Transcript
Page 1: 106829288 12884745-ayurveda

                                                                                            1 

Ayurveda

Os especialistas garantem que, graças às descobertas da ciência médica, o homem moderno caminha na direcção da quarta idade. O ideal  alquímico da vida eterna pode ter ficado para trás, mas não há quem não sonhe em viver mais e melhor. No mundo de hoje, a saúde – esta fonte natural nem sempre renovável –  passou a ser o bem mais precioso. O Ayurveda, uma ciência indiana tão antiga quanto o homem, define a saúde como uma condição de harmonia interna e externa capaz de habitar o ser humano no buscar dos seus objectivos mais profundos e  permanentes. Para a medicina Ayurveda, ser saudável é uma condição normal e toda a terapia deve ser baseada no restabelecimento desse estado natural. Por isso, é também chamada de”natureza que restabelece”. Vinod Verma (director da New Way Health Organization na Índia)

O que proponho é uma digressão guiada ao mais antigo sistema de medicina conhecido, visitando a sua história, filosofia, princípios básicos, avaliação da condição humana e formas de tratamento.  Para os  leitores menos experimentados da filosofia oriental, sugiro que não façam um juízo definitivo, sem primeiro terem efectuado uma leitura completa e minuciosa do texto.

Origem histórica

Por muito que valorizemos no Ocidente, as nossa raízes civilizacionais no Médio Oriente,   é   a   misteriosa   Índia   que   é   reconhecida   como   o   berço   da   civilização.   Os 

Page 2: 106829288 12884745-ayurveda

historiadores acreditam que os primeiros hindus habitaram a Meseta do Pamir há 6.000 anos   antes   de   Cristo,   mas   segundo   estudos   recentes,   os   Vedas   parecem   ter   sido compilados há mais de 14.000 anos.2

Não é sem razão que os antigos médicos hindus são considerados verdadeiros sacerdotes, conhecedores não só dos problemas do corpo físico como da alma humana, mas também da própria essência e origem do homem. É na Índia milenar que vamos encontrar as bases do mais antigo e misterioso sistema médico organizado de que se tem notícias: o Ayurveda.

O Ayurveda, ou medicina védica, significa “ciência da vida ou do conhecimento dos ciclos da vida” e faz parte dos Vedas. O sistema ayurvédico, com aproximadamente5.000 Anos, é uma ciência completa, que inclui aspectos físicos e espirituais da vida. O seu princípio básico é que a mente exerce a mais profunda influência no corpo e, advoga que a  boa  saúde é   resultado directo de viver  em harmonia  com o Universo.  O seu objectivo é obter o equilíbrio do corpo e da mente, não numa perspectiva de eternidade, como foi ambicionada em tempos remotos, mas para numa vida longa e feliz. 

Os Vedas são hinos religiosos da tradição hindu, fonte das principais filosofias da Índia. A Medicina Védica encontra­se em dois dos quatro Vedas: o Rig Veda e o Atharva   Veda.   Nos   Vedas   a   religião,   mitologia,   magia   e   a   medicina   são   coisas inseparáveis,  o  que   levou alguns  autores  a  afirmar  que  a  medicina  Védica,   foi  um sistema mágico­religioso, baseado no contacto com o sobrenatural. A doença, segundo os  Vedas,  era   resultante da  invasão de espíritos  malignos e  demoníacos e  que  para afastá­los eram necessários rituais e sacrifícios feitos por sacerdote ou Brâmanes.

Segundo   textos   do   período   védico   tardio   (900   a   500   a.C.)   os   médicos   e   a medicina   foram   desacreditados   pela   hierarquia   sacerdotal   dos   Brâmanes,   que censuravam os  médicos  pela   sua  associação com  todo o  tipo  de pessoas,  o  que  os tornava impuros. Os médicos estavam, de facto, em contacto com pessoas das castas mais baixas, devido à sua profissão e isto, tornava­nos impuros na visão dos Brâmanes.

O   dogmatismo   da   religião   hegemónica   dos   Vedas,   levou   a   medicina   e   os médicos  a   refugiarem­se  noutras   tradições   sem castas,  ou  seja,  não védicas,  pois   a tradição  védica   considerava   a  medicina   inadequada  para   o   sacerdote   e   os  médicos impuros.

No primeiro milénio antes da nossa era, surgiram duas tradições que estavam relacionadas com as práticas médicas, mas ambas não védicos, ou seja, sem a restrição do rígido sistema de castas.

Estas   tradições  não védicas  deram origem a  uma medicina nova  que  veio  a rivalizar com a medicina mágico­religiosa dos Vedas. O novo sistema era baseado na observação dos fenómenos naturais e das suas influências no ser humano, de uma forma racional, a nova abordagem a saúde não estava limitada pelo rígido sistema de castas e, era baseado no empirismo e no racionalismo.

As tradições não védicas, foram o motor adequado para a formação da medicina empírico­racional que de uma forma diferente da medicina mágico­religiosa dos Vedas, baseada em fenómenos sobrenaturais, está estruturada na relação do ser humano com os fenómenos da natureza. 

Page 3: 106829288 12884745-ayurveda

Esta medicina tornou­se tão popular na Índia antiga, que os hindus brâmanes resolveram incorporá­la no corpo de conhecimento dos Vedas e passaram a denominá­la Ayurveda ou literalmente, conhecimento da vida e, divulgaram a ideia que a raiz do Aurveda está nos Vedas, porém não existe em nenhum dos hinos qualquer referência ao Ayurveda como está descrito pelos seus autores. 

3

Pelo  estudo dos  Vedas  e  dos   textos   clássicos  do  Ayurveda  verificou­se  que houve   uma   adaptação   progressiva   do   paradigma   da   medicina   mágico­religiosa   dos Vedas, baseada no contacto com o sobrenatural, para uma medicina empírico racional, através da observação dos fenómenos naturais. 

Estas   tradições,   não   védicas,   foram   os   budistas   e   os   ascetas   errantes   que prevaleciam na Índia na segunda metade do primeiro milénio antes de Cristo.

O Ayurveda é uma medicina indiana que foi desenvolvida a partir da época de Buda, no século V a.C. e propõe uma vida em harmonia com as leis da natureza, mas também uma vida útil à sociedade como um todo. Na Medicina Ayuvedica saúde é um estado de felicidade e, para o alcançar, o ser humano deve trilhar um caminho de auto­conhecimento.  Como dizia  o  oráculo  de  Delphos  na  Grécia   antiga:”conhece­te   a   ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.

A  doença,  para   o  Ayurveda,  é  muito  mais   que   a  manifestação  de   sintomas desagradáveis ou perigosos à manutenção da vida. O Ayurveda, como ciência integral, considera que a doença inicia­se muito antes de chegar à fase em que ela finalmente pode ser percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar com o passar do tempo,  se  não forem corrigidos,  originando a enfermidade muito antes  de  podemos percebê­la.

Polarização – O movimento constante

Os indianos, como mais tarde Parménides com o seu Eon, recusavam a ideia de Vazio Absoluto, a densidade nula, privilegiando em seu lugar o Ser no sentido mais abstracto, a Existência omnipresente e estática, imutável, perfeita. 

A  partir   da  polarização,   os   elementos   assim   formados   estarão   em constante processo de atracção e repulsão, ou em atrito, determinando a própria dinâmica da vida: pólos   contrários   atraem­se  e,   sem modificarem a   sua  estrutura,  geram uma  terceira coisa. Tudo aquilo que adquire então uma conotação polar está sujeito a transformações contínuas. O processo só chega a um fim quando o mecanismo arquetípico da criação determina uma acção de retorno, ocasião em que a Substância Original recebe de volta aquilo que teve origem no seu próprio seio.

Entre  a  criação e  manifestação de  um Universo  e  o  que   lhe  sucede,  há  um período de repouso, onde a matéria é caótica ou não manifestada, denominado Pralaya. Pralaya  quer   dizer   em  sânscrito   dissolução,  mas   sem  destruição,   pois   a   dissolução conduz à recreação.

Page 4: 106829288 12884745-ayurveda

A Essência Una, infinita e desconhecida existe em toda a eternidade, que ora é activa – Manvatara ­ ora é  passiva – Pralaya – em sucessões alternadas, regulares e harmoniosas.

Ao iniciar­se um período de actividade dá­se a expansão daquela Essência Una do  mesmo modo,  quando sobrevém a  condição passiva,  efectua­se  a  contracção  da Essência   e,   a   anterior  da  criação  desfaz­se  gradual   e  progressivamente,   o   universo visível   desintegra­se,   os   seus   elementos   dispersam­se.   Uma   expiração   da   Essência desconhecida produz o mundo (o universo), uma inspiração fá­lo desaparecer. 

Peregrino é o nome dado à nossa Mônada (ser individual) durante o seu ciclo de encarnações. É o único Princípio imortal e eterno que existe em nós, sendo uma parcela indivisível do todo integral, o Espírito Universal, de onde emana e no qual é absorvido 4

no final do ciclo. A peregrinação é obrigatória para todas as almas através do Ciclo da Encarnação.   Nenhum   Buddhi   puramente   espiritual   (Alma   Divina)   pode   ter   uma existência   consciente   independente   antes   que   haja   passado   por   todas   as   formas elementares   do   mundo   fenomenal   do   Manvatara,   à   custa   dos   próprios   esforços regulados pelo karma, escalando assim todos os degraus de inteligência, desde o Manas (entendimento)  inferior até  ao Manas superior;  desde o mineral a planta ao Arcanjo mais sublime.

Neste estágio de Pralaya as Gunas encontram­se em perfeito equilíbrio, todas as potências   e   energias   que   aparecem   no   Universo   manifestado,   repousam   numa inactividade;   porém,   quando   o   equilíbrio   se   rompe,   produz­se   uma   forma,   uma manifestação   e,   toda   a   manifestação   ou   forma   é   produto   da   Prakriti   em   que   há predomínio de uma sobre as duas restantes. Nem Sattava nem Tamas podem por si só entrar   em   actividade;   requerem   o   impulso   do   motor   e   da   acção   (Rajas)   para   se colocarem em movimento e desenvolver as suas propriedades características. Vimos, deste modo, como é sempre a paixão ou desejo que catapulta para a manifestação (e, assim,   para   o   fenómeno   encarnador,   por   via   do   apego,   rompendo   a   unidade   ou homogeneidade primordial. 

Cessa o Estado de Pralaya,  de Abstracção ou Repouso.  A partir  daí,  os dois pólos  da  Natureza,  o  espírito   (Purusha)  e  a  matéria   (Prakriti)  “agindo sobre as   três Gunas dão origem aos “cinco Grandes Elementos” que são a base e a causa do Universo Fenomenal em todas as numerosas e constantemente mutáveis formas e aparências”. Purusha fornece a energia a Prakriti através das três Gunas, procedendo de Prakriti os Tattvas ou princípios.

Constatamos,   igualmente,   como   todo   o   ser,   todo   o   fenómeno   ou   toda   a movimentação   existente   no   universo   manifestado   corresponde   à   expressão predominante de uma ou duas das Gunas. É assim com o ser humano e com cada um dos seus pensamentos, sentimentos, acções, palavras, escolhas ou graus evolutivos; é assim com os animais ou as plantas; é assim com todas as formas materiais.

É   relativamente   fácil   reconhecer  o  homem  tamásico:   caracteriza­se  pela   sua letargia, pela sua insensibilidade, pela lentidão e inanimidade das reacções psicológicas, pela reacção quase exclusiva a estímulos brutais ou grosseiros, que são aqueles que lhe agradam e despertam interesse. É o néscio conformado. Este tipo de ser humano vai ser 

Page 5: 106829288 12884745-ayurveda

oportunamente   e   progressivamente   despertado   pelos   choques   rajásicos   que,   nesse sentido, são úteis e necessários. 

O homem rajásico, que hoje predomina, sobretudo, nos meios mais urbanos e cosmopolitas, é ávido, passional e egoísta, insaciável na busca de coisas para o seu eu pessoal,  sempre agitado e excitado, embora à  superfície, pelos  impactos externos. É activo no sentido de reactivo. O seu pensamento é  predominantemente desordenado, incapaz de uma síntese. Julga­se inteligente mas está perdido na ilusão. Está polarizado nos níveis de Kama­Mnas, ou seja, da Alma Animal, da mente (Manas) escravizada pelo desejo egoísta (Kama). A civilização contemporânea é eminentemente rejásica…

O homem sáttvico  é  um  tipo  humano superior,  mais   interiorizado,  capaz  de encontrar uma síntese lúcida no meio dos impactos externos, dos quais se vai deixando de tornar dependente. É o homem que encontra os Valores da Harmonia, da Justiça, da Verdade, da Sabedoria, e que se desapega das coisas que satisfazem o desejo egoísta. É o homem polarizado nos níveis superiores do Mental, em Buddni­Manas, ou seja, a 

5

Mente   (Manas)   iluminada   por   Buddhi   (Razão  Pura,  Discernimento,   Intuição).   Pelo exposto, é uma raridade…

Também na manifestação da Divindade verifica­se o ritmo,  isto é,  o período activo e passivo. Na verdade, o Absoluto jamais pode estar em repouso, pois representa o movimento intrínseco e transcendente, que gera e mantém a vida, embora a nossa limitada compreensão o perceba como uma imobilidade absoluta, o vazio.

Assim,   a   Substância   Eterna   se   polariza   e   se   despolariza,   voltando constantemente ao “Não­Ser”, o Não Manifestado ou Para­Brahmam, numa sucessão que a sabedoria oriental chama de “os dias e as noites de Brahma”. No período da “noite  Brahma”,   a   vida   entra   em  latência,   ou  numa  condição   absoluta;   no  “dia  de Brahma, a vida acorda para a actividade, entrando na sua fase relativa.

Os princípios fundamentais da existência

Para os antigos mestres da Índia, a existência tinha dois princípios fundamentais: Purusha, o principio espiritual ou a consciência superior ou Atmam; e Prakriti, ou a natureza material, o principio criativo ou a força de criação dos mundos físicos.Purusha é  alimentado pelo fogo cósmico chamado  Fohat;  Prakriti  é  alimentado por Kundalini, fogo cósmico antagónico e complementar a Foaht.

Dessas   duas   grandes   forças,   que   inicialmente   estavam   juntas,   surge   a Inteligência Cósmica, ou  Mahat, que contém as sementes de toda a manifestação da vida e à qual as leis da Natureza são inerentes. Esta Inteligência Cósmica também está presente no ser humano como “Inteligência pura”, ou Eu Superior.  É  através do Eu Superior que se desperta para a vida universal,  atinge o seu pleno desenvolvimento espiritual e pode alcançar a iluminação, ou seja, a felicidade no seu sentido mais amplo e profundo.

O Eu Superior é também chamado de Buddhi ou princípio búdico e representa, ainda, a capacidade de percepção, a capacidade de discernir entre realidade e ilusão.

Page 6: 106829288 12884745-ayurveda

Ao obedecer às leis da evolução, a Inteligência Cósmica projecta­se em direcção aos mundos   materiais,   dando   origem   ao   ego,   ou  Ahamkara.   Assim,   somente   o   nosso limitado sentido de individualidade nos separa da unidade da vida. O ego manifesta­se através da mente condicionada, de um estado de consciência mais grosseiro denominado Manas  (ou   mental   inferior),   que   representa   a   nossa   auto­imagem,   nosso   universo conceptual particular, e que, por sua vez, cria o campo do pensamento limitado dentro do   qual   nos   confinamos.   Além   disso,   o   ego   funciona   como   uma   ponte   para   o inconsciente colectivo, que é também uma dimensão condicionante, manifestando­se no campo   mental   como  Chitta,   o   turbilhão   dos   pensamentos.   Devido   a   Chitta,   o   ser humano   permanece   sob   a   influência   de   latências   ancestrais,   de   compulsões   e   de impulsos passionais próprios das consciências inferiores.

O retorno à unidade com a Natureza

O Ayurveda,   em contra  partida,   aponta  para  uma vida  em harmonia  com a Inteligência   Cósmica,   onde   a   nossa   inteligência   se   aperfeiçoa   e   através   da   qual retornamos à unidade com a Natureza. Só a partir dela é possível encontrar o verdadeiro 6

Eu, mergulhar no domínio do espírito; ou Purusha. Este é o fundamento do Ayurveda, assim como o Yoga que também tem as suas raízes nos Vedas, e funciona como base para a psicologia ayurvédica.

O retorno a Purusha exige o despertar da inteligência que está constantemente sob o comando do ego. É o ego, por sua vez, que se antagoniza à consciência do Eu Superior e é a base de todo o desvio da Natureza. Nesse sentido, segundo o Ayurveda, a saúde é um estado que só existe se houver harmonia com Prakriti, a natureza fenomenal. A doença ou Vikruti, é gerada pela condição artificial de distanciamento da Natureza; assim,   segundo   o   Ayurveda   todas   as   moléstias,   excepto   aquelas   que   ocorrem   por acidente,   são   provocadas   por   desequilíbrios   resultantes   de   um   estágio   inferior   da consciência individual.

Gunas

Gunas, são as três qualidades da matéria. Atributos fundamentais da Natureza, as gunas são a fonte de todas as características que associamos ao ser humano. Gunas são condições segundo as quais a matéria cósmica surge e se desenvolve. A matéria da qual o universo é feito em qualquer de seus estados, resulta de uma combinação de três qualidades: Sattva (ritmo), Rajas (movimento), Tamas (inércia.). 

No nível físico, Sattva é harmonia; Rajas é actividade; Tamas é inércia.No nível mental, Sattava é verdade; Rajas é paixão; Tamas é indifrença.

Segundo o BhagavadGita 5 – São estes atributos que vinculam a alma ao corpo ou o Espírito à matéria.

Page 7: 106829288 12884745-ayurveda

Prakriti,   a   natureza   material,   possui   três   qualidades   básicas,   três   atributos primários   denominados   Gunas   que   podem   também   ser   entendido   como   impulsos naturais ou instintos: Sattva, o princípio da inteligência, da fluidez, da suavidade e da harmonia; Rajás, o princípio da energia mental racional, da turbulência, de emoção, da impulsividade; e Tamas, o princípio da obscuridade, da ignorância e da resistência. 

Cada   um   desses   atributos   é   necessário   na   Natureza   e   cumpre   funções específicas. No entanto, Sattava é a qualidade mais adequada à mente, enquanto Rajás e Tamas representam impurezas no plano mental e enfraquecem o poder de percepção e discernimento espiritual. 

Samkhya é um dos seis sistemas tradicionais da filosofia hindu e um dos mais antigos. O sistema Samkhya é atribuído ao sábio védico Kapila (cerca de 500 a.C.) e é conhecido como o “método racional”. 

Dele deriva o conceito de guna (qualidades materiais ou “potências”). Postula uma cosmologia em que os resultados estão implicados nas causas e em que o universo permanece constante, nada lhe é acrescentado ou extraído. Tudo é uma manifestação ou mutação do que existiu sempre. Deste modo, a morte é meramente um estado transitório que leva a outros estados. Neste ponto, o Samkhya tem um paralelo na teoria científica moderna da conservação da matéria e da energia. Samkhya não reconhece deuses ou sacrifícios. 

 A tradição indiana considera o Samkhya como o mais antigo darçana. Darçana é o nome utilizado para designar um conjunto de seis escolas tradicionais que foram 

7

responsáveis  pelo  ressurgimento e   restabelecimento da espiritualidade na   Índia  num período entre 100 a.C. a 500 d.C., marcado pelo desenvolvimento lógico e racional da religião Hindu, actuando como um movimento contra o dogmatismo brâmane e uma tentativa de provar a supremacia do Hinduísmo sobre o Budismo.

O sentido do   termo Samkhya parece   ter   sido o  de “discriminado”,   já  que  o objectivo principal  desta filosofia era o de dissociar o espírito (Purusha) da matéria (Prakriti).

Os cinco elementos

Das três gunas surgem os cinco elementos da Natureza: éter ou espaço (Akashs), ar (Vayu), fogo (Tejas), água (Apas) e terra (Prithivi).De Sattva, que consiste de claridade, surge o elemento éter. De Rajás, que consiste de energia, surge o elemento fogo. De Tamas, que consiste de inércia, surge a terra. Entre Sattava e Rajás origina­se, ténue e móvel, o elemento ar. E de Rajás e Tamas surge a água, resultado da combinação entre mobilidade e inércia.

Os   cinco   elementos   integram   a   essência   da   Natureza,   os   seus   nomes   não significam propriamente o substantivo comum específico, mas o princípio que anima cada um dos elementos. Assim, Tejas não é exactamente o fogo comum, mas o alento vital subtil, fluido, instável, quente e forte ­  a matriz imaterial que dá origem ao fogo físico.  Já o elemento Akashs é de difícil compreensão para a mente humana, pois está relacionado ao aspecto mais superior da energia cósmica mais ténue.

Page 8: 106829288 12884745-ayurveda

Os  cinco   elementos   correspondem ainda   aos   cinco   estados  da  matéria   e   aos   cinco sentidos:   sólido,   olfactivo   (Prithivi­terra);   líquido,   gustativo   (Apas­água);   radiante, visual   (Tejas­fogo);   gasoso,   táctil   (Vayu­ar)   e   etéreo,   auditivo   (Akasha­éter);   eles determinam   as   cinco   densidades   da   matéria   visível   e   invisível   do   Universo   e relacionam­se também a aspectos mentais, psicológicos e emocionais do ser humano.De acordo com as características dos cinco elementos, a Medicina Védica emprega nos tratamentos diferentes recursos, como plantas medicinais, sais, músicas, aromas, pontos acupunturais,  etc.  para  promover  o   restabelecimento  do  equilíbrio  de  um ou vários elementos.

Os três doshas

Também   de   origem   sânscrita,   apalavra  dosha  pode   ser   traduzida   como “princípios   metabólicos”.   Considera­se   que   o   fundamento   do   Ayurveda   reside exactamente no conceito dos três doshas –  Vata –  Pitta –  Kapha, os trêss princípios básicos metabólicos que ligam a mente e o corpo. Eles têm origem na diferente mistura de pares dos cinco elementos: do éter e do ar surge Vata; do fogo e de um aspecto da água vem Pitta: e da água e da terra surge Kapha.

Através dos elementos e dos doshas, o Ayurveda determina a natureza básica do indivíduo e estabelece uma linha de tratamento adequada às suas necessidades reais.

No seu estado normal, ou seja, em equilíbrio, Vata mantém a energia da vontade, governa a   inspiração do ar atmosférico,  a  exalação, o  movimento,  as descargas dos impulsos, o equilíbrio dos tecidos e a acuidade dos sentidos. Quando exacerbado, ele 8

causa secura, desidratação, escurecimento, descoloração, desejo de tepidez, tremores, distensão abdominal, prisão de ventre, enfraquecimento, insónia, redução da acuidade sensorial (visão, audição, tacto, paladar e olfacto), incoerência ao se expressar e fadiga.Vata localiza­se no cólon, (sua sede) e tende quando em desequilíbrio a acumular­se nos quadris,  coxas,  ouvidos,  ossos e no sentido do tacto.  Pitta em condições normais,  é responsável  pela  digestão,  pelo  calor,  pela  percepção visual,  pela   fome,   sede,  pelas condições da pele, pela suavidade do corpo, pela inteligência, determinação e coragem. Quando agravado, causa coloração amarelada da urina, das fezes, dos olhos e da pele; pode também provocar fome e sede excessivas, sensação de queimadura em qualquer parte do corpo e dificuldade em dormir. Pitta situa­se no intestino delgado (sua sede), no estômago, no suor, no tecido gordurosa, sangue, plasma, linfa e no sentido da visão.Kapha por sua vez, é responsável pela firmeza e pela estabilidade, pela manutenção dos fluidos corporais, pela lubrificação das articulações em geral, pelas emoções positivas como as de paz, amor e compaixão. Quando exacerbado reduz a capacidade digestiva e provoca   a   acumulação   do   muco,   sensação   de   exaustão,   de   frio,   de   peso,   palidez, dificuldade de respirar, tosse e um desejo excessivo de dormir. Kapha localiza­se no peito (sua sede), na garganta, cabeça, pâncreas, costelas, estômago, nariz e língua.

Os três doshas podem ser reconhecidos segundo os seus atributos ou qualidades­ Vata é seco, frio, móvel, áspero, variável, leve e rápido. É o mais poderoso dos doshas, governa os movimentos e lidera Pitta e Kapha.

Page 9: 106829288 12884745-ayurveda

­ Pitta é quente, luminoso, fluido, levemente oleoso, de odor ácido, governa o calor, a temperatura e todas as reacções químicas do corpo, o metabolismo.­ Kapha é  frio,  pesado, vagaroso, oleoso, inerte, liso,  denso, opaco, doce, constante, viscoso e macio. Responsável pelo controle da estrutura corporal, mantém a substância material, o peso e a coesão do corpo.

Descobrindo a natureza básica

Adquirido  por  ocasião do  nascimento,  o  Prakriti  de  cada um,  ou  seja  a   sua constituição individual, mantêm­se constante durante toda a vida. Embora existam três tipos   básicos   de   dosha,   entre   eles   ocorrem   diversas   combinações   e   variações.   As características indicadas a seguir, servem de referência para localizarmos a origem do desequilíbrio e para maior exactidão são divididos em cinco sub­doshas.

VATAAs pessoas de constituição Vata tendem a ser pouco desenvolvidas fisicamente. 

Esguias, suas veias e tendões musculares são proeminentes e visíveis. Em geral a sua pele é morena, fria, áspera, seca ou rachada e, pode apresentar verrugas ou pintas, quase sempre escuras. Uma pessoa de Vata pode ser alta ou baixa, mas sua ossatura é sempre delicada, com juntas pronunciadas devido ao reduzido desenvolvimento muscular. Tem mãos  e  pés   frios,  cabelos   frequentemente  ondulados  e   ralos,  cílios   finos.  Os  olhos, pequenos   e   vivos,   costumam   ser   fundos,   com   a   conjuntiva   seca   e   ligeiramente escurecida. Unhas frágeis e ásperas; o nariz curvo ou arrebitado. O apetite e a digestão de  Vata  variam muito:   ele  pode,  às  vezes,   fazer   refeições   abundantes   e   em outros momentos não ter a menor fome. Em geral prefere bebidas quentes. A urina tende a ser escassa, as fezes secas, em pequenas quantidades, com tendência para a prisão de 

9

ventre.   Raramente   transpira   demais.   O   sono   é   leve,   agitado   e   curto.   São   pessoas geralmente criativas, dinâmicas, atentas e impacientes. Falam com rapidez, movem­se e andam   apressadamente,   mas   logo   se   cansam.   São   flexíveis,   aprendem   e   esquecem rápido e tendem à dispersão mental. Ajustam­se com facilidade às mudanças, embora sejam   por   vezes   indecisas   ou   impacientes.   Precisam   desenvolver   a   tolerância,   a confiança e a coragem. Podem pensar demais e preocupar­se excessivamente, sendo com frequência muito nervosas; tendem a se deixar afligir pelo medo e pela ansiedade.PITTA

As   pessoas   de   constituição   Pitta   são   de   altura   média,   apresentando desenvolvimento muscular, peso e estrutura óssea moderados. Podem ter verrugas ou sardas de cor castanha ou azulada. A tez das pessoas do tipo Pitta é geralmente clara, avermelhada, amarelada ou próxima ao tom de cobre. A pele é suave, morna, de aspecto saudável, mas facilmente irritável. O cabelo é fino, sedoso, vermelho ou castanho, com tendência a ficar grisalho precocemente ou calvície. Os olhos podem ser cinza, verdes ou castanhos­claros, com propensão à fraqueza. A conjuntiva é comummente húmida e acobreada, as unhas delicadas; o nariz é aquilino e a sua ponta aguda, pode se mostrar vermelhada.   Em   termos   fisiológicos,   os   indivíduos   de   Pitta   são   dotados   de   um metabolismo vigoroso,   têm bom apetite  e  boa  digestão.   Ingerem grande volume de 

Page 10: 106829288 12884745-ayurveda

alimentos, de líquidos e preferem as bebidas geladas. Dormem pouco, embora o seu sono   seja   profundo.   As   fezes   são   volumosas   e   amareladas.   Geralmente   transpiram demais.   A   temperatura   corporal   é   comummente   alta   e   as   extremidades   mantêm­se mornas.  Não   toleram muito  o  calor  nem a   luz   solar.   Inteligentes   e  perspicazes,   as pessoas de Pitta aprendem rápido e podem ser bons oradores. Emocionalmente tendem à irritabilidade, ao ciúme, ao ódio, à ira. São ambiciosas e facilmente se tornam líderes.KAPHA

As pessoas do tipo Kapha têm bom desenvolvimento físico e muscular,  com tendência ao excesso de peso. Veias e tendões são aparentes devido a pele geralmente fina. Sua tez é clara, branca ou pálida; a pele é suave, oleosa, húmida e fria. O cabelo pode ser escuro ou louro liso ou anelado, mas é sempre grosso e abundante. Os olhos são densos,  pretos ou azuis,  com a conjuntiva pronunciada,  raramente  avermelhada. Fisiologicamente,   as   pessoas   de   Kapha   possuem   pouco   apetite,   embora   regular;   a digestão, porém, é lenta e, em geral, ingerem menos alimentos que os os outros tipos. Os seus movimentos são calmos. Sua evacuação é regular, as fezes suaves, pálidas e de eliminação   lenta.   A   transpiração   é   moderada.   O   sono   é   pesado,   prolongado   ou excessivo. Os indivíduos de Kapha são pacientes, calmos e sempre bem dispostos. São caracteristicamente   tolerantes,   compreensíveis   e   amáveis.   No   aspecto   emocional negativo, tendem à ganância, ao domínio, à inveja e à possessividade. Demoram para aprender, mas têm excelente memória. 

A terapêutica pela alimentação

A escolha dos alimentos é o primeiro passo para uma vida saudável, de acordo com as leis da Natureza. Para restabelecer a saúde, ou o equilíbrio entre Vata, Pitta e Kapha,   a   tradição da  medicina   indiana   tem como prática  principal  determinar  uma rectificação alimentar,  só   lançando mão de outros tratamentos se o paciente retornar com as mesmas queixas após ter seguido à risca a dieta recomendada Essa terapia 10

baseia­se na divisão dos alimentos segundo as três qualidades ou gunas – Satta, Rajás e Tamas ­, na relação dos seis sabores e na influência que exercem sobre os doshas. 

A classificação dos alimentos segundo as três gunas é a seguinte: 

SATTVA –  Alimentos  que  aguçam o  discernimento,   a   sensibilidade,   as   faculdades superiores,  que favorecem a meditação, geram a leveza, bem­estar e  felicidade.  São todos aqueles e sabor doce ou adocicado, leves, frescos, vitais, que não se deterioram facilmente. Neste grupo estão o leite, 0 mel de abelhas, os cereais integrais, as frutas e sabor suave, as castanhas e amêndoas, a manteiga, os óleos vetais leves, alguns grão de leguminosas, os lacticínios não fermentados e praticamente todos os alimentos de sabor doce.RAJAS   –   Alimentos   de   classificação   intermediária,   geralmente   exercem   efeito estimulante, tónico ou excitante. Neste grupo estão as carnes frescas de boi, as carnes brancas frescas, algumas bebidas alcoólicas mais leves (vinho suave, cerveja, licores 

Page 11: 106829288 12884745-ayurveda

etc.),  as sementes leguminosas em geral (feijão, ervilhas, grão­de­bico), café,  o chá­mate, algumas hortaliças, como o rabanete, o nabo ardido, o pimentão, a beringela, o tomate, a batata inglesa etc. O tabaco, sob todas as suas formas, é um produto do grupo Rajas.TAMAS – Opostos aos alimentos da Sattva: geralmente pesados, e gosto acentuado, picantes,   ácidos,   excessivamente   amargos,   fermentados,   densos,   conservados, defumados, desvitalizados, de odor forte. Tornam aqueles que os consomem carregados com as qualidades de Tamas; irritadiços, lerdos, embotados, preguiçosos, com fortes odores corpóreos, passivos intolerantes, passionais, glutões e compulsivos. Neste grupo estão   os   alimentos   animais,   principalmente   os   conservados   (salsichas,   linguiças, presunto,  salame, mortadela,  partes salgadas de porco, etc.),  os queijos fortes,  ovos, conservas,  a  pimenta   forte,  os  molhos   irritantes,  as  bebidas  alcoólicas,  os   fritos,  os alimentos decompostos, defumados, industrializados e excessivamente curtidos.

A alimentação e os doshas

Além da selecção com base  nos   três  gunas,  os  alimentos  são escolhidos  em função dos sabores, do aspecto, da densidade ou da temperatura. Segundo a medicina védica existem seis sabores básicos – doce, salgado, acido, picante e adstringente – e seis   atributos   principais   –   quente,   frio,   pesado,   leve,   seco   e   oleoso   que   exercem influências marcantes sobre os doshas:

­  Vata é  equilibrado pelos sabores salgados,  ácido e  doce e  por alimentos pesados, oleosos e quentes: é perturbado por alimentos picantes, amargos, adstringentes, leves, secos e frios.­ Pitta é equilibrado por alimentos doces, amargos, adstringentes, frios, pesados e secos; é perturbado por alimentos picantes, ácidos, salgados, leves e oleosos.­ Kapha é equilibrado por alimentos ou bebidas picantes, amargos, adstringentes, leves, secos e quentes; é perturbado pelos sabores doces, ácido e salgado e pelos alimentos pesados, oleosos e frios.

11

Devido a estas relações, uma mesma refeição pode provocar sensações diferentes entre pessoas de constituições diferentes. Por isso, a medicina védica considera fundamental adequar a dieta à natureza de cada pessoa.

A dieta perfeita

Em princípio, a alimentação ideal é aquela em que prevalecem os alimentos de Sattva. No entanto, como as gunas, do mesmo modo que os dosaha, agem de modo interligado,   o   que   importa   é   uma   alimentação   equilibrada   e   de   acordo   com   a constituição   individual.  Assim,   uma  dieta   essencialmente   baseada   em  alimentos   de Sattva seria mais recomendável àqueles que levam uma ida meditativa, religiosa, muito 

Page 12: 106829288 12884745-ayurveda

calma;   de   modo   geral,   o   aconselhável   é   o   equilíbrio   entre   alimentos,   com   maior tendência aos de Sattva e com a ingestão apenas eventual daqueles ligados a Tamas.

Medicamentos e técnicas

Além das  dietas   especiais,  o  Ayurveda  emprega   remédios  naturais   e  muitos outros recursos preventivos e curativos. Para equilibrar o Prakriti, a medicina védica dispõe de uma infinidade de medicamentos preparados pela combinação de ervas, sais, produtos minerais, bem como extractos, pomadas e óleos especiais. Não se restringem a aplicações   paliativas   ou   superficiais   com   o   objectivo   de   eliminar   sintomas:   são preparados especificamente para cada tipo de paciente e não para a “doença” que ele apresenta.

As Ervas Medicinais

Tanto  para  a  medicina  ocidental  quanto  para   a  oriental,   as   ervas  medicinais ocupam posição de destaque no campo terapêutico. A medicina oriental, porém, atribui­lhe uma importância infinitamente maior. Embora escolhidas como recurso terapêutico a partir das suas propriedades farmacológicas, ou seja, conforme a sua acção específica (diurética,   laxativa,   analgésica,   anti   espasmódica,   etc.),   elas   são   particularmente seleccionadas   segundo  a   sua  capacidade  de  equilibrar,   estimular  ou   reduzir  os   três doshas. A medicina védica escolhe uma ou várias ervas para determinado tratamento com base também em elementos não considerados pela fitoterapia ocidental, como o gosto da planta, o tipo das suas folhas, seu crescimento, a sua estação, a sua cor, tipo de flores e de frutos. Todas estas características são valiosas a partir da identificação do Prakriti   a   que   se   adequam.   Além  dos   chás,   dos   extractos   frescos,   dos   sumos,   dos emplastros, dos unguentos, pomadas, óleos medicinais e demais formas clássicas de uso das ervas, a medicina védica reserva um capítulo muito especial e detalhado sobre as ervas aromáticas e as usadas como temperos culinários, pois cada uma delas também exerce influência no equilíbrio dos dosahas.

As massagens com óleos especiais e o emprego da terapia dos aromas estão entre   as   técnicas   do   Ayurveda.   Outro   importante   meio   terapêutico   utilizado   pelo Ayurveda são os óleos preparados com extractos vegetais especiais. Pode­se equilibrar Vat, Pitta ou Kapha com composições de uma ou árias ervas ou pelo simples uso de um 12

óleo vegetal, como o de amêndoa ou de gargelim, ao azeite de oliva ou óleos voláteis de sementes de flores. A sua aplicação por meio de massagens visa a estimulação da pele e a consequente absorção da propriedade medicinal da planta. Algumas massagens podem ser feitas pela própria pessoa, mas outras exigem a interferência de técnicos, pois em geral   são   aplicadas   como parte   de  um plano   terapêutico  mais   amplo.  O  Ayurveda emprega ainda muitas outras técnicas, de entre as quais podemos citar: a musicoterapia (Gandharva Veda), que busca o equilíbrio dos doshas pela audição de músicas especiais chamadas ragas,  vocais  ou instrumentais,  cânticos (mantras);  ­  a  aroma terapia,  que emprega perfumes raros, essências florais, flores silvestres e resinas aromáticas para 

Page 13: 106829288 12884745-ayurveda

enviar sinais específicos aos doshas.  De maneira geral,  Vata  é  equilibrado por uma mistura  de   aromas  quentes,   doces   e  ácidos  como manjericão,   laranja,   gerânio­rosa, cravo da Índia; Pitta é  equilibrado por uma mistura de   aromas doces e frios como sândalo, rosa menta e Jasmim; Kapha é equilibrado por uma mistura de aromas quentes, mas com toques condimentados como zimbro, eucalipto, cânfora e manjerona.

Pranayama, o equilíbrio pela respiração.

Uma técnica que harmoniza os doshas e regula a distribuição da energia cósmica pelo organismo. Pranayama é uma palavra de origem sânscrita: prana significa “energia vital” e yama, “acção, actividade, movimento”. 

Embora em termos gerais, o Ayurveda classifique cinco tipos de prana, cada um deles governando órgãos ou áreas do corpo, em síntese o prana é apenas um: o prana aéreo, ou Vayu, a principal fonte directa de energia cósmica para os seres vivos que respiram o ar atmosférico. Captado pelas vias respiratórias, é imediatamente distribuído pelo organismo; a sua carência ou má distribuição possibilita o surgimento de doenças a partir da desarmonia entre os doshas, que absorvem “vorazmente” prana. Uma vez que prana aéreo esteja em condições ideais de equilíbrio quantitativo e qualitativo, todos os outros tipos de Prana também tendem ao equilíbrio, o mesmo ocorrendo em relação aos três doshas.

A técnica do pranayama

Para regularizar o ritmo da respiração.1 – Escolha um local calmo e sem ruídos, de preferência isolado das outras pessoas.2 – O horário ideal é ao amanhecer, quando o ar está mais carregado de prana.3 – Sente­se confortavelmente com as costas erectas e os pés apoiados no chão. Feche os olhos e procure relaxar, deixando a mente tranquila.4   –   Inicie   o   exercício   comprimindo   suavemente   a   narina   direita   com   o   polegar   e exalando pela narina esquerda. Inale suavemente pela narina esquerda e feche­a com os dedos médio e anelar, exalando suave e lentamente pela narina direita. Inale pela narina direita,   repetindo  o  processo  de   alternar   as   narinas  durante   cinco  minutos.  Depois, recoste­se e permaneça de olhos fechados por dois ou três minutos. Lembre­se de iniciar o exercício exalando e terminar inalando, de modo suave e normal

13

Realizado   diariamente,   o   exercício   de   respiração   polarizada   traz   uma   sensação   de equilíbrio, serenidade e bem­estar, que tende a crescer à medida que se aperfeiçoa ao método com a prática constante.

Os cinco tipos de prana

Page 14: 106829288 12884745-ayurveda

1 – Prana – Concentra­se no cérebro e move­se para baixo, governando a respiração. Está   ligado à   inteligência,  à  sensibilidade, às funções motoras primárias.  Penetra no corpo pelo chakra da coroa, situado no alto da cabeça e, pela inspiração do ar passando pelas narinas. É o principal tipo de energia cósmica.2 – Vyana – Concentra­se no coração. Age no corpo inteiro,  governando o sistema circulatório, as articulações e os músculos. É captado do ar inspirado nos pulmões e da energia dos alimentos.3  –  Samana – Concentra­se  no  intestino delgado;  governa o aparelho digestivo e  é captado principalmente pela energia vital dos alimentos vivos (sementes, frutas, etc.).4 – Udhana – Concentra­se na região da garganta e governa a fala, o teor da voz, a força vital, a força de vontade, o esforço, a memória e a exalação de ar. É captado sobretudo da energia que advém do chakra da garganta.5   –   Apana   –   Concentra­se   no   baixo­ventre,   governando   a   evacuação,   a   micção,   a ejaculação, o fluxo menstrual e o processo do parto. É captado pelos chakras localizados na base da coluna e nos órgãos genitais.

Os três canais de energia

O pranayama é uma técnica para equilibrar a energia vital, que, ao penetrar no organismo, polariza­se num aspecto negativo ou positivo (o Yin e o Yang da medicina cninesa).

Entrando   pelas   narinas,   o   prana   polarizado   percorre   inicialmente   os   canais principais de energia localizados ao longo da coluna vertebral. Esses canais são também polares e, segundo o Ayurveda, recebem os nomes de Ida, Pingala e Sushuma, este o canal central e o mais importante dos três. Ida, ou canal lunar (negativo), inicia­se na narina   esquerda   e   desce   serpenteando   ao   longo   da   coluna   vertebral   em   volta   de Sushuma.  Pingala,  o  canal   solar   (positivo),   inicia­se  na  narina  direita   e  acompanha simetricamente Ida. Cada um carrega energias prânicas que se polarizam a partir das narinas. Juntos, os três canais formam uma imagem que se assemelha a duas serpentes harmoniosamente   enroscadas   numa   haste;   dessa   figura   originou­se   o   tradicional caduceu de Mercúrio, que simboliza a medicina.

Este é na verdade, o antigo símbolo da medicina tibetana, cujos procedimentos visam a   restauração por  meio  do   reequilíbrio  das   energias  prânicas  nos   três   canais principais do organismo. Para a antiga medicina tibetana, não apenas as doenças físicas, mas   inclusive   as   de   carácter   psíquico   ou   mental   são   provocadas   por   alterações energéticas   nesses   canais.   A   partir   deles   toda   a   energia   vital   é   distribuída   para   o organismo   e   é   através   deles,   ainda,   que   os   centros   de   energia,   ou   chakras,   se comunicam. Assim, toda a energia emocional não somente é  influenciável pelos três canais, como também – e principalmente – os influencia.14

Flores num Campo Quântico

Quase  ninguém questiona o facto de que  o seu corpo  teve um começo e se aproxima  inexoravelmente  de um fim.  Mas estas   ideias  são crenças culturais  e  não 

Page 15: 106829288 12884745-ayurveda

factos absolutos. O corpo humano não tem começo e fim definidos, está constantemente recriando­se a cada dia.

Se estamos constantemente a nos criarmos, nunca é tarde para começarmos a formar os corpos que desejamos, em vez de cometermos o engano de continuarmos presos aos que já   temos.  Realizamos um acto criativo cada vez que respiramos.  As moléculas do ar são caóticas e dispersas ao acaso, mas quando entram no nosso corpo adquirem, como por magia, um propósito e uma identidade. Que acto poderia ser mais criativo? Vejamos o que acontece com um único átomo de oxigénio quando respiramos. Em   poucos   milésimos   de   segundo,   ele   atravessa   as   membranas   húmidas   e   quase transparentes dos pulmões, aderindo à hemoglobina no interior de das células vermelhas do sangue. Nesse instante ocorre uma notável transformação. A célula, que era de um tom   azul­escuro,   quase   negro   pela   falta   de   hemoglobina,   muda   de   cor   com   essa substância, adquirindo um tom vermelho­claro e brilhante; o átomo de ar que vagava a esmo, transforma­se subitamente em nós próprios. Ele acaba de cruzar o limite invisível entre algo sem vida e o que vive sessenta segundos depois, o mesmo átomo, o mesmo átomo de oxigénio completará  um circuito pela corrente sanguínea por todo o nosso corpo.  Nesse  período,  quase metade do  oxigénio do  corpo sairá  do  sangue para   se transformar numa célula do rim, num músculo bíceps, num neurónio ou noutro tecido qualquer. O átomo permanecerá nesse tecido durante um período que pode variar entre poucos minutos  e  um ano,   realizando  todas as   funções de que  somos capazes.  Um átomo   de   oxigénio   pode   fazer   parte   de   um   pensamento   feliz   se   aderir   a   um neurotransmissor, ou pode provocar medo, ligando­se a uma molécula de adrenalina. Pode alimentar uma célula cerebral com glicose ou sacrificar­se ao transforma­se em parte de um glóbulo branco que deve atacar uma bactéria invasora. É assim que corre o rio da vida, o rio do corpo, fluindo com inteligência e criatividade.

Sendo a respiração o ritmo fundamental da vida e o que apoia todos os outros, a respiração pode ser considerada o acto mais criativo do nosso corpo. A maneira correcta de respirar cria a sintonia entre as nossas células e os ritmos da natureza. À medida que vamos adquirindo uma respiração mais natural e refinada, ficamos mais armados com a natureza. Muitas rotinas ayurvédicas ajudam a equilibrar a respiração. São indicados os exercícios dos três doshas, assim como a suave respiração polarizada, ou Pranayama, que podemos praticar diariamente durante alguns minutos. O lema é viver em sintonia com o  nosso  corpo mecânico  quântico.  A  rotina  mais   importante   a   seguir  é   a  que transcende,  é  o  acto de  entrar  em contacto com o nosso nível  quântico:  Meditação Transcendental,   que  deverá   ser   praticada   todos  os   dias  durante   alguns  minutos,   de manhã  e à   tarde. De acordo com o Ayurveda, é esse o modo de elevar a existência comum   a   um   plano   superior.   Se   executarmos   alguns   processos   correctamente,   a tendência inerente ao corpo de conservar o equilíbrio cuidará do resto.

“É nosso dever como o resto da humanidade sermos perfeitamente saudáveis, porque  somos as ondas do oceano da consciência e ao adoecermos, mesmo pouco, rompemos a  harmonia cósmica”

15

 Não nos podemos ver a nós mesmos como um organismo isolado no tempo e no espaço, ocupando um metro e meio cúbico de volume e durante sete ou oito décadas. 

Page 16: 106829288 12884745-ayurveda

Mais correcto é ver­nos como um célula do corpo cósmico, com direito a usufruir os privilégios da condição cósmica, inclusive a saúde perfeita.

Como diz outro verso védico,  “A inteligência interior do corpo é  o maior e  supremo génio da natureza. Ela espelha a sabedoria do cosmos”.  Esse génio está no seu íntimo, é uma parte de seu molde que não pode ser apagada. No nível mecânico quântico não existem fronteiras nítidas que os separem do restante do universo. Estamos todos equilibrados entre o infinito e o infinitesimal. Os memos prótons encontrados no coração das estrelas, que vivem ao menos cinco biliões de anos, residem em nós. Os neutrinos que penetram a cruzam a Terra em poucos milionésimos de segundo também são parte de nós por breve instante. Nós somos; um rio fluente de átomos e moléculas reunidos dos vários cantos do cosmo. Nós somos; um afloramento de energia formando ondas que se espiam pelo campo unificado. Nós somos; um reservatório de inteligência que não pode ser exaurido, pois a natureza é inexaurível.

A ideia de que o universo é um organismo que vive, respira e pensa, que seria considerada ridícula na geração passada, talvez venha a comprovar­se como princípio fundamental de uma ciência nova.

Se assim for, o Ayurveda logo atingirá grande proeminência como a primeira medicina quântica do nosso tempo.

Para o homem moderno, a doença não é uma necessidade mas sim uma escolha. A natureza  não  nos   impôs  uma bactéria  ou  um vírus  que  cause  enfartes,  diabetes, cancro, artrite ou osteoporose. Essas são, em geral, dúbias criações do homem.

Este trabalho foi feito a partir da consulta e até  do aproveitamento de alguns textos, de sites sobre o tema, na sua maioria de origem indiana.

Page 17: 106829288 12884745-ayurveda