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XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS GARANTIAS FUNDAMENTAIS LUIZ FERNANDO BELLINETTI MARGARETH ANNE LEISTER EDINILSON DONISETE MACHADO

XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS · I. Encontro Nacional do CONPEDI/UFS (24. : 2015 : Aracaju, SE). CDU: 34 Florianópolis – Santa Catarina – SC . XXIV ENCONTRO NACIONAL

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XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS

GARANTIAS FUNDAMENTAIS

LUIZ FERNANDO BELLINETTI

MARGARETH ANNE LEISTER

EDINILSON DONISETE MACHADO

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Copyright © 2015 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem prévia autorização dos editores.

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G763

Garantias fundamentais [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UFS;

Coordenadores: Edinilson Donisete Machado, Luiz Fernando Bellinetti, Margareth Anne

Leister – Florianópolis: CONPEDI, 2015.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-5505-057-2

Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: DIREITO, CONSTITUIÇÃO E CIDADANIA: contribuições para os objetivos de

desenvolvimento do Milênio

1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Garantias fundamentais.

I. Encontro Nacional do CONPEDI/UFS (24. : 2015 : Aracaju, SE).

CDU: 34

Florianópolis – Santa Catarina – SC www.conpedi.org.br

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XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS

GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Apresentação

APRESENTAÇÃO

O desafio de se efetivarem as garantias fundamentais previstas no ordenamento jurídico de

nosso país exige um amplo engajamento dos diversos setores e instituições jurídicas

contemporâneas.

A academia tem colaborado decisivamente para este processo e o Conpedi tem se firmado, ao

longo de mais de duas décadas, como um espaço fecundo para o debate sobre o tema e sua

consequente implementação como instrumento transformador para que se possa alcançar a

sociedade livre, justa e solidária preconizada em nossa Constituição Federal.

O Grupo de Trabalho Garantias Fundamentais, cujas atividades foram realizadas durante o

XXIV Encontro Nacional do CONPEDI, em Aracajú/SE, no período compreendido entre os

dias 03 e 06 de junho de 2015, confirmou essa trajetória.

As contribuições de pesquisadores de diversos Programas qualificados de pós-graduação em

Direito enriqueceram a apresentação e discussão dos trabalhos do Grupo, possibilitando a

troca de experiências, estudos e investigações visando esse contínuo processo de efetivação

das garantias fundamentais.

Do exame e discussão dos trabalhos selecionados foi possível identificar a riqueza dos textos

com investigações realizadas desde o âmbito da filosofia até as especifidades da dogmática

jurídica.

Foram apresentados e discutidos vinte e um trabalhos, que veicularam percucientes estudos e

análises sobre as garantias fundamentais vinculadas às mais diversas searas do universo

jurídico.

Gostaríamos que as leituras dos trabalhos aqui apresentados pudessem reproduzir, ainda que

em parte, a riqueza e satisfação que foi para nós coordenarmos este Grupo, momento singular

de aprendizado profundo sobre o tema.

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É por isso que temos imensa satisfação de levar à publicação mais uma obra coletiva, que

testemunha o conjunto de esforços do CONPEDI e seus associados, reunindo estudos e

pesquisas sobre a temática das Garantias Fundamentais.

Esperando que a obra seja bem acolhida, os organizadores se subscrevem.

Prof. Dr Edinilson Donisete Machado UNIVEM

Prof. Dr. Luiz Fernando Bellinetti UEL

Profa. Dra. Margareth Anne Leister - UNIFIEO

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MAÇONARIA: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO.

FREEMASONRY: TAX IMMUNITY OF ANY TEMPLES.

Raul Abreu Cruz Carvalho

Resumo

O presente artigo apresenta, inicialmente, um estudo realizado sobre o direito à liberdade

religiosa, especialmente no que diz respeito ao livre exercício da prática religiosa quanto às

minorias religiosas. Tais indagações serão consideradas sob a ótica da decisão proferida pelo

Supremo Tribunal Federal (RE Nº 562.351) que julgou no sentido a não estender imunidade

tributária à loja maçon. Noutro momento, é elaborada uma análise crítica da respeitável

decisão do Supremo Tribunal Federal sob o prisma do alcance das imunidades tributárias dos

templos de qualquer culto.

Palavras-chave: Liberdade religiosa; maçonaria; minorias religiosas; imunidade tributária.

Abstract/Resumen/Résumé

This research presents a study on the right to religious freedom, especially with regard to the

free exercise of religious practice and religious minorities. Such questions will be considered

from the perspective of the decision by the Supreme Court (RE 562 351) which ruled in order

not to extend tax immunity to Mason store. In another moment, is elaborated a critical

analysis of respectable decision of the Supreme Court in the light of the reach of tax

immunities of the temples of any cult.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Religious freedom; masonry; religious minorities; tax immunity.

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INTRODUÇÃO

Desde a Antiguidade, as sociedades são consideradas ecléticas ou mistas, assim, a

multiplicidade de etnias ou grupos sociais sempre existiu (KYMLICKA, 1996, p. 15).

Essas heterônomas sociedades trazem um grau de dificuldade no que diz respeito

ao tratamento da igualdade, especialmente quando se analisa a pluralidade de religiões

existentes.

A Constituição Federal assegura a todos a Liberdade de crença e religião, o que

implica em uma série de direitos e deveres nesta relação.

Com o advento das imunidades tributárias dos templos de qualquer culto, as

religiões ganham imunidades dos impostos, com o intuito de fomentar a prática religiosa.

Ocorre que, como há múltiplas religiões ou sociedades religiosas, aumentam o

número de entidades que buscam se beneficiar na imunidade tributária, como ocorreu com a

Maçonaria.

METODOLOGIA

Quanto ao procedimento da pesquisa, este artigo valer-se-á da coleta e análise de

dados bibliográficos (artigos, livros, etc.) e documentais (leis, sentenças, acórdãos, etc.).

No que diz respeito ao nível de profundidade ou objeto de estudo da pesquisa,

pode-se apontar que é abordada uma pesquisa exploratória, descritiva e explicativa.

Já quanto à abordagem deste artigo, é uma pesquisa qualitativa, dando ênfase ao

universo dos significados, aspirações, crenças, valores, atitudes, dentre outros fenômenos.

Vale ressaltar que, quanto ao método de abordagem, a pesquisa utilizou os métodos dedutivo

e indutivo.

A coleta do material bibliográfico deu-se mediante a aquisição particular, bem

como consulta a bibliotecas, em especial à biblioteca da Universidade de Fortaleza

(UNIFOR). Em relação à jurisprudência foi realizada consulta via internet.

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OBJETIVOS

Delimita-se como objetivos gerais conceituar e contextualizar o multiculturalismo

existente no Brasil.

Tratando-se dos objetivos específicos, será analisado a partir da proposta da teoria

do multiculturalismo, o direito à liberdade religiosa, especialmente no que diz respeito ao

livre exercício da prática religiosa quanto às minorias religiosas. É abordado o alcance das

imunidades tributárias dos templos de qualquer culto. Tais indagações serão consideradas sob

a ótica da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (RE Nº 562.351).

1 MULTICULTURALISMO E MINORIAS RELIGIOSAS

Atualmente, a diversidade cultural é marca inegável dos mais de 190 Estados-

membros da ONU. Não há hoje, Estado que não possa ser considerado multinacional ou

multiétnico (KYMLICKA, 1996, p. 14).

Para alcançar a ideia de multiculturalismo no Brasil, deve-se, primeiramente,

manter a perspectiva de pluralismo cultural, inserido na cultura brasileira.

Primeiramente, deve-se entender que as raças formadoras do povo brasileiro são:

os índios, negros e brancos. Além das inserções colonizadoras, pluralizando a etnia brasileira,

há inúmeros fatores que modificam e dão forma a identidade pátria, como os movimentos

culturais e sociais ao longo do tempo. Assim, na visão de Touraine:

O multiculturalismo é um encontro de culturas. Existência de conjunto de

culturas fortemente constituído, cuja identidade, especificidade e lógica

interna devem ser reconhecidas, mas que não são inteiramente estranhas

entre si, ao mesmo tempo são diferentes umas das outras (1997, p. 225).

A variedade de culturas no Brasil possui um caráter de identificação da cultura

brasileira, ou seja, a mistura de culturas é uma característica brasileira. São imensos os fatores

que justificam tal disseminação de cultura.

Primeiramente, pode-se apontar a imigração, que ocorre desde a época dos

portugueses no processo de colonização. Não somente os portugueses, mas imigrantes no

contexto mundial. Em decorrência dessa discrepância cultural, existiram fatores

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discriminatórios que ensejaram a emergência de minorias, como a escravidão, a partir da qual

se tem a conclusão de que a cor seria objeto de negação.

A cultura brasileira, assim como as demais, possui variáveis de modificação,

sejam estas por invasões, imigrações, movimentos, fazendo com que, a identidade pátria seja

heterônoma e pluralista.

Fixando a ideia de pluralismo cultural incidente no Brasil, tem-se como

consequência a presença de que o multiculturismo, apesar de ser comum no contexto mundial,

traz uma série de problemas que necessitam ser observados. Portanto, a plasticidade cultural

deve ser cautelosamente observada. Assim afirma Ortiz:

Numa sociedade como a nossa, o problema se coloca de maneira diferente;

pode-se datar o momento da emergência da história mítica, e não é difícil

constatar que essa fábula é engendrada no momento em que a sociedade

brasileira sofre transformações profundas, passando de uma economia

escravista para outra do tipo capitalista, de uma organização monárquica

para republicana, e que se busca, por exemplo, resolver o problema da mão-

de-obra incentivando-se a imigração europeia (2006, p. 38).

A multiplicidade cultural já é um critério identificador do povo brasileiro, ou seja,

a mistura de culturas é uma característica do Brasil, como dito anteriormente.

Como consequência da pluralidade cultural, ou melhor, das variadas culturas

existentes em um mesmo local, tem-se o multiculturalismo. A diversidade cultural é uma

realidade global, já que poucos países possuem a completa homogeneidade cultural.

Na modernidade, diante dos grupos sociais, derivados do multiculturalismo,

devem-se conferir tratamentos diferenciados para garantir o tratamento igualitário. Pode-se

afirmar que, o crescimento em massa da população em culturas diversificadas já seria um

grande apontamento. Contudo, a variedade cultural não pode ser vista apenas como um

problema. A diversidade de culturas, como já visto, faz parte do processo histórico de uma

nação.

Vale ressaltar que o problema estaria precisamente ligado à harmonia desses

povos distintos, ou melhor, como o Estado deverá agir diante de tantas diferenças.

Acerca do multiculturalismo, Semprini aponta de onde deriva a definição de

minorias:

Ela concentra sua atenção sobre as reivindicações de grupos que não tem

necessariamente uma base “objetivamente” étnica, política ou nacional. Eles

são movimentos sociais estruturados em torno de um sistema de valores

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comuns, de um estilo de vida homogêneo, de um sentimento de identidade

ou pertença coletivos, ou mesmo de uma experiência de marginalização.

Com frequência é esse sentimento de exclusão que leva os indivíduos a se

reconhecerem, ao contrário, como possuidores de valores comuns e a se

perceberem como um grupo à parte (1999, p. 44).

Como resposta à diversidade cultural, o Estado deve criar mecanismos que

possam harmonizar as diferenças preexistentes. Quando observados exclusões sociais, o

Estado deverá agir de forma pontual.

Para outra parte da doutrina, o Multiculturalismo deve ser tratado como teoria e

não como fenômeno, abordado anteriormente.

Nesta esteira, Lopes afirma:

O Multiculturalismo é a teoria que defende a valorização da cultura dos

diversos grupos que compõem a humanidade, que defende que ser diferente

não significa ser nem melhor nem pior do que ninguém, que é contra a

uniformização ou padronização do ser humano, que valoriza as minorias e

suas especificidades e que entende que o mais valioso que tem a humanidade

é sua diversidade (2006, p. 5, online).

Assim, conforme Santos, também é chamado de pluralismo cultural ou

cosmopolitismo, a busca pelo reconhecimento e respeito das diversidades culturais:

A expressão multiculturalismo designa, originalmente, a coexistência de

formas culturais ou de grupos caracterizados por culturas diferentes no seio

das sociedades modernas [...]. Existem diferentes noções de

multiculturalismo, nem todas no sentido “emancipatório”. O termo apresenta

as mesmas dificuldades e potencialidades do conceito de “cultura”, um

conceito central das humanidades e das ciências sociais e que, nas últimas

décadas, se tornou terreno explícito de lutas políticas (2013, p. 1, online).

Para que possa ser considerado um grupo social, pertencente a uma minoria, deve-

se afirmar que, diante de determinados grupos sociais, seja perceptível a exclusão social

destes, que encontram-se em situação de vulnerabilidade, no contexto geral da sociedade

pátria.

Vale salientar que cada indivíduo pertencente a determinado grupo social possui

sua identidade peculiar, assim como o próprio grupo possui outra, sendo harmoniosa ou não

com seu integrante. Neste sentido leciona Lewin:

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A essência de um grupo não reside na similitude ou dissimilitude de seus

membros, senão em sua interdependência. Um grupo pode ser caracterizado

como um todo dinâmico: isto significa que uma mudança no estado de uma

das partes ou membros do grupo varia em todos os casos, entre uma massa

sem coesão alguma e unidade composta (1973, p. 56).

Em outro contexto, quando diante de um grupo social, é necessário identificar sua

etnia, ou melhor, seus anseios, crenças, opiniões, etc., como afirma Cunha Jr. (apud

Vasconcelos; Ribeiro, 2004, p. 60):

A etnia é inicialmente uma categoria antropológica, definindo uma dimensão

de grupo, tendo caráter politico, abordando limites de caráter linguístico,

cultural e religioso. O grupo étnico é designativo de um conjunto

populacional; podendo ter origens biológicas, culturais ou míticas. No caso

da etnia, é como uma marca onde os membros reconhecem seus próprios,

dentro de uma ordem simbólica.

A relevância das informações apresentadas até agora implicam em identificar a

diversidade cultural preexistente. E, diante da necessidade do tratamento diferenciado entre os

grupos sociais inseridos em uma mesma comunidade, tem-se a importância de analisar as

minorias religiosas, assegurando o livre exercício do direito à liberdade religiosa.

1.1 DIREITO À LIBERDADE RELIGIOSA

Antes de adentrar no tema, faz-se necessário que se reflita sobre o princípio da

separação entre Estado e religião, conhecido como laicidade estatal (GOMES DA SILVA,

2012, p. 92).

O Estado laico é aquele que, conforme disposto na constituição, não poderá adotar

ou instituir uma religião oficial e nacional1.

Ressalta-se que a laicidade estatal não interfere na liberdade de crer ou não em

qualquer religião. Pelo contrário, o constituinte de 1988 garantiu o livre exercício a qualquer

manifestação religiosa, conforme artigo 5º, VI e VIII da CF/882. Neste sentido:

1 Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos

religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus

representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de

interesse público (BRASIL, 1988).

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A cláusula do livre exercício significa que todos os indivíduos podem ter

uma religião, podem mudar de religião – apostasia – ou, [...] de não ter

religião, de não crer [...], ser agnóstico, indiferente ou cético [...]. O só fato

de ter havido essa positivação permite afirmar que, quando em conflito o

livre exercício da religião e a laicidade estatal, há a necessidade de se

acomodarem os direitos que estão em rota de colisão (GOMES DA SILVA,

2012, p. 93).

Da análise realizada, sabe-se que a Constituição Federal de 1988, assegura a

liberdade de consciência e de crença, garantindo o livre exercício dos cultos religiosos,

liturgias e locais de culto. Nesta esteira:

[...] liberdade de consciência não se confunde com a de crença. Em primeiro

lugar, porque uma consciência livre pode determinar-se no sentido de não ter

crença alguma. Deflui pois da liberdade de consciência uma proteção

jurídica que incluiu os próprios ateus e os agnósticos. De outra parte, a

liberdade de consciência pode apontar para uma adesão a valores morais e

espirituais que não passam por sistema religioso algum. Exemplo disso são

os movimentos pacifistas que, embora tendo por centro um apego à paz e o

banimento da guerra, não implicam uma fé religiosa (Bastos apud Brega

Filho; Alves, 2008, p. 3574).

Tal reconhecimento acerca da liberdade religiosa como direito fundamental, no

Brasil: “é uma luta histórica que remonta a Proclamação da República, quando houve um

reposicionamento das relações que haviam entre o Estado e a Igreja” (BREGA FILHO;

ALVES, 2008, p.3575).

Portanto, a liberdade de crença amplia o campo de proteção no que diz respeito ao

livre exercício das religiões ou manifestações religiosas. Ressalta-se que, não somente as

religiões institucionalizadas, mas todas as expressões religiosas:

[…] toda religião contém um segundo elemento: o rito ou culto. Para que a

liberdade religiosa exista, é preciso que cada um seja inteiramente livre para

praticar qualquer culto religioso, que ninguém possa ser molestado por ele,

nem impedido, direta ou indiretamente, de praticar o culto correspondente a

suas crenças religiosas, e, o inverso. […] a liberdade religiosa é, pois,

2 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: VI - é inviolável a liberdade de

consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma

da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VIII - ninguém será privado de direitos por

motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de

obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei (BRASIL,

1988).

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encarada assim, essencialmente a liberdade de culto (Duguit apud Brega

Filho; Alves, 2008, p. 3576).

Em contrapartida, sabe-se que o direito fundamental à liberdade de crença,

religião e culto não são absolutos. E, a título de exemplificação, menciona-se que alguns

tribunais têm operado reduzindo o direito à liberdade religiosa e restringindo a proteção

constitucional ao culto objetivo, ou aos lugares de culto. Implica que, devem organizar-se de

acordo com as normas legais aplicáveis, sem observar a existência de práticas de culto que

transcendem materialmente os templos, principalmente as normas de conduta e a moral, que

são intrínsecas a todas as organizações religiosas (BREGA FILHO; ALVES, 2008, p.3575).

Assim, salvaguardados as disposições legais, o Estado deve conceder a liberdade

religiosa em virtude dos cidadãos possuírem tais liberdades. A restrição a prática religiosa não

deve coexistir.

1.2. MAÇONARIA

Antes de entrar em conceitos sobre o tema, faz-se necessário a comparação entre

religião e religiosidade. Tal proposta demonstra-se importante em razão de que muitos

compreendem que a Maçonaria não é religião, mas é religiosa (ALMEIDA FILHO, 2001, p.

5).

Para Almeida Filho:

Muitas pessoas confundem o fato de uma pessoa não possuir determinada

religião com o fato de ela ser atéia – o que não é uma realidade. Dentro desta

linha de raciocínio, temos os aconfessionais, ou seja, aqueles que crêem em

um Ente Superior, mas que não praticam qualquer tipo de religião, dentre as

que estamos acostumados – catolicismo, messianismo, espiritismo etc (2001,

p. 5).

Em muitas ocasiões o termo religião provoca dúvidas e leva a conceitos

deturpados do que realmente venha a ser religião. No que se refere a religar, não haveria

necessidade de subsistirem várias religiões, dissidências, ou mesmo conflito entre elas.

Bastaria crer em Deus para uma perfeita convivência entre os homens (ALMEIDA FILHO,

2001, p. 5).

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Já a religiosidade: “diz respeito à crença e está muito mais ligada à pessoas do que

a grupos que professam uma crença específica de uma religião” (ALMEIDA FILHO, 2001, p.

5).

Para Almeida Filho, determinada pessoa pode ser religiosa sem que participe de

qualquer das religiões conhecidas. Se há a crença em um Ente Superior, há religiosidade,

apesar da pessoa não estar ligada a qualquer religião (2001, p. 5).

Neste sentido, no momento em que um Maçom crer em um Ente Criador, ele é

sem dúvida um religioso, pois se encontra em estado perpétuo de religação com Deus - G∴

A∴ D∴ U∴ (ALMEIDA FILHO, 2001, p. 5).

Segundo Almeida Filho:

A Maçonaria é uma sociedade devidamente organizada e, como tal, calcada

em normas basicamente parecidas com as do Direito Natural. Tanto assim os

landmarks onde se vislumbra que um Maçom jamais poderá ser um ateu

estúpido ou um irreligioso libertino (2001, p. 8).

Portanto, é perceptível que a Maçonaria, conforme seus adeptos não se tratam de

uma religião, mas de uma sociedade que crê no Grande Arquiteto do Universo que, em outras

religiões seria considerado um Deus.

Além de leis e regulamentos, a Maçonaria se organiza através de poderes

executivo, legislativo e judiciário (WILGES, 1994, p. 137).

Sabe-se que, indiscutivelmente, até mesmo o Direito é religioso, assim como a

Maçonaria, o que não implica em tratá-los como religião propriamente dita.

Conforme abordado no item anterior, o Constituinte de 1988 garantiu o livre

exercício a crença, culto e religião. Portanto, a Maçonaria, dotada de religiosidade é uma

demonstração de crença, embora não se enquadre como religião.

2 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS RELIGIOSOS

A imunidade tributária é uma limitação do poder de tributar, prevista na

Constituição Federal que impede a instituição de impostos, levando em consideração valores

políticos, éticos, sociais, religiosos, etc.

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A imunidade dos templos religiosos possui natureza subjetiva, em virtude de

haver necessidade de se valorar se determinada expressão religiosa ou templo religioso estão

assegurados pelo Constituinte.

Na verdade, o Art. 150, VI, “c”3 da CF/88, que trata sobre a imunidade dos

templos de qualquer culto, apenas menciona tal garantia e, não há lei que regulamente o que

vem a ser ou não um tempo religioso. Por esta razão, confirma a indagação acima proposta de

que os templos religiosos possuem natureza subjetiva e carecem de fundamentação, a

depender de caso a caso.

Além da subjetividade de saber se está diante ou não de uma religião, ainda há a

problemática a respeito do que estaria imune. Se somente o templo onde há as reuniões

religiosas ou asseguraria tal imunidade ao estacionamento da igreja, por exemplo. Sobre o

assunto acrescenta Lima Silva:

[…] a imunidade tributária se restringe apenas a impostos sobre o patrimônio

da organização religiosa, sua renda e os serviços por ela prestados, e desde

que estejam diretamente ligados à finalidade essencial da entidade, ou seja,

propagar a sua crença religiosa. Excluem-se da seara das imunidades os bens

imóveis utilizados com finalidades tão somente comerciais e econômicas, as

mercadorias vendidas a terceiros (ex. cartões, cartazes, estátuas, livros e

roupas com imagens de santos), terras improdutivas, prédios comerciais e

terrenos usados como estacionamento nas imediações dos templos) (2013,

Online).

Portanto, é necessário vislumbrar a finalidade de atividade religiosa. Sobre o

tema, a atual jurisprudência do STF (RE 325.822-2) debruça-se em ampliar à interpretação

das atividades econômicas dos templos. Contudo, um estacionamento de propriedade da igreja

em que se verifica a aferição de ganho econômico para os não praticantes da religião, não

estaria imune a tributação (2002, Online).

Sobre a extensão da imunidade assegura Godoi:

Tradicionalmente, a jurisprudência do STF encarava de maneira mais

restritiva a imunidade dos templos (art. 150, VI, b da Constituição de 1988 e

art. 19, III, b da Carta anterior) e de maneira mais extensiva a imunidade das

instituições de educação sem fins lucrativos, de assistência social etc. (art.

150, IV, c da Constituição de 1988 e art. 19, III, c da Carta anterior). As

razões para tal duplicidade de critérios foram expostas pelo Ministro

Sepúlveda Pertence em seu voto no RE 237.718. Observou o Ministro que a

3 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: b) templos de qualquer culto (BRASIL, 1988).

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imunidade dos templos não pode chegar a constituir um incentivo ou

subsídio à manifestação religiosa, por isso somente alcança os templos e

suas dependências, (tais como claustros, conventos, pátios e estacionamentos

para os fiéis), não incluindo imóveis da instituição religiosa destinados a

outros fiéis ou alugados a terceiros. Já no caso das instituições de assistência

social ou de educação sem fins lucrativos, a imunidade consubstancia norma

de estímulo estatal ou sanção premial destinada a que as instituições

continuem prestando serviços que o próprio Estado deveria se encarregar de

prestar, daí a necessidade de sua interpretação extensiva (2006, p. 46).

Acrescenta Danieli Filho e Pilau Sobrinho:

[…] as regras de imunidade de templos de qualquer culto receberam da

jurisprudência do STF uma interpretação teleológica com objetivo de

estímulo em termos de concretização de valores constitucionais. Desse

modo, o Supremo consolidou o entendimento no sentido de que essa espécie

de imunidade vai além do “edifício religioso” para alcançar outros bens de

propriedade de igrejas tais como conventos, casas paroquiais e seus anexos e

dependências (2010, p. 6196).

Como se verifica, acerca da extensão da imunidade ao patrimônio de bens de um

edifício religioso, a jurisprudência do STF utiliza-se de uma interpretação teleológica e

extensiva, onde primeiramente se busca analisar a finalidade econômica do bem almejado e

subsidiariamente aplica-se de maneira extensiva, já que o Constituinte não tratou na CF/88.

Vale ainda ressaltar que, quando o Constituinte garante a imunidade dos templos

de qualquer culto, está relacionado apenas aos impostos, exceto as taxas e contribuições.

Percebe-se que as discussões traçadas no Judiciário, na maioria das demandas

versam sobre a extensão ou não de determinado edifício religioso ser contemplado com a

imunidade, como analisado anteriormente.

Já em relação à imunidade religiosa gênero, a ser aplicada ou não para

determinada religião, será abordada no próximo momento.

3 RECURSO EXTRAORDINÁRIO N 562.351

O Recurso Extraordinário 562.351, fora interposto pela Loja Maçônica Grande

Oriente do Sul, localizada em Porto Alegre/RS, com o objetivo de afastar a cobrança do

IPTU, em virtude da imunidade tributária, com fulcro nas alíneas "b" e "c", do art. 150, VI,

da CF.

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No presente estudo, será analisado apenas o fundamento proposto com base na

alínea “b” que trata sobre os templos religiosos, em razão da temática do trabalho.

Diante do caso em questão, o Procurador Geral da República aponta:

RE. MAÇONARIA. IMUNIDADE DE IPTU. TEMPLO E CULTO.

IMPLICAÇÕES. 1. Mesmo que não se reconheça à Maçonaria (Grande

Oriente do Rio Grande do Sul) como religião, não é menos verdade que

seus prédios são verdadeiros Templos, onde se realizam rituais e cultos,

sobre a proteção de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, objetivando

elevar a espiritualidade do homem, a ética, a justiça, a fraternidade e a paz

universal. 2. Seus Templos têm direito à imunidade de tributos, consoante

o art. 150, inc. VI, letra „b‟, da Constituição Federal (2010, Online).

Já para o relator Ministro Ricardo Lewandowski, o ponto de partida e

fundamento “chave” para a resolução do conflito foi demonstrar que a Maçonaria, na

acepção do termo, não seria uma religião e sim uma ideologia, conforme decisão a quo:

A prática Maçom é uma ideologia de vida. Não é uma religião. Não tem

dogmas. Não é um credo. É uma grande família apenas. Ajudam-se

mutuamente, aceitando e pregando a idéia de que o Homem e a

Humanidade são passíveis de melhoria e aperfeiçoamento. Como se vê,

uma grande confraria que, antes de mais nada, prega e professa uma

filosofia de vida. Apenas isto. De certa forma, paradoxal, pois ao mesmo

tempo em que prega esta melhoria e aperfeiçoamento do Homem e da

Humanidade, só admite em seu seio homens livres (não mulheres) e que

exerçam profissão (afirma que deve ser uma „profissão honesta‟) que lhes

assegure meio de subsistência. Os analfabetos não são admitidos, por não

possuírem instrução necessária à compreensão dos fins da Ordem (2010,

Online).

Acrescenta, “Verifico, então, que a própria entidade declara enfaticamente não

ser uma religião e, por tal razão, parece-me irretocável a decisão a quo, a qual, quanto ao

tema consignou (2010, Online)”.

Para Lewandowski, a questão central está em saber se a referência a “templos

de qualquer culto” alcança a maçonaria e, se está é ou não uma religião. Pois, segundo o

ministro, a Constituição conferiu imunidade tributária aos “templos de qualquer culto”,

assim, restrito aos cultos religiosos (2010, Online).

Contudo, diferentemente do que se arguir o ministro relator e os demais que

foram no mesmo sentido e fundamento, o Ministro Marco Aurélio se manifestou de

maneira contrária:

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Ora, há inequívocos elementos de religiosidade na prática maçônica. No

mais, atentem para a norma constitucional: ela protege o culto. E este

consiste em rituais de elevação espiritual, propósitos intrincados nas

práticas maçônicas, que, se não podem ser classificadas como genuína

religião, segundo a perspectiva das religiões tradicionais – e o tema é

controverso –, estão dentro do escopo protetivo da Constituição de 1988.

Sem dúvida, certas limitações ao ingresso em algumas lojas maçônicas

causam perplexidade, pois possuem natureza anacrônica (2010, Online).

Acrescenta:

Acontece que algumas religiões também estabelecem restrições sobre a

vida de seus fiéis, ingerem em comportamentos públicos e privados. A

ancestralidade das religiões traz consigo os preconceitos do passado, os

quais não impedem o reconhecimento público de seus valores. Ante o

quadro, conheço parcialmente do recurso e, nessa parte, dou-lhe

provimento, para reconhecer o direito à imunidade tributária dos templos

em que são realizados os cultos da recorrente. É como voto (2010,

Online).

Percebe-se que como mencionado, o embate se dá precisamente em saber se a

Maçonaria é ou não religião e, para a maioria dos ministros não pode ser considerada uma

religião em virtude de seus próprios integrantes não considerá-la como tal.

Assim, pelas razões e fundamentos expostos, foi negado provimento do referido

recurso, não aplicando a imunidade tributária como pleiteada.

Acredita-se que a decisão encontrada pelo STF parece coerente e acertada.

Primeiramente, em razão de a Constituição Federal dispor sobre imunidade tributária aos

templos religiosos, isto implica uma religião instituída.

Com esta decisão não se busca restringir a liberdade de crença, consciência ou

religião, pelo contrário, em várias ocasiões os ministros ressaltaram o livre exercício de

crença. O que se verifica é a concessão de imunidade tributária que, diante do estudo

realizado verifica-se que a interpretação deva ser restritiva, neste ponto, evitando que

novas manifestações religiosas confundam-se com religiões propriamente ditas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seja por se tratar de religião ou liberdade de crença, a Maçonaria está assegurada

e prevista como direito fundamental, nos termos do artigo 5º, VI da Constituição Federal de

1988.

Tal liberdade assegura o livre exercício de manifestar crenças e religiões.

A concessão de imunidade tributária aos templos de qualquer culto previstos na

Constituição Federal, devem ser interpretados de forma restritiva, em razão da finalidade da

norma de garantir imunidade apenas as religiões.

Embora a maçonaria seja religiosa, não é considerada uma religião pelos seus

integrantes e pela sociedade, razão esta que impede a concessão de imunidade tributária nos

termos do Art. 150, VI, “b”.

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