Transcript

UNIVERSIDADE DE SO PAULO INSTITUTO DE GEOCINCIAS A LAPIDAO DE GEMAS NO PANORAMA BRASILEIRO Angela Vido Nadur Orientador: Prof. Dr. Rainer Aloys Schultz Gttler DISSERTAO DE MESTRADO Programa de Ps-Graduao em Mineralogia e Petrologia So Paulo 2009 II ANGELA VIDO NADUR A Lapidao de gemas no panorama brasileiro. Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencionaloueletrnico,parafinsdeestudoepesquisa,desdequecitada fonte. DissertaoapresentadaaoInstitutodeGeocinciasda UniversidadedeSoPauloparaobtenodottulode Mestre em Cincias. Programa de Ps-Graduao em Mineralogia e Petrologia readeConcentrao:MineralogiaExperimentale Aplicada.Orientador:Prof.Dr.RainerAloysSchultz Gttler. So Paulo 2009 III Dedico este trabalho primeiramente a meus pais, EliaseCleidequedesdepequenaidentificaramminha competnciaecommuitapacinciaededicao, ajudaram-meeencaminharam-meemtodasasetapas davida.Aomeucompanheiroeamigo,Eder,que comigofazumtime,emnossavisoimbatvelecom seucarinhoobserva-medeperto,fazendopartede meus pensamentos; ajuda-me a decidir entre o certo e o errado,prevalecendoasminhasqualidadese amenizandoosmeusdefeitos.Eaomeuorientador, Prof.Dr.Rainerquemeacolheueque maravilhosamente,mecolocounocaminhoda Gemologiaedosestudos,dando-mecondiesde transformarminhavida,tornarumsonhoemrealidade; estevesempredispostoameorientarequando solicitado,atendeu-meprontamente.Agradeo imensamente a vocs com todo meu amor. IV AGRADECIMENTOS Novamente devo agradecer os meus pais, ao meu noivo e ao meu orientador. sminhasirms,SoraiaeElianeecunhadosRodrigoeLus,amiga Fernanda,familiareseamigosprximosquepacientementemerespeitaramcom momentos de silncio e admirao. Ao Prof. Dr. Silvio Vlach, que respondeu a todos meus emails pacientemente, com o intuito de me auxiliar.AosprofessoresdoInstitutodeGeocinciasquedesdeoinciodaminha busca,comoalunaouvintedasmatriasdegraduaoemGeologiaecomas matriasdaps-graduao,estiveramdispostosameajudar.Prof.Dr.Jos BarbosaMadureiraFilho,Prof.Dr.DanielAtencio,Prof.Dr.FabioRamosDiasde Andrade e Prof. Dr. Gergely S.J. Szab. s funcionrias da secretaria de ps-graduao Ana Paula Cabanal e Magali Poli Fernandes Rizzo, no qual os agradecimentos so imensos, por prestarem tantos favores. A CAPES, Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior e aUSP,pormeauxiliaremfinanceiramenteparaquepudessedesenvolveros estudos. Aosamigosecolegasdesala,pelacompanhiaagradvel;TatianaRuiz Cavallaro,SuanEthelLeeChon,FredericoCastroJobimVilalva(Ja),Thais Hypollito, Monica e outros amigos da graduao que fiz no IGC. Aos entrevistados em espcie, Sr. Ferraro, Sr. Afonso e D. Emilia, Sra. Judith eSr.IvandaABGMeporcomunicaovirtual(email)Sr.RonaldoBarbosa (GovernadorValadares-MG),aoSr.SergioA.Aspahan(BeloHorizonte-Lapidart), ao Prof. Adriano A. Mol e a IBGM, onde com todos fiz prevalecer amizade. Aosreceptoresdemuseus,arquivoshistricoseuniversidadesquecom cuidado e pacincia me ajudaram a coletar e pesquisar materiais. Aosautoresbibliogrficosqueumdiapreocuparam-seemdeixarassuntos registradoseaole-losobtiveinspirao,satisfaoevontadedeestudarcadavez mais. V RESUMO Nadur,A.V.ALapidaodegemasnopanoramabrasileiro.2009.158f. Dissertao (Mestrado) Instituto de Geocincias, Universidade de So Paulo, So Paulo. A realizao dotrabalho efetuado a seguir, consiste na coleta de informaes e a montagem da histria da lapidao desde oque o homem primitivocomeou a trabalharosminerais,seudesenvolvimentonaEuropaataatualsituaoda lapidaobrasileira.Nocartercientfico,aidentificaoeutilizaode propriedadesfsicasepticasparadeterminaodomineral,correlacionandoitens como seu melhor aproveitamento na lapidao, como a utilizao principalmente do ngulocrticoespecificodecadamineralesuacorretautilizaonalapidaode gemascoradaselapidaodediamantes.Poisosignificadodalapidao transformar o mineral em uma gema aceita pela indstria joalheira, valorizando sua cor,brilho,formatoesimetria.Nopanoramatecnolgicoaanlisedemaquinrios antigos e tradicionais, juntamente com a inovao de mquinas CNC. Neste trabalho foipresenciadoqueafundamentaobibliogrficarestritaparaaindstriade lapidao no Brasil. Palavras-chave:Mineralogia,gemologia,diamantesegemascoradas,lapidaoe histria.VI ABSTRACT Nadur,A.V.ThegemstonescuttingintheBrazilianscene.2009.158p. Dissertation (Master's degree) - Institute of Geosciences, University of So Paulo. This work started with a compilation of informations, written and of oral means, to unravel the history of gem cutting from his earliest time to the present situation in Brasil.Thescientificpartstressestheidentificationandtheuseofthephysicaland opticalpropertiestoincreasetheyieldbygemstonecutting.Itisshownthatthe critical angle is the most important property for each branch, the diamond as well the coloredgemstonecutting.Gemcuttingisthetransformationoftheroughtoaform acceptedbythejeweler,showinghisbestincolor,brilliance,formandsymmetry. The development of cutting tools is shown from very early times to the present CNC equipment.Itcouldbeshownthatthereexistsaquitegooddatabaseforaninitial description of the gem cutting industry in Brazil. Keywords:Mineralogy,gemology,diamondsandcoloredgemstones,lapidaryand history. VII LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Quatro maiores compradores de gemas brutas e lapidadas brasileiras no ano de 2008. Figura 2 - Exportaes Brasileiras do Captulo 71 da NCM referentes aos anos de 2004 a 2009. Figura 3 "Point Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 4 "Table Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 5 "Old Single Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 6 esquerda, Lapidao "Pendeloque ou "Briollet e direita anncio do Museu do diamante na Blgica (Bruges) (ALLBOUTGEMSTONES, 2009; DIAMANTMUSEUM, 2009). Figura 7 - Giovanni delle Corniole (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).Figura 8 - Giacomo Tagliacarne (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 9 Rose-cut e variaes (1- Rose-cut, 2- Doble-rose, 3- Pendeloque ou Briollet, 4- Rose Recoupe e 5- Rosette) (ALLBOUTGEMSTONES, 2009; BRUTON, 1978). Figura 10 - Benvenuto Cellini. (CHESTOFBOOKS, 2009) Figura 11 - Descries de Tavernier (todas as imagens) no sculo XVII (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 12 - Great Mogul da ndia, de 787,5ctbruto e 280 ct lapidado (BRUTON, 1978). Figura 13 - Cardinal Jules Mazarin (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 14 - Lapidaes Mazarin e Peruzzi (vista superior) (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). VIII Figura 15 Lapidao Old mine cut (vista lateral, superior, inferior e perspectiva) (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 16 - Lapidao Old European (Vista lateral, superior, inferior e Perspectiva) (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 17 - Guarnio de corpete. Portugal, 2 metade do sc. XVIII. Prata dourada e Topzios imperiais (D'Orey, Museu Nacional de Arte antiga de Lisboa, 1995). Figura 18 - Camafeu esculpido em cristal, da Joalheria de Pdua (ASMINASGERAIS, 2009). Figura 19 esquerda, Carlos Rodrigues Dias e direita "A Lapidao Santa Rita"(O BRASIL INDUSTRIAL, AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950). Figura 20 - Estabelecimentos da Lapidao Araguaia (O BRASIL INDUSTRIAL, AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950). Figura 21 esquerda e direita, vistas das lapidaes movidas a fora hidrulica(SANTOS, 2006). Figura 22 - Anncio na revista Gemologia, de Emilio Schupp, 1960. Figura 23. esquerda, Sr. Worms e direita, Casa Michel na Rua 15 de novembro, 25 e 27 (A CAPITAL PAULISTA, 1920). Figura 24. esquerda, Hans Stern jovem e direita, mais velho (MAGTAZ, 2008). Figura 25 esquerda, Jules Roger Sauer jovem e direita, mais velho (MAGTAZ, 2008; AMSTERDAMSAUER, 2009). Figura 26- esquerda e direita, anncios publicitrios da dcada de 70 (MAGTAZ, 2008). Figura 27 - Sala de aula de lapidao, SENAI (GEMOLOGIA, 1957). IX Figura 28 - Rplica do diamante de 77ct com marcao onde foi clivado e serrado, frente e costas. Com aproximadamente 4cm de comprimento (Acervo Sr. Ferraro) Figura 29 - Sr. Ferraro e maquinrios de sua oficina. Lapidao Ferraro. 08/10/09 Figura 30 - Anncio publicitrio "Lapidao Ferraro publicado na Revista Gemologia, de 1957 a 1960. Figura 31 - Rplicas em resina dos maiores diamantes lapidados por Pedro Zaini. Primeira amostra com cerca de 2cm (Acervo Sr. Ferraro) Figura 32 Foto de Pedro Zaini com 83 anos (Acervo Sr. Ferraro) Figura 33 esquerda escultura angular e direita gemas lapidadas para joalheria de Ronaldo Barbosa, 2009. Figura 34 - Tabela de pesquisa referente a lapidaes em So Paulo publicados na Lista telefnica (Fundao Telefnica, 2009). Figura 35 - Anncios das oficinas de lapidao na Revista Gemologia do ano de 1956 a 1960. Figura 36 Polidor de minerais (MONTAGNA, 1497) Figura 37 - Lapidao Indiana. Maquinrio acionado com fora manual. Bow driven (BRUTON. 1978). Figura 38. Primeira lapidao de diamantes segundo H.D. Morse, EUA. Figura 39 - lustao do livro "Naturalis Historiae opus novum (LONTZER, 1551)Mostrando no fundo mesa de lapidao acionado com roda. Figura 40 - Entalhe de gemas, lustrao no livro "Staendebuch (SACHS, 1558) mostrando maquinrio de entalhe de pedras. Figura 41 esquerda, lapidao modelo francs acionado com fora manual e a direita peas de sua mquina (COIGNARD. 1690). X Figura 42 - Luiken. O texto diz: "Lapidrio, Estas so gotas de uma fonte e o poema apenas comea. Homens gostam de andar elegantes, com diamantes ou rubis. Assim sua fortuna pode ser louvada. Desde que seja iniciado corretamente o primeiro brilho do sol, ser feito a beleza. A fora da mulher que gera o movimento da roda equivale a 1/4 da fora de um cavalo (LUIKEN. 1694; BRUTON, 1978). Figura 43 esquerda, roda movida a fora hidrulica e rebolos de arenito para lapidao (Alemanha) e direita, observaes sobre os maquinrios (COLLINI, 1776). Figura 44 esquerda Imagens reproduzindo a lapidao por fora manual, que era utilizado em residncias e a direita sua descrio (MAWE, 1826; EMANUEL, 1867). Figura 45 esquerda relato sobre lapidao de diamantes e a direita oficina de lapidao da poca (H.D. MORSE, EUA, sem data) Figura 46 Patentes de maquinrios dos Estados Unidos da Amrica: esquerda autores Wanters, A. 1898 e direita Purper, G. ;Moser, J. eBoeklen, R. 1903 (FREEPATENTSONLINE). Figura 47 - esquerda, lapidao de safira e rubi na Inglaterra (CLAREMONT, 1906) e direta lapidao de diamantes, Alemanha, 1910. Figura 48 Nas trs imagens a demostrao de mquinas Jamb-peg, utilizadas antigamente na Inglaterra, primeira e segunda imagem (1906) e a terceira imagem, ainda hoje no Brasil (BRUTON, 1978; BAXTER, 1906; SEVERO, 2008). Figura 49 Nas trs imagens, maquinrio de lapidao com numerao de ngulos, nas duas primeiras imagens seu desenvolvimento, chamada "faceting-head e a terceira imagem, hoje produzida na Lapidart (BAXTER, 1938; HURLBUT E KAMMERLING, 1991; ASPAHAN, 2009). Figura 50 - Kit 3 x 1 Lapidart , facetador, calibrador, encanetador / transferidor, juntamente com bancada e acessrios. Atualmente possui o valor de R$ 8.500,00 (ASPAHAN, 2009). XI Figura 51 - CNC para lapidao do Centro Universitrio UNIVATES (KLIPPEL, 2007). Figura 52 - CNC - ROBOT GEMS (LAPIDART, 2009). Figura 53 esquerda mquina instalada em Idar-Oberstein e direita, encaixe virtual (3D) de formato de lapidao em material bruto (GEO, 2009). Figura 54 - Formulrio DeBeers com explicativo de marcao, 2008. Figura 55 Imagem acima, lapidao completa do pavilho em modelo SRB e abaixo, suas etapas de evoluo (STRICKLAND, 2002; MOL, 2004). Figura 56 - Diagrama de lapidao do modelo SRB (STRICKLAND, 2002). Figura 57 - Primeira fase, de anlise a pedra bruta (SINKANKAS, 1984). Figura 58 - Zoneamentos de cor na ametista, safira e turmalina (SINKANKAS, 1984). Figura 59 - Orientao de zoneamentos de cor (KUNZ, 2000). Figura 60 esquerda, turmalina com cor ao redor do eixo c e direita, turmalina bicolor com coresao longo do eixo C (ELAWAR, 1989). Figura 61 - Posicionamento da mesa da lapidao em relao ao eixo ptico (KUNZ, 2000). Figura 62 - Posicionamento de fibras do chatoyancy (SINKANKAS, 1984). Figura 63 - Localizao de asterismo na safira (HARTIG, 1974). Figura 64 - Desenho demonstrativo do caminho da luz atravs de uma gema(ALLABOUTGEMOSTONES, 2009). Figura 65 - Tabela de angulo crtico para gemas, demonstrados a partir do IR (HARTIG, 1974). Figura 66 - Grfico de angulo crtico recomendado (KUNZ, 2000). XII Figura 67 - Disperso da luz. (ALLABOUTGEMSTONES, 2009) Figura 68 - Esquema representativo dos anisotrpicos biaxiais (CHVTAL, 1999). Figura 69 - Escala de Comparao entre dureza de minerais (SCHUMANN). Figura 70 - Formatos de Cabocho (SINKANKAS, 1984). Figura 71 esquerda ato de escolher e riscar onde sero lapidadas as gemas e a direita material bruto j escolhido e riscado (SINKANKAS, 1984). Figura 72 - Serragem da amostra de caboches. (SINKANKAS, 1984). Figura 73 - Formao de Cabocho (SINKANKAS, 1984). Figura 74 Modo correta de colagem da gema no "dopstick (SNKANKAS, 1984). Figura 75 Acima, vista superior de uma roda abrasiva e abaixo, lapidao em ngulos do cabocho (SINKANKAS, 1984). Figura 76 esquerda, mineral Bruto e direita martelos utilizados para desbaste (SEVERO, 2008). Figura 77 - Processo de Serragem (SEVERO, 2008). Figura 78 - Pr-formao (SEVERO, 2008). Figura 79 - Planos de clivagem e pr-forma no topzio (SINKANKAS, 1984). Figura 80 - Desenho explicativo do encanetamento e tranferimento de lados da gema (SINKANKAS, 1984). Figura 81 esquerda roda vista de cima e direita vista lateral (SINKANKAS, 1984). Figura 82 - Etapas do facetamento em ngulos (SINKANKAS, 1984). Figura 83 - Etapas do facetamento (SINKANKAS, 1984). Figura 84 esquerda processo de vinco e direita ato de bater basto de metal sobre a faca, gerando a clivagem no diamante (BRUTON, 1978). XIII Figura 85 - Plano de Clivagem e Serragem (SINKANKAS, 1984). Figura 86 esquerda e direita, direcionamentos octadricos (BRUTON, 1978). Figura 87 esquerda e centro, serragem do diamante e direita mquina de serragem (BRUTON, 1978). Figura 88 - Torno mecnico de arredondamento (BRUTON, 1978). Figura 89 - Etapas da lapidao de diamante brilhante (BRUTON, 1978). Figura 90 - Indicao de melhor direo de polimento (BRUTON, 1978). Figura 91 - Partes da lapidao: esquerda lapidao brilhante e direta lapidao esmeralda ou "step-cut (MARTNS; MOL; ROCHA, 2005).Figura 92 - Nomenclatura das facetas da lapidao brilhante (GIA, 1992). Figura 93 - Estudo de Dr.W.R.Eulitz (BRUTON, 1978). Figura 94 - Propores da lapidao brilhante (BRUTON, 1978). Figura 95 - Formatos Step-cuts (SINKANKAS, 1984). Figura 96 - Formatos brilhante e fantasias (SINKANKAS, 1984). Figura 97 esquerda, ferramentas agudas e cortes angulares e direita, escultura angular em quartzo fum de Ronaldo Barbosa (Arquivo pessoal; MOL, 2009). Figura 98 esquerda, Bernd Munsteiner e direita, suas lapidaes (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 99 direita, ferramentas arredondadas e cortes curvilineares e direita escultura curvilnea em ametista de Ronaldo Barbosa. (MOL, 2009) Figura 100 esquerda facetamento tradicional e concavo (MOL, 2009), no centro quartzo imperial de Geraldo Mcio Fernades (IBGM, 2009) e direita citrino de Richard Hommer (CONCAVECUT, 2009). XIV Figura 101 esquerda, demonstrativo do facetamento da lapidao padro e optix e direita comparao de gemas lapidadas, padro e optix (BYREX, 2009). Figura 102 - Modelo de facetamento orgnico desenvolvido para Antonio Souza, da empresa Gemas da Terra pela equipe do projeto Da Gema (MOL, 2009). Figura 103 - Lapidao de diamantes, lapidao Blue Star, ndia (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2009). XV LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLA CNC Controle Numrico ComputadorizadoCAD Computer-Aided Design (Desenho Assistido por Computador) CAM Computer-Aided Manufacturing (Fabricao Assistida por Computador) PSI Programa Setorial de Apoio s Exportaes IBGM Instituto Brasileiro de Gemas e Metais ABGM Associao Brasileira de Gemas e Metais APL Arranjo Produtivo Local AJOLP Associao dos Joalheiros e Lapidrios de Pedro II AJOMIG - Associao dos Joalheiros, Empresrios de Pedras Preciosas, Relgios e Bijuterias de Minas Gerais COOMAR - Cooperativa de Economia e Crdito Mtuo dos Colaboradores da UBEE & UNBEC Ltda CEFET Centro Federal de educao tecnolgica de Minas Gerais UFOP Universidade Federal de Ouro Preto INPI Instituto Nacional de Propriedade Intelectual SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial FINEP Financiadora de Estudos e Projetos IR ndice de refraoXVI SUMRIO Dedicatria............................................................................................................III Agradecimentos....................................................................................................IV Resumo.................................................................................................................. V Abstract.................................................................................................................. VI Lista de Figuras..................................................................................................... VII Lista de Abreviaturas e Siglas............................................................................... XIV Sumrio................................................................................................................. XV 1INTRODUO............................................................................................ 1 1.1Justificativa.................................................................................................. 3 1.2 DEFINIO DE LAPIDAO..................................................................... 6 2CAPITULO I A HISTRIA DA LAPIDAO...........................................6 2.1O lapidrio e seus ofcios na Europa.........................................................8 2.2O lapidrio e seus ofcios em Portugal....................................................... 20 2.3O lapidrio e seus ofcios no Brasil............................................................. 23 2.3.1Lapidrios no tempo do descobrimento 1500 a 1807.................23 2.3.2 Oficinas de lapidao no tempo colonial 1808 a 1870................27 2.3.3 O incio das lapidaes e das joalherias nas cidades brasileiras.29 2.3.4Oficinas de lapidao no inicio do sculo XX................................... 38 2.3.5Evoluo do ofcio de lapidao no sculo XX................................. 41 2.3.6Entrevistas........................................................................................ 46 2.3.7Lapidaes no Estado de So Paulo................................................ 52 2.4Maquinrios tradicionais............................................................................. 55 2.4.1 Evoluo das mquinas de lapidao.............................................. 55 2.5Tecnologia atual e Lapidao 3D................................................................ 62 2.5.1Lapidart............................................................................................. 62 2.5.2CNC e laser..................................................................................... 64 2.5.3GemCad........................................................................................... 68 3CAPITULO II TCNICA DE LAPIDAO................................................ 71 3.1Primeiras anlises para lapidao / Material Bruto..................................... 71 3.2Propriedades dos Minerais referentes lapidao..................................... 74 3.2.1Propriedades pticas........................................................................ 74 3.2.2Propriedades fsicas......................................................................... 88 3.3Lapidao Cabocho.................................................................................. 90 XVII 3.4Lapidao facetada de Gemas Coradas...................................................96 3.5Lapidao do Diamante............................................................................104 3.6Design dos formatos de corte...................................................................110 3.6.1Composio do facetamento.........................................................111 3.6.2Lapidao Brilhante.......................................................................112 3.6.3 Lapidao Esmeralda ou Step Cut................................................114 3.6.4Lapidao Fantasia .......................................................................115 3.6.5Lapidao Diferenciada...................................................................117 3.7Diamantes Patenteados.............................................................................121 4.CONSIDERAES FINAIS........................................................................ 129 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 131 1 1. INTRODUO Otermogema,derivadodolatimgemma,correspondeatodasubstncia naturalousinttica,lapidada,raraequeporsuaspropriedadesdetransparncia, cor,brilho,durezaeefeitospticosespeciais,taiscomochatoyance,asterismo, labradorescnciaeaventurinizao,podemserutilizadasparafinsdeadorno pessoal e objetos de arte.Asgemasdeorigemnaturalsomaisapreciadasevalorizadasqueas sintticas.Elascompreendememaproximadamente200mineraisdotadosde propriedadesfsicas,qumicasepticasespeciaisqueastornamatrativas,um nmeroreduzidoderochasealgumassubstnciasorgnicascomoaprolaeo mbar (SVISERO; FRANCO, 1991). Asgemassomineraisformadosporprocessosinorgnicos,deocorrncia naturalesocompostosporelementosqumicos,cristalizadoscomuma composioqumicadefinida(HURLBUT;KAMMERLING,1991).Suaspartculas constituintes (ons, tomos e molculas) repetem-se na mesma ordem e a intervalos regulares em trs dimenses formando uma estrutura cristalina em um corpo slido. Se este arranjo se encontrar em desordem, ou seja, no estar cristalizado, provoca o estadoamorfo,grupochamadodemineralides.Jasrochassoagregadosdos vriosmineraisqueconstituemalitosfera.Portantosoheterogneaseesto largamente difundidas, geralmente so opacas e translcidas (BROCADO. 1986).Asrochasemineraisforamformadosemprocessosgeolgicosocorridosa milhares de anos podendo ocorrer por basicamente trs situaes: pela solidificao domagma,pelasedimentaodedepsitosqumicoseclsticosoupelo metamorfismo de rochas preexistentes.O Brasil se destaca como um dos nove maiores produtores de gemas naturais domundo,designadocomoprovnciagemolgica.Possuijazidasprimriasem pegmatitosedepsitoshidrotermais,ondeseencontramasgemascoradaseem depsitossecundrios,osaluvies,solosresiduaisesoloscoluvionaresondese encontram diamantes e tambm gemas coradas. Otermogemaaplicadoaessesmateriaisdepoisdecortadosepolidos. Gemastambmsodenominadaspedraspreciosas,termoquealgumtempoatrs somentedesignavaodiamante,aesmeralda,orubieasafira.Asdemaiseram 2 denominadaspedrassemi-preciosas.OtermofoimodificadonoBrasilapso incentivo de joalheiros, no sculo XX, pela aceitao no mercado exterior de gemas coloridas que no as tradicionais (COSTA, 2007).ComodescobrimentoecolonizaodoBrasil,descobriram-seaospoucos suasriquezas,principalmenteatravsdosbandeirantes.Prximosasestaesde maiorconcentraodeminerais,instalaram-seoficinasdeourivesariaelapidao, formadas por estrangeiros; os ofcios eram ensinados de pai para filho ou a oficiais admitidoscomondiosenegrosescravos.Pormuitotempoooficioerailegale informal,poucosregistroseramanotadose/ouoficializados,portantonoexistea possibilidadedacertezadosdadosencontrados.Notou-senodecorrerdahistria queoconhecimentonareadeartesanato,ourivesariaelapidao,eraeainda emmaiorparteemprico,ouseja,prticoeexperimental,nohavendogrande disponibilidade de publicaes cientficas e legais sobre o assunto.Atravsdeumrelatohistricodatativodosexperimentoseevoluesna lapidao,distingue-sealapidaoeuropia,comodesenvolvimentodatcnicae do comrcio a partir do sculo XIII. A lapidao brasileira teve origem oficial com a chegadadelapidriosvindosjuntoscomafamliarealem1808,apesardehaver conhecimentoderegistrosdenaturalistasdoinciodaprofissoapartirde1500. Muitasvezesooficiodelapidriofoiconfundidocomodeourivese,apesarde algunsdelesconseguiremdesenvolverasduashabilidades,hgrandediferena entre elas. Este aspecto no podia ser desenvolvido neste trabalho de mestrado. A evoluo da tecnologia da lapidao no Brasil ocorreu de forma lenta, com pouco conhecimento dos lapidrios sobre caractersticas fsicas, qumicas e pticas dosmineraisqueestavamsendoutilizados;maquinriosobsoletoselapidao irregular para ser comercializada no exterior. Portantopretende-secomessetrabalhoeoutrosjexistentesnoBrasil, comporumbancodedadosquepossaservircomorefernciaparaestudos posteriores e que tenha aplicao direta na prtica de lapidao de gemas.umtrabalhoinditonoBrasil,porcontercompilaodedadoshistricos, atuais e tcnicos. Houve a necessidade, com o seu desenvolvimento, de aprofundar algunscaptulosqueserotesededoutoramento,poissocomplexoseprecisam de experincia prtica. 3 1.1 JUSTIFICATIVA OBrasilcaracterizadocomoumdospasesquemaisexportamprodutos comocommodities,ouseja,matriaprima,porexemplo,pedrasbrutas,innatura, para ento serem lapidadas no exterior e, muitas vezes, o material importado para utilizao no mercado joalheiro, sendo agregado pouco valor a matria prima. Dentrodos maiores compradores de commodities no Brasil est Hong Kong, ndia,EstadosUnidos,ChinaeAlemanhaeentreosmaiorescompradoresde pedras lapidadas, como rubis, safiras e esmeraldas esto os trs primeiros; Estados Unidos, Tailndia e Alemanha.Analisandoomercadointerno,foiapontadoodesenvolvimentodacadeia produtivadegemasejiasdebaixonveldeeficinciaeconmica,devido utilizaodetcnicasdelapidaorudimentares,nopossuindogemasde tamanhosadequados,simetria,acabamentofinalecalibragemparaajoalheria exterior, conforme dito por Mol (2004 apud MDIC, 2004). Portanto,paraomelhoraproveitamentodorecursomineraldisponvel,o IBGM incentiva concursos de Design de Jias e em 2008 iniciou o desenvolvimento doassunto"LapidaoDiferenciada,comconcursos,palestraseummanual desenvolvidoprincipalmenteporAdrianoMol,afimdeincentivaraagregaode valoraosmineraisbrasileiros(IBGM.2009).ComorganizaodaAJOMIGfoi desenvolvidoumconcurso,chamadoBrazilGemShowdeDesigndeGemasej esta em sua quarta premiao.OMinistriodeDesenvolvimento,IndstriaeComrciocomaesde fomento pelo governo federal, incentiva o design aplicado ao setor de gemas e jias comoprogramadeimplantaodofrumdecompetitividadeparaacadeia produtivadegemasejias,vemcontribuindoparaqueasempresasobtenham ganhos de mercado em mbito nacional. 4 Figura 1 - Quatro maiores compradores de gemas brutas e lapidadas brasileiras no ano de 2008. Portantoodesign,maisdoquecriaralgoparadeixarovisualexternodo produtoatraente,retiraofocousualdoprodutoeenglobaseudesenvolvimento desdeseusestgiosiniciaiseteminterfacescomacomunicao,marketingea sociologia das comunidades globalmente interligadas atualmente. Nestecontexto,acompetitividadedasindstriasestintimamenteligada implantao de uma cultura de design, como um dos mais importantes instrumentos para o aprimoramento dos bens de consumo aqui produzidos, segundo o programa brasileirodedesigndoMinistriodaIndstria,doComrcioedoTurismo,como descrito por Mol (2004 apud MDIC, 1995). AssociaescomoaAJOLPemPedroII,Piau,criadaem2004pela necessidadelocaldeorganizarosetordeourivesariaelapidao,vem desenvolvendooincentivoparaacriaodoartesanatocaractersticolocalque comeouamudarem1980,comotrabalhoconjuntodopresidenteJuscelinode Souza, iniciou-se o ensino da lapidao com apenas um professor e atualmente so trinta. Estados UnidosTailndia Alemanha Hong Kong1 - Rubi, Safiras e Esmeraldas 4.285 2.172 935 4362 - Outras Pedras Preciosas com lapidao Diferenciada21.651 894 6.684 5.8493 - Pedras em Bruto 5.127 1.194 2.086 16.36905.00010.00015.00020.00025.000Valor em US$ milFonte: MDIC/SECEX/DECEX - Do captulo 71 NCM *** - IBGM(***) No inclui exportaes realizadas atravs do DSE - Declarao Simplificada de Exportao .Exportao Brasileira de Pedras Brutas e Lapidadasem 20085 Figura 2 - Exportaes Brasileiras do Captulo 71 da NCM referentes aos anos de 2004 a 2009. E com base nestes dados que se conclui que o assunto pouco difundido ou estse desenvolvendolentamenteno Brasilenecessitadeprojetosde pesquisa e fundamentao bibliogrfica. Diamantes LapidadosDiamantes brutosPedras preciosas em BrutoRubi, Safira e Esmeralda LapidadaOutras Pedras Lapidadas2004 677 21.849 39.467 6.235 47.3912005 1.832 18.587 41.048 5.811 45.2642006 738 4.409 44.403 7.984 56.7612007 1.557 17.334 37.760 8.810 64.9972008 66 8.793 35.575 8.549 45.0942009 * 20 1.689 18.870 9.028 45.261010.00020.00030.00040.00050.00060.00070.000Valor em US$ milFonte: MDIC/SECEX/DECEX - Do captulo 71 NCM ***e PSI- IBGM(***) No inclui exportaes realizadas atravs do DSE - Declarao Simplificada de Exportao(*) Contagem de meses de janeiro a setembro Exportao Brasileira de Pedras Brutas e Lapidadas - 2005 a 20096 1.2 DEFINIO DE LAPIDAO Segundo Mol (2009), a lapidao de gemas o conjunto de tcnicas de corte e polimento que tem como objetivo ressaltar as caractersticas pticas das gemas e permitir sua utilizao em objetos de adorno. Apalavralapidrio,emalemo,"edelsteinschneider,designaumapessoa que trabalha com minerais, rochas e gemas, formando-as em objetos decorativos ou funcionaiseotermolapidaoderivadodapalavra"Lapidaries,queeraum tratadomedievalparaserelacionaralquimia,mineralogia,qumicaeoutras cincias (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Asprofissesdelapidriodegemascoradaselapidriodediamantesso profissesbastantediferentes,nopodendosernuncaconfundidas.Pormneste trabalho este aspecto no detalhado. 2. CAPTULO I - A HISTRIA DA LAPIDAO Oserhumanovemmostrandooseuinteresseporgemashmilharesde anos.Atividades joalheiras intensas foram identificadas por pesquisadores no Homo Sapiens, Cro-Magnons, h 40 mil anos, quando eles comearam a migrar do Oriente MdioparaaEuropa,apsteremsubstitudoosNeandertais,noqualguerrearam pordezmilanos.Moravamemcavernaseutilizavamcomoadornocolarese braceletesfeitosdeossos,dentesdeanimais(marfim),conchas,prolasepedras unidas por fios de origem animal (ASPAHAN, 2008). NoperodoPaleolticoMdioaSuperioreNeoltico(40.000a.Cat5.000 a.C.),correspondenteaidadedaPedraLascadaePolida,oshomensutilizavam como adorno, simples colares de conchas, ossos, dentes e pedras trabalhadas. Na pocafriccionavamumapedrabrutaemoutraparadesenvolverarmase ferramentas. Com este trabalho tambm transformavam o brilho de suas superfcies e comearam a utiliz-las como ornamento (WEBSTER, 2002). Desdeaantiguidade,quandooshomenstinhammenosconhecimento cientfico,asgemaseramconsideradasalgomisteriosoerelacionadoao espiritualismo,porisso,eramusadascomoamuletosetalisms.Existiammuitos mitoselendasassociadasaelas,comopedrasamaldioadasoucurativas,outras 7 utilizadascomosmbolodeposiosocial,decorandovestimentasderainhas, sacerdotes, palcios, templos e utenslios (SEVERO, 2008). Diversas sociedades tiveram exmios joalheiros, como os Egpcios (3000 a.C a 1000 a.C) que trabalhavam turquesa, lpis-lazuli, esmeralda, crisocola, amazonita, olivina, fluorita, malaquita, gata, ametista e quartzo hialino, como sinetes, amuletos eescaravelhos;OsChinesesa1500a.C.esculpiamjadeeenterravam-aconsigo quandomorriam;osMesopotmicos(sumrios,babilnicoseassrioscomdatade 1950a.C.ondehojeatualIraque),cortavameentalhavamlpis-lazuli,calcednia, amazonita e jasper, fazendo cilindros com smbolos gravados os quais eram usados comoassinatura,paragravaremceraouargila;osEtruscoscomtcnicasde filigranasegranulaodoouro;osGregospoliamosseisladosdoberiloeos Romanos com a profuso do ouro, utilizavam esmeraldas, safiras e prolas brancas em jias que tinham como tema central o Cristianismo.Osprimeiroslapidrioscriaramocorte"cabocho,palavraderivadado francs "cabochon, apartir do polimento de gemas encontradas roladas pela ao decursosd'gua,apresentandooladosuperiorarredondadoeoinferiorreto,sem facetamento,oquenormalmenteutilizadoemmineraistranslcidoseopacos (MOL, 2002). Aprimeiratcnicareconhecidadelapidaoaglptica,queconsisteem esculpir por abraso com um material de maior dureza, criando-se figuras, smbolos, oudesenhosnasuperfciedagema(SCHUMANN,1997).Essesgrafismospodem ser feitos no lado superior (aparente) de uma gema opaca ou no lado inferior de uma gematransparente,paraseremvisualizadosatravsdamesma.Osexemplares maisantigosdessatcnicaforamencontradospelosarquelogosnasrunasdas primeiras civilizaes do Egito e Mesopotmia (MOL, 2004). A lapidao de facetas teve inicio na ndia por volta de 400 a.C, tcnica que no teve grandes evolues at o sculo XIII quando os mercadores venezianos que por l passaram, trouxeram estes modelos para a Europa.UmlivroindianodosculoXIV,Agastimata,aprimeirarecordaoqueos diamanteseramtrabalhadosutilizandooutrodiamantecomoferramentaeque depoisdemodeladooupolidoperderiamseuspoderesmgicos.Alendafoi propagada pelaEuropaeadificuldadequetinhamemtrabalhar o diamantedevido sua dureza, s fortalecia a lenda e prejudicava o incio do seu comrcio (BRUTON, 1978).8 Comoobjetodecorativoosdiamanteseramusadosemsuaformanatural, octadrica, somente com o polimento das faces (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). 2.1 O LAPIDRIO E SEUS OFICIOS NA EUROPA Durante a Idade Mdia, comeando com a desintegrao do Imprio Romano do Ocidente, no sculo V (em 476 d. C.) e terminando com o fim do Imprio Romano doOrienteecomaquedadeConstantinopla,nosculoXV(em1453d.C.),os diamantesnoeramusadosemjoalheria,isto,seuvalorestticooucomo reveladordestatuseramuitopequeno.Assim,oseuvaloreraessencialmente "mgico, sendo utilizados apenas por homens (ao contrrio do que se sucede hoje). Osdiamanteseramincrustadosemarmaduras(estandoapenasaoalcancedos muitoricosepoderosos),naesperanadequeaspropriedadesmgicas,ao exemplodainvencibilidadeassociadasuadureza,seestendessemaosseus portadores (CHAVES, 2003). DiamantesealgumasgemascoradasforamcitadosnaBblia,associadosa signos do zodaco e no judasmo, representando as doze tribos de Israel.Ummongealemobeneditino,TheophilusPresbyter(1070-1125),tinha fascniopelasartesaplicadaseescreveuumlivronosculoX,chamado"De Diversus Artibus (As Diversas Artes), onde relatava o polimento de pedras e outras tcnicas. Dizia ser necessrio para o polimento das pedras, um esmeril com fino p dequartzomolhadocomsaliva.Descreveutambmousodeum"dopstick,que eramlongospedaosdemadeiracomespessuracomparvelagema,presana ponta,friccionadasobreumpedaodurodeareia;apedrairiasedesgastandoe tornando-se brilhante. O uso de p de azulejo ou tijolo molhado sobre pele de cabra, friccionadosobreesta,jfacetada,proporcionavacompletatransparncia (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).NossculosXIIeXIII,houvenaEuropaumagradualtransioentre gravaoelapidaocabochoparaofacetamento.Em1290,umgrupode lapidrios e polidores se formou em Paris. E em 1375 o primeiro grupo de lapidrios foi formado em Nuremberg, Alemanha. No comeo do sculo XIV, a lapidao cabocho foi a principal caracterstica de decorao na Alemanha, ustria e coroa da Rssia (KRAUS, 1987). 9 Em Paris foi criada no sculo X a "rmandade dos Cristaleiros e Polidores de Pedrase,apartirdestaassociao,alapidaofacetadapassouaserdivulgada comafundaodecentrosdelapidaoemMetz,Reims,SaintDenisePraga.A tcnica se estendeu at Idar-Oberstein, na Alemanha (METAIS DE MINAS GERAIS, 1981). Alapidaodediamanteschamada"Point-cutfoidesenvolvidaem1375, sendoomaioravanodapoca.Duranteesteperodo,oslapidriosdescobriram que o diamante possua planos de clivagem, seu "corte natural. A clivagem era um mtodomuitomaisrpidoqueoutrosmtodosdeformao,mas excepcionalmentelimitadaporquesseformamfacetasoctadricas.Entretanto,o "Point-cutconsistianopolimentodasfacetasnaturaiscomumligeirongulo. AparecenajoalheriadaIdadeMdiaetorna-sepopularnoperodoRenascentista (BRUTON. 1978). Figura 3 - "Point - Cut" (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Nesta poca, melhorias eram tentadas no "Point-cut, sendo uma das pontas dooctadrodesgastadasapontodeformarumafacetaquadrada,chamadade mesa e a lapidao de "Table-cut. A culaa foi mais adiante inserida, sendo que no incio,possuaocomprimentodametadedotamanhodamesaeeraconhecida como"ndian-cut.MuitaseramrelapidadasquandochegavamnaEuropaedepois correspondiaa1/4dodimetrodacintura.Aalturadacinturaatamesaeraa metade do dimetro da cintura (BRUTON, 1978; ALLABOUTGEMSTONES, 2009). 10 Figura 4 - "Table - Cut" (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). No final do sculo XIV foram adicionados quatrocantos de facetas criando a lapidao "Old Single Cut. Possua no total oito lados, uma mesa octogonal e podia ounopossuirculaa.Nenhumadessaslapidaespossuabrilhncia,eram escuras a olho nu e as gemas coradas possuam maior popularidade que diamante (ALLABOUTGEMSTONES. 2009). Figura 5 - "Old Single Cut" (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Existemregistrosdenotciasdelapidriosdediamantesestabelecidosem Veneza,desdeoanode1330,quedurantecertotempomanteveomonopliodas mercadorias procedentes da ndia.A arte de lapidar difundiu-se para Bruges, na Blgica, por onde passava cerca de40%docomrciomundialdosculoXVI,ParisnaFranaeNurembergna Alemanha.Comadescobertadanovarotaparaasndias,peloCabodaBoa Esperana em 1497, a mercadoria chegava a Lisboa e da seguia para a Anturpia na Blgica (DEL REY, 2002). Umlapidrio,chamadoHerman,em1407,teriadeixadoumarecordaode seustrabalhosartsticoscomdiamantesemParis.Nestapocaonumerodos lapidriosdaregioestavaaumentandoeelesviviamemumdistritochamado"La 11 Courarie,onderesidiamtrabalhadoresdediamanteseoutraspedras (TOLKOWSKY. 1919). Johannes Guttenberg, conhecido como grande contribuinte para a tecnologia deimpressesetipografia,tambmdominouaartedeconfeccionarmoldespara fundiodeouroeprata.Em1434,mudou-separaEstraburgoelaprendeucom Andrea Drytzehen a lapidar e polir gemas (DIAMONDSAREFOREVER, 2009). DesdeosculoXV,ascidadesprximasaorioNahe,IdareOberstein, tornaram-seimportanteplolapidriodepedraspreciosas,objetosesculpidosem gataecamafeustrabalhadosempedraseconchas.Nosofreramgrande devastaocomaguerra,porm,foramprejudicadasnosentidoeconmico (WELLS. 1960).Em 1458, em Bruges, Blgica, um judeu Lodewyk van Berquem, residente em Paris,porlongotempo,anunciouquehaviadescobertoomtododecortar diamantes.nventoua"scaif,queeraumarodaderotaodepolimento impregnada com uma mistura de leo de oliva e p de diamante, onde seu prprio polimento era feito durante o facetamento e revolucionou a arte de cortar diamantes. Odiamanteerafixoemum"dopepressionadocontraodiscoemmovimento, introduzindoassimoconceitodeabsolutasimetriaparacolocaodasfacetasno diamante.Dezanosdepois,seuscontemporneosonomearam"paidocortede diamantes, pois utilizavam as leis da ptica relacionadas aos ngulos preferenciais e criaram gemas para prncipes e aristocratas da Europa (KRAUS, 1987). Em1669,RobertdeBerquemescreveuumlivroqueregistrouadescoberta em fazer p de diamante para ser usado na Scaif, como cortee desgaste de outro diamante,emhomenagemaseuantecessorLodewykvanBerquem.Possuao nomede"Lesmerveillesdesndes:Traitsdespierresprcieuses(BRUTON, 1978). Charles the Bold (1433 1477), duque de Borgonha, tornou-se o patrono de Van Berquem e comissionou a ele um diamante de 137ct, que lapidado foi chamado deFlorentine,presenteadoafamliaValois;eumde55ctquetornou-seoSancy (Maharaja of Guttiola).Apartirdestesdiamantes,eleinventouoformato"Pendeloqueou"Briollet. Sendodepoisencomendadaumanovalapidaoparalapidartrsdiamantes, desenvolvendo-se a "Perfect-cut. Na Blgica, em uma rua chamada Pelikenstrasse, 12 humaesttuadebronzecomsuafigura(TOLKOWSKY.1919).Nascenessa poca o nome da profisso de lapidrio de diamantes, a chamada"Brillianteer. Figura 6 - esquerda, Lapidao "Pendeloque" ou "Briollet" e direita anncio do Museu do diamante na Blgica (Bruges) (ALLBOUTGEMSTONES, 2009; DIAMANTMUSEUM, 2009). NaRenascena,duranteosculoXV,houveumgrandelapidrioque estudouemFlorena eimitoudetalhes degravaesda famliaMedici,dacoleo "Grand Ducal, foi ele Giovanni delle Corniole (1470-1516). Figura 7 - Giovanni delle Corniole (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Ogravadorgenovs,GiacomoTagliacarnefoiumdosprecursoresda lapidao.FoitutordePier(Pietro)MariaSerbaldidaPescia(1455-1522)quese tornougrandejoalheiroegravador.GiacomofoiparaRomaem1499,sob patronagemdePapaLeoXetevecompanhiadeMichelangelodiLudovico Buonarroti Simoni. 13 Como discpulos de Serbaldi, foram Domenino di Polo de Vetri e Michelino di Paolo Poggini. Domenico (1480-1547) foi grande lapidrio e passou a maior parte de suavidacomomedalheirodacortedeAlessandrodeMedici,de1510a1537 (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 8 - Giacomo Tagliacarne (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Em 1520 foi desenvolvida a lapidao "Rose-cut e os lapidrios mais antigos referiam-se a ela como diamante "taille facettes, pois eram os primeiros diamantes com facetas, propriamente ditas.A "Rose-cut poderia ter um nico hemisfrio com 24 facetas e base reta, ou a chamada"Double-roseondepossuamosdoisladosidnticos,unidosbasecom base, com 48 facetas. Seu nome derivado da semelhana a uma rosa aberta onde asfacetassoasptalas.Sualapidaodesperdiapoucomaterial,possuifaceta com trs lados e angulao pouco ngreme. As seis facetas do centro so chamadas decoroaouestrelaeasfacetasdaslateraissochamadascoroaoudentes. Permitepoucaclivagemepodemserutilizadosdiamantesassimtricoschamados demaclas.ForamlargamenteutilizadasnajoalheriaVitoriana,emgranadasda Bohemia (WEBSTER, 2002).A lapidao "Rose-cut se tornou muito popular e ocorreram variaes como a "CrownedRosecute"Dutch-rose,ondesuaalturaeraigualametadedoseu dimetro e a distncia da base ao incio da primeira coroa era 3/5 da altura total, o dimetro da coroa central 3/4 do dimetro da base e poderia ser redondo ou oval;a"Antwerpou"Brabantsimilarao"Dutch-rose,excetoqueainclinaomais baixa e a distribuio das facetas a mesma nos trs tipos; outras variaes so a "Rose Recoupee a "Rosette. 14 Umamodificaoda"Double-roseconsistenoalongamentodeumdos hemisfrios seguindo o formato gota ou pera, chamado novamente de "Pendeloque ou"Briollet.Asfacetasqueanteriormentetinhamtrsladosoutinhamformato losangulares,comamodificaochamadapor"Checkerboard,sfacetasseriam aplicadasdeformadiagonal,ouseja,asfacetastornaram-sequadradas (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 9 - Rose-cut e variaes (1- Rose-cut, 2- Doble-rose, 3- Pendeloque ou Briollet, 4- Rose Recoupe e 5- Rosette) (ALLBOUTGEMSTONES, 2009; BRUTON, 1978). Acredita-se ter visto lapidao semelhante a "Rose-cut em gemas anteriores a 1520, por causa do diamante Koh-i-Noor e o Great Mogul (BRUTON, 1978). Umourivesitaliano,deFlorena,BenvenutoCellini(1500-1571),de personalidade aguada e aventureira, tinha como protetor, Papa Paulo III.Em 1568 fazdescriessobreocorteepolimentodediamantes,ensinaacombinaode coresdemaioragradoavisodoserhumano.TevecomomestreMichelangelodi Ludovico Buonarroti Simoni. Segundo ele, "Um diamante que friccionado contra o outroemmtuaabraso,tomamaformaqueacapacidadedopolidorquerque chegue.Comopdediamantequerestoudaltimaoperao,aconclusoou polimento deste feito. Para este propsito, a pedra fixada em um pequeno guia, outubodemetal,presoemumdispositivoecolocadocontraarodadeaoem movimento,providadeleoepdediamante.Arodadeveteragrossuradeum dedoealarguradeumamo,estacompostadeaofixadaaummoinhoque atravs da rotao gera um rpido movimento, podendo ser facetados quatro ou seis diamantes na mesma roda. O peso colocado no dispositivo em relao frico da gemacontraarodaemmovimentopodeaumentar.Destaformaopolimentoest completo (BRUTON. 1978). 15 Figura 10 - Benvenuto Cellini. (CHESTOFBOOKS, 2009) Odesenvolvimentododesenhoutilizadonoscortesdegemasparamuitos seguiasemelhanaentreoprincpiomatemticodegeometriaEuclidianaea arquiteturadapocaqueusavamocrculoenquadrado.Euclidesvividoem Alexandria(330a.C-275a.C)desenvolveunotextoOsElementosateoriados nmeros e onde axiomas intuitivos eram provados com teoremas, em que reunidos poderiam abranger um sistema dedutivo e clculos que j haviam sido afirmados por matemticos gregos anteriores. OcortedamesafoiesclarecidonosculoXVIenoinciodosculoXVII, devidoainflunciasclssicaseproporoureadePitgoras,quemisturou geometriacommagiautilizadanoscortes.Aproporoureapossuaarazo 1/1,618 e era baseada no quadrado, e a mesa representava um quadrado dentro de outro.Gemascoloridastambmeramcortadasnamesmaproporoe,como passardotempo,setornoumaiscomplexodevidoarepetiodeformas geomtricas (BRUTON, 1978). Jean-BaptisteTavernier(1605-1689),umjoalheiroFrancs,faziaviagens para a ndia em busca de conhecimento sobre a lapidao de diamantes no sculo XVII.Suaprimeiravisitafoiem1665,ondeosindianospoliamasfacetaspr-existentes no cristal e possuam o conhecimento de desgastar o diamante retirando delessuasuperfciedefeituosa.Seodefeitoestivessemuitoprofundo,eles tentavamesconder,fazendopequenasfacetaspordebaixo.Nasescritasde 16 Tavernier,encontravam-selapidriosEuropeusnandiaeosdiamantesmaiores eram determinados a eles para o corte. O diamante de maior tamanho era o "Great Mogul,possuindo280ct,quefoilapidadopeloveneziano,HortensioBorgisefoi presenteado ao Grande Mogol Aurung Zeb, de Delhi (TOLKOWSKY, 1919). Figura 11 - Descries de Tavernier (todas as imagens) no sculo XVII (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Figura 12 - Great Mogul da ndia, de 787,5ctbrutoe 280 ct lapidado (BRUTON, 1978). O processo de serrar diamante foi tambm descrito por Johannes de Laet da Anturpia,emseulivro"DigemmisetLapidibus,em1647etrsanosantes,em 1644 foi editada a obra de Anselmus Boetius (de Boot) em Lion, com o nome de"Le Parfeit Jaeallier, que descrevia a tcnica para pedras preciosas menos duras, sem referncias ao diamante (PORMIN,2009). Comaintenodeobterumcorteemquehouvessemenorperdadeluz, conduziuoCardinalJulesMazarin(GiulioRaimondoMazzarino)(1602-1661)em 1650invenodocorte"Mazarinou"MazarinsDouble-cut-brilliants,com17 facetasnacoroaincluindoamesae17abaixoincluindoaculaa,indicasuas origens na Frana e cita a produo em larga escala na Anturpia a partir de 1717 (MOL.2004).Pode-sedizerqueestefoiaprimeiralapidaodaclassedos Brilhantes. 17 Figura 13 - Cardinal Jules Mazarin (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Em1681,umpolidorvenezianochamadoVicenzioPeruzzi,introduziuo "Peruzzi Cut ou "Triple-cut-brilliant que dobrou o nmero de facetas de 17 para 33,nacoroae as mesmasnopavilho.Comocrescimentodapopularidade do corte, grandesquantidadesdecortesantigosforamrelapidados.Istosedeudevidoao interessenainovaotecnolgicaeparcialmentedevidoaointeressedecrescente na invarivel forma clssica da mesa utilizada (BRUTON, 1978). Figura 14 - Lapidaes Mazarin e Peruzzi (vista superior) (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Semelhantea"Tripe-cut-brilliantsurgiualapidao"Oldminecut,tambm chamada de "Cushion ou "Antique, com a evoluo da cintura arredondada, coroa altaresultandoemumamesapequenaeumaculaagrandequepoderiaservista pela mesa quando olhada a 90, com 33 facetas na coroa e 25 no pavilho (READ, 1991). NestapocaforamencontradosdiamantesnoBrasilefrequentementeeram enviados Europa para serem lapidados, sendo assim a "Old mine cut teve grande difuso (BRUTON, 1978). 18 Figura 15 - Lapidao Old mine cut (vista lateral, superior, inferior e perspectiva) (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Jporvoltade1800,foidesenvolvidaalapidao"OldEuropean,que possua uma pequena mesa, uma grande coroa, cintura circular, grande culaa e no totalgrandeprofundidade.Oslapidriosingleses,nestapoca,tiveramcomo caractersticadeixaracinturamaisfinaqueadosholandeses,tornando-se quebradia,esta moderna padronizaorecebeutambmonomede"Englandcut ou "Victorian cut (BRUTON, 1978). Figura 16 - Lapidao Old European (Vista lateral, superior, inferior e Perspectiva) (ALLABOUTGEMSTONES, 2009). Comopassardosanos,houvegraduaistransformaesenoanode1919, Marcel Tolkowsky (1899-1991), membro de famlia belga de lapidrios de diamante, ficou conhecido como "pai da moderna lapidao brilhante, publicando em sua tese de doutoramento e em seu livro "Diamond Design a tcnica American Standart, que demonstra o uso de certosngulos e propores que maximizavam a brilhncia do diamante.TambmerachamadopelonomedeAmericanIdealcut,Idealcut, Tolkowsky cut e Tolkowsky brilliant. Sua frmula matemtica de ideal proporo para cortardiamantes,revolucionouapocaetornava-sepossvelousodemquinas semi-automticas para polir diamantes. O desenvolvimento fez parte de sua tese de doutoramentonaUniversidadedeLondresealapidaoeracompostapor58 facetas, sendo 33 na cora e 25 no pavilho, o que produz grande brilho, disperso e cintilao.Seucortereduzia50%dopesototal,pormeramelhoraproveitadoo reflexo e refrao da luz. (BRUTON, 1978) 19 DepoisemigrouparaosEstadosUnidosem1940,noqualtrabalhoucom diamantesat 1975.Foimembro do"DiamondsDealerClubque participoupor50 anosefoipresidente.Foimembroporlongotempodo"DiamondTradingand PreciousStonesAssociation.Teveduasfilhas;EileenBeretseNicoleKopf(THE NEW YORK TIMES, 15/02/91). NaFrana,aprofissodesenvolveu-seatarevoluoFrancesa(1789-1799),ondemuitosdelesfugiramparaAnturpia,AmsterdameLisboa.Os lapidrioseramnormalmenteconhecidostambmporseremcomerciantes,pois trabalhavamemsuasprpriasoficinaseprecisavamcomercializaroproduto desenvolvido (KRAUS, 1987). Nos Estados Unidos, foi pouco desenvolvido o campo da lapidao at 1930, pocaquandoosouriveseuropeusemigraramparaNovaYorkparaservira indstria joalheira (KRAUS, 1987). Na Anturpia formou-se o maior centro de lapidao de diamantes no sculo XVIII,devidoaosdiamantesvindosdePortugalpelarotaaomardandiaeBrasil. Amsterdam, um segundo centro, comprava diretamente da ndia, desde o sc. XVI e gradativamentefoiperdendoseuslapidrioscomosSculosdevidoscondies rigorosasdosindicatonomomentopr-guerra.ApesardoesforodaDeBeers,a Anturpia no conseguiu manter o monoplio. Diamantes maiores eram enviados a NovaYork,afimdeevitarimpostossobreasjiasprontas,enquantoosmenores eram enviados a ndia para serem lapidados por mo de obra barata e diamantes de quilatagemmediana,cercade1ct,eramenviadosaIsrael.PormaAnturpia continuou a receber a maior parte dos diamantes valiosos em formatos complexos. Lisboafoiumcentrodelapidaoapartirdadataqueosportugueses comearamocomrciocomandiaeaomesmotempoemqueoutroscentrosde lapidaoseestabeleceramnaEspanha(Valncia,BarcelonaeMadri).Depoisdo sculo XVIII, Londres emergiu como um importante centro de lapidao, alcanando a terceira posio, depois de Amsterdam e Anturpia.Osinglesesestavamganhandointeressenandia,poremcomadescoberta dediamantesnoBrasil,nosculoXVIII,oquadromudou.ComoPortugalno mantinha controle dos impostos e quantidade de diamantes regulamentados vindos doBrasil,LondresestabeleceurelaescomPortugal,comprandograndeparte destes diamantes.20 NosculoXVIIIocomrciodediamantesbrutostornava-seseparadodo comrciodelapidaoenosculoXIXcomadescobertadediamantesnosulda frica,acelerouaseparaodasduasatividadesehouveinflunciadeLondres, comaDeBeersnoseumercadodepedrasbrutas(BRUTON,1978).Noinciode 1960,aDeBeerssubsidiouaintroduodamquina"Pieromaticdelapidar diamantesnaAnturpia.Empoucosmeseshomenstreinadosestavamlapidando diamantes e o negcio se estendeu da Anturpia para Londres. EmIdar-Oberstein,naAlemanha,a"Gewerbehalle,centrocomercial,havia em1960,grandecoleodegemasepedrasbrutas.Napocaexistiamgrandes oficinasdelapidaocomonomedaempresaGebruderLeyser,quepossuam trabalhadores divididos por setor: os serradores, os cortadores, os polidores e ainda a "dama de prova. Leyser possua outra lapidao na parte meridional da povoao deIdar,ondeexistiaumalapidaomovidaaguaemfuncionamentoa300anos atrs,pertencentesaosirmosHeinz,devalorhistrico.Destacadososnomes, Leyser, Klein, Wild, Becker e Heinz possuam mais de 30% da populao dedicada a gemasejiasemgeral.Cercade20%dosestabelecimentosmantinham compradores de pedras brutas no Brasil (WELLS, 1960). 2.2 O LAPIDRIO E SEUS OFCIOS EM PORTUGAL Desde a rota de comrcio de diamantes brutos entre ndia e Portugal, este era centro de lapidao e venda de bruto para outros pases da Europa. Porm, apenas nosculoXVIIIeXIX,quesetmrelatosdedesenvolvimentodeoficinase indstriasnosetor.Pessoasnobrestinhampoucointeressepelasarteseofciose perfeio na arte de ourivesaria (ouro e prata), lapidao, cravadores e douradores (OLIVEIRA, 2009). Aourivesariaportuguesa,possuindolugarsignificativonaartereligiosa, buscouseusmodelosnaarquiteturagticaeinfluenciouumestilochamado Manuelino,cominspiraesemvegetaisexticoseelementosnuticos.Inclusive havia um regimento de Ourives e Lapidrios para que se trajassem corretamente em procisseseseorganizassemnamesmadeformahierrquica.Oslapidriosde diamante iriam frente e os de rubi atrs (VALLADARES, 1952, pag 75 e 76). 21 OofcioemPortugaledepoisnoBrasileraorganizadodemaneira hierrquica,ondeosmaisimportanteseramosmestres,depoisosoficiaiseos aprendizes. Aps o ensino do mestre ao aprendiz, este deveria fazer um exame para especializaoartesanalparaviraroficial,queerafeitode4a5anosde aprendizagem.Olapidriotantopodiaserexaminadocomooficialdediamantes, comoderubis,sendoasprovasdiferentes.Noserevelandodevidamente preparado,spodiaobteroutroexamepassadoseismeses;emcasodenova reprovao,maisseismeseseassimrepetidamente,atquefosseconsiderado apto (VALLADARES, 1952). A partir de 1572, havia "O Regimento dos Ourives de ouro e Lapidrios que prescreviam toda a funo do ofcio e nenhum oficial mecnico podia colocar tenda doseuoficiosempossuira"cartadeexaminao.Omestreexaminadorem hiptesealgumapodiaexaminarfilho,cunhadoouquaisquerparentes.A examinaoeraobrigatriaparaaquelesquedesejavamvendersuashorasde trabalho por melhores remuneraes e/ou serem donos das tendas, posteriormente chamadas de oficinas (REIS, 2005). EmLisboa,foramosofciosautorizadosaseorganizarememcorporaes, constituindo-se uma representao poltica, chamada aCasa dos Vinte e Quatro. A tradio continuava com a reunio de artistas de uma mesma profisso, porm era eleito um representante paracada uma delas formando um total de 24 juzes, para tratar de interesses de cada uma das corporaes. Estes em si, tambm elegiam um presidentechamadoJuizdoPovo.Em1539,D.JooIII,reorganizavaas corporaes elegendo deputados para cuidar de outros ofcios, como os de ourives e lapidrios que ainda no haviam politicamente formado sua corporao. Por volta de 1834, a casa foi extinta depois de 450 anos de existncia. (MARTINS. 2007) NosfinaisdossculosXVIeprincpiodoXVIIosVinteeQuatroofcios,se congregaramemirmandadeseconfrarias,tomandocadaumdelesumSantodo calendrio,formandoumabandeira,comasimagensdosseuspadroeiros estampadas, indicando o agrupamento do ofcio. Alm dos santos continuavam a ter um juiz do ofcio. O santo escolhido pelos ourives de Portugal foi Santo Eloi (588-659), que em vidaeratalentosoourives,inclusivealgumasdesuaspeasaindapodemser encontradas na Frana. 22 Por volta de 1729, aps muitos anos de seu descobrimento, ocorreu o oficial achado de diamantes no Brasil, estes eram levados a Portugal, sendo temido pelos hebreusmonopolistasnaEuropa,emdefesadoprpriocomrcio.Oshebreus afirmavam que eles eram manchados e que perdiam o brilho no fim de pouco tempo expostoaluz.Pormcompravamgrandesquantidadeserecambiavamnandia como se fosse de Visapor e Bornu (LIMA, 1945). Portanto a imensa dificuldade dos portuguesesemcomercializarosdiamantesencontradosnoBrasilfoipelofatode notertidoumgrupomercantilespecializadonosetordepedrasfinaseseus lapidrios no possuam tal habilidade para dispendioso trabalho (RABELLO, 1997) Almdosdiamantes,asesmeraldas,osrubis,asprolaseassafirasforam largamenteutilizadasnajoalheriaportuguesabarroca.Mastambmgrandes quantidadesdejiasforamfeitascomgemasdebaixovalorfinanceironapoca, comoostopzios,citrinos,quartzohialino,estesltimoslapidadosemformato brilhante.Utilizadosnapocaeramforradoscomfolhasdeprata,umatcnicaem Portugalqueficouconhecidacomo"Mina-nova,comosubstitutosdodiamante, eram encontrados tambm no Brasil (MAGTAZ, 2008). Figura 17 - Guarnio de corpete. Portugal, 2 metade do sc. XVIII. Prata dourada e Topzios imperiais (D'OREY, Museu Nacional de Arte antiga de Lisboa, 1995). 23 - Cristos-Novos DuranteosculoXVII,aigrejacatlicacriouinquisio,julgandotodos aquelesquepraticavamheresias.Judeusemuulmanos,queencontravam resistnciadeaceitaonasociedadedevidoasuareligiodenascena, convertiam-se ao cristianismo, chamados posteriormente de cristos-novos.Dentro deles tinham muitas pessoas ligadas ao comercio de pedras preciosas.UmlapidriofugidodeLisboa,emmeadosdosculoXVII,porcausada inquisio,fixouresidnciaemLuandadeondetambmacabouporfugirdevidoa denuncia recebida pelo Bispado de Angola e Congo. Na sua trajetria de fuga viveu entreosportosdeLisboa,Flanders,Frana,Salvador,RiodeJaneiroeLuanda (REVISTA LUSFANA DE CINCIAS E RELIGIO, 2004). - Maons EmPortugal,napocade1744,pedreiros(lapidrios)protestantes, contestadores da f, pertencentes a sociedade secreta eram perseguidos e punidos, pela inquisio, utilizando os mesmos tipos de pena aplicados aos cristos-novos. Trslapidrioscontestadoresforampunidos,dentreeles:JooCouston(ou Coustos),quepraticavaaseitadospedreiroslivres,tevepuniode4anosem Gales; Alexandre Jacques Mottom, pelas mesmas culpas, teve 5 anos de pena fora dopatriarcado,poiseraestrangeiroeJooThomsBrusl,pelasmesmasculpas, teve 5 anos de pena tambm fora do patriarcado por ser estrangeiro. Joo Couston foiperseguidonaInglaterrapeloLuisXIV,foiparaParisparatrabalharnoLouvre, pensou em ir para o Brasil, mais o rei de Lisboa no permitiu tal ato. 2.3 O LAPIDRIO E SEUS OFCIOS NO BRASIL 2.3.1 Lapidrios no tempo do descobrimento 1500 a 1807 NachegadadosPortuguesesnoBrasil,elesreceberamnativosemseu barco. Os nativos demonstravam alguma riqueza aos navegantes, apesar de no se adornaremcomouroepedrascomoosAstecas,exploradosporEspanhis.Os ndiosusavamsomentepenas(arteplumria)epinturascorporais,pormos 24 portuguesesinteressaram-seemexplorarasriquezasdopas.Despertou curiosidadeeempenhodemuitosemPortugaleaventureirosportodaaEuropa. ParaaexploraoeramenviadasasBandeirasouEntradasdePortugal.Eram compostosporhomensqueacompanhadospelosfilhosmaioresde14anos,por escravos e alguns homens do povoado, que tambm ambicionavam riquezas, saiam de So Vicente (1534) e So Paulo (1554, chamada de So Paulo de Piratininga) e dirigiam-se para o interior do Brasil caminhando atravs de florestas e rios, como o rio Tiet. As Entradas eram expedies oficiais organizadas pelo governo, enquanto asBandeiraseramfinanciadasporparticulares(senhoresdeengenho,donosde minas e comerciantes). Apesar destas expedies terem como objetivo procurar por pedrasemetaisecapturarndios,esteshomensficaramhistoricamente responsveispelaconquistadegrandepartedoterritriobrasileiro.Osmais importantesforam,AntonioRaposoTavares,quefoiatoAmazonas;FernoDias PaisLemeeseugenroBorbaGato,queexploraramaregiodeMinasGeraise BartolomeuBuenoSilva,oAnhanguera,apelidodadopelosndiosquesignificava diabo velho ou esprito mau, encontrou ouro perto de Gois (MAGTAZ, 2008). AprimeiraevidnciadeouronoBrasilfoiem1590,naregiodoPicodo Jaragu, na ento capitania de So Vicente. S ento em 1695 foi encontrado ouro no futuro estado chamado de Minas Gerais. Aps algum tempo, em 1714, diamantes foramencontradosnaslavrasdeourodaregiodo"SerroFrio(partedaSerrado Espinhao ao norte de Minas Gerais) e arraial do Tijuco, atualmente Diamantina. O povo no tinha conhecimento de tal importncia e usavam-nos como fichas em jogos de carta, porm apenas em 1729, Bernardo da Fonseca Logo, presenteou ao Rei de Portugalcomdiamantesetornou-sedescobridoroficial.Apartirdeento,Lisboa cedeuconcessesaosfavoritosdoreieexpulsouosgarimpeirosdasreas aurferasediamantferas,pormfoiimpossvelmant-losafastadoseaminerao ilcitacontinuoucrescendo.Apsaoficializaodosachados,noperodode1745-1772, funcionou o perodo dos "Contratos, sendo o "contratador de diamantes, em geral uma pessoa de grandes posses em Portugal, tinha o privilgio e monoplio da lavra,pagandopornmerodeescravosquetrabalhavamemsuasjazidas,dentre eles Joo Fernandes de Oliveira e sua amante ex-escrava, Chica da Silva. O Brasil chegouaseromaiorprodutormundialentreosanos1725at1866coma descoberta na frica (MAGTAZ, 2008).25 As remessas de ouro e diamantes, enviados a Portugal, fizeram com que os portuguesesreacendessemaculturaeomecenatodeD.JooVeoBrasil construa-se assim, sobre a prospeco e comrcio do ouro e das pedraspreciosas (MAGTAZ, 2008). Juntamente com o descobrimento surgiu a escravido de negros trazidos em bandosdafrica.Realizavamtodootrabalhobraal;trabalhavamnalavrade minerais, na pecuria, na vida domstica sem direito algum e aos poucos aprendiam rapidamenteoutrosofcios,comoourivesariaelapidao.Comospoucosmestres napoca(MAGTAZ,2008).HavianoBrasilgrandepreconceitocomos trabalhadoresdoofciode"sangueimpuro,dentreelesescravosnegros,ndiose cristos-novos (VALLADARES, 1952). O primeiro lapidrio chegou ao Brasil em 1592, com o nome de Cristovam, no governo de Dom Francisco de Sousa, poca em que o descobrimento das minas era grandepreocupao.Estepossuafacilidadenocortedeesmeraldas(SANTOS, 1940). O governador Dom Francisco de Sousa dedicou-se a descoberta de minas e capturavam ndios como escravos. Trouxe para o Brasil um provedor de minas e um lapidrio de esmeraldas. NoBrasilnosculoXVItinhaamaiorpartedasjiasealfaiasimportadas, para abastecer as pessoas de grandes posses. No havia ento ourives e lapidrios com qualidade suficiente para receber tantas encomendas, enquanto Lisboa, Porto, Sevilha e outras cidades de Portugal e da Espanha passavam por um grande surto artesanal,comachegadadosmetaisepedrasdoNovoMundo(VALLADARES, 1952, pag. 25 e 26). FelisbertoCaldeiraBrant,contratadordediamantes,substituiuJoo Fernandes de Oliveira (amante de Chica da Silva). Mandava os diamantes pequenos para Lisboa e ficava com os grandes. Sendo assim trouxe da Holanda um lapidrio para formar seus diamantes no Brasil sem que fosse percebido, mas foi descoberto e 1753, preso e levado para Lisboa. Em 1722 foidescobertootopzioimperialnaregiodeVilaRica, hojeOuro Pretooquesechamounapocade"rubibrasileiro.Maistardeidentificadocomo topzio, passou a ser chamado de Topzio Brasileiro e depois devido ao encanto do Rei pela sua gama de cores foi chamado de Topzio Imperial. (MOL, 2002) Grandesquantidadesdetopzio,ametistas,turmalinas(vendidascomo esmeraldas),berilos,crisoberilos,pedrascomunsdevidro(vendidascomo 26 diamantes)eramcomercializadosnoBrasiletambmenviadosparaPortugal (MAWE, 1978). - Casa da Moeda, Quinto real e a proibio do oficio ACasadaMoedafoifundadaem1694naBahiaemaistardenoRiode JaneiroeMinasGerais.Em1711,foidadaumaordemparaquefosseentreguea CasadaMoedatodooouroempencontrado.Acredita-sequeorecolhimentode pedrastambmerafeito.Umquintoerareservadoparaorei;osoutrosquatro quintospurificadosereduzidosabarras,prpriacustadogoverno;eram estampados e marcados e entregues aos proprietrios com um certificado que lhes permitiaentraremcirculao.Haviapostoscomsoldadosparainspecionaros viajantese patrulhavamestradasconferindootalcertificado.Quemeraencontrado com o metal ou pedras preciosas ser ter o quinto cobrado eram condenados a perda de seus bens e a deportao para a frica. Na poca era comum evitar a tributao comimagensdesantosesculpidasemmadeiracomaberturanascostaspara esconder ouro em p e diamantes brutos e passar sem ser visto, o famoso "santo do pau oco (MAGTAZ, 2008; VALLADARES, 1952; SALES, 1955). Nodecorrerdaexploraodasminasdeouroediamantes,emcontroleda coroaportuguesa,acorrupoeocontrabandocorriamquasequelivremente, fazendocomquefossemproibidasoficinasdeourivesariaelapidaonas proximidadesdelavras,comointuitodesalvaguardarosinteressesdacoroa,o quinto real que estava sendo burlado.Muitasoficinasforamdestrudaseextintas,pormalgumtempodepoisos artistas novamente se instalaram. Em 1766 j com novas instalaes, existiam 375 mestresourivese1500oficiais(VALLADARES,1952).Osourivesque permaneceramspoderiamcomprarouronaCasadaMoedaenopoderiamde maneiraalgumautilizaroourodasmoedasemsuasobras(MAWE.1978; VALLADARES, 1952, pag. 34). HouveumaCartaRgiade30dejulhode1766queproibiaoficialmenteo exerccio destas oficinas na Bahia, Pernambuco e no Rio de Janeiro, fechando todas aslojas,asCasasdeMoedaefundioerecolhendotodososequipamentos.Os mestresdeveriamassinartermojudicialcomprometendo-seanoexercermaiso ofcio,anosercomordemespecialdogoverno.Seusaprendizesouescravos deveriamserremetidosaosseussenhoresoutrafuno.NoRiodeJaneiroe 27 PernambucoocondeCunha,noaceitouasdeterminaesreais,apoiando trabalhadoresdapoca,queerampaisdefamliaeatmesmoidosos.Mesmo assim a Carta Rgia vigorou at o alvar de 1815 (VALLADARES, 1952).Paraocontroledosdiamantes,criou-seem1772a"Realextrao,sob administraodaRealFazenda,ondeosescravosdisponveisnaregioforam alugados e eram contratados por essa administrao. Mais tarde, pessoas influentes da regio passaram a tomar conta novamente das exploraes (CHAVES, 2003). AprogressivarestriodasatividadesartesanaisnoBrasilcolniaatingiuo augeemjaneirode1785,porocasiodoalvardeD.MariaI(1777-1816)que determinouaextinodasmanufaturasdeouro,prata,seda,algodo,linhael, excetuando-se as de panosgrosseiros. Essa medidacuja eficcia discutvele foi abolidaem1808,apsatransfernciadacorteparaoRiodeJaneiro(VAINFAS, 2000). A coroa portuguesa decidiu sua transferncia para o Brasil devido a tentativa da Frana em dominar toda a Europa e a ameaa iminente da invaso de Napoleo (MAGTAZ, 2008). 2.3.2 Lapidrios no tempo colonial 1808 a 1870 AvindadacorteparaoBrasil,maisprecisamenteaoRiodeJaneiro,no modificou,emsuaessncia,osistemadeexplorao,nemcontribuiuparauma elevao da tcnica da minerao. L centralizaram a administrao e as principais manufaturasdemateriais.Oalvarjoaninhode1deAbrilde1808,permitiulivre estabelecimentodefbricasdemanufaturasnoBrasil.Asmedidasrepressivas tomadasemrelaoaosouriveselapidriosforameliminadasabrindocaminho ao desenvolvimento da confeco e do comrcio de jias no Brasil, pois era necessrio atender aos novos e ricos habitantes da colnia portuguesa, que traziam os hbitos luxuosos adquiridos em sua terra natal. A fbrica de lapidar diamantes foi transferida de Lisboa para o Rio de Janeiro (ASPAHAN, 2008). Cria-seem1809oColgiodasFbricas,primeiroestabelecimentodopoder pbliconoBrasilvoltadoeducaodosartistaseaprendizes.Tendocomo finalidadeexplicitasocorrerasubsistnciaeeducaodealgunsartistase aprendizesvindosdePortugal.ACartaRgiade1812que"mandaformaruma escola onde era ensinada a lapidao de diamantes (CASTANHO, sem data). 28 Em1811,vieramdoismestresedoisoficiais,comsuasrespectivasfamlias totalizando15pessoasemais43volumesdelapidao(RABELLO,1997; MAGTAZ, 2008). OnveltcnicodoslapidriosqueestavamseformandonoBrasil,noera dos maisapurados, poisaquisua oficializao eraanteriormente proibidae nose podiadesenvolveraprofisso.EmPortugalnohaviatradiodamanufatura, devidoaoscristos-novosqueeramdonosdocomrciodediamantes,estavam sempreemfugadevidoaperseguiodainquisioenoformaramprofissionais. (RABELLO, 1997). Eschwege,gelogovindoaoBrasil,paraprospectarestudossobreminerais nopas,comentouqueodesabonodaadministraopblicaaostrabalhadoresde ofcioseraelevadoetaldespesaerasomadaaopreofinaldalapidaoeesta compensavaserfeitanoexterior.Inclusiveaspedrasdacoroaeramlapidadasem Amsterdam (RABELLO, 1997).Noanode1821,acorteportuguesaretornaaPortugal,ouseja,D.JooVI deixaotronocomovice-reiparaseufilhoD.PedroI.Estenovociclorealmarca tambm mudanas na economia, com o comeo da industrializao do pas, com a chegada de imigrantes europeus e mudanas nos costumes familiares: as mulheres passamafrequentarruas,teatrosepraas,exigindoaindamaisosserviosdos ourives. Em 1831, D. Pedro I retorna a Portugal, abdicando do trono em favor de seu filho, D. Pedro II (ASPAHAN, 2008). Nesta poca, muitos imigrantes europeus, dentre eles os alemes, chegaram aoBrasil.GrandepartedelapidriosresidentesnoBrasil,eramalemes,sendo eles:CarlHoffman,nascidoemIdarnoanode1821,trabalhoucomolapidriono principadodeBirkenfeldechegouem1861nacolniadeSantongelonoRio Grande do Sul e foi instalado na linha Nery, lote nmero 16 de 48,4 hectares. Julius BeckerSnior,naturaldeIdar,principadodeBirkenfeld,noqualsuafamliaera lapidria,nascidoem1818,trabalhoucomolapidrioemIdarenofinalde1857 embarcounoportodeHamburgoacompanhadodeesposaefilhosparaosuldo Brasil,naesperanadeencontrargatas;desembarcouemSantongelo,no encontrou as gatas e trabalhou na lavoura e linha Teotnia. Joo Frederico Bohrer, JooCarlosVeeckeJooJacobPurperdeIdar-Oberstein,ondeeramlapidrios vieramparaoBrasilnamesmapocaemquecomeouafaltargatasna Alemanha.JooFredericoBohrer,nascidoem1788,foicasadocomAnaMaria 29 Treineficouvivoem15dejaneirode1826quandochegouaoBrasil,comseus amigosefilhosMariaElizabeta,JooFelipeeJooCarlos,emPortoAlegre;fixou indstria e comrcio de pedras preciosas e morreu dia 21 de julho de 1862 (UFRGS, WERLANG,2009).DafamliadosBohrer,Rudolph,tambmfoiumprecursor (HORTA, 1981). As oficinas de ourivesaria e lapidao eram ao mesmo tempo lojas, onde era comumreceberclientesetercontatodiretocomoprodutoqueestavasendo desenvolvido. O viajante Walsh comentou com escndalo, com o que se deparou no RiodeJaneiro:"acasadelapidaodoRiodeJaneiro,notinhaqualquer policiamento;eraumedifciograndeedesguarnecido,comoumestbulo,to pblicoquantoarua,ondequalquerpessoapodiaentrarsemindagao...ese fosseconvidado,poderiamanuseareexaminarosdiamantes;ogovernovendia-os nobruto,mastodospreferiamcompr-loslapidados.Asoutraspedrasningumse preocupavaemlapidar,eramgeralmenteenviadasaEuropaeasqueeram lapidadas no Brasil, ficavam mal lapidadas (WLASH, 1830;VALLADARES, 1952). Asjoalheriaseaschamadas"Casascomeavamasurgirnestemesmo sculoeasmaisantigaseramaCasaMassonde1871,emPortoAlegreea Joalheria Pdua fundada em 1888 em Diamantina (MAGTAZ, 2008). 2.3.3 O incio das lapidaes e joalherias nas cidades brasileiras Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, poca do auge da lapidao no Brasil, houve grande emigrao de estrangeiros, principalmente no Rio de Janeiro e interior(Petrpolis).EmTefiloOtonihaviacercade150lapidriosenoRiode Janeiro cerca de 50 ou 60, e mais lapidrios espalhados em Minas Gerais. A gata eraembarcadadasproximidadesdeSoledadeparaMinasGeraisemvezdese guiarparaIdar-Oberstein.LogoapsaentradadosEstadosUnidosnaSegunda GuerraMundial,oBrasilmanteveintensaprocurademineraisestratgicose essenciais, comodiamantes indstriais, quartzo hialino, mica, cassiterita (estanho), scheelita (tungstnio), tantalita e columbita (metais de terras raras) e berilo industrial paraaproduodeberilometlico.Em1958oBrasil,exportavamaisgemas lapidadas do que bruta, contando a gata, com qualidade boa, porm no igual aos padres de Idar-Oberstein, anteriores a guerra. A qualidade nesta poca era julgada 30 quase que exclusivamente pela cor, difuso do brilho e peso, sendo desconsiderado ocorte,poisalapidaobrasileirapossuasimetriaecalibragemruins.Oscortes eramfeitoscomdiscosdeligadeestanho(75%)echumbo(25%)ecarbetode silcio (carborundum) como abrasivo. O polimento era feito com trpoli (slica em p, granulaofina)sobrediscodeferrofundidocobertodechumbo.Aeletricidadej erauniversalmenteusadaparaseufuncionamento,inclusiveparamquinascom mancais de madeira, utilizada com fora manual, como antigamente.A superfcie do disco era ligeiramente cncava, resultando faces polidas com alguma convexidade e poderiaserpercebidaemquasetodososcortesbrasileiros(SLAWSON;BASTOS, 1958). - So Paulo EmSoPauloencontrou-seregistrosdaCasaHanau,quefoifundadaem 1862 por imigrantes alemes de origem judaica. Edmond Hanau foi seu fundador e tinha sede em Paris, Rio de Janeiro e So Paulo. Depois de algum tempo firmou-se exclusivamenteemSoPauloepermaneceupormaisdeumsculo.Edmond Hanau foi sucedido pelo sobrinho Rodolpho Raphael Weil e primo deste, Jos Levy. ApsRodolphoseusfilhososucederam:EdgardBenzinWeil(quepossua conhecimentodeouriveseseinteressavapelocomrciodejiasegemas)e ArnaldoLeopoldWeil(gostavamaisdocomrciodegemasefoimembroda Associao Brasileira de Gemologia). OtiodeJosLevypossuaumaJoalheriaemSoCarlos,chamadapor JoalheriaParisienseondetrabalhouetornou-seproprietrio.Teveumnicofilho, Alfredo Levy, doutor em qumica. Tiveram endereos na Rua So Bento, 55 e depois 355; em 1954 na Galeria Califrnia, com frente para Rua Dom Jos de Barros, com entrada pelo trreo e loja no primeiro andar. Em 1966, Edgard montou escritrio de compra e venda de pedras preciosas,naAl.Santos,2395ealipermaneceuat1980,datadeextinoda empresa. RodolphoeLevymorreramnomesmodiacomamesmaidade,dia3de maro de 1954. Edgard B. Weil, dia 8 de novembro de 1978, faleceu em Paris e foi enterrado em So Paulo (LUCHIN, sem data). 31 Franca NocomeodosculoXX,Francachegouaconcentrarmaisde100 lapidrios, com salrio em mdia de cada lapidrio, US$ 1 mil por ms. H cerca de cincoanos,osrgosambientaisapertaramafiscalizaoeosnegcios comearamaruir.NosculoXXIonmerodelapidriosnochegaavinteeos ganhos despencaram pela metade. A operao quilate prendeu comerciantes, com a pretenso de desvincular o comrcio ilcito, no Brasil e suas vendas no exterior, de diamanteegemas,brutaselapidadas,semprocedncialegal(JORNAL GAZETILHA, 16/08/09). - Minas Gerais Diamantina Asterrasdiamantinensestiverampovoamentorpidoeintensoemfuno, primeiramente,dadescobertadeouroe,posteriormente,dosdiamantesali encontrados. De incio, foram para l pessoas da regio paulista e baiana, seguidas por grandes grupos de portugueses. O maior nmero de brancos era composto por portugueses de origem judaica e cristos-novos. De 1870 a 1890 ocorreu uma crise emDiamantinadevidoaosachadosdediamantesnafrica.Comerciantestiveram emmedia80%deprejuzoedoisdelessesuicidaram(JacintoLeitedeFariae PauloDiasdeOliveira).Acompradediamantesatoanode1912eraquaseque exclusivodaconhecidacasadosSrs.LuizdeRezende&CiadoRiodeJaneiro representando os ingleses, franceses e holandeses. (MARTINS, 2007; NEVES) MineradoresdaregiopartiramparaoRiodeJaneira,Lisboa,Londrese Amsterdamparavisitarcasascompradorasdediamantes,lapidaes,joalheriase empresasmineradorasafimdepesquisaroqueseriamelhorparaDiamantinae voltaramconvencidosqueodiamantedeveriaserlapidado.Foidaquesurgiuo impulso para a abertura da primeira lapidao em Diamantina. (MARTINS, 2008) Em1873,ojornal"OJequitinhonhasaudavaonascimentodosetorde lapidao em Diamantina pela iniciativa individual (O JEQUITINHONHA, 2/09/1873). Asprincipaislapidaesforaminstaladasentreosanosde1873e1875,no distritodeGouveia.SendoelesocomendadorSerafimMoreiradaSilvaeseu melhorlapidrioSr.JosPereiradaSilva,da"FbricadaPalha(1873-1897);o BarodeSoRoberto,da"FabricaVitriaAugusta(1874-1895);oconselheiro JoodaMataMachado,"FbricadaFormao(1875-1930)dirigidaporLuis 32 PaulinodeOliveiraMirandaevendidaem1915paraoCoronelJosNeves Sobrinho,eosirmosFelciodosSantos,daLapidaoBiribiri(18781911)que funcionou dentro das instalaes da fbrica de tecidos da firma Santos & Cia. Todos eles mineradores e negociantes de diamantes.Oslapidriosresponsveiseramdeorigemportuguesa.Aslapidaes empregavamforahidrulicaeosaprendizeseramjovensdaregio.Noanode 1890, 146 pessoas trabalhavam na profisso. Outras oficinas menores instalaram-se em diversos municpios ao redor, de 1875 a 1882. Os Mata Machado fundaram em 1891,aUnioOperriaBeneficentedeDiamantina,destinadaaagregaroficiais lapidrios,ourivesentreoutros,proporcionandomaterialdesocorroaosenfermos, aosfilhosevivasdeixadospelosmembrosfalecidoseeducaoprofissional (MARTINS, 2007). - Joalheria de Pdua Uma das joalherias mais antigas do Brasil, fundada em 1888, e que funciona at hoje em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, gerenciada hojeporAntniodePdua,netodofundador.Estafoiresponsvelporcriare produzirjiasparaacorteeafidalguia,almdecamafeusesculpidosemcristais. Porm o grande destaque da joalheria foi desenvolver a confeco de jias em ouro e coco, criada pelo joalheiro Ezequias Lopes, provavelmente por volta de 1870, que afirmou a um jornal do final do sculo XIX ser o inventor da tcnica. Ele teve como aprendizAntniodePduadeOliveira,quefundouaJoalheriadePduae disseminou a tcnica do coco e ouro (ASPAHAN, 2008). Figura 18 - Camafeu esculpido em cristal, da Joalheria de Pdua (ASMINASGERAIS, 2009). 33 Tefilo Otoni Ofundadordacidade,homemdenegciosepoltico,TheophiloBenedicto Ottoni, estabeleceu-se na cidade, chamada na poca de Nova Filadlfia em 1853 e trouxeimigranteseuropeusquecolonizaramedesenvolveramacidade,esses imigrantessendoprincipalmentealemesesuos.Construiuacidadecom fazendasecriaesdegados,enquantoissoalgunscolonos,prospectavamas florestas em busca de pedras preciosas, como no tempo dos bandeirantes. Acharam turmalinasprximosaregioepassouasetornarnaturalmenteocentrode comrcio de gemas (ELAWAR, 1989). Em 1896, o imigrante libans Abel Ganen chegou a Tefilo Otoni e abriu uma loja que levava seu nome. Ganen percebeu o nmero crescente de pedras preciosas e seu bom pagamento. Conheceu um alemo chamado Feliciano Bamberg e atravs dele,comeouavenderpedraspreciosasparaaAlemanha.GaneneBamberg tornaram-se parceiros e Bamberg se mudou para a Alemanha para lapidar as pedras emIdar-ObersteinenquantoGanenpermaneciaemTefiloOtoni.Aexportaode gemas em Tefilo Otoni estava sendo iniciada (ELAWAR, 1989). Duranteoanode1930,umnovogrupodealemesveioparaTefiloOtoni. Willy Haihau e outros lapidrios ensinaram aprendizes locais com a mesma tcnica utilizada em Idar-Oberstein, sendo inicializada a indstria de lapidao. RudolphPurper,umacapazlapidrioalemo,chegouem1938elapidouo topzio azul de 101ct de Marambaia em 1946 com muito sucesso. UmimigrantelibanschamadoSalimdeAlmeidaElawarchegouaTefilo OtoninocomeodosculoXX.FoiamigontimodafamiliadeAbelGanene tambm comeou a comercializar as pedras coradas.DentrodeoutrogrupodealemoimigrantechegoucidadeHermannHohl que se tornou o melhor joalheiro da regio.A cidade at hoje conhecida e desenvolvida basicamente com o comrcio e alapidaodegemascoradas,porpossuirgrandequantidadedepegmatitosno local (ELAWAR, 1989). 34 - Rio de Janeiro Capital ComachegadadafamliaRealaoRiodeJaneiroeatransfernciada lapidaodeLisboaparaoBrasil,oRiodeJaneirotornou-serefernciana lapidao de diamantes.H relatos de uma indstria nas redondezas da Gvea, nfinaldosculoXIX,comtrsouquatrooficinas,todaselasmovidaporfora hidrulica e se lapidavam gemas para quase todos os ourives da cidade. Petrpolis Aps a queda de produo dos diamantes com o achado das minas na frica, as oficinas de lapidao no Brasil quase desapareceram e foi no durante a Segunda GuerraMundialqueumconsidervelnmerodelapidrios,fugidosdaEuropae alguns da Blgica, criaram a cidade de Petrpolis. Com o trmino da guerra, esses lapidrios voltaram para seus pases de origem, deixando vrios aprendizes que se tornaram durante o sculo XX, importantes lapidrios e comerciantes de diamantes (MAGTAZ,2008).Otempofoiureoat1946,quandochegouacrise.Juscelino Kubitscheknapocaaindadeputado,disponibilizou-seaajudar.Apartirde1950 apsaguerra,asituaocomeouamelhorar.Foramencontradosrelatosde lapidaes e joalherias da poca, encontrados em jornais: - Lapidao Santa Rita FundadorepioneirodaindstriadediamantesemPetrpolis,Carlos RodriguesDias,instalouumalapidaocommaiscincocompanheirosdegrande capacidadetcnica,em1944.MaxSpindoladeBarrosumdoscompanheiros obtinha papel de destaque. Foram eles grandes produtores de diamantes lapidados (O BRASIL INDUSTRIAL, AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950, PAG 89). 35

Figura 19 - esquerda, Carlos Rodrigues Dias e direita "A Lapidao Santa Rita"(O BRASIL INDUSTRIAL, AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950). Desde1948,CarlosRodriguesDias,seafastoudoscompanheirose organizouumafirmaindividual,contratandofuncionrios,sendoquealapidao tinhacapacidadeparaproduodemilpedraspor ms.Seuincio foi marcado por grande esforo. Em 1941, entrou na "Escola Profissional de Lapidao existente em Petrpolis,localizadanaRuaRiachuelo,140,organizadapela"ndstriaBrasileira deDiamantes(OBRASLNDUSTRAL,AGRCOLA,COMERCALEPOLTCO, 1950, PAG 89). - A Tradicional Em Petrpolis, os membros da famlia Rittmeyer foram grandes joalheiros.O seufundadoroSr.CarlosHermanoRittmeyer,veiodoRiodeJaneiro,ondetinha casa comercia, em 1838 . Fundou em Petrpolis em 1845 a oficina Rittmeyer e em 1850,jprecedidodegrandefamaecompetncia,inaugurouaprimeiracasade jias e relgios de Petrpolis, na poca na Rua Bourbon, 35, chamada "Joalheria e RelojoariaRittmeyer.PessoasfamosascomoSantosDumontfreqentavama joalheria.Eletevenovefilhos,FredericoAugusto,Carlos,Carolina,Hermano, Miguel,Paulo,Henrique,BernardoeHelena,eosensinouaprofisso.Todoseles seguiramaprofisso.Comamortedoseufundadoremaistardedosdoisfilhos mais velhos, os irmos renomearam a joalheria para Rittmeyer & Irmos. Decorrido alguns anos a firma se dissolveu e os irmos trabalhavam sozinhos. Um dos irmos, Henrique, abre a "Antiga Joalheria e Relojoaria Rittmeyer.Henrique vindo a falecer deixouaempresa,slida,paraseufilhoGuilhermeRittmeyer,quemudouonome para"ATradicional,epermaneceupormuitosanos,defendendoonomedeseu 36 fundadorSr.CarlosHermanoRittmeyer(OBRASILINDUSTRIAL,AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950, pag. 90). - Lapidao Araguaia Em1945,oitojovenslapidriosforamorganizadoresda"Lapidao Araguaia,comendereonaRuaMosela,1028;napoca,comearamcom pequeno capital e contavam com mais dois funcionrios. Os nomesdos oito jovens eram: Arthur de Oliveira (diretor-gerente), Henrique Nicolay (diretor), Heitor Antunes (diretor),WaldemarBittencourt,GervsioSeixas,MiltonTernes,AlairMachadoe PedroMachado(OBRASILINDUSTRIAL,AGRCOLA,COMERCIALEPOLTICO, 1950, pag. 90). Figura 20 - Estabelecimentos da Lapidao Araguaia (O BRASIL INDUSTRIAL, AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950). - Max Spindola e a Indstria de diamantes. Sr.MaxSpindoladeBarros,paraenseinteligenteeeficaz,estudoucomSr. Carlos Rodrigues Dias na "Escola Profissional de Lapidao e aps ter concludo o cursomontavamcomosciosa"LapidaoSantaRita.Pormadesfizeramem 37 1948, devido ao descaso governamental na poca. O Sr. Max continuou a trabalharindividualmenteerealizarbonstrabalhos(OBRASILINDUSTRIAL,AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950, pag. 90). - Bahia Lenis margemdasjazidasdediamantesdeMucugeprximoaorioSo Francisco,naChapadaDiamantina,Leniseraconhecidacomoacidadede lapidao movida fora hidrulica. Ali se desenvolveu um ncleo urbano que pode serusadoporsuaespecificidade,comotpicodaArquiteturadaMineraodos sculos XIX e XX, na Bahia. A propriedade compreendia uma casa de residncia e a oficinadelapidao.Contaatradiolocal,quepessoasdafamliaSenna aprenderam a lapidar com holandeses e instalaram a indstria na cidade e chegou a possuirtrsoficinas,em1880.Umalocalizava-seprximaaIgrejadoSenhordos Passos (imagem1) e desapareceu diante as novas formas urbanas, restando apenas achamadaCasadaLapidao,noaltodaEstrela(imagem2)quejexistiaem 1885,sendoesteprdioincorporadoaopatrimniodeumhoteldacidade.O ajudante de lapidrio, Renato Andrade, trabalhou como adolescente com seu irmo Almir Andrade, chamado de "Toniquinho e ambos aprenderam o ofcio com Hermes Neville,queaprendeucombrasileirosquehaviamaprendidocomholandeses (SANTOS, 2006). Houve tambm nas lavras diamantferas da Bahia, em Andara, a presena de um tcnico alemo que preparou competentes lapidrios (SALES, 1955). Figura 21 - esquerda e direita, vistas das lapidaes movidas a fora hidrulica(SANTOS, 2006). 38 - Rio Grande do Sul Aslavrasdequartzos,maisprecisamenteasdeametistasestolocalizadas noBrasilnaregiodomdioaltoUruguai,nosmunicpiosdeAmetistadoSul, Soledade,Planalto,Ira,FredericoWestphalen,RodeioBonito,CristaldoSul, Gramados Loureiros e Trindade do Sul (NORA, 2006). Por volta de 1828, chegaram imigrantes a Porto Alegre de Idar-Oberstein, em buscadecalcednias,sendoqueemseupas,asminasestavamexaustas.Ao chegarsemacertezadetalachado,encontraramagatasnoscursosdosrios Guaba,JacueTramanda.Comovidos,entoaramseuhinodegraassorte, "Lobgesang.H.H.Smithcomeoucomaexportaodascalcedniasparaa Alemanha;ondeem1893jeramintensas.Asgatas,jaspes,ametistasecitrinos eramenviadasaosmilheirosdetoneladasparaIdar-Obersteinelressurgea lapidao,multiplicandosuasrodasetornando-acentromundialdefornecimento das mais variadas gemas e pedras ornamentais. O distrito contava no final do sculo XXcom2000lapidriosdediamantese3000deoutrasgemascoradas (LEONARDOS, 1973). 2.3.4 Oficinas de lapidao no incio do sculo XX Nesta poca, a revoluo industrial j havia acontecido na Europa e o Brasil estavaabsorvendoasconsequnciasaospoucos.Asoficinase"Casasdejias comearam a perder o aspecto de oficina e se consolidaram como joalherias, onde o arteso no teria mais contato direto com o cliente (MAGTAZ, 2008). Porvoltade1910,oestadodeSoPauloatingeacondiodeprincipal centroeconmico dopas. Em 1913 instala-se a grande loja de cristais e pratarias, MappinStores,anteriormentenaInglaterra,seupasdeorigem,chamadapor Mappin&Webb(MAGTAZ,2008).Agemologiacriadacomocinciaem1929na Inglaterra, para avaliar e certificar pedras preciosas, s chegou ao Brasil no final da dcada de 50, pelo professor Rui Ribeiro Franco, Professor da USP. Com oficinas de lapidao no Rio de Janeiro, encontraram-se relatos de dois importantes lapidrios, dentre eles; Hugo Brill, nascido em 1858, vindo da Alemanha juntocomseuparente,AdolphBrill(1874),deOberstein/RheinpfalzparaoBrasil, peloportodeHamburgem1890,nonavioCurityba,retornandoduasvezes Alemanha,possivelmenteparabuscarfamiliares(POLONESESNOBRASIL,2009). 39 No inicio do sculo XX, Hugo Brill se estabelece com oficina de lapidao e joalheria noRiodeJaneiro,ondetrabalhacomgemascoradas.Napoca,iniciou-sea divulgaoedesejodoseuropeusporgemascoradas,turmalinas,berilos, crisoberilos e quartzos, e Hugo Brill obteve muitos encomendas. Em Gois, uma rua foi batizada com seu nome (LEONARDOS, 1973). O outro lapidrio de grande valia Emilio Schupp, nascido em Idar-Oberstein em 1882, casou-se com Johanna Knieling em 1909 e teve trs filhos, Emil Kurt, Emil ErnsteEmilErwinAlwinaindaemIdar.AntesdeimigraraoBrasil,apenasvinha buscarpedrasbrutaslevavaAlemanha,lapidavaetraziadevoltaparaoBrasil, expondo-asemDiamantinaevendendo-asemseupas.Quandoimigroudevez paraoBrasil,abreumaluxuosajoalherianaRuaGonalvesDias,comoficinasde lapidao, minas prprias e exportao de pedras preciosas, toda a famlia colabora. achadaagua-marinhabrasileira"MartaRocha,em1957,pelogarimpeiro TibrcioJosdosSantoseentregueporKurtaSchuppparaserragem,lapidao juntamente com outros lapidrios (LEONARDOS, 1973). Figura 22 - Anncio na revista Gemologia, de Emilio Schupp, 1960. Em Minas Gerais, Mol da UEMG, em 2002 coletou histria e informaes de lapidriosdosculoXXedisponibilizouosdadosparaestetrabalho.Segundoas informaes, Sr. Wilson Paixo (1930), trabalhou como lapidrio em 1942 em oficina prpria em Belo Horizonte e era um dos principais fornecedores de pedras preciosas calibradasat1974,quandosetornousomentecomerciante;oSr.HugoMorici (1924), iniciou sua carreia em 1942 na oficina do Sr. Jos de Pdua, como aprendiz de Emilio Duarte. As lapidaes da poca eram vendidas com nome de "redonda e "retangular.AlapidaoredondaeraconhecidacomoAmsterdam,ouseja,o 40 brilhante redondo muito utilizado na cidade de Amsterdam. Na poca, j era utilizada a energia eltrica como fora propulsora das mquinas (MOL, 2002). Mesmo com a evoluo das oficinas de lapidao e joalherias, as jias ainda eram importadas da Europa. A Frana ditava a moda e as pedras utilizadas nas jias brasileirasaindaeramastradicionaisusadasnaEuropa:aesmeralda,orubiea safira.ComadivulgaodaspedrascoradasnaEuropa,estescomearamase interessar e eram tratadas equivocadamente como semi-preciosas. A Casa Aliana, deCahenLevyeosJoalheirosGrumbacheFretin,declaravamaosseus compradores que tinham estoques de jias europias (MAGTAZ, 2008). ACasaMichelfoiimportantejoalheria,fundadaemsetembrode 1904,onde seusprimeirosproprietriosSr.J.MicheleArmandWorms,edepoisosscios AlphoneeJustinWorms.PossuamcanaldeimportaocomParisenoBrasil oficinas com 40 operrios (A CAPITAL PAULISTA, 1920).

Figura 23. - esquerda, Sr. Worms e direita, Casa Michel na Rua 15 de novembro, 25 e 27 (A CAPITAL PAULISTA, 1920). Em1922,FrancelinoHorta,inventouumaparelhoparalapidao,sendoele um disco numerado, uma caneta com a pedra fixada, dando a inclinao de ngulos paraofacetamento.Chegouaganharprmionaexposiodocentenrio,porm nofoiaceitapelomercadoeanosdepoissuapatentefoivendidaaosEstados Unidos onde utilizada (HORTA, 1981). Napoca,apartirde1930existiugrandenmerodeexportadorese comerciantesdegemas,entreelesErnstBeckerdeIdar-ObersteineLusLeib Perlman, ligado firma H&M; Freudmann, da Anturpia e Bernard Friedrich; Walter Kaucher,comercianteegemlogo;olapidrioEmilioRohrman(1893-1965);Hans 41 VonSteinkirch;HugoZiemerquecontituiaempresaZiemer&Ciaem1940eo judeu alemo Jonas Polak (LEONARDOS, 1973). Em1939quandoseiniciaaSegundaGuerraMundial,oBrasilrecebeu lapidriosdeorigemjudaicafugidosdeperseguiesnazistas.Elescomeavama manufatura e exploraocomercialdepedras,desenvolvendo um plolapidriono sudesteesuldopas.Aforterecessonops-guerrafezquemuitosdestes imigrantes, a maioria de origem judaica, sem estmulo para permanecer no Brasil, se destinassem ao recm-criado Estado de Israel, reduzindo significativamente o setor de lapidao no Brasil (MAGTAZ, 2008). 2.3.5 Evoluo do ofcio de lapidao no sculo XX Nesteitem,aevoluodalapidaosemostranodesenvolvimentodeduas empresasquemarcaramosculo,aH.SterneaAmsterdamSauer,duasdas maiores empresas existentes no Brasil.Comenta-se tambm sobre outros empreendimentos do ramo:primeiramente a escola de lapidao no SENAI e sua situao hoje e em segundo lugar entrevistas de lapidrios em So Paulo. - H. Stern O jovem Hans Stern (1922 2007) chegou ao Brasil aos dezessete anos com suafamlia,em1939,fugindodeEssen,naAlemanha,pelofatodeserjudeu. Nasceu com problemas visuais e comea a enxergar com o olho direito apenas aos doisanosdeidade;gostavademsicaclssicaetocavargo.Comeouentoa trabalharcomodatilgrafonaCristab,empresaexportadoradecristaisderochae pedras coloridas, que lapidava e importava pedras e minerais.Identificando uma grande oportunidade de negcio em funoda experincia adquirida, Hans Stern comeou a viajar por todo o pas, conhecendo garimpeiros e comprandopedrasdecor.Decidiuabrirseunegcioevendeuseuacordeo Hohner, para formar capital inicial (H.STERN). Em 1945, aos 23 anos, Hans Stern fundou um pequeno negcio de compra e vendadepedraspreciosasnoRiodeJaneirocomonomedeH.Stern,naRua Gonalves Dias em frente tradicional confeitaria Colombo (MAGTAZ, 2008). 42 Dopequenoescritriodeexportao,Hanspassouaproduodejiase lapidao de pedras. Percebendo o interesse dos europeus em gemas coloridas, ou seja, nas gemas brasileiras, em 1949 Hans fundou uma pequena loja na estao de desembarquedosnaviospassageiros,naPraaMauecomeouadivulgaras gemascoradasbrasileirascomopedraspreciosascomvalorsemelhantes tradicionais europias, pois o chamado semi-preciosas era errneo. No mesmo ano desenvolveu um certificado de Garantia Internacional para atestar o valor das gemas e jias. Logo depois abriu uma loja no Hotel Quitandinha, em Petrpol


Recommended