Zzz - Direito Do Mar

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    CAPTULO 2

    DIREITO DO MAR

    Em 10 de dezembro de 1982, em Montego Bay, Jamaica, encerrou-se a III Conferncia das NaesUnidas sobre o Direito do Mar e abriu-se assinatura a Conveno das Naes Unidas sobre o Direito doMar. OBrasil assinou a Conveno naquela mesma data, junto com outros 118pases.

    Aquele evento culminou uma longa histria de negociaes, na verdade iniciada em 1930, ento sob agide da Liga das Naes, em que a comunidade internacional procurou elaborar um regime jurdicointernacionalmente reconhecido para o meio marinho. O esforo foi continuado, em 1958 e em 1960, pelasduas primeiras Conferncias das Naes Unidas sobre o Direito do Mar. Dado o malogro daquelas tentativas,

    o debate foi reiniciado, em 1967, na Assemblia Geral das Naes Unidas e, aps cinco anos de negociaespreparatrias, no Comit para os Fundos Marinhos, abriu-se em 1973 a III Conferncia das Naes Unidassobre o Direito do Mar. O trabalho desenvolveu-se ao longo de 11 sesses da conferncia, durante noveanos, at a sesso de encerramento na Jamaica. Quase 160 Estados, no apenas os membros das NaesUnidas, intervieram nos debates, que constituram o maior empreendimento normativo da histria dasrelaes internacionais, pois tratou-se de legislar sobre todos os usos em todos os espaos martimos eocenicos, que perfazem cerca de 4/5da superfcie do globo terrestre. A Conveno e os nove anexos que aintegram, num total de 438 artigos, o resultado da tarefa (extrato de Informao produzida pelo Ministriodas Relaes Exteriores, em 25/01/1988).

    Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar

    A Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar, ou, simplesmente, Conveno(ver referncia bibliogrfica n 53) consagra a noo de que todos os problemas dosespaos ocenicos se inter-relacionam e, portanto, necessitam ser considerados como umtodo. Os artigos e os anexos que a integram legislam sobre todos os aspectos dessesespaos, entre os quais podem ser destacados: delimitao, controle ambiental, investigaocientfica marinha, atividades econmicas e comerciais, transferncia de tecnologia edisputas.

    De acordo com seu artigo 308, a Conveno entrou em vigor no dia 16 de novembro de

    1994. At o dia 1 de fevereiro de 2005, 148 Estados a haviam ratificado, entre eles oBrasil, no dia 22 de dezembro de 1988.

    Novos espaos martimos

    Na figura 2, podemos visualizar um grfico, onde so indicados os novos espaosmartimos estabelecidos pela Conveno e j adotados pelo Brasil.

    O mar territorial deve ser medido a partir das linhas de base (retas ou normais) e nodeve ultrapassar o limite das 12 milhas martimas (ou, simplesmente, milhas). A figura 3mostra um exemplo de linhas de base normais - linhas de baixa-mar ao longo da costa - e

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    de linhas de base retas - nos locais em que a costa apresente recortes profundos ereentrncias, ou em que exista uma franja de ilhas na sua proximidade imediata.

    Adjacente ao mar territorial, a zona contgua, cujo limite mximo de 24 milhas, medida a partir das linhas de base do mar territorial.A zona econmica exclusiva, medida a partir das linhas de base do mar territorial, no

    deve exceder a distncia de 200 milhas.A plataforma continental, que compreende o solo e o subsolo das reas submarinas

    alm do mar territorial, pode estender-se alm das duzentas milhas, at o bordo exterior damargem continental. Tal bordo deve ser determinado com base na aplicao dos critriosestabelecidos no artigo 76 da Conveno.

    A distncia mxima est limitada a 350 milhas, a contar da linha de base a partir da qualse mede a largura do mar territorial, ou a uma distncia que no exceda cem milhas da

    isbata de 2.500 metros (linha que une os pontos com essa profundidade).Alm dos espaos martimos indicados na figura 2, julgamos oportuno, por sua

    relevncia, registrar os conceitos do que se compreende por guas interiores, guasarquipelgicas, alto-mar, regime das ilhas e rea.

    guas interiores. As guas situadas no interior das linhas de base do mar territorialfazem parte das "guas interiores de um Estado. Assim, no caso particular brasileiro, eapenas como trs breves exemplos, as guas do rio Amazonas, do rio So Francisco e dalagoa dos Patos so consideradas guas interiores.

    guas arquipelgicas. Arquiplago significa um grupo de ilhas, as guas circunjacentese outros elementos naturais, to estreitamente relacionados entre si que tais ilhas, guas eelementos naturais formem intrinsecamente uma entidade geogrfica, econmica e polticaou que historicamente tenham sido considerados como tal. Segundo a Conveno, umEstado arquiplago constitudo inteiramente por um ou vrios arquiplagos. Um exemplotpico, e maior do mundo, o Estado arquiplago da Indonsia, composto por 17.508 ilhas,6 mil das quais inabitadas, situado na regio equatorial, entre o oceano ndico e o oceanoPacfico. As guas arquipelgicas so delimitadas pelas linhas de base arquipelgicas, apartir das quais deve ser medido o mar territorial de um Estado arquiplago.

    Alto-mar. O alto-mar compreende todas as partes do mar no includas na zonaeconmica exclusiva, no mar territorial ou nas guas interiores de um Estado, nem nas

    guas arquipelgicas de um Estado arquiplago.Regime das ilhas. O mar territorial, a zona contgua, a zona econmica exclusiva e aplataforma continental de uma ilha sero determinados de conformidade com asdisposies da Conveno, aplicveis a outras formaes terrestres. Contudo, os rochedosque, por si prprios, no se prestem habitao humana ou vida econmica no devem terzona econmica exclusiva nem plataforma continental. Por esse motivo, o Brasil, ao finaldos anos 90, adotou as seguintes providncias em relao aos rochedos de So Pedro e SoPaulo, situados a cerca de 520 milhas do litoral do estado do Rio Grande do Norte:

    - mudou-lhes o nome, de "rochedos" para arquiplago de So Pedro e So Paulo;

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    - construiu e instalou um farol, para substituir aquele que foi destrudo por sismo em 1930;e- construiu uma estao cientfica, permanentemente guarnecida por quatro pesquisadores.

    rea. Designa o solo e o subsolo marinhos situados alm da jurisdio nacional. PelaConveno, area e seus recursos so patrimnio comum da humanidade.

    Perspectivas

    Ao entrar em vigor em novembro de 1994, a Conveno no contava com a ratificao dealguns importantes pases industrializados, entre eles Canad, Estados Unidos da Amrica(EUA), Federao Russa, Frana, Holanda, Itlia, Japo, Noruega, Reino Unido e Sucia.Segundo analistas internacionais, esses pases industrializados no haviam, at ento,depositado seus respectivos instrumentos de ratificao, em virtude das disposies daParte XI da Conveno, a qual trata dos recursos minerais da rea.

    Com a finalidade de contornar certas dificuldades impostas pelos pasesindustrializados, no que concerne explorao e ao aproveitamento dos recursos mineraisda rea, o Secretrio-Geral da Organizao das Naes Unidas realizou uma srie deconsultas informais que culminaram na adoo, em julho de 1994, do Acordo deImplementao da Parte XI da Conveno, o qual entrou em vigor em julho de 1996.

    O advento desse acordo permitiu que, exceo dos EUA, todos os demais pasesindustrializados ratificassem a Conveno. No obstante o reconhecido peso poltico dosEUA, podemos afirmar que a Conveno atingiu o patamar do reconhecimentointernacional, tornando-se, sem dvida, importante instrumento, no contexto da utilizaopacfica dos oceanos. Ademais, o governo norte-americano tem dado sinais recentes no

    sentido de uma possvel ratificao em breve.

    Direitos e responsabilidades

    Os direitos e responsabilidades dos Estados, de maior interesse do Brasil, associadosaos espaos martimos, esto descritos nos itens a seguir.

    Mar territorial e zona contgua

    A soberania do Estado costeiro estende-se alm do seu territrio e das suas guas

    interiores e, no caso de Estado arquiplago, das suas guas arquipelgicas, a uma zona demar adjacente, designada mar territorial. Essa soberania estende-se ao espao areosobrejacente ao mar territorial, e tambm ao solo e ao subsolo desta zona.

    O conceito de mar territorial amplamente aceito pela comunidade internacional, atmesmo pelos Estados que ainda no ratificaram a Conveno, entre eles os EUA. Vale aquifazer referncia a um acontecimento ocorrido em fevereiro de 1996, oportunidade em quetrs avies civis americanos, vinculados ao Brothers to the Rescue, voavam sobre o estreitoda Flrida, procura de refugiados cubanos. Sob a alegao de que os avies americanosinvadiram o espao areo cubano correspondente s 12 milhas de mar territorial, avies

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    militares de Cuba abateram duas daquelas aeronaves. At hoje os americanos negam quetenham invadido o espao areo cubano, mas o que se pode depreender do ocorrido que

    tanto Cuba quanto os EUA reconheceram e respeitaram o statusjurdico do mar territorial.Os navios de qualquer Estado, costeiro ou sem litoral, gozaro do direito de passageminocente pelo mar territorial. A passagem inocente desde que no seja prejudicial paz, boa ordem ou segurana do Estado costeiro. A passagem de um navio estrangeiro serconsiderada prejudicial paz, boa ordem ou segurana do Estado costeiro se este naviorealizar, no mar territorial, as atividades listadas no artigo 19 da Conveno, entre as quaispodemos citar: ameaa ou uso da fora contra a soberania e a integridade territorial doEstado costeiro; e exerccios ou manobras com armas de qualquer tipo.

    No mar territorial, os submarinos e quaisquer outros veculos submersveis devemnavegar superfcie e arvorar sua bandeira.

    Ao exercer o direito de passagem inocente pelo mar territorial, os navios estrangeiros depropulso nuclear e os navios que transportem substncias radioativas devem ter a bordo osdocumentos e observar as medidas especiais de precauo estabelecidas para estes naviosnos acordos internacionais.

    A jurisdio penal do Estado costeiro no ser exercida a bordo de navio estrangeiroque passe pelo mar territorial, com o fim de deter qualquer pessoa ou de realizar qualquerinvestigao, salvo se a infrao criminal tiver conseqncias para o Estado costeiro ou forde tal natureza que possa perturbar a paz do pas ou a ordem no mar territorial.

    O Estado costeiro no deve parar nem desviar do seu rumo um navio estrangeiro quepasse pelo mar territorial, a fim de exercer sua jurisdio civil em relao a uma pessoa que

    se encontre a bordo.Pela Conveno, navio de guerra significa qualquer navio pertencente s foras

    armadas de um Estado, que ostente sinais exteriores prprios de navios de guerra da suanacionalidade, sob o comando de um oficial devidamente designado pelo Estado, cujonome figure na correspondente lista de oficiais e cuja tripulao esteja submetida s regrasda disciplina militar. Se um navio de guerra no cumprir as leis e os regulamentos doEstado costeiro relativos passagem pelo mar territorial e no acatar o pedido que lhe forfeito para seu cumprimento, o Estado costeiro pode exigir-lhe que saia imediatamente domar territorial. No obstante, nenhum dispositivo da Conveno afetar as imunidades dos

    navios de guerra e de outros navios de Estado utilizados para fins no comerciais.

    A partir do limite exterior do mar territorial, o Estado costeiro no mais exercesoberania, mas apenas jurisdio sobre os diversos espaos martimos. Tal jurisdio deveser exercida nos termos previstos na Conveno. Assim, na zona contgua, o Estadocosteiro pode tomar as medidas de fiscalizao necessrias a evitar as infraes s leis eregulamentos aduaneiros, fiscais, de imigrao ou sanitrios, no seu territrio ou no seu marterritorial.

    O Estado costeiro poder exercer o direito de perseguio a um navio estrangeiro,quando as autoridades tiverem motivos fundados para acreditar que o navio infringiu suas

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    leis e regulamentos no mar territorial, na zona contgua, na zona econmica exclusiva ou naplataforma continental. O direito de perseguio cessa no momento em que o navio

    perseguido entra no mar territorial do seu prprio Estado ou no mar territorial de umterceiro Estado. O direito de perseguio s pode ser exercido por navios de guerra ouaeronaves militares, ou por outros navios ou aeronaves que tenham sinais claros que osidentifiquem como navios e aeronaves ao servio de um governo e estejam para tantoautorizados.

    Zona econmica exclusiva

    Na zona econmica exclusiva, o Estado costeiro tem:

    - direitos de soberania para fins de explorao e aproveitamento, conservao e gesto dosrecursos naturais, vivos ou no-vivos, das guas sobrejacentes ao leito do mar, do solo edo subsolo marinhos e, no que se refere a outras atividades, para explorao eaproveitamento da zona para fins econmicos, como a produo de energia a partir dagua, das correntes martimas e dos ventos; e

    - jurisdio no que se refere a:-colocao e utilizao de ilhas artificiais, instalaes e estruturas;- investigao cientfica marinha; e-proteo e preservao do meio marinho.

    Todos os Estados, quer costeiros, quer sem litoral, gozam das liberdades de navegao esobrevo e de colocao de cabos e dutos submarinos, na zona econmica exclusiva.

    Nessa zona, o Estado costeiro tem o direito exclusivo de construir ilhas artificiais,estruturas e instalaes, e de regulamentar sua operao e sua utilizao. O Estado costeiro,se necessrio, pode criar, em volta delas, zonas de segurana de largura razovel, nas quaispode tomar medidas adequadas para garantir a segurana, tanto da navegao como dasilhas artificiais, estruturas e instalaes. Tais zonas de segurana no excedero quinhentosmetros, medidos a partir dos bordos exteriores. Todos os navios devem respeitar essaszonas de segurana e cumprir as normas internacionais geralmente aceitas, relativas navegao, nas proximidades das ilhas artificiais, estruturas e instalaes, as quais no tmo mesmo estatuto jurdico de ilhas. Portanto, no tm mar territorial prprio e sua presenano afeta a delimitao do mar territorial e da zona econmica exclusiva, e os limitesexteriores da plataforma continental.

    O Estado costeiro fixar as capturas permissveis dos recursos vivos na sua zonaeconmica exclusiva, tendo em conta que tais recursos no sejam ameaados por umexcesso de captura. Ademais, o Estado costeiro deve ter por objetivo promover a utilizaotima desses recursos vivos. importante ressaltar que, quando o Estado costeiro no tivercapacidade para efetuar a totalidade da captura permissvel, deve dar acesso, a outrosEstados, ao excedente desta captura, mediante acordos ou outros ajustes previstos na

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    Conveno.Os nacionais de outros Estados que pesquem na zona econmica exclusiva devem

    cumprir as medidas de conservao estabelecidas nas leis e nos regulamentos do Estadocosteiro.Os Estados devem cooperar, com o intuito de assegurar a conservao dos mamferos

    marinhos, e, no caso dos cetceos, trabalhar, preferencialmente por intermdio deorganizaes internacionais apropriadas, para sua conservao, gesto e estudo.

    Os Estados sem litoral e os Estados costeiros geograficamente desfavorecidos terodireito a participar, numa base eqitativa, do aproveitamento de uma parte apropriada dosexcedentes de recursos vivos das zonas econmicas exclusivas dos Estados costeiros damesma regio.

    O Estado costeiro pode, no exerccio dos seus direitos de soberania de explorao,

    aproveitamento, conservao e gesto dos recursos vivos da zona econmica exclusiva,tomar as medidas que sejam necessrias, includos visita, inspeo, apresamento e medidasjudiciais, para garantir o cumprimento das leis e dos regulamentos por ele adotados.

    Nesse contexto, entendemos oportuno ressaltar que, em funo do aumento, em mbitoplanetrio, da atividade pesqueira e da sobrepesca em relao a algumas espcies, osbarcos pesqueiros passaram a operar em guas cada vez mais distantes dos seus pases deorigem, tendendo a invadir reas sob jurisdio de outros Estados. Assim sendo, os Estadoscosteiros foram levados a intensificar a fiscalizao das atividades de pesca em suas guasjurisdicionais.

    O Brasil exerce tal fiscalizao com a participao efetiva do Comando da Marinha,

    que emprega parte de seus meios flutuantes nesse tipo de atividade, especialmente na zonaeconmica exclusiva, onde vrias embarcaes estrangeiras no raro so surpreendidas ematividades ilegais de pesca. Um exemplo desse tipo de ao da Marinha diz respeito aoapresamento do barco de pesca Yannick 2, de bandeira francesa, em janeiro de 2005, amais de cem milhas do litoral do estado do Amap, nas proximidades da fronteira lateralmartima entre o Brasil e a Guiana Francesa, pelo Navio-Patrulha Guaruj, do GrupamentoNaval do Norte, sediado em Belm.

    As linhas do limite exterior da zona econmica exclusiva devem ser indicadas em cartasde escalas adequadas determinao da sua posio. Quando apropriado, essas linhas

    podem ser substitudas por listas de coordenadas geogrficas de pontos. O Estado costeirodeve dar a devida publicidade a tais cartas ou listas de coordenadas geogrficas e depositarum exemplar de cada carta ou lista junto do Secretrio Geral das Naes Unidas.

    Plataforma continental

    Informaes sobre o limite exterior da plataforma continental, alm das duzentasmilhas, devem ser submetidas pelo Estado costeiro Comisso de Limites da PlataformaContinental (Comisso), estabelecida de conformidade com o Anexo II Conveno. AComisso far recomendaes aos Estados costeiros sobre questes relacionadas com o

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    estabelecimento dos limites exteriores da sua plataforma continental. Os limites daplataforma continental, estabelecidos pelo Estado costeiro com base nessas recomendaes,

    sero definitivos e obrigatrios.O Estado costeiro deve depositar, junto do Secretrio Geral das Naes Unidas, mapas einformaes pertinentes que descrevam permanentemente os limites exteriores da suaplataforma continental. O Secretrio Geral deve dar a esses documentos a devidapublicidade.

    O Estado costeiro exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental, paraefeitos de explorao e aproveitamento dos seus recursos naturais. Tais recursos so osminerais e outros no-vivos do solo e do subsolo marinhos, e tambm os organismos vivospertencentes a espcies sedentrias, isto , aquelas que, no perodo da captura, estoimveis nessa mesma regio ou s podem mover-se em constante contato fsico com ela.

    Nesse contexto, julgamos oportuno ressaltar um episdio ocorrido em 1962-63, o qualficou conhecido como a guerra da lagosta, que quase levou o Brasil guerra com aFrana. Aps o apresamento de barcos de pesca franceses por navios de guerra brasileiros,no Nordeste, a Frana deslocou navios de guerra para a regio e o Brasil chegou a fazer omesmo. O problema, claramente de inspirao financeira, dizia respeito interpretao do

    artigo 2 da Conveno sobre a Plataforma Continental de 1958, poca vigente, segundoo qual os Estados costeiros exercem direitos soberanos sobre a plataforma continental para

    efeitos de explorao e aproveitamento dos seus recursos naturais. Se, para movimentar-se, a lagosta nadasse na massa lquida tese defendida pelos franceses -,no poderia ser

    considerada recurso natural da plataforma continental. O Brasil defendia tese diferente,isto , a lagosta, para locomover-se, no usaria a massa lquida e, sim, o solo marinho,onde se deslocaria por saltos e, portanto, deveria ser considerada como um recurso naturalda plataforma continental. Mas, finalmente, o bom senso prevaleceu e no houve guerraentre os dois pases. Ademais, a discusso sobre o meio de locomoo da lagostacontribuiu para o estabelecimento das disposies da futura Conveno, que viria a entrarem vigor em 1994.

    Todos os Estados tm o direito de colocar cabos e dutos submarinos na plataformacontinental. Ademais, o Estado costeiro ter o direito exclusivo de autorizar eregulamentar as perfuraes nessa plataforma, quaisquer que sejam os fins.

    O Estado costeiro deve efetuar pagamentos ou contribuies, em espcie, relativos aoaproveitamento dos recursos no-vivos da plataforma continental, alm das duzentasmilhas. Um Estado em desenvolvimento, que seja importador substancial de um recursomineral extrado da sua plataforma continental, fica isento desses pagamentos oucontribuies em relao a esse recurso mineral. Os pagamentos e contribuies devem serefetuados por intermdio da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, com sede emKingston, Jamaica.

    Alto-mar

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    O alto-mar est aberto a todos os Estados, quer costeiros quer sem litoral, e deve ser

    utilizado para fins pacficos. Nenhum Estado pode, legitimamente, ter a pretenso desubmeter qualquer parte do alto-mar sua soberania.

    Todos os Estados devem:- estabelecer os requisitos necessrios atribuio da sua nacionalidade a navios, para oregistro deles em seu territrio e para o direito de arvorar sua bandeira;- tomar medidas eficazes para impedir e punir o transporte de escravos, em naviosautorizados a arvorar sua bandeira;- cooperar, em toda a medida possvel, na represso pirataria no alto-mar, podendo, a,apresar navio ou aeronave pirata;- cooperar para a represso do trfico ilcito de estupefacientes e substnciaspsicotrpicas, praticado por navios, no alto-mar, com violao das convenesinternacionais.Vale aqui acrescentar como registro que, segundo notcias veiculadas pela BBC, a pirataria no

    mar tem crescido significativamente. De acordo com o Centro de Registro de Pirataria daMalsia, em Kuala Lumpur, no estreito de Mlaca houve um caso de pirataria em 1998,dois em 1999 e trinta em 2000. Em setembro de 2000, no mesmo estreito, um navio-tanquemalaio foi seqestrado, com grande quantidade de petrleo a bordo. Problema semelhanteparece estar ocorrendo no mar da China, ao norte do estreito de Mlaca, comoconseqncia do aumento do trfego martimo, em razo do crescimento do consumo depetrleo nos pases asiticos em desenvolvimento.

    Um navio tem a nacionalidade do Estado cuja bandeira esteja autorizado a arvorar, sendonecessria a existncia de um vnculo substancial entre ambos.Os navios devem navegar sob a bandeira de um s Estado e, salvo em casos excepcionais,submeter-se, em alto-mar, jurisdio exclusiva desse Estado. Aquele que navegue sob abandeira de dois ou mais Estados, utilizando-as segundo suas convenincias, no temcondies de reivindicar qualquer dessas nacionalidades perante um terceiro Estado e,assim, pode ser considerado como sem nacionalidade.Navios de guerra gozam, no alto-mar, de completa imunidade de jurisdio, relativamente aqualquer outro Estado que no seja o da sua bandeira.

    Acesso ao mar

    Os Estados sem litoral tm o direito de acesso ao mar e a partir do mar para exerceremos direitos conferidos na Conveno, includos os relativos liberdade do alto-mar e aopatrimnio comum da humanidade.

    A rea

    Nenhum Estado pode reivindicar ou exercer soberania ou direitos de soberania sobrequalquer parte da rea ou seus recursos. Todos os direitos sobre os recursos da reapertencem humanidade em geral, em cujo nome atuar a Autoridade Internacional dos

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    Fundos Marinhos.No que diz respeito aos recursos minerais da rea, inicialmente apenas os ndulos

    polimetlicos (ricos em cobre, cobalto, nquel e mangans) foram considerados. AResoluo II, constante da ata final da Conveno, especifica as normas relativas explorao e ao aproveitamento desses ndulos. Todavia, mais recentemente, sobretudo emfuno do desenvolvimento da tecnologia marinha, outros recursos minerais encontrados narea passaram a ser objeto de interesse. Tais recursos so os sulfetos polimetlicos (quecontm cobre, ferro, zinco, prata e ouro em diversos nveis de concentrao) e as crostas deferro-mangans, ricas em cobalto.

    Outrosespaos

    Nos estreitos utilizados para a navegao internacional, todos os navios e aeronavesgozam do direito de passagem em trnsito, isto , tm liberdade de navegao e sobrevoexclusivamente para fins de trnsito contnuo e rpido.

    A soberania de um Estado arquiplago estende-se s guas encerradas pelas linhas debase arquipelgicas, denominadas guas arquipelgicas, a despeito de sua profundidade oudistncia da costa, bem como ao espao areo sobrejacente, ao solo e ao subsolo, e aosrecursos a existentes.

    Os Estados tm, ainda, outros direitos e responsabilidades de carter geral, comodescrito nos itens seguintes.

    Proteo e preservao do meio marinho

    Os Estados tm a obrigao de proteger e preservar o meio marinho. Tm, tambm, odireito de soberania para aproveitar os seus recursos naturais, de acordo com sua polticaem matria de meio ambiente e de conformidade com seu dever de proteger e preservar omeio marinho.

    Devem, igualmente, adotar leis e regulamentos para prevenir, reduzir e controlar apoluio do meio marinho proveniente de fontes terrestres, includos rios, esturios, dutos einstalaes de descarga.

    No que diz respeito represso da poluio marinha, somente funcionrios oficialmentehabilitados, navios de guerra ou aeronaves militares podem exercer poderes de polcia emrelao a embarcaes estrangeiras.

    Alm do mar territorial, somente penas pecunirias podem ser impostas a embarcaesestrangeiras, nos casos de infraes s leis e aos regulamentos nacionais relativos proteo e preservao do meio marinho. O mesmo procedimento se aplica quando ainfrao ocorre nos limites do mar territorial, exceto no caso de ato intencional e grave depoluio.

    As disposies da Conveno relativas proteo e preservao do meio marinho nose aplicam aos navios de guerra, s embarcaes auxiliares e s outras embarcaes ouaeronaves pertencentes ou operadas por um Estado e utilizadas, no momento considerado,

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    unicamente em servio governamental no comercial.

    Investigaocientfica marinha

    Todos os Estados, a despeito da sua situao geogrfica, e as organizaesinternacionais competentes tm o direito de realizar investigao cientfica marinha (ICM),exclusivamente com fins pacficos.

    Os Estados costeiros, no exerccio de sua soberania, tm o direito exclusivo deregulamentar, autorizar e realizar ICM no seu mar territorial. Esta s deve ser realizada como consentimento expresso do Estado costeiro e nas condies por ele estabelecidas.

    Os Estados costeiros, no exerccio de sua jurisdio, tm o direito de regulamentar,autorizar e realizar ICM na sua zona econmica exclusiva e na sua plataforma continental,

    em conformidade com as disposies pertinentes da Conveno. A ICM na zona econmicaexclusiva e na plataforma continental deve ser realizada com o consentimento do Estadocosteiro.

    Uma organizao internacional competente poder dar incio a uma ICM, na zonaeconmica exclusiva e na plataforma continental de um Estado costeiro, seis meses aps adata em que tenham sido a ele fornecidas as informaes previstas em tais casos; a no serque, no prazo de quatro meses aps terem sido recebidas tais informaes, o Estadocosteiro, nos termos da Conveno, recuse seu consentimento ou solicite outrasinformaes cabveis.

    Os Estados e as organizaes internacionais competentes que se proponham realizar

    ICM na zona econmica exclusiva ou na plataforma continental de um Estado costeirodevem fornecer, a este Estado, com antecedncia mnima de seis meses da data previstapara o incio do projeto de ICM, entre outras informaes, uma descrio completa danatureza e dos objetivos do projeto.

    O Estado costeiro tem o direito de exigir a suspenso de quaisquer atividades de ICMem curso em sua zona econmica exclusiva ou em sua plataforma continental, desde que ainvestigao no esteja sendo conduzida nos termos inicialmente propostos ao Estadocosteiro, ou se no forem atendidas as demais condies previstas no artigo 249 daConveno. Nesse sentido, e com o intuito de fiscalizar as atividades de ICM, os Estadoscosteiros, entre eles o Brasil, costumam fazer embarcar especialistas nos navios de pesquisaestrangeiros.

    Desenvolvimento e transferncia de tecnologia marinha

    Os Estados, diretamente ou por intermdio das organizaes internacionaiscompetentes, devem cooperar, na medida de suas capacidades, para promover ativamente odesenvolvimento e a transferncia da cincia e da tecnologia marinhas, segundomodalidades e condies eqitativas e razoveis.

    Ao promover a cooperao, os Estados devem ter em devida conta todos os interesses

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    legtimos, includos, inter alia, os direitos e deveres dos possuidores, fornecedores erecebedores de tecnologia marinha.

    Situao brasileira

    A Lei n 8.617, de 4 de janeiro de 1993. estabelece as seguintes faixas martimas:- mar territorial, de 12 milhas;- zona contgua, das 12 s 24 milhas;- zona econmica exclusiva, das 12 s duzentas milhas; e-plataforma continental, prolongamento natural do territrio terrestre, at os seus limitesexteriores, estabelecidos segundo o artigo 76 da Conveno.

    Comisso Interministerial para os Recursos do Mar

    A Comisso lnterministerial para os Recursos do Mar (Cirm), coordenada peloComandante da Marinha, tem por finalidade conduzir os assuntos relativos consecuo daPoltica Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e gerenciar o Programa AntrticoBrasileiro.

    A PNRM tem por finalidade orientar o desenvolvimento das atividades que visem efetiva utilizao, explorao e ao aproveitamento dos recursos vivos, minerais eenergticos do mar territorial, da zona econmica exclusiva e da plataforma continental, deacordo com os interesses nacionais.

    A atuao da Cirm e o contedo da PNRM sero analisados, em detalhe, no prximocaptulo. Abordaremos, neste, apenas o Plano de Levantamento da Plataforma ContinentalBrasileira (Leplac), supervisionado pela Cirm, no apenas pelo importante estgio atual emque se encontra, mas tambm por ser responsvel pelo advento da idia que nos conduziuao conceito da Amaznia Azul. Como conseqncia direta do Leplac, o Brasil,oportunamente, dever incorporar sua jurisdio extensas reas ocenicas, alm do limitedas duzentas milhas.

    Em 1986, o Brasil, por iniciativa da Cirm e da Marinha, decidiu dar incio a um projeto,cujo propsito era determinar os limites exteriores da plataforma continental brasileira,alm das duzentas milhas, com base nas disposies do artigo 76 da Conveno.

    Tal projeto, que envolveu especialistas da Petrobrs, da comunidade cientfica e daMarinha, por intermdio da Diretoria de Hidrografia e Navegao - o tradicional ecompetente Servio Hidrogrfico Brasileiro -, foi desenvolvido ao longo de 18 anos (1986-2004).

    Uma vez concludo o projeto, foi elaborada a proposta brasileira, submetida, em maiode 2004, Comisso de Limites da Plataforma Continental, de acordo com o artigo 76 ecom o Anexo 11, artigo 4, da Conveno.

    Em setembro de 2004, a proposta comeou a ser examinada pela Comisso, numasubcomisso de sete peritos internacionais (argentino, australiano, chins, core ano, croata,

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    6 - Em conseqncia do Decreto n 86.830, de 12 de janeiro de 1982.7 - A PNRM, na verdade, foi aprovada em 1980 pelo governo brasileiro, mas carecia de diploma oficial quedesse respaldo sua existncia. Assim, foi legalmente instituda pelo Decreto n 5.377, de 23 de fevereiro de2005.

    Bibliografia

    VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira & outros AMAZNIA AZUL: O mar que nospertence Captulo 2: Direito do Mar. Editora Record, 2006.