A Feira dos AssombradosJosé Eduardo Agualusa
José Eduardo Agualusa
É membro da União dos EscritoresAngolanos.
Em 2006 lançou, juntamente comConceição Lopes e Fátima Otero, a editorabrasileira Língua Geral, dedicadaexclusivamente a autores de línguaportuguesa. Algumas das suas obrasencontram-se traduzidas em mais de vinteidiomas.
Numa entrevista, o escritor responde àpergunta, "Quem é o Eduardo Agualusa?":"Quem eu sou não ocupa muitas palavras:angolano em viagem, quase sem raça.Gosto do mar, de um céu em fogo ao fim datarde. Nasci nas terras altas. Quero morrerem Benguela, como alternativa pode serOlinda, no Nordeste do Brasil." Perguntadose se diverte a escrever, Agualusa explica:"Escrever diverte-me, e escrevo também,porque quero saber como termina o poema,o conto ou o romance. E ainda porque aescrita transforma o mundo. Ninguémacredita nisto e no entanto é verdade.
Obras
A obraA história fala de um povo, da região do Dondo, e começa com dois
cadáveres que aparecem no rio mortos, mas cujo destino não é
entendido por parte das pessoas que as encontram. Ao primeiro
chamar-lhe-iam Lázaro; ao segundo, desfigurado, não sabendo se
era mulher ou criança, decidem dar-lhe o nome de Ofélia.
Posteriormente, precipitam-se alvoroços. O chefe do concelho,
Albérico Santoni, pede ao padre que a enterre. O sacerdote recusa-
se. Afirmando que aquilo não é carne da humana e, que por isso não
tem alma e não podia enterrá-la. Deste modo, Ofélia apodrece, em
praça pública, à que se juntam outros, afogados do rio também, a
cada volta do relógio, deixando assim o lugar com um cheiro
desconfortável e aumentando o burburinho à volta das suas
misteriosas origens.
Ao longo da história cruzam-se personagens opinantes. Trazem
histórias do seu passado a serem julgadas ainda hoje; amores. O
caso de João Maria (o viajante) casa-se, por obrigação, com
Mariana. Mas Mariana foge com um mágico – Jácome Filho.
Bernardo, o bode, é animal de correio, distribuindo os boatos por
todo o Dondo. Os três Bentos, Beltrão Pena, Pratas, Brito, Chico
Bião, José da Rosa, Correia Balduíno e Quipangala – o professor
que estudou em Lisboa, repugnado pela atividade mercantil – são
autores dos bilhetes transportados e das conversas de acordo e
desacordo entre as diferentes combinações de bocas, a formar
grupos. Angelina Gambôa, esposa de Albérico, e Xixiquinha-Xiá-
Cachongo rematam o elenco nativo.
José Eduardo Agualusa escreve a novela A Feira dos
Assombrados com resultados pensantes: um escritor promissor
em início de carreira (1992), preocupado com a sociedade
envolvente e com um alcance e conhecimento literários
abrangentes, e a realidade angolana na fronteira do século XIX
para o XX, contada a agarrar olhos.
De Huambo em 1960, Agualusa toca nas suas raízes Portugal e o
Brasil. Deixa o continente africano e, principalmente, o seu país –
Angola –escorrerem-lhe nas palavras. Na sociedade politizada.
Como um apaixonado.
Citação
«O PRIMEIRO CORPO QUE
O RIO TROUXE AINDA NOS
PARECEU
HUMANO. TINHA AS PARTES
TODAS
DE QUE SOMOS COMPOSTOS, A
PELE
LISA E SEM ESCAMAS, COMO A
NOSSA, E OS ENORMES OLHOS
ABERTOS GUARDAVAM ATÉ UM
RESTO DE LUZ E DE CALOR.»