2. Todos os direitos reservados. Copyright 2017 para a lngua
portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado
pelo Conselho de Doutrina. Capa: Wagner de Almeida Projeto grfico e
editorao: Paulo Srgio Primati Ilustraes: Filipe Soares Reviso:
Lettera Editorial Produo de ePub: Cumbuca Studio CDD: 230-
Cristianismo e Teologia Crist ISBN: 978-85-263-1463-4 ISBN digital:
978-85-263-1483-2 As citaes bblicas foram extradas da verso Almeida
Revista e Corrigida, edio de 1995, da Sociedade Bblica do Brasil,
salvo indicao em contrrio. Para maiores informaes sobre livros,
revistas, peridicos e os ltimos lanamentos da CPAD, visite
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3. site:http://www.cpad.com.br. SAC Servio de Atendimento ao
Cliente: 0800-021- 7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus
Av. Brasil, 34.401 Bangu Rio de Janeiro RJ CEP 21.852-002 1 edio:
Maio/2017 676sSoares, Esequias. CDD230A razo de nossa f: assim
cremos, assim vivemos / Esequias Soares. --- Rio de Janeiro: CPAD,
2017. 160p. : il.; 21cm. Bibliografia: p. 158-160. ISBN
978-85-263-1463-4 Assunto. II. Ttulo.
4. S U M R I O Abreviaturas Introduo Captulo 1: INSPIRAO DIVINA
E AUTORIDADE DA BBLIA Cnon e inspirao Credibilidade dos textos
bblicos A Verso dos Setenta A traduo para outras lnguas tem a
aprovao divina Captulo 2: DEUS E A CRIAO A primeira declarao dos
credos O Deus das Escrituras A paternidade e a onipotncia de Deus.
Bblia x cincia Captulo 3: SOBRE A DOUTRINA DA SANTSSIMA TRINDADE As
declaraes escritursticas Os apologistas.
5. Tertuliano de Cartago Orgenes Atansio Os pais capadcios
Agostinho de Hipona O credo de Atansio ou Atanasiano Captulo 4:
SOBRE O SENHOR JESUS CRISTO O Jesus das Escrituras O Jesus dos
credos Captulo 5: SOBRE O ESPRITO SANTO O Esprito Santo nas
Escrituras Sagradas Histria da doutrina pneumatolgica Captulo 6: A
PECAMINOSIDADE HUMANA Como a Bblia descreve o pecado Consequncias
do pecado As teorias Captulo 7: A NECESSIDADE DO NOVO NASCIMENTO
Religio O novo nascimento Captulo 8: A IGREJA DE CRISTO A igreja As
ordenanas
6. Captulo 9: A NECESSIDADE E A POSSIBILIDADE DE TERMOS UMA
VIDA SANTA Santidade como atributo divino Definindo os termos A
necessidade de uma vida santa Modos de santificao Captulo 10: AS
MANIFESTAES DO ESPRITO SANTO O batismo no Esprito Santo Defendendo
a doutrina pentecostal Os dons do Esprito Santo Captulo 11: A
SEGUNDA VINDA DE CRISTO Sinais que precedero a segunda vinda de
Cristo Cristo voltar Captulo 12: O MUNDO VINDOURO O milnio O
destino dos injustos A ressurreio dos mortos O juzo final O destino
dos justos. A nova Jerusalm Captulo 13: A FAMLIA
7. O conceito de famlia Princpios bsicos Referncias
Bibliogrficas
8. A B R E V I A T U R A S ARA Verso de Joo Ferreira de
Almeida, Edio Revista e Atualizada no Brasil. Barueri, SP:
Sociedade Bblica do Brasil, 2016. ARC Verso de Joo Ferreira de
Almeida, Edio Revista e Corrigida. Barueri, SP: Sociedade Bblica do
Brasil, 2009. NTLH Nova Traduo na Linguagem de Hoje. Barueri, SP:
Sociedade Bblica do Brasil, 2009. NVI Nova Verso Internacional. So
Paulo, SP: Vida, 2000. NVT Nova Verso Transformadora. So Paulo, SP:
Mundo Cristo, 2016. TB Traduo Brasileira. Barueri, SP: Sociedade
Bblica do Brasil, 2010. ANTIGO TESTAMENTO NOVO TESTAMENTO Gn Gnesis
Mt Mateus x xodo Mc Marcos Lv Levtico Lc Lucas Nm Nmeros Jo Joo Dt
Deuteronmio At Atos Js Josu Rm Romanos Jz Juzes 1 Co 1 Corntios Rt
Rute 2 Co 2 Corntios 1 Sm 1 Samuel Gl Glatas 2 Sm 2 Samuel Ef
Efsios 1 Rs 1 Reis Fp Filipenses 2 Rs 2 Reis Cl Colossenses 1 Cr 1
Crnicas 1 Ts 1 Tessalonicenses 2 Cr 2 Crnicas 2 Ts 2
Tessalonicenses Ed Esdras 1 Tm 1 Timteo
9. Ne Neemias 2 Tm 2 Timteo Et Ester Tt Tito J J Fm Filemon Sl
Salmos Hb Hebreus Pv Provrbios Tg Tiago Ec Eclesiastes 1 Pe 1 Pedro
Ct Cantares 2 Pe 2 Pedro Is Isaas 1 Jo 1 Joo Jr Jeremias 2 Jo 2 Joo
Lm Lamentaes de Jeremias 3 Jo 3 Joo Ez Ezequiel Jd Judas Dn Daniel
Ap Apocalipse Os Oseias Jl Joel Am Ams Ob Obadias Jn Jonas Mq
Miqueias Na Naum Hc Habacuque Sf Sofonias Ag Ageu Zc Zacarias Ml
Malaquias
10. O I N T R O D U O s credos e as confisses de f tm sempre as
suas explicaes complementares e adicionais para tornar o documento
cada vez mais claro. Esses documentos, como disse McGrath (2005),
so interpretaes precisas e autorizadas das Escrituras. Isso
significa que se trata de doutrinas oficiais de uma igreja ou
denominao, que norteiam a vida religiosa de seus membros. Temos o
nosso Cremos desde 1969, mas esse documento j existia em forma
embrionria logo no princpio de nossa jornada, conforme pesquisa do
historiador das Assembleias de Deus, Isael de Araujo. O jornal
Mensageiro da Paz publicou na edio de maro de 2017 o seguinte: O
Cremos era o nico documento oficial doutrinrio, mas, a partir de
agora, o texto passa a ser um extrato da Declarao de F, que so as
interpretaes autorizadas das Escrituras e os ensinos oficiais das
Assembleias de Deus no Brasil (p. 7). Na verdade, esse texto foi
durante todo esse tempo o nico documento oficial que expressava os
pontos bsicos da nossa f, a nica fonte que mostrava para a
sociedade aquilo em que cremos. O Cremos foi submetido a algumas
revises durante esses anos e, por ltimo, a uma reviso rigorosa e
criteriosa, com acrscimos e cortes. O texto foi ampliado de 14 para
16 artigos de f; uns foram adaptados, e outros, que tratavam de um
mesmo assunto, foram mesclados. Foram includos trs novos
11. artigos, um sobre o Esprito Santo, outro sobre a Igreja e,
finalmente, um sobre a famlia; houve tambm a incluso de alguns
pontos doutrinrios, ampliando alguns artigos j existentes como o
Criador de todas as coisas. O Cremos, mesmo na sua forma original,
serviu como um guia doutrinrio bsico para a nossa denominao. No
entanto, a exigncia da atualidade pedia algo mais. Com a promulgao
da Declarao de F na 43 Assembleia Geral da CGADB como o conjunto de
crenas e prticas oficiais da nossa denominao, o Cremos continua
mantendo a sua importncia como uma sntese de nossa doutrina, uma
viso geral daquilo em que ns cremos e daquilo que praticamos. A
Declarao de F uma coletnea de crenas e prticas da Igreja,
estruturadas de forma simples e sistemtica, que mostra para a
sociedade aquilo que ns cremos. Trata-se de um documento de
extraordinria importncia na vida da Igreja, pois serve como sumrio
doutrinrio da Bblia para ajudar irmos e irms na compreenso das
Escrituras. A Declarao de F serve tambm para proteger a Igreja
contra as falsas doutrinas. Nenhum tema de uma confisso de f se
esgota em si mesma. Essa a razo de um estudo mais detalhado de cada
artigo de f. O livro A razo da nossa f Assim cremos, assim vivemos,
que o leitor tem em mos um comentrio bblico, teolgico e histrico de
cada ponto doutrinrio do Cremos, que visa a uma compreenso mais
ampla das nossas crenas e prticas.
12. A C A P T U L O 1 Bblia est traduzida atualmente para 2.935
lnguas, segundo dados da Sociedade Bblica do Brasil (A Bblia no
Brasil, n 252 agosto a outubro de 2016, Ano 68, p. 16). Todas essas
verses transmitem a mesma mensagem dos antigos escritores bblicos.
Os orculos divinos entregues a eles foram preservados e esto
disponveis para toda a humanidade. Sua inspirao divina e sua
autoridade fazem dela um livro sui generis.
13. CNON E INSPIRAO As palavras cnon e inspirao, s vezes,
significam a mesma coisa. O termo kann se origina do vocbulo
hebraico qneh, cana, que se usava como cana de medir (Ez 40.3, 5;
41.8) e originalmente quer dizer vara de medir. Na literatura
clssica, significa regra, norma, padro. Aparece no Novo Testamento
com o sentido de regra moral (Gl 6.16). tambm traduzido por medida
(2 Co 10.13, 15). Nos trs primeiros sculos do cristianismo, o termo
se referia ao contedo normativo, doutrinrio e tico da f crist. A
partir do quarto sculo, os pais da Igreja aplicaram as palavras
cnon e cannico aos livros sagrados, para reconhecer sua autoridade
como textos inspirados por Deus e instrumentos normativos para a
vida e a conduta dos cristos, portanto separados de outras
literaturas. Eles constituram a partir de ento uma lista de livros
com autoridade divina, uma biblioteca que a nossa medida, a nossa
regra de f e prtica. O cnon , assim, a lista de livros j definidos
e reconhecidos como divinos para a vida e a conduta do cristo. Cada
um dos livros era reconhecido como inspirado por Deus desde a sua
origem, mas a coleo desses escritos sagrados s aconteceu
posteriormente. A inspirao divina chamada de teopneustia, que
significa inspirao divina da Bblia (Grande Dicionrio Sacconi da
Lngua Portuguesa) e inspirao divina das Escrituras teoria segundo a
qual Deus inspirou aos autores bblicos todas as palavras e todas as
ideias (Grande e Novssimo Dicionrio da Lngua Portuguesa, de
Laudelino Freire). O Moderno Dicionrio da Lngua Portuguesa, de
Michaelis, repete as mesmas palavras de Laudelino Freire. O termo
teopneustia vem da Bblia: Toda Escritura divinamente inspirada
proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir,
14. para instruir em justia (1 Tm 3.16) ou Toda a Escritura
inspirada por Deus e til (ARA). A palavra grega aqui traduzida por
inspirada por Deus ou divinamente inspirada theopneustos, que vem
de theos, Deus, e pne, respirar. Isso significa que a Bblia
respirada ou soprada por Deus. A construo grega nesse versculo
permite ambas as tradues, mas a traduo da Almeida Atualizada mais
precisa, uma vez que a partcula grega kai vem entre os dois
adjetivos divinamente inspirada e proveitosa; tambm expressa melhor
a inteno do Esprito Santo, pois afirma duas verdades sobre a Bblia:
a Escritura divinamente inspirada e proveitosa. A ausncia do artigo
antes de graf em pasa graf teopneustos kai flimos1 no deixa claro
se a construo atributiva, Escritura divinamente inspirada, ou
predicativa, [a] Escritura divinamente inspirada. O termo grego
pasa, feminino de pas, todo, tudo, cada, afirma que a inspirao das
Escrituras plena, total, por isso afirmamos a nossa f na inspirao
plenria da Bblia. Mas essa crena no se fundamenta apenas nisso, e o
contexto do Novo Testamento nos deixa vontade nesse sentido.
verdade que no perodo apostlico a Bblia da Igreja era o Antigo
Testamento (Lc 24.44). O termo Escrituras, ou Escritura no
singular, aparece inmeras vezes no Novo Testamento como referncia
especfica ao Antigo Testamento ou a parte dele e entre elas podemos
citar (Mt 21.42; Mc 12.10/Sl 118.22, 23; Mt 26.56; Mc 15.28/Is
53.12; Lc 4.21/Is 61.1, 2; Lc 24.27). A expresso Toda Escritura (2
Tm 3.16) no se restringe apenas ao Antigo Testamento; diz respeito
tambm aos escritos apostlicos, ou seja, ao Novo
15. Testamento. A Bblia inteira divinamente inspirada, pois a
autoridade dos profetas e apstolos a mesma. Ambos os grupos de
escritores bblicos aparecem alternadamente: para que vos lembreis
das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas e
do mandamento do Senhor e Salvador, mediante os vossos apstolos (2
Pe 3.2). Mais adiante, o apstolo Pedro coloca as epstolas paulinas
no mesmo nvel nas Escrituras do Antigo Testamento: Falando disto,
como em todas as suas epstolas, entre as quais h pontos difceis de
entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as
outras Escrituras, para sua prpria perdio (2 Pe 3.16). O apstolo
Paulo considerava os escritos apostlicos no mesmo nvel das
Escrituras dos judeus: Porque diz a Escritura: No ligars a boca ao
boi que debulha. E: Digno o obreiro do seu salrio (1 Tm 5.18). H
aqui duas citaes. A primeira vem da lei de Moiss: No atars a boca
ao boi, quando trilhar (Dt 25.4); e a segunda no aparece em parte
alguma do Antigo Testamento, mas nos evangelhos: porque digno o
operrio do seu alimento (Mt 10.10); pois digno o obreiro de seu
salrio (Lc 10.7). A construo grega revela que o apstolo est citando
o evangelho de Lucas.2 Ambas as frases so chamadas de Escritura.
Outras vezes Paulo ousa dizer que seus escritos so de origem divina
(1 Co 7.40; 2 Co 13.3; 1 Ts 4.8). Assim, a frase Toda Escritura
inspirada por Deus se refere Bblia inteira, aos seus 66 livros. A
inspirao da Bblia especial e nica. No existe na Bblia um livro mais
inspirado e outro menos inspirado. Todos tm o mesmo grau de
inspirao e autoridade. A inspirao plenria se refere totalidade dos
66 livros bblicos, e a inspirao verbal significa que cada palavra
foi inspirada pelo Esprito Santo (1 Co 2.13). No somente as
palavras, mas tambm as ideias so de origem
16. divina: porque a profecia nunca foi produzida por vontade
de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados
pelo Esprito Santo (1 Pe 1.21). A palavra grega usada aqui para
inspirados o verbo pher, que significa tambm mover, movimentar. Os
escritores bblicos so homens santos que foram movidos pelo Esprito
Santo para falarem da parte de Deus. A inspirao verbal no elimina a
individualidade de cada autor humano. Qualquer leitor da Bblia
consegue ver sem muito esforo a diferena de linguagem e de estilo
em cada livro. Essa diversidade se revela ao comparar um profeta
com outro profeta do Antigo Testamento, ou um apstolo com outro
apstolo do Novo Testamento. Quem ler os profetas Isaas, Jeremias,
Ezequiel, Daniel, Oseias, Ams ou os apstolos Pedro, Joo e Paulo
pode observar com clareza meridiana a peculiaridade na estrutura de
raciocnio de cada um deles, no seu grau de instruo, no seu convvio,
no seu gnio e contexto sociopoltico e religioso. Assim, a Bblia
revela o aspecto natural da individualidade e o aspecto
sobrenatural da inspirao.
17. CREDIBILIDADE DOS TEXTOS BBLICOS A quantidade enorme de
manuscritos antigos, o grande nmero de verses em outras lnguas e as
citaes da patrstica nos primeiros sculos do cristianismo falam por
si como prova da autenticidade dos livros da Bblia. assunto que nem
mesmo os cticos questionam. Nenhuma obra da Antiguidade apresenta
hoje tantos manuscritos hebraicos, gregos, latinos e em outras
lnguas. Temos hoje em todo o mundo mais de 25 mil manuscritos
bblicos produzidos antes do advento da imprensa no sculo XV. Em
segundo lugar, vem a Ilada, de Homero, com apenas 457 papiros e 188
manuscritos, perfazendo um total de 645 exemplares. Nenhuma obra da
Antiguidade mais bem confirmada que a Bblia. De todas as obras
literrias produzidas na Antiguidade, o manuscrito mais antigo que
sobreviveu apresenta um intervalo de 750 anos entre o tal
manuscrito e a possvel data de sua autoria. uma obra de Histria, de
Plnio, o Jovem, historiador romano que viveu entre 61 e 113 d.C.
Restaram apenas sete manuscritos, e o mais antigo deles datado de
850 d. C. Todos os demais, com exceo de Suetnio, tambm historiador
romano, com 950 anos de intervalo o manuscrito mais antigo e a
possvel data de sua autoria, apresentam um intervalo superior a mil
anos. o caso de Plato, Tetralogias, sete cpias; e Herdoto, Histria,
oito cpias, entre outros que no so citados aqui por absoluta falta
de espao (MCDOWELL, 2013, pp. 141, 142). As descobertas dos rolos
do mar Morto revelam a credibilidade e a fidelidade dos textos
hebraicos do Antigo Testamento. Com exceo do livro de Ester, todos
os outros livros do Antigo Testamento esto representados
18. nesses 800 manuscritos. As 11 cavernas de Uaid Qumran
trouxeram tona cerca 200 manuscritos bblicos, descobertos entre
1947 e 1964, sem contar outros manuscritos no bblicos. O primeiro
grupo desses manuscritos datado entre 250 a.C. e 68 d.C., com
manuscritos escritos ainda na grafia paleo-hebraica, ou seja, o
hebraico arcaico. Julio Trebolle Barrera faz meno de alguns deles:
quatro de Levtico, dois de Gnesis, xodo e Deuteronmio, um de Nmeros
e um de J (BARRERA, 1999, p. 263). O segundo grupo datado entre 70
e 132 d.C., perodo entre a destruio de Jerusalm e a Revolta de
Bar-Cochbar, em Yavne, ou Jmnia. Muitos desses manuscritos no foram
produzidos pelos essnios; muitos deles vieram da Babilnia e do
Egito. Trata-se, portanto, de textos procedentes de vrias pocas e
de vrios lugares. Quando o alfabeto paleo- hebraico foi substitudo
pelo alfabeto quadrtico, os escribas tiveram de fazer adaptaes. O
rolo do profeta Isaas, por exemplo, datado do ano 100 a.C.
exatamente o mesmo texto da Bblia Hebraica, exceto por uma diferena
de apenas 17 letras no captulo 53. As inmeras profecias so
exclusividade das Escrituras Sagradas e provas visveis de sua
inspirao e autenticidade. Muitas delas j se cumpriram em relao a
muitos povos, tanto na Antiguidade como na atualidade. Um exemplo a
queda de Babilnia: E Babilnia, o ornamento dos reinos, a glria e a
soberba dos caldeus, ser como Sodoma e Gomorra quando Deus as
transtornou. Nunca mais ser habitada, nem reedificada de gerao em
gerao (Is 13.19, 20). Essa profecia foi proferida quando a Babilnia
estava no apogeu de sua glria. Hoje, no entanto, essa Palavra se
cumpre diante de nossos olhos. A Bblia anunciou de antemo a
disperso dos judeus, mas profetizou seu
19. retorno terra de seus antepassados. Depois de cerca de
1.800 anos na dispora, os filhos de Israel retornam para sua terra,
e em um s dia nasceu uma nao (Is 66.8). Essa Palavra diz respeito
fundao do Estado de Israel logo aps a derrocada do nazismo. No
possvel enumerar todas as profecias aqui. Mas destacamos as
profecias sobre reis, como Ciro, rei da Prsia, e Alexandre, o
Grande, em Isaas 44.28; 45.1 e Daniel 8.21, 22, alm das profecias
messinicas cumpridas em Jesus, desde o seu nascimento de uma
virgem, em Belm, conforme Isaas 7.14 e Miqueias 5.2, at a sua
ascenso, registrada em Salmos 24.7-10. Tudo isso faz da Bblia um
livro sui generis, que no se assemelha a nenhum outro e est acima
de qualquer outro j produzido no mundo. A Bblia declara a si mesma
como a infalvel Palavra de Deus: a palavra de nosso Deus subsiste
eternamente (Is 40.8) e em fraseologia similar: mas a palavra do
Senhor permanece para sempre (1 Pe 1.25). o nico livro que se
apresenta como a revelao escrita do verdadeiro Deus e com um
propsito definido: a redeno humana.
20. A VERSO DOS SETENTA A Septuaginta a primeira traduo do
Antigo Testamento hebraico para o grego. O termo Septuaginta vem do
latim e significa literalmente septuagsimo, tendo sido usado pela
primeira vez por Eusbio de Cesareia em Histria Eclesistica.
Agostinho de Hipona foi o primeiro a cham-la de a Verso dos
Setenta, em A Cidade de Deus. O termo Septuaginta uma forma
abreviada da expresso latina interpretatio Septuaginta virorum, a
traduo pelos setenta homens, similar forma grega kat tou
hebdomkonta, conforme os setenta, ou hoi hebdomkonta, os setenta,
todos usados por escritores cristos do segundo sculo para referir-
se ao Antigo Testamento Grego. Hoje conhecido tambm pelo nome de
Verso dos Setenta, Verso de Alexandria e identificado pelos
algarismos romanos LXX. A traduo do Pentateuco do hebraico para o
grego aconteceu na metade do sculo III a.C., por 72 eruditos judeus
enviados de Jerusalm para Alexandria; nos sculos seguintes, os
outros livros do Antigo Testamento foram traduzidos. Foi um
empreendimento cultural sem precedentes na histria da civilizao
ocidental, pois a revelao divina saa do confinamento judaico para
se tornar universal. Era o pensamento religioso semita disposio do
Ocidente numa lngua indo-europeia. Sua influncia nos escritores do
Novo Testamento foi determinante, servindo de ponte lingustica e
teolgica entre o hebraico do Antigo Testamento e o grego do Novo.
Tanto os apstolos como os antigos escritores cristos encontraram na
Septuaginta uma fonte de conceitos e termos teolgicos para
expressar o contedo e o pensamento cristo. Ela foi usada pelas
geraes de
21. judeus helenistas em todas as partes do mundo antigo. Foi a
Bblia adotada pelos cristos de lngua grega, como disse Agostinho no
sculo V: A Igreja recebeu a verso dos Setenta como se fora nica e
dela se servem os gregos cristos, cuja maioria ignora se h alguma
outra. Dessa verso dos Setenta fez- se a verso para o latim; a
usada nas igrejas latinas. Serve, ainda, como fonte importante para
o estudo da histria da Bblia Hebraica (A Cidade de Deus, livro
18.43).
22. A TRADUO PARA OUTRAS LNGUAS TEM A APROVAO DIVINA O projeto
de traduo das Escrituras dos judeus para a lngua grega num perodo
em que nem mesmo o cnon estava fixado mostra ser a Bblia um livro
traduzvel por natureza, sendo ao mesmo tempo o prenncio de milhares
de lnguas para as quais a Palavra de Deus seria traduzida as
primcias de uma grande ceifa de verses em todo o mundo. A Bblia
completa est traduzida em 563 idiomas, o Novo Testamento em 1.334
lnguas, e as pores bblicas em 1.038 lnguas. O total de 2.935
lnguas. So dados publicados pela revista A Bblia no Brasil citada
acima. a vontade de Deus que a sua Palavra seja conhecida por todos
os povos e naes na sua prpria lngua. Essa aprovao divina
reconhecida pelo uso do grego na redao do Novo Testamento e pelas
inmeras citaes diretas da Septuaginta. Isso mostra que no importa a
lngua, mas o contedo da mensagem. A Septuaginta no transcorrer dos
anos veio a ser o Antigo Testamento por excelncia dos cristos no
vasto imprio romano. Quando a LXX foi acrescentada coleo de livros
do Novo Testamento era o surgimento de um novo livro, a Bblia Crist
(SOARES, 2009, p. 56). 1 Pa/sa grafh. qeo,pneustoj kai. wvfe,limoj.
2 Compare (Lc 10.7) com (1 Tm 5.18).
23. O C A P T U L O 2 enfoque do presente captulo a unicidade
do Deus Pai Todo- poderoso e Criador do universo. A declarao de f
dos ateus Deus no existe, o oposto da confisso crist. A Bblia no
uma apologia existncia de Deus; no h nela a preocupao em comprovar
que Deus existe. A existncia de Deus um fato consumado, uma verdade
primria que no necessita ser provada, pois Ele transcende
existncia. O conhecimento humano sobre a existncia do Criador est
na prpria intuio e razo no interior das pessoas (Rm 1.20, 21; 2.14,
15). A Bblia a nica fonte confivel e confirma a experincia
humana.
24. A PRIMEIRA DECLARAO DOS CREDOS Os principais credos
ecumnicos apresentam caractersticas especiais existentes em Deus. O
Credo dos Apstolos declara: Creio em Deus Pai Todo-poderoso,
Criador do cu e da terra; da mesma forma o Credo Niceno afirma:
Cremos em um s Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas
visveis e invisveis; e o Credo Niceno-Constantinopolitano reafirma
a frmula nicena: Cremos em um s Deus, o Pai Todo-poderoso, Criador
do cu e da terra, de todas as coisas, visveis e invisveis. Alguns
dos antigos credos locais dos primeiros cinco sculos da histria da
Igreja serviram como a base dessas formulaes ecumnicas. Todas essas
declaraes a respeito de Deus afirmam que Ele um, exceto o Credo dos
Apstolos, que Pai Onipotente ou Todo-Poderoso e Criador de todas as
coisas. Trata-se da revelao bblica posta de maneira sistemtica. H
nas Escrituras provas abundantes que fundamentam essas declaraes
dos credos. Muitos outros credos regionais dos cinco primeiros
sculos dizem a mesma coisa, empregando, s vezes, fraseologia
similar. So informaes importantes, pois falam que o nosso Deus
nico, que Pai, que o Todo-poderoso e Criador de tudo o que h no
Universo. Tais declaraes nada mais so do que interpretaes precisas
das Escrituras que serviram para proteger a f crist do politesmo e
da idolatria dos gentios e os cristos das heresias. Isso se reveste
de uma importncia especial na poca, quando os gnsticos ganhavam
espao no seio da Igreja. O gnosticismo atingiu o apogeu entre 130 e
170 d.C., mas o movimento j existia antes. O termo gnosticismo vem
do grego gnsis, que significa
25. conhecimento. Trata-se, grosso modo, de um enxerto das
filosofias pags nas doutrinas vitais do cristianismo. Sua marca
registrada era o sincretismo. Suas ideias sobre a identidade de
Jesus eram estranhas ao Novo Testamento e as ideais sobre Deus eram
ainda mais exticas. A escola gnstica de Valentino (aproximadamente
130-170 d.C.) ensinava a existncia de inmeros seres eternos que
viviam em perfeita harmonia, sendo o Pai do Universo um deles.
Nesse modelo gnstico, um dos seres eternos, Sofia, sabedoria em
grego, teria destrudo essa harmonia ao criar mundos para si, na
tentativa de imitar o pai do Universo, e o resultado foi sua
expulso do reino divino. Essa tentativa resultou no demiurgo, do
grego demiurgos, arteso, um deus criador inferior que aparece no
dilogo de Plato intitulado Timeu. Para os gnsticos, o demiurgo
criou o mundo fsico. Outra linha de pensamento gnstica era de
Marcio, falecido em 165 d.C. Ele ensinava que o Deus do Antigo
Testamento era inferior e at mesmo defeituoso; e dizia ainda que no
era esse o mesmo Deus do Novo Testamento. Na sua mensagem, pregava
que Jesus revelou um Deus at ento desconhecido, por isso todos os
cristos deviam rejeitar tanto o Antigo Testamento quanto o seu
Deus. Assim, a declarao Creio em Deus Pai Todo-poderoso Criador do
cu e da terra um ato de adorao a Deus a quem damos crdito. A ideia
aqui diz respeito quele que governa tudo, que controla tudo, para
enfatizar o poder e a soberania de Deus em governar todo o
universo. Isso neutralizava o pensamento marcionita que ensinava
ser o universo criado e governado por demiurgos, e no pelo grande
Deus Jav de Israel, revelado no Antigo Testamento. Paul Tillich,
telogo luterano e filsofo, diz o seguinte sobre as palavras
iniciais do Credo dos Apstolos, o que, sem dvida, vale tambm para
os outros: Deveramos pronunciar essas
26. palavras com grande reverncia, porque, por meio dessa
confisso, o cristianismo se separou da interpretao dualista da
realidade presente no paganismo... O primeiro artigo do Credo a
grande muralha que o cristianismo ergueu contra o paganismo. Sem
essa separao a cristologia seria mais do que um dos poderes csmicos
entre outros, embora, talvez, o maior deles (TILLICH, 2004, p.
41).
27. O DEUS DAS ESCRITURAS O Deus da Bblia o mesmo Deus dos
credos. A diferena est apenas na forma de apresentao, no na essncia
divina. A Bblia a Palavra de Deus para todos os seres humanos; o
credo a resposta do homem a Deus. Assim, os credos em sua forma
embrionria esto presentes na Bblia: Ouve, Israel, o SENHOR nosso
Deus nico SENHOR (Dt 6.4). Deus um em essncia ou natureza,
subsistindo por Si mesmo; s o SENHOR Deus: Eu sou o SENHOR, e no h
outro; fora de mim no h deus... (Is 45.5). Nosso Senhor Jesus
Cristo ensinou o monotesmo como parte do primeiro de todos os
mandamentos: ... Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, o nico Senhor
(Mc 12.29); ... com verdade disseste que h um s Deus, e que no h
outro alm dele (Mc 12.32); E a vida eterna esta: que conheam a ti s
por nico Deus verdadeiro... (Jo 17.3). O apstolo Paulo declara:
Todavia para ns h um s Deus (1 Co 8.6); Ora o medianeiro no de um
s, mas Deus um (Gl 3.20); Um s Deus e Pai de todos, o qual sobre
todos, e por todos e em todos (Ef 4.6). Porque h um s Deus (1 Tm
2.5). Foi o Senhor Jesus quem revelou Deus aos seres humanos por
meio da Bblia: Mt 11.27; Jo 1.18). O Deus que Jesus revelou o Deus
de Israel e isso ele deixou claro ao pronunciar o primeiro e grande
mandamento: E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os
mandamentos : Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, o nico Senhor.
Amars, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu corao, e de toda a
tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas foras;
este o primeiro mandamento (Mc 12.29, 30). Essa uma das vrias
declaraes do Novo Testamento que ensina ser o cristianismo
monotesta. A declarao
28. aqui reveladora porque no deixa dvida de que o Deus dos
cristos o mesmo Deus de Israel, pois Jesus citou as palavras
diretamente do Antigo Testamento (Dt 6.4-6).
29. A PATERNIDADE E A ONIPOTNCIA DE DEUS Assim como os antigos
credos sintetizam o ensino bblico sobre a unidade de Deus e o
monotesmo, da mesma forma eles o fazem sobre a paternidade de Deus.
H abundantes declaraes na Escrituras sobre a paternidade de Deus. A
figura do pai numa famlia conhecida e compreensvel em todas as
civilizaes desde a Antiguidade. Aplicada a Deus, torna-se um
recurso extraordinrio. Em primeiro lugar, porque mostra a doutrina
de Deus no abstrata (Dt 1.31; Ml 1.6). E no somente isso, pois so
os pais que geram os filhos e so responsveis por seu bem-estar,
sustento, alimentao, vestimentas, sade, educao e segurana. Essa
manifestao de afeto e carinho acontece de maneira natural e ao
mesmo tempo misteriosa. a melhor e a mais perfeita maneira de
ilustrar e explicar o grande amor de Deus pelo ser humano. A quem
se refere expresso Deus Pai Todo-poderoso ou fraseologia similar
nos antigos credos? Os antigos intrpretes e exegetas tomaram essas
palavras desde muito cedo em relao especial santssima Trindade: o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Pe 1.3); porque a este o
Pai, Deus, o selou (Jo 6.27). Mas Deus como Pai na Bblia tem
significado mais abrangente. O ttulo Pai no Antigo Testamento se
refere aos filhos de Israel, denota relao mediante aliana, concerto
(Jr 31.9; Ml 2.10), de maneira coletiva, a Israel no todo (x 4.22;
Os 11.1), s pessoas como seus filhos (Is 1.2; 30.1; 45.11; Jr 3.22)
e ao Ungido Rei, o Messias (2 Sm 7.14; Sl 2.7; 89.27). No Novo
Testamento, frequente a frase o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo (Rm 15.6; 2 Co 1.3; 11.31; Ef 1.3) e fraseologia
similar
30. (Cl 1.3), e tambm nosso Deus e Pai ou Pai nosso (1 Co 8.6;
1 Ts 3.11, 13; 2 Ts 2.16), principalmente nas introdues das
epstolas paulinas (1 Co 1.3; Gl 1.4; Ef 1.2; Fp 1.2; Cl 1.2). Jesus
nos tornou filhos de Deus por adoo, razo pela qual temos a
liberdade e o direito de cham-lo de Pai (Mt 6.13; Jo 1.12). A
palavra aramaica abba, aba, ou, literalmente, papai, demonstra uma
relao de intimidade dos crentes em Jesus com Deus (Rm 8.15; Gl
4.6). A ideia de que Deus o Pai de todos os seres humanos
biblicamente vlida por causa da criao (At 17.28, 29; Ef 4.6), mas
isso no implica relao pessoal ou espiritual. No evangelho de Joo, o
termo grego patr, pai, aparece 136 vezes, e 120 delas se referem a
Deus. Nos evangelhos sinpticos, essa referncia a Deus bem menor,
mas permanece a mesma ideia. O ttulo de Pai se diferencia dos
demais ttulos e funes de Deus porque nunca se aplica a Jesus nem ao
Esprito Santo. H uma vasta lista de atributos, ttulos, funes e
obras de Deus Pai presentes no Filho e no Esprito Santo, mas o
ttulo de Pai exclusivo ao Deus Pai. Algum pode argumentar sobre a
profecia messinica que emprega as palavras Pai da Eternidade (Is
9.6). O bispo Sablio costumava citar palavra proftica para
fundamentar a crena unicista de que Pai Filho e Filho Pai. Mas o
que a Bblia ensina aqui que o Messias, como rei, o principado est
sobre os seus ombros, pai do seu povo (Is 22.21), e no o Deus-Pai.
O Filho Deus igual ao Pai (Jo 5.17, 18; 10.30), mas no o Pai, seno
o Filho do Pai (2 Jo 3). Ser todo-poderoso o mesmo que ser
onipotente (Sl 91.1). Esse atributo exclusividade divina, no Deus
trino e uno. Os credos comeam reconhecendo esse atributo no Deus
Pai: Creio em Deus Pai Todo-poderoso. A expresso
31. Todo-poderoso um dos nomes de Deus no Antigo Testamento (Gn
17.1; x 6.3), e a ideia nos antigos credos de poder fazer todas as
coisas, tudo o que deseja (Is 46.10). A onipotncia ad extra est
limitada somente pela natureza ou essncia do prprio Deus e por nada
externo a ele; por exemplo, Deus no pode mentir (Tt 1.2). Isso no
deve ser interpretado como limite de seu poder; antes, trata-se da
sua essncia, pois ele mesmo a Verdade. Os cristos reconhecem que
Deus pode todas as coisas: Porque para Deus nada impossvel (Lc
1.37).
32. BBLIA X CINCIA No verdade que a cincia contradiz a Bblia e
vice-versa. necessrio saber o que realmente cincia e se os
pressupostos cientficos so realmente cientficos. Se o resultado
dessa investigao for positivo, resta ainda saber se o pensamento
teolgico realmente bblico ou se no est fundamentado numa falsa
interpretao das Escrituras. Um exemplo clssico disso so as
descobertas cientficas de Galileu Galilei, que contrariavam a
interpretao da Igreja Catlica, e no a Bblia, pois o papa achava que
apenas o Sol e a Lua se moviam, e no a terra, com base na
interpretao dada passagem do dia longo de Josu (Js 10.12-14). Os
cientistas j investigaram diversas reas do saber humano: astronomia
e cosmologia, biologia e gentica, paleontologia e geologia, mtodos
de datao geofsica e hidrodinmica. Por que um nmero considervel
deles rejeita completamente o evolucionismo? Muitas coisas no
currculo escolar na rea de cincias naturais precisam ser revistas,
segundo um nmero considervel de cientistas. Toda a criao louva a
Deus seres espirituais, racionais e irracionais e toda a natureza
(Sl 148.2-12). Os ateus no adoram nem louvam a Deus; acham que no
precisam dele e no participam da adorao a Deus. A existncia de Deus
um fato; trata-se de uma verdade primria que no precisa ser
provada. Seria insulto inteligncia humana dizer a algum que um
relgio simplesmente apareceu do nada, como resultado do acaso. O
Salmo 19 mostra que o Universo, por si s, comprova a existncia de
Deus (Sl 19.1-6). As coisas visveis de Deus so claramente vistas
como recursos que Deus deixou para que o ser humano reconhea a
existncia do Criador: para que eles
33. fiquem inescusveis (Rm 1.20). Ser que eles pensam que,
negando a existncia do Criador, escaparo da condenao eterna? Se for
isso, esto enganados. A nica salvao o Senhor Jesus Cristo (Jo 14.6;
At 16.31).
34. A C A P T U L O 3 Trindade a unio de trs Pessoas o Pai, o
Filho e o Esprito Santo em uma s Divindade, sendo iguais, eternas e
da mesma substncia, embora distintas, sendo Deus cada uma dessas
Pessoas. Essa doutrina um mistrio porque vai alm da razo, mas no
contra a razo, como disse acertadamente Norman Geisler: conhecida
apenas pela revelao divina, portanto no assunto da teologia
natural, mas da revelao (GEISLER, 2001, p. 834). A Bblia declara
textualmente que existe um s Deus verdadeiro e, ao mesmo tempo,
afirma com a mesma clareza e de maneira direta que Jesus Deus,
mostrando nele todos os ttulos divinos, com seus atributos, funes e
obras de Deus. E, com o Esprito Santo no diferente; a Bblia revela
a sua divindade plena. Houve no passado quem defendesse o tritesmo,
mas a Igreja nunca reconheceu tal ensino; antes, refutou e combateu
essa ideia. O mistrio consiste tambm no fato de o Deus dos cristos
revelado nas Escrituras ser trino e uno sem comprometer o monotesmo
judaico-cristo.
35. AS DECLARAES ESCRITURSTICAS A Trindade uma doutrina com
slidos fundamentos bblicos e, mesmo sem conhecer essa terminologia,
os cristos do perodo apostlico reconheciam essa verdade. Essa
doutrina est implcita no Antigo Testamento, pois h declaraes que
indicam claramente a pluralidade na unidade de Deus (Gn 1.26; 3.22;
11.6, 7; Is 6.8). Apesar da nfase da doutrina monotesta como o
shem: Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, o nico SENHOR (Dt 6.4)
reafirmada pelo Senhor Jesus (Mc 12.29), o Antigo Testamento mostra
que a unidade de Deus no absoluta. O Novo Testamento revela que
essa pluralidade se restringe ao Pai, ao Filho e ao Esprito Santo
(Mt 28.19; 1 Co 12.4-6; 2 Co 13.13; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2). H ainda
vrias passagens tripartidas no Novo Testamento que revelam a
Trindade (Lc 24.49; Rm 1.1-4; 5.1-5; 14.17, 18; 15.16, 30; 1 Co
6.11; 2 Co 1.20, 21; Gl 3.11-14; Ef 1.17; 2.18-22; 3.3-7, 14-17; 1
Ts 5.18). Alm das declaraes bblicas apresentadas aqui, h outras
evidncias contundentes que fundamentam essa doutrina. Cada uma
dessas Pessoas chamada individualmente de Deus e Senhor. O Deus do
cristianismo um (Gl 3.20), mas as Escrituras ensinam tambm que o
Pai Deus, o Filho Deus e o Esprito Santo Deus. A Bblia aplica o
nome Deus ao Pai sozinho (Fp 2.11), da mesma forma ao Filho (Jo
1.1) e ao Esprito Santo (At 5.3, 4); e, na maioria das vezes, com
referncia Trindade (Dt 6.4). Isso tambm ocorre com o Tetragrama (as
quatro consoantes do nome divino YHWH), que se aplica ao Pai
sozinho (Sl 110.1), ao Filho (Is 40.3; Mt 3.3) e ao Esprito Santo
(Ez 8.1,3). No entanto, aplica-se tambm Trindade (Sl 83.18). Salta
vista de qualquer leitor da Bblia a divindade plena e absoluta de
cada uma dessas
36. Pessoas. Foi assim que o Esprito revelou a unidade na
Trindade. As palavras de Jesus sobre a sua prpria identidade e as
suas aes revelam a sua deidade absoluta. O mesmo pode ser dito
sobre as obras e as declaraes a respeito do Esprito Santo. O Deus
revelado nos evangelhos trino e uno. A maneira como essa verdade
revelada em Mateus, Marcos, Lucas e Joo era perfeitamente
compreendida pela gerao apostlica. Por essa razo, no havia
questionamento sobre a triunidade de Deus. Quando o Senhor Jesus
apaziguou a tempestade, seus discpulos questionaram: Quem este que
at o vento e o mar lhe obedecem? (Mc 4.41). Eles sabiam que somente
Deus possui esse poder (Sl 65.7; 89.9). O ensino do Senhor Jesus e
de seus apstolos expressava a f em um s Deus, mas ao mesmo tempo
eles ensinavam a deidade absoluta do Pai, do Filho e do Esprito
Santo. A Bblia revela a triunidade de Deus sem necessitar de
definies teolgicas, e o destinatrio imediato de cada texto bblico
compreendia com clareza meridiana a unidade na Trindade e a
Trindade na unidade. No havia ainda necessidade na poca de uma
confisso de f elaborada, pois essa linguagem era suficiente para a
compreenso dos primeiros cristos. At mesmo os opositores da f
crist, s vezes, entendiam esse discurso. Jesus disse certa vez: Meu
Pai trabalha at agora, e eu trabalho tambm (Jo 5.17). Os judeus
incrdulos entenderam essa mensagem e por essa razo procuraram matar
a Jesus, porque dizia que Deus era seu prprio Pai, fazendo-se igual
a Deus (Jo 5.18). Esse modo de pensar dos apstolos era compreensvel
aos primeiros cristos e no havia necessidade de explicaes
adicionais. No h evidncia no Novo Testamento de algum questionando
essa verdade. A expanso do cristianismo no vasto imprio romano era
geogrfica e
37. intelectual (Rm 15.19; Cl 1.6). A pregao do evangelho
passou a se defrontar com as diversas tradies gregas e romanas (At
16.21; 17.18-22). Mas a maneira de pensar desses movimentos
culturais e intelectuais exigia formulaes teolgicas precisas e
racionais na comunicao da verdade crist, somando-se a isso o
surgimento de seitas e heresias como ebionitas, gnsticos,
monarquianistas e arianistas, entre outros. E a simples repetio de
passagens bblicas j no era mais suficiente. Isso exigia da liderana
da Igreja definies teolgicas racionais.
38. OS APOLOGISTAS No que diz respeito Trindade, os pais da
Igreja nos sculos 2 e 3 no tinham uma ideia clara sobre a doutrina,
exceto Tertuliano. O conceito trinitariano de Orgenes mostrou-se
insatisfatrio. Havia muitos conceitos diversificados sobre o
Logos,3 e a doutrina do Esprito Santo nem sequer entrou nos debates
antes de Niceia. Os primeiros pais da Igreja que antecederam o
Conclio de Niceia sabiam pelos escritos do Novo Testamento e pela
experincia das igrejas, a maioria fundada pelos apstolos ou por
algum vinculado a eles ou mesmo seus sucessores, que os primeiros
cristos cultuavam a Jesus e reconheciam o senhorio de Cristo e do
Esprito Santo. Suas explicaes no eram muito claras, pois os
primeiros escritores cristos aps o perodo apostlico no tinham uma
compreenso mais avanada sobre a essncia divina. Os apologistas e os
escritores do sculo II no discutem a Trindade em seus escritos,
embora a frmula Pai, Filho e Esprito Santo, de forma vaga e
imprecisa, aparea com frequncia. Justino, o Mrtir (100-165), diz
que o ministro de culto louva e glorifica ao Pai do universo atravs
do nome de seu Filho e do Esprito Santo, e pronuncia uma longa ao
de graas (I Apologia 65.3). Atengoras de Atenas, numa apologia em
favor dos cristos acusados de atesmo, dirigida ao imperador Marco
Aurlio em 177, apresenta as primeiras articulaes teolgicas da
Trindade: Quem no se surpreender ao ouvir chamar de ateus indivduos
que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e um Esprito Santo, que
mostram seu poder na unidade e sua distino na ordem? (Petio em
Favor dos Cristos, I.10).
39. Irineu de Lio, falecido no ano 202, foi discpulo de
Policarpo de Ismirna, por sua vez discpulo do apstolo Joo. A regula
fidei, regra de f, o credo usado na Igreja de Lio (uma cidade na
atual Frana) no tempo de Irineu, diz o seguinte: Com efeito, a
Igreja espalhada pelo mundo inteiro at os confins da terra recebeu
dos apstolos e seus discpulos a f em um s Deus, Pai onipotente, que
fez o cu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um s Jesus
Cristo, Filho de Deus, encarnado para a nossa salvao; e no Esprito
Santo (Contra as heresias, livro I 10.1). Mais adiante, ele
declara: Sua Palavra e sua Sabedoria, seu Filho e seu Esprito, esto
sempre junto dele... Sua Sabedoria, isto , o Esprito, estava com
ele antes que o mundo fosse feito (Contra as heresias, livro IV
20.1, 3). Irineu diz ainda em outra obra: Sem o Esprito Santo
impossvel ver o Verbo de Deus e sem o Filho ningum pode
aproximar-se do Pai, porque o Filho o conhecimento do Pai e o
conhecimento do Filho se obtm por meio do Esprito Santo. Mas o
Filho, segundo a vontade do Pai, ministra e dispensa o Esprito a
quem quer, conforme, como o Pai quer (Demonstracin de la Predicacin
Apostlica, 7). Justino, o Mrtir, e Irineu de Lio evitam afirmar de
maneira explcita que o Esprito Santo Deus, mas reconhecem a sua
divindade, como se v nos exemplos citados. Nenhum deles escreveu
sobre o Esprito Santo, mas este mencionado com frequncia ao lado do
Pai e do Filho. Nessas construes trinitrias, o Esprito Santo
aparece no mesmo nvel do Pai e do Filho e com qualificaes divinas
plenas, sem, contudo, afirmar de maneira direta que ele Deus. O que
comum a todos os pais da Igreja, nesse perodo, a crena na
triunidade de Deus. Todos eles defendiam uma f trinitariana, ainda
que o
40. conceito desse trinitarianismo no seja satisfatrio.
41. TERTULIANO DE CARTAGO Tertuliano de Cartago, uma cidade do
norte da frica (155-224), advogado romano de formao intelectual
estoica convertido ao cristianismo, tornou-se conhecido como o Pai
do cristianismo latino. Ele refutou os monarquianistas modalistas,
um grupo que no negava a divindade do Filho nem a do Esprito Santo,
mas, sim, a distino destas Pessoas, de modo diametralmente contrrio
ao ensino das igrejas desde os dias apostlicos. Seus principais
representantes foram Noeto, Prxeas e Sablio. Noeto era natural de
Esmirna e ensinava que Cristo era o prprio Pai, e o prprio Pai
nasceu, sofreu e morreu. Cipriano (200-258 d.C.), bispo de Cartago,
chamou a heresia de Noeto, num tom jocoso, de patripassionismo
(Epstola 73), do latim Pater, Pai, e passus, de patrior, sofrer.
Prxeas foi discpulo de Noeto, e a sua doutrina reacendeu no norte
da frica em 213, atravs de um dos discpulos de Prxeas, quando
Tertuliano comeou a sua refutao em Contra Prxeas, texto contendo
captulos. Tertuliano polemizou com esses monarquianistas, dizendo:
Prxeas fez duas obras do diabo em Roma: expulsou a profecia e
introduziu a heresia; afugentou o Paracleto e crucificou o Pai
(Contra Prxeas, I). O bispo Sablio foi o principal expoente do
modalismo; ele ensinava que o Pai, o Filho e o Esprito Santo no
eram trs Pessoas distintas, mas apenas trs aspectos do Deus nico.
Nos tempos do Antigo Testamento, o Pai se manifestou como
Legislador. Nos tempos do Novo Testamento, este Pai era o mesmo
Filho encarnado e tambm fazia o papel de Esprito Santo como
inspirador dos profetas.
42. Foi no combate ao sabelianismo que Tertuliano trouxe uma
formulao trinitria melhor e mais compreensvel. dele o termo
Trindade, trinitas em latim. Ele foi responsvel pela criao de 509
novos substantivos, 284 novos adjetivos e 161 verbos na lngua
latina (McGRATH, 2005, p. 375). Sua explicao sobre o Pai, o Filho e
o Esprito Santo em uma s divindade preserva o monotesmo sem
comprometer a deidade absoluta das trs Pessoas da Trindade. a
unidade na Trindade e a Trindade na unidade. Todos so de um, por
unidade de substncia, embora ainda esteja oculto o mistrio da
dispensao que distribui a unidade numa Trindade, colocando em sua
ordem os trs, Pai, Filho e Esprito Santo; trs contudo, no em
essncia, mas em grau; no em substncia, mas em forma, no em poder,
mas em aparncia, pois eles so de uma s substncia e de uma s essncia
e de um poder s, j que de um s Deus que esses graus e formas e
aspectos so reconhecidos com o nome de Pai, Filho e Esprito Santo
(Contra Prxeas, II Grifo nosso).
43. Tres autem non statu sed gradu, nec substantia sed forma,
nec potestate sed specie, unius autem substabtiae et unius status
et unius potestatis, quia unus Deus ex quo et gradus isti et formae
et species in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti deputantur
(Adversus Praxean, II). Tertuliano apresenta aqui uma breve
interpretao da natureza divina conforme revelada nas Escrituras e
no testemunho das igrejas desde a era apostlica. a primeira frmula,
trinitria que atravessou os sculos. O que ele escreveu aqui vale
ainda hoje, apesar das diversas pontas soltas que precisaram ser
amarradas posteriormente, mas a sua estrutura da Trindade na
unidade e da unidade na Trindade mantida em Orgenes, Atansio, nos
pais capadcios, em Hilrio de Poitiers e em Agostinho de Hipona,
entre outros. O termo mostra o esforo de Tertuliano para provar que
a trplice manifestao revelada na histria salvfica compatvel com a
unidade
44. substancial de Deus. O Pai, o Filho e o Esprito Santo so da
mesma substncia, mas essa essncia divina uma s; a diferena est nas
formas, graus e aspectos. Ele emprega o termo latino, unus, ou o
seu derivado, unicus, para o verdadeiro Deus do cristianismo. Faz
isso na tentativa de afastar a ideia de tritesmo, acusao feita por
seus opositores monarquianistas. Ele usa ainda outra palavra,
unitas, derivado do verbo unire, que significa a unidade interna e
orgnica da natureza divina... Unitas, portanto, o abstrato do termo
unus, ou seja, um por natureza, uniforme, unificado, sem
necessidade de ser reduzido unidade aritmtica (MORESCHINI, 2008,
pp. 205, 206). Assim, a unidade na Trindade e a Trindade na unidade
so uma defesa do monotesmo judaico- cristo. Essa primeira formulao
trinitria foi muito til, e as igrejas do Ocidente se valeram dela
por muito tempo sem alterao do texto, apesar de suas limitaes.
inegvel a contribuio de Tertuliano para a poca, mas muitas
perguntas que ficaram sem respostas foram solucionadas no Oriente a
partir de Atansio e dos pais capadcios. Tertuliano escreveu em
latim. A substncia, substantia em latim, significa em si substncia,
ser, realidade de uma coisa, essncia. Isso quer dizer coisa
subjacente, material ou espiritual, de coisas, aquilo que existe
(MULLER, 1993, p. 290). O seu equivalente grego hipstase ou ousa.
Hipstase a forma de existir; o termo vem de duas palavras gregas:
hypo, sob, e istathai, ficar. E ousa significa essncia, ser. A
essncia a qualidade do ser, o qual faz o ser precisamente o que ele
. Exemplo: a
45. essncia de Pedro, Paulo e Joo sua humanidade; a essncia de
Deus deidade ou divindade (MULLER, 1993, pp. 105, 106). Mas a
palavra latina usada para essncia nessa declarao de Tertuliano
status, condio, qualidade. Todos esses termos filosficos aparecem
nas controvrsias cristolgicas, trinitrias e pneumatolgicas, e a
grande dificuldade de compreenso est na falta de preciso na definio
dessas palavras. O que Tertuliano chama aqui de graus, formas e
aspectos, ele passa a chamar de persona, Pessoa, ou personae, no
plural, mais adiante (Contra Prxeas, XII), ao mostrar a unidade na
Trindade no relato da Criao (Gn 1.26, 3.22). Tertuliano foi o
primeiro a usar o termo Pessoa para os membros da Trindade. Uma
substncia e trs Pessoas. O vocbulo Pessoa inadequado para aplicar s
trs identidades distintas da Trindade. Os pais capadcios evitaram
usar esse termo para identificar o Pai, o Filho e o Esprito Santo
na Trindade. Em vez de falar em trs Pessoas da Trindade, eles as
identificavam como trs hipstases.
46. ORGENES Orgenes o principal representante no Oriente, antes
de Niceia. Por que no dizer que ele foi o fundador da teologia
oriental? Orgenes nasceu em 185, em Alexandria, Egito, e morreu em
Tiro, onde foi torturado at a morte em 254, por causa de sua f em
Jesus. Alexandria j era um grande centro cultural mesmo antes do
surgimento da Igreja. O cristianismo prosperou nessa cidade, que
veio a ser um dos importantes centros cristos da Antiguidade. A
escola de Alexandria foi fortemente influenciada pelo
neoplatonismo, escola filosfica fundada por Amnio Saccas (175-242),
de quem Orgenes foi discpulo. Orgenes foi um grande defensor da f
crist, mas o seu pensamento teolgico, sobretudo sobre a Trindade,
apresenta forte afinidade com a filosofia neoplatnica defendida por
Plotino, principal expoente do neoplatonismo, discpulo de Saccas e
colega de classe de Orgenes. O prprio Orgenes admite essa influncia
quando afirma que a ideia da existncia de um Pai e de um Filho de
Deus era comum tambm a muitos pagos, sendo que o Esprito Santo
exclusividade dos cristos (Tratado sobre os Princpios, livro I
3.1). O que Tertuliano veio chamar de personae da Trindade, Orgenes
chamava de hipstase. Esse termo foi consagrado posteriormente pelos
pais capadcios para identificar o Pai, o Filho e o Esprito Santo
individualmente. Como Tertuliano, Orgenes tambm discordava dos
modalistas no fato de confundir as trs Pessoas da Trindade. O que
mais grave no trinitarianismo de Orgenes a ideia da condio de
inferioridade do Filho em relao ao Pai. Ele afirma que o Filho e o
Esprito
47. Santo tambm so divinos (Patrologia grega 2.3.20), mas diz
em outro lugar que essa divindade secundria (Contra Celso 5.39) e
considera o Esprito Santo criatura do Logos: o mais honorvel de
todos os seres trazidos existncia pela Palavra, o principal em
ordem de importncia, dentre todos os seres que tiveram origem no
Pai por meio de Cristo (In Johan 2.10.75 apud KELLY, 2009, p. 95).
Segundo os crticos de Orgenes, ele ensinava que o poder do Pai
maior do que o do Filho e do Esprito Santo, e o poder do Filho
maior do que o do Esprito Santo. Isto est numa carta endereada a
Mena, patriarca de Constantinopla (536-552). Essa informao aparece
numa epstola de Jernimo a Avito. Orgenes exerceu grande influncia
no Oriente por mais de 100 anos. Observe-se que o historiador da
Igreja, Eusbio de Cesareia foi influenciado pelo pensamento de
Orgenes. Ele mesmo fundou uma escola teolgica nessa cidade de
Cesareia e permaneceu l durante 20 anos. Eusbio assimilou tambm
essa doutrina subordinacionista de Orgenes, pois escreveu: Como os
orculos dos hebreus classificam o Esprito Santo em terceiro lugar
depois do Pai e do Logos (Preparatio Evangelica, XI.21.1).
48. ATANSIO comum ouvir representantes das seitas
antitrinitarianas dizerem que a doutrina da Trindade de origem pag
e foi imposta por um imperador pago no Conclio de Niceia em 325.
Esses argumentos das organizaes contrrias f trinitria so falsos. O
Conclio de Niceia no tratou da Trindade; a controvrsia foi em torno
da identidade Jesus de Nazar. Os credos anteriores ao sculo IV eram
de carter local e estavam relacionados ao batismo na preparao
catequtica; sua autoridade procedia da igreja local de onde o
documento se originou. So os chamados credos sinodais. O Credo
Niceno a primeira frmula publicada por um conclio ecumnico e a
primeira a possuir status de valor universal em sentido legal. O
documento resultado da chamada controvrsia ariana, que comeou no
ano 318 em Alexandria, no Egito. O confronto girava em torno da
identidade do Senhor Jesus Cristo e a questo era sobre a sua
deidade e igualdade com o Pai. O documento aprovado em Niceia
tornou-se ponto de partida, ao invs de ponto de chegada. A
controvrsia prosseguiu por duas razes principais: a volta do
arianismo e a indefinio sobre a identidade do Esprito Santo. O
Conclio de Constantinopla em 381 reconheceu e ampliou o texto da
frmula teolgica aprovada em Niceia em 325. O tema do Conclio de
Niceia ser analisado no captulo seguinte. Atansio (300-373) foi um
dos principais defensores da f nicena nos anos que se seguiram ao
Conclio de Niceia. Ele polemizou com os arianos em defesa da
divindade do Filho; sua discusso era cristolgica em sua obra Contra
os arianos; e ele refutou tambm os tropicianos4 e os
49. pneumatomacianos,5 em defesa da divindade do Esprito Santo,
em Epstolas a Serapio sobre o Esprito Santo. A cristologia de
Atansio estava enraizada no homoousianismo, termo grego derivado de
homoosios, que significa ser da mesma substncia, da mesma essncia,
usado no Credo Niceno ao declarar que o Filho consubstancial com o
Pai ou da mesma substncia do Pai, homoosion t patr, em grego. Na
poca de Atansio, o pensamento neoplatnico e origenista estava bem
sedimentado no Oriente, de modo que essas ideias aparecem na
teologia atanasiana, mas o seu conceito de Trindade era nos termos
de consubstancialidade e sem o subordinacionismo de Orgenes
(Epstola a Serapio, livro I 14.4, 28.1). Atansio foi claro e direto
ao afirmar que o Esprito Santo consubstancial com o Pai e com o
Filho. Cirilo de Jerusalm (315-386), contemporneo de Atansio,
refutava as heresias de sua gerao em favor da Trindade (Catequese,
XVI.3).
50. OS PAIS CAPADCIOS A Capadcia aparece no Novo Testamento (1
Pe 1.1). Os pais capadcios deram continuidade defesa da ortodoxia
nicena. Eles, como Atansio, escreveram em grego. So eles Baslio de
Cesareia, Gregrio de Nissa e Gregrio de Nazianzo. Eles contriburam
de maneira especial na formulao definitiva da Trindade. E
precisaram definir os termos flutuantes ousa e hipstases na
linguagem trinitria. Empregavam o mesmo termo hipstase empregado
por Orgenes para designar as Pessoas da Trindade. Em vez de usar
substncia divina nica, falavam em uma ousa em trs hipstases. A
essncia da doutrina deles que a nica Divindade existe
simultaneamente em trs modos de ser ou hipstases (KELLY, 2009, p.
199). Como Atansio, eles defendiam o homoosios do Filho e do
Esprito Santo. Neles est o clmax do desenvolvimento da doutrina da
Trindade. Baslio de Cesareia (330-379), cidade da Capadcia, hoje na
Turquia, combateu os antigos arianos, os neoarianos, os semiarianos
e os pneumatomacianos. Escreveu no ano 373 uma refutao aos
argumentos do maior expoente do arianismo radical, o arianista
anomoeano de nome Eunmio: Contra Eunmio; escreveu tambm Sobre o
Esprito Santo, uma defesa a doxologia: Glria seja ao Pai, com o
Filho, juntamente com o Esprito Santo. Como Atansio, Baslio tambm
colocava o Esprito Santo no mesmo nvel do Pai e do Filho na frmula
batismal de Mateus 28.19. Evitando termos filosficos, procurava
usar uma linguagem prxima da linguagem bblica. Ele no emprega o
termo homoosios, mas defende a
51. Trindade em outras palavras: Como o Pai um e um o Filho,
assim tambm um o Esprito Santo (Tratado sobre o Esprito Santo,
18.45). Gregrio de Nissa (335-394) era o irmo mais moo de Baslio.
Ele escreveu Sobre a Trindade, continuao da obra Contra Eunmio, de
autoria de seu irmo. Gregrio de Nissa refutou a doutrina tritesta
do heresiarca Ablbio na obra Sobre No Trs Deuses. Ablbio
considerava o Pai, o Filho e o Esprito Santo trs Deuses. Gregrio de
Nissa, como os seus companheiros, defendia a ideia de que a unidade
da ousa, ou Divindade, procede da unidade da ao divina desvendada
na revelao (KELLY, 2009, p. 201). Do rico epistolrio de Baslio,
contendo 366 epstolas, na de nmero 189, Gregrio de Nissa, seu irmo,
escreve: Uma atividade individual do Pai, do Filho e do Esprito
Santo, em nenhum aspecto diferente para qualquer que seja a Pessoa,
somos obrigados a inferir uma unidade de natureza a partir da
identidade de atividade; pois o Pai, o Filho e o Esprito Santo
cooperam na santificao, na vivificao, na consolao, e assim por
diante. Gregrio de Nazianzo (329-389) combateu os mesmos opositores
de seus companheiros Baslio e seu irmo Gregrio de Nissa: Eunmio e
os pneumatomacianos. Escreveu com elegncia e clareza sobre a
Trindade e, especialmente, sobre o Esprito Santo, por meio de
epstolas, poemas e sermes. As Oraes Teolgicas ou Discursos
Teolgicos so numerados de 27 a 31, que correspondem respectivamente
da primeira quinta Orao. Para ele, a divindade existe indivisa em
Pessoas divididas (Discurso 31.14). Gregrio de Nazianzo dizia que o
Pai se distingue por
52. no ter sido gerado, agennsa, ingnito, no-gerado; o Filho,
por ter sido gerado, e o Esprito Santo por ser enviado, procedente
(Discursos, 31.8). Ele defende a doutrina da Trindade com muita
propriedade e vigor e ao mesmo tempo responde aos sabelianistas e
aos tritestas (Discurso 31.9). Gregrio de Nazianzo defendia a ideia
de que as Escrituras aplicavam todos os ttulos e atributos
pertencentes a Deus Filho e ao Esprito Santo. E no somente isso,
mas tambm chamou a ateno para o fato de que a palavra santo
aplicada ao Esprito no era resultado de nenhuma fonte externa, mas
era algo prprio de sua natureza. Segundo Paul Tillich, foi Gregrio
de Nazianzo quem criou a frmula definitiva da doutrina da Trindade
(TILLICH, 2004, p. 92). Mas esses telogos capadcios deixaram ainda
uma ponta solta, a questo da filioque, a dupla processo do Esprito
Santo.
53. AGOSTINHO DE HIPONA Agostinho (354-432) reconhecido como um
dos maiores gnios teolgicos de todos os tempos. Hipona era uma
cidade do norte da frica. J. D. N. Kelly disse que Agostinho deu
tradio ocidental sua expresso madura final (KELLY, 2009, p. 205).
Ele escreveu entre 399 e 419 De Trinitate, Sobre a Trindade, obra
contendo 15 captulos produzidos em 16 anos, 209 sobre o tema no
qual meditou a vida inteira. Agostinho respondia s indagaes sobre o
assunto que as pessoas lhes traziam. No livro I, captulo 7, de A
Trindade, citando alguns exemplos, ele explica o significado das
palavras de Jesus: o Pai maior do que eu (Jo 14.28), e no captulo
seguinte, ele esclarece as palavras do apstolo Paulo sobre a sujeio
do Filho ao Pai (1 Co 15.28). O bispo de Hipona resgata a frmula
bsica de Tertuliano sobre a unidade na Trindade e a Trindade na
unidade. Nos livros I-IV, ele defende a sua consubstancialidade com
base nas Escrituras. A doutrina das relaes das Pessoas da Trindade,
umas das caractersticas peculiaridade de Agostinho aparece nos
livros V-VIII. Em seguida, nos livros IX-XIV, ele argumenta que se
pode conhecer algo da natureza divina pela compreenso da verdade e
pelo conhecimento do sumo bem pelo amor justia. O livro XV a
concluso de seu pensamento. Agostinho preserva a
consubstancialidade do Filho e do Esprito Santo com o Pai e a
unidade nas trs hipstases: O Pai, o Filho e o Esprito Santo
perfazem uma unidade divina pela inseparvel igualdade de uma nica e
mesma substncia (Trindade, livro I 4.7). A expresso grega usual nos
pais
54. capadcios man ousan, treis hypostseis,6 uma ousa, trs
hipstases, mas Agostinho no via diferena entre ousa e hipstase.
Assim preferia o uso de uma substncia, trs Pessoas, mesmo
reconhecendo a limitao da linguagem humana para descrever a revelao
(Trindade, livro V 9.10b). Na doutrina de Agostinho o
subordinacionismo fica descartado e a unidade da santssima Trindade
em trs Pessoas distintas mantida: No so, portanto, trs deuses, mas
um s Deus, embora o Pai tenha gerado o Filho, e assim, o Filho no o
que o Pai. O Filho foi gerado pelo Pai, e assim, o Pai no o que o
Filho . E o Esprito Santo no o Pai nem o Filho, mas somente o
Esprito do Pai e do Filho e pertence unidade da Trindade (Trindade,
livro I 4.7b). Isso foi estruturado em forma de credo
posteriormente, no chamado Credo de Atansio. Esse credo agostiniano
de ponta a ponta (KELLY, 2009, p. 206). Isso se evidencia ainda
mais em sua obra (A Doutrina Crist, I.5). O trinitatismo de
Agostinho apresenta algumas dificuldades como tem acontecido tambm
nos demais pais da Igreja que escreveram antes dele. Alguns desses
pontos so comentados por um intelectual russo da igreja Ortodoxa,
que analisa tambm as principais ideias trinitrias e pneumatolgicas
da patrstica. Seu nome Sergui Bulgkov.7 Ele analisa tambm o
trinitariasmo de Agostinho. O Oriente e o Ocidente sempre tiveram
as suas diferenas: A teologia do Ocidente, no sculo IV, segue seu
prprio caminho, paralelo ao Oriente, ainda que independente deste.
Por outro lado, suas relaes, a causa de uns conhecimentos
lingusticos insuficientes e de
55. razes histricas gerais, foram remotas. Por essa razo no de
estranhar que seus caminhos divirjam justamente a partir do sculo
IV (BULGKOV, 2014, p. 85). As crticas a Agostinho so vrias, entre
elas o fato de o bispo de Hipona no proceder a partir da Trindade
das hipstases como os capadcios, seno da unidade da ousa, ou
essncia. Paul Tillich diz que Agostinho interessou- se muito mais
pela unidade de Deus do que pelas diferentes hipostseis, pelas trs
personae, em Deus. Ele um desses responsveis pela inclinao
contempornea para aplicar o termo persona a Deus, em vez de
aplic-lo individualmente ao Pai, ao Filho e ao Esprito Santo
(TILLICH, 2004, p. 129). Bulgkov afirma que a unidade da Santssima
Trindade nas trs hipstases est garantida justamente por essa
unidade de substncia (2014, p. 85). A outra crtica ao fato de
Agostinho considerar a Trindade como o amor; trata-se de uma anlise
que ele faz entre a Trindade e a vida pessoal humana: Esto as trs
realidades (amans, quod amatur et amor), aquele que ama, o que
amado e amor (Trindade, livro VIII 10.14). Bulgkov diz que essa
ideia original de Agostinho completamente estranha teologia
oriental: Esta imagem trinitria do amor, aplicada Santssima
Trindade, a complica mais introduzindo nela o elemento mente, pois
em Agostinho a Trindade anloga memria, inteligncia e vontade (2014,
p. 88). Ele emprega o conceito da Trindade para descrever Deus
analogicamente como Pessoa. Sendo Pessoa, portanto, unidade, todos
os atos de Deus para fora (ad
56. extra) so sempre atos da Trindade toda, at mesmo a encarnao
(TILLICH, 2004, p. 129). Essa talvez seja a contribuio mais
original de Agostinho. Sobre o sujeito das teofanias registradas no
Antigo Testamento, segundo Agostinho, elas podem ser atribudas s
vezes ao Pai, ora ao Filho e tambm ao Esprito Santo, ou ainda aos
trs (Trindade, livro II caps. 14-34). Bulgkov (2014) argumenta que
telogos orientais como Gregrio de Nazianzo se negam a aceitar
nessas teofanias hipstases separadas, mas como manifestaes do nico
Deus que est na santssima Trindade. Agostinho diz que as diferenas
no esto em seu ser, mas nas relaes que se expressam nos nomes de
cada Pessoa. Bulgkov apresenta nas suas observaes a questo da
filioque, a qual Agostinho parece ser favorvel. O termo vem do
latim e significa e do Filho, com respeito processo do Esprito
Santo. As igrejas orientais sustentam que esse termo, que aparece
no Credo Niceno-Constantinopolitano e no Credo de Atansio, no
autntico, mas uma glosa inserida posteriormente no texto que
resultou no primeiro Cisma da Igreja, ruptura do Oriente com o
Ocidente em 1054.
57. O CREDO DE ATANSIO OU ATANASIANO O Credo de Atansio contm
44 artigos de f, e a sua data cerca do ano 500. tambm conhecido
como Quicunque, quem quer que seja, todo aquele, expresso latina
com a qual o Cedo comea: Quincunque vult salvus esse, Todo aquele
que quer ser salvo. Os antigos manuscritos e fragmentos que vo do
sculo 7 ao 9, dos quais Kelly enumera 14 (KELLY, 1964, p. 16),
apresentam ttulos variados e entre eles: Fides sancti Athanasii
episcopi Alexandriae, A f do santo Atansio bispo de Alexandria. O
texto foi redigido por um autor annimo no sul da Frana por volta do
ano 500. O nome de Atansio est vinculado obra porque ela expressa o
pensamento que Atansio manifestou durante a sua vida em defesa da f
nicena. Citamos aqui apenas os seis primeiros artigos. 1 Todo
aquele que quer ser salvo, antes de tudo, deve professar a f
crist.8 2 A qual preciso que cada um guarde perfeita e inviolada ou
ter com certeza de perecer para sempre. 3 A f crist esta: que
adoremos um Deus em trindade, e trindade em unidade. 4 No
confundimos as Pessoas, nem separamos a substncia. 5 Pois existe
uma nica Pessoa do Pai, outra do Filho, e outra do Esprito Santo. 6
Mas a deidade do Pai, do Filho e do Esprito Santo toda uma s: glria
igual e a majestade coeterna. Os credos ecumnicos so trinitrios na
sua forma, estrutura e contedo, mas o Credo de Atansio emprega o
termo Trindade de maneira direta: que adoremos um Deus em Trindade,
e Trindade em unidade (artigo 3); nessa
58. Trindade, no existe primeiro nem ltimo (artigo 25); tanto a
unidade na Trindade como a Trindade na unidade deve ser adorada
(artigo 27); quem quiser ser salvo, deve pensar assim a respeito da
Trindade (artigo 28). Esse Credo o mais longo de todos os credos
ecumnicos. A estrutura do texto est dividida em cinco partes: a)
introduo (artigos 1, 2); b) definio e exposio da doutrina da
Trindade (artigos 3-27); c) afirmao de que todo aquele que quiser
ser salvo precisa aceitar a viso de um Deus trino e uno conforme
definio do Credo (artigos 28, 29); d) fala sobre a encarnao do
Verbo, enfatizando particularmente o ensino da Igreja sobre Jesus
como perfeitamente divino e perfeitamente humano (artigos 30-37);
e) reafirmao do ensino dos credos anteriores, como o Credo dos
Apstolos e o Credo Niceno-Constantinopolitano dos apstolos. Em
resumo, retoma a linguagem do Credo Niceno-Constantinopolitano
sobre a esperana crist (artigos 30-43) e finaliza reafirmando a
introduo: Esta a f universal: a menos que um homem creia fiel e
firmemente, no pode ser salvo (artigo 44). Os artigos 3-6 parecem
uma contradio quando falam em no confundir as Pessoas e ao mesmo
tempo defendem essa ideia, concluindo que o Pai, o Filho e o
Esprito Santo possuem uma mesma deidade. Isso uma resposta aos
sabelianistas, que confundem as Pessoas, e aos arianistas, que
separam as Pessoas. Na atualidade, a resposta se dirige aos
movimentos Voz da Verdade e Tabernculo da F, entre outros, que
tambm confundem as Pessoas; e tambm s testemunhas de Jeov, que
separam a substncia. 3 O termo grego logos , em si mesmo, de cunho
filosfico e se traduz de diversas maneiras como palavra, razo,
pensamento, expresso. Herclito (540-475 a.C.), um dos filsofos
pr-socrticos, dizia que o Logos era um
59. princpio divino que governava o universo e impedia que o
mundo, em constante mutao, se tornasse o caos. O apstolo Joo mostra
aos gregos que o Logos Deus e pessoal, aparecendo em nossas verses
da Bblia como o Verbo (Jo 1.1), o Senhor Jesus Cristo (Jo 1.14). 4
Os tropicianos eram uma seita do Egito; o nome vem de tropos,
figura. Atansio assim o denominou por causa da exegese figurada
deles. Eles diziam ser o Esprito Santo um anjo e uma criatura. 5 Os
pneumatomacianos surgiram depois dos tropicianos. O termo
pneumatomachoi, de pneuma, esprito, e machomai, falar mal, contra,
eram os opositores do Esprito. O nome foi dado por Atansio ao grupo
religioso liderado por Eustquio de Sebaste (300-380), que no
aceitava a divindade do Esprito Santo. 6 Mi,an ouvsi,an, trei/j
u`posta,seij. 7 Sergui Bulgkov (1871-1944), cristo ortodoxo
reconhecido como um dos grandes telogos russos do sculo 20, alm de
filsofo e economista. Lecionou em Livny, Rssia, e em Paris e foi
autor de diversos livros. Em sua obra sobre o Esprito Santo,
escrita originalmente em russo e intitulada The Comforter, em ingls
e El Parclito em espanhol, ele apresenta uma anlise histrica da
pneumatologia, envolvendo tambm a doutrina da Trindade. 8 O termo
crist em f crist, fides catholica, em latim (artigos 1, 3, 44) a
verso dada aqui. O vocbulo grego kaqoliko,j (katholiks) universal,
geral, de onde vem a palavra latina catholica, significa
literalmente, de acordo com o todo, pois o substantivo composto de
kat e de (holos). A preposio grega, kat, significa tambm, conforme,
de acordo, segundo, e a palavra holos, todo, inteiro, completo. Foi
Incio, bispo de Antioquia (70110), que empregou o termo para
designar a Igreja com o sentido de geral, universal. Mas, o sentido
exato do termo perdeu-se com o tempo e hoje tem outro significado.
A expresso, fides catholica, no diz respeito Igreja Catlica Romana
de hoje.
60. O C A P T U L O 4 tema sobre a verdadeira identidade de
Jesus de Nazar algo palpitante e ao mesmo tempo oportuno. So milhes
de seres humanos que ainda no conhecem o verdadeiro Jesus dos
evangelhos. Muitas pesquisas criteriosas foram realizadas sobre a
vida e a obra de Jesus ao longo dos sculos; no entanto, Ele
continua sendo a personagem mais controvertida e mais importante da
Histria. Jesus tema de filmes, msicas, livros, poesias, pinturas e
teatros como ningum. Sua histria est traduzida em 2.935 lnguas. Ele
revelou seu poder sobre o reino das trevas, sobre Satans e sobre o
inferno (Mc 5.7-13); sobre as enfermidades e sobre a morte (Mt
10.8); sobre o pecado e sobre a natureza (Jo 8.46; Mt 8.26, 27).
Seus discpulos chegaram a perguntar: Que homem este? (Mt 8.27). O
prprio Jesus perguntou certa vez: Quem dizem os homens ser o Filho
do homem? (Mt 16.13). A resposta certa depende da revelao divina
porque no foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que est
no cu (Mt 16.17); E ningum pode dizer que Jesus o Senhor, seno pelo
Esprito Santo Santo (1 Co 12.3).
61. Desde os primeiros sculos do cristianismo, houve tentativa
de resposta para essa pergunta, mas, sem a revelao divina, ningum
capaz de acertar. Os grandes heresiarcas do passado fracassaram
como os gnsticos: Simo de Samaria, Saturnino, Basisides, Cerinto,
Marcio e Valentino, entre outros; os monarquianistas: dinmicos como
Tedoto de Bizncio, o Curtido, e Paulo de Samosata; modalistas,
Noeto, Prxeas e Sablio; rio, Apolinrio, os monofisitas Eutique e
Jac Baradeus. Os discpulos deles ainda esto por a. O Esprito Santo
j havia falado de antemo por meio do ministrio do apstolo Paulo a
respeito dos pregadores de um Jesus estranho aos evangelhos (2 Co
11.4).
62. O JESUS DAS ESCRITURAS A sua divindade A Bblia afirma
textualmente e com todas as letras que Jesus o verdadeiro Deus, o
mesmo Deus Jav de Israel: O Filho chamado Deus Forte (Is 9.6); Jav,
Justia Nossa ou O SENHOR, Justia Nossa (Jr 23.6); e o Verbo era
Deus (Jo 1.1); Tom respondeu, e disse- lhe: Senhor meu, e Deus meu!
(Jo 20.28); e dos quais Cristo, segundo a carne, o qual sobre
todos, Deus bendito eternamente. Amm (Rm 9.5); Que, sendo em forma
de Deus, no teve por usurpao ser igual a Deus (Fp 2.6);
enriquecidos da plenitude da inteligncia, para conhecimento do
mistrio de Deus Cristo (Cl 2.2); Porque nele habita corporalmente
toda a plenitude da divindade (Cl 2.9); Aguardando a bem-aventurada
esperana e o aparecimento da glria do grande Deus e nosso Senhor
Jesus Cristo (Tt 2.13); Mas, do Filho diz: Deus, o teu trono
subsiste pelos sculos dos sculos, cetro de equidade o cetro de teu
reino (Hb 1.8); Simo Pedro, servo e apstolo de Jesus Cristo, aos
que conosco alcanaram f igualmente preciosa pela justia do nosso
Deus e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 1.1); E sabemos que j o Filho de
Deus vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que
verdadeiro; e no que verdadeiro estamos, isto , em seu Filho Jesus
Cristo. Este o verdadeiro Deus e a vida eterna (1 Jo 5.20); Eis que
vem com as nuvens, e todo o olho o ver, at os mesmos que
transpassaram; e todas as tribos da terra se lamentaro sobre ele.
Sim. Amm. Eu sou o Alfa e o mega, o princpio e o fim, diz o Senhor,
que , e que era, e que h de vir, o Todo-poderoso (Ap 1.7, 8). As
Escrituras mostram diversas vezes o Senhor Jesus ao lado do Pai,
revelando assim a sua divindade:
63. Graa e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (Rm
1.7); todavia, para ns h um s Deus, o Pai, de quem tudo e para quem
ns vivemos; e um s Senhor, Jesus Cristo, pelo qual so todas as
coisas, e ns por ele (1 Co 8.6); Mando-te diante de Deus, que todas
as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pncio Pilatos
deu o testemunho de boa confisso (1 Tm 6.13); Conjuro-te, pois,
diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que h de julgar os vivos e
os mortos, na sua vinda e no seu Reino (2 Tm 4.1). O Senhor Jesus
possui os mesmos nomes e ttulos divinos, como Jav dos Exrcitos e
Criador. Jesus o mesmo Deus Jav dos Exrcitos. Quem esse Rei da
Glria? O SENHOR dos Exrcitos, ele o Rei da Glria (Sl 24.10). Este
salmo transcende um marco nacional. um salmo proftico que fala
sobre o retorno de Cristo sua glria, na sua ascenso. o cntico dos
anjos e a festa de recepo do Filho de Deus, pois Ele voltou
vitorioso ao cu. O Novo Testamento chama Jesus de o Senhor da Glria
(1 Co 2.8). As portas e entradas eternas (Sl 24.7) se referem s
portas do cu que se abriram para receber o Rei dos reis, e isso se
cumpriu em Atos 1.9-11. Isaas 6.3 diz que a terra est cheia da
glria de Jav dos Exrcitos; entretanto, o Novo Testamento diz que
esse Jav Jesus. Compare Isaas 6.3, 10 com Joo 12.40,41. O v. 40 uma
citao de Isaas 6.10, e o v. 41, de Isaas 6.3. Assim, a Bblia ensina
que Jesus o Deus-Jav dos Exrcitos. Jesus o mesmo Jav. Jesus chamado
de Jav Justia Nossa (Jr 23.5, 6). Os profetas Isaas e Malaquias
profetizaram que Joo Batista seria aquele que viria ante a face de
Jav (Is 40.3; Ml 3.1). Estas palavras foram citadas por Zacarias
por ocasio do nascimento de Joo: E tu, menino, sers chamado profeta
do Altssimo, porque hs de ir ante a face do Senhor, a preparar os
seus caminhos (Lc 1.76). Veja que o nome Senhor est no lugar de
Jav,
64. entretanto Joo Batista foi o precursor de Jesus (Lc 3.28).
O profeta Ezequiel chama o Messias de Jav, Deus de Israel: E
disse-me o SENHOR: Esta porta estar fechada, no se abrir; ningum
entrar por ela, porque o SENHOR Deus de Israel entrou por ela: por
isso estar fechada (Ez 44.2). Esta profecia comeou a se cumprir
quando Jesus entrou em Jerusalm. Montado num jumento, Ele caminhou
no sentido do monte das Oliveiras ao centro da cidade, e passou
pela Porta Oriental (Ne 3.29), atualmente a Porta Dourada, a nica
que d acesso direto ao ptio do templo (Mc 11.11). Esta porta, que
fica no lado oriental de Jerusalm, foi lacrada no ano de 1542 por
ordem do sulto Suleiman II, o Magnfico, e permanece fechada at
hoje. Quem este Jav Deus de Israel que entrou por esta porta?
Jesus, o profeta de Nazar. A Bblia revela tambm a divindade de
Jesus e a sua igualdade com o Pai nos seus atributos incomunicveis.
Jesus eterno; Ele existe desde a eternidade e cujas sadas so desde
os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Mq 5.2); Pai da
Eternidade (Is 9.6); Jesus Cristo o mesmo ontem, hoje e eternamente
(Hb 13.8). Ele mesmo declarou ser onipotente: - me dado todo o
poder no cu e na terra (Mt 28.18); Eu sou o Alfa e o mega, o
Princpio e o Fim, diz o Senhor, que , e que era, e que h de vir, o
Todo-poderoso (Ap 1.8). A Bblia mostra que Jesus est acima de todo
o principado, e poder, e potestade, e domnio, e de todo o nome que
se nomeia, no s neste sculo, mas tambm no vindouro (Ef 1.21). Jesus
mesmo afirmou ser onipresente: Porque onde estiverem dois ou trs
reunidos em meu nome, a estou eu no meio deles (Mt 18.20) e mais:
Eis que estou convosco todos os dias, at a consumao dos sculos. Amm
(Mt 28.20). Ele onisciente, pois sabe todas as coisas: Agora,
conhecemos que sabes tudo e no precisas de que algum te interrogue.
Por isso, cremos que saste de Deus (Jo 16.30);
65. Senhor, tu sabes tudo (Jo 21.17); em Cristo esto escondidos
todos os tesouros da sabedoria e da cincia (Cl 2.2, 3). Jesus o
Criador do cu e da terra: Todas as coisas foram feitas por ele, e
sem ele nada do que foi feito se fez (Jo 1.3); porque nele foram
criadas todas as coisas que h nos cus e na terra, visveis e
invisveis, sejam tronos, sejam dominaes, sejam principados, sejam
potestades; tudo foi criado por ele e para ele (Cl 1.16). Alm
disso, Jesus transcende a criao; isso significa que ele um ser
parte da criao, no participa dela: E ele antes de todas as coisas,
e todas as coisas subsistem por ele (Cl 1.17). A sua humanidade
Porque h um s Deus, e um s mediador entre Deus e os homens, Jesus
Cristo homem (1 Tm 2.5). Jesus Cristo o eterno e verdadeiro Deus e
ao mesmo tempo o verdadeiro homem. Tornou-se homem para suprir a
necessidade humana. O termo Emanuel traduzido pelo prprio escritor
sagrado por DEUS CONOSCO (Mt 1.23). Isso mostra que Deus assumiu a
forma humana e como homem viveu entre ns: E o Verbo se fez carne e
habitou entre ns, e vimos a sua glria, como a glria do Unignito do
Pai, cheio de graa e de verdade (Jo 1.14); E todo o esprito que
confessa que Jesus no veio em carne no de Deus... (1 Jo 4.3). O
ensino da humanidade de Cristo, no entanto, no neutraliza a sua
divindade, pois Ele possui duas naturezas a humana e a divina , o
que est claramente expresso no seu nome Emanuel. Jesus foi
revestido do corpo humano porque o pecado entrou no mundo por um
homem e pela justia de Deus tinha de ser vencido por um homem (Rm
5.12,18,19). Jesus se fez carne, fez-se homem sujeito ao pecado,
embora nunca
66. houvesse pecado (Hb 4.15), e venceu o pecado como homem (Rm
8.3). A Bblia mostra que todo o gnero humano est condenado; que o
homem est perdido e debaixo da maldio do pecado (Sl 14.2, 3; Rm
3.23). Todos so devedores, e por isso ningum pode pagar a dvida do
outro. A Bblia diz que somente Deus pode salvar (Is 43.11). Ento,
esse mesmo Deus tornou-se homem, trazendo-nos o perdo de nossos
pecados e cumprindo ele mesmo a lei que promulgara (At 4.12; 1 Tm
3.16; Cl 2.14). Quando Jesus estava na terra, no se apegou s
prerrogativas da divindade para vencer o diabo, mas aniquilou a Si
mesmo, fazendo-se semelhante aos homens (Fp 2.5-8). Os evangelhos
revelam atributos caractersticos do ser humano em Jesus, como por
exemplo: Ele nasceu de uma mulher, embora gerado pela ao
sobrenatural do Esprito Santo. Seu nascimento, contudo, ou seja, o
parto pelo qual ele veio ao mundo, foi normal e comum como o de
qualquer ser humano (Lc 2.6-7); Ele cresceu em estatura e em
sabedoria (Lc 2.52); Ele sentiu sono, fome, sede e cansao (Mt 8.24;
Jo 19.28; 4.6); Ele sofreu, chorou e sentiu angstia (Hb 13.12; Lc
19.41; Mt 26.37); Ele teve me humana, alm de irmos e irms (Mt
12.47; 13.55, 56). Ele morreu, embora ressuscitasse ao terceiro
dia, passando pelo ardor da morte (1 Co 15.3-4); Ele deu provas
materiais de ter um corpo humano (1 Jo 1.1; Lc 24.39-41); Ele foi
feito semelhante aos homens, mas sem pecado (Hb 2.17; 4.15). Assim
como pecado negar a humanidade de Cristo (1 Jo 4.2, 3; 2 Jo 7), da
mesma forma pecado negar a sua divindade (Rm 10.9), pois Jesus
tanto
67. humano como divino (Rm 1.3, 4; 9.5). Como homem, sentia as
dores do ser humano (Hb 5.18); e, como Deus, hoje supre a
necessidade da humanidade (Hb 2.17, 18). O Filho de Deus O conceito
de Pai-Filho, na divindade, no deve ser confundido com o processo
de reproduo humana nem com o relacionamento pai-filho numa famlia
natural. Os muulmanos consideram ofensa chamar Jesus de Filho de
Deus, pois analisam essa relao no plano humano. Eles creem que
pregamos que Deus teve relaes sexuais com Maria, pois assim
interpretam o nosso conceito de Filho de Deus. Diz a religio
islmica: Originador dos cus e da terra! Como poderia ter prole,
quando nunca teve esposa, e foi Ele que criou tudo o que existe, e
Onisciente? (Alcoro, 6.101). Nenhum cristo no mundo pensa dessa
forma; essa caricatura inveno deles. Jesus chamado de Filho de Deus
no Novo Testamento porque Ele Deus e veio de Deus. Jesus mesmo
disse: Eu sa e vim de Deus (Jo 8.42); Sa do Pai e vim ao mundo;
outra vez, deixo o mundo e vou para o Pai (Jo 16.28). Concepo e
nascimento virginal O Senhor Jesus foi concebido por obra e graa do
Esprito Santo no ventre da virgem Maria: [...] lhe apareceu um anjo
do Senhor, dizendo: Jos, filho de Davi, no temas receber a Maria,
tua mulher, porque o que nela est gerado do Esprito Santo (Mt
1.20); E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descer sobre ti o Esprito
Santo, e a virtude do Altssimo te cobrir com a sua sombra; pelo que
tambm o Santo, que de ti h de nascer, ser chamado Filho
68. de Deus (Lc 1.35). A palavra proftica anunciava isso desde
o profeta Isaas: Portanto o mesmo Senhor vos dar um sinal: eis que
uma virgem conceber, e dar luz um filho, e ser o seu nome Emanuel
(Is 7.14). O substantivo hebraico para virgem usado nesta passagem
alm. Isto tem dado espao para interminveis controvrsias,
principalmente por eruditos judeus e por telogos cristos
modernistas, na tentativa de neutralizar a doutrina do nascimento
virginal de Jesus. Alguns afirmam que a palavra mais apropriada
para virgem seria betl, querendo com isso dissociar Mateus 1.23 de
Isaas 7.14. A palavra betl aparece 51 vezes no Antigo Testamento
hebraico e traduzida 44 vezes por parthenos na Septuaginta. Ela
pode se aplicar a uma mulher casada (Jl 1.8), o que no ocorre com o
substantivo alm, que s se aplica mulher solteira. W. E. Vine, com
base em Joel 1.8, diz que betl nos textos aramaicos tardios era
aplicada a uma mulher casada. Isso, portanto, traria muita confuso:
parece que a eleio da palavra alm foi deliberada. Parece que a nica
palavra hebraica disponvel que indicaria com clareza que aquela a
que ele designa no estava casada (VINE, vol. 4, 1989, p. 248). O
substantivo alm aparece nove vezes no Antigo Testamento hebraico
(Gn 24.43; x 2.8; 1 Cr 15.20; Sl 46 (ttulo, pois a palavra hebraica
alamth plural de alm); 68.25; Pv 30.19; Ct 1.3; 6.8; Is 7.14). Em
dois lugares, a Septuaginta traduziu esse termo pelo vocbulo grego
parthenos, que significa virgem (Gn 24.43; Is 7.14). A mesma
Rebeca
69. que chamada virgem [betl, em hebraico] a quem varo no havia
conhecido, no v. 16 desse mesmo captulo ela chamada de alm. A
Septuaginta foi traduzida por 72 judeus em Alexandria antes do
nascimento de Jesus. Com o surgimento do cristianismo, os cristos
pregavam que a concepo e o nascimento virginal de Jesus eram o
cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento. Assim comearam as
disputas com os judeus: Contra a Igreja os judeus sustentavam que
Isaas 7.14 no fala de uma virgem (parthenos), mas de uma mulher
jovem (neanis). Os cristos respondiam acertadamente que a traduo
parthenos provm de tradutores judeus (BENTZEN, 1968, p. 92). Talvez
seja essa uma das razes pelas quais as autoridades judaicas
resolveram revisar a Septuaginta. As verses gregas do Antigo
Testamento, que vieram aps o cristianismo, substituram parthenos
por neanis, jovem. quila era judeu e discpulo do rabino Akiva
(morto em 132 d.C.). A outra verso a de Teodcio, ou Teodocio,
apstata do cristianismo, que voltou ao judasmo (final do segundo
sculo d.C.); e finalmente a de Smaco, que era ebionita (seita
judaica que negava a divindade de Cristo), preparada em 170 d.C.
(FISCHER, 2013, pp. 105, 106). At hoje os israelenses, em Israel,
usam alm para designar senhorita. Gerard Van Groningen, em sua obra
Revelao messinica no Velho Testamento, apresenta a seguinte
concluso: Um exame dos materiais disponveis a estudiosos e peritos,
como indicado acima, leva-nos
70. segura concluso de que, com base no uso do termo tanto em
hebraico quanto em ugartico, o termo alm deve ser traduzido por
virgem. A Septuaginta d pleno apoio a isto, e o testemunho do Novo
Testamento (Mt 1.23) d a palavra final. Isaas disse e pretendeu
dizer virgem (GRONINGEN, 1995, p. 484).
71. O JESUS DOS CREDOS Os gnsticos e demais heresias e
heresiarcas O monarquianismo foi um movimento que surgiu depois da
metade do segundo sculo em torno do monotesmo cristo. Os
monarquianistas se dividiam em dois grupos: os dinmicos, que
ensinavam ser Cristo Filho de Deus, mas por adoo; e os modalistas,
que ensinavam ser Cristo apenas uma forma temporria da manifestao
do nico Deus. Tertuliano chamou de monarquianistas, do grego
monarchia, governo exercido por um nico soberano. Eram os
opositores da doutrina do Logos os alogoi, aqueles que rejeitavam o
Evangelho de Joo. Tedoto de Bizncio, o curtidor, discpulo dos
alogoi, aceitava o evangelho de Joo com certa ressalva, e foi o
primeiro monarquianista dinmico de importncia. Chegou a Roma em
190, mas foi excomungado em 198. Ele ensinava ser Jesus um homem e
nada mais, que nasceu de uma virgem e teve uma vida santa, pois o
Esprito Santo sobre ele desceu por ocasio do seu batismo no rio
Jordo. Alguns dos discpulos de Tedoto rejeitavam qualquer direito
divino em Jesus, mas outros afirmavam que Jesus teria se tornado
divino, em certo sentido, por ocasio da sua ressurreio. O mais
famoso monarquianista dinmico foi Paulo de Samosata, bispo de
Antioquia entre 260 e 272. Ele dizia que o Logos e o Esprito Santo
eram qualidade divinas, e no Pessoas; e mais: o poder do Logos
habitara em Jesus como num vaso, como ns habitamos nossas casas. A
unidade que Jesus
72. tinha com Deus era da vontade e do amor; no de natureza
(TILLICH, 2004, p. 82). Paulo de Samosata foi considerado herege
por negar a natureza divina de Cristo e terminou excomugado em 269,
depois de suas ideias serem examinadas por trs snodos. Os
monarquianistas modalistas no negavam a divindade do Filho nem a do
Esprito Santo, mas, sim, a distino destas Pessoas, o que
diametralmente oposto aos ensinos do Novo Testamento, que ensina a
unidade composta de Deus em trs Pessoas distintas. Os modalistas
pregavam a unidade absoluta de Deus, coisa que nem mesmo o Antigo
Testamento ensina, e para apoiar tal ensino mutilaram os textos
neotestamentrios. Seus principais representantes foram Noeto,
Prxeas e Sablio (ver captulo anterior). Hiplito de Roma (170-236)
rebateu essas crenas em sua obra Refutao de todas as heresias. O
Conclio de Niceia Os credos anteriores ao sculo 4 tiveram carter
local e estavam relacionados ao batismo na preparao catequtica,
cuja autoridade procedia da igreja local de onde o documento se
originava; so os chamados credos sinodais. O embrio do Credo dos
Apstolos vem do final do sculo II; contudo, no se tornou universal
antes do Conclio de Niceia. O Credo Niceno a primeira frmula
publicada por um conclio ecumnico e a primeira a possuir status de
valor universal em sentido legal. O documento resultado da chamada
controvrsia ariana que comeou no ano 318 em Alexandria, no Egito. O
confronto girava em torno da consubstancialidade do Filho com o
Pai. rio (256-336), um presbtero do
73. distrito de Baucale, em Alexandria, Egito, desencadeou a
maior controvrsia do cristianismo a ponto de at a poltica dos
imperadores ter sido envolvida na questo. A ideia dominante de rio
era norteada pelo princpio monotesta esboado pelo monarquianismo
dinmico. Existe um s Deus no-gerado, dizia, um nico Ser
no-originado, sem nenhum comeo de existncia. O Filho tivera comeo e
teria sido criado do nada antes de o Pai haver criado o mundo.
Assim, rio se negava a reconhecer a deidade do Filho e a sua
consubstancialidade com o Pai, reduzindo-o condio de mera criatura.
A palavra de ordem e o refro cantado por ele e seus partidrios era:
Houve tempo em que o Filho no existia. o mesmo ensino das atuais
testemunhas de Jeov. rio foi cortado da comunho da Igreja por
Alexandre, bispo de Alexandria, e isso provocou o protesto de seus
partidrios. rio se apegava a algumas passagens bblicas que julgava
favorecer sua interpretao, como (Pv 8.22 LXX; Jo 14.28; 17.3; At
2.36; Cl 1.15; Hb 3.2). Ele pouco se ocupou do Esprito Santo, mas
dizia que era tambm criatura. Em Contra os arianos, Atansio refutou
os argumentos arianistas depois do Conclio de Niceia, comentando
cada passagem bblica citada aqui. Da lavra de rio a obra Thalia,
Banquete, exposio de sua doutrina escrita em versos e talvez em
prosa, da qual alguns fragmentos foram preservados nas obras de
Atansio. rio escreveu ainda uma carta destinada a Eusbio de
Nicomdia, na qual afirma: Somos perseguidos porque dizemos que o
Filho tem um comeo, enquanto Deus sem comeo; e outra a Alexandre,
bispo de Alexandria. Posteriormente ele enviou uma confisso de
74. f ao Imperador Constantino. Entre seus partidrios, citamos
Eusbio de Nicomdia, e principalmente Astrio, o Sofista, que esteve
ao lado de rio desde o incio da controvrsia e escreveu a obra
Syntagmation, uma exposio resumida da doutrina ariana, da qual
alguns fragmentos foram preservados por Atansio em Contra os
arianos I.5, 3; 11, 1. A fonte da teologia de rio no muito clara.
Ele no reivindicou originalidade para suas ideias. Mas sabe-se que
Luciano, falecido em 312 numa perseguio imperial, fundou uma escola
catequtica em Antioquia e foi discpulo de Paulo de Samosata. Eusbio
de Nicomdia descrito como discpulo de Luciano. Segundo J. N. D.
Kelly, rio e Eusbio de Nicomdia eram lucianistas (KELLY, 2009, p.
174). Luciano era monarquianista dinmico e esteve fora da comunho
da Igreja por trs bispos sucessivos porque adotava a teologia de
Paulo de Samosata. Os principais lderes do arianismo foram todos
discpulos de Luciano. Assim, o pensamento teolgico de rio
provavelmente teria vindo de Paulo de Samosata por meio de Luciano.
Essa controvrsia chamou a ateno do povo e tambm ganhou conotao
poltica, considerada hoje a maior controvrsia da histria da Igreja
Crist. O imperador Constantino considerava que uma igreja dividida
era uma ameaa, pois esperava ser o cristianismo o cimento do
imprio. Ele enviou mensageiros liderados por sio, bispo de Crdoba e
seu conselheiro espiritual, com o propsito de uma conciliao, mas no
houve resultado. sio explicou ao imperador a profundidade do
problema, e assim Constantino convocou um conclio na cidade de
Niceia, na Bitnia, regio que citada no Novo Testamento (At 16.7; 1
Pe 1.1), na sia Menor, hoje Isnik, Turquia. A
75. reunio comeou em 19 de junho de 325, com a participao de
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