A TV a cabo e as exigências da Sociedade Pós-moderna*¹
Lívia Inácio*²
Anos depois da criação do iconoscópio do russo Vladmir Zworykin, um tubo a vácuo com uma
tela de células fotoelétricas capaz de fazer uma varredura de imagens a fim de transmiti-las da
melhor maneira possível, a TV ganhou o mundo. Em 1935, a França construiu sua primeira
antena bem no alto da torre Eiffel e, no ano seguinte, a Inglaterra encheu de câmeras a capital
do Reino Unido para transmitir pela televisão a coroação do rei Jorge VI.
A "tela mágica" chegou à década de 1950 como a vedete do momento. O mundo estava
hipnotizado pelo aparelho cuja capacidade de transmissão parecia acompanhar o ritmo de
uma sociedade cada vez mais distante do tempo das manivelas. Satélites pelos quatro cantos
da Terra passaram a unir com propriedade todos os pontos cardeais. O planeta foi ficando
pequeno, as fronteiras entre os países, ainda menores.
"Girando a 36 mil quilômetros de distância da superfície da Terra, na mesma velocidade
angular do nosso planeta, ou seja, dando uma volta completa a cada 24 horas, os satélites de
comunicação chamados geoestacionários permitem a comunicação instantânea entre vários
pontos do solo." (parágrafo 5; p.25)
"A primeira transmissão via satélite, ao vivo para o Brasil causou grande impacto nos
telespectadores. Foi o lançamento da nave Apolo IX, em 3 de março de 1969, de Cabo Kennedy,
Estados Unidos." (parágrafo 3; p. 26)
As vendas de televisores cresciam a cada década. Telespectadores, embora impressionados
com a novidade, queriam sempre algo mais. Com o tempo, tornaram-se mais seletivos e as
emissoras precisaram inovar para que seu conteúdo fizesse jus às exigências. Os canais a cabo
surgiram nessa época.
Tudo começou na década de 1950, nos Estados Unidos, mais precisamente em algumas
pequenas cidades nos estados da Pensilvânia e do Oregon. Naquela região, o relevo
montanhoso impedia que as imagens chegassem em boa qualidade às lojas de
eletrodomésticos, o que prejudicava as vendas. Foi então que os lojistas tiveram a ideia de
instalar antenas em lugares altos e ligá-las às televisões nas prateleiras. Com isso, o sinal saía
limpinho no estabelecimento, mas quando o comprador chegava em casa, era surpreendido
por uma imagem horrível, cheia de chuviscos. Propaganda enganosa ou não, os vendedores
resolveram ajudar seus clientes, sem deixar, é claro, de lucrar mais um pouco: começaram a
puxar cabos de suas antenas até as residências dos compradores para melhorar a imagem de
suas tevês. Acontece que para receber o sinal, era necessário pagar uma taxa periódica para o
dono da antena. Surgia assim, o que viria ser a avó da nossa TV a cabo.
A TV a cabo se tornou um grande negócio. Não tardou, vieram as emissoras segmentadas com
programações jornalísticas bem específicas: regionais, culturais, econômicas etc. E a sociedade
estadunidense aderiu à ideia. Talvez porque essa segmentação suprisse às exigências das quais
falamos. A variedade dos canais pagos passou a atrair um público que não se contentava
apenas com o que a TV aberta oferecia.
"No final dos anos 70, as três grandes redes de TV norte-americanas, também chamada TV
aberta - ABC, NBC e CBS - , tinham, em conjunto, 91% da audiência total dos telespectadores.
Nos anos 90, com a explosão da TV paga, a audiência das abertas começou a cair até se
estabilizar em pouco menos de 6)% de audiência total nas três emissoras. (...) Em outubro de
1998, pela primeira vez, a audiência dos canais a cabo considerados básicos (cerca de 200)
alcançou um indice histórico, superando a audiência conjunta das quatro grandes redes
abertas. (...)" (parágrafos 6 e 7; p. 41)
*¹Baseado em “PATERNOSTRO, Vera Íris; ‘O texto na TV’; Elsevier, 2006”
*²Discente do 3º ano do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo