 – Mapa de “profundidade” em tempo suavizado do horizonte vermelho, mapeada no Campo de Namorado.
* Confeccionado no Map do Ge oDepth
44
Visualizando a superfície em forma tridimensional, observa-se que alguns dos
poços estão localizados sobre estas anomalias (Fig.25), indicando a possibilidade
dessas anomalias (amplitude negativas) serem os reservatórios. Analisando as
amplitudes negativas ilustradas na figura abaixo, verifica-se que estão encaixadas nos
canais, demonstrando a veracidade das rochas reservatório estarem encaixadas no
canal turbidítico, representando o resultado descrito por Souza Jr. (1997).
Fig.25 – Bloco 3D da superfície estudada, representando os poços e a anomalia das amplitudes dentro do canal erosional.
* Confeccionado no VoxelGeo
Legenda Amplitude
Legenda Superfície
Tempo (ms)
45
A seguir, mostra-se as amplitudes (Fig.26) no corte do tempo em 2500 ms,
ajustadas em função da opacidade para melhor visualização da sua forma sem
influência da superfície mapeada, observando-se contudo que a anomalia tem uma
direção N-S e em parte NW-SE conforme foi analisado anteriormente. Foram
plotados poços do reservatório, demonstrando que alguns estão sobre as amplitudes
anômalas, enfatizando que o reservatório está diretamente relacionado à deposição de
rochas reservatório pelo turbidito, conforme demonstrado na localização dos poços
produtores 8NA22, 7NA11A, 7NA17A, sobre as anomalias de amplitude negativa,
indicando que estas anomalias realmente seriam rochas reservatório com “óleo”.
Fig.26 – Representação das amplitudes no tempo 2500ms, enfatizando as anomalias no canal. * Confeccionado no VoxelGeo
Legenda Amplitude
46
V.2 – CORRELAÇÃO DE POÇOS
Num perfíl geofísico, existem vários marcos elétricos, que podem ser
correlacionados poço a poço, correspondendo cada marco deste a um pulso
sedimentar. Observa-se que o reservatório de Namorado apresenta tanto no topo
quanto na base, assinaturas bem representativas, ocorrendo uma repetição destas
assinaturas em vários poços, possibilitando assim uma boa correlação entre estes.
Deste modo, a junção de maiores espessuras com a maior persistência lateral e
a maior adequação da resolução da ferramenta geofísica (perfil de poço), permite a
delimitação ou identificação de uma assinatura contínua.
A assinatura do sistema turbidítico Namorado é representada na base dos
perfis de poço por um contraste da densidade (RhoB) e radioatividade (Gr) (Fig.27),
compativel com o contato entre as areias turbidíticas e os carbonatos de talude do
sistema sedimentar anterior (Fig.28). O topo da sequência turbidítica é bem marcado
no perfil de raios gama, pelo registro de um forte pico de radioatividade para o corpo
argiloso do final desta sequência, representando um corpo silte-argiloso da superfície
de inundação máxima.
Fig.27 - Perfil de poço representando uma quebra do contraste da densidade e da radioatividade. * Confeccionado no Easy Trace e trabalhado no Corel Draw
47
Na parte central do Reservatório de Namorado, encontra-se uma maior
espessura sedimentar, predominando as frações arenosas. Lateralmente à região
central do reservatório, ocorre uma maior intercalação das frações mais finas e um
afinamento das camadas, diminuindo a resolução geofísica para estes pacotes.
Fig.28 – Seção Geológica da Bacia de Campos, representando sucessões turbidíticas (corpos arenosos)
entre as margas (Formação Lagoa Feia), modificado (Brun & Walker, 1995).
Correlacionando um intervalo entre dois perfis geofísicos, através do método
pico-pico, onde o perfil de radioatividade Gr cai e o perfil de densidade RhoB sobe
(Fig.29), representando um marco estratigráfico. A partir deste marco estratigráfico
pode-se correlacionar quantos poços for de interesse, lembrando que quanto mais
próximos os poços um do outro maior a probabilidade de apresentarem as mesmas
características para os marcos estartigráficos.
48
Estas assinaturas se repetem, o que pode indicar pulsos sedimentares, como
sequências “finning upward” por exemplo. A partir disto, é possível identificar e
explicar várias feições importantes como altos estruturais, ou se alguma estrutura
importante desenvolveu-se durante ou após a deposição, ou ainda a ausência de
deposição ou o acúmulo de sedimentos em determinadas regiões.
Fig.29 - Correlação lateral dos marcos estratigráficos entre 4 poços verticais selecionados,
através do método pico a pico.
* Confeccionado no Corel Draw
49
Após correlacionados os marcos estratigráficos, pelo método pico a pico, foi
proposto um separação dos diversos episódios deposicionais observados nestes poços,
resultando num quadro evolutivo da deposição para a seção estudada (Fig.30). O
método consiste no nivelamento e empilhamento vertical das sequências de acordo
com a sucessão de episódios interpretados.
Fig.30 - Quadro evolutivo da deposição do Arenito Namorado na seção estudada. * Trabalhado no CorelDraw
50
Com base nos perfís geofísicos de densidade (RhoB) e radioatividade (Gr)
analisou-se dois poços (3Na02 e o 7Na07) (Fig.31), indentificando uma correlação
lateral entre os mesmos a partir das semelhanças das assinaturas dos perfís de poço.
Inserindo informações de litologia, obtidas pelos testemunhos adquiridos na ANP.
Fig. 31 – Seção esquemática de uma correlação lateral entre poços,
a partir das semelhanças entre as assinaturas geofísicas.
* Trabalhado no CorelDraw
900 m
51
Posteriormente, foi realizada uma correlação entre as litologias destes dois
poços 7Na07 e 3Na02 (Fig.32), apresentando uma seção litológica esquemática para o
reservatório, correlacionando as litologias entre os marcos estratigráficos, respeitando
os limites destes marcos estratigráficos. Foram inseridas nestes poços as fácies mais
representativas, para facilitar na correlação lateral.
Fig. 32 – Seção litológica correspondente a seção esquemática analisada.
* Trabalhado no CorelDraw
900 m
52
V.3 – ELETROFÁCIES
A correlação entre rocha-perfil e identificação de eletrofácies, permitem uma
análise das propriedades petrofísicas do reservatório. Neste trabalho, aplicou-se
técnicas estatísticas para quantificar as heterogeneidades internas do Campo de
Namorado, Bacia de Campos.
As eletrofácies são definidas através da interpretação da função de densidade
multivariada, onde combina-se uma análise estatística aos dados de poço interpretados
geologicamente.
Para se chegar a um resultado coerente, foi necessário conhecer e aplicar
técnicas estatísticas específicas, a partir do conjunto de dados dos poços verticais
localizados no Campo de Namorado (Fig.33), aplicando-se o conceito de eletrofácies.
A classificação adotada neste trabalho foi a forma supervisionada, que recebe
a informação do geólogo e direciona a pesquisa conforme os dados existentes (Ex.
Petrofísica, Bioestratigrafia, etc...), determinando em seguida o número de classes a
ser obtido. Durante esta análise estatística, os dados de poço são comparados,
apresentando como característica comum somente as unidades. Para esta interpretação
litológica é necessário somente utilizar os perfis que não apresentem um grande
número de parâmetros tendenciosos, pois estes influenciariam os valores resultantes,
dificultando a interpretação do conjunto de dados. Para controlar estes resultados, é
importante que se observe os padrões de cross-plots, histogramas e perfis obtidos
durante esta análise.
53
Fig.33 – Mapa do Campo de Namorado, enfatizando os poços verticais estudados
(modificado de Silva, 1992).
54
Inicialmente, utilizaram-se alguns dos dados de poços verticais localizados no
reservatório de Namorado, para aplicação do modelo de eletrofácies (Fig.34)
utilizando como parâmetro de tratamento de eletrofácies as variáveis de: densidade,
radioatividade, porosidade e sônico (RhoB, Gr, PhiN e dT respectivamente) (Fig.35).
Fig.34 – Exemplo da formulação de uma eletrofácies, através da limitação dos campos.
* Confeccionado no EasyTrace e Trabalhado no CorelDraw
55
Fig.35 – Conjunto de variáveis necessárias para a aplicação da eletrofácies.
* Confeccionado no EasyTrace
56
Inicialmente, para aplicar o método de elaboração das eletrofácies, foram
confeccionados histogramas para analisar preliminarmente os dados em relação a
algumas variáveis utilizadas, interpretando uma tendência bimodal para o conjunto de
dados estudados. A bimodalidade é representada nos histogramas de RhoB e dT
(Fig.36) através da concentração de duas famílias distintas, tanto na variável de
densidade quanto no sônico, enquanto que os histogramas de Gr e PhiN (Fig.37)
representam uma assimetria dos valores de radioatividade e porosidade, indicando
também tendências bimodais.
Fig.36 – Histograma das variáveis RhoB e dT do poço
3Na01, representando uma bimodalidade
* Confeccionado no EasyTrace
57
Os valores de Rhob variam de 2.05 à 2.66, sendo a média em torno de 2.33
(g/cm3) conforme o gráfico (Fig.38). Observa-se duas famílias distintas, uma em
torno de 2.27 e a outra em torno de 2.48, distinguindo-se as rochas reservatório das
não reservatório, que objetivamos caracterizar, apresentando-se sob forma simétrica.
No histograma de GR - Gamma Ray (Fig. 39), a distribuição das frequências varia de
29.2 e máximo de 107.5, e a média fica na ordem de 59.18 (API), apresentando um
histograma assimétrico, indicando nesta análise que a variável radioatividade não é
Fig.37 – Histograma das variáveis Gr e PhiN do poço 3Na01, representando uma bimodalidade dos valores.
* Confeccionado no EasyTrace
58
uma boa ferramenta para caracterização de rochas reservatório e não reservatório, pois
o arenito Namorado é arcosiano (rico em feldspato), ou seja, superestima-se a
concentração de minerais radioativos na amostragem.
Já no histograma de dT (Fig.40) os valores variam de 52.55 à 108.6 (us/ft),
sendo a média deste reservatório em torno de 89.5 (us/ft). Observa-se que esta
variável representa uma concentração elevada de sônico em 95 (us/ft), o perfil sônico
induz através de suas propriedades no cálculo da porosidade efetiva, nos tipos de
fluidos e litologia, além de auxiliar em sismogramas sintéticos para a correlação com
a sísmica. Neste trabalho, observou-se que esta variável é de extrema importância
para a caracterização de rochas reservatório e não reservatório.
A variável PhiN representada pelo histograma (Fig.41), compreende de
valores entre 3.68 à 37.52, com a média em torno de 25.42 %, esta variável
representa uma função assimétrica, apresentando uma concentração de valores de
porosidade em torno de 26%, esta variável diferencia as rochas reservatório das não-
reservatório, proporcionando mais uma ferramenta capaz de caracterizar o
reservatório a ser explorado.
Fig.38– Representação da
população do poço 3Na02, através
do Histograma de RhoB.
* Confeccionado no EasyTrace
59
Fig.39 – Representação da população do poço 3Na02, através do Histograma Gr.
* Confeccionado no EasyTrace
Fig.40 – Representação da população do poço 3Na02, através do Histograma dT.
*Confeccionado no EasyTrace
60
Fig.41– Representação da população do poço 3Na02, através do Histograma de PhiN.
* Confeccionado no EasyTrace
Inserindo-se os dados concretos (testemunhos) para cada poço, representados
pelas principais litologias caracterizadas neste projeto, faz-se uma nova amostragem
estatística dos dados das variáveis, selecionando as mais significativas para a
caracterização de rochas reservatório e não reservatório. A partir da obtenção deste
resultado, separou-se a população de amostras para rochas reservatório das não-
reservatório (Fig. 42). Observou, que as rochas não reservatório apresentam uma
concentração maior de valores em torno de 22% de porosidade, representados pela
marga em forma de um histograma simétrico, enquanto que o material fino apresenta
duas famílias distintas: uma em torno de 14% e outra em torno de 26%, demonstrando
que é possível identificar as famílias de acordo com suas características,
provavelmente uma desta família deve fazer parte da matriz, enquanto que outra
família pode representar as rochas finas selantes.
61
As rochas reservatório, demonstram um histograma de forma simétrica para os
conglomerados e arenitos cimentados, apresentando uma porosidade média em torno
de 22%, diferenciando dos arenitos arcoseanos que mostram-se sob forma assimétrica
com concentração em torno de 26% de porosidade. Esta característica assimétrica
mostra que parte deste arenito está altamente alterado devido o k-feldspato ser muito
instável, transformando-se em minerais de argila.
Fig.42 – Representação da população de rochas reservatório e não reservatório,
através da percentagem de porosidade, exemplo do poço 3Na04.
* Confeccionado no EasyTrace e trabalhado no CorelDraw
62
Para a caracterização de rochas reservatório e não reservatório, foi utilizada a
variável RhoB como sendo a principal variável para a identificação de rochas,
distinguindo-se visualmente duas famílias distintas no histograma, rochas reservatório
e rochas não-reservatório (Fig.43). As rochas reservatório são caracterizadas pelos
arenitos arcoseanos, com uma distribuição simétrica da densidade em torno de 2.25
(g/cm3). As rochas não reservatório são bem representadas pelas margas e pelo
material fino, com uma distribuição simétrica da densidade em torno 2.5 (gcm3). Estes
dados foram aplicados para a construção de gráficos de correlação entre todas as
variáveis utilizadas.
Fig.43 – Variável RhoB utilizada como sendo a principal,
para a caracterização dos seis campos específicos.
* Confeccionado no EasyTrace
63
Após a análise dos histogramas, contendo valores de máximo, mínimo e média
para todas as variáveis estudadas, gerou-se um conjunto de “cross-plots” entre as
variáveis de porosidade, radioatividade, densidade e sônico (Fig.44), representando a
distribuição dos campos de concentração das variávies em cada poço estudado através
da correlação entre duas variáveis. Nesta etapa inicia-se a aplicação da eletrofácies,
definida anteriormente através da interpretação da função de densidade multivariada,
onde combina-se uma análise estatística aos dados de poço interpretados
geologicamente.
Esta análise é aplicada para observar as concentrações dos dados em relação a
cada correlação de variável, identificando os campos de maior consistência dos dados,
obtendo como resposta a direção de trend para as diferentes famílias.
Este estudo é obtido através das diferentes propriedades físicas contidas para
cada poço, podendo se identificar algumas litoclasses para a base de dados de cada
poço. A plotagem destes dados é feita para determinar alguns parâmetros
discriminantes para o limite do corpo classificado.
Na tentativa de estabelecer as precisas relações entre os limites do corpo a ser
estudado, foi obtido um conjunto de “cross-plots” para cada poço vertical,
apresentando correlações entre Porosidade X Sônico; Densidade X Radioatividade;
Porosidade X Radioatividade; Resistividade X Densidade; Densidade X Sônico e
Densidade X Porosidade. Para ilustração deste procedimento, foi analisada
separadamente cada correlação entre duas variáveis em função das suas propriedades
físicas, utilizando os dados do perfil geofísico do poço 3Na01a.
64
Fig.44 – Conjunto de Cross-plots para os poços estudados, representando uma distribuição X-Y para
um arranjo entre as variáveis de cada poço, exemplo poço 3Na01.
* Confeccionado no EasyTrace
65
Para iniciar a aplicação estatística, verificou-se que a variável resistividade não
apresentaria influência na amostragem, descartando assim esta variável. Assim a
análise estatística dos dados foi feita, utilizando somente as variáveis representativas
para uma boa correlação (porosidade, radioatividade, densidade e sônico), pois através
de análises preliminares como histogramas e cross-plots, apresentam influência na
delimitação dos campos de maior frequência.
A primeira correlação entre os dados de Gr (radioatividade) com os dados de
PhiN (porosidade) (Fig.45), apresentou uma dispersão muito grande dos valores,
identificando somente entre 20-27% e 47.5-72.5(°API) uma família de dados bem
concentrada. Em consequência, concluiu-se que a variável radioatividade não é uma
boa ferramenta para classificar alguma família.
Fig.45 – Cross-plot da variável porosidade X radioatividade do poço 3Na04.
* Confeccionado no EasyTrace
66
Apresentando uma super-estimação de valores de alta radioatividade,
conforme foi visto na análise dos histogramas, pois os reservatórios do Campo de
Namorado são arenito arcoseanos, ricos em k-feldspato, que por sua vez são minerais
com radioatividade elevada, não podendo distinguir somente com esta ferramenta as
classes de rochas reservatório e não reservatório.
Outra correlação foi feita a partir dos valores da variável RhoB (densidade)
com os valores da variável dT (sônico) (Fig.46). Esta correlação apresenta–se
significativa, compondo aparentemente uma única concentração de dados,
representando um “trend” destes valores de 2.1%,108us/ft para 2.7%,50us/ft,
demonstrando que a variável RhoB apresenta-se pouco dispersa concentrando entre
2.1-2.7%, e a variável dT demonstrando que também tem participação para um estudo
estatístico na caracterização do reservatório, através do cálculo de porosidade efetiva.
Fig.46 – Cross-plot da variável densidade X sônico do poço 3Na04.
* Confeccionado no EasyTrace
67
Outra correlação entre os dados foi feita entre os valores da variável RhoB
(densidade) com os valores de Gr (radioatividade)(Fig.47). Nesta representação,
marca-se dois trends distintos, o primeiro variando de 2.6g/cm3,22.5°API para
2.4g/cm3,122.5°API, e o segundo trend variando de 2.52g/cm3,50°API para
2.15g/cm3,65°API, demonstrando a confiança estatística da variável RhoB neste
projeto, para a demarcação dos limites entre o conjunto de rochas. Enquanto que a
variável Gr apesar de não ser uma boa variável neste projeto, associada à densidade,
demonstra ser uma variável importante para auxiliar na demarcação dos limites das
diversas famílias de rochas deste projeto.
Fig.47 – Cross-plot da variável densidade X radioatividade do poço 3Na04.
* Confeccionado no EasyTrace
Rochas não Reservatório
Rochas Reservatório
68
E por fim, foi feita uma correlação entre os dados da variável RhoB
(densidade), com a variável PhiN (porosidade)(Fig.48), demonstrando uma boa
correlação entre estas duas variáveis, apresentando dois “trends” distintos. O primeiro
“trend” varia de 2.6g/cm3,9% para 2.4g/cm3, 29%, enquanto que o segundo “trend”
varia de 2.55g/cm3,10% para 2.2g/cm3,29%. De acordo com o resultado obtido,
observa-se que a correlação entre as duas variáveis (PhiN e RhoB) marca uma boa
representação para a identificação de famílias de rochas reservatório e rochas não
reservatório. Estatisticamente, esta correlação é de extrema importância para a
caracterização de reservatórios.
Fig.48 – Cross-plot da variável densidade X porosidade do poço 3Na04.
* Confeccionado no EasyTrace
Rochas não Reservatório
Rochas Reservatório
69
Outro resultado desta parte do projeto foi obtido a partir da vizualização do
conjunto de perfis geofísicos de cada poço estudado.
Cada campo da porosidade foi representado por uma cor distinta (Fig.49),
onde de (8-12% = amarelo); (12-16% = marrom claro); (16-20% = rosa escuro); (20-
24% = vermelho); (24-28% = verde) e (28-32% = azul), mostrando que a
concentração maior é em torno de (20-24%).
Fig.49 – Histograma de PhiN do poço 3Na04 – representando 6 campos de porosidade distintas,
demonstradas por cores (amar. 8-12; mar. 12-16; rosa 16-20; verm. 20-24; verde 24-28; azul 28-32).
* Confeccionado no EasyTrace
70
Correlacionando os dados da va riável PhiN com a distribuição da variável
RhoB (Fig.50), observa-se que o campo de porosidade vermelha apresenta duas
famílias em relação a densidade, indicando que uma família em torno de 2.5g/cm3
representando possivelmente as rochas reservatório (alta porosidade e densidade) e a
outra família em torno de 2.25g/cm3 representando rochas não reservatório (alta
porosidade e baixa densidade). O campo de porosidade verde, apresenta duas famílias
em relação a variável densidade, indicando uma densidade em torno de 2.45g/cm3
representando possivelmente rochas reservatório (alta porosidade e média densidade)
e uma família em torno de 2.25g/cm3 representando possivelmente rochas não
reservatório (alta porosidade e baixa densidade).
Fig.50 – Histograma de RhoB do poço 3Na04 – representando no histograma de densidade os 6
campos de porosidade representados anteriormente, demonstradas por cores (amar. 8-12; mar. 12-16;
rosa 16-20; verm. 20-24; verde 24-28; azul 28-32). * Confeccionado no EasyTrace
71
Os cross-plots, correlacionando as variáveis em função dos campos descritos
anteriormente para porosidade em cores, simplifica melhor os trends e as diversas
famílias conforme a percentagem da porosidade (Fig.49). Para exemplificar melhor
este resultado, podemos falar da correlação RhoB X PhiN, que demonstra dois
“trends” (Fig.51), representando as cores da porosidade conforme o campo
selecionado para cada cor.
Fig.51 – Cross-Plot de RhoB X PhiN para o poço 3Na04 – representando dois trends diferentes (rochas
reservatório e não reservatório). Os balões coloridos representam a porosidade (amar. 8-12; mar. 12-16;
rosa 16-20; verm. 20-24; verde 24-28; azul 28-32) – Este cross-plot demonstra que a variável RhoB
influência nos trends. * Confeccionado no EasyTrace
72
Se selecionarmos uma correlação (cross-plot) que não tenha como variável a
porosidade, iremos ter três variáveis representadas, como exemplo, podemos citar a
correlação RhoB X Gr (Fig.52), que representa as diversas famílias de dados
conforme a cor da porosidade que seria a outra variável. Observa-se que os amarelos
(porosidade = 8-12%), estão delimitadas na parte direita e inferior da figura; enquanto
que os vermelhos (porosidade = 20-24%), apresentam-se no centro da figura e com
uma distribuição em área muito maior, devido à grande frequência deste intervalo de
dados; a família verde (porosidade = 24-28%), é representada no lado esquerdo e
centro da figura, sendo parte desta dispersa entre o campo vermelho e parte superior; a
família azul (porosidade = 28-32), é representada no cross-plot em duas
concentrações, uma na parte esquerda do gráfico e outra na parte superior,
provavelmente esta família será uma sub-família do campo de porosidade verde; o
campo de cores marrom claro (porosidade = 12-16%) e o rosa (porosidade = 16-20%),
apresentam um “trend” da base para o topo no canto direito.
Fig.52 – Cross-Plot de RhoB X
Gr para o poço 3Na04 –
representando dois trends
diferentes (rochas reservatório e
não reservatório). As cores
representam a porosidade
* Confeccionado no EasyTrace
73
Estas correlações entre as variáveis, e o auxílio com os histogramas são de
extrema importância para um entendimento inicial de qual campo seria uma rocha
reservatório e não reservatório, que é o grande interesse para este projeto.
A partir de dados reais de poços adquiridos através dos testemunhos liberados
pela ANP, foram analisados todos os poços com testemunhos para saber os tipos de
litologias existentes, observando as principais ocorrências em quantidade. Para aplicar
estas litologias neste projeto, agrupou-se algumas litologias com outras, de acordo
com suas características físicas, ocorrências etc..., obtendo como litologia principal os
arenitos cimentados, material fino interestratificado, arenito médio gradado arcoseano,
diamictito areno- lamoso, marga e conglomerado.
Foi proposto através de análises de testemunhos e do próprio resultado inicial
das eletrofácies, o agrupamento de algumas litologias no mesmo pacote, trabalhando
com rochas que podem ser reservatório (arenitos e conglomerados) e as rochas não
reservatório (margas, folhelhos, diamictitos, siltitos, material fino), separadas de
acordo com suas características petrofísicas e a sua frequência no testemunho.
Apresentando dados estatísticos, correlacionáveis nos histogramas e “cross-
plots” em função das variáveis estudadas, indicando onde se apresentam rochas
reservatório e não reservatório.
A partir destas informações, começamos a trabalhar com dados de forma
supervisionada para iniciar a formulação de uma eletrofácies, ou seja, correlaciona-se
os dados estatísticos obtidos com os dados reais de poços (principais litologias
extraídas dos testemunhos). Através do conhecimento do intérprete, obteve-se como
resposta, um perfil geofísico de poço com algumas litologias correspondentes
(Fig.53). Como exemplo, podemos demonstrar os perfis geofísicos dT; Gr; Ild; PhiN e
74
RhoB do poço 3Na04, em relação aos testemunhos do poço. Podendo caracterizar os
conjuntos de picos referentes aos arenitos reservatórios e ao material não reservatório.
Fig.53 – Conjuntos das variáveis estudadas para o poço 3Na04, contendo a litologia referente
ao testemunho, refletindo no processo supervisionado da eletrofácies.
* Confeccionado no EasyTrace
75
Após a grande quantidade de informações obtidas, gerou-se novos cross-plots
e histogramas, demonstrando pelos histogramas a frequência de cada litologia
correspondente, representado neste projeto pelo histograma (Fig.54) e pelo cross-plot
(Fig.55) do poço 3Na04.
Fig.54 – Histograma da variável porosidade (PhiN), representando a frequência de cada
litologia para este poço. * Confeccionado no EasyTrace
Fig.55 – Cross-plot da variável porosidade (PhiN), representando a frequência de cada litologia para estee poço, demonstrando as rochas reservatório e não reservatório. * Confeccionado no EasyTrace
76
Observa-se para as rochas reservatório (Fig.56) do poço 3Na04, que os
arenitos arcoseanos e cimentados apresentam uma porosidade média de 26%, e os
conglomerados uma porosidade em torno de 22%. Já nas rochas não reservatório
(Fig.56), o material fino apresenta duas famílias de porosidade (26% e 14%), as
margas com 22% de porosidade e o diamictito com 18%.
Fig.56 – Representação em
frequência de cada litologia
do poço 3Na04.
77
Utilizando as duas variáveis melhores para representar as rochas reservatório e
não reservatório, correlacionou-se os valores destas duas variáveis em “cross-plot”,
inserindo as informações de poço reais adquiridas através dos testemunhos.
Apresentando “trends” para as diferentes litologias encontradas no poço 3Na04,
rochas reservatório (Fig.57) e não reservatório (Fig.58), demonstrada na figura a
seguir.
Fig.57 – Cross-plot da variável porosidade x densidade para o poço 3Na04,
representando os campos distintos de rochas não reservatório.
* Confeccionado no EasyTrace
78
Fig.58– Cross-plot da variável porosidade x densidade para o poço 3Na04,
representando os campos distintos de rocha reservatório.
* Confeccionado no EasyTrace
79
Esta informação é fundamental para o andamento do projeto, pois a partir do
conjunto de informações estatísticas armazenadas pelo software, chegou-se a um
modelo de densidade supervisionado (Fig.59), onde cada pico deste modelo
corresponde a uma eletrofácies distinta.
Fig.59 – Modelo de densidade supervisionado Kernel, representando cada litologia por um pico.
* Confeccionado no EasyTrace.
Tendo gerado um modelo de eletrofácies para os respectivos dados,
interpretou-se cada pico de densidade conforme a ocorrência de uma determinada
eletrofácies (Fig.60). Verificou-se com esta interpretação que o perfil de eletrofácies
obtido, representa satisfatoriamente as informações do testemunho (Fig.61), indicando
uma coerência para todo o perfil, sendo este testemunhado ou não.
80
Fig. 60 - Modelo de densidade a partir das eletrofácies respectivas, onde cada pico representa
um eletrofácies respectivamente. * Confeccionado no EasyTrace
81
Fig.61 – Comparação entre os perfis geofísicos de poço com os testemunhos X os perfis
geofísicos com as eletrofácies. * Confeccionado no EasyTrace e trabalhado no CorelDraw
82
Os últimos histogramas e “cross-plot” obtidos (Fig.57 e Fig.58) delimitam os
campos da eletrofácies, sugerindo tendências características para as rochas
reservatório e não reservatório do Campo de Namorado.
Para se obter as características principais para as rochas reservatório e não
reservatório, foi gerada uma separação entre os diversos campos de um histograma,
representando cada tipo de eletrofácies. Analisando os histogramas com as
eletrofácies de um dos poços estudados, observa-se que a variável porosidade
apresenta uma média de 25% para as rochas reservatório, enquanto que as rochas não
reservatório apresentam uma porosidade em torno de 20%, além desta variável,
podemos observar as médias para densidade, radioatividade e sônico para a rocha
reservatório e não reservatório.
Após ter obtido um modelo de densidade para cada poço, fez-se uma
correlação entre os modelos de densidade – Kernel para todos os poços (Fig.62a e b),
correlacionando os picos e as eletrofácies correspondentes, obtendo um modelo de
densidade - Kernel “padrão” (Fig.63) para aplicar em todo reservatório.
83
Fig.62a – Correlação entre os modelos de densidade de todos os poços verticais.
* Confeccionado no EasyTrace e trabalhado no Corel Draw
84
Fig.62b – Continuação da correlação entre os modelos de densidade de todos os poços verticais.
* Confeccionado no EasyTrace e trabalhado no Corel Draw
85
Fig.63 – Modelo de densidade base para a formulação e geração das eletrofácies.
* Confeccionado no EasyTrace
86
Como resultado visível do modelo de densidade, obteve-se um perfil de
eletrofácies para cada poço calculado, representando para os engenheiros de
perfuração, os possíveis pacotes para a completação (Fig.64), ou seja, pacotes que
apresentem uma espessura considerável para justificar uma completação.
Fig.64 – Modelo de eletrofácies gerado para o poço 3Na04, representando os “pacotes”
prováveis para a completação.
* Confeccionado no EasyTrace e trabalhado no Corel Draw
87
E por fim, como resultado principal deste trabalho, foram definidas seis
eletrofácies (Fig.65) baseadas em técnicas estatísticas e interpretações geológicas.
Três destas eletrofácies correspondem a rochas reservatório (EF_R_1, EF_R_2 e a
EF_R_3) e as outras três eletrofácies, correspondem a rochas não reservatórios
(EF_NR_1, EF_NR_2 e EF_NR_3). A EF_R_1 são arenitos médios arcoseanos
finamente interestratificados; a EF_R_2 representa arenitos finos a médios
cimentados; a EF_R_3 são conglomerados matriz suportados. A EF_NR_1
corresponde aos folhelhos, siltitos, argilitos, etc...; a EF_NR_2 corresponde às
margas; a EF_NR_3 aos diamictitos.
Por fim, aplicou-se este modelo para alguns dos poços do reservatório, para
obter uma eletrofaciologia nos poços que não apresentam testemunho, obtendo como
resultado principal deste trabalho a definição de seis eletrofácies, correspondendo a
rochas reservatório (três eletrofácies) e a rochas não reservatórios (três eletrofácies),
conforme demonstra-se nos perfis em anexo.
Fig.65– Modelo esquemático das 6 eletrofácies identificadas.
* (EF_R_n° = Eletrofácies Reservatório); (EF_NR_n° = Eletrofácies não Reservatório)
88
V.3.1 – CORRELAÇÃO DAS ELETROFÁCIES
Nesta parte do capítulo, correlacionou-se os poços estudados através de alguns
marcos estratigráficos importantes (Fig.66), utilizando como padrão o perfil de poço
de radioatividade (Gr), pois foi adotado para o preenchimento das eletrofácies
correspondentes a cada poço. Foram utilizados nesta fase os poços verticais 3Na01,
3Na04 e 7Na07, representando uma correlação entre o centro do corpo turbidítico
(Fig.67), pois representa uma sucessão mais espessa dos sedimentos, provocada pelo
aporte sedimentar entre as falhas adjacentes.
Fig.66 – Representação dos marcos estratigráficos utilizados para a correlação entre os poços.
* Confecionado no EasyTrace e trabalhado no Corel Draw
89
Fig. 67 – Mapa de localização representando a seção estudada (Centro do Reservatório)
(Modificado de Silva, 1992)
Em seguida, correlacionou-se os poços selecionados 3Na04, 3Na01 e 7Na07
lateralmente, a partir dos marcos estratigráficos do perfil de radioatividade (Gr),
utilizando o método pico a pico, referido anteriormente na metodologia deste trabalho.
Este resultado, foi gerado pelo intérprete a partir de semelhanças nos registros das
curvas (Fig.68), separando em diferentes sequências de deposição para o reservatório,
sendo bem representada na seção modelo interpretada da correlação das eletrofácies
entre os poços 3Na04, 3Na01 e 7Na07 (Fig.69).
90
Fig. 68 – Correlação lateral entre alguns dos poços estudados, baseada nos marcos estartigráficos
identificados. * Confeccionado no Corel Draw.
91
Como último resultado deste trabalho, foi proposta uma seção modelo (Fig.69)
entre 3 poços (7Na07, 3NA01A e 3NA04), localizados no centro do reservatório de
Namorado (Fig.67). Esta seção, é composta pela correlação lateral das eletrofácies
obtidas neste trabalho, como resultado de uma análise entre os marcos estratigráficos
destes poços.
Esta correlação foi gerada pelo intérprete, a partir da similaridade entre as
eletrofácies lateralmente, respeitando os limites representados pelos marcos
estratrigráficos, correlacionados manualmente entre os poços analisados.
Observa-se que nesta seção modelo (Fig.69), existem 3 sequências de rochas
reservatório (EF_R_1), confirmando o que Johann (1997) afirmou em sua
interpretação. Analisando a seção em questão, conclui-se que a base do reservatório é
muito bem marcada, conforme a quebra do contraste de impedância entre as sucessões
arenosas turbidíticas e o material fino / carbonático da plataforma.
A presença de 3 sequências de rochas reservatório, representadas pelas
eletrofácies EF_R_1, intercaladas no geral pelas eletrofácies EF_NR_2, demonstra os
pulsos de grande quantidade de material, justificado pelo modelo deposicional
turbidítico de Souza Jr. (1997).
As intercalações das eletrofácies EF_R_2, entre as EF_R_1, demonstra a
diminuição no aporte sedimentar, e/ou a migração lateral do canal erosional
turbidítico.
92
Fig.69 – Seção Geológica Modelo do Reservatório de Namorado, representando a distribuição lateral
das eletrofácies identificadas neste trabalho.
* Confeccionado no CorelDraw
93
VI – CONCLUSÕES
Neste trabalho, são definidas e caracterizadas espacialmente as eletrofácies de
um reservatório turbidítico da Bacia de Campos, apresentando propriedades
petrofísicas bastante diversas, onde foram agrupadas algumas fácies sedimentares em
seis eletrofácies (reservatório e não reservatório), representadas pela correlação rocha-
perfil.
A metodologia adotada, mostrou-se adequada para caracterizar o reservatório
do campo de Namorado, através de técnicas que integram a descrição, quantificação e
integração de dados geofísicos de poços, sísmicos, geológicos e petrofísicos. A
aplicação desta metodologia permitiu gerar um modelo matemático representativo do
modelo geológico, e em consequência definir a distribuição de porosidade e
permeabilidade no modelo. Estas informações, são úteis para simulação do
reservatório e da percolação de fluidos.
Através deste trabalho pode-se concluir, que com a aplicação do conceito de
elétrofácies, caracteriza-se satisfatoriamente a faciologia do reservatório,
representando de forma geral uma litologia a partir de perfís elétricos, demonstrando
ser uma ferramenta muito importante tanto para o gerenciamento e caracterização de
um reservatório (forma supervisionada), como para o setor de exploração (forma não
supervisionada).
Verifica-se que a eletrofácies apresenta-se de forma consistente, quando
representando faciologias mais significativas (maior quantidade), enquanto que
faciologias com menor expressão não se apresentam de forma bem consistente.
94
Conclui-se que a ferramenta utilizada de forma supervisionada pelo intérprete,
correlaciona-se muito bem com a litologia real.
Observou-se ainda neste trabalho, que os perfis de densidade e de porosidade
são bons estimadores para a caracterização das fácies presentes neste reservatório,
enquanto que o perfil de radioatividade, apesar de menos preciso, ainda fornece
informações adicionais relevantes para a caracterização, existindo a necessidade de
uma combinação dos perfis para uma caracterização realística de eletrofácies.
No centro do reservatório de Namorado, localizam-se as faciologias mais bem
representadas. Devido a não apresentar tanta influência de estruturas como falhas, foi
possível chegar a esta análise, através da correlação lateral entre os marcos
estratigráficos e posteriormente na correlação das eletrofácies entre os mesmos
marcos, evidenciando um pacote espesso sem afinamento lateral. Isto ocorre devido à
localização da seção no centro do corpo turbidídtico, não ocorrendo assim uma
variação lateral importante da deposição.
A técnica de correlação lateral dos marcos estratigráficos nos perfis de poço
utilizado neste trabalho, demonstra que no centro do reservatório, o pacote sedimentar
encontra-se mais espesso e com maior continuidade lateral, facilitando a correlação
das assinaturas, enquanto que ao se afastar para as bordas do reservatório, a correlação
torna-se mais difícil, devido ao possível afinamento lateral do pacote turbidítico.
E por fim, esta ferramenta mostra ser muito eficiente para obtenção de
eletrofácies, e que os modelos de fácies permitem ao geólogo entender a gênese e as
propriedades do sistema deposicional, tornando possível prever a distribuição espacial
e qualitativa dos reservatórios de hidrocarbonetos, cumprindo o objetivo através da
transformação de dados geológicos em numéricos, pelas técnicas geoestatísticas de
modelagem.
95
Obtendo como resultado principal a identificação de seis eletrofácies mapeada
neste trabalho, sendo estas: três eletrofácies de rochas reservatório (EF_R_1, EF_R_2
e a EF_R_3) e as outras três eletrofácies correspondentes a rochas não reservatórios
(EF_NR_1, EF_NR_2 e EF_NR_3).
Correlacionando estas eletrofácies entre alguns poços numa seção modelo, a
partir de similaridade lateral das eletrofácies entre os marcos estratigráficos
representado, foi possível observar a existência de 3 sequências “pulsos” de rochas
reservatório (EF_R_1), demonstrando grandes aporte de material depositado sobre os
depósitos carbonáticos.
A partir da análise sísmica realizada foi possível identificar uma superfície
local no reservatório de Namorado, que apresenta uma forma de canal erosional,
representando o canal alimentador do corpo turbidítico deste reservatório. Observou-
se ainda, que as anomalias de amplitude das rochas reservatório são negativas, e que
estão encaixadas sobre o canal turbidítico encontrado a uma “profundidade” em
tempo em torno de 2500 ms.
Correlacionando os dados sísmicos retratados, com os dados de eletrofácies
obtidos, é possível gerar uma caracterização e facilitar o gerenciamento do
reservatório.
96
VII – REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
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Sísmica
• Map – Map-Based Seismic Interpretation – Version PG2.0 Paradigm 2001.
• SeisX – Line-Based Seismic Interpretation - Versão 3.6.2
Paradigm 2002.
• VoxelGeo – Volume-Based Seismic Interpretation – Version 2.4.2-PC Paradigm 2002.
103
Poço1 – Exemplo do perfil de poço 3Na01, demonstrado pelo perfil de radioatividade (Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes.
104
Poço2 – Exemplo do perfil de poço 3Na02, demonstrado pelo perfil de radioatividade (Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes.
105
Poço3 – Exemplo do perfil de poço 3Na04, demonstrado pelo perfil de radioatividade (Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes.
106
Poço4 – Exemplo do perfil de poço 4RJS032, demonstrado pelo perfil de radioatividade (Gr), preenchido
pelas eletrofácies correspondentes.
107
Poço5 – Exemplo do perfil de poço 7Na07, demonstrado pelo perfil de radioatividade (Gr), preenchido pelas eletrofácies correspondentes.