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XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS DIREITO AMBIENTAL E SOCIOAMBIENTALISMO LIVIA GAIGHER BOSIO CAMPELLO NORMA SUELI PADILHA CARLOS FREDERICO MARÉS FILHO

XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS · Todos os direitos reservados e protegidos. ... Plano Nacional de Saneamento Básico: ... problematizando os conceitos de desenvolvimento,

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XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS

DIREITO AMBIENTAL E SOCIOAMBIENTALISMO

LIVIA GAIGHER BOSIO CAMPELLO

NORMA SUELI PADILHA

CARLOS FREDERICO MARÉS FILHO

Copyright © 2015 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem prévia autorização dos editores.

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D598

Direito ambiental e socioambientalismo [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UFS;

Coordenadores: Carlos Frederico Marés Filho, Livia Gaigher Bosio Campello, Norma Sueli

Padilha – Florianópolis: CONPEDI, 2015.

Inclui bibliografia ISBN: 978-85-5505-034-3

Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: DIREITO, CONSTITUIÇÃO E CIDADANIA: contribuições para os objetivos de

desenvolvimento do Milênio.

1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Direito ambiental. 3.

Socioambientalismo I. Encontro Nacional do CONPEDI/UFS (24. : 2015 : Aracaju, SE).

CDU: 34

Florianópolis – Santa Catarina – SC www.conpedi.org.br

XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS

DIREITO AMBIENTAL E SOCIOAMBIENTALISMO

Apresentação

A obra que ora apresentamos reflete o desenvolvimento da produção científica e acadêmica

do Direito Ambiental, no âmbito do grupo de trabalho Direito Ambiental e

Socioambientalismo, que aconteceu no XXIV Encontro Nacional do CONPEDI, na

Universidade Federal do Sergipe UFS, no mês de junho/2015, na cidade de Aracajú.

Trata-se de uma coletânea permeada por profundas ponderações, análises e rediscussões, não

apenas adstritas à retórica do positivismo jurídico, mas sobretudo pautada por uma unidade

ética e filosófica que converge para transformar a cultura social, econômica e política de

práticas não sustentáveis, de agressão e degradação ao meio ambiente.

A proteção do meio ambiente, em toda sua abrangência e complexidade, demanda dos

pesquisadores, não apenas da área jurídica, extrema dedicação e aprofundamento dos

estudos. Nesse contexto, a presente coletânea expõe artigos científicos inéditos, os quais,

dada a qualidade de seus autores e da pesquisa empreendida por cada qual, transformam a

obra em uma contribuição inestimável para aqueles que desejam se aprofundar na

compreensão da proteção jurídica do meio ambiente em seus mais diversos e densos aspectos.

Com efeito, para se ter uma ideia das sensíveis temáticas aqui desvendadas, cumpre-nos

ainda que brevemente mencioná-las: (i) Aspectos axiológicos da responsabilidade civil

ambiental decorrente de sentença penal condenatória por crime contra o meio ambiente: uma

in(feliz) realidade brasileira a ser pensada, intensa reflexão apresentada por Elcio Nacur

Rezende e Luiz Gustavo Gonçalves Ribeiro. (ii) Uma análise da Política de Sustentabilidade

pratica pelas empresas: Avon Mundial e Natura S.A., do ponto de vista da ética animal,

preocupação explicitada por Roberta Maria Costa Santos. (iii) O socioambientalismo como

marco determinante para o desenvolvimento territorial do estado do Amapá, compreensão

adotada por Maria Emília Oliveira Chaves. (iv) O papel do Ministério Público eleitoral no

crime de poluição em campanhas políticas, análise desenvolvida por Eriton Geraldo Vieira.

(v) O exercício da competência municipal legislativa concorrente em matéria ambiental no

Município de Pelotas, examinado por Carlos André Hüning Birnfeld e Rodrigo Gomes

Flores. (iv) Liquidação e efetividade da tutela coletiva ambiental, estudada por Juliana Rose

Ishikawa da Silva Campos e Marcelo Antonio Theodoro. (vii) Plano Nacional de

Saneamento Básico: instrumento fundamental para a reconquista da capacidade diretiva do

Estado na condução das políticas públicas que envolvem o setor de saneamento, demonstrado

por Adriana Freitas Antunes Camatta e Beatriz Souza Costa. (viii) O valor cultural do

Encontro das Águas entre os Rios Negro e Solimões como fundamento para o seu

tombamento, defendido com entusiasmo por Tatiana Dominiak Soares e Thirso Del Corso

Neto. (ix) A avaliação de impacto ambiental como instrumento de concretização do princípio

da precaução, explicitada por Natalia de Andrade Magalhaes e Marilia Martins Soares De

Andrade. (x) A tributação em prol do meio ambiente do trabalho: uma análise da

contribuição para o seguro de acidentes de trabalho, brilhantemente destacada por Valmir

Cesar Pozzetti e Marcelo Pires Soares. (xi) Meio ambiente e fundamentos ético-morais e

filosóficos: o despertar da conscientização ecológica, anunciada com propriedade por

Kiwonghi Bizawu e Marcelo Antonio Rocha. (xii) Um retrato histórico das audiências

públicas de licenciamento ambiental do estado do Amapá, demonstrado didaticamente por

Linara Oeiras Assunção. (xiii) Análise da degradação ambiental na Lagoa da Bastiana

(Município de Iguatu/Ce), desenvolvida pormenorizadamente por Francisco Roberto Dias de

Freitas e Vladimir Passos de Freitas. (xiv) Educação ambiental e desenvolvimento

socioambiental da região amazônica, estudada por Fernando Rocha Palácios. (xv) Avaliação

de impactos ambientais transfronteiriços: uma abordagem crítica, examinada por Denise S. S.

Garcia e Heloise Siqueira Garcia. (xvi) A extrafiscalidade como mecanismo de conformação

entre a ordem econômica e o desenvolvimento sustentável: a tributação verde, analisada por

Wellington Boigues Corbalan Tebar e Wilton Boigues Corbalan Tebar. (xvii) A competência

ambiental à luz da Lei Complementar n. 140 de 08 de dezembro de 2011, demonstrada com

clareza por Sidney Cesar Silva Guerra e Patricia da Silva Melo. (xviii) O controle social

como um dos fundamentos do direito da regulação face aos riscos ambientais das novas

tecnologias, apresentado por Marcelo Markus Teixeira e Reginaldo Pereira. (xix)

Licenciamento ambiental para obtenção de dados sísmicos de prospecção na exploração

offshore: avanço ou retrocesso?, indagado por Alexandre Ricardo Machado. (xx) Imposto

predial e territorial urbano (IPTU): a extrafiscalidade como mecanismo de desenvolvimento

do meio ambiente ecologicamente equilibrado na cidade de Manaus, apresentado por André

Lima de Lima. (xxi) Doenças ocupacionais do profissional da área de educação e

responsabilidade pelos danos infligidos ao meio ambiente do trabalho, pesquisado por

Erivaldo Cavalcanti e Silva Filho e Sienne Cunha De Oliveira. (xxii) Efetivação das

dimensões da sustentabilidade na construção do meio ambiente e da moradia adequados,

defendida por Amanda Cristina Carvalho Canezin e Miguel Etinger de Araujo Junior. (xxii)

Desenvolvimento sustentável e a efetivação do direito fundamental ao meio ambiente sadio:

por uma ordem econômica ambiental, demonstrado por Romana Missiane Diógenes Lima e

Marianna de Queiroz Gomes. (xxiii) A lei 9.605/98 e as sanções penais derivadas de

condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, explicitada por Wallace Ferreira Carvalhosa.

(xxiv) A análise do imposto territorial rural à luz da função socioambiental, elaborada por

Juliana de Carvalho Fontes e Rodrigo Machado Cabral Da Costa. (xxv) Direitos humanos e

transnacionalidade: o meio ambiente sustentável no contexto da cidadania global, explicitada

por Maria Lenir Rodrigues Pinheiro e Maria Rosineide da Silva Costa. (xxvi) O direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado frente às diversidades natural e cultural: o vínculo

sociojurídico oriundo da sociobiodiversidade, defendido por Larissa Nunes Cavalheiro e Luiz

Ernani Bonesso de Araujo. (xxvii) O princípio da precaução e a dis ISO 9001:2015 revisão

da norma ISO: estabelecendo conexões entre as nanotecnologias e o direito ambiental,

analisado por Patricia Santos Martins e Wilson Engelmann. (xxviii) Que estado

socioambiental é esse?, perscrutado por Franclim Jorge Sobral de Brito e Luiz Gustavo

Levate. (xxix) Liberdade, tolerância e meio ambiente: o diálogo possível, refletida por José

Fernando Vidal de Souza e Yuri Nathan da Costa Lannes. (xxx) Tributo extrafiscal como

instrumento de proteção ambiental, apresentado por Ana Paula Basso e Letícia de Oliveira

Delfino. (xxxi) Movimentos sociais: a luz no fim do túnel para a relação homem/natureza,

explicado por Emmanuelle de Araujo Malgarim. (xxxiii) A (in)efetividade da proteção

jurídica dos pescadores artesanais marítimos alagoanos, investigada por Mario Jorge Tenorio

Fortes Junior e Gustavo De Macedo Veras. (xxxiv) Dever fundamental de proteção do meio

ambiente: a função socioambiental da propriedade e a vinculação dos particulares,

pesquisado por Daniele Galvão de Sousa Santos. (xxxiv) A aplicação de conhecimento

complexo nos casos envolvendo povos tradicionais através da pesquisa jurídica em seu

âmbito transdisciplinar, averiguada por Carla Vladiane Alves Leite e José Querino Tavares

Neto.

São dignos dos recebidos aplausos, os trabalhos que neste momento compõem tão grandiosa

obra coletiva, os quais tivemos a honra de moderar suas comunicações orais, na qualidade de

coordenadores do GT, no XXIV Encontro Nacional do CONPEDI-UFS. Nesse sentido, é

preciso salientar que esta coletânea, ora apresentada à comunidade acadêmica, denota

verdadeira e inquestionável disposição intelectual de seus autores para enfrentar temas

bastante delicados e disseminar legítimos interesses na defesa do meio ambiente.

Enfim, consignamos nossos mais sinceros agradecimentos aos autores e desejamos a todos

uma excelente leitura!

Curitiba/ Campo Grande/São Paulo, inverno de 2015.

Carlos Frederico Marés Filho

Professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUC-PR

Lívia Gaigher Bósio Campello

Professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFMS

Norma Sueli Padilha

Professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFMS e Unisantos

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE SADIO: POR UMA ORDEM

ECONÔMICA AMBIENTAL

SUSTAINABLE DEVELOPMENT AND EFFECTIVENESS OF THE FUNDAMENTAL RIGHT TO HEALTHY ENVIRONMENT: AN

ENVIRONMENTAL ECONOMIC ORDER

Romana Missiane Diógenes LimaMarianna De Queiroz Gomes

Resumo

O presente trabalho elabora um panorama da crise ambiental, identificando-a como reflexo

do esgotamento de nosso modelo de desenvolvimento. Discorre sobre os fundamentos

básicos da problemática ambiental: escassez de recursos naturais, devido à demanda cada vez

maior de bens; modelo de desenvolvimento que não distribui renda; e baixo

reaproveitamento de descartes. A pesquisa relaciona desenvolvimento sustentável e a

consequente necessidade da mudança de paradigmas na relação homem-meio ambiente,

problematizando os conceitos de desenvolvimento, progresso e crescimento econômico.

Toma a crise ambiental como pano de fundo para dissertar sobre como fatores econômicos e

sociais influem no seu agravamento. Analisa, ainda, o direito fundamental ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado previsto na CF/88, que vincula meio ambiente e dignidade da

pessoa humana. Aponta o delineamento de uma Ordem Econômica capitalista e sustentável

na CF/88, ao passo que problematiza sua construção. Delineia como pressupostos do

desenvolvimento sustentável a produção sustentável e o consumo sustentável. Por fim,

relaciona Ordem Econômica Constitucional e a possibilidade de indução do desenvolvimento

sustentável dentro do modo de produção capitalista, promovendo a efetivação do direito

fundamental ao meio ambiente sadio.

Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, Capitalismo, Direito fundamental ao meio ambiente sadio, Ordem econômica

Abstract/Resumen/Résumé

This work draw up an over view about the environmental crisis, identifying it as a result of

the exhaustion of our model of development. Discusses the basics of environmental

problems: lack of natural resources, due to the increasing demand for goods; development

model that does not distribute income; and low reuse of discards. The research relates

sustainable development and the consequent need for paradigm shift in human-environment

relationship, discussing the concepts of development, progress and economic growth. Take

the environmental crisis as a backdrop to lecture on economic and social factors influence

their aggravation. It also analyzes the fundamental right to ecologically balanced

environment provided for in the CF / 88, which links the environment and human dignity.

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Points the design of a capitalist and sustainable economic order in CF / 88, while discusses

its construction. Outlines how assumptions of sustainable development the sustainable

production and the sustainable consumption. Lastly, binds Constitutional Economic Order

and the possibility of induction of sustainable development within the capitalist mode of

production, promoting the realization of the fundamental right to a healthy environment.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Sustainable development, Capitalism, Fundamental right to a healthy environment, Economic order

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INTRODUÇÃO

O padrão de desenvolvimento brasileiro tem se limitado historicamente ao aumento

do PIB associado a uma economia predatória aos recursos naturais e profícua em perpetuar

desigualdades. Paradoxalmente, nossa Constituição Federal prevê que a Ordem Econômica

brasileira deveria privilegiar um desenvolvimento sustentável, o que estaria diretamente

vinculado à efetivação do direito fundamental ao meio ambiente sadio.

Partindo dessa problematização, objetiva-se analisar como a Ordem Econômica

Constitucional pode estimular o chamado desenvolvimento sustentável e efetivar o direito

fundamental ao meio ambiente sadio. Na empreitada, tomam-se como referências teóricas a

sociedade de risco de Ulrick Beck (2010) e a hipermodernidade de Lipovetsky (2007), além

do pensamento de Elmar Altvater (2010) e Cristiane Derani (2008) sobre desenvolvimento

sustentável e capitalismo.

Nossa economia tem crescido sobre duas (falsas) premissas: os recursos naturais são

infinitos; pode-se crescer infinitamente, a partir da construção incessante de novos produtos e

da expansão do consumo. Assim, é importante perceber como essas ideias se afastam das

premissas de sustentabilidade, a qual, por sua vez, está relacionada a dimensões sociais e

ambientais da economia. Analisando documentos internacionais de referência e a Constituição

de 1988, diferenciam-se os conceitos de crescimento econômico e desenvolvimento, no que se

investiga a eficiência de o Estado induzir agentes econômicos a adotar condutas

ambientalmente corretas e promover valores socialmente relevantes.

Nesse sentido, pretende-se realizar uma pesquisa bibliográfica e documental, de

objetivo exploratório. Os métodos serão monográficos quanto ao procedimento e

prioritariamente dedutivos no que toca à abordagem.

1 CONTEXTUALIZANDO A CRISE AMBIENTAL: SOCIEDADE DE RISCO E A

QUESTÃO AMBIENTAL

Individual e coletivamente, somos componentes de um grande ecossistema singular.

Observando por esse prisma, o meio ambiente é a base para a vida humana. É ele que

possibilita o gozo e exercício de todos os direitos humanos, e que permite ao homem angariar

os bens que lhe são mais caros: a vida e a saúde. Sendo o único ser consciente da natureza e

do processo evolutivo dos quais faz parte, o homem deveria ser o primeiro a preservar o meio

em que vive. Se não por princípio moral, pelo menos por critério utilitarista, vez que não

existimos sem a manutenção de um determinado equilíbrio ecológico.

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Todavia, a despeito da natureza ser parte indissociável de nossa existência, nosso

conhecimento científico e tecnológico tem evoluído de forma dissociada da consciência

ecológica. Como sabemos, ações humanas são responsáveis por significativas alterações à

estrutura e função dos sistemas naturais, muitas vezes de forma prejudicial à sobrevivência

imediata e futura da própria humanidade e desses sistemas.

Depois de séculos de exploração predatória dos recursos naturais, muitos se tornaram

escassos, e a degradação de outrora hoje mostra seus efeitos com o aumento das temperaturas,

o derretimento das calotas polares, aumento do nível dos oceanos, maior incidência de

desastres naturais, poluição, desertificação, extinção de espécies, comprometimento de

cadeias alimentares, assoreamento de rios, escasseamento da água doce, dentre outros

fenômenos, que, além de ameaçarem a sobrevivência imediata do homo sapiens, reduzem

significativamente sua qualidade de vida.

O homem progressivamente deteriora elementos necessários à vida no planeta Terra.

Conforme The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 1990), a concentração de

gases poluentes (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e clorofluorcarbono) na atmosfera

tem aumentado vertiginosamente desde 1950. Anualmente, fazem-se depósitos de gases

poluentes na atmosfera em volume maior do que esta tem capacidade de absorver. Persistindo

o padrão atual de emissão, estima-se que esses gases provocarão aquecimento global médio

na faixa de 0,2 a 0,5 ºC por década, 2 a 5 ºC no final do século (IPCC, 1990). É o nível mais

alto presenciado na história humana, e os combustíveis fósseis são tidos como responsáveis

por tamanha variação. A comunidade científica alerta ainda que o aquecimento global poderá

ter efeitos devastadores no que concerne às áreas costeiras, florestais e regiões de agricultura,

com consequências drásticas para a saúde humana (IPCC, 2007).

Conforme dados da Unesco (2009), a maior parte da água na Terra não está

disponível para consumo humano. E até a água apropriada ao consumo sofre uma

interferência antrópica muitas vezes nociva, como é o caso do depósito de lixo industrial e

doméstico em rios e lagos. Paralelamente, ao passo que a população humana cresce e se

urbaniza, aumenta a demanda por esse bem, que também é significativamente afetado por

nossos processos produtivos.

Acrescente-se que a degradação do solo, grande reservatório de elementos químicos

essenciais aos animais e vegetais, tem grande influência na redução da segurança alimentar. A

monocultura em escala superindustrial, bem como o uso cada vez mais intenso de

agrotóxicos, agravam processos de desertificação e poluição do solo, alimento e água

(UNESCO, 2009).

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Por outro lado, observa-se que a população do planeta aumenta vertiginosamente. Há

cerca de dois mil anos, a população era de aproximadamente trezentos milhões. Foram

necessários mais de mil e seiscentos anos para que ela duplicasse para seiscentos milhões.

Hoje, este número está na casa dos sete bilhões de pessoas, e, conforme estimativa da ONU,

seremos mais de nove bilhões em 2050 (UNFPA, 2011). A estimativa brasileira apresenta

dados no mesmo sentido (IBGE, 2011). Ora, com a demografia nessa escala, existe a

demanda crescente por mais recursos naturais, o que gera um paradoxo e incita a busca por

novas formas de desenvolvimento.

A preocupação com o meio ambiente ganha relevância na segunda metade do século

passado, especialmente depois da crise do petróleo e de desastres ambientais motivados por

contaminação nuclear. Nesse momento histórico, nosso modelo de desenvolvimento, calcado

no ideal liberal e produto da Revolução Industrial do século XIX, começa a dar claros sinais

de desgaste.

Nesse passo, a contemporaneidade desenvolveu um paradigma social que tem sido

chamado de “sociedade de risco”, na terminologia apresentada por Ulrick Beck. A produção

da riqueza não mais domina a produção dos riscos. “A avaliação é a seguinte: enquanto na

sociedade industrial a ‘lógica’ da produção de riqueza domina a ‘lógica’ da produção de

riscos, na sociedade de risco essa relação se inverte” (BECK, 2010, p. 9).

A tese de Beck começa com a premissa de que as nações ocidentais se deslocaram de

uma sociedade ‘industrial’ ou de ‘classe’, na qual a questão central é como a riqueza

socialmente produzida pode ser distribuída de uma maneira socialmente desigual enquanto ao

mesmo tempo minimiza os efeitos colaterais negativos (pobreza e fome) para o paradigma de

uma ‘sociedade de risco’, na qual os riscos e perigos produzidos como parte da modernização,

especialmente a poluição, devem ser prevenidos, minimizados, dramatizados e canalizados.

No último caso, o risco é visto como sendo muito mais igualmente distribuído do que era o

primeiro caso (HANNIGAN, 2009, p. 44).

Para Beck (2010, p. 15), a produção social da riqueza na modernidade caminha junto

de uma produção social de riscos, que são também ambientais. Constata-se que uma das

principais consequências do nosso desenvolvimento científico industrial é a exposição da

humanidade a riscos e a inúmeras modalidades de contaminação nunca observados

anteriormente. A industrialização pós-moderna não se dissocia de um processo contíguo de

criação de riscos. A questão se torna mais crítica ante a projeção de que os riscos criados hoje

alcançarão gerações futuras.

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Nesse contexto, a proliferação de ameaças socioambientais faz com que a sociedade

industrial esteja sendo substituída pela denominada sociedade de risco. A primeira baseava-se

em conflitos do tipo produção-distribuição da riqueza. A segunda, na dicotomia produção-

distribuição de riscos. O trinômio produção-progresso-riqueza começou a dar sinais de

desgaste (DEMAJOROVIC, 2000). “A produção é sempre uma produção acoplada; nunca se

geram apenas os valores de uso desejados, mas também – e sempre – os produtos secundários

indesejados. Eles são sobretudo as emissões sólidas, líquidas e gasosas nas esferas da

natureza” (ALTVATER, 2010, p. 166).

Nessa linha, partindo da premissa de que os recursos naturais são escassos, e infinitas

as formas como deles carecemos, emerge a necessidade de mudarmos o modo como nos

relacionamos com o meio em que vivemos, com a transformação de paradigmas na relação

homem-natureza.

Nesse momento histórico que atravessamos, emergem interesses coletivos, que

demandam soluções também coletivas. No início do século XX, a resposta à questão social e

demais aspectos correlatos ao Estado do Bem-Estar Social significaram crise profunda na

concepção de direitos individuais, bem como o surgimento de interesses coletivos. A segunda

metade do século XX impõe, ante o esgotamento das condições vitais do planeta e outros

problemas relacionados à sociedade industrial, novas questões, as quais, para serem

apreendidas pelo universo jurídico, significam aprofundamento da crise da racionalidade

jurídica individualista. Tal contexto pode ser colocado sob a perspectiva de uma chamada

questão ambiental. Esta pode ser estudada de forma paralela à questão social que caracterizou

e pautou a ação do Estado Social em todas as suas versões concebidas, desde meados do

século XIX (MORAIS, 2005, p. 607).

“A problemática ambiental global constitui um problema fundamental de nosso

tempo [...]” (SILVA-SÁNCHEZ, 2010, p. 18). É verdade, nossa civilização precisa aprender a

construir um relacionamento mais harmonioso com a natureza. Mas não há solução pronta. O

pós-moderno demanda um caminho novo. Precisamos da construção de uma nova cidadania,

além das limitações da cidadania construída no marco liberal. Essa nova forma dos cidadãos

se relacionarem entre si e com o Estado traz uma nova sociabilidade, ou, ainda, a esperança da

construção de uma sociedade verdadeiramente sustentável.

Na lição de Derani (2005, 641-642), não há o romantismo idílico da vida do homem

em harmonia com a natureza, pois, em realidade, ao mesmo tempo em que a natureza se

apresenta como fonte de vida, se mostra também como ameaça. Os distintos comportamentos

humanos revelam esta ambivalência: como preservar a natureza se é de seu consumo que o ser

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humano retira sua fonte de existência? Sendo o ser humano, ele mesmo, parte da natureza,

não lhe é possível ultrapassar seu contexto natural. Sua dependência da natureza é imanente e

contra isso ele não pode lutar. Resta-lhe compreender essa dependência com a natureza,

buscando apropriá-la da forma mais consciente possível. Há, sim, uma necessidade de

constante ajuste de um relacionamento insuperável do ser humano com suas bases naturais de

reprodução da existência.

2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O texto O futuro que queremos, produto da Conferência Rio+20, expõe em seu item

111 a gravidade da questão ambiental. Ele retrata o esgotamento de nosso modelo de

desenvolvimento e traz a necessidade da mudança de paradigmas na relação homem-meio

ambiente. Nesse sentido, é de basilar importância a Conferência das Nações Unidas sobre o

Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972, fórum em que se elaborou o

documento conhecido como Declaração do Meio Ambiente. Ali, o meio ambiente

ecologicamente equilibrado foi alçado juridicamente à posição de fundamento da vida, e o

desenvolvimento sustentável prescrito como ideal a ser atingido, embora essa expressão ainda

não fosse usada naquele momento histórico. É o início da mudança de paradigmas na relação

homem-meio ambiente.

A ONU, através do Relatório Brundtland, texto conhecido pelo título Nosso Futuro

Comum, traz um conceito já clássico de desenvolvimento sustentável: “O desenvolvimento

sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a

habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.”2 3

O desenvolvimento sustentável não engloba somente esse duplo imperativo ético de

solidariedade para com as gerações presentes e futuras, como expõe Sachs (2008, p. 36), mas

também a efetivação de uma sustentabilidade socioambiental de viabilidade econômica. Para

o autor, apenas o crescimento que promova impactos positivos em termos sociais e ambientais

pode ser qualificado como desenvolvimento sustentável. 1 Novas evidências apontam para a gravidade das ameaças que enfrentamos. Desafios novos e emergentes incluem a intensificação dos problemas anteriores que exigiam respostas mais urgentes. Estamos profundamente preocupados que cerca de 1,4 bilhão de pessoas ainda vivem na pobreza extrema e um sexto da população mundial é subnutrida, e as pandemias e epidemias são uma ameaça onipresente. Desenvolvimento insustentável aumentou a tensão sobre os limitados recursos naturais Terra e na capacidade de recomposição dos ecossistemas. Nosso planeta suporta sete bilhões de pessoas, esperando-se atingir nove bilhões até 2050. 2 ONU, disponível em: < http: //www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-o-meio-ambiente/>, acesso em 30.01.2015. 3 No texto original: “[…] sustainable development, which implies meeting the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs [...]”, disponível em: <http: //www.un.org/documents/ga/res/42/ares42-187.htm>, acesso em 30.01.2015.

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Derani (2008, p. 111-112) aponta, ainda, que a efetivação do desenvolvimento

sustentável baseia-se em dois princípios: um relativo à composição de valores materiais;

outro, voltado ao equilíbrio de valores morais e éticos, com uma justa distribuição de riquezas

nos países e entre países, além de uma interação de valores sociais, o lucro e o bem-estar

coletivo. O primeiro princípio traz a ideia de proporcionalidade econômica; o segundo,

proporcionalidade axiológica.

Os limites do desenvolvimento não são propriamente imposições naturais, mas sim

limites apresentados dentro de um modo de produção social. Portanto, o conjunto de práticas

e valores que, a partir de uma constatação de escassez (social) de recursos naturais, é trazido

como opção para a realização de um desenvolvimento sustentável, reflete, na verdade, uma

opção por determinado modo de vida social, e não uma subordinação às dadivas da natureza,

na contracorrente da herança iluminista (DERANI, 2008, p. 115).

Sabe-se que os recursos naturais são finitos e que o desenvolvimento econômico

constante (consumidor de ativos ambientais) é necessário para o bem-estar da economia no

atual mundo capitalista e globalizado. É ponto pacífico no debate acadêmico também que,

quando o desenvolvimento se desvincula da problemática ambiental, ignorando os inúmeros

efeitos nocivos projetados no meio ambiente, o homem é diretamente afetado.

Por esse caminho, cabe observar que a gestação do desenvolvimento sustentável

dentro de Ordens Econômicas capitalistas suscita uma questão muito importante, que é alvo

de grandes discussões regionais e globais: como conciliar desenvolvimento econômico e

preservação do ambiente, ou seja, como realizar hoje o tão discutido desenvolvimento

sustentável? É possível a conciliação desenvolvimento econômico mais sustentabilidade mais

capitalismo?

À resposta a essa pergunta invoca outro questionamento: Existe capitalismo

sustentável? Esse seria um dos nós górdios quando se pensa na atualidade Ordem Econômica

capitalista e sustentável. O chamado capitalismo verde4, apesar de parecer a solução possível

em nosso contexto, não é imune a críticas. Há quem pondere que os problemas

socioambientais gerados pelo processo produtivo capitalista dificilmente podem ser

resolvidos através da proposta de desenvolvimento sustentável, pois esse modelo de

desenvolvimento pecaria por não questionar as relações sociais capitalistas, mas sim no

máximo propor mudanças em suas relações técnicas (DIAS; TOSTES, 2006).

4 Capitalismo que insere os conceitos e princípios biológicos e físicos nos processos sociais e econômicos, visando uma relação mais harmônica entre o homem e o meio ambiente, por intermédio da tomada de ações econômicas mais conscientes com relação à problemática ambiental, sem olvidar a preocupação com o necessário desenvolvimento socioeconômico.

229

Poucos economistas ecológicos têm aprofundado a reflexão sobre a degradação

ambiental. Para tanto, seria necessário construir críticas maduras ao funcionamento do sistema

capitalista vigente. Observa-se que a maior parte desses estudiosos acreditam que o melhor

caminho para o desfecho dessa complexa crise está no movimento ambientalista, propondo

uma solução que se articula de fora – devido às pressões do movimento ambientalista – para

dentro, não percebendo que o processo da crise ambiental parte da própria essência do sistema

capitalista (MELO, 2006, p. 116).

Ainda nessa análise, pode-se inferir que a expansão capitalista tem agravado a crise

ambiental, lembrando que a expansão é uma tendência desse sistema. Por óbvio, antes da

consolidação da economia-mundo capitalista já havia uma prática expansionista e de

conquista da natureza. No entanto, esses atos não eram prioridades existenciais como são

hoje. “O que o capitalismo histórico fez foi empurrar esses dois temas – a expansão real e sua

justificativa ideológica – para o primeiro plano, e assim conseguir suprimir as objeções

sociais ao terrível duo (WALLERSTEIN, 2002, P. 113).”

Desta forma, seria inviável a reversão dos níveis de risco dentro do capitalismo,

tendo em vista que, segundo uma determinada perspectiva, ao invés de solucionar os

problemas ambientais e sociais, a expansão do mercado – um dos elementos centrais da

proposta de desenvolvimento sustentável da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento – tende a ampliar consideravelmente esses problemas, na medida em que a

manutenção da taxa de lucros é mais importante que a diminuição do “nível de perigo”

(DIAS; TOSTES, 2006). O capitalismo sustentável seria autofágico e incompossível. Será?

A aceleração do tempo, que é então inerente ao funcionamento do capitalismo, vem

conduzindo a um funcionamento da economia cada vez mais voltado para o curtíssimo prazo

(capital especulativo financeiro), o imediatismo social (sociedade reificada ao movimento do

capital) e a banalização da memória cultural. Como podemos vislumbrar um desenvolvimento

que se pretende sustentável a partir de um sistema que se fundamenta justamente na tendência

à expansão quantitativa (ad infinitum) do capital ante os limites materiais e energéticos

apontados pela lei da entropia5? (MELO, 2006, p. 91)

É inviável a produção na sociedade de mercado sustentada pelo consumo com a

finalidade de se suprir todas as necessidades. Até porque essas necessidades não são advindas

unicamente de um reclame físico, mas também são fruto de uma construção social. Portanto,

5 A lei da entropia se baseia no processo irreversível de degradação da energia, revelando uma lógica de desordem na natureza, opondo-se a visão de mundo concebida pela física clássica, que construía um panorama em que o universo tem um funcionamento perfeito e inalterável.

230

atrelar-se a noção de bem-estar ao apaziguamento das necessidades individuais no modo de

produção capitalista é procurar preencher o que não deve ser preenchido, uma vez que a

produção material precisa desse motor da vontade para sua necessária expansão (DERANI,

2008, p. 120). Em outras palavras, a dinâmica do capitalismo depende da criação de

necessidades materiais cada vez mais artificiais, que influenciam de forma determinante a

sociedade contemporânea. Em uma breve reflexão sobre o tema, o filósofo Gilles Lipovetsky

pontua que, nos tempos atuais, mesmo os excluídos do consumo são, de algum modo,

hiperconsumistas.

Durante muito tempo, os miseráveis eram assim considerados quase que por

nascença. Hoje não é mais assim. Todos (ou quase isso) estão sendo formados num contexto

de apelos publicitários que dizem respeito às necessidades e ao bem-estar; todo mundo aspira

a se integrar ao mundo do consumo, dos lazeres e das grifes famosas. Ao menos enquanto

intenção, todos se incorporaram ao rol dos hiperconsumistas (LIPOVETSKY, 2007, p. 11).

A biocapacidade do planeta não comporta o ciclo aberto produção-consumo-descarte

como está hoje. Os índices de reaproveitamento de resíduos hoje são baixíssimos, ao passo

que a demanda por novos produtos (mais energia e mais recursos ambientais) só aumenta.

Segundo o Relatório Planeta Vivo, publicado a cada dois anos pela rede WWF, a partir da

década de 60, a demanda mundial por recursos naturais cresce a cada ano. Essa demanda

dobrou desde 1966 e hoje se consome o equivalente a 1,5 planeta para suprir nosso estilo de

vida (WWF, 2014).

Bem, o capitalismo se insere numa lógica de produção contínua de lucro ao gerar

demandas de consumo para uma imensa variedade de produtos, que passam por vários

processos de sofisticação, recebendo uma nova roupagem, que, por sua vez, se sobrepõe à

anteriormente criada para suprir as mesmas funções. Essa dinâmica é movimentada

constantemente, mesmo que isso implique uma expansão do ecossistema a tal ponto que

exceda seus limites biofísicos de crescimento. “Uma ferramenta particularmente importante

para alimentar esta demanda é a publicidade, a qual convence pessoas a comprar novos

produtos tanto por razões para fortalecer um estilo de vida como por considerações práticas

(HANNIGAN, 2009, p. 40)”.

Ao longo da História da humanidade, houve quatro modos de produção: primitivo,

escravista, asiático, feudal, socialista e capitalista, o atual. O feudalismo, por exemplo, durou

cerca de mil anos. Considerando que a capitalismo tenha surgido entre os séculos XVI ao

XVIII, a ciência histórica nos mostra que seu fim tarda. Há sinais, todavia, de reestruturação

para absorver a problemática ambiental, ao menos no que toca à redução de descarte e

231

eficiência na utilização de recursos no processo produtivo. Seria o fim do capitalismo como o

concebemos (ALTVATER, 2010).

No resumo de Paul Singer (2004), diferentemente da velha esquerda, que almejava a

destruição do capitalismo mediante a ação do Estado nas mãos da vanguarda do proletariado,

a nova esquerda almeja a “destruição” /reconstrução do capitalismo por meio da ação direta

no seio da sociedade civil, mediante a construção de uma economia solidária e

preservacionista e de revoluções culturais diversas, das quais a feminina parece ser a mais

adiantada.

É necessário contornar os efeitos nocivos do capitalismo desenfreado, que Robert

Reich chamou de supercapitalismo. A comunidade nacional e internacional deve buscar

métodos que impeçam seu avanço desenfreado, que entra em colisão direta com direitos

humanos como o direito à paz e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. “A

problemática ambiental fez surgir, assim, uma nova agenda social e política que se projeta

como lugar privilegiado de debate e negociações neste milênio” (SILVA-SÁNCHEZ, 2010, p.

193).

Atentando para tais fatores, a Rio+20, Conferência realizada em 2012, no Rio,

continuação do ciclo de discussões aberto com a Conferência de Estocolmo sobre o tema,

reitera essa necessidade de construção de soluções regionais e locais para conquista do

desenvolvimento sustentável (ONU, 2012). Reafirmou-se naquele fórum, por meio de seu

documento final O futuro que queremos, o compromisso com a elaboração de objetivos

comuns de desenvolvimento sustentável, metas a serem perseguidas pelos países para avançar

nas áreas ambiental, política e social.6

Bastante criticado (VEJA, 2012; EXAME, 2012; CARTA CAPITAL, 2012) pela

falta de resoluções mais objetivas sobre as necessárias mudanças para enfrentamento da crise

ambiental, temos que a brandura do documento reflete justamente a dificuldade mundial em

elaborar consensos sobre a crise ambiental. A questão do desenvolvimento sustentável é

estrutural e demanda reformas drásticas em nosso processo produtivo, tanto na forma como

lidamos com a natureza, como na forma como nos relacionamos com o outro dentro desse

6“We reaffirm our commitment to making every effort to accelerate the achievement of the internationally agreed development goals, including the Millennium Development Goals (MDGs) by 2015.” Tradução livre: “Nós reafirmamos nosso comprometimento em fazer esforços para acelerar o atingimento de objetivos internacionalmente acordados de desenvolvimento, incluindo os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) até 2015.”

232

processo. Não existe solução fácil ou rápida, pois a crise envolve a mudança de modelos de

nossa sociedade de consumo nos níveis mais profundos7.

Compatibilizar meio ambiente e desenvolvimento significa considerar os problemas

ambientais dentro de um processo contínuo de planejamento, atendendo adequadamente às

demandas da natureza e do desenvolvimento, observando-se suas inter-relações específicas de

cada contexto sociocultural, político, econômico e ecológico, dentro de uma determinada

dimensão espaço/tempo (MILARÉ, 2005). Apesar de o problema ambiental ser global, deve-

se buscar soluções locais e regionais, que sejam adequadas a uma dada população, em seu

contexto econômico e cultural.

A Declaração do Rio, de 1992, reconhece, ainda, no seu Princípio 25: “A paz, o

desenvolvimento e a proteção do meio ambiente são interdependentes e inseparáveis”. A

redação desse texto enfatiza a interdependência entre paz, desenvolvimento e direitos

humanos. Assim, enfatiza-se que não é possível desenvolvimento sem proteção ambiental, da

mesma forma que não há paz onde direitos humanos são violados.

Conforme já explicitado, o desenvolvimento sustentável envolve três vertentes:

crescimento econômico, qualidade de vida e justiça social. Desenvolvimento sustentável não

significa natureza intocada (RIBEIRO; FERREIRA, 2005, p. 655). Entretanto, para o

desenvolvimento econômico ser considerado sustentável, deverá estar diretamente

condicionado às necessidades socioambientais, rompendo-se com a lógica econômica da

privatização dos lucros e socialização dos prejuízos (LOBATO; ALMEIDA, 2005, p. 625).

O conceito mais conhecido de desenvolvimento sustentável, trazido pelo Relatório

Brundtland, traz em si um paradoxo. Como se falar em “satisfação das necessidades atuais”

dentro de um sistema capitalista, operando em uma sociedade de consumo cujo motor é a

criação de novas e insaciáveis necessidades? Como preencher o que, por essência, não pode

ser preenchido?

Nesse sentido, ao relacionarem-se a composição das legítimas necessidades da

espécie humana com as legítimas necessidades do planeta terra, efetiva-se o cerne do conceito

de desenvolvimento sustentável. Este, todavia, tem como pressupostos a produção sustentável

7 Item 6. “We recognize that people are at the center of sustainable development and in this regard, we strive for a world which is just, equitable and inclusive, and we commit to work together to promote sustained and inclusive economic growth, social development, environmental protection and thereby to benefit all.” Item 61. “We recognize that urgent action on unsustainable patterns of production and consumption where they occur remains fundamental in addressing environmental sustainability, and promoting conservation and sustainable use of biodiversity and ecosystems, regeneration of natural resources, and the promotion of sustained, inclusive and equitable global growth.”

233

e o consumo sustentável (MILARÉ, 2005, p. 70). Essa ilação pode conter em si uma falácia.

Para Derani (2008, p. 120) uma proposta de redirecionamento da economia visando à

satisfação das necessidades de todos os sujeitos da sociedade, vinculando o consumo apenas

ao “necessário”, para, assim, finalmente alcançar-se o almejado desenvolvimento sustentável,

é apenas um modelo de discurso apaixonante que se esgota nas palavras do interlocutor.

Podemos refletir que a solução para a questão ambiental passa por uma mudança de

longo prazo nos padrões do consumo, não pela maximização, mas pela minimização do

consumo. Em segundo lugar, deve-se almejar uma minimização da utilização do meio

ambiente como provedor de insumos e como fossa de resíduos. Há um limite ao que o meio

pode nos proporcionar de matéria-prima, como também há balizas à capacidade de absorção

de resíduos pela natureza, e a economia deve abranger essas trocas. A longo prazo, esta seria

absorvida pela ecologia, na sugestão trazida por Nicolas Georgescu-Roegen, na obra The

Entropy Law and the Economic Process, de 1971.

Ganha importância a preocupação tanto individual quanto social de preservarmos o

meio ambiente, tanto para gozo de nossa geração, como para as que vierem, pois hoje

sabemos que temos o dever de usufruir dos recursos do nosso planeta de forma responsável,

sob pena de comprometermos o futuro da espécie humana e de condenarmos as gerações

atuais a conviverem com a escassez de recursos básicos, em situação de péssima qualidade de

vida, como já vem ocorrendo em muitos países, inclusive no Brasil.

3 O DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAM ENTE

EQUILIBRADO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

O direito fundamental ao meio ambiente sadio é uma construção recente, integrante

de uma terceira dimensão desses direitos, conforme já tradicional classificação. Resguarda-se

nesse conceito jurídico um bem reputado fundamental à vida, sem o qual ela não pode se

realizar plenamente. Enfatiza-se a busca por um vínculo de solidariedade social, com a tutela

de um interesse difuso, transindividual, que, nas palavras de Fiorillo (2012, p. 61), pertence “a

todos e a ninguém ao mesmo tempo”.

Direitos fundamentais têm estreita relação com a dignidade humana. Direitos são

tidos como fundamentais quando alicerçados na liberdade, igualdade e dignidade humanas

(SILVA, 2006, p. 179). Deve-se ter em mente, ainda, a visão de um mínimo a ser resguardado

para realização da vida.

234

Após a Segunda Guerra Mundial, detectou-se que alguns grandes temas diziam

respeito às necessidades coletivas, não individuais. Inviáveis seu gozo e proteção sem levar

em consideração o todo social, fortalecendo-se vínculos de solidariedade. Nessa toada, os

direitos fundamentais de terceira geração trazem uma importante nota distintiva: visam à

proteção de interesses difusos, coletivos. Transcendem a titularidade individual, posto não se

referirem apenas à tutela do homem enquanto indivíduo, mas sim à proteção de grupos

humanos. Nas palavras de Bonavides (2010, p. 569), é seu destino “o gênero humano mesmo,

num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de

existencialidade concreta”. Por tal motivo, são denominados direitos de fraternidade ou de

solidariedade, e podemos citar como exemplo a paz, a autodeterminação dos povos e, com

especial importância a este trabalho, o meio ambiente.

Com a emergência da questão ambiental, decorrente da sociedade de risco em que

vivemos, observado ainda o panorama ideológico e jurídico que elevam o meio ambiente a

bem de primeira grandeza, a Constituição Federal de 1988 não poderia se omitir sobre a

preocupação ambiental. De forma inédita em nosso constitucionalismo, o meio ambiente é ali

tutelado expressamente no art. 225 como direito fundamental, apesar de não ser alocado

geograficamente no art. 5º. É o texto da nossa Lei Maior:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

A norma fundamental que prevê o meio ambiente sadio tem como destinatário o

gênero humano mesmo. Esse direito pertence ao que se convencionou chamar terceira geração

de direitos humanos. Vale lembrar a redação do art. 1º da CF/88, que estabelece como um dos

fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana,

intrinsecamente ligada ao direito fundamental ao meio ambiente sadio8.

Nessa linha, devemos pensar o alcance da expressão “meio ambiente ecologicamente

equilibrado”. Nossa legislação traz um conceito positivo de meio ambiente, recepcionado pela

Constituição de 1988 (Fiorillo, 2012). Conforme art. 3º, inciso I da Lei da Política Nacional

do Meio Ambiente entende-se por meio ambiente “o conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as

suas formas”.

8 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana.

235

Já “equilíbrio ecológico”, para Canotilho e Leite (2007, p. 107), é uma noção aceita

pela norma jurídica que, no caso do preceito constitucional em estudo, baseia-se na ideia de

que todos os organismos vivos estão de algum modo inter-relacionados no meio ambiente

natural. Assim, percebemos que com a forma “meio ambiente ecologicamente equilibrado”

pretende-se resguardar um equilíbrio dinâmico do meio ambiente, conforme definição retro.

Trata-se, numa leitura conjunta de dogmática e doutrina, de exercer a gestão do bem

ambiental preservando seu equilíbrio ecológico.

O Art. 225 fala ainda em “essencial à sadia qualidade de vida”. Este é o ponto em

que se observa a estrutura finalística do direito ambiental. Ainda em Canotilho e Leite (2007,

p. 108), observamos que essa expressão indica uma preocupação com a manutenção de

condições normais (sadias) do meio ambiente, que propiciem o desenvolvimento pleno de

todas as formas de vida. Atentemos que na expressão sadia qualidade de vida, encontramos

dois objetos de tutela. Há um objeto imediato: o meio ambiente; já o mediato seria a saúde, o

bem-estar, a segurança, elementos estes aglutinados na locução ora analisada (ROSSIT;

CANEPA, 2003, p. 249-250).

Partindo dessa perspectiva, valorando como fundamental a preocupação com nossos

recursos naturais, não se pode deixar de mencionar que estes aparecem em nosso

ordenamento não como fins em si mesmos, mas como meios de se assegurar a vida, a

liberdade e a dignidade humanas, numa perspectiva antropocêntrica, no que corrobora o

documento de Estocolmo9.

Aqui apontado como quarto ponto de análise, o art. 225, nas palavras “[...] impondo-

se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações” destaca ainda o ideal solidário desse direito, não só com nossos

contemporâneos, mas também com as futuras gerações. Nesse enunciado, deixam-se

expressos os princípios da solidariedade e do desenvolvimento sustentável.

Foi relevante a expressa disposição constitucional de tutela do meio ambiente não

apenas para a atual geração, mas também para as futuras. Além dessa redação denotar um

senso de continuidade e união que são importantes ao se tratar de meio ambiente, está nela

ínsito um elemento ético. Afinal, as futuras gerações arcarão com as escolhas que fizermos

hoje, produto de visão e interesses político-culturais atuais, sem, contudo, participarem do

processo decisório. Sabemos que as ações de hoje determinam os acontecimentos futuros. E

9 Nesse mesmo sentido, prescreve o Princípio 01 da Declaração do Rio de 1992: “Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.”

236

aqueles que estão por vir terão possibilidades ainda mais restritas de interferir e adotar

alternativas menos prejudiciais. Essas observações reforçam a necessidade de sermos

responsáveis com a natureza e efetivarmos a ampla proteção ambiental conferida pela nossa

Constituição Federal.

4 ORDEM ECONÔMICA CONSTITUCIONAL: A NECESSIDADE DE

EFETIVAÇÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMEN TE

EQUILIBRADO DENTRO DE UMA ORDEM ECONÔMICA CAPITALIS TA E QUE

PRETENDE SUSTENTABILIDADE

Tendo em vista o momento de crise ambiental em que vivemos, o meio ambiente

ecologicamente equilibrado é um direito que precisa, para o bem da espécie humana, ser

efetivado. Aí está a questão. Como sabemos, a despeito do amplo rol de direitos fundamentais

previstos na Constituição Federal, o Estado tem apresentado muitas falhas quando da sua

implementação.

Cabe ponderar, todavia, que a efetivação desse direito não depende apenas do

Estado. Como muito bem ressalta o art. 225 da CF/88, é dever do Poder Público e também da

coletividade defendê-lo e preservá-lo, para as presentes e futuras gerações. A responsabilidade

ambiental deve ser por todos compartilhada, pois na contrapartida dos direitos fundamentais

advêm deveres fundamentais. Desta forma, delineia-se, com a Constituição, uma nova

cidadania ambiental, dada a alteração de padrões na relação homem-meio ambiente em nosso

direito positivo. Essa nova cidadania se orienta pela participação, responsabilidade e

solidariedade social.

O século XX nos mostrou como o mercado por si só não se autorregula de forma

satisfatória. O liberalismo deve ter limites. Prova disso é a atual crise ambiental, cujos efeitos

já são sentidos, e provavelmente afetarão nosso futuro coletivo de forma muito mais gravosa.

Existe a necessidade de regulação estatal da economia, de modo que se tornem alcançáveis os

objetivos propostos pela ordem econômica e que se efetivem os mais diversos direitos

fundamentais, dentre eles o concernente ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Por essa vereda, cabe observar os objetivos de nosso Estado, conforme art. 3º da

CF/88: construção de uma sociedade livre, justa e solidária; garantia do desenvolvimento

nacional. Tratam-se de metas de mesmo valor, que devem ser buscadas igualmente. Em

consonância com esses objetivos, devemos observar ainda os princípios gerais da ordem

econômica:

237

art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os seguintes princípios:

[...]

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme

o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e

prestação;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

A partir do momento em que o poder constituinte prescreve a preocupação com o

meio ambiente enquanto direito fundamental; aloca como fundamento a dignidade da pessoa

humana; estabelece como objetivos a construção de uma sociedade justa, livre e solidária;

além de prever uma ordem econômica calcada na função social da propriedade e na defesa do

meio ambiente, estabelece para si normativamente um modelo sustentável de

desenvolvimento, essencial à efetivação do direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado. Pelos dispositivos colacionados, podemos concluir que até sob uma perspectiva

dogmática, não mais se justifica o desenvolvimento econômico sem a correlata defesa do

meio ambiente.

Observamos, assim, que os arts. 170 e 225 da CF/88 estabelecem o Estado brasileiro

como um Estado que pode intervir na economia, regulando-a para resguardar e efetivar

valores. A busca de um desenvolvimento sustentável exige essa postura do Estado

(ALMEIDA, 2003, p. 68).

Admitem-se dois modelos de intervenção estatal na economia: direta ou indireta. O

Estado atua diretamente na economia quando atua como agente econômico principal, ao

mesmo nível do agente privado. É o que acontece com as empresas estatais, que exploram

diretamente atividade econômica, com empresas “intervencionadas” (nas quais a gestão da

empresa é partilhada com o Estado), com monopólios estatais e intervenções nos circuitos de

comercialização ou intervenções de regularização (MONCADA, 1988, p. 183-186).

Aumentar o tamanho do Estado já se mostrou alternativa insatisfatória, como

experimentamos nas décadas de 70 e 80. A exploração econômica pelo Estado (intervenção

direta), por expressa previsão legal, deve ocorrer apenas excepcionalmente, em caso de

imperativo de segurança nacional ou em face de relevante interesse coletivo, como prevê o

art. 173 da CF/88.

238

Já no caso da intervenção indireta na economia, por sua vez, o Estado não se

comporta como sujeito econômico. Não toma parte ativa e direta no processo econômico.

Tem-se uma intervenção exterior, de enquadramento e orientação, que se manifesta em

estímulos ou limitações, com criação de infraestruturas, política econômica e fomento

(MONCADA, 1988), modalidade de intervenção que deve ser aprofundada para que se possa

efetivar o direito fundamental ao meio ambiente sadio.

Mais uma vez reitere-se que o mercado não deve autorregular-se. Cabe ao Estado

construir normas e políticas públicas que induzam ações socialmente responsáveis por parte

dos agentes econômicos. O Estado brasileiro não pode buscar apenas o crescimento da

economia, com um progresso a qualquer preço. Isso não é desenvolvimento.

De nada vale o fetiche do PIB se não o acompanha um IDH igualmente satisfatório.

Já desde o Clube de Roma, em 1972, critica-se a “ideologia do crescimento”. Em verdade,

diferenciam-se progresso, crescimento e desenvolvimento. Progresso tem um sentido linear,

ao passo que desenvolvimento tem uma função mais ampla que pode ser visualizada como

cúbica, como se fosse progresso em várias direções. Desenvolvimento pressupõe distribuição

ou redistribuição de riquezas em favor do bem-estar social, além da participação da sociedade

em benefícios coletivos diversos, como educação, saúde, moradia, lazer, higidez ambiental,

etc. (FALCÃO, 1981, p. 70).

Observa Milaré (2005) que o mero crescimento econômico, baseado na mutilação do

mundo natural e imprevisão de suas funestas consequências, acabou por criar um antagonismo

artificial e obsoleto entre o legítimo desenvolvimento socioeconômico e a preservação da

qualidade ambiental. “Desenvolvimento” hoje tem alargado seu significado rumo além do

simples desenvolvimento econômico, de modo que a verdadeira dicotomia estaria entre

desenvolvimento integral harmonizado e mero crescimento econômico. A discussão assume

especial importância entre nós, ao lembrar que o Brasil tem uma longa história de crescimento

econômico sem desenvolvimento social, com a geração de altos custos ambientais.

A noção de desenvolvimento passou no século passado por uma complexificação.

Talvez a mais importante reconceituação de desenvolvimento seja influenciada pelos

trabalhos de Amartya Sen. Com esse autor, o desenvolvimento pode ser redefinido em termos

de universalização e exercício efetivo de todos os direitos humanos: políticos, civis e cívicos;

econômicos, sociais e culturais, bem como direitos coletivos ao desenvolvimento, ao

ambiente (SACHS, 2008, p. 37). A efetividade desses diversos direitos fundamentais adquire

relevância na mensuração do grau de desenvolvimento socioeconômico de um país,

239

especialmente no que toca à efetivação do direito ao meio ambiente sadio, essencial ao

exercício dos demais.

Outro ponto que deve ser reelaborado para a construção do desenvolvimento

sustentável é a revisão dos mecanismos liberais de mercado, em vista da emergência de

interesses difusos e coletivos. A propriedade comum de bens gera uma falha de mercado, na

medida em que a perspectiva privada de maximizar o lucro toma decisões que podem não ser

as mais satisfatórias ao interesse coletivo e à manutenção adequada do todo. O princípio

solidário deve ser incorporado ao mercado.

Há um famoso artigo que ilustra bem a lógica da degradação ambiental. Embora um

tanto simplista na ótica de hoje, o trabalho tem o mérito de nos trazer uma alegoria que auxilia

a compreensão da necessidade de superarmos a lógica individualista e desenvolvermos

socialmente uma visão transindividual de nossos problemas. Chama-se A tragédia dos

comuns, de Garret Hardin (1968). Poderíamos imaginar uma pastagem comunitária, recurso

escasso, usada por moradores para alimentar seu gado. A lógica é engordá-lo para que este

seja mais valorizado na venda. Todos querem que seus animais comam o máximo de

folhagem, apesar de isso significar redução da pastagem disponível para os outros rebanhos –

e o seu próprio. Não há como garantir que os outros pastores não farão o mesmo. O resultado

final é solo erodido, sem condições de prover sustento à população do vilarejo. Esse exemplo

bem simboliza a lógica de “a propriedade de todos não é de ninguém”.

A análise de Hardin admite o utilitarismo como único agente motivador das ações

individuais. Paralelamente, leva-nos à visualização de falhas do mercado, na conclusão de que

a sociedade carece de formas de controlar o individualismo extremado (GODOY, 2006).

Moral da história: o livre mercado constitui ameaça aos recursos de acesso aberto. Se o

objetivo do mercado for maximizar a riqueza individual, a falha do mercado em impor limites

ao uso de seus recursos resultará no seu esgotamento, na degradação ambiental e no

agravamento das injustiças sociais.

O pressuposto do atual paradigma econômico é que existem bens ambientais

públicos que se caracterizam por não serem escassos, cujo consumo constante não afeta sua

disponibilidade. No entanto, tais recursos estão sujeitos a externalidades negativas. Um

exemplo de bem público é o ar que respiramos. Ocorre que o ar que respiramos começou a se

tornar, do ponto de vista da coletividade, algo escasso e crítico, na medida em que processos

maciços de externalidades negativas passaram a produzir consequências nefastas sistêmicas.

Isso implica mudança de paradigma. Reconhecer essa temática é determinante para a adoção

de políticas públicas (COUTINHO, 2010, p. 88).

240

Na análise econômica, sempre se tomou a natureza como um bem livre, de oferta

ilimitada e com custo zero. Portanto, não era objeto de análise dos economistas (BACHA,

2010, p. 53). Em consequência, produtos e serviços não refletem o custo total de seus

impactos socioambientais. Como observa Giannetti (2010, p. 71), a noção de custo em

Economia é muito fechada, restrita ao monetário, àquilo que passa pelo sistema de preços.

Este é um ponto cego: custos ambientais devem ser internalizados. Mercados não lidam com

bens públicos e com externalidades. Esse é um problema que pode ser minorado com

instrumentos econômicos e regulação, tanto interna, através de tributos e fiscalização, como

externamente, com barreiras alfandegárias aos produtos alvo de dumping ambiental (MOTA,

2006, p. 75-78). “Em qualquer país do mundo em que a inovação foi motivação de ciclos

econômicos houve modelos tributários que permitiram isso (KLABIN, 2011, p. 14).”

É importante a implantação de uma economia solidária, que esteja compromissada

com o meio ambiente. Na visão de Veiga (2010, p. 161), há espaço para atingir metas sociais

por meio da regulação mercantil. Pesquisas mostram que o Brasil tem um potencial eólico

superior ao hídrico, que ainda não foi desenvolvido. Também temos um enorme potencial

solar. Falta avançar nos trabalhos já existentes e utilizá-los. Conforme Klabin (2011, p. 15), as

decisões de governo ainda não têm permitido esse progresso devido à complexificação da

relação política-meio ambiente, que vem passando por uma transição delicada. Atualmente, os

Estados “tentam legislar um limitado grau de proteção suficiente para evitar crítica, mas não

significativamente o suficiente para descarrilar a locomotiva do crescimento” (HANNIGAN,

2009, p. 41).

Na lição de Singer (2004), o desenvolvimento capitalista é o realizado sob a égide do

grande capital e moldado pelos valores do livre funcionamento dos mercados, das virtudes de

competição, do individualismo e do Estado mínimo. Já o desenvolvimento solidário é

realizado por comunidades de pequenas firmas associadas ou de cooperativas de

trabalhadores, federadas em complexos, guiado pelos valores da cooperação e ajuda mútua

entre pessoas ou firmas, mesmo quando competem entre si nos mesmos mercados.

O desenvolvimento solidário não propõe a abolição dos mercados, que devem

continuar a funcionar, mas sim a sujeição dos mesmos a normas e controles, para que

ninguém seja excluído da economia contra a sua vontade. Para Paul Singer (2004), a era da

"flexibilidade", que o capitalismo atravessa, possibilita também o desenvolvimento solidário:

desenvolvimento semicapitalista e semi-solidário.

Essa transição precisa ser impulsionada, para que ocorra com mais celeridade, e não

ocasione um prejuízo ainda maior à população e aos recursos existentes. Nesse sentido,

241

mudanças socioeconômicas são prementes, e o Estado tem um papel fundamental nessa

conjuntura. Buscando-se a instalação de uma economia solidária, algumas tendências

merecem atenção acurada, para que, sob um bom planejamento, possam manifestar frutos na

luta por um desenvolvimento sustentável. Um exemplo disso é o dado por Veiga, que ilustra

como o desejo social por mais lazer poderia auxiliar. Afinal, “com mais tempo livre e maior

participação em atividades culturais, a população seria levada a valorizar cada vez mais a

natureza, reduzindo o aumento do consumo material (VEIGA, 2010, p. 148)”.

Estimular a cidadania ambiental é uma fórmula concreta de solidarizar a economia.

Assim, o caminho para o desenvolvimento sustentável tem muitas vias, as quais devem ser

todas exploradas. No caso em questão, o cidadão não só deve ser estimulado a consumir

menos, mas também a consumir melhor, com mais qualidade e provocando o mínimo de

danos aos bens naturais. Essa relação é muito bem explanada por Klabin:

O entrosamento entre o consumidor e o produtor no uso dos seus ativos para ter lucro é de muita importância. O empresariado brasileiro ainda não se sentiu obrigado a tomar uma ação nesse sentido porque o conceito de empresa é produzir para um mercado. Se o mercado demanda, ela responde. Ora, é muito importante a educação do consumidor. Na medida em que o consumidor exija um comportamento diferenciado da empresa, ela vai ter que atendê-lo. Esse é o bom empresário, e esse é o bom consumidor (KLABIN, 2011, p. 13).

Dessa forma, a relação homem-meio ambiente deve ser repensada, por meio da

efetivação de medidas socioeconômicas concretas que limitem a expansão irresponsável das

diversas relações mercantis, causadoras de muitos desgastes sociais e ambientais. Não adianta

falar em desenvolvimento sustentável olvidando que existe um sistema econômico que

interfere diretamente na concretização da justiça socioambiental. Esse sistema econômico

deve ser controlado, não apenas devido às orientações técnico-científicas – que, por sinal, já

temos bastante –, mas principalmente porque existe um imperativo constitucional que

determina uma nova ordem econômica voltada à efetivação do direito fundamental ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado.

CONCLUSÃO

A nossa civilização passa por uma crise ambiental sem precedentes. Nesse momento

de escasseamento de recursos ambientais e de reavaliação do nosso assim chamado

“desenvolvimento econômico”, a conservação da natureza está na ordem do dia. A questão

ambiental é notícia recorrente nos jornais, sendo tema de conferências, além de preocupação

constante de nossos governantes e de inúmeras ONGs. Nossos panoramas social, político,

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econômico e cultural nos mostram que é urgente a mudança de comportamentos quanto ao

meio ambiente.

Existe a necessidade de pensarmos como pode o Estado, ente a quem cabe por

definição a busca do bem comum, elaborar políticas públicas de efetivação do direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, densificando o princípio da dignidade da pessoa

humana. Lembremos que bem comum é conceito umbilicalmente ligado à ideia de

solidariedade, nota distintiva dos direitos de terceira dimensão, em que se enquadra o direito

fundamental ao meio ambiente sadio. Nessa linha, identifica-se a normatividade do

desenvolvimento sustentável na ordem econômica proposta na CF/1988, buscando apontar

como o desenvolvimento econômico proposto pela Constituição pode efetivar o direito

fundamental ao meio ambiente sadio.

Se almejamos um Estado que promova o desenvolvimento sustentável devem-se

estabelecer relações entre direito ao desenvolvimento e direito a uma vida saudável. O Estado,

na busca de satisfação desses dois direitos humanos, pode explorar seus próprios recursos

segundo políticas de meio ambiente e desenvolvimento. No reverso da moeda, tem o dever de

assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem danos ao seu meio

ambiente.

Mercados não se autorregulam. Nesse sentido, um grande problema de efetividade do

direito fundamental ao meio ambiente é que produtos e serviços ambientais (bens comuns)

não estão embutidos nos sistemas de preços, o que gera externalidades e faz com que custos

ambientais não sejam economicamente considerados. À medida que escasseiam, o panorama

muda. Intervindo na atividade econômica, o Estado tem a oportunidade de forjar, em conjunto

com a sociedade, condições para o alcance de um ponto de equilíbrio de sustentabilidade. O

progresso é importante, mas para alcançá-lo deve-se respeitar o homem e o meio em que este

vive, ou não teremos progresso.

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