A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO ENSINO DA LÍNGUA
PORTUGUESA - A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E DA LINGUAGEM DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Inês Astreia Almeida Marques – Prof. PDE
RESUMO
Este artigo trata da relação entre comunicação e educação, e das contribuições ao processo ensino-aprendizagem que a presença dos meios de comunicação podem trazer para o processo ensino-aprendizagem. Situando ambas as ciências num contexto histórico atual, aponta os benefícios que o trabalho com os meios pode trazer à ação pedagógica do professor, no sentido de formação de cidadãos críticos e reflexivos.
Palavras-chave: Educação; Comunicação; Meios de comunicação; Processo ensino-aprendizagem; Língua Portuguesa.
1 INTRODUÇÃO
A revolução tecnológica trouxe mudanças profundas e radicais no modo de
organização do trabalho e nas relações sociais. Na área do conhecimento essas
mudanças, estimuladas pela incorporação de novas tecnologias, determinam
transformações nas formas de se pensar e de se fazer educação e fazem emergir
uma nova compreensão teórica sobre o papel da educação em sua relação com a
comunicação.
Constituindo-se em um novo campo, pesquisas nessa área apresentam uma
configuração bastante definida, instigante. Isso porque a aproximação desses
campos pressupõe uma colaboração estreita entre ambos, respeitadas as
características próprias de cada um, que conduz ao surgimento de um novo campo
teórico, nascido da intersecção dessas duas disciplinas.
De um lado tem-se a mídia que, na esteira do avanço tecnológico, se
desenvolve e se expande num ritmo acelerado e transforma o mundo, trazendo a
informação e a comunicação para o cotidiano dos indivíduos. Mídia, aqui, é
entendida em um sentido bastante amplo, sendo considerados mídias os meios de
comunicação que veiculam informações e mensagens e que buscam interligar
produtores e receptores dessas mensagens, em todas as instâncias da sociedade
incluindo-se, nelas, a escola.
2 COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
Para uma conceituação de comunicação, MORAN (1993, p. 15), traz a
afirmação de que “a comunicação é o processo de expressão da participação social,
do estabelecimento de contato entre pessoas, grupos e classes. A comunicação
expressa a dinâmica do cotidiano, a existência social no indivíduo e a do indivíduo
na sociedade”.
Dessa forma, compreende-se que as relações interpessoais são, cada vez
mais, mediadas por relações simbólicas nas quais algum tipo de mídia se faz
presente. O uso do telefone, as notícias de jornal, os noticiários apresentados pela
TV, a correspondência que chega através do fax e a pesquisa que se faz pela
Internet constituem-se em exemplos de comunicação que é mediada por algum
aparato eletrônico.
O reconhecimento da existência desses fatos despertou o interesse de
pesquisadores do campo da comunicação, os quais buscam identificar “as
conseqüências dessa massiva presença midiática na cultura humana. Preocupam-
se com os possíveis efeitos dessa avalanche de informações”. (DALLA COSTA,
2001, p. 47).
Esses mesmos pesquisadores preocupam-se, paralelamente, com
investigações em relação ao avanço da tecnologia no campo da comunicação e à
interferência que essa tecnologia pode exercer sobre a atribuição de sentidos que
é dada às linguagens dos diferentes suportes midiáticos. Por isso, esses cientistas
da comunicação preocupam-se em levar ao conhecimento do público informações
que lhe permitam defender-se daquilo que teóricos denominam de “hegemonia das
empresas de comunicação”, bem como torná-lo consciente do poder e do efeito das
informações veiculadas, para que os indivíduos possam manter uma postura crítica
diante da mídia (id. ib., p. 48).
O professor, considerado como o principal agente do processo educativo
passa a assumir um novo papel, mais de acordo com as atribuições que agora lhe
são conferidas. Melhor seria dizer que, agora, o professor assume com maior
2
clareza o papel que sempre lhe coube no espaço educativo: ele é, também, um
comunicador porque, no seu cotidiano, ao longo de suas aulas e de seus contatos
com os alunos, imagens, sons e falas sempre foram mediações utilizadas.
Em todo o desenrolar do processo ensino-aprendizagem a comunicação se
faz presente, de forma nítida, incluídos aí os meios de comunicação, eletrônicos ou
informatizados. São produzidos, por todos os elementos envolvidos, novos saberes
comunicacionais resultantes do entrecruzamento de diferentes discursos, como o
pedagógico, do professor; o científico, que lhe dá suporte; o que representa os
diferentes contextos em que ele , professor, e seus alunos, estão inseridos; o das
mídias, discurso transversal que se caracteriza pelas diferentes mediações sociais .
O professor então é, nesse novo contexto, o mediador entre as diferentes e
múltiplas informações que são obtidas pelos alunos nos mais diferentes veículos e
suportes auxiliando-os a filtrá-las, possibilitando-lhes conhecimentos e informações
que lhes permitam compará-las com informações e experiências anteriores, para
que elas possam se transformar em conhecimentos significativos.
Assim espera-se que, para a construção dessa interface entre educação e
comunicação, no campo pedagógico, o professor possa trabalhar com atividades
que impliquem na
introdução da mídia existente na prática em sala de aula, ou seja, para as estratégias que possibilitem aos professores o uso didático da imprensa falada, escrita e televisionada, integrando seus conteúdos; para a utilização do cinema e da TV como meios para práticas pedagógicas interessantes e eficientes; para o emprego de certas notícias, como, por exemplo, um lance de um jogo de futebol, para instigar a reflexão dos alunos (id., ib., p. 51).
Na seqüência, Dalla Costa (2001), aponta outra possibilidade que a abertura
desse campo oferece, que é a de capacitação do professor, em primeiro lugar, para
que o mesmo produza e elabore seus próprios materiais didáticos e pedagógicos,
utilizando a tecnologia da comunicação que exista em sua escola. Em segundo
lugar, para que motive seus alunos para que se apropriem dessas diferentes
linguagens produzindo seus próprios veículos de comunicação, desenvolvendo
novas formas de expressão e verificando que, com a circulação de sentidos, há
produção de formas sensoriais e cognitivas diferenciadas (id. Ib., p.51).
Diante da modificação do enfoque da aprendizagem, os professores
precisam, segundo Libâneo (2001, p.71), “aprender a pensar e a praticar
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comunicações midiatizadas” bem como precisam aprender novas maneiras de
pensar e refletir, produzir conhecimentos mais compatíveis com as novas
tecnologias da comunicação, como um dos requisitos para a formação da cidadania.
Além disso, ele enfatiza a necessidade de que o conhecimento escolar seja dotado
de significado, através do exercício de contextualização, evitando a fragmentação de
conteúdos e, principalmente, busquem incentivar o raciocínio e a capacidade de
aprender.
Todos os elementos que constituem a escola, inclusive os processos
pedagógicos que nela acontecem, devem ser considerados a partir das novas
relações que se estabeleceram para que se possa conhecer e compreender a
dinâmica e as formas de utilização dos meios de comunicação de massa e das
novas tecnologias, pelo professor, em sala de aula. Nesse sentido “a escola,
ressignificada, é chamada mais uma vez, e sempre para, no bojo dessa realidade,
apontar caminhos de democratização. Um desses caminhos passa pela distinção
entre a informação1, fragmentada, tal qual veiculada pelos meios de comunicação, e
o conhecimento2... (BACCEGA, 2001, p. 56).
Conhecimento, aqui, é entendido como reelaboração do objeto aprendido
incluindo, segundo Baccega (1998), a condição de poder revelar o que ainda é
virtual naquele domínio, ou seja, o resultado do cruzamento dos discursos de todos
os domínios, entendendo, ainda, que os diversos fenômenos da vida são
concatenados, apresentam-se em uma determinada organização em relação à
sociedade como um todo.
As mídias que integram o trabalho do professor, conseqüentemente a
comunicação escolar, são componentes articulados ao conjunto comunicacional que
integra e caracteriza a educação escolar, vinculados a uma proposta de ação
educativa e assim devem ser compreendidos e utilizados, para que os pressupostos
da educação se concretizem. Para isso, é necessário que haja articulação entre os
diferentes saberes, isto é, o saber científico, o saber pedagógico e o saber
comunicacional, no espaço pedagógico para que se efetive, na escola, a
aproximação entre educação e os meios de comunicação.
Saber científico3 é aqui entendido como o conhecimento proveniente das
ciências que referendam as diferentes disciplinas escolares e que embasam o 1 Grifo da autora.2 Idem.
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discurso dos professores. Saber pedagógico4, ou saber escolar, é aqui utilizado no
sentido do saber que se constitui a partir das relações sociopedagógicas vividas
pelos professores e alunos e que é resultante do diálogo entre os diferentes tipos de
conhecimento, ou seja,
os da ciência de referência da disciplina escolar, os conhecimentos didático-pedagógicos do professor, os conhecimentos do senso comum, de que todos, alunos e professores somos portadores, o conhecimento teórico e o conhecimento prático (o do saber e o do saber fazer), o conhecimento da cultura das mídias... (PENTEADO, 2002, p.33).
O saber comunicacional, neste contexto, é tido como o saber
produzido a partir da compreensão dos processos que envolvem a produção e
recepção, pelos meios de comunicação, e pela mobilização e circulação de idéias,
de sentimentos, originados a partir desses modos de produção e de recepção, bem
como de suas características, representadas pelos seus objetivos, conteúdos,
metodologias de comunicação, ênfase a um em detrimento de outro assunto, fatores
que determinam essas escolhas ou sua hierarquização (FAZENDA,1992, p. 106).
Pode-se resumir essa afirmação entendendo-se o saber comunicacional
como o saber resultante do estudo da produção, da veiculação e da recepção das
mensagens, “tanto ao nível pessoal como social, tanto na esfera do privado como na
esfera pública, e a interação dos emissores-receptores numa determinada
conformação econômica, política e cultural, num determinado tempo e espaço, onde
se liga o fatual do cotidiano com o conjuntural e o estrutural” (MORAN, 1993, p. 15).
Essas reflexões são importantes para que se pense a questão da relação
entre a educação e a comunicação como um espaço teórico em que são levadas a
efeito e se fundamentam as práticas de formação de indivíduos que assumem,
enquanto sujeitos, sua história em relação à realidade que os cerca, pensando
criticamente essa mesma realidade e, principalmente, selecionando informações que
lhes possibilitem interpretar adequadamente o mundo em que vivem. Assim, para
Bacega (2001, p.59),
3 Saber científico é o saber trabalhado na escola, a partir das idéias básicas, dos conceitos científicos das ciências de referência de cada disciplina. É o saber que trabalha com os conceitos construídos por meio de procedimentos científicos que permitem que, confrontados com a realidade, os indivíduos possam compreendê-la de maneira mais aprofundada.(PENTEADO, 2002, p. 188)4 Saber pedagógico é o saber resultante das relações estabelecidas entre a informação e o conhecimento científico e as informações e os conhecimentos dos alunos e os seus próprios, o que acarreta a reelaboração dos conhecimentos discentes e docentes. (id., ib., p. 189)
5
o desafio, hoje, é a interpretação do mundo em que vivemos, uma vez que as relações imagéticas estão carregadas da presença da mídia. Trata-se de um mundo construído pelos meios de comunicação, que selecionam o que devemos conhecer, os temas a serem pautados para discussão e, mais que isso, o ponto de vista a partir do qual vamos compreender esses temas.
Esse mundo, porque é altamente tecnológico, também é polissêmico,
polifônico, policromático e muitos outros “poli”, que dão bem a medida da
multiplicidade de linguagens e imagens a que as crianças e jovens estão submetidos
(MORAN, 2007). Somente com uma educação que privilegie o conhecimento dos
mecanismos de funcionamento de todas as formas de expressão comunicacional é
que se poderá garantir, efetivamente, a intenção de formar um indivíduo crítico,
reflexivo e participante em todas as esferas da vida em sociedade.
As novas tecnologias da informação, presentes na vida de todos os
indivíduos, bem como outras inovações, são determinadas pela rapidez da evolução
científica e tecnológica, e essa rapidez é apreendida pelas crianças e jovens, de
forma direta ou indireta, através dos meios de comunicação, sendo que “cada meio
e cada tecnologia exercem uma mediação particular nas pessoas com as quais
interatuam e na estruturação dos próprios conteúdos que transmitem” (OROZCO-
GÓMEZ, 2002, p. 66).
Complementando a idéia desse autor, Moraes (1997) afirma que um dos
maiores desafios da modernidade é a produção do conhecimento, além de seu
manejo crítico e criativo e, como é fundamental que os indivíduos tenham acesso à
informação, caberá à educação desempenhar um importante papel para a
concretização desse projeto. Isso porque, segundo essa mesma autora, não se
conseguirá implementar um projeto de modernização da sociedade brasileira se não
se pensar na democratização das novas tecnologias de informação.
Outra questão a ser considerada é que essas novas tecnologias (NT) estão
dando origem “a uma verdadeira revolução que afeta tanto as atividades ligadas à
produção e ao trabalho como as ligadas à educação e formação” do ser humano
(DELORS, 2000, p.186).
No entanto, a importância educacional dessas NT não está localizada
apenas na sala de aula mas encontra-se, também, em sua aplicação fora dos muros
da escola, na contribuição para resolução dos problemas do cotidiano. Isso porque
não há sentido no desenvolvimento da criticidade se o pensamento crítico não puder
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ser aplicado em situações de vida real, que exijam reflexão, análise e seleção das
informações mais relevantes para decisões do cotidiano (MORAES, 1997, p. 191).
O fato de não conseguir cumprir com essas atribuições que são esperadas
faz com que a escola, ainda num sistema tradicional de ensino, pareça ter parado no
tempo, enquanto os alunos vivem intensamente todas as emoções que lhes são
apresentadas sob novas formas de linguagens (id., ib., p.16) , em tempo e espaço
real ou virtual, com novos critérios de valor nesse contexto cultural, determinados
pelas “inovações que marcaram todo o século XX, quer se trate do disco, do rádio,
da televisão, da gravação audiovisual, da informática ou da transmissão de sinais
eletrônicos por via hertziana, por cabo ou por satélite, revestiram uma dimensão não
puramente tecnológica, mas essencialmente econômica e social. (...) Tudo leva a
crer que o impacto das novas tecnologias ligadas ao desenvolvimento das redes
informáticas vai se ampliar muito rapidamente a todo o mundo (DELORS, 2000, p.
186).
A escola deve contribuir para que o indivíduo, então, possa procurar a
melhor forma de se adaptar a todas as novas situações que surgem e, o que é mais
importante, sem negar-se a si mesmo, buscando a construção de sua autonomia.
Esse processo de adaptação e de autoconstrução, permanentes, pressupõe o
estabelecimento de relações dialéticas, tanto com as informações do mundo exterior
como com os outros indivíduos, respeitando-se e respeitando a liberdade e a
evolução do outro (FREIRE, 1983). O conhecimento e o domínio do progresso
científico são decorrência desse processo, que permite ao homem assumir e
enfrentar todos os desafios que as novas tecnologias da informação e da
comunicação lhe apresentam.
É através da educação e da comunicação, sob a forma das diversas
mediações que a sociedade lhe oferece, que o indivíduo se insere no mundo, seja
através da palavra ou da comunicação oral ou escrita, seja através das diferentes
formas de reelaboração das informações que lhe chegam: pela fala de parentes e
amigos, pela leitura de revistas e jornais, pelos noticiários de rádio e televisão, ou
por outros programas transmitidos pelos meios de comunicação de massa. Mais
recentemente, essas informações chegam on-line, através da conexão em redes
com pessoas e textos geográfica e culturalmente bastante distanciados. Essa
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conexão – NET ou Internet – permite um contato em tempo real com fatos e
acontecimentos em qualquer parte do mundo.
Considerando-se todos esses fatos, a escola não pode mais continuar a ser
passiva, sentada, fechada, acrítica, competitiva, autoritária, traumatizante, servil e
dependente, conforme Fonseca(1995).
De fato, a escola e todos os elementos que a compõem, como os seus
agentes, os métodos e instrumentos utilizados, o planejamento e utilização dos
espaços destinados ao trabalho pedagógico, precisam ser inovados e reconstruídos
de forma interdisciplinar que impeça a ampliação e o aprofundamento da enorme
distância que vemos na relação dicotômica prática e teoria, ação e pensamento.
Isso porque, “hoje, o foco da escola mudou. Sua missão é atender ao aprendiz, ao
usuário, ao estudante. Portanto, a escola tem um usuário específico, com
necessidades especiais, que aprende, representa e utiliza o conhecimento de forma
diferente e que necessita ser efetivamente atendido” (MORAES, 1997, p. 137).
Deve-se pensar, sobretudo, segundo essa autora, que o ato de aprender
deve ser compreendido como a construção de um trabalho coletivo voltado para a
humanização do aluno, finalidade que se espera atingir através da ação do professor
e dos alunos em relação a um determinado conteúdo, objeto de estudos e
investigação, e que o importante é a interação que possa ser estimulada entre
esse sujeito e esse objeto.
Assim, pode-se considerar que o papel desempenhado pela educação de
maneira geral, e pela escola em particular, em relação à formação do ser humano e
em relação à consciência crítica é extremamente importante considerando-se que
o que se busca é uma sociedade mais democrática, mais humana, mais solidária,
mais igualitária, e este
é um desafio decisivo e é importante que a escola e a universidade se coloquem no centro dessa profunda transformação que afeta o conjunto da sociedade. Não há dúvida de que a capacidade individual de ter acesso e de tratar a informação vai ser um fator determinante para a integração da pessoa, não só no mundo do trabalho mas também no seu ambiente social e cultural (DELORS, 2000, p. 190).
É exatamente aí que se evidencia a necessidade de preocupação com a
utilização dos meios de comunicação pelo professor, em sala de aula, buscando
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superar o distanciamento 5 existente entre educação e meios de comunicação pois,
se por um lado temos os educadores que criticam os meios e, em especial, a
televisão, por entender que esta impõe “uma espécie de mínimo denominador
comum cultural, de reduzir o tempo dedicado à reflexão e à leitura” (...) vê-se, por
outro lado, que “os defensores dos meios de comunicação acusam o sistema
escolar de imobilismo e passadismo, e de recorrer a métodos antiquados para
transmitir saberes ultrapassados, provocando, assim, nos alunos, aborrecimento e
até aversão à aprendizagem (id., ib., p. 115).
Esse mesmo autor considera, em relação à televisão, veículo que ocupa um
lugar cada vez mais importante na vida dos alunos, devido ao tempo que lhe
dedicam, que é importante que os professores formem, desde já, os alunos para
uma ‘leitura crítica’ que os leve, por si mesmos, a usar a televisão como um
instrumento de aprendizagem, fazendo a triagem e hierarquizando as múltiplas
informações transmitidas” (DELORS, 2000, p. 116).
Ele afirma, ainda, que os meios de comunicação social constituem-se em
eficazes vetores de educação não-formal e, por isso, deve-se insistir numa das
finalidades essenciais da educação, ou seja, oportunizar a cada aluno o cultivo de
suas aptidões e a formulação de juízos para que possam adotar, efetivamente,
comportamentos livres.
Modernamente, começa a tomar vulto a necessidade de que os conceitos
ligados à educação sejam repensados pois, “além das necessárias adaptações
relacionadas com as alterações da vida profissional, ela deve ser encarada como
uma construção contínua da pessoa humana, dos seus saberes e aptidões, da sua
capacidade de discernir e agir. Deve levar cada um a tomar consciência de si próprio
e do meio ambiente que o rodeia, e a desempenhar o papel social que lhe cabe
enquanto trabalhador e cidadão (DELORS,2000, p.18).
5 Distanciamento entre educação e comunicação, em termos, porque “as lógicas do sistema educacional são diferentes das do sistema comunicacional” embora, a cada invenção tecnológica, a sociedade atribua uma expectativa educacional aos processos comunicacionais originados de novas invenções tecnológicas (BRAGA e CALAZANS, 2001, p. 10)
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Somente a compreensão do papel educacional exercido pelos meios de
comunicação de massa e a consciência de que eles apresentam também um caráter
pedagógico, embora não intencional6, pode levar à compreensão que, de fato, a
educação não pode ser limitada a um determinado período e espaço na vida do
indivíduo, uma vez que ele está permanentemente se educando e sendo educado,
num processo contínuo de trocas que contribuem para seu crescimento pessoal e
profissional. “A escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de
comunicação e mostrá-lo na sala de aula, discutindo-o com os alunos, ajudando-os
a que percebam os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada
assunto” (MORAN, 2008).
2.1 COMUNICAÇÃO E O ENSINO DA LÍNGUA
Ao longo do tempo, a escola limitou-se ao uso da linguagem verbal. No
entanto, com a evolução atual da tecnologia, surge a necessidade de que se
trabalhe cada vez mais a linguagem não-verbal. Então, para que se observem
melhorias na qualidade do ensino, a escola precisa de professores capacitados,
aptos a adotarem uma nova prática pedagógica, para que haja uma modernização
na estrutura dessa instituição e que melhore o desempenho dos alunos.
Ao utilizar a linguagem não-verbal, o conceito que as pessoas têm do que seja
texto (um conjunto de signos lingüísticos) é desconstruído, e o texto, então, passa a
ser entendido como “toda unidade de produção de linguagem situada, acabada e
auto-suficiente do ponto de vista da ação ou da comunicação” (BRONCKART, 1999,
apud BARCELLOS, 2008). O texto é o elemento básico com que se deve trabalhar
no processo de construção de conhecimento pois é através dele que o usuário da
língua desenvolve a sua capacidade de organizar o pensamento/conhecimento e,
assim, pode transmitir idéias, informações e opiniões.
Dessa forma, entende-se que o professor deve orientar seu aluno, desde o
período inicial, da Educação Infantil, para que esse aluno possa compreender e
interpretar o verbal, o não-verbal e o paraverbal. Em relação ao aspecto da
6 Não intencional porque os objetivos dos meios de comunicação que trazem, em sua gênese, a função de informar, atualizar, estimular estética, afetiva e emocionalmente, além de divertir não são, necessariamente, de ordem educativa mas, “seja qual for o juízo que se faça sobre a qualidade dos seus produtos, fazem parte integrante do nosso espaço cultural, no sentido mais amplo do termo” (DELORS, op. cit., p. 115).
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interpretação, o nível de aprofundamento deve ser ampliado a cada ano, para que
não ocorra a continuidade da interpretação superficial, um dos grandes problemas
com o qual se defrontam os professores de Língua Portuguesa. Em decorrência
dessa interpretação superficial, observa-se que muitos alunos concluem o Ensino
Médio, não apenas na rede pública, mas também na particular, sem saber ler nas
entrelinhas, sem relacionar o conhecimento construído na escola com o seu
conhecimento de mundo. Para que isso não ocorra, o professor deve trabalhar os
fatos sociais, integrando-os às discussões ou solicitando textos da mídia impressa,
para que o conteúdo a ser trabalhado possa ser integrado.
A utilização, pelo professor, de material proveniente da mídia como programas
gravados da televisão, textos publicitários, charges e tirinhas jornalísticas enriquece
a aula, oportuniza ampla utilização da fala, nos debates e discussões, além de
contribuir para a leitura e interpretação de imagens.
Dessa forma, conduz-se o aluno à análise do material que lhe é apresentado,
para que ele perceba que, nesse material, diversas linguagens se entrecruzam: as
imagens, as cores, os sons da fala, a música, o movimento. Nesse material, quase
não há texto escrito, porque as interpretações necessitam de outros referenciais que
não apenas o de decodificação dos textos orais, mas de sua simbologia, de sua
representação.
Assim, o aluno deve ser instigado a perceber que, num texto, as linguagens
podem assumir diversas funções. Assim, o icônico pode ilustrar o verbal, completar
o seu sentido mas, mesmo sem a sua presença, é capaz de estabelecer sentido. No
caso da linguagem não-verbal, mais especificamente no caso da imagem, ao
explorá-la, o aluno deve ser estimulado a aproximar os conhecimentos
sistematizados dos já internalizados em outros momentos, em outras situações. Ele
deve ser lembrado que, ao visualizar uma imagem, vários sentidos são despertados,
tais como: um sentimento, um acontecimento, um sentido (olfato, paladar...). Para
que possam ser conscientizados desse fato e levá-los a uma reflexão crítica, é
preciso que o professor utilize farto material midiático, como jornais, revistas,
programas de televisão, filmes etc.
Segundo Vygotsky (1994), o desenvolvimento humano acontece de fora para
dentro. Assim, quando o professor elabora atividades cujo ponto de partida seja o
conhecimento de mundo do aluno, este conseguirá realizar as atividades que lhes
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forem propostas com autonomia, pois “o que antes era desenvolvimento potencial
passou a ser desenvolvimento real” (VYGOTSKY, 1994, p. 30).
Os professores de Português, ou professores de linguagem (como bem diz
Bechara) não podem ficar alheios ao avanço tecnológico, buscando também utilizar
o computador.
A Internet está cada vez mais presente na vida de todos os sujeitos,
principalmente na de crianças e jovens, por meio dos sites de relacionamento e
páginas de jogos. Cabe ao professor buscar formas de utilização dessa ferramenta
articulada aos processos de construção do conhecimento. A realização de
pesquisas sobre assuntos discutidos em sala, a criação de blogs (que ampliam o
tempo da aula, extrapolando os limites da sala de aula), o hábito de deixar recados
nas páginas de relacionamento, o envio de mensagens eletrônicas, todas essas
atividades podem ser aproveitadas para que se efetive um trabalho construtivo de
aprendizagem e de uso da língua em situações do cotidiano.
Outras atividades podem ser propostas pelo professor de Língua Portuguesa,
conforme Barcellos (2007):
- pesquisa, por exemplo: o uso da abreviação (como as palavras são abreviadas em e-mails, orkut, etc.);
- leitura de obras literárias;- envio de e-mails para tirar dúvidas, entregar trabalhos, justificar faltas;- disponibilizar os melhores trabalhos para que possam ser lidos e propor um concurso para
selecionar os três melhores;- acessar fotos de passeios e projetos promovidos pela escola; (...)
Mais do que tudo, torna-se necessário que se entenda que uma mudança de
rumos no ensino da língua materna determina, também, uma mudança na postura
de todos os envolvidos no processo educacional uma vez que a utilização prática
das Novas Tecnologias da Comunicação e Informação (NTCI) e dos MCM, em sala
de aula, deve ser permeada por uma reflexão constante sobre esses mesmos
meios (ALVES e PRETTO, 1999). Essa reflexão conduz e aproxima o sujeito do
processo de construção do conhecimento, tornando-o mais competente para criar,
pensar, construir e reconstruir, num ambiente de aprendizagem que prioriza o
reconhecimento da multidimensionalidade dos sujeitos, bem como da
multiculturalidade dos espaços sociais em que estão inseridos.
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Dessa forma, entende-se a escola, conseqüentemente o processo ensino-
aprendizagem, como instrumento que facilitará a apropriação do saber através do
domínio das diferentes linguagens, oportunizando uma síntese entre a cultura
formal, proveniente da sistematização dos conhecimentos, e a cultura vivenciada
pelo aluno enquanto sujeito de seu próprio conhecimento (MORAN, 2007).
Assim, o processo de aprendizagem deve ocorrer aliando-se o novo
conhecimento àquele já existente, através do processamento de informações, de
recursos para que sejam trabalhados os estímulos do ambiente e da organização
dos dados disponíveis da experiência recém-adquirida que, por sua vez, possibilitará
o reinício do processo, num continuum que poderá oferecer à educação uma nova
configuração, porque está repleto de significação humana e social (LIBÂNEO,
2001).
Conforme MORAN (2008), deve-se “educar para compreender melhor seu
significado dentro da nossa sociedade, para ajudar na sua democratização, onde
cada pessoa possa exercer integralmente a sua cidadania”.
REFERÊNCIAS
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FREIRE, Paulo . Educação e mudança.10.ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
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