UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Por: Katia Rodrigues Fonseca
Orientadora:
Professora Flávia Carvalho Calvacanti da Silva
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Orientação
Educacional.
Por: Katia Rodrigues Fonseca
Rio de Janeiro
2011
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, a minha família, aos meus
amigos e parentes.
4
DEDICATÓRIA
A Walison, meu filho, símbolo do meu
grande amor.
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RESUMO
O trabalho que se apresenta trata da questão da violência na escola,
tendo como problema o seguinte questionamento: pode a atuação do
Orientador Educacional contribuir com a diminuição da violência na escola?
Sabe-se que a Orientação Educacional deve promover o sucesso escolar,
diminuindo os índices de evasão, repetência e de não aprendizagem, buscando
intervir nas relações sociais desenvolvidas nas instituições de ensino, mas sem
desconsiderar as complexidades e contextos dessa realidade. A pesquisa se
justifica por ser a violência na escola um assunto que promove grandes
preocupações de educadores no Brasil e no mundo. Tem-se como principal
objetivo desta pesquisa analisar as contribuições da atuação do Orientador
Educacional na diminuição da violência escolar nas instituições de ensino de
Educação Básica, admitindo-se a hipótese que por meio de um trabalho
significativo desse profissional, essa ação se torna possível. A pesquisa é
delimitada pela atuação do Orientador Educacional nas escolas de Educação
Básica.
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METODOLOGIA
O trabalho – de caráter teórico – será desenvolvido por meio de
pesquisa documental (legislação educacional) e bibliográfica, com a análise de
obras relacionadas à Orientação Educacional e à violência nas escolas de
Educação Básica.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................08
CAPÍTULO I
O ORIENTADOR EDUCACIONAL NO BRASIL: SITUANDO
HISTORICAMENTE SUAS FUNÇÕES EDUCACIONAIS ...............................12
CAPÍTULO II
A VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE E NA ESCOLA: CONCEITOS, CAUSAS E
CONDICIONANTES .........................................................................................22
CAPÍTULO III
O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A VIOLÊNCIA NA ESCOLA:
POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO ...................................................................31
CONCLUSÃO ...................................................................................................42
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................44
ÍNDICE ..............................................................................................................47
FOLHA DE AVALIAÇÃO .................................................................................49
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INTRODUÇÃO
A pesquisa que ora se apresenta tem com temática a questão da
violência na escola.
Atualmente, a violência invadiu todas as áreas da vida do indivíduo. É
como se o progresso tecnológico, o desenvolvimento da civilização, ao invés
de propiciar o bem-estar dos indivíduos, concorresse para a deterioração das
condições de vida social. A violência deve ser entendida como produto e
produtora desse dano que acaba por contaminar toda a sociedade, até mesmo
naqueles grupos ou instituições considerados como mais protetores de seus
membros, como a família ou a escola.
Durante os últimos anos, veio ao conhecimento do grande público pelos
meios de comunicação um maior número de conflitos, sobretudo violentos,
vivenciados dentro das escolas. Da mesma maneira, no meio docente, os
eventos violentos são temas de profunda preocupação. Por isso, quando os
comportamentos dos alunos não condizem com os valores, motivação ou
objetivos educativos, muitas vezes surgem os atos de indisciplina dentro da
sala de aula.
Essa indisciplina causa principalmente a impossibilidade do professor
ministrar sua aula, e por outro lado, a dificuldade dos alunos em aprender por
estar associada à desordem, desmotivação e apatia no processo de ensino.
Em função desse caos que a sociedade brasileira vivencia, faz-se
necessário um estudo mais aprofundado sobre as reais causas da violência e
maneiras de atenuá-las. Para isto, levando em consideração a experiência
social como um dos fatores determinantes e o tempo em que a criança
passa na escola, é possível verificar a importância do papel da instituição de
ensino, assim como o de um trabalho pedagógico de qualidade, visando
contribuir com o fim dessa cultura de violência hoje instaurada na sociedade. É
interessante ressaltar que a violência na escola não é um problema apenas da
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educação brasileira, pois é infelizmente um problema crônico que ocorre em
todo mundo e se acentua cada vez mais.
O Orientador Educacional é um agente importante neste processo, pois
compete a ele selecionar as experiências de aprendizagem de modo a
promover um ambiente que facilite aos educandos a internalização e a
integração de experiências significativas que propiciem um desenvolvimento
pleno mais significativo, em suas dimensões sociais, intelectuais e afetivas,
dentre outras. Além disso, pretende-se demonstrar a importância do papel do
Orientador Educacional na formação de cidadãos conscientes e responsáveis,
incentivando os educandos em sua formação na busca de um mundo mais
tolerante e menos agressivo.
Por isso, o problema dessa pesquisa pode ser resumido numa pergunta
norteadora, a saber: como a atuação do Orientador Educacional pode contribuir
na diminuição da violência na escola?
A violência pode ser entendida de diversas formas, mas num sentido
restrito, pode ser definida como uma ruptura brusca de harmonia num
determinado contexto, podendo ser apresentada sob a forma de contato físico
ou pro meio de violência simbólica, a qual considera agressões psíquicas,
morais ou de discriminação sexual, étnica, religiosa ou mesmo econômica.
A Orientação Educacional deve dar início à promoção do sucesso
escolar, partindo da realidade do educando, buscando meios para favorecer
sua prática e, além disso, compreender seus problemas de vida, ou seja, estar
aberta ao entendimento de todas as complexidades que envolvem as relações
humanas no espaço escolar.
O Orientador Educacional precisa mostrar o educando que quer ajudá-lo
através de ações totalizantes desenvolvidas no âmbito escolar, e, para isso,
necessita criar mecanismos para que tanto os educandos quanto os demais
sujeitos que integram na comunidade escolar possam ser ouvidos e
compreendidos enquanto construtores dos objetivos e sonhos da instituição de
ensino.
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Logo, a pesquisa se justifica pela importância da atuação do Orientador
Educacional contribuindo para minimizar esse grande problema da violência no
âmbito escolar.
O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar as contribuições da
atuação do Orientador Educacional na diminuição da violência escolar nas
instituições de ensino de Educação Básica.
Para que objetivo geral possa ser atingido, são elencados os seguintes
objetivos específicos:
- Descrever o papel do Orientador Educacional na escola de Educação
Básica, situando suas funções na história da educação brasileira;
- Caracterizar a violência escolar, definindo suas causas e seus
condicionantes;
- Discriminar as ações do Orientador Educacional que podem contribuir
para diminuir a violência escolar.
Admite-se, neste trabalho, uma hipótese em relação aos resultados da
pesquisa, a hipótese esta que considera que a violência escolar, embora tenha
sua origem geralmente fora do ambiente escolar, com influências de valores da
própria sociedade, pode ser combatida no espaço escolar por meio de uma
atuação significativa e consciente do Orientador Educacional e por outros
sujeitos da comunidade escolar.
A delimitação desta investigação tem os contornos da atuação do
profissional de Orientação Educacional nas instituições de ensino de Educação
Básica, ou seja, naquelas que oferecem Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio.
A pesquisa apresenta a seguinte estrutura de capítulos:
No Capítulo I será descrito o papel do Orientador Educacional na escola
de Educação Básica, realizando um resgate histórico de suas funções para
melhor compreensão de suas possibilidades.
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No Capítulo II, por sua vez, serão avaliados os conceitos de violência,
sendo que a questão da violência na escola e na sociedade terá suas principais
causas evidenciadas, analisando-se também seus mais importantes
condicionantes.
No Capítulo III, por fim, serão discriminadas as ações do Orientador
Educacional que possam contribuir com a diminuição da violência na escola, na
busca de um espaço educativo de respeito aos muitos sujeitos que o compõe.
Ao final do trabalho, as principais conclusões da pesquisa serão
evidenciadas, na tentativa de contribuir com a produção significativa de
trabalhos acerca esse assunto que atualmente vem em muito preocupando
educadores, pais e responsáveis e mesmo educandos.
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CAPÍTULO I
O ORIENTADOR EDUCACIONAL NO BRASIL:
SITUANDO HISTORICAMENTE SUAS FUNÇÕES
EDUCACIONAIS
O Orientador Educacional é um profissional de extrema importância
numa instituição educacional de Educação Básica.
E foi na história da Orientação Educacional em nosso país que essa
importância foi constituída.
Logo, para que se possa compreender as funções historicamente
associadas à Orientação Educacional, este capítulo aborda o desenvolvimento
dessa ação na educação brasileira.
1.1 A Orientação Educacional e suas origens no mundo
A história da Orientação Educacional, no mundo, está intimamente
ligada á história da Orientação Vocacional ou Profissional.
Com a Revolução Industrial, houve um aumento considerável das
possibilidades de trabalho, em ações diferenciadas, tornando variada sua
oferta, mas exigindo de seus candidatos uma complexidade cada vez maior na
hora de escolher sua profissão (BARROS, 2008, p. 1).
Pode-se observar que se:
“(...) atribui a Edouard Charton a primeira tentativa concreta de fornecer informação profissional. Esse engenheiro francês, com a finalidade de ajudar as pessoas a se decidirem quanto à profissão, coletou o depoimento de vários profissionais e organizou o Dicionário de Profissões (Dictionnaire des Professions), cuja 1ª edição data de 1842.” (Idem, p.1)
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Entretanto, esse fato não consolidava a existência sequer a Orientação
Profissional.
É preciso observar que se:
“(...) afirma que o primeiro centro de orientação profissional foi criado em 1902 em Mônaco da Baviera, por iniciativa conjunta de trabalhadores e de autoridades, de indústrias e de professores. Relata ainda, o surgimento de vários centros pela Europa, com as funções de informação e orientação profissional: Itália, 1903; Holanda, em 1907; Suíça, 1908; Inglaterra, 1908.” (BARROS, 2008, p. 1)
Mas é apenas com Frank Parsons, em 1907, em Boston, nos Estados
Unidos, que a Orientação Vocacional tem sua data de nascimento. Nesse ano,
organizou o Vocational Bureau of Boston, que tinha como grande objetivo
auxiliar os jovens na escolha de suas profissões (Idem).
Nesse momento, surgem no movimento de Orientação Vocacional de
um modo mais concreto, as raízes do que hoje se chama Orientação
Educacional, pois se reconhece que a:
“(...) visão de Parsons contribuiu para uma vinculação estreita entre orientação profissional e educação, que posteriormente mais desenvolvida e difundida, passou a ser conhecida como orientação educacional, e a fazer parte dos currículos escolares.” (Ibidem)
Somente em 1912 que, ainda nos Estados Unidos, a Orientação
Vocacional passou a mostrar preocupação com a questão da organização
escolar, em Detroit, com Jessé Davis, que se preocupava com a problemática
de acolher a problemática vocacional e social dos alunos na sua escola
(GRINSPUN, 2006).
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1.2 O surgimento da Orientação Educacional no Brasil
No Brasil, a exemplo do que ocorreu em outros países, a Orientação
Educacional surgiu associado ao movimento de Orientação Vocacional e
Profissional, sob a forma de aconselhamento, marcando dessa forma sua
prática inicial.
Foi na década de 1920 que essa prática foi mais sentida, com os
primeiros cursos e trabalhos técnicos, como o de mecânica em São Paulo, que
visava selecionar jovens para o trabalho no crescente mercado daquele
período.
É importante observar que nesse momento:
“De um lado, tínhamos o ‘interesse do governo’, em promover a escolarização de seu povo; do outro, intelectuais, no poder, assumindo as reformas educacionais em seus Estados. Foi sendo configurado um ambiente propício à Orientação, enquanto ela poderia tanto contribuir para a melhoria da educação do seu povo, quanto ter um lugar certo nas reformas que começavam a surgir no país, uma vez que os modelos importados tinham grande receptividade entre nós”. (GRINSPUN, 2006, p. 23)
Assim, com o Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova, movimento
de intelectuais da educação ocorrido em 1932, alguns professores e idealistas
se inscreveram no Curso de Extensão sobre Orientação Educacional, oferecido
pela Associação Brasileira de Educação (ABE), onde formularam os objetivos
de Orientação Educacional, e sua conceituação que apareceria mais tarde nas
Leis Orgânicas do Ensino em 1942.
Com a Reforma Capanema, em 1942, que instituiu a lei Orgânica do
Ensino Industrial, veio o Serviço de Orientação Educacional.
O grande objetivo da Orientação Educacional, no entanto, estava
relacionado ao ajuste dos trabalhadores brasileiros ao novo contexto
econômico do país, caracterizado por sua tardia “Revolução Industrial”.
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Foi criado o Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial (SENAI) e o
Serviço Nacional da Aprendizagem Comercial (SENAC), que permitiram ao
Brasil, juntamente com a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
nacional, Lei 4024/61, ter sido a primeira nação a criar as bases legais para a
Orientação Educacional, ainda com grande vínculo à questão da Orientação
Vocacional e Profissional.
Embora a Orientação Educacional existisse tanto no Ensino Primário
quanto do Secundário, sua principal atenção era o Ensino Secundário, devido a
sua proximidade com o Ensino Profissional.
Para regulamentar a profissão de Orientador Educacional, no entanto,
somente em 1968, já no período da Ditadura Militar, foi aprovada a Lei
5564/68, que tinha como grande objetivo o “desenvolvimento integral da
personalidade do aluno, nos níveis primário e médio” (apud GRINSPUN, 2006,
p. 26).
No mesmo período, foi aprovada a Lei de Reforma de ensino de
Primeiro e Segundo Graus, Lei 5692/71, que tornou a Orientação Educacional
obrigatória em todos os estabelecimentos desses níveis de ensino.
O aconselhamento vocacional característico desse momento colocava a
Orientação Educacional à disposição do então “Milagre Brasileiro”, mas
também era observada a partir de uma perspectiva de ajustamento, de
prevenção de problemas e de identificação das diferenças individuais para
ajustar o ensino a elas.
Placco (2009) admite que a Orientação Educacional, segundo a Lei
5692/71, priorizava a função do aconselhamento, descuidando-se de outras
funções que lhe são características, como a observação das relações dentro do
ambiente escolar.
Já com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei
9394/96, que sofreu influências progressistas em muitos de seus principais
pontos, aponta para um trabalho de Orientação Educacional mais crítico e
participativo, devendo o Orientador Educacional atuar de forma coletiva junto
aos demais sujeitos da comunidade escolar.
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1.3 As incumbências da Orientação Educacional
Os profissionais da Orientação Educacional no Brasil, até o presente
momento, não possuem ainda um movimento significativo de representação,
ou seja, não há de forma efetiva uma instituição que os represente no território
nacional.
Em 1979, a então Federação Nacional dos Orientadores Educacionais,
visando definir o campo de atuação de seus profissionais, definiu um Código de
Ética, que foi publicado no Diário Oficial da União em 05 de março daquele
ano. O mesmo texto já havia sido publicado na Revista de Orientação
Educacional dessa instituição anteriormente.
Contudo, esse mesmo Código de Ética não esclarece sobre as
possibilidades de atuação, a não ser quando faz referências ao atendimento
individualizado, na base do aconselhamento de educandos.
São atribuições do Orientador Educacional, segundo o Código de Ética
de 1979:
“a. exercer suas funções com elevado padrão de competência, senso de responsabilidade, zelo, descrição e honestidade; b. atualizar constantemente seus conhecimentos; c. colocar-se a serviço do bem comum da sociedade, sem permitir que prevaleça qualquer interesse particular ou de classe; d. ter uma filosofia de vida que permita, pelo amor à vontade e respeito a Justiça, transmitir segurança e firmeza a todos aqueles com quem se relaciona profissionalmente; e. respeitar os códigos sociais e expectativas morais da comunidade em que trabalha; f. assumir somente a responsabilidade de tarefas para as quais esteja capacitado, recorrendo a outros especialistas sempre que necessário; g. lutar pela expansão da Orientação Educacional e defender a profissão; h. respeitar a dignidade e os direitos fundamentais da pessoa humana; i. prestar serviços profissionais desinteressadamente em campanhas educativas e situações emergência, dentro de suas possibilidades.” (BRASIL, 1979, Art. 1º)
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As atividades dessa Federação, no entanto, foram encerradas algum
tempo depois, sem que se fosse possível no prazo desta pesquisa descobrir os
condicionantes de seu funcionamento ou de encerramento de suas atividades,
bem como da elaboração do citado Código de Ética.
Foi criada em 2009 a Federação Nacional dos Profissionais de
Orientação Educacional (FENAPOE), que assumiu o Código de Ética anterior,
mas na inexistência de um mecanismo de informação de suas atividades,
dificulta o contato com o grupo e mesmo saber se suas atividades ainda são
mantidas.
No máximo, conseguiu-se obter o Estatuto desta instituição, que não
esclarece as funções do Orientador Educacional.
No Estado do Rio de Janeiro, existe a Associação Fluminense dos
Orientadores Educacionais (ASFOE), que surgiu como Associação Sul
Fluminense de Orientação Educacional, mas depois teve suas atividades
expandidas.
A ASFOE criou um Código de Ética, baseando-se no de 1979, só que
buscou desenvolvê-lo a partir de uma visão mais crítica da Orientação
Educacional.
Segundo esse Código de Ética,
“Art. 1° - São deveres fundamentais do Orientador Educacional: a - conhecer a lei que cria a profissão e o decreto que a regulamenta para agir conforme sua determinação;. b - exercer suas funções com competência para que fique claro qual o seu papel e qual o seu espaço na escola; c - desempenhar suas funções com elevado padrão de responsabilidade, equilíbrio, honestidade e entusiasmo; d - procurar, em suas atividades profissionais, mostrar-se dinâmico, organizado, aberto ao diálogo; e - atualizar-se constantemente, através de leituras, pesquisas, participação em eventos educacionais e contato com outros Orientadores Educacionais; f - ter uma filosofia de vida que inspire segurança e firmeza em todos aqueles com quem se relaciona profissionalmente; g - respeitar os códigos sociais e expectativas morais da comunidade em que trabalha;
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h - buscar, incorporar e/ou aprimorar qualidades pessoais como: ser discreto, saber ouvir, saber falar, questionar, pesquisar, para melhor autodomínio e segurança profissional. i - vivenciar comportamentos e atitudes que o caracterizem como uma pessoa confiável, apta a receber informações confidenciais, j - guardar sigilo sobre fatos e situações que envolvam seu cliente.” (ASFOE, 2009, Art. 1º)
O Decreto 72846/73, que regulamenta a Lei 5564/68:
“(...) é amplo e faculta uma gama enorme de atividades que seriam pertinentes ao trabalho do orientador dentro da escola, transformando-o num “faz tudo” ou um “quebra-galho”, que somada à ansiedade de descobrir-se sem preparo para atender a todas as exigências do cargo, acaba por confundir ainda mais a sua atuação.” (AZENHA, 2010, p. 2)
Contudo, alguns autores apontam o que seriam as funções da
Orientação Educacional. Nesse sentido, pode-se dizer que:
“a) planejar e coordenar a implantação e funcionamento do serviço de Orientação Educacional em nível de: 1) Escola ; 2) Comunidade. b) planejar e coordenar a implantação e funcionamento do serviço de Orientação Educacional dos órgãos dos serviços Público Federal, Estadual, Municipal e autárquico; das sociedades de cconomia mista, empresas estatais, paraestaduais e privadas; c) coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-a no processo educativo global; d) coordenar o processo de sondagem de interesses aptidões e habilidade do educando; e) coordenar o processo de informação educacional e profissional com vistas à orientação vocacional; f) sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao conhecimento global do educando; g) sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial; h) coordenar o acompanhamento pós escolar;
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i) ministrar as disciplinas de teoria prática da Orientação Educacional, satisfeitas as exigências da legislação específica do ensino; j) supervisionar estágios na área da Orientação Educacional; k)emitir pareceres sobre a matéria concernente à Orientação Educacional.” (PORTO, 2009, p. 23)
E, ainda:
“a) participar no processo de identificação das características básicas da comunidade; b) participar no processo de caracterização da clientela escolar; c) participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola; d) participar na composição, caracterização e acompanhamento de turmas e grupos; e) participar do processo de avaliação e recuperação dos alunos; f) participar no processo de encaminhamento dos alunos estagiários; g) participar no processo de integração escola – família – comunidade; h) realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional.” (Idem)
Na prática constatamos que muitas são as funções do Orientador
Educacional nas escolas, sendo que seu trabalho está relacionado aos alunos,
familiares e professores e às muitas relações existentes neste espaço
educativo.
A Orientação Educacional está caracterizada por seu aspecto preventivo
e psicológico e pode ser entendida em dois sentidos constitutivos e
complementares. Por um lado, como ajuda que se proporciona a uma pessoa
para que possa escolher entre diversos itinerários e opções aquele lhe é mais
adequado. Por outro lado, orientar consiste proporcionar informação, e
assessoria a alguém para que possa tomar as decisões mais adequadas
levando em consideração tanto suas características pessoais quanto suas
limitações.
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De acordo com autores utilizados nessa pesquisa (GRINSPUN, 2006;
PORTO, 2009), a Orientação Educacional a partir da década de 1990, deu um
grande salto, transformando seu papel frente aos desafios impostos pela
sociedade moderna.
Inspirada pelas novas tendências progressistas em educação, a
Orientação Educacional reavaliou sua prática, uma vez que seu objeto de ação
específico é um trabalho participativo para a formação do sujeito (educando).
“(...) Não ficam de um lado os professores da escola e do outro os especialistas; não é um espaço de luta entre vencedores e vencidos, em que uns ensinam e outros1 atendem a alunos e professores. O trabalho é conjunto, integrado, e todos estão comprometidos com o processo e os resultados. (...)” (GRINSPUN, 2006, p. 32)
E ainda: “O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na formação de
uma cidadania crítica, e a escola, na organização e realização de seu projeto
pedagógico. (...)” (Idem).
Deve, portanto, a Orientação Educacional estar adequada a esse novo
enfoque social, buscando na fundamentação teórica meios para entender as
problemáticas sociais e a própria educação.
Na escola, o Orientador Educacional deve ser um profissional
competente e comprometido com esse novo tempo e novos sujeitos,
reconhecendo suas necessidades básicas, realizando um trabalho em prol de
uma educação de qualidade, justa e democrática.
Vale dizer mais uma vez que é grande a responsabilidade de quem
assume a Orientação Educacional numa instituição de ensino. Sendo esse
profissional um ajudador e orientador de novos caminhos, escolhas e
possibilidades, com plano claro, coeso e flexível, devendo para isso, ser um
contínuo pesquisador, reavaliador de sua prática, crítico, humano e favorável
às mudanças. É preciso que sua formação seja contínua, não restrita a sua
formação inicial. Sua prática cotidiana deve ser consciente, visando a
1 Grifo do autor.
21
superação dos conflitos e problemas típicos das relações humanas em prol da
melhoria do trabalho educativo.
22
CAPÍTULO II
A VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE E NA ESCOLA:
CONCEITOS, CAUSAS E CONDICIONANTES
Visando analisar como que um Orientador Educacional pode intervir de
forma significativa de modo a diminuir ou mesmo anular os efeitos da violência
no âmbito escolar, é preciso saber o que é violência e quais suas principais
causas e condicionantes, tanto na sociedade quanto na escola de Educação
Básica.
Assim, este capítulo tem o objetivo de analisar os conceitos de violência,
associando-os entre si e evidenciando suas principais causas e condicionantes,
trazendo ainda suas mais visíveis manifestações.
2.1 Os conceitos de violência
Existem muitos e diferentes conceitos de violência, que podem se
complementar ou mesmo divergir entre si. Neste trabalho, alguns desses
conceitos serão apresentados e analisados.
Contudo, o primeiro conceito que aqui se considera é que violência é o:
“(...) uso intencional de força física ou poder, em forma de ameaça ou praticada, contra si mesmo, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade que resulta ou tem uma grande possibilidade de ocasionar ferimentos, morte, conseqüências psicológicas negativas, mau desenvolvimento ou privação.” (OMS, 2002, p. 5).
Assim, considera-se que a violência pode ser manifestada sob a forma
de agressão física, de forma psicológica, de modo simbólico e sob outras
tantas manifestações possíveis.
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O conceito da Organização Mundial da Saúde é bastante abrangente e,
por isso, foi o primeiro a ser considerado neste trabalho.
Entretanto, são muitas as pesquisas existentes no Brasil e no mundo
sobre essa questão que tanto tem afligido a sociedade e, nos últimos anos, de
forma preocupante, as instituições de ensino.
Por isso, mais alguns conceitos serão aqui abordados e observados.
É preciso, antes de observar outros conceitos, saber que:
“Apresentar um conceito de violência requer uma certa cautela, isso porque ela é, inegavelmente, algo dinâmico e mutável. Suas representações, suas dimensões e seus significados passam por adaptações à medida que as sociedades se transformam. A dependência do momento histórico, da localidade, do contexto cultural e de uma série de outros fatores lhe atribui um caráter de dinamismo próprio dos fenômenos sociais.” (ABRAMOVAY, 2002, p. 53)
Bock, Furtado e Teixeira (1999) afirmam que a agressividade é impulso
que pode ser exteriorizado (hetero-agressão) ou voltar-se para dentro do
próprio indivíduo (auto-agressão); está relacionada com atividades de
pensamento, imaginação ou de ação verbal e não verbal. Portanto, uma
pessoa com comportamento socialmente adequado ou correto, segundo a
moral social, pode ter fantasias destrutivas ou sua agressividade pode
manifestar-se por atitudes irônicas, de omissão de ajuda. Ou seja, a
agressividade não se caracteriza exclusivamente pela ação verbal ou
destruição do outro.
Estes autores acreditam que a educação e os mecanismos sociais da lei
e da tradição buscam o controle dessa agressividade. Porém, questionam se a
sociedade está conseguindo criar condições adequadas para a não-
manifestação da violência por parte dessas pessoas.
Nesse enfoque, cuja referência é a Psicanálise, afirma-se que a
agressividade é constitutiva do ser humano e, ao mesmo tempo, afirma-se a
importância da cultura, da vida social, como reguladoras dos impulsos
24
destrutivos. Essa função controladora ocorre no processo de socialização, no
qual se espera que a partir dos vínculos significativos que o individuo
estabelece com outros, ele passe a internalizar os controles. Então, deixa de
ser necessário o controle externo, pois os controles já estão dentro do
indivíduo. Mas, mesmo assim, em todos os grupos sociais existem
mecanismos de controle e punição dos comportamentos agressivos não
valorizados pelo grupo. A sociedade também tem seus mecanismos, que se
concretizam na ordem jurídica: as leis (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).
Cabe lembrar que a agressividade está constituída na violência, mas
não é o único fator que a explica, pois esse fenômeno pode ser a causa e a
consequência de diversos fatores que serão abordados a seguir.
De acordo com os léxicos, a violência é o ato contrário à razão, a justiça,
resultante do emprego da força para a solução de qualquer conflito humano,
seja individual,seja coletivo.
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1999) a violência é o uso desejado
da agressividade, com fins destrutivos. Esse desejo pode ocorrer de maneira
voluntária (intencional), conscientemente e racionalmente, ou seja,
premeditadamente e de modo não intencional, quando, por exemplo, destina-
se a um objeto substituto: por ódio ao chefe, o pai bate no filho.
Moraes (1982) afirma que o comportamento humano pode ser explicado
através de estudos de diversas naturezas: biológica, psicológica, psicanalítica,
criminalística, sociológica entre outras. Porém, nenhuma delas pode
subestimar que o comportamento humano é produto das experiências da
infância vinculadas à família. A evidência dos fatos tem demonstrado que o
comportamento varia conforme as situações e os papéis que a personalidade
continua a desenvolver através da vida.
É necessário deixar de considerar como violência exclusivamente a
prática de delitos previstos no Código Penal. Essa é uma associação feita, por
exemplo, pelos meios de comunicação de massa. Existem outras formas que
não são reconhecidas como prática de violência e que estão diluídas no
cotidiano, às quais, muitas vezes, a sociedade já se acostumou: a violência no
interior da família, na escola, no trabalho, nas ruas.
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Nesse sentido:
“Nem sempre a violência se apresenta como um ato, como uma relação, como um fato, que possua estrutura facilmente identificável. O contrário, talvez, fosse mais próximo da realidade. Ou seja, o ato violento se insinua, freqüentemente, como um ato natural, cuja essência passa despercebida. Perceber um ato como violento demanda do homem um esforço para superar sua aparência de ato rotineiro, natural e como que inscrito na ordem das coisas.” (ODALIA, 2004, p. 22-23)
A autora, na citação acima, trata da violência simbólica, observada por
Bourdieu e Passeron na obra “A reprodução: elementos para uma teoria do
sistema de ensino”, de 1975.
Há violência quando alguém, por vontade própria, causa danos à
dignidade de outra pessoa. Isso pode ser feito de maneira explícita, por
exemplo, quando atenta contra a integridade física do outro ou em relação aos
seus bens materiais. Ou de maneira simbólica, como quando afrontam sua
integridade moral ou sua participação social. Contra a primeira, existe o direito;
contra a segunda, apenas a ética democrática, embora já tenham sido criadas
algumas leis, inclusive no Brasil, que tratam do assunto.
2.2 Tipos de violência
Existem muitas tentativas de classificação dos tipos de violência, sendo
algumas dessas tentativas conflitantes entre si.
Na sociedade, de um modo geral, diferencia-se a violência pela
existência ou não de agressão física ou similar – quando existe, por exemplo,
agressão material a um bem ou propriedade – de violências em que não existe
manifestação de contatos físicos ou similares.
Uma situação de agressão física ou similar seria bem exemplificada com
a existência de chutes, tapas, socos, pauladas, violência sexual, tiros, uso de
26
armas brancas (facas, canivetes, etc), ou de qualquer objeto cortante ou
contundente, bem como pela agressão a bens materiais, como incêndios a
casas ou carros, quebra de uma caneca preferida, destruição de roupas e
outras tantas coisas nesse universo de contato físico (concreto) a uma pessoa,
grupo de pessoas ou a bens materiais.
Já no outro grupo, onde não existe esse contato físico direto, a violência
pode ser manifestada pelo preconceito de todos os tipos, manifestado em
ações ou em palavras de desrespeito, pelo poder desregrado, pela
minimização do próximo ou de um grupo de pessoas com ofensas, palavrões,
palavras de cunho pejorativo, aliciamento, por pressão ou tortura psicológica ou
por qualquer ação não física que possa provocar constrangimento, mal estar ou
tristeza.
Como a escola é um subsistema da sociedade, deve-se considerar que
a violência existente nessa sociedade é também manifestada em suas
instituições, inclusive na escola. Logo, os mais variados tipos de violência
encontram espaço e tempo nas instituições de ensino, o que tem incentivado
muitas pesquisas preocupadas como fenômeno nos meios escolares.
Segundo Abramovay e Rua (2002), existem dois principais pólos de
estudo da violência na escola: o estadunidense e o europeu.
Nos Estados Unidos, os principais estudos sobre a violência tem
mostrado preocupação com alguns tipos específicos de violência observados
como mais comuns nas instituições de ensino daquele país: gangues,
xenofobia e bullying.
A formação de gangues é já há algum tempo um fenômeno preocupante,
pois visa ganhar terreno dentro de uma escola, espalhando tanto o terror
quanto uma série de manifestações de violência física no intuito de garantir o
poder de um grupo. Existem mesmo gangues que se consolidam por utilização
de violência simbólica, não física.
A xenofobia é visível em praticamente todos os Estados daquele país,
sendo manifestado em suas instituições de ensino de forma intensa, sobretudo
contra povos latino-americanos, considerados “não evoluídos”, “atrasados”, e
27
que roubam espaços dos jovens na sociedade norte-americana, principalmente
no mercado de trabalho. A xenofobia pode se manifestar de forma física ou
não, dependendo do contexto observado.
Já sobre o bullying, é preciso observar que pode ser definido:
“(...) como abuso físico ou psicológico contra alguém que não é capaz de se defender. (...) Quatro fatores contribuem para o desenvolvimento de um comportamento de bullying: 1) uma atitude negativa pelos pais ou por quem cuida da criança ou do adolescente; 2) uma atitude tolerante ou permissiva quanto ao comportamento agressivo da criança ou do adolescente; 3) um estilo de paternidade que utiliza o poder e a violência para controlar a criança ou o adolescente; e 4) uma tendência natural da criança ou do adolescente a ser arrogante. (...) A maioria dos bullies são meninos, mas as meninas também o podem ser. As meninas que são bullies utilizam, às vezes, métodos indiretos, como fofocas, a manipulação de amigos, mentiras e a exclusão de outros de um grupo.” (NANCY DAY, apud ABRAMOVAY & RUA, 2002, p. 23)
Na Europa, por sua vez, os estudos sobre a violência nas escolas
apontam para um fenômeno chamado de “incivilidade”, que pode ser
manifestado por meio de delitos contra objetos e propriedades (quebra de
portas e vidraças, danificação de instalações), intimidações físicas (empurrões,
escarros) e verbais (injúrias, xingamentos e ameaças), descuido com o asseio
das áreas coletivas (banheiros, pátios), ostentação de violência, adoção de
atitudes destinadas a provocar medo (poder de armas, posturas sexistas) e
alguns atos ilícitos, como o porte e consumo de drogas).
Percebe-se que as ações do que é chamado de incivilidade não
diferenciam muito dos tipos de violência observados nos Estados Unidos.
Sobre a incivilidade, é preciso informar que seus principais estudos são
realizados na França (ABRAMOVAY & RUA, 2002).
Mas é preciso compreender que:
“Debarbieux (...) considera que as incivilidades, classificadas por ele como violências anti-sociais e antiescolares, podem ser
28
traumáticas, sobretudo quando se dão de forma banalizada e são silenciadas, visando a proteger a escola. Segundo Bourdieu (...), elas seriam possibilitadas por um poder que não se nomeia, que se deixa assumir como conivente e autoritário. Assim, professores não vêem, não reclamam e as vítimas não são identificadas como tais. Um exemplo seriam as manifestações de racismo, em que seria comum a cumplicidade não assumida entre jovens, adultos, alunos e professores.” (ABRAMOVAY & RUA, 2002, p. 24)
E ainda que:
“Embora alguns autores não considerem as incivilidades uma modalidade de violência, sendo associadas à agressividade ou a padrões de comportamento contrários às normas de convivência e respeito para com o outro, existe um consenso sobre a necessidade de se prestar atenção à ocorrência de atos de incivilidades no ambiente escolar, pois elas podem tornar o ambiente hostil.” (DÛPAQUIER apud ABRAMOVAY 7 RUA, 2002, p. 24)
Ainda que as classificações dos tipos de violência partam de visões e de
realidades diferentes, faz-se necessário considerar os muitos pontos em
comum existentes.
No Brasil, as pesquisas existentes não estão distantes do que é
observado em outros países, mas abordam também a questão da violência
notada em determinadas comunidades marginalizadas, onde prevalece o
tráfico de drogas, dentre outros agravantes.
2.3 As causas e condicionantes da violência
Por se tratar de um assunto complexo, os estudos das causas da
violência apresentam mesmo discordâncias incríveis, mesmo porque muitas
pesquisas dedicam-se a contextos exclusivos, a verdadeiras pesquisas de
campo específicas, que guardam suas características próprias.
29
Contudo, dentro de determinadas aproximações, é possível observar o
que de mais comum existe no que tange às causas da violência.
Em sua tese de doutorado, Marilena Ristum (2001), esclarece que numa
tentativa de sistematizar a grande variedade e quantidade de causas da
violência observadas nos muitos trabalhos que sua pesquisa utilizou, buscou-
se classificá-las em função de como o ambiente em que elas se encontram
estão relacionadas aos que praticam a violência.
Assim, a autora estabeleceu duas grandes categorias, a de causas
contextuais e a de causas pessoais.
O primeiro grupo, o de causas contextuais, é subdividido em causas
contextuais distais e causas contextuais proximais.
As causas contextuais distais estão associadas a todos os problemas
advindos da organização da sociedade, como fatores sócio-econômicos,
políticos e culturais, como o desemprego, a pobreza, a miséria, a fome, a
discriminação social, má distribuição de rendas, exclusão social, violação de
direitos humanos, narcotráfico, autoritarismo e toda gama de fatores
decorrentes da estrutura social e de seu funcionamento, que produzem
verdadeiras formas de pensar e de ser da sociedade.
As causas contextuais proximais, por sua vez, estão associadas aos
verdadeiros “modelos de violência” com os quais se tem contato direto, como
os encontrados em casa, na rua e nos meios de comunicação, no uso da
punição para promover a disciplina em várias instituições (inclusive na escola),
na desorganização ou desestruturação familiar, etc.
Já as causas pessoais, por fim, mantêm relação com ações ou
comportamentos individuais, como o consumo de drogas lícitas ou não,
desequilíbrios emocionais, questões passionais, estresse, temperamento,
natureza ou índole da pessoa e, ainda, questões de auto-estima.
Cruz Neto e Moreira (1999), quando tratam dos condicionantes da
violência, embora não façam referência a nenhum condicionante de ordem
pessoal, a não ser associando-o a fatores contextuais, enumeram os seguintes
30
condicionantes: fatores sócio-econômicos, fatores institucionais (sistema
escolar, saúde pública, transportes e moradia), fatores culturais, demografia
urbana (sobretudo quando observam o fenômeno da explosão demográfica),
meios de comunicação e globalização.
Todos esses condicionantes, direta ou indiretamente, guardam relação
com os muitos conceitos de violência na sociedade e na escola e, ainda, com
suas causas, principalmente com os neste trabalho já abordados.
31
CAPÍTULO III
O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A VIOLÊNCIA NA
ESCOLA: POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO
Este capítulo tem o objetivo de, após terem sido situadas historicamente
as funções do Orientador Educacional e de se observar o fenômeno da
violência, com seus conceitos, tipos e condicionantes, relacionar as funções do
Orientador Educacional de modo a minimizar os efeitos da violência no espaço
escolar de Educação Básica.
Embora não tenha sido encontrado nenhum trabalho que trate dessa
relação da Orientação Educacional frente à questão da violência no espaço
escolar, podem-se verificar ações desse profissional visando a diminuição do
fenômeno aqui tratado.
3.1 Manifestação da violência no âmbito escolar
Segundo o artigo 18 do Estatuto da Criança e do adolescente “é dever
de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor” (BRASIL, Lei 8069/90, Art. 18).
Bock, Furtado e Teixeira (1999) afirmam que a escola faz parte do
processo de socialização, sendo considerada a continuidade do processo que
foi iniciado na família.
Portanto, os valores, expectativas e práticas que envolvem o processo
educativo são semelhantes.
“Pode-se dizer que a violência manifesta-se de modo mais sutil na relação das crianças e dos jovens com os conteúdos a serem apreendidos, que podem não ter significado para sua
32
vida; na relação com os professores que se caracteriza por práticas autoritárias e sem espaço para o diálogo, para a crítica: na relação com práticas disciplinares que buscam a sujeição do educando, a submissão, a obediência, o conformismo. Na verdade, a maior violência exercida pela escola é quando ela usa de seu poder sobre as crianças e os jovens e os leva a se tornarem meros reprodutores de conhecimento.” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 334)
No âmbito escolar, é necessário destacar a violência exercida
seletivamente sobre as crianças e os jovens pertencentes às camadas
populares.
Como se pode afirmar:
“Estes, muitas vezes, não têm o repertório de conhecimentos esperado pela escola, e sua vivência (de trabalhador precoce, de responsável pela própria sobrevivência, de menino de rua) é desvalorizada, não é considerada no processo educativo.” (Idem, p. 334).
Esses alunos são considerados incapazes, por não apresentarem o
desempenho escolar esperado e são motivados à evasão, à repetência ou
passam a frequentar classes diferenciadas ou de reforço. Numa última
instância, continuam freqüentando as classes regulares, mas promovendo atos
de indisciplina por não considerarem a escola como um ambiente seu.
Nesse aspecto, é necessário destacar a valorização da teoria das
múltiplas inteligências defendida pelo psicólogo Howard Gardner. Veloso
(1993) critica o entendimento da inteligência como uma capacidade inata, geral
e única. Acredita, seguindo o pensamento de Howard Gardner, que os
indivíduos podem diferir em potencialidades particulares.
A teoria das múltiplas inteligências apresenta o ser humano como
possuidor de várias inteligências (linguística, lógico-matemática, espacial,
corporal-cinestésica, musical, intrapessoal e interpessoal), que se relacionam
de modo único em cada indivíduo. Estas inteligências são independentes entre
33
si, combinadas e organizadas de maneiras particulares, utilizadas na resolução
de problemas.
A independência das inteligências significa que apresentar um alto nível
em uma inteligência, por exemplo, não requer o mesmo alto nível das demais.
Isto acontece porque todas as inteligências se manifestam universalmente e
independentes da educação e cultura.
A experiência de fracasso é muito marcante na construção de sua
identidade, pois essa incapacidade que é atribuída aos citados educandos
passa a ser internalizada e eles se sentem realmente incapazes. Este
sentimento gera certa revolta, fazendo com que o aluno não se reconheça
como pertencente ao ambiente escolar. É neste momento que podem ocorrer
as pichações e outras depredações, ou seja, uma espécie de protesto
motivado, uma forma de contestação.
Para Cardia (1997) para os jovens que tem baixa-estima, que não
conseguem se vincular com a escola devido aos repetidos fracassos,
vandalizar é modo de se apropriar dela (escola) e, de certo modo, vencê-la.
Outros fatores que podem explicar os atos de vandalismo são a falta de
difusão do conceito de bem público, o meio ambiente com uma infra-
estrutura deficiente, como uma forma de resistência diante das imposições de
normas ou uma expressão do coletivo, uma espécie de persistência social que
nega submeter-se.
É preciso desenvolver nas escolas a prática da reflexão coletiva, da
crítica construtiva, para se acercar das causas das pichações, das
depredações, do uso das drogas, da violência generalizada, perguntando ao
educando: por que as dependências da escola são pichadas, depredadas?
Porque cresce o tráfico e o uso de drogas entre os estudantes nas escolas?
Por que tem aumentado a agressão e a violência entre os estudantes no
interior das escolas?
Há necessidade urgente deste tipo de discussão, para que se chegue à
essência dos fatos, partindo de compreensão da realidade. O carro riscado, o
aluno problemático, o professor bravo, o confronto das pessoas envolvidas
34
podem representar o início de uma ação para se saber quem é, ou melhor, o
que é que está por detrás de tudo isto.
Geralmente a escola é desorganizada, há falta de professores, de
funcionários, de material. Mas, exige-se organização dos alunos, numa total
desconexão entre aquilo que oferece e aquilo que exige. Para solucionar o
problema da indisciplina, da depredação, geralmente, se propõe aumentar a
vigilância, aumentar a segurança do prédio escolar, ampliar as normas e
regulamentos. Contudo indisciplina, violência, desrespeito e depredação vêm
aumentando frequentemente, tanto em escola com rígido esquema de
vigilância, de segurança e de punição, quanto naquelas onde há ausência
quase total de tais mecanismos. Depredação, violência e indisciplina muitas
vezes se constituem em resposta que os alunos dão à repressão, às normas
rígidas e aos desrespeitos oferecidos pelos professores, diretores, funcionários,
supervisores. Em realidade, o sistema não valoriza o rendimento escolar da
classe desfavorecida; consequentemente há desrespeito e falta de habilidade e
de interesse em lidar com os estudantes dela oriundos.
Onde há bom relacionamento, apoiado na teoria das múltiplas
inteligências, entre professores, alunos e direção, onde há um clima
democrático, há organização, disciplina, ordem e os educandos sentem a
escola como um local agradável e que os valoriza.
Outro ponto importante para a compreensão do fenômeno da violência
nas escolas é o crescimento da presença do narcotráfico nos grandes centros
urbanos. Hoje, a influência tem se caracterizado de maneira tão forte na
sociedade que a mídia afirma a existência de um estado paralelo, que dita as
suas leis, julga, condena e extermina jovens.
É uma dicotomia que se instala: segundo as estatísticas, ocorreu uma
melhora no setor da saúde e saneamento básico, diminuindo a mortalidade
infantil e aumentando a longevidade da população, porém os jovens brasileiros
– sobretudo os de sexo masculino – estão morrendo cada vez mais cedo
devido à violência da lei do tráfico instalada no país (RISTUM, 2010).
35
As escolas também são influenciadas pela imposição dos traficantes
que, através de ameaças, fecham as mesmas, controlando o seu
funcionamento. Além disso, as leis ditadas nas favelas e comunidades carentes
influenciam o comportamento dos seus moradores e consequentemente dos
educandos.
Entretanto, antes mesmo desta experiência social com grupos externos,
cabe lembrar a primeira experiência social do indivíduo, a qual, muitas vezes,
pode ser traumática: a família.
A instituição que deveria ter função de proteção e cuidado torna-se, por
vezes, um ambiente de maus-tratos, negligência, violência psicológica, a
agressão física o abuso sexual. No interior da família, segundo pesquisas, a
principal vítima de violência física é o menino e, do abuso sexual, a menina. O
pai biológico é, na maioria das vezes, o principal agressor (RISTUM, 2010).
Apesar das transformações na sociedade, sobretudo na estrutura da
família, ainda prevalece caracterizada a autoridade paterna, sendo decorrentes
a submissão dos filhos e da mulher e a repressão da sexualidade feminina.
Essa autoridade e repressão aparecem como protetoras dos membros
da família.
“Poderíamos perguntar se essa imagem falseada que se tenta passar realmente cumpre a função de proteção, ou se encobre práticas de violência sobre o uso do corpo mulher bem como acaba justificando os castigos físicos na educação dos filhos perpetrados tanto pelo homem como pela mulher.” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 334)
O fenômeno da violência doméstica é universal, atinge tantos os países
ricos quanto os pobres e pode ser observado em todas as classes sociais.
Embora não seja recente, apenas atualmente sua divulgação intensificou-se
através dos meios de comunicação.
É comprovado por pesquisas nacionais e internacionais que 90% dos
agressores de hoje sofreram algum tipo de violência na infância ou na
36
adolescência, o que demonstra a necessidade de tratamento dessas vítimas
(RISTUM, 2010). Além disso é necessária a quebra deste ciclo de violência,
no qual em muitos casos, a família sabe e encoberta tal situação ao longo de
gerações.
É de tamanha importância os educadores estarem atentos a tal forma de
violência, pois a mesma interfere significativamente no cotidiano escolar. O
comportamento dos alunos, assim como seu desempenho escolar são
fortemente afetados pela violência familiar, podendo interferir na capacidade de
concentração e de interagir com os colegas. As consequências são problemas
disciplinares, piores notas, repetência, o que afetará a sua visão como incapaz,
a motivação para atividades e o vínculo entre ele e a escola. Como afirma
Cárdia (1997), a violência doméstica e do meio ambiente, aumentam a
probabilidade de fracasso escolar e de deliquência: a deliquência aumenta a
violência na escola e as chances de fracasso escolar e ambos reduzem o
vínculo entre os jovens e a escola.
Além disso, os professores devem estar atentos aos seguintes sinais de
violência doméstica: medo dos pais e de voltar para casa, mudanças
frequentes de humor, comportamento agressivo, desatenção, timidez ou apatia,
apreensão quando outras crianças começam a chorar, desconfiança no contato
com adultos, sono agitado e pesadelos, conhecimento sexual inadequado para
idade, gravidez precoce e masturbação excessiva, marcas no corpo
(queimaduras, fraturas, mordidas), dentre outros fatores.
3.2 A Orientação Educacional e a contribuição na diminuição
da violência escolar
O indivíduo que aprende é um ser complexo que se desenvolve não
somente no aspecto intelectual como também no afetivo e emocional, no
social, no biológico e em todo aspecto de sua personalidade. Problemas e
37
dificuldades poderão afetar o rendimento escolar do aluno e o Orientador não
pode desconsiderá-las no seu trabalho.
Entre os alunos não são raros os problemas físicos permanentes ou
temporários como problemas com emissão de voz, mamas muito
desenvolvidas em meninos e pouco em meninas, acne, tiques nervosos,
obesidade, magreza excessiva, estatura muito alta ou baixa, nariz e orelhas
muito grandes entre outros, que costumam ser conflitos para os alunos, não só
do ponto de vista interno de suas frustrações ou complexos, mas também em
relação aos colegas, que podem usar tais problemas para fazer alvo de
apelidos e chacotas para agredi-los.
A escola deve estar atenta para essa problemática e deve estar
preparada para lidar da melhor forma possível com ela. E isso depende muito
da atuação do Orientador Educacional que tem atuação importante no que
tange às relações sociais na escola. Essa orientação deve ser adequada aos
indivíduos em questão.
Cabe ao Orientador Educacional dar apoio necessário ao educando e à
família, procurando encaminhá-los aos especialistas ou as instituições
indicadas, caso seja necessário.
A concepção de Orientação Educacional deve hoje, estar comprometida
com:
“1) A construção do conhecimento, através de uma visão da relação sujeito-objeto, em que se afirma, ao mesmo tempo, a objetividade e a subjetividade do mundo, esta considerada como um momento individual de internalização daquelas; 2) A realidade concreta da vida dos alunos, vendo-os como atores de sua própria história; 3) A responsabilidade do processo educacional na formação da cidadania, valorizando as questões do saber pensar, saber criar, saber agir e saber falar na prática pedagógica; 4) A atividade realizada na prática social, levando-se em consideração que é dessa prática que provém o conhecimento e que ele se dá como um empreendimento coletivo; 5) A diversidade da educação questionando valores pessoais e sociais, submersos nos atos da escolha e decisão do indivíduo; 6) A construção de rede de subjetividade que é tecida em diferentes momentos na escola e por ela.” (GRINSPUN, 2006, p. 32 – 33)
38
Acredita-se que é necessário resgatar o educando, aproximando-o cada
vez mais da escola e aumentando a relação família/escola/comunidade. É
importante valorizar as atividades extra-classe, esportivas, lúdicas, estimulando
a participação dos educandos. A questão da violência deve ser tratada no
cotidiano de sala de aula, difundindo uma cultura de respeito aos direitos
humanos.
“Para enfrentar uma cultura da violência, é necessário promover, em todos os âmbitos da vida individual, familiar, grupal e social, uma cultura dos direitos humanos. Somente assim acreditamos ser possível construir uma sociabilidade que tenha seu fundamento na afirmação cotidiana da dignidade de toda pessoa humana.” (LUCINDA; NASCIMENTO; CANDAU, 1999, p. 63)
Os pais e responsáveis precisam estar mais atentos à conduta das
crianças e adolescentes, procurando conhecer com quem se relacionam, como
é gasto seu tempo, sempre dialogando, mantendo uma relação mais próxima e,
portanto, conhecendo-os cada vez mais. Desta maneira se torna mais fácil
manter o controle da situação.
O professor precisa ser, verdadeiramente, um educador. Deve estar
preparado para educar efetivamente, envolvendo-se, conhecendo melhor seu
aluno e a sua realidade.
Desta maneira, a relação torna-se mais próxima, aumentando o vínculo
professor/aluno com reflexos na escola como um todo.
Todos os funcionários da escola devem desenvolver um trabalho em
equipe voltado para o desenvolvimento de uma proposta pedagógica que
favoreça a paz no âmbito escolar.
Essa cultura de paz deve ser levada para além dos muros da escola,
envolvendo a comunidade na conscientização da gravidade da questão da
violência.
39
Palestras e reuniões para aproximar os pais e responsáveis,
conscientizando-os em relação às atitudes a serem tomadas a fim de
conhecerem e compreenderem seus filhos e tutelados, tudo isso é primordial
na luta contra a violência.
A escola deve proporcionar essa abertura, valorizando a família do aluno,
mesmo que esta não seja composta de maneira tradicional. Valorizar a vida do
aluno, respeitando-o a partir do nascimento de sua vida social é uma forma de
não excluí-lo nessa segunda etapa do contato com a sociedade. Muitas vezes,
é isso o que ocorre no ambiente escolar: a discriminação.
Baseada num pensamento crítico e dialógico, não se pode conceber um
trabalho da Orientação Educacional frente à questão da violência sem uma
ação conjunta com os demais sujeitos da comunidade escolar, de modo
participativo.
O Orientador deve estar associado a todo esse movimento, assumindo a
postura de mediador para novos caminhos, escolhas e possibilidades, de forma
planejada, pensada, desejada. Em outras palavras, sua prática cotidiana deve
ser consciente, visando a superação dos conflitos e problemas típicos das
relações humanas em prol da melhoria do trabalho educativo.
“Mas o papel da reflexão não acaba neste momento. Além de levar o sujeito à objetividade e à consciência das suas responsabilidades, ela permite uma constante visão levando em conta a origem mais profunda e as conseqüências mais longíquas das suas atividades. A reflexão é uma qualidade muito necessária ao orientador educacional, sobretudo quando este adota uma atitude de busca sempre mais rigorosa, de pesquisa e de avaliação, de aperfeiçoamento permanente. É um esforço de autocrítica que permite desfazer-se tanto das dúvidas quanto das falsas justificações e representações. É, ainda, criativo, porque dá segurança na escolha de opções e, consequentemente, maiores possibilidades de realizações.” (PORTO, 2009, p. 69)
O sucesso da escola na luta contra a violência depende do clima
institucional, da competência didática e pedagógica, da resposta dos
40
educandos e, sobretudo, de um bom entrosamento entre a escola e as famílias.
Ou seja:
“(...) em face das transformações que vivemos no mundo e que se repercutem em todas as instituições, o papel da Orientação Educacional é muito significativo, ao possibilitar ao sujeito compreender e analisar esse mundo, compreendendo-se nesta relação com o outro, e de seu projeto político pedagógico, de modo que possamos viver e conviver neste mundo de forma mais crítica e consciente, buscando alternativas, criando estratégias para uma Escola de mais qualidade, uma sociedade mais justa e um mundo que aposte na paz.” (GRINSPUN, 2006, p. 187)
A Orientação Educacional pode tornar-se ponto de referência para a
promoção de um ambiente de paz na escola, onde os sujeitos da comunidade
escolar mantenham relações sociais conscientes e respeitosas.
Nesse sentido, para o Orientador Educacional:
“(...) é necessário ampliar sua visão sobre o trabalho na escola, buscando sempre alternativas de atuação, concluindo pela necessidade de atuar no contexto, difícil de delimitar, porém aponta para o orientador a importância de ver a escola como um todo, interna e externamente, inserida em uma comunidade específica para a qual deve estar aberta. É preciso, ainda, que a escola assuma a sua função de formar homens críticos, politicamente competentes, conhecedores dos problemas que os cercam, das limitações que os sujeitam e que, acima de tudo, sejam capazes de organizar-se para defenderem para si e para os demais homens o direito de cidadania.” (PORTO, 2009, p. 73)
“Educar é um ato político”, segundo Paulo Freire (2006). É através deste
ato que a Orientação Educacional deve dar início à promoção do sucesso
escolar, partindo da realidade do educando, buscando meios para favorecer
sua prática e, além disso, compreender seus problemas de vida, ou seja, estar
aberta ao entendimento de todas as complexidades que envolvem as relações
humanas no espaço escolar.
41
O OE precisa mostrar ao educando que quer ajudá-lo, através de ações
totalizantes desenvolvidas no ambiente escolar. A realidade do educando deve
fazer parte do processo educativo, sendo que o conhecimento desse educando
é fundamental para que suas expectativas e interesses sejam valorizados.
Portanto, a Orientação Educacional necessita criar mecanismos para
que tanto os educandos quanto os demais sujeitos que integram a comunidade
escolar possam ser ouvidos e compreendidos enquanto construtores dos
objetivos – e sonhos – da instituição de ensino e de uma sociedade de paz.
Claro que cada contexto demandará de práticas específicas no trabalho
contra a violência na escola e que isso não será em caso algum fácil, mas é
preciso que o Orientador Educacional seduza a comunidade escolar, enquanto
profissional responsável pelas interações sociais na instituição de ensino, para
que os sujeitos dessa comunidade desejem essa necessária transformação em
busca da inclusão, do respeito e da cidadania.
42
CONCLUSÃO
A sociedade humana, caracterizada por sua diversidade, complexidade
e, sobretudo, por suas relações de poder, as quais geralmente produzem
conflitos consideráveis, tem possibilitado cada vez mais a existência e o
desenvolvimento desse fenômeno que tanto a aflige: a violência.
Apesar das muitas definições de violência, pode-se compreender que tal
fenômeno produz agressividades variadas, inclusive físicas e psicológicas,
desrespeitos às pessoas, espaços e a bens materiais, constrangimento, mal
estar, medo, marginalização e exclusão, tornando a sociedade cada vez mais
fragmentada quando se diz respeito aos seus sujeitos.
Sabe-se que a escola, por ser um subsistema da sociedade e, logo, por
estar incluída nessa, acaba apresentando em seu interior e nas suas práticas
muitos dos fenômenos existentes na sociedade, que na realidade é um grande
sistema cultural.
E, por isso, a violência é visivelmente percebida no interior das
instituições de ensino, sobretudo nas últimas décadas, com o aumento dos
recursos tecnológicos de informação, uma vez que várias imagens produzidas
em escolas vêm denunciar a violência que ocorre nos meios escolares.
Tal fenômeno vem alarmando professores e pesquisadores da
educação, que buscam sua compreensão e as possibilidades de transformação
dessa triste realidade.
Nesse sentido, os olhares podem ser voltados para uma atuação mais
significativa do Orientador Educacional, pois esse é o profissional que tem
como uma de suas incumbências voltar seus olhares para as complexas
relações sociais e para os contextos vivenciados pelos sujeitos da comunidade
escolar.
43
Como a violência somente se manifesta nas relações entre os
indivíduos, pode ser esse fenômeno observado e tomado como um dos objetos
de ação da Orientação Educacional.
O objetivo geral deste trabalho era o de analisar as contribuições da
atuação do Orientador Educacional na diminuição da violência escolar nas
instituições de ensino de Educação Básica, admitindo-se a hipótese de que
considera que a violência escolar, embora tenha sua origem geralmente fora do
ambiente escolar, com influências de valores da própria sociedade, pode ser
combatida no espaço escolar por meio de uma atuação significativa e
consciente do Orientador Educacional e por outros sujeitos da comunidade
escolar.
Durante o desenvolvimento deste trabalho, de cunho bibliográfico,
verificou-se que a violência também pode surgir dentro da própria instituição de
ensino, devido aos valores e às práticas normalmente desenvolvidas de forma
acrítica.
Contudo, verificou-se também, por meio da análise de grandes autores
que tratam da temática, ser possível atenuar tanto a incidência quanto a
intensidade do fenômeno nos meios escolares por meio de uma prática da
Orientação Educacional associada ao posicionamento dos sujeitos da
comunidade escolar enquanto sujeitos de sua própria história, de forma crítica,
participativa e, portanto, responsável.
Na verdade, é preciso que o Orientador Educacional contribua para a
humanização do espaço escolar, promovendo a valorização de todos os seus
sujeitos num ambiente de diálogo constante e de construção coletiva, inclusive
das regras que a organizam e orientam as relações desses sujeitos.
E, na busca de uma escola mais pacífica e respeitadora de todos os
seus sujeitos, valorizando seus contextos e seus posicionamentos conscientes,
o Orientador Educacional pode ser um dos sujeitos de uma necessária
reinvenção desse importante espaço institucional.
44
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ..........................................................................................02
AGRADECIMENTO ..........................................................................................03
DEDICATÓRIA .................................................................................................04
RESUMO ..........................................................................................................05
METODOLOGIA ...............................................................................................06
SUMÁRIO .........................................................................................................07 INTRODUÇÃO ..................................................................................................08
CAPÍTULO I
O ORIENTADOR EDUCACIONAL NO BRASIL: SITUANDO
HISTORICAMENTE SUAS FUNÇÕES EDUCACIONAIS ...............................12
1.4 A Orientação Educacional e suas origens no mundo ......................12
1.5 O surgimento da Orientação Educacional no Brasil ........................14
1.6 As incumbências da Orientação Educacional ...................................16
CAPÍTULO II
A VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE E NA ESCOLA: CONCEITOS, CAUSAS E
CONDICIONANTES .........................................................................................22
2.4 Os conceitos de violência ...................................................................22
2.5 Tipos de violência ................................................................................25
2.6 As causas e condicionantes da violência .........................................28
48
CAPÍTULO III
O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A VIOLÊNCIA NA ESCOLA:
POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO ...................................................................31
3.3 Manifestação da violência no âmbito escolar ...................................31
3.4 A Orientação Educacional e a contribuição na diminuição da
violência escolar ..................................................................................36
CONCLUSÃO ...................................................................................................42
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................44
ÍNDICE ..............................................................................................................47
FOLHA DE AVALIAÇÃO .................................................................................49
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: A violência na escola
Autor: Katia Rodrigues Fonseca
Matrícula: C206286
Data da entrega: 21/07/2011.
Avaliado por: ....................................................................... Conceito: ............