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88 Sobre a Prática e a CoSobre a Prática e a Contradiçãontradição 

“nosso”, assumindo inteira responsabilidade por ele, e não nos livrar-mos confortavelmente do “mau” resultado das coisas por atribuí-loa um intruso estrangeiro (o “mau” Engels, demasiado estúpido para

entender a dialética de Marx, o “mau” Lênin, que não compreendeua essência da teoria de Marx, o “mau” Stálin, que estragou os nobresplanos do “bom” Lênin etc.).

A primeira coisa a fazer, portanto, é endossar a totalidade do des-locamento na história do marxismo, concentrado em duas grandespassagens (ou melhor, cortes violentos): a de Marx a Lênin e a de Lênina Mao. Em cada caso, há deslocamento da constelação original: do paísmais avançado (como esperava Marx) para o relativamente atrasado –

a revolução “ocorreu no país errado”; de operários para camponeses(pobres), como o principal agente revolucionário etc. Da mesma for-ma que Cristo precisou da “traição” de Paulo para que o cristianismoemergisse como igreja universal (lembrar que, entre os 12 apóstolos,Paulo ocupa o lugar de Judas, o traidor, substituindo-o!), Marx pre-cisou da “traição” de Lênin para levar à prática a primeira revoluçãomarxista: é uma necessidade inerente ao ensinamento “original” sub-meter-se e sobreviver a essa “traição”, sobreviver a esse ato violento de

ser arrancado de seu contexto original e lançado em cenário estranhoem que se deve reinventar – só assim nasce a universalidade.Com respeito à segunda transposição violenta, a de Mao, é de-

masiado fácil condenar sua reinvenção do marxismo tanto por serteoricamente “inadequada” quanto por constituir uma regressão, secomparada aos padrões de Marx (é fácil mostrar que falta aos campo-neses a subjetividade proletária insubstancial), mas não é menos ina-dequado amenizar a violência do corte e aceitar a reinvenção de Maocomo continuação lógica ou “aplicação” do marxismo (baseando-se,como normalmente é o caso, na simples expansão metafórica da lutade classes: a luta de classes predominante “hoje” já não é mais entre ca-pitalistas e proletariado em cada país; ela mudou para Terceiro Mundoversus Primeiro Mundo, nações burguesas versus nações proletárias).O que Mao fez foi temível: seu nome representa a mobilização políticade centenas de milhões de trabalhadores anônimos do Terceiro Mun-do, cujo trabalho fornece a invisível “substância”, cenário do desenvol-

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  Slavoj ZSlavoj Zizek apresentaizek apresenta 9

vimento histórico – a mobilização de todos aqueles que até um poetada alteridade, Lévinas, rejeitou como “o perigo amarelo” –, como se lênaquele que pode ser considerado seu texto mais estranho, “O deba-

te russo-chinês e a dialética” (1960), um comentário sobre o conflitosino-soviético: “O perigo amarelo! ele não é racial, é espiritual. Nãoenvolve valores inferiores; envolve estranhamento radical, estranho aopeso do próprio passado, de onde não se filtra nenhuma voz ou infle-xão familiar, um passado lunar ou marciano.”2

Isso não faz lembrar a insistência de Heidegger, nos anos 1930, emque a principal tarefa do pensamento ocidental de então era defendero avanço grego, o gesto de fundação do “Ocidente”, a superação do

universo pré-filosófico, mítico, “asiático”, para lutar contra a renovadaameaça “asiática” – o maior antagonista do Ocidente é “o mítico em ge-ral e o asiático em particular”?3 É essa “estranheza radical” asiática quese mobiliza, politiza, pelo movimento comunista de Mao Tsé-Tung.

Em Fenomenologia do espírito, Hegel apresenta sua conhecida no-ção do feminino como “a duradoura ironia da comunidade”: o femi-nino “... transforma, pela intriga, o fim universal do governo em umfim privado, sua atividade universal no trabalho de algum indivíduo

particular, e perverte a propriedade universal do Estado em possessãoe ornamento para a família”.4

Em contraste com a ambição masculina, uma mulher quer poder parapromover seus próprios e estreitos interesses familiares, ou, o que é pior,seus caprichos pessoais, incapaz, como é, de perceber a dimensão univer-sal da política de Estado. Como deixar de lembrar o argumento de F.W.J.Schelling segundo o qual “o mesmo princípio que nos conduz e sustentaem sua ineficiência bem poderia consumir-nos e destruir-nos em sua efi-cácia”?5 Um poder que, mantido no lugar adequado, pode ser benigno eapaziguador transforma-se em seu contrário radical, na mais destrutivafúria, no momento em que passa a intervir num plano mais alto, que nãoé o seu: a mesma feminilidade que, dentro do círculo fechado da vida fa-miliar, é o próprio poder do amor cuidadoso, torna-se um frenesi obscenoquando atua no plano da coisa pública e dos negócios de Estado...

Resumindo, admite-se que uma mulher proteste contra o poderpúblico do Estado em benefício dos direitos de família e do paren-

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1010 Sobre a Prática e a CoSobre a Prática e a Contradiçãontradição 

tesco; mas a desgraça cairá sobre a sociedade em que as mulheres searvorarem a influenciar diretamente as decisões relativas a assuntosde Estado, manipulando seus débeis parceiros masculinos, na verdade

emasculando-os... Não existirá algo similar no terror que se levantadiante da perspectiva do despertar das anônimas massas asiáticas? Elassão aceitáveis se protestam contra sua sorte e nos deixam ajudá-las(mediante ações humanitárias em grande escala), mas não quando di-retamente “se atribuem poder”, para horror dos simpatizantes liberais,sempre prontos a apoiar a revolta dos pobres e despossuídos, sob acondição de que se manifestem com boas maneiras?

O admirador secreto de Bourdieu no Cáucaso,6 de Georgi M. Der-

luguian, conta a extraordinária história de Musa Shanib, da Abkazia,o principal intelectual daquela turbulenta região, cuja surpreendentecarreira levou, de intelectual dissidente soviético, passando por re-formador político democrático e senhor da guerra fundamentalistamuçulmana, à condição de respeitado professor de filosofia, sempremarcada pela estranha e permanente admiração de Shanib pelo pen-samento de Pierre Bourdieu. Existem duas maneiras de fazer face a talfigura. A primeira reação é desqualificá-la como excentricidade local,

encarando Musa Shanib com benevolente ironia: “Que escolha estra-nha, Bourdieu! O que esse tipo folclórico verá em Bourdieu?” A segundareação é afirmar diretamente o escopo universal de toda teoria: “Vejamcomo a teoria é universal: todos os intelectuais, de Paris à Chechênia eà Abkazia, podem debater as teorias de Bourdieu!” A tarefa verdadeira,claro, é evitar ambas essas opções e afirmar a universalidade de uma te-oria como resultado de árduo trabalho teórico e de pesada luta teórica,luta que não é externa à teoria: a questão não é apenas que Shanib tevede trabalhar muito para vencer as restrições de seu contexto local eapropriar-se do pensamento de Bordieu; na verdade, essa apropriaçãode Bourdieu por um intelectual abkaziano também afeta a substância daprópria teoria, transpondo-a para um universo diferente.

Lênin não terá feito – mutatis mutandi – algo similar com Marx?A mudança de orientação de Mao com relação a Lênin e a Stálin dizrespeito à relação entre a classe operária e os camponeses: tanto Lênincomo Stálin nutriam profunda desconfiança com relação aos campo-

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  Slavoj ZSlavoj Zizek apresentaizek apresenta 1111  

neses e viam como uma das principais tarefas do poder soviético que-brar sua inércia, seu substancial apego à terra, para “proletarizá-los” e,assim, expô-los integralmente à dinâmica da modernização – em níti-

do contraste com Mao, que, em suas notas críticas ao livro Problemaseconômicos do socialismo na União Soviética, de Stálin (1958), observouser “o ponto de vista de Stálin ... quase completamente equivocado. Oerro básico é não confiar nos camponeses”.7 

As conseqüências teóricas e políticas dessa mudança de orienta-ção são literalmente enfraquecedoras: implicam nada menos que umarigorosa reconstrução da noção hegeliana de Marx a respeito da posi-ção do proletariado como a posição da “subjetividade insubstancial”,

daqueles que estão reduzidos ao abismo de sua subjetividade.Esse é o movimento da “universalidade concreta”, essa radical “tran-

substanciação” pela qual a teoria original tem de reinventar-se em novocontexto: só quando sobrevive a esse transplante pode a teoria despontarcomo efetivamente universal. E, claro, a questão não é que estejamoslidando aqui com o processo pseudo-hegeliano de “alienação” e “desalie-nação”, de como a teoria original é “alienada”, tendo então de incorporaro contexto estrangeiro, reapropriá-lo e a ela o subordinar: o que tal no-

ção pseudo-hegeliana não prevê é a forma pela qual esse transplante vio-lento para um contexto estrangeiro afeta radicalmente a própria teoriaoriginal, de tal modo que, quando essa teoria “retorna a si mesma em suaalteridade” (reinventa-se no contexto estrangeiro), sua própria substân-cia muda – e, mesmo assim, essa mudança de orientação não é apenas areação a um choque externo; ela permanece uma transformação internada mesma teoria da superação do capitalismo.

É nesse sentido que o capitalismo é uma “universalidade concreta”:o problema não é isolar o que todas as formas particulares de capita-lismo têm em comum, suas características universais compartilhadas,mas entender essa matriz como força positiva em si mesma, como algoque todas as formas particulares concretas tratam de contrabalançar,para conter seus efeitos destrutivos.

O sinal mais confiável do triunfo ideológico do capitalismo é ovirtual desaparecimento da própria palavra nas últimas duas ou trêsdécadas: dos anos 1980 em diante,

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1212 Sobre a Prática e a CoSobre a Prática e a Contradiçãontradição 

... virtualmente ninguém mais, com exceção de alguns poucos marxistassupostamente arcaicos (uma “espécie em extinção”), refere-se a capitalis-mo. O termo foi simplesmente cortado do vocabulário dos políticos, sin-

dicalistas, escritores e jornalistas – bem como dos cientistas sociais, que ocondenaram ao olvido histórico.8

Então o que dizer da rápida ascensão do movimento antiglobali-zação nos últimos anos? Não contradiz ele claramente esse diagnós-tico? De forma alguma. Um olhar mais próximo mostra de imediatocomo esse movimento também sucumbe à “tentação de transformaruma crítica ao próprio capitalismo (centrada nos mecanismos econô-micos, nas formas de organização do trabalho e na extração do lu-

cro) em crítica ao ‘imperialismo’”.9 Desse modo, quando se fala sobre“a globalização e seus agentes”, o inimigo é externalizado (comumentena forma de um antiamericanismo vulgar). A partir dessa perspectiva,segundo a qual a principal tarefa de hoje é combater o “império norte-americano”, qualquer aliado é bom se for antiamericano.

Assim, o desenfreado capitalismo “comunista” chinês, os violentosantimodernistas islâmicos, bem como o obsceno regime de Lukashenkoem Belarus (ver a visita de Chávez a Belarus em julho de 2006), podem

aparecer como progressistas companheiros de armas da antiglobaliza-ção... O que temos aqui, portanto, é outra versão da mal-afamada noçãode “modernidade alternada”: em vez da crítica ao capitalismo como tal,que confronte seu mecanismo básico, temos a crítica aos “excessos” doimperialismo, que comporta a idéia subjacente de mobilizar os mecanis-mos do capitalismo no quadro de uma estrutura mais “progressista”.

É desse modo que se deve abordar aquilo que pode ser considera-do a contribuição central de Mao à filosofia marxista: suas elaboraçõessobre a noção da contradição. Não as deveríamos descartar como umaregressão filosófica sem valor (que, tal como facilmente demonstrável,se apóia em uma vaga noção de “contradição”, cujo significado é mera“luta de tendências opostas”). A tese principal do grande texto de Mao“Sobre a contradição”, a respeito dos dois aspectos das contradições,“a principal e as não principais em um processo, e o aspecto principale os aspectos não principais de uma contradição”, merece leitura maisatenta. A repreensão de Mao aos “marxistas dogmáticos” é quanto ao

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fato de eles “não compreenderem que é precisamente na particularida-de da contradição que reside sua universalidade”:

Por exemplo, na sociedade capitalista, as duas forças em contradição, o pro-letariado e a burguesia, formam a contradição principal. As demais con-tradições, como aquelas entre a classe feudal remanescente e a burguesia,entre a pequena burguesia camponesa e a burguesia, entre o proletariadoe a pequena burguesia camponesa, entre os capitalistas não-monopolistas eos capitalistas monopolistas, entre a democracia burguesa e o fascismo bur-guês, entre países capitalistas e entre o imperialismo e as colônias, todas sãodeterminadas ou influenciadas por essa contradição principal. ...

Quando o imperialismo lança uma guerra de agressão contra um país

assim, todas as suas várias classes, à exceção de alguns traidores, podemtemporariamente unir-se em guerra nacional contra o imperialismo. Nes-sa ocasião, a contradição entre o imperialismo e o país afetado torna-se acontradição principal, ao passo que todas as contradições entre as váriasclasses sociais dentro do país (incluída a que era a principal, vale dizer acontradição entre o sistema feudal e as grandes massas do povo) ficamtemporariamente relegadas a posição secundária e subordinada.10

Este é o argumento fundamental de Mao: a contradição principal

(universal) não se sobrepõe àquela que deveria ser tratada como a con-tradição dominante numa situação particular – a dimensão universalliteralmente reside nessa contradição particular. Em cada situação con-creta, uma contradição “particular” diferente é a predominante, no sen-tido preciso de que, para vencer a luta pela resolução da contradiçãoprincipal, devemos tratar uma contradição particular como a que é pre-dominante, à qual todas as outras lutas deveriam estar subordinadas.

Na China sob ocupação japonesa, a unidade patriótica contra os japoneses era o elemento predominante, posto que os comunistas que-riam vencer a luta de classes – qualquer foco direto na luta de classes na-

quelas condições iria de encontro à própria luta de classes. (Nisto talvezresida a característica principal do “oportunismo dogmático”: insistirna centralidade da contradição principal no momento errado.) O ou-tro ponto-chave refere-se ao aspecto principal de uma contradição. Porexemplo, no que diz respeito à contradição entre as forças produtivase as relações de produção:

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1414 Sobre a Prática e a CoSobre a Prática e a Contradiçãontradição 

... as forças produtivas, a prática e a base econômica em geral desempe-nham o papel principal e decisivo; quem negar isso não é materialista.

Mas também é forçoso admitir que, em certas condições, aspectos tais

como as relações de produção, a teoria e a superestrutura manifestam-sepor sua vez no papel principal e decisivo. Quando é impossível para as for-ças produtivas desenvolverem-se sem uma transformação das relações deprodução, então a transformação das relações de produção desempenha opapel principal e decisivo.11

O interesse político desse debate é decisivo: o objetivo de Mao éafirmar o papel principal, na luta política, daquilo a que a tradiçãomarxista comumente se refere como o “fator subjetivo” – a teoria, a

superestrutura. Isso é o que, segundo Mao, Stálin negligenciou:

O livro de Stálin [Problemas econômicos do socialismo na União Soviética],do começo ao fim, nada diz sobre a superestrutura. Não se preocupa comas pessoas; considera as coisas, e não as pessoas... [Ele fala] somente dasrelações de produção, e não da superestrutura ou da política, ou do papeldo povo. O comunismo só pode ser alcançado se houver um movimentocomunista.12

Alain Badiou, que procede no caso como um verdadeiro maoísta,aplica esse modo de pensar à constelação atual, evitando o foco na lutaanticapitalista, até mesmo ridicularizando sua forma principal hoje (omovimento antiglobalização), e definindo a luta de emancipação emtermos estritamente políticos como a luta contra a democracia (libe-ral), a forma político-ideológica agora predominante. “Hoje o inimi-go não se chama império ou capital. Chama-se democracia.”13 O queatualmente impede o questionamento radical do próprio capitalismoé precisamente a crença na forma democrática da luta contra o capita-

lismo. A posição de Lênin contra o “economicismo” e contra a política“pura” mostra-se crucial hoje, no que diz respeito à atitude divididaem relação à economia na esquerda (ou no que dela restou): por umlado, os “políticos puros”, que abandonam a economia como espaço deluta e intervenção; por outro, os “economicistas”, fascinados pelo fun-cionamento da economia global, que excluem qualquer possibilidadede intervenção política apropriada.