UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIENCIAS EXATAS E NATURAIS CURSO DE HISTÓRIA
NATÉRCIA CRISTYNA FREITAS MORAIS
São Luís 2006
“A PONTE DA ESPERANÇA”: O símbolo da modernização e do
desenvolvimento urbano no governo Sarney (1966-1970)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIENCIAS EXATAS E NATURAIS
CURSO DE HISTÓRIA
NATÉRCIA CRISTYNA FREITAS MORAIS
“A PONTE DA ESPERANÇA”: O símbolo da modernização e do desenvolvimento
urbano no governo Sarney (1966-1970)
São Luís 2006
NATÉRCIA CRISTYNA FREITAS MORAIS
A PONTE DA ESPERANÇA: O símbolo da modernização e do desenvolvimento
urbano no governo Sarney (1966-1970)
Monografia apresentada ao Curso de História, da Universidade Estadual do Maranhão, como parte dos requisitos para a obtenção da graduação em História Licenciatura Plena. Orientadora: Prof.ª Elizabeth Abrantes
São Luís 2006
NATÉRCIA CRISTYNA FREITAS MORAIS
A PONTE DA ESPERANÇA: O símbolo da modernização e do desenvolvimento
urbano no governo Sarney (1966-1970)
Monografia apresentada ao Curso de História, da Universidade Estadual do Maranhão, como parte dos requisitos para a obtenção da graduação em História Licenciatura Plena.
Aprovado em _____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________ Prof ª Elizabeth Abrantes
Mestre - UEMA Orientadora
___________________________________________
1º Examinador
_____________________________________________ 2º Examinador
“A cidade não conta seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões [...]”.
Ítalo Calvino
AGRADECIMENTOS
A Deus, o dom de viver e a dádiva de seu amor e misericórdia inesgotáveis.
Aos meus pais, Aristeu Alcantara e Antonia Vieira, grandes amores da minha
vida, por minha edificação pessoal, pelo brilho nos olhos a cada conquista, por me
apoiarem em cada deslize e me ensinar que esses deslizes são as escadas para futuros
acertos. Obrigada pelo amor, dedicação e paciência em cada segundo desta jornada,
com crença constante na minha capacidade. Devo a vocês o que hoje sou.
Às minhas irmãs, Nayhara , Seilisemar e minha tia-irmã Márcia pela ternura, a
presença constante apesar da distância, a grande amizade e paciência. Amo muito vocês.
Aos meus irmãos, Jackson, Jefferson e Maurélio, cada um a seu modo sempre
tão cheios de amor e dispostos a me ajudar. Muito obrigada.
Aos meus avós maternos e paternos e aos meus tios: João Freitas, Vera, Maria
de Deus, Teresa Alcântara, Zildete, Soraia e minhas primas Acácia Helena e Jussara.
Sempre tão presentes em minha vida com seu carinho doçura e amizade. Vocês são
responsáveis pela maravilhosa estrutura familiar que tenho.
Aos meus primos, Paulo Geovany, Alexandre Vitor, João Eduardo, Jonatas
Júnior, Lucas, Mariana, Talita, Ketcia e Renata, por encherem minha vida de alegria
esplendor.
In Memorian à minha bisavó Adelaide, aos meus tios José Garcia, Antonio
Celso, Mary Sandra e Aldenora. Que me ensinaram a dor da perda e doce sabor da
lembrança daqueles que amamos.
A minha família ‘torta’, que mesmo não tendo laços consangüíneos, não consigo
imaginar minha vida sem amor de vocês: Bel, Mundo e seus filhos, Tia Terezinha, Célia
e seus amados filhos, Anjinha, Vilma, Francisca e Tânia Mara.
Aos meus amigos-irmãos, pelo amor, por estarem sempre presentes nas grandes
encruzilhadas da minha vida. Amo muito vocês. Alberto, Ana Leatrice, Ana Paula,
Fernanda, Guilherme, Haydna, Khory, Júlio Sá, Mauritânia, Oziel, Paula Giordania,
Vanessa e Valéria.
Àqueles amigos que os anos de UEMA me ofereceram e hoje não consigo
imaginar minha vida sem a dádiva de suas amizades: Adriana, Márcia Elaine, Yankee,
Alexander, Bernardo, Mirany, Vanessa, Cliscyane, Elzimar e Célio.
A Ernesto César por tornar meus dias mais cheios de amor, com sua forma
meiga e às vezes confusa de demostrar seu carinho e incentivo.
A Sarah, Vitória, Lorena, Júlia, Yasmin, Luís Artur, Luís Fernando e Kalil, por
tornarem meus dias mais felizes e mais cheios de graça.
A Armando Diórgenes por acreditar no meu potencial, me incentivar a seu modo
e torcer por mim nessa jornada. Obrigada por seu carinho silencioso, mas sempre
presente.
A José Márcio, por me acompanhar nos primeiros momentos dessa caminhada
e não me deixar desistir.
A Ellen e sua família, por seu carinho, torcida e pelo espaço maravilhoso que me
deram nas suas vidas.
A família Colégio Nossa Senhora de Fátima de 1988 a 1994. A todos, minha
gratidão pelos momentos maravilhosos que vivi nesta escola que era minha segunda
casa.
A vocês que mais que professores foram mestres e me ensinaram lições valiosas
sobre dedicação à profissão, respeito ao próximo e amizade. Muito obrigada: Beliza,
Luís Carlos, Flávio, Paulo Rios, Helidacy, João Botelho e especialmente para minha
paciente e dedicada orientadora Elizabeth Abrantes.
Aqueles amigos que me acolheram e me incentivaram na realização, Ana Larice,
Afrânio, Dethane, Gabriel e Pedro Filho.
A todos os meus alunos, que me deram a oportunidade de compartilhar com eles
não só o conhecimento adquirido, mas a alegria da realização profissional, da
convivência diária e da troca de carinho e respeito.
A todos aqueles que compartilharam essa maravilhosa viagem comigo e quem
em algum ponto da estação tivemos que nos despedir. Sinto não poder citar o nome de
todos, mas eles estão guardados no meu coração.
RESUMO
Estudo sobre o significado simbólico da construção da “Ponte José Sarney” no
projeto de modernização e desenvolvimento urbano na cidade de São Luís no Governo
Sarney (1966 - 1970). Relaciona-se as representações simbólicas dos seus discursos
pautados na construção de um “Maranhão Novo” , como o promotor do progresso e da
esperança, analisando como esse discurso materializou-se no imaginário social com
mais veemência a partir da construção da “Ponte José Sarney”, denominada por Sarney
como “Ponte da Esperança”, sendo esta a pretendida concretização da magnitude de seu
governo que ligaria a “cidade antiga” com as possibilidades do futuro promissor da
“cidade nova”, bem como representação simbólica da ponte que ligaria o passado ao
futuro do Maranhão.
Palavras-Chave: Modernização. Símbolos. Representação. São Luís. Governo Sarney.
ABSTRACT
Study about the meaning sybol of the building José Sarney Bridge’s in the
project about modernization and urban development in the São Luís city at government
Sarney (1966 – 1970). Connected the representations of the symbols in this speech
based in the Maranhão New’s construction, like promoter of the progress and hope,
analysing the way this speech to get onto social mind with more strength when to start
to build “José Sarney Bridge”, that Sarney called “Hope Bridge”, to being claimed for
your magnitude present in your Government that wold connect the “old city” with
posssibilities of the “new city’s promissing future”, and the symbols’s representations
of Maranhão New’s construction the bridge that would connect the pass and
Maranhão’s future.
Key-words: modernization. Symbols. Representation. São Luís. Sarney Government.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – São Luís antes da construção da Ponte................................................
71
Figura 2 – Vista panorâmica de São Luís, olhada da Ponta do São Francisco........ 72
Figura 3 – Inauguração da Ponte José Sarney.......................................................... 73
Figura 4 – Repercussão da Inauguração da Ponte nos jornais................................. 74
Figura 5 – Ponte José Sarney recém-inaugurada..................................................... 75
Figura 6 – Vista aérea da Ponte José Sarney........................................................... 76
Figura 7 – Canoeiros da Ponta do São Francisco..................................................... 77
Figura 8 – Comemoração dos 40 anos do “Maranhão Novo”................................. 78
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.....................................................................................
11
INTRODUÇÃO......................................................................................................
13
1 CIDADE E MODERNIDADE: cenário de mudanças e contradições...............
15
2 BREVE HISTÓRICO DAS TRANSFORMAÇÕES URBANAS EM SÃO
LUÍS - as mudanças no cenário.............................................................................
27
3 A CIDADE DE SÍMBOLOS E PROJETOS: “a Ponte da Esperança” e o
nascimento da “cidade nova”................................................................................
33
CONCLUSÃO.........................................................................................................
53
REFERÊNCIAS......................................................................................................
55
ANEXO................................................................................................................... 59
INTRODUÇÃO
Jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve. Contudo, existe uma ligação entre eles.
Ítalo Calvino
A ascensão de José Sarney ao poder no Estado do Maranhão, como chefe do
poder executivo, deu-se na vigência do regime militar no Brasil, após o golpe de 1964.
Aproveitando-se de seu poder, os militares passaram a interferir em todos os setores da
vida nacional de forma a acelerar o ritmo de desenvolvimento do país, reformulando a
estrutura administrativa pública federal e estabelecendo novas diretrizes para a
modernização da sociedade brasileira.
No Maranhão, os militares agiram de forma incisiva na derrocada do
vitorinismo, dando o apoio necessário à candidatura de José Sarney ao governo do
Estado. Segundo Corrêa (1993), Sarney estaria apto para conduzir o processo político
estadual de acordo com os princípios preconizados pelo Golpe de 64, já que sua figura
era vista pelos militares como uma das principais lideranças em nível estadual e estava
identificado com o conteúdo ideológico da proposta modernizante que seria implantada
pelo governo federal.
A relação de Sarney com a supracitada proposta ideológica do regime militar
coincidia com seu interesse em inserir o Maranhão no processo desenvolvimentista que
se alastrava no país desde o governo do presidente Getúlio Vargas a partir dos anos 30 e
ao qual o Maranhão tinha se mantido à margem.
Contando com o apoio dos militares, Sarney construiu sua campanha ao governo
do Estado, fundamentando-a com o uso de um programa sintetizado na expressão
“Maranhão Novo” e que se pautava no binômio “desenvolvimento e modernização”.
Ao assumir o poder, em 1966, o jovem governador propôs mudanças que tinham
como objetivo modificar a realidade política, econômica e social dos maranhenses e
para alcançar êxito em seus objetivos adotou um discurso e prática ‘modernizadora’.
Procurava a concretização do discurso, principalmente com transformações urbanas na
capital, através da construção de diversas obras, culminando na construção da ponte
sobre as águas do rio Anil, ligando a “cidade antiga” à “cidade nova”.
Este trabalho pretende analisar a relação entre as relações simbólicas dos
discursos e práticas ditas modernizantes, principalmente através da construção da
“Ponte José Sarney”, vista como símbolo da esperança no progresso, num futuro
promissor, em uma aliança entre o “Governo e Povo”.
No primeiro capítulo, faremos uma abordagem sobre cidade e modernidade
através dos teóricos que mais se aproximam do nosso trabalho e que entendem as
cidades como palco da modernidade, das suas realizações e das suas contradições.
O segundo capítulo é um panorama da sociedade de São Luís,especialmente,
nas décadas de 40 a 60, destacando as transformações no espaço urbano, bem como
questões sobre a economia e a política influenciando nessas relações que moldavam o
cenário urbano.
Finalmente no terceiro capítulo, analisaremos algumas transformações
urbanas na capital maranhense durante o Governo Sarney (1966 – 1970), pautadas no
discurso de modernização e esperança, estando as representações simbólicas deste
discurso presente na ideologia “Maranhão Novo”, materializadas na “Ponte José
Sarney” e presentes no imaginário social como da “Ponte da Esperança”. Procuraremos
perceber ainda as implicações imediatas na formação da “cidade nova” e para os
diferentes segmentos sociais atingidos.
1 - CIDADE E MODERNIDADE: cenário de mudanças e contradições
A cidade é por excelência o palco das vivências, berço de sonhos e desejos.
Representa uma memória escrita, em que o passado pode ser revivido, buscado nos seus
traçados e símbolos. Traçados que formam uma paisagem rica de informações e contam
histórias escritas e vividas por seus atores/autores, os quais representaram e representam
o grande espetáculo da heterogeneidade num cotidiano de mudanças e permanências, ás
vezes tão sutis que parecem não ter impregnados nos seus símbolos a representação
desses sonhos, medos, tensões, tramas e lutas que só as inquietações do historiador
podem traduzir essa vontade latente da cidade de contar, por meio das suas inscrições
simbólicas, o emaranhado de teias que formaram e formam as múltiplas aspirações do
homem na transformação do seu cenário. (CALVINO,1990; REZENDE, 1997).
Foi no século XIX, com o crescimento e proliferação das cidades,
favorecidos pela Revolução Industrial, que alguns estudiosos começaram a pensar o
passado das urbes, sua funcionalidade e ordenamento. São também dessa época as
primeiras tentativas de planejamento urbano e de construção de uma cidade ideal.
Passava a ser de responsabilidade dos governantes europeus a tarefa de higienizar e
pensar em soluções possíveis para o urbano. (BENJAMIN, 1989; BERMAN, 1994)
Pensadores do final do século XIX e início do século XX, registraram
testemunhos sobre a cidade e seu passado, entre eles Max Weber e Georg Simmel.1
1 Não foram feitas leituras diretas sobre esses autores. As informações sobre Max Weber foram retiradas das obras de REZENDE, Paulo. (Des)encantos modernos. Recife: Fundarte, 1997; e NASCIMENTO, Francisco Alcides do. A Cidade sob o Fogo: modernização e violência policial em Teresina – 1937-1945. Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, 2002. Sobre Georg Simmel, as informações encontram-se na obra de GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
Max Weber, em “Conceitos e Categorias de Cidade”, de 1921, relaciona a
natureza das cidades às funções econômicas. Assim, definiu a cidade como um
aglomerado humano constituído para ser um espaço de trocas comerciais regulares.
Georg Simmel, na obra O Fenômeno Urbano (1987), aparece como
inaugurador da abordagem cidade e modernidade. Construiu parte de sua obra ligada ao
individualismo e os problemas das metrópoles, concebendo as grandes cidades como
centros produtores de uma enorme quantidade de estímulos que promovem alterações
no sistema nervoso, em que a modernidade é uma complexa teia de relações ou um
labirinto de relações sociais. Para este sociólogo havia uma tentativa dos indivíduos em
manter sua independência e singularidade frente à vida moderna, o social, o cultural e
herança histórica, ao mesmo tempo em que o homem era obrigado a realizar contratos,
marcados pela rigidez, como garantia para sua sobrevivência, do contrário conheceria o
caos. Enquanto nas pequenas cidades e no campo leva-se uma vida simples, o ritmo
imposto ainda não era o da modernidade, a idéia de tempo no cotidiano era o oposto do
ritmo acelerado das cidades.
Os estudos de Simmel partem do principio de que o real exprime-se nos
detalhes da vida cotidiana, transparecendo aspectos das complexas relações sociais.
Logo a cidade é um fato cultural, um caldeirão de impressões, de sentimentos, de
desejos e de frustrações.
Para o teórico Walter Benjamin (1986), que estudou a cidade de Paris do
século XIX, “a cidade como lugar de fabricação da utopia e do espaço possível da sua
realização aparecera como uma imagem forte da modernidade, no século XIX”. (Apud.
REZENDE, 1997, p.58). Benjamin compreendeu a cidade a partir das inter-relações
vividas e acumuladas ao longo do tempo.
O teórico Lewis Mumford (1895-1990) descreve a cidade como possuidora
de “um profundo poder de síntese e condensação dos tempos” e sendo “uma
representação do cosmo, um meio de trazer o céu a terra, a cidade passou a ser um
símbolo do possível”. (Apud REZENDE,1997, p.22).
Existem várias interpretações da cidade, no entanto, buscou-se na célebre
obra de Ítalo Calvino, “As cidades Invisíveis” (2001) o foco norteador da nossa
compreensão de cidade em seu aspecto simbólico, onde mostra como é possível
construir diferentes cidades (e que no fundo é apenas uma), conforme se privilegie
determinados aspectos. Percebe-se, portanto, que a cidade existe enquanto relação entre
os diferentes grupos que interagem em um dado sistema produtivo. Cada grupo com seu
modo de vê o mundo ou com interesses voltados para aspectos específicos, podendo
construir e reconstruir a cidade criativamente.
Nestas concepções de Munford e Calvino que nos inspiramos para entender o
significado de cidade para os governantes e urbanistas que planejaram o urbanismo
modernizante em São Luís nos anos 60, e que trataremos em páginas posteriores.
No Brasil a historiografia sobre cidade e reforma urbana ganhou mais espaço
com nomes como Sidney Chalhoub, Cidade Febril (1996); Sandra Jatahy Pesavento,
“Uma Outra Cidade: o mundo dos excluídos no final do século XIX” (2001); e, no
âmbito mais regional, do Nordeste, Antonio Paulo Rezende e Francisco Alcides do
Nascimento que trabalham, respectivamente, o moderno na cidade do Recife:
(Des)encantos Modernos : a cidade do Recife na década de 20 (1997); e a
modernização e violência em Teresina : A cidade sob o fogo: modernização e violência
policial em Teresina – 1937-1945 (2000).
Esta discussão sobre cidade possibilita percebê-la como um grande cenário
das mudanças e permanências, em que através de suas inscrições é possível recuar no
tempo e perceber que em cada época como a relação sociedade-espaço é distinta,
representando os anseios das diferentes classes sociais e os embates ideológicos de seu
tempo, materializados nessa paisagem urbana e humana. A cidade é, também, um
produto apropriado diferencialmente pelos cidadãos, em que a sociedade se organiza e
constrói o seu cotidiano segundo uma ordem que relaciona a forma e a essência, onde a
obra do homem parece se sobrepor ao próprio homem. As formas concretas e visíveis
escondem seu real significado, e, sendo assim, apropriadas pelas elites políticas e
intelectuais apresentam-se como mentores na construção do seu tempo e do seu espaço.
aliando-se ao Estado, aos interesses do capital e a determinado discurso ideológico.
Diante da impossibilidade de estudarmos todos os elementos modificadores
da cidade, optamos pelo discurso e concretização do processo de modernização de São
Luís na década de 60, a partir dos discursos de Sarney presentes na obra Governo e
Povo (1970) e das representações simbólicas da cidade no seu governo.
Compreendendo a cidade como um lugar privilegiado da instituição do novo,
em que se dá a modernização, os homens que a contém e estão contidos no seu
‘destino’, arquitetam-na em seus grandes projetos, acreditam que podem traçar as trilhas
que redefinirão as suas relações sociais. É nos seus traçados que as novidades ganham
forma e espaço. Esse novo é parte integrante do discurso dos governantes, ele traduz a
idéia de progresso que é respaldado na concepção de modernidade que engloba as
mudanças que acontecem no cotidiano dos indivíduos. A cidade é assim o espaço pleno
da modernização.
Para compreendermos melhor o significado de modernização, partiremos
inicialmente de algumas idéias contidas nas análises dos principais teóricos sobre a
modernidade, depois de ter traçado essas tênues linhas dos múltiplos significados de
cidade.
O termo modernidade é polissêmico, indicando múltiplas possibilidades que
são constituídas a partir de visões que comportam tempos e observações diferentes, por
isso mesmo, a modernidade pode ser vista sob novos olhares. Modernidade é um
objetivo constante das sociedades, sobretudo a econômica e a política. É um valor que
as pessoas reivindicam, pois todos querem ser ‘modernos’, implicando uma condição
para acelerar seus passos no contexto histórico. Enfim, é uma ideologia que implica em
uma mudança de postura que se desvincule de representações políticas, sociais,
econômicas e étnico-religiosas das sociedades tradicionais. Segundo SCHORSKE,
(1998, p.13) nos últimos cem anos, o “moderno” serve-nos para diferenciar tudo o que
procedeu, ou seja, é visto como ruptura.
As concepções de modernidade são múltiplas, por isso respaldamos o
trabalho em certos teóricos que se aproximaram mais da discussão que faremos nos
capítulos seguintes, entre eles citaremos a concepção teórica de Berman (1994, p.15)
que entende essa experiência como:
Existe um tipo de experiência vital - experiência de tempo e espaço de
si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida – que é
compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo, hoje.
Designarei esse conjunto de experiências como ‘modernidade’. Ser
moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder,
alegria, crescimento, auto-transformação das coisas em redor - mas ao
mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos e o que somos.
Berman acredita que ser moderno é viver em meio às experiências que a vida
oferece, considerando sempre a relacão tempo-espaco que os homens se apropriam para
determinar de moderno e a partir daí reinventá-lo. Partindo dessa concepção ele faz
menção a três fases da modernidade, apresentando cada fase com uma tradição própria
que precisou ser transformada.
[...] quanto a história da modernidade, decidi dividi-la em três fases: na
primeira fase, do inicio do século XVI até o fim do século XVIII, as
pessoas estão apenas começando a experimentar a vida moderna; mal
fazem idéia do que as atingiu [...] Nossa segunda fase começa com a
grande onda revolucionária de 1790. Com a revolução francesa e suas
reverberações, ganha vida, de maneira abrupta e dramática, um grande
e moderno público. Esse público partilha o sentimento de viver em uma
era revolucionária, uma era que desencadeia explosivas convulsões em
todos os níveis de vida pessoal, social e política. [...] No século XX,
nossa terceira e última fase, o processo de modernização se expande a
ponto de abarcar virtualmente o mundo todo, e a cultura mundial do
modernismo em desenvolvimento atinge espetaculares triunfos na arte e
no pensamento. (BERMAN, 1994, p. 16)
Nessa divisão o século XX encontra-se representada na terceira fase da
modernidade, que ao expandir-se tenta englobar “virtualmente” todo o mundo. É nessa
terceira fase, que se apresenta com uma maior abrangência, que buscaremos uma
compreensão desse tempo-espaço do homem na construção das suas relações cotidianas.
No trabalho intitulado “Crítica da Modernidade”, Alain Touraine (1994,
p.09) apresenta outra concepção da modernidade.
A modernidade em sua forma mais ambiciosa foi a afirmação de que
o homem é o que ele faz e que deve existir uma correspondência
estreita entre a produção tornada mais eficaz pela ciência, tecnologia,
administração, a organização da sociedade, regulada pela lei,
animada pelo interesse sobre o que repousa essa correspondência
senão sobre o triunfo da razão.
Segundo Touraine (1994) a evolução que a humanidade vem conquistando é
inerente à racionalidade, apesar dessa evolução trazer risco a própria humanidade, uma
vez que a construção do conhecimento é feita com base na razão, e por isso mesmo, na
seleção e eliminação daquilo que não se considera ser moderno. Pensando nessa
concepção de modernidade é possível entender que o homem vive esse momento, tão
complexo, produzindo novas relações que se definem à medida que ele projeta-se nesse
contexto histórico.
(...) a modernidade não repousa sobre a distribuição dos obstáculos
ao reinado da razão: ela é feita de diálogo entre razão e sujeito. Sem
a razão o sujeito se fecha na obsessão de sua identidade. Sem o
sujeito a razão se torna instrumento de poder.
Ao questionar sobre a modernidade e o seu processo seletivo, traz a
concepção de que a razão e o sujeito possuem uma relação intrínseca de ligação. Com
os caminhos que a modernidade percorre, atualmente, as mudanças norteiam o cotidiano
do individuo, seja na vida acadêmica, na política, economia ou na sociedade, ou mesmo
nos seus projetos individuais, na auto-realização de projetos ideológicos que
influenciaram o seu tempo-espaço. Com isso, torna-se viável definir, que a modernidade
não é um processo estático, pois prima pela constante reciclagem das coisas e esse
tempo histórico não se limita a um fim.
Fazer menção à modernidade é um ato que exige a consciência de que esse
termo nos permite uma infinidade de significados, pois, estes são construídos partindo
de visões que comportam o seu tempo, por isso há a necessidade de percebermos os
vários enfoques que temos sobre o ponto a ser analisado. A concepção de Bobbio (1994,
p.772) sobre o termo modernidade é muito significativa acerca do tema.
[...] é aquele conjunto de mudanças operadas nas esferas política,
econômica e social que tem caracterizado os dois séculos. Transpõe,
ainda, para a modernidade as transformações que vem se delineando
nesses últimos duzentos anos nas áreas social, política e econômica.
[...] a modernização política não acontece e nem pode acontecer in
vácuo, isto é, sem entrar em contato com a modernização dos outros
setores, em particular a modernização econômica e social.
O referido teórico entende a existência de uma articulação, em que a
modernidade política está associada aos desdobramentos de outras áreas básicas da
sociedade, tanto na área social, quanto na área econômica, observando que tais áreas
submetem-se a esse processo de mudança, porém não ocorridos na mesma proporção.
Assim, a modernidade política só se torna tangível quando as esferas econômica e
social também vivem esse processo, interagindo conjuntamente, pois é essa interação
que promove a modernidade.
Um aspecto importante do termo modernidade é que ele abriga em si
discussões sobre modernismo e modernização. O primeiro compreende a ‘cultura’ que
de um modo geral constrói grandes êxitos tanto na arte, quanto no pensamento. Esse
aspecto formador da modernidade pode ser entendido como seu fomentador ideológico,
intelectual, podendo ser apresentado como nessa concepção de Le Goff (1994, p.190) :
A modernidade é o resultado ideológico do modernismo. Mas
ideologia do inacabado da dúvida e da crítica – a modernidade é
também impulso para a criação, ruptura declarada com todas as
ideologias e teorias da imitação, cuja base é a referência ao antigo e a
tendência para o academismo.
[...] A modernidade, analisada até então apenas no plano das
superestruturas, define-se daqui em diante em todos os planos
considerados importantes pelos homens do século XX: a economia, a
política, a vida cotidiana, a mentalidade.
Podemos compreender que a modernidade está articulada ao modernismo e,
dentro dessa reflexão entre ambos, percebe-se como o movimento do modernismo
sustentou uma nova concepção do mundo.
Para entender o modernismo como formador ideológico (estrutura
intelectual) do moderno, faz-se necessário apresentar brevemente como se deu a
discussão do modernismo no Brasil no século XX e mais precisamente quais suas
influências diretas. A partir da produção intelectual da modernidade, denominada de
modernismo, seguiremos também para sua outra vertente que é a modernização.
Para trazermos a discussão sobre modernidade para realidade acadêmica
brasileira, é importante uma referência à “Semana de Arte Moderna”, enquanto
fomentadora da cultura e da política nos anos de 1920. Utilizaremos a concepção teórica
de Eduardo Moraes (1998), que compreende o modernismo brasileiro como movimento
artístico-cultural, tradutor da forma de pensar a modernidade.
O modernismo no Brasil caracterizou-se pela idéia de atualizar a sua cultura
através da tipologia cultural brasileira.
A “brasilidade” caracteriza-se pela influência do pensamento marcado pela
criação de uma verdadeira identidade brasileira que participava dessa modernidade no
Brasil. Com Oswaldo de Andrade, surgiu um novo discurso em torno da identidade
nacional, em que a mesma só poderia ser construída através da consideração da sua
“diferença” (a situação do Brasil de país periférico diante da Europa e dos Estados
Unidos em ascensão) e que deveria considerar seus aspectos singulares: a cultura
popular baseada na influência da mestiçagem, além de associá-la às condições do Brasil
de país subdesenvolvido, periférico e dependente política e economicamente dos países
desenvolvidos pertencentes à América do Norte (EUA e Canadá) e Europa.
Foi esse contexto que representou a “diferença” que compunha o Brasil
dentro da sua experiência de modernidade. Por isso, no Brasil, através da “brasilidade“
fora construída a produção cultural na forma de uma arte essencialmente brasileira, que
tem como pressupostos a singularidade da nossa formação étnica e o desenvolvimento
político, econômico e social pautado no subdesenvolvimento. Conseqüentemente ser
moderno no Brasil, a partir dessa visão de ‘brasilidade’ significava ser “nacional”, pois
quanto mais nacional, mais moderna seria a estrutura intelectual da produção cultural
brasileira.
A partir deste discurso da “brasilidade”, afloraram no Brasil derivações
regionalistas, apropriando-se das idéias do novo, reelaborando as estruturas regionais e
construindo pactos de ruptura com o passado, modificando o imaginário social e
lançando desafios para transformar a sociedade através da proposta de inclusão dessas
regiões na modernidade. Entre as gerações que propunham essa transformação a partir
de bases intelectuais, podemos destacar a ‘Geração de 45’, no Maranhão, que tinha José
Sarney como um dos seus componentes.
São esses elementos que contribuem para que certos intelectuais e políticos,
a exemplo de José Sarney, se reportem à modernidade como um momento de ruptura
em relação ao passado atrasado e momento privilegiado de promover o
desenvolvimento, através de um discurso regionalista e da particularização do homem
conhecedor da “sua terra, da sua gente”.
Partindo das aspirações apresentadas sobre o momento brasileiro de
vivenciar a modernidade, podemos perceber como a formação da estrutura ideológica da
modernidade no Brasil suscitou muitas opiniões e significados e que estes são criados a
partir de posturas próprias dos teóricos no decorrer do tempo histórico e de suas
influências e experiências.
É nesse labirinto de concepções que a modernidade vai sendo construída
enquanto experiência intelectual denominada de modernismo e na busca de sua forma,
de sua materialização como elo integrante desse momento é que partiremos para o seu
momento mais material, que é a modernização.
E sendo a urbes esse local privilegiado da fabricação dos sonhos e desejos do
homem, não poderia deixar de ser o grande palco dessa modernização, com suas
transformações significativas, para atender aos ideais progressistas. Estes ideais serão
vivenciados nas mudanças urbanas que influem no traçado das cidades, porque são eles
que representariam a “concretude” do discurso de modernização que contagia o poder
público com suas perspectivas de renovação e rupturas.
Para compreendermos a modernização, como um processo de transformação
na paisagem urbano-humana da cidade, utilizamos o referencial da análise de Berman
sobre Petersburgo com as contradições presentes no seu processo de modernização
autoritária, em que têm-se de um lado a mudança da urbes entendida como melhoria e
do outro o subdesenvolvimento Busca-se compreender como essa experiência da
modernização trouxe a criação de novos desejos para as diferentes classes sociais.
A análise de Berman sobre São Pestersburgo foi citada para fazer a
comparação com o Brasil porque também aqui as reformas urbanas mais significativas
no que concerne a modernidade tiveram o caráter autoritário. Esse processo autoritário
de modernização se deu principalmente no período desenvolvimentista (1950-1970) e
teve como principal marco a fundação de Brasília.
A modernização, assim, realizada, trouxe grandes impactos, com os
segmentos sociais menos privilegiados economicamente sendo empurrados para as
periferias da cidade.
Sendo assim, é importante identificar os elementos contraditórios presentes
nesse tipo de modernização que criou conflitos, destruiu valores, indo para além da
construção material da cidade. Como afirma Alcides Nascimento (2002, p. 28), “o
processo de modernização da sociedade brasileira sustenta-se na forma autoritária de
governar imposta pela elite. O projeto articulado a partir dos governos civis da
República não deixam margem para nenhuma dúvida.”
O discurso de modernização no Brasil foi reelaborado durante a instauração
do regime autoritário, através do golpe militar de 1964, que colocou em prática uma
nova estrutura de poder, onde os poderes legislativo e judiciário foram submetidos ao
poder executivo. O Estado autoritário do período militar procurou conter a crise
econômica e fomentar o sistema econômico em busca do desenvolvimento do país,
numa espécie de “modernização conservadora”. Para tanto, adotaram um discurso
baseado na necessidade de modernizar as estruturas do país, tanto econômicas quanto
sociais e políticas, através de um discurso de inclusão que não se efetiva na prática.
Podemos perceber segundo a análise de Octávio Ianni (1977, p. 256) que o
modelo modernizante instaurado pelo militares e pela tecnoburocracia tinha um caráter
conservador.
A hegemonia do executivo não estava ligada à mudança do sistema
político-econômico, nem a sua reforma. Não se tratava de estatizar a
economia ou criar o capitalismo de Estado. Tratava-se, apenas e
simplesmente de aperfeiçoar o status quo.
Quanto ao Maranhão, este discurso modernizante e suas implicações foram
reforçados com ascensão de José Sarney ao governo do Estado. Sarney, reafirmando os
ideais dos governos militares, sustentado no progresso, propôs o desenvolvimento em
São Luís, a partir de uma modernização que criou conflitos e contradições, pois colocou
à margem deste desenvolvimento parte dos segmentos sociais. A expansão da cidade e a
urbanização de novas áreas não incluíram os menos favorecidos, pelo contrário,
provocou expulsão das classes menos privilegiadas a partir da prioridade aos anseios
elitistas de enobrecimento urbano da “cidade nova”.
O Governador José Sarney também fez questão de associar as suas obras
modernizantes no estado com a conjuntura proporcionada pelo regime militar.
Os senhores sabem porque o Maranhão é hoje o Estado que mais cresce no Nordeste do Brasil. Aí estão as estradas, as escolas, os hospitais e a preocupação permanente, que é uma obra que não tem placa do Governo – é a mudança de mentalidade que se operou no Maranhão. O Povo passou a acreditar no Governo porque o Governo passou a ser uma cadeia difícil e espinhosa, depois que o Brasil mudou e o Nordeste e o Norte mudaram, graças à Revolução de março de 1964.(Jornal O Imparcial, 17 de fevereiro de 1970).
2 - BREVE HISTÓRICO DAS TRANSFORMAÇÕES URBANAS DE SÃO LUÍS
– as mudanças no cenário.
A capital maranhense deu seus primeiros passos para se tornar uma cidade
após a expulsão dos franceses, em 16152. Na administração de Jerônimo de
Albuquerque (1616-1618) foi solicitado ao engenheiro-mor do Brasil, Frias de
Mesquita, uma traça para São Luís, que se constituiria no núcleo urbano original.
(MEIRELES, 2002, p. 60).
No século XVIII, com o aumento da densidade demográfica da capital
maranhense o Senado da Câmara precisou tomar providências para o loteamento de
terrenos, havendo as primeiras doações de lotes urbanos na área compreendida hoje
como Centro Histórico. (MOTA; MONTOVANI, 1997, p.12)
No início do século XIX já eram mais constantes as preocupações com a
feitura e com o traçado da cidade, alinhamento e limpeza das ruas, manutenção das
calçadas. A preocupação também com a segurança elegância urbanística levou a
Câmara a exigir a construção das moradias em pedra e cal, de preferência, com
cobertura de telha e não de palha.
O crescimento econômico propiciado pela agroexportação teve reflexos no
adensamento populacional e no crescimento da urbe, com a ampliação da área urbana
ocupada, fazendo surgir uma nova freguesia, a de Nossa Senhora da Conceição, que
segundo GAIOSO (1970, p. 113) tinha com uma população menor que a freguesia de
2 Conforme Lacroix (2002, p. 39), “(...) o curto espaço de três anos que os franceses ficaram no Maranhão – 26 de julho de 1612 a 31 de julho de 1615 – os impossibilitou de deixar grandes marcas. Os únicos sinais da ocupação francesa são: o local onde aportaram e posteriormente escolhido pelos lusitanos para construir a cidade de São Luís; as improvisadas capelas, continuadas pelos missionários portugueses e tornadas núcleos religiosos que perduraram até nossos dias; e o nome do Forte de São Luís, mantido pelos portugueses para nominar a capital do Estado do Maranhão.”
Nossa Senhora da Vitória, a primeira e mais antiga, mas possuía bastante terrenos para
novas construções , possibilitando portanto o crescimento da cidade.
O bairro da Praia Grande que já era considerado o centro comercial ampliou seu
número de armazéns, enquanto a região do atual Desterro sofreu seus primeiros aterros,
para melhor atender a demanda portuária. (VIVEIROS, 1992).
Na opinião dos viajantes Spix e Martius que estiveram em São Luís em 1817,
São Luís era a quarta maior e mais próspera cidade do Brasil, perdendo apenas para o
Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Apesar disso, o embelezamento e a qualidade dos
serviços urbanos ainda careciam de vários melhoramentos, sendo ainda precários os
serviços de abastecimento da água, higiene e iluminação pública. Outro viajante, Robert
Ave Lallemant, em 1859, comentava que “nenhuma cidade no Brasil conta,
proporcionalmente ao seu tamanho, tantas casas bonitas, grandes e até apalaçadas,
como no Maranhão.” (SILVA, 2004, p. 45).
Na segunda metade do século XIX, o traçado urbano de São Luís tinha se
expandido na direção do Caminho Grande, havendo a necessidade de melhorias do
transporte e no disciplinamento dos espaços e uso dos serviços coletivos urbanos, o que
era tentado em parte através das leis municipais.
São também deste período, 2ª metade do século XIX, iniciativas
pioneiras para ajustes da organização da cidade: são os códigos de
postura e a construção de estradas ligando o bairro central (Praia
Grande e adjacências) aos arrabaldes, como o João Paulo, através do
Caminho Grande e estes entre si - João Paulo/ Vinhais/ Calhau;
continuação das obras do cais da Sagração (...); criação da Cia. das
Águas de São Luís, em 1874; assentamentos de trilhos urbanos para
bondes puxados com força animal. (RIBEIRO Jr., 2001, p. 68).
No início do século XX, a cidade de São Luís crescia apesar da difícil situação
econômica que passava o Estado, resultante da crise final do modelo agroexportador.
Muitos casarões que outrora representaram a opulência da capital, no início deste
século transformavam-se em cortiços, moradia das camadas populares e meio de
sobrevivência de seus proprietários. O parque fabril, uma alternativa de investimento
diante da crise da agroexportação no final do XIX, contribuía para o crescimento
populacional da cidade uma vez que representava uma das poucas possibilidades de
emprego para os pobres urbanos e do campo, vítimas do êxodo rural. Essa situação de
crescimento desordenado gerava uma periferização, com a suburbanização nos limites
da cidade, surgindo bairros ligados ao entorno das fábricas, como Fabril, Cambôa e
Anil.3
Essa crise econômica também influiu no cenário urbano da capital maranhense,
pois devido à falta de recursos São Luís não passou pelas grandes reformas urbanas de
modernização que marcaram o início do século XX nas grandes capitais do país, a
exemplo da capital federal, o Rio de Janeiro. Por outro lado, isso possibilitou a
conservação dos casarões erguidos no final do século XVIII e no XIX, contribuindo
para reforçar em vários momentos o culto ao passado, com suas marcas materiais ainda
presentes no espaço físico da cidade, como será observado no discurso do governador
José Sarney na década de 1960 ao se referir a um passado remoto glorioso, de riquezas.4
Nas décadas de 30 e 40, durante a administração de Paulo Martins de Souza
Ramos, como Interventor Federal, de 1936 a 1945, foram realizadas significativas
alterações na área hoje denominada de ‘Centro Histórico’, seguindo a ‘onda’
modernizadora iniciada na Era Vargas. Neste caso, o conjunto urbanístico e
arquitetônico até então preservado, passava a ser visto como comprovação do atraso
sócio-econômico da capital.
3 Essa explicação é resultante de uma análise baseada na leitura de várias obras da historiografia maranhense, o que dificulta uma referência mais específica. 4 - Cf. BARBOSA (2005) ; BARROS (2001).
Para mudar o quadro o governo implementou várias obras. Foi nesse sentido
o alargamento de vias centrais, entre elas a Avenida Magalhães de Almeida, que cortou
a cidade pelo Largo do Carmo, destruindo vários quarteirões antigos, a partir de 1940.
Sobre essa obra que daria uma nova fisionomia ao centro da cidade, consta do relatório
do Interventor Paulo Ramos que:
A avenida que vai da Praça João Lisboa à Avenida 05 de Julho acha-se em
face de execução bem adiantada, emprestando, já ao centro urbano, o
efeito sugestivo de sua moderna perspectiva. [...] Desapropriados que
foram na sua totalidade, os imóveis atingidos pelo traçado, procedeu-
se seguidamente, aos serviços de demolição e terraplanagem, para
abertura e fixação do leito da nova via pública, operação quase
completamente concluída já nos primeiros dias de dezembro passado.
(Maranhão. Relatório do Interventor Paulo Ramos, de 1942).
Dentre as diversas obras empreendidas por Paulo Ramos temos: o Palácio do
Comércio, a construção da Avenida Getúlio Vargas, da Avenida Magalhães de Almeida,
Palácio da Justiça, da Colônia de Psicopata, do Pronto Socorro Getúlio Vargas, além de
alargamento e pavimentação de vias públicas, construção e reformas de praças.
(BARBOSA, 2005, p. 22).
Referindo-se às obras realizadas tanto pelo governo estadual como municipal
nas décadas de 30 e 40, tendo como fonte os jornais e falas dos governantes da época,
Juliana Barbosa (2005, p. 23) mostra como a “ preocupação primordial do governo era
com o enquadramento de São Luís no molde das cidades modernas, daí a elaboração
de um plano de reformas urbanísticas que visava dar uma nova fisionomia para a
cidade”.
Na década de 1950, o diretor do Departamento de Estradas de Rodagem, o
engenheiro Rui Mesquita, traçou o “Plano Rodoviário da Ilha de São Luís” que previa a
expansão além do antigo centro, com a construção de grandes avenidas estendidas a
toda ilha, principalmente as que permitiam o deslocamento da população às áreas de
praia e a construção da “estrada sobre as águas do rio Anil”5. (BARROS, 2001, p. ).
Quanto à situação de São Luís no início da década de 1950, destacamos a
seguir alguns dados apresentados por RIBEIRO (2001, p. 18) referentes aos serviços
públicos.
São Luís era uma cidade com uma pequena oferta de serviços
públicos, haja vista que no setor de transporte em 31.12.1950 havia
apenas 18 km de linhas de ferro-carris de uso público que
transportaram 6. 699 passageiros naquele ano. (...) O oferecimento de
serviços de telefonia se resumia à capital, que detinha em 1950, 1.004
linhas (...) o sistema de iluminação pública foi inaugurado em 1924,
era mantido pelo Estado e servia a 170 logradouros públicos e 242
domicílios (...) Quanto à instalações sanitárias e rede de esgotos, estas
existiam apenas na capital, através do sistema de separador, que
servia a 129 logradouros públicos. O abastecimento d’água era
canalizado, em apenas 4 cidades possuíam tal sistema com
domiciliar, sendo que na capital haviam 226 logradouros servidos.
Segundo Meireles (1992, p. 135 ss), os relatórios e mensagens dos dois
últimos governadores do Estado no período vitorinista, Matos Carvalho (1957-1961) e
Newton Bello (1961-1966) apresentavam uma situação do Estado mais favorável, o que
segundo o historiador devia-se em parte ao fato de não pertencerem às ‘classes
produtoras’, saindo exclusivamente do meio político e por isso não tendo, como os
governadores que os precederam, “olhos de ver a real e difícil conjuntura então vivida e
vislumbrar, com apreensão, o futuro da terra no campo econômico”. Pela Mensagem
de 03 de maio de 1960, do governador Matos Carvalho, a economia é apresentada em
escala ascendente, com a melhoria da produção agrícola e extrativa, através do aumento
5 Este seria o primeiro projeto para a construção da ponte ligando o centro de São Luís à Ponta do São Francisco, o qual só viria a se efetivar na administração do governador José Sarney.
da produção de arroz e a colheita do coco babaçu. O algodão que ocupava a terceira
colocação na balança comercial, também passava por um novo surto de crescimento.
Já na capital, a referida Mensagem apontava a triste situação da indústria
têxtil, “registrando-se no findo ano de 1959 o fechamento de três fábricas de tecidos na
capital e no interior do Estado, debatendo-se os demais estabelecimentos na angústia
da privilegiada concorrência das modernas fábricas de tecidos do sul do país”. (1992,
p. 137).
Um balanço sobre o crescimento demográfico de São Luís e de sua posição
em relação às demais capitais do país é oferecido nessa análise de MEIRELES (2001, p
. 376), baseado nos censos populacionais desde 1872.
(...) em comparação com as demais unidades federadas, é a situação de São Luís, em confronto com as outras metrópoles regionais. A capital maranhense, que Spix e Martius, visitando-a às vésperas da Independência, reconheceram “ merecer por sua população e riqueza, o quarto luar entre as cidades brasileiras”, no fim da Monarquia já era a 9ª pela ordem, com seus 31.604 habitantes conferidos em 1872, e cairia, logo no limiar da República, para o 12º lugar ( 23.308 em 1890), para descer até o 15º em 1920 (52.929), embora, no censo de 1970, tenha conseguido reconquistar um ponto, subindo para o 14º, com seus 265.486.
Na década de 1960, apesar da situação econômica e financeira do Estado não
apresentar grandes equilíbrios, dada as suas condições estruturais, a capital já havia
passado por várias mudanças em sua malha urbana, embora mantivesse os traços
originais daquela traçada por Frias de Mesquita ainda no século XVII. No entanto, o
balanço apresentado por José Sarney no início do seu mandato, como pode ser
observado em seu discurso de posse (anexo 01), destaca uma “herança desoladora”,
como uma forma de criticar a herança vitorinista e construir um novo imaginário
pautado na esperança do seu governo, para trazer o progresso ao Maranhão.
3 - A CIDADE DE SÍMBOLOS E PROJETOS: “a Ponte da Esperança” e o
nascimento da “cidade nova”
A Ponte“Governador Sarney”, na sua grandeza
arquitetônica, pode não acordar poetas, mas despertará
no futuro a atenção dos historiadores” ( O Imparcial,
14.02.1970)
Novos atores políticos adentram ao cenário nacional após o golpe militar de
1964, com projetos que pretendiam colocar em prática partindo de uma construção
ideológica que vislumbrasse a modernização das estruturas do país, tanto em nível
político quanto sócio-econômico. No Maranhão, esse projeto de modernização foi
denominado “Maranhão Novo” e teve na figura de José Sarney, governador do Estado
de 1966-1970, seu principal representante, idealizador e empreendedor. Esses projetos
visavam garantir ao Brasil e ao Maranhão a viabilidade da modernização da sociedade.
A conjuntura política representada pelo regime militar seria um terreno fértil para esse
projeto, já que essa modernização estava pautada no modelo neopatrimonial,
característico do Estado brasileiro, conforme definido por Simon Sahwaertzman (1988,
p.14).
O Estado brasileiro tem como característica histórica predominante sua
dimensão neopatrimonial, que é uma forma de dominação política
gerada no processo de transição para a modernidade com o passivo de
uma burocracia administrativa pesada e uma “sociedade civil” (classe
sociais, grupos religiosos, étnicos, lingüísticos, nobreza etc.) fraca e
pouco articulada.
A legitimidade da nova ordem “Maranhão Novo” passou a ser articulada
através de uma política ideológica que assinalasse a grandeza de sua inovação,
aproximando-se dos segmentos populares e assumindo o compromisso de mudar o
Maranhão, que foi representado como estando relegado ao atraso, fruto das
administrações anteriores.
Um instrumento importante do governo Sarney para conseguir seus
objetivos foi o apoio de intelectuais da chamada “geração de45”, da qual foi
participante, para respaldar o seu discurso que era também o ideal daquela geração6.
A idéia de modernização da sociedade maranhense foi lançada pela “geração
de 45”, que se dizia preconizadora desse projeto e da qual José Sarney fazia parte. Foi
num contexto de marginalização do Estado em relação ao crescimento nacional iniciado
desde a década de 30, com o advento da Era Vargas, com a expansão acelerada do
sistema industrial brasileiro, que esses intelectuais adentraram ao cenário maranhense
como designados a romper com a ‘inércia provinciana,
(...) como Prometeus modernos que trazem luz da civilização para
uma região marcada pelo “obscurantismo” político e social. “Das
trevas à luz”, essa divisão cria uma certa periodização da história
regional que considera a ascensão dos “modernistas” ( ‘a poesia no
poder’, segundo foi designada na época) um marco zero,
desqualificando todo e qualquer proposta anterior de modernização
do Maranhão (...) (COSTA, 1997, p.12).
A Geração de 45 vai se destacar nas décadas seguintes na política maranhense
com o objetivo de realizar as reformas que consideravam inadiáveis no aparelho
político- administrativo e na infraestrutura econômica. A ascensão de José Sarney á
política maranhense o transformava na personificação do projeto dessa geração: “a
poesia no poder”.
A José Sarney, deputado federal aos 24 anos, caberia o papel de realizar
a mais decisiva presença da Geração, pela sua dupla qualidade de
escritor de talento e político de êxito fulgurante que, em 1965, na maré
alta da memorável campanha cívica em que percorreu o estado inteiro
6 A “Geração de 1945”, era formada por intelectuais como José Sarney, Ferreira Gullar, Bello Parga, Carlos Madeira, Reginaldo Telles, Antônio Luís Oliveira, Domingos Vieira Filho, Bandeira Tribuzzi, Lucy Teixeira. Cf. Sarney, José. Governo e Povo. Rio de Janeiro: Artenova, 1970; Moraes, Fátima. José Sarney. 70 anos – um perfil da sua história. São Luís: Editora Alcântara, 2000.
levando a bandeira do Progresso com Justiça Social, haveria de
destroçar a velha e corrupta máquina administrativa e, com a penas 35
anos chegar ao Poder para nele consumar aquele mesmo idealismo
realista que comungava há tantos anos com seus companheiros de
geração que integraria em sua equipe para produzir no seu Estado uma
administração de novo tipo que tanta gente já tem apontado como
“milagre maranhense’. (Prefácio. In. SARNEY, 1970)7
Essa geração procurou criar uma identidade que vislumbrasse a
modernização da sociedade maranhense. E nesse contexto Sarney ascendeu ao poder
como o agente que promoveria essa mudança e implementaria o “Novo Maranhão” em
detrimento do Maranhão decadente”. Ao proferir um de seus discursos sobre a
modernização do Maranhão, José Sarney afirmou que seu governo promoveria a justiça
social e o crescimento econômico: O slogan de nossa campanha foi sempre o de
liberdade e progresso - liberdade através do expurgo desses métodos e dessa crosta,
sem o que seria impossível qualquer desenvolvimento e qualquer tentativa de caminhar
para oferecer melhores condições de vida ao povo. (SARNEY, 1970, p. 129)
E como um dos expoentes dessa Geração, José Sarney despontou como
promotor da renovação, para estimular a esperança dos pobres, o surgimento de
oportunidades, prometendo a todos a salvação pela modernidade. Assim, Sarney subiu
ao poder com seu projeto “Maranhão Novo”, que vislumbrava a preocupação com o
desenvolvimento econômico e a mudança na estrutura social. Mais que um projeto
estadual, essa idéia tinha suas raízes fincadas na ideologia nacional desenvolvimentista
que proclamava a construção de uma “nação grandiosa” e o bem-estar do povo
brasileiro.
7 Os membros da Geração de 45 que participaram do governo foram: Bello Parga (diretor do Banco do Nordeste); Carlos Madeira (Juiz Federal); Reginaldo Telles (diretor da Imprensa Oficial); Antônio Luís Oliveira ( secretário de governo); Domingos Vieira Filho (diretor do Departamento de Cultura); Bandeira Tribuzzi (membro do GTPA e da SUDEMA); José Sarney (Governador). Sarney, José. Governo e Povo. R.J: Arttenova, 1970.
Dessa forma, Sarney, além de propor que seu governo simbolizava um
divisor de águas com os anos anteriores considerados de estagnação, apresentava a
ideologia do novo como símbolo do progresso e modernidade e com abrangência a
todas as camadas da sociedade.
A representação do “novo”, que rompia com o vitorinismo, pronunciava José
Sarney como promotor da modernidade, conquistada para atender aos anseios do povo e
promover a administração democrática do Estado. Na medida em que Sarney afirmava
ideologicamente o seu governo através da ruptura com o passado assumia uma
idealização de realizar o sonho social do povo, propondo a libertação de todo o atraso,
de toda a “herança” de arcaísmo para a consolidação do progresso e da justiça social.
A parceria entre “Governo e Povo” presente nos discursos de Sarney
transformava o projeto do Maranhão Novo em um programa político que associava o
progresso, o desenvolvimento econômico com a justiça social, pois assegurava que o
seu governo viria em primeiro lugar para promover o bem estar social de todos os
maranhenses, tornando-se a esperança e transformando-o no “líder popular” e
carismático. Com o titulo “ A última esperança tinha 35 anos”, Edson Vidigal (In.
MORAES, 2000, p.50) assim se refere à ascensão de José Sarney ao governo do Estado:
Sobrevivente em seu espaço político e protegido, como sempre pelas
artes e manipulações divinas, eis enfim nossa última esperança por
nome José Sarney, em 1965, pronto e embalado para duas visíveis
impossibilidades – vencer as eleições e liderar um governo que
mudasse tudo, para melhor, no Maranhão.
A visão de Milson Coutinho (1988, p.79) expressa bem essa incorporação do
discurso, sem considerar as contradições desse projeto modernizador ao dizer governo
de Sarney foi um governo do povo, pelo povo e para o povo em que estabeleceu a
democracia de oportunidades, o respeito à pessoa humana e ao trabalho. Com isso
reforçou a idéia do progresso para superação do atraso, fortemente veiculada nos
discursos que personificavam a imagem do governador José Sarney como o escolhido
para combater o atraso econômico e social.
As alocuções sarneítas do que compreendia ser o seu projeto modernizante
em prol do progresso trazia em seu próprio íntimo a exaltação de um passado
longínquo, porém próspero, e cujo esplendor foi apagado em parte pela violência e
abusos da oligarquia vitorinista. “O Maranhão novo pretende fazer do proclamado
desenvolvimento do Maranhão, um elemento que permita não o regresso temporal, mas
o estado de consagração que é dado pela prosperidade passada” (GONÇALVES, 2000,
p.108)
Os discursos oficiais de José Sarney preconizavam a prosperidade econômica da
“época áurea” do Maranhão, em referência ao passado de prosperidade vivido pela
região, assumindo um compromisso com o povo de revitalização econômica e social.8
“(...) o manifesto compromisso de servir o povo, de trabalhar pelo
Povo, com o Povo, por um Maranhão de dignidade, de liberdade e
progresso e de grandeza, que, sob a imagem de um passado glorioso
há de projetar-se ainda mais num futuro magnífico”. (SARNEY,
1970, p.15)
Dessa forma, procurava mitificar o presente com alusão ao passado
longínquo de prosperidade econômica. Para Sarney, o seu governo vivia a superação de
um passado recente e decadente, tomando um rumo novo de retomada da prosperidade
que pertencia ao Estado. Diferente desse passado próspero que era um referencial para o
presente, o projeto do Maranhão Novo, conquistado com a posse de Sarney ao poder
8 O período áureo a que se refere é o final do século XVIII e o século XIX, sempre destacado pela historiografia como de crescimento econômico resultante da agro-exportação, propiciando ainda o desenvolvimento cultural, especialmente da elite de São Luís, levando a cidade a receber o título de Atenas Brasileira, com destaque para a plêiade de escritores do Grupo Maranhense.
executivo do Estado, teria o diferencial da modernidade, com o crescimento econômico
e social.
Apesar do discurso de inovação, essa ideologia desenvolvimentista não se
iniciou com as propostas modernizantes do projeto político do Maranhão Novo. De
acordo com Palhano (Apud CABRAL, 1997, p.17) a ideologia desenvolvimentista,
tendo o planejamento como instrumento para o desenvolvimento econômico, chegou ao
Maranhão não com o governador José Sarney, mas ainda no período de mando de
Victorino Freire.
Essa postura de ‘divisor de águas’ do governo Sarney, apresenta a função
mitificadora do “Maranhão Novo” em tornar-se como marco histórico da construção
ideológica da modernidade no Estado, precisamente em São Luís, afinando-se com os
planos e metas do Governo Federal, formando uma crescente ideologia que fortalecia o
seu representante maior no Estado– José Sarney. As alocuções políticas do governo
Sarney, com caráter de modificações no campo social, transformava os substantivos
abstratos em concretos, através da construção de obras que colocavam em prática a idéia
de modernidade como sinônimo do novo, do progresso.
Nos discursos oficiais, José Sarney anunciava a construção de um governo
que caminha para o “progresso” com ares do “moderno”, do “novo”, para o “bem-estar
social” e sustentado na “esperança”, palavras estas muitas vezes com significações
abstratas, mas que em projetos políticos tendiam a transformar-se em concreto: pontes,
estradas, asfaltos, escolas, hospitais, etc. Com o governo do “Maranhão Novo”, o
progresso era exemplificado através das transformações que passavam o Estado e a
cidade de São Luís, com o crescimento demográfico e ampliação de sua malha urbana,
além dos símbolos da modernização que deveriam servir também para o embelezamento
da cidade.
A estagnação econômica do Estado era exemplificada através as situação de
sua capital, que no início da década de 1960 destacava-se mais pela sua função
administrativa, com a ampliação do seu aparelho burocrático, onde o emprego público
tornava-se meio de sobrevivência para antigos setores dominantes da economia local.
(RIBEIRO Jr., 1999, p. 83).
O crescimento populacional da cidade até a década de 60 devia-se mais aos
constantes fluxos migratórios, de pessoas vindas do interior do estado e de outros da
federação, por conta da ocupação agrária desordenada, servindo esta cidade como um
dos centros absorvedores da massa de trabalhadores excluídos da propriedade ou posse
da terra, fazendo crescer (ou inchar) sua população à taxas relativamente significativas.9
De acordo com o IBGE, São Luís entre 1960 e 1970 apresentou o maior
índice populacional, de 5,31 %, propiciando um novo traçado urbano à capital,
ampliando a urbe ludovicense através do crescimento dos bairros: “Liberdade, Monte
Castelo (Areal), Apeadouro, Fátima, Alemanha, João Paulo, Caratatiua, Jordoa e
Sacavém , encurtando o caminho pela Vila do Anil”. Esse crescimento também levava a
uma ocupação desordenada e a falta de infra-estrutura de moradias. “Para 1969, diante
de uma população estimada em 251.389 habitantes, aproximadamente 40.000 destes
residiam em palafitas, que representavam em termos percentuais, cerca de 16%
daquele número estimativo”. (RIBEIRO Jr, 1999, p.87).
Por outro lado, cresceu também o setor da construção civil, tornando-se um
dos principais setores do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado. O
crescimento da população, em especial das classes média e baixa, ligadas ao
funcionalismo público, ou seja, que podiam comprovar renda, possibilitou a construção
de moradias populares financiadas pela Caixa Econômica Federal (CEF). Esses
9 A política agrária do governo de José Sarney, através da Lei de Terras nº 2979/69, reforçou essa exclusão social do campesinato maranhense e o êxodo rural.
conjuntos habitacionais (COHAB) faziam parte do atendimento ao crescimento
demográfico nos principais aglomerados urbanos do país, entre os anos de 1940-1991.
(RIBEIRO Jr., 1999, p.94). Em São Luís temos a construção do Residencial Caratatiua
(1967), Cohab Anil I (1968), Cohab Anil II (1969), Cohab Anil III (1970), Maranhão
Novo (1970), Ipase (1970). (TEIXEIRA, 2005, 30).
O crescimento urbano criava algumas necessidades para facilitar a
integração das áreas já ocupadas e viabilizar o acesso a outras áreas para a habitação. A
construção de pontes era uma alternativa importante para esses ajustamentos.
A construção da primeira ponte de concreto sobre o rio Anil foi concluída e
inaugurada em 1968, no governo de José Sarney, batizada com o nome de Ponte do
Caratatiua, sendo importante para apontar a direção das praias e ligar a COHAB aos
bairros do Caratatiua e Ivar Saldanha, transformando aos poucos estas áreas com
características eminentemente urbanas, modificando a fisionomia da cidade.
Dessa forma, para que seu projeto ideológico prosperasse e fossem
percebidas as transformações da urbe, era necessária a construção de símbolos que
configurassem a esperança no progresso, transformando o abstrato em concreto. A
cidade foi transformada em um canteiro de obras, dando a ela tratamento urbano, com a
construção de novos bairros, a exemplo dos que foram citados acima, e utilizando
construções faraônicas para promover o seu governo, com grande poder propagandístico
da sua imagem de moderno e progressista.
A representação dessa grandiosidade, de obras faraônicas, pode ser vista na
construção do porto de Itaqui, ao sudoeste da Ilha. Aliado à presença do ramal
ferroviário na região do Bacanga, esta obra proporcionou o crescimento da malha
urbana em suas proximidades, com o surgimento de ocupações na zona periférica da
cidade, com os bairros: Anjo da Guarda, Vila Nova, Fumacê, Vila Embratel e Sá Viana.
O desenvolvimento de São Luís durante o Governo Sarney pode ser visto
como ação e comunicação simbólicas, concebido e executado não apenas para atender
as necessidades econômica e sociais imediatas, mas também para demonstrar à
sociedade tudo que seu projeto modernizante podia realizar. Pois, “os símbolos são
instrumentos por excelência da integração social.” (CHARTIER, ano, p. 16). Enquanto
instrumento de conhecimento e comunicação, os símbolos podem ser usados para o
consenso acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente para a
reprodução da ordem social.
As obras chamadas monumentais, de grande visibilidade, correspondiam à
necessidade do discurso transformar-se num instrumento de propaganda do governo
estadual. A Ponte José Sarney tornou-se esse símbolo de alusão ao moderno e, desde a
sua construção, ela transformou-se num dos principais símbolos da ideologia
progressista na capital maranhense, segundo o slogan do governo - “Maranhão Novo”.
Os idealizadores da cidade dos sonhos desejavam transformar São Luis na
grande vitrine do Estado, em que havia a realização dessas grandes obras. A ponte sobre
o rio Anil, idealizada desde a década de 1950, pelo engenheiro Rui Mesquita (então
diretor do Departamento de Estrada e Rodagem – DER) em seu Plano Rodoviário da
Ilha de São Luis, só foi concretizada no governo de Jose Sarney. Essa construção foi
transformada em um ato propagandístico mesmo antes do início das obras, através da
divulgação pela imprensa. “A Ponte de São Francisco deixará de ser apenas sonhos,
para dentro em breve ser uma grande realidade”. (Jornal do Dia, 11 de maio de 1968).
Segundo informações dos principais jornais da capital ( Jornal Imparcial,
Jornal do Dia), que acompanhavam passo a passo o andamento das obras, a ponte do
São Francisco, como inicialmente era chamada, teve início em junho de 196810, sendo
10 A primeira informação nos jornais sobre o início das obras da ponte São Francisco é do dia 13 de junho de 1968. (Jornal O Imparcial)
estimada a sua conclusão no prazo de 24 meses . O projeto previa uma extensão de
958.040 metros11, sendo inteiramente de concreto. O valor estimado da obra foi de Cr$
5.000.000,00 (cinco bilhões de cruzeiros antigos).
Os editoriais do jornal faziam alusão dessa obra para o desenvolvimento
urbano, embelezamento e para o imaginário progressista da elite ludovicense que
poderia se apropriar dos novos espaços e redimensioná-los. “Será uma das obras mais
importantes no setor de urbanização de São Luis, possibilitando a ligação do centro
comercial da cidade com um dos mais populosos núcleos residenciais, além de facilitar
o acesso ao balneário da Ponta D Areia” (Jornal do Dia, 04 de julho de 1968)
Cada passo da construção da ponte era noticiado com uma crescente expectativa
ao elo que ligaria a cidade antiga à cidade nova e às possibilidades que essa construção
representaria aos segmentos sociais da urbe. O próprio governador inspecionava com
freqüência o andamento da obra e participava de alguns momentos importantes para sua
conclusão. O Jornal do Dia, de 17 de agosto de 1969, anunciava que o governador
cravaria pessoalmente a última estaca dessa obra. No dia 13 de setembro, o jornal
Imparcial divulgou::“O Governador Jose Sarney assistiu ontem à tarde à cravação
da última estaca da ponte do São Francisco, obra iniciada pelo atual Governo e que
está sendo construída em tempo recorde”.
A construção de uma obra de grande porte como a ponte do São Francisco,
suntuosa e sólida na sua estrutura, pode ser percebida como um instrumento de
propaganda do governo em toda a região, especialmente através da imprensa. Esse
instrumento seria utilizado para demonstrar à sociedade a repercussão da eficiência da
administração estadual.
11 Os dados sobre a extensão da ponte, fornecidos pelos jornais, não são precisos, pois falavam também de 820, 889 e 900 metros. Quanto ao tempo de execução, o objetivo era reduzir ao máximo, se possível para 18 meses. Ao final, a construção da ponte levou 19 meses.
Um outro aspecto que pode ser analisado, além da figura do governador estando
presente em vários momentos da construção daquele que seria o símbolo representativo
do progresso no seu governo, na capital do Estado, foi a sua personificação na
representação da obra, batizada com o nome de “Ponte Governador José Sarney”. Isso
pode ser entendido como a criação de um ‘arquivo’, no que Pierre Nora (1981)
denominou de “lugares da memória”, onde nascem e vivem do sentimento de que não
há memória espontânea, “(...) é preciso criar arquivos, é preciso organizar
celebrações”. Sendo assim, até o nome da ponte poderia ser utilizado como propaganda
do governo e como lugar de memória.
Para tanto, o governador contou com apoio da Assembléia Legislativa, onde os
deputados estaduais criaram um projeto de lei denominando “Governador José
Sarney”,12 à ponte sobre o Rio Anil, a qual ligaria a cidade de São Luís ao Distrito de
São Francisco. (Jornal do Dia, 22 de janeiro de 1970).
Enfim, a tão esperada ponte sobre o Rio Anil foi concluída. A cerimônia do ato
de inauguração da ponte José Sarney ficaria por muito tempo na memória da cidade, no
colorido de encantos do dia 14 de fevereiro de 1970. O jornal “ O Imparcial”
transformou a solenidade em ato de louvação ao governo de Sarney e de crítica aos
governos anteriores (ligados ao vitorinismo), na medida que estes governos não tinham
sido capazes de realizar uma obra tão importante para o’ bem do povo’.13
O povo do Maranhão recebe hoje, do Governo José Sarney, a desejada
ponte do São Francisco, com muita justiça denominada ‘Ponte
Governador Sarney’, obra que afirma uma administração, testemunha a
capacidade do nosso trabalhador e emoldura a’ Grande São Luís’,
dando-lhe silhueta nova.
12 Apesar de ser denominada de ponte “governador José Sarney” , a população até hoje continua chamando de ponte do “São Francisco”. 13 Até mesmo as primeiras fundações da ponte, que foram feitas no governo anterior ao de Sarney, foram destruídas (dinamitadas), sob a alegação de que não havia possibilidade de seu aproveitamento.
Mas essa não é a primeira e nem a maior ponte desse Governo.
(Imparcial, 14 de fevereiro de 1970). Grifo nosso.
Como se pode observar na última frase da citação acima, a construção e
inauguração da “Ponte da Esperança” serviram também como elemento simbólico para
esse governo, na representação de uma imagem de mudança, de progresso, nos moldes
discursivos do seu projeto político denominado “Maranhão Novo”. Dando continuidade
à matéria sobre a inauguração da ponte, intitulada “Ponte da Esperança”, o redator, em
tom laudatório, destacou esse elemento simbólico da ponte para expressar o significado
político do atual governo, colocando o seu representante como aquele que estava tirando
o Maranhão do atraso e projetando um Maranhão novo, moderno, para o futuro.
Quando Sarney desfraldou a bandeira de 1965, levando-a, vitoriosa, aos
leões, estava construindo a primeira e grande ponte capaz de ligar o
passado ao futuro - a ponte da esperança. Foi através dessa ponte,
construída realmente no abstrato, que o Maranhão se deu conta de sua
capacidade de recuperação e teve coragem de compreender a jornada
que lhe asseguraria como vamos [ilegível] assegurando, transpor rios e
obstáculos: vencer distâncias no espaço e no tempo e iniciar a
construção de um Maranhão Novo já hoje orgulho dos que não
perderam a fé nas potencialidades da terra e de sua admirável gente.
A referência constante ao termo esperança, sendo o próprio governador visto
como a última esperança do Maranhão pode ser respaldada nas obras que eram
batizadas oficialmente ou não com esse nome, a exemplo da Hidrelétrica de Boa
Esperança e da Ponte José Sarney, denominada nos jornais como a ponte da esperança.
Isso mostra uma tentativa de associar sua imagem com os anseios da população que
agora teria na figura do seu jovem governante o promotor da esperança. Além disso, o
Maranhão voltaria a “merecer o respeito dos que nos visitam e descobrem em cada obra
a marca de uma administração responsável” (Jornal Imparcial, 14 de fevereiro de
1970).
Como percebemos nas alusões feitas pela imprensa local, a ponte assumia um
caráter fantástico no imaginário ludovicense, nutrindo os sonhos do progresso. A
crônica intitulada “Ao povo de São Luís”, escrita pelo próprio governador José Sarney
para a inauguração da ponte, publicada no Jornal “Imparcial”, do dia 14 de fevereiro de
1970, apresenta a materialização desse grande projeto de modernização do seu governo:
Nossa cidade está hoje em festa na coroação das celebrações do quarto
aniversário da aliança do povo com o Governo do Maranhão ao
inaugurar-se a ponte que liga a cidade histórica à área de expansão das
praias pelo anel das novas avenidas. Meu governo cumpre assim não
mais uma determinação de empenho para dotar São Luís dos trâmites
de progresso condicentes com a sua recuperada função de Capital do
Desenvolvimento do Estado.
Pela sua dimensão histórica pelo civismo do seu povo, que durante
tantos anos transformou esta cidade no baluarte da Liberdade e da
Esperança. São Luís estava a merecer o tratamento preferencial que
durante tantos anos lhe foi negado.
(...)
Por isso, a festa é de todo o Povo, sem o qual a ponte seria sempre um
sonho inviável. Por isso, o Governador convida o Povo para estar
presente à festa da inauguração e com ele conviver da alegria das
afirmações do presente em que constrói uma ampla e segura ponte
para um grande futuro. Grifos nossos
Para coroar de êxito seu projeto, no momento em que encerrava o seu mandato,
convidava o povo para a festividade, para juntamente com o governo comemorar a
realização de um ‘sonho’, pois de acordo com os discursos proferidos pelo governo, as
transformações desenvolvimentistas eram feitas “pelo governo e para o povo”.
Durante a inauguração da ponte, de acordo com os jornais, compareceram para a
festividade as principais autoridades estaduais e federais14, além de grande massa de
14 General Itiberê Gouveia do Amaral (Comandante da 3ª Região Milita,r em Juiz de Fora-MG); General Luiz Serff Sellman (comandante da 10ª Região Militar – Fortaleza-CE); Coronel Tôrres de Melo (Comandante do CPOR – Ceará); o representante do presidente do Banco do Nordeste; Sr. João Castelo,
populares. A solenidade de inauguração contou com a participação de blocos e escolas
de samba ao longo da ponte, com o objetivo de promover uma grande festa popular,
envolvendo as manifestações culturais da cidade.
Toda a população de São Luís deverá estar presente a este
acontecimento importante do Governo Estadual, prevendo-se ainda,
acontecer outra grande batalha de confete, com a presença de todas as
escolas samba, blocos, tribos e maracatus. O Rei Momo e sua corte real
bem como os cronistas carnavalescos se farão presentes.”
(IMPARCIAL, 14 de fevereiro de 1970).
Os jornais que fizeram a cobertura do evento foram unânimes em destacar a
grandiosidade da festa, a 15grande mobilização popular, fazendo com que uma
“incalculável massa humana” participasse da inauguração (Anexo 6 ). A solenidade
teve início às 18:00 h, com a chegada do Governador e as autoridades para o corte da
fita simbólica. Em seguida, em gesto igualmente simbólico, o Governador,
acompanhado de sua esposa e das autoridades convidadas, atravessou a pé a ponte que
seria o novo elo entre a cidade antiga e a área que se transformaria em uma nova faixa
de ocupação da cidade (cidade nova).16
Ao chegar à outra extremidade da ponte, à Ponta de São Francisco, onde estava
o palanque oficial, o Governador e as autoridades deram continuidade ao ato inaugural
proferindo os discursos. O engenheiro Eduardo Tôrres Lopes, diretor da construtora
Itapoá, responsável pela construção da ponte, fez a entrega oficial da obra. Seguiram-se
os discursos do Governador e das autoridades, entre as quais a imprensa destacou:
do Banco da Amazônia; General Bandeira Coelho (Superintendente da SUDAM); Sr. Luiz Carlos Bello Parga ( Diretor do Canteiro de Crédito Geral do Banco do Nordeste); Sra. Ilza Castelo Branco; Industrial Edson Queiroz. Compareceram também secretários de Estado, diretores e chefes de Repartições parlamentares, jornalistas de vários Estados e muitas outras “pessoas de relevo”. 15 O Chefe da Casa Civil do Governo do Estado fez um apelo aos proprietários de linha de transportes coletivos para que estes aumentassem a circulação dos seus veículos para o bairro de São Francisco, com passagens a preços populares. (Jornal O Imparcial, 14 de fevereiro de 1970). 16 Segundo o jornalista Cordeiro Filho, “Quem chega a Ponta do são Francisco v~e que ela tem tudo para ser uma grande cidade. A sua integração vai ser já! Isso agradeça ao Governador José Sarney e ao prefeito Vicente Fialho.” (Jornal Imparcial, 17 de fevereiro de 1970).
Comandante da Guarnição Federal, Coronel Alberto Braga; Prefeito Vicente Fialho;
Secretário de fazenda Pedro Neiva; Secretário de Agricultura, Lourenço Vieira da Silva;
ex-prefeito de Caxias, Aluísio Lôbo; o prefeito de Caxias, Marcelo Tadeu; Deputado
Federal Ivar Saldanha. (Jornal Imparcial, 15 de fevereiro de 1970).
Destacamos a seguir alguns trechos do discurso do Governador José Sarney na
inauguração da Ponte (Anexo 2 ), procurando perceber as alusões simbólicas do
significado do seu governo, no momento que este chegava ao fim e que a ponte que
estava sendo inaugurada era uma representação da esperança no futuro, que só estava
sendo possível graças a sua ascensão ao governo do Maranhão.
Aqui estou, e é bem certo que cada um possa avaliar a minha emoção,
neste instante em que quatro anos, depois de Governador, quando
chego ao poente do meu mandato e vejo ao meu lado, solidário e coeso
comigo, na dificuldade e nas boas horas, o povo da minha terra. Debuto
a mim mesmo porque esta aliança não se dissolveu, porque esta união
não pôde ser rompida ou porque eu não falhei as esperanças do Povo e
o Povo passou a acreditar no Governo. Só pude não falhar às
esperanças porque o Governo não prometeu nada, mas prometeu o que
era mais difícil para os maranhenses, a tantos anos acostumados à
desilusão e a desesperança. Nós prometemos fazer um Governo de paz,
Governo de trabalho.
(...)
Nós sabemos o que foi o passado; nós sabemos o que é o presente e nós
temos confiança do que será o futuro. Aqui, àqueles que nos visitam;
a ponte parece apenas uma ponte. Embora, não seja a maior ponte
de concreto do Brasil, para nós do Maranhão essa ponte é muito
mais, porque ela é a afirmação de todos nós, quando nós
julgávamos que não podíamos ser mais afirmados, porque quando
a maré enchia e quando a maré vazava a ponte do passado vazava.
Hoje, nós maranhenses temos confiança e sabemos que o progresso é
fruto do trabalho e que progresso começa dentro de cada um de nós,
com o nosso trabalho e a nossa determinação de vencer. Nós já
sabemos o que é Governo sério, o que é governo honesto e o que é
Governo de trabalho e de paz.
(...)
Eu não preciso ser mais nada, porque tudo que eu fui e o que eu sou é
aquilo que desejo ser, aquilo que os senhores me cercam, porque a
minha alegria é a alegria do Povo da nossa terra, nós juntos, hoje; aqui.
(...)
Assim, neste instante em que nos despedimos; nesta noite, que eu
acredito tenha sido, até hoje, a maior concentração popular que já fez
no Maranhão, em que o Povo se derrama desde as fraldas da rua do
Egito e da gloriosa e Tradicional praça João Lisboa, até as beiras das
areias da Ponta d’ Areia e que todos nós aqui estamos, Governo e Povo
unidos, Governo Federal; todos porque todos aqui sabem que nós nunca
separamos a unidade de nosso trabalho. Todos nós aqui estamos
unidos; e o que eu peço; ao me despedir nesta noite; ao Povo é que esta
união jamais possa ser dissolvida, porque ela fez a Ponte de São
Francisco: ela fez a ponte da esperança do Maranhão no seu grande
futuro. (Jornal O Imparcial, 17 de fevereiro de 1970). Grifos nossos.
Assim, essa festividade procurava ser a representação da materialização dos
sonhos. A “Ponte da Esperança”, como a magnitude dos anseios do “Governo e Povo”.
São Luís, agora estava dotada de um ‘cartão postal’ que poderia ser visto como
símbolo do desenvolvimento, como a concretude do projeto do “Maranhão Novo” na
capital do Estado. Nas palavras de seu idealizador:
Conheci o poder e ‘o prover’, como dizia Summer Wells. Sei hoje
olhá-lo dos dois lados do Rio. Senti e agradeci a Deus, como verdade,
aquele poder que Ele deu de dizer: “_ Faça-se a Ponte do São
Francisco”: E ela se fez caminhões e gentes, constroem novas
moradas e nova vida. E ela se fez. (Jornal O Imparcial, 01 de janeiro
de 1971)
A realização dessa obra não refletia apenas os anseios de modernização e
desenvolvimento do governo e da sociedade, mas trazia implícita também as
contradições da modernização, a qual não atinge e beneficia a todos, que é sentida de
forma diferente pelos segmentos sociais. Isso pode observado no caso dos moradores da
vila de pescadores do São Francisco, localidade situada do lado oposto do rio, e que
estava mais isolada devido a dificuldade de comunicação com a cidade. Por
conseguinte, esses moradores não eram beneficiados pelos projetos urbanísticos de
infraestrutura, como água encanada, iluminação (energia elétrica), esgoto. A população
também não era atendida com os serviços de assistência social, escola, hospital. “Quem
conhece o bairro do São Francisco já deve ter sentido os problemas que o cercam. O
seu povo vive uma vida um tanto precária e precisa, por isso, de uma vida melhor. E a
construção de uma ponte que liga São Luís a esse bairro, equacionará de qualquer
modo os problemas de seus habitantes”. (Jornal do dia, de 07 de setembro de 1968).
A única forma de haver contato com a cidade e os recursos advindos dela era
através da utilização de canoas, que transportavam pessoas e mercadorias. Esses
percursos eram denominados pelos moradores de travessias e eram feitos pelos
canoeiros, que tinham nessa atividade seu único meio de sobrevivência.
Diante dessa situação, a construção de uma ponte ligando os moradores com
outro lado da cidade, criava uma grande expectativa. Além de melhorar a condição de
vida desses moradores, esperava-se que esta obra promovesse uma reorganização do
desenvolvimento urbano da cidade, que anteriormente tinha uma ocupação urbana
crescente em direção ao bairro do Anil, principalmente devido a sua topografia, e agora
se expandiria em direção ao balneário da Ponta da Areia.
Durante a construção da ponte os jornais enfatizavam com freqüência os
benefícios que traria para os moradores do São Francisco:
Evidentemente, a construção dessa ponte facilitará o acesso à Ponta do
São Francisco, cuja população, desta maneira, terá melhores condições
de vida, estará sem dúvida alguma muito em breve, vivendo melhor. É
realmente muito importante a construção dessa ponte e, assim, o
Governo Estadual presta a seu povo um grande trabalho dando-lhe
visão nítida de que, no Maranhão, alguma coisa há que realmente
represente os esforços de uma geração. (Jornal do Dia, de 11 de maio
de 1968). Grifo nosso.
Além desses benefícios, a ponte também serviria como atrativo, com seu valor
estético, “ por isso a construção da Ponte do São Francisco como um grande presente a
um povo que, pelo menos precisa de algo para os olhos também”. (Jornal do Dia, 07 de
setembro de 1968).
Após a inauguração da ponte, os discursos veiculados na imprensa local
reforçavam esse sentimento de melhorias advindas com a realização dessa obra, a
exemplo da crônica de Bacelar Viana destinada aos moradores do São Francisco:
Povo de São Francisco, não mais as canseiras e espera fatigante pelo
transporte moroso e difícil. Não mais a dependência das marés
caprichosas. Não mais o isolamento e a marginalização. Estás livre
dos grilhões do atraso, deste castigo de Tântalo que te colocou
vizinho próximo do centro urbano, mas que interpôs um inexorável
braço de mar entre “féerie”17 da cidade e a palidez do povoado ora
redimido. (Jornal O Imparcial, 20 de fevereiro de 1970)
A realização dessa obra de fato trouxe mudanças no perfil da cidade,
ocasionando o crescimento da área do São Francisco, no entanto, isso não significou
melhorias para todos, especialmente para os moradores mais pobres.
Com a construção da ponte, os moradores que ocupavam o núcleo
central do bairro foram indenizados pelo Estado para deixarem a área.
No lugar de suas casas foi construída a avenida Marechal Castelo
Branco e, em pouco tempo o São Francisco foi ocupado por residências
de classe média e prédios comerciais. (BARROS, 2001, p. 57).
Um segmento prejudicado com a construção da ponte foi o dos canoeiros, os
quais ficaram sem trabalho. Ficaram dependendo das promessas do governo para ajudá-
los em um possível remanejamento para outra atividade. “Sabe-se, de antemão, que é
17 Féerie - expressão em francês que significa magia.
pensamento do Governo do Estado, através dos órgãos competentes ajudar a todos os
canoeiros, de modo a que eles não fiquem entregues à ociosidade, mas, pelo contrário
encontrem quanto antes novo ambiente de trabalho”. (Jornal O Imparcial, 20 de
fevereiro de 1970).
Para os promotores do projeto de construção da ponte, ela faria a expansão da
cidade, através da ‘ocupação’ de áreas antes legadas ao “abandono e estagnação”. As
vantagens diretas e indiretas eram a maior arrecadação de tributos, já que haveria mais
construções, novas residências, novos empreendimentos, tudo retornando para o Estado
sob a forma de impostos. (Jornal O Imparcial, de 20 de fevereiro de 1970).
Um exemplo desses novos empreendimentos imobiliários foi a construção de
conjuntos habitacionais, como o do BASA (Banco da Amazônia S.A). Em 1971,
servidores do Banco da Amazônia que haviam adquirido casa nesse conjunto residencial
da Ponta do São Francisco solicitavam ao prefeito da capital que fizesse melhorias na
infraestrutura, com a pavimentação das ruas desse conjunto, o que, segundo a matéria
jornalística, foram prontamente atendidos com a promessa do prefeito José Libério que
faria o asfaltamento de todas as ruas do referido conjunto habitacional. (Jornal O
Imparcial, de 05 de janeiro de 1971).
Outra preocupação que se pode perceber através da imprensa é quanto à
utilização dessa nova área da cidade para o desenvolvimento do turismo. Considerando
que a Trisidela, ou seja, área que margeava o rio pelo lado da Ponta do São Francisco
era vista como destituída de qualquer beleza, fazia-se necessário oferecer atrações que
potencializassem outros atrativos. Um exemplo era o Forte de Ponta D’Areia,
monumento de valor histórico que precisava ser recuperado.
O governo estadual e municipal devem se unir para enfrentar esta
grande proeza: a restauração desse gigante adormecido há séculos
dentro d’areia. Esse, a meu ver, é um excelente ponto para atrair a
população ansiosa de diversão.
Outras capitais brasileiras como recife, Natal e Salvador têm
redescoberto essas relíquias históricas, levantando-as da ruína,
reconstruindo-as e colocando as condições de servir como pontos
turísticos. (Jornal O Imparcial, de 24 de fevereiro de 1970).
Portanto, a ponte Governador José Sarney, também denominada de ponte da
Esperança, representava o desfecho de seu projeto modernizador em seu mandato de
quatro anos à frente do governo do Estado. Em um editorial do Jonal O Imparcial, de 15
de fevereiro de 1970, com o titulo “Revolução”, há um balanço das obras do governo
estadual que sintetiza o que seria o ideal do projeto político e ideológico do “ Maranhão
Novo”.
Calcado sobre uma alicerce humana de técnicos destacados, quase
todos jovens de pouco de trinta anos, a administração de José Sarney
acaba de concluir o asfaltamento da rodovia São Luís-Teresina, com
quatrocentos quilômetros. O porto do Itaqui, uma obra que se arrastava
a cem anos, está quase pronta. A cidade recebeu ontem, a ponte sobre o
rio Anil, a maior ponte urbana do País, em concreto com novecentos
metros de comprimento, fator de integração da Ilha de São Luís e de
possibilidades de expansão da cidade dantes estrangulada. (Jornal O
Imparcial, de 15 de fevereiro de 1970).
A realização dessas obras, consideradas de fundamental importância para o
desenvolvimento do Estado, foi personificada no símbolo da esperança e na figura do
político José Sarney, com forte enraizamento no imaginário social maranhense até os
dias atuais, como aquele que promoveu as condições para um futuro mais promissor
para o Maranhão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O Governador Sarney está agora no peito do
povo”
(comentário de um popular ao Jornal O Imparcial,
de 20 de fevereiro de 1970)
O projeto político do governo José Sarney (1966-1970), denominado “Maranhão
Novo”, apresentava mecanismos que pretendiam promover no imaginário da sociedade
maranhense a idéia de que esse governo seria o divisor de águas entre o Maranhão
atrasado e a instauração de um novo Maranhão, que abrigaria a esperança da população
no idealizador/realizador desse projeto.
Para tanto, desenvolveram-se ações ditas modernizantes em todo o Estado. Estas
ações tinham a pretensão de dotar o Maranhão com uma fisionomia moderna. Na
capital, o desenvolvimento dessas ações foi percebido através da ampliação nos traçados
da cidade, com o nascimento de novos bairros e, principalmente, com a criação de
símbolos que representassem o desenvolvimento. Os símbolos principais foram o porto
do Itaqui e a Ponte José Sarney, que abrigaram em si, além de elementos faraônicos, a
simbologia do progresso e da esperança.
A “Ponte da Esperança” representaria o elo entre o “Governo e Povo”, entre o
passado e o futuro, personificando a imagem do político Sarney nas obras que seu
governo construía.
A Ponte Governador José Sarney, criada para fazer a ligação de duas áreas da
ilha afastadas pelo rio Anil e promover a integração e melhoria das condições de vida
dos moradores da Ponta do São Francisco, expandindo a cidade e propiciando o
desenvolvimento, transformava-se no símbolo do progresso e da esperança, uma
imagem que servia aos propósitos de seus idealizadores em consonância com o projeto
ideológico do “Maranhão Novo”.
No entanto, as conseqüências imediatas da construção da Ponte, para os
moradores do São Francisco, foram marcadas por contradições, uma vez que esta nova
situação contribuía para uma reapropriação do espaço com largas vantagens para as
elites. A extinção da atividade dos canoeiros enquanto meio de transporte, a especulação
imobiliária, levando à desapropriação dos antigos moradores das áreas mais valorizadas,
são aspectos que expressam as contradições desse projeto modernizador, uma vez que
não foi acompanhado de políticas sociais integradoras.
O discurso construído sobre a justiça não se aplicou com os antigos moradores
do São Francisco, os quais ficaram à margem da construção da “nova cidade”, traço
também comum em outras capitais do Brasil, onde uma das principais características da
urbanização foi e continua sendo a segregação das classes sociais menos favorecidas.
O outro lado da modernização do projeto Maranhão Novo causa espanto pela
forma como tem sido tratado ao longo desses 40 anos por seus idealizadores, a ponto de
tentar continuar mantendo no imaginário social maranhense a idéia de que esse projeto,
revitalizado mais recentemente pelo governo de Roseana Sarney (Um Novo Tempo) é a
esperança do Maranhão, como mostra a reportagem especial do jornal O Estado do
Maranhão, de 29 de janeiro de 2006, sobre os 40 anos do nascimento do “Maranhão
Novo”.
REFERÊNCIAS
FONTES PRIMÁRIAS JORNAL DO DIA – São Luís: 07 de maio de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 11 de maio de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 22 de junho de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 13 de junho de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 04 de julho de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 22 de agosto de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 07 de setembro de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 29 de setembro de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 29 de novembro de 1968
JORNAL DO DIA – São Luís: 17 de agosto de 1969
JORNAL DO DIA – São Luís: 13 de setembro de 1969
JORNAL DO DIA – São Luís: 01 de janeiro de 1970
JORNAL DO DIA – São Luís: 22 de janeiro de 1970
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 29 de maio de 1968
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 13 de junho de 1968
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 04 de julho de 1968
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 08 de agosto de 1968
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 22 de agosto de 1968
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 14 de fevereiro de 1970
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 15 de fevereiro de 1970
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 17 de fevereiro de 1970
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 19 de fevereiro de 1970
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 20 de fevereiro de 1970
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 24 de fevereiro de 1970
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 25 de fevereiro de 1970
JORNAL O IMPARCIAL – São Luís: 01 de janeiro de 1971
FONTES SECUNDÁRIAS BARBOSA, Juliana Carneiro. “Pela hora da morte”: o efeito da Segunda Guerra Mundial no custo de vida em São Luís; 2005. (Monografia em História). UEMA. São Luís. BARROS, Valdenira. Imagens do moderno em São Luís. São Luís: Unigraf, 2001.
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ANEXO 1 – DISCURSO DE POSSE DE JOSÉ SARNEY NO GOVERNO DO
ESTADO DO MARANHÃO, EM 31 DE JANEIRO DE 1966, NAS
DEPENDÊNCIAS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO MARANHÃO
Aqui estamos, qualificados pelo povo, para uma ato que se manifesta a própria
essência do regime democrático: a legitimação do poder pela substituição do Governo.
Aqui, neste instante, um novo Governo do Estado do Maranhão é constituído. Esse o
compromisso que, sob a forma de juramento, este novo governo assume para com o
Povo e as instituições democráticas do Estado e do Brasil. Bem sei que este juramento,
à força de se repetir a cada período, com as mesmas palavras e no mesmo recinto, tem
muito do seu significado e pela impotência desta cerimônia.
Não quero, entretanto que, nem a emoção, que é legítima, nem a imponência,
que é natural, sejam pretexto para o obscurecimento das palavras com as quais jurei
respeitar as instituições e promover o bem-estar do povo maranhense. Porque este não é
um juramento protocolar que termine nesta solenidade, nem um compromisso que se
esgota neste instante.
Consciência de juramento
E a consciência de que este compromisso se prolonga dia a dia, por cinco anos
de mandato, deve ser daqui por diante (já que não foi até hoje) o divisor de águas entre
duas concepções do dever governamental e da responsabilidade administrativa. Estou
convencido de que somente a deliberada e consciente fuga aos compromissos que um
Governo assume num momento como este pode explicar a desídia em relação aos
interesses do Povo e a má fé na aplicação dos recursos públicos e as sucessivas
violentações do comportamento político institucional. E porque muitos juraram para
trair, e porque muitos assumiram compromissos sabendo que eles iriam fugir, é preciso
que fique marcado, neste instante, que o juramento do meu Governo foi feito para ser
cumprido. A palavra de um governo não pode ser menos honrada que a palavra de um
homem de bem, e a palavra do meu governo é o compromisso que acabo de assumir
diante desta augusta Assembléia Legislativa. Respeitar e fazer respeitar a Constituição;
não erro ao dizer que esta constitui a primeira grande exigência do Povo maranhense
decidida nas urnas. Não farei mais que o meu dever e a minha vontade ao atender o
Povo nesta que é também uma exigência minha, pois que outros não respeitaram nem
fizeram respeitar o exercício do Poder e é necessário que se devolva aos maranhenses a
confiança perdida na ação governamental, a segurança contra os critérios pessoais na
gestão da causa pública e da coisa pública. Se uma palavra existe que possa definir o
caráter democrático do Governo, essa palavra é confiança. Confiança do povo nos
homens a quem o Poder foi delegado, e esforço destes homens para não trair essa
confiança, sob pena de romperem unilateralmente o vínculo de uma representatividade
que só existe se o comportamento corresponde, de fato, ao que dos eleitos esperava o
Povo que os elegeu.
Ruptura e reencontro
Sob este aspecto nada temos a continuar, tudo temos a inovar, em nosso estado.
Paradoxalmente, o Governo que hoje se inicia tem o caráter de uma ruptura e de um
reencontro. Ruptura com o passado recente, no que ele tem de aviltamento do exercício
governamental e do comportamento dos desmandos; reencontro do Governo com o
Povo e do povo consigo mesmo, nessa comunhão de esperanças que se abrem e de
responsabilidades que se afirmam.
De fato, nesta hora de festa e de alegria para o povo maranhense, estamos
sepultando um passado embrutecido pela ausência, pelas carências de toda a ordem. Um
passado em que as instituições foram empobrecidas e deformadas, quando não
corrompidas ou viciadas. Um passado que nos encheu de vergonha, de pobreza e de
mistificação; um passado que por tudo isso deve ser sepultado para sempre.
O Governo que ora se institui será solidário com o Poder Legislativo e com o
Poder Judiciário, na pesada tarefa de reconstruir os padrões de moralidade e de
eficiência da vida pública do Estado do Maranhão. Não será mais o Executivo, podeis
estar certos, o grande criminoso, o grande corrupto na relação entre os Três Poderes. E
isso está implícito no juramento que acabo de fazer: o Executivo será o grande empenho
na harmonia e na pureza dessas relações com o Poder Judiciário e o Poder legislativo.
Vindo de um mandato legislativo na Câmara Federal para a chefia do Poder
Executivo deste Estado; podeis bem compreender a imagem e a vivência que tenho de
vosso trabalho e responsabilidade. Por isso mesmo saberei ser cuidadoso e
permanentemente interessado na colaboração e no respeito mútuo que devem fazer dos
três Poderes um perfeito sistema de vasos comunicantes.
Daí o sentido que preciso realçar da segunda parte do meu juramento, qual seja o
de promover o bem-estar do povo do Maranhão.
Herança desoladora
A herança política e administrativa que nos legam as administrações anteriores,
a paisagem econômica e social com que nos deparamos não convidariam, por certo, ao
otimismo; sem exagero podemos afirmar: essa herança essa paisagem têm muito de
desolador e chega a estarrecer ver como puderam a imprevidência e a falta de
compreensão dos deveres políticos, e tantos outros vícios, conduzir Terra tão
promissora e tão magnífico povo às vésperas do desastre. Mas a verdade deve ser dita
por um dever de responsabilidade. Que é hoje o Maranhão, a que estado reduziram o
segundo Estado do Nordeste em extensão territorial, com população de mais de 3
milhões de habitantes, privilegiadamente compreendido entre as desolações da região
sem água e as devastações da encharcada terra amazônica, cortado de rios perenes e
com imensas áreas ainda virgens e férteis?
Pois está o Maranhão reduzido a campeão de analfabetismo, com apenas 30%
das crianças em idade escolar freqüentando as escolas. Um leito hospitalar para quase
3.000 habitantes, contra 1 para 500 no Pará e em Goiás; 1 leito para 2000.000 habitantes
no interior do Estado; apenas 8 municípios com abastecimento de água e apenas 2 com
instalações sanitárias, num total de 128 municípios.
A educação média e superior são permitidas a faixas infinitas da juventude;
apenas 1 em 200 habitantes chega ao ensino médio, contra 1 em 50 no Pará, 1 em 80 em
Goiás, 1 em 100 no Piauí.
Números trágicos no que tange ás endemias, com áreas a verminose atinge cerca
de 90% a, esquistossomose a mais de 50% e o tracoma a mais de 40% da população.
A situação não é menos dramática no setor de infra-estrutura, como transporte e
energia: a rede rodoviária com extensão de apenas 4.980 Km, dos quais somente 514 de
construção pelo Estado, contra 21.554 Km no nosso vizinho e pobre Estado do
Piauí,com 12.098 no Ceará e mais de 28.000 no Estado de Goiás. Um total de potência
instalada de 7.784 Kw, contra 28.000 no Amazonas, mais de 40.000 no Pará e quase
30.000 Kw no Ceará. Um só edifício do rio de Janeiro, o Avenida Central, dispõe de
quase o dobro da energia que se consome em todo o Estado do Maranhão.
A produção agropecuária, em termos rotineiros e de baixa rentabilidade por
hectare, a produção industrial ínfima e numerosas chaminés de fábricas se apagando,
levando ao desemprego milhares de trabalhadores.
O porto de Itaqui deixando o lendário para o anedotário; grandes regiões do
Estado inteiramente isoladas e tendo como centro de integração so estados vizinhos.
A renda per capita em último lugar da escala nacional: cerca de 1/3 da renda per
capita média do Brasil.
E, sobretudo, fruto e raiz de tudo isso, o subdesenvolvimento político: a imagem
dos calamitosos dias da grilagem oficialmente patrocinada, dos enriquecimentos
vertiginosos à sombra do Poder, das negociatas oficializadas, das violências policias, da
corrupção e das coações, dos vilipêndios que fizeram do Governo alguma coisa de
sombrio.
Paixão e determinação
A alguém poderia parecer que tal herança e tal paisagem serviriam de
desestímulo a que se propusera recuperar e ampliar numa dimensão de grandeza a
imagem que o Maranhão projetou, no passado, para todo o Brasil. Tais destroços
administrativos, tão desalentadora realidade econômica e social, não são por certo
estimulantes para ninguém ou não o seriam para quem não tivesse, como nós, a paixão
de restaurar a grandeza da terra-berço, a determinação de ser fiel à multidão
desencadeada no coração do povo em tantos anos de lutas e de sofrimentos, de
amarguras decepções e indestrutível bravura de milhões de maranhenses.
Chegamos ao poder, porque pudemos unir e despertar, compreender e
proclamar, e não tivemos medo de afirmar, protestar e condenar.
Chegamos ao Poder, porque o Povo nos fez canditado estava conosco, como
estávamos com ele, e nosso diálogo de esperança e decisão teria de conduzir, como
estávamos com ele, e nosso diálogo de esperança e de decisão teria de conduzir como
conduziu à vitória. Chegamos ao Poder, porque tínhamos do nosso lado as forças
políticas mais vivas deste Estado.
Chegamos ao Poder sem compromissos inconfessáveis, mas apenas com claro, o
manifesto compromisso de servir ao Poço, de trabalhar pelo Povo, com o Povo por um
Maranhão de dignidade, de liberdade e progresso e de grandeza, que, sob a imagem de
um passado glorioso, há de projetar-se ainda mais num futuro magnífico. Sabem todos
quantos nos conhecem que a dignidade, da liberdade, do progresso e da grandeza, não é
apenas uma figura lendária: é a realidade que deve ser construída e, com a ajuda do
Povo, havemos de construí-lo.
Sabemos que nossa voz está sendo agora escutada não apenas nesta alta Casa do
Poder Legislativo, mas em todos os rincões do Estado; está sendo atentamente
acompanhada por aquelas mesmas centenas de milhares que nos escutaram em
memoráveis comícios de campanha e cujas mãos tivemos a ventura de apertar
calorosamente e cuja expressão de alegria jamais poderemos apagar de nossa
lembrança. Também estamos aqui sentido a sua presença e queremos afirmar
solenemente todos os compromissos afirmados no pacto da comunhão de vontades.
Acabou o tempo da prepotência e da violência, das aviltações e das perseguições, das
coações, dos abusos e das corrupções.
A garantia do futuro
A partir de hoje reinaugura-se Estado a Democracia, com todos os seus
prodigiosos frutos. A dignidade e a competência como pressupostos do exercício da
administração, o empenho para promover o bem-estar coletivo, era a da
responsabilidade, do planejamento, da efetiva sintonia entre o Povo e O Governo.
Muita coisa contaminou aqueles que exerceram o Poder em nossa terra, mas não
puderam e nem poderiam viciar a riqueza natural e distorcer a vocação dos maranhenses
para os grandes ideais. Se, portanto, a herança que recebemos chega a ser maldita de
ação e omissão, a riqueza da terra e a grandeza do Povo são a melhor garantia de que
sobre as ruínas poderemos erguer um grande futuro. Esse grandioso projeto do
Maranhão do futuro que delineamos na campanha é a base do programa do governo, e
inspirado na filosofia cristã, de quem tem o Poder por instrumento da promoção do
bem-estar geral, que pressupõe entendimento das exigências do ser humano no que diz
respeito à conveniência material e à satisfação espiritual. Temos portanto de trilhar um
duro caminho das realizações ordenadas pelo sentido prioritário. Esse plano de governo,
confiado à elaboração de técnicos maranhenses de elevado gabarito, visa a implantar a
condição de infra-estrutura e realizar investimentos sociais que possibilitem no
Maranhão a grande arrancada de desenvolvimento que resumiremos nos seguintes itens:
Reforma Administrativa, visando a moralização e eficiência da máquina do governo;
Energia e Transportes, Educação e Saúde, Fomento Agropecuário e Industrialização.
Para tornar este plano realidade, escolhemos uma equipe de Governo que a opinião
pública já conhece e que é toda integrada de nomes que impõe ao respeito e à
admiração, pela extraordinária capacidade moral e competência.
Um Governo que se instala assim constituído, com a cooperação dos Poderes
Legislativo e Judiciário e com o apoio decisivo e entusiasta do Povo, há de realizar as
grandes tarefas que não apenas do Governador nem do Governo, nem de cada um dos
Poderes: são de todos nós. De todos os maranhenses que querem viver numa Terra de
dignidade e liberdade, de progresso e de grandeza. Já se disse que a crise da Democracia
em nosso tempo não era uma crise de valores, mas de realizações perfeitas. É na medida
que os governos deixam de realizar os seus objetivos, os objetivos da coletividade, os
objetivos do desenvolvimento econômico e da justiça social que entram em conflito
com o regime democrático.
Mas a Democracia não é uma atitude ultrapassada, nem uma impostação teórica
para adiar ou sonegar permanentemente o diálogo do Povo com seus na verdade é esse
diálogo e ação, a colocação desses valores na agenda diária dos governantes. È,
portanto, em termos de eficiência e não de retórica que um regime deve ser julgado,
aprovado e condenado. E o regime democrático, sobretudo no Maranhão, não pode ser
julgado pelos o que traíram, pelos que o malsinaram para negar a ação que o povo
espera no regime que é desenvolvimento econômico e de justiça social.
Democracia
A nossa tarefa, portanto, é a de responder aos inimigos da Democracia e aos
desesperados, que o Governo que emana do Povo, em seu nome e em seu benefício será
exercido. E assim será para que se instalem no Maranhão a Democracia das
oportunidades, a Democracia do respeito à pessoa humana, a Democracia do trabalho, a
Democracia das conversas impossíveis, a verdadeira Democracia e não esse triste
arremedo de Democracia que aqui vinha se exercendo.
Este compromisso resulta dos ensinamentos que recolhemos junto ao Povo,
durante a nossa própria jornada. Esse conceito de Democracia não recebemos agora,
mas se fez mais nítido na campanha que empreendemos. Não recebemos o Governo
como um dádiva de um grão-senhor, nem o exerceremos como um condomínio de
privilegiados. Sabemos exatamente a natureza da luta que foi a nossa, da maioria
absoluta do povo maranhense. Este governo é uma conquista trabalhada dia e noite na
angústia, na perseguição sofrida, nos insultos recebidos. Não houve minutos em que o
escárnio e a violência adversários não alimentassem, não fortalecessem a nossa decisão
e ânimo.
Uma decisão assim tão firme, assim tão castigada, tinha necessariamente que
fazer vingar os valores pelos quais ela foi tomada. E esses valores são
inquestionavelmente os que reclamam a implantação, no Maranhão, de uma autêntica
Democracia e de um Governo de autêntica inspiração democrática. Um governo, repito,
que seja honesto para trabalhar, que trabalhe para realizar e que realize para melhorar a
sorte do Povo.
O historiador Arnold Tonybee, inglês e católico, afirmou certa ocasião que “a
nossa época será lembrada por crimes ou por suas dimensões, mas também por ser a
primeira, desde o início da História, em que a humanidade ousa acreditar ser possível o
benefício a civilização colocado ao alcance de todos os homens.” Pois que assim seja
para todos ns. Que o crime até ontem praticados sejam apenas a marca do passado,
menos que isso, dos homens que passaram. E a crença nos benefícios da civilização seja
reforçada dia a dia, pela distribuição desses benefícios do Criador, nosso Juiz e também
nosso fiador.
Agradeço a presença, neste recinto, das autoridades que honraram esta
solenidade, e ao povo do Maranhão, aos nossos Deputados, aos nossos amigos, devo
neste instante dizer que peçam a Deus que me inspire para um governo com Justiça e
que para sempre esta solenidade seja lembrada nos nossos corações realmente como um
marco para uma grande jornada.
ANEXO 2 – DISCURSO DE INAUGURAÇÃO DA “PONTE JOSÉ SARNEY”
O Imparcial, 17 de janeiro de 1970.
“A União faz a Ponte da Esperança do Maranhão no seu Grande Futuro”
Falando perante grande multidão concentrada na Avenida “Marechal Castelo
Branco”, na Ponta de São Francisco, na oportunidade da inauguração da Ponte
“Governador Sarney”, o chefe do Executivo maranhense, assim se pronunciou:
“Aqui estou, é bem certo que cada um possa avaliar a minha emoção, neste
instante em quatro anos depois de Governador, quando chego ao poente do meu
mandato e vejo ao meu lado, solidário e coeso comigo, na dificuldade e nas boas horas,
o povo da minha terra. Debuto a mim mesmo porque esta aliança não se dissolveu,
porque esta união não pode ser rompida ou porque eu não falhei às esperanças do povo
e o Povo passou a acreditar no Governo. Só pude não falhar às esperanças porque o
Governo não prometeu nada, mas prometeu o que era mais difícil para os maranhenses,
há tantos anos acostumados à desilusão e à desesperança. Nós prometemos fazer um
Governo de paz, Governo de trabalho.
Os senhores sabem porque o Maranhão é hoje o Estado que mais cresce no
Nordeste do Brasil. Aí estão as estradas, as escolas, os hospitais e a preocupação
permanente, que é uma obra que não tem placa do Governo – é a mudança de
mentalidade que se operou no Maranhão. O Povo passou a acreditar no Governo porque
o Governo passou a ser uma cadeia difícil e espinhosa, depois que o Brasil mudou e o
Nordeste e o Norte mudaram, graças à Revolução de março de 1964.
(...) Eu não preciso ser mais nada, porque tudo o que eu fui e que eu sou é aquilo
que desejo ser, aquilo que os senhores me cercam, porque a minha alegria é a alegria do
Povo da nossa terra, nós juntos, hoje; aqui. Agradeço a presença honrosa das
autoridades que vieram enriquecer, e nobrecer este palanque, e deve ressaltar, para
orgulho nosso, que as maiores autoridades que aqui estão ao meu lado, ao lado do Povo
do Maranhão; são pertencentes às Gloriosas Forças Armadas do meu Brasil, agradeço a
presença de todos que aqui estão por que isto constitui para o nosso trabalho, agradeço,
finalmente ao meu partido, aos meus companheiros na Assembléia Legislativa e na
Câmara Federal, e à bancada do Maranhão de um maneira geral, no congresso inteiro,
que me tem ajudado para que eu possa fazer o Governo que eu tenho feito, no qual
entrei sem compromissos subalternos, só compromissos com o Povo. Tenho
permanecido assim e sairei assim. E posso dizer que os nossos amigos políticos jamais
pediram qualquer coisa que pudesse macular o mínimo que fosse a imagem, as
diretrizes ou os objetivos do governo.
Assim, neste instante em que nos despedimos; nesta noite, que eu acretido tenha
siso, até hoje, a maior concentração popular que já fez no Maranhão, em que o Povo se
derrama, desde as fraldas da rua do Egito e da gloriosa e tradicional praça João Lisboa
até as beiras das areias da Ponta D’Areia e que todos nós nunca separamos a unidade de
nosso trabalho. Todos nós aqui estamos unidos; e o que esta união jamais possa ser
dissolvida; porque ela fez a Ponte de São Francisco: ela fez a Ponte da Esperança do
Maranhão no seu grande futuro.”
ANEXO 3 – CRÔNICA NO JORNAL “O IMPARCIAL” DE JOSÉ SARNEY
SOBRE O ANO 1970
O Imparcial, 01 de janeiro de 1971.
O meu ano 70 – José Sarney
1970 marcou a minha vida
Tenho uma cisma com os anos terminado em zero. Eles são sempre difíceis.
Afinal, nasci em ano terminado em zero, os anos trinta. Mas, nada na vida é fácil e estes
anos, embora amargados, encerraram vitórias acentuadas. Não foi fácil que o meu
companheiro de 30 anos, nascido também neste signo, James Lowell pisou pela
primeira vez a superfície da lua?
1970 também não foi fácil. Cheguei aos quarenta anos. Conheci o travo dos
ressentimentos, ingratidões, caracteres, sórdido, a alma humana em profundeza que eu
nunca imaginara. Vi a mão que “afaga e apedreja” e senti profundamente, em todo o seu
simbolismo, aquela pergunta do profeta Jeremias:
- Que vês tu?
- Um galho de amendoeira.
É o fim da era biológica começada com o fulgor da juventude. É a morte desse
sol quente da mocidade, das tempestades de energia, para o início do calor permanente
do amadurecimento total e do domínio absoluto de mim mesmo.
Conheci o poder e “o prover”, como dizia Summer Wells. Sei hoje olha-lo dos
dois lados do Rio. Senti e agradeci a Deus, como verdade, daquele poder que Ele deu de
dizer:
“- Faça-se a Ponte de São Francisco”: E ela se fez caminhões e gentes,
constroem novas moradas e nova vida. E ela se fez.
A TV Educativa foi inaugurada. É um marco pioneiro no Brasil. Vi as luzes da
Boa Esperança, que brilharam nos meus olhos em noites que eu não dormia, serem
acesas. Senti que no seu calor havia um pouco do meu suor. (...)
ANEXO 7 – REPERCUSSÃO DA INAUGURAÇÃO DA PONTE NOS JORNAIS
FONTE: Jornal O Imparcial, 23 de Fevereiro de 1970.
FONTE: Jornal O Imparcial, 23 de Fevereiro de 1970.
ANEXO 8 – PONTE JOSÉ SARNEY RECÉM-INAUGURADA
FONTE: Jornal O Estado do Maranhão, 29 de Janeiro de 2006.