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A AGRICULTURA FAMILIAR NA MERENDA ESCOLAR DA REDE
MUNICIPAL DE NOVA ANDRADINA- MS
Paulo Sérgio D`Alkmin Filho
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Câmpus de Nova Andradina (CPNA)
Jodenir Calixto Teixeira Câmpus de Nova Andradina (CPNA)
Resumo
Os pequenos agricultores brasileiros sempre lutaram para conseguir terras onde pudessem sustentar suas famílias e vender o excedente quando possível. Na história do Brasil, esses agricultores sempre foram deixados para segundo plano, principalmente nas políticas públicas agrícolas, que historicamente foram feitas para atender aos grandes latifúndios. A partir da década de 1990, após o governo neoliberal sofrer pressões de movimentos sociais, a situação começou a se modificar, com a elaboração de políticas públicas voltadas a esse segmento de produtores agrícolas. O PRONAF, o PAA e o PNAE respectivamente surgiram para melhorar a produção de alimentos e desenvolver a agricultura familiar. O objetivo deste trabalho é analisar como está ocorrendo à inserção de alimentos da agricultura familiar no PNAE em Nova Andradina-MS, discutindo as dificuldades encontradas.
Palavras Chave: Agricultura familiar, merenda escolar, políticas públicas, pequeno produtor.
Introdução
O Brasil possui grandes espaços para agricultura, além de terras férteis e clima
favorável para que desenvolva suas capacidades de produzir alimentos para toda a
população brasileira e de exportar seus excedentes. Mas, na história do país, o que
predominou foi á produção para exportação, priorizando o mercado externo de
commodities, deixando a produção de alimentos em segundo plano. As políticas
públicas voltadas para o pequeno produtor sempre foram ineficientes.
A partir da década de 1990, surgiram políticas públicas mais eficazes destinadas a esses
produtores, voltadas para a produção, a infraestrutura, a assistência técnica e a
capacitação do produtor. Dentre os programas mais importantes direcionados à
agricultura familiar estão: o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar), o PAA (Programa de Aquisição de alimentos) e o PNAE
(Programa Nacional de Alimentação Escolar).
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Este texto originou-se dos resultados da monografia de graduação desenvolvida junto à
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), câmpus de Nova Andradina
(CPNA) entre os anos de 2011 e 2012. Buscamos, com esse trabalho, entender como
está ocorrendo à adequação da Prefeitura Municipal de Nova Andradina à Lei nº
11.947/2009, dando ênfase à aquisição de alimentos produzidos pelos agricultores
familiares do município. Procuramos demonstrar as dificuldades encontradas tanto pelo
órgão municipal para a aquisição, como pelos produtores para produzir e distribuir esses
alimentos nas unidades educacionais, fazendo com que o município atinja a meta
primária de que 30% dos repasses Federais sejam gastos em alimentos fornecidos pela
produção familiar, de preferência local.
Para alcançarmos aos nossos objetivos utilizamos os seguintes procedimentos
metodológicos: pesquisa bibliográfica para a seleção de autores que discutem temas
como a agricultura familiar, as políticas públicas e a alimentação escolar, para o
embasamento teórico-científico; leituras e fichamentos da bibliografia pesquisada;
trabalho de campo para a coleta de dados, mediante a aplicação de questionários e
realização de entrevistas com produtores familiares e autoridades municipais; tabulação
dos dados coletados, análise e apresentação dos resultados.
Aspectos gerais do município de Nova Andradina-MS
O município de Nova Andradina está localizado em uma região onde antes eram terras
do Sr. António Joaquim de Moura Andrade e que, a partir de 1938, após adquirir terras
do Estado, participou da colonização dessa área (CAMUCI, 2010).
Em 1951, Moura Andrade adquiriu outras terras, as Fazendas Santa Barbara, Baile,
Xavante e Panambi. Das terras da Fazenda Baile António Joaquim de Moura Andrade
separou uma gleba que deu origem a cidade de Nova Andradina em 1957 (IBGE, 2006).
Aproveitando- se do porto construído na margem direita do rio Paraná, efetivou a
colonização loteando e dando vantagens para os compradores, o que chamou a atenção
de pessoas de vários Estados do Brasil.
Uma grande parte dos migrantes veio de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e
Nordestinos, segundo o histórico da cidade de Nova Andradina disponível no site do
IBGE- cidades. Segundo os dados obtidos nesse site, Nova Andradina recebeu o nome
de seu fundador como forma de homenagem e oficialmente originou-se do
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desmembramento do município de Bataguassu e foi emancipado pela Lei Estadual nº
1189 de 20 de Dezembro de 1958.
O município apresenta uma área territorial de aproximadamente 4.776 Km², possuindo
uma população de 45.585 habitantes segundo os dados do censo demográfico do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010. Está localizado a sudeste de
Mato Grosso do Sul (figura 1) e faz limite com nove municípios, sendo: Anaurilândia,
Angélica, Bataguassu, Batayporã, Taquarussu, Nova Alvorada do Sul, Novo Horizonte
do Sul, Ivinhema e Ribas do Rio Pardo. Em seu relevo sobressaem os planaltos
levemente ondulados, o solo predominante é o latossolo vermelho-escuro, a vegetação
natural que predomina é o cerrado e seu clima, na classificação de Lysia Bernardes, é o
Tropical com verões chuvosos e invernos secos.
A economia do município se baseia na produção agropecuária, com forte tendência para
a expansão da cana de açúcar atualmente (IBGE, 2006).
Figura 1. Localização do Município de Nova Andradina-MS
Em relação à agricultura familiar no município de Nova Andradina, segundo
informações obtidas na AGRAER (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão
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Rural), se caracteriza pela produção extensiva de leite, seguida pelo gado de corte, o
cultivo da mandioca, a horticultura e a fruticultura.
A atuação deste órgão público no desenvolvimento da agricultura familiar está baseada
na elaboração de projetos de crédito rural, na organização dos produtores, na orientação
técnica, no manejo e na diversificação de cultivos.
Está em implantação no município a Cooperativa do Assentamento Santa Olga
(COOPAOLGA), que objetiva beneficiar todos os agricultores familiares do município,
sendo necessário apenas que o agricultor familiar se associe e participe do projeto.
A COOPAOLGA foi criada no dia 17 de Novembro de 2009, tendo como primeiro
presidente e um dos fundadores, o senhor Roberto Carlos Ramos Cebálio. A
cooperativa tem como objetivo principal fortalecer a produção de leite e seus derivados
a partir da miniusina de pasteurização de leite, que se encontra instalada no
assentamento Santa Olga, com seus funcionários treinados e o serviço de inspeção
sanitária pronto para realizar seu trabalho, faltando apenas o licenciamento ambiental,
travado pela burocracia governamental.
O PRONAF, que tem suas origens no ano de 1996, no governo de Fernando Henrique
Cardoso, para dar apoio governamental ao desenvolvimento da agricultura familiar,
conforme já abordamos anteriormente, tem sido viabilizado em Nova Andradina. Os
primeiros a utilizarem esses recursos foram alguns assentados do assentamento Casa
Verde, que também foram os primeiros a receber os títulos de proprietários, mas não
possuímos dados quanto ao número de proprietários que utilizaram dos financiamentos
oferecidos pelo PRONAF e os valores financiados.
Como em todo o Brasil os movimentos sociais de luta pela terra também atuam em
Nova Andradina (MST- Movimento dos Sem- Terra, CONTAG- Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, FETAGRI- Federação dos Trabalhadores
na Agricultura e a Pastoral da Terra) e por meio de acampamentos, ocupações e
negociações os assentamentos surgiram no município, sendo atualmente um total de
três: assentamento Casa Verde, assentamento 17 de Abril e assentamento Santa Olga.
Esse último é o maior fornecedor de verduras, legumes e frutas para a alimentação
escolar da rede municipal de ensino.
Assentamento Santa Olga
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O assentamento Santa Olga, teve suas origens com a desapropriação, por parte do
INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), da propriedade do Sr.
José Lemes Soares. A área desapropriada foi de 1448,30 ha, localizada a 15 quilômetros
da área urbana do município de Nova Andradina, na rodovia 276, no sentido, Nova
Andradina- Ivinhema.
Nesse assentamento foram distribuídos 170 lotes com tamanho de oito hectares cada,
mas existem famílias que ainda esperam a regularização das terras pelo INCRA e outras
já abandonaram a área (CAMUCI, 2010).
A maioria dos assentados é de Nova Andradina e Batayporã (90%) sendo o restante de
outros municípios de Mato Grosso do Sul e São Paulo (CAMUCI, 2010).
Ao serem assentados, não receberam assistência técnica nem financiamentos para
produzirem e melhorar suas condições socioeconômicas e fixar- se na terra. Assim,
Camuci (2010, p. 42) afirma que:
Muitas famílias afirmaram que têm dificuldade para produzir por não possuírem condições financeiras para investir no lote e, assim, dependem de outras fontes de renda advindas de empregos nas cidades e em outras fazendas ou de aposentadorias.
Esse fato vem corroborar com o que já foi discutido antes, de que os agricultores
familiares, mesmo havendo linhas de créditos em bancos estatais, muitos não têm
conhecimentos ou têm medo de procurar esses financiamentos. Isso é decorrente da
história do crédito rural no Brasil, que sempre favoreceu o grande produtor e deixou
excluído o pequeno. Assim, as exigências burocráticas solicitadas, a falta de divulgação
e esclarecimento por parte das instituições financeiras a essa clientela não acostumada a
trâmites burocráticos, podem ser fatores que distanciem os mesmos dos financiamentos.
É importante que o Estado interfira a favor desses agricultores, fornecendo subsídios
financeiros, técnicos e legais, além dos equipamentos públicos (escolas, postos de
saúde, área de lazer, segurança entre outros) necessários a melhoria de vida no campo.
No mesmo trabalho, Camuci (2010, p. 43) mostra-nos que mesmo sem possuir as
condições ideais para a produção os agricultores familiares do assentamento Santa Olga
produzem e conseguem vender os produtos excedentes:
Verificamos que há no assentamento o cultivo de vários produtos, tais como: mandioca, cana-de-açúcar, milho, banana, abacaxi, abóbora, acerola, manga, limão, laranja, melancia, maxixe, pepino quiabo, goiaba, feijão, poncã,
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amendoim, batata, pimenta, café, além de hortaliças. Os assentados afirmam que o solo é fértil e não há necessidade de muitas correções. A maior parte é para a subsistência, apenas os excedentes são levados para a cidade, comercializados nos mercados e feiras.
O assentamento Santa Olga foi contemplado com recursos do PRONAF no exercício de
2007, em um total de vinte mil reais por família, para serem pagos ao longo de dez
anos, com três anos de carência e juros de 0,5% ao ano (CAMUCI, 2010). Esses
recursos foram na maior parte direcionados para a miniusina de pasteurização de leite
que se encontra em fase final de liberação, conforme já mencionado anteriormente, para
o uso dos que optarem por produzir leite.
Atualmente, o assentamento Santa Olga se coloca entre os principais fornecedores de
produtos para o PNAE da rede municipal de ensino, sendo responsável pelo
fornecimento semanal de hortaliças às unidades educacionais, conforme a Figura 2.
Dentre os produtos fornecidos estão: alface, batata doce, cheiro verde e couve manteiga.
Figura 2- Horta com produtos orgânicos fornecidos ao PNAE no assentamento
Santa Olga em Nova Andradina- MS.
Foto do autor em maio de 2012.
Os agricultores familiares desse assentamento reuniram-se e formaram a Cooperativa
dos Agricultores do Assentamento Santa Olga (COOPAOLGA) no ano de 2010, que
além de hortaliças, pretende produzir produtos a partir do leite, carne, ovos, doces e
leguminosas como o feijão, para a comercialização com o PNAE e também para o
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mercado regional de alimentos, que hoje compra produtos alimentícios de outras
regiões. Esse fato garantira uma maior geração de renda para esses produtores.
Assentamento Casa Verde
O Assentamento Casa Verde têm suas origens em uma desapropriação feita pelo
INCRA da Fazenda Santa Virgínia, no município de Nova Andradina, as margens da
BR 267 e MS 134 (ALVES, 2010).
A área desapropriada foi de 29.859,98 ha, e foram assentadas 470 famílias que passaram
por um processo de seleção feito pela FETAGRI. Conforme Alves (2010, p.13)
O processo de cadastramento e escolha destas famílias foi feito pelos sindicatos rurais de seus respectivos municípios e pela CPT (Comissão Pastoral da Terra). Dentro deste processo, a FETAGRI selecionou com questionários e entrevistas dentre os sindicalizados, as famílias que estavam aptas a trabalhar na terra e dela tirar seu sustento.
Após a sua criação, que aconteceu pela Portaria MIRAD nº 393, de 22 de Dezembro de
1987, as famílias foram assentadas no ano de 1989 e o assentamento foi dividido em
três partes (Gleba Ipê, Gleba Angico e Gleba Peroba) pelos próprios assentados
(ALVES, 2010).
O assentamento Casa Verde foi criado durante os governos de José Sarney e Fernando
Collor de Mello e, segundo Alves (2010, p.14)
É notável o diferencial do Assentamento Casa Verde, que mesmo sendo criado em um contexto de crise, sua forma de organização social contribuiu para que se desenvolvesse positivamente. Isto proporcionou verificar que a reforma agrária, apesar de um processo complexo, é capaz de gerar distribuição de renda, promover a solidariedade e valorizar as relações humanas. Esta capacidade de organizar- se e pensar coletivamente contribuíram para que as famílias permanecessem no trabalho da terra.
A produção do assentamento Casa Verde se baseia no gado leiteiro, gado de corte,
hortaliças, leguminosas e muitos produtores estão aderindo à silvicultura.
Os produtos fornecidos pelo assentamento ao PNAE são constituídos de alface,
abóbora, couve manteiga, cheiro verde e cenoura ,conforme a Figura 3, sendo que estes
fornecedores atendem somente as unidades educacionais rurais da rede municipal, ou
seja, escolas que se localizam nas imediações do assentamento. A falta de uma rede de
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distribuição eficiente e o pouco comparecimento de agricultores habilitados e ou
interessados não permitem a distribuição dos produtos desse assentamento nas escolas
da zona urbana do município.
Figura 3: Horta com produtos orgânicos, fornecidos ao PNAE, no assentamento
Casa Verde
Foto: Sr. Ailton Tonhão Riqueti em Março de 2012.
A produção dos agricultores familiares para a alimentação escolar em Nova
Andradina- MS.
Por meio de levantamentos de dados, entrevistas e questionários realizados com os
próprios agricultores familiares e agentes públicos responsáveis pelo desenvolvimento
da agricultura familiar, analisamos a situação atual da produção familiar, que já
demonstramos ser de grande importância para o desenvolvimento econômico, social e
para a segurança alimentar do município de Nova Andradina.
Foram aplicados treze formulários de um questionário junto aos agricultores familiares,
ou seja, 100% dos agricultores familiares de Nova Andradina que fornecem produtos
para o PNAE, em uma reunião realizada no dia 27/04/2012 nas dependências da
Secretaria de Educação do município para tratar de assuntos ligados a conferência das
entregas e a confecção das notas fiscais para posterior pagamento, e uma entrevista com
o engenheiro agrônomo da AGRAER.
Os agricultores que responderam ao questionário foram aqueles que responderam ao
chamamento público e estão produzindo e vendendo seus produtos ao PNAE, deixando
claro que a produção desses agricultores não é exclusiva para atender ao PNAE,
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podendo atender ao comércio local e as agroindústrias. A metodologia aplicada se deve
a especificidade do trabalho que envolve apenas os agricultores familiares que atendem
ao PNAE e não aqueles que produzem para o comércio local e agroindústrias.
Inicialmente, encontramos uma grande diferença entre o número de famílias que são
habilitadas (famílias que possuem a Declaração de Aptidão ao PRONAF- DAP), e as
famílias que produzem e fornecem ao PNAE, conforme a tabela 1.
Tabela 1- Proporção das famílias que participam do PNAE em relação ás famílias
habilitadas
Número de Famílias %
Famílias habilitadas ao PNAE 714 100
Famílias que participam do PNAE
13 1,83
Total de famílias habilitadas que não participam do PNAE
701 98,17
Fonte: AGRAER, Secretaria Municipal de Educação de Nova Andradina Elaboração: D`ALKMIN FILHO, Paulo Sérgio (maio de 2012).
Ao analisarmos a tabela 1 podemos constatar que apenas 1,83% das famílias habilitadas
fornecem ao PNAE do município, enquanto a maioria absoluta 98,17% de famílias
habilitadas não fornece, sendo que muitos produzem alimentos que entram na pauta
alimentar do PNAE, mas ou não têm interesse ou não têm conhecimento dessa reserva
de mercado existente aos seus produtos.
A Prefeitura Municipal de Nova Andradina realiza duas chamadas públicas ao ano,
podendo realizar outras conforme a necessidade. Isso ocorre por edital publicado por no
mínimo cinco dias em jornal de circulação regional, afixado no mural localizado nas
dependências do paço municipal e distribuído aos escritórios da AGRAER, nos
municípios da região.
A falta de participação dos agricultores familiares no atendimento às chamadas públicas
em Nova Andradina pode estar ligada a maneira como ela é divulgada, não chegando ao
principal interessado que é o agricultor familiar, que não tem habito de ler jornal e
frequentar o paço municipal. Mesmo assim, pudemos notar um aumento no
fornecimento de produtos da agricultura familiar para o PNAE do início da implantação
do programa no município até o momento atual.
A partir de dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes
pudemos comparar a evolução das aquisições feitas pela Prefeitura Municipal de Nova
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Andradina, desde o primeiro semestre do ano de 2010 até o primeiro semestre de 2012,
que são apresentados na tabela 2.
Tabela 2- Evolução das aquisições de produtos da agricultura familiar pelo PNAE
em Nova Andradina-MS
Anos 2010 2011 2012
Semestres 1º 2º 1º 2º 1º
Número de Famílias
3 4 5 8 11
Valores (R$) 4.184,55 13.748,63 23.956,80 47.740,00 87.420,60
Total das Aquisições (R$)
17.933,18 71.696,80 87.420,60
Fonte: Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto. Elaboração: D`ALKMIN FILHO, Paulo Sérgio.(maio de 2012)
Observamos que no ano de 2010, as aquisições de produtos da agricultura familiar pelo
PNAE foi de R$ 17.926,09, o que corresponde a 13,62% dos 30% que a lei exige. Os
30% do total dos repasses federais feitos ao município corresponde a R$ 131.616,00
sendo que o valor total dos repasses atingiu R$ 438.720,00. Nota-se que o município
não atingiu o mínimo exigido. Nesse ano apenas sete famílias atenderam aos
chamamentos públicos realizados, conforme a Lei 11.947/2009, após várias reuniões
realizadas na AGRAER e no assentamento Santa Olga, localidade esta que se
prontificou a receber os funcionários da prefeitura para esclarecimentos quanto à
referida Lei.
No ano de 2010 esses agricultores forneceram seis produtos ao programa: alface, cheiro
verde, couve manteiga, beterraba, cenoura e mandioca, mas não atenderam em
quantidades suficientes que suprissem as necessidades desses produtos, sem precisar
adquirir de outros produtores.
No ano de 2011, o valor adquirido aumentou em 74,9% em relação ao ano de 2010,
passando a R$ 71.696,80 e chegando a 53,43 % do exigido pela Lei, sabendo- se que
30% do total dos repasses federais feitos ao município no ano de 2011 para o PNAE foi
de R$ 134.172,00. Mesmo aumentando os valores aplicados com a aquisição de
produtos da agricultura familiar, ficaram longe do objetivo e podemos destacar como
possíveis causas a falta de interesse de grande parte desses agricultores devido a não
participação das reuniões que acontecem para esclarecimento sobre a Lei 11.947/2009,
a falta de estrutura de produção, devido falhas na assistência técnica, a desconfiança que
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existe no poder público municipal e falta de meios para distribuir esses produtos, já que
a distribuição de é feita com veículos próprios dos produtores, o poder público não
dispõem de meios de transporte para disponibilizar a esses agricultores.
O número de famílias envolvidas subiu de sete em 2010 para 13 em 2011, quase que
duplicando o número, apesar de ser incipiente.
Após o primeiro ano de incertezas e desconfianças por parte da maioria dos agricultores
familiares de Nova Andradina e apesar de ainda não atingirem a meta dos 30%, houve
melhorias na produção familiar, pois o número de itens oferecidos passou de seis para
onze: alface, beterraba, cheiro verde, cenoura, couve manteiga, mandioca, abobrinha
verde, almeirão, chuchu, batata doce e abacaxi.
No primeiro semestre de 2012 o valor aumentou de apenas R$ 17.926,09, no ano de
2010, para R$ R$ 87.420,60, sendo que somente no primeiro semestre de 2012, o
número de famílias envolvidas no fornecimento de produtos da agricultura familiar para
o PNAE da rede municipal de ensino foi de 11, existindo a expectativa do aumento
desse número e valores no segundo semestre, devido á entrada em funcionamento da
miniusina de pasteurização de leite da Coopaolga e a participação na chamada pública
número 2 de produtores do assentamento Teijim que segundo a AGRAER, estão sendo
preparados para produzir melancia, mel, mamão e hortaliças.
No primeiro semestre de 2012 os agricultores familiares de Nova Andradina,
participaram da primeira chamada pública do ano com quatorze itens sendo a alface, a
abobrinha, a berinjela, beterraba, cheiro verde, chuchu, couve manteiga, limão,
mandioca, melancia, pimentão, repolho, batata doce, ou seja, mais que o ano de 2011
(tabela 3).
Apesar do aumento verificado nesse curto espaço de tempo do fornecimento de
produtos da agricultura familiar para o PNAE da rede municipal de ensino, existe muito
a ser feito ainda, pois em entrevista realizada com treze agricultores que fornecem ao
PNAE, nove disseram não possuir qualquer assistência técnica e quatro disseram que
possuem assistência técnica, sendo dois de empresa de consultoria e dois da AGRAER.
Essa falta de assistência técnica pode ser causada pela falta de profissionais capacitados
a trabalhar com essa modalidade de agricultura, visto que o histórico brasileiro quanto a
esta questão nos mostra o descaso que sempre foi dispensado ao pequeno agricultor,
pode ser um reflexo do passado, que deve ser corrigido.
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Tabela. 3- Produtos fornecidos pela agricultura familiar ao PNAE no período de
2010 ao primeiro semestre de 2012 no município de Nova Andradina-MS Produtos 2010 2011 2012
Abóbora** ---- 1100 800
Alface* 1946 2730 9450 Batata doce** ---- 500 2130
Berinjela** ---- ---- 270
Beterraba** 340 135 1280
Cenoura** 1409 760 ------
Cheiro verde* 869 2239 2980
Chuchu** ---- 200 1070
Couve manteiga* 980 2233 3418
Limão** ---- ---- 1900
Mandioca** 1918 3572 2000
Melancia** ---- ---- 4000
Pimentão** ---- ---- 2060
Repolho** ---- ---- 1000
* Quantidades em maços. **Quantidades em quilogramas. Fonte: Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes Elaboração: D`ALKMIN FILHO, Paulo Sérgio (maio de 2012)
Existe também a falta de um local apropriado para que esses agricultores familiares
entreguem suas mercadorias para que aconteça a seleção e distribuição dos mesmos para
as unidades educacionais. São alguns dos problemas que devem ser equacionados e
solucionados pelo poder público, que é o responsável a dar condições para estes
agricultores produzirem conforme a Lei 11.326/2006 que em seu artigo 5º diz como a
Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais
promoverá, planejará e executará as ações para compatibilizar as áreas (MDA, 2006):
Para atingir seus objetivos, A Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, promoverá o planejamento e a execução das ações, de forma e compatibilizar as seguintes áreas: 1- crédito e fundo de aval, 2- Infra- estrutura e serviços, 3- assistência técnica e extensão rural, 4- pesquisa, 5- comercialização,
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6- seguro, 7- habitação, 8- legislação sanitária, previdenciária, comercial e tributária, 9- cooperativismo e associativismo, 10- educação, capacitação e profissionalização, 11- negócios e serviços rurais não agrícolas, 12- agroindustrialização.
Os produtos adquiridos para o PNAE são transportados por conta dos produtores, não
havendo nenhuma ajuda por parte da administração para este fim.
A Resolução nº 38 de 16/07/2012 em seu artigo 20, não obriga a aquisição de alimentos
orgânicos, mas solicita a preferência a esses alimentos. Uma dificuldade existente para
garantir a qualidade dos produtos é a falta de laboratórios específicos para a análise dos
componentes e contaminantes químicos presentes nos alimentos e a fiscalização
ineficiente nas áreas produtivas.
Mesmo com as dificuldades encontradas por esses agricultores, a agricultura familiar no
município de Nova Andradina vem aumentando sua produção e na atualidade, fornece
alimentos de boa qualidade para todas as unidades educacionais da rede municipal de
ensino, em um total de 13 unidades que atendem o ensino fundamental, nove unidades
que atendem a creche e educação infantil e 3 entidades filantrópicas que atendem
creche, educação infantil e ensino fundamental.
Com o fornecimento de verduras, legumes e frutas da agricultura familiar, foi
aumentada a quantidade de alimentos, ricos em fibras, vitaminas e sais minerais na dieta
dos estudantes, que anteriormente ingeriam quantidades menores desses nutrientes.
Aumentando o aporte dos nutrientes, o programa tem também como objetivo melhorar a
situação nutricional desses estudantes e estimular os bons hábitos alimentares da
população, diminuindo os riscos de desenvolvimento de doenças cardíacas, diabetes,
obesidade, hipertensão arterial e o câncer.
O programa almeja um atendimento cada vez maior a rede municipal de ensino, com
produtos advindos da agricultura familiar, aumentando 100% de produtos adquiridos, se
isso for possível algum dia.
Considerações Finais
A Lei nº 11.947/2009 bem como a Lei nº 11.326/2006 são legislações criadas para
atender aos anseios e as necessidades dos agricultores familiares e dos empreendedores
familiares rurais que durante a maior parte da história do Brasil foram relegados ao
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segundo plano, sendo necessárias varias lutas e muito sangue derramado para que se
chegasse ao reconhecimento da importância dos pequenos agricultores para a economia
brasileira e para o suprimento alimentar da população de modo geral, incluindo os
latifundiários que, se não fosse à produção desses pequenos, não teriam tanta
diversidade de alimentos em suas mesas ou teriam que pagar mais caro pela maioria das
hortaliças, frutas, verduras, leite e outros.
A Lei da agricultura familiar (11.326/2006) regulamenta as questões técnicas, logísticas
e de financiamentos para todo o processo de produção, infraestruturas e transporte,
apoiando o pequeno agricultor, mas é necessário que órgãos governamentais de
extensão e agentes financeiros capacitem os agricultores para que eles possam utilizar as
técnicas de plantio e produção com maior eficiência. Ao contrário, essas famílias ficam
em situações piores a que estavam antes de receber a terra, colocando-as em condições
de risco.
É importante que a sociedade tome conhecimento do papel da agricultura familiar no
Brasil, sua função social e de segurança alimentar. Outra questão importante é o
controle e fiscalização dos Conselhos de Desenvolvimento Rural (CDR) para que
exijam o cumprimento da lei e fiscalize a execução dos projetos de desenvolvimento
rurais, principalmente voltados a agricultura familiar e aos empreendedores familiares
rurais.
A Lei 11.947/2009 vem, de certo modo, reservar uma “fatia” do mercado para o
agricultor familiar e empreendedor familiar rural, obrigando os entes federados a
adquirir no mínimo 30% dos recursos federais repassados a alimentação escolar dos
agricultores familiares, o que faz com que aumente a produção de alimentos
considerados básicos. Esse fato, sem dúvida, é de grande importância para os
agricultores familiares, pois aumentará o leque de oportunidades para eles.
Assim, também é importante desenvolver a idéia do cooperativismo entre os
agricultores familiares, o que diminuirá o custo da produção e aumentará a
competitividade de seus produtos no mercado, pois com o cooperativismo surgirão
novos produtos de valor agregado maior, além de aumentar os níveis tecnológicos em
todas as fases da produção, tornando aquele homem simples da terra em produtor de
alimentos profissional e com conhecimento em sua área de atuação.
As intenções dessas políticas públicas são excelentes, mas o que não pode ocorrer é que
se transformem em planos de governos descontinuados com a sucessão de governantes.
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Os representantes do povo em cargos públicos (deputados, vereadores, senadores)
devem zelar pelo bom uso do dinheiro público nesses programas, não permitindo que se
tornem eleitoreiros. .
Dar apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar e empreendedores familiares
rurais é antes de tudo melhorar as condições sociais do país, dando oportunidade a esses
produtores de se inserirem no mercado, diminuindo o êxodo rural, aumentando a
produção de alimentos, gerando emprego e renda.
No município de Nova Andradina essas ações ainda estão “engatinhando”, pois
notamos um grande desinteresse, tanto do poder público nas três esferas, quanto da
sociedade de um modo geral, na reversão dessa situação. Esse fato é visto claramente
quando observamos que os agricultores familiares não recebem a devida atenção por
parte dos governantes, no que se refere á assistência técnica necessária para que a sua
produção seja aumentada e melhorada.
Os números irrisórios de participantes nas chamadas públicas mostram a falta de
divulgação eficiente do processo de aquisição dos produtos pelo PNAE, mas também o
desinteresse ou a falta de confiança nos dirigentes governamentais.
A deficiência em relação às infraestruturas existentes para a produção, o
armazenamento e a distribuição desses produtos até o mercado consumidor é outro fator
que dificulta o bom funcionamento do programa.
A falta de conhecimento por parte do agricultor quanto ao funcionamento do PNAE
também diminui o rol de pequenos produtores que fornecem produtos ao programa. Isso
demonstra claramente a ineficiência da divulgação do PNAE.
Para exemplificar, não conseguimos ver, uma preocupação por parte dos bancos em
divulgar as facilidades dos créditos advindos do PRONAF para os pequenos
agricultores, mediante juros baixos. Mesmo em instituições financeiras estatais, essa
divulgação é inexistente ou imperceptível. E mesmo o próprio agricultor familiar se
intimida a fazer empréstimos, devido o longo histórico de injustiças e constrangimentos
sofridos por esses agricultores.
Diante das questões levantadas neste trabalho, concluímos que existe a possibilidade de
um melhor desenvolvimento da agricultura familiar no município. Porém, falta uma
melhor conscientização da sociedade e de seus dirigentes sobre a importância de dar
condições a esses agricultores para produzirem e comercializar seus produtos no
município e em outras regiões.
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Em um município carente de oportunidades de trabalhos, promover o desenvolvimento
da agricultura familiar pode representar novas oportunidades de empregos, além de
garantir a fixação dessas famílias no campo. O bom funcionamento do PNAE
promoveria essas mudanças tão importantes para a economia dessa região.
A melhor divulgação das políticas públicas destinadas ao pequeno produtor, através de
cartilhas, folders distribuídos aos filhos desses agricultores nas escolas rurais, reuniões
com agentes bancários e profissionais ligados ao PNAE para esclarecimentos,
propagandas radiofônicas e melhor atuação das agências governamentais responsáveis
pela assistência técnica, além de investimentos na logística de apoio (armazenamento e
distribuição desses produtos) seriam ações que influenciariam de modo positivo a
produção familiar rural de Nova Andradina-MS, bem como em outros municípios
brasileiros.
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sociais dos assentados no P.A. Casa Verde-MS (1989- 2009). monografia (graduação em História), Nova Andradina: UFMS, 2011. ANTUNES, Maryna Vieira Martins; HESPANHOL, Rosângela Ap. de Medeiros. O Programa de Aquisição de Alimentos no município de Dracena. In: Caderno
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