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UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Pedagogia
Graziely Passos de Angelis
Vitor Hugo Santana Souza
A IMPORTÂNCIA DO INTERLOCUTOR NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO ALUNO
COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO ENSINO FUNDAMENTAL CICLO II
LINS – SP
2016
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GRAZIELY PASSOS DE ANGELIS
VITOR HUGO SANTANA SOUZA
A IMPORTÂNCIA DO INTERLOCUTOR NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO ALUNO
COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO ENSINO FUNDAMENTAL CICLO II
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Pedagogia, sob a orientação da Profª. Dra . Fabiana Sayuri Sameshima e orientação técnica da Profª Ma. Fatima Eliana Frigatto Bozzo.
LINS – SP
2016
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Graziely Passos de Angelis
Vitor Hugo Santana Souza
A IMPORTÂNCIA DO INTERLOCUTOR NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO ENSINO
FUNDAMENTAL CICLO II
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Centro
Universitário Católico Salesiano Auxilium para obtenção do título de graduação
do curso de Pedagogia.
Aprovado em ________/________/________
Banca Examinadora:
Prof(a) Orientador(a): Doutora Fabiana Sayuri Sameshima
Titulação: Doutora em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências -
Unesp Marília/SP
Assinatura: _________________________________
1º Prof(a): Marcos José Ardenghi
Titulação: Mestre em educação Matemática pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo
Assinatura: _________________________________
2º Prof(a): Ana Olímpia Junqueira Silva de Andrade
Titulação: Especialista em Inclusão da Pessoa com Deficiência Auditiva pela
Instituição São Luis, Jaboticabal; Especialista em Supervisão Escolar pela
Instituição São Luis, Bauru.
Assinatura: _________________________________
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família, amigos e marido, mas em especial
ao meu pai Carlos de Angelis, já falecido, que sempre fez de tudo para me dar
uma boa formação e hoje estaria muito satisfeito e orgulhoso com todo o meu
esforço para chegar aonde cheguei.
A todos que direta ou indiretamente me apoiaram e incentivaram a não
desistir dos meus objetivos.
Graziely Passos de Angelis
Dedico este trabalho a minha família, em especial a minha mãe Ivanete
por acreditar na minha capacidade e esforço para conquistar os meus
objetivos.
A minha filha Yasmim, que é o alicerce que me deu todas as forças para
não desistir dos meus sonhos.
Vitor Hugo Santana Souza
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças para não
desistir, e iluminando meu caminho para que eu prosseguisse na busca de
meus objetivos.
Aos meus familiares e ao meu marido Daniel pela paciência comigo nos
momentos estressantes e de adrenalina durante esses quatro anos de luta.
À professora e orientadora Drª. Fabiana Sayuri Sameshima por sua
paciência e prestatividade em transmitir seus conhecimentos para que este
trabalho fosse desenvolvido, pois além de ser um grande exemplo como
pessoa e profissional, se tornou uma grande amiga de quem nunca vou me
esquecer.
À professora Fatima Eliana Frigatto Bozzo, que nos ajudou com sua
capacidade e experiência para que este trabalho alcançasse ótimo resultado,
disponibilizando material para auxiliar seu desenvolvimento e dando-nos apoio
para que não desanimássemos nunca.
Agradeço ao meu companheiro Vitor Hugo, que junto comigo muito se
empenhou, estando sempre ao meu lado, esforçando-se e preocupando-se
durante toda a nossa caminhada.
“Nenhum obstáculo é grande demais quando confiamos em Deus.”
Graziely Passos de Angelis
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus acima de tudo, por não me deixar desistir, sem ele
certamente não teria chegado aonde cheguei.
Agradeço aos meus familiares, em especial a minha mãe Ivanete por
sempre me apoiar e não deixar que eu desistisse dos meus objetivos.
Às professoras Fatima Eliana Frigatto Bozzo e Fabiana Sayuri
Sameshima por todo o auxílio, orientações e direções durante o decorrer deste
trabalho. Da mesma forma, agradeço a todos os professores, que marcaram
uma das fases mais importantes da minha vida.
A minha companheira Graziely, que sempre esteve ao meu lado,
preocupando-se e dedicando-se, não medindo esforços para que tudo desse
certo e para que juntos pudéssemos concluir mais esta etapa de nossas vidas.
“Não deixe que os seus medos tomem o lugar dos seus sonhos”
Vitor Hugo Santana Souza
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RESUMO
O presente trabalho relata a importância do interlocutor no processo de alfabetização do aluno com deficiência auditiva no ensino fundamental ciclo II. Neste sentido, os objetivos foram avaliar a participação do professor interlocutor no processo de inclusão do aluno com deficiência auditiva, verificar como o aluno com deficiência auditiva é incluído no ensino regular, identificar as estratégias utilizadas pelo professor interlocutor durante as atividades de sala de aula com o aluno e analisar a atuação do interlocutor para com o aluno com deficiência. A metodologia utilizada foi o estudo de caso, onde foram observados, analisados e acompanhados os procedimentos aplicados pelo professor interlocutor por meio de questionário, como suporte para desenvolvimento do Estudo de Caso. Aplicou-se um questionário, onde o professor interlocutor respondeu perguntas relacionadas as estratégias utilizadas com o aluno surdo durante as atividades em sala de aula. A pesquisa de campo foi realizada na escola E.E. Valdomiro Silveira, da Cidade de Cafelândia/SP, no período de fevereiro a outubro de 2016. Realização de interrogação direta acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise qualitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados. Os resultados da pesquisa indicaram a opinião da professora interlocutora referente ao processo de inclusão do aluno surdo na rede regular de ensino, assim como identificou quais métodos e técnicas são utilizados para a aprendizagem do aluno. Conclui-se que é relevante a interferência de um interlocutor dentro da sala de aula, pois dele demanda, não só uma transformação na metodologia, que deverá ser adaptada de acordo com as dificuldades da criança, mas também é a solução para as mudanças que devem ser feitas nos meios educacionais diariamente, para acompanhar a aprendizagem do aluno.
Palavras- chave: Deficiência Auditiva. Interlocutor. Inclusão.
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ABSTRACT
The present work reports the importance of interlocutor the literacy process student with hearing impairment the primary school cycle II. In this sense, the objectives were to evaluate the participation of the teacher interlocutor in the inclusion process student with hearing impairment, check how the student with hearing disability it is included in regular education, identify the strategies used the caller teacher during classroom activities with students to analyze the performance of the speaker towards the disabled student. The methodology used was the case study, which were observed, analyzed and monitored the procedures applied by the interlocutor teacher by questionnaire, as support for the development of Case Study. Applied a questionnaire, where the caller teacher answers related questions the strategies used with the deaf student during classroom activities. Field research was conducted at E.E. Valdomiro Silveira, of the City of Cafelândia / SP, in the period from February to October 2016. Direct questioning about the problem studied for, then by qualitative analysis, obtain the conclusions corresponding to the data collected. The results of the research indicated the opinion of the interlocutor teacher regarding the process of inclusion of the deaf student in the regular network of education, as well as identify which methods and techniques are used for student learning. It is concluded that the interference of an interlocutor within the classroom is relevant, since it demands not only a transformation in the methodology, which should be adapted according to the child's difficulties, but also the solution to the changes that must be made. Be made in the educational media daily, to accompany the student's learning. Keywords: Auditory Deficiency. Interlocutor. Inclusion.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1:Sistema Auditivo.................................................................................14
Figura 2: Alfabeto em Libras ............................................................................18
Figura 3: Material Escolar Adaptado.................................................................31
Figura 4: Aplicativo Hand Talk..........................................................................30
Figura 5:Aplicativo Pro Deaf.............................................................................30
Figura 6: História Adaptada em Libras ............................................................31
Figura 7:História Adaptada em Libras ............................................................31
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação
LIBRAS: Língua Brasileira de Sinais
AEE: Atendimento Educacional Especializado
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................10
CAPÍTULO I – DEFICIÊNCIA AUDITIVA..........................................................13
1 CONCEITO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA................................................13
1.1 Como as pessoas ouvem........................................................................14
1.2 Principais causas da Deficiência Auditiva...............................................15
1.3 Alfabetizações da Criança Surda.............................................................16
1.4 Língua Brasileira de Sinais......................................................................17
1.5 A Inclusão do Deficiente Auditivo............................................................18
1.6 O Papel da Família Frente a Surdez.......................................................20
CAPÍTULO II –O PROFESSOR INTERLOCUTOR...........................................23
1 O PAPEL DO PROFESSOR INTERLOCUTOR.....................................23
1.1 Métodos e Estratégias.............................................................................25
1.2 O Papel do Interlocutor no Processo de Inclusão...................................28
CAPÍTULO III – A PESQUISA..........................................................................33
1 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS.........................................33
1.1 Análise dos dados ....................................................................................34
CONCLUSÃO...................................................................................................40
REFERÊNCIAS.................................................................................................41
APÊNDICE........................................................................................................44
ANEXOS...........................................................................................................48
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INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem grande importância, pois abordará um tema cada vez
mais comum na história da educação. É sempre possível encontrar alunos com
deficiência auditiva no Ensino Fundamental de Ciclo II, em que professores
sem capacitação encontram dificuldade para trabalhar com esses alunos. Para
isso, é relevante a interferência de um interlocutor dentro da sala de aula, pois
dele demanda não só uma transformar a metodologia, que deverá ser
adaptada de acordo com as dificuldades da criança, mas também suscitar a
necessidade de mudanças que devem ser feitas nos meios educacionais
diariamente, para acompanhar a aprendizagem do aluno.
Denomina-se deficiência auditiva a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons, sendo considerado surdo a pessoa cuja audição não é funcional na vida comum, e parcialmente surdo aquele que ainda deficiente, é funcional com ou sem aparelho auditivo (RINALDI, 1997 p. 31).
De acordo com Greguol (2013), deficiência auditiva é um desafio para a
educação especial por interferir tanto na recepção quanto na produção da
linguagem. Por conta da importância da linguagem em todas as dimensões do
desenvolvimento, ser incapaz de ouvir e de falar é uma deficiência crítica que
dificulta o ajuste social e acadêmico e pode, inclusive, colocar o indivíduo em
alguma situação de risco.
“O bilinguismo na surdez surgiu na década de 1980. A fundamentação
dessa abordagem é o acesso da criança, o mais precocemente possível, à
língua de sinais e à linguagem oral” (SANTANA, 2007, p. 165).
Neste sentido a intervenção adequada do interlocutor dentro da sala de
aula pode facilitar a aprendizagem do aluno com deficiência auditiva?
Pretende-se, com a ajuda do interlocutor dentro da sala de aula, facilitar
a aprendizagem do aluno surdo, pois ele transmitirá ao aluno os conteúdos
passados pelos professores, facilitando, desta forma, o seu processo
educacional.
Considera-se que o processo de aprendizagem é desencadeado a partir da motivação. Esse processo está intimamente ligado às relações de troca que ele estabelece com o meio, principalmente com seus professores e colegas. Cabe aos educadores proporcionar situações de interação que despertem no aluno a motivação para a
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interação com seus colegas e os próprios professores. A ação educativa da escola deve incluir conteúdos curriculares específicos, como suporte e complementação ao trabalho a ser desenvolvido em sala de aula com os currículos regulares, de modo a atingir os objetivos traçados (RINALDI, 1997 p. 287).
Brasil (1997) ressalta que, atualmente, todo o fazer educacional com o
aluno surdo deve ter como objetivo o desenvolvimento de sua linguagem,
focando no bilinguismo, lembrando que o ritmo da aprendizagem, devido aos
bloqueios na comunicação, costuma ser mais lento, particularmente no período
da alfabetização. Não se trata de uma limitação intelectual impeditiva do
processo de aprendizagem, e sim de uma característica decorrente das
implicações impostas pela surdez e pela tardia ou não participação nos
programas de estimulação precoce e de educação pré-escolar que dificultam o
aprendizado da língua portuguesa e no que se refere à aquisição da língua
brasileira de sinais.
Neste sentido, o objetivo geral deste trabalho foi avaliar a participação
do professor interlocutor no processo de inclusão do aluno com deficiência
auditiva. Já os objetivos específicos foram verificar como o aluno com
deficiência auditiva é incluído no ensino regular, identificar as estratégias
utilizadas pelo professor interlocutor durante as atividades de sala de aula com
o aluno e analisar a atuação do interlocutor para com o aluno com deficiência,
por meio de filmagens.
Foi realizada uma pesquisa descritiva com revisão bibliográfica e
abordagem qualitativa com um professor interlocutor e um aluno deficiente
auditivo. A pesquisa de campo foi realizada na escola E.E. Valdomiro Silveira,
da Cidade de Cafelândia/SP, no período de fevereiro a outubro de 2016.
Foram observados, analisados e acompanhados os procedimentos
aplicados pelo professor interlocutor por meio de questionário, como suporte
para desenvolvimento do Estudo de Caso, com a realização de interrogação
direta acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise
qualitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados.
Inicialmente foi feito o contato com a direção da escola para orientações
com relação à pesquisa e preenchimento dos termos de consentimento livre e
esclarecido. Após essa etapa, foi agendado um encontro com o professor
interlocutor para preenchimento do questionário. As respostas do interlocutor
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foram analisadas e, por meio dos conteúdos, foi possível direcionar as
observações, a fim de suprir os objetivos propostos no estudo.
O trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro, "Deficiência
Auditiva" relata tudo a respeito do conceito de audição, como as pessoas
ouvem, quais as principais causas da deficiência auditiva, como é a
alfabetização de uma criança surda e como é a inclusão do deficiente auditivo
no ambiente escolar.
O segundo capítulo, "O Professor Interlocutor" faz referências ao papel
do professor interlocutor, aos métodos e estratégias utilizados e ao papel do
interlocutor no processo de inclusão.
No terceiro capítulo, "Analise dos Dados" foi desenvolvida uma pesquisa
por meio de um roteiro de entrevista composto por 13 perguntas, através do
qual foi possível saber qual a opinião da professora interlocutora sobre o
processo de inclusão do aluno deficiente auditivo na rede regular de ensino e
conhecer quais métodos e técnicas são utilizados para a aprendizagem do
aluno.
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CAPÍTULO I
DEFICIÊNCIA AUDITIVA
1 CONCEITO DE AUDIÇÃO
A audição é o primeiro sentido a ser apurado, mesmo antes de a criança
nascer, pois, de dentro da barriga de sua mãe, já tem contato com os sons do
mundo. Desempenhando um papel fundamental na vida da criança, a audição
é uma função essencial, uma vez que é através dela que somos inseridos na
sociedade e podemos ser percebidos.
O som pode proporcionar todos os tipos de sensações que podem ter
papel fundamental para melhor qualidade de vida.
As vibrações sonoras que se propagam pelo ar, são captadas pelo pavilhão auricular e são direcionadas ao interior da orelha. Quando essas vibrações chegam até a membrana timpânica, que é uma pele rígida e fina que divide o canal auditivo e o ouvido médio, a mesma vibra. A membrana timpânica transmite, então, as vibrações para os três ossículos da orelha média (primeiro o martelo, depois a bigorna e por último, o estribo), que por sua vez, transmitem as mesmas para a orelha interna, onde as vibrações fazem o liquido do interior da cóclea se movimentar. Dentro da cóclea, as células ciliadas captam esses movimentos e os transmitem, por meio de impulsos nervosos que percorrem um nervo até o córtex cerebral, onde a informação será
interpretada. (PACIEVITCH, 2013, p.1).
Quando uma pessoa tem dificuldades para ouvir, pode-se dizer que essa
pessoa tem uma deficiência auditiva, porém é considerado surdo o indivíduo
cuja audição não é funcional na vida, e parcialmente surdo aquele cuja audição
é funcional com ou sem prótese auditiva.
De acordo com Brasil (1997, p. 31) “Pelo menos uma em cada mil
crianças nasce profundamente surda, porém muitas pessoas desenvolvem
problemas auditivos ao longo da vida, por causa de acidentes ou doenças”.
Contudo, ainda hoje, a sociedade conhece bem pouco os deficientes
auditivos. Essa ausência de conhecimento se reflete na ausência de
assistência disponível para que haja a integração social do deficiente auditivo.
A ausência de informação se reflete na rara presença desse assunto em
noticiários e na pequena oferta de serviços adequados aos deficientes.
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1.1 Como as pessoas ouvem
O ouvido é um órgão bastante sensível do corpo humano, é ele que nos
possibilita captar e interpretar os sons do ambiente, além de nos dar o
equilíbrio do corpo.
O ouvido humano possui três partes: ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno –, sendo que cada uma desempenha funções específicas. Ouvido externo: é composto pelo pavilhão auricular e pelo canal auditivo, que é a porta de entrada do som. Nesse canal, certas glândulas produzem cera, para proteger o ouvido. Ouvido médio: formado pela membrana timpânica e por três ossos minúsculos, que são chamados de martelo, bigorna e estribo, pois são parecidos com esses objetos. Em contato com a membrana timpânica e o ouvido interno, eles transmitem as vibrações sonoras que entram no ouvido externo e devem ser conduzidas até o ouvido interno. Ouvido interno: nele está a cóclea, em forma de caracol, que é a parte mais importante do ouvido: é responsável pela percepção auditiva. Os sons recebidos na cóclea são transformados em impulsos elétricos que caminham até o cérebro, onde são „entendidos‟ pela pessoa. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p.1)
Figura 1: Sistema Auditivo
Fonte: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/sentido4.php
Segundo Redondo e Carvalho (2000), sempre é mais fácil descobrir a
perda severa ou profunda do que a leve ou moderada. De qualquer forma, é
importante que os familiares e o médico pediatra sejam observadores e
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atentos, para detectar eventuais sinais de perturbação, desde as primeiras
semanas após o nascimento.
É preciso observar os sinais que o bebê apresenta logo nos primeiros
anos de vida. Se o bebê for muito quieto, não se assustar com barulhos fortes,
não virar a cabeça ao procurar a origem de um barulho ou não parar de chorar
mesmo com a voz de sua mãe, pode ser preocupante ao ponto de se procurar
um especialista. (REDONDO; CARVALHO, 2000)
É ideal que a surdez seja diagnosticada o mais cedo possível, quanto
mais tempo passa, maiores são as dificuldades no seu desenvolvimento. É
importante que os pais procurem informações com profissionais especializados
como médicos, psicólogos e fonoaudiólogos para que analisem o grau da
deficiência e, se for o caso, indiquem o uso de um aparelho auditivo.
Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgou novos dados do Censo 2010 com informações sobre a situação da
perda auditiva dos brasileiros. A pesquisa avaliou pessoas com problemas
permanentes e constatou que mais de nove milhões de cidadãos declararam
ter algum tipo de deficiência auditiva. Desse total, 347 mil pessoas afirmaram
não conseguir ouvir de modo algum, quase 1,8 milhão disseram ter grande
dificuldade e 7,5 milhões relataram alguma limitação.
1.2 Principais causas da deficiência auditiva
Nem sempre é possível identificar a causa da perda auditiva, pois são
vários os fatores que podem levar a essa perda. De acordo com Brasil (1997,
p. 33-34) destacam-se:
a) Causas pré-natais: A criança adquire a surdez através da mãe, no período de gestação, decorrentes de desordens genéticas ou hereditárias, relativas a consanguinidade, relativas ao fator Rh, relativas a doenças infecto contagiosas, como rubéola, sífilis, citomegalovírus, toxicoplasmose, herpes, remédios ototóxicos, drogas, alcoolismo materno, desnutrição, subnutrição, carência alimentar, pressão alta, diabetes, exposição a radiação. b) Causas peri-natais: A criança fica surda pois surgem problemas no parto, como a pré-maturidade, pós maturidade, anóxia, fórceps, infecção hospitalar entre outras. c) Causas pós-natais: A criança fica surda, porque surgem problemas após seu nascimento como: meningite, remédios ototóxicos em excesso ou sem orientação médica, sífilis adquirida,
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sarampo, caxumba, exposição frequente a ruídos ou sons muito alto, traumatismo craniano entre outros.
A classificação da deficiência auditiva é medida em decibel. Para ser
considerado deficiente auditivo tem que estar em um nível auditivo entre 25 a
90 decibéis, sendo assim pode ser classificado essa deficiência como leve,
moderada, acentuada, severa e grave. Quando a pessoa tiver um nível auditivo
superior a 91 decibéis é considerada deficiência auditiva profunda. Na perda de
audição leve a pessoa tem características parecidas como de uma pessoa com
a audição perfeita. Na perda de audição severa ou profunda a pessoa
apresenta limitações na sua comunicação verbal, bem como no
desenvolvimento da linguagem, acarretando prejuízos na sua vida em
sociedade. (MARQUETI, 2013, p.22)
Para que haja uma diminuição nos casos de deficiência auditiva é
necessário que se faça a prevenção, iniciando com o pré-natal frequente.
1.3 Alfabetização da criança surda
A alfabetização é essencial para o ser humano conseguir viver em
sociedade, contudo a alfabetização nada mais é do que o aprendizado do
alfabeto e sua utilização na comunicação com o mundo.
De uma maneira mais clara, a alfabetização é definida como um
processo no qual o indivíduo descobre o conhecimento. Esse processo
também envolve a capacidade do ser humano de interpretar, compreender,
criticar e evoluir. (TFOUNI, 1995)
Para Vigotsky (2001), a linguagem é adquirida na vida social do ser
humano no contato entre o homem e a linguagem, na integração em
sociedade. Deste modo, para as pessoas surdas esse contato apresenta-se
prejudicado, em virtude de a linguagem oral ser reconhecida pelo canal
auditivo, e este apresentar-se alterado nas pessoas surdas.
A audição é um fator muito importante para que haja o bom
desenvolvimento da linguagem, porém, quando existe uma deficiência auditiva,
mesmo sendo de nível leve, ela pode afetar a linguagem de uma criança. Neste
caso, é necessário que haja uma estimulação para que se desenvolva a
linguagem. Portanto, uma criança com deficiência auditiva deve ser exposta, o
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mais cedo possível, à língua de sinais, pois é esse o sistema que lhe dará uma
forma de comunicação melhor, além de ter um papel fundamental para o
desenvolvimento cognitivo e social da criança, permitindo a aquisição do
conhecimento sobre o mundo que a cerca e descubra sua identidade na
sociedade. (REDONDO; CARVALHO, 2000)
O deficiente auditivo pode adquirir seu potencial linguístico, pois o ser
humano possui dois sistemas que produzem e reconhecem a linguagem. Esses
sistemas são o sistema sensorial, em que é usada a visão, a audição e a
linguagem, e o sistema motor, que usa a visão, as mãos e os braços.
1.4 Língua Brasileira de Sinais
A Língua Brasileira de Sinais é utilizada por deficientes auditivos para a
comunicação entre eles e entre surdos e ouvintes.
Ao contrário do que imaginamos, a Libras é uma língua natural como
qualquer outra, a diferença é que ela também utiliza a imagem para se
expressar. Portanto, para se aprender libras, deve-se passar por um processo
de aprendizagem de uma nova língua, da mesma maneira quando nos
propomos a aprender outras línguas como inglês, francês, etc. (ARAUJO,
2014)
A LIBRAS é uma das linguagens de sinais existentes no mundo inteiro para a comunicação entre surdos. Ela tem origem na Linguagem de Sinais Francesa. As linguagens de sinais não são universais, elas possuem sua própria estrutura de país pra país e diferem até mesmo de região pra região de um mesmo país, dependendo da cultura daquele determinado local para construir suas expressões ou regionalismos. Para determinar o seu significado, os sinais possuem alguns parâmetros para a sua formação, como por exemplo a localização das mãos em relação ao corpo, a expressão facial, a movimentação que se faz ou não na hora de produzir o sinal, etc. (ARAUJO, 2013, p.1)
O processo de aprendizagem da criança surda também depende do
período em que os pais descobrem a perda auditiva, do envolvimento da
família na sua educação, dos problemas físicos e psicológicos que a criança
passa, do tipo de atendimento que a criança recebe, do atendimento médico
adequado, entre outros.
Para combater o preconceito em relação a qualquer tipo de deficiência, é
necessário que as pessoas tenham conhecimento sobre a maneira correta de
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diagnosticar, facilitando, assim, a inclusão dessas pessoas em todos os meios
sociais.
Cerca de 95% das crianças surdas nascem de pais ouvintes. Quando se
descobre que a criança, afinal, é surda, os pais quase nada podem fazer para
ensinar-lhe uma língua de sinais, pois normalmente não estão preparados para
tal. Neste contexto há duas opções possíveis: comunicar-se com a criança de
modo oralizado, ensinando-lhe a leitura labial e/ou a utilização de aparelhos e
implantes auditivos ou providenciar que a criança aprenda a língua de sinais
local. (SACKS, 1998)
Figura 2: Alfabeto em Libras
Fonte:http://www.hypeness.com.br/2016/01/usp-lanca-curso-de-libras-gratuito-e-a-
distancia/
1.5 A inclusão do deficiente auditivo
A inclusão das pessoas com necessidades especiais, atualmente, no
Brasil, é um desafio. O deficiente auditivo também sofre vários preconceitos e
dificuldades para se enquadrar na sociedade. Um dos fatores que dificultam
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essa inclusão é a falta de comunicação oral, que prejudica sensivelmente o
aprendizado, como também a aplicação de metodologias não contextualizadas
com a realidade sociocultural do aluno. Outro fator que prejudica o deficiente
auditivo é a falta de preparo da maioria dos educadores que atuam nessa área,
não por vontade, mas sim porque em sua formação não tem o preparo
necessário.
Pais, e por vezes o próprio aluno surdo, insistem na permanência na escola regular, mesmo havendo resultados negativos pelo fato de a língua praticada em sala de aula não ser a praticada pelos surdos. O que ficou constatado é a necessidade da melhor formação do professor em conjunto com a melhora do sistema educacional, necessitando de uma adequação para os alunos surdos, o que facilitaria seu ingresso em classes com alunos ouvintes, oferecendo meios e possibilidades para esses alunos desenvolverem uma convivência saudável. Todavia, mesmo com a melhor preparação dos professores, incluindo no conhecimento da cultura surda a linguagem de sinais, não será suficiente, pois a língua praticada em sala de aula e no ambiente escolar não é a mesma compartilhada pelo aluno surdo, o que é indispensável para que o aluno surdo torne-se letrado. (BOTELHO, 2002, p.1)
Projetar um aluno para a vida em sociedade, e consequentemente para
a sociedade, é tarefa da escola, portanto é através da escola que toda e
qualquer pessoa deve escolarizar-se e conhecer as diferentes formas de
aprendizagens que a escola pode oferecer. Porém, fazer acontecer a inclusão
de pessoas surdas na educação básica é uma tarefa muito lenta e complexa.
(FREITAS, 2006)
Refletir sobre as questões de uma escola de qualidade para todos,
incluindo-os através da perspectiva sociocultural, significa considerar a visão
da realidade construída socialmente e culturalmente por aqueles que são
responsáveis pela educação. A visão de Educação Especial, com base nos
princípios de inclusão, requer a inserção do deficiente auditivo na rede regular
de ensino, mas segundo a LDB 9394/96 o Art. 59, referente à Educação
Especial, diz que a escola deve fornecer um atendimento qualificado para os
alunos, com profissionais especializados.
A Lei nº. 10.436, de 24 de abril de 2002, obrigou as escolas a incluírem
no quadro de discentes o aluno deficiente auditivo. Desde então, as escolas
buscam adequar-se para melhor atender esses alunos, mas mesmo que esta
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tenha boa vontade, isso não basta, pois a qualificação do professor é
fundamental para o bom desenvolvimento da vida educativa e social do aluno.
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei
nº 9394//96, no Art. 59, reforça que os sistemas de ensino devem assegurar
aos educandos com necessidades especiais:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; (BRASIL, 1996, p.1)
A surdez não significa inferioridade, pois, ao desenvolver suas
capacidades, o surdo pode sim se integrar na vida social e cultural da
comunidade como qualquer outro cidadão. Com isso, a inclusão veio
justamente ampliar as possibilidades para se construir uma sociedade mais
justa, dando a oportunidade para todos conquistarem seu espaço na
sociedade.
1.6 O papel da família frente a surdez
É através da visão, da audição, do olfato, do paladar e do tato que o ser
humano percebe o mudo e a presença do seu semelhante, portanto, se ocorrer
a perda de um ou mais desses sentidos, a sua capacidade de perceber o
mundo diminuirá
De acordo com Brasil (1997, p. 81): “O surdo está privado do sentido
que serve como “antena”, pois proporciona automaticamente informações
referentes ao ambiente. Essas privações provocam o “isolamento”, um fator
importante para a integração e a estabilidade emocional.”
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Embora a perda auditiva não conduza as dificuldades sociais, pode-se
criar um ambiente em que tais dificuldades apareçam. Os pais podem perceber
a surdez de seus filhos ao observarem alguns indícios apresentados pela
criança e que podem indicar anormalidades no seu comportamento auditivo
como, por exemplo, não se assustar com portas que batem ou ruídos fortes,
não atender quando são chamados, não acordar com som alto ou barulho
repentino, serem muito distraídas e não se concentrarem em nada, não falar
após dois anos de idade e apresentar um atraso no desenvolvimento
neurológico ou motor. (RINALDI, 1997)
Uma criança que não reaja a sons, ruídos ambientais e à voz humana,
provavelmente é surda e deverá receber atendimento médico e educacional
especializado.
Ao esperar o nascimento de um filho, a mãe cria uma imagem “ideal” de
como será o seu filho ao nascer e, na maioria das vezes, é descartada a
possibilidade de alguma anormalidade. Entretanto, se surgir a notícia de algum
tipo de deficiência, gera-se um turbilhão de sentimentos ao redor da nova
realidade, sentimentos de culpa, pena, ódio, vulnerabilidade, rejeição e
superproteção.
A falta de conhecimento das capacidades e potencialidades de uma
pessoa surda gera preconceito na sociedade e nos próprios pais, que agem de
forma a discriminar a criança, com atitudes de rejeição ou de superproteção.
Na maioria das vezes, a sociedade costuma ter preconceito contra o que não
conhece e o que sai fora dos padrões de normalidade impostos por elas
mesmas. A falta de conhecimento acaba deixando os pais inseguros diante do
futuro que seu filho irá enfrentar, muitas vezes deixando a família
desorganizada emocionalmente, e preocupados com um replanejamento da
vida que mudará em função da nova realidade. A reação dos pais depende de
vários fatores como: a maturidade dos pais, a expectativa que eles têm em
relação à criança, o relacionamento da família, da ausência dos pais, do mal
relacionamento do casal, da situação socioeconômica da família. (O PAPEL...,
2013)
A família tem o papel de ser o agente modificador dessa realidade,
transmitindo segurança, acreditando no potencial da criança, demonstrando
carinho, confiança, estabelecendo comunicação com seu filho, tratando-o do
22
mesmo modo com que trata outros familiares. Para a família, o momento de
encaminhar o filho para a escola pode ser o mais angustiante, pois a maioria
desconhece seus direitos e imagina a possibilidade de seus filhos serem
rejeitados. No entanto, hoje em dia há diversas modalidades de ensino como
as classes especiais, inclusão em classe regular, acompanhamento
especializado, professor interlocutor, entre outros meios. O importante é os
pais se sentirem seguros ao encaminhar seu filho a uma unidade de ensino. (O
PAPEL..., 2013).
23
CAPÍTULO II
O PROFESSOR INTERLOCUTOR
1 O PAPEL DO PROFESSOR INTERLOCUTOR
Com o aumento de alunos com deficiência na rede regular de ensino, e
posteriormente a inclusão em sala regular, tornou-se mais difícil o professor
regente trabalhar com a classe toda e suprir as necessidades do aluno com
deficiência. Muitas vezes o professor não tem conhecimento suficiente para
lidar com a necessidade do aluno, então surgiu , a procura por um professor
interlocutor ou mediador para acompanhar o processo educacional do aluno.
Segundo a Resolução SE 38 de 19/06/2009, que dispõe sobre a
admissão de docentes com qualificação na Língua Brasileira de Sinais (Libras),
nas escolas da rede estadual de ensino, à vista das disposições da Lei nº
10.098/2000, da Lei nº 10.436/2002, do Decreto Federal nº 5.626/2005 e
considerando a necessidade de se garantir aos alunos surdos ou com
deficiência auditiva o acesso às informações e aos conhecimentos curriculares
dos ensinos fundamental e médio, resolve:
Artigo 1º - As unidades escolares da rede estadual de ensino incluirão em seu quadro funcional docente que apresentem qualificação e proficiência na Língua Brasileira de Sinais - Libras, quando tiverem alunos surdos ou com deficiência auditiva, que não se comunicam oralmente, matriculados em salas de aula comuns do ensino regular. § 1º - Os docentes a que se refere o caput deste artigo atuarão na condição de interlocutor dos professores e dos alunos, nas classes e/ou nas séries do ensino fundamental e médio, inclusive da educação de jovens e adultos (EJA). § 2º - A admissão do docente interlocutor da LIBRAS/Língua Portuguesa assegurará, aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, a comunicação interativa professor-aluno no desenvolvimento das aulas, possibilitando o entendimento e o acesso à informação, às atividades e aos conteúdos curriculares, no processo de ensino e aprendizagem.
De acordo com o Artigo 2º da Resolução SE 38/ 2009, o professor
interlocutor deve cumprir o número de horas semanais correspondentes à
carga horário da classe ou série em que irá trabalhar, em todas as aulas,
inclusive nas aulas de Educação Física.
24
Fica vedada a contratação para professores interlocutores, somente
aqueles que portarem diploma de licenciatura plena, para atuação nas séries
finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, ou de curso de nível médio com
habilitação em Magistério, para a atuação nas séries iniciais do Ensino
Fundamental, e apresentar pelo menos diploma ou certificado de curso de
graduação ou de pós- graduação em Libras, ou certificado de proficiência em
Libras expedido pelo MEC, ou certificado de conclusão de Libras de no mínimo
120 horas, ou especialização em deficiência auditiva com carga horário de
Libras. (SÃO PAULO, 2009)
O Artigo 3º da Resolução SE 38/2009 relata que caberá às Diretorias de
Ensino: identificar, em cada unidade escolar, a demanda de alunos que
necessitam do atendimento previsto nesta resolução, racionalizar, antes do
início do ano letivo, a demanda regional de alunos, buscando efetivar as
matrículas da forma mais adequada ao atendimento dos alunos, promover
orientação técnica aos docentes interlocutores, orientar e esclarecer os
gestores e os docentes das unidades escolares sobre a natureza das ações a
serem desenvolvidas pelo docente interlocutor, favorecendo condições de
aceitação e adequações necessárias à implementação desse atendimento
especializado e providenciar, quando necessário em sua região, a qualificação
de professores da rede, mediante a realização de cursos de formação
continuada em Libras, de no mínimo 120 (cento e vinte) horas, com expedição
da certificação correspondente, promovidos por instituições credenciadas pela
Secretaria da Educação.
O professor interlocutor tem a função de facilitar a comunicação entre o
aluno que possui algum tipo de deficiência auditiva e o professor da classe. É
por meio do estudo de Libras que o interlocutor possibilita ao aluno participar
das atividades teóricas e práticas desenvolvidas na escola, fazendo com que
ele seja incluso em ambiente formal como os outros colegas de classe. Porém,
para que o aluno surdo compreenda o que é ensinado em sala de aula, é
necessário que o interlocutor também compreenda a proposta da aula.
Muitas pessoas confundem a função do intérprete e do interlocutor, mas
o que alguns não sabem é que há uma grande diferença. O intérprete precisa
dominar no mínimo duas línguas para que possa desenvolver seu papel, que é
o de traduzir, ou seja, fazer a tradução para a língua de origem. Já o
25
interlocutor normalmente é um professor que procura desenvolver da maneira
mais fácil o que o aluno precisa compreender em sala de aula, buscando
sempre a melhor estratégia para que seu educando compreenda a metodologia
do professor regente. (QUADROS, 1997)
O cargo de professor interlocutor foi criado de acordo com a Resolução
SE38/2009 da Secretaria do Estado da Educação, considerando a necessidade
de se garantir aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso às
informações e aos conhecimentos curriculares dos ensinos fundamental e
médio.
§ 2º - A admissão do docente interlocutor da LIBRAS/Língua Portuguesa assegurará, aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, a comunicação interativa professor-aluno no desenvolvimento das aulas, possibilitando o entendimento e o acesso à informação, às atividades e aos conteúdos curriculares, no processo de ensino e aprendizagem. Artigo 2º - O docente interlocutor cumprirá o número de horas semanais correspondente à carga horária da classe ou da série em que irá atuar, no desenvolvimento de cada uma das aulas diárias, inclusive das de Educação Física, mesmo quando ministradas no contra turno de funcionamento da classe/série atendida.(SÃO PAULO, 2009)
Contudo, o professor interlocutor deve ter uma metodologia própria para
que o aluno possa aprender, não sendo apenas um simples tradutor, devendo
mediar entre os conteúdos abordados nas aulas e mediar entre o aluno surdo e
o professor regente, já este, em sua função, devendo deixar o conteúdo de
maneira clara e objetiva para que o interlocutor leve o aluno surdo à
compreensão.
1.1 Métodos e Estratégias
O professor interlocutor atua como forma de mediador entre o aluno
surdo, o professor da sala e entre os colegas de classe, fazendo com que o
aluno surdo faça parte do contexto, envolvendo-o em todo o conteúdo de que
os alunos ouvintes também fazem parte.
A mediação se refere ao relacionamento professor-aluno na busca da aprendizagem como processo de construção de conhecimento, a partir da reflexão crítica das experiências e do processo de trabalho. O conceito de mediação pedagógica surgiu no contexto da
26
“pedagogia progressista”, caracterizada por uma nova relação professor-aluno e pela formação de cidadãos participativos e preocupados com a transformação e o aperfeiçoamento da sociedade. Antes, até a década de 70, o sistema educacional brasileiro seguia uma abordagem de ensino conhecida como “pedagogia tecnicista”, na qual cabia ao aluno assimilar passivamente os conteúdos transmitidos pelo professor. (MENEZES, 2001, p.1)
Segundo Marcos Masetto (2013), a mediação pedagógica significa a
atitude e o comportamento do professor que se coloca como um facilitador,
incentivador ou motivador da aprendizagem, que ativamente colabora para que
o aprendiz chegue aos seus objetivos.
O aluno com deficiência auditiva tem, por lei, direito a frequentar aulas
em salas de recurso com professores especializados para o seu atendimento,
além de um professor interlocutor que permanece na sala de aula regular
transmitindo, através de libras, o conteúdo trabalhado pelo professor regente.
Para trabalhar com o aluno surdo em uma sala de aula regular, o
professor interlocutor precisa fazer adaptações no sistema educacional, utilizar
metodologias que atendam a necessidade do aluno, promover a interação do
mesmo com a sala de aula e o ambiente escolar, seja através da libras ou até
mesmo de sinais e gestos não padronizados. É papel do professor interlocutor
fazer com que o aluno surdo avance e desenvolva seus conhecimentos.
(GODOI; SANTOS; SILVA, 2013).
Portanto, é muito importante que se criem espaços educacionais onde a
diferença esteja presente, ou seja, fazer com que crianças com diferentes
necessidades convivam no mesmo ambiente e que cada um possa aprender
com o outro sem que nenhum seja prejudicado no seu aprendizado, desta
maneira, a escola deve proporcionar espaços para atividades esportivas, de
lazer, para criações da imaginação, proporcionando sempre atividades que
force a integração de todos.
Algumas escolas tem a disponibilidade para as crianças frequentar salas
de recursos multifuncionais em horários opostos ao horário da aula regular.
Essas salas de recurso multifuncionais tem o objetivo de apoiar a organização
de um atendimento educacional especializado (AEE) fazendo a
complementação aos estudantes com algum tipo de deficiência que estão
matriculados em classe comum de ensino regular. Essas salas tem um
atendimento especializado com mobiliários pedagógicos diferenciados,
27
materiais didáticos adaptados como jogos pedagógicos adaptados, livros
didáticos impressos em letras ampliadas ou em Braille, pranchas de
comunicação alternativa, livros falados ou cantados, materiais em autorrelevo,
cadernos de pauta ampliada, materiais de informática adaptados, entre vários
outros materiais que facilitam a aprendizagem do aluno com deficiência.
O espaço da sala de recurso promove ao aluno o desenvolvimento de
habilidades, favorece o desenvolvimento das atividades pedagógicas propostas
pela escola e promove a inclusão do aluno em todas as atividades escolares.
Segundo o MEC (BRASIL, 2006, p.39): “Incluem-se, nesses grupos,
alunos que enfrentam limitações no processo de aprendizagem devido a
condições, distúrbios, disfunções ou deficiências, tais como, autismo,
hiperatividade, déficit de atenção, dislexia, deficiência física, paralisia cerebral e
outros”.
A inclusão de alunos com deficiência no ensino regular é garantida pela
Constituição de 1998, capítulo III, artigo 208, o qual aponta como sendo dever
do Estado o atendimento educacional aos alunos com deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 1998).
Dentro desse sistema de educação, não havendo um professor
proficiente em libras em sala de aula, o profissional tradutor intérprete de libras
é fundamental para a comunicação. Esse profissional surgiu com a
necessidade de a comunidade surda possuir um mediador no processo de
comunicação com os ouvintes. Sabe-se que, informalmente, membros da
família faziam essa função, e por não conhecerem a Língua de Sinais,
construíam uma comunicação usual própria diferente da Língua de Sinais, com
assuntos relacionados apenas as necessidades básicas e momentâneas da
criança Surda (CASTRO, 1999).
O intérprete realiza a tradução da língua de sinais para o português e o
seu inverso, para que haja a comunicação entre o professor ouvinte e o aluno
surdo.
De acordo com Quadros (1997), a língua de sinais é uma língua
espacial-visual, utiliza-se principalmente do espaço para a sinalização, do
campo de visão, configurações de mão, movimentos, expressões faciais
gramaticais, localizações e movimentos do corpo.
28
1.2 O papel do interlocutor no processo de inclusão
O sistema de ensino assegura ao aluno com deficiência auditiva,
professores especializados em salas de recursos para o seu atendimento e
alfabetização, as quais são frequentadas duas vezes por semana, e um
professor intérprete/interlocutor que fica na sala de aula regular com o aluno,
transmitindo em libras o conteúdo trabalhado, garantindo-lhe, assim, um ensino
de qualidade.
Com a procura cada vez maior de alunos com deficiência na escola
regular, o que se tem percebido é um certo fracasso no processo de inclusão,
pois ainda há unidades escolares que não estão preparadas para receber esse
tipo de aluno.
Segundo Lacerda (2002, p57): “Nas escolas onde são feitos os trabalhos
com o intérprete, a princípio, tem-se encarado sua presença como “uma cura”
ou “um remédio” para determinada doença, que seria a inclusão dos alunos
deficientes auditivos”.
A presença do interlocutor pode ser encarada de maneira positiva, como
a solução para facilitar a comunicação entre o professor e o aluno surdo. Para
isso, é muito importante que o professor interlocutor mantenha a comunicação
com todos os outros professores da escola, manter a participação em
processos de planejamento de aula, bem como as estratégias utilizadas pelo
professor regente, isso fortalecerá o papel do interprete na sala de aula, dando
autonomia para trabalhar os conteúdos com o aluno surdo e assim facilitando
para o seu aprendizado e desenvolvimento.
É muito importante que o interlocutor saiba com clareza transmitir o
conteúdo, pois assim o aluno surdo pode criar suas ideias a partir da boa
interpretação do professor interlocutor.
Portanto, o papel do intérprete não é somente interpretar uma língua
para outra, sua função é maior que ser apenas ponte para uma boa
comunicação. Ele está completamente envolvido na interação comunicativa
(social e cultural) com poder completo de influenciar o objeto e o produto da
interpretação (QUADROS, 2004).
29
Atualmente a área da Tecnologia Assistiva vem para contribuir e
proporcionar a autonomia e independência de pessoas com alguma
necessidade especial. É uma área do conhecimento, de característica
interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias,
práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à
atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou
mobilidade reduzida (BRASIL, 2004).
Podendo variar de uma simples bengala a um sistema computadorizado,
brinquedos adaptados, softwares e hardwares especiais que contemplem a
acessibilidade para a necessidade da criança, dispositivos para adequação da
postura, recursos para mobilidade manual e elétrica, acionadores adaptados,
recursos de comunicação alternativa, aparelhos de escuta assistiva, auxílios
visuais, materiais e objetos ampliados, entre milhares de outros itens que
podem ser confeccionados na própria escola ou ate mesmo comprado para ser
trabalhado o desenvolvimento do aluno.
Figura 3: Material Escolar Adaptado
Fonte:http://pt.slideshare.net/Cariocaseventos/tecnologia-assistiva-na-incluso
30
Especificamente para pessoas com deficiência auditiva, podemos citar
auxílios que incluem vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para
surdez, telefones com teclado-teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual,
celular com mensagens escritas e chamadas por vibração, software que
favorece a comunicação ao telefone celular transformando em voz o texto
digitado no celular e em texto a mensagem falada, como os aplicativos Hand
Talk e Pro Deaf, que apresentam também um dicionário em Libras que facilita o
entendimento do sinais próprios da língua.
Figura 4: Aplicativo Handtalk
Fonte: www.handtalk.me/app
Figura 5: Aplicativo ProDeaf
Fonte:http://ziggi.uol.com.br/downloads/prodeaf/online
31
O trabalho de linguagem é desenvolvido de forma a dar à criança surda
um instrumento linguístico que a torne capaz de se comunicar, tanto em língua
portuguesa (oral) quanto na língua brasileira de sinais. Os recursos utilizados
para o desenvolvimento da linguagem são feitos com atividades de imitação,
jogos, desenhos, dramatizações, brincadeiras de faz de conta, histórias
infantis, com o apoio da Libras, como, por exemplo:
Figura 6: História adaptada em Libras
Fonte:http://amigasdaedu.blogspot.com.br/2010/09/fabulas-em-libras-10-fabulas.html
Figura 7: História adaptada em Libras
Fonte: http://amigasdaedu.blogspot.com.br/2010/09/fabulas-em-libras-10-fabulas.html
32
Essas atividades possibilitam a aquisição de linguagem e a
aprendizagem de conceitos e regras de um código de comunicação, quesito
importante no processo de integração escolar. Assim, ao relacionar as
experiências vivenciadas com a verbalização ou com os sinais que ela observa
nas pessoas, que se torna mais fácil para a criança adquirir a linguagem
(REDONDO; CARVALHO, 2000).
Segundo Silva (2008), o professor deve ser o ponto de equilíbrio para
que a criança vença e enfrente os desafios, tendo a certeza de que não lhe
faltará apoio. Desta forma o aluno e o professor caminharão juntos na
construção da identidade pessoal da criança, desenvolvendo a sua
independência e a autonomia.
33
CAPÍTULO III
A PESQUISA
1 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
A metodologia deste trabalho de conclusão de curso consistiu em
pesquisa bibliográfica e questionário aplicado a uma professora interlocutora de
uma aluna surda, de 13 anos de idade, matriculada no 8º ano do ensino
fundamental em uma escola no município de Cafelândia/SP.
A aluna nasceu com surdez severa devido a problemas durante a
gestação. É uma adolescente agitada, algumas vezes nervosa pois não gosta
de que as pessoas fiquem rodeando-a o tempo todo, como acontece desde
quando entrou na escola.
A aluna consegue se comunicar e se fazer entender por todos da
Unidade Escolar pois a mesma já frequenta a escola há mais de três anos,
funcionários e professores comunicam-se com a aluna por meio de gestos,
porém a mesma recebe o auxílio da professora interlocutora há apenas dois
anos, além de frequentar sala de recurso no período contrário a aula.
A pesquisa foi realizada na Escola Estadual Valdomiro Silveira da cidade
de Cafelândia- SP. A Unidade Escolar possui um total de 745 alunos e apenas
uma aluna surda incluída.
O questionário foi respondido por uma professora de 27 anos de idade,
que trabalha como interlocutora na escola participante e em outras escolas da
região de Lins, atuando há mais de 5 anos.
O instrumento de pesquisa continha 13 questões (APÊNDICE A) que
versaram a respeito da metodologia abordada para facilitar a comunicação com
a aluna, a utilização de material didático para a inclusão da aluna no ambiente
escolar, o processo de avaliação, assim como a importância do interlocutor
para o processo de aprendizagem escolar.
Inicialmente foi feito o primeiro contato com a professora interlocutora e
esclarecido sobre o objetivo da pesquisa, seguido da assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido (ANEXO A).
34
A professora recebeu as orientações necessárias para o preenchimento
do material, e respondeu sem a intervenção da pesquisadora.
1.1 Análise dos dados
Após o recebimento do questionário preenchido, o mesmo foi organizado
de forma a facilitar sua análise. As respostas referentes às perguntas foram
lidas na íntegra e identificadas às unidades significativas para a análise do
material.
Quanto ao questionário, a primeira pergunta feita à interlocutora foi
referente a sua formação.
A professora é graduada em Letras pela Faculdade Unisalesiano de
Lins, Pós-Graduada em Língua Brasileira de Sinais pela Faculdade
Unisalesiano de Lins e Curso de Libras Básico e Intermediário. Assim, em
conformidade com a legislação, a interlocutora apresenta certificado de curso
de pós-graduação em libras, e certificado de proficiência em Libras expedido
pelo MEC, o que a capacita para a função. (SÃO PAULO, 2009)
Com relação à segunda pergunta, quando questionada sobre a busca de
formação complementar para aperfeiçoar o seu trabalho com o aluno surdo, a
mesma respondeu que busca formação complementar por meio de cursos e
procura utilizar materiais adaptados como figuras, desenhos, computador e
internet.
Como já discutido nos capítulos anteriores, a intervenção adequada
dentro da sala de aula pode proporcionar a aprendizagem do aluno surdo,
desde que contemple recursos e estratégias como: tecnologia assistiva,
material pedagógico em libras e materiais visuais de apoio. Para tanto, o
interlocutor deve conhecer as habilidades e necessidades do aluno, e estar
sempre atento às novas tecnologias educacionais que podem favorecer o
aprendizado.
Pretende-se, com a ajuda do interlocutor dentro da sala de aula, facilitar
a aprendizagem do aluno surdo, uma vez que é ele quem transmitirá ao aluno
os conteúdos passados pelos demais professores, facilitando, desta forma o
processo educacional.
35
Ao questioná-la sobre a maior dificuldade encontrada diariamente, ao
transmitir o conteúdo passado pelos professores da sala ao aluno surdo, a
mesma relata que é a falta do domínio em libras.
Segundo Marcos Masetto (2013), a mediação pedagógica significa a
atitude e o comportamento do professor que se coloca como um facilitador,
incentivador ou motivador da aprendizagem, que ativamente colabora para que
o aprendiz chegue aos seus objetivos. Mas a inclusão do aluno surdo não se
faz somente pela ação de um único agente, sendo este o interlocutor. Toda a
escola precisa providenciar ações inclusivas para que o educando faça parte
do contexto educacional e se sinta realmente inclusivo. A resposta ofertada
pela interlocutora, reforça ainda mais a necessidade de se pensar em uma
inclusão de qualidade e proporcionar capacitação em Libras para todos da
escola.
Em relação à questão de número cinco, quando questionada sobre quais
recursos e estratégias são utilizados ao se trabalhar com o aluno surdo, a
professora relatou que utiliza figuras e desenhos como meio de explicação e
palitos para contar e trabalhar a matemática. Essa prática é exaltada como
positiva por diversos autores, como Godoi, Santos e Silva (2013), enfatizam
que é papel do professor interlocutor é fazer com que o aluno surdo avance e
desenvolva seus conhecimentos, da melhor forma possível. O uso de recursos
concretos como os citados pela interlocutora, são facilitadores para a
compreensão e execução de conteúdos e tarefas escolares.
Quando questionada sobre a maior dificuldade enfrentada pelo aluno
com deficiência auditiva no ambiente escolar, e como é a interação do aluno
com os demais colegas ouvintes da escola a professora relata que a falta de
comunicação e a socialização são as maiores dificuldades enfrentadas pela
aluna, por isso, na maioria das vezes, acaba se isolando de todos.
Segundo Vygotsky (1993), o aluno surdo necessita ser participante de
sua cultura para ter a possibilidade de construir sua subjetividade, ou seja, ele
deverá ter interações interpessoais propícias, eficazes e produtivas, as quais
proporcionem a ampliação de seus conhecimentos.
O interlocutor, como intermediário da comunicação, tem o papel de
compreender como o surdo se sente inserido na cultura a qual tem a
responsabilidade de gerar os significados e significantes de maneira precisa
36
para que o surdo possa se relacionar nas diferentes esferas. Neste sentido, o
interlocutor é o canal de comunicação do surdo com o mundo que ainda não
conhece a Libras.
A questão 8 teve como referência as avaliações pedagógicas realizadas
pela aluna no ambiente escolar, obtendo como resposta:
Professora: A avaliação é igual para todos, sendo as vezes de múltipla escolha e outras de perguntas e respostas.
O processo de aprendizagem entre os alunos surdos e ouvintes são
diferentes, pois o ouvinte traz consigo conhecimentos prévios de ouvir histórias,
fatos, música, e o campo auditivo lhe garante aprendizagem e conhecimento, o
mesmo não acontece com o aluno surdo, pois seus conhecimentos são visuais,
sendo fundamentais as adaptações curriculares. Cientes de todas essas
relações culturais é fato que adaptações curriculares são de suma importância
no processo ensino-aprendizagem. Para que se entenda tal relação, a autora
Fernandes (2006) apresenta dados do processo de aprendizagem do aluno
ouvinte e do aluno surdo:
Quadro 1: Processo de aprendizagem do aluno surdo e do aluno ouvinte.
Fonte: FERNANDES, 2006, p.47.
37
Frente ao exposto e contrapondo a resposta da professora, há
necessidade de se pensar em adaptações tanto para as atividades realizadas
em sala de aula assim como nas adaptações das avaliações. Essas
adaptações são garantidas por lei e devem ser cumpridas de forma a adequar
o currículo escolar às habilidades do aluno com deficiência.
A Resolução CNE/CEB 2/2001, em seu Art. 8º, prevê que as escolas da
rede regular de ensino devem prover na organização de suas classes comuns
flexibilizações e adaptações curriculares, que levem em consideração o
significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, das metodologias de
ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados
ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais
especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitada a
frequência obrigatória.
A professora foi questionada na questão número nove, sobre sua
opinião a respeito do processo de inclusão do aluno surdo no ensino regular.
Vejamos a opinião da professora:
Professora: A inclusão tem que ser feita, o professor intérprete existe, porém, há falta de recursos e despreparo dos demais professores é grande, pois o currículo tem que ser adaptado e isso não acontece.
A observação da professora vem mais uma vez reforçar a necessidade
da adequação curricular, para que a inclusão do aluno surdo se efetive de fato.
O despreparo de professores não é uma realidade atual, isso vem acontecendo
desde que a inclusão foi legalizada, porém pouco está sendo feito para que
isso se cumpra. Uma das ações positivas é a parceria entre a escola regular e
o Atendimento Educacional Especializado (AEE), realizado nas salas de
recursos multifuncionais. Um espaço físico de preferência, nas escolas
comuns, como parte integrante do projeto político-pedagógico da escola.
(BRASIL, 2010).
O papel do AEE é de oferecer procedimentos educacionais específicos
de acordo com cada tipo de deficiência, ou seja, as ações são definidas de
acordo com cada aluno, numa perspectiva de complementar ou suplementar
suas necessidades educacionais, não se configurando em reforço escolar.
38
O professor especialista do AEE tem por função orientar e capacitar os
professores das salas regulares quanto às melhores estratégias de ensino e
aprendizagem, assim como oferecer diferentes recursos pedagógicos e
adaptados para cada deficiência, sendo eles comprados ou confeccionados
tanto pelo professor da sala comum, como pelo professor do AEE.
Essa parceria, se firmada com sucesso e continuamente, supre a
necessidade imposta pela inclusão e garante um processo de escolarização
mais efetivo.
Nas questões 10 e 11 a interlocutora foi indagada se o seu trabalho
facilita o aprendizado da criança surda. A mesma respondeu que é muito
importante ter um interlocutor junto ao aluno, e que sua presença facilita em
todos os aspectos desde os conteúdos trabalhados até a comunicação, pois
quando não há a presença do interlocutor, aumenta a dificuldade na
comunicação e no entendimento diante dos conteúdos trabalhados.
Como já mencionado no capítulo II, para trabalhar com o aluno surdo em
uma sala de aula regular, o professor interlocutor precisa utilizar metodologias
que atendam à necessidade do aluno, promover a interação do mesmo com a
sala de aula e o ambiente escolar, seja por meio da libras ou até mesmo sinais
e gestos indicativos e representativos, pois a ênfase na resposta da professora
interlocutora se volta para a dificuldade do aluno surdo se comunicar com os
ouvintes. A falta de comunicação entre os pares desencadeia processos que
atrasam o desenvolvimento integral do aluno, tendo em vista pressupostos que
orientam a indissociabilidade entre aspectos afetivos, cognitivos e motores para
o pleno desenvolvimento do indivíduo. A falta de um desses aspectos pode
provocar dificuldades no processo de aprendizagem.
Finalizando a análise, quando questionada se os conteúdos a serem
ministrados nas aulas são recebidos com antecedência ou se existem horários
específicos para conversar sobre as atividades a serem desenvolvidas na aula,
a professora relata que não recebe material antecipadamente, mas há diálogos
com os professores da sala nos horários de ATPC.
Por meio do relato da professora, é possível perceber que ainda há um
desfalque para o ensino do aluno surdo, havendo ainda o despreparo dos
profissionais para trabalhar com esses alunos no mesmo ambiente que os
demais, cabendo a escola proporcionar aos professores mais preparo para
39
trabalhar com o aluno deficiente, fazer também adequações para receber
esses alunos, proporcionando a interação com o outro, sem separação de
categorias de aprendizagem, fazendo do ambiente escolar único e capaz de
atender a toda sociedade.
40
CONCLUSÃO
O presente trabalho realizou estudos sobre a importância do professor
interlocutor dentro da sala de aula para o auxílio do aluno com deficiência
auditiva.
Conclui-se que a presença de um interlocutor no ambiente escolar faz
toda a diferença no processo ensino-aprendizagem da criança surda,
facilitando sua aprendizagem e possibilitando a comunicação tanto da criança
em seu aprendizado como também dos professores da sala com o aluno
deficiente auditivo, facilitando o seu aprendizado. Está pesquisa abordou um
tema cada vez mais comum na história da educação, uma vez que sempre é
possível encontrar alunos com deficiência auditiva no Ensino Fundamental de
Ciclo II, e professores sem capacitação encontram dificuldade para trabalhar
com esses alunos. Para isso, notamos que é relevante a interferência de um
interlocutor dentro da sala de aula, pois dele demanda, não só uma
transformação na metodologia, que deverá ser adaptada de acordo com as
dificuldades da criança, mas também é a solução para as mudanças que
devem ser feitas nos meios educacionais diariamente, visando acompanhar a
aprendizagem do aluno de uma forma mais efetiva.
Para trabalhar com o aluno surdo em uma sala de aula regular, o
professor interlocutor precisa fazer adaptações no sistema educacional, utilizar
metodologias que atendam a necessidade do aluno, promover a interação do
mesmo com a sala de aula e o ambiente escolar, seja através da libras ou até
mesmo de sinais e gestos não padronizados.
Portanto, é muito importante que se criem espaços educacionais onde a
diferença esteja presente, ou seja, fazer com que crianças com diferentes
necessidades convivam no mesmo ambiente e que cada um possa aprender
com o outro sem que nenhum seja prejudicado no seu aprendizado, desta
maneira, escola e família trabalham em parceria para proporcionar espaços e
momentos que forcem a integração de todos.
41
REFERÊNCIAS
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44
APÊNDICE
45
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO PARA O PROFESSOR INTERLOCUTOR
1- Qual sua formação?
2- Você buscou ou busca formação complementar para aperfeiçoar o seu
trabalho com aluno surdo?
3- Utiliza algum material didático adaptado para trabalhar com seu aluno?
4- Qual a maior dificuldade encontrada diariamente, ao transmitir o conteúdo
passado pelos professores ao aluno Deficiente Auditivo?
5- Quais os recursos e estratégias você utiliza ao trabalhar com o aluno
Deficiente Auditivo?
6- Qual a maior dificuldade apresentada pelo aluno Deficiente Auditivo no
ambiente escolar?
7- Como é a interação do aluno Deficiente Auditivo com os colegas ouvintes
da sala de aula?
8- Como é feita a avaliação do aluno Deficiente Auditivo?
9- O que você pensa sobre o processo de inclusão do aluno Deficiente
Auditivo no ensino regular?
10- Você acha que o trabalho do interlocutor facilita o aprendizado da
criança surda? De que modo?
11- Quais dificuldades o aluno encontra, quando não há um interlocutor em
sala de aula?
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12- Você recebe antecipadamente o conteúdo a ser ministrado pelos
professores?
13- Você tem um horário específico para conversar sobre as atividades de sala
de aula, com os professores?
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ANEXOS
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ANEXO A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos realizando uma pesquisa no Centro Universitário Católico
Salesiano Auxilium- Unidade Lins, intitulada A Importância Do Interlocutor
No Processo De Alfabetização Do Aluno Com Deficiência Auditiva No
Ensino Fundamental Ciclo II,e gostaríamos que participasse da mesma. O
objetivo desta pesquisa é analisar os programas de intervenção e/ou
estratégias que os professores utilizam com os alunos deficiente auditivo..
Participar desta pesquisa é uma opção e fica assegurado o direito de
desistir em qualquer fase da pesquisa. Caso aceite participar deste projeto de
pesquisa gostaríamos que soubessem que os resultados poderão ser
divulgados para fins científicos, em revistas, periódicos, congressos e uso de
imagem com a não identificação do sujeito.
Eu,___________________________________________portador do
RG__________________ participante desta pesquisa, a ser realizada na
Escola EE Valdomiro Silveira- Cafelândia. Declaro ter recebido as devidas
explicações sobre a referida pesquisa e concordo que minha desistência
poderá ocorrer em qualquer momento sem que ocorram quaisquer
prejuízos físicos, mentais ou no acompanhamento deste serviço. Declaro
ainda estar ciente de que a participação é voluntária e que fui
devidamente esclarecido (a) quanto aos objetivos e procedimentos desta
pesquisa.
Nome do participante: ____________________________________________
Data: _______________________
Certos de podermos contar com sua autorização, colocamo-nos à
disposição para esclarecimentos, através do (s) telefone (s) (14) 91320084
falar com Fabiana Sayuri Sameshima, orientadora responsável pela pesquisa
no Unisalesiano de Lins. .
Autorizo,
Data: ____/____/___
______________________ (Nome do participante)