Maceió - AL, 14 a 17 de agosto de 2016
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
A COMERCIALIZAÇÃO DO AÇAÍ E A AGRICULTURA FAMILIAR: UM ESTUDO
SOBRE A FORMAÇÃO DE PREÇOS NO ACRE
Márcio Bonfim Santiago
Instituto Federal do Acre
E-mail: [email protected]
Raimundo Cláudio Gomes Maciel
Universidade Federal do Acre
E-mail: [email protected]
Francisco Bezerra de Lima Junior
Instituto Federal do Acre
E-mail: [email protected]
Francisco Diétima da Silva Bezerra
Instituto Federal do Acre
E-mail: [email protected]
Grupo de Pesquisa: Grupo 1 – Comercialização, Mercados e Preços
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo estudar a formação de preços do açaí no Estado do Acre.
A utilização da formação de preços pelos agentes mercantis no mercado de açaí no Acre traz
efeitos positivos? A hipótese deste trabalho reside no sentido de que grande parte dos agentes
mercantis deste mercado desconhece a formação de preços, inexiste controle para identificar
custos, a precificação se dá por meio do que se pratica no mercado, há a prática de atividades
paralelas e o intermediário se apropria da maior parte do preço. É nas relações de mercado que
reside grande parte das dificuldades dos produtores/coletores. Isso porque os agentes mercantis
da cadeia de comercialização, principalmente o intermediário, se apropriam da maior parcela
do preço cobrado ao consumidor final. Os procedimentos metodológicos baseiam-se no
levantamento de informações a fim de identificar e descrever a estrutura e agentes mercantis
das cadeias de comercialização, bem como mensurar quais são as margens de comercialização
referentes ao açaí produzido/coletado no Acre. Os resultados demonstraram que alguns agentes,
em especial o produtor/coletor, ignoram a formação de preços e não fazem cálculo algum a
respeito de seus custos. Percebeu-se que todos os agentes mercantis envolvidos têm uma grande
margem de comercialização sobre os produtos e que a oferta não supre a demanda de mercado,
uma vez que o açaí é bem aceito no mercado acreano, possuindo uma ótima qualidade.
Palavras-Chave: Formação de Preços. Açaí. Acre. Amazônia.
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Abstract
This work aims to study the formation of acai prices in Acre. The use of pricing by market
agents in açaí market in Acre has positive effects? The hypothesis of this work lies in the sense
that most of the market players in this market unaware of the pricing, control does not exist to
identify costs, the pricing is through what is practiced in the market, there is the practice of
parallel activities and intermediate appropriates most of the price. It is the market relations lies
much of the difficulties the producers / collectors. This is because market agents in the supply
chain, especially the intermediate, if appropriate the largest share of the price charged to the
final consumer. The methodological procedures are based on survey information to identify and
describe the structure and mercantile agents marketing chains and measure what the marketing
margins for the açaí produced / collected in Acre. The results showed that some agents,
especially the producer / collector, ignore the pricing and do some calculations about costs. It
was noticed that all market players involved have a large marketing margin on the products and
the supply does not meet the market demand, since acai is well accepted in the Acre market,
having a great quality.
Keywords: Price Formation. Acai. Acre. Amazon.
1. Introdução
Os pequenos estabelecimentos rurais têm demonstrado ser importantes para a sociedade,
uma vez que contribuem para a produção de alimentos no país. Contudo, existem problemas
dentro e fora destes estabelecimentos, sendo que a comercialização de seus produtos no
mercado encontra dificuldades, como a existência de intermediários, que acabam por se
apropriar de boa parte do preço que poderia ser destinado ao produtor.
Recentemente os produtos florestais não madeireiros vêm ganhando destaque no cenário
nacional, pois se tornaram alternativas de geração de renda e conservação do meio ambiente.
Dentre eles dar-se-á ênfase ao açaí, foco de estudo desta pesquisa.
A partir da década dos anos de 1990 o açaí vem ganhando destaque não somente a nível
nacional, bem como também a nível internacional. No Brasil como um todo, a partir da década
dos anos de 1990, a produção começou a deixar de ser exclusivamente nativa para ser obtida,
também, de açaizais nativos manejados e de cultivos implantados em áreas de várzea e de terra
firme. Em sua grande maioria o açaí provém de açaizais nativos. No Acre o uso do açaí nativo
ainda representa grande parte da totalidade da produção.
O potencial do açaí para comercialização é enorme. Não se trata de uma demanda
insatisfeita em nível local ou regional, mas a nível nacional e internacional. É um produto que
conta com uma enorme aceitação no mercado possuindo vários derivados, porém o mercado
acreano necessita se organizar desde a base da cadeia produtiva para que possa comercializá-lo
em todo o país e fora dele também.
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Por conseguinte, é necessário analisar a formação de preços do açaí no Acre. É aqui
onde reside à questão central do presente trabalho: identificação dos agentes mercantis
envolvidos na cadeia de comercialização do açaí, análise dos preços de compra e venda dos
agentes mercantis envolvidos neste setor e avaliação do desempenho da comercialização do
açaí. O problema está na indagação: a utilização da formação de preços pelos agentes mercantis
no mercado de açaí no Acre traz efeitos positivos?
A hipótese deste trabalho reside no sentido de que grande parte dos agentes mercantis
deste mercado desconhece a formação de preços, inexiste controle para identificar custos, a
precificação se dá por meio do que se pratica no mercado, há a prática de atividades paralelas e
o intermediário se apropria da maior parte do valor. Além da regulação do mercado existem
problemas relacionados ao transporte, armazenagem, isolamento e, principalmente, apropriação
de grande parte do valor por intermediários.
Os procedimentos metodológicos baseiam-se no levantamento de informações a fim de
identificar e descrever a estrutura e agentes mercantis das cadeias de comercialização, bem
como mensurar quais são as margens de comercialização referentes ao açaí produzido/coletado
no Acre. A coleta de dados foi realizada por meio de fontes documentais, método primário e
secundário, tendo o apoio do grupo de pesquisa do projeto Análise Socioeconômica de Sistemas
Básicos da Produção Familiar Rural no Estado do Acre - ASPF, onde se utiliza avaliação por
meio de indicadores econômicos, sociais e produtivos.
A presente pesquisa pretende contribuir para a discussão sobre a construção de políticas
favoráveis à comercialização do açaí no Acre, principalmente no que diz respeito à geração de
informações acerca do mercado e demanda, de forma a se buscar um preço capaz de remunerar
os custos de produção e garantir receita para os produtores/coletores.
2. A Agricultura Familiar e o Açaí
Para Schneider (2006), a expressão “agricultura familiar” emergiu no Brasil a partir de
meados da década dos anos de 1990. No campo político, tal expressão parece ter sido
encaminhada como uma nova categoria-síntese pelos movimentos sociais do campo,
capitaneados pelo sindicalismo rural ligado à Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (CONTAG). A agricultura familiar mostrou-se capaz de oferecer guarida a um
conjunto de categorias sociais (assentados, arrendatários, parceiros, integrados às
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agroindústrias, entre outros), que não mais podiam ser confortavelmente identificados como
rurais as noções de pequenos produtores ou, simplesmente, de trabalhadores.
Guanziroli et al. (2009, p.15) afirma que os países capitalistas que ostentam os melhores
indicadores de desenvolvimento humano são justamente aqueles que adotaram a estratégia de
desenvolvimento baseado na atividade familiar e não na patronal como ocorrera no Brasil, onde
a gestão e o trabalho foram dissociados provocando uma imensa desigualdade social.
Dois importantes autores, Abramovay e Guanziroli, contribuíram para o
aprofundamento do debate da agricultura familiar. A definição dada por Abramovay (1997, p.
03) é:
A agricultura familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do
trabalho vêm de indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de parentesco.
Que esta definição não seja unânime e muitas vezes tampouco operacional é
perfeitamente compreensível, já que os diferentes setores sociais e suas representações
constroem categorias científicas que servirão a certas finalidades práticas: a definição
de agricultura familiar, para fins de crédito, pode não ser exatamente a mesma daquela
estabelecida com finalidades de quantificação estatística num estudo acadêmico. O
importante é que estes três atributos básicos (gestão, propriedade e trabalho
familiares) estão presentes em todas elas.
Daí conclui-se que nesta visão há a necessidade da presença de uma relação familiar
entre aqueles que gerenciam, são donos e trabalham a terra. Olhando por este prisma parece até
que sua importância é ínfima. Porém, os países desenvolvidos a veem conforme definiu
Guanziroli et al (2001, p. 15):
A expansão e dinamismo da agricultura familiar baseou-se na garantia do acesso à
terra em que cada país assumiu de forma particular, desde a abertura da fronteira oeste
americana aos farmers até a reforma agrária compulsória na Coréia e em Taiwan. Em
todos esses países, além de contribuir para dinamizar o crescimento econômico, a
agricultura familiar desempenhou um papel estratégico e tem sido relevado em muitas
análises: o de garantir uma transição socialmente equilibrada entre uma economia de
base rural para uma economia urbana e industrial.
Lima & Wilkinson (2002) já concluíram que para os agricultores possuírem acesso a
mercados mais promissores, deveriam combinar a competência herdada de suas proles com
novos conhecimentos e novas práticas. Assim, o desenvolvimento de novas habilidades,
principalmente de natureza técnica, pode ser o principal desafio a ser enfrentado pelos
agricultores familiares rurais.
Neste sentido, cabe destacar que o extrativismo do açaí é uma atividade típica da
agricultura familiar. É demandante de mão-de-obra e exige, sobremaneira nos maciços de
igarapés, muita habilidade para o manejo e colheita dos frutos. É fonte principal de renda destes
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agricultores. Cerca de 80% do açaí é obtido de extrativismo, enquanto apenas 20% provêm de
açaizais manejados e cultivados (BRASIL, 2006).
Para o SEBRAE (2014) o açaí é um alimento muito tradicional na dieta da população
da Amazônia. É encontrado, principalmente, em florestas nativas da região, sendo uma
alternativa de renda para a população tradicional. O açaizeiro se destaca, entre os diversos
recursos vegetais, pela sua abundância e por produzir, importante alimento para as populações
locais, além de ser a principal fonte de matéria-prima para a agroindústria de palmito no Brasil.
A produção de frutos, que provinha quase que exclusivamente do extrativismo, a partir da
década de 1990, passou a ser obtida, também, de açaizais nativos manejados e de cultivos
implantados em áreas de várzea e de terra firme (BRASIL, 2006).
Devido à grande valorização e crescimento da demanda pelo fruto, este passou a ser
responsável por uma grande movimentação na economia, crescendo sua importância tanto no
mercado nacional quanto no internacional. Seu uso chegou à indústria de cosméticos, tanto
nacional quanto internacional, para a produção de cremes, shampoos dentre outros. Suas
sementes são utilizadas no artesanato da região norte, as folhas para a produção de produtos
trançados (bolsas, redes, sacolas, etc) e, devido sua resistência, serve como cobertura de casas
(produção de telhados). Assim, o açaí é rentável não somente para o produtor/coletor, mas
também para os demais agentes da cadeia de comercialização.
O estudo dessa palmeira será o foco desse trabalho, onde será feito um levantamento de
sua cadeia produtiva e, principalmente, uma avaliação de como se comporta o preço entre os
agentes mercantis. A cadeia produtiva do açaí foi pouco estudada, o que dificulta uma análise
em bases sólidas. Contudo, através das entrevistas feitas diretamente com os agentes mercantis
e agentes públicos foram suficientes para identificar problemas comuns na atividade, sendo os
principais: a) Organização dos produtores/coletores quase inexistente; b) Pouca assistência
técnica; c) Dificuldade no escoamento da produção; d) Presença de intermediário no mercado;
e) Oferta sazonal; f) Produtores/coletores têm pouco acesso a informações da cadeia produtiva.
3. Formação de Preços e Comercialização de Produtos Agrícolas
3.1. Formação de Preços: Teorização
O mercado surgiu em virtude da interação entre compradores e vendedores. Pindyck &
Rubinfeld (2010) definiram o mercado como sendo um grupo de compradores e vendedores
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que, por meio de suas reais ou potenciais interações, determinam o preço de um produto ou de
um conjunto de produtos.
Para se falar em preços é necessário ter em mente as estruturas de mercado, em especial
para este estudo tem-se o oligopólio. De maneira bem simples o oligopólio é uma situação de
mercado em que poucas empresas possuem o controle da maior parcela do mercado.
Nesta pesquisa foi observado que o mercado do açaí, voltado para o comércio além da
fronteira acreana, tende a ser concentrado nas mãos de poucas empresas devido ao processo de
agro industrialização que vem ocorrendo, mesmo que de forma lenta. Além da empresa Acre
Polpas em Plácido de Castro (produz polpa congelada e vende toda sua produção para São
Paulo) tem-se o surgimento de cooperativas no estado, que compram a produção local,
beneficiam e a comercializam no mercado. Aqui devemos desconsiderar os inúmeros
vendedores existentes, pois estes comercializam apenas o vinho e no mercado local, na
circunvizinhança onde residem.
O debate acerca da formação de preços não vem de hoje. As escolas econômicas deram
contribuições importantíssimas com suas abordagens. Para Dias (1994), Jevons, Menger e
Walras, que foram considerados fundadores da Escola Neoclássica, explicaram de maneira
lógica e independente a interdependência das atividades econômicas, dando à economia uma
estrutura científica não alcançada pelos teóricos do liberalismo econômico. A questão da
formação de preços foi assim definida por Jevons, Menger e Walras.
Possas (1987) identificou e analisou as seguintes abordagens:
Abordagem Clássica: os preços deveriam ser determinados por resultado do trabalho
humano, onde o valor “é apresentado na troca como um conteúdo gerado pelo trabalho humano,
em que se torna possível estabelecer a relação de troca entre duas mercadorias”;
Abordagem Neoclássica: estabelece que “os preços são resultantes da razão de
intercâmbio que configuram um sistema de equilíbrio”.
Princípio do Custo Total: em 1939, Robert Hall e Charles J. Hitch introduzem o
princípio do “custo total” buscando respostas de como é formado o preço de venda dos produtos
e se há a preocupação com a questão das curvas de custo e receita marginal e,
fundamentalmente, com a questão da maximização do lucro (HALL e HITCH, 1986).
Do princípio do custo total surgiram ramificações teóricas que deram ênfase aos
elementos dinâmicos de formação de preços em mercados oligopolísticos. Kalecki abordou a
teoria do “grau de monopólio” que propunha articular os determinantes dos preços e margens
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de lucro em oligopólio com a distribuição macroeconômica da renda. Por outro lado, J. Bain e
Sylos-Labini abordaram a teoria de “preços-limite”, que versou acerca da importância das
barreiras à entrada na determinação do preço no oligopólio e da conformação e modificação
das estruturas de mercado. (POSSAS, 1987)
R. Hall e C. Hitch introduziram o princípio do custo total que representou um avanço
na teoria dos preços, pois foram sistematizadas evidências empíricas sustentadoras da
microeconomia neoclássica: a importância do custo marginal (crescente) e da demanda, através
da receita marginal, na determinação dos preços; e a maximização do lucro como norma de
comportamento das empresas. O argumento principal deste princípio é que as firmas
oligopolistas (sua maioria) tomam como base para fixar seus preços os custos diretos
acrescentando sobre eles um percentual para cobrir os custos diretos e uma margem para o lucro
(POSSAS, 1987).
3.2. Comercialização de Produtos Agrícolas
Limitadamente, a comercialização agrícola pode ser pensada como um simples ato do
agricultor que consiste na transferência de seu produto para outros agentes que compõem a
cadeia produtiva em que ele está inserido. Esta é a ótica tradicional da comercialização agrícola,
a qual é definida pela transferência de propriedade do produto num único ato após o processo
produtivo, ainda dentro ou logo depois dos limites da unidade de produção agrícola. (WAQUIL
et al, 2010)
A comercialização agrícola é tratada por Padilha Junior (2006) como um processo
contínuo e organizado de direcionamento da produção agrícola por um canal ou sistema de
comercialização, no qual o produto sofre transformações, diferenciações e agregações de valor.
As mudanças que os produtos agrícolas sofrem são de posse, forma, tempo e lugar, adequando-
os a preferência dos consumidores finais.
O conceito de comercialização deve ser associado à coordenação existente entre a
produção e o consumo dos produtos agropecuários, incluindo a transferência de direitos de
propriedade, a manipulação de produtos e os arranjos institucionais que contribuem para a
satisfação dos consumidores. É, portanto, um conceito amplo, em que se atribui a essa atividade
a função de transferir os produtos ao consumidor final. (MENDES & PADILHA JUNIOR,
2007)
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Outro conceito diz que a comercialização é um processo social no qual agentes
econômicos interagem através de instituições apropriadas, como o mercado, que pode ser
definido como o “local” onde ocorre transferência de mercadorias através de vendedores e
compradores – forças da oferta e demanda (BARROS, 1987).
O processo de comercialização inicia-se no momento da produção, passando pelo
beneficiamento, embalagem, compra, venda e atividades de logística. Para permanecer no
mercado os produtores precisam de volume, qualidade, diversidade e regularidade de oferta, já
que os consumidores diariamente têm necessidades de consumo.
Conforme Carvalho & Costa (2011), a comercialização agrícola é a atividade mais
complexa quando se fala do sistema agrícola, pois se trata do momento em que a produção
assume a condição de mercadoria. Tal condição reflete a dinâmica que a atividade assume sob
o modo de produção capitalista e que atualmente envolve a integração de mercados,
compreendendo diversos segmentos e setores que se apropriam da produção e passam a impor
metas de quantidade e qualidade, formando cadeias, redes ou arranjos produtivos.
3.2.1 Preços fixos e flexíveis e o mercado de derivativos agrícolas
Para Silva (1994) a maior parte dos capitalistas reage a variações da demanda de forma
parecida, assim como a persistência no tempo do processo predominante é outro fator
importante, porém pouco é afetado pelas frequentes alterações em variáveis como intensidade
da demanda e grau de utilização da capacidade. Daí se tem a necessidade de que a natureza do
processo de ajuste deva ser considerada, em certa medida, uma propriedade do mercado, e não
simplesmente uma escolha arbitrária do capitalista. Na ótica capitalista, o ajuste da oferta à
demanda ocorre dentro do período de mercado, o fenômeno se dá durante seu período de
operação, pois demandantes e ofertantes só entram em contato quando o mercado opera.
Mercados de preços administrados, de preços rígidos ou fix são aqueles nos quais o
ajuste entre oferta e demanda se dá apenas via quantidade. Neles, as empresas operam,
predominantemente, com base em curvas de oferta horizontais. Já os chamados mercados de
leilão, de preços flexíveis ou mercados flex são aqueles nos quais o processo de ajuste se dá,
parcial ou totalmente, com base em variações no preço (Kalecki, 1954; Hicks, 1974 e 1989;
Okun, 1981).
Silva (1994) de forma resumida caracterizou os mercados de preços em:
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Flex (do inglês flexprices): durante o período de operação do mercado, a oferta
está dada e equivale à disponibilidade total do produto (não há produção).
Fix (do inglês fixprices): neste mercado a curva de oferta é horizontal e variações
na demanda são acompanhadas por variações na oferta; tendem a não alterar a escassez
do ativo transacionado.
Costa et al (2001) também contribuíram para a discussão dos mercados de preços,
enxergando a maior contribuição de Hicks na publicação de um livro editado em homenagem
a Eric Lindahl, no qual tentou expor a relação entre o método ex-ante/ex-post dos suecos e o
método de Keynes. A ideia dos modelos dinâmicos é uma relação entre capital e tempo,
analisando processos, mais do que resultados estáticos. Hicks também separou dois tipos de
mercados:
1. Mercado de flexprice - onde o equilíbrio é estabelecido pela igualação da oferta e
demanda, com a ajuda do jogo de mercado.
2. Os mercados fixprice são organizados e administrados. É um método de desequilíbrio,
preocupa-se com os estoques; as firmas são formadoras de preços e as variações de
preços são devidas a flutuações de custos, fazendo com que a produção tenda a ajustar-
se às vendas e à demanda.
A utilização de contratos de derivativos, no qual os agricultores fixam preços futuros
para os seus produtos, têm o objetivo de eliminar as incertezas com relação às oscilações do
mercado spot e proteger seus investimentos na propriedade. Estes contratos podem ser
negociados tanto em mercado de balcão como em mercado de bolsa. No mercado de balcão, as
partes negociam diretamente entre si, estabelecendo contratos específicos e flexíveis,
livremente, conforme as necessidades dos compradores e vendedores e as possibilidades de
aportes de garantias para a realização da transação. (WAQUIL et al, 2010)
4. Metodologia
Este trabalho tem como objeto de estudo a comercialização do açaí no Estado do Acre.
A metodologia utilizada baseia-se no levantamento de informações a fim de identificar e
descrever a estrutura e agentes mercantis das cadeias de comercialização, bem como quantificar
quais são as margens e markups de comercialização referentes ao açaí produzido no Acre.
As informações contidas neste trabalho são procedentes de informações da pesquisa de
campo realizada pelo projeto de pesquisa “Análise Socioeconômica de Sistemas de Produção
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Familiar Rural no estado do Acre”, denominado ASPF1, desenvolvido pelo Centro de Ciências
Jurídicas e Sociais Aplicadas (CCJSA), da Universidade Federal do Acre (UFAC).
Os dados apresentados neste trabalho foram obtidos através de pesquisa (amostragem)
em que foram entrevistados agentes mercantis que comercializam açaí e seus derivados no
Estado, especificamente nos municípios de Capixaba, Cruzeiro do Sul, Feijó, Marechal
Thaumaturgo, Plácido de Castro, Rio Branco, Sena Madureira e Tarauacá, no período de janeiro
de 2014 a dezembro de 2015.
Para o levantamento de informações foi utilizado um questionário dividido em cinco
seções: 1) Dados sobre os agentes mercantis; 2) Dados de mercadorias compradas (quantidade,
preços, período de compra/venda, forma de pagamento); 3) Dados de mercadorias vendidas
(quantidade, preços, período de compra/venda, forma de pagamento); 4) Informações de
infraestrutura existente, empregados, capital; 5) Informações sobre a satisfação sobre a
comercialização do produto (demanda insatisfeita/potencial, preço do produto).
Com a finalidade de avaliação dos resultados da pesquisa, considerando a formação de
preços da agroindústria bem como os agentes mercantis que compõem a cadeia de
comercialização do açaí no estado do Acre, será utilizado neste trabalho a abordagem do
estabelecimento com foco no estudo dos custos, margens e markup de comercialização.
Margem de comercialização (M), segundo Padilha Junior (2006, p. 54) corresponde às
despesas cobradas dos consumidores pela execução de alguma função de comercialização por
parte dos intermediários do sistema de comercialização.
LCM (1)
Onde:
M = Margem; C = Custo; L = Lucro ou prejuízo dos intermediários.
Margem Total, consiste na diferença entre preço do varejo (Pv) de um produto qualquer
e o pagamento recebido pelo produtor pela quantidade equivalente na propriedade rural (Pp).
Em termos absolutos,
pv PPMT (2)
A margem total relativa é expressa como proporção do preço no varejo, ou seja:
100].P/)PP[('MT vpv (3)
1 O projeto ASPF desenvolve pesquisas socioeconômicas na área da produção familiar rural na região acreana
desde 1996, com diversas publicações sobre o tema. Para maiores informações ver: http://aspf.wordpress.com
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O markup (Mk), de acordo com Padilha Junior (2006), é a diferença entre o preço de
venda e o preço de compra (ou de custo), ou seja, ele mostra quanto que cada intermediário do
sistema de comercialização acrescentou de preço sobre o produto antes de repassá-lo ao
próximo intermediário, nos diversos níveis do sistema. Em termos absolutos, markup é igual à
margem de comercialização.
100].P/)PP[(Mk ccv (4)
Em que:
Mk = markup; Pv = preço de venda no mercado; Pc = preço de compra no mercado.
Apropriação Efetiva (AEi) consiste no lucro bruto total efetivamente apropriado por cada
tipo de intermediário. Desta forma, a Apropriação Efetiva pode ser calculada a partir da margem
de lucro bruto, multiplicada pela participação proporcional de cada tipo de intermediário no
valor total do produto comprado, representada através da seguinte expressão:
Pc
Pc.MkAE i
i (5)
Onde:
AEi = Apropriação Efetiva; Mk = markup; Pci = Participação proporcional de cada tipo de
intermediário no preço; Pc = Preço de compra no mercado.
Custo Unitário consiste no resultado da razão entre os custos totais de produção e a
quantidade produzida de um determinado produto. Desta forma o custo unitário de produção é
determinado pela seguinte expressão:
q
CTCUP (6)
Em que:
CUP = Custo Unitário de Produção; CT = Custo Total; q = Quantidade Produzida.
Os custos totais de produção (CT), por sua vez, são determinados a partir da soma dos
custos fixos e variáveis de produção, Desta forma:
CVCFCT (7)
Onde:
CT = Custo Total; CF = Custo Fixo; CV = Custo Variável.
Os custos fixos de produção (CF) são aqueles em que os valores não se alteram em caso
de aumento ou diminuição da produção, ou seja, possíveis variações na produção não irão afetá-
los, uma vez que seus valores já estão fixados.
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Já os custos variáveis (CV), são aqueles que variam de forma proporcional ao nível de
produção ou atividades. Seus valores são dependentes do volume a ser produzido ou volume de
vendas efetivado em um determinado período.
O markup pode ser encontrado através de diversas maneiras. De acordo com a literatura
econômica, destaca-se o cálculo através do markup divisor. Desta forma:
%)]Mc%ITV(%100[%100MKP (8)
Em que:
MKP = Markup de Produção; ITV% = Impostos e Taxas de Vendas (ICMS, PIS, Cofins,
Comissões de Vendas, etc.); Mc% = Margem de Contribuição2 [custos/despesas fixas mais
lucro (nível aceitável de lucro determinado pelo mercado)].
Através do cálculo do markup divisor, pode-se determinar o preço de venda para o
açaí, através da razão entre os custos unitários de produção e o markup divisor:
PMK
CVPV (9)
Pelo qual:
PV = Preço de Venda; CV = Custos Variáveis; MKP = Markup de Produção.
Por fim, o preço potencial (preço máximo que os agentes mercantis estão dispostos a
pagar), será determinado através da pesquisa de mercado, obtida através dos resultados da
aplicação do questionário com os agentes mercantis participantes do processo de
comercialização.
5. Resultados e Discussões
É notória a falta de controle nas vendas como também na produção, o que torna muito
difícil a obtenção de dados exatos da cadeia produtiva. Alinhado a esse pensamento Maciel
(2007) observou que é a baixa organização da cadeia produtiva que dificulta a ampliação do
mercado de produtos florestais não madeireiros, e isso repercute em baixa qualidade e volume
comercializados. A razão para isso, muitas vezes, são os costumes tradicionais da população, a
presença de atravessadores, a falta de técnicas e tecnologia adequadas, a distância dos mercados
consumidores, a dificuldade de escoamento da produção, entre outros.
Esta pesquisa compreendeu os anos de 2014 e 2015 onde foram entrevistados os agentes
mercantis que compõem a cadeia de comercialização do açaí e seus derivados. As categorias
2 Ver Cogan (1990, p. 134)
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de agentes mercantis foram entrevistadas nos municípios de Capixaba, Cruzeiro do Sul, Feijó,
Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro, Rio Branco, Sena Madureira e Tarauacá. Na capital
encontram-se todas as categorias, já no interior o predomínio é de intermediários e pequenos
comerciantes, em sua maioria, informais.
Destacam-se, como se observa na no gráfico 1, os mercantis, mercearias, supermercados
e comerciantes que representam 26% do total dos entrevistados. Apesar de o resultado da
pesquisa apresentar 18% de intermediários, notou-se, em campo, a existência de muitos agentes
nesta categoria distribuídos pelo estado. No outro extremo, tanto o produtor/coletor como a
indústria/sorveteria representou cada uma, apenas 2% do total; no caso do produtor/coletor tal
percentual justifica-se pela dificuldade de acesso ao mesmo.
Gráfico 1 – Categoria de Agentes Mercantis
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015)
Quanto ao preço pago pela lata da fruta o gráfico 2 demonstra o mínimo de R$ 7,00, o
médio de R$ 20,78 e o máximo de R$ 30,00. A lata padrão tem capacidade de 14 kg, muito
embora a comercialização seja feita de maneiras diferentes dependendo da regional. Por
exemplo, na Regional do Juruá a comercialização se dá por meio de sacas, a mais comum de
60 kg, podendo ser usada também a de 50 kg. Ao se transformar o preço da lata em kg temos
que o menor preço comprado por kg foi de R$ 0,50, o médio girou em torno de R$ 1,47 e o
máximo saiu por R$ 2,14. O menor preço pago foi no município de Marechal Thaumaturgo, o
mais aproximado da média foi Feijó e, em Capixaba paga-se o preço máximo.
No que diz respeito à polpa, que corresponde a 1 litro de vinho, os preços mínimo, médio
e máximo foram respectivamente, R$ 4,00, R$ 5,36 e R$ 6,00. O primeiro praticado em Feijó,
os outros dois em Tarauacá.
18,00%
20,00%
8,00%2,00%
16,00%
26,00%
2,00% 8,00%Intermediário
Sorveteria/Pizzaria/Restaurante
Indústria/Empresa/Associação/Cooperativa
Indústria/Sorveteria
Lanche
Mercantil/Mercearia/Supermercado/Comerciante
Produtor/Coletor
Sorveteria/Distribuidora
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Gráfico 2 – Preços de Compra Mínimo, Médio e Máximo
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015).
Pelo lado da venda o gráfico 3 demonstra como se comportaram os preços. O menor
preço comercializado foi de R$ 3,00 para o vinho em Marechal Thaumaturgo, local que destoa
do que se pratica no mercado acreano, tendo em vista o baixo poder aquisitivo da população e
o produto é totalmente comercializado no município. O preço médio girou em torno de R$ 5,60
e o máximo ficou em R$ 7,99. O preço máximo é praticado por supermercados, o mínimo
geralmente é por produtor/coletor que beneficia e vende diretamente ao consumidor final. A
lata da fruta apresentou como preço de venda mínimo o valor de R$ 19,00 em Feijó. A média
girou em torno de R$ 30,00 e o preço máximo foi de R$ 36,00 em Capixaba.
Gráfico 3 - Preços de Venda Mínimo, Médio e Máximo
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015).
Sopchaki (2014), calculou a margem de comercialização dos principais produtos
derivados do açaí. Infere-se da tabela 1 que a margem de comercialização dos derivados do açaí
demonstra-se bastante alta, chegando a alcançar 245% no caso do açaí cremoso de 150 ml. A
menor taxa ficou por conta da polpa congelada de 400g apresentando algo em torno de 41%.
Em termos gerais o markup é um índice aplicado sobre o custo de um produto ou serviço
para a formação do preço de venda, baseado na ideia de cost plus pricing3. Na tabela 1 o índice
3 Método que consiste em somar-se ao custo unitário do produto ou serviço uma margem de lucro para
obter-se o preço de venda.
R$ 0,00
R$ 20,00
R$ 40,00
Mínimo Médio Máximo
R$ 7,00
R$ 20,78
R$ 30,00
R$ 4,00 R$ 5,36 R$ 6,00Fruta
Polpa
R$ 0,00
R$ 20,00
R$ 40,00
Mínimo Médio Máximo
R$ 19,00
R$ 30,00R$ 36,00
R$ 3,00 R$ 5,60 R$ 7,99Fruta
Polpa
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foi obtido pela razão entre o preço de venda e o custo (preço médio de compra), visto que o
preço de venda é igual ao produto dos custos pelo markup de produção, assim PV = CV . MKp.
Tabela 1 - Margens de comercialização do açaí e derivados
Tipo Preço Médio de
Compra (R$)
Preço Médio de
Venda (R$) Margem % Índice Markup
Polpa congelada (400g) 3,26 4,59 41 1,41
Sorvete 200ml 1 1,5 50 1,50
Picolé 0,61 1,11 81 1,82
Sorvete (bola) 0,58 1,42 143 2,45
Cremoso (350ml) 3,04 7,44 145 2,45
Suco (300ml) 1,26 4,17 231 3,31
Cremoso (150ml) 1,3 4,5 245 3,46
Fonte: Resultados de Pesquisa, Adaptado de Sopchaki (2014).
O markup de comercialização neste circuito varia de acordo com a localidade. O cálculo
feito na tabela 2 levou em consideração o preço de compra da fruta que o intermediário pagou
junto ao produtor/coletor e o preço de venda do litro do vinho ao consumidor final; as
informações se referem a um estabelecimento por município. Para uma análise mais detalhada
é necessário considerar que uma lata com 14 Kg produz 8,16 litros de vinho e que os agentes
mercantis (principalmente o produtor/coletor) desconsideram seus custos, apesar de existirem
como água e mão-de-obra. O markup mostra o percentual do preço que foi acrescido sobre o
produto antes de repassá-lo, neste acréscimo devem estar todos os custos. De acordo com o
entrevistado em Marechal Thaumaturgo o markup chegou ao patamar de 249,71%, já em
Capixaba ficou em 95,84% e, no entrevistado de Cruzeiro do Sul 149,85%; entretanto sem
informações quanto ao custo não há como auferir o lucro, pois markup alto não necessariamente
significa lucratividade alta.
Tabela 2 – Markup do açaí fruta/vinho
Município Preço de
Compra R$
Preço de Venda
Litro R$
Preço de venda lata
beneficiada* R$ Markup %
Índice
Markup
Marechal Thaumaturgo 7,00 3,00 24,48 249,71 3,50
Capixaba 25,00 6,00 48,96 95,84 1,96
Cruzeiro do Sul 16,33 5,00 40,80 149,85 2,50
*Quantidade de litros padrão 8,16 multiplicado pelo preço de venda
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015)
No geral o circuito de comercialização é representado conforme a figura 1. Durante a
pesquisa foi observado que o produtor/coletor, principalmente no interior, por vezes processa,
beneficia e comercializa o vinho diretamente com o consumidor. O intermediário trabalha mais
diretamente com o fruto, comprando-o do produtor/coletor e repassando-o para as indústrias de
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processamento e beneficiamento. Esta última o leva ao comércio via derivados, os quais são
comercializados junto ao consumidor final.
No município de Feijó foi constatado que o proprietário do comércio conhecido como
República do Açaí exerce o papel do intermediário, da indústria de processamento, da indústria
de beneficiamento e o de comerciante. O açaí também é comprado para fins de ser
comercializado na forma cremosa, onde o rendimento e os ganhos são bem maiores.
Figura 1 Circuito da cadeia de comercialização do açaí fruto/vinho
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015).
A pesquisa demonstrou, de acordo com a tabela 3, uma demanda insatisfeita para o fruto
no montante de 152.504 latas, o que equivale a aproximadamente 2.135 toneladas. O vinho de
1 litro apresentou uma demanda insatisfeita de 58.830 litros.
Tabela 3- Demandas satisfeita e insatisfeita de açaí no Acre
Tipo Quantidades Demandadas - unidade/ano Potencial
Satisfeita Insatisfeita Potencial (%)
Fruta (latas) 102.972 152.504 255.476 60
Vinho (1 litro) 10.440 58.830 69.270 85
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015).
Dentre as questões feitas aos entrevistados era perguntado acerca da quantidade de açaí
comprado e se compraria mais em caso de uma oferta maior. Dentre os entrevistados foram
citados apenas a fruta (latas), vinho (1 litro) e polpa congelada de 400 gramas. Destes, 63,64%
acenaram positivamente afirmando estarem dispostos a comprar mais, enquanto que 36,36%
não, conforme dispões o gráfico 4.
Circuito Geral
Produtor/Coletor Intermediário
Indústria/Beneficiamento Indústria/Processamento
Comércio
Consumidor Final
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Gráfico 4- Disposição em comprar mais açaí
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015).
Quanto a comprar uma quantidade maior de açaí mesmo havendo um aumento no preço,
consoante gráfico 5, um total de 90% afirmou que continuariam comprando e apenas 10% não
comprariam. Segundo os entrevistados, mesmo com aumento no preço, o açaí é vendido, isto
é, o mercado é capaz de absorver o aumento, pois o açaí é um produto bastante apreciado.
Gráfico 5 - Disposição a pagar mais pelo açaí
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015).
Outros pontos abordados foram à qualidade do produto, a disponibilidade de compra
junto ao fornecedor e a aceitação no mercado. Foi feita uma média para cada item dentro de
uma escala de 0 a 10, como demonstrado no gráfico 6. A média da nota da qualidade ficou em
9,66, a disponibilidade de compra junto ao fornecedor recebeu nota 9 e a aceitação no mercado
consumidor obteve a nota 9,92. Isso demonstra que este produto não encontra dificuldades para
ser negociado no Acre.
Gráfico 6 - Notas de qualidade, disponibilidade de compra e aceitação no mercado
Fonte: Resultados de Pesquisa (2015).
36,36%
63,64%
Não Sim
10,00%
90,00%
Não Sim
0 2 4 6 8 10
Qualidade
Compra junto ao fornecedor
Aceitação no mercado
9,66
9,00
9,92
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6. Conclusão
Ficou evidente com a pesquisa a falta de conhecimento de formação de preços
principalmente pelo produtor/coletor, bem como de outros agentes mercantis. Muitos não têm
ideia de seus custos e não demonstram interesse no assunto, baseando-se pelo tempo de
experiência no ramo e, por vezes, alcançam rendimentos satisfatórios por possuírem atividades
paralelas que lhes geram renda.
Atualmente existe uma demanda crescente no que diz respeito a sucos e polpas de frutos
tropicais, como é o caso do açaí. Seu mercado está em rápido crescimento já há alguns anos,
provocando o aumento da demanda, do preço dos frutos e uma consequente atração de novos
investimentos. Um potencial enorme limitado pela falta de oferta na entressafra.
Constatou-se a existência de demanda insatisfeita, a qual ocorre também em outras
regiões. O Acre precisa, necessariamente, voltar o seu olhar para uma produção em escala e não
depender exclusivamente da extração do fruto nativo.
O açaí é um produto bem visto no mercado que traz benefícios a saúde além de ter um
sabor agradável. Seus derivados são comercializados nos mais diversos ambientes como
sorveterias, pizzarias, restaurantes, mercados, supermercados, mercearias, lanchonetes dentre
outros, o que demonstra sua aceitabilidade no mercado consumidor. Além do mais há no
mercado acreano disponibilidade por parte dos agentes mercantis de comprar mais e até pagar
mais por este produto.
O caminho para uma melhoria no setor passa pela saída de cena do intermediário,
incentivo a criação de cooperativas geridas pelos próprios coletores/produtores, ação dos órgãos
governamentais em conjunto com o setor privado no sentido de dar suporte implementando
tecnologias, bem como criação de linhas de crédito que atendam de forma satisfatória aos
anseios da base da cadeia produtiva, o que lhes dará condições auferir uma renda maior.
Os dados levantados através das entrevistas e das teorias apresentadas demonstram que
a formação de preços traz efeitos positivos como a sobrevivência, lucratividade e
posicionamento dos agentes mercantis no mercado do açaí no Acre. Os pressupostos se
confirmaram através desta pesquisa: existe desconhecimento quanto ao assunto por grande
parte dos agentes, praticamente não há controles para identificar custos, os preços são fixados
conforme o que a maioria pratica, há a prática de atividades paralelas pelos agentes e o
intermediário se apropria da maior parte do preço. A formação de preço é uma referência para
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a tomada de decisões, o desafio é encontrar um preço ótimo que satisfaça o comprador e o
vendedor.
7. REFERÊNCIAS
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