UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL
MESTRADO
FRANCISMEIRY CRISTINA DE QUEIROZ
A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO INSTITUTO
FEDERAL DE MATO GROSSO – IFMT: DESAFIOS E PARTICULARIDADES DO
SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
CUIABÁ/MT
2014
FRANCISMEIRY CRISTINA DE QUEIROZ
A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO INSTITUTO
FEDERAL DE MATO GROSSO – IFMT: DESAFIOS E PARTICULARIDADES DO
SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Política Social, na Área de Concentração: Política Social, Estado e Direitos Sociais. Orientadora: Profa. Irenilda Ângela dos Santos, Dra.
CUIABÁ/MT
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos
pela autora.
Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.
FRANCISMEIRY CRISTINA DE QUEIROZ
A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO INSTITUTO
FEDERAL DE MATO GROSSO – IFMT: DESAFIOS E PARTICULARIDADES DO
SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, como requisito parcial para obtenção de título de mestre em Política Social, na área de concentração: Política Social, Estado e Direitos Sociais.
A – APROVADO
B – APROVADO COM RESTRIÇÕES
C – REPROVADO
_____________________EM ______/______/_________
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Profª Drª Irenilda Ângela dos Santos
Orientadora
______________________________________________
Profª Drª Tânia Maria Santana dos Santos
Membro Examinador I
______________________________________________
Profª Drª Arlete Benedita da Silva
Membro Examinador II
Dedico este trabalho:
Ao meu pai Francisco, minha gratidão,
meu amor e eternas saudades;
Ao meu filho Gabriel Eduardo, que é o
meu coração que anda fora do meu
corpo;
À minha mãe Rosa e irmã Susi, duas
flores que sempre estarão no meu jardim;
E a minha sobrinha, Rafaela Maria, a luz
que encanta minha vida.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pela luz divina que veio clarear meu conhecimento,
me dar serenidade para continuar enfrentando os desafios cotidianos e me dar
forças para finalizar este trabalho;
À minha família, mãe Rosalvina, irmã Susi, filho Gabriel Eduardo e sobrinha
Rafaela, pelo apoio, força para continuar e compreensão pelas seguidas ausências
no seio familiar;
A todos os meus professores e professoras, do Programa de Mestrado em
Política Social da UFMT pelos conhecimentos repassados de forma clara e objetiva;
À minha orientadora, Profª Drª Arlete Benedita de Oliveira, um agradecimento
especial e minhas sinceras desculpas se não alcancei os seus objetivos. Para mim,
você vai ser sempre um exemplo a ser seguido;
Aos/as Assistentes Sociais do IFMT, pela contribuição nesta pesquisa, meu
muito obrigada;
À Diretora Geral do Campus Cuiabá-Bela Vista, pela contribuição com a
liberação para cursar as disciplinas, e também ao Chefe do Departamento de
Ensino, Wander e, posteriormente, Dorival;
À psicóloga Claudia de Paula Norkaitis, pelo apoio e por “segurar as pontas”
na Coordenação de Apoio ao Estudante (CAE) do Campus Cuiabá-Bela Vista;
Ao Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), por acreditar no meu
trabalho à frente do GT Serviço Social na Educação;
Ao GT Serviço Social na Educação, na pessoa do Prof. Dr. Ney Luiz Teixeira
de Almeida, pelo grande aprendizado nas reuniões do GT e no Encontro Nacional de
Serviço Social na Educação;
Às minhas amigas e amigos Aparecida, Lenil, Luciana, Lucélia, Agda,
Izabella, Ivani, Ronaldo, Francioly, Neto e Carlos. Agradeço pela sincera amizade
que vou cultivar pelos anos de vida que terei pela frente;
Às minhas tias, tios, primas, primos, madrinha, padrinho, na pessoa da
Joanice, a melhor madrinha que meu filho poderia ter, que sempre estiveram
pedindo em oração pelo meu sucesso.
Enfim, às demais pessoas que não foram citadas aqui, mas que acreditaram
em mim, meus sinceros agradecimentos.
A trajetória do Serviço Social como profissão no Brasil é profundamente marcada pela dinâmica entre as classes sociais fundamentais e o Estado. As relações estabelecidas historicamente entre os sujeitos políticos que protagonizam na esfera da produção as contradições da relação capital e trabalho também engendram a esfera da reprodução social e assumem diferentes expressões socioinstitucionais.
(ALMEIDA; ALENCAR, 2011)
RESUMO
O presente trabalho é resultado de pesquisa realizada junto aos assistentes
sociais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso
(IFMT) e teve como objetivo analisar a atuação profissional do/a assistente social
desenvolvido no IFMT, de forma a identificar os desafios e as particularidades para
atuação do Serviço Social na modalidade de Educação Profissional e Tecnológica
(EPT). Os/as profissionais do Serviço Social tem possibilidade de atuar em áreas de
grandes complexidades, decorrentes das desigualdades sociais crescentes que
perpassam a sociedade na contemporaneidade e retratam a vulnerabilidade a que
significativa parcela populacional esta submetida. Dentre os desdobramentos sociais
e desafios cotidianos, os/as assistentes sociais, que atuam na área da política
educacional, se defrontam, assumem a proposição de vincular a concepção de
educação e de sociedade referenciada à construção de uma nova ordem societária.
É com essa concepção, que a área da educação, torna-se um importante espaço de
atuação dos/as assistentes sociais, à medida que, as expressões da questão social
nesse cenário se manifestam em toda sua diversidade. Para a consolidação dessa
pesquisa, dentro do universo de 14 (catorze) campi, somente em 12 (doze) possuem
assistentes sociais, abarcando o total de profissionais que atuam no Estado de Mato
Grosso. No entanto, os sujeitos da pesquisa foram os/as 05 (cinco) profissionais que
devolveram o questionário respondido. Este com questões abertas, de forma a
possibilitar aos sujeitos da pesquisa, responder de acordo com sua realidade
profissional. Assim, reconhece-se que o Serviço Social deve se inserir de forma mais
ampla e efetiva na EPT, aprofundando as relações dentro desse espaço
contraditório, visando compreender a dinâmica dessa instituição, para
posteriormente desenvolver trabalhos em conjunto, dirigido a ampliação e conquista
dos direitos sociais e educacionais, de suma importância para a atuação do/a
assistente social.
Palavras-chave: Serviço social. Atuação profissional. Educação profissional e
tecnológica.
ABSTRACT
The present work is result of research conducted with social workers of the
Federal Institute of education, science and technology of Mato Grosso (IFMT) and
had as goal to analyze the professional performance of social services developed in
IFMT, of the form to identify the challenges and particularities for Social Service in
professional and technical education mode (EPT). The Social Service professionals
has the possibility to act in areas of major complexities, arising from increasing social
inequalities that pertain to contemporary society and portray the vulnerability to
significant population share this submitted. Among the social developments and daily
challenges, the social workers, that act in the area of educational policy, confronting,
assume the proposition of linking the conception education and design society
referenced to the construction of a new corporate order. It is with this conception, that
the area of education, it becomes an important performance space of social workers,
as, the expressions of the social question in this scenario are manifested in all its
diversity. For the consolidation of this research, within the universe of 14 (fourteen)
campuses, only 12 (twelve) have social workers, covering the total of professionals
working in the State of Mato Grosso. However, the subjects of the research were the
05 (five) professionals who returned the questionnaire responded. This with open
questions, of the form to enable the subject of research, answer according to your
professional reality. Thus, it is recognized that Social services must insert more
broadly and effectively in EPT, deepening relationships within of this space as
contradictory, in order to understand the dynamics of this institution, to subsequently
develop work together, directed the expansion and conquest of social and
educational rights, of paramount importance to the acting of social worker.
Keywords: Social service. Professional performance. Professional and
technological education.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 - Distribuição de Assistentes Sociais/Campi – IFMT .................................. 39
Quadro 1 - Reordenamento da Rede Federal – Mato Grosso................................... 33
Quadro 2 - Levantamento de Criação dos Campi – Mato Grosso ............................. 35
Quadro 3 - Instrumentos normativos relacionados ao Serviço Social ....................... 71
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
AS Assistente Social
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica
CEFET-MT Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
CF Constituição Federal
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CRESS Conselho Regional de Serviço Social
EAA Escola de Aprendizes Artífices
EAD Educação à Distância
EJA Educação de Jovens e Adultos
ENEM Exame Nacional do Ensino Médio
EPT Educação Profissional e Tecnológica
ETF Escola Técnica Federal
ETF-MT Escola Técnica Federal de Mato Grosso
FHC Fernando Henrique Cardoso
FIC Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores
FMI Fundo Monetário Internacional
GT Grupo de Trabalho
IES Instituição de Ensino Superior
IF Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
IFMT Instituto Federal de Mato Grosso
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC Ministério da Educação
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
NASF Núcleo de Apoio em Saúde da Família
NUMES Núcleo Municipal de Educação em Saúde
ONG Organizações não Governamentais
PDE Plano de Desenvolvimento da Educação
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional
PL Projeto de Lei
PNAE Plano Nacional de Assistência Estudantil
PPP Projeto Político Pedagógico
PROUNI Programa Universidade para Todos
REUNI Programa de Apoio a Plano de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais
SETEC Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
TEM Ministério do Trabalho e Emprego
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12
2 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT): À ÉGIDE DO
ESTADO DEMOCRÁTICO ................................................................................. 18
2.1 A (re) configuração da rede federal de educação profissional e tecnológica
na contemporaneidade ..................................................................................... 19
2.2 O papel do estado democrático na Educação Profissional e Tecnológica
(EPT) ................................................................................................................... 25
2.3 A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no estado de Mato Grosso . 30
3 A PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL .............................................................. 40
3.1 Serviço Social: particularidades históricas e teóricas................................... 41
3.2 A centralidade da atuação profissional do/a assistente social na
contemporaneidade .......................................................................................... 47
3.3 A política de educação na agenda do serviço social ..................................... 52
3.4 A importância da atuação do/a assistente social na Educação
Profissional e Tecnológica (EPT) ..................................................................... 60
3.5 Os desafios para a efetivação do projeto ético-político profissional no
espaço educacional .......................................................................................... 67
4 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT) ........................................................ 75
4.1 A relação entre educação e serviço social ..................................................... 76
4.2 Atuação profissional do/a assistente social no IFMT: vivência cotidiana ... 77
4.3 Entraves e possibilidades da atuação profissional na Educação
Profissional e Tecnológica (EPT) ..................................................................... 86
4.4 Expressões da questão social manifestadas no cotidiano da Educação
Profissional e Tecnológica (EPT) ..................................................................... 93
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 99
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 103
APÊNDICE A - Questionário ................................................................................. 107
12
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho advém da pesquisa realizada no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), a qual parte do ângulo
legal da Constituição Federal Brasileira de 1988, Capítulo III, Seção I, Art. 205, que
preconiza ser a educação “direito de todos e dever do Estado e da família, devendo
ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da cidadania e à sua qualificação para o trabalho”.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96,
também se refere a Educação como um dos pilares da formação do indivíduo e de
sua cidadania, embasada na universalização do atendimento e nos princípios de
democratização do acesso, permanência e êxito do ser humano.
É sob orientação desses parâmetros legais que o Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI) define a missão para o IFMT e traça a Política de Ensino,
estratégias e ações que contribuem com o acesso à educação para camadas da
população historicamente desfavorecidas, incluindo programas de incentivo que lhes
garantam condições de permanência no processo educativo da instituição. O PDI é
um documento que disciplina as políticas pedagógicas, de pós-graduação, de
educação à distância, de pesquisa e de extensão, de gestão institucional, de
comunicação e tecnologia dentro do IFMT, e é com base nesse documento que o
Instituto pauta suas ações para o alcance das metas e objetivos.
Assim, é neste cenário que incidiu o interesse central deste trabalho,
objetivando analisar a atuação profissional do/a assistente social desenvolvido no
IFMT, de forma a identificar os desafios e as particularidades para atuação do
Serviço Social na modalidade de Educação Profissional e Tecnológica (EPT).
A apreensão e compreensão do objeto proposto, requer um olhar mais
acurado da EPT, enquanto elemento parte do debate analítico crítico proposto,
sobre os reais elementos constitutivos da realidade selecionada, o grau de
complexidade que o envolve, a forma concreta que se apresenta à sociedade em
tempos de mundialização, aspectos aliados ao papel fundamental que a EPT
assume no tempo atual e na relação que estabelece entre capital e trabalho vigente
no século XXI.
Contudo, apesar da Constituição Federal de 1988, preconizar igualdade entre
os sujeitos da sociedade, na prática concreta, é evidente que existem sérias
13
dificuldades, para consolidar essa proposição em toda sua extensão e efetividade.
Situação decorrente da existência de muitos entraves relativos às múltiplas formas
de expressão da questão social, materializadas nas diferenças sociais, políticas,
econômicas, culturais, religiosas, ambientais demandantes por políticas sociais, que
grassam o cotidiano da formação societária em geral e, especialmente no campo
educacional.
Assim posto, cabe registrar, conforme Behring (2009, p. 273), que na
contemporaneidade, pensar a educação, implica ultrapassar a compreensão do
processo de ensino-aprendizagem, no contexto das diferentes formas de expressão
da questão social.
Neste sentido, depreende-se que ao debate deve incorporar os elementos
dinâmicos de resistência e ruptura constitutivos das e nas expressões e diferentes
formas para tratar a questão social. Isto é, transversalizadas de componentes da luta
de classes, mas sem aderir a apologia do uso da técnica de controlar os
trabalhadores pobres, a égide de uma política viabilizadora de direitos.
Nos termos postos, os/as profissionais do Serviço Social, tem possibilidade de
atuar em áreas de grandes complexidades, decorrentes das desigualdades sociais
crescentes que perpassam a sociedade na contemporaneidade e retratam a
vulnerabilidade que significativa parcela populacional esta submetida.
Dentre os desdobramentos sociais e desafios cotidianos, os/as assistentes
sociais que atuam na área da política educacional se defrontam, com proposição de
vincular a concepção de educação e de sociedade referenciada à construção de
uma nova ordem societária.
É com essa concepção, que a área da educação, torna-se um importante
espaço de atuação dos/as assistentes sociais, à medida que, as expressões da
questão social nesse cenário se manifestam em toda sua diversidade. Busca-se
compreender a educação na perspectiva de direito e a instituição como um espaço
coletivo de formação cidadã, no qual as refrações da questão social se desvelam à
atuação profissional de modo contundente.
Isto posto, cabe ao/a assistente social se pautar pelo marco teórico
metodológico analítico critico propositivo da categoria profissional, às ações que
garantam a qualidade na prestação de serviços na operacionalização da atuação
profissional para atender as demandas e desafios que lhes serão apresentados.
14
Assim, apreender a natureza do trabalho do/a assistente social na atualidade,
na ambiência da educação profissional e tecnológica do IFMT, é imprescindível
vincular o seu agir profissional ao “projeto profissional enraizado no processo
histórico e apoiado em valores radicalmente humanos” (IAMAMOTO, 2009, p. 342).
Em que prevaleça, a direção e o eixo do referido Projeto Ético-Político
Profissional construído coletivamente, cabe ressaltar que o Serviço Social possui
determinações e particularidades por vezes contraditórias, inerentes à natureza
histórica da profissão.
Alguns elementos são constitutivos da formação societária que perpassam o
projeto profissional e possui um núcleo indicativo de valores fundamentais, princípios
ético-político calcado no respeito e dignidade do ser humano, como as contradições
travadas entre dois entes societários, capital versus trabalho, e também as lutas
sociais protagonizadas pelos/as trabalhadores/as.
Os/as assistentes sociais inseridos na esfera pública, do IFMT, da rede
federal de educação, buscam ampliar os direitos dos cidadãos, em um contexto
social difícil frente às mudanças ocorridas no mundo do trabalho global e em
particular na sociedade brasileira. No auge da re-estruturação produtiva, as
manifestações e expressões da questão social, resultantes das transformações do
capitalismo mundial, agudizam as desigualdades sociais, tendo como núcleo central,
as relações de trabalho precarizadas, desemprego, subemprego, informalidade,
terceirização, dentre outras.
Esses processos de re-estruturação produtiva atinge também o mercado de
trabalhos dos/as assistentes sociais no nível municipal, estadual e federal. Vale
ressaltar que neste cenário se complexificam demandas e desafios para a profissão,
referentes ao retraimento do Estado e à desresponsabilização assumida na
condução das políticas sociais e a garantia de expansão dos direitos sociais.
Deste modo, para analisar a atuação profissional do/a assistente social no
IFMT, foi necessário compreender a educação profissional nessa instituição, na
lógica da política social, e identificar como a mesma se situa no arcabouço da
Política de Educação pública do país e sua trajetória histórica evolutiva, buscando
compreender sua estruturação, do primórdio à atualidade, inclusos objetivos,
finalidades e serviços prestados à sociedade em geral.
Assim, como já mencionado a presente pesquisa tem por objetivo analisar a
atuação profissional do/a assistente social no IFMT, de forma a identificar os
15
desafios e as particularidades dessa atuação na modalidade de Educação
Profissional e Tecnológica (EPT).
Neste sentido, o presente trabalho apresenta-se organizado em capítulos,
onde após o primeiro capítulo destinado a introdução é seguido do segundo capítulo
que retrata a discussão sobre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Mato Grosso (IFMT), no Estado brasileiro contemporâneo, sua configuração
dentro da Rede Federal de Ensino, e também nesse sentido, o papel do Estado
frente a consolidação dessa modalidade de educação. A criação do IFMT, indicou
novas dimensões para a educação profissional, por estar articulada às políticas de
desenvolvimento econômico local, regional e nacional.
O terceiro capítulo, trata da profissão de Serviço Social, suas particularidades
históricas, a centralidade da atuação profissional do/a assistente social, bem como a
inserção do/a assistente social nessa Política de Educação. Neste trabalho, foi
importante fazer uma breve trajetória da profissão de Serviço Social, a fim de
introduzir no debate principal que é a atuação profissional. No entanto, a trajetória
histórica da atuação do Serviço Social no âmbito da Política de Educação vincula-se
aos processos sociais historicamente determinados por mudanças nessa política e
na própria dinâmica de desenvolvimento da profissão, principalmente nos desafios
para efetivar o Projeto Ético-político profissional brasileiro.
E no quarto capítulo, apresenta uma discussão sobre a atuação profissional
dos/as assistentes sociais na educação profissional e tecnológica realizada no IFMT,
os entraves e possibilidades de atuação, e também as expressões da questão social
vivenciada no cotidiano profissional.
A pesquisa foi realizada com base no conjunto de legislações e documentos
relacionados à profissão de Serviço Social, a atuação profissional do Serviço Social
na educação, como os Subsídios para a Atuação de Assistente Social na Política de
Educação (Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais, publicado
pelo Conselho Federal de Serviço Social em 2012), que visa fortalecer o Projeto
Ético Político do Serviço Social na luta por uma educação pública, laica, gratuita,
presencial e de qualidade de modo a efetivar o direito social para potencializar
condições de sociabilidade humanizadoras. Também no estudo da documentação
oficial da instituição, advindas das esferas superiores quanto as atribuições
específicas do Serviço Social na EPT. E por fim no trato dos dados coletados por
meio de questionário aplicado às Assistentes Sociais de 12 (doze) campis do IFMT,
16
devidamente registrados, classificados, organizados e analisados, com a devida
anuência.
Para a consolidação dessa pesquisa, dentro do universo de 14 (catorze)
campi, somente em 12 (doze) possuem assistentes sociais, abarcando o total de
profissionais que atuam no Estado de Mato Grosso. No entanto, os sujeitos da
pesquisa foram os/as 05 (cinco) profissionais que devolveram o questionário
respondido.
A ênfase dada a este processo, opera pelo materialismo histórico e dialético,
nos dizeres que Minayo (2004, p. 65), explicita,
O materialismo histórico representa o caminho teórico que aponta a dinâmica do real na sociedade, a dialética refere-se ao método de abordagem deste real. Esforça-se para entender o processo histórico em seu dinamismo, provisoriedade e transformação. Busca apreender a prática social empírica dos indivíduos em sociedade, e realizar a crítica das ideologias, isto é, do imbricamento do sujeito e do objeto, ambos históricos e comprometidos com os interesses e as lutas sociais de seu tempo.
A pesquisa foi de cunho qualitativo, para permitir uma compreensão mais
detalhada dos significados e características apresentadas pelo objeto de estudo. O
aspecto qualitativo se caracteriza como uma tentativa de compreender
detalhadamente os significados e características apresentados pelos sujeitos da
pesquisa. Sobre o aspecto qualitativo, Minayo (2004, p. 22), esclarece que,
Qualquer investigação social deveria contemplar uma característica básica de seu objeto: o aspecto qualitativo. Isso implica considerar sujeito de estudo: gente, em determinada condição social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados.
A parte da coleta de dados deu-se por meio de levantamento documental que
integram o acervo do IFMT e bibliográfico, tais como, artigos, teses, dissertações,
legislações específicas do sistema educacional, dados estatísticos provenientes de
pesquisas realizadas por órgãos competentes, a fim de propiciar maior aproximação
e conhecimento sobre a temática em estudo. A parte documental é de extrema
importância, tendo em vista que a educação é regida por leis, decretos, normas
dentre outras legislações que orientam e implementam a Política de Educação.
Entretanto, foram destacadas como centrais as categorias: Serviço Social;
Atuação Profissional e Educação Profissional e Tecnológica, observadas por
17
diferentes autores/as, com uma abordagem crítica propositiva que contribua com as
reflexões contidas no trabalho.
Na coleta de informações, foi enviado um questionário, para o universo total
dos sujeitos, com questões abertas, de forma a possibilitar maior facilidade para os
sujeitos da pesquisa em responder de acordo com sua realidade profissional.
Desse universo, 05 (cinco) profissionais foram solícitos em responder o
questionário e participar da pesquisa. No entanto, 07 (sete) profissionais não
retornaram o questionário, fato que trouxe uma frustração a pesquisadora com
relação ao processo de coleta das informações. A negação em participar da
pesquisa não é possível descrever, e fica no campo na subjetividade.
Após o recebimento do questionário preenchido, foi realizada a
sistematização dos dados que foram analisados para além da aparência imediata,
esta não descartada, pois, trata-se do início do conhecimento, mas com objetivo
próprio de apreender a essência do objeto estudado.
18
2 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT): À ÉGIDE DO
ESTADO DEMOCRÁTICO
Analisar a Educação Profissional, perpassa por compreender como a mesma
se situa na concepção Política de Educação, sua estruturação, objetivos e
finalidades ao longo de sua trajetória.
Este processo demarca o avanço e concretização do ideário neoliberal, sob o
comando do grande capital financeiro, impactos e resultados espoliadores
produzindo graves mazelas sócio-econômicas nas condições de vida e laboral da
população de significativa parcela da sociedade brasileira.
Assim sendo, a Educação Profissional e Tecnológica (EPT), em sua
concepção de Política Educacional vaticinada pelo Estado, é transversalizada por
uma lógica de expansão da rede, preconizando normativas e diretrizes que priorizem
a inclusão social e ampliação do acesso e permanência na escola. Portanto, requer
intervenção que contemple os sujeitos/as envolvido/as no processo de formação
profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, com condições
objetivas para preparar cidadãos qualificados/as, aptos a atuarem nos diversos
setores da vocação econômica nacional, regional e local.
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia tem natureza
pública e seu vínculo é mantido pelo Governo Federal, a partir das medidas contidas
no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Este plano traz um novo
arcabouço institucional para traduzir o significado da EPT enquanto modalidade
potencializadora do indivíduo no desenvolvimento de sua capacidade de gerar
conhecimento a partir de uma prática interativa com a realidade.
As instituições de ensino em geral como instituições educativas vem sendo
questionadas acerca de seu papel ante as transformações econômicas, políticas,
sociais e culturais do mundo contemporâneo. Transformações estas que decorrem
do sistema de produção e desenvolvimento, da compreensão do papel do Estado,
das modificações nele operadas, das mudanças no sistema financeiro e
principalmente nas novas formas de organização do trabalho em tempos de
consumo exacerbado.
Essa nova realidade adquire uma importância mundial para a ciência, a
tecnologia e inovação tecnológica no que tange a ampliação dos espaços de ensino-
aprendizagem. Esse momento requer uma reestruturação dos sistemas educativos,
19
ou seja, formar indivíduos capazes de refletir, aprender e compreender
permanentemente, os avanços das tecnologias de produção, a relação entre capital
e trabalho, a capacidade de desenvolver atitudes, conhecimentos e disposição para
viver em um ordenamento societário dinâmico, o exercício autônomo, consciente e
crítico de cidadania, em contínua evolução.
Deste modo, fez se necessário, apresentar os elementos constitutivos da
realidade contemporânea da EPT, bem como as implicações do papel do Estado no
contexto em que o governo brasileiro implementa políticas educacionais de ajuste às
exigências das corporações internacionais.
2.1 A (re) configuração da rede federal de educação profissional e tecnológica
na contemporaneidade
Na Constituição Federal de 1988 (CF), a educação, em seu artigo 205 foi
organizada como uma política pública, e nesse sentido, subsequentemente, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei 9.394/96, estabelece ser dever
do Estado garantir a educação enquanto direito de todos/as os/as brasileiros/as.
Na concepção de política pública é pertinente recorrer as contribuições de
autores/as do Serviço Social estudiosos desta temática, como Pereira (2011, p.
166), que aponta
a política como produto da relação dialeticamente contraditória entre estrutura e história e, portanto, das relações antagônicas e recíprocas entre capital x trabalho, Estado x sociedade e princípios de liberdade e da igualdade que regem os direitos de cidadania.
Neste prisma, Behring e Boschetti (2011, p. 37) assinalam algumas
análises unilaterais no campo da política social aquelas que situam a emergência de políticas sociais como iniciativas exclusivas do estado para responder demandas da sociedade e garantir hegemonia ou, outro extremo, explicam a existência exclusivamente como decorrência da luta e pressão da classe trabalhadora.
Cabe levantar como questão de fundo para nortear o debate central deste
trabalho se o desenvolvimento das políticas sociais esta imbuído historicamente de
um espírito reformista, sob pressão do movimento dos trabalhadores. Ou, se em
20
tempos de estagnação, avanço neoliberal, estamos num ambiente contra-
reformista?
Para a consecução do debate teórico proposto, o recorte temporal foi a partir
dos anos 1990, abarcando a complexidade que permeia a política de educação.
Assim, o ponto de partida para essa discussão é a educação profissional como
direito do cidadão, a forma de organização estatal a partir da década citada, levando
em consideração a lógica do grande capital atual que é a de mercado.
De acordo com Frigotto (2007, p. 2),
Os clássicos do pensamento social, político e econômico brasileiro nos permitem apreender as forças que disputaram os projetos societários e entender o que nos trouxe até aqui e suas determinações. Permitem-nos entender, por outro lado, por que o projeto da classe burguesa brasileira não necessita da universalização da escola básica e reproduz, por diferentes mecanismos, a escola dual e uma educação profissional e tecnológica restrita (que adestra as mãos e aguça os olhos) para formar o ‘cidadão produtivo’ submisso e adaptado às necessidades do capital e do mercado.
A intencionalidade da classe burguesa trabalhada na citação de Frigotto
(2007) é tratada da seguinte forma na LDB, como educação profissional integrada às
diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, que conduz ao
permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Todavia, trabalho e
educação constitui uma relação de indissolubilidade, conforme coloca Saviani (2007,
p. 155) ao dizer que “são atividades especificamente humanas”, mas que com o
surgimento do modo de produção capitalista sofrem uma nova determinação.
No disposto pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
(SETEC/MEC), órgão alocado no Ministério da Educação (MEC), a competência,
dentre outros é de planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de
formulação e implementação da política da educação profissional e tecnológica;
promover ações de fomento ao fortalecimento, à expansão e à melhoria da
qualidade da educação profissional e tecnológica e zelar pelo cumprimento da
legislação educacional específica dessa modalidade de ensino e para o
cumprimento do disposto em um de seus objetivos que consiste em favorecer o
desenvolvimento da nação primando pela inclusão social, por entender que tal
modalidade educacional não pode se furtar a dar respostas às exigências do seu
tempo sem perder de vista a responsabilidade social.
21
A concepção de EPT que orienta os processos de formação com base nas
premissas da integração e da articulação entre ciência, tecnologia, cultura e
conhecimentos específicos e do desenvolvimento da capacidade de investigação
científica que se traduzem nas ações de ensino, pesquisa e extensão.
O cenário de mudanças significativas através da expansão do capital,
principalmente após a crise de 1970, trouxe reflexões importantes para a educação,
sendo uma delas a própria responsabilidade com o desenvolvimento e globalização
nacional. Segundo Silva (2012, p. 139),
houve uma passagem da lógica da integração baseada nas demandas de caráter coletivo em torno do desenvolvimento nacional para as aspirações individualizantes da formação para as competências com vistas à empregabilidade.
Nesse sentido, cabe perguntar se a educação profissional está para uma
formação cidadã? Ou para uma formação para o mercado de trabalho?
Os anos de 1990 foram marcados por projetos de disputa. Ocorreram grandes
mudanças tanto no campo socioeconômico e político, quanto no da ciência e
tecnologia, principalmente com a globalização da economia, bem como as
modificações tecnológicas com a era da informação. Neste contexto, a educação
aparece como categoria central na sociedade, mas, indaga-se qual é seu papel no
momento atual?
O cenário em que a educação profissional se encontra no Brasil, lida com
uma tendência de carga de responsabilidades relacionadas ao desenvolvimento do
país. Essa tendência traz algumas preocupações e implicações pedagógicas, tais
como, situações não sustentáveis social e ambiental, concentração de renda,
submissão à divisão internacional do trabalho, competição acirrada, promoção do
individualismo e destruição de valores culturais e éticos.
Nesta área, é pertinente frisar a existência de um segmento de estudiosos
com uma tendência reflexiva a rejeitar a concepção de que a educação é a salvação
do país e que a EPT é a porta de emprego, estabelecendo como condição de
permanência no mercado de trabalho, uma responsabilidade exclusiva dos
trabalhadores. Também creem que estas dinâmicas trazem um contexto de
contradições dialéticas no sentido de não classificar até que ponto os profissionais
contribuem com a lógica do mercado e do capital, no sentido de produzir um
22
estranhamento que se faz presente em muitas discussões sobre a democracia
brasileira, a ponto de não se reconhecer de imediato essa ambiguidade.
Nos termos postos, autores consultados já citados neste trabalho, afirmam
que a partir da CF de 1988, a educação se constituiu em um instrumento de poder,
no que tange a transmissão de valores relacionados ao trabalho. Por parte da classe
capitalista, o objetivo primordial é obter cada vez mais o lucro por meio da
exploração da força de trabalho, e, “criar condições para que o capital privado possa
existir e se expandir”, como afirma Coutinho (2008, p. 126). Por um lado, a classe
trabalhadora desde a década de 1930, luta por melhores condições de trabalho,
através dos movimentos sociais, e obteve maior acesso a educação pela legislação
brasileira vigente. Todavia, é necessário afirmar que esse direito ainda não é
exercido de forma plena e ampla em toda acepção etimológica, sendo muitas vezes
negligenciado a determinados segmentos populacionais mais vulneráveis
socioeconomicamente.
Por outro prisma, também, pode se afirmar que a sociedade contemporânea
presenciou grandes transformações na área da educação, onde o neoliberalismo e a
reestruturação produtiva contribuíram e contribuem fortemente com os processos de
mudanças realizadas no século XX e em curso.
Nesse processo, Almeida e Alencar (2011, p. 5), esclarece que,
[...] esse período como sendo de permanência do capital na forma de dinheiro, onda de generalização das aplicações financeiras internalizadas, o desenvolvimento de novas tecnologias de informação, permitindo a interligação entre os mercados financeiros e bolsas de valores, exacerbação da tendência atual do capitalismo, ou seja, a mundialização do capital.
A educação profissional e tecnológica, tem na legislação a clareza do seu
papel de propiciar a formação de trabalhadores para o mercado de trabalho, em face
da área atravessar um grande momento relacionado ao advento da expansão da
Rede Federal de Ensino1 no país. Porém, é possível entender no que consiste as
concepções institucionais que possibilitam uma formação para a participação na
sociedade civil e exercício da cidadania, ainda ser um campo de disputa de poder.
1 A Lei nº 11.892/2008, de 29/12/2008 - institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e cria os Institutos Federais de Educação (IF’s).
23
Deste modo, a análise da relação entre trabalho e educação, no modo de
produção capitalista, retomada de Marx em O Capital, remete à clareza de que o
trabalho na sociedade capitalista tem um caráter alienado e fetichizado. Mas, em
seu caráter ontológico, é sabido que o homem como ser social, transforma a
natureza para satisfação de suas necessidades, ou seja, transforma-se a matéria-
prima em algo novo para o uso, conferindo-lhe sentido de que o trabalho é uma
atividade inerente à faculdade reflexiva do ser social, ao conceber esse processo
laborar primeiro no plano da ideia e, subsequente, realização operacional no campo
material, concreto.
É possível por analogia, pensar o papel da educação profissional, enquanto
uma formação capaz de adequar a inserção produtiva dos trabalhadores, como
incremento produtivo a fim de reforçar o objetivo do capitalismo monopolista, nos
seguintes termos:
A emergência da educação profissional no modo de produção capitalista, ou educação para os ofícios, corresponde à socialização da fragmentação do trabalho e, sobretudo, à dicotomia entre quem concebe (gerencia) as atividades de produção e quem executa o processo. A educação profissional é destinada as atividades de caráter mais terminal da produção cuja perspectiva está orientada para aspectos instrumentais do processo produtivo (SILVA, 2012, p. 136).
Igualmente é possível por outro ponto perceber reflexões de cunho
contributivo, que Saviani aponta inspirado nas reflexões de Gramsci, o trabalho
como princípio educativo, onde o trabalhador e o trabalho podem ser concebidos
com uma dimensão a seu favor que não os usualmente praticados na sociedade
contemporânea. Pensamento que na contemporaneidade torna cada vez mais
visível a perda da relação trabalho e educação em seu sentido ontológico, em
virtude da capacidade do capital aprofundar sua voracidade ao se reorganizar
rapidamente conforme dispõe o extrato a seguir.
Diante dos limites estruturais do capitalismo, aprofundados ao longo de todo esse período histórico, no contexto da crise estrutural que se deflagrou na década de 1970, o capital articulou ‘[...] um novo equilíbrio instável que tem como exigência básica a reorganização do papel das forças produtivas na recomposição do ciclo de reprodução do capital, tanto na esfera da produção como na das relações sociais’ (ALMEIDA; ALENCAR, 2011, p. 4).
24
Reorganização que acarreta uma série de transformações no campo da
educação profissional ao longo dos anos 1990 até o presente, e se consolidam com
a implantação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF), uma
iniciativa das políticas de Estado que propõem reestruturar os antigos Centros
Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), bem como das Escolas Agrícolas,
para atender as demandas crescentes de formação profissional existentes em cada
região onde estiverem inseridos e de acordo com as vocações econômicas locais.
Assim, a Lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008, que cria a Rede Federal
de Educação Profissional e Tecnológica coloca como um dos objetivos precípuos
dos Institutos Federais, destinar no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas
vagas para a Educação Básica. Estas, em especial ao Ensino Médio integrado à
Educação Profissional Técnica, para os concluintes do Ensino Fundamental e para o
público da Educação de Jovens e Adultos (EJA) (BRASIL, 2008).
Os IF’s se comprometem com a oferta, além de cursos técnicos, a graduação,
os cursos tecnólogos, as licenciaturas (formação de docentes), programas de pós-
graduação lato senso e stricto sensu (mestrado e doutorado), cursos para a
formação inicial e continuada de trabalhadores nas áreas em que a ciência e a
tecnologia são determinantes e, também, com a formação de grupos de pesquisa.
Ao se fazer um recorte na trajetória da educação brasileira, tem se claro que
as reformas educacionais são influenciadas pelas grandes organizações
internacionais. Ou seja, não houve nenhuma mudança efetiva relacionada ao
desenvolvimento do processo de gestão desta política, uma vez que os efeitos do
neoliberalismo atualmente apresentam-se, cada vez mais arraigados a uma
sociabilidade autoritária na sociedade em tempos de globalização.
No entanto, é perceptível que diante de uma trajetória de reformas,
considerando as particularidades da política educacional em nome da dinâmica da
sociedade mundializada, requer demarcar o papel do Estado frente a este processo,
tendo em vista a realidade vivenciada pela formação societária brasileira, conforme
será apresentado a seguir.
25
2.2 O papel do estado democrático na Educação Profissional e Tecnológica
(EPT)
Ao situar a competência do Estado frente à educação profissional no Brasil,
cabe reiterar ser no recorte temporal pertinente da década de 1990, cenário de
mudanças estruturais próprias da natureza expansiva do capital e suas contradições
expressas pela crise por ele vivenciada que remonta ao marco dos anos 1970,
quando se pode observar como respostas decorrentes da reestruturação produtiva e
do aparelho estatal e seus efeitos postos em curso e presentes nas décadas
seguintes.
Períodos em que o Brasil foi marcado por disputas gerais impulsionando as
alterações e efeitos citados contidas na própria LDB, trazendo um conjunto de
ambiguidades, sobretudo para a educação profissional, objeto central elegido e
subsumido pela lógica em pauta e assim expressa:
A partir dos anos 1990, o Brasil adentrou num período marcado por uma nova ofensiva burguesa, mais uma vez adaptando-se às requisições do capitalismo mundial. É um momento histórico com características diferentes do pós 64. Mas, certamente, configura-se como uma contra-reforma social e moral, na perspectiva de recompor a hegemonia burguesa no país (BEHRING, 2008, p. 113).
Logo, compreender a responsabilidade do Estado para com a educação,
demanda entender o discurso oficial e textual da CF que define o regime do Estado
como governo democrático de direitos, cabendo-lhe promover políticas públicas e
sociais voltadas à população brasileira, composta por cidadãos, portadores dos
referidos direitos. Regime contido nas normativas oficiais pós-período ditatorial, com
avanços significativos na década de 1980, e, em especial na área da educação,
onde os espaços democráticos instituídos que possibilitaram discussões, em tese,
visando promover um padrão real de qualidade para a educação.
Após esse período, a consolidação do modelo neoliberal de Estado
instaurada, passou a demandar a determinação de novas diretrizes para a
educação, a LDB, cujo teor obteve inúmeras críticas, dos estudiosos da matéria,
dentre eles Frigotto (2007, p. 2) devido a várias reformas educacionais implantadas
e aliadas ao interesse do capital e em detrimento da população brasileira.
26
Doravante, conforme os planos adotados pelo presidente Fernando Henrique
Cardoso (FHC), de 1995 a 2002, a educação profissional assume um caráter
técnico, intensificado pela criação dos CEFET’s, com objetivo de formar profissionais
com sólida base científica e tecnológica, sendo um período demarcado por disputas
de projetos, abaixo expresso,
O período também foi caracterizado pela ótica tecnicista adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso para a educação profissional que foi representada por três estratégias principais: a primeira consiste na intensificação da cefetização das escolas técnicas federais; a segunda foi a separação do ensino médio da base propedêutica do ensino técnico com a promulgação do Decreto nº 2.208/97 – este estabeleceu que o ensino técnico fosse ministrado mediante matrículas concomitantes ou subsequentes ao ensino médio de formação geral -; e a terceira foi a oferta de cursos de qualificação do trabalhador sob a responsabilidade do Ministério do Trabalho, alijados do compromisso com o acesso à educação e a decorrente elevação da escolaridade (SILVA, 2012, p. 139).
Em decorrência dessa determinação é evidente a educação estar cada vez
mais a serviço do capital, e como instrumento para a inserção dos jovens no
mercado de trabalho em condições e forma precarizada, violando os preceitos dos
direitos sociais, de que nesta fase de vida deveria se dar a construção do
conhecimento e formação da identidade desse segmento populacional no âmbito
acadêmico.
Todavia, confere-se que na prática, o Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) oferece cursos por meios de parcerias com instituições tais como o Sistema
S, Organizações não Governamentais (ONG’s) e instituições filantrópicas. Estas
oferecem uma formação profissional aligeirada para desempregados,
subempregados de baixa escolaridade, que dada as condições de vulnerabilidades
frente a reestruturação produtiva, se tornam presas fáceis, úteis aos interesses do
capital na relação com o trabalho. Há total subsunção de grande número de
trabalhadores necessitados desse aporte social para garantir na sobrevivência e
força de trabalho para se recolocar no mercado preparador arcando com todos os
ônus ditos anteriormente.
Ao nortear pelas legislações brasileiras, não é possível negar que o Estado
tem um papel fundamental no que concerne a garantir à população, pleno acesso
aos direitos sociais, à seguridade social, incluindo a educação em todas as suas
modalidades de ensino.
27
Na década de 1980 com a Constituição Federal de 1988, o conceito de
Seguridade Social engloba as políticas de saúde, previdência e assistência social,
definidas como um direito social. Contudo, nos anos de 1990, esse sistema é
surpreendido pelo avanço neoliberal e reformas voltadas para o desmonte dos
recém instituídos direitos sociais.
Pelo exposto, faz-se mister abordar que dado ao fato da figura do Estado
possuir complexidade e ramificações, nas quais se alojam e apresentam os desafios
e demandas postas ao processo de trabalho no modo de produção capitalista, as
mesmas impactam tanto na constituição da materialidade, quanto da subjetividade
dos trabalhadores (ANTUNES, 2011, p. 19-41).
Uma pontuação indispensável frente às determinações postas pela dinâmica
estrutural do capitalismo é que o mesmo tem incorporado, em parte, a necessidade
de contribuir com a reprodução da força de trabalho, por sua vez, determina a
ampliação de serviços por serem os mesmos vitais ao processo de reprodução do
próprio capital. Embora haja um discurso sobre a universalidade dos serviços
sociais, estes, não são realmente direcionados na íntegra de sua concepção, aos
indivíduos que deles necessitam, pela oferta ser pautada em critérios altamente
seletivos, pontuais e focalizados, que dificultam o acesso da população a qual se
destinam, revelando que,
[...] o elemento conteudístico mais importante desta forma política autoritária e centralizadora de Estado é que ele sempre esteve claramente a serviço de interesses privados. O fato desse Estado ter sido muito forte e de ter aparentemente se superposto à ordem privada não anula, de modo algum, uma realidade fundamental: a de que toda esta força esteve sempre – em primeira ou em última instância, mais em primeira do que em última – a serviço de interesses estritamente privados (COUTINHO, 2008, p. 124).
Todavia, como não é possível sustentar sem mascarar minimamente a
posição favorável ao capital, enunciada de conformidade com o caráter contraditório
que lhe é inerente na relação antagônica que trava com o trabalho, o Estado assim
se desvela,
[...] o Estado, ainda que em última instância, defenda interesses privados – tem de ter também uma dimensão pública, já que é preciso satisfazer demandas das classes trabalhadoras para que possa haver o consenso necessário à sua legitimação. Não é outra explicação, por exemplo, da existência do Welfare State nos países mais desenvolvidos; nesse caso, graças às lutas das classes trabalhadoras, foi possível construir, a partir de
28
políticas estatais, uma rede educacional e de seguridade social que tem um indiscutível interesse público (COUTINHO, 2008, p. 127).
Em que pese a dualidade postural abordada, é perceptível que o direito de
fato passa a ser manipulado pelo Estado e pelos organismos internacionais para se
configurar em algo que está sendo doado, ou seja, adquirem um caráter de benesse,
não sendo tratados como direitos constitucionais legalmente garantidos.
Essa desconfiguração ocorre porque da mesma forma que o discurso
neoliberal prevalecente sustenta que o Estado deve reduzir sua intervenção na
economia, igualmente avoca a necessidade de minimamente assumir à si, as
funções relacionadas ao bem estar social. Todavia, isto se caracteriza
concretamente, como uma estratégia que culmina na privatização de serviços que
deveriam ser oferecidos pela esfera estatal, e que em última instância transforma o
indivíduo portador de direitos em consumidor.
Para melhor elucidar a relação contraditória, Coutinho (2008, p. 127) aponta
abaixo algumas ações elencadas dessa natureza que afetam o campo da educação
sob à égide do neoliberalismo, que “em nível mundial configura-se como uma reação
burguesa conservadora e monetarista, de natureza claramente regressiva, dentro da
qual se situa a contra reforma do Estado”, Bering (2008, p. 129), conforme os
mesmos concebem quanto a:
Ajustes fiscais, ‘o Estado prefere pagar a dívida pública e assegurar o chamado equilíbrio fiscal (através de enormes superávits primários) do que atender às reais demandas da população brasileira’;
Gestão baseada na lógica empresarial;
Qualidade entendida como aumento da eficácia, da eficiência, da produtividade com redução de custos;
Primazia da quantidade em detrimento da qualidade;
Política de resultados;
Discursos vazios de democratização com o avanço do ensino à distância;
Adoção de políticas submetidas aos ditames dos organismos internacionais;
Mercantilização dos espaços da educação formal;
Foco no produto final como meta fim e comprometido com os reais processos de aprendizagem emancipatória.
Os elementos elencados permitem vislumbrar, que é importante redefinir o
papel do Estado para com a educação. Nesse ápice é que ao governo Lula, período
2003-2010, é tributado significado especial decorrente de sua origem e trajetória
29
política, englobaram expectativas de mudanças estruturais, tanto para sociedade em
geral quanto especificamente para educação, tendo em vista o claro e franco
comprometimento assumido com criticas contundentes ao modelo liberal de FHC, e
que primará pelo disposto a necessária consolidação das legislações brasileiras.
No entanto, o que seu governo revelou foi um período de continuidade de
propostas governamentais neoliberais, com ações totalmente contrarias aos ideários
políticos assumidos com a maioria da parcela populacional que o elegeu, cometendo
as mais graves e profundas omissões, jamais registradas na história de governos da
sua natureza.
Para o campo da educação profissional no que se refere somente ao plano de
expansão da Rede Federal, houve significativa expansão, ao mesmo tempo que,
[...] a problematização sobre a política de educação profissional, que em como referência a produção de conhecimento na área e as lutas sociais, desafiou-nos a analisar o percurso tomado por essa política no Governo Lula, que representa, na verdade, a disputa entre os setores progressistas e conservadores da sociedade brasileira pela hegemonia nesse campo (FRIGOTTO, 2005, p. 1089).
O tratamento a ser dado à educação profissional, anunciado pelo MEC no
início do governo, seria de reconstruí-la como política pública, enquanto
compromisso assumido com a sociedade em sua referida proposta de governo.
Não obstante, uma problemática que se faz presente nesse meio é pertinente
ao quesito financiamento para educação, alvo de grandes debates e
questionamentos devido a insuficiência dos recursos que o governo brasileiro
destina para este campo.
Muitas críticas são pontuadas as políticas educacionais, no governo Lula, que
sinalizaram para um movimento de inclusão de camadas empobrecidas da classe
trabalhadora, porém, só para as modalidades que não apresentam a qualidade
preconizada no discurso oficial com o caráter de políticas universalizantes. Fatores
que suscitam e fomentam reiterados questionamentos relativos a qualidade dessas
ações e, põe em dúvida a relação entre universalização e a democratização da
educação, uma das principais bandeira de luta anunciada por esse governo.
É com este escopo, que se articulam ofertas formativas para educação de
jovens e adultos, trabalhadores em formação inicial e continuada, bem como os
30
programas: Universidade para Todos (PROUNI), no Programa de Apoio a Plano de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), dentre outros.
Apesar das mudanças implementadas com força impositiva legal, da esfera
superior para a executiva, a concretização das ações operacionais propriamente
ditas, dependem da particularidade de cada instituição. Percebe-se que no governo
FHC, o objetivo da educação profissional era de atender as necessidades do
mercado. Enquanto o governo de esquerda de Lula, num primeiro momento de
ascensão até então parecia incorporar a bandeira de luta da educação defendida
pelos movimentos sociais. Contudo, se viu que,
As políticas de educação profissional do Ministério da Educação no governo Lula demonstram sua face contraditória, pois atendeu às reivindicações pela revogação do Decreto nº 2.208/97 e pela formação do trabalhador com elevação da escolaridade, porém lança programas que reforçam a dualidade no interior do sistema educacional (SILVA, 2012, p. 141).
A criação de novos programas já citados, integrados a escolarização e
profissionalização, traz algumas inquietações com relação a formação do cidadão
não submisso e adaptado à lógica do mercado e capital. Do ponto de vista
sociopolítico, qual o lugar da EPT no âmbito de disputa do Estado e da sociedade
civil? Ao contrário do discurso e do senso comum de que as políticas públicas
servem para atender o bem comum, a política de educação reflete a relação de
forças presentes na arena de disputas e contradições entre o Estado e a sociedade
civil.
Nota-se, portanto, que apesar dos condicionantes do âmbito educacional,
neste caminho adverso e desafiante, é evidente caber ao Estado uma atuação
efetiva nesta política, de forma a garantir uma educação cidadã, articulada com
diferentes dimensões da vida social, que permita construir e reconstruir novas
formas de sociabilidade humana, ou seja, que se instaure um processo de
aprendizagem de qualidade, pública e uma formação emancipadora.
2.3 A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no estado de Mato Grosso
É importante rememorar que as instituições constituintes hoje da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica são originárias das
31
escolas de artífices, por meio do decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, que
institui em seu primeiro artigo a criação do grupo de escolas de aprendizes artífices
e demais preceitos para sua execução.
Nesse sentido, é cabível a referência de que a época, o cenário social
encontrava-se em transição, moldado fortemente pelo processo de urbanização,
com mobilização popular e classista em busca de melhores condições de vida e de
trabalho. O Estado brasileiro, afirma que a criação de um conjunto de Escolas de
Aprendizes Artífices (EAA), adveio da necessidade de prover as classes proletárias
de meios que garantissem a sua sobrevivência, isto é, os desfavorecidos da
fortuna, expressão contida no Decreto nº 7.566, de 23/09/1909, assinado pelo
Presidente Nilo Peçanha,2 e,
Nesse sentido, não há dúvida de que aos objetivos das Escolas de Aprendizes Artífices associavam-se a qualificação de mão de obra e o controle social de um segmento em especial: os filhos das classes proletárias, jovens e em situação de risco social, pessoas potencialmente mais sensíveis à aquisição de vícios e hábitos ‘nocivos’ à sociedade e à construção da nação (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA,2010, p. 11).
Na década de 1950, o Brasil adotou uma política focada na industrialização e
também no “progresso”, com profundos reflexos na área educacional, quando a EAA
passou, pela lei nº 3.552 de 16/02/1959, a ser denominada de Escolas Industriais e
Técnicas, e, em Mato Grosso, pela lei nº 4.759, de 20/08/1965, tornou-se a Escola
Industrial Federal de Mato Grosso.
Nesse período, essas instituições ganham autonomia didática e de gestão e
passam a ser denominadas Escolas Técnicas Federais, e a de Mato Grosso, alça
essa mudança através da Portaria Ministerial nº 331, de 17/06/1968. Época que
intensificam-se gradativamente a formação de técnicos; mão de obra indispensável
à aceleração do processo de industrialização, sendo o período de 1964 a 1985
caracterizado pela modernização da estrutura produtiva à custa do endividamento
externo.
2 Para fins de estudo ver obra intitulada Escola de Aprendizes Artífices de Mato Grosso 1909/1941, da autora Nadia Cuiabano Kunze, pedagoga, Mestre em Educação pela UFMT e servidora atual do IFMT.
32
Na segunda metade da década de 1990, o movimento das instituições
federais de educação profissional e tecnológica também sinaliza mudança. O
processo desencadeado, a princípio apenas, em alguns Estados. Tinha como
principal objetivo alinhar as políticas e ações das instituições ao cenário atual, com
destaque para as demandas sociais locais e regionais. Instituições que revelam um
movimento até então inédito, de incluir em seus ideários as necessidades e
aspirações do território onde estivessem inseridas e delinear princípios que
norteassem iniciativas comuns, propiciando o surgimento da Rede Federal de
Educação Profissional e Tecnológica.
No ano de 1994, a Lei Federal nº 8.984 institui no país o Sistema Nacional de
Educação Tecnológica, anuncia a transformação das Escolas Técnicas Federais
(ETF) em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), cuja implantação se
concretiza a partir de 1999, e, em seguida, abre caminho para que as Escolas
Agrotécnicas Federais sejam integradas a esse processo.
Na sequência dos atos, com o Decreto nº 2.208/97 ocorre a regulamentação
dos artigos da nova LDB que tratam especificamente da educação profissional. E a
chamada “Reforma da Educação Profissional” é implantada dentro do ideário de
Estado Mínimo, com fortes reflexos nas escolas federais de educação profissional
do país. As mudanças estabelecidas pela nova legislação são profundas e cortam
pela raiz o movimento de redirecionamento desenhado pelas instituições federais.
Nos termos do Decreto Presidencial de 16/08/2002, publicado no Diário
Oficial da União de 19/08/2002, a Escola Técnica Federal de Mato Grosso (ETF-MT)
transforma-se em Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
(CEFET-MT).
No ano de 2003, o Governo Federal edita novas medidas para a educação
profissional e tecnológica, e há a substituição do Decreto nº 2.208/97 pelo de nº
5.154/04 que elimina as amarras estabelecidas pela anterior, e se traduziam numa
série de restrições na organização curricular e pedagógica e oferta dos cursos
técnicos. Iniciava-se uma reorientação das políticas federais para a educação
profissional, primeiro com a retomada da possibilidade da oferta de cursos técnicos
integrados com o ensino médio, seguida pela alteração na lei que vedava a
expansão da rede federal.
A primeira fase dessa expansão, iniciada em 2006, teve como objetivo
implantar escolas federais de formação profissional e tecnológica nos Estados ainda
33
desprovidos dessas instituições, preferencialmente nas periferias de metrópoles e
municípios interioranos distantes de centros urbanos, aos quais os cursos
estivessem articulados com as potencialidades locais de geração de trabalho e
renda.
Na segunda fase da expansão, iniciada em 2007, com o tema “Uma escola
técnica em cada cidade-polo do país”, foi prevista a implantação de 150 novas
unidades de ensino.
Nessa concepção, através da lei nº 11.892, de 29/12/2008, publicada no
Diário Oficial da União de 30/12/2008, é que foi criado o Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT). Ocorre a integração dos
Centros Federais de Educação Tecnológica de Mato Grosso e de Cuiabá, e da
Escola Agrotécnica Federal de Cáceres, para gerar e fortalecer condições
estruturais necessárias ao desenvolvimento educacional e socioeconômico,
conforme o quadro de reordenamento da EPT, abaixo apresentado.
Quadro 1 - Reordenamento da Rede Federal – Mato Grosso
Ano Instituição
1909 Escola de Aprendizes e Artífices (EAA)
1965 Escola Técnica Industrial de Mato Grosso
1968 Escola Técnica Federal de Mato Grosso (ETF)
1999 Centros Federais de Educação Tecnológica de Mato Grosso (CEFET)
2008 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pela autora – Julho de 2014
A formação dessa nova identidade da EPT permite aos Institutos Federais
atuar em todos os níveis e modalidades da educação profissional, de forma a por em
prática a execução dos princípios do Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), bem como as das diretrizes dos respectivos projetos pedagógicos, tais como:
a necessidade de atuar no ensino, na pesquisa e na extensão, compreendendo as especificidades destas dimensões e as inter-relações que caracterizam sua indissociabilidade;
a compreensão da pesquisa ancorada nos princípios científico – que se consolida na construção da ciência e desenvolvimento da tecnologia – e no educativo – que diz respeito à atitude de questionamento diante da realidade –, entendendo-a como essencial para a construção da autonomia intelectual e, portanto, potencializadora de uma educação que possibilita ao indivíduo o desenvolvimento de sua capacidade de gerar conhecimentos a partir de uma prática interativa com a realidade;
a concepção das atividades de extensão como forma de diálogo permanente e mais amplo com a sociedade;
34
a compreensão de que o conhecimento deve ser tratado em sua completude, nas diferentes dimensões da vida humana, integrando ciência, tecnologia, cultura e conhecimentos específicos – inclusive nas propostas pedagógicas dos cursos de graduação (licenciaturas, engenharias e superiores de tecnologia) e pós-graduação – na perspectiva de ultrapassar o rígido limite traçado pelas disciplinas convencionais;
o reconhecimento da precedência da formação humana e cidadã, sem a qual a qualificação para o exercício profissional não promove transformações significativas para o trabalhador e para o desenvolvimento social;
a necessidade de assegurar aos sujeitos as condições de interpretar a sociedade e exercer sua cidadania, na perspectiva de um país fundado na justiça, na equidade e na solidariedade;
a organização de itinerários formativos que permitam o diálogo entre os diferentes cursos da educação profissional e tecnológica (formação inicial e continuada, técnica de nível médio e de graduação e pós-graduação tecnológica), ampliando as possibilidades de formação vertical (elevação de escolaridade) e horizontalmente (formação continuada);
a sintonia dos currículos com as demandas sociais, econômicas e culturais locais, permeando-os das questões de diversidade cultural e de preservação ambiental, pautada na ética da responsabilidade e do cuidado;
o reconhecimento do trabalho como experiência humana primeira, organizadora do processo educativo.
De acordo com a lei de criação e as diretrizes elencadas, os IF’s são
instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e
multicampi, especializados na oferta profissional e tecnológica nas diferentes
modalidades de ensino, embasadas na conjugação de conhecimentos técnicos e
tecnológicos e suas práticas pedagógicas. Vale ressaltar que o objetivo primeiro
destas instituições é a profissionalização e, por essa razão, a proposta pedagógica
tem a organização centrada na compreensão do trabalho, debates já tratada na
seção anterior.
A estrutura multicampi é constituída por um conjunto de unidades, cujo
campus possuem as mesmas atribuições e prerrogativas, ou seja, cumprimentos de
metas e objetivos determinadas. Nessa lógica, Mato Grosso possui um total de 14
(catorze) campi atualmente, sendo: Cuiabá-Cel. Octayde Jorge da Silva, Cuiabá-
Bela Vista, São Vicente, Juína, Rondonópolis, Barra do Garças, Cáceres, Pontes e
Lacerda, Campo Novo do Parecis, Confresa, Sorriso, Várzea Grande, Alta Floresta,
Primavera do Leste e ainda faz parte desta estrutura a Reitoria. Segue quadro
abaixo:
35
Quadro 2 - Levantamento de Criação dos Campi – Mato Grosso
Ano Campi
Campus Pré-existentes Cuiabá
Cáceres
São Vicente
Criados (2003/2010) Cuiabá-Bela Vista
Barra do Garças
Campo Novo do Parecis
Confresa
Juína
Pontes e Lacerda
Rondonópolis
Criados (2011/2012) Sorriso
Criados (2013/2014) Alta Floresta
Primavera do Leste
Várzea Grande
Total 14 Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pela autora – Julho de 2014.
À essas Instituições de Ensino Superior (IES), o MEC determina como parte
integrante do processo avaliativo, o seu planejamento estratégico, que se
convencionou denominar de Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). Este
define como missão para o IFMT,
Proporcionar a formação científica, tecnológica e humanística nos vários níveis e modalidades de ensino, pesquisa e extensão, de forma plural, inclusiva e democrática, pautada no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional, preparando o educando para o exercício da profissão e da cidadania com responsabilidade ambiental (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2009, p. 30).
O presente documento contem 05 (cinco) eixos: a missão e a visão,
institucional; as metas e ações propostas para desenvolver as políticas de ensino,
pesquisa e extensão em suas diversas modalidades; as perspectivas de crescimento
na oferta de vagas por número de matrículas, recursos humanos e dotação
orçamentária, e, a concepção de avaliação do desenvolvimento institucional.
De acordo com o Plano de Desenvolvimento Institucional (2009), as metas e
ações apontadas pelo PDE, respeitadas as possibilidades e condições atuais e
considerando a evolução das ações do plano de expansão da rede federal de
educação profissional e tecnológica, o IFMT tem por objetivos:
36
Ministrar educação profissional técnica de nível médio (mínimo de 50% de suas vagas), na forma de cursos integrados, subsequentes ou concomitantes, incluindo-se Educação de Jovens e Adultos (EJA);
Ministrar em nível de educação superior: cursos superiores de tecnologia visando à formação de profissionais para os diferentes setores da economia; cursos de licenciatura e programas especiais de formação pedagógica, com vistas à formação de professores para a educação básica (mínimo de 20% de suas vagas); cursos de bacharelado e engenharia, com à formação de profissionais para os diferentes setores da economia e áreas do conhecimento; cursos de pós-graduação lato sensu de aperfeiçoamento e especialização, para á formação de especialistas nas diferentes áreas do conhecimento e cursos de pós-graduação stricto sensu de mestrado e doutorado, que contribuam para promover o estabelecimento de bases sólidas em educação, ciência e tecnologia, com vista ao processo de geração e inovação tecnológica.
Ministrar cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores, nas modalidades presencial e à distância, objetivando a capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de profissionais, em todos os níveis de escolaridade, nas áreas da educação profissional e tecnológica;
Realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas, estendendo seus benefícios à comunidade;
Desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os segmentos sociais e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos;
Estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda, e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional;
Fomentar a cultura do empreendedorismo e de apoio à inovação tecnológica, em consonância com as ações em curso no Estado de Mato Grosso;
Apoiar a oferta do ensino de ciências nas escolas públicas das redes municipal e estadual.
As ações pertinentes ao plano de expansão da Rede Federal de Educação
Profissional e Tecnológica definida para o IFMT de modo a consolidar os objetivos
anteriores elencados, impõe o imperativo do mesmo atender a uma dinâmica
organizacional administrativa no sentido de efetivar as especificidades inerentes as
ações educativas concretas. Para que tal concretização seja efetivada em toda sua
complexidade, hoje o IFMT possui uma estrutura organizacional com ações setoriais
e conjuntas interligadas de tal forma que lhe permite atender a missão institucional,
a qual se destina.
Contudo, para o desenvolver das ações supra enunciadas é necessário existir
um corpo profissional capacitado para atuar tanto como segmente docentes quanto
os de técnicos administrativos, balizado pela natureza de cada uma das atribuições
que lhes são pertinentes nesse cenário institucional.
37
Assim, para que o IFMT atue com as demandas postas pela sociedade em
geral, o corpo administrativo mencionado conta com o/a profissional assistente
social, cujas atribuições específicas na instituição de ensino consistem em:
Descrição sumária do cargo:3
Prestar serviços sociais orientando indivíduos, famílias, comunidade e
instituições sobre direitos e deveres (normas, códigos e legislação),
serviços e recursos sociais e programas de educação;
Planejar, coordenar e avaliar planos, programas e projetos sociais em
diferentes áreas de atuação profissional (seguridade, educação, trabalho,
jurídica, habitação e outras);
Desempenhar tarefas administrativas e articular recursos financeiros
disponíveis;
Assessorar nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Descrição de atividades típicas do cargo:
Orientar indivíduos, famílias, grupos, comunidades e instituições:
Esclarecer dúvidas, orientar sobre direitos e deveres, acesso a direitos
instituídos, rotinas da instituição, cuidados especiais, serviços e recursos
sociais, normas, códigos e legislação e sobre processos, procedimentos e
técnicas; ensinar a otimização do uso de recursos; organizar e facilitar;
assessorar na elaboração de programas e projetos sociais; organizar
cursos, palestras, reuniões.
Planejar políticas sociais: Elaborar planos, programas e projetos
específicos; delimitar o problema; definir público-alvo, objetivos, metas e
metodologia; formular propostas; estabelecer prioridades e critérios de
atendimento; programar atividades.
3 Essas atribuições, bem como as atividades típicas do cargo, estão disponíveis na Coordenação de Gestão de Pessoas do IFMT. Constituem a descrição dos cargos autorizados pelo Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão para o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativo em Educação.
38
Pesquisar a realidade social: Realizar estudo sócio-econômico;
pesquisar interesses da população, perfil dos usuários, características da
área de atuação, informações in loco, entidades e instituições; realizar
pesquisas bibliográficas e documentais; estudar viabilidade de projetos
propostos; coletar, organizar, compilar, tabular e difundir dados.
Executar procedimentos técnicos: Registrar atendimentos; informar
situações-problema; requisitar acomodações e vagas em equipamentos
sociais da instituição; formular relatórios, pareceres técnicos, rotinas e
procedimentos; formular instrumental (formulários, questionários, etc).
Monitorar as ações em desenvolvimento: Acompanhar resultados da
execução de programas, projetos e planos; analisar as técnicas utilizadas;
apurar custos; verificar atendimento dos compromissos acordados com o
usuário; criar critérios e indicadores para avaliação; aplicar instrumentos
de avaliação; avaliar cumprimento dos objetivos e programas, projetos e
planos propostos; avaliar satisfação dos usuários.
Articular recursos disponíveis: Identificar equipamentos sociais
disponíveis na instituição; identificar recursos financeiros disponíveis;
negociar com outras entidades e instituições; formar uma rede de
atendimento; identificar vagas no mercado de trabalho para colocação de
discentes; realocar recursos disponíveis; participar de comissões técnicas.
Coordenar equipes e atividades: Coordenar projetos e grupos de
trabalho; recrutar e selecionar pessoal; participar do planejamento de
atividades de treinamento e avaliação de desempenho dos recursos
humanos da instituição.
Desempenhar tarefas administrativas: Cadastrar usuários, entidades e
recursos; controlar fluxo de documentos; administrar recursos financeiros;
controlar custos; controlar dados estatísticos.
Utilizar recursos de informática.
Executar outras tarefas de mesma natureza e nível de complexidade
associadas ao ambiente organizacional.
Ante o conjunto de atribuições e competências profissionais precípuas
atribuídas aos/as assistentes sociais, pelo IFMT conta com a prestação de serviços
39
dos mesmos nos seguintes campi: Reitoria, Cuiabá-Cel. Octayde Octayde Jorge da
Silva, São Vicente, Juína, Rondonópolis, Barra do Garças, Cáceres, Pontes e
Lacerda, Campo Novo do Parecis, Confresa, Sorriso e Primavera do Leste. As
distribuições dos/as profissionais podem ser visualizadas no gráfico a seguir:
Gráfico 1 - Distribuição de Assistentes Sociais/Campi – IFMT
Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pela autora – Julho de 2014
É pertinente reforçar que o objeto de estudo elegido, a atuação profissional
dos/as assistentes sociais no IFMT, faz presente em todos os itens e conteúdos
deste trabalho. Portanto, o mesmo voltará a ser tratado com o fim de manter a
unidade de pensamento adotada frente à temática em questão.
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Alta Floresta
Campo Novo do Parecis
Cuiabá-Bela Vista
Juína
Primavera do Leste
Rondonópolis
Sorriso
Quantidade
40
3 A PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL
A definição do objeto deste estudo requer a investigação mais acurada sobre
a atuação profissional dos/as profissionais do serviço social na particularidade da
Educação Profissional e Tecnológica (EPT), enquanto elemento central no debate
desta dissertação. Respalda esta forma de pensar, a necessidade de efetuar um
estudo analítico do tema selecionado, articulando a sua contextualização a ótica da
atual situação vivenciada pelo país, em tempos de mundialização do capital. E, sem
prescindir, das legislações pertinentes e, em especial, a modalidade de educação
citada, considerando o papel fundamental que assume no processo da relação
capital e trabalho vigente no mundo do trabalho do século XXI.
Na política de educação, alguns elementos são fundamentais para se pensar
a categoria educação no debate da agenda do Serviço Social e, sua inserção no
universo educacional da EPT no processo de redemocratização do Brasil.
Dede modo, faz se necessário registrar que o Serviço Social se organiza
como profissão na divisão social do trabalho, no bojo do desenvolvimento capitalista
industrial e da expansão urbana, com o surgimento de classes sociais e grupos de
forças que compartilham lutas com o poder do Estado em conjunturas que emerge a
questão social, e suas múltiplas expressões, com as quais se concretiza o processo
de profissionalização do/a assistente social e seu ingresso no cenário político da
sociedade.
Falar do surgimento e inserção desta profissão no processo de produção das
relações sociais, requer também falar das expressões da questão social que geram
implicações, a partir das contradições existentes, na sociedade e assim desvelam,
por inúmeras vezes, no exercício profissional do/a assistente social.
Assim, as elaborações teóricas que analisam as determinações da dinâmica
estrutural do capitalismo, com seus rebatimentos na educação em foco e, na
atuação dos/as assistentes sociais norteados pelo projeto ético-político profissional
da categoria, demonstram a relevância da discussão da temática para o Serviço
Social.
Discorrer sobre o desenvolvimento do Serviço Social e os seus impactos na
atuação profissional do/a assistente social, faz-se necessário recorrer à discussão
que aborda as particularidades históricas da profissão, bem como os desafios frente
à reestruturação produtiva, a expansão dos serviços no capitalismo, a produção
41
industrial de serviço, as influências do ideário neoliberal, dentre outras discussões, e
acima de tudo, associa-las a discussão do tema deste trabalho.
3.1 Serviço Social: particularidades históricas e teóricas
O surgimento do Serviço Social brasileiro, na década de 1930, concomitante
ao aprofundamento da crise do capitalismo, tem sua origem em meio a uma
conjuntura turbulenta, devido às profundas transformações econômicas e sociais da
época.
A crise nos anos 1929 e 1930 deu origem ao processo de reorganização das
esferas estatal e econômica no Brasil, que com a expansão da industrialização,
gerou uma intensa migração de pessoas para a área urbana que resultou em uma
gama de problemas sócio-econômicos, a exemplo o elevado número de
desemprego e redução salarial, também, decorrentes de uma crise econômica de
âmbito internacional jamais vista à época, afetando inclusive a bolsa de valores
norte americana, o mercado de importação e exportação como do café, e
rebatimentos nos serviços de megas proporções.
A crise do comércio internacional em 1929 e o movimento de outubro de 1930
representam um marco importante na trajetória da sociedade brasileira, um
“processo revolucionário”, tendo em vista a luta da classe operária por melhores
condições de trabalho, frente à exploração abusiva da sua força de trabalho.
Essas problemáticas societárias resultaram num processo de iniciativas de
intervenção social que procuravam o enfrentamento dessas situações, e que
necessitam da participação de alguns profissionais, dentre eles o/a assistente social,
habilitados/as para enfrentar as múltiplas formas de expressões da questão social,
as quais conformam aspectos de desigualdades, antagonismos e manifestações que
passaram a se fazer presente no cotidiano da estrutura social vigente.
De acordo com Iamamoto (2004, p. 77),
questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia [...].
42
Segundo Iamamoto (2004, p. 127), a implantação do Serviço Social não se dá
apenas como medidas coercitivas emanadas do Estado a fim de combater a questão
social, mas surge da iniciativa de grupos de classe que se manifesta por intermédio
da Igreja Católica.
Assim, pode se ousar dizer que a gênese da profissão do Serviço Social tem
elemento basilar dual a formatação, vinculada a questão social, sob lastros
conservadores, oriundos da iniciativa de movimentos leigos articulados à Igreja
Católica.
Esse período da década de 1930/1940, marca também, o protagonismo dos
movimentos operários que passam a requerer melhores condições de trabalho, de
vida em franco manifesto contrário à exploração de sua força de trabalho pelas
classes dominantes. Ou seja, contra a voracidade do capital pelo trabalho
excedente, visto que a burguesia, em seu processo de acúmulo de capital, utilizava
mecanismos de coerção e controle da reprodução da força de trabalho e
apropriação da produção excedente que geravam.
Nas análises de Iamamoto (2004, p. 36), “trabalho excedente é o trabalho não
pago apropriado pela classe capitalista, embora, o trabalho excedente não tenha
sido inventado pelo capital”. Contudo, onde quer que uma parte da sociedade
possua o monopólio dos meios de produção nos encontramos com o fenômeno de
que o trabalhador, livre ou escravizado, tem que acrescentar ao tempo de trabalho
necessário para poder viver uma quantidade de tempo suplementar, durante o qual
trabalha para produzir os meios de vida destinados e a riqueza acumulada do
proprietário dos meios de produção.
Algumas parcelas da população industrial viviam em situações angustiantes,
pois os salários recebidos eram ínfimos, as mulheres e crianças eram submetidas
como complemento da força de trabalho subjugada a extensas horas de trabalho e
sem direito a férias, a seguro e quaisquer outras formas protetivas. Neste momento
entra em cena e com destaque a organização de luta do proletariado para defesa de
seus interesses com significativo protagonismo político para aquele tempo.
43
Na década de 1930, o Serviço Social, como profissão, segundo Paulo Netto
(2011, p. 18), se investe em condutas filantrópicas e assistencialistas que
convencionalmente se consideram as suas protoformas4
No prisma dessa interlocução, afirma Iamamoto (2004, p. 21), que as ações
da profissão, nesse período “mantinham um caráter técnico-instrumental de cunho
conservador com o intuito de organizar o proletariado”, adaptá-lo ao contexto
capitalista sem causar maiores transtornos e ameaças ao sistema vigente. O
conservadorismo não contesta o capital, obscurece as contradições do capitalismo,
favorece a manutenção e a reprodução de relações desiguais, pois, essa ordem
utiliza vários mecanismos para obter o consentimento da classe subalterna à sua
nova lógica.
O cenário conturbado das décadas de 1940/1950 e as ações do proletariado
pressionam o Estado a incorporar parte das reivindicações populares, por meio das
instituições assistenciais, regulamentando não só a força de trabalho, mas também
estabelecendo e controlando políticas sociais assistenciais direcionadas às classes
subalternas. Situação que proporcionou a expansão das instituições sócio-
assistenciais, no exato momento em que a profissão é legitimada dentro da divisão
social e técnica do trabalho.
Em decorrência desse momento, amplia-se o mercado de atuação
direcionado aos/as assistentes sociais que, passa a ter como principal demanda,
não só pequenas parcelas vulnerabilizadas, mas amplos setores da classe
trabalhadora, cujos elementos são partes constitutivas do processo de
institucionalização do Serviço Social.
Mudanças que seguem seu curso até início dos anos 60, quando surge uma
renovação no âmbito da profissão, que consiste em repensar sua atuação teórico-
prática, política e ética, de forma abrangente e plural, assim expressos por
Iamamoto (2001, p. 203),
[…] a abertura para mais longe – para o amplo horizonte do movimento da sociedade – é que torna possível iluminar as próprias particularidades do Serviço Social, apreendendo-o na trama de relações que explicam sua gênese, seu desenvolvimento, seus limites e possibilidades.
4 Entende-se por protoformas, ações das instituições surgidas após a Primeira Guerra Mundial que favoreceram a criação das primeiras escolas de Serviço Social na década de 1930.
44
Renovação chamada de “Movimento de Reconceituação”, que eclodiu na
América Latina, com o intuito decisivo de desencadear o processo de revisão crítica
do Serviço Social, em uma primeira aproximação com o debate da tradição marxista
no contexto brasileiro, pondo em cheque o conservadorismo e tradicionalismo que
pautavam o agir profissional até o momento.
Em que pese o processo aventado, ter emergido desnudando a necessidade
interna da profissão se repensar numa perspectiva modernizadora, mas, na
realidade sua prática era de cunho conservador em função do regime ditatorial
vigente. Houve avanços com os movimentos sociais e os tecnológicos, mas, sem
esquecer de registrar que o foram ainda de maneira tímida, pois prevalecia o ideário
de trabalhar o indivíduo na perspectiva de ajustar a sociedade, pois a estrutura posta
era perfeita, o ser em desarmonia, desajustado com o meio em que vivia.
Dos elementos apontados nas décadas de 1930,1960 e na década de 1980 é
importante registrar que essas discussões da categoria profissional, nessa última,
foram pertinentes para legitimar a profissão e ainda buscar a ruptura da prática
conservadora, construindo uma possível intervenção estatal pós-crise capitalista,
nos dizeres,
Os anos 1980 foram marcados por uma revolução tecnológica e organizacional na produção […], da corrida tecnológica em busca do diferencial de produtividade do trabalho, como fonte de superlucros; pela mundialização da economia, diga-se, uma reformulação das estratégias empresariais e dos países no âmbito do mercado mundial de mercadorias e capitais, que implica uma divisão do trabalho e uma relação centro/periferia, combinada ao processo de financeirização; e pelo ajuste neoliberal, especialmente com um novo perfil das políticas econômicas e industriais desenvolvidas pelos estados nacionais, bem como um novo padrão da relação Estado/sociedade civil, com fortes implicações para o desenvolvimento de políticas públicas, para a democracia e para o ambiente intelectual e moral (BEHRING, 2008, p. 34).
Diante do contexto histórico e político no qual se apresenta a questão social,
é que o capitalismo, pelas suas dinâmicas e contradições, cria condições para que o
Estado legitime suas ações por meio das mencionadas políticas sociais. As políticas
públicas, a partir das transformações econômicas, tais como globalização,
precarização das relações de trabalho, se enfraquecem e facilitam a ascensão das
políticas privadas, e não governamentais, em cobertura ao distanciamento e vácuo
deixado pelo Estado, cada vez mais tem se eximido do cumprimento de seu papel
junto a sociedade.
45
Essa ótica é também embasada por Behring e Boschetti (2011, p. 43), ao
afirmar que para analisar a política social em seu complexo e contraditório processo
de produção e reprodução, deve-se considerar suas múltiplas causalidades e
conexões internas evidenciadas a seguir,
Do ponto de vista histórico, é preciso relacionar o surgimento da política social às expressões da questão social que possuem papel determinante em sua origem. Do ponto de vista econômico, faz-se necessário estabelecer relações da política social com as questões estruturais da economia e seus efeitos para as condições de produção e reprodução da vida da classe trabalhadora. Do ponto de vista político, preocupa-se em reconhecer e identificar as posições tomadas pelas forças políticas em confronto, desde o papel do Estado até a atuação de grupos que constituem as classes sociais e cuja ação é determinada pelos interesses da classe em que se situam.
Em consonância com a afirmação acima, depreende-se que na sociedade
capitalista contemporânea, as políticas sociais são expressões concretas das
contradições e dos antagonismos presentes nas relações entre as classes e destas
com o Estado que molda sua resposta de modo a,
Através da política social, o Estado burguês no capitalismo monopolista procura administrar as expressões da ‘questão social’ de forma a atender às demandas da ordem monopólica conformando, pela adesão que recebe de categorias e setores cujas demandas incorpora, sistemas de consenso variáveis, mas operantes (PAULO NETTO, 2011, p. 30).
A intervenção do Estado, por meio das políticas sociais, atualmente são
efetivadas de forma fragmentada e parcializada, atuando em problemáticas
pontuais, enquanto estratégia do próprio capital, sem considerar a estrutura em sua
totalidade, pois a problemática maior se dá na contradição entre capital e trabalho,
que renova suas táticas predadoras a nova crise cíclica que afeta de tempos em
tempos.
Atualmente essa contradição, marcada pela mundialização do capital e seu
processo de acumulação, está cada vez mais crescente e impactam as condições
de vida dos/as trabalhadores que passam a fazer parte do chamado “exército
industrial de reserva”.
Este processo de contradição se constitui em um espaço de atuação do
Serviço Social, cujos profissionais assumem uma postura atenta a toda essa
configuração social, política e econômica que permeia a realidade brasileira e,
46
consequentemente, na prestação de seus serviços. Consequências que tem exigido
cada vez mais aos profissionais, buscarem capacitação permanente para enfrentar
as demandas dadas pela realidade social, na ótica dos direitos. Portanto, a essa
profissão exige-se,
[...] que reforce e amplie a sua competência crítica; não só executivo, mas que pensa, analisa, pesquisa e decifra a realidade. Alimentado por uma atitude investigativa, o exercício profissional cotidiano tem ampliadas as possibilidades de vislumbrar novas alternativas de trabalho nesse momento de profundas alterações na vida em sociedade. O novo perfil que busca construir é de um profissional afinado com a análise dos processos sociais, tanto em suas dimensões macroscópicas quanto em suas manifestações quotidianas; um profissional criativo e inventivo, capaz de entender o tempo presente, os homens presentes, a vida presente e nela atuar, contribuindo, também, para moldar os rumos de sua história (IAMAMOTO, 2001, p. 49).
Posicionamento crítico exigido do/a assistente social frente à conjuntura
político-econômica cada vez mais evidenciada pelas manifestações reivindicatórias
de direitos postos em curso pelos movimentos sociais e manifestações populares
em geral. Dessa forma, a profissão passa a se articular a movimentos de ordem
geral mais amplo, vinculando-se a projetos que envolvem não só a categoria, mas
outras profissões que comungam do mesmo projeto ético-político e a sociedade de
uma forma mais ampla.
O Projeto ético-político do Serviço Social que começou a ser engendrado no
final da década de 1970 e sua consolidação nos anos 1990, precisamente em 1993
com a elaboração do Código de Ética Profissional dos/as Assistentes Sociais,
compreendem concepções, valores e compromissos éticos, baseados em direitos,
deveres e sanções, cujo princípio fundante é a liberdade para uma emancipação.
Esses aportes aliam-se ao projeto societário assumido pelos/as profissionais
em defesa de uma sociedade justa e igualitária, e mecanismos relacionados à
qualidade dos serviços prestados a população e os direitos humanos dos usuários.
Com esse avanço, parte da categoria dos profissionais abandona o praticismo
tradicional, ou seja, a prática não refletida, para iniciar a discussão do pluralismo,
enquanto fenômeno social e político, de matrizes teóricas que consistem em discutir
a construção do conhecimento respeitando as diferenças existentes na formação
societária mais ampla.
Para caracterizar a atuação do/a assistente social, na atualidade é preciso
diferenciar o profissional, que partilha de um “projeto profissional enraizado no
47
processo histórico e apoiado em valores radicalmente humano” (IAMAMOTO, 2009,
p. 342).
No entanto, apesar dessa nova direção assumida pela quase totalidade da
categoria profissional não se pode esquecer de registrar que os trabalhos
desenvolvidos, possuem particularidades, pois em respeito a diferença existente,
parcelas de profissionais discordam e distanciam dessa matriz majoritária no seio do
serviço Social. Os profissionais na proporção equacionada, consideram sua atuação
pautada pelo projeto citado e tem como categoria central a concepção de um núcleo
indicativo de valores fundamentais e coletivos a serem alcançados no cotidiano
institucional, de acordo com a passagem teórica assim elaborada,
O/A assistente social ingressa nas instituições empregadoras como parte de um coletivo de trabalhadores que implementa as ações institucionais/empresariais, cujo resultado final é fruto de um trabalho combinado ou cooperativo, que assume perfis diferenciados nos vários espaços ocupacionais (IAMAMOTO, 2009, p. 352).
Vale ressaltar que neste contexto, é um grande desafio para a profissão
consolidar sua atuação com qualidade, tendo em vista o citado retraimento do
Estado frente à responsabilização em relação às políticas sociais e a expansão dos
direitos sociais.
3.2 A centralidade da atuação profissional do/a assistente social na
contemporaneidade
O padrão de desenvolvimento econômico e social, aliado a expansão do
capital, prevê novas necessidades na dinâmica da sociedade brasileira, bem como
aos profissionais de Serviço Social no que tange a apreensão do significado social
da profissão. De acordo com Brites e Sales (2003, p. 21), “surge num cenário de
efervescência social e política de emergência de um conjunto de forças sociais que
questionavam a ordem social vigente” e a visão do ser social, suas capacidades
essenciais construídas no processo das relações sociais desenvolvidas
historicamente. Aspectos que são constitutivos da profissão e vão sendo definidos a
partir do próprio movimento impresso no curso da história. Assim, é de suma
importância compreender a gênese da profissão, seus referenciais teórico-
48
metodológicos, a dimensão ética e política que a abaliza para entender a dinâmica
profissional na atualidade.
Porém, quando se fala em atuação profissional do/a assistente social, requer
remeter a categoria trabalho. Montaño (apud LUKÁCS, 2011) aponta o “trabalho
como uma atividade criadora teleologicamente orientada”. Concepção que
caracteriza o trabalho como parte da constituição do ser social, pois este possui
capacidade de elaborar no campo da ideia, liberdade de escolher a atividade a ser
realizada, com condições de prever o resultado. Frente ao complexo processo das
relações travadas entre os homens, seres sociais na sociedade capitalista ao
analisar a categoria trabalho nesse modo de produção, requer ressuscitar autores
clássicos, os primeiros a nos legar suas contribuições reflexivas sobre a categoria
trabalho e as usual do Serviço Social.
No modo de produção em pauta, o trabalho é visto como uma atividade que
cria valor, que se realiza pelo comando do capital, reforçando assim, aventada
subsunção do trabalho ao capital, como mostra o autor a seguir,
[...] essa relação (entre capital e trabalho), longe de realizar a ‘liberdade’, é uma relação de exploração e alienação. Portanto, o trabalho, ontologicamente determinante do ser social e da liberdade, na sociedade comandada pelo capital promove a exploração e alienação do trabalhador – o trabalho assalariado, portanto, desumaniza o trabalhador (MONTAÑO, 2011, p. 81).
No século XX, a sociedade brasileira, observou fenômenos marcantes,
tangente a análise da categoria trabalho nesse prisma dual contido na afirmação
acima mais especificamente aos seus desdobramentos, impactos sob o comando do
capital. Dentre eles constam a abertura comercial, fusões e aquisições de grandes
empresas, movimento de mercantilização e liberação dos fluxos internacionais,
dando abertura ao processo de reestruturação produtiva.
O processo de reestruturação interfere de forma férrea nas esferas da
produção, com vistas a aumentar as taxas de lucro e o uso de novas tecnologias; na
esfera da circulação, pertinente à reorganização do mercado consumidor e na esfera
sócio-política e institucional através da implementação de mecanismos que regulem
as relações sociais de trabalho e produção. Reestruturação que por suas bases
fundantes, ancoradas no ideário neoliberal, consequentemente, seus princípios se
49
norteiam pela regulação estatal mínima, objetivando um reordenamento societário
sob o domínio do capital.
Esses processos são cada vez menos capazes de gerar empregos para
população economicamente ativa, contribuindo para aumentar o número de
desemprego, atualmente no sentido estrutural. Assim, aprende-se que o
[...] processo de trabalho submete-se à lei geral da acumulação capitalista, mostrando uma tendência decrescente da parte variável do capital (a força de trabalho). O resultado: maior desemprego e subemprego (MONTAÑO, 2011, p. 81).
Assim o mundo do trabalho, composto majoritariamente por segmento
desprotegido, torna-se núcleo central das políticas sociais, tendo em vista que estas
são concebidas como um mecanismo de intervenção e regulação do Estado, datado
do processo de mudança do capitalismo concorrencial para o monopolista. Fase
cujo objetivo constitui em garantir lucros aos monopólios, determinando um conjunto
de necessidades sócio-econômicas e políticas, originárias das relações entre capital
e trabalho5. Nos dizeres de um dos mais profícuos interlocutores da matriz de
pensamento,
[...] o capitalismo monopolista recoloca, em patamar mais alto, o sistema totalizante de contradições que confere à ordem burguesa os seus traços basilares de exploração, alienação e transitoriedade histórica, todos eles desvelados pela crítica marxiana (PAULO NETTO, 2011, p. 19).
Portanto, nessa fase acima aludida por Paulo Netto, as lutas de classes,
instrumentos para apresentar as contradições e diminuir a desigualdade, assumem
papel de grande relevância ao revelar a revolta dos trabalhadores e sua luta para
enfrentar as adversidades advindas da exploração do trabalho. A qual se concretiza
porque esses trabalhadores, que não possuem os meios de produção, são
obrigados a vender sua força de trabalho em troca de um salário que satisfaça suas
necessidades básicas.
5 O período de transição do capitalismo concorrencial para a fase monopolista gerou a publicização de alguns aspectos da condição de trabalho, saúde do trabalhador, no qual o Estado teve que intervir de forma ampla, na regulação e proteção do trabalho, pois possuíam necessidades estruturais advindas do processo de acumulação capitalista e os conflitos de classe.
50
Segundo os autores citados, a consciência de classe está imbricada neste
processo, e, que se torna visível, ao se efetivar a análise da própria realidade, a
partir da constituição interna do indivíduo em sua objetividade e subjetividade,
levando em consideração inclusive o espaço da alienação cotidiana em que viva e
do modo assim descrito,
[...] ao superar a mera percepção imediata e parcial da realidade e a alienada vida cotidiana sob hegemonia do capital, desmistificando a ideologia hegemônica, desenvolve-se uma consciência humano-genérica, em que se dá o trânsito de uma consciência-em-si para uma consciência-para-si. Desenvolve-se uma consciência de classe (MONTAÑO, 2011, p. 110).
Dessas colocações, depreende-se que a atuação profissional do/a assistente
social não está fora das determinações do processo estrutural do capitalismo, visto
que os profissionais são trabalhadores assalariados, pois se “inserem numa relação
de compra e venda de mercadorias em que sua força de trabalho é mercantilizada”,
conforme afirma Iamamoto (2004, p. 85).
Diante desse processo do capitalismo monopolista, Almeida e Alencar fazem
uma análise como exposto abaixo,
[...] o Serviço Social é apreendido como uma profissão que se institucionaliza em função das particularidades assumidas pela dinâmica das classes sociais e do Estado em um contexto bastante singular de consolidação e expansão do capitalismo monopolista. Deste modo, inaugura uma forma de percepção desta institucionalidade que ultrapassa e nega as elaborações endógenas à profissão, buscando um quadro analítico no qual a dinâmica entre produção e reprodução social constitui uma unidade dialética e a mediação política e econômica do Estado ganha destacado significado para situar a natureza do Serviço Social no circuito das profissões e das relações sociais necessárias à reprodução do modo de produção capitalista (ALMEIDA; ALENCAR, 2011, p. 123)
Esta-se a corroborar que o percurso histórico do Serviço Social é marcado
pela dinâmica das classes sociais e pelo modo como o Estado opera suas ações.
Nesta trajetória são observadas as reiteradas contradições advindas da relação
entre capital e trabalho em meio a uma arena de disputas societárias, no qual se dá
o movimento de organização da profissão, conforme ainda apontada por Almeida e
Alencar (2011, p. 120),
51
[...] desse modo, a profissão caracteriza-se a partir da combinação entre seu movimento político-organizativo interno e os processos afetos à dinâmica da reprodução social em sentido amplo, ou seja, como totalidade concreta na qual as relações sociais criam e recriam as condições necessárias à continuidade do modo de produção capitalista, e em sentido estrito, no que se refere aos mecanismos de reprodução material e espiritual da força de trabalho.
A partir dessa caracterização acima citada, o Serviço Social passa a assumir
novas relações que se desvelam no caráter interventivo e educativo da profissão,
que requer atenção ao movimento do capital, conforme é preconizado a seguir,
O Serviço Social se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida na divisão social do trabalho, tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana, processos esses aqui apreendidos sob ângulo das novas classes sociais emergentes – a constituição e expansão do proletariado e da burguesia industrial – e das modificações verificadas na composição dos grupos e frações de classes que compartilham o poder do Estado em conjunturas históricas específicas (IAMAMOTO, 2004, p. 77).
Decorrente da percepção analítico-crítica é que se considera como o Estado
se coloca a respeito da oferta de serviços sociais, que embora no plano do discurso
oficial preconize o atendimento dos direitos à população a qual se destina suas
ações, na prática, estudos históricos evidenciam, na íntegra, que não são
direcionadas, realmente, a todos os indivíduos que deles necessitam. Prevalecem
na prestação de serviços, critérios extremamente seletivos, pontuais e focalizados e
não emancipatórios. As políticas se voltam à atender em maior número os que estão
em uma zona de extrema pobreza, apenas na concepção de ter acesso mínimo à
sua sobrevivência cada vez mais em condições pauperizadas.
Na atualidade, para entender as transformações na esfera do trabalho e dos
serviços é de extrema importância conhecer às bases do ideário neoliberal e seus
princípios que se norteiam pela regulação estatal mínima, objetivando um
reordenamento societário sob o domínio do capital. Determinações que trazem
graves consequências para a vida cotidiana dos/as trabalhadores, tais como a perda
de direitos trabalhistas conquistados, precarização do trabalho, aumento do
desemprego, do subemprego, corte nos gastos sociais, promulgação de legislação
anti-sindical, privatizações em geral e fusões empresariais diversas.
As mudanças elencadas convocam a categoria profissional para engajar em
novas proposições e compromissos com a luta contra o avanço neoliberal. Cujas
52
transformações societárias que ao mesmo tempo modificam a realidade
contemporânea das pessoas, também impactam o exercício profissional do Serviço
Social.
Os/as assistentes sociais comprometidos com a consolidação do Estado
democrático dos direitos requer o fortalecimento de uma intervenção crítica,
autônoma, ética e politicamente comprometida com a classe trabalhadora e com as
organizações populares de defesa dos direitos.
Nesse sentido, a reflexão de atuação profissional sobre a política de
educação profissional, perpassa as temáticas com as quais o/a profissional trabalha
no cumprimento de suas atribuições, frente às atividades que desenvolve.
Assim, pode-se apreender que a conexão do Serviço Social e educação
ocorrem quando o segundo ocupa um lugar central no âmbito das lutas sociais
voltadas a busca da superação das mazelas causadas pelo capital com as mais
diversas formas de opressão. Área que comporta trabalho multidisciplinar entre
educadores e profissionais da área social, dado a complexidade multifacéticas dessa
realidade se expressar e, que conclamam ações efetivas possibilitadoras de minorar
as referidas mazelas e transformar os efeitos lesivos e danosos causados.
3.3 A política de educação na agenda do serviço social
O debate da inserção do Serviço Social na área da educação está presente
há décadas na agenda no tocante a expansão do exercício profissional para
diversos espaços sócio ocupacionais compatíveis com o desenvolvimento das
competências e atribuições que são inerentes a profissão, quando o Brasil começa a
enfrentar novas expressões da questão social, particularmente as de cunho sócio-
econômico eclodidas no decênio de 1930. Período em que a educação passa a ser
reconhecida como questão nacional, se rememorar que a Constituição Federal de
1934, determinava no art. 5º item XIV – Traçar as diretrizes da educação nacional.
Ao partir do marco constitucional de 1934 e aproxima-lo da verve analítica da
premissa basilar de fundamentação da Constituição Federal de 1988, ao promulgar
a educação como “direito de todos e dever do Estado e da família, a ser promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
cidadania e à sua qualificação para o trabalho”, verifica-se plena concordância com
53
o projeto ético político profissional do Serviço Social que além desta contempla
outras questões.
Sobre os direitos de cidadania, Coutinho (2005, p. 12), aponta que,
[...] os direitos de cidadania são precisamente o que Marshall chamou de direitos sociais (uma designação que pode levar a equívocos, já que todos os direitos, inclusive os civis e políticos, são sociais por sua origem e vigência). [...] Os direitos sociais são os que permitem ao cidadão uma participação mínima na riqueza material e espiritual criada pela coletividade. (Esse mínimo, seguindo o que Marx já havia estabelecido em relação ao salário, não deve ser concebido apenas com base em parâmetros naturais, biológicos, mas deve ser definido, sobretudo historicamente, como resultado das lutas sociais).
No entanto, Almeida e Alencar (2011, p. 5), aponta que, “é a partir da década
de 1990, [...] se visualiza, no Brasil, um considerável aumento de profissionais do
Serviço Social na área da educação.”
Assim, na década de 1990 como afirma a política de educação ganha
destaque nos espaços de discussão da categoria do Serviço Social,
especificamente, por meio dos Encontros Nacionais do conjunto CFESS/CRESS, e
também de Comissões e Grupo de trabalho, criados pelos mesmos, para discutir e
elaborar documentos normativos sobre a temática para que os conselhos
orientassem a categoria quanto a um posicionamento oficial6.
Portanto, a política de educação no Brasil é um legítimo espaço de disputa
entre as classes sociais, conforme ocorre ao longo das mudanças que marcam a
trajetória histórica desse importante setor da formação societária. Sua constituição
tem se dado no discurso das elaborações de plano de desenvolvimento que
orientam a erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar,
melhoria na qualidade do ensino, dentre outros aspectos de relevância que em
suma, significam a própria constituição do ser social enquanto cidadão de direitos.
Entretanto, é interessante registrar que todas as orientações processadas
nesse setor da educação, advieram de exigências dos organismos internacionais,
como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, nas últimas décadas do
6 Toda trajetória de discussão dos Encontros Nacionais do conjunto do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) - Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) com relação a educação pode ser estudada no documento intitulado Subsídios para o Debate do Serviço Social na Educação, elaborado em 2011, pelo Grupo de Trabalho do CFESS com composição de representantes dos CRESS de todas as regiões do Brasil.
54
século XX. Na atualidade, oferecem coordenadas para o Ministério da Educação a
partir de conceitos e demandas a serviço do modelo produtivo hegemônico
concebido por essa ingerência externa no país. Na realidade, a relação entre o
Banco Mundial e as políticas educacionais brasileiras é pautada pelos ditames do
primeiro, considerando que se trata de um país periférico em fase de
desenvolvimento, cujo resultado remonta a uma parceria de três décadas e diversos
enfoques, decorrentes do processo de reestruturação tecnológica e dos programas
de ajustes estruturais efetivados.
Pereira (2000, p. 159), afirma que o período neoliberal, “foi o período da
proteção social brasileira que mais enfaticamente incorporou as determinações
externas de mudanças econômicas e políticas”.
É inegável admitir a contribuição do Estado para com o processo de
subsunção do trabalho ao capital, inclusive na área de educação, no contexto das
transformações do mundo do trabalho com o advento da reestruturação produtiva do
capital e da crise do paradigma de regulação keyneziano-fordista, na emergência do
neoliberalismo.
Ritos de passagem que, segundo Antunes (2011, p. 24), revelam,
Novos processos de trabalho emergem, onde o cronômetro e a produção em série e de massa são substituídos pela flexibilização da produção, pela especialização flexível, por novos padrões de busca de produtividade, por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado.
O conjunto de novos processos de trabalho geram uma gama de impactos e
transformações no eixo e no significado que a educação tem adquirido frente às
profundas alterações estruturais. No entanto, igualmente verídico, é afirmar que as
alterações nos procedimentos de trabalho não apontam para a superação das
relações capitalistas em sua essência, que consiste em obter a exploração do
trabalho humano e o total controle privado dos meios de produção.
Diante das explicitações anteriores e mediante as coordenadas do CFESS e
CRESS, na atualidade é possível afirmar que,
As demandas apresentadas aos/as assistentes sociais em relação à educação nunca estiveram limitadas a uma inserção restrita aos estabelecimentos educacionais tradicionais, sendo acionadas também a partir das instituições do poder judiciário, das empresas, das instituições de qualificação da força de trabalho juvenil e adulta, pelos movimentos sociais,
55
entre outras, envolvendo tanto o campo da educação formal como as práticas no campo da educação popular (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012, p. 16).
Assim, cabe afirmar que a educação possui uma função importante no
processo de reprodução social e emergência das contradições advindas da relação
complexa entre capital e trabalho, enfrentada pelos educadores em geral e, por
desdobramento aos/as assistentes sociais que trabalham nessa área. Afirmação que
pode ser apreendida na reflexão de Frigotto (2008, p. 14) “tanto a educação quanto
o profissional de Serviço Social e o objeto de sua prática são práticas sociais”. Ou
seja, estão no cerne das relações sociais, do contexto histórico, na sociedade
capitalista, e demais espaços e formas sociais onde essa práxis é realizada.
No entanto, mesmo com inúmeras reformas educacionais em sua trajetória
histórica, os problemas estruturais persistem e se tornam transversais nas demais
temáticas recorrentes ou emergentes na realidade social, política, econômica e
cultural brasileira. Dentre eles constam, os mais baixos índices de rendimento,
evasão escolar, desinteresse pelo aprendizado, indisciplina, violência de formas e
graus diversos, uso e tráfico de drogas e muitas outras questões que clamam
enfrentamento das três esferas de governo: federal, estadual e municipal.
Assim, o aumento da inserção do Serviço Social na área educacional se
efetiva a partir da década de 1990. Expressa o aprofundamento dessa reflexão em
consonância com o projeto ético político profissional, respaldado pelos instrumentos
legais ora rememorados, a Lei 8.662 de 1993 e o Código de Ética do Serviço Social
de 1993, que legaliza, normatiza e orienta as particularidades do trabalho
profissional do/a assistente social. Recorda-se que ambos estão vigentes e,
sancionados em 1993, estabelecem marcos legais, parâmetros ético políticos,
técnicos e operativos relacionados à atuação profissional do Serviço Social.
Propugnam também a defesa dos direitos humanos, a ampliação e efetivação da
cidadania por meio da consolidação dos direitos civis, sociais e políticos sempre
pautados pelos princípios de liberdade, democracia, equidade e justiça social.
No processo histórico do Serviço Social, a luta para a inserção na área da
educação, teve avanços significativos, todavia, ainda é um campo árduo e árido que
apresenta grandes dificuldades e incertezas apesar da crescente parcela de
profissionais dedicados a mesma no Brasil. Há décadas, esse debate foi posto em
cena com a luta pela efetivação do direito social a educação e, a consolidação do
56
Serviço Social no âmbito desta política pública. Ratifica-se as reivindicações em
defesa de uma intervenção de qualidade dos serviços prestados a esse público alvo,
a partir do domínio e aprofundamento teórico-metodológico, compromissado com a
ética e a reiterada política de qualificação técnico-operativa, enquanto competências
e elementos indissociáveis da formação e exercício profissional, conforme aponta
Lewgoy (2010, p. 149),
A dimensão ético-política, atenta à finalidade da ação e do compromisso profissional, é elemento mediador constituído por postura crítico-interventiva sobre os fundamentos e o sentido atribuído aos conteúdos, ao método, aos objetivos, tendo como referência a afirmação dos direitos. Vincula-se à dimensão teórico-metodológica, que articula teoria-método e metodologia e privilegia a história social como terreno germinador das demandas e das possibilidades do conhecimento e das práticas. Ambas as dimensões atrelam à técnico-operativa, que, caracterizada pelo domínio dos conteúdos de sua área específica de conhecimento, é uma instância de passagem que permite a realização da trajetória da concepção da ação à sua operacionalização.
Das reflexões disponibilizadas por Iamamoto, a inserção do Serviço Social
nos organismos institucionais são deportadas algumas características da prática
profissional que conformam um perfil peculiar ao Serviço Social, onde essa inerência
abaixo se desvela como,
[...] o Assistente Social vinculado, no exercício profissional, a organismos estatais, paraestatais ou privados, dedica-se ao planejamento, operacionalização e viabilização dos serviços sociais à população. Exerce funções tanto de suporte à racionalização do funcionamento dessas entidades, como funções técnicas propriamente ditas. Do ponto de vista da demanda, o Assistente Social é chamado a constituir-se no agente intelectual de ‘linha de frente’ nas relações entre instituição e população, entre os serviços prestados e a solicitação dos mesmos serviços pelos interessados (IAMAMOTO, 1992, p. 100).
Este papel citado acima, impõe desafio ímpar de discutir o Serviço Social na
esfera educacional para além do entendimento da educação restrita ao ambiente
escolar, mas, considerando-o com as múltiplas expressões que se manifestam
cotidianamente nesse espaço e correlaciona-las aos impactos globalizantes
causados na contemporaneidade.
É assim que o Serviço Social, na área da educação profissional e tecnológica
ganha concretude, à medida que via o atendimento direto da população, revestidas
de significados e consequências que extrapolam o âmbito escolar, e atinge o familiar
57
e societário em geral. Imbricações que Santana (2008, p. 24) pontua que há de se
olhar também outro ângulo de atuação dos/as assistentes sociais na política
educacional abarcando outras dimensões mais amplas, inclusas as de
planejamento, gerência e/ou coordenação. Para Teixeira (2009, p. 554) diz,
O Serviço Social vem alçando funções de coordenação e liderança em vários espaços do Poder Judiciário, Executivo e Legislativo, precisando estar preparado para os trabalhos de gestão e planejamento que lhe atribuem. A cada Ministério, a cada Secretaria e a cada órgão está composta a responsabilidade de elaborar suas políticas, seus planos, programas e projetos e de supervisionar serviços e benefícios.
Fica evidente que os/as profissionais do Serviço Social em sua atuação
profissional, possuem condições de atribuir valor ético a sua prática efetiva e
consciente, através dos posicionamentos políticos assumidos pela categoria
coletivamente que em suma refere-se a própria natureza ética profissional do
Serviço Social, vez que,
A ética profissional se objetiva como ação moral, através da prática profissional, como normatização de deveres e valores, através do código de ética profissional, como teorização ética, através das filosofias e teorias que fundamentam sua intervenção e reflexão e como ação ética e política. Cabe destacar que essas não são formas puras e/ou absolutas e que sua realização depende de uma série de determinações, não se constituindo na mera reprodução da intenção dos seus sujeitos (BARROCO, 2009, p. 175).
Ante a concepção acima, é pertinente indagar, quais são as principais
demandas apresentadas para o Serviço Social que no intrincado das relações
travadas no espaço educacional em pauta lhe permite por em prática esse
ordenamento profissional? E quais os desafios e as particularidades para efetivação
dessa concepção ética política pelo Serviço Social na escola?
A égide dessa reflexão, entende ser de extrema importância discutir a
natureza, conteúdo e direção que a política social de educação contem, e também,
com o Serviço Social, nela se coloca no intento de evitar o equívoco de caber ao/a
assistente social solucionar os problemas de todas e quaisquer ordens correntes na
instituição, mas no seio destas, fortalecer sua identidade profissional frente aos/as
outros/as profissionais com as quais fazem a interlocução nessa aera. Portanto, não
é redundante reafirmar que atualmente são muitas as discussões sobre as
diferentes formas que as expressões da questão social vem atravessando o
58
cotidiano do universo educacional, implicando ter sempre presente a contribuição de
Behring (2009, p. 273),
[...] uma interpretação da questão social como elemento constitutivo da relação entre a profissão e a realidade social na linha adotada pelas diretrizes tem algumas implicações. Trata-se de imprimir historicidade a esse conceito, o que significa observar seus nexos causais, relacionados, às formas da produção e reprodução sociais capitalistas no capitalismo. [...] E o debate deve incorporar, necessariamente, os componentes de resistência e de ruptura presentes nas expressões e na constituição de formas de enfrentamento da questão social, ou seja, este conceito está impregnado de luta de classes, sem o que se pode recair no culto da técnica, numa política social de controle sobre os trabalhadores pobres, e não de viabilização de direitos.
Concepção que justifica aos/as profissionais do Serviço Social, imprimir a sua
atuação em áreas complexas, todo o vigor desses parâmetros que lhes possibilite
efetivamente agir frente à desigualdade social que abarca a sociedade atual como
um todo.
Dentre os desafios e desdobramentos apresentados à profissão, os/as
assistentes sociais, na política educacional, assumem a proposição de vincular a
concepção de educação e de sociedade tendo como referência à construção de uma
nova ordem societária, que “supõe a erradicação de todos os processos de
exploração, opressão e alienação” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL,
2011, p. 22).
Dada a essa concepção, a área educacional reafirma-se como importante
espaço de atuação profissional para o Serviço Social à medida que, as expressões
da questão social se manifestam, também, em toda sua diversidade nessa
ambiência, principalmente ao imprimir uma atitude teórico-metodológica analítica,
crítica e propositiva que contemple a historicidade a fim de evitar nortear pelo senso
comum, possibilitando construir reflexões teóricas mais contributivas à realidade na
ótica de totalidade e, desta forma, objetivar-se assertivamente ações de qualidade
no exercício profissional às demandas recebidas.
Há que rememorar, que os trabalhos desenvolvidos pelos/as assistentes
sociais com suas respectivas particularidades, não perdem de vista as normativas
presentes no projeto ético-político profissional, possuidor de um núcleo indicativo de
valores fundamentais e históricos a serem alcançados e, consolidados no cotidiano
institucional, porque na ótica da autora a seguir citada ocorre que,
59
O/A assistente social ingressa nas instituições empregadoras como parte de um coletivo de trabalhadores que implementa as ações institucionais/empresariais, cujo resultado final é fruto de um trabalho combinado ou cooperativo, que assume perfis diferenciados nos vários espaços ocupacionais (IAMAMOTO, 2009, p. 352).
Assim, ratifica-se que o Serviço Social inserido na esfera pública, busca a
ampliação dos direitos, em um contexto repleto de dificuldades operacionais
concretas referentes ao que é postulado em seu projeto ético político, em função das
mudanças ocorridas na sociedade brasileira.
Dentre estas, vale recordar as recentes medidas apontadas em itens
anteriores como o Programa de apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (REUNI), Programa Universidade para Todos (PROUNI),
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), Educação a Distância (EAD), cursos de
Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores (FIC) e outras modalidades
implantadas nas últimas décadas de 1990 aos dias atuais. Posicionamento que toma
grande escopo se alinharmos essas mudanças aos impactos correntes no mundo do
trabalho em face ao auge da reestruturação produtiva vivenciada nos períodos
citados.
Em decorrência dessas transformações reestruturadoras, há que reconhecer
que as expressões da questão social, no atual estágio da crise vivida pelo sistema
capitalista no cenário internacional, não passam indeléveis a sociedade brasileira. E
em escala espiral crescente, tais reestruturações, por sua vez, agudiza as
desigualdades sociais, a precarização imposta a força de trabalho, resultando na
escassez de postos de trabalho que caracterizam-se em desemprego estrutural.
Este por sua vez, dentre o rol de consequências mais severas, a médio prazo
ameaça o público estudantil em formação e suas futuras relações de trabalho para a
qual se preparam, acrescidas de outras formas que afetam a vida social dos
cidadãos em geral e, em especial, no processo de formação e consequente inserção
profissional no mercado de trabalho.
De acordo com Raichelis (2009, p. 383)
Os processos de reestruturação produtiva atingem também o mercado de trabalhos do/a assistente social, com a redução de postos governamentais, principalmente nos níveis federal e estadual. [...] intensificam os processos de subcontratação dos serviços individuais dos/as assistentes sociais por parte de empresas ou de serviços de assessoria na prestação de serviços aos governos, acenando para o exercício profissional privado (autônomo),
60
temporário, por projeto, por tarefa, em função das novas formas de gestão das políticas sociais.
No cenário delineado, é evidente o desafio posto ao/a assistente social para
atuar na área da educação profissional e tecnológica, principalmente se considerar o
retraimento do Estado via crescente ação de desresponsabilização em relação à
efetivação de políticas sociais e a expansão dos direitos sociais.
As considerações apresentadas quanto aos exponenciais desafios postos a
categoria denotam ser pertinente e tardia a inserção do/a assistente social no círculo
da educação, pois muitas ações de melhoria das condições e da qualidade de vida
acadêmica urgem ser trabalhadas de modo realmente efetivo, no que concerne as
necessidades específicas das parcelas populacionais em situação de
vulnerabilidade e/ou risco social.
Após a tecitura do panorama em tela, contendo elementos imprescindíveis a
melhor entendimento sobre a área educacional e a intervenção precarizada para o
Serviço Social no mesmo, o item seguinte dedicar-se-á a explanar sobre as
peculiaridades e a importância da atuação profissional do/a assistente social na
educação profissional e tecnológica do IFMT.
3.4 A importância da atuação do/a assistente social na Educação Profissional e
Tecnológica (EPT)
A Constituição Federal de 1988 aponta que as instituições de ensino possuem
autonomia didático-científica, administrativa e de gestão, financeira e patrimonial,
desde que obedeçam ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão. A LDB, também, coloca que a educação abrange os processos formativos
que se desenvolvem nas instituições de ensino e pesquisa, na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais.
Assim, este profissional tem no tripé de ensino, pesquisa e extensão, a
definição de suas atribuições precípuas, presentes na supra Lei de Regulamentação
da profissão, nº 8.662/93, que tem nos artigos 4º as competências do/a assistente
social e no 5º as atribuições privativas do/a assistente social, transcritas na íntegra
dado sua extensão e profundidade o seguinte teor:
61
Art. 4º Constituem competências do Assistente Social: I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; IV - (Vetado); V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social; XI - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social: I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.
62
A opção pela transcrição se deu por merecerem significativo destaque, visto a
insubstituível relação intrínseca que dá consistência ao exercício profissional do
Serviço Social e de acordo com Simões (2011, p. 509), assim rege,
As competências são qualificações profissionais, de âmbito geral, que lhe são reconhecidas por esta lei, para realizar serviços, independentemente de também serem reconhecidas a outros profissionais, nas respectivas leis profissionais, como advogados, sociólogos, historiados, psicólogos e outros. Já as atribuições privativas também são competências, porém exclusivas, decorrentes, especificamente, de sua qualificação profissional. Significa dizer que, no campo dessas atribuições, as respectivas tarefas somente terão validade institucional se realizadas somente por assistentes sociais. Por isso, são ilegais, se realizados por servidores, empregados, voluntários ou profissionais não habilitados.
Ainda a despeito das competências e atribuições apresentadas acima, a
inserção do Serviço Social vem ganhando amplitude, expansão e consistência, no
âmbito da política pública educacional, nas esferas municipal e federal, necessitando
de atitude equivalente nas estaduais e particulares. Esferas que o tem requisitado,
tanto para a realização de programas e projetos socioeducativos e de prevenção,
quanto no âmbito da assistência estudantil, do acompanhamento e enfrentamento
dos multifacéticos problemas enfrentados pelos estudantes da escola pública, típicas
expressões da questão social.
Nessa lógica é cabível reportar que a publicação do editorial CFESS
manifesta pertinente ao Seminário Nacional de Serviço Social na Educação, a
atuação dos/as assistentes sociais nesse âmbito, tem se voltado a fortalecer as
redes de sociabilidade e acesso aos serviços sociais, nos processos
socioinstitucionais dedicados ao reconhecimento e ampliação dos direitos dos
sujeitos sociais, não devendo, portanto, se confundir com o trabalho específico
dos/as educadores/as.
Na ótica desse apontamento, os/as assistentes sociais devem se pautar pela
defesa da gestão democrática na educação, não somente no papel meramente
operacional ou executor, mas, que além dessas funções tenha autonomia para
decidir coletivamente sobre os recursos profissionais e educacionais compatíveis
com o projeto político-pedagógico da instituição, as normatizações, professadas pela
política educacional, dentre outras.
No tangente ao Projeto Político-Pedagógico (PPP), é legitimo afirmar que,
63
[...] é proposto com o objetivo de descentralizar e democratizar a tomada de decisões pedagógicas, jurídicas e organizacionais na escola, buscando maior participação dos agentes escolares. Previsto pela LDB/96 como proposta pedagógica ou como projeto pedagógico, o PPP pode significar uma forma de toda a equipe escolar tornar-se co-responsável pelo sucesso do aluno e por sua inserção na cidadania crítica (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2011, p. 178).
Lógica que propugna ser o controle social sobre a gestão da política
educacional um meio de compartilhamento das decisões, para garantir uma gestão
democrática e participativa que leve à conquista da referida autonomia na esfera
local e na instituição, ainda que em proporção relativa.
Assim, a participação na ambiência acadêmica é parte integrante dos
objetivos e da intervenção do profissional de Serviço Social, com o intuito de
favorecer a publicização da educação e a luta pela qualidade do ensino em sua
concretude. Constitui também, elemento integrante do processo em tela, a
importância de estabelecer articulação com as instâncias de representação e
deliberação internas superiores – como o Conselho: Superior, de Classe, Escolar, de
Direitos, a Associação de Pais e Mestres, os Grêmios Estudantis, os Diretórios
Acadêmicos e o Sindicato, dentre outros, que emerjam nesse cenário em contínua
defesa de transformação sintonizada com as processadas pela dinâmica da
formação societária mais ampla que lhe dá origem e, concomitantemente, dita suas
conformações atualizadas.
Pertinente à garantia de acesso da população excluída do processo
educacional, tais como pessoas com deficiência, idosos, mulheres, dentre outros
com quaisquer características não contidas nos padrões de normalidades ditados
pela sociedade global, a presença do Serviço Social imprime o reconhecimento
desse usuário como cidadão de direitos, para que a instituição se atente e, na
medida do possível, encampe em menor interregno de tempo, demandas
emergentes desses segmentos, conforme previsto em lei.
É inquestionável a importância de frisar, que há todos/as os/as profissionais
da área da educação, requer conhecer o contexto institucional, seu papel no ato de
representação social da instituição em que trabalha, e como se dá a relação com os
usuários, a família, a comunidade interna e externa, com as quais fazem
interlocução. Ou seja, posicionar-se de modo a que esta plêiade de informações
complementares lhes possibilite conhecer a realidade específica dos mesmos e,
64
assim, identificar os serviços institucionais necessários e disponíveis a ser oferecido
aos demandantes de acordo com as reais possibilidades existentes.
Contudo, não é alheio ao/a profissional que nesse contexto fica evidente
haver sérias dificuldades nesse campo a serem superadas e/ou contornadas, pois
mesmo a CF de 1988 tendo preconizado a igualdade entre os sujeitos, ainda na sua
prática cotidiana, há larga distância para pô-la efetivamente em curso, com larga
margem para alcançá-la. Portanto, vislumbra-se ser muitos os problemas que
engessam a execução genuína dos direitos, decorrentes das abismais e até então
irreconciliáveis diferenças sociais, políticas, econômicas, culturais, religiosas,
ambientais que grassam livremente no seio da sociedade em geral. E na sequência,
demandam por políticas sociais que respondam de forma mais efetiva aos
aventados problemas oriundos da questão social, na sua real concepção
etimológica.
Desta forma, ressalta-se os desafios indicadas na brochura “Subsídios para
atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação”7, versando sobre as
orientações voltadas ao primado central da consolidação do Serviço Social no
âmbito da Política de Educação, que serve de valioso contributo, conforme transcrito
abaixo:
Continuar a incidir fortemente para a elaboração e aprovação de Projetos
de Lei (PL) que versem sobre a inserção profissional na educação
consonante com o projeto profissional;
Divulgar e debater com os/as assistentes sociais e demais trabalhadores e
trabalhadoras da área da educação o conjunto dos documentos
construídos pelo GT Nacional Serviço Social na Educação, por meio de
reuniões das comissões, GTs, núcleos, câmaras temáticas audiências
públicas, dentre outros;
Ampliar a participação da categoria de assistentes sociais nos fóruns de
controle social da Política de Educação, como os conselhos de educação,
7 A brochura elaborada pelo CFESS por meio do GT Educação (2010 e 2012), com participantes de todas as regiões do país, e assessoria do Prof Dr. Ney Luiz Teixeira de Almeida (UERJ), com objetivo contribuir para que a atuação profissional na Política de Educação se efetive em consonância com os processos de fortalecimento do projeto ético-político do serviço social e de luta por uma educação pública, laica, gratuita, presencial e de qualidade, que, enquanto um efetivo direito social, potencialize formas de socialiabilidade humanizadoras.
65
as conferências municipais, estaduais e federal de educação, bem como a
articulação em espaços de organização política dos trabalhadores e
trabalhadoras da educação, como os sindicatos, movimentos sociais,
dentre outros;
Articular e problematizar, com os/as demais profissionais da área da
educação e com a sociedade, a importância e legitimidade do trabalho de
assistentes sociais nesta política;
Aprofundar a discussão acerca das particularidades da atuação dos/das
assistentes sociais na Política de Educação, considerando que as
atribuições e competências da categoria nos diversos espaços sócio-
ocupacionais são orientadas e norteadas por direitos e deveres constantes
no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão
(Lei 8.662/93), que devem ser observados e respeitados tanto por
profissionais quanto pelas instituições empregadoras;
Construir fóruns de discussão e realizar debates por meio de oficinas,
encontros, seminários locais e regionais, dentre outros, aprofundando as
reflexões sobre as possibilidades e limites da atuação do/a assistente
social nessa política;
Estimular a criação de espaços sistemáticos de discussão sobre o trabalho
do/a assistente social na educação, no âmbito dos CRESS;
Fortalecer a participação da categoria nas comissões de educação, GTs,
núcleos, câmaras temáticas e demais espaços de discussão existentes
nos CRESS, que tratem da atuação do/a assistente social na educação;
Articular com a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço
Social (ABEPSS) para que o debate em torno da inserção do Serviço
Social na educação seja contemplado na formação profissional;
Discutir as particularidades e as diferentes compreensões sobre a atuação
dos/as assistentes sociais que se inserem no âmbito da educação
superior, para que se reconheçam como assistentes sociais (conforme a
Lei nº 8.662/93) e como profissionais da Política de Educação;
Problematizar junto aos/às assistentes sociais que atuam na área da
educação acerca das particularidades da educação popular, na
66
perspectiva do aprofundamento teórico político e da sistematização das
experiências;
Fortalecer as ações em torno da realização de concursos públicos para
assistentes sociais na Política de Educação, bem como para os demais
trabalhadores e trabalhadoras dessa política;
Problematizar junto à categoria sobre as particularidades das suas formas
de inserção nos estabelecimentos públicos e privados que executam a
política educacional, visando a assegurar as condições éticas e técnicas
do trabalho profissional;
Aprofundar as discussões sobre o significado político, teórico e ideológico
das propostas de educação inclusiva;
Fomentar a discussão acerca da educação voltada para povos e
comunidades indígenas, quilombolas e demais populações tradicionais,
bem como sobre as formas de atuação profissional dos/as assistentes
sociais;
Aprofundar a discussão, no âmbito da atuação dos/as assistentes sociais
na educação, para a garantia do respeito à diversidade humana, como
direitos humanos, considerando a livre orientação e expressão sexual,
livre identidade de gênero com vistas a consolidar uma educação não
sexista, não racista, não homofóbica/lesbofóbica/transfóbica;
Articular junto aos/às estudantes, trabalhadores e trabalhadoras da
Política de Educação espaços de discussão sobre a política/
programas/ações de assistência estudantil e as particularidades da
atuação do/a assistente social;
Intensificar a articulação junto a outras categorias profissionais e sujeitos
coletivos, na luta por uma educação pública, gratuita, laica, presencial, de
qualidade e com real investimento do fundo público.
Assim, as indicações reunidas e disponibilizadas pelo CFESS, contidas nas
linhas anteriores, dão entendimento quanto a importância da profissão e a
profundidade, extensão e complexidade das dimensões teórico metodológica, ético
político e operacional de sustentação no trato das particularidades presentes no
67
trabalho do/a assistente social na Política de Educação ao mesmo tempo que a
desafiam como ativo partícipe.
Contudo, há ainda um requisito particular se considerar a significativa
compreensão que a categoria profissional deve dominar, quanto a não existir
dicotomia entre o social e o educacional. Pois, é possível admitir que o conjunto
dessas ações se trabalhadas na perspectiva analítico crítico propositiva conjunta –
educação – Serviço Social, se constituem em um valioso marco rumo a
consolidação de uma concepção de educação alicerçada na garantia do acesso ao
conjunto e direitos sociais que ela comporta. Concepção que em sua particularidade
constituinte, implica na “elaboração de projetos de intervenção que valorizem a
dimensão investigativa, crítica e propositiva do exercício profissional, que explicitem
os compromissos éticos e políticos do Serviço Social” (CONSELHO FEDERAL DE
SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 56).
Balizado pelas formulações discorridas, é pertinente reforçar que a atuação
profissional do/a assistente social nelas contidas considerou as particularidades do
projeto ético-político profissional, propostas para este trabalho, que imprimiu o norte
a atuação profissional no referido campo, afirmando-o como sujeito partícipe em
vista aos desafios lhes perfilados para a consolidação do seu agir profissional no
espaço sócio profissional em apreço nos itens e seção vindouras.
3.5 Os desafios para a efetivação do projeto ético-político profissional no
espaço educacional
Nos itens antecedentes, pretendeu-se discutir diferentes elementos e forma
de inserção do Serviço Social no campo da educação. Assim sendo, procurou-se
salientar no decorrer desta elaboração, como a natureza do projeto-ético político
com o cunho de formação permanente, se faz presente no que a atuação
profissional do/a assistente social vivencia na área educacional e em particular da
área profissional e tecnológica eleita para este trabalho.
Assim, esta seção é dedicada a recordar que o Serviço Social brasileiro
desde a década de 1970 compreendeu um processo de renovação e construção do
supra projeto profissional, revisando eixo, direção, matéria, conteúdos, ementários e
referenciais bibliográficos da formação profissional, claramente comprometida com a
68
classe trabalhadora e todas as multifacéticas formas das problemáticas sociais que
lhes afetam e se expressam na sociedade concreta. Assumiu posicionamento de
como trabalhar a direção social assumida pela categoria profissional, independente
do conjunto de transformações contundentes que o mundo do trabalho tem
processado, desde o fim do século XX ao XXI, requerendo gerar novos padrões de
organização trabalhista para a nova forma de sociabilidade em curso e por isso se
expressou,
O Serviço Social, como profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, traz, nas marcas de sua trajetória histórica, o imbricamento com diversos cenários e lutas da sociedade brasileira, mantendo, porém até a década de 70, uma posição predominantemente tradicional e reprodutora da ordem social. A partir de então, o seu processo de renovação vai assimilar novas teorias, ainda que de forma eclética, e as preocupações do Serviço Social vão estar voltadas para a eficiência técnica e para o processo de modernização que era o discurso dominante da ordem ditatorial imposta desde 1964 (SANT’ANA, 2000, p. 80).
Processo em que o Movimento de Reconceituação do Serviço Social,
encampou a condução das ações de renovação interior da profissão, assumindo a
concepção pluralista, de romper com a direção clássica praticada á época, e de cuja
ruptura se deriva a construção do projeto ético-político profissional que tem sido
esmiuçado ao longo desta seção e articulado por analogia aos demais que compõe
o trabalho como um todo. Ruptura esta, dada nos campos político-ideológica e
pedagógica, que teve seu marco no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais,
em 1979, conhecido como “Congresso da Virada”. Momento que os/as profissionais
de Serviço Social buscaram romper com os métodos conservadores e tradicionais
utilizados no desenvolvimento do exercício profissional, visando consolidar um novo
direcionamento teórico-metodológico, prático e ético para profissão.
Assim, embora na década de 1980, mesmo a grande maioria da categoria
profissional participar da construção dialética desse novo pensar crítico, esta
posição não foi assumida pela base total de profissionais, e para a qual Teixeira e
Braz (2009, p. 304) apontam duas reflexões. A primeira que “não há uma identidade
entre o que projetamos e o que realizamos efetivamente”, e a segunda, com base
em Paulo Netto (1999), quando retrata a auto-imagem da profissão, que traz os
valores presentes no projeto profissional como estranhos ao mundo que vivemos, ou
69
seja, “a consecução plena é incompatível com a sociedade capitalista”. Significa
dizer que,
[...] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais) (PAULO NETTO, 1999, p. 4).
Nesse sentido, é fundamental afirmar em que pese a clareza da reflexão
legada pelo autor acima à categoria profissional quanto a magnitude e importância
das mudanças postas à profissão, na década de 1990 o projeto profissional vem se
moldando, a partir de uma plêiade de elementos teórico-metodológico, ético-político
e operacional, em movimento contínuo que abarca o investimento na formação e no
exercício profissional.
Portanto, não se pode esquecer de considerar que o cenário econômico que
se apresenta nesse movimento histórico é caracterizado pelo neoliberalismo,
impulsionado pela lógica do capital e mercado, consumo e individualismo, e de
momentos cíclicos de retração na direção e gestão de naturezas e instâncias
diversas dos organismos estatais, os quais por sua vez impactam de intensidades
igualmente diversas, a execução do projeto profissional do Serviço Social.
Em que pese os efeitos mencionados, exercidos no plano constitutivo do
Serviço Social como profissão, seria igualmente injusto, não registrar os
enfrentamentos dos novos desafios e demandas que por sua vez influenciaram a
incessante busca pela qualificação teórica, política e ética que legitimou socialmente
a categoria profissional, no seio da sociedade capitalista em questão.
A consolidação do projeto ético-político profissional que vem sendo construído, requer remar na contra corrente, andar no contravento, alinhando forças que impulsionem mudanças na rota dos ventos e das marés na vida em sociedade (IAMAMOTO, 2001, p. 141).
É evidente, que nesse cenário delineado, o projeto ético-político profissional
se constitui em um projeto societário vinculado e comprometido com uma concepção
mais ampla em prol da transformação da sociedade atual, cujo direcionamento,
70
também, tem em sua base dinâmica a busca da consolidação dos projetos coletivos
entendidos como,
[...] os projetos societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto da sociedade. Somente eles apresentam esta característica – os outros projetos coletivos (por exemplo, os projetos profissionais) não possuem este nível de amplitude e inclusividade (PAULO NETTO, 1999, p. 2)
Apesar da assertiva feita por Paulo Netto, é correto dizer, que os
pressupostos basilares de sustentação do projeto profissional, comportam a
consciência e a orientação contidas nos princípios fundamentais priorizados pelo
Código de Ética Profissional, vez que aquele absorve os princípios e valores do
mesmo.
Respaldados pelo entendimento posto, Teixeira e Braz (2009, p. 191),
asseveram que esses princípios e valores expressam a materialidade do projeto no
exercício profissional, juntamente com os demais componentes que lhes dão
conformação, a saber:
a) A produção do conhecimento no interior do Serviço Social: maneira
como estão sistematizadas as diversas modalidades praticas da profissão,
onde se apresentam os processos reflexivos do fazer profissional;
b) As instâncias político-organizativas da profissão: que envolve os
fóruns de deliberação quanto as entidades da profissão. É por meio dos
fóruns consultivos e deliberativos dessas entidades que são consagrados
coletivamente os traços gerais do projeto profissional, onde são
reafirmados ou não seus compromissos e princípios;
c) A dimensão jurídico-política da profissão: o arcabouço legal e
institucional da profissão que envolve um conjunto de leis e resoluções,
como por exemplo a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº
8.662/93), e ainda outras legislações que subsidiam a atuação
profissional, como Lei Orgânica da Assistência Social, o Estatuto da
Criança e do Adolescente etc.
71
Elegemos aqui alguns instrumentos normativos relacionados ao Serviço
Social:
Quadro 3 - Instrumentos normativos relacionados ao Serviço Social
Instrumentos Destaques
Diretrizes Curriculares ABEPSS - Parecer CFE nº 412, de 04.08.1982 e Resolução n.º 06 de 23/09/82.
As diretrizes vem de um processo de profunda avaliação do processo de formação profissional face às exigências da contemporaneidade. Os novos perfis assumidos pela questão social frente à reforma do Estado e às mudanças no âmbito da produção requerem novas demandas de qualificação do profissional, alteram o espaço ocupacional do/a assistente social, exigindo que o ensino superior estabeleça padrões de qualidade adequada.
Lei de Regulamentação da Profissão nº 8.662/93.
Dispõe sobre a profissão de Assistente Social, o qual traz em seu art. 4º as competências do/a Assistente Social e no 5º as atribuições privativas do/a Assistente Social.
Código de Ética do/a Assistente Social – Resolução CFESS nº 273/93.
Dispõe sobre os valores éticos, fundamentados na definição de compromisso com os usuários, com base na liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social.
Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pela autora, com base nas legislações e documentos relacionados à profissão de Serviço Social
Aportes legais que permitem compreender como os elementos do projeto
profissional vêm sendo consolidado historicamente, como respostas dadas pela
categoria ante a necessidade de se posicionar ao enfrentar as transformações
políticas, econômicas, sociais e culturais presentes na sociedade.
Torna-se ainda relevante reafirmar a importância da dimensão política no
exercício profissional, pois um dos desafios mais complexos a se enfrentar consiste
na oposição a lógica mercantilista vigente na sociedade capitalista. Dimensão esta
que uma vez presente na atuação profissional, se traduz no compromisso, na
intencionalidade do/a profissional, na base e elaboração do pensamento crítico,
capaz de influenciar os rumos das relações de poder existentes nos espaços sócio-
ocupacionais em que está inserido para operacionalizar as atribuições lhes inerentes
na divisão sócio técnica do trabalho que regula esse real.
De acordo com Paulo Netto (1999, p. 14), o domínio da dimensão política
(registra-se, que o político não se resume ao partidário), contribuiu para coroar o
rompimento com o conservadorismo na explicitação frontal do “compromisso
72
profissional” com a população brasileira. Assim, a própria dinâmica da sociedade
atual, passou a demandar um novo perfil profissional com competência analítico-
crítica e técnico-propositiva.
Nesse sentido as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, na esfera da regulação e proteção social, a crescente privatização do espaço público, que implica um esvaziamento das funções do Estado, a globalização da economia, a flexibilização das relações de trabalho, entre outros, são novos desafios colocados a profissão e que exigem dos profissionais permanente capacitação. Modificam-se, portanto, suas condições de trabalho, surgem novas requisições para a atuação profissional, outras demandas são colocadas e emergem outras frentes de trabalho no cenário profissional (LEWGOY, 2010, p. 151).
Esses conjuntos de mudanças passaram a constituir o núcleo fundante das
novas requisições apresentadas ao/a profissional assistente social na efetivação do
exercício profissional, mediadas por fatores que implicam tanto no alcance dos
resultados planejados, quanto na consolidação da concretude do próprio projeto
profissional, ao lhe conferir forma, conteúdo e direção.
Dentre aspectos aventados cabe avocar as imposições neoliberais ratificadas
e postas em cena tais como minimização e/ou eliminação de direitos, acirramento
das desigualdades sociais, elevação dos patamares de pobreza extrema, perda
consubstancial da qualidade de vida dos que vivem da venda da força de trabalho,
desconstrução de reformas conquistadas, desemprego e subemprego, desproteção
social. Complementam os elementos anteriores outras questões, como: as
condições de trabalho precárias, a fragmentação dos processos de trabalho como a
terceirização, quarteirização, a polivalência na execução dos trabalhos, a
reestruturação produtiva, no qual desresponsabiliza as empresas com relação ao fiel
respeito aos trabalhadores.
Mudanças que não passam de modo indelével aos impactos e reordenações
que, impõe determinações novas formação e profissionalização do Serviço Social,
no quesito da construção de uma agenda comum à organização coletiva do projeto
societário da categoria.
É nesse sentido que Iamamoto (2001, p. 145), coloca que um
“perfil profissional propositivo requer um profissional de novo tipo, comprometido
com sua atualização permanente, capaz de sintonizar com os ritmos das mudanças
que presidem o cenário social”.
73
Diante dessas exposições, é claro que existe um antagonismo entre o projeto
ético-político profissional e a ofensiva neoliberal. Portanto, para além da importância
do debate sobre esses entraves, é possível afirmar que é um enorme desafio a
efetivação desse projeto, que requer um processo de intervenção claramente
definido em suas finalidades, objetivos e procedimentos alicerçados teoricamente,
ações ideopolíticas colocadas desde a gestão, planejamento e execução, e,
desenvolvimento de um perfil crítico propositivo, que reafirmem as referidas
dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas, apresentadas
em linhas e itens anteriores.
Equivale dizer que aos/as profissionais do Serviço Social, ante conteúdo e
direção ética política dada à sua formação profissional na contemporaneidade,
compete se posicionar de modo permanentemente crítico a fim de possibilitar, frente
às complexidades com as quais se deparam, oriundas da desigualdade social que
abarcam a sociedade atual como um todo, primar pelo exercício profissional
firmemente articulado com o seu arcabouço científico e demais preceitos legais que
regem o Serviço Social.
Decorrente do dito aparato legal operacional que conforma o Serviço Social,
os desdobramentos e desafios cotidianos apresentados, dentre os/as assistentes
sociais, na política educacional, se encontram aqueles que assumem a proposição
de vincular a concepção de educação e de sociedade tendo por referência construir
uma nova ordem societária, sem dominação, sem exploração de classe, que, “supõe
a erradicação de todos os processos de exploração, opressão e alienação”
(CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 22). Como também, há
aqueles que não comungam com tal proposição e a ignoram na atuação profissional.
Deste modo, é com a concepção apontada até o momento, que a área da
educação, torna-se um importante espaço de atuação dos/as assistentes sociais, à
medida que, as expressões da questão social se manifestam em toda sua
diversidade complexa em seu cotidiano. Logo, com a adoção do referencial teórico-
metodológico que contemple a historicidade dessa instituição, será possível pautar a
atuação profissional ancorado em proposições não de senso comum, e objetivar
assertivamente ações respaldadas em perspectiva qualitativa às demandas
apresentadas à profissão no campo da educação no IFMT, enquanto lócus profícuo
para a ação.
74
Após evidenciar esse panorama, a seção seguinte dedicar-se-á a tratar a
análise da atuação profissional do/a assistente social na modalidade de educação
profissional e tecnológica, as mudanças e redefinições ocorridas nesse campo
decorrente do ideário neoliberal. E também as questões que compareceram na
classificação e análise dos dados coletados junto aos/as assistentes sociais
inseridos/as nos campi do IFMT.
75
4 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT)
Para compreender o Serviço Social do IFMT, em face do processo de
inserção no campo da EPT, em uma estrutura e conjuntura internacional em franca
crise do capital desde 2007, onde nos encontramos, é necessário articular a
profissão aos processos mais amplos e complexos vividos pela sociedade global,
tendo em vista a literatura de estudiosos do tema como: Almeida (2008), Frigotto
(2007), Iamamoto (2001), Libâneo, Oliveira e Toschi (2011), Paulo Netto (1999).
Este processo, que desde a década de 1990, no século XX, foi denominado
de reestruturação produtiva, ante a referida complexidade das transformações que
afetaram e afetam o mundo do trabalho e a força de trabalho em sua base material e
no campo das ideias, na atual sociedade capitalista, sem precedentes históricos. Ela
se expressa pela heterogenização, flexibilização, descentralização, subsunção do
trabalho ao capital como dito em itens anteriores, no espaço sócio-ocupacional da
EPT, como nas áreas de produção e de serviços, que tornou necessário, situar o
histórico do surgimento do Serviço Social, acrescido de sua profissionalização e
institucionalização, bem como o contexto histórico do IFMT e as várias mudanças
estruturais pelas quais passou.
Contextos indispensáveis para chegar ao período de 2013 e 2014, abarcado
por esta pesquisa, tanto na estrutura, contexto ou objetivos coligidos junto aos/as
assistentes sociais do IFMT.
É necessário, esclarecer quanto às dificuldades para a coleta do material.
Primeiramente, por tratar de analisar criticamente a prática profissional de cada um
dos sujeitos da pesquisa, desvelando o eixo, a direção e o curso da atuação. Em
segundo, pela conotação institucional, profissional interna e externa que as
interpretações objetivas e subjetivas que os teores declarados passam a tomar ante
a ótica dos leitores em geral.
No entanto, para entender como se dá a atuação profissional dos/as
assistentes sociais no IFMT, e entender essa realidade, foi necessário buscar
informações, orientada pelo referencial teórico, com intuito de obter os elementos
necessários para responder ao objetivo da pesquisa. Assim, com respeito aos/as
profissionais que fizeram parte da pesquisa, as informações foram manuseadas de
forma a preservar os sujeitos, com apresentação fidedigna dos resultados.
76
Tomando como base os preceitos da educação discutidos até aqui, bem
como o breve relato sobre o Serviço Social, passamos a analisar a relação da EPT
com a profissão de Serviço Social e com os resultados obtidos pela pesquisa.
4.1 A relação entre educação e serviço social
É complexo abordar a relação entre educação e o Serviço Social, uma
relação complexa, carregada de conotações, intervenientes e determinantes do atual
momento de crise do capital.
Nesse cenário conturbado internacionalmente, o debate sobre a Política de
Educação brasileira e, particularmente a do Estado de Mato Grosso, na
especificidade da modalidade EPT do IFMT, com a respectiva atuação do Serviço
Social, se converte em material concreto de análise da dissertação ora apresentada
à apreciação.
As transformações advindas dessa conjuntura de crise estrutural produzem
alterações no mundo do trabalho as quais produzem particularidades históricas que
impactam a atuação dos/as assistentes sociais nos espaços sócio-ocupacionais em
que trabalham. Impactos decorrentes da complexa relação entre Estado e sociedade
que ao para encaminhar os/as profissionais ao enfrentamento das expressões da
questão social, cria uma rede de proteção social, frente as alterações em curso na
esfera dos direitos de cidadania e serviços sociais de modo cada vez minimizador.
No entanto, abordar a atuação profissional, com ênfase na relação direta com
a demanda cotidiana, por atendimento de necessidades, por acesso aos direitos
sociais, não é tarefa fácil. O fazer profissional em meio à precarização das políticas
sociais, em tempos de crise da economia mundial, cujos efeitos recaem sobre os
trabalhadores, torna-se uma atuação desafiadora entre o proposto e as condições
objetivas de realizar a prática concreta.
Assim, pensar a atuação em sintonia com o que aponta o Projeto Ético
Político, requer, dentre outras, domínio político e técnico-operativo profissional em
prol da efetivação de ações que se pauta pelos princípios éticos já citados neste
trabalho.
A propositura desta seção é analisar a atuação profissional dos/as assistentes
sociais que trabalham na EPT, visando abarcar tanto à prática realizada pelos/as
77
profissionais que estão na ponta da intervenção nos campi em contato com que
atuam no âmbito do planejamento, coordenação, assessoria, consultoria e pesquisa
etc. Esse trabalho coloca o desafio, junto a Direção Superior do IFMT, de apreender
e analisar de modo crítico, as expressões da questão social presentes no cotidiano
da atual conjuntura político-administrativa vivenciada no espaço sócio-ocupacional
pesquisado. Desafio apreendido no seguinte teor, como afirma Guerra (2011, p.
152),
[...] o processo de institucionalização da profissão vem na esteira do processo de racionalização do Estado burguês, com o intuito de facilitar a atuação dos monopólios, e ainda, de manter suas bases de legitimação ante as classes sociais [...].
Nessa ótica, é imprescindível realizar novas articulações e mediações para
contribuir com o processo de desenvolvimento histórico da profissão, tecido pela
categoria ao longo das décadas elencadas no corpo do trabalho, bem como, buscar
interferir nos rumos das modificações que impactam, determinam e configuram a
atuação profissional do Serviço Social na sociedade capitalista, conforme poderá ser
percebido nos dados coletados na pesquisa.
4.2 Atuação profissional do/a assistente social no IFMT: vivência cotidiana
O/a profissional Assistente Social tem como exigência, manter-se em
processo de formação profissional permanente, ou seja, capacitação continuada
contemplando o Serviço Social, a estrutura, conjuntura e contexto, determinantes
que impactam a sua atuação profissional, que por sua vez, também, é objeto
contínuo de avaliações auto crítica. Essa exigência é indispensável em quaisquer
espaços institucionais, haja visto, que os espaços sócio-ocupacionais na atualidade,
sofrem os impactos das transformações societárias e geram impactos
socioprofissionais, que só o ato de avaliação constante, pode permitir ao/a
profissional redimensionar a sua prática.
A criatividade, iniciativa e objetividade, fornecem elementos para a atuação
profissional que mediada pela teoria social crítica e pautada nas dimensões
investigativa e interventiva, é possível avançar conforme reza as diretrizes de
78
formação, as quais propiciam compreender o movimento da reprodução social
imbricada e decorrente da questão social apresentada à atuação profissional.
Em se tratando de uma instituição educacional, é imperioso ter clareza das
concepções de educação, adotadas para orientar a atuação profissional do/a
assistente social, bem como a própria concepção de Serviço Social, que o/a
profissional elegeu para professar sua condução profissional nesse processo. Essas
clarificações se fazem necessárias para desvelar a perspectiva interventiva que
baliza e qualifica a atuação do/a profissional como consta a seguir, nos dizeres do/a
profissional o entendimento de que,
Relato A:
A concepção de educação que orienta minha atuação é pautada na direção da universalização do acesso aos direitos sociais, compreendendo a educação como uma das políticas mais necessárias para a potencialização e autonomia dos sujeitos sociais (AS A).
A concepção de educação abaixo versa coerentemente com a agenda do
Serviço Social no que tange a luta em prol da classe trabalhadora, como segue o
relato abaixo,
Relato B:
A concepção de educação compreendida reside na direção da categoria profissional de assistentes sociais, a partir do acúmulo do debate nessa esfera, bem como da defesa da classe trabalhadora, de educação emancipatória, abrangendo na discussão a educação formalizada e educação popular; na defesa da educação como direito social a ser universalizado; na defesa do reconhecimento da educação como parte da seguridade social, direcionando o debate para uma compreensão ampliada da seguridade social, sendo esta, estratégia de ampliação da proteção social (AS E).
O extrato apresentado permite ver algumas dificuldades para abordar a
concepção de educação de forma clara. Percebe-se que esse espaço de atuação
escolar, é constituinte do local próprio da prática profissional com múltiplas
determinações. Prevalece a ideia genérica que abarca muitos elementos sobre a
educação em outras dimensões como a popular, articulada a seguridade social. Ou
seja, registra-se a educação em seus elementos nucleares como a da perspectiva
universalizante e emancipatória pertencente ao conjunto de direitos sociais
garantidos pela CF de 1988 e a LDB na formação societária brasileira democrática.
79
E fez sim uma interface com a seguridade social e saúde, mas como tripé de direitos
sociais e não com o dá educação e, em especial a EPT, que tende mais a uma
articulação com o mercado de trabalho capitalista para o qual são formados pela
análise no referencial teórico marxista.
Diferenciando-se da transcrição anterior, foi identificado um compasso
coerente com uma concepção respaldada no que preconiza a direção teórica do
projeto ético político operativo do Serviço Social, sobre políticas sociais e pode-se
atribuir dentre elas a de educação, conforme segue uma das devolutivas,
Relato C:
Atualmente, o Serviço Social é uma das profissões fundamentais no processo de formulação, planejamento, execução e avaliação das diversas políticas sociais, comprometido com a viabilização, acesso e avanço dos direitos humanos e sociais. Desse modo, a concepção teórica, metodológica, ética e política que nos fundamenta a partir desse novo projeto profissional se embasa na perspectiva crítica com base nos fundamentos teóricos da tradição marxista (AS A).
No entanto, é vital registrar que a citação em si, tratou da concepção da
profissão e não da educação. Concepção esta que detalha a profissão para além da
execução, dando uma conotação mais abrangente para a mesma.
Na sequência, recorre-se a outro trecho extraído do instrumento elaborado.
Neste se percebe que o/a profissional evidencia a concepção teórica que que dá
base a sua atuação, como vê a seguir,
Relato D:
A concepção de serviço social que orienta meu trabalho na Política de Educação Profissional e Tecnológica, baseia-se na concepção renovada e inovadora, com base na teoria marxista, onde são observadas a historicidade do individuo e suas relações dentro da sociedade capitalista no qual estamos inseridos (AS D).
Contudo, não se pode deixar de mencionar que as duas concepções de
educação e Serviço Social, comparecem imbricadas uma a outra, sem tratar ambas
de forma mais consubstancial.
A partir da análise das respostas recebidas, se verificou, cada vez mais, a
presença de dados de conotação formalizada no Projeto Ético Político do Serviço
Social, do conjunto legal disposto pelo CFESS/CRESS, na Lei que regulamenta a
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profissão e no Código de Ética Profissional que normatiza o exercício profissional do
Serviço Social, visto no seguinte teor,
Relato E:
A compreensão que norteia o meu trabalho, é de que Serviço Social é uma profissão de natureza interventiva e investigativa, inserida na divisão social e técnica do trabalho. As diversas e multifacetadas expressões da questão social é o objeto central de intervenção profissional, sendo esta a base da fundação da profissão na especialização do trabalho. No exercício profissional da/do Assistente Social, esta/este possui um conjunto de princípios, direitos, responsabilidades e deveres inscritos no Código de Ética profissional e, um conjunto de competências e, atribuições privativas, elucidados na Lei de Regulamentação da Profissão. No decorrer se sua vida profissional, a/o Assistente Social, conta ainda, dentre a instrumentalidade da profissão, com um arsenal teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político, sendo imprescindível que essas competências devem estar em constante/contínuo desenvolvimento (AS E).
A visão apresentada, a tentativa do/a profissional em aproximar sua atuação
profissional com a principal matriz de conhecimento social do complexo movimento
da sociedade capitalista, o qual o Serviço Social incorpora em suas análises da
realidade em que intervém.
As concepções evidenciam o que está posto na brochura do CFESS que trata
dos Subsídios para atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação, sobre a
concepção de Serviço Social ligada a atuação profissional do/a assistente social, é
mais uma vez recorrido, e em resposta, aponta que,
Não se trata de uma tarefa que traga resultados imediatos e que atenue as tensões, conflitos e inquietações que consomem o cotidiano profissional, mas significa a afirmação de uma clara direção política, a articulação de um conjunto de referências teóricas que subsidiem a atuação profissional na Política de educação, contribuindo para desvelar suas particularidades a partir de uma concepção de educação que esteja sintonizada ao projeto ético-político do serviço social e que, por isso, não pode ser tomada de forma abstrata, vazia de significado político e desvinculada da perspectiva da classe trabalhadora (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012, p. 23).
É cabível continuar demarcando que do ponto de vista do discurso, nota-se
uma clareza nas concepções da profissão, tangente a dimensão da teoria utilizada
para respaldo da atuação profissional. Em especial, retirada dos autores mais
profícuos e significativos para o coletivo da categoria profissional e consultados
como Paulo Netto (2009 p. 673), ao assegurar em suas produções que,
81
A teoria é, para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito que pesquisa: pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a dinâmica do objeto que pesquisa. E esta reprodução (que constitui propriamente o conhecimento teórico) será tanto mais correta e verdadeira quanto mais fiel o sujeito for ao objeto.
É necessário trazer essa afirmação anterior, no intuito de demonstrar que as
contribuições disponibilizadas pelos/as assistentes sociais no campo da educação
no IFMT, apesar de muitas vezes, serem inseridos/as em equipes multiprofissionais,
no plano oficial tem claro sua identidade profissional, contidas no conjunto de
documentos aludidos e que deve ser expressa na atuação a partir das demandas
postas, de forma a contemplar as requisições definidas para a profissão e, em
particular, no que se relaciona com o dever de constante atualização profissional
permanente.
Todavia, pertinentes as condições objetivas de trabalho, há de se considerar
que o Serviço Social hoje, enfrenta alguns desafios para atuação profissional de
qualidade. Alcança, também, profissionais servidores públicos, pois os espaços
públicos passam por metamorfoses que impactam e influenciam não só o fazer
profissional, mas, inclui as condições necessárias a esse exercício e alterar os
requisitos e exigências da formação profissional, compatíveis com a
contemporaneidade.
Nessa linha de análise, é correto ressaltar que dentre os pilares normativos
que regulamentam a profissão de Serviço Social no Brasil, quanto à temática de
trabalho, a Resolução CFESS nº 493/2006 dispõe também acerca das dimensões
éticas e técnicas do exercício profissional do/a assistente social, que garante
ambiência de trabalho e atendimento condigno, que preserve o sigilo profissional e a
qualidade dos serviços prestados aos usuários. Elementos últimos, que não se
fizeram presentes nos dizeres das pesquisadas até este momento. Motivo pelo qual
é imperioso recorrer à contribuição que a esse respeito Delgado (2013, p. 137),
aponta,
[...] a citada resolução institui condições e parâmetros normativos claros e objetivos, estabelecendo como condição obrigatória para a realização de qualquer atendimento ao usuário do Serviço Social a existência de espaço físico suficiente e adequado para abordagens individuais e coletivas, com as seguintes características: iluminação adequada ao trabalho diurno e noturno; ventilação adequada a atendimentos breves ou demorados (e com portas fechadas); recursos que garantam a privacidade do usuário naquilo que for revelado durante a intervenção profissional, e um local apropriado para guarda do material técnico de caráter sigiloso.
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Vejamos o que relatam os/as profissionais:
Relato A:
Em termos de estrutura física, existe sala individual adequada para o Assistente Social, que é lotado na direção de ensino do Campus. Ainda temos dificuldades com a viabilização de determinados equipamentos permanentes como impressora, mas a instituição minimiza o problema utilizando a impressão em rede e faz-se necessário se locomover até outro setor para pegar as impressões. Como ponto positivo, destaca-se a autonomia que é dada ao profissional para desenvolver suas atividades, criar estratégias e socializá-las com a gestão. É necessário situar que esta avaliação refere-se ao período de exercício 2013/2014, pois sabemos que mudanças nas relações de poder institucional que ocorrem em todas instituições públicas ou privadas, podem alterar a dinâmica do fazer profissional (AS A).
Está presente na agenda do conjunto CFESS/CRESS a defesa das condições
de trabalho, considerando os desafios atuais presentes nas relações de trabalho. No
IFMT, conforme a fala dos sujeitos da pesquisa, as condições de trabalho são boas,
mas em alguns campi possuem problemas referente aos equipamentos e salas
específicas para atendimento.
Nessa análise, o/a assistente social tem plena liberdade para atuar com
indivíduos, grupos, famílias e/ou comunidade, e definir formas de atividades voltadas
ao enfrentamento das expressões da questão social e luta pela garantia de direitos.
Assim, segue a fala seguinte que tangencia quanto às condições de trabalho.
Relato B:
Eu considero as condições objetivas muito boas. Na vida sempre uso um referencial para explicar as coisas, então, tenho como referência, o trabalho como Assistente Social na esfera municipal, sendo assim, posso afirmar que o Trabalho do Assistente Social aqui no IFMT é muito bom. Tenho material de consumo, material permanente, entre outros. Claro que algumas coisas não conseguimos imediatamente, minha sala não é a melhor do mundo, todavia não posso dizer que não consigo desempenhar meu trabalho porque minha mesa tem 01 metro de largura e não 3 metros (que seria o ideal para trabalhar com um PC e meus papeis/documentos na mesa). As condições de trabalho é dividida em duas vertentes (na minha opinião), a estrutura física e minha vontade de ‘fazer acontecer’ (AS C).
Prisma idêntico à qualidade das análises que como pesquisadora foi possível
esboçarem acerca dos extratos anteriores, disponibilizados pelos/as profissionais
até o momento, percebe-se continuar presente no relato a seguir apresentado
conforme os/as leitores/as podem verificar no seu crivo sobre o teor,
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Relato C:
Hoje no contexto educacional como um todo, existem boas condições para a atuação do serviço social como um todo, especialmente quando fala-se na inserção de profissionais em todos os campi e ainda de recursos e de uma política que vem sendo implantada que a Política Nacional de Assistência Estudantil que vem se desenhando e se consolidando no seio dos Institutos Federais como um todo (AS D).
Discorrer sobre as condições objetivas de trabalho dos/as profissionais
assistentes sociais no IFMT, para além das contribuições dos autores anteriormente
recorridos, é importante referenciar o aspecto da instrumentalidade do Serviço
Social. Nenhuma outra afirmação seria mais indicada quanto a de Guerra (2000, p.
158), que a instrumentalidade
[...] não é um conjunto de instrumentos e técnicas (neste caso, a instrumentação técnica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico.
Como já apresentado, algumas problemáticas são enfrentadas em alguns
campi, conforme a devolutiva a seguir apresentada na íntegra, a fim de não correr o
risco de prejudicar sua apreensão total, assim exposta abaixo,
Relato D:
As condições objetivas para realizar o trabalho profissional na realidade atual do Campus encontram-se fragilizadas, considerando que muitas questões observadas no e para além do cotidiano profissional interferem na qualidade do serviço prestado. A partir das questões observadas têm-se como exemplo a jornada de trabalho de 40 horas semanais, que ultrapassa às 30 horas estabelecidas na Lei 8.662/1993 acrescentada pela Lei 12.317/2010; a dimensão investigativa que muitas vezes se encontra em detrimento comparada as determinações institucionais; condições éticas e técnicas precarizadas devido o local referente a atendimento e arquivo insuficientes (não há local específico para as/os profissionais da instituição realizarem atendimento – hoje é utilizado a sala de reuniões quando desocupada ou outros espaços vazios encontrados para resguardar o sigilo das/dos usuárias/os e profissional – o espaço destinado ao arquivo é pequeno e falta espaço no próprio prédio da Instituição); há telefones e celulares na Instituição apenas em setores específicos, compartilhados e de ampla circulação – essa situação ainda é agravada, pois já houveram situações de corte da linha e falta de crédito no celular institucional; ações, projetos e intervenções profissionais limitadas, o que caracteriza a ‘relativa autonomia’ da/do profissional, engendrados na correlação de forças institucional, que em diversos momentos apontam para ganhos quando há interesse da direção da gestão; falta de equipe multiprofissional básica para atuar de forma interdisciplinar nas demandas institucionais; entre outras.
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Tais questões apontadas influenciam diretamente na qualidade do instrumental teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo da profissão. No entanto, considera-se importante destacar aqui, que as referidas condições objetivas estão engendradas, na própria dinâmica da sociedade capitalista, de sociedade de classes e das contradições nelas presentes. E no cenário contemporâneo de expansão neoliberal demarcado pelo Consenso de Washington, se tornam ainda mais agravantes as condições de trabalho de qualquer trabalhador/a, a exemplo da redução dos gastos públicos, privatização das estatais, desregulamentação das leis trabalhistas e dos direitos sociais, intervenção mínima do Estado na economia (AS E).
Vale ressaltar que, da leitura, catalogação e análise dos dados compilados,
presentes nas transcrições das respostas apresentadas nas páginas anteriores,
depreende-se que se esforçaram para introduzir os elementos presentes no
cotidiano institucional onde ocorre a atuação profissional, segundo a ótica própria
que cada um/a conseguiu expressar livre e de forma democrática, sem a presença
da pesquisadora, apesar da distância geograficamente da capital de Cuiabá.
Distâncias consideráveis que dificultou efetuar os deslocamentos com recursos
próprios da pesquisadora, por possuir dificuldades nesse terreno financeiro para
custear os contatos “in lócus” nos referidos campi.
Os dados revelam, também, a existência de correlação de forças e luta por
poder no espaço institucional como um todo, mas, em especial, junto a Reitoria.
Em decorrência da sistemática adotada para trabalhar os dados concretos,
não se pode deixar de falar que, apesar dos elementos acima apontados,
particularizando as correlações de forças, mesmo com as relações de poder
existente no espaço sócio-ocupacional, é garantido autonomia relativa ao
profissional, mesmo reconhecendo que em determinados quesitos, ser um espaço
precarizado, o/a profissional tem conseguido realizar um trabalho com grau relativo
de qualidade, visto que essas relações de conflito interno de disputas por poder, não
inviabilizam a realização da atividade profissional de acordo com as possibilidades
institucionais existentes.
Outro ponto a ser destacado, refere-se aos recursos advindos do Programa
Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), destinados a ampliar as condições de
permanência dos jovens na educação superior pública federal.
A finalidade demarcada para o PNAES à instituição é pertinente a assistência
estudantil e está presente no cotidiano profissional dos/as assistentes sociais,
apesar de não ser uma de suas atribuições privativas. No entanto, no campo da
85
prática concreta no âmbito do IFMT, os/as assistentes sociais são os/as profissionais
mais requisitados para contribuir com o desenvolvimento dessa política, que requer
o comprometimento de todos os trabalhadores da educação, tanto da gestão,
planejamento quanto da execução direta do programa.
A regulamentação do programa no IFMT, se dá pela Instrução Normativa nº
02, de 24 de janeiro de 2012, que institui e normatiza a assistência estudantil do
IFMT, a partir dessa data. Assim, o programa de Assistência Estudantil do IFMT
consiste na concessão de auxílios aos estudantes de todos os níveis de ensino
presenciais ofertados. Abarca disponibilizar benefícios voltados aqueles que se
encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica, além de promover o
desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, aos estudantes em
geral, visando melhorar o desempenho acadêmico e um meio de evitar a evasão
que atinge patamares significativos, que por sua vez requer análise específica mais
acurada.
Assim, é fundamental ressaltar a importância das condições objetivas de
trabalho que permitem cumprir preceitos éticos profissionais que por sua vez
perpassam e afirmam o disposto no supra projeto de profissão que tem em seus
princípios, o respeito à democracia e a defesa da justiça social equitativa como
direção no cotidiano interventivo do Serviço Social em quaisquer espaço sócio-
profissional.
É imperioso destacar que entre as respostas recebidas não há uma unidade
de pensar, aceitar e cumprir o disposto pela Lei nº 12.317, de 26 de agosto de 2010,
referente a duração da jornada do trabalho do/a assistente social. Constata-se a
existência de formas diferentes do cumprimento do preconizado pela referida Lei.
Há profissionais que cumprem regime de 30 horas e de 40 horas semanais,
gerando situação de disformidade entre os dois regimes postos em pratica pela
instituição para a mesma categoria profissional. Situação que impacta diretamente a
equipe tanto nos aspectos da prestação de serviços, na criatividade, iniciativa,
quanto na sua subjetividade na forma de ver e sentir a prevalência de dois pesos e
duas medidas para uma questão única, a jornada de trabalho que não deve
comportar essa desigualdade laboral.
Existe também, a Portaria nº 417/GR, de 25 de abril de 2011, que normatiza
os turnos de trabalho e o registro de frequência dos servidores técnicos-
administrativos do IFMT. Portaria esta que atualmente está sendo questionada pelos
86
órgãos de controle, ficando a critério da gestão do campus a efetivação da portaria
citada acima, uma vez que no tocante a Lei, a instituição não tem garantido a
conquista legal, oficializada pelo Governo Federal quanto a definição de que a
categoria profissional tem regimentado a duração de trabalho de 30 horas semanais.
A “Lei das 30 horas”, após uma longa mobilização nacional, representa
grande conquista obtida pela categoria profissional dos/as assistentes sociais com a
aprovação da lei em pauta. Ela altera o artigo 5º da Lei de Regulamentação da
Profissão (Lei nº 8.662/1993), para instituir tempo de duração do trabalho do/a
assistente social em discussão, com o acréscimo de garantir no artigo 2º, que com a
nova definição das 30 horas é vedada a redução de salário dos profissionais,
cogitadas por muitos postos ocupacionais, mas, não materializadas efetivamente.
As questões levantadas até o momento, por um lado, permitem identificar um
dos entraves à convivência profissional, pois constituem-se em desigualdade e
injustiça pelo modo de gerir uma categoria profissional em seus posicionamentos
coletivos.
Por outro ângulo evidencia as possibilidades concretas de atuação
profissional do Serviço Social existentes no IFMT, somados aos demais desafios
enfrentados pelo/a assistente social nesse espaço de trabalho.
Assim sendo, se articula a esses dados cotidianos as referências que
respalda esta análise, constata-se, a real forma de subsunção do trabalho ao capital.
Porém, em meio as dificuldades apontadas, cabe frisar que a categoria se posiciona
em busca por limites institucionais, bem como novas possibilidades de realizar sua
intervenção de cunho analítico crítico propositivo. Estes serão trabalhados no
próximo item.
4.3 Entraves e possibilidades da atuação profissional na Educação
Profissional e Tecnológica (EPT)
Como já mencionado neste trabalho, o Serviço Social tem sua gênese
marcada por determinações históricas da evolução da sociedade capitalista. É uma
profissão que se consolida no interior das lutas de classe e que tem, portanto, esta
realidade social enquanto objeto de intervenção profissional que leva em
consideração as influências do contexto político-econômico e social de cada época.
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Isto posto, passam-se a articular novas condições de trabalho do Serviço
Social na contemporaneidade em toda a complexidade conjuntural que a reveste e,
geram preocupações para se concretizar efetivamente a atuação profissional dos/as
assistentes sociais, coerente e de qualidade, conforme evidencia os aportes teórico
metodológicos, técnicos operativos e éticos normativos que regem a profissão.
Afirmações que tem sua constituição e fio condutor na própria conjuntura
atual, que conforme se movimenta em vários aspectos sócio-econômicos e políticos,
impacta a atuação profissional em diversas dimensões e espaços de trabalho.
Situação que não se apresenta diferente no campo da educação profissional
e tecnológica, alicerçado pelo imenso e intenso movimento de inovações
tecnológicas, organizacionais, vividas pelo mundo do trabalho no final do século XX
cujos reflexos emendam no século XXI, sendo que o grau complexo atingiu o campo
das Políticas Sociais públicas e privadas operacionalizadas pelas diversas esferas
institucionais, federal, estadual e municipal de diversos campos e áreas. E em se
tratando do espaço federal, percebe-se uma tensão entre a forma de geri-lo frente
ao projeto profissional, que pode ser compreendido a partir da presente afirmação
de Iamamoto (2009, p. 248),
Verifica-se uma tensão entre projeto profissional, que afirma o assistente social como um ser prático-social de liberdade e teleologia, capaz de realizar projeções e buscar implementá-las na vida social; e a condição de trabalhador assalariado, cujas ações são submetidas ao poder dos empregadores e determinadas por condições externas aos indivíduos singulares, os quais são socialmente forjados a subordinar-se, ainda que coletivamente possam rebelar-se.
Depreende-se da passagem citada que apesar da capacidade e habilidades
possuídos pelas/as assistentes sociais para mediar a referida tensão enquanto sua
liberdade, com relação as condições de trabalho e aos entraves institucionais, estes
empregadores, subsumem os/as trabalhadores conforme segue os relatos dos/as
profissionais participantes da pesquisa ao afirmar que:
Relato A:
Número insuficiente de profissionais para atender as diversas atribuições que são requisitadas. A relação atual em termos numéricos é de apenas 1 (uma) assistente social para atuar em campus com uma média de 1.200 estudantes (hum mil e duzentos), em sua sede e dois núcleos avançados em diferentes municípios e, pelo menos 300 estudantes em regime integral e de internato, com sérias dificuldades na estrutura de moradia. Falta de
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planejamento estratégico de diversas instâncias que se articulam aos trabalhos do Serviço Social (AS A).
Nessa linha reflexiva, o relato seguinte aborda outro elemento que se faz
presente em seu cotidiano profissional como,
Relato B:
A evasão escolar que deveria ser acompanhada em tempo real pelo Serviço Social não acontece, pois os diários dos professores não são preenchidos de forma correta, e somente quando chega o final do semestre ou quando tem conselho de classes que temos essa informação. Mesmo assim, orientamos aos professores nos informar os alunos que estão faltando para o Serviço Social fazer o acompanhamento e/ou encaminhamento devido ao aluno (AS B).
Na ótica da complementaridade outros aspectos assumem o protagonismo
como dificuldade a atuação profissional assim expressa,
Relato C:
Falta o entendimento, por parte dos colegas Servidores e dos Alunos, do que é Serviço Social, o que faz um Assistente Social e seu papel na Educação. Esse é um dos entraves. Outro entrave seria não participar das decisões de como será destinado o Recurso para a Assistência Estudantil. Já vem pronto e pré destinado todo o montante que será gasto (AS C).
A exemplo do relato acima, este corrobora a falta de conhecimento sobre o
real papel, atribuições e prerrogativas do Serviço Social, motivo pelo qual muitos dos
entraves enfrentados se originam,
Relato D:
Os principais entraves que ainda existem para a efetivação da prática profissional do IFMT são a concepção ainda conservadora que existe para muitos, onde este profissional deve trabalhar na perspectiva da benemerência. O desconhecimento sobre o que é a profissão também torna-se um entrave, pois acaba muitas vezes dificultando o fazer profissional (AS D).
Diante do exposto, fica evidente que apesar da inserção de uma quantidade
razoável de profissionais assistentes sociais no IFMT, com base na quantidade de
alunos/campi, o número ainda é insuficiente, pois trata se de uma instituição com
estrutura multi-campi e com várias modalidades de educação. Essa necessidade de
89
aumentar o incremento de servidores faz jus também aos servidores assistentes em
administração, ou seja, profissionais que colaboram com as práticas burocráticas da
instituição. Cobertura necessária, até mesmo para não sobrecarregar um
determinado servidor cargo específico, com acúmulo desproporcional de atividades,
a fim de preservar, sua saúde e qualidade de vida, tão indispensáveis aos seres
humanos e, em especial aos trabalhadores em condições de trabalho adversas.
Outra situação é a lógica da expansão, que vem ocorrendo de forma
acelerada, para atender aos interesses do capital, a exemplo do agronegócio da
região que alguns campi se localizam. Esforço não evidenciado na mesma
proporção com relação aos recursos humanos, que vão se tornando polivalentes
para dar conta das sobrecargas impostas. Situação equivalente, também, quanto a
sobrecarga para os/as profissionais de Serviço Social, pois são muitas as atividades
a serem desenvolvidas pelo/a assistente social.
Atividades que, do ponto de vista sobre o desconhecimento do Serviço Social
por outros profissionais pertencentes à educação, gera a não demanda a prestação
de serviços cabíveis aos servidores, uma vez que ao não conhecerem a natureza da
profissão, não reconhecem a necessidade da intervenção profissional desse
profissional.
A concepção conservadora revelada na pesquisa abarca apenas os
profissionais das outras áreas de conhecimento, pois os/as assistentes sociais
sujeitos partícipes da pesquisa tem clareza de sua atuação profissional.
Em contraponto aos entraves elencados, são inúmeras as possibilidades de
intervenção profissional, que se descortinam a visão de que os/as assistentes
sociais, seja na assistência estudantil ou no acompanhamento das inúmeras
expressões da questão social presentes na EPT, ministrado pelo IFMT. É válido
rememorar que a educação profissional esta sendo tratada como política pública,
com toda fragilidade de acesso, permanência e qualidade que lhe é inerente, desde
o plano da concepção a especialização.
Entretanto, ações profissionais, disponível nos Subsídios para Atuação de
Assistente Social na Política de Educação (2012), específicas dos/as assistentes
sociais merecem destaque, quanto à abrangência de sua atuação no campo da
educação conforme detalhamento a seguir apresentado:
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1) Abordagens individuais e junto às famílias dos/as estudantes e
trabalhadores/as da Política de Educação, não sendo vista como a única
forma de atuação profissional;
2) Intervenção coletiva junto aos movimentos sociais como reconhecimento
dos sujeitos coletivos. Ênfase não apenas na educação formal, como
também no campo da educação popular, de forma a ampliar os horizontes
em defesa da educação pública. Ex.: Grêmios Estudantis, Centos
Acadêmicos, Conselhos de Classe, etc;
3) Atuação investigativa, compreensão das condições de vida, de trabalho e
de educação da população para apreensão da realidade social para além
da aparência, constando no projeto de intervenção profissional;
4) Atuação nos espaços democráticos de controle social, nas Conferências e
Conselhos da Política de educação, bem como nos espaços internos, tais
como Comissões, Grupos de Trabalho, etc;
5) Atuação pedagógica interpretativa e socializadora das informações e
conhecimentos da rede de serviços. Ênfase para as legislações
pertinentes, os direitos sociais e humanos;
6) Atuação de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e
serviços, apesar da resistência institucionalizada, atualmente tem se uma
clara possibilidade de atuação profissional na gestão democrática e
participativa.
O elenco e reconhecimento das ações do/a assistente social na área em
apreço, tem sido trabalhada na perspectiva da garantia do acesso, da permanência
do público alvo na instituição e no sentido da valorização da gestão democrática.
Com o intento de demonstrar as particularidades da atuação profissional,
conforme a caracterização e inserção do Serviço Social na Política de Educação do
IFMT, julgou-se pertinente apresentar os parâmetros a seguir:
a) Com relação à garantia do acesso da população à educação formal:
O processo de interiorização da rede, apesar das inúmeras falhas e problemas na condução de sua implantação pelo governo federal, está possibilitando o acesso de trabalhadores e seus filhos na educação pública. Existe a compreensão institucional de que os Institutos Federais devem pensar em estratégias para inserir os trabalhadores (as) na educação.
91
Reflexo desta preocupação é a obrigatoriedade legal de que cada Instituto tenha um percentual, definido por lei, do Programa de Educação de Jovens e Adultos; as atividades de extensão e as localidades em que foram instalados alguns campi do IFMT no interior do Estado também reflete a relação de proximidade que essa instituição deve ter como as comunidades (AS A).
b) Com relação à permanência do acesso da população à educação formal:
A principal garantia de permanência da população a educação formal é a partir da Política de Assistência Estudantil, só que os recursos que são alocados para tal política ainda é pouco debatido no IFMT, pois a exemplo de outros Estados, a assistência estudantil tem uma diretoria e os meios de debate bem como a alocação dos recursos são mais transparentes.Além da equipe multiprofissional que hoje existe no IFMT do qual faz parte o assistente social, onde junto a esta equipe este profissional desenvolve projetos e ações que venham a contribuir com o processo educativo e com a consolidação dos espaços políticos, construindo assim a cidadania e ainda desenvolve trabalhos que perpassam por questões sociais que visem contribuir também com este processo de aprendizagem (AS D).
c) Com relação à garantia da qualidade dos serviços prestados no sistema
educacional do IFMT:
Na perspectiva da garantia da qualidade dos serviços prestados, há busca no desenvolvimento de trabalho interdisciplinar e a busca de desenvolver ações intersetoriais. Há neste ponto também, a defesa de espaços reservados para atendimento e espaços reservados dos arquivos da/do profissional, bem como a defesa da dimensão investigativa no exercício profissional e a necessidade de se realizar estudos de cunho qualitativo acerca da realidade social e dos envolvidos na Política de Educação. Todavia, esses são alguns passos na garantia da qualidade, que se encontram em um cenário desafiador (AS E).
d) Com relação à garantia da gestão democrática e participativa da
população na Política de Educação do IFMT:
Não há nenhuma (AS C).
A ampliação dos IF’s gerou demandas imensas por programas e ações que
envolvem a assistência estudantil, e consequentemente o crescimento das formas
de acesso, em especial para a educação superior.
Ao analisar os dados acima relativos as condições de acesso, podem-se
observar que as atividades estão diretamente relacionadas as ações institucionais,
92
criadas pelo governo, intitulada afirmativas à população mais vulnerável quanto aos
processos seletivos, estabelecimento de cotas, programas de bolsas/auxílios,
atividades de extensão, dentre outras.
Pertinente à permanência, as ações são semelhantes, mas os projetos se
voltam a encaminhamentos para lidar com questões de evasão e da baixa
frequência, bem como as estratégias e didáticas a serem adotadas para minimizar a
situação. Estratégias em que as ações profissionais se pautam por processos
investigativos, como estudos sócio-econômicos, identificação das condições de
vulnerabilidade social, organização da operacionalização dos programas da
assistência estudantil, destinados a esse público alvo.
Da mesma forma, é importante registrar que a garantia da qualidade dos
serviços prestados à população escolar, mantém a relação direta com a
imprescindibilidade da participação dos/as profissionais assistentes sociais, na
elaboração dos documentos institucionais de referência, como o Plano de
Desenvolvimento Institucional, o Regimento Interno, os Planos Pedagógicos dos
Cursos, a Organização Didática, entre outros, ampliando as práticas pedagógicas
desses profissionais.
E por último, além das dimensões anteriores apresentadas no sentido de
garantir a gestão democrática e participativa da população estudantil, é fundamental
os/as profissionais atuarem na mobilização e organização dos mesmos, no que
tange nos Grêmios Estudantis e Centros Acadêmicos, a fim de fortalecer o
protagonismo desse segmento na vivência institucional nas questões que lhes
compete quanto uma sólida afirmação não só profissional, mas, também cidadã
responsável.
Contudo, em que pese esse esforço ativo dos/as profissionais de Serviço
Social existe ações pontuais para o fortalecimento dessa instância, principalmente
para o enfrentamento das sequelas da questão social. Assim, com intuito de
externalizar as principais expressões presentes no cotidiano da educação
profissional e como se desvelam dentro do IFMT, o item seguinte se destinará a
apresentá-las de modo mais detalhada.
93
4.4 Expressões da questão social manifestadas no cotidiano da Educação
Profissional e Tecnológica (EPT)
Nos últimos anos, com o ingresso de relativo número de assistentes sociais
no IFMT, com o mínimo de um profissional por campi, houve grande interesse por
parte da categoria em realizar estudos sócio-econômicos e políticos sobre as formas
que a “questão social” e suas múltiplas formas de expressão comparecem no
cenário institucional em análise. Interesse que está presente desde a gênese da
profissão, portanto, lhe é inerente por se tratar desde os primórdios, das
contradições internas com as quais a profissão lida constantemente, por emanarem
da formação societária vigente.
Logo, essas expressões constituem-se em parte interna da sociedade
capitalista, cujos reflexos por uma série de desdobramentos se fazem
inexoravelmente presente nos processos formativo e também no processo de
trabalho, independente do espaço sócio-ocupacional onde os/as trabalhadores/as
cumprem seus respectivos exercícios profissionais.
Nesse contexto cabe ressaltar os contributos de Pastorini (2010, p. 22) sobre
“a ‘questão social’ contemporânea nas sociedades capitalistas que mantém a
característica de ser uma expressão concreta das contradições e antagonismos
presentes nas relações entre classes, e entre estas e o Estado”, ou seja, é
indissociável da sociedade capitalista, com o desenvolvimento das forças produtivas
e consequentemente, aprofunda as relações de desigualdade e pobreza.
Contribuições que corroboram com a forma e os elementos apreendidos no
cotidiano da EPT no IFMT e de como a discutida questão desvela seus
arraigamentos e expressões na ambiência institucional. Essas expressões, muitas
vezes surgem com novas roupagens, mas, sem se poder esquecer que são oriundas
dos processos históricos em constante movimento, dado a dinâmica inerente à
realidade social.
As desigualdades sociais constituem uma das categorias de análise
permanentemente desafiadora ao Serviço Social e exige do/a profissional o
compromisso do debate teórico atento e acurado frente as expressões advindas do
embate entre capital e trabalho, bem como frente as políticas e ações voltadas à
questão social, em contextos diversos, de modo a encontrar novas formas de
94
enfrentar os impactos advindos da relação conflituosa entre capital e trabalho citada
ao longo do trabalho.
Os elementos antagônicos presentes na sociedade capitalista, foram apenas
rememorados por não ser a intenção realizar uma retrospectiva dessa discussão,
mas, só referenciá-las para situá-las e demonstrar essa correlações de forma breve,
as concepções que surgiram sobre as expressões da questão social presentes na
EPT dentro do IFMT a partir da pesquisa realizada, embora algumas delas
perpassaram, todos os itens, em especial quando se trata da evasão escolar.
Quanto aos demais a seguir elencados, que se constituem em concretas e principais
formas de expressões da questão social presentes no IFMT, porém de forma difusa:
Drogas lícitas e ilícitas (uso, dependência e tráfico);
Prostituição;
Abuso Sexual;
Alcoolismo;
Violência Doméstica;
Violência Sexual;
Violência Psicológica;
Desemprego;
Preconceito;
Negligência dos pais/responsáveis;
Vulnerabilidade Social;
Dificuldade de aprendizagem;
Doenças Sexualmente Transmissíveis;
Assédio Moral;
Precarização do trabalho;
Alto índice de evasão;
Gravidez na adolescência;
Paternidade na adolescência;
Saúde precária;
Desigualdade Social;
Vandalismo;
Roubo.
95
A relação apresentada, considerou todas as formas que as expressões da
questão social se manifestam nesse espaço sócio-ocupacional como sua
configuração global impactam o convívio educacional. Nesse sentido, os/as
assistentes sociais vem buscando discutir formas sócio-educacionais para essas
manifestações a partir das relações sociais vivenciadas pelos/as estudantes.
Um ponto a ser destacado é sobre quais as respostas e as possibilidades
técnico-operacionais que o Serviço Social passa a ofertar as reais problemáticas
vivenciadas cotidianamente pelo/a profissional, nesse contexto institucional de
formação do público da EPT?
Questionamento que requereu firmar com a maior clareza qual a real
concepção de educação e de Serviço Social que este profissional possui. Isto é,
considerar também que a educação não pode ser entendida como a única forma de
ascensão social, pois este discurso se faz presente no senso comum, porque lhe é
inerente, logo, oposto ao pensar como o Serviço Social, enquanto profissão se
insere no processo de divisão técnico político e operacional do capital.
Assim, foi necessário se reportar ao conhecimento da identidade profissional
neste espaço de atuação, dada a peculiaridade e particularidades que comporta a
comunidade escolar e o que ela espera do/a assistente social. Menção necessária
para entender as determinações específicas dessa atuação.
Ainda se faz presente no ideário da referida comunidade que quando
reivindica a intervenção do/a profissional de Serviço Social, este terá o dever de
solucionar todos os problemas vivenciados no espaço escolar e com
desdobramentos, consequências no universo familiar.
Das devolutivas recebidas pudemos apreender que os/as assistentes sociais
do IFMT, comungam com o disposto pelo CFESS ao percorrer que,
Os campos de trabalho ou ‘mercado’ do/a Assistente Social estão pulverizados de práticas institucionais dificultadoras da formação de uma ‘identidade’ profissional, num contexto em que se expressa um redesenho nos diferentes processos de trabalho (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012, p. 21).
Percepção que é constatada neste estudo ao refletir sobre as respostas
dadas, conforme pontuado em linhas anteriores que os/as assistentes sociais do
IFMT, trabalham ancoradas nas formas com que cada realidade do seu campi lhe
expressa.
96
Nesta reflexão esta inserida também o respeito aos hábitos culturais locais, a
natureza, a vocação econômica dos municípios aos quais os/as alunos/as do EPT
pertencem que por si influenciam o exercício profissional a considerar esse conjunto
de necessidades as quais se defronta a reflexão posta, leva a constatação que
existem não um só, mas alguns caminhos diversos que conduzem os/as
profissionais a conformar a construção e afirmação da identidade.
A mediação em questão perpassa esse processo de firmar a identidade
profissional ao se travar as relações sociais desenvolvidas neste espaço, tais como
aluno-professor, aluno-família, aluno-servidor, dentre os quais se encontram os/as
assistentes sociais e, que consequentemente se farão presentes no cotidiano de
vivência e por fim aluno-sociedade.
Desse modo, algumas possibilidades são possíveis para fortalecer a
identidade profissional, como a seguir listado:
Ampliação dos debates institucionais com os sujeitos que tenham relação
direta com os elementos apontados, de modo a provocar como entender a
caracterização da situação vivenciada;
Elaboração de diagnóstico, se possível, envolver os/as professores/as
partícipes diretos dessa vivência, portanto com contribuições de olhares
de ângulos diferentes da realidade social educacional, cuja elaboração
subsidiará as ações e projetos sociais nesse espaço;
Implementação de projetos sociais, adotando a atitude de constante
monitoramento e avaliação dos projetos executados, no intuito de obter
um retorno positivo à população a que se destina;
Articular o agir profissional com a política de educação, particularizando a
EPT com outras políticas públicas na perspectiva de entender a linha da
intersetorialidade.
Quanto a última, possibilidade apontada, o IFMT por meio do Serviço Social
vem trabalhando nessa direção de garantir uma articulação com as políticas
existentes, pois existem ações que fazem interface interinstitucionais com outras
políticas, especialmente as da Saúde, Assistência Social, Cultura, Esporte e Lazer,
Geração de Trabalho e Renda, Preservação do Meio Ambiente, dentre outras, como
97
assinalam as percepções dos/as assistentes sociais, respeitando as diversidades
locais apontadas anteriormente que assim expõe:
Relato A:
O IFMT atua com programas de extensão para qualificação profissional, se articulando com as Secretarias de Trabalho e Renda e da política de Assistência Social dos municípios (AS A).
Relato B:
Temos parceria com o município que nos dá total auxílio se precisarmos, é só encaminhar para as Secretarias. Na área da Saúde sempre encaminhamos nossos/as alunos/as e as vezes encaminhamos para a Assistência Social (AS C).
Relato C:
No momento atual, estamos iniciando um mapeamento da rede local, como secretarias, conselhos, organizações não governamentais, prefeitura e movimentos sociais. Já foram realizadas algumas visitas institucionais nas secretarias para conhecer as ações e projetos que estão sendo desenvolvidos nesses locais, bem como a possibilidade de se construir ações conjuntas. Até o momento, foi dialogado com o Núcleo Municipal de Educação em Saúde (NUMES) e com o Núcleo de Apoio em Saúde da Família (NASF) – ambos da Secretaria Municipal de Saúde, para desenvolver algumas ações na área da saúde preventiva para a comunidade da Instituição – tanto para as/os estudantes quanto servidoras/es. Outra ação está sendo iniciada na área do Meio ambiente, junto com o comitê local (localizado em Cuiabá) da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida – fomentaremos a divulgação da campanha na Instituição e temos a ideia de lançar o curta ‘O Veneno Está em Sua Mesa II’ com a comunidade da Instituição e posteriormente realizar um debate sobre algumas questões como concentração de terras; produção voltada para a exportação; expropriação do povo do campo; e a geração de lucro para transnacionais que por outro lado continua mantida a fome e a pobreza no país (AS E).
Os extratos acima mencionados, revelam que há um empenho e pleno
comprometimento com o exercício profissional através da mediação das ações
desenvolvidas no IFMT com as políticas setoriais, apesar da sinteticidade do teor
dos dois primeiros. O terceiro conteúdo desvela exatamente o domínio do fazer
profissional pela apropriação de elementos e posicionamentos mais ajustados para
firmar parcerias, construir uma rede, ações conjuntas e mediá-las institucionalmente
com cada espaço sócio-ocupacional e outrora sociais partícipes desse processo em
98
prol de garantir o público alvo, ações sociais efetivas que contribuam com a
formação cidadã na ótica do acesso aos direitos universais.
Nesse sentido, é claro que as ações profissionais vêm sendo construídas no
âmbito dos direitos sociais, conforme afirma Simões (2011, p. 69). “Os direitos
sociais estão inseridos no âmbito dos direitos e garantias fundamentais, ao lado dos
direitos individuais e coletivos, da nacionalidade e dos direitos políticos”. E cujas
estratégias o Serviço Social utiliza para assegurar o exposto, conforme evidencia o
trecho da devolutiva a seguir apresentada,
Relato A:
Primeiramente conhecer quais são as necessidades colocadas pelo público atendido na educação e quais são as políticas que o Serviço Social poderá acionar em caso de realizar parcerias e/ou denúncias de violação de direitos. Outra estratégia é conhecer bem não só a política na qual atua, mas também aquelas que deverão ser acionadas para realização das parcerias. Estabelecer contatos com uma rede de profissionais que atuam nas diferentes políticas e serviços que se articulam com a educação também é uma importante estratégia para o acesso a informações seguras e encaminhamentos necessários (AS A).
Relato B:
As estratégias são muitas desde que haja o envolvimento de toda a comunidade acadêmica seja ela interna ou externa. E para se articular o sistema de garantias e proteção social deve-se buscar especialmente os parceiros externos, visto que internamente, o IFMT ainda possui muitas limitações, especialmente nos campi rurais e onde ainda há os internatos. (AS D)
É de vital importância reafirmar a perspectiva dos direitos sociais enquanto
legalmente conquistados, em contraposição a compreensão de concessão. Nesse
sentido, os/as profissionais estreitam a relação com os princípios do Projeto Ético-
Político do Serviço Social, em busca do enfrentamento dos desafios postos à
atuação profissional, de forma a desconstruir o pensamento majoritário da sociedade
de hoje de que é importante a EPT vinculada à empregabilidade e ao mercado de
trabalho, em prol da compreensão da educação pública, laica, presencial, de
qualidade, haja vista a consolidação da educação universal.
99
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse estudo, buscamos compreender a atuação do/a assistente social na
educação profissional e tecnológica, no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), a
partir do eixo norteador da pesquisa, focado nas categorias: Serviço Social; Atuação
Profissional e Educação Profissional e Tecnológica, onde procuramos demonstrar
que a atuação do Serviço Social para a EPT, mesmo ante os entraves e limitações,
vem gradativamente construindo uma via não só de acesso mais amplo na
instituição, quanto de reconhecimento da sua realidade no seio das demais
profissões que congregam esse espaço ocupacional. Acesso e reconhecimento de
um exercício profissional de qualidade que enriquece o trabalho desenvolvido
individual e coletivo. Os/as profissionais pesquisados/as são trabalhadores/as que
sofrem os impactos criados pela crise estrutural do capital, que resultam em um
ambiente de trabalho de opressão que os atinge diurnamente mesmo em se
tratando de estar inseridos em uma instituição prestadora de Serviço Público
Federal.
Explicação que remete a compreensão da trajetória da educação ser
fortemente marcada pelas disputas societárias. No entanto, abordar o Serviço Social
nesse contexto da educação se coloca como tarefa política visto que é um campo de
intervenção do Estado e de um espaço sócio-ocupacional estratégico para a
formação de cidadãos, sujeitos portadores de direitos e garantias sociais
inalienáveis.
As contradições produzidas pelo capital se apresentam cada vez mais
profundas e a capacidade do Estado em lidar com essas expressões e em promover
as políticas sociais se mostram cada vez mais minorizadas e duramente
questionadas. Assim, tais contradições imprimem um contexto desfavorável ao
trabalho do/a assistente social e trabalhadores em geral, que sofrem perdas dos
direitos trabalhistas conquistados, levando a luta pela reprodução e garantia da
própria sobrevivência a níveis insustentáveis.
Desse modo, a atuação do Serviço Social no espaço sócio-ocupacional do
IFMT, é atravessado por entraves, limites e possibilidades de atuação frente a
garantia de direitos e proteção social, nos programas internos ou na articulação
intersetorial.
100
Pelos resultados obtidos, é visível e inegável reconhecer a necessidade da
atuação deste profissional na EPT, principalmente, no que se refere à dimensão
educativa do trabalho. Intervenção que fortalecerá o processo de organização de
uma nova cultura na comunidade escolar, fundamentada em princípios de acordo
com o projeto ético-político do Serviço Social numa perspectiva crítica e interventiva.
O Serviço Social pode contribuir analisando a realidade social num ponto de vista da
totalidade, dando visibilidade aos determinantes das situações vivenciadas pela
demanda, e ainda desempenhar um papel estratégico na luta pelo atendimento das
necessidades e interesses da comunidade escolar.
Essa atuação só é possibilitada pela intervenção efetiva, concreta e
sintonizada entre os/as assistentes sociais aos demais profissionais do IFMT, como
psicólogos, pedagogos, técnicos em assuntos educacionais, dentre outros, que
caminham na mesma direção da qualidade dos serviços prestados.
Nesse processo, também se faz presente considerar a validade do conjunto
de conhecimentos das dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-
operativas, pois são dimensões que capacitam a materialização e o reconhecimento
legal dessa profissão, portanto da atuação de seus profissionais norteados por esse
conjunto de saber. O amadurecimento teórico da profissão proporciona o referido
arcabouço teórico-metodológico que, articulados, viabilizam integralizar as ações
profissionais aos sujeitos de direitos.
Deste modo, dentre as inferências, é necessário reconhecer a necessidade e
indispensabilidade de ampliar os debates entre os profissionais que atuam nesta
área, de forma a oportunizar reflexões sobre as particularidades da política de
educação nesse espaço sócio-ocupacional, a fim de socializar experiências positivas
de cada campi. Nesse ponto, revelar limites e possibilidades de atuação concreta
renova a intenção de mobilizar o debate, a reflexão dessa temática, articulado
coletivamente com outros profissionais do IFMT, em defesa da educação
democrática e de qualidade.
Reconhece-se que o Serviço Social deve se inserir de forma mais ampla e
efetiva na EPT, aprofundando as relações dentro desse espaço contraditório,
visando compreender a dinâmica dessa instituição, para posteriormente desenvolver
trabalhos em conjunto, dirigido a ampliação e conquista dos direitos sociais e
educacionais, de suma importância para a atuação do/a assistente social.
101
Deve-se ressaltar que a pesquisa abarcou várias possibilidades de atuação
para concretizar o exposto acima. Contudo, a luta coletiva nesse espaço, não se
prende apenas para ampliar o mercado de trabalho profissional, mas no sentido de
reconhecimento deste espaço estratégico ao Serviço Social em todos os IF’s local e
nacional, articulado a outros processos de trabalho em busca de uma emancipação
humana concreta para si e para o público alvo.
As experiências aqui apresentadas, apesar de algumas serem de
profissionais com pouco tempo de atuação, são qualificadas, conforme as condições
objetivas de trabalho e as requisições institucionais postas por cada campi.
Particularidades que não interferem na delimitação do trabalho profissional do/a
assistente social no que tange a concepção de educação e de Serviço Social já
debatida neste estudo.
Igualmente, se refere ao significado político da inserção do Serviço Social na
EPT, que vincula-se a luta pela educação pública, de qualidade e como direito
social. Nessa perspectiva, a articulação com profissionais de outras políticas, bem
como dos órgãos de classe, é necessário para compor a base da formação contínua
no cumprimento das atribuições e competências socioprofissionais.
É válido ressaltar a importância do papel da pesquisa nesse processo, visto
que faz-se imprescindível enfatizar a natureza investigativa e interventiva do/a
profissional, ou seja, a apreensão das reais condições de trabalho dos/as
assistentes sociais como elemento fundamental para o exercício profissional
qualificado, visando alcançar os objetivos e metas pretendidos.
Inúmeros, portanto, foram os desafios captados na pesquisa para os
profissionais da educação, dentre eles, o/a assistente social. Neste sentido, é
fundamental refletir sobre o trabalho executado nesta política social, sua inserção na
sociedade, sua condição de vida e participação de modo a reconhecer e construir
novas formas de resistência ao processo de fragilização das políticas educacionais e
da atuação política desses profissionais em defesa de seus direitos como principais
protagonistas nesse processo.
Para finalizar, é fundamental registrar que é necessário o/a assistente social
assumir conscientemente o compromisso com a transformação educacional atual.
Replanejá-la com as concepções aqui discutidas e apreendidas pela equipe.
Compromissos plenamente ancorados com os objetivos ético-político, presentes no
projeto político pedagógico da categoria profissional do Serviço Social, articulando
102
suas ações com movimentos de resistência e de construção de outras propostas
inovadoras para EPT. Esse é o desafio que estará por determinado tempo posto em
caráter da continuidade, ainda para os/as assistentes sociais que ocupam os
espaços profissionais da área de educação e não exclusivamente aos do IFMT.
Reconhece-se por fim que algumas dimensões pertinentes a essa área que
podem ter sido abarcadas em uma outra pesquisa com um perfil diferenciado, não o
foram nesta. Mas, entretanto, é uma pesquisa com um caráter norteador da
intervenção profissional de assistentes sociais que na prática é respaldada.
Portanto, esta elaboração submetida a apreciação da Banca Examinadora está
aberta à contribuição que serão incorporadas em estudos futuros.
103
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APÊNDICE A - Questionário
QUESTIONÁRIO8
1) Qual a concepção de educação que orienta sua experiência de atuação
profissional do/a assistente social? Com o auxílio ou não de referências a
autores, a concepção que tem norteado ou que vem sendo construída no
trabalho da equipe, inclusive se houver diferenças entre as mesmas.
2) Qual a concepção de Serviço Social que orienta seu trabalho na Política de
Educação Profissional e Tecnológica do IFMT? Com o auxílio ou não de
referências a autores, a concepção que tem norteado ou que vem sendo
construída no trabalho da equipe, inclusive se houver diferenças entre as
mesmas.
3) Quais as condições objetivas existentes no IFMT para efetuar a atuação
profissional do Serviço Social? Exemplifique as condições.
4) Quais os principais entraves existentes no IFMT enfrentados na atuação
profissional do Serviço Social? Exemplifique os entraves.
5) Caracterize a inserção do Serviço Social no âmbito da Política de Educação
do IFMT, considerando as particularidades da atuação profissional do/a
assistente social e tendo como referência os seguintes focos:
a) garantia do acesso da população à educação formal; Quais as ações,
programas e atividades voltadas para esta finalidade e exemplifique.
b) garantia da permanência da população à educação formal; Quais as
ações, programas e atividades voltadas para esta finalidade e exemplifique.
8 Questionário elaborado pelo Grupo de Trabalho Serviço Social na Educação. Brasília, 20 de dezembro de 2009, adequado para a pesquisa da dissertação intitulada “A Atuação Profissional do/a Assistente Social no Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT: desafios e particularidades do Serviço Social na Educação Profissional e Tecnológica”, do programa de Mestrado em Política Social pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.
108
c) garantia da qualidade dos serviços prestados no sistema educacional
do IFMT; Quais as ações, programas e atividades voltadas para esta
finalidade e exemplifique.
d) garantia da gestão democrática e participativa da população na Política
de Educação Profissional e Tecnológica do IFMT. Quais as ações,
programas e atividades voltadas para esta finalidade e exemplifique.
Obs.: Caso as experiências profissionais não estejam contempladas nos itens
destacados descreva a partir da sua realidade.
6) O Serviço Social na Política de Educação Profissional e Tecnológica do
IFMT integra equipes multidisciplinares e/ou interdisciplinares? Como as
equipes estão compostas e as formas de condução de seu trabalho identificando
possibilidades e entraves em relação à construção de um trabalho coletivo
voltado para a garantia do direito à educação.
Obs.: Caso as experiências profissionais não estejam contempladas nos itens
destacados descreva a partir da sua realidade.
7) Identifique as principais expressões da questão social presentes na Política
de Educação Profissional e Tecnológica dentro do IFMT. Quais são essas
leituras identificando como essas diferentes expressões são identificadas e
enfrentadas e exemplifique.
8) No IFMT, existem ações interinstitucionais e de articulação das Políticas
Públicas de Educação com outras políticas, como Saúde, Assistência
Social, Cultura, Habitação, Justiça, Esporte e Lazer, Trabalho e Renda, Meio
Ambiente? De que forma acontece? Quais são essas ações identificando-as
frente às demais políticas públicas e exemplifique.
Obs.: Caso as experiências profissionais não estejam contempladas nos itens
destacados descreva a partir da sua realidade.
9) Quais as estratégias do Serviço Social para articulação e mobilização do
sistema de garantia de direitos e proteção social? Quais são essas