A LINGUAGEM CÊNICA
Caixa cênica
A caixa cênica é uma construção cúbica que não tem janelas e nem sistema de ar condicionado. É recomendável um pé direito no mínimo 2 vezes e meia a altura da boca de cena, sendo seu limite superior uma grelha metálica com recursos técnicos nela instalados. Não se deve condicionar o ar para o palco, pois, normalmente, os atores aquecem a voz e o corpo antes de entrar em cena, um resfriamento do ar poderia acarretar em uma situação prejudicial à sua saúde e seu consequente desempenho. Além disso, uma circulação de ar dentro da caixa provocaria movimentação das vestimentas, cenários e equipamentos de luz instalados às varas. Deve-se evitar a passagem da tubulação de ar-condicionado dentro da caixa cênica, mesmo sem a função de resfriar o ambiente, pois fatalmente prejudicaria a instalação e manobra da maquinaria cênica.
Urdimento
É a altura superior da caixa cênica, o espaço vazio acima do ângulo de visão do espectador. O seu limite superior é a grelha, onde são fixados recursos técnicos e operacionais, tais como as roldanas ou gornes, que vão permitir o deslocamento das varas de luz e cenário. Tem como função abrigar os cenários que farão as mudanças das cenas, subindo ou descendo. Permite a instalação de equipamentos de luz e de efeitos, montagens das maquinarias e manobras para efeitos especiais como os aparecimentos e voos das personagens. Quanto maior o número de varas instaladas maior serão os recursos para as montagens.
Varandas
São construções como passadiços ou janelas construídas nas paredes laterais da caixa cênica, sobre o espaço das coxias. Têm a função cênica de manipulação dos cenários, equipamentos e manobras especiais instaladas nas varas. São no mínimo dois níveis de varanda. A varanda de manobra instalada acima do nível da boca de cena, onde o maquinista faz a manipulação das mudanças dos cenários. A varanda de lastro, no nível abaixo da grelha e numa altura que permita o total percurso das varas e consequentes carros de contrapeso, é o espaço destinado ao armazenamento dos lastros ou pesos e que serão utilizados na contrapesagem dos cenários e equipamentos instalados. As varas deverão atingir o nível do piso do palco e os carros de contrapeso atingirão o nível das roldanas de cabeça. Este é o percurso das varas na altura total do urdimento. A parede lateral da caixa que recebe as guias dos carros de contrapeso no sistema metálico, e que recebe a barra de malaguetas é chamada parede de maquinaria e define a altura da caixa cênica. Deve ser livre de vãos ou aberturas de qualquer natureza, pois, a sua montagem perpendicular à linha da boca de cena, é prevista de recursos operacionais em toda a sua largura, que é a profundidade da área de cena ou palco.
Coxias
São os espaços laterais da caixa cênica e tem a função de albergar os cenários que entram e saem de cena, espaço para organização da contraregragem, espaço para preparo e concentração do artista, espaço para impulso e freagem dos movimentos dos bailarinos, espaço de direção interna da cena e concentração de técnicos operadores. Devemos ter coxias generosas, pois, quanto maiores, maior será a liberdade criativa e dinâmica dos espetáculos. A altura das coxias deve corresponder à altura da caixa cênica. Para os palcos dos grandes teatros que recebem montagem de óperas devem-se propor coxias no mínimo da mesma largura da boca de cena, resguardados os espaços das fugas que são definidos pelas vestimentas instaladas.
Palco
Conceitualmente palco é a área de cena e não tem limites laterais definidos. A boca de cena define a abertura da área de encenação. O palco será definido a partir das linhas de visão do espectador numa relação com a área de cena proposta pela cenografia. É o espaço do espetáculo visto. Recomenda-se uma profundidade no mínimo igual à boca de cena. Esta forma "quadrada" de propor a área de cena permite que a arquitetura cênica não seja um agente limitador na estética da encenação. O palco e as coxias poderão receber equipamentos próprios. Os elevadores de palco e do fosso da orquestra, palcos móveis e giratórios deverão, para o seu projeto e instalação, receber a consultoria de profissionais especializados em cenotécnia para a definição do equipamento a ser utilizado e de suas exigências para a instalação, funcionamento e manutenção.
Porão
É o espaço vazio inferior da caixa cênica. Tem como função à continuação do palco como espaço cênico, permitindo o aparecimento de personagens e equipamentos de efeito. Quando o piso do palco é montado em quarteladas (placas de madeira removíveis) o porão é preenchido por macaquinhos. Num palco com elevadores ou outros recursos o porão é o espaço de percurso e de máquinas.
Iluminação cênica
A iluminação cênica exige cuidados quanto ao cabeamento, plugs e equipamentos como dimmers, refletores, mesa de comando e demanda quase sempre total dos pontos instalados. Os pontos instalados deverão prover ao máximo as possibilidades de uma luz cênica, sem um limite de potencial criativo, e, portanto definidos e montados por um profissional especialista.
Plateia
É considerada uma boa inclinação para a plateia degraus com altura entre 15 a 18 cm e patamares de 95 cm de largura. Com este perfil ficam inviável circulações internas rampa das o
que seria ideal para atender aos idosos e paraplégicos. Soluções como espaços reservados na última fileira e quando possíveis acessos externos em diferentes níveis da plateia por meio de rampas ou elevadores são as soluções adotadas. As cadeiras são colocadas desencontradas em relação a sequencia das filas, ou seja, o eixo das cadeiras de uma fila não coincide com o eixo da fila frontal ou posterior. As circulações internas da plateia devem fugir do eixo central, pois, sendo o melhor ângulo de visão do espectador é ideal que seja ocupado por cadeiras. O ideal são as circulações laterais.
Para a acústica é necessário um apoio técnico de um profissional e em conjunto definir o revestimento das paredes, forro e chão numa combinação de materiais ora reflexivos, ora absorventes. A forma definida pela arquitetura deve colaborar com a acústica, ou seja, paredes laterais não paralelas e uma boa cubagem. Estima-se que uma boa cubagem fica em torno de um volume igual a 5 a 6 m3 por espectador.
Um importante elemento cenotécnico presente na plateia é a ponte de iluminação. Seu posicionamento, próximo ao palco, é definido pela angulação máxima e mínima dos refletores em relação ao palco e ao proscênio. A ponte de luz deverá ter dimensões confortáveis (100 x extensão da plateia x 190) para o técnico afinar os refletores. Para o melhor posicionamento dos refletores, é interessante que o comprimento da ponte de luz se prolongue por toda a extensão transversal da plateia. Uma passarela de serviço, sobre o forro da plateia interligando o palco e a cabine de operação, agiliza o trabalho do cenotécnico além de ser necessária para manutenção das lâmpadas.
Quanto à cabine de operação, é ideal que esteja situada no eixo da plateia, consequente eixo do palco. As dimensões são baseadas nos equipamentos a serem adquiridos. Quando possível, possibilitar uma instalação sanitária para o operador. O visor pode ter vidro, mas nunca fixo isto impossibilitaria o operador de ouvir o espetáculo e, consequentemente, equalizar o som.
Foyer
O foyer com sua iluminação suave proporciona ao espectador uma preparação para o espetáculo. Pelas ansiedades e expectativas do público, o ambiente deve se apresentar bastante aconchegante aos seus sentidos. Apoios como sanitários e um café seguem a proporção do número de espectadores.
A bilheteria é interessante que esteja dentro do teatro para proporcionar mais segurança ao público. Uma sala para a administração que esteja próxima à bilheteria e ao foyer é uma boa sugestão.
Teatro italiano:Caracterizado pela disposição frontal da plateia ao palco, o palco italiano é o mais utilizado, dentre as tipologias existentes. Além dessa disposição frontal da plateia, outros elementos caracterizam o teatro italiano: palco delimitado pela boca de cena e sua consequente cortina e
a presença da caixa cênica com urdimento, coxias e varandas.
Teatro elizabetano ou esporão:Nesta configuração a relação palco x plateia é diferente da estabelecida no teatro italiano. A plateia envolve o palco em três lados – frente e laterais. Não há, na maioria das vezes, a presença da boca de cena e da caixa cênica, ficando toda a estrutura da área de cena à vista do espectador – varas de cenário, iluminação e outros recursos técnicos e operacionais.
Teatro de arena:Palco inserido no meio da plateia. Nesta tipologia a plateia é disposta em todos os lados ou em toda a circunferência do palco, podendo sua forma ser circular, triangular, quadrada, trapezoidal, etc. Esta configuração é muito comum ser instalada ao ar livre. É preciso observar ventos dominantes e os anteparos naturais como árvores e montanhas ao implantar as arenas, pois, estes são elementos que definirão acústica.Assim como no teatro elizabetano ou esporão, toda a estrutura do palco fica à vista do espectador, como por exemplo, a grelha para iluminação. Poucos edifícios teatrais são construídos nessa relação palco e plateia.
Teatro de rua ou passarelaPalco instalado longitudinalmente entre duas plateias distintas. Estes palcos são, muitas vezes, instalados nas ruas, praças, parques etc. Com ou sem caixa cênica, o espetáculo estabelece uma diferente estética de encenação, com saídas e entradas de cena sempre pelas laterais do palco.
Teatro múltiplo
Os teatros chamados múltiplos são caracterizados pela possibilidade de montagem do palco em diversas posições, não possuindo uma caixa cênica propriamente dita. Varas de cenário e iluminação, varandas de manobra e carros contrapesados, são colocadas visíveis aos olhos do espectador, distribuídos por toda a extensão do espaço possibilitando a liberdade de escolha do local e da configuração do palco e da plateia a ser instalada.
http://www.lazuliarquitetura.com.br/frame_teatros.htm