OLHOS DE GIGANTE
A PARTIR DE ALMADA NEGREIROS
CRIAÇÃO TEATRO O BANDO
DOSSIÊ PEDAGÓGICO
1
ÍNDICE
Ficha artística 2
Entre uma verdade e a outra está a dúvida, por Miguel Jesus 3
Texto de Jorge Salgueiro 4
Manifesto visual, por Rui Francisco 5
Biografia de José Almada Negreiros 7
A cena da escrita na poesia de Almada Negreiros, por Gustavo Rubim 8
Almada Negreiros e a sua obra 14
Excerto do poema O Menino d’olhos de gigante, de Almada Negreiros 17
Sugestão de atividades 24
Notas biográficas dos criativos e atores do espetáculo 28
Equipa Teatro Nacional D. Maria II, E.P.E. 35
2
OLHOS DE GIGANTE a partir de ALMADA NEGREIROSALMADA NEGREIROSALMADA NEGREIROSALMADA NEGREIROS
ATÉATÉATÉATÉ 21 ABR’21 ABR’21 ABR’21 ABR’13131313
Sala Estúdio
4.ª e 5.ª 11h
6.ª e sáb. 21h15
dom. 16h15
FICHA ARTÍSTICA
a partir de ALMADA NEGREIROSALMADA NEGREIROSALMADA NEGREIROSALMADA NEGREIROS
dramaturgia e encenação JOÃO BRITESJOÃO BRITESJOÃO BRITESJOÃO BRITES e MIGUEL JESUSMIGUEL JESUSMIGUEL JESUSMIGUEL JESUS
com ANA BRANDÃOANA BRANDÃOANA BRANDÃOANA BRANDÃO, RAÚL ATALAIARAÚL ATALAIARAÚL ATALAIARAÚL ATALAIA e GIL GONÇALVESGIL GONÇALVESGIL GONÇALVESGIL GONÇALVES (músico)
cenografia RUI FRANCISCORUI FRANCISCORUI FRANCISCORUI FRANCISCO
música JORGE SALGUEIROJORGE SALGUEIROJORGE SALGUEIROJORGE SALGUEIRO
oralidade TERESA LIMATERESA LIMATERESA LIMATERESA LIMA
figurinos CLARA BENTOCLARA BENTOCLARA BENTOCLARA BENTO e FÁTIMFÁTIMFÁTIMFÁTIMA SANTOSA SANTOSA SANTOSA SANTOS
desenho de luz JOÃOJOÃOJOÃOJOÃO CACHULOCACHULOCACHULOCACHULO
criação TEATRO O BANDOTEATRO O BANDOTEATRO O BANDOTEATRO O BANDO
coprodução TNDM II TNDM II TNDM II TNDM II e TEATRO O BANDOTEATRO O BANDOTEATRO O BANDOTEATRO O BANDO
duração 1h1h1h1h
M/6
3
Não tenhas medo de estares a ver a tua cabeça Não tenhas medo de estares a ver a tua cabeça Não tenhas medo de estares a ver a tua cabeça Não tenhas medo de estares a ver a tua cabeça
a ir directamente para a loucura, não tenhas a ir directamente para a loucura, não tenhas a ir directamente para a loucura, não tenhas a ir directamente para a loucura, não tenhas
medo! Deixamedo! Deixamedo! Deixamedo! Deixa----a ir até à loucura! Ajudaa ir até à loucura! Ajudaa ir até à loucura! Ajudaa ir até à loucura! Ajuda----a a ir a a ir a a ir a a ir até à até à até à até à
loucura. Vai tu também, pessoalmente, com a loucura. Vai tu também, pessoalmente, com a loucura. Vai tu também, pessoalmente, com a loucura. Vai tu também, pessoalmente, com a
tua cabeça até à loucura!tua cabeça até à loucura!tua cabeça até à loucura!tua cabeça até à loucura!
Almada NegreirosAlmada NegreirosAlmada NegreirosAlmada Negreiros
4
ENTRE UMA VERDADE E A OUTRA ESTÁ A DÚVIDA Miguel JesusMiguel JesusMiguel JesusMiguel Jesus
E se a luz do sol brilhasse durante vários dias seguidos, em dias contínuos
com oscilações mínimas, prosseguindo de dia e de noite, ou melhor, de dia
e de dia e de dia? Esqueceríamos nós as várias tonalidades que
atravessam normalmente o céu ao longo das horas? Deixaríamos de
compreender quão reveladora pode ser a noite? Caminharíamos para o
culto de um obscurantismo luminoso de quem aos poucos perdeu a
capacidade de sonhar? Até quando conseguiríamos erguer nossos Olhos
de Gigante, experimentando ver o que não existe realmente, ousando
dizer que a realidade nos é insuficiente, castradora, diminuta? De dia e de
noite todos somos sempre os primeiros censores de nós próprios,
agrilhoando vontades, dissipando gestos e amordaçando alguns gritos.
Diminuindo o sentido crítico, fazendo das quimeras ilusões, das utopias
ingenuidades e dos desejos apetites, aceitando essa estranha realidade
que se constitui enquanto ponto de encontro de vários sonhos esquecidos.
Se o sol estivesse a pino há muitos meses, quanta coragem seria
necessária para olharmos a nossa própria sombra projectada nas
paredes? Conheceríamos o nosso vulto e saberíamos reconhecer-nos?
Lembrar-nos-íamos de como as sombras crescem e ultrapassam a nossa
dimensão nas horas em que o sol entardece ou em que a lua nasce? Será
que acreditaríamos ainda que algo poderá desaparecer quando a luz se
apagar e que alguma coisa finalmente poderá aparecer quando a
escuridão se acender? Ou, loucos reais cheios de luz por dentro, uma
sombra breve bastaria para acordar o nosso sonho e nos lembrar que o sol
não deve imperar sobre a escuridão? Saberíamos ainda que sonho e
realidade fazem parte de um mesmo equilíbrio interdependente?
Sonhando ou não sonhando, todos seguimos divididos, existindo à vez
dentro de nós mesmos. Por vezes vemos somente aquilo que está mais
perto, ocupados com os afazeres de cada dia, por outras sonhamos com as
paisagens e as quimeras mais longínquas, sem conseguirmos distinguir os
contornos que nos rodeiam. Por vezes não sabemos sonhar senão a vida,
por outras não sabemos viver senão o sonho.
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Se ao longo de gerações e gerações o sol parasse alto, quente, sufocante?
Se a sua luz nos cegasse, qual longo período de trevas, e a noite não fosse
senão um mito escuro? Teríamos ainda memória de como frente ao sol
rasante o nosso delírio se costumava erguer maior que tudo o que é
visível? Quando desejássemos fantasiar, partir para o desconhecido,
habitar um mundo desvairado e delirante, saberíamos por onde começar?
Saberíamos ainda da proximidade que inventar tem de imaginar e
imaginar de idealizar? Tanto partindo como ficando, todos sonhamos
outras vidas, outras terras, outros tempos. E só as verdades inquebráveis,
como um sol pequeno, dourado, poderoso e inquestionável, nos fazem
desistir antes mesmo de começar, transformando os sonhos em miragens.
Pelo contrário, aceitar o jogo da ilusão, criar, não é mais que duvidar,
aceitar e acarinhar a dúvida, continuamente. Acreditando sempre.
Alargando os nossos horizontes. Não nos tornando imóveis pela hesitação
ou pelo medo mas deixando-nos sim num exercício de interrogação
ininterrupto que luta contra o nosso próprio conformismo. Nesses
momentos de dúvida saberíamos então exactamente o que estamos a
dizer. E certamente lembraríamos as palavras do Mestre da Simplicidade:
“muito mais difícil do que responder é perguntar”.
dez de Março de dois mil e treze [este texto não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico]
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TEXTO DE JORGE SALGUEIRO É português o mais importante tubista do mundo, Sérgio Carolino. Gil
Gonçalves foi seu aluno e é também ele um tubista excepcional em
qualquer parte do mundo. Refiro este instrumento porque é o que faz
parte desta peça, mas Portugal tem hoje a maior e mais bem preparada
geração de músicos da sua história (como em muitas outras áreas, muitos
estão a emigrar, outros a desistir). Pergunto-me todos os dias o que será
dos milhares de jovens que estudam nas dezenas de conservatórios que
proliferam pelo país. Apesar disso, as instituições que mais dinheiro
recebem do estado com actividade na área da música continuam cegas,
surdas e mudas ao que se passa no país, sem estratégias a longo prazo,
nem sequer uma estratégia de emergência para amortecer este tsunami.
Nomearam pessoas sem um pensamento para o país, o nosso país, e
deixam-nas praticar o mais descarado colonialismo cultural. Adoramos
entregar o ouro ao bandido… Pior que isto, só os juros da dívida e um 1º
ministro desafinado. É psicológico.
Jorge SalgueiroJorge SalgueiroJorge SalgueiroJorge Salgueiro, Março 2013 [este texto não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico]
7
MANIFESTO VISUAL
8
JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS
[São Tomé, 1893 - Lisboa, 1970]
"Almada Negreiros nasce em 7 de Abril de 1893 na
Fazenda Saudade, em São Tomé. É uma
personalidade que se afirma, desde o princípio
deste século, em vários campos da arte e da
literatura. Na definição de Carlos Queirós, ele é
«desenhador, conferencista, bailarino, novelista,
crítico-panfletário, pintor e poeta. Em tudo, e
sobretudo, poeta. Ele próprio, humanamente,
poeta».
A posse dessas vocações múltiplas leva-o a Paris, na mesma década em
que Sá-Carneiro aí se exila, e, mais tarde, a Madrid, onde trabalha como
artista plástico entre 1927 e 1932. Em 1934 casa, em Lisboa, com a pintora
Sarah Afonso.
Em 1911 revela-se ao público através da 1ª. Exposição do Grupo dos
Humoristas Portugueses, que integra. Dois anos mais tarde, uma exposição
de caricaturas é o lugar onde conhece Pessoa, de quem se faz amigo.
Torna-se uma das figuras salientes no nosso primeiro modernismo, cujas
expressões mais conhecidas se reúnem em torno das revistas Orpheu
(1915) e Portugal Futurista (1917). Mais tarde, funda e dirige Sudoeste
(1935), cujo título alude à necessidade do seu posicionamento europeu. Os
dois primeiros números desta revista incluem exclusivamente criações ou
ensaios seus, mas o terceiro contém ainda alguns dos últimos escritos de
Pessoa. Entretanto, além de artigos dispersos em outras revistas ou jornais,
publicara já a novela A Engomadeira (1917), a colectânea de poemas em
prosa A Invenção do Dia Claro (1921) e a peça de teatro Pierrot e Arlequim
(1924).
O romance Nome de Guerra, sua obra literária de maior fôlego e,
simultaneamente, o seu texto mais conhecido, é publicado em 1938, treze
anos depois de escrito, e conta já algumas reedições. Outro texto muito
divulgado é a peça de teatro Deseja-se Mulher, editada em 1959, vinte e
um anos depois de escrita e várias vezes reformulada.
De salientar, ainda, que A Cena do Ódio, conhecida desde 1915 (esteve
impressa para integrar o terceiro número de Orpheu, que nunca chegou a
9
sair), só seria publicada em 1958, por Jorge de Sena, na antologia Líricas
Portuguesas - 3ª. Série. É um texto de referência para a compreensão do
temperamento de Almada: longo poema de introdução panfletária e em
cujo desenvolvimento se alia uma provocação amarga a um ingénuo
inconformismo, espécie de gesta em que o autor se representa como anti-
herói.
Com uma estada em Paris na altura em que esta cidade detinha os
privilégios de centro difusor das expressões culturais do novo século, com
a vivência madrilena, imediatamente anterior à Guerra Civil espanhola,
momento tido, para muitos, como matriz cultural do Ocidente que nos é
contemporâneo, é natural que Almada se queira ter constituído como
alternativa ao conservadorismo da nossa cultura dominante, estigma ou
sedimento que Sudoeste pretende ainda, em meados dos anos 30, agitar.
No entanto, é a cultura dominante que se adapta à imposição pública do
seu talento: são inúmeras as obras de arte de sua autoria patentes em
edifícios públicos (frescos, painéis, vitrais, acrílicos, tapeçaria) e muitos os
prémios e condecorações nacionais que obteve.
No campo literário, se o Manifesto Anti-Dantas (1915) pôde representar
sinal de vanguarda, as suas repercussões esbatem-se à luz dos textos
narrativos e dramáticos de criação posterior. Almada, no espaço que vai
ocupando, parece que apenas não quer, como o protagonista do Nome de
Guerra, deixar «passar a vez natural de todas as suas idades», o que lhe
terá oferecido a condição de ser reclamado por muitas tendências e
muitas escolas, que pelo menos uma das suas idades terão utilizado. A sua
posição de maldito consentido, aliada à produtividade artística, joga
também com o seu carácter espontâneo e assumidamente ingénuo, como
deixa entrever em passagens como: «a vida engelhava-se-lhe nos
pensamentos e ele não sabia doutra reacção mais imediata que a de se
acariciar mentalmente. Prometia-se um futuro risonho como chocolates
para que não chore um petiz» (Nome de Guerra).
Em Almada é sempre visível, por outro lado, e na crise do sujeito vivida
pela modernidade, a recorrência a uma ética anterior ou transcendente
que, no reordenamento do mundo, ele faz constar nas suas descrições: «Ele
fazia diferença entre viver e existir e, ao separar estes dois verbos, um
fantasma velado atravessou a sombra do repente. [...] Ele estava
efectivamente na idade de casar-se» (Nome de Guerra). Por conseguinte,
em relação aos valores da cultura portuguesa, se Almada foi um
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revolucionário de circunstância, foi porque isso lhe serviu um papel mais
grato de reformador, de reformador nacionalista: «Nós estamos
precisamente naquele espaço de terra ibérica que sobejou do tamanho da
bandeira espanhola. E por sermos desta terra e por termos seguido daqui
em todas as direcções, somos conhecidos em todo o mundo como
portugueses.» Se nele, como modernista, é «mais evidente a componente
futurista e, por vezes, um espírito lúdico de provocação» (Eduardo Prado
Coelho), e se «o futurismo está impregnado dum forte impulso de
submissão, latente em todas as juventudes, e que provoca os seus
estímulos através de resistências aparentes» (Agustina Bessa-Luís), daí se
compreenderá a permanência que a sua personalidade lhe assegura no
nosso século e que sobrevive à sua morte, ocorrida a 15 de Junho de 1970."
In Dicionário cronológico de autores portugueses. Lisboa: Mem Martins, 1991.
11
A CENA DA ESCRITA NA POESIA DE ALMADA NEGREIROS Gustavo RubimGustavo RubimGustavo RubimGustavo Rubim
Teatro é o escaparate de todas as artes.
Todas as artes são todas as peças da mesma coisa.
Almada NegreirosAlmada NegreirosAlmada NegreirosAlmada Negreiros
A Poesia passa sem aonde.
Almada NegreirosAlmada NegreirosAlmada NegreirosAlmada Negreiros
"A cena, o palco, o espaço da escrita é, tudo indica, mais amplo que o da
poesia. Como fazer então caber o maior no menor, querer ver o todo na
parte, a cena da escrita no restrito cenário da poesia?
Responder a esta pergunta não é só uma exigência posta pela poesia de
Almada Negreiros e uma exigência, em certo sentido, incontornável. A
dificuldade que coloca vem, na verdade, de uma dificuldade que a
precede: a de saber onde começa e onde acaba qualquer coisa a que se
possa chamar 'a poesia de Almada Negreiros'. A partir do momento em
que anunciamos estar em jogo o nome e a obra de Almada, sabemos de
imediato que a palavra 'poesia' não se sujeita a designar - isto ou aquilo -,
sabemos de certo modo que para essa palavra deixa de haver território
de linguagem que lhe corresponda positivamente, porque, com ou sem
precursores, foi Almada quem declarou a própria linguagem uma 'criação
da Poesia'. E não uma criação entre outras, mas, literalmente, a 'mais bela
criação de Poesia'. Recorde-se:
Quando não havia linguagem o homem foi o autor da mais bela
criação da Poesia: os nomes. Os nomes: a língua.
Está escrito no famoso texto Poesia e Criação, sem dúvida dos mais
notáveis textos de poética do século XX (pelo menos em língua
portuguesa), que além disso se poderia tomar como uma lição para
12
conferencistas se julgássemos destinada a conferencista a frase com que o
texto termina:
Dez minutos: tempo cumprido.
[...] A frase final, portanto, traz de volta - e de volta para dentro do texto,
do denso discurso em torno da poesia - a circunstância aparentemente
exterior e insignificante do acto da leitura. E isso não acontece sem um
certo choque, o choque que nos faz rir agora, ao ler a frase no fim do
texto, como deverá ter feito rir a quem a ouviu em 20 de Outubro de 1962,
proferida pelo próprio Almada na Sociedade Nacional de Belas Artes. [...]
Sem indagar ainda o que isto possa significar, retiro da última frase de
Poesia e Criação a ideia de que a ideia da poesia como criação é
inseparável, para Almada, de uma inscrição teatral da poesia. Por outras
palavras, se Almada fala aqui como autor fala - ou assina - também como
actor do seu texto.
De que maneira esta inscrição teatral da poesia pode ajudar a responder à
questão inicial, isto é, a ver na poesia a cena da escrita?
É que, justamente, ela não faz outra coisa: faz ver a cena da escrita pelo
acto da leitura, exactamente pelo mesmo gesto com que declara a
possibilidade (aliás, já cumprida) de dizer em dez minutos tudo o que há a
dizer sobre as relações entre Poesia e Criação. A demarcação do tempo
nos dois extremos do texto não aponta para o exterior do texto sem dar a
ver, no mesmo lance, o próprio corpo do texto e, portanto, sem
representar o texto dentro do próprio texto. Aquela frase final não se limita
a registar um acto de circunstância para prender definitivamente o texto à
sua circunstância ou, como diríamos hoje, ao seu contexto original: pelo
simples facto de ser escrita - e inscrita, por assim dizer, em duplicado -
como confirmação do subtítulo, desenha efectivamente uma linha de
margem ou, no idioma de Almada, um friso que funciona como reposição
de um efeito de palco mesmo na ausência do palco. Essa linha (dupla) que
se escreve para abrir na escrita a cena da própria escrita forma o que se
pode descrever como um palco de palavras. [...]
A última linha de Poesia e Criação - 'Dez minutos: tempo cumprido' -
ensina-nos, com a ironia necessária, a não pôr a figura deste corpo da
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linguagem, a linguagem-como-coisa que é a 'mais bela criação da Poesia',
ao serviço da chamada materialidade do significante. Na sua posição
obstinadamente marginal, essa linha servirá antes para frisar - na
passagem do discurso sobre a poesia para os poemas 'de outros poetas' -
que poesia e criação se ligam e talvez só se liguem no contacto com uma
certa materialidade do insignificante."
In Colóquio-Letras, n.º 149/150, Julho, 1998: 49-58.
14
ALMADA NEGREIROS E A SUA OBRA
Pela sua obra plástica, que o classifica entre os primeiros valores da
pintura moderna; pela sua obra literária, que vibra de uma igual e
poderosa originalidade; pela sua ação pessoal através de artigos e
conferências - Almada Negreiros, pintor, desenhador, vitralista, poeta,
romancista, ensaísta, crítico de arte, conferencista, dramaturgo, foi, pode
dizer-se que desde 1910, uma das mais notáveis figuras da cultura
portuguesa e uma das que mais decisivamente contribuíram para a
criação, prestígio e triunfo de uma mentalidade moderna entre nós". Assim
apresenta Jorge de Sena, no primeiro volume das Líricas Portuguesas, o
homem que, com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, mais marcou
plástica e literariamente a evolução da cultura contemporânea portuguesa
Órfão desde tenra idade, viajou para Lisboa com sete anos para casa de
uma tia materna. Frequentou os estudos primários e liceais em Lisboa, no
Colégio Jesuítico de Campolide, Liceu de Coimbra e Escola Nacional de
Lisboa. Entre 1919 e 1920, seguiu estudos de pintura em Paris, aí
trabalhando como bailarino de cabaré e empregado numa fábrica de
velas, redigindo na capital francesa muitos dos textos e grafismos que
viriam a ser célebres, como o "autorretrato". Viveu entre 1927 e 1932 em
Espanha, onde realizou várias encomendas para particulares e públicos.
15
Embora já tivesse colaborado com textos e grafismos em algumas
publicações, como Portugal Artístico ou Ilustração Portuguesa, e tivesse
participado com êxito no 1.º Salão do Grupo dos Humoristas Portugueses, é
a sua colaboração no número 1 de Orpheu, em 1915, onde publica o texto
ainda incompletamente revelador Frizos (A Cena do Ódio, destinada a
Orpheu 3, só viria a ser publicada em Contemporânea), que lhe dará a
base de lançamento para uma postura iconoclasta (o Manifesto Anti-
Dantas, apresentado no mesmo ano, é modelar neste ataque generalizado
a uma intelectualidade convencional, burguesa e passadista), tornando-se
um dos principais representantes da vertente vanguardista do movimento
modernista. Em 1917, participa no projeto Portugal Futurista, publicando
nesse órgão do "Comité Futurista de Lisboa", que co-fundara, no mesmo
ano, com Santa-Rita, o Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do
Século XX, texto que já tinha sido objeto de performance pública, e os os
textos simultaneístas Mima Fatáxa e Saltimbancos. Desenvolve
paralelamente uma intensa atividade artística, tendo colaborado, com
grafismos e com criação literária, em várias publicações, como Diário de
Lisboa, Athena, Presença, Revista Portuguesa, Cadernos de Poesia,
Panorama, Atlântico, Seara Nova e tendo fundado outras, como os
"Cadernos de Almada-Negreiros", SW, onde, em 1935, no primeiro número,
tenta equacionar, com o máximo de clareza, as relações entre civilização e
cultura, entre arte e política, entre indivíduo e coletividade, aí vindo
também a publicar um dos seus vários textos dramáticos, SOS, que, com
Deseja-se Mulher, deveria integrar o projeto, originalmente escrito em
castelhano, Tragédia da Unidade. Uma análise da obra de Almada-
Negreiros não pode deixar de considerar a complementaridade que nela
assumem as várias formas de expressão artística, nem de verificar que,
independentemente do suporte escolhido (argumento e coreografia de
bailados, exposições, happening, produções publicitárias, cinema, jornais
manuscritos, telas, frescos, mosaicos, vitrais, painéis de azulejos, palestras
radiofónicas, cenários e figurinos, cartões de tapeçaria, etc.), toda a
realização artística de Almada se distingue por certos traços comuns, não
necessariamente antitéticos, como a graciosidade e a irreverência, a
ingenuidade e a inteligência, o populismo e o esteticismo, a abstração e o
concreto. Na tentativa de encontrar a arte poética subjacente à sua
atividade exclusivamente literária, Celina Silva considera que a
"performance constitui o universal maior de toda a produção" de Almada-
16
Negreiros: "evidenciando-se no literário através da adoção de uma
conceção do verbal que é encarada enquanto ação", essa performance
verbal que "tanto é típica da postura vanguardista quanto se revela
reinstauração do verbal nos seus primórdios [...] implica um exercício da
palavra-ação radicada numa postura geradora de uma ficção do eu", ao
mesmo tempo que "A espontaneidade e o cunho comunicativo radicam
numa ambição totalizante, eivada de otimismo e euforia, que, pela
abrangência de que se reveste, aponta para um projeto de alargada
receção, embora projetado por uma elite" (cf. SILVA, Celina - A Busca de
Uma Poética da Ingenuidade ou a (Re)Invenção da Utopia (Reflexão
Sistematizante acerca da Produção Literária de José de Almada Negreiros,
Porto, Faculdade de Letras, 1992, pp. XIII, XIV). A "poética da ingenuidade"
explanada por Celina Silva, anulando qualquer descontinuidade entre a
forma linguística do poema, do drama, do texto de intervenção, e a
expressão do ensaio, da teoria poética ou filosófica, encontraria numa
"sofistificação da simplicidade" (cf. Sena, Jorge de in Obras Completas de
Almada Negreiros, vol. I, Lisboa, INCM, 1985, p. 17) o equilíbrio entre poesia
e conhecimento, num autor para quem "A Poesia "conhece" e não "sabe".
(Prefácio ao Livro de qualquer poeta).
17
EXCERTO DO POEMA O MENINO D'OLHOS DE GIGANTE Há um gigante da serra!
É um gigante tamanho
qu'a gente sente o gigante
mas não lhe vê o tamanho!
É tão grande o gigante
qu'a gente vê-lhe um pedaço
mas aonde o gigante acaba
já a vista não alcança.
Conhece o gigante a serra
e anda sempre escondido,
ora s'esconde no vento
ora finge que é luar,
ora se mistura na terra
e muitas vezes no ar,
cuida a gente que é o mar
qu'stá de longe a falar,
cuida a gente que são nuvens
que andam pla serra a passar,
cuida a gente andar na serra
e no gigante vai andar!
Esta, que se vai contar
não é história já contada,
foi pela serra ao luar
durante a noite rimada.
Lá em baixo a descansar
'stava a cidade deitada:
tão pequenos os telhados
vistos do alto da serra
qu'era os olhos d'espantar
18
e de não se acreditar
ter por baixo dos telhados
grandes casas d'habitar.
(...)
Pela serra ao luar
ia um menino sozinho
sem sono para se deitar.
Ia o menino a pensar
porque seria ele só
sem sono para se deitar?
Ia o menino a pensar
que há tanto por pensar
e a cidade a descansar.
Ia o menino a pensar
que se nasce para pensar
e nunca pra descansar.
Ia o menino a pensar
porque seria ele só
sem sono para se deitar.
Ia o menino a pensar
para nunca descansar
e ficar sempre a pensar.
Quem dorme sem ter pensado
deve ter sono emprestado,
não é sono bem ganhado.
Ia o menino a pensar
como poder arranjar
muita força para pensar.
19
Ia o menino a arranjar
muita força para pensar
e o próprio sono ganhar!
Veio o gigante do norte
disfarçado com o luar,
julgava que eu dormia,
começa a tirar-me os olhos.
Dá-me os meus olhos, gigante,
dá-me os meus olhos, ladrão!
Os olhos nunca se tiram
não servem senão ao dono.
Dá-me os meus olhos, gigante
qu'em mim é qu'os tinham posto!
Olha que Deus não s'engana
ao pôr os olhos em cada um.
Bem sei que eu sou menino
mas esses olhos são meus,
se são olhos de gigante
foram postos 'qui por Deus.
T'és gigante no tamanho
e eu sou gigante nos olhos
é Deus que quer assim
não me rapines os olhos.
Meus olhos são de gigante,
eu bem sei, eu já os vi
não é novidade nenhuma
que tu me dás, oh gigante!
20
Bem sei que eu sou menino
também que valho bastante,
no me corpo pequenino
pôs Deus olhos de gigante.
Não troco meus olhos por nada,
nem plo teu corpo, gigante!
O teu corpo é grande a mais
pra que caiba no jardim.
Eu sou do tamanho certo
que cabe por toda a parte
eu ando atrás dos meus olhos
'té onde forem parar,
não sou como tu, gigante,
olhos d'outros a roubar.
Não invejo o teu tamanho
que só cabe às escondidas
por onde eu gosto de andar
às claras pra toda a gente.
Não abuses do tamanho
não sei se sabes, gigante,
que Deus castiga com força
quem rouba o que é dos outros.
Os meus olhos de gigante
não pesam no meu tamanho,
quero tanto aos meus olhos
que os rasgo duma vez
se tu mos quiseres tirar.
Assim não pod'rás tu vir,
nunca mais, ouviste bem?
plos meus olhos espreitar.
21
Sim, sim, oh meu gigante!
não julgues, por ser menino,
não saiba fingir que durmo
quando vens todas as noites
espreitar plos meus olhos
que Deus na cara me pôs!
Talvez tenhas razão,
qu'reres meus olhos roubar,
porque um gigante sem olhos
não poderá gigantar.
Meus olhos não posso dar
nem os deixarei tirar,
mas se queres ver a lua
lá do castelo no ar
dou-te licença, gigante,
plos meus olhos espreitar;
mas não creio que tu saibas,
como eu, aproveitar
estes olhos de gigante
que Deus me deu para olhar.
Se tu quiseres combinar
pra vires todas as noites
plos meus olhos espreitar
é bem melhor para ti,
porque no caso contrário
eu já 'stou bem prevenido
e rasgo os olhos duma vez
antes que mos tir's de mim.
Tu tens corpo de gigante
falta-te olhos arranjar.
Os meus olhos de gigante
num tamanho de menino
obriguem-me a procurar
22
mim maneiras d'auguentar
o meu corpo pequenino
até que possa ficar
pró tamanho dos meus olhos;
e nunca pensei roubar
o teu corpo de gigante
que nem olhos sequer tem,
porque, juro-te, o teu corpo
a mim de nada serve
pois do que preciso agora
apenas tamanho tem.
Faze tu, como eu, gigante!
esses olhos que te deram
por pequeninos que sejam
faze tu pròs auguentar
até que possas olhar
sem teres de vir espreitar
plos meus olhos de gigante.
As meninas dos meus olhos
estão sempre a admirar
o meu corpo de menino
qu'está sempre a auguentar
para os meus olhos ganhar.
Todo o gigante que seja
começou por pequenino,
e Deus nunca fez gigantes
sempre Deus só fez meninos,
sempre Deus dá o bastante
pra que se faça gigante
ainda o mais pequenino.
Mas os gigantes d'agora
não são como antigamente
nã'é no tamanho que o são
é nos olhos da cara.
23
Foi Deus que pensou melhor
e conseguiu arranjar
pra que os gigantes d'agora
se pudessem governar
co'o corpo pequenino.
(...)
In Poemas de José de Almada Negreiros. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001.
24
SUGESTÕES DE ATIVIDADES I. Refletir com os alunosI. Refletir com os alunosI. Refletir com os alunosI. Refletir com os alunos sobre a importância dos olhos e do olharsobre a importância dos olhos e do olharsobre a importância dos olhos e do olharsobre a importância dos olhos e do olhar, um
dos temas centrais na peça e que espelha o título do espetáculo. É sabido
que, para Almada, os seus olhos por serem grandes passaram a constituir
um traço fisionómico muito pessoal que o poeta (e sobretudo o artista
plástico) largamente incorpora na visão de si mesmo.
1.1. Apresentar aos alunos o retrato e o percurso de José de Almada 1.1. Apresentar aos alunos o retrato e o percurso de José de Almada 1.1. Apresentar aos alunos o retrato e o percurso de José de Almada 1.1. Apresentar aos alunos o retrato e o percurso de José de Almada
NegreirosNegreirosNegreirosNegreiros.
1.2. Analisar a predominância do olhar num dos autoretratos de Almada 1.2. Analisar a predominância do olhar num dos autoretratos de Almada 1.2. Analisar a predominância do olhar num dos autoretratos de Almada 1.2. Analisar a predominância do olhar num dos autoretratos de Almada
Negreiros.Negreiros.Negreiros.Negreiros.
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1.3. Ler com os alunos1.3. Ler com os alunos1.3. Ler com os alunos1.3. Ler com os alunos o poema o poema o poema o poema O Menino d'Olhos de GiganteO Menino d'Olhos de GiganteO Menino d'Olhos de GiganteO Menino d'Olhos de Gigante (incluído
neste dossier) e explorar as seguintes questões:e explorar as seguintes questões:e explorar as seguintes questões:e explorar as seguintes questões:
- Quem é o 'menino' de que fala o poema?
- Qual a importância do olhar e qual a sua relação com o conhecimento?
II. Desenvolver com os alunos alguns dos concII. Desenvolver com os alunos alguns dos concII. Desenvolver com os alunos alguns dos concII. Desenvolver com os alunos alguns dos conceitoseitoseitoseitos----chave deste chave deste chave deste chave deste
espetáculo: loucura, medo, sombra, viagem.espetáculo: loucura, medo, sombra, viagem.espetáculo: loucura, medo, sombra, viagem.espetáculo: loucura, medo, sombra, viagem.
2.1. A Loucura2.1. A Loucura2.1. A Loucura2.1. A Loucura
- O que é a loucura e de que tipo de loucura fala este texto?
- Ler com os alunos o poema Reconhecimento à Loucura, de Almada
Negreiros, e mostrar como a loucura é aqui sinónimo de mudança e
transformação.
Reconhecimento à loucura Reconhecimento à loucura Reconhecimento à loucura Reconhecimento à loucura
Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
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na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.
2.2. O Medo2.2. O Medo2.2. O Medo2.2. O Medo
- Promover o diálogo sobre o 'medo' de que fala o texto e sobre os 'medos'
de cada aluno.
2.3. A Sombra2.3. A Sombra2.3. A Sombra2.3. A Sombra
- "Ai, levo presa a mim a sombra do que já fui". Um dos temas mais
abordado por Almada Negreiros é a sombra, o binómio claridade/sombra
e a distância/proximidade em relação ao sujeito.
Desafiar os alunos a fazerem um autoretrato em que pintem com luz e
sombra projetada, isto é, o objeto projeta uma sombra no chão ou na
parede do lado contrário daquele em que a luz incide.
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2.5. A Viagem2.5. A Viagem2.5. A Viagem2.5. A Viagem
---- """"Mas em cada um há uma parte que se fixa e outra que viaja". Pedir aos
alunos que falem sobre o que se pode aprender com a viagem e sobre o
que pode ser a viagem do pensamento.
III. A partir da figura do gigante, glosada neste espetáculo e várias III. A partir da figura do gigante, glosada neste espetáculo e várias III. A partir da figura do gigante, glosada neste espetáculo e várias III. A partir da figura do gigante, glosada neste espetáculo e várias
vezes abordada por Almada Negreiros, fomentar a criatividade dos vezes abordada por Almada Negreiros, fomentar a criatividade dos vezes abordada por Almada Negreiros, fomentar a criatividade dos vezes abordada por Almada Negreiros, fomentar a criatividade dos
alunos e a sua expressão escrita.alunos e a sua expressão escrita.alunos e a sua expressão escrita.alunos e a sua expressão escrita.
- Desenha uma cena do espetáculo de que tenhas gostado
particularmente.
- Dramatiza, com várias personagens correspondentes às vozes presentes
no texto, o poema O Menino d'olhos de gigante.
- "É um gigante tamanho / qu’a gente sente o gigante / mas não lhe vê o
tamanho! / É tão grande o gigante / qu’a gente vê-lhe um pedaço / mas
aonde o gigante acaba / Já a vista não alcança." A partir deste excerto do
texto do espetáculo, desenha o gigante tal como o imaginas.
- Escreve, em 10 linhas, usando a tua imaginção, a história de um gigante, a
partir deste retrato de Almada Negreiros.
Almada Negreiros, Teatro da República, Lisboa, 1917
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NOTAS BIOGRÁFICAS ANA BRANDÃOANA BRANDÃOANA BRANDÃOANA BRANDÃO
Nasce em Lisboa, em 1971. Forma-se como atriz no Curso de Atores do
Instituto Franco-Português. O seu percurso teatral carateriza-se pela
relação continuada que mantém com alguns grupos e criadores, entre as
quais se salienta o Teatro O Bando, Cooperativa de que é cooperante e
com quem trabalha desde 1993. Participa, entre outros, em GENTE
SINGULAR, ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, VASSILISSA e RUA DE DENTRO.
Trabalha com o grupo Primeiro Sintomas, com O Novo Grupo – Teatro
Aberto, com A Barraca, o Útero, a Mala Voadora, com Nuno Cardoso,
Cláudio Hochman e Maria João Luís. Em televisão participa nas telenovelas
“Fúria de Viver”, “O Jogo” e “Vingança”. Também participa nas séries
“Inspector Max”, “Jura”, “Maiores de 20”, “Pai à Força”, “Liberdade 21” e
“Conta-me Como Foi”. Desenvolve uma carreira musical como cantora, na
qual se destacam as colaborações com Carlos Bica, de que resultou o CD
editado “Diz”. Atualmente, desenvolve um projeto musical com o pianista
João Paulo Esteves da Silva e canta nos Real Combo Lisbonense de João
Paulo Feliciano.
RAÚL ATALAIARAÚL ATALAIARAÚL ATALAIARAÚL ATALAIA
Nasce em 1952, em Tomar. Frequenta o curso de Engenharia Electrotécnica
do Instituto Superior Técnico de Lisboa e participa em diversas formações
em Lisboa, Paris e Bruxelas, nas áreas do movimento, música, máscara e
circo. Integra a equipa do Teatro O Bando no ano de 1975, e torna-se
membro da Cooperativa no ano seguinte. Desde essa altura, lidera
diversas formações de teatro para estudantes e professores. Desde 2009
que é reconhecido como Formador (CAP) pelo IEFP. É formador nas ações
CONFRARIA DO TEATRO, no Teatro O Bando, mantendo também a relação
da companhia com as escolas da região. Foi encenador e actor de vários
espetáculos no Teatro O Bando, contando-se entre os mais recentes: GRÃO
DE BICO, JESURALÉM, AINDA NÃO É O FIM e AUTO DA PURIFICAÇÃO.
Enquanto membro da Direcção do Teatro O Bando, é responsável pela
Gestão Financeira e pelas Relações Internacionais, estabelecendo a ligação
entre Teatro O Bando e a rede Platform 11+, possibilitando ao grupo o
constante intercâmbio artístico com diversos grupos europeus.
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GIL GONÇALVESGIL GONÇALVESGIL GONÇALVESGIL GONÇALVES
Nasce em Samora Correia, em 1983. Licenciado em Instrumentista de
Orquestra na Academia Nacional Superior de Orquestra, estuda de
seguida na Escola do Hot Clube de Portugal e no Conservatoire National de
Région d’Amiens. Participa em várias masterclasses de tuba e workshops
na área do jazz com professores e pedagogos de diversos estilos musicais.
Faz parte da Orquestra Nacional de Sopros dos Templários e é solista com
a Orquestra de Sopros do INATEL, UMO Jazz Orchestra, Ensemble
Português de Tubas e Orquestra de Sopros da Bairrada. Em 2008, ganha o
1.º Prémio na Categoria Sénior no I Concurso Nacional de Sopros Terras de
La-Salette. Faz parte da Orchestre des Jeunes de la Méditerranée (França)
numa tournée realizada na Turquia. É distinguido com o “Prémio Revelação
Carlos Gaspar”. Desenvolve vários projetos artísticos e interpreta diversos
tipos de repertório, o que inclui a gravação de diversos álbuns. Atualmente
é artista Miraphone e toca com os modelos F-Tuba 1281 “Petrushka” e
CCTuba 12915.
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JOÃO BRITESJOÃO BRITESJOÃO BRITESJOÃO BRITES
Dramaturgista, encenador e cenógrafo, nasce em 1947, partindo para
Bruxelas em 1966. Estuda na ENSAAV, La Cambre, onde termina o curso de
Gravura e frequenta os cursos de Pintura Monumental e de Cenografia.
Realiza até 1974 algumas exposições individuais e participa em várias
exposições colectivas. Em 1974 regressa a Portugal e funda o Teatro O
Bando. É cofundador da delegação portuguesa da ASSITEJ chegando a
fazer parte do executivo internacional. Em 1977 coorganiza os Primeiros
Jogos Populares Transmontanos. Entre 1978 e 1989 coorganiza uma dezena
de festivais de teatro anuais dedicados à criação de espetáculos para os
públicos jovens, enquadrados pelo CPTIJ. Entre 1999 e 2008 é diretor
artístico do FIAR. É o diretor da Unidade de Espetáculos da EXPO’98. Em
1999 recebe o grau de Comendador da Ordem do Mérito. Ao longo de 38
anos no Teatro O Bando, elabora como dramaturgista versões cénicas de
textos não dramáticos de autores portugueses, que posteriormente
encena, e concebe espaços cénicos em territórios imprevisíveis. Concebe e
coordena grandes eventos para milhares de espectadores: a Inauguração
do Monumento de Homenagem às gentes da Póvoa do Varzim; a Abertura
de Lisboa Capital da Cultura, em 1994; o 25º Aniversário do 25 de Abril no
Terreiro do Paço; as comemorações do Centenário da República
Portuguesa na Praça do Município, em 2010. É autor de inúmeros artigos
sobre teatro e sobre o processo de criação no Bando e participa em vários
colóquios, seminários e congressos. Atualmente é professor na ESTC e
orienta estágios e cursos de formação no domínio do teatro, dirigindo
oficinas a propósito da consciência do ator em cena. É galardoado: em
2004 com o Prémio Almada; em 2008, com SAGA – Ópera Extravagante,
ganha o prémio Melhor Encenador Guia dos Teatros e o Prémio Anual da
APCT; em 2010 a encenação QUIXOTE recebe o prémio SPA de Melhor
Espetáculo. Em 2011 é o comissário da Representação Portuguesa na
Quadrienal de Praga.
MIGUEL JESUSMIGUEL JESUSMIGUEL JESUSMIGUEL JESUS
Nasce em Lisboa em 1984 e é licenciado em Artes do Espetáculo pela
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Entre 2003 e 2006
trabalha como músico em diversos projetos. É cooperante e faz parte da
Direção Artística e da equipa do Teatro O Bando, onde trabalha também
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em comunicação, conteúdos e dramaturgia. Assistente de encenação de
João Brites em diversos espetáculos, encenou os concertos MARÇO GRITA
MAIO – evento comemorativo dos 37 anos do 25 de Abril, com composição
de Lino Guerreiro e a participação de João Afonso, desenvolvido numa
parceria entre a Big Band Loureiros e o Teatro O Bando –, “Da Cor da
Água” e “A Vida de um Vinho”– espetáculos com direção artística e
composição musical de Jorge Salgueiro. Publica em 2011 a peça “Inês
morre”, a qual deu origem ao espetáculo PEDRO E INÊS – uma criação do
Teatro O Bando desenvolvida em coprodução com a Fundação Centro
Cultural de Belém. Em 2012 esse mesmo livro dá também origem a uma
mini-ópera homónima apresentada no Teatro Nacional São Carlos. É
fundador do coletivo GALATEIA e prepara atualmente um livro de versões
de poemas de W. B. Yeats, “da rosa o espinho”.
RUI FRANCISCO RUI FRANCISCO RUI FRANCISCO RUI FRANCISCO
Arquiteto e Cenógrafo, nasce em Almada, em 1968. Estreia-se como
Assistente de Cenografia de José Manuel Castanheira e inicia atividade no
Gabinete Troufa Real – Arquitetos. É membro da Ordem dos Arquitetos;
fundador do atelier de arquitectura Oxalis; e membro fundador e da
direção da Associação Portuguesa de Cenografia. Percorre os Territórios
Livres da Arquitetura e da Cenografia, como autor de espaços cénicos
para teatro, televisão e cinema. Como arquiteto, destaca o Centro de
Cidadania Activa, iniciativa da SEIES, e o Teatro Meridional, Mitra, Lisboa. É
coautor do Projeto de Arquitectura do Museu do Oriente com Carrilho da
Graça, premiado como Melhor Museu Português de 2009. Cooperante e
membro da Direção Artística do Teatro O Bando, persegue em coletivo o
Singularismo. Autor do Projecto de Arquitectura da Sede do Grupo,
desenvolveu os espaços cénicos das produções ENSAIO SOBRE A
CEGUEIRA, SAGA (Prémio APCT 2008), CRUCIFICADO (Melhor Trabalho
Cenográfico, Prémio Autores SPA/RTP 2010) e QUIXOTE (Melhor
Espetáculo, Prémio Autores SPA/RTP 2011), entre muitos outros. É coautor,
com João Brites, e coordenador da Representação Portuguesa na
Quadrienal de Praga 2011.
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JORGE SALGUEIRO JORGE SALGUEIRO JORGE SALGUEIRO JORGE SALGUEIRO
É compositor e dirige algumas das suas obras. Compõe regularmente
desde os catorze anos, sendo autor de cerca de cento e noventa obras.
Entre as obras produzidas, são de referir – destacadas por si – nove
óperas: “Merlin”,” O Achamento do Brasil”, ”Pino do Verão”, ”Orquídea
Branca”, ”Saga”, ”Quixote”, ” O Salto”, "Deu-la-Deu” e “A Coragem e o
Pessimismo”. Destaca ainda: três sinfonias – “N.º 1 A Voz dos Deuses”, ”N.º 2
Mare Nostrum” e ”N.º 3 Dos Lusíadas”; as fábulas sinfónicas “A Quinta da
Amizade” e “Projeto Tartaruga”; a cantata “O Conquistador”; o “Requiem
pela Humanidade”; e a abertura para o “Gil”. Da sua obra consta ainda
diversa música para orquestra, banda, coro, de câmara, para teatro,
cinema, bailado e para crianças. Para além destas criações, realizou mais
de três centenas de arranjos de obras de outros autores. Entre 2000 e
2010 foi compositor residente da Banda da Armada Portuguesa.
Atualmente é compositor residente da Foco Musical. Cooperante e
membro da Direção Artística do Teatro O Bando, vem desenvolvendo um
trabalho de continuidade nas encenações de João Brites, nas quais as suas
criações musicais assumem um papel crucial para a concretização dos
desígnios dramatúrgicos.
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TERESA LIMA TERESA LIMA TERESA LIMA TERESA LIMA
Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da
Universidade Clássica, onde também tira o Curso de Ciências
Pedagógicas, faz formação de atores na Comuna Teatro de Pesquisa e o
Curso de Arte de Dizer no Conservatório Nacional de Lisboa. Como
professora de voz: orienta diversos estágios pedagógicos; é professora
destacada na Direção Geral do Ensino Básico e Secundário e na Direção
Regional de Educação do Norte; orienta cursos em várias universidades e
institutos; e dá aulas na Academia Contemporânea do Espetáculo, no
Ballet-Teatro, na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, na
Escola Superior de Dança e no Centro de Estudos Judiciários. Atualmente é
professora na ACT – Escola de Actores e no curso de formação de atores
da ETIC, dirigido por Diogo Infante. Ao longo do seu percurso, trabalha
como atriz na Comuna, no Novo Grupo (de que é cofundadora) e no
Teatro O Bando. Desde 2000 que faz parte da Direção Artística do Bando,
como responsável pela oralidade de cerca de trinta espetáculos e
orientando regularmente cursos de formação para atores.
CLARA BENTO CLARA BENTO CLARA BENTO CLARA BENTO
Nasce no Porto, a 4 de Novembro de 1952. Conclui o curso de Escultura da
Escola Superior de Belas Artes do Porto. Desde 1976 que se dedica à
criação e execução de figurinos e objetos cénicos. Colabora com os grupos
de teatro da cidade do Porto, O Realejo e Os Comediantes, entre 1976 e
1983. Em 1984 realiza objetos cénicos para a Companhia Estável de Teatro
das Alagoas em Maceió, Brasil. De 1985 a 1990, colabora com o Museu
Municipal de Setúbal na construção de marionetas, materiais didáticos e
instalações temáticas e mais tarde com o Teatro Infantil de Lisboa e com o
Teatro Universitário de Coimbra, TEUC e CITAC, na criação de figurinos.
Paralelamente, exerce o ensino de artes plásticas no ensino oficial.
Recentemente, é responsável pela criação de figurinos e adereços para os
concertos de composição e direção de Jorge Salgueiro “Mater e Eros”, “Da
Cor da Água” e “A Vida de Um Vinho”. Faz parte da Associação Portuguesa
de Cenografia. Desde 2000 que faz parte da Direção Artística do Teatro O
Bando, sendo a responsável pela criação e execução de figurinos e
adereços. Cooperante do Teatro O Bando coordena também o
funcionamento do Acolhimento.
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FÁTIMA SANTOSFÁTIMA SANTOSFÁTIMA SANTOSFÁTIMA SANTOS
Nasce em 1959, em Soure. Aos 16 anos trabalha pela primeira vez no
Teatro O Bando, como aderecista. A sua formação vem a juntar ao 2.º ano
do Curso Complementar de Contabilidade, a carteira profissional de atriz,
o Curso de Expressão Dramática na Animação do IFST, o Atelier de
Iniciação ao Teatro dos Fantoches no FAOJ, e o Atelier de Jogo Dramático,
inscrito no IV Encontro Nacional de Teatro para a Infância e Juventude.
Colabora nos Cursos de Alfabetização na CRAMO da freguesia da
Madalena, em 1975, e trabalha como animadora cultural do grupo Os Papa
Léguas em ateliers de expressão dramática, pintura e fantoches. É auxiliar
de educação em jardins infantis e monitora do ATL em Atividade,
Expressão Dramática e Arte Plástica, no Bairro Junção do Bem, em Oeiras.
Trabalha como atriz, figurinista, aderecista e na sonoplastia e luz em vários
espetáculos, com os grupos de teatro Alpha-Cic, Os Patolas – em
encenações de Horácio Manuel –, Os Papa-Léguas e o Teatro O Bobo.
Desde 1987 que integra a equipa fixa do Teatro O Bando, onde trabalha
como aderecista, atriz, contra-regra, técnica e figurante. Cooperante do
Bando, é a responsável pela Itinerância e pela Direção de Montagem.
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EQUIPA TEATRO NACIONAL D. MARIA II, E.P.E. direção artística JOÃO MOTA conselho de administração CARLOS VARGAS, ANTÓNIO PIGNATELLI, SANDRA SIMÕES
secretariado CONCEIÇÃO LUCAS
motorista RICARDO COSTA
atores JOÃO GROSSO, JOSÉ NEVES, LÚCIA MARIA, MANUEL COELHO, MARIA AMÉLIA MATTA, PAULA MORA
direção de produção CARLA RUIZ, MANUELA SÁ PEREIRA, RITA FORJAZ
direção de cena ANDRÉ PATO, CARLOS FREITAS, ISABEL INÁCIO, MANUEL GUICHO, PAULA MARTINS, PEDRO LEITE auxiliar de camarim PAULA MIRANDA, PATRÍCIA ANDRÉ
pontos CRISTINA VIDAL, JOÃO COELHO
guarda-roupa ALDINA SEMEDO, GRAÇA CUNHA
direção técnica JOSÉ CARLOS NASCIMENTO, ERIC DA COSTA, VERA AZEVEDO maquinaria e mecânica de cena VÍTOR GAMEIRO, JORGE AGUIAR, MARCO RIBEIRO, PAULO BRITO, NUNO COSTA, RUI CARVALHEIRA
iluminação JOÃO DE ALMEIDA, DANIEL VARELA, FELICIANO BRANCO, LUÍS LOPES, PEDRO ALVES som / audiovisual RUI DÂMASO, PEDRO COSTA, SÉRGIO HENRIQUES
manutenção técnica MANUEL BEITO, MIGUEL CARRETO
motorista CARLOS LUÍS
direção de comunicação e imagem RAQUEL GUIMARÃES, MARIA JOÃO SANTOS
assessoria de imprensa JOÃO PEDRO AMARAL
produção de conteúdos MARGARIDA GIL DOS REIS
design gráfico FRANCISCO ELIAS, MARGARIDA KOL
direção administrativa e financeira CARLOS SILVA, EULÁLIA RIBEIRO, ISABEL ESTEVENS
controlo de gestão MARGARIDA GUERREIRO
tesouraria IVONE PAIVA E PONA
recursos humanos ANTÓNIO MONTEIRO, MADALENA DOMINGUES
direção de manutenção SUSANA COSTA, ALBERTINA PATRÍCIO
manutenção geral CARLOS HENRIQUES, RAUL REBELO
informática NUNO VIANA
técnicas de limpeza ANA PAULA COSTA, CARLA TORRES, LUZIA MESQUITA, SOCORRO SILVA
vigilância GRUPO 8
direção de relações externas e frente de casa ANA ASCENSÃO, CARLOS MARTINS, DEOLINDA MENDES, FERNANDA LIMA
bilheteira RUI JORGE, CARLA CEREJO, NUNO FERREIRA
receção DELFINA PINTO, ISABEL CAMPOS, LURDES FONSECA, PAULA LEAL
assistência de sala COMPLET’ARTE
direção de documentação e património CRISTINA FARIA, RITA CARPINHA
livraria MARIA SOUSA
biblioteca | arquivo ANA CATARINA PEREIRA, RICARDO CABAÇA
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