GRUPO DE TRABALHO (GT) SOBRE REFORMA
DAS TELECOMUNICAÇÕES DO COMITÊ DE
DEFESA DOS USUÁRIOS DOS SERVIÇOS DE
TELECOMUNICAÇÕES (CDUST)
Brasília, 18/08/2017
Relatoria: Rafael A. F. Zanatta, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Sobre o CDUST
Comitê de Defesa dos Usuários de Serviços de Telecomunicações: criado em 1999 e redesenhado em 2015
Funções: assessorar e subsidiar o Conselho Diretor em defesa dos direitos dos consumidores de telecomunicações
Enfoque em controle, prevenção e repressão de infrações
Pode propor indicadores, procedimentos de controle, diretrizes para procedimento administrativo, entre outros (ver art. 3º, Resolução 650/2015)
Sobre o CDUST
I – Representantes da
Anatel
II – Representantes
convidados de
instituições públicas e
privadas
III - Representantes dos
Usuários de Serviços de
Telecomunicações ou
Entidades de Defesa do
Consumidor, públicas ou
privadas, sem fins
lucrativos
A criação do GT
Base jurídica do GT
“Art. 3º No cumprimento da sua finalidade, o
Comitê de Defesa dos Usuários de Serviços de
Telecomunicações realizará, dentre outras, as
seguintes atividades: (...) VIII - propor ao Conselho
Diretor da Anatel diretrizes para celebração dos
contratos de concessão, permissão e
autorização para prestação de serviços de
telecomunicações, observado o disposto nos arts.
93 e 127 da Lei nº 9.472, de 1997”;
Base jurídica do GT
Art. 127. A disciplina da exploração dos serviços no regime privado terá por objetivo viabilizar o cumprimento das leis, em especial das relativas às telecomunicações, à ordem econômica e aos direitos dos consumidores, destinando-se a garantir:
I - a diversidade de serviços, o incremento de sua oferta e sua qualidade;
II - a competição livre, ampla e justa;
III - o respeito aos direitos dos usuários;
IV - a convivência entre as modalidades de serviço e entre prestadoras em regime privado e público, observada a prevalência do interesse público;
V - o equilíbrio das relações entre prestadoras e usuários dos serviços;
VI - a isonomia de tratamento às prestadoras;
VII - o uso eficiente do espectro de radiofreqüências;
VIII - o cumprimento da função social do serviço de interesse coletivo, bem como dos encargos dela decorrentes;
IX - o desenvolvimento tecnológico e industrial do setor;
X - a permanente fiscalização.
Estrutura do relatório
1. Da voz aos dados: declínio da telefonia fixa e o desafio do acesso à Internet no Brasil
2. A “Reforma das Telecomunicações” e o PLC 79/2016
3. Pontos críticos do PLC 79/2016 da perspectiva da defesa do consumidor e do interesse público
Primeira parte: da voz aos
dados
Relatório de Acompanhamento das Telecomunicações da Anatel (2016)
Relatório de Acompanhamento das Telecomunicações da Anatel (2016)
Relatório de Acompanhamento das Telecomunicações da Anatel (2016)
Relatório de Acompanhamento das Telecomunicações da Anatel (2016)
Tribunal de Contas da União – Políticas de Inclusão Digital (2015)
Cenário em 2017
Desinteresse social pela telefonia fixa quando há possibilidade de utilização de telefonia móvel e internet
Necessidade de redesenho das políticas públicas, colocando a internet banda larga com eixo central
Diagnóstico da Anatel sobre ineficiência dos instrumentos de universalização utilizados nos últimos 20 anos, especialmente com relação às obrigações das concessões (e.g. TUPs)
Discussão sobre alternativas regulatórias e mudança jurídica, a partir da proposição feita pelo PL 3453/15 (PMDB-GO) e aprovada na Câmara dos Deputados
Cenário em 2017
Expansão do acesso à Internet fixa estagnou e tem sido suplantada pelo acesso à banda larga móvel
Desigualdades de acesso são profundas. Classes mais baixas continuam desconectadas (30 milhões de domicílios sem Internet)
Investimento está concentrado na região Sudeste. Regiões Norte e Nordeste sofrem com pouca infraestrutura e competividade
Exclusão digital é fenômeno multifacetado e barreira de entrada por preço é significativa (Brasil possui Internet cara e com velocidades mais baixas que média mundial)
Segunda parte: a “reforma das
telecomunicações”
Diagnóstico do Senado
O PNBL possui inúmeros gargalos
Há problemas de governança da política: CGPID não se reunia, não apresentava relatórios anuais de acompanhamento do PNBL. O Fórum Brasil Conectado foi desativado
Metas foram descumpridas. Telebrás prometeu 4.278 municípios, mas rede chegou a 612 (prometeu-se 2 bi de investimento, mas somente 214 milhões estavam em previsão orçamentária do PPA)
Renúncia fiscal estimada em 3,8 bilhões sem as devidas contrapartidas
Projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas tem visão somente de curto prazo
Proposições do Senado
1. Prestação do serviço de banda larga em regime público, reconhecendo o acesso à internet como essencial de interesse público
2. Elaboração de novo PNBL com horizonte de 20 anos e redesenho de governança e colaboração público-privado
3. Divulgação periódica de relatórios de execução de ações do PNBL
4. Ampliação dos investimentos públicos para alcançar a universalização da banda larga, fortalecendo papel da Telebrás
5. Aumento da velocidade do acesso básico e destravamento dos fundos setoriais (FUST, FISTEL e FUNTTEL)
6. Aumento da competição: medidas antitruste e incentivo à associações comunitárias, cooperativas e pequenos e médios provedores
Propostas da sociedade civil
Criação de regime jurídico próprio para Internet banda larga (público no transporte e privado na última milha), com separação entre operação de rede e prestação de serviço de conexão
Estímulo a preços módicos para o usuário final
Evitar concorrência predatória entre autorizadas e concessionárias
Subsídios a usuários de baixa renda e beneficiários de políticas sociais
Redesenho do FUST para devido investimento em universalização
Tribunal de Contas União (008.293/2015-5)
• FUST não está sendo utilizado para finalidades de universalização.
Distorção do componente financeiro da política pública.
Tribunal de Contas União (008.293/2015-5)
Uma mudança de plano?
Ampla revisão da LGT (consulta pública do MC)
Regime jurídico novo para banda larga
Mudanças no FUST
Revisão e expansão do PNBL
Plano A
Mudança pontual na LGT
Migração das concessões para autorizações
Resolução do impasse sobre bens reversíveis
Redução de encargos para negociação por investimento em banda larga
Plano B
Posicionamento
defendido em
2015 por
sociedade civil
organizada,
Senado Federal e
membros do
governo federal
(PT)
Posicionamento
defendido em
2016 por parte
do corpo técnico
da Anatel,
empresas de
telecomunicações,
parlamentares
(PMDB) e
membros do
governo federal
Análise do governo Temer
Genealogia do PLC 79/2016
Anatel
• Documentos internos sobre Reforma das Telecomunicações e posicionamento de conselheiros
Câmara dos
Deputados
• Incorporação do posicionamento da Anatel no PL 3453/15 (PMDB-GO)
Senado Federal
• Comissão Especial (base do governo Temer) aprova versão com modificações
1o semestre de
2015
2o semestre de
2015
2o semestre de
2016
Pilares do PLC 79/2016
Adaptação da concessão à autorização
Cálculo do “valor
econômico” e compromisso de
investimentos
Regras de autorização de radiofrequência
e mercado secundário de
espectro
Direito de exploração de
satélite por processo
administrativo
Texto atual (ago/2017)
Texto atual (ago/2017)
Terceira parte: pontos críticos
(TCU e MPF)
Riscos apontados pelo TCU
Dano ao erário por inexatidão no cálculo dos saldos e favorecimento indevido de partes interessadas
Divergências de interpretação da regulamentação dos bens reversíveis e ausência de critérios para orientar o processo de controle e acompanhamento de bens reversíveis pela agência
Descumprimento de obrigações legais e contratuais pela Anatel nos primeiros anos da concessão de STFC, resultando em omissão com consequências futuras
Impossibilidade de utilização de recursos públicos para investimentos em áreas pouco competitivas
Redesenho do FUST para devido investimento em universalização
Análise do MPF
Análise do MPF
A alteração do modelo de concessão não gera necessariamente prejuízo ao interesse público, desde que acompanhada de instrumentos regulatórios de competição e defesa do consumidor, “permitindo à agência fixação de obrigações e condicionamentos”
Ainda que seja possível realizar o cálculo do valor econômico, “existem incertezas conceituais e mesmo operacionais que dificultam a efetivação dessa tarefa pela Anatel”
“Inaxetidão da metodologia” (cálculo do valor de transição), com base em relatório do TCU
Análise do MPF
Prorrogação da autorização para uso de radiofrequências por períodos de até 20 anos “pode criar um mercado privado concentrado de revenda de autorizações”. Potencial de barreira à entrada no mercado de faixas de radiofrequência
Necessidade de processo seletivo público auditável pela agência, como pregão eletrônico, preservando transparência dos critérios de concorrência
“O TCU colocou como duvidoso o critério desenvolvido pela Anatel para definição dos mercados menos competitivos e que seriam prioritários para o recebimento dos investimentos resultantes do valor econômico da transição”
Quem será o autor do plano de investimentos? MCTIC? Anatel? Anatel só terá condições de se blindar e aprimorar sua regulação se os recursos do FISTEL forem destingenciados
Pontos a serem explorados
O PLC 79/2016 cria regime jurídico de facilitação de investimentos (migração da concessão para autorização) sem assegurar universalização da banda larga, considerando os riscos apontados pelo TCU e pelo MPF
O projeto não define metodologia de cálculo do “valor econômico” da migração e metodologia para definição dos “compromissos de investimento”, deixando tais definições para um segundo momento
Para uma análise mais aprofundada pelo CDUST, há necessidade de acesso aos documentos internos da Anatel sobre as metodologias propostas
Pontos a serem explorados
Novas regras para autorização para uso de radiofrequências e exploração de satélites podem aumentar poder de empresas incumbentes, com riscos de comportamento monopolístico e falhas de mercado da perspectiva da promoção da competição
CDUST não tem competência para propostas de mudança legislativa ou modificação de redação do PLC 79/2016, mas tem como dever propor diretrizes ao Conselho Diretor da Anatel sobre regras de autorização e exploração de serviços no regime privado tendo em vista a promoção da competição e defesa dos direitos dos consumidores