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A HISTÓRIA ORAL COMO ESTRATÉGIA NO ENSINO DE
HISTÓRIA doi: 10.4025/XIIjeam2013.tavares53
TAVARES, Sebastiana Aparecida1
1. INTRODUÇÃO
O PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) é uma política educacional de
formação continuada de professores da rede pública de educação do Estado do Paraná, que
oferece a oportunidade para a formação do docente através da busca do conhecimento,
possibilitando aprofundar as questões que circundam a escola, entre teorias e práticas na
sala de aula através de intervenção realizada com o projeto e a produção do material
didático.
Com efeito, o PDE é uma oportunidade para o docente ampliar seus conhecimento,
que une a teoria e a prática em ação dialética, aumentando a interação entre as
especificidades da Educação Básica com a programação das Universidades como um fio
condutor nas áreas de conhecimento, estimulando a prática da interdisciplinaridade e a
socialização do conhecimento científico. Por intermédio da troca de experiência entre
professores do ensino básico e professores universitários, surge um momento para a
reflexão como também para entender o processo de ensino e aprendizagem e as
dificuldades presentes no contexto pós-industrial, onde os discentes necessitam
compreender a sociedade do conhecimento visando a formação pessoal, profissional e
social.
O presente artigo tem como propósito abordar o uso da história oral como estratégia
docente no ensino básico, especificamente na disciplina de história. De tal modo, tentar-se-
á obter resultados através da realização de estudos envolvendo a teoria e a prática no
âmbito do Colégio Estadual Padre Ângelo Casagrande, com a parceria da Universidade
Estadual de Londrina (UEL). O objetivo deste artigo, ademais, está reconstrução da
história local, visando o patrimônio histórico do Castelo Eldorado, localizado em
1 Aluna especial do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Maringá.
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Marilândia do Sul, Estado do Paraná. Para isso utilizaremos da História Oral no
desenvolvimento do mesmo, como nossa metodologia de trabalho, e a partir de então,
estaremos promovendo o encontro da oralidade e da escrita, que nos possibilita valorizar a
memória e o conhecimento coletivo.
Pretende-se saber, por meio da reconstrução da história e da memória ligada ao
Castelo Eldorado, como a história oral, a partir de uma perspectiva mais próxima dos
alunos, pode ser utilizada no ensino de História.
2. DESENVOLVIMENTO
Na atualidade temos por parte de autores e pesquisadores no campo da História
discussões e reflexões sobre a urgência das análises do conhecimento, que investigam as
relações sociais e a oportunidade de participação do sujeito, onde a oralidade pode
proporcionar a reconstrução da narrativa histórica. Este interesse nas narrativas orais dos
sujeitos históricos coincide com a crescente visibilidade que o indivíduo recebeu desde
meados do século XVIII.
Hodiernamente, nas universidades e no espaço acadêmico crescem as produções
que utilizam a história oral como método e forma diferenciada de fonte histórica, assim
sendo acolhida com inquietação e entusiasmo. Conforme a visão de historiadores do século
XIX, alguns questionam que a fonte oral, por ser uma fonte que depende da memória, não
expressa a veracidade do documento escrito dos fatos, porém outros historiadores da
modernidade têm a compreensão das fontes orais como oportunidades de reconstruir a
história com a participação das testemunhas que vivenciaram este passado.
Segundo Le Goff (2003), “pela memória temos a propriedade de conservar certas
informações que, por nos remeter a um conjunto de funções psíquicas, permite-nos
atualizar impressões e informações passadas ou que representamos como passadas” (LE
GOFF, 2003, p. 419). A atitude de recordar requer um procedimento narrativo, refere-se à
“[...] comunicação a outrem de uma informação, na ausência do acontecimento ou do
objeto que constitui o seu motivo” (LE GOFF, 2003, p. 421).
Não são poucas as possibilidades transdisciplinares que a história oral proporciona,
favorecendo a integração de outras áreas do saber que compõem as diretrizes curriculares e
fazendo parte do projeto político-pedagógico da escola. Ademais, a oralidade torna-se
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determinante no recurso metodológico de ensino como transmissão de informações das
experiências sociais, excedendo as imperfeições das falhas dos documentos oficiais,
compreendendo o seu processo e o direito de preservar a identidade, enfim desvendando as
entrelinhas da memória coletiva.
Conforme Lowenthal (1998) são três as respeitáveis origens de conhecimento sobre
o passado: a memória, que é introspectiva e inerente ao ser humano; a História que é
contingente e empiricamente verificável; e os fragmentos, que são construções realizadas
pelo homem e que se transformam em relíquias, resíduos, marcas, patrimônio. Na
autenticidade, o verdadeiro homem, sujeito que elabora o procedimento histórico, assim
arquiteta as fontes e os documentos que conduzirão e contribuirão para a concepção da
História enquanto conhecimento.
A utilização da história oral como metodologia para registrar a história do
monumento Castelo Eldorado representa uma forma de valorizar a memória e a recordação
dos pioneiros como testemunhas que vivenciaram a temporalidade desse espaço em épocas
anteriores. A memória reserva resíduos dos tempos pretéritos, por isso os membros de cada
geração herdam algo da história, ainda que fragmentada, mantendo viva a recordação de
acontecimentos notáveis. Entende-se que as lembranças são instrumentos importantes para
a reconstrução de fatos ocorridos na sociedade. Podemos também considerar a memória
como um instrumento de poder político, como apresentou Gondar, “[...] todo poder político
almeja controlar a memória, escolhendo o que deve ser lembrado e o que deve ser
esquecido” (GONDAR, 2003, p. 32).
A prática de contar histórias está presente desde a pré-história quando o homem
ainda não conhecia a escrita. A fala baseia-se em elemento fundamental para que os relatos
orais – fonte de saberes – ficassem gravados na memória das pessoas propagando, de
geração em geração, as crenças, magias, os valores e a tradição.
A importância de resgatar a memória está baseada no intuito de lutar em defesa da
identidade cultural de um país, ultrapassando as fronteiras entre a sala de aula e a história
da comunidade local. Ao buscar edificar esta memória histórica, procura-se redescobrir
aspectos que fazem parte da cultura viva engendrada pela comunidade (práticas, valores e
ritos), que se esgarçaram ao longo dos tempos. Este resgate não é impelido por um mero
“dever de memória”, mas por um desejo de abertura e de disponibilidade à transformação.
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Todas estas preocupações estão presentes, sempre, no sentido de compreender um
pouco mais os significados subjetivos das experiências vividas e a natureza da memória
individual e da memória coletiva (THOMSON, 1997). Desta maneira, como tão bem
resume esse mesmo autor, “ao usarmos a história oral, como qualquer outro pesquisador
que use o método histórico, estamos tão interessados na natureza e nos processos de
afloramento de lembranças quanto no conteúdo das reminiscências que registramos”
(THOMSON, 1997, p. 54).
O fruto desse trabalho nos remete a uma clara noção de pertencimento ao local, o
que apresenta o começo de uma concepção de cidadania coerente e sensata. Desde já se
acrescenta que a história e a memória do patrimônio constituído pelo Castelo Eldorado
reflete a trajetória da comunidade pioneira ainda existente na região.
No movimento dos Annales (Nova História), a abordagem histórica passa a
redimensionar conceitos, novos objetos, novos problemas e novos métodos. A partir desse
movimento, a pesquisa histórica passar a realizar estudos intensos e investigações
aprofundadas, envolvendo um universo maior de fontes. Nesse contexto, ganha expressão e
relevo a história oral. “[...] mas se a história onipresente põe em causa o social no seu todo,
é sempre a partir deste movimento do tempo. A História dialética da duração [...] é o
estudo do social, de todo o social e, portanto, do passado e, portanto, também do presente”.
(MARTIN, 2000, p.131).
Avaliando a dimensão projetada pela história oral e sua fidedignidade, Thompson
afirma que: “[...] se as fontes orais podem de fato transmitir informações fidedignas, tratá-
las simplesmente como um documento a mais é ignorar o valor extraordinário que
possuem como testemunho subjetivo, falado” (THOMPSON, 1992, p.29).
Justificamos, portanto, o uso da história oral por ser um método construído a partir
da problematização e da produção das narrativas históricas, que tem como objetivo
contemplar a diversidade de relatos feitos pelos pioneiros do município paranaense de
Marilândia do Sul. No conjunto, são sujeitos que testemunham o seu passado diante das
representações da evolução temporal de seu mundo, por meio da memória das pessoas,
abrindo espaços e possibilidades para a reflexão da história do seu lugar social.
Vê-se brotando de tal prática um sentimento de pertencimento e de identidade nas
pessoas, quando então nasce a certeza de que todos os homens são designados pela sua
história de existência, todos são indivíduos pertencentes a uma mesma história. Ora, isso
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equivale a compreender que a história é feita por todos, e que todos – ao mesmo tempo –
são filhos da história, como pontuam as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008,
p. 14): “[...] um sujeito é fruto do seu tempo histórico, das relações sociais em que está
inserido, mas é, também, um ser singular, que atua no mundo como o compreende e como
dele lhe é possível participar”.
Defendemos a utilização da história oral como metodologia no ensino de história e,
também, como meio de valorização do aluno/cidadão enquanto sujeito-agente de sua
própria história. Finalmente, compreendemos que o século XX trouxe uma grande
mudança na metodologia histórica, amparada especialmente pela denominada Escola dos
Annales. Novos temas, novas abordagens, novos métodos. No sustentáculo dessas
mudanças, tem predominado concepção de que a interdisciplinaridade e o diálogo
autêntico com as demais disciplinas do conhecimento são essenciais para que a História
consiga dar conta dos eventos históricos em sua grandeza pluralista e transformá-los assim
em saberes racionais.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
A literatura contemporânea afima que a identidade é um elo com a história passada
e com a memória do grupo, fortalecida através da memória, sendo que é esta última que
mantém a coesão do grupo. O sentimento de pertença dos membros do grupo produz
relatos que transformam a história oral em conhecimento e a legam para as novas gerações.
Desde o início da Idade Contemporânea a memória preserva um aspecto de
reciprocidade para com a história. Com a passagem do tempo, essa memória vai se
estabelecer na história. De acordo com alguns estudos, na passagem do século XIX para o
XX, a memória libertou-se da história e se transformou em matéria da literatura, da
filosofia, da psicologia e da sociologia. Hoje ainda se observa que os historiadores têm
produzido poucas atividades de estudo e investigação na área relacionada à questão da
memória (THOMPSON, 1992, p.123).
Além disso, é sabido que “a evidência oral, transformando os “objetos” de estudo
em “sujeitos”, contribui para uma história que não só é mais rica, mais viva e mais
comovente, mas também mais verdadeira” (THOMPSON, 1992, p.137). O autor não
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defende com exclusividade a metodologia, mas a necessidade de complementar as análises
a partir da multiplicidade de abordagens e metodologias.
Atualmente salienta-se que a memória é o encontro do passado no presente e
expressa a identidade cultural, a formação e a história de uma nação. A memória retrata a
estrutura de corporação de uma coletividade, sociedade, comunidade, cidade ou grupo
social. É imprescindível evidenciar que a memória em discussão é a memória coletiva, pois
as pessoas não podem ser avaliadas isoladamente. O povo não vive sozinho e a memória,
ao ser ratificada, pertence a um grupo ou classe social. “A memória individual é parte
constitutiva e inseparável da memória coletiva” (THOMPSON, 1992, p.124).
Como metodologia de pesquisa, a história oral visa conhecer e aprofundar aspectos
sobre determinada realidade como os padrões culturais e estruturais de uma sociedade,
assim como suas práticas rotineiras. Thompson afirma que a história oral é tão velha
quanto a própria História. Heródoto escutou testemunhas de sua época; Michelet recolheu
depoimentos de pessoas que vivenciaram a Revolução Francesa; Oscar Lewis, sobre a
Revolução Mexicana; Ronald Fraser, sobre a Guerra Civil Espanhola.
A partir do registro da memória viva, esse tipo de método permite uma abordagem
mais abrangente e dinâmica dos acontecimentos da história. Leia-se o posicionamento de
Meihy (2000),
História Oral é um conjunto de procedimentos que se iniciam com a elaboração de um projeto e que continuam com a definição de um grupo de pessoas (ou colônia) a serem entrevistadas, com o planejamento da condução das gravações, com a transcrição para o uso, arquivamento e, sempre que possível, com a publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao grupo que gerou as entrevistas (MEIHY, 2000, p.29).
Esta referência do autor caracteriza o compromisso político da metodologia
mencionada. Os procedimentos científicos são importantes, assim como retornar o
resultado da investigação ou da análise daí resultante ao grupo de entrevistados. Para o
historiador Rüsen (2006, p.16): “a aprendizagem histórica é uma das dimensões e
manifestações da consciência histórica. Está organizada da forma como o saber do
passado é vivenciado e analisado de maneira a proporcionar um entendimento do presente
e elaborar um plano para amanhã”.
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Tivemos a oportunidade de interagir com uma cursista da rede que também realizou
atividade utilizando a metodologia de história oral para resgatar a história do tropeirismo
do Paraná. Foi muito produtivo para a discussão no fórum. Entendemos que o uso da
História Oral é um instrumento pedagógico relevante de pesquisa. Ora, ao se lembrar do
passado, não se pode lembrar de um fato ou indivíduo isolado, pois “[...] só temos a
capacidade de nos lembrar quando nos colocamos no ponto de vista de um ou mais grupos
e nos situar novamente em uma ou mais correntes de pensamento coletivo”
(HALBWACHS, 1990, p.36).
É fundamental entender que o conhecimento é coletivo em relação aos relatos e
depoimentos para reescrever a história com o procedimento da história oral. Dentro deste
contexto, com a finalidade de usar a história oral como estratégia inovadora na
metodologia de pesquisa, trabalha-se com ênfase na história social construída de baixo
para cima, valorizando a história produzida através de conversas com pessoas, relatos
orais, que ao evidenciarem suas lembranças pessoais, compõem também uma concepção
clara da dinâmica de atuação e das diversas fases da vida do grupo social ao qual
pertencem.
Nessa linha de entendimento, proporciona-se aos membros da sociedade muitas
vezes excluídos que tenham oportunidade de ser ouvidos e terem registradas as suas
próprias apreensões de valor histórico. De fato, a camada social que mantém a supremacia
tem no registro escrito sua referência primordial, a sua base para propagar a sua história,
enquanto não se oferece à classe não-hegemônica as mesmas oportunidades para aprimorar
a habilidade da escrita e narrar sua história cotidiana.
Investigar um método apropriado à Educação Básica representa sempre um desafio
para os professores, um problema a ser confrontado. Como superá-lo? De início faz sentido
perguntar, afinal, o que vem a ser um método. Esta palavra tem origem no idioma grego,
significando o caminho, ou ainda o esforço para atingir um fim, a investigação percorrida
(LALANDE, 1999, p.136).
Acredita-se que a esfera da memória através dos depoimentos orais e biográficos
contribuirá para o campo de análise histórica, ligando temporalidade e resgatando atores
sociais silenciados no mundo atual dos discentes, atribuindo-lhes a consciência dessas
ações na perspectiva local. O vídeo-história aparece nesse contexto com a particularidade
da linguagem documental e com foco na memória, buscando analisar o emprego de vídeos
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nas entrevistas de história oral; propondo a reconstrução e a escrita da história;
organizando as fontes orais e visuais.
Usamos a história oral nesse estudo como uma das maneiras de reconstruir partes
de uma história local que não encontramos no livro didático e que os nossos alunos não
tiveram a oportunidades de conhecer, com a convicção de que a história oral relata fatos
com o auxilio de testemunhas do passado. Entendemos que essa metodologia de pesquisa é
uma forma importante para a reconstrução da narrativa histórica sobre o Castelo Eldorado,
compreendendo que no trabalho de pesquisa com a história oral sobressairão os relatos de
fatos, isto é, trata-se de uma maneira de coletar o conhecimento de fatos vividos em um
determinado período da história deste município.
Temos a convicção de que a história oral proporciona condições de pesquisa no
âmbito local e conduz o professor a compreender o ensino da História e o seu valor,
interagindo com a História Geral. Nesse sentido é possível supor que
[...] a História Local propicia ao pesquisador uma idéia muito mais imediata do passado, permitindo que a memória nacional possa ser encontrada ou re-encontrada, ouvida, lida nas esquinas, nas ruas, nos bairros... Fazer história, e mais, fazer História Local, é estabelecer relações entre a Micro e a Macro-História; é privilegiar o particular, sem desprezar o geral, numa complementação entre ambas. (JUNGBLUT, 2008, p. 44).
O entendimento de História Oral segundo Thompson segue abaixo:
A história oral não é necessariamente um instrumento de mudança; isso depende do espírito com que seja utilizada. Não obstante, a história oral pode certamente ser um meio de transformar tanto o conteúdo quanto a finalidade da história. Pode ser utilizada para alterar o enfoque da própria história e revelar novos campos de investigação; pode derrubar barreiras que existam entre professores e alunos, entre gerações, entre instituições educacionais e o mundo exterior; e na produção da história – seja em livros, museus, rádio ou cinema – pode devolver às pessoas que fizeram e vivenciaram a história um lugar fundamental, mediante suas próprias palavras (THOMPSON, 2002, p.22).
Os processos da História Oral possuem o alvo de unir o educador, discente e
coletividade como agentes da história na realização do saber histórico. Desse modo,
professor e alunos recebem uma atribuição específica, bem como se proporciona
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informação à própria sociedade para estabelecer essa história numa conjuntura abrangente.
Thompson (1992) complementa,
Nas escolas, têm sido desenvolvidos projetos sobre a história das famílias dos alunos, que oferecem um meio eficiente de vincular seu próprio ambiente a um passado mais amplo. A história da família possui outros méritos educacionais especiais. Contribui para uma abordagem centrada na criança, pois utiliza como base do projeto o conhecimento que a própria criança tem de sua família e de sua parentela e o acesso que tem a fotografias, velhas cartas e documentos, recortes de jornais e recordações. (THOMPSON, 1992, p.30).
Através da História Oral o aluno passa a perceber que a história não é alguma coisa
imprecisa e informe sem motivação, mas, sim, é realizada por personagens com aspectos,
afeições e desejos. Nesta perspectiva, Thompson garante que “[...] pelo sentimento de
descoberta nas entrevistas, o meio ambiente imediato também adquire uma dimensão
histórica viva: uma percepção viva do passado, o qual não é apenas conhecido, mas sentido
pessoalmente” (THOMPSON, 2002, p.30).
Entendemos que a História Oral, conforme Thompson (2002) é uma história
formada em torno de indivíduos que contribuem com seus depoimentos para uma
construção mais precisa e completa da história. Uma sugestão que permite que agentes
nasçam não só entre os dirigentes, mas entre a generalidade das pessoas anônimas, que
acabam a ser aceitas como elementos da história. Assim sendo, a historicidade passa a ser
desvendada através da visão dos homens e mulheres simples.
Assim as atitudes benéficas da História Oral apresentadas por Thompson (1992)
são as presenças de entusiasmo entre docentes e alunos no cotidiano da atividade tornando-
os acompanhantes da ação, disponibilizando instrumentos para uma mudança básica do
ângulo coletivo da reconstrução de narrativas históricas. É de grande importância recordar
que Thompson (1992) observa que as interlocuções fundamentais entre os indivíduos não
se realizam através da escrita, porém oralmente, em convívio direto ou por telefone.
(THOMPSON, 1992, p.164).
É fato inconteste que o conhecimento se dá por princípios da comunicação e da
informação, nesse sentido os alunos do segundo ano do ensino médio do Colégio Estadual
de Marilândia do Sul, aplicaram os processos da História Oral em uma pesquisa qualitativa
com o uso de roteiro de entrevista aberta e semi-aberta, preparadas conjuntamente com a
docente em grupos no âmbito escolar. A entrevista foi realizada com os pioneiros e pessoas
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que viveram no município na época do apogeu do Castelo Eldorado, a qual deverá ser
transcrita. A seguir, os alunos tiveram que elaborar narrativas históricas sobre o local
estudado, com a mediação do professor com o objetivo de reconstruir a memória desse
patrimônio história que os jovens contemporâneos não conhecem.
4. OBJETIVOS
O presente trabalho objetivou enfatizar as possibilidades transdisciplinares que a
metodologia da história oral proporciona, favorecendo a integração de outras áreas de
saberes que compõem as diretrizes curriculares e que fazem parte do projeto político-
pedagógico da escola. Com efeito, a história-memória do patrimônio Castelo Eldorado
reflete a trajetória da comunidade pioneira ainda existente. Dessa forma, todos são
indivíduos da própria história; isso equivale a compreender que a história é feita por todos.
Nesse sentido, é necessário identificar os sujeitos que viveram no passado e
perceber que as suas opiniões, atitudes, culturas e perspectivas temporais são diferentes das
nossas. Explicitar o respeito à diversidade étnico-racial, religiosa, social e econômica, a
partir do conhecimento dos processos históricos. Compreender a História como
experiência social de sujeitos que constroem e participam do processo histórico
(SCHMIDT; CAINELLI apud PLUCKAROSE, 1996, p.125).
O acima exposto fundamenta o objetivo maior do estudo realizado por professora e
alunos no Colégio Estadual Padre Ângelo Casagrande, a saber: fazer uso estratégico da
história oral como metodologia didática orientada para o ensino de história. Sabidamente, a
oralidade torna-se determinante no recurso metodológico de ensino como transmissão de
informações das experiências sociais, excedendo as imperfeições das falhas dos
documentos oficiais, compreendendo o seu processo e o direito de preservar a identidade,
desvendando as entrelinhas da memória coletiva.
Propôs-se, ademais, uma prática dinâmica introduzindo a história oral com o
propósito interdisciplinar num enfoque problematizador no trabalho de reconstrução da
história local. Ao mesmo tempo busca-se promover um trabalho coletivo com o fazer
criativo, situando os alunos no seu contexto histórico, os inserido na pesquisa de modo
ativo, transformando a forma de aprendizagem e não apenas reproduzindo o discurso do
docente.
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5. METODOLOGIA
A metodologia esteve baseada no depoimento oral como peça documental de um
determinado período histórico, valorizando a pesquisa qualitativa e a subjetividade
presente nas respostas coletadas. O método aplicado levará em consideração, sobretudo, o
conjunto dos depoimentos de valor histórico dos pioneiros entrevistados e pessoas que
conhecem a história no período da construção do Castelo Eldorado.
Foi entregue ao um questionário aos discentes durante um tempo disponível na aula
de História para que todos tivessem oportunidade de participar da pesquisa. No
desenvolvimento da pesquisa percebem-se o domínio do assunto descrito e sensações de
tranquilidade dos alunos ao referir ao estudo de pesquisa, nota-se que os educandos, ao
responderem os questionamentos, demonstraram segurança e conhecimento sobre a
implementação da Unidade Didática elaborada pela professora regente e habilidade no uso
da tecnologia, que foi uma grande aliada desse trabalho de pesquisa.
Por essa razão, o questionário tem por base a história oral como estratégia de ensino
oportunizando a reconstrução da oralidade para a escrita através das transcrições e
elaborações de narrativas históricas. A oportunidade criada não é apenas a do domínio
básico do conhecimento, mas também aquela de disponibilizar mais uma ferramenta aliada
ao trabalho docente, e poder conta com pessoas da comunidade que conhecem a história
local e têm satisfação de partilhar esse conhecimento para a juventude estudantil.
Como se afirmou, utilizou-se o questionário semi-aberto em que as questões têm o
alvo de definir a qualidade e o desempenho do conhecimento obtido pelos alunos com a
prática da pesquisa qualitativa utilizando a história oral e como foco de estudo o
monumento Castelo Eldorado localizado no Município de Marilândia do Sul. Registra-se,
ainda, que o questionário demonstra a prática pedagógica do professor e os recursos
tecnológicos presentes no desenvolvimento do trabalho de pesquisa.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo e a implementação do material didático produzido permitiram obter
algumas conclusões sobre as transformações que afluíram na forma dos discentes e
professora regente se correlacionar com o conhecimento histórico, e com a metodologia de
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trabalho com fontes orais, resultando numa ênfase à produção de narrativas históricas pelos
próprios alunos. Concluímos que, do ponto de vista metodológico, o estudo levou em
consideração a necessidade de participação de educadores e discentes como sujeitos
capazes de atuar e produzir conhecimento.
Assim, através da pesquisa comprovamos a eficiência da história oral como
referência no processo de ensino e aprendizagem por meio de pesquisa de campo
qualitativa e a contextualização do conhecimento com a participação das pessoas
depoentes, por meio de um conjunto de atividades voltado ao esclarecimento da
metodologia história oral utilizando coletas de informações, entrevistas, depoimentos,
filmes, fotos, discussão e comparação dos depoimentos colhidos, buscando articular seu
conhecimento. Portanto, tornou-se possível construir coletivamente e recriar a história do
Castelo Eldorado, o que resultou em uma descoberta efetiva por parte dos discentes,
educadores e comunidade, de que sua história é importante e de que também são sujeitos
da História.
Nesse processo de produção de narrativas, os alunos puderam confrontar o que
aprenderam na sala de aula com suas próprias estruturas de compreensão histórica,
analisando os depoimentos, as entrevistas e os materiais gravados durante a execução do
trabalho com os depoentes. Esperamos, com efeito, que este estudo venha motivar os
educadores a oferecer oportunidades de utilizar a história oral como fonte de pesquisa para
a aprendizagem colaborativa; e vencer, desta forma, a resistência ao utilizar as novas
estratégias de aprendizagem e, assim, contribuir para a melhoria da qualidade de ensino.
Concluímos, sobretudo, que o material didático intitulado “Unidade Didática a
história oral como estratégia de metodologia para o ensino de História” é útil como alicerce
para a reconstrução da história local introduzida no âmbito do espaço brasileiro, estadual e
regional, além de gerar chances de estudar a temática levantada. Portanto, o material
didático não é um projeto encerrado e pleno, deve ser discutido como um dos passos da
investigação histórica sobre a memória e a história do Castelo Eldorado e a história oral
como prioridade de recurso pedagógico.
As mudanças de percursos exigidas durante a sua aplicação devem ser encaradas
como vias específicas ao procedimento de elaboração do conhecimento que enobrecem o
fazer pedagógico do educador e propiciam bons resultados na construção do ensino-
aprendizagem.
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Considerando o acima exposto, propomos através desse trabalho de pesquisa
apresentar ao corpo docente, equipe pedagógica e gestores o resultado do trabalho e
sensibilizá-los para o material didático escrito pela professora regente, as narrativas
produzidas pelos alunos e professora, e a inserção do estudo do Castelo Eldorado no
Projeto Político da Escola, como conteúdo, privilegiando a história local.
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