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Profª Drª Viviane [email protected]
FilosofiadaArte I
Os problemas fundamentais em torno dos quais podem ser agrupadas as questões discutidas
na Filosofia da Arte e na Estética, estão divididos em três categoria básicas:
A RELAÇÃO ENTRE ARTE E NATUREZAarte como imitação arte como criaçãoarte como construção
A RELAÇÃO ENTRE ARTE E O HOMEMarte como conhecimentoarte como atividade práticaarte como sensibilidade
A FUNÇÃO DA ARTEarte como educaçãoarte como expressão
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Aspectos míticos
da memória
Inicialmente, em Atenas, cultuava-se apenas uma
musa: Mnemosyne, a deusa da memória.
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Os antigos gregos consideravam a memória uma entidade sobrenatural
e/ou divina.
MNEMOSYNE, memória, é mãe das MUSAS, que protegem
as Artes e a História
ÉRATO = LÍRICA ORAL (cítara)
EUTERPE = MÚSICA (flauta)
MELPÔMENE = TRAGÉDIA (máscara trágica)
TALIA = COMÉDIA (máscaracômica)
POLIMNIA = CANTO (sem atributo)
TERPSÍCORE = DANÇA (lira)
URÂNIA = ASTRONOMIA (globo)
CALÍOPE = POESIA ÉPICA (livro)
CLIO = HISTÓRIA e FILOSOFIA
(rolo de pergaminho)
MNEMOSYNE, deusa titã, filha de Urano e Géia,
é mãe das nove Musas:
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A deusa Mnemosyne dava aos artistas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembrá-lo para a
coletividade.
Tinha o poder de conferir imortalidade aos mortais, pois quando o artista ou o historiador registram em suas obras a fisionomia, os gestos, os atos,
os feitos e as palavras de um humano, este nunca será esquecido e,
por isso, tornando-se inesquecível, não morrerá jamais. (VERNANT, 2001)
As musas cantam o aparecimento do mundo, a origem dos deuses,
o nascimento da humanidade.
O passado revelado desse modo é muito mais que o antecedente do presente:
é a sua fonte.
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o esquecimento associada à
MNEMOSYNE, memória forma com ela
um par de forças religiosas complementares.
LETHE, esquecimento, é filha de Éris, a discórdia, e mãe das Cárites, que traduzem
a alegria de viver, quando esquecem as mazelas da vida;
as Cárites se atribuem todas influências benéficas sobre a atividade intelectual
e as obras de arte;
são elas: Aglaia – Talia – Eufrosina
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nos MITOS COSMOLÓGICOSe
nos MITOS ESCATOLÓGICOS
cosmologiaé o estudo da origem e estrutura do universo;
nos mitos cosmológicos
o esquecimento é uma água de morte;a memória é uma água de imortalidade.
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nosMITOS COSMOLÓGICOS,
a pessoa, antes de penetrar no Reino das Sombras, no Hades, já submetida aos ritos purificatórios,
era conduzida para perto de duas fontes:
Lethe eMnemosyneAo beber na primeira, LETHE, ela esquecia tudo da sua vida humana e, semelhante a uma morta, entrava no domínio da Noite.
Pela água da segunda, MNEMOSYNE, ela devia guardar a memória de tudo o que havia visto e ouvido no outro mundo.
Na sua volta, ela não se limitava mais ao conhecimento do momento presente; o contato com o além lhe havia trazido a revelação do passado e do futuro. (Vernant, 1990)
LETHE, é pois uma água de morte!!!
Ninguém pode abordar o REINO DAS SOMBRAS o mundo do esquecimento
sem ter bebido nessa fonte, isto é,
sem ter perdido a lembrança e a
consciência.
É porque a morte se define como o domínio do esquecimento que, aquele que no Hades
guarda a memória transcende a
condição mortal.WILLIAM BLAKE
A descida do Homem ao Vale da Morte, 1805
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escatologiaé a formação das ideias sobre o fim da vida ou sobre o fim do mundo;
nos mitos escatológicosas águas da LETHE não acolhem mais, à entrada do Hades, os que ao passarem da vida para a morte vão esquecer no
mundo infernal a luz do sol. Ela apaga, naqueles que voltam à terra para uma nova encarnação, a lembrança do mundo e
das realidades celestes às quais a alma se aparenta.
a água do esquecimento não é mais é símbolo de morte, mas de retorno à vida, à existência no tempo
nos MITOS ESCATOLÓGICOS
Mnemosyne está ligada daqui em diante à história mítica dos indivíduos,
aos avatares das suas encarnações sucessivas; não é mais o segredo
das origens que ela oferece às criaturas mortais, mas o meio
de atingir o fim do tempo.
o par MEMÓRIA e ESQUECIMENTO encontra-se no centro de uma
doutrina de reencarnação das almas,
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A transposição de MNEMOSYNE do plano da COSMOLOGIA ao da ESCATOLOGIA modifica todo o equilíbrio dos mitos de memórias - conservam os temas e os símbolos antigos, mas transformam
profundamente o seu sentido.
As imagens que eram, na descrição tradicional, ligadas ao Hades, Reino das
Sombras, mundo do esquecimento, aplicam-se agora à vida terrestre concebida como um lugar de provação e de castigo.(Vernant,1990,p.146)
PLATÃO
ARISTÓTELES
FONTES GREGAS DA ARTE DA MEMÓRIA
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PLATÃO
O mundo ideal é o mundo das ideias. O mundo
aqui da Terra é uma cópia deste mundo
ideal.
Suas teorias metafísicas formariam as bases de grande parte do
pensamento filosófico ocidental.
ARISTÓTELES
Rejeitava na filosofia platônica a ideia de que existem dois mundos.
Foi o fundador de uma
abordagem da filosofia que parte da observação
e do experimento, antes da reflexão abstrata.
COM RELAÇÃO AS FINALIDADES E FUNÇÕES DA ARTEPLATÃO E ARISTÓTELES CONCORDAM COM A CONCEPÇÃO DA ARTE COMO EDUCAÇÃO
PLATÃO (427 – 347 a.C.)
O CONHECIMENTO NA TERRA SÃO SOMBRASO CONHECIMENTO NA TERRA SÃO SOMBRAS
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Platão acredita que há um conhecimento não derivado das impressões sensoriais; que há, latentes em nossas memórias, as formas ou moldes das ideias, das realidades que a alma conheceu antes de vir aqui pra Terra.
O verdadeiro conhecimento consiste em experimentar as marcas das impressões sensoriais nos moldes impressos da realidade superior, da qual as coisas aqui embaixo são apenas reflexos. Todos os objetos sensíveis podem ser relacionados a determinados tipos, dos quais são simples aparências.
Nesta vida, não vimos ou aprendemos os tipos, mas os vimos antes de nossa vida ter começado e o conhecimento deles é inato em nossas memórias (Yates,2007)
Platão descrevia o funcionamento da memória,
recorrendo à imagem das marcas impressas
num bloco de cera.
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O exemplo que Platão apresenta é o da referência à nossas percepções sensoriais de objetos iguais à ideia de Igualdade, que nos é inata.
Percebemos a igualdade em objetos iguais porque a ideia da Igualdade foi impressa em nossas memórias, a marca dela está oculta na cera de nossa alma.
Platão desenvolve o tema de que o conhecimento da verdade e da alma consiste na rememoração, na lembrança das ideias já vistas por todas as almas, e das quais todas as coisas terrenas são cópias infiéis.
Utiliza então o Mito de Er para esclarecer sua teoria sobre a reencarnação das almas que já trazem o conhecimento das coisas que viu no mundo das ideias.
2 traços da memória mítica na teoria platônica da anamnésis (recordação):
� saída do tempo� união com a divindade
Em Platão, SABER não é outra coisa senão LEMBRAR-SE, isto é, escapar do tempo
da vida presente, fugir para longe da terra, voltar à pátria divina da nossa alma, reunir-se a um “mundo das ideias”,
que se opõe ao mundo terrestre, com o qual Mnemosyne estabelecia a comunicação (Vernant,1990,p.161)
ANAMNESE – na cultura platônica, é a rememoraçãogradativa através da qual o ser humano redescobredentro de si as verdades essenciais e latentes queremontam a um tempo anterior ao de sua existênciaempírica.
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Sem desconfiar dos nossos sentidos, contava com eles na busca de evidências
para apoiar suas teorias.
Pensa que não nascemos com a capacidade inata para reconhecer as
formas, como defendia Platão.
A VERDADE ESTÁ NO MUNDO À NOSSA VOLTA
ARISTÓTELES (384 – 322 a.C.)
Aristóteles tem uma teoria sobre a memória e a reminiscência baseada na teoria do conhecimento que
ele expõe na obra De anima.
As percepções trazidas pelos cinco sentidos são, primeiro, tratadas ou trabalhadas pela faculdade da imaginação, e
são as imagens assim formadas que se tornam o material da faculdade intelectual.
A imaginação é a intermediária entre percepção e pensamento.
Assim, apesar de todo o conhecimento derivar, em última instância, de impressões sensoriais, não é a partir delas em
estado bruto que o pensamento funciona, mas após tais impressões terem sido tratadas pela imaginação ou
absorvidas por ela. (Yates,2007,p.52)
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Pensar é algo que podemos fazer sempre que quisermos, já que é possível dispor as coisas diante de nossos olhos.
Ele compara a seleção deliberada de imagens mentais com a construção deliberada de imagens, através da mnemônica (técnica para desenvolver a memória e memorizar coisas, que utiliza exercícios) por meio da qual se pode lembrar de algo. Diz Aristóteles:
Como já foi dito em meu tratado De anima, a respeito da imaginação, até mesmo pensar é impossível sem uma imagem mental.
A memória pertence à mesma parte da alma que a imaginação; é um conjunto de imagens mentais a partir de impressões sensoriais,mas com um elemento temporal adicionado, pois as imagens mentais da memória não provêm da percepção das coisas presentes, mas das coisas passadas. (Yates, 2007,p.53-54)
Segundo Aristóteles, a memória precede cronologicamente a reminiscência e pertence à mesma parte da alma que a imaginação: é uma coleção ou seleção de imagens com o acréscimo de uma referência temporal.
A reevocação não é algo passivo, mas a recuperação de um conhecimento ou sensação anteriormente experimentadas.
Voltar a lembrar implica um esforço deliberado da mente; é uma espécie de escavação ou de busca voluntária entre os conteúdos da alma; é uma espécie de pesquisa.
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Em toda TRADIÇÃO ARISTOTÉLICA, o tratamento da memória e da reminiscência se liga principalmente ao mundo de fenômenos.
Na TRADIÇÃO PLATÔNICA, ao contrário, a memória se apresenta como uma forma de conhecimento ligada à doutrina misteriosófica da reencarnação.
A história da arte da memória clássica lembra que ela
pertencia à retórica, como uma técnica que permitia ao orador aprimorar sua
memória, o que o capacitava a tecer longos discursos de
cor, com precisão impecável.
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Cícero em seu De Oratore quando discute a memória
como uma das cinco partes da retórica, conta a história de como Simônides de Ceos
inventou a arte da memória. (Yates, 2007, p.18)
FONTES
LATINAS
DA
ARTE
DA
MEMÓRIA
Cícero enfatiza que a invenção da arte da memória por Simônides não se fixava apenas na sua descoberta da importância da ordem sequencial para a memória, mas também na de que o sentido da visão é o mais forte de todos os sentidos. Diz ele:
Simônides percebeu de modo sagaz que as imagens das coisas que melhor se fixam em nossa mente são aquelas que foram transmitidas pelos sentidos, e que de todos os sentidos, o mais sutil é o da visão e, consequentemente, as percepções recebidas pelos ouvidos ou concebidas pelo pensamento podem ser mais bem retidas se forem também transmitidas a nossas mentes por meio dos olhos. (Yates, 2007,p.20)
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Outra fonte latina encontra-se no tratado anônimo Ad Herennium
(primeira edição impressa apareceu em Veneza em 1470)
e ainda outra descrição da mnemônica clássica que chegaram
até nossos dias é a obra de Quintiliano, Institutio oratoria
(descoberta do texto completo em 1416)
A
ARTE
DA
MEMÓRIA
NA
IDADE
MÉDIA
Um primeiro período da IDADE MÉDIA, séc.V, começa
imediatamente após a constituição do cristianismo.
Nesse período, a ideia essencial é justificar a fé.
O dogma não deve procurar nenhum auxílio na razão.
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Quais era as coisas que a devota Idade Média queria lembrar?
Certamente, aquelas relacionadas à salvação e à danação, os artigos da fé, os caminhos
para o Paraíso por meio das virtudes, e para o inferno por meio dos vícios.
Essas eram as coisas esculpidas nas igrejas e catedrais, pintadas nos vitrais e nos afrescos.
E eram sobretudo essas que queria lembrar, pela arte da memória, que seriam utilizadas para fixar
na memória popular o material complexo do pensamento didático medieval. (Yates,2007,p.78)
Esta figura mnemônica era usada para recordar o Evangelho segundo São Lucas.
Os vários hieróglifos são auxiliares de memória e remetem para passagens especialmente significativas do evangelho.
Sebastian Brant, Hexastichon, 1509.
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A partir do século IX nasce a ESCOLÁSTICA que se
empenha em aproximar os dois termos:
RAZÃO e DOGMA
Escolástica, quer dizer que pertence à “Escola”, ao ensino filosófico dado nas escolas eclesiásticas e nas universidades da Europa entre os séculos X e XVII. Tem como característica estar o estudo coordenado com a Teologia e de procurar um acordo entre a revelação e a luz natural da razão.
Os escolásticos reorganizavam e reexaminavam, os conceitos já existentes sobre a memória artificial, como um aspecto de sua reorganização de todo o esquema das virtudes e dos vícios. (Yates,2007,p.85)
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Na tradição escolástica, há 3 cavidades no cérebro
que funcionam em comum:
1) cavidade anterior da imaginação, cellula phantastica, é quente e seca, na qual as informações
sensoriais revestem a forma de imagens visuais incandescentes
que se imprimem no cérebro;
2) Cavidade média da razão,Cellula rationalis, é quente e
úmida, aí as imagens gravadas formam contextos organizados
geradores do conhecimento;
3) Cavidade posterior da memória,Cellula memoralis,
“a grande câmara dearmazenamento de imagens”.
A época da escolástica foi também uma época que viu um
florescimento extraordinário de imagens, de um novo repertório
imagético na arte religiosa.
Entre os artistas da IDADE MÉDIA, os mais destacados são
GIOTTO e CENNINI
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ARTE GÓTICA . GIOTTO. A lamentação sobre o corpo de Cristo morto, 1303-1305, afresco.
A
ARTE
DA
MEMÓRIA
NA
RENASCENÇA
As imagens transformadas em semelhanças corporais pela Idade Média, são novamente
transformadas, desta vez em imagens mágicas poderosas.
A intensidade religiosa associada à memória medieval tomou uma nova e audaciosa direção.
A mente e a memória humanas são, agora, “divinas”, com poderes de atingir a realidade e mais elevada, por meio de uma imaginação ativada pela magia.
A arte da memória tornou-se uma arte oculta, um segredo hermético (Yates,2007,p.203).
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O Silêncio Hermético
Achilles Bocchius. Symbolicarum quaestionum...,
Bolonha, 1555. gravado por G. Bonasone.
Hermes (Mercúrio),deus do comércio e
da comunicação aconselha aqui o silêncio.
(Roob, 1997,p.13)
Na Renascença, as filosofias dos egípcios significavam muito principalmente os supostos escritos de Hermes Trismegistos, ou seja, o Corpus Hermeticum e o Asclepius.
Apesar da arte da memória ainda utilizar lugares e imagens de acordo com as regras, uma mudança radical ocorreu em sua filosofia e psicologia subjacentes: elas não são mais escolásticas, mas neoplatônicas.
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A relação entre o homem (o microcosmos) e o mundo (macrocosmos) ganha um novo significado.
O microcosmo pode compreender e relembrar completamente; o macrocosmo pode apreendê-lo dentro de sua memória.
Um sistema de memória baseado em tais ensinamentos, apesar de usar os velhos lugares da memória e as imagens, teve para seus usuários implicações diferentes daquelas dos velhos tempos. (Yates,2007,p.178,189,192).
Andreas Cellarius. Harmonia Macrocósmica, 1660
MACROCOSMOS
O universo ou a Grande Ordem
Universal foi concebido,
segundo Platão, pelo Deus criador
como manifes-tação e imagem
da sua própria perfeição:
“(...) e assim criou-o como um único
ser vivo visível, que contém em si todas as criaturas
afins (...).
Através da rotação deu-lhe forma
esférica (...) conferindo-lhe
pois a figura que é, dentre todas, a mais perfeita”.
(Timeu, c.410 a.C.)
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MICROCOSMOS
O mundo é, antes de mais, a
totalidade de tudo o que existe, formado pelo céu e pela terra
(...).
Porém, no seu segundo sentido
místico, é apropriadamente
identificado com o homem.
Porque, assim como o universo se formou de quatro elementos,
assim o homem se compõe de quatro
humores
(Isidoro de Sevilla, 560 – 636 d.C.)
De natura rerum)
(quatro humores: sangue, bile
amarela, fleuma ou pituíta e
bile negra ou atrabílis)
Neste diagrama das correlações entre o micro e o macrocosmos, Kircher remete para as teorias da correspon-dência na tradição Platônica e Hermética, em que o mundo é descrito como um organismo vivo.
A.Kircher.Mundussubterraneus, 1682
Para a TRADIÇÃO GNÓSTICO-HERMÉTICA,
o mundo será terra oblivionise o saber, uma tentativa de
recuperar uma divina e originária sabedoria, secreta e perdida.
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O patriarca do misticismo da natureza e da alquimia é HERMES
TRISMEGISTO.
Para os alquimistas ele
era o seu “Moisés”, aquele
que lhes transmitira os mandamentos divinos da sua arte na “TÁBUA DE ESMERALDA”
Tabula Smaragdimaque se pensa datar do séc. VI-VIII d.C.
e divulgada no Ocidente cristão, a partir do séc. XIV, através de traduções feitas através do árabe.
(Roob,1997,p.8)
Tabula Smaragdina, Heinrich Khunrath, 1606monumento base da imaginação hermética.
GIORDANO BRUNO nasceu em 1548 , entrou para a Ordem Dominicana em 1563
no convento de Nápoles, de onde fugiu e iniciou sua vida itinerante pela
França, Inglaterra e Alemanha.
Um ex-frade que queria ensinar a memória artificial suscitava interesse,
especialmente porque conhecia o segredo dessa arte sob sua forma
renascentista ou oculta.
No seu primeiro livro sobre a memória “De umbris idearum” (1582), as palavras
introdutórias prometem revelar um segredo hermético. Bruno já havia desenvolvido a sua técnica, o que
lhe permitia transmitir sua mensagem religiosa hermética
dentro do quadro da arte da memória.
Quando voltou para Veneza, a convite de Mocenigo para ensinar-lhe a arte da
memória, foi delatado por ele , preso e queimado na fogueira pelos inquisidores
católicos venezianos. (Yates,2007,p.252-253)Estatua de Giordano Bruno em bronze. Ettore Ferrari (1845-1929), Campo de' Fiori, Roma.
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Memoria
diagrama em forma de arvore,
1515.
Na IDADE MÉDIA, a arte da memória desempenha um papel central, com sua teoria formulada pelos escolásticos e sua prática ligada ao repertório do imaginário medieval na arte e na arquitetura.
No RENASCIMENTO, a sua importância diminuiu dentro de uma pura tradição humanista, mas cresceu em grandes proporções dentro da tradição hermética.
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A partir do séc. XVII a arte da memória passa a ser conhecida e discutida também pelos pensadores que se voltam para novas direções como Francis Bacon, Descartes, Leibniz.
A arte da memória passou ainda por outra transformação: de método para memorizar a enciclopédia do conhecimento e refletir o mundo, a ferramenta de auxílio que permite investigar a enciclopédia e o mundo, com o objetivo de descobrir um novo conhecimento.
Dentro das tendências dos novos séculos, a arte da memória sobrevive como um fator do desenvolvimento do método científico. (Yates,2007,p.457,458)
Portanto, a história da organização da memória toca em questões vitais da história da religião, da ética e da moral,
da filosofia e psicologia, do método científico, da literatura e da arte.
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REFERÊNCIAS:
ARISTÓTELES. Da Alma. De anima. Tradução Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2011.______ Parva Naturalia. Tradução Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.
BECKETT, Wendy. História da Pintura. Tradução Mario Vilela. São Paulo: Ed. Ática,1997.
BUCKINGHAM, Will...et al. O livro da Filosofia. Tradução Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.
MAGEE, Bryan. História da Filosofia. Tradução Marcos Bagno. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
PLATÃO. Fédon. In: Diálogos. Tradução Márcio Pugliesi. 4ª ed. São Paulo: Hemus, 1997.
ROOB, Alexander. Alquimia e Misticismo: museu hermético. Tradução Teresa Cuervo.Taschen, Portugal, 1997.
YATES, Frances. A arte da memória. Tradução Flavia Bancher. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito & Política. Tradução Cristina Murachco. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: 2001.