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DISTRIBUIÇÃO GRATUITAVENDA PROIBIDA

ARTIGOIWCA: Aliança Internacional Mulheres do Café

COLHEITAColheita do Conilon a “plenovapor” no Espírito Santo

ENTREVISTA COM ROMÁRIO GAVA FERRÃO, PESQUISADOR DO INCAPER DO ES

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Banestes vai investir R$ 130 milhões no café capixaba

O Banestes vai aplicar, este ano, R$ 130 milhões na cafeicul-tura. Os recursos, oriundos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), destinam-se à safra 2011/2012. O montante soma-se aos R$ 40 milhões destinados para a colheita do café, investimento feito com recursos próprios da instituição.

O anúncio foi feito pelo diretor Comercial do Banco, José An-tônio Bof Buffon, na última sexta-feira (03), durante visita à Fazenda Experimental de Marilândia (FEM), localizada no mu-nicípio de mesmo nome. A FEM é uma das 12 unidades do gê-nero pertencentes ao Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

Representantes do Banestes estiveram na Fazenda para conhe-cer as pesquisas desenvolvidas pelo Incaper e também para ter contato direto com a produção de café. Eles estiveram em um cafezal e assitiram aos processos de colheita, de secagem e de moagem do grão.

“O valor liberado pelo Banestes por meio do Funcafé é o mais expressivo até então e, portanto, histórico. É imprescindível que os gerentes do Banestes entendam a atividade cafeeira, pois li-dam diariamente com o produtor rural e podem melhor orientá-lo sobre o uso do crédito”, afirmou Buffon.

Os gerentes das agências Banestes subordinadas à Superinten-dência Regional Norte (Suren) participaram de uma espécie de treinamento para conhecerem o processo de produção do café, desde o plantio até a venda. Estiveram presentes também os su-perintendentes João Carlos Bussular e José Gidalberto Santana.

As explanações sobre a cultura cafeeira ficaram por conta do pesquisador do Incaper Romário Gava Ferrão; do gerente Co-mercial e de Relacionamento do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), Paulo Sérgio Dias Federici; e da as-sessora técnica da área de Crédito Rural do Banestes, Priscila Andrade Silva Faria.

A gerente da Agência Banestes São Gabriel da Palha, Gilvânia Boldrin Bonomo Guimarães, revelou-se satisfeita com a visita: “A rotina de trabalho da Agência não permite que façamos isso, mas uma visita assim é fundamental para conhecermos melhor as atividades que estamos financiando”...

Dora Dalmasio

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Sumário CONILON BRASIL - JUNH0 / JULHO 2011ANO II - EDIÇÃO Nº 10

CAPA 14

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7ENTREVISTARomário Gava Ferrão, Pesquisador e Coordenador do Incaper

12ARTIGOSIWCA: Aliança Internacional Mulheres do Café

23ÁGUAElemento fundamenrtal da vida

26GESTÃO DO AGRONEGÓCIOVix Partners

28ESPAÇO GOURMETAna ArgentaIniciando um negócio de sucesso em cafeteria

COLHEITAColheita do Conilon a “pleno

vapor” no Espírito Santo

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CONILON TECHAzadiractina

23ª Feira de Cafés Especiais - Houston,

Texas

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COBERTURA

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Carta do EditorPrezados amigos, é com grande alegria que começo esse novo desafio dentro da equipe Conilon Brasil, espero que a partir dessa edição, possamos levar para vocês assuntos de relevância dentro da cadeia do café.

Começar um trabalho é sempre motivador e desafiador, como sabem, sou o gerente de marketing da empresa, e agora como editor, tenho o objetivo de aproximar ainda mais nossos leitores e anunciantes de nossa revista, através de notícias e reportagens de interesse do agronegócio café.

Essa edição foi feita com assuntos observados em diversas visitas a produtores, feiras do setor e análises de mercado, com temas atuais para os envolvidos em melhorar a qualidade do café conilon e posicioná-lo em um mercado com valor agregado.

Acreditamos que temos que olhar o café conilon de forma sistêmica, para isso, será mostrado o papel do mercado, em uma reportagem esclarecedora sobre comércio justo. Teremos também o artigo da IWCA, discorrendo sobre o importante papel das mulheres no café.

Espero que desfrutem de uma boa leitura, com um bom café conilon ( 100% maduro, seco em terreiro, cereja descascado ou natural, fica a dica).

Arthur [email protected]

Editor: Arthur Fiorott Consultor Técnico: Adelino ThomaziniDiretora Financeira: Neide Baldo Editora de Texto: Tania ThomaziniDiretor de Arte: Jaques Brinco Jr Impressão: Gráfica e Editora GSAColaboradores Nesta Edição: Josiane Cotrim, Sebrae, Enio Queijada de Souza, Sylvia Cassimiro Pinheiro, Rogério Galuppo Fernandes, Adriano Matos Rodrigues, João Augusto Pérsico, Jackeline Uliana da Pronova, Ana Argenta.Atendimento Comercial: 27 3224 - 3412 [email protected]ço para correspondência: Rua Clóvis Machado, 176 - Sala 405 Ed. Conilon, Enseada do Suá CEP 29050-900 Vitória - ES

Revista com Tiragem Bimestral: 2 mil exemplaresDistribuição Gratuita: ES, RJ, SP, MG, BA, RO, MT, GODistribuição Nacional: Governo dos Estados, Associações, Prefeituras, Setor Produtivo Industrial e Comercial, Produtores Rurais, Agrônomos, Cooperativas e Universidades.

*Os textos, incluindo opiniões e conceitos emitidos, são de responsabilidade exclusiva de seus autores.

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ENTREVISTA

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CB: Quais são as novas tecnologias para o desenvolvimento do café coni-lon no Espírito Santo e Brasil?

Romário: A pesquisa científica com o café conilon, é uma atividade dinâmica desenvolvida no Espírito Santo, pelo Incaper desde 1985. Nesses mais de 25 anos de pesquisa, vêm sendo executados trabalhos baseados nas demandas levan-tadas pela cadeia do café. Atualmente são 30 projetos de pesquisas, 103 expe-rimentos, conduzidos nas diferentes áre-as do conhecimento, que geraram várias tecnologias, produtos e conhecimentos, amplamente utilizados pelos cafeiculto-res. Foram seis variedades, plantio em linha, espaçamento, vergamento, reco-mendações de calagem e adubação, a poda programada de ciclo, manejo de

pragas e doenças, conservação de solo, manejo de irrigação e tecnologias para a melhoria da qualidade final do produ-to, descritas em diferentes publicações, sendo a mais completa, o livro “Café Conilon”. Grande parte dos trabalhos têm sido realizados em parcerias com várias instituições nacionais e interna-cionais, envolvendo pesquisas básicas e aplicadas. Os destaques atuais e futu-ros, são as novas variedades clonais a serem lançadas; identificação de genes que conferem resistência a ferrugem e a seca; caracterização de germoplas-ma; trabalhos associados a qualidade de bebida, a ferrugem, os nematóides, a nutrição e o manejo de irrigação. Os re-sultados obtidos são usados por mais de 40% dos cafeicultores capixabas, numa área estimada de 120 mil hectares. Os

produtores que utilizam adequamente as tecnologias, alcançam produtividades de 45 a 150 sacas/ha. Essas tecnologias contribuiram nos últimos 18 anos,para o aumento de mais de 200% na produtivi-dade e na produção de café conilon do Espírito Santo.

CB: Um dos grandes problemas do café conilon é a não mecanização de sua colheita, existem estudos para que em breve possamos usar colheitadei-ras na lavoura de Conilon?

Romário: A planta do café conilon é muito diferente do arábica, nos aspec-tos de porte, arquitetura, produtividade, nas técnicas de implantação e manejo das lavouras, colheita, secagem e bene-ficiamento. A planta é multicaule e os

Romário Gava FerrãoEngenheiro Agrônomo formado pela UFES, Mestre e Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas pela UFV. Pesquisador do Incaper desde 1985, Coordenador do Programa Estadual de Cafeicultura, Bolsista de Produtividade Científica no CNPq, autor de mais de 300 trabalhos técnicos-científicos.

Romário Gava FerrãoCoordenador do Programa Estadual de Cafeicultura do Incaper

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ENTREVISTA

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frutos são bastante aderidos aos ramos. No geral a maturação é uniforme e os frutos não despreendem dos ramos ao atingirem a maturação fisiológica. As máquinas desenvolvidas para a colheita do café arábica não se adaptam bem a do Conilon. É do conhecimento de to-dos que a colheita é a prática que mais onera o custo de produção, e quase na sua totalidade é realizada de forma ma-nual. Mesmo sabendo que a maioria da colheita do Conilon é realizada pelas fa-mílias, verifica-se que os grandes produ-tores, os mais empresariais, estão tendo dificuldade de aumentar a sua produção pela falta e elevado custo da mão de obra, principalmente nessa operação. Há demanda por tecnologias para colheita mecânica. Houveram várias iniciativas nesse sentido, mas ainda não foram de-senvolvidas tecnologias bem ajustadas para resolver essa questão, em função das características que possui essa plan-ta. Visando resposta a esse problema, há um projeto ainda em discussão, entre o Incaper e instituições privadas, objeti-vando pesquisar variedades, manejo da planta e desenvolvimento de máquinas, para atender a colheita mecânica do café conilon. CB: Em seu livro ( ... ) você relata que o café conilon que plantamos no Espí-rito santo é proveniente da região do rio Koulliou , entre o Congo e o Ga-

bão, na África. Se tratando de c. cane-phora, quais as diferenças existentes entre o café conilon e o café robusta? Romário: Quando pensamos em café, direcionamos a mente para mais de 100 espécies. Dessas, apenas duas são responsáveis por todo o café produzi-do e consumido no mundo, que são as Coffea arabica (Café arábica) e Coffea canephora (cafés Robusta e Conilon), que representam 62% e 38% da produ-ção mundial, que atualmente, está na or-dem de 133 milhões de sacas por ano. A variedade Conilon que é cultivada no Brasil, e a Robusta, sobretudo, no Viet-nã, Indonésia, India e Costa do Marfim, são de fecundaçães cruzadas, diplóides e apresentam o fenômeno de auto-incom-patibilidade genética. Elas são muito di-ferentes quanto a porte, arquitetura, tipo, tamanho, coloração de folhas e frutos, susceptibilidade aos fatores bióticos e abióticos. A variedade Robusta apre-senta plantas com hábito de crescimen-to ereto, caules de maiores diâmetros e pouco ramificados, folhas e frutos de maior tamanho, maturação tardia, maior vigor e tolerância a ferrugem, menor tolerância a seca e no geral melhor qua-lidade de bebida. A variedade Conilon se caracteriza por apresentar plantas de hábito de crescimento arbustivo, caules ramificados, folhas alongadas, flores-cimento precoce, resistência à seca e

maior susceptibilidade às doenças. No Espírito Santo, predomina o cultivo da variedade Conilon, principalmente pela sua tolerância a seca. Os trabalhos de pesquisa realizados pelo Incaper, na aréa de melhoramento em mais 1000 clones, mostram grande variabilidade genética do café conilon para diferentes caracte-rísticas. A exploração dessa variabilida-de, possibilitou ao Incaper desenvolver e lançar seis variedades. Essa variabili-dade continua sendo explorada, visando sobretudo o agrupamento de clones por ciclo de maturação para formação de novas variedades mais estáveis e produ-tivas; com tolerâncias a seca, as pragas e doenças; com arquiteturas mais adequa-das para aplicação da Poda Programada de Ciclo; com adequados desenvolvi-mentos no viveiro; com grãos grandes e maiores rendimentos de beneficiamen-to; e com melhor qualidade.

CB: Estados como: São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais, estão bus-cando tecnologias para plantar o café conilon. O que isso pode impactar na cafeicultura do Espírito Santo?

Romário: A evolução da cafeicultura do conilon é considerada um “Caso de Sucesso” no estado do Espírito Santo, devido a renovação do parque cafeeiro, seguindo novas bases tecnológicas. Os conhecimentos e as informações são so-

A evolução da cafeicultura do

conilon é considerada um “Caso

de Sucesso” no estado do Espírito

Santo, devido a renovação do

parque cafeeiro, seguindo novas

bases tecnológicas.

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cializadas rapidamente pelos diferentes meios de comunicação. Assim, devido as adequadas tecnologias, a rusticidade e alto potencial de rendimento, associado ao menor custo de produção, têm des-pertado interesse de muitos cafeicultores de diferentes partes do Brasil, tradicio-nalmente produtores de café arábica para o plantio do Conilon. Há uma cres-cente demanda por Conilon/Robusta de qualidade superior em todo o mundo. Segundo autoridades do mercado, a pro-dução de Robusta de países tradicionais da Ásia e África estão no seu limite, e o Brasil é o único país que incrementa a sua produção em mais 6 milhões de sacas desse café por ano, para atender a demanda de Robusta projetada para 2015. O momento é muito bom para o Conilon devido aos estoques baixos, o preço do café arábica elevado, melhoria da qualidade final do produto e disponi-bilidade de tecnologias apropriadas para os cafeicultores. Alertamos cautela aos cafeicultores de outras regiões do Brasil, em utilizarem as tecnologias desenvol-vidas para Estado, uma vez que as con-

dições agroclimáticas de outros estados podem ser distintas do Espírito Santo. Ao continuar o cenário atual, o mundo absorverá toda a produção de Conilon com qualidade superior.

CB: A cafeicultura de Conilon no Es-pírito Santo é basicamente familiar, com poucas técnicas de gestão da pro-priedade. Como podemos melhorar a eficiência da cafeicultura Capixaba?

Romário: A área média de café conilon colhida no Espírito Santo é cerca de 9,0 hectares. Mesmo considerada de peque-na dimensão, visando enfrentar o mundo globalizado do café, é importante fazer uma boa gestão desse negócio. Para tal, recomenda-se ao produtor administrar seu cultivo de forma empresarial. As-sim, sugere-se seguir os princípios da sustentabilidade; utilizar corretamente as tecnologias; se profissionalizar por intermédio de leituras e treinamentos; planejar todas as atividades e executá-las adequadamente, avaliando o tem-po, custo, operação, retorno e eficácia;

planejar e acompanhar a execução das operações associadas a atividade, da im-plantação e condução da lavoura até a comercialização do produto; fazer “con-ta” visando saber o custo de uma saca de café; se organizar em associação e/ou cooperativa; e saber que as garantias de retorno e de mercados estão diretamente relacionadas as obtenções de altas pro-dutividades econômicas e produção de café com qualidade superior.

CB: Durante esses 30 anos de pesqui-sa, saímos de uma produtividade bem baixa para ser referência no quesito produtividade. Qual o caminho para a qualidade ser instalada no café co-nilon?

Romário: Os cafeicultores de coni-lon no geral são empreendedores. Eles evoluiram muito devido ao uso correto das tecnologias e têm conhecimento da importância de melhoria da qualidade. O Conilon ganha espaço no consumo, por intermédio de sua maior utilização nos blends com o café arábica, no so-lúvel e nos espressos, que são os cafés, que mais crescem o consumo no cenário mundial. Atualmente, cerca de 38% do consumo é de café conilon/robusta, mas as literaturas mostram a utilização de 50% desses cafés para 2015, desde que se melhore a qualidade final do produ-to. Seguindo as estratégias utilizadas do café arábica, iniciada a 15 anos no Esta-do, que vem gerando uma verdadeira re-volução na qualidade desse café no Es-pírito Santo, o Governo do Estado, em parceria com vinte uma instituições da cadeia do café capixaba, vêm trabalhan-do com várias ações, numa campanha no quarto ano, visando melhorar a qua-lidade do Conilon. Esse trabalhos vêm dando resultados positivos. A maioria dos produtores conhecem a importância e as tecnologias para fazer qualidade e vêm aderindo ao programa.

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ENTREVISTA

CB: Os 10 mandamentos do café Co-nilon são referência de melhoria de qualidade, hoje o produtor já é ciente do que fazer na lavoura. Porque ain-da há grande resistência quando fala-mos em produção com qualidade?

Romário: Não é bem resistência. O pro-dutor vêm se conscientizando da impor-tância em fazer qualidade. O problema é que a produção de Conilon do Estado cresceu muito rapidamente nas últimas duas décadas, saindo de 2,4 milhões de sacas em 1993 para a ordem de 8,0 mi-lhões de sacas em 2011. As estruturas de colheita, pós-colheita e armazenamento não acompanharam o aumento da pro-dução. Os cafeicultores estão se estrutu-rando por intermédio de treinamentos, melhorias e ampliação de terreiros e secadores, buscando novas alternativas de secagem e armazenamento, visan-do atender a demanda e exigências do mercado. Há uma consciência que fazer qualidade é garantia de mercado, facili-dade de venda, maior preço e mais lucro. Ainda o mercado não remunera adequa-damente o Conilon de qualidade supe-rior, mas já há uma sinalização atual de prêmio de 20%. Ao aumentar o volume e a regularidade da produção com qua-lidade, o Conilon receberá prêmios se-melhantes aos aplicados ao café arábica.

CB: Quais as políticas públicas que o INCAPER introduzirá para a cultura do café conilon no Espírito Santo?

Romário: O Incaper continuará a cum-prir a sua missão em relação a cafeicul-tura capixaba, que é contribuir para o desenvolvimento sustentável do Coni-lon do Estado do Espírito Santo, com ações no âmbito da pesquisa, assistência técnica e extensão rural, priorizando os produtores de base familiar. A instituição em parceria nos âmbitos estadual, na-cional e internacional vem ampliando a pesquisa científica, assistência técnica e extensão do conhecimento, seguindo as diretrizes estabelecidas no Novo Pedeag – temática café, com ações estratégicas que visam até o ano 2025, duplicar a pro-dutividade média estadual com a produ-ção de pelo menos 30% de Conilon com qualidade superior. Para tal, vem priori-zando as ações associadas a renovação e revigoramento do parque cafeeiro, me-lhoria da qualidade final do produto, de-senvolvimento de novas variedades, au-xiliando no marketing interno e externo do conilon capixaba, ampliando a rede de jardins clonais, trabalhando em par-ceria com outros centros de pesquisas e universidades objetivando a ampliação da base do conhecimento. Além do estra-tégico programa de pesquisa, o Incaper

tem um amplo trabalho de transferência de tecnologia em todos os municípios ca-pixabas, por intermédio de cerca de 1000 ações por ano, envolvendo demonstrações de métodos (poda, adubação, irrigação, plantio em linha, variedades), dias de cam-po, encontros, palestras, visitas técnicas, cursos e publicações. Atencão especial é dada aos municípios menos desenvolvi-dos, contribuindo assim, para diminuição das desigualdades regionais.

CB: Recentemente foi instalada a IN16 e o protocolo de Robustas finos no Bra-sil. O que esses dois parâmetros ajudam na cafeicultura do Brasil?

Romário: A IN16 e o protocolo Robus-tas Finos no Brasil, são projetos/ações que cumprindo os prazos e estabelecendo adequadas estruturas para operacionalizá-los, poderão ser instrumentos importantes para acelerar a melhoria da qualidade do café brasileiro, uma vez que, qualidade é um caminho sem volta e uma questão de sobrevivência. Devemos ter sempre em mente que o café é um alimento. As-sim, deve ser produzido, industrializado e comercializado, seguindo os princípios da sustentabiliade. Esses projetos/ações adequadadmente executados oferecerão contribuições, sobretudo, referentes a se-gurança alimentar, nos aspectos de dispo-nibilização aos consumidores, cafés com certificação de pureza, caracteristicas or-ganolépticas e sensorias adequadas, incor-porando na qualidade global das bebidas, mais aroma e mais sabor.

Ao aumentar o volume e a regularidade da produção com qualidade, o Conilon receberá

prêmios semelhantes aos aplicados ao café arábica.

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ARTIGO

IWCAAliança Internacional Mulheres do Café

Apoio desde o grão até a xícaraUma aliança internacional reunindo mulheres de toda a cadeia produtiva do café, com a missão de torná-las mais visíveis e suas vozes mais escutadas. Foi isso que um grupo de norte-americanas imaginou em 2003 durante uma visita à Nicarágua e Costa Rica, países produtores da América Central. O encontro dessas mulheres da indústria com as produtoras dos dois países inspirou a criação da Aliança Internacional Mulheres do Café (International Women’s Coffee Alliance - IWCA, na sigla em inglês) que hoje está presente em sete países da África e das Américas Central e do Sul.

O que seria mais uma viagem a países produtores de café acabou sendo uma experiência única de intensa troca de experiências, convívio humano e uma co-

nexão até hoje lembrada pelas pioneiras que participaram daquela viagem. Hoje, a Aliança existe na Nicarágua, Gua-temala, Costa Rica, El Salvador, República Dominicana, Colômbia e Burundi. O logo de uma mulher estilizada se-gurando um grão de café acima da cabeça (foto ao lado)representando a reivindicação de sua posição e reconheci-mento na indústria do café já despertou o interesse de outros países em criar a aliança em seus territórios. Mulheres de Ruanda, Quênia, Zambia, Etiópia, Peru, Honduras, Papua Nova Guiné, México, India, Haiti, Japão e do Brasil estão se mobilizando no sentido de também criarem representações da IWCA em seus territórios.

O objetivo da ONG, conforme explícito no seu site www.womenincoffee.org, é formar uma aliança global de mulheres empenhada em reduzir as barreiras para todas as mulheres da indústria do café e que promova o acesso a recursos, criando ao mesmo tempo um fórum de conexão entre elas. Uma missão muito clara: empoderar as mulheres nos países produtores a fim de que elas alcancem um estilo de vida pleno e sustentável, além de promover o contato com alianças de mulheres dos países consumidores em todo o mundo.

E como falar em café e em mulheres do café sem a presença do Brasil, maior produtor e segundo maior consumidor do mundo da commodity?

O processo para se criar a organização em um país envol-ve várias etapas. Inicia-se com uma socialização informal, contatos, encontros, troca de informações sobre a existência e o trabalho da IWCA. Este primeiro passo avança para o estabelecimento de medidas mais oficiais - plano estraté-gico, legislação local e legalização. Em alguns países esse

processo pode levar anos dependendo dos recursos disponí-veis e do nível de organização de cada um.

Através da estratégia da IWCA denominada success through localization são formadas as representações locais, principalmente nos países produtores. Durante essa fase inicial, cada país cria uma rede de transferência de conheci-mentos onde cada elo da cadeia do café tem o mesmo grau de importância. A representação nacional da aliança em cada país é composta de mulheres e homens que integram toda a cadeia da indústria do café. Ao se tornar uma entida-de legal, a organização torna-se uma voz desse país e passa a ter acesso a financiamento para projetos, treinamento, con-sultoria e assessoria técnica.

Claro que cada país possui uma realidade diferente e as atividades da Aliança em cada um deles irá refletir tais di-ferenças. IWCA-Costa Rica, por exemplo, foi a primeira a criar sua representação (chamada localmente Alianza de Mujeres en Café – Costa Rica). Foi também o país que sediou, em 2008, uma convenção internacional da organi-zação. Ali, graças ao financiamento da IWCA-Costa Rica

Texto: Josiane Cotrim

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ARTIGO

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foi possível implementar um projeto que criou uma marca de café chamada “Colheita de Mulher” (Cosecha de mujer, em espanhol). Esta marca já está sendo comercializada em supermercados de dentro e fora do país. Um percentual das vendas desse café é destinado a bolsas de estudo para moças de um orfanato a fim de que possam continuar seus estudos para que tenham uma profissão, uma casa e um trabalho.

Já na Nicarágua, a questão da terra é o foco da IWCA-Nicaragua (Alianza de Mujeres en Café - Nicaragua, nome no país). Ali, as mulheres se esforçam em prestar asses-soria jurídica a produtoras locais. Segundo Gabriela Fi-gueroa de Hüeck, uma das fundadoras da organização na Nicarágua, muitas mulheres não possuem registro de suas propriedades. As terras foram passando de geração em ge-ração sem nunca terem sido legalizadas, diz Gabriela. Ela explica que isso impede que essas mulheres melhorem de vida, pois sem registro não podem obter financiamentos para adquirir equipamentos, insumos, contratar assistência técnica, a fim de aumentarem sua produtividade e, conse-quentemente, melhorarem a vida de sua família. A impor-tância do título da terra vai além dos benefícios financeiros já que, a partir do momento em que uma produtora possui o registro de sua propriedade, a mulher passa a ter mais reconhecimento e mais respeito na comunidade onde vive. Daí o esforço da aliança nicaraguense para mudar essa si-tuação no país.

O Brasil está na fase inicial do processo para integrar essa rede internacional de mulheres. A ideia é realizar um semi-nário com a participação de mulheres integrantes da cadeia

produtiva das 12 regiões cafeicultoras do país e de especia-listas dos EUA. Um seminário para ajudar as produtoras a entenderem os parâmetros que medem a qualidade do café e como o processo de avaliação de uma prova de café (cup-ping), por exemplo, pode representar uma ajuda fundamen-tal na abertura de mercados para o seu produto. O objetivo é que cada grupo de mulheres das diferentes regiões possa reproduzir o que aprendeu na sua comunidade.

Igualdade de gênero: meta do milênio

Ao compartilhar sua visão e seus valores, a IWCA cria oportunidades para impactar e expandir a esfera de influên-cia da mulher na cafeicultura e assim realizar avanços em relação à meta do milênio das Nações Unidas de promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

A questão da igualdade de gênero tem se tornado priorida-de para autoridades político-administrativas, organizações sociais, setor privado e agencias internacionais dos países produtores que vem oferecendo cooperação técnica e finan-ceira a fim de promover o status da mulher. Essa melhoria é hoje amplamente reconhecida como uma das mais eficien-tes estratégias para encarar os desafios do desenvolvimento de comunidades no mundo.

Através da criação de uma aliança de mulheres do café num país, a IWCA constrói importantes conexões nacionais e internacionais entre mulheres. Uma vez estabelecida em um país, a IWCA pode abrir portas para o mercado interna-cional criando importantes conexões que unem toda a ca-deia do café do “grão à xícara”.

SCAA 2011No dia 29 de abril passado, em Houston, Texas, a IWCA real-izou um jantar de gala no contexto da feira da Specialty Coffee Association of America–SCAA, principal evento de café dos Estados Unidos. Naquela noite, mulheres líderes da indústria do café da República Dominicana e Burundi concluíram as últimas formalidades e agora são membros da Aliança. O ato se deu perante cerca de 100 convidados representantes da IWCA nos países da América Central e do Sul, voluntárias e voluntários, apoiadoras e apoiadores. O jantar foi possível graças às empresas Java Pura Coffee Roasters, Illy e Smart-Cup.

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MATÉRIA CAPA

Em 2001, a FLO (Fair Trade Labelling Organization) e as outras redes de Comércio Justo

(IFAT, NEWS e EFTA) criaram uma plataforma de cooperação intitulada FINE (sigla para as iniciais das orga-nizações participantes) e definiram em conjunto sua definição de Comércio Justo:“O Comércio Justo é uma parceria comercial baseada em diálogo, trans-parência e respeito, que busca maior igualdade no comércio internacional. Ele contribui para o desenvolvimen-to sustentável ao oferecer melhores condições comerciais e assegurar os direitos de produtores e trabalhadores marginalizados, especialmente no He-misfério Sul.”

O comércio justo surgiu de uma pre-ocupação das pessoas envolvidas na agropecuária, com a injustiça nas rela-ções próprias ao comércio internacio-nal e com o tratamento abusivo dado aos trabalhadores nas então colônias da Europa no século XIX. Somente nos anos de 1940 e 1950 é que acon-teceram as primeiras ações concretas na busca de soluções para esses pro-blemas.

Na década de 70 ocorreram iniciati-

vas de comprar também produtos agrí-colas diretamente dos produtores. Na Suíça, por exemplo, surgiu a Gebana (de Gerechte Banane, ou “banana jus-ta”), em 1978, e já se abriam espaços nos supermercados para esses produ-tos.

Em meados de 1980, o movimento recebeu novo impulso e, em 1986, pe-quenos agricultores do México pedi-ram que, ao invés de enviarem ajuda humanitária, lhes comprassem café a um preço justo. Naquela época o pre-ço do café, além de outras matérias-primas agrícolas, nos mercados inter-nacionais de commodity, estava abaixo de seus custos de produção, conde-nando milhões de famílias, em toda a América Central, ao êxodo rural, se não houvesse outra alternativa.

Já em 1989, na Holanda, foi criada a International Fair Trade Association (IFAT), uma rede global de organiza-ções de comércio justo. Durante a dé-cada de 1990, o comércio justo cresceu consideravelmente, sendo criada em 1994, a Fair Trade Federation em Wa-shington, EUA, reunindo produtores, importadores, atacadistas e varejistas. Em 2002 a nova marca global de Co-mércio Justo foi lançada no mundo,

identificando empresas e produtos cer-tificados. Por fim, em janeiro de 2004, foi lançada também a marca global da IFAT, identificando as organizações que atendem aos critérios de Comércio Justo.

Os produtores estão no coração de todo esse movimento. Produzem e ex-portam suas mercadorias e, para isso, devem estar organizados em associa-ções ou cooperativas, sendo estimu-lados a participar mais do restante da cadeia dos negócios.

Os importadores atuam como ata-cadistas e distribuidores e, às vezes, atuam também diretamente como va-rejistas, apoiando seus parceiros de produção no desenvolvimento de pro-dutos, com capacitação e, em momen-tos de dificuldades econômicas e so-ciais, promovendo ou participando de campanhas de conscientização, tendo como assuntos, por exemplo, a injus-tiça comercial. Essas atividades inte-gram e se articulam por meio de redes de troca de informações com ONGs de desenvolvimento, agências de ajuda humanitária, centros educativos, etc. e fazem lobby para promover mudanças também no nível político.

O Comércio Justo certificado cres-

JUSTOCOMÉRCIO

O Comércio Justo é uma parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior igualdade no comércio internacional.

Texto: Equipe Conilon BrasilColaboradores SEBRAE: Enio Queijada de Souza, Sylvia Cassimiro Pinheiro, Rogério Galuppo Fernandes, Adriano Matos Rodrigues

João Augusto PérsicoColaboradores PRONOVA: Jackeline Ulliana

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MATÉRIA CAPA

ceu a taxas anuais acima de 18%, en-tre 1997 (ano em que começaram os levantamentos internacionais) e 2002. De acordo com a IFAT, há clientes para todos os padrões de produto, desde o barato ao mais caro. Muitas empresas identificaram consumidores que estão dispostos a gastar bastante quando acreditam que o produto tenha um va-lor especial, por isso Fair Trade é po-tencialmente muito maior que somente um mercado de nicho; no entanto, exi-ge que seja realizado um trabalho de

marketing consistente para cada caso. Para o SEBRAE o Comércio Justo

tem como objetivo atender aos interes-ses dos pequenos negócios e à sua in-clusão no mercado. Cabe ao SEBRAE preparar produtores e empreendedores através da disponibilização de infor-mação, capacitação e ferramentas que apõem a tomada de decisão dos mes-mos para acesso aos mais diferentes mercados. Visando isso, em 2008 o

SEBRAE lançou o Edital de Comércio Justo e Solidário apoiando 79 proje-tos de diversos setores (agronegócios, confecções, artesanato) totalizando mais de oito milhões de reais.

Dentre esses projetos, 32 foram no setor de agronegócios, sendo 4 especí-ficos na área da cafeicultura e um de-les conjugado com a apicultura. Como exemplo desse trabalho, podemos citar o caso do SEBRAE Minas Gerais, por exemplo, que atua em 3 projetos em sua carteira de agronegócios que con-templam as iniciativas de Comércio Justo. O projeto Café do Cerrado, com certificação Fair Trade para Estados Unidos e Europa é um dos exemplos de sucesso.

Em outro projeto modelo, são bene-ficiados 9 grupos de cafeicultores Fair Trade do Sul de Minas Gerais. Esses produtores estiveram presentes, em abril de 2011 na Feira da SCAA (Hous-ton / Texas / USA) quando confirmaram a venda imediata de 109 containers de café para o mercado externo, com uma receita de R$ 200 a 280 mil / container, com pagamento de prêmio de 10% do valor de mercado. A expectativa, ainda é de comercialização de mais 183 con-tainers ainda em 2011. Esta ação, bem

como toda a preparação do grupo em anos anteriores, contou com o apoio do SEBRAE MG.

Já no Espírito Santo, o SEBRAE assiste o projeto “Comercialização do Café na Perspectiva da Agricultura Familiar e do Comércio Justo” propos-to pela Cooperativa dos Agricultores Familiares do Território do Caparaó – COOFACI – do Município de Íuna. Em 2009, o programa promoveu a co-mercialização de 4.800 sacas de café para a empresa Estatal Café Venezuela, com o apoio do Ministério do Desen-volvimento Agrário (que também tem tratado do assunto, apoiando o agricul-tor familiar). Dessas sacas, 1920 sacas foram de café cereja descascado no valor de U$ 200,00 ( duzentos dóla-res ), enquanto o mercado local estava pagando de R$ 280,00 a R$ 290,00. As outras 2.880 sacas foram de café Arábica Rio tipo 7, comercializadas no valor U$ 150,00 ( cento e cinqüenta dólares ) por saca, enquanto o mercado local estava pagando de R$ 175,00 a R$ 180,00.

A visão do SEBRAE é fornecer a in-formação sobre os mercados, cabendo as cooperativas, associações e produto-res de café a tomada de decisão para

O projeto Café do Cerrado, com certificação Fair Trade para Estados Unidos e Europa é um dos exemplos de sucesso.

JUSTOCOMÉRCIO

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16 Conilon Brasil

MATÉRIA CAPA

qual mercado acessar. Não é racional envidar esforços, e, sobretudo recursos (que via de regra são escassos) para obter uma certificação de comércio justo se o mercado que se busca não conhece e muito menos remunera todo o esforço. Para o SEBRAE, no mer-cado interno, e, sobretudo nos merca-dos locais, ainda estamos num estágio bastante incipiente quando se fala em Fair Trade, comércio justo e conceitos afins.

Segundo o SEBRAE NACIONAL, uma vez que o produtor participar dos grupos, associações ou cooperativas em regiões onde existam projetos lo-cais com essa pauta e se houver de-manda de mercado, o mesmo poderá auxiliar os grupos de produtores. O custo da certificação deverá ser ana-lisado e verificado se é vantajoso ou não para o produtor. Poderá também, ser alvo de negociação entre produtor e comprador de comércio justo. A idéia de atendimento coletivo é justamente dividir os investimentos entre os inte-ressados.

“Alguns estados nos sinalizaram que o programa tem trazido melhores resultados aos produtores familiares, com preços mais altos e mais estáveis, pagos aos produtores, possibilitando o

investimento em equipamentos para processamento do café e em projetos sociais.” SEBRAE NACIONAL

De maneira geral, o objetivo do SE-BRAE é mostrar aos agricultores fami-liares uma maneira de agregar valor ao seu produto levando em consideração o desenvolvimento econômico, social e ambiental.

Transparência,

preço justo e

responsabilidades

O Comércio Justo envolve gestão transparente e relações que tratam, de forma justa e respeitosa, os parceiros comerciais. Um preço justo no contex-to regional ou local, acordado median-te diálogo e participação, cobrindo os custos de produção e permitindo uma produção socialmente justa e ecologi-camente segura, além de proporcionar pagamento justo para os produtores e levar em consideração o princípio do pagamento igual para trabalho igual de homens e mulheres. Os agentes envolvidos garantem pagamento ime-diato para seus parceiros e, sempre que possível, ajudam os produtores com o

acesso a financiamento antes da produ-ção ou da colheita.

No Comércio Justo um ambiente de trabalho seguro e saudável para os produtores é primordial, a participação de crianças na ajuda dos trabalhos no campo não deve afetar negativamente seu bem-estar e segurança, nem suas obrigações educacionais e a necessi-dade de brincar, devendo haver con-sonância com a convenção das Nações Unidas sobre os direitos da criança, bem como as leis e normas vigentes no contexto local, além de estimular ativa-mente as melhores práticas ambientais e a aplicação de métodos responsáveis de produção.

Como exemplo de um trabalho bem sucedido na cafeicultura podemos citar o trabalho da PRONOVA (Cooperativa dos Cafeicultores das Montanhas do Espírito Santo), que desde 1998 realiza um trabalho com seus cooperados de melhoria da qualidade do café, estimu-lando a produção de cafés especiais. Esse trabalho, aliado à participação e a premiação dos produtores nos con-cursos de qualidade de café nacionais, fez com que a cooperativa, em 2005, buscasse uma certificação para os ca-fés, objetivando a produção de cafés ambientalmente corretos, socialmente

JUSTOCOMÉRCIO

O Comércio Justo envolve gestão transparente e relações que tratam, de forma justa e respeitosa, os parceiros comerciais.

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Conilon Brasil 17

MATÉRIA CAPA

responsáveis e economicamente viá-veis com um selo que mostrasse para os compradores (principalmente no mercado externo) que o café produzi-do na região de montanhas do Espírito Santo possui qualidade, aliada à sus-tentabilidade. Foi nesse contexto que a cooperativa obteve o selo FAIR TRA-DE, uma das certificações mais impor-tantes a nível de agricultura familiar e reconhecida mundialmente.

Segundo Jackeline Uliana Donna, gerente de Certificação da PRONO-VA, a certificação FAIRTRADE trou-xe uma melhor organização da coope-rativa e das propriedades cooperadas, estimulou a realização de treinamen-tos e capacitações, trouxe importan-tes parcerias de projetos que só foram possíveis pelo trabalho de produção de cafés de qualidade e sustentáveis, possibilitou a abertura de novos mer-cados, além de agregar valor aos cafés de qualidade.

Hoje a PRONOVA possui em seu quadro social aproximadamente 229 agricultores de 13 municípios e já se consolidou como a principal interlo-cutora da cafeicultura da região, re-alizando um constante trabalho de sensibilização dos cafeicultores da necessidade de produzir o café de for-

ma sustentável, ou seja, adotando pro-cessos eficientes e transparentes, com responsabilidade ambiental e social, não só na produção, mas também no processamento e comercialização des-ses grãos, já que compradores e con-sumidores estão preocupados, além da qualidade do café que consomem, com um conjunto de fatores que envolvem a produção de um café economicamente viável, socialmente justo e ecologica-mente correto.

Jackeline Uliana ressalta que em abril de 2011, durante a Feira da Asso-ciação Americana de Cafés Especiais (SCAA), realizada em Houston - EUA – a PRONOVA foi destaque no stand do FAIRTRADE USA em um painel onde estavam os cinco projetos pre-miados no Concurso “Cada Projeto Vale” (promovido pela FAIR TRADE USA) que elegeu, em cinco categorias, os melhores Projetos desenvolvidos pelas cooperativas certificadas FAIR TRADE em nível mundial. A PRONO-VA foi a única cooperativa premiada no Brasil e a que se destacou na categoria QUALIDADE em nível mundial.

A gerente de certificação explica que ao investir na melhoria da qualidade do café e na certificação, os pequenos produtores das regiões das Montanhas

do Espírito Santo ganharam destaque no cenário da cafeicultura brasileira e mundial com benefícios que extrapo-lam os cafés certificados e beneficiam todo o agronegócio café capixaba, a exemplo do que vem acontecendo em países que hoje já oferecem cafés certi-ficados ao mercado mundial.

“O trabalho de certificação vale a pena e precisa ser realizado, visando não só agregação de valor para os ca-fés, mas sim todos os benefícios dire-tos e indiretos que a certificação pro-porciona!” Jackeline Uliana.

Diante do acima exposto, fica claro que o Comércio Justo torna-se a cada dia mais uma excelente alternativa de desenvolvimento. Porém, é necessário que alguns pontos sejam considerados para fortalecimento desse movimento, como o aumento na distribuição e da disponibilidade, garantia da qualidade, divulgação das marcas, a conscienti-zação dos consumidores, a adoção e o apoio das grandes empresas. Vale ressaltar, porém que principalmente, a visão de futuro, a seriedade, o pro-fissionalismo e a habilidade de criar oportunidades do cafeicultor brasileiro são as ferramentas chaves para o fran-co desenvolvimento do Mercado Justo no nosso setor.

JUSTOCOMÉRCIO

“O trabalho de certificação vale a pena e precisa ser realizado, visando não só agregação de valor para os cafés, mas sim todos os benefícios diretos e indiretos que a certificação proporciona!”Jackeline Uliana.

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COBERTURA

23ª FEIRA DECAFÉS ESPECIAISHOUSTON TEXAS

2011Pela 1ª vez em vinte e três edições da exposição da SCAA, os cafés robustas tiveram o merecido reconhecimento. Com as ações de degustações realizadas, o Conilon pôde ser apreciado por degustadores de renome no cenário de cafés especiais. A surpresa em relação ao sabor dos cafés era visível, mostrando que o trabalho realizado no Espírito Santo está na direção correta.

Texto: Equipe Conilon Brasil

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COLHEITA

A colheita do Conilon, safra 2010/2011, segue a “pleno vapor”. É percep-tível que o produtor está mais disposto e que está se dedicando cada vez mais à melhoria da qualidade do Conilon brasileiro. Apesar desta

constatação, podemos verificar em visitas às regiões produtoras no ES, que temos muito à melhorar para atingir a excelência na produção de Conilon de qualidade, ou seja, para alcançarmos uma melhoria sistêmica da qualidade do Conilon, dentro dos padrões que o mercado de alto valor agregado exige.

Um dos pontos mais claros do levantamento realizado pela equipe da Co-nilon Brasil, foi o início da colheita antes das lavouras atingirem o ponto de maturação ideal. Encontramos com freqüência muitos produtores iniciando a colheita em áreas com apenas 40% de grãos maduros.

O processo de secagem também precisa de melhorias. Apesar de saberem que não é o ideal, alguns produtores continuam realizando a seca do café em tempe-raturas inadequadas e com material combustível impróprio para essa operação.

Apesar desses pontos de melhoria, é importante ressaltar que muitos produ-tores, que já aceitaram a necessidade de mudança e implementaram um novo sistema de colheita, secagem e armazenamento, já colhem os frutos desse tra-balho. A valorização de cafés conilon de qualidade já se torna mais freqüente. Constatamos a comercialização de cafés naturais, secados em terreiro de ci-mento, com ágil de 15 a 20%. No caso de Conilon cereja descascado esse ágil pode chegar a aproximadamente 30%.

O Importante é saber que estamos evoluindo no processo de melhoria de qualidade do Conilon e que o mercado já apresenta uma reação a essa mudança.

Texto: Equipe Conilon Brasil

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20 Conilon Brasil

CONILON TECH

A agricultura brasileira vem avançando na busca de tecnologias e processos

que minimizem danos ambientais e ofereçam produtos seguros para a saú-de do consumidor final. A preservação e manutenção de inimigos naturais nos agroecossistemas são imprescindíveis para o estabelecimento de um equi-líbrio, evitando efeitos indesejáveis como seleção de populações de inse-tos-praga resistentes aos defensivos, aparecimento de pragas secundárias e ressurgência de pragas.

Nessa linha, vem crescendo o núme-ro de pesquisas com produtos naturais, sendo a planta com atividade insetici-da, Azadirachta indica, conhecida co-mumente por “nim”, considerada uma das mais importantes em várias partes do mundo. Durante os últimos anos, 25 diferentes ingredientes ativos do “nim” foram descobertos e pelo menos nove afetam o crescimento ou comporta-mento dos insetos. Dentre eles, a aza-diractina é o composto mais eficiente.

O “Nim” (Azadirachta indica) é uma árvore que pertence à família Melia-ceae, única no seu gênero botânico. O seu nome científico faz referência à sua

origem, a Índia. Também conhecida como “nim” (português) ou amargosa, faz parte da mesma família que diversas espécies de árvores conhecidas, como o mogno, o cedro, a santa bárbara, ou cinamomo, o cedrilho, a canjerana e a triquília. É originário do Sudeste da Ásia e é cultivado em diversos países da Ásia, em todos os países da África, na Austrália, América do Sul e Central. O “Nim” é usado há séculos na Ásia, principalmente na Índia, como planta medicinal. Tem diversos usos, em es-pecial anti-séptico, curativo ou vermí-fugo; é utilizado no preparo de sabões medicinais, cremes e pastas dentais. A árvore é usada para sombra e possui madeira de qualidade para a produção de móveis, construção, batentes e por-tas, caixas e caixotes, lenha, carvão, etc. Seu uso como inseticida se tornou bem conhecido nos últimos 30 anos, quando seu principal composto, a aza-diractina, foi isolado. A molécula da azadiractina é muito complexa e ainda não pôde ser sintetizada, assim, todos os produtos que contêm azadiractina são produzidos por extração da plan-ta ou de suas sementes. Os inseticidas naturais de “nim” são biodegradáveis,

portanto não deixam resíduos tóxicos nem contaminam o ambiente. Possuem ação repelente, anti-alimentar, regula-dora de crescimento e inseticida, além de acaricida, fungicida e nematicida. Por sua natureza, os extratos de “nim” são mundialmente aprovados para uso em cultivos orgânicos.

A árvore de “nim” é originária de clima tropical, se desenvolve bem em temperaturas acima de 20ºC, em solos bem drenados, não ácidos e altitudes abaixo de 700 m. Nessas condições, pode iniciar a produção de frutos em cerca de dois anos, podendo atingir 10 kg de semente seca/planta, sendo que cada quilograma de sementes se-cas contém aproximadamente 3000 sementes. No Brasil, as primeiras in-troduções realizadas para pesquisa do “nim” como inseticida foram reali-zadas pelo IAPAR, em Londrina PR, em 1986 com sementes originárias das Filipinas. Em continuidade ao projeto, em 1989 e 1990, material oriundo da Índia, Nicarágua e República Domini-cana, foi plantado em Londrina, Para-navaí PR (região mais quente e areno-sa), Jaboticabal SP e Brasília DF, para avaliação de desenvolvimento.

AZADIRACTINATexto: Equipe Conilon Brasil

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CONILON TECH

Nos anos noventa, principalmente nos últimos cinco anos, as propriedades da planta se tornaram mais conhecidas no País, dando-se início ao plantio de áreas comerciais em São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Pará e outros. Esses es-tados apresentam clima favorável a seu cultivo, esperando-se, portanto, produ-ções próximas ao obtido nos países de origem. Em condições menos adequa-das, como as do Norte do Paraná, com clima subtropical, as plantas se desen-volvem mais lentamente, iniciando a produção de frutos após cerca de seis anos, atingindo a produção máxima de 3 a 4 kg de semente seca/planta após 10 anos do plantio (dados obtidos no IAPAR).

Modo de Ação

A ação dos extratos de “nim” sobre insetos é bastante variável de espécie para espécie. Há registro de ação sobre mais de 300 espécies. A maior parte das investigações foi feita em laboratório, sendo necessários mais estudos para po-der se determinar com maior segurança quais as pragas pode controlar, as doses, freqüência de aplicação, etc.

De modo geral a azadiractina afeta o desenvolvimento dos insetos de di-ferentes modos. Pela sua semelhança com o hormônio da ecdise (processo que possibilita ao inseto trocar o es-queleto externo e, assim poder cres-cer), perturba essa transformação e, em altas concentrações pode impedí-la, causando a morte do inseto. Por essa razão, as formas jovens de insetos são mais fáceis de controlar. Não causa a morte do inseto imediatamente, dado o seu efeito fisiológico, porém, além de afetar a ecdise, reduz o consumo de alimento, retarda o desenvolvimen-to, repele os adultos e reduz a postura nas áreas tratadas. Também tem maior ação por ingestão, de modo que os in-setos mastigadores são mais facilmen-te afetados.

As espécies mais facilmente contro-ladas são as lagartas, pulgões, cigarri-nhas, besouros mastigadores. Resulta-dos de pesquisa do IAPAR mostraram efeitos letais e deformidades em larvas e pupas de lagarta-do-cartucho do mi-lho, curuquerê do algodoeiro, ácaros e bicho-mineiro, cochonilhas e redução de postura em bicho-mineiro, broca-do-café e mosca branca. Em testes com

a joaninha, inimigo natural de pulgões, extratos de “nim” não causaram morte dos adultos e sua ação sobre as larvas foi mediana para uma espécie e inócua para outra, não reduzindo sua voraci-dade, o que comprova seu potencial para uso em associação com inimigos naturais contra as pragas.

Preparo de Extratos

Os extratos podem ser preparados com a simples trituração das sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por 12 horas e filtrando-se o líquido e pulverizando-se sobre as áreas infestadas. O mesmo pro-cedimento pode ser usado para folhas frescas ou secas, embora a azadiractina aí ocorra em menor concentração.

O óleo inseticida é extraído pela pren-sagem das sementes, obtendo-se no máximo 47% de óleo, que contém cer-ca de 10% da azadiractina existente no fruto. A torta restante é, pois, muito rica em azadiractina, tem efeito nematicida e serve como adubo orgânico. Pode, também, ser secada e utilizada poste-riormente para preparo de extratos inse-ticidas, em mistura com água e filtração.

AZADIRACTINA

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22 Conilon Brasil

CONILON TECH

Para se armazenar sementes para preparar o extrato posteriormente, os frutos devem ser colhidos, secos ao sol por dois a três dias, e mais uns dois dias à sombra por dois dias e despol-pados manualmente em água ou utili-zando-se despolpadeira de café. Deixa secar bem e armazenar, de preferência a baixa temperatura. As sementes que serão plantadas podem ser preparadas da mesma forma.

Doses

Devido aos bons resultados do uso do “nim”, já existem produtos indus-trializados e registrados no Ministério da Agricultura para o uso como inseti-cida. As doses variam de acordo com a concentração de cada produto e a origem do extrato.

De modo geral, o óleo emulsionável de “nim”, a 5 ml/l de água, pode con-trolar bem os insetos mastigadores, especialmente as lagartas, em várias

culturas. Extratos de sementes a 5 g/l de água e folhas a 10g/l de água também podem reduzir drasticamente a população de lagartas. Outros in-setos, como os pulgões e percevejos, que são sugadores, exigem doses um pouco mais altas, como 10 ml de óleo emulsionável/l de água. Ainda são necessários mais estudos para se de-terminar as doses exatas para controle das muitas espécies de pragas das la-vouras.

Diversas pragas do cafeeiro, como o bicho-mineiro, a broca-do-café, a co-chonilha branca, a mosca-das-frutas e o ácaro-da-leprose, mostraram-se sen-síveis à ação do “nim” em laboratório. A pulverização do óleo emulsionável (dose acima de 1,25 ml/l de água) ou de extratos de sementes (acima de 15 g/l de água) ou de extratos de fol-has (acima de 40 g/l de água) sobre folhas de café reduziu cerca de 50% o número de ovos colocados pelo bicho-mineiro. O óleo emulsionável

também causou mortalidade dos ovos depositados.

O dano causado pela broca-do-café também pode ser reduzido com a ação do “nim”. A pulverização de óleo emulsionável a 10 ml/l de água sobre os frutos reduziu o número de brocas vivas e de frutos brocados. A pulver-ização de extratos de frutos e folhas também causou redução do número de frutos brocados. Extrato de frutos a 20 g e 40 g/l de água causaram 40% e 70% de redução. Extratos de folhas a 15 g/l de água causaram 40% de redução e a 150 g/l de água, causaram 60% de redução dos frutos brocados.

Quando pulverizado sobre a co-chonilha branca, o óleo emulsionável de “nim” causou repelência, inativa-ção dos indivíduos, com posterior mortalidade. Em conseqüência, re-duziu e atrasou o desenvolvimento de novas gerações. A concentração de 4,5 ml/l de água causou cerca de 95% de mortalidade.

Broca-do-café

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elemento fundamental da vida

ARTIGO

Conilon Brasil 23

A água é um recurso natural indispensável à sobrevi-vência do homem e demais seres vivos do Planeta. Seus múltiplos usos são indispensáveis para um

grande número de atividades humanas, como o abasteci-mento público e industrial, a agricultura, a produção de energia elétrica e as atividades de lazer e recreação, bem como a preservação da vida aquática. É uma substância fundamental para os ecossistemas da natureza, solvente universal e importante para a absorção de nutrientes do solo pelas plantas. Infelizmente, este recurso natural en-contra-se cada vez mais limitado e exaurido pelas ações impactantes do homem que degrada a sua qualidade e pre-judica os ecossistemas.

Sérios problemas de abastecimento em diversas regiões do país já são identificados e conhecidos. Organismos in-ternacionais alertam para o fato de que nos próximos 25 anos cerca de 2,8 bilhões de pessoas poderão viver em regiões com extrema falta de água, inclusive para o pró-prio consumo. No entanto, não é só a escassez de água que preocupa, mas também a contaminação das águas dis-poníveis. A crescente expansão demográfica e industrial observada nas últimas décadas trouxe como conseqüência o comprometimento das águas dos rios, lagos e reserva-tórios.

A poluição das águas é gerada por efluentes domésticos, efluentes industriais e detritos da atividade urbana e agrí-cola.

A água é o elemento essencial e estratégico ao desenvol-vimento agrícola. O setor agrícola é o maior consumidor

de água. A nível mundial, a agricultura consome cerca de 69% de toda a água derivada das fontes (rios, lagos e aqüí-feros subterrâneos) e os outros 31% são consumidos pelas indústrias e uso doméstico. No Brasil, quase metade da água consumida destina-se a agricultura irrigada.

As taxas de crescimento da produção agrícola mundial têm sido menores que os incrementos populacionais. Para uma produção sempre crescente de alimentos, a alternati-va está na produção agrícola sob irrigação, que tem pos-sibilitado um número maior de safras por ano, principal-mente em países do hemisfério sul.

A nível mundial, a expansão da área agrícola sem irriga-ção é restrita, pela dificuldade de se encontrar áreas que não apresentem riscos ambientais e até mesmo pela inexistência de solos aptos. Para a agricultura irrigada, a expansão da área no mundo torna-se mais difícil devido às restrições de disponibilidade de recursos hídricos, às condições ambien-tais, às dificuldades econômicas e à degradação dos solos.

A incorporação e conseqüente expansão de áreas irri-gadas devem estar associadas ao aumento dos níveis de produtividade atuais, porém atenção especial deve ser dada às práticas apropriadas de irrigação, sem que estas resultem em danos ao sistema solo-planta. No mundo, 10 milhões de hectares de áreas são abandonados anualmente por efeito da salinização e processos decorrentes.

A falta de informações, completas e sistemáticas, quanto à qualidade da água, poderá conduzir ao uso de águas de qualida-de inadequada, com conseqüentes efeitos deletérios nas proprie-dades físico-químicas dos solos e nos rendimentos das culturas.

ÁGUATexto: Tania Thomazini

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24 Conilon Brasil

ARTIGO

• Salinidade ou alta concentração total de saisA alta concentração total de sais causa a salinização do solo atra-

vés da elevação do potencial osmótico e redução do potencial hí-drico, dificultando a absorção de água pela planta podendo causar toxidez às plantas.

• SodificaçãoÉ a elevada proporção da concentração de sódio em relação à de

outros sais, principalmente cálcio e magnésio, que acarreta proble-mas na estruturação do solo dificultando o processo de infiltração da água no solo, devido à obstrução ou extinção dos macroporos;

A infiltração do solo aumenta com o aumento da salinidade e reduz com o aumento da proporção relativa de sódio;

• Concentração de bicarbonatosAltas concentrações de bicarbonatos promovem precipitação de

cálcio e magnésio, na forma de carbonatos, reduzindo a concen-tração de cálcio e magnésio no solo;

Pode elevar a proporção relativa de sódio, uma vez que a so-lubilidade do carbonato de sódio é maior que a solubilidade dos carbonatos de cálcio e magnésio, provocando problemas de infil-tração da água no solo;

A precipitação de carbonatos de cálcio e magnésio pode ocorrer dentro das tubulações, ocasionando obstrução (parcial ou total) das tubulações e emissores.

• Presença de elementos tóxicosQuando em altas concentrações, os íons de boro, cloro e sódio

podem ocasionar toxidez às culturas. Seu grau de dano depende da concentração do elemento, da sensibilidade da cultura e da eva-potranspiração diária.

• Contaminação por agentes patogênicos (vermino-ses. esquistosomose, etc.)

Deve-se avaliar a possibilidade de ocorrer contaminação do irri-gante, da comunidade vizinha à irrigação e dos consumidores dos produtos irrigados.

A classificação de qualidade de água mais usada é a que avalia a qualidade da água em função da CE (salinidade) e RAS (So-dificação) entre outros parâmetros. Este modelo classifica a água em função das restrições que cada característica discutida possa exercer na condução adequada da agricultura irrigada.

Perigo de salinização: As águas são divididas em quatro clas-ses, segundo sua condutividade elétrica (CE), ou seja, em função de sua concentração total de sais solúveis.

• C1 - Água com salinidade baixa Pode ser usada para irrigação da maioria das culturas e na maioria

dos solos, com pouca probabilidade de ocasionar salinidade. Alguma lixiviação é necessária, mas isso ocorre nas práticas normais de irri-gação, à exceção dos solos com permeabilidade extremamente baixa.

• C2 - Água com salinidade média.Pode ser usada sempre que houver um grau moderado de lixivia-

ção.Plantas com moderada tolerância aos sais podem ser cultivadas, na maioria dos casos, sem práticas especiais de controle da salinidade.

• C3 - Água com salinidade alta.Não pode ser usada em solos com deficiência de drenagem. Mes-

mo nos solos com drenagem adequada, pode-se necessitar de práticas especiais para o controle da salinidade. Pode ser usada somente para irrigação de plantas com boa tolerância aos sais.

Perigo de alcalinização ou sodificação: As águas são di-vididas em quatro classes, segundo sua razão de adsorção de sódio (RAS), ou seja, em função do efeito do sódio trocável, nas condições físicas do solo:

• S1 - Água com baixa concentração de sódioPode ser usada para irrigação, em quase todos os solos, com pequena

possibilidade de alcançar níveis perigosos de sódio trocável.• S2 - Água com concentração média de sódioSó pode ser usada em solos de textura grossa ou em solos orgânicos

com boa permeabilidade. Ela apresenta um perigo de sodificação consi-derável, em solos de textura fina, com alta capacidade de troca catiônica, especialmente sob baixa condição de lixiviação, a menos que haja gesso no solo.

• S3 - Água com alta concentração de sódioPode produzir níveis maléficos de sódio trocável, na maioria dos so-

los, e requer práticas especiais de manejo do solo, boa drenagem, alta lixiviação e adição de matéria orgânica. Nos solos que têm muito gesso, ela pode não desenvolver níveis maléficos de sódio trocável. Pode reque-rer o uso de corretivos químicos para substituir o sódio trocável, exceto no caso de apresentar salinidade muito alta, quando o uso de corretivos não seria viável.

• S4 - Água com muito alta concentração de sódioÉ geralmente imprópria para irrigação, exceto quando sua salinida-

de for baixa ou, em alguns casos, média, e a concentração de cálcio

Os principais problemas vinculados à qualidade da água de irrigação são:

Classificação da água de irrigação

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ARTIGO

Conilon Brasil 25

do solo ou o uso de gesso ou outros corretivos tornarem o uso desta água viável.

Algumas vezes, a água de irrigação pode dissolver suficiente quanti-dade de cálcio de solos calcário, diminuindo, assim, apreciavelmente, o perigo de solidificação. Isso deve ser levado em conta, no uso de águas C1-S3 e C1-S4. Para solos calcários com pH alto, ou para solos não-calcários, o nível de sódio nas águas das classes C1-S3, C1-S4 pode ser melhorado com a adição de gesso. Também poderá ser benéfico, quando se usarem águas das classes C2-S3 e C3-S2, adicionando, periodicamen-te, gesso ao solo.

Efeito da concentração de boro: O boro é um elemento es-sencial para o crescimento dos vegetais, mas a quantidade re-querida é muito pequena. Porém, em concentrações um pouco maiores, torna-se muito tóxico para alguns vegetais. O nível de concentração que o torna tóxico varia de acordo com a espé-cie de vegetal. O nível que é tóxico para uma planta sensível, por exemplo, limão, pode ser o ideal para uma planta tolerante, como, por exemplo a alfafa. Em razão dessa variação de espé-cie para espécie, a água para irrigação tem de ser classificada em classes distintas, segundo a sensibilidade da cultura a ser irrigada.

Efeito da concentração de bicarbonato: Águas que con-têm concentrações elevadas de íons de bicarbonato, há tendên-cia para a precipitação do cálcio e do magnésio, sob a forma de carbonatos, reduzindo, então, a concentração de cálcio e mag-nésio na solução do solo e, conseqüentemente, aumentando a proporção de sódio.

A classificação da água para irrigação pode ser feita em fun-ção do conceito de “Carbonato de Sódio Residual” (CSR):

CSR = (CO3 + HCO3) (Ca++ + Mg++)I - Águas com CSR superior a 2,5 miliequivalentes por litro não

são recomendadas para irrigação.II - Águas que contenham “CSR” entre 1.25 e 2.5 miliequivalen-

tes por litro são duvidosas para irrigação.III - Águas que contenham “CSR” inferior a 1,25 miliequivalen-

tes por litro são normalmente apropriadas para irrigação.

Acredita-se que com bom manejo da irrigação, no que diz respeito à drenagem e à lixiviação, e com uso apropriado de corretivos, é possível usar, com sucesso, na irrigação, algumas das águas classificadas com “duvidosas”.

É importante ressaltar que águas com carbonatos em exces-so, podem trazer sérios prejuízos, principalmente quando se usa agricultura com irrigação localizada, já que o excesso de carbonatos provoca encrostamento nos equipamentos de irriga-ção, e conseqüentemente causa entupimentos nas tubulações.

A água de irrigação quando salina traz dois tipos de proble-mas: (a) o direto, que é a deposição de sais via irrigação no

solo, onde ficam acumulados, com a evaporação da água e/ou consumo pelas plantas; (b) o indireto, acarretado pela redução da disponibilidade de água para as plantas, em decorrência do incremento no potencial osmótico de modo a afetar a produti-vidade das culturas.

Águas salinas levam para o solo grande quantidade de sais via irrigação, esses sais conseqüentemente se acumulam na zona radicular das plantas, e os seus teores aumentam a cada irrigação; após uma irrigação o teor de sais próximo a super-fície do solo é aproximadamente igual ao da água de irrigação e vai aumentando com a profundidade, pois os sais se concen-tram ali para serem levados para camadas mais profundas com as próximas irrigações e posteriormente lixiviados a maiores profundidades. Devido a isso é que existe a necessidade de se aplicar uma quantidade de água maior que a consumida pelas plantas, principalmente no período vegetativo, para que esse excesso de água possa carrear os sais a profundidades fora do alcance do sistema radicular, não afetando assim as culturas.

Deve-se lembrar ainda que os problemas de toxicidade, no geral, complicam e complementam os problemas de salinidade e permeabilidade, pois o acúmulo dos íons em concentrações tóxicas demora certo tempo e os sintomas visuais dos danos desenvolvem-se muito lentamente para serem notados, e o sur-gimento de tal problema dependerá do tempo, da concentração, da tolerância da cultura e do volume de água transpirada.

Os íons cloreto presentes na água de irrigação provocam com maior freqüência toxicidade nas culturas, esses íons não são adsorvidos pelas partículas do solo, porém, por serem muito móveis, são facilmente absorvidos pelas raízes das plantas e translocados até as folhas, onde se acumulam devido à transpi-ração, sendo este problema mais intenso nas regiões de climas mais quentes, onde as condições ambientais favorecem uma alta transpiração. O tipo de irrigação a ser utilizado também apresenta maior ou menor intensidade de absorção do cloreto, ou seja, quando da utilização do método de irrigação por as-persão a toxicidade é mais rápida, pois a absorção é realizada diretamente pelas folhas. Essa absorção pode ser afetada pela qualidade da água que está sendo usada na irrigação e também pela capacidade da planta em excluir o seu conteúdo no solo, o qual se controla com a lixiviação.

Por fim, o pH normal para água de irrigação situa-se entre 6,5 e 8,4. As águas com pH anormal podem criar desequilíbrios de nutrição ou conter íons tóxicos. As mudanças provocadas por pH anormal da água de irrigação no solo são lentas, e quando isso ocorre, ao invés de se corrigir o pH da água, por não ser prático, faz-se a correção do solo.

Para saber se a água é adequada para ser usada na irrigação, o agricultor deve realizar a análise da água e submeter o re-sultado ao estudo de um profissional que irá orientá-lo quanto ao manejo adequado da irrigação.

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Ana ArgentaConsultora em cafés

O negócio do café é um segmento fascinante, rico em história e impactante em termos econômicos. Globalmente, o café movimenta um volume de mais de 70 bilhões de dólares anualmente,

traduzindo-se na segunda maior commodity mundial, atrás apenas do petróleo.

Num cenário frenético e competitivo em que o café está inserido, surgem empreendedores dispostos a criar opera-ções inovadoras no comércio da bebida café, confiantes em prosperar financeiramente, e determinados em materializar a idéia. Contudo, por falta de conhecimento sobre o produto principal que irão operar e do segmento em que irão atuar, e por não considerarem a elaboração de um bom planejamento para o novo negócio, correm sérios riscos de entrar na estatís-tica das empresas que não sobrevivem.

Muitos empreendedores, preferem iniciar um negócio pela execução, e não dedicam tempo para o planejamento. Ob-servando isso em muitas das consultas que recebo de futu-ros empreendedores da área, decidi orientá-los com fatores que considero chave para iniciar um negócio de sucesso em cafeteria. Sem a pretensão de cobrir todos os detalhes que impactam no projeto do novo negócio, descrevo abaixo estes fatores.

ConhecimentoAcima de qualquer aspecto, buscar conhecimento a respei-

to do produto e segmento em que o empreendedor irá atuar, é pré-requisito para avançar nas próximas etapas. Ao conhecer sobre o assunto, é possível responder a uma simples questão: “É este o produto e o segmento com o qual realmente preten-do empreender?”. A fonte de conhecimento está em toda a parte, o importante é selecionar a informação que incremente seu conhecimento e forneça uma visão real da operação di-

ária com café, pois a partir desta visão o empreendedor terá mais segurança para seguir adiante, ou optar por outro cami-nho. Desta forma, recomendo dedicar um bom tempo para estudar sobre o assunto, e como dica, listo as seguintes ativi-dades: adquirir livros específicos sobre conhecimento geral em café, desde livros sobre a história do café no Brasil e no mundo, até guias completos na área; contato com associações que possam fornecer estatísticas, pesquisas, projetos e dados sobre a área, e, claro, a Internet como fonte inesgotável de in-formação. Construindo este conhecimento, recomendo reali-zar diferentes cursos na área, iniciando pelo curso de barista, participar de palestras, workshop e seminários, visitar feiras, congressos e eventos, além de visitas a fazendas produtoras de café em diferentes regiões do Brasil. Acrescento ainda; visitar cafeterias em diferentes locais e observar pontos for-tes e fracos de cada local, reunir-se com pessoas da área, e, se possível, realizar um estágio ou mesmo trabalhar em uma cafeteria antes de iniciar o seu próprio negócio. E muito im-portante: realizar estas atividades constantemente!!

Plano de negócios Seguro para atuar na área, é momento de criar um Plano de

Negócios, ou o famoso “Business Plan”. É fundamental que o empreendedor dedique um tempo para a concepção do pla-no de negócios, pois é ele que dá a direção de onde, quando e como você quer chegar com o seu negócio, e melhor prepara-do para lidar com as situações da rotina diária. E por que é tão importante este plano? De maneira geral, o plano de negócios consiste em uma ferramenta que ajuda a visualizar qual o ta-manho, as oportunidades e as ameaças do seu mercado, qual o perfil e necessidade do seu público-alvo, os pontos fortes e fracos da sua concorrência. Além disso, o plano irá ajudar a definir quais os serviços e produtos que você irá oferecer ao seu cliente, qual a sua estratégia de comunicação para atrair

Iniciando um negócio de sucesso em cafeteria

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estes clientes, e como será a operação e logística diária para ter qualidade nos produtos e serviços oferecidos. E claro, o plano irá forçar a pensar na viabilidade econômica do negó-cio, visualizando o investimento inicial, o capital de giro, o retorno deste investimento, os custos mensais, a previsão de vendas, a lucratividade e rentabilidade do negócio, entre ou-tros aspectos da análise financeira. Finalmente, preparar um plano de negócios, irá ajudar a ter motivação e inspiração para executar o seu tão sonhado negócio!

Revisado seu plano de negócios, é momento de executá-lo, e na fase de execução também é possível complementar informações faltantes do plano. Portanto, revise e altere seu plano sempre que necessário.

IdentidadeUma das etapas previstas é a criação da identidade, ou seja,

a cara da sua empresa, a sua logomarca. Alguns autores di-zem que a logomarca deveria ser criada antes do plano, pois ela é o seu mais duradouro ativo dentro da empresa. O im-portante é escolher uma empresa de branding & design, que, preferencialmente, conheça sobre o segmento, compreenda o posicionamento e atuação da empresa, definindo a postura e abordagem da marca, tornando a identidade clara, objetiva e concisa. Também deverá ser facilmente aplicada em toda a imagem da loja e papelaria da empresa, envolvendo: car-dápios, uniformes, louças, merchandising interno, folders, expositores, sinalização, etc. E não esqueça; produza um ma-terial de qualidade!!

Ponto idealA busca incansável do ponto ideal, um dos aspectos mais

importantes, senão o mais importante do negócio. Mas afi-nal, qual é o melhor ponto? A melhor localização depende do conceito, missão, foco, público-alvo, dentre outros aspec-

tos do negócio. Neste etapa, o empreendedor já deverá saber o modelo de cafeteria que planeja abrir; em rua, shopping, quiosque, drive-thru, etc. A partir desta definição, contacte uma consultoria imobiliária para apoiar no processo, procure fazer uma pesquisa de mercado consistente, pesquise tam-bém em órgãos da cidade sobre o número de escolas, praças, supermercados, etc na região, e como é a movimentação das pessoas entre os bairros. Quando encontrar o ponto adequa-do certifique-se da existência de estacionamento próximo ou no próprio local, avalie também o estado do imóvel, pois será impactante na definição do investimento em reformas e construção. Em caso de locação é fundamental negociar uma carência enquanto faz a reforma, e definir o tempo de locação do imóvel. Pretendendo abrir um café dentro de um shopping center, estar atento aos custos de locação e operacionais, e a jornada de trabalho maior, implicando em maior custo com mão-de-obra.

AmbienteDeterminado o ponto, é momento de definir como será o

ambiente, por isso nesta etapa é importante ter o apoio de profissional especializado que irá elaborar o projeto arquite-tônico do local. Certamente o arquiteto irá contemplar todos os itens para o bom funcionamento da cafeteria, e, para co-nhecimento, cito alguns que devem ser considerados: esta-cionamento, saídas de emergência, banheiros para deficien-tes, ventilação, ar-condicionado (quente e frio, dependendo da região), um ótimo projeto de iluminação, rampas, etc. Normalmente, uma cafeteria é dividida em duas seções: fren-te da loja, onde estão os clientes e fundo da loja, onde estão os funcionários. A frente da loja é o que define o ambiente e a identidade da cafeteria; os móveis, a decoração, a ilumina-ção, o tipo de chão, as cores, a música ambiente. Este con-junto influencia na percepção do cliente sobre a experiência

Qual é o melhor ponto? A melhor localização? A busca incansável do ponto ideal é um dos aspectos mais importantes, senão o mais importante do negócio.

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positiva ou negativa do local. Na área de trabalho é funda-mental definir um espaço que proporcione uma operação efi-ciente para que a equipe trabalhe de forma sincronizada ga-rantindo agilidade, eficácia e qualidade no atendimento. Faça um bom projeto de iluminação, sem correr o risco de criar ambientes muito escuros ou muito iluminados, a utilização de luz natural é sempre bem-vinda. Crie um ambiente que te-nha boa sinalização, preocupe-se em orientar o cliente como funciona a logística da loja, identifique seus produtos, expli-que, informe preços. E muito importante, use seu ambiente com bom senso para educar o cliente sobre o mundo do café.

O projeto da cafeteria começa a tomar forma e, novas eta-pas são necessárias para uma implantação bem sucedida.

Máquinas, equipamentos...A escolha correta de máquinas, equipamentos e utensílios,

traduz-se em funcionamento estável no dia-a-dia da cafeteria. Pesquisar fornecedores e observar aspectos como: proposta comercial, assistência técnica, localização, reposição de pe-ças e horários de atendimento, e, se possível, ouvir depoi-mentos de clientes sobre o fornecedor. Cada máquina tem característica própria, conversar com especialistas da área é uma ótima dica para ter sucesso na escolha. Em relação a equipamentos e utensílios, estes precisam ser bem dimensio-nados para não correr o risco de excesso ou falta. Na hora de escolher, pesquisar em lojas de fábrica, a fim de obter custos menores, buscar lojas especializadas na área de alimentos e bebidas, e, especialmente, verificar a respeito dos utensílios principais do barista que muitas vezes não são encontrados facilmente no mercado local.

Cardápio, cafés e serviçosA definição do cardápio, café e serviços deve ser realiza-

da de forma responsável e criteriosa. O cardápio deverá ser personalizado, criado em harmonia com o conceito da loja, ambiente, perfil do cliente e a cultura local. Deve estar sus-tentado por três pilares; operacional, gastronômico e econô-mico. Para a escolha do café, é importante pesquisar muito sobre as opções disponíveis, visitar fazendas produtoras, de-gustar cada café avaliando-os criteriosamente, considerar as certificações que o café possui e, como sugestão, criar uma planilha comparativa dos cafés selecionados com a intenção de compará-los e facilitar a decisão na escolha. E, sempre, agregar valor aos produtos comercializados, criando serviços diferenciados, trabalhando no pós-venda, e no atendimento especializado ao cliente.

Contratação e treinamento A principal “dor” de empresários atualmente é a mão-de-

obra, por isso a contratação e treinamento da equipe, deve ser

realizada de forma obstinada. Escolha as pessoas que mais se identificam com o foco da sua cafeteria, faça entrevistas para conhecer os profissionais ou mesmo contrate empresas que assessoram na contratação de pessoas. O profissional deve ter um nível de escolaridade adequado com a sua clientela para que possa prestar um bom atendimento, escolha pessoas pró-ativas, dinâmicas e com vontade de aprender sempre. O treinamento operacional deve ser constante, oferecer cursos na área para a equipe ou contratar uma consultoria especia-lizada que possa prestar este serviço exclusivamente para a loja, é imprescindivel para iniciar a operação. A presença dos proprietários no treinamento é fundamental para dar suporte e supervisionar o trabalho diário da equipe. Estabelecer me-tas para cada membro da equipe e recompensá-los quando atingirem ou superarem estas metas, faz com que a equipe sinta-se motivada no dia-a-dia da cafeteria. Crie um ambiente saudável para trabalhar e esteja sempre presente!!

Marketing e propagandaMas o novo negócio só terá sentido, se comunicado ao seu

público, e para isso é necessário executar o plano de marke-ting e propaganda definido no plano de negócios. O que mui-tas vezes acontece é que os empreendedores elaboram um plano de negócios, mas não executam importantes tópicos planejados, pois não fazem a reserva de orçamento para tal.

Portanto, aqui faço um alerta; defina e reserve o orçamento que será utilizado para marketing e propaganda. Divulgue a sua marca, o seu diferencial comparado ao da concorrência, e informe de maneira clara onde você está localizado. Utilize de forma intensa a Internet para divulgação, crie o website da empresa, utilize o email marketing para divulgar produtos e serviços, inclua comentários em blogs relacionados ao seu produto, planeje um site de ecommerce (loja virtual), e tam-bém utilize a midia convencional. Enfim, há fortes aliados para se tornar conhecido, mas seja claro e consistente ao re-passar a imagem da sua empresa para o público-alvo.

Para empreender, portanto, é necessário estudar arduamen-te o segmento, ser perseverante, ter boa dose de criatividade, planejar os invetimentos e jamais desanimar. Empreender é um desafio e sempre haverá um risco, mas se estes riscos esti-verem “sob controle” a chance de tomar decisões assertivas a respeito do negócio e ter sucesso, torna-se consequentemente maior.

Ana Argenta é formada em Tecnologia da Informação, pós-graduada em Marketing e Gestão de Negócios, e MBA pela Business School São Paulo e Rotman School of Management, University of Toronto. Fruto da formação acadêmica, em 2005 criou a Argenta Consultoria em Cafés uma empresa focada em consultoria de negócios para o segmento premium de empresas que atuam no comércio de cafés.Mais informações: 55 41 9800 9898 - www.argentacafes.com

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