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21/04/2014 -- 00h00
Industrialização é o único caminho
Não podemos ficar um ano sem receber um
investimento industrial de peso, quanto mais 10 anos
A participação de Londrina na distribuição do Imposto Sobre Circulação de
Mercadorias (ICMS) encolheu nos últimos 10 anos, informam as notícias publicadas
nos jornais, recentemente. A arrecadação cresceu, mas a participação da cidade no bolo
do ICMS diminuiu. Se em 2003 a cidade tinha direito a 3,35% de toda a arrecadação
desse imposto no Estado, no ano passado a cota caiu para 2,6%. Essas informações
estão no site da Prefeitura de Londrina.
O problema não é recente e alcança também outros municípios da nossa região. As
cotas do ICMS, por lei, são maiores para cidades com alto índice de industrialização.
São José dos Pinhais, município com 290 mil habitantes, por exemplo, recebia 4,67%
em 2003 e passou a ter direito a 7,10% em 2010.
O fato é que não recebemos novos investimentos industriais de grande porte desde o
início da década passada. Houve ampliação de plantas já existentes e surgiram
empreendimentos de pequeno e médio portes, mas que não são suficientes para reverter
a queda apontada. O resultado negativo desse processo é a redução na participação de
um imposto que é importante para o crescimento da receita de qualquer cidade.
A situação precisa ser revertida para que a médio prazo possamos recuperar os recursos
perdidos. Nesse sentido, a retomada do processo de industrialização é fundamental. Não
podemos ficar um ano sem receber um investimento industrial de peso, quanto mais 10
anos!
O primeiro passo é criar um clima favorável. A cidade precisa trabalhar, mobilizar todos
os setores da sociedade de forma conjunta, para que tenhamos condições de atrair e
receber novos investimentos industriais.
Trabalho desde 1977 com a questão da industrialização e do desenvolvimento das
cidades, sempre com o foco no municipalismo, que é basicamente a defesa dos
interesses dos municípios. E minha especialidade é fazer com que os municípios tenham
condições de receber e atrair indústrias, e assim promover o desenvolvimento.
Além da mobilização da sociedade, esse caminho passa pelo estímulo à educação
profissional, ao ensino técnico e qualificação da mão de obra. Um exemplo ilustra muito
bem o que isso significa. Em 2003, como prefeito de Cambé, negociei a vinda da
empresa alemã Hexal Medicamentos (hoje Sandoz). Disputávamos esse importante
investimento com a cidade de Sorocaba, e os paulistas estavam em vantagem.
Representantes sorocabanos tinham ido três vezes para a Alemanha, estavam fortes no
páreo. Mas Cambé acabou vencendo e ficou com a fábrica. Pesou para a nossa região o
fato de termos os cursos de Farmácia e Bioquímica da Universidade Estadual de
Londrina e da Universidade Estadual de Maringá. A oferta de mão de obra qualificada
foi decisiva para que os alemães escolhessem vir para cá.
Outro exemplo: a Pado só veio para Cambé porque temos um setor de metalurgia forte
na região. O fato é que a mão de obra é fundamental para que possamos atrair o
interesse de grandes empresas.
A qualificação leva à melhoria na renda do trabalhador. Para ganhar R$ 800, R$ 900, há
empregos disponíveis. Mas para ganhar o dobro, é preciso ter qualificação profissional.
Temos em nossa região um aparato de escolas profissionalizantes, em nível técnico e
superior, já instalado. Mas podemos avançar. As empresas, individualmente ou
coletivamente, podem montar cursos, escolas de fábricas – e até contato com as
parcerias e incentivos do setor público.
Mas, repito, o primeiro passo é ter vontade política, parcerias público-privadas e o
envolvimento de toda a sociedade. A palavra é mobilização: vamos nos unir para
voltarmos a receber mais indústrias, arrecadar mais impostos e ter desenvolvimento
econômico e social.
JOSÉ DO CARMO GARCIA é ex-prefeito de Cambé e ex-presidente das associações
Paranaense e Brasileira de Municípios
■ Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no míni-
mo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do
jornal. E-mail: [email protected]
José do Carmo Garcia