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Page 1: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA CÍVEL DA SEÇÃO 

JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA. 

 

  

 

 

 

 

 

 

                                               ERNANI PIMENTEL, brasileiro, casado, empresário, RG 

nº 1 266 016, expedida em 20.04.1997, pela SSP‐DF, residente e domiciliado no 

Condomínio Mirante das Paineiras, conjunto 3, casa 8, Jardim Botânico, DF, em 

pleno  gozo  de  seus  direitos  políticos,  por  seu  advogado  infra‐assinado, 

conforme procuração anexa(Anexo  I)  , este  com escritório à  SMLN Tr. 05 Ch. 

214‐A, Lago Norte, Brasília‐DF, CEP 71.540‐055, em que recebe correspondência 

processual, com supedâneo no art. 5º, LXXIII, CF, combinado com o Artigo 1º da 

Lei 4.717/65, vem propor 

 

AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE LIMINAR 

   

em face de: 

UNIÃO  FEDERAL,  Pessoa  Jurídica  de  Direito  Público  Interno,  com  centro 

administrativo  localizado  na  Praça  dos  Três  Poderes,  Palácio  do  Planalto, 

Brasília/DF, CEP 70150‐900;   

ACADEMIA BRASILEIRA DE  LETRAS, doravante  tratada  pela  sua  sigla  – ABL  – 

entidade civil de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 40.262.404.0001‐78, 

com  endereço  à Av.  Presidente Wilson,  203,  Castelo,  Rio  de  Janeiro,  RJ,  CEP 

20030‐021; 

Roberto Sobral [email protected] 

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SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES NETO, brasileiro, diplomata, atualmente ocupando 

o posto de Alto Representante‐Geral do Mercosul, com endereço profissional no 

Ministério das Relações Exteriores, Esplanada dos Ministérios, Brasília, DF; 

FERNANDO HADDAD, brasileiro, solteiro, atualmente exercendo o cargo de 

Ministro da Educação, com endereço profissional no Ministério da Educação, 

Esplanada dos Ministérios, Brasília, DF;  

JOÃO LUIZ SILVA FERREIRA, brasileiro, casado, RG n° 742.276, SSP/BA, ex‐titular 

do cargo de Ministro de Estado da Cultura, então com endereço profissional no 

Ministério da Cultura, Esplanada dos Ministérios, Brasília, DF;  e 

MARCOS VINICIOS RODRIGUES VILAÇA, brasileiro, advogado, atual Presidente 

da Academia Brasileira de Letras, esta com endereço na  Av. Presidente Wilson, 

203, Castelo, Rio de Janeiro, RJ, CEP 20030‐021; 

o que faz em razão de dano expressivo ao patrimônio cultural brasileiro por via 

de  ilegalidades na execução do Acordo Ortográfico da  Língua Portuguesa,   na 

medida em que  impuseram alterações ortográficas unilateralmente concebidas 

pela Academia Brasileira de  Letras, ora extrapolando ora  contrariando pontos 

acordados com os demais países signatários do Acordo de 1990, e sem que  tais 

alterações  tenham  sido  submetidas  à  aprovação  do  Congresso  Nacional, 

contrariando assim o artigo 2º do DECRETO Nº 6.584, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008, 

verbis:  

Art. 2o  São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam  resultar em  revisão do  referido Protocolo, assim  como quaisquer ajustes  complementares  que,  nos  termos  do  art.  49,  inciso  I,  da Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.  

 

  As autoridades  individualmente acima  indicadas  são 

aquelas que, em razão dos cargos que ocupavam, encontravam‐se à frente dos 

órgãos  incumbidos  pelo  Presidente  da  República  para  a  implementação  do 

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa por meio do DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE 

SETEMBRO DE 2008, verbis. 

Art.  1º  Nos  termos  do  artigo  2º  do  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa,  os  Ministérios  da  Educação,  da  Cultura  e  das  Relações Exteriores,  com  a  solicitação  de  colaboração  da  Academia  Brasileira  de Letras e de  entidades  afins nacionais  e dos Países  signatários do Acordo, adotarão  as  providências  necessárias  para  elaboração  de  vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa. 

 

Roberto Sobral [email protected]   

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I. DA LEGITIMAÇÃO DAS PARTES E DAS RAZÕES QUE LEVARAM O AUTOR 

A  COMPREENDER  COMO  NECESSÁRIA  A  SUBMISSÃO  DA  CAUSA  AO 

PODER JUDICIÁRIO. 

                                             O Autor é cidadão brasileiro em pleno exercício de sua 

capacidade política,  conforme  comprovam os documentos que atestam o  seu 

cumprimento  das  obrigações  eleitorais  (Anexo  I),  portanto  encontra‐se  apto 

para o  ajuizamento de AÇÃO POPULAR,  aqui manejada  como  indispensável e 

adequado  instrumento  de  contribuição  democrática  para  preservação  e 

aperfeiçoamento do maior patrimônio  cultural brasileiro,  a  Língua em que  se 

expressa o peculiar modo de existir de toda esta Nação. 

Embora a plena capacidade política seja o que basta para a 

legitimação  da  presente  propositura,  importa  consignar  que  o  Autor  é 

professor, estudioso e conhecido autor de  livros didáticos   na disciplina Língua 

Portuguesa  (em  suas  visões  descritiva  e  normativa)  por  mais  de  45  anos. 

Situação pessoal em que, consciente da importância da causa, somente decidiu 

pugnar  pelo  interesse  coletivo  de  ver  respeitado  o  espírito  do  Acordo 

Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  de  1990  após  ver  ignorado  pelos  Poderes 

Públicos  e  pela  Academia  Brasileira  de  Letras  todo  o  conjunto  probatório  e 

argumentativo que produziu de modo a demonstrar as graves  impropriedades 

técnicas  que,  em  lugar  de  cumprir  o  propósito  para  o  qual  foram mentadas, 

comprometem o próprio Acordo.  

Algumas  dessas  impropriedades  beiram  verdadeiras 

agressões filológicas que não lograram aceitação em nenhum dos demais países 

signatários,  rejeição  que  também  se  atribui  ao  processo  antidemocrático  por 

meio do qual foi elaborado o referido Acordo.  

A  atual  Reforma  Ortográfica  de  1990  é  fruto  do 

voluntarismo  político  de  governantes  naquela  época  ainda  marcados  pelos 

pensamentos  políticos  totalitários  da  história  recente  de  seus  países,  tanto 

assim que não foram chamados a contribuir os segmentos sociais qualificados, 

interessados e  legitimados, necessários e aptos para tão rica quanto complexa 

missão de interesse coletivo supranacional.  

Antes, pequenos  grupos  enclausurados das  aristocráticas 

academias de letras de Brasil e Portugal tomaram a si a tarefa, todos esquecidos 

e  indiferentes  à  contribuição  cidadã  daqueles  que  tinham,  repita‐se, 

qualificação, aptidão e interesse para fazê‐lo. 

Roberto Sobral [email protected]   

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E que não se tente apequenar o discurso democrático sob 

o argumento de que a minuciosa  tarefa  jamais poderia  ser  feita por  todos os 

interessados,  ou  seja,  diretamente  por  toda  a  população.  Evidente  que  as 

sociedades  organizadas  contemporâneas  têm  meios  corporificados  de 

expressão  para  uma  democracia  representativa,  para  além  da  simples 

representação parlamentar. Assim,  como  ignorar que  a Associação Brasileira 

de Imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil, as entidades representativas 

da Magistratura  e  de  membros  do Ministério  Público,  dentre  outras,  têm 

legítimos direito e  interesse na construção gráfica do meio de expressão em 

que vivem os seus representados? 

Pois foi o que fizeram:  ignoraram. E, com perdão da dura 

palavra, debaixo da mais completa desfaçatez, na medida em que claramente 

descumpriram a  letra do próprio Acordo,  conforme  se  lê nos excertos abaixo 

negritados:      

ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA  Considerando  que  o  projeto  de  texto  de  ortografia  unificada  de  língua portuguesa aprovado em Lisboa, em 12 de outubro de 1990, pela Academia das  Ciências  de  Lisboa,  Academia  Brasileira  de  Letras  e  delegações  de Angola,  Cabo  Verde,  Guiné‐Bissau, Moçambique  e  São  Tomé  e  Príncipe, com a adesão da delegação de observadores da Galiza, constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional,  Considerando  que  o  texto  do  acordo  que  ora  se  aprova  resulta  de  um aprofundado debate nos Países signatários,  a República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné‐Bissau, a República de Moçambique, a República Portuguesa, e a República Democrática de São Tomé e Príncipe,  acordam no seguinte:  Artigo 1o  É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que consta como anexo I ao presente instrumento de aprovação, sob a designação de Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) e vai acompanhado da respectiva nota  explicativa,  que  consta  como  anexo  II  ao  mesmo  instrumento  de aprovação, sob a designação de Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).  Artigo 2o  Os  Estados  signatários  tomarão,  através  das  instituições  e  órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de janeiro  de  1993,  de  um  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua portuguesa,  tão  completo  quanto  desejável  e  tão  normalizador  quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.   Artigo 3o  

Roberto Sobral [email protected]   

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O  Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  entrará  em  vigor  em  1º  de janeiro de 1994, após depositados os  instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da República Portuguesa.   Artigo 4o  Os Estados signatários adotarão as medidas que entenderem adequadas ao efetivo respeito da data da entrada em vigor estabelecida no artigo 3o.  Em  fé  do  que,  os  abaixo  assinados,  devidamente  credenciados  para  o efeito, aprovam o presente acordo, redigido em língua portuguesa, em sete exemplares, todos igualmente autênticos.  Assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990.   PELA REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA JOSÉ MATEUS DE ADELINO PEIXOTO Secretário de Estado da Cultura  PELA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL  CARLOS ALBERTO GOMES CHIARELI Ministro da Educação  PELA REPÚBLICA DE CABO VERDE  DAVID HOPFFER ALMADA Ministro da Informação, Cultura e Desportos  PELA REPÚBLICA DA GUINÉ‐BISSAU ALEXANDRE BRITO RIBEIRO FURTADO Secretário de Estado da Cultura  PELA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE LUIS BERNARDO HONWANA Ministro da Cultura  PELA REPÚBLICA PORTUGUESA PEDRO MIGUEL DE SANTANA LOPES Secretário de Estado da Cultura  PELA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE LÍGIA  SILVA  GRAÇA  DO  ESPÍRITO  SANTO  COSTA Ministra  da  Educação  e Cultura 

 

  Aliás, antes que  se  registre o descumprimento ao que  se 

ali aprovava em 1900,  vê‐se que o Acordo, desde a  sua origem, parte de um 

“considerando”  que  não  se  cumpriu.  Consabido  que  não  houve  nenhum 

aprofundado  debate  nos  Países  signatários.    Embora  iluminados  pelo  espírito  de 

aperfeiçoamento e  reforço da expressão da  comunidade dos países de  língua 

portuguesa, que em nenhum momento pode  ser  renunciado  como aspiração, 

aqueles  então  governantes  dos  países  signatários,  empolgados  com  o  sonho 

comum,  esqueceram‐se  de  que  a  forma  consubstanciaria  o  ato,  e  o  ato  o 

produto.  

  Sim,  porque  a  tradição  jurídica  de  Brasil  e  Portugal,  ao 

menos  destes,  jamais  permitiria  esquecer  que  o  cometimento,  dentro  do 

âmbito de cada Estado, “através das  instituições e órgãos competentes” para adoção 

das  “providências  necessárias  com  vista  à  elaboração,  até  1  de  janeiro  de  1993,  de  um 

vocabulário  ortográfico  comum  da  língua  portuguesa”,  deveria  traduzir‐se  em  um 

monumental  ATO  JURÍDICO‐ADMINISTRATIVO,  complexo  e,  no  plano 

internacional,  multilateral,  a  ser  observado  em  seus  peculiares  requisitos 

constitucionais,  na  conformidade  da  ordenação  interna  de  um  por  um  dos 

países signatários.  

Roberto Sobral [email protected]   

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       Desta  forma,  embora  meritória  a  expectativa  de 

celeridade na construção de uma velha aspiração comum nunca antes realizada 

na extensão pretendida, o que se viu foi um completo atropelamento dos mais 

sagrados  princípios  constitucionais  da  Ordem  Democrática  e  do  Direito 

Administrativo a esta conformada. Pois, nem houve “aprofundado debate nos 

Países  signatários”,  nem  foi  elaborado  “o  vocabulário  ortográfico  comum  da 

língua portuguesa”, embora já bastante superado o prazo estabelecido, “até 1º 

de janeiro de 1993”.  

  E  não  há  como  negar  a  corresponsabilidade  da  UNIÂO 

FEDERAL,  que  por  seus Ministérios  da  Educação,  da  Cultura  e  das  Relações 

Exteriores,  deixou  de  exercer  o  indelegável  múnus  público  de  zelar  pela 

elaboração  precisa  e  pelo  fiel  cumprimento  do Acordo Ortográfico  da  Língua 

Portuguesa de 1990, ônus do qual não se desincumbiu pela simples atribuição 

de responsabilidade técnica para a Academia Brasileira de Letras, até porque tal 

cometimento  não  poderia  se  dar  de  modo  exclusivo  para  aquela  entidade 

privada, como se fez ignorando o chamamento à colaboração de entidades afins 

nacionais  e  dos  Países  signatários  do  Acordo,  descumprindo  o  artigo  1º  do 

Decreto nº 6.586 de 2008, verbis:  

Art.  1o  Nos  termos  do  artigo  2o  do  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa,  os  Ministérios  da  Educação,  da  Cultura  e  das  Relações Exteriores,  com  a  solicitação  de  colaboração  da  Academia  Brasileira  de Letras e de entidades afins nacionais e dos Países signatários do Acordo, adotarão  as  providências  necessárias  para  elaboração  de  vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa. 

 

  É bem verdade que o comportamento da UNIÃO, deixando 

ao  alvedrio  da  ABL  a  condução  do  processo  de  reforma  ortográfica,  embora 

inaceitável  em  face  do  novel  regime  democrático  brasileiro  inaugurado  em 

1988, tem antecedentes históricos. A Academia Brasileira de Letras, fundada no 

final do  século XIX  sob a  inspiração e à  semelhança da Academia  Francesa, é 

respeitável instituição nacional de natureza privada a quem o Governo Federal, 

desde  o Governo  Provisório  de Getúlio  Vargas,  em  19311,  de modo mais  ou 

                                                            1  Idealizada  no  período  de  transição  do  Império  para  a  República,  a  Academia  Brasileira  de  Letras  realizou a sua sessão inaugural em 20 de julho de 1897, numa sala do Pedagogium, na Rua do Passeio, Rio  de  Janeiro,  “  na  qual  estiveram  presentes  dezesseis  acadêmicos.  Fez  uma  alocução  preliminar  o presidente  Machado  de  Assis.  Rodrigo  Otávio,  1º  secretário,  leu  a  memória  histórica  dos  atos preparatórios, e o secretário‐geral, Joaquim Nabuco, pronunciou o discurso inaugural.” Fonte: portal da ABL  na  internet.  Já  em  1915,  contudo,  a  Academia  Brasileira  de  Letras  decidiu  harmonizar  a  sua ortografia com a portuguesa, em seguida à reforma ortográfica realizada em Portugal no ano de 1911, 

Roberto Sobral [email protected]   

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menos expresso em Decretos vinha atribuindo a missão pública de dispor sobre 

a ortografia. 

Desse modo, antes da publicação do DECRETO Nº 6.586, 

DE  29  DE  SETEMBRO  DE  2008,  a  ABL  via‐se  como  única  responsável  pelo 

estabelecimento  da  ortografia  oficial,  o  que  se  dava  de modo  excludente  de 

todos  os  segmentos  sociais  igualmente  legitimados  e  qualificados  para  tão 

relevante missão.  

Fato que nunca chegou a  ser  juridicamente contestado, 

inobstante  a  violação  ao  Princípio  Democrático  que  consubstancia  o  Estado 

Brasileiro. Afinal, não há como negar  inaceitável autoritarismo e usurpação de 

direitos no  já citado alijamento da contribuição de associações de filólogos, de 

pedagogos, de professores de Língua Portuguesa, de magistrados, de membros 

do  Ministério  Público,  de  advogados  e  da  própria  Imprensa,  dentre  outras 

instituições que  somente na palavra  escrita, ou de modo primordial por este 

meio, ontologicamente, existem.  

Com  a  Carta  magna  de  1988,  todavia,  não  se  pode 

tolerar  que  do  povo  seja  retirado  o  poder  de  interferir  no  processo  de 

formação  da  sua  própria  ortografia,  afinal  “A  língua  portuguesa  é  o  idioma 

oficial da República Federativa do Brasil” (art.13 da CF), patrimônio cultural de 

máxima magnitude dentre os bens protegidos pela norma  insculpida no artigo 

216  da  Carta  Magna,  forma  de  expressão  por  via  da  qual  “são  fixados 

conteúdos  mínimos  para  o  ensino  fundamental,  de  maneira  a  assegurar 

formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais 

e  regionais”  (art.  210 da  CF), motivos  pelos  quais  determinou  o  constituinte 

que “o ensino fundamental regular será ministrado em  língua portuguesa”, o 

que se estende aos demais níveis de ensino. 

Assim, a  respeitável Academia Brasileira de  Letras, ABL, 

sem  prejuízo  de  sua  venerável  e  histórica  notoriedade,  aqui  aparece  como 

legitimada  passivamente  para  uma  Ação  Popular  por  desconsiderar  que  a 

grandiosidade da reforma ortográfica da língua portuguesa tem natureza de ato 

administrativo público e, como tal, não poderia ser levado a efeito sem o estrito 

respeito ao feixe normativo que informa seu peculiar processo.    

  E a desobediência ao feixe normativo, como se verá, 

culminou com a criação de unilaterais alterações ortográficas procedidas 

fora do texto do Acordo. O que seria suficiente para acolhimento desta 

Roberto Sobral [email protected]   

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Ação  Popular,  que  pretende,  ao  fim,  prorrogar  a  data  final  de 

implementação do Acordo, até aqui prevista para dezembro de 2012, a 

tempo  de  permitir  que  seja  reconduzida  aos  trilhos  da  legalidade  a 

reforma  ortográfica  que  não  reproduz  a motivação,  a  finalidade  nem 

corresponde  ao  espírito  com  que  foi  concebido  o  Acordo  de  1990, 

destinado a ser  fundamento de uma Comunidade dos Países de Língua 

Portuguesa.  

  Esta Ação vem proposta como desdobramento necessário 

do movimento  “Acordar Melhor”,  que,  contando  com  o  apoio  de mais  de 

dezoito mil assinaturas, não desconhece a oportunidade e  conveniência de 

que se faça a necessária reforma ortográfica, a qual não corresponde, todavia, a 

que se está a impor.  

  A  sua propositura, por outro  lado, não  significa  solução 

de continuidade, antes, evitará que os prejuízos já causados consolidem‐se em 

lesividade definitiva, porquanto, se não se  impuser um  freio de  legalidade ao 

que  está  sendo  implementado,  o  Acordo  resultará  em  definitivo  desacordo 

entre os povos envolvidos, que longe estão de demonstrar aceitação ao que foi 

feito à revelia dos seus interessados.  

  Reações  essas  que  se  entendem  como  naturais 

consequências  da  mais  grave  de  todas  as  violações  ao  Acordo  de  1990,  o 

desrespeito ao comando normativo abaixo negritado:  

  Artigo 2o  Os  Estados  signatários  tomarão,  através  das  instituições  e  órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de janeiro  de  1993,  de  um  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua portuguesa,  tão  completo  quanto  desejável  e  tão  normalizador  quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.  

 

Do  que  se  registra o  absurdo: o VOCLP,  vocabulário 

ortográfico comum da língua portuguesa nunca foi elaborado, inobstante 

afirmação  em  sentido  contrário  por  parte  da  Academia  Brasileira  de  Letras, 

segundo  interpretação  meramente  literal  que  fez  em  relação  ao  artigo 

imediatamente acima reproduzido, que ao final demonstrar‐se‐á inconsistente.    

  E esta é uma das  razões pela qual o Acordo não  foi 

implementado  em  nenhum  outro  país,  excetuado  o  Brasil,  onde  se  tem  um 

VOLP  ‐ Vocabulário Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  (sem  o  “c”  de  comum, 

Roberto Sobral [email protected]   

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atributo  ínsito ao conceito de Comunidade de Língua Portuguesa), chancelado 

como se fora a legítima tradução interna do Acordo de 1990, porém de adoção 

cogente  tão  logo expire o prazo de vacatio que vai até dezembro do próximo 

ano, 2012, corporificado pela própria ABL na publicação da 5ª edição, vendida a 

um preço unitário em torno de R$120,00 (cento e vinte reais).  

Este VOLP  colima o descompasso entre a aspiração por 

um  vocabulário  comum  a  todos  os  países  signatários  e  o  pífio  resultado 

unilateral  de  uma  reforma  mais‐que‐imperfeita,  em  que  não  faltam  até 

improvisações  desautorizadas  pelo  próprio  Acordo  que  sequer  foram 

submetidas ao Congresso nacional, em ofensa direta ao supracitado artigo 2º do 

Decreto nº 6.584, de 29 de setembro. Tudo por obra da ensimesmada equipe 

técnica a serviço da Academia Brasileira de Letras. 

Considerações  essas  que  não  desmerecem  todo  o 

esforço empregado, exigível para a produção de tão rica obra, inventário maior 

da lexicografia portuguesa no Brasil, cuidadosamente finalizado em seu projeto 

gráfico, cuja capa adiante se reproduz: 

 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 10: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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Em  face  do  que  até  aqui  se  apresentou,  em  breve 

introdução,  verificando  um  estado  de  letargia  dos  Poderes  Públicos  nesse 

cenário, o AUTOR passou a trabalhar em favor do aperfeiçoamento do processo 

de  reforma  ortográfica  através  da  mais  legítima  forma  de  contribuição 

democrática:  a  exortação  ao  debate  público,  em  cujo  sentido  criou  um 

movimento popular a que deu o nome de “ACORDAR MELHOR”, voltado para a 

concretização  do  verdadeiro  espírito  do Acordo Ortográfico  de  1990,  no  que 

concerne à sua intenção de simplificar a ortografia e de construir um verdadeiro 

vocabulário  ortográfico  comum  da  língua  portuguesa,  o  que  só  será  possível 

com a efetiva participação das sociedades envolvidas por via de “aprofundados 

debates”, como literalmente expressa o Acordo.   

Com  tal  propósito,  por  via  do  rádio,  da  televisão  e  da 

imprensa  escrita,  conforme  comprovado  no  anexo  III  aqui  colacionado, 

participando  de  palestras  em  universidades,  faculdades,  colégios,  órgãos 

públicos e privados, o Autor tem buscado, de modo árduo e ininterrupto, desde 

o ano de 2009, criar um espaço público para um verdadeiro debate sobre essa 

Reforma  Ortográfica  de  magna  relevância  para  o  aperfeiçoamento  do 

patrimônio maior da cultura viva de todo o povo brasileiro. 

Para concentrar o recebimento das contribuições e críticas 

que  vem  obtendo  como  respostas,  fez  publicar  o  site 

www.acordarmelhor.com.br, onde se encontram o manifesto “Acordar melhor 

enquanto  há  tempo”  e  “Nova  Ortografia  e  Escravidão  (continuação  do 

manifesto)” (Anexo III). 

Deste  esforço,  inobstante  ausente  apoio  oficial  de 

qualquer órgão público, resultou um crescente movimento de  incentivo que  já 

conta com mais de 18 mil assinaturas em favor do aprofundamento do debate 

para melhor reformar a ortografia de uso comum.  

Diferentemente do modus operandi da ABL, como se vê, o 

Autor  não  tem  laborado  sobre  o  tema  de modo  isolado,  nem  com  pequeno 

número  de  especialistas  sob  sua  direção  ou  condicionamento.  Até  chegou  a 

provocar o Congresso Nacional para que  realizasse Audiência Pública da qual 

participou em 04/11/2009, onde apresentou o “Convite à Reflexão e à Solução” 

(Anexo  III),  devendo  registrar‐se  que  a  essa  mesma  audiência  deixaram  de 

comparecer,  apesar  de  convidados,  o Ministério  da  Educação  e  a  Academia 

Brasileira de Letras.  

Roberto Sobral [email protected]   

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Em  lugar  de  apresentar  respostas  diretas  aos 

questionamentos,  todavia,  a  ABL  através  do  seu  líder  para  o  assunto,  o 

Eminente Professor Bechara, apresenta evasivas, argumentos  fundados na sua 

pretensa  exclusiva  autoridade,  tentativas  de  desqualificação  do  Autor, 

chegando a desrespeitar até a  liberdade de  imprensa, como o fez em carta de 

admoestação à Revista do Congresso nacional, censurando‐a por ter publicado 

entrevista  com  o  Autor  desta  Ação  (Anexo  III).  Em  resposta,  o  Diretor  de 

Redação da Revista do Congresso Nacional escreveu:  

“Pelo  respeito  a  merecer  qualquer  publicação  apartidária  e independente, a Revista CONGRESSO NACIONAL não admite a crítica de “desserviço aos leitores e um atropelo desavisado à implantação do  Acordo  tão  necessário”,  como  o  ilustre  Sr.  Evanildo  Bechara conclui a  sua  correspondência,  justamente por entender  ser de boa valia  ao  nosso  qualificado  público  leitor  a  divulgação  de  tudo  o relacionado ao importante Acordo Ortográfico.  

Por outro  lado – agora, trata‐se de nossa posição editorial – ao nos  recriminar  pela  boa  acolhida  ao  reconhecido  estudioso  e pesquisador  da  língua  portuguesa,  o  também  ilustre  professor  e escritor  Ernani  Pimentel,  o  ilustre  senhor  representante  da  ABL demonstra  clara  e  publicamente  aversão  ao  debate,  por  sinal, também  se  confirmando  as  críticas  ao  reprovável  quedismo  da entidade  guardiã  da  nossa  língua,  língua  essa  falada  pelo  povo, qualquer  seja  sua  origem  e/ou  qualificação  social,  portanto,  de interesse nacional.  

Por isso mesmo, a Revista CONGRESSO NACIONAL estranha essa espécie de censura, quando, isso sim, deveria estar sendo incentivada a promover o diálogo,  tão  importante ao aprimoramento  lingüístico no Brasil e  junto aos sete outro países subscritores do  tão esperado Acordo Ortográfico. 

Finalmente,  ilustre  senhor  doutor  Evanildo  Bechara,  se  tal propósito  o  incomoda,  antecipadamente  lhe  comunicamos, seguiremos,  exatamente,  o  nosso  projeto  editorial,  ou  seja,  no propósito  de  continuarmos  auscultando  a  tudo  e  a  todos,  direta  e indiretamente,  exatamente  em  favor  da  nossa  querida  Língua Portuguesa.  

Silvio Leite Campos – Diretor de Redação.’       

Assim  coerente  com  a  resposta  acima  oferecida  à 

indelicada carta, o Redator, como bom profissional, não perdeu a oportunidade 

de  provocar  a ABL  para  enfrentar  a  questão  em  audiências  públicas  a  serem 

realizadas  nas  duas  casas  do  Congresso Nacional. Do  que  resultou  a matéria 

trazida no exemplar da Revista CongressoNacional, de junho de 2011 (ver Anexo 

III). . 

Roberto Sobral [email protected]   

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Importa  consignar  que  o  Autor,  à  frente  do movimento 

por  ele  criado  –  o  ACORDAR  MELHOR  –  não  se  posiciona  contrário  à 

necessidade nem ao espírito do Acordo, segundo as suas próprias palavras:  

“Cabe esclarecer que o www.acordarmelhor.com.br não se propõe destruidor ou demolidor do Acordo, pois defende a importância histórica do primeiro documento normativo da grafia de língua portuguesa assinado por oito países, contudo sente-se na obrigação de mostrar que os modelos de trajes, de equipamentos e pensamentos de 1975, época em que nasceram as ideias desse Acordo, não são mais usados hoje. A sociedade evolui e a ortografia também.... Esse Acordo é de um tempo em que as pessoas não possuíam nem utilizavam computadores em seu dia a dia. É fruto da máquina de escrever, da eletricidade, da tecnologia mecânica, do ensino decorado... precisa ser adaptado à era da eletrônica e da mecatrônica, da tecnologia digital, da internet, da pedagogia consciente e racional adequada à instantânea ubiquidade das comunicações transcontinentais.

Questões menores à parte, precisamos construir uma ortografia adequada ao século XXI, que seja mais fácil de ensinar e aprender, que barateie o ensino – hoje se gastam, no fundamental e médio, 400 horas/aula de ortografia, para o aluno passar o resto da vida, como nós, consultando na hora de escrever um agá, um gê, um jota, um hífen...

Com regras coerentes, concatenadas, lógicas, sem exceções e sem duplas grafias, em menos da metade desse tempo se aprenderá a escrever com muito mais eficiência e independência dos dicionários. A educação barateia, os impressos escritos barateiam. Ganham tempo, qualidade de vida e segurança gráfica todos os cidadãos além de... inclusão social. E isso vale para todos os países signatários.’

  Embora  ao  longo  desta  peça  jurídica  sejam  expendidos 

substanciosos  argumentos  e  trazidos  suficientes  elementos  probatórios  que 

evidenciam  diversas  violações  a  textos  legais  em  meio  ao  processo  de 

Reforma Ortográfica em curso, é de se considerar que o poder da Academia 

Brasileira de Letras não é pequeno, e bem se pode percebê‐lo quando se sabe 

que  dentre  os  Imortalizados  Acadêmicos  conta‐se  com  a  presença  de 

influentíssimas  autoridades,  como  é  o  caso  do  atual  Presidente  do  Senado, 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 13: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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José Sarney, bem assim de  ilustres  formadores da opinião pública, como é o 

caso do Jornalista Merval Pereira, da Rede Globo de Televisão.  

Aliás,  as  relações  políticas  nunca  foram  esquecidas  pela 

Academia Brasileira de Letras para a escolha dos seus  ilustres membros. Basta 

lembrar  que  elegeu  para  integrar  o  quadro  das maiores  expressões  literárias 

brasileiras, em pleno regime militar, o General Aurélio de Lyra Tavares, Ministro 

do Exército que chegou a governar o Brasil através de uma Junta Militar. 

A  presente Ação  Popular  é  uma manifestação  de  fé  na 

independência do Judiciário Brasileiro. Este que se reafirma a cada intimorata 

decisão da  Justiça  Federal, a quem  se  roga a devida prestação  jurisdicional, 

sem a qual se tende à perpetuação do que já não se comporta sob um Estado 

Democrático  de  Direitos  Fundamentais:  a  tanto  ilegal  quanto  ilegítima 

imposição  da  grafia  da  Língua  Portuguesa,  gestada  em  um  processo  sem  a 

participação do seu destinatário, o próprio Povo Brasileiro, segundo um feitio 

elitista e autoritário, para cujas erronias e impropriedades os seus autores, em 

lugar  de  apresentarem  respostas  técnico‐científicas,  manifestam‐se  por 

injunções  lastreadas em argumento da própria autoridade em que se sentem 

investidos.         

 

 

II.  RESUMO  HISTÓRICO  DAS  REFORMAS  ORTOGRÁFICAS  NO  PERÍODO 

REPUBLICANO, do processo para a implementação do Acordo de 1990 e 

a reação social dentro dos países signatários.        

       À época da Proclamação da República a obra mestra em uso 

chamava‐se Bases da Ortografia Portuguesa, de Gonçalves Viana.  

      Com  a  “fundação  da  Academia  Brasileira  de  Letras,  a 

instituição atribuiu‐se como  tarefa essencial o cultivo da  língua e da  literatura 

nacional.  Nesse  sentido,  a  Casa  de Machado  de  Assis  tem  publicado  a  sua 

Revista, obras de Acadêmicos, e se empenha em preparar o dicionário da língua, 

depois de se ter ocupado da organização do Vocabulário ortográfico da  língua 

portuguesa” (excerto do portal da ABL, na internet). 

      Nascida  em  um  contexto  histórico  em  que  era  possível  a 

clara  identificação dos melhores expoentes da elite cultural brasileira, da qual 

veio a formar seu quadro, a Academia Brasileira de Letras decidiu harmonizar a 

Roberto Sobral [email protected]   

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sua  ortografia  com  a  portuguesa,  já  em  1915,  sensível  à  primeira  reforma 

ortográfica realizada em Portugal no ano de 1911, 

Mas,  foi  em  1924,  segundo  registro  do  Portal  da  Língua 

Portuguesa, que a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de 

Letras deram início a um trabalho de busca de uma grafia comum.  

Após alterações unilaterais produzidas no Brasil, em 1931 

é aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre o Brasil e Portugal, visando à 

supressão de diferenças, unificação  e  simplificação da  língua  escrita. Naquele 

mesmo ano, publica‐se o Decreto Federal nº 20.108, que dispunha sobre o uso 

da  ortografia  simplificada  do  idioma  nacional  nas  repartições  públicas  e  nos 

estabelecimentos de ensino, segundo o texto que se segue:  

Decreto Federal do Brasil nº 20.108, de 15 de junho de 1931 Dispõe sobre o uso da ortografia simplificada do idioma nacional nas repartições públicas e nos estabelecimentos de ensino. O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, Considerando  a  vantagem  de  dar  uniformidade  à  escrita  do  idioma nacional,  o  que  somente  poderá  ser  alcançado  por  um  sistema  de simplificação  ortográfica  que  respeite  a  história,  a  etimologia  e  as tendências da língua: Resolve: Art. 1º Fica admitida nas repartições públicas e nos estabelecimentos de ensino a ortografia aprovada pela Academia Brasileira do Letras e pela Academia de Ciências de Lisboa. Art. 2º No Diário Oficial e nas demais publicações oficiais será adotada a referida ortografia. Art. 3º Revogam‐se as disposições em contrário. Rio de Janeiro, em 15 de junho de 1931;  110º da Independência e 43º da República. GETÚLIO VARGAS  

 

Seguiu‐se o Decreto Federal 23.028 de 1933 que  tornava 

“obrigatório  o  uso  da  ortografia  resultante  do  acordo  entre  a  Academia 

Brasileira de Letras e a Academia das Ciencias de Lisbôa”, nos seguintes termos:  

O Chefe do Govêrno Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, Considerando  que  o  acôrdo  ortográfico  celebrado  entre  a  Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisbôa, foi aprovado pelo Decreto nº 20108, de 15 de junho de 1931; Considerando  que  já  está  publicado  o  vocabulário  oficial  da  Academia Brasileira de Letras, organizado  segundo o sistema ortográfico decorrente 

Roberto Sobral [email protected]   

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do acôrdo, e que, portanto,  fácil se  torna a prática de um sistema gráfico que uniformize definitivamente a escrita do idioma nacional; Usando das atribuições contidas no art. 1º, § único, do Decreto nº 19398, de 11 de novembro de 1930; Decreta: Art. 1º Fica obrigatório o uso da ortografía resultante do acôrdo entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisbôa, a que se refere o decreto n. 20.108, de 15 de  junho de 1931. no expediente e publicações dos orgãos do Pôder Público, nas Universidades, nos colégios ou ginásios, nas  escolas  primárias  e  demais  estabelecimentos  de  ensino,  públicos  ou fiscalizados. Art. 2º Será tambem exigido o uso dessa ortografia em todos os requerimentos e documentos  submetidos  á  administração  pública  e  no  expediente  e publicações de emprêsas, companhias ou  sociedades que gozem de  favor oficial. Art. 3º A  partir  do  dia  1  de  janeiro  de  1935  não  serão  admitidos  nos estabelecimentos de ensino, os livros didáticos escritos em divergência com o sistema a que se refere o presente decreto. Art. 4º As dúvidas e as  lacunas verificadas no  formulário ortográfico, aceito pelas duas  Academias  signatárias  do  acôrdo,  serão  fixadas  por  portaria  do Ministério da Educação e Saúde Pública, mediante proposta da Academia Brasileira  de  Letras,  em  conformidade  com  a  Academia  das  Ciencias  de Lisbôa.   Art. 5º Revogam‐se as disposições em contrário. Rio de Janeiro, 2 de agosto de 1933,  112º da Independência e 45º da República. GETÚLIO VARGAS           

Em 1938, pela  terceira vez na era Vargas sobreveio novo 

diploma normativo sobre ortografia nacional:  

  Decreto‐lei Federal do Brasil nº 292, de 23 de fevereiro de 1938 Regula o uso da ortografia nacional.  O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o Art. 180 da Constituição, Decreta:  Art.  1º  É obrigatório o uso da ortografia  resultante do  acordo,  a que  se refere  o  decreto  nº  20.108,  de  15  de  junho  de  1931,  entre  a  Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, no expediente das repartições públicas e nas publicações oficiais de todo o país, bem como em todos os estabelecimentos de ensino, mantidos pelos poderes públicos ou por eles fiscalizados. Parágrafo único. A acentuação gráfica, nos termos das bases do acordo de que trata este artigo, fica fixada nas regras, que acompanham este decreto‐lei. 

Roberto Sobral [email protected]   

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Art.  2º  Será  publicado  pelo Ministério  da  Educação  e  Saúde,  e  terá  uso obrigatório,  nos  termos  do  Art.  1º  deste  decreto‐lei,  um  vocabulário ortográfico da  língua nacional, no qual serão  resolvidos os casos especiais de grafia não constantes do acordo entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa. Art.  3º  A  partir  de  1  de  junho  de  1939,  não  serão  admitidos,  nos estabelecimentos  de  ensino  oficiais  ou  reconhecidos  oficialmente,  livros didáticos  escritos  em  ortografia  diferente  da  referida  no  artigo  1º  deste decreto‐lei. Art. 4º Revogam‐se as disposições em contrário.  Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 1938,  117º da Independência 50º da República.  GETÚLIO VARGAS.  

Este  Decreto‐lei  viria  a  ser  revogado  pelo  Decreto‐lei 

Federal do Brasil 5186 de 1943: 

 

DECRETO‐LEI Nº 5.186, DE 13 DE JANEIRO DE 1943.  Regula o uso de ortografia em todo o país.  O Presidente da República, usando da atribuição que  lhe confere o artigo 180 da Constituição,  Decreta:  Art.  1º  Até  que  seja  adotado  em  definitivo  o  vocabulário  oficial,  em, elaboração, que  consubstancie, de modo  seguro, o  acordo  celebrado  em 1931, entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa,  vigorará,  em  todo  o  pais,  como  formulário  ortográfico,  o  do "Vocabulário Ortográfico e Ortoépico da Língua Portuguesa organizado pela Academia Brasileira de Letras de acordo com a Academia das Ciências de Lisboa", publicado em 1932.  Art. 2º O Ministro da Educação e Saude fixará os prazos de obrigatoriedade relativa  à  ortografia  dos  livros  didáticos  e,  bem  assim,  resolverá;  por instruções, toda a matéria atinente, à ortografia.  Art. 3º Fica revogado o parágrafo único do art. 1º do decreto‐lei 292, de 23 de  fevereiro  de  1938,  e  outras  disposições  que  contrariem  o  presente decreto‐lei. Rio  de  Janeiro,  13  de  janeiro  de  1943,  122º  da  Independência  e  55º  da República.  GETÚLIO VARGAS 

 

E  após  o  Formulário  Ortográfico  de  1943,  fruto  da 

Convenção  Ortográfica  Brasil‐Portugal,  veio  o  Decreto‐lei  8.286  de  5  de 

dezembro  de  1945  trazendo  um  dispositivo  diferenciado  quanto  a  oficial 

atribuição,  com  força  de  obrigatoriedade  de  uso  e  “independentemente  de 

nova  aprovação  do  Governo,  os  Vocabulários  organizados  pela  Academia 

Brasileira de Letras”, conforme disposto no Art. 4º, abaixo destacado :    

Decreto‐Lei nº 8.286, de 5 de Dezembro de 1945 

Roberto Sobral [email protected]   

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 Aprova o Acôrdo Ortográfico para a unidade da Língua Portuguesa.  O Presidente da República, usando da atribuição que  lhe confere o artigo 180 da Constituição,       DECRETA:       Art.  1º  Fica  aprovado  o  Acôrdo  para  a  unidade  ortográfica  da  língua portuguesa,  resultante  dos  trabalhos  da  Conferência  Interacadêmica  de Lisboa, e publicado em anexo ao presente Decreto‐lei.      Art. 2º Em cumprimento das condições do Acôrdo Ortográfico, incumbir‐se‐á a Academia Brasileira de Letras de adaptar às normas nêle  fixadas as instruções para a publicação do Vocabulário da Língua, Portuguêsa.      Art. 3º A Academia Brasileira de Letras encarregar‐se‐á,  igualmente, da elaboração de um Vocabulário Ortográfico Resumido,  exemplificativo das normas  estabelecidas  no  Acôrdo,  e  de  nova  edição,  consequentemente refundida, de seu Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguêsa.      Art.  4º  Terão  caráter  oficial,  servindo  de  padrão  à  escrita  vernácula, assim  para  o  ensino  no  pais,  como  para  as  repartições  públicas,  e independentemente  de  nova  aprovação  do  Governo,  os  Vocabulários organizados pela Academia Brasileira de Letras, nos têrmos das instruções a que se refere o art. 2º.       Art.  5º  O  Ministério  da  Educação  e  Saúde  baixará  oportunamente portaria  em  que  consigne  a  obrigatoriedade,  nas  escolas,  da  ortografia regulada pelo Acôrdo  interacadêmico, tendo em vista as conveniências de ensino, a  suficiente difusão dos Vocabulários acadêmicos e os prazos que forem  razoáveis  para  a  adaptação  dos  livros  didáticos,  sem  prejuízo  de autores e editôres.      Art.  6º  O  presente  Decreto‐lei  entrará  em  vigor  na  data  da  sua publicação.       Art. 7º Revogam‐se as disposições em contrário.  Rio de  Janeiro, 5 de dezembro de 1945, 124º da  Independência e 57º da  República.  JOSÉ LINHARES           

Este Decreto‐Lei viria a ser revogado pela Lei Nº 2.623, DE 

21 DE OUTUBRO DE 1955, embora mantida a atribuição da Academia Brasileira 

de  Letras  para  o  estabelecimento  do  sistema  ortográfico  por  via  do  seu 

"Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa":  

 LEI Nº 2.623, DE 21 DE OUTUBRO DE 1955  Restabelece o sistema ortográfico do "Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa" e revoga o Decreto‐lei nº 8.286, de 5 de Dezembro de 1945. O  PRESIDENTE  DA  REPÚBLICA,  faço  saber  que  o  CONGRESSO  NACIONAL manteve  e  eu  promulgo  nos  têrmos  do  Art.  70,  §  3º,  da  Constituição Federal, a seguinte Lei: Art.  1º  ‐  É  restabelecido  o  sistema  ortográfico  do  "Pequeno  Vocabulário Ortográfico  da  Língua  Portuguesa",  organizado  em  1943  pela  Academia Brasileira de Letras.  Art. 2º  ‐ O sistema referido no artigo anterior, vigorará até que seja dado cumprimento no Artigo  II da Convenção Ortográfica,  assinada  em  Lisboa, pelo Brasil e Portugal em 29 de dezembro de 1943.  

Roberto Sobral [email protected]   

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Art. 3º ‐ É revogado o Decreto‐lei nº 8.286, de 5 de dezembro de 1945. Art. 4º ‐ Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Rio de Janeiro, em 21 de outubro de 1955; 134º da Independência e 67º da República.  João Café Filho 

 

A reforma de 1971,  igualmente, veio por meio de Lei que 

repetiu  a  atribuição  de  elaboração  do  vocabulário  oficial  para  a  Academia 

Brasileira de Letras: 

LEI Nº 5.765 ‐ DE 18 DE DEZEMBRO DE 1971 

Aprova  alterações  na  ortografia  da  língua  portuguêsa  e  dá  outras providências. O  PRESIDENTE  DA  REPÚBLICA,  Faço  saber  que  o  CONGRESSO  NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:  Art. 1º De conformidade com o parecer conjunto da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, exarado a 22 de abril de 1971 segundo o disposto no artigo III da Convenção Ortográfica celebrada em 29 de dezembro de 1943 entre o Brasil e Portugal,  fica abolido o  trema nos hiatos  átonos;  o  acento  circunflexo  diferencial  na  letra  e  e  na  letra  o,  a sílaba tônica das palavras homógrafas de outras em que são abertas a letra e e a letra o, exceção feita da forma pôde, que se acentuará por oposição a pode; o acento circunflexo e o grave com que se assinala a sílaba subtônica dos vocábulos derivados em que figura o sufixo mente ou iniciados por z.  Art. 2º A Academia Brasileira de Letras promoverá, dentro do prazo de 2 (dois)  anos,  a  atualização  do  Vocabulário  Comum  a  organização  do Vocabulário  Onomástico  e  a  republicação  do  Pequeno  Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguêsa nos têrmos da presente Lei.  Art. 3º Conceder‐se‐á às emprêsas editoras de  livros e publicações o prazo de 4 (quatro) anos para o cumprimento do que dispõe esta Lei.  Art. 4º Esta Lei entrará em vigor 30 dias após a sua publicação, revogadas as  disposições  em  contrário.  Brasília,  18  de  dezembro  de  1971;  150º  da Independência e 83º da República.  EMÍLIO G. MÉDICI 

 

Tem‐se que em 1975 a Academia das Ciências de Lisboa e 

a  Academia  Brasileira  de  Letras  teriam  elaborado  novo  projeto  de  acordo 

ortográfico, todavia aquele não fora oficialmente aprovado. 

         Em  1986,  José  Sarney,  então 

presidente do Brasil, promoveu um encontro dos  sete países de  língua oficial 

portuguesa ‐ Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné‐Bissau, Moçambique, Portugal e 

São  Tomé  e  Príncipe  ‐,  no  Rio  de  Janeiro. Ali  foi  apresentado  o Memorando 

Sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Resultaria deste encontro o  

Acordo Ortográfico de 1986, que viria a ser amplamente discutido e contestado 

pela comunidade linguística, nunca chegando a ser aprovado. 

Roberto Sobral [email protected]   

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  Já em 1990, a Academia das Ciências de Lisboa veio a 

convocar novo encontro. Assim, com a participação da Academia Brasileira de 

Letras  surgiu a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, documento 

que entraria em vigor, de acordo com o seu artigo 3º, no dia "1 de Janeiro de 

1994, após depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto 

do Governo da República Portuguesa”: 

ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA  Considerando  que  o  projeto  de  texto  de  ortografia  unificada  de  língua portuguesa aprovado em Lisboa, em 12 de outubro de 1990, pela Academia das  Ciências  de  Lisboa,  Academia  Brasileira  de  Letras  e  delegações  de Angola,  Cabo  Verde,  Guiné‐Bissau, Moçambique  e  São  Tomé  e  Príncipe, com a adesão da delegação de observadores da Galiza, constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional,  Considerando  que  o  texto  do  acordo  que  ora  se  aprova  resulta  de  um aprofundado debate nos Países signatários,  a República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné‐Bissau, a República de Moçambique, a República Portuguesa, e a República Democrática de São Tomé e Príncipe,  acordam no seguinte:      Artigo 1º  É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que consta como anexo I ao presente instrumento de aprovação, sob a designação de Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) e vai acompanhado da respectiva nota  explicativa,  que  consta  como  anexo  II  ao  mesmo  instrumento  de aprovação, sob a designação de Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).  Artigo 2º  Os  Estados  signatários  tomarão,  através  das  instituições  e  órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de janeiro  de  1993,  de  um  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua portuguesa,  tão  completo  quanto  desejável  e  tão  normalizador  quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.   Artigo 3º  O  Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  entrará  em  vigor  em  1º  de janeiro de 1994, após depositados os  instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da República Portuguesa.   Artigo 4º  Os Estados signatários adotarão as medidas que entenderem adequadas ao efetivo respeito da data da entrada em vigor estabelecida no artigo 3o.  Em  fé  do  que,  os  abaixo  assinados,  devidamente  credenciados  para  o efeito, aprovam o presente acordo, redigido em língua portuguesa, em sete exemplares, todos igualmente autênticos.  Assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990.   PELA REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA 

Roberto Sobral [email protected]   

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JOSÉ MATEUS DE ADELINO PEIXOTO Secretário de Estado da Cultura  PELA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL  CARLOS ALBERTO GOMES CHIARELL Ministro da Educação  PELA REPÚBLICA DE CABO VERDE  DAVID HOPFFER ALMADA Ministro da Informação, Cultura e Desportos  PELA REPÚBLICA DA GUINÉ‐BISSAU ALEXANDRE BRITO RIBEIRO FURTADO Secretário de Estado da Cultura  PELA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE LUIS BERNARDO HONWANA Ministro da Cultura  PELA REPÚBLICA PORTUGUESA PEDRO MIGUEL DE SANTANA LOPES Secretário de Estado da Cultura  PELA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE LÍGIA  SILVA  GRAÇA  DO  ESPÍRITO  SANTO  COSTA Ministra  da  Educação  e Cultura 

 

O texto do Acordo encontra‐se reproduzido no Anexo II.  

A  partir  de  então  começa  a  saga  da  implementação  de 

uma  reforma  ortográfica  que  nunca  chegou  a  ser  alvo  de  um  “aprofundado 

debate” em qualquer dos Países signatários,  ao contrário do que se afirmara no 

“considerando” preambular do acordo, mais acima negritado.   

Frustrando‐se a data prevista para entrada em vigor, 1º de 

janeiro  de  1994,  o  Acordo  Ortográfico  de  1990  foi  aprovado  pelo  Decreto 

Legislativo nº 54, de 1995, conforme o texto assim publicado:  

DECRETO LEGISLATIVO Nº 54, DE 1995 Aprova o  texto do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. O CONGRESSO NACIONAL decreta:  Art. 1º É  aprovado o  texto do Acordo Ortográfico da  Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990.  Parágrafo  único.  São  sujeitos  à  apreciação  do  Congresso  Nacional quaisquer  atos  que  impliquem  revisão  do  referido  acordo,  bem  como quaisquer  atos  que,  nos  termos  do  art.  49,  I,  da  Constituição  Federal, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.  Art. 2º Este decreto legislativo entra em vigor na data de sua publicação. Senado Federal, 18 de abril de 1995. SENADOR JOSÉ SARNEY Presidente 

 

Contudo,  como  ato  de  Estado,  apenas  Portugal,  Brasil  e 

Cabo  Verde  haviam  ratificado  o  Acordo  até  1996,  inobstante  as  críticas  e 

resistências que se fizeram expressar, especialmente em Portugal.  

  Em  1998,  na  cidade  da  Praia,  veio  a  ser  assinado  o 

Protocolo  Modificativo  do  Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa, 

Roberto Sobral [email protected]   

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oportunidade em que,  reconhecendo‐se  “Que  o  vocabulário  ortográfico  comum  da 

língua  portuguesa  deverá  ainda  ser  concluído”,  conforme  abaixo  destacado  em 

negrito, foi retirada do texto a data da implementação, mantendo‐se a condição 

de  que  todos  os membros  da  Comunidade  dos  Países  de  Língua  Portuguesa 

(CPLP) deveriam ratificar as normas propostas no Acordo Ortográfico de 1990. 

Eis o texto do Protocolo: 

PROTOCOLO  MODIFICATIVO  AO  ACORDO  ORTOGRÁFICO  DA  LÍNGUA PORTUGUESA  Considerando  que  até  à  presente  data  o  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa,  assinado  em  Lisboa,  em  dezembro  de  1990,  ainda  não  foi ratificado por todas as partes contratantes;  Que o referido texto original do Acordo estabelecia, em seu artigo 3, que o referido  Acordo  entraria  em  vigor  no  dia  1  de  janeiro  de  1994,  após  o depósito  dos  instrumentos  de  ratificação  de  todos  os  Estados  junto  ao Governo da República Portuguesa;  Que o artigo 2 do Acordo, por sua vez, previa a elaboração, até 1 de janeiro de  1993,  de  um  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua  portuguesa, referente às terminologias científicas e técnicas;  Que o vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa deverá ainda ser concluído;  Decidem as partes dar a seguinte nova redação aos dois citados artigos:  “Art. 2 – Os Estados signatários tomarão, através das  instituições e órgãos competentes,  as  providências  necessárias  com  vista  à  elaboração  de  um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável  e  tão  normalizador  quanto  possível,  no  que  se  refere  às terminologias científicas e técnicas.  Art.3 – O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrará em vigor após depositados os  instrumentos de  ratificação de  todos os  Estados  junto do Governo da República Portuguesa”.  Feito na Praia, em 17 de julho de 1998. 

 

  Tal  Protocolo  foi  objeto  do  Decreto  Legislativo 

nº120/2002:  

DECRETO LEGISLATIVO Nº 120, DE 2002 Aprova o texto do Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, feito em Praia, em 17 de julho de 1998. O CONGRESSO NACIONAL DECRETA: Art.  1º  Fica  aprovado  o  texto  do  Protocolo  Modificativo  ao  Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, feito em Praia, em 17 de julho de 1998. Parágrafo  único.  Ficam  sujeitos  à  aprovação  do  Congresso  Nacional quaisquer  atos  que  impliquem  revisão  do  referido  Acordo,  bem  como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do inciso I do art. 49 da Constituição  Federal,  acarretem  encargos  ou  compromissos  gravosos  ao patrimônio nacional. Art. 2º Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua publicação. Senado Federal, em 12 de junho de 2002 SENADOR RAMEZ TEBET 

Roberto Sobral [email protected]   

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Presidente do Senado Federal 

 

  Mais  de  dez  anos  após  a  data  em  que  deveria  ter  sido 

implementado o acordo, em 2004 os Ministros da Educação dos vários países da 

CPLP  reuniram‐se  em  Fortaleza,  no  Brasil,  para  a  aprovação  do  Segundo 

Protocolo  Modificativo  ao  Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa.  Ali, 

“reiteraram  ser  o  Acordo  Ortográfico  um  dos  fundamentos  da  Comunidade”.    Assim, 

entenderam buscar  simplificação para o processo de  superação de diferenças 

nacionais em torno do Acordo reduzindo a três países o quórum necessário de 

ratificações para que o Acordo Ortográfico pudesse entrar em vigor.   O Timor‐

Leste,  tornado  independente em 2002, passou a  integrar a comunidade. Eis o 

texto do Segundo Protocolo:  

 

Segundo  Protocolo  Modificativo  ao  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa A  República  de  Angola,  a  República  Federativa  do  Brasil,  a  República  de Cabo Verde, a República da Guiné‐Bissau, a República de Moçambique, a República Portuguesa, a República Democrática de São Tomé e Príncipe e a República Democrática de Timor‐ Leste: Considerando que, até à presente data, o Acordo Ortográfico da  Língua Portuguesa,  assinado em  Lisboa,  a 16 de Dezembro de 1990, ainda não pôde  entrar  em  vigor  por  não  ter  sido  ratificado  por  todas  as  partes contratantes; Tendo  em  conta  que,  desde  a  IV  Conferência  de  Chefes  de  Estado  e  de Governo da Comunidade de Países de  Língua Portuguesa  (CPLP), ocorrida em Brasília a 31 de Julho e 1 de Agosto de 2002, se adoptou a prática, nos Acordos  da  CPLP,  de  estipular  a  entrada  em  vigor  com  o  depósito  do terceiro instrumento de ratificação; Recordando  que,  em  2002,  por  ocasião  da  IV  Conferência  de  Chefes  de Estado  e  de  Governo,  a  República  Democrática  de  Timor‐Leste  aderiu  à CPLP, tornando‐se o oitavo membro da Comunidade;   Evocando  a  recomendação  dos  Ministros  da  Educação  da  CPLP  que, reunidos, em Fortaleza, a 26 de Maio de 2004, na V Reunião de Ministros da Educação, reiteraram ser o Acordo Ortográfico um dos fundamentos da Comunidade  e  decidiram  elevar,  à  consideração  da  V  Conferência  de Chefes  de  Estado  e  de  Governo  da  CPLP,  a  proposta  de  se  aprovar  o Protocolo Modificativo  ao Acordo Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  que, além de permitir  a  adesão de Timor‐Leste, define  a entrada em  vigor do Acordo  com  o  depósito  dos  instrumentos  de  ratificação  por  três  países signatários;   DECIDEM as partes:  1. Dar a seguinte nova redacção ao Artigo 3 do Acordo Ortográfico:  Artigo 3º 

Roberto Sobral [email protected]   

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 "O  Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  entrará  em  vigor  com  o terceiro  depósito  de  instrumento  de  ratificação  junto  da  República Portuguesa".   2. Acrescentar o seguinte artigo ao Acordo Ortográfico:  Artigo 5º  "O presente Acordo estará aberto à adesão da República Democrática de Timor‐Leste".  3. Estabelecer que o presente Protocolo Modificativo entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte à data em que três Estados membros da CPLP tenham  depositado,  junto  da  República  Portuguesa,  os  respectivos instrumentos de  ratificação ou documentos equivalentes que os vinculem ao Protocolo.  Feito e assinado em São Tomé, a 25 de Julho de 2004. Pelo Governo da República de Angola Pelo Governo da República Federativa do  Brasil  Pelo  Governo  da  República  de  Cabo  Verde  Pelo  Governo  da República da Guiné‐Bissau Pelo Governo da República de Moçambique Pelo Governo da República Portuguesa Pelo Governo da República Democrática de São Tomé e Príncipe Pelo Governo da República Democrática de Timor‐Leste   

    Já  sob  a nova  regra, em 2006, Brasil, Cabo Verde e  São  Tomé e 

Príncipe  ratificaram  o  documento,  como  também  o  fez  Portugal  em  2008, 

ficando  este  país  de  implementar  a  reforma  em  2010. Observa‐se  que,  pela 

nova  regra,  já  em  2006,  ainda  que  sem  Portugal,  o  Acordo  poderia  ser 

implementado!  

E aí, em 2008, antes que qualquer outro país  signatário assim o 

procedesse,  o  Brasil  fez  promulgar  o Acordo,  tornando‐o  obrigatório,  ainda 

que  não  estivesse  elaborado  o  pressuposto  para  o  mesmo:  o  vocabulário 

ortográfico comum da língua portuguesa.  

Sem  embargo  da  ausência  desse  requisito  fundamental,  quatro 

Decretos  foram  assinados  no  mesmo  dia,  29  de  setembro  de  2008,  todos 

conducentes a  fazer com que o Acordo Ortográfico de 1990 viesse a produzir 

efeitos  já em 1º de  janeiro de 2009, dezenove anos após a sua elaboração, ou 

seja, em pouco mais de três meses após a publicação do novo feixe normativo. 

São eles:  

 

DECRETO Nº 6.583, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008. Promulga o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que  lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e 

Roberto Sobral [email protected]   

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Considerando  que  o  Congresso  Nacional  aprovou,  por meio  do  Decreto Legislativo nº 54, de 18 de abril de 1995, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990; Considerando  que  o  Governo  brasileiro  depositou  o  instrumento  de ratificação  do  referido  Acordo  junto  ao  Ministério  dos  Negócios Estrangeiros da República Portuguesa, na qualidade de depositário do ato, em 24 de junho de 1996; Considerando que o Acordo entrou em vigor internacional em 1º de janeiro de 2007, inclusive para o Brasil, no plano jurídico externo; DECRETA: Art. 1º O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, entre os Governos da República  de  Angola,  da  República  Federativa  do  Brasil,  da  República  de Cabo Verde, da República de Guiné‐Bissau, da República de Moçambique, da  República  Portuguesa  e  da  República  Democrática  de  São  Tomé  e Príncipe,  de  16  de  dezembro  de  1990,  apenso  por  cópia  ao  presente Decreto,  será  executado  e  cumprido  tão  inteiramente  como  nele  se contém. Art.  2º  O  referido  Acordo  produzirá  efeitos  somente  a  partir  de  1º  de janeiro de 2009. Parágrafo  único.  A  implementação  do  Acordo  obedecerá  ao  período  de transição de 1º de  janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, durante o qual coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova norma estabelecida. Art. 3º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam  resultar  em  revisão  do  referido  Acordo,  assim  como  quaisquer ajustes  complementares  que,  nos  termos  do  art.  49,  inciso  I,  da Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Art. 4º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília,  29  de  setembro  de  2008;  187º  da  Independência  e  120º  da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Celso Luiz Nunes Amorim  

 DECRETO Nº 6.584, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008. Promulga  o  Protocolo  Modificativo  ao  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa, assinado em Praia, em 17 de julho de 1998. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que  lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e Considerando  que  o  Congresso  Nacional  aprovou,  por meio  do  Decreto Legislativo  nº  120,  de  12  de  junho  de  2002,  o  Protocolo Modificativo  ao Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa,  assinado  em  Praia,  em  17  de julho de 1998; Considerando  que  o  Governo  brasileiro  depositou  o  instrumento  de ratificação  do  referido  Acordo  junto  ao  Ministério  dos  Negócios Estrangeiros da República Portuguesa, na qualidade de depositário do ato, em 3 de setembro de 2004; Considerando que o Protocolo Modificativo entrou em vigor  internacional em 1º de janeiro de 2007, inclusive para o Brasil, no plano jurídico externo; DECRETA: 

Roberto Sobral [email protected]   

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         Art.  1º  O  Protocolo  Modificativo  ao  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa,  entre  os  Governos  da  República  de  Angola,  da  República Federativa do Brasil, da República de Cabo Verde, da República de Guiné‐Bissau,  da  República  de  Moçambique,  da  República  Portuguesa  e  da República Democrática de  São  Tomé  e Príncipe, de 17 de  julho de 1998, apenso  por  cópia  ao  presente  Decreto,  será  executado  e  cumprido  tão inteiramente como nele se contém.  Art. 2º  São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam  resultar em  revisão do  referido Protocolo, assim  como quaisquer ajustes  complementares  que,  nos  termos  do  art.  49,  inciso  I,  da Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.  Art. 3º  Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.  Brasília,  29  de  setembro  de  2008;  187º  da  Independência  e  120º  da República.  LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Celso Luiz Nunes Amorim  DECRETO Nº 6.585, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.  Dispõe  sobre  a  execução  do  Segundo  Protocolo Modificativo  ao  Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em São Tomé, em 25 de  julho de 2004.           O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e Considerando que  foram cumpridos os requisitos para a entrada em vigor do  Segundo  Protocolo  Modificativo  ao  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa; Considerando que o Governo brasileiro notificou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Portuguesa, na qualidade de depositário do ato, em 20 de outubro de 2004; Considerando que o Acordo entrou em vigor internacional em 1º de janeiro de 2007, inclusive para o Brasil, no plano jurídico externo; DECRETA:  Art. 1º  O Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,  entre  os  Governos  da  República  de  Angola,  da  República Federativa do Brasil, da República de Cabo Verde, da República de Guiné‐Bissau,  da  República  de  Moçambique,  da  República  Portuguesa,  da República Democrática de São Tomé e Príncipe e da República Democrática de  Timor‐Leste,  de  25  de  julho  de  2004,  apenso  por  cópia  ao  presente Decreto,  será  executado  e  cumprido  tão  inteiramente  como  nele  se contém.  Art. 2º  Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.  Brasília,  29  de  setembro  de  2008;  187º  da  Independência  e  120º  da República.  LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA  Samuel Pinheiro Guimarães Neto Fernando Haddad João Luiz Silva Ferreira  

DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008. 

Roberto Sobral [email protected]   

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  Dispõe  sobre  a  implementação  do  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa.   O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,  inciso  IV,  da  Constituição,  e  em  observância  ao  disposto  no  Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995, e promulgado  pelo  Decreto  no  6.583,  de  29  de  setembro  de  2008,  no Protocolo  Modificativo  ao  Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa, assinado  em  Praia,  em  17  de  julho  de  1998,  aprovado  pelo  Decreto Legislativo no 120, de 12 de junho de 2002, e promulgado pelo Decreto no 6.584, de 29 de setembro de 2008, e no Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em São Tomé, em 25 de julho de 2004, e internalizado pelo Decreto no 6.585, de 29 de setembro de 2008,  DECRETA:  Art.  1º  Nos  termos  do  artigo  2º  do  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa,  os  Ministérios  da  Educação,  da  Cultura  e  das  Relações Exteriores,  com  a  solicitação  de  colaboração  da  Academia  Brasileira  de Letras e de  entidades  afins nacionais  e dos Países  signatários do Acordo, adotarão  as  providências  necessárias  para  elaboração  de  vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa.  Art. 2º Os  livros escolares distribuídos pelo Ministério da Educação à rede pública  de  ensino  de  todo  o  País  serão  autorizados  a  circular,  em  2009, tanto na atual quanto na nova ortografia, e deverão ser editados, a partir de  2010,  somente  na  nova  ortografia,  excetuadas  a  circulação  das reposições  e  complementações  de  programas  em  curso,  conforme especificação  definida  e  disciplinada  pelo  Fundo  Nacional  de Desenvolvimento da Educação ‐ FNDE.  Art. 3º  Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.  Brasília,  29  de  setembro  de  2008;  187º  da  Independência  e  120º  da República.  LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA  Samuel Pinheiro Guimarães Neto Fernando Haddad João Luiz Silva Ferreira   

Conforme mais acima destacado, promulgou‐se o Acordo 

e decretou‐se a sua  implementação sem que o vocabulário comum da  língua 

portuguesa estivesse pronto. Tanto assim que neste Decreto nº 6.586 vê‐se a 

determinação aos Ministérios da Educação, da Cultura e das Relações Exteriores 

para  que  adotassem  “as  providências  necessárias  para  elaboração  de  vocabulário 

ortográfico comum da língua portuguesa”. (destacado em negrito)  

De  tal  modo  legislado,  o  Acordo  Ortográfico  de  1990 

encaminha‐se para a obrigatoriedade de sua observância, no Brasil, em 31 de 

dezembro de 2012, data em que se pretende findar a dupla ortografia vigente 

no período de transição.  

Roberto Sobral [email protected]   

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Quadro  absolutamente  diverso  do  que  se  dá  no  âmbito 

dos  integrantes  do  que  se  convencionou  chamar  Comunidade  de  Países  de 

Língua Portuguesa.   

Angola  e Moçambique  ainda  não  ratificaram  o Acordo  e 

algumas de suas autoridades educacionais alegam o que todos os países sabem 

ser  verdadeiro:  “os professores  não aprendem  tais  regras”2. Os demais  ainda 

não  o  implementaram.  Em  Portugal  as  reações  adversas  são  intensas  e 

reiteradas  o suficiente para que se ponha em dúvida a efetiva possibilidade de 

que venha a sê‐lo. São fortes os  indícios de que venha a sofrer prorrogação de 

2015 para 2018.  

E  por  justas  razões,  destacando‐se  como  principal  a 

ausência de participação democrática de  setores  legitimados pelo  interesse e 

pela  qualificação  para  participar  do  processo  de  uma  reforma  ortográfica  na 

língua pátria.  

Veja‐se, a título de exemplo, a forte reação de importante 

intelectual português, o deputado e filólogo Vasco Moura3, que pela adequação 

de suas oportunas críticas merece a reprodução de seus textos, que se segue:  

PARTES DE ÁFRICA 

Vasco Graça Moura 

Diziam os docentes do Departamento de Linguística da Faculdade de Letras de Lisboa na posição que tomaram em 1986 e que já citei aqui por mais  de  uma  vez:  "Estranha‐se  que,  sendo  este  um  acordo  de unificação ortográfica entre países da África, da América e da Europa que  usam  o  português,  não  tenham  sido  previstas  regras  de adaptação  para  a  ortografia  de  palavras  provenientes  de  línguas africanas  que  já  se  tenham  integrado  ou  venham  a  integrar‐se  no português." 

                                                            2 Comentário  insistentemente ouvido nos corredores da Conferência  Internacional  sobre o Futuro da 

Língua  Portuguesa  no  Sistema  Mundial,  promovida  pelo  Ministério  das  Relações  Exteriores  e 

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ‐ CPLP, Palácio do Itamarati, Brasília – DF, em março de 

2010. 

 

3 Vasco Graça Moura é um escritor, ensaísta e político português. Nasceu no Porto, em 1942, e formou‐se em Direito. Em 1999, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu, vivendo, desde então, entre Lisboa e Bruxelas. É colaborador de jornais, revistas e de canais de televisão. Tem muitas das suas obras traduzidas para italiano, francês, alemão, sueco e espanhol. Para lá da poesia e da prosa, é autor de numerosos ensaios, alguns deles premiados, e de excelentes traduções literárias. Recebeu diversos prémios nacionais e internacionais. 

Roberto Sobral [email protected]   

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Isto,  que  se  aplicava  ao  Acordo  Ortográfico  de  1986,  aplica‐se inteiramente ao actual... Quer‐se uma demonstração deveras picante? Pois o Novo Dicionário Universal  da  Língua  Portuguesa  (Texto  Editores),  o  tal  que  se proclama  "conforme o Acordo Ortográfico",  regista nada menos de três  grafias,  três,  para  a  unidade monetária  de  Angola:  "cuanza", "kuanza" e "kwanza"... O Acordo só cura de arrumar a questão entre Portugal e o Brasil. 

... Não  se  preocupa  minimamente  com  o  facto  de  as  pronúncias africanas não estarem bem estudadas. Nem com regras para a grafia de palavras provenientes das  línguas africanas  (ou do concanim, ou do chinês, ou do tétum), como acima se diz. Nessa  perspectiva,  não  enuncia  nenhuma  orientação  para  as distinções gráficas a que se refere a Base III: entre ch e x, entre g e j, entre s, ss, c, ç, e x, entre x e z... 

... São  questões  de  ordem  linguística  a  que  os  defensores  do Acordo continuam a não se dignar dar  resposta no mesmo plano,  tal como não  a  dão  quanto  às  objecções  de  idêntica  índole  que  têm  sido levantadas  no  tocante  às  variedades  lusitana  e  brasileira  do português. É  a  tal  ausência  de  debate  científico  que  Albertino  Bragança, representante  de  S.  Tomé  e  Príncipe,  há  uma  semana,  referia  na Assembleia da República. Será  isto  contribuir  para  a  "unidade"  da  língua? Alguém  se  admira ainda por a Guiné‐Bissau, Angola e Moçambique não terem ratificado o Acordo nem os Protocolos Modificativos? http://www.filologia.org.br/ visualizado em 25/03/2011   

E a mesma alienação de diversos setores  interessados no 

Brasil  foi  levada a efeito, sorrateiramente, pelo Governo de Portugal, segundo 

Vasco Graça Moura, que chegou a conclamar a população à reação, dizendo : "é 

um  acto  cívico  batermo‐nos  contra  o  Acordo  Ortográfico",  que  qualificou  de 

inconstitucional.  Eis  o  texto  publicado  em  LUSA  ‐  Agência  de  Notícias  de 

Portugal, S.A.  03 abril de 20084:  

 O escritor e eurodeputado, que falava na Livraria Byblos em Lisboa a convite da Associação Portuguesa de Editores (APEL) e Livreiros e da União de Editores Portugueses (UEP), disse que "o acordo não leva a unidade nenhuma" e antes de qualquer ratificação havia que chegar a um vocabulário técnico‐científico comum.  Graça Moura disse que ratificar este Acordo era inconstitucional pois "não se pode aplicar na ordem interna um instrumento que não está aceite internacionalmente" e nem assegura "a defesa da língua como património, como prevê a Constituição nos artigos 9º e 68º". 

                                                            4 visualizado em //ww1.rtp.pt/noticias/?article=165192&visual=3&layout=10 

Roberto Sobral [email protected]   

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Vasco Graça Moura considerou o Governo "irresponsável", acusando‐o de agir apressadamente" e de ter mentido ao afirmar que consultou a Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros (que não existe), e mesmo querendo referir‐se á APEL ‐ disse ‐ não o fez. "O Governo não consultou nem a APEL nem a UEP, por isso está a mentir", acrescentou. 

... Segundo enfatizou, no caso do Acordo há duas Academias, a brasileira e a portuguesa, a dialogar entre si, enquanto do lado africano são representantes dos respectivos Governos, "para não falar do simbolismo de Goa e Macau". 

... Por outro lado, acrescentou, o Governo nem consultou pareceres anteriores, nomeadamente os das direcções dos ensinos básico e secundário que em 1986 "manifestaram‐se contra o Acordo". O escritor lembrou ainda que nessa altura "houve uma forte contestação de toda a sociedade ao Acordo que é o mesmo que agora querem ratificar". Graça Moura criticou ainda "o silêncio, em matéria tão crucial como esta, a que se remeteu a actual ministra da Educação", Maria de Lurdes Rodrigues. 

... A ex‐ministra (da Cultura, Isabel Pires de Lima), reputada especialista na obra literária de Eça de Queiroz, disse que não tem "nem muito nem pouco entusiasmo pelo Acordo", mas também não participa "nas cruzadas pró ou contra". 

... Zita Seabra, deputada do PSD e editora, falou da sua experiência, nomeadamente a compra em conjunto por editores portugueses e brasileiros dos direitos de obra. "Combinámos que nós fazíamos a tradução e eles a revisão e numa outra obra trocávamos, mas tivemos de desistir pois ficava mais caro e era mais complicado rever a partir da tradução do que directamente da língua original", disse a responsável pela Alêtheia. Os editores que intervieram no debate foram todos contra a ratificação do Acordo. 

visualizado em //ww1.rtp.pt/noticias/?article=165192&visual=3&layout=10   

Dois destaques acima foram feitos para que não se perca 

de  perspectiva  o  fato  que  aqui  se  denuncia:  o Acordo  evolui  em  um  diálogo 

exclusivo entre as Academias de Letras de Portugal e do Brasil, e os resultados 

são  levados  à  consagração  em  encontros  nos  quais  se  reúnem  os 

representantes  dos  demais  governos  dos  países  signatários,  os  africanos  aos 

quais se somou o asiático Timor‐Leste, cujos dirigentes revelam‐se solenemente 

indiferentes ao que de tudo isso pensam os seus respectivos concidadãos.  

     

Roberto Sobral [email protected]   

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Não  se  sabe  o  que  é  pior:  se  a  contundência  das 

expressões  de  Vasco  Moura,  em  Portugal,  ou  se  a  absoluta  indiferença  da 

intelectualidade  dos  países  africanos,  nos  quais,  simplesmente,  ignora‐se  o 

Acordo ou não se problematiza o que se sabe que não será implementado.  

Importa  consignar,  contudo,  que  no  plano  interno 

brasileiro  considera‐se  “que o Acordo entrou em vigor  internacional em 1º de 

janeiro  de  2007,  inclusive  para  o  Brasil,  no  plano  jurídico  externo”,  na 

conformidade  do  que  expressamente  se  encontra  disposto  no  DECRETO  Nº 

6.583, de 29 de setembro de 2008.  

Se,  em  princípio,  não  haveria  reparos  a  fazer  quanto  à 

diligência governamental de fazer cumprir o que Estado acordara, o mesmo não 

se pode dizer, entretanto, quanto ao modo e conteúdo da imposição que se faz 

no  Brasil,  como  resultado  anômalo  do  Acordo:  a  adoção  de  um  Vocabulário 

Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  gravemente  maculado  por  inadequação 

temporal,  ao  qual  foram  acrescidas  algumas  impropriedades  técnicas  em  um 

processo eivado de ilegalidades, conforme se demonstrará no corpo desta Ação.    

Ao  final,  restará  clara  a necessidade de prorrogação do 

prazo  definido  para  o  fim  da  dupla  ortografia  hoje  consentida  e  efetiva 

implantação  do  referido  Acordo  Ortográfico,  elemento  temporal  de 

importância fundamental para o reajustamento deste, em forma e substância, 

à sua finalidade legal. 

 

III. DOS  FUNDAMENTOS  JURÍDICOS PARA A PRESENTE AÇÃO POPULAR 

EM FACE DO CONTEXTO FÁTICO.   

 

A constituição  federal de 1988 ampliou a abrangência da 

Lei 4717/65, que disciplina a Ação Popular, ao dispor que “qualquer cidadão é 

parte  legítima  para  propor  ação  popular  que  vise  a  anular  ato  lesivo  ao 

patrimônio  público  ou  de  entidade  de  que  o  Estado  participe,  à moralidade 

administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o 

autor,  salvo  comprovada  má‐fé,  isento  de  custas  judiciais  e  do  ônus  da 

sucumbência” (art. 5º, LXXIII). 

Desse modo,  passou‐se  a  incluir  no  âmbito  protetivo  da 

Lei, para além dos  interesses pecuniários, o patrimônio histórico e  cultural, o 

Roberto Sobral [email protected]   

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que  faz  desse  diploma  o  instrumento  necessário  e  adequado  à  defesa  do 

interesse coletivo que constitui o objeto da presente Ação.  

Quer seja entendida a AÇÃO POPULAR como  instrumento 

de  interesses  coletivos  (Hely  Lopes  Meireles),  quer  se  reconheça  nesta  a 

natureza  jurídica de  instrumento do Cidadão para postular direito próprio de 

participação na vida política do Estado Democrático de Direito (José Afonso da 

Silva),  os  requisitos  jurídicos  para  a  sua  propositura  aqui  se  encontram 

presentes:  condição  de  cidadão  brasileiro  do  Autor  (provado  por  título  de 

eleitor em pleno gozo dos seus direitos cívicos e políticos) e ilegalidade de atos 

concretamente  lesivos ao patrimônio  cultural brasileiro  (STJ:  “Para ensejar  a 

propositura de ação popular, não basta ser o ato  ilegal, deve ser ele  lesivo ao 

patrimônio  público”.  Resp  n.º  111.527‐DF,  Rel.  Min.  Garcia  Vieira,  DJU 

20/04/98, p. 23).  

O primeiro requisito, “A condição de cidadão brasileiro do 

Autor”, já se comprovou como preenchido. 

Por  sua  vez, o  requisito da  Ilegalidade há de  reconhecer 

como  presente,  em  número  e  formas  diversas  ao  longo  do  processo  de 

implementação  em curso. Algumas até em claras violações constitucionais, aqui 

evidenciadas. Sem embargo de tais ocorrências, até por impossibilidade jurídica 

do pedido em face das limitações do instrumento “Ação Popular”, não constitui 

objeto  desta  o  reconhecimento  de  inconstitucionalidade,  em  abstrato,  das 

normas de regência, conquanto existam razões suficientes para clamar por uma 

Ação pertinente, desde que algum legitimado para tanto assim o queira.   

Antes  mesmo  que  sejam  apontados  os  atos  ilegais 

praticados pela Autoridades aqui apontadas e pela ABL, pessoas incumbidas da 

execução do Acordo, veja‐se a temeridade com que foi legislado o DECRETO Nº 

6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008, observando‐se os destaques negritados e 

sublinhados dos seus artigos abaixo transcritos:  

DECRETA:  Art.  1º  Nos  termos  do  artigo  2º  do  Acordo  Ortográfico  da  Língua Portuguesa,  os  Ministérios  da  Educação,  da  Cultura  e  das  Relações Exteriores,  com  a  solicitação  de  colaboração  da  Academia  Brasileira  de Letras e de  entidades  afins nacionais  e dos Países  signatários do Acordo, adotarão  as  providências  necessárias  para  elaboração  de  vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa.  Art. 2º Os  livros escolares distribuídos pelo Ministério da Educação à rede pública  de  ensino  de  todo  o  País  serão  autorizados  a  circular,  em  2009, tanto na atual quanto na nova ortografia, e deverão ser editados, a partir 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 32: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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de  2010,  somente  na  nova  ortografia,  excetuadas  a  circulação  das reposições  e  complementações  de  programas  em  curso,  conforme especificação  definida  e  disciplinada  pelo  Fundo  Nacional  de Desenvolvimento da Educação ‐ FNDE.  Art. 3º  Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.  Brasília,  29  de  setembro  de  2008;  187º  da  Independência  e  120º  da República. 

 

Usando  uma  expressão  bem  lusitana,  é  brutal  a 

temeridade  do  que  acima  se  legislou:  esquecendo‐se  de  que  desde  1990  as 

academias brasileira e portuguesa de letras não cumpriram a missão recebida 

de  elaborar  o  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua  portuguesa, 

estabeleceu‐se,  em  setembro  de  2008,  um  prazo  inexequível  para  que  a 

monumental tarefa ficasse pronta a tempo de permitir que os livros escolares 

fossem escritos, produzidos e distribuídos com a nova ortografia já em 2009.  

E,  desta  feita,  os  Ministérios  envolvidos  receberam  a 

determinação de adotar:  

“as  providências  necessárias  para  elaboração  de 

vocabulário  ortográfico  comum  da  língua 

portuguesa”,  com  a  solicitação  de  colaboração  da 

Academia  Brasileira  de  Letras  e  de  entidades  afins 

nacionais e dos Países signatários do Acordo.  

O  grande  mérito  deste  preciso  dispositivo  consiste  no 

respeito  ao  Princípio Democrático,  segundo  o  qual  um  acordo  ortográfico  da 

língua portuguesa não poderia continuar a ser conduzido em ambiente a portas 

fechadas,  como  aqueles  em  que  se  reuniam  as  duas  academias,  de  Brasil  e 

Portugal, sem a participação dos  interessados,  legitimados e qualificados para 

tanto.  

Mas,  resta  difícil  entender,  ainda  que  com  o  mais 

benevolente  dos  raciocínios,  como  seria  possível  identificar  e  convidar  as 

“entidades  afins”,  congregá‐las,  estabelecer método para o  trabalho  coletivo, 

debater  as  colaborações  finalmente  produzidas,  ajustar  a  consistência  do 

trabalho  final,  levá‐lo  à  aprovação  para,  só  então,  a  partir  daí,  publicar  o 

produto, reproduzi‐lo e divulgá‐lo, tudo isso a partir de 28 de setembro de 2008 

a tempo de promover a adoção da nova ortografia no Brasil já em 2009 e 2010?   

E não  se diga que o  texto  se  refere à aceitação da dupla 

ortografia ao longo de 2009, o que levaria a entender que não precisaria se ter 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 33: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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tudo pronto em pouco mais de três meses. Pois bem: ainda que se considerasse 

todo o ano de 2009 como prazo para tal elaboração, este elástico entendimento 

não  afastaria  a  realidade  de  que,  além  de  todas  as  demoradas  providências 

apontadas no parágrafo anterior ainda  faltariam aquelas próprias do  seguinte 

(inevitável)  processo:  (1)  trabalho  dos  autores  de  livros  didáticos  para  a 

adaptação dos livros, segundo a exclusiva adoção da nova ortografia para 2010; 

(2)  projeto  gráfico  de  cada  livro;  (3)  produção  gráfica  industrial;  (3) 

encaminhamento  para  a  central  do  FNDE;  (4)  distribuição  às  unidades  de 

ensino. 

Supondo‐se que estas últimas providências ocupassem, ao 

menos, todo o segundo semestre de 2009, restaria exigível que, antecedendo‐

as, em apenas pouco mais de nove meses (de 29 de setembro de 2008 a 30 de 

junho de 2009)  se desse a  “elaboração de  vocabulário ortográfico  comum da 

língua portuguesa“, com a “colaboração da Academia Brasileira de Letras e de 

entidades afins nacionais e dos Países  signatários do Acordo”. Um parto mais 

que prematuro, impossível. 

Claro,  olhando  para  trás,  sabe‐se  que  desta  fase  de  que 

trata o parágrafo anterior nunca se cuidou.    

A ABL, depois que o Autor passou a publicar a crítica acima 

exposta,  passou  a  defender‐se  sob  o  argumento  de  que  o  Vocabulário 

Ortográfico  Comum  da  Língua  Portuguesa  foi  pensado  tão  somente  para 

inventariar os termos técnicos e científicos, para uso comum, nunca tendo sido 

pressuposto  para  um Vocabulário Ortográfico  da  Língua  Portuguesa,  o VOLP, 

que assim poderia ser elaborado  independentemente do vocabulário COMUM. 

Como assim o fez.   

Ainda que o sucesso da presente demanda não dependa 

do acolhimento deste ponto que a ABL busca controverter (vez que sobejam 

outras  ilegalidades  sobre  as  quais  se  fundam  a  presente  Ação)  é  de  se 

examinar  a  pertinência  lógica  de  tal  tese.  Reveja‐se  o  que  diz  o  Acordo 

assinado em 1990, em seu artigo 2º: 

Os  Estados  signatários  tomarão,  através  das  instituições  e  órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de janeiro  de  1993,  de  um  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua portuguesa,  tão  completo  quanto  desejável  e  tão  normalizador  quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.  

 

Roberto Sobral [email protected]   

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À  primeira  vista,  esquecendo‐se  das  interpretações 

sistemática e  teleológica, assim  reduzindo‐se à  literal  interpretação do que  se 

encontra entre vírgulas ‐ “..., tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto 

possível,” – como predicativos a  intervalar a expressão “elaboração, até 1 de  janeiro 

de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa... ...no que se refere às 

terminologias científicas e técnicas”, até parece lógico. Do que resultaria, entretanto, 

um vocabulário comum  reduzido a mero  repositório dos vocábulos  técnicos e 

científicos.    

Mas,  é  de  se  perguntar:  qual  o  sentido  de  uma  assim 

instituída Comunidade de Países de  Língua Portuguesa  vir  a  lançar‐se em um 

grandioso  e  demorado  esforço  de  elaboração  de  uma  reforma  ortográfica, 

capaz de unificar a  língua escrita dos povos envolvidos,  todavia  reduzindo‐a a 

um vocabulário comum de termos técnicos e científicos?  

Neste papel melhor ficaria a ABNT‐ a Associação Brasileira 

de  Normas  Técnicas  e  suas  congêneres  dos  países  signatários.  É  preciso  um 

enorme esforço de boa vontade, para não dizer  leniência, para entender que 

não se busca um dicionário comum que reúna o vocabulário comum da  língua 

portuguesa,  tão  completo  quanto  possível.  No  que  concerne  aos  termos 

técnicos e científicos, tão normalizador quanto possível.  

Ou  seja, o  texto, necessariamente  interpretado de modo 

teleológico, segundo o propósito original do Acordo Ortográfico da Comunidade 

dos Países de Língua Portuguesa,  só pode conduzir à compreensão de que os 

predicativos,  situados  entre  vírgulas,  estão  associados  cada  a  um  a  um 

específico substantivo. Veja‐se: 

1) ...”um  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua 

portuguesa, tão completo quanto desejável”; 

2) ...“e tão normalizador quanto possível, no que se refere 

às terminologias científicas e técnicas. 

 Discrepa  do  espírito  original  do  Acordo,  tido  como 

fundamento da CPLP, que o Vocabulário Comum da Língua Portuguesa venha a 

ser reduzido a termos técnicos e científicos. Beira a má‐fé a argumentação que 

se conduz neste sentido, que só serve como tentativa de justificação do que se 

precipitou.  

Considerando a finalidade do Acordo, portanto, só se pode 

aceitar a interpretação que conduz ao entendimento de que quando se fala em 

“tão  completo  quanto  possível”  está  a  se  falar  de  um  acervo  ortográfico 

Roberto Sobral [email protected]   

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comum; e quando se  fala em “tão normalizador quanto possível” a  referência 

desloca‐se  para  termos  técnicos  e  científicos.  Normas,  normalizar  e  até 

normatizar, são expressões correlacionadas a normas técnicas.  

Aliás, contradizendo‐se, neste aspecto, veja‐se o segundo 

parágrafo  da  nota  editorial  da  5ª  edição  do  VOLP,  em  que  a  comissão  de 

lexicografia da ABL diz: “Neste sentido, a 5ª edição do VOLP pretende fazer um 

registro  o mais  completo  possível não  só dos  vocábulos  de  uso  comum  como 

também da terminologia científica e técnica.” (grifo nosso) 

Ou  seja,  a  própria  ABL,  reconhecendo  a  distinção  entre 

“vocábulos de uso comum” e a “terminologia científica e técnica”, na 5ª edição 

do seu VOLP apresenta‐se com a pretensão de ter realizado “um registro o mais 

completo  possível  não  só  dos  vocábulos  de  uso  comum  como  também  da 

terminologia científica e técnica”. 

Mas,  de  tal  pretensão  pode‐se  entrever  aí  incluso  o 

“vocabulário ortográfico  comum da  língua portuguesa” ou de entender a  sua 

prescindibilidade para a implementação do Acordo no Brasil? 

Evidentemente que não. Em primeiro  lugar, não  se pode 

desprezar ou confundir as duas acepções para a palavra “COMUM” que exigem 

distinção: enquanto vocábulo de uso “comum” refere‐se à diferenciação relativa 

do  que  não  é  vocábulo  próprio  da  “terminologia  científica  e  técnica”,  a 

expressão “vocabulário comum”, no presente contexto, remete ao conceito de 

COMUNIDADE de Países de Língua Portuguesa. 

Ora,  ora,  ora!  Em  segundo  lugar,  com  que  raios  de 

interesses haveria de se buscar um Acordo Ortográfico para a Comunidade dos 

Países de Língua Portuguesa senão para tratar da ortografia da língua COMUM, 

conforme a segunda acepção?    

Dizer  que  o  AOLP  não  pretendia  um  vocabulário 

ortográfico  comum a  todos os países  signatários que  reunisse, do modo mais 

completo  possível,  os  vocábulos  de  uso  comum  e  os  de  uso  próprio  da 

terminologia  científica  e  técnica  (segundo  expressão  da  própria  ABL)  é  um 

grosseiro  sofisma  a  buscar  verossimilhança  em  uma  interpretação  literal  de 

excerto de texto legal de modo absolutamente dissociado da finalidade original 

do próprio Acordo Ortográfico de 1990. 

E não  é difícil  imaginar, diga‐se,  com  esforço mínimo de 

imaginação, o rico inventário que resultaria de um vocabulário comum da língua Roberto Sobral [email protected]   

Page 36: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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portuguesa, com todos os particulares significados de cada vocábulo que se usa 

adotar em cada país signatário do Acordo. O que não seria nenhuma novidade, 

senão  quanto  à  riqueza  do  acervo,  vez  que  Caldas  Aulete  e  Houaiss,  dentre 

muitos  outros  notáveis,  já  exibiam,  entre  parênteses,  a  origem  de  cada 

particular acepção.  

O  que  não  prejudicaria  que  em  cada  país  fossem 

organizados  dicionários  diferenciados  pela  exibição  primeira  da  acepção  local 

mais comum para cada vocábulo, sem perda da riqueza do  registro do que se 

diz  por  via  desse  ou  daquele  vocábulo  em  Angola,  São  Tomé  e  Timor,  por 

exemplo.  

Inegável  resta,  contudo,  que  o  que  se  pretende 

implementar  no  Brasil  desvia‐se  fortemente  desse  objetivo maior,  que  seria 

reforçar a base ortográfica dos países da comunidade de  língua portuguesa, o 

que  só  será  possível  quando  se  retomar  o  caminho  de  construção  do 

vocabulário ortográfico comum. 

Um  desvio  de  finalidade  que  tem  um  claro  objetivo: 

justificar a publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa editado 

pela  Academia  Brasileira  de  Letras,  como  se  a  simples  reedição  do  clássico 

“Pequeno Dicionário” com a adoção das regras ortográficas acordadas em 1990 

fora  suficiente  (o que mais adiante  se demonstra que  também não  se  fez de 

modo fiel ao que se acordara).         

Mas  não  é.  Não  é  suficiente  a  simples  adaptação  dos 

vocábulos de uso comum de um país  isolado, porquanto  isso não  traduziria o 

que  renitentemente  os  textos  de  acordo,  protocolo  e  decretos  exigem:  um 

“vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa”. E o reconhecimento de 

que o vocabulário “comum” ainda não houvera sido concluído veio reiterando‐

se  em  todos  os  textos,  até  o Decreto  n  º  6586  de  28  de  setembro  de  2008, 

aquele que ordenara a implementação do Acordo.  

Fato é que, apesar da pretensão, o VOLP em sua 5ª edição 

– impresso e publicado em 19 de março de 2009, ou seja, menos de seis meses 

depois do Decreto acima citado ‐ não  logrou realizar “registro o mais completo 

possível  não  só  dos  vocábulos  de  uso  comum  como  também  da  terminologia 

científica e técnica.” 

Por  uma  simples  razão:  não  se  inventariou  as  diversas 

acepções para um mesmo vocábulo que se dá nos diversos países signatários, e 

Roberto Sobral [email protected]   

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sem o quê não há que se falar em vocabulário “comum”. Não é sem razão que 

as  vozes  d’África  registram  a  remanescência  do  colonialismo  português  e  a 

exsurgência de um imperialismo brasileiro sobre o Acordo Ortográfico de 1990. 

As duas academias de letras desses dois países conduziram e conduzem o feito 

a ser imposto aos africanos e timorenses. Como também, a nós outros. 

Considerando a interpretação teleológica acima procedida, 

resta  compreender  qual  era  a  perspectiva  de  quem  assinava  o  Decreto  em 

setembro de 2008, o Excelentíssimo Presidente da República.  

Será que o Presidente  foi convencido de que era possível 

implementar o Acordo Ortográfico sem que estivesse pronto aquilo que acima 

se demonstrou como o seu pressuposto, o Vocabulário Ortográfico Comum da 

Língua Portuguesa?  

Ou  será  que  foi  convencido  de  que  o  VOCLP  já  estava 

pronto,  ainda  que  reduzido  a  simples  inventário  de  expressões  técnicas  e 

cinetíficas?  

Ou ainda, convenceram‐no de que seria possível em prazo 

tão curto proceder ao cumprimento de todas as etapas mais acima esboçadas, 

do que resultara um decreto assinado de modo temerário, enganando‐se todos 

quanto à complexidade da tarefa?  

Assumida  a  hipótese  em  que  se  pressupõe  pronto  o 

VOCLP, pergunta‐se: onde ele está? Como nunca foi exibido. O que até aqui se 

imprimiu e se fez circular foi o VOLP da ABL, nunca o VOCLP.  

Mas esta hipótese não pode ser aceita, porque implicaria o 

paradoxo do dispositivo que manda solicitar apoio de todas aquelas entidades 

afins para elaborar o que  já estaria pronto. Ora, um decreto não pode mandar 

fazer o que  já  foi  feito. Se mandou  fazer é porque reconhecia que não o  fora, 

restando admitir a temeridade com que se  legislou o dispositivo mandamental 

da missão temporalmente impossível.  

Fala‐se  em  temeridade  para  salvaguardar  o  princípio  da 

boa‐fé. Afinal, também os de boa‐fé se enganam. 

Boa‐fé, todavia, difícil de ser explicada para todos os pais e 

mães que, convencidos e obrigados intimados a aceitar “o fato” de que o VOLP 

correspondia à consolidação do Acordo de 1990 em  terras brasileiras, tiveram 

que  comprar  novas  gramáticas  e  ainda  comprar  os  demais  livros  renovados 

Roberto Sobral [email protected]   

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segundo  a  “nova  ortografia  oficial”,  com  o  que  tiveram  de  jogar  fora  todos 

aqueles volumes que serviriam para os irmãos menores. 5 Para estes, tudo havia 

de ser comprado sob a nova ortografia, exclusiva e obrigatória, a partir de 2010.  

Sem  falar  no  dispêndio  público  de  R$  690.000.000,00 

(seiscentos e noventa milhões de reais) apregoado como gasto pelo governo na 

distribuição  dos  livros  didáticos  de  2010,  conforme  notícia  divulgada  pelo 

próprio Governo Federal:      

Investimento em livros para rede pública de ensino será de R$ 690 milhões

Escrito por Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República Seg, 08 de Fevereiro de 2010 11:26

Os investimentos do governo federal para abastecer as escolas públicas brasileiras com obras didáticas de qualidade somam R$ 690 milhões em 2010.

Somente para os livros a serem usados por alunos do 1º ao 5º ano (português, matemática, entre outros) serão R$ 427,6 milhões de investimento em aquisição e R$ 85,8 milhões em distribuição. Além disso, livros de reposição serão comprados e distribuídos para estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental (R$ 80 milhões) e das três séries do ensino médio (R$ 97 milhões).

No ensino fundamental, os alunos do 1º e 2º ano recebem livros de alfabetização matemática e alfabetização linguística. Há ainda a distribuição de obras reutilizáveis de ciências, história, geografia, matemática e língua portuguesa.

...Já para o ensino médio, a distribuição envolve livros de língua portuguesa, matemática, história, geografia, biologia, química e física.Em 2009, o governo federal investiu R$ 577,6 milhões na compra de livros didáticos para a educação básica e R$ 112,8 milhões na distribuição dessas obras para todo o País.

A ação é resultado dos três programas do Ministério da Educação (MEC) relacionados à questão do livro didático - o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) e o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA) – executados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que distribui os livros.

Bibliotecas nas escolas

O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) foi criado em 1997 para facilitar o acesso à cultura e à informação, além de incentivo ao hábito da leitura em alunos, professores e comunidade. É por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência que o MEC apoia o cidadão no exercício da reflexão, da criatividade e da crítica.

Para 2010, os acervos serão compostos por títulos de poemas, contos, crônicas, teatro, textos de tradição popular, romances, memórias, biografias, ensaios, histórias em quadrinhos e obras clássicas. São cerca de 10,7 milhões de livros, que serão distribuídos a todas as escolas públicas da educação infantil -- 31.526 escolas para crianças até 3 anos e 81.607 para alunos de 4 e 5 anos; 122.742 escolas do ensino fundamental (anos iniciais); e 39.696 escolas da

                                                            5 Uma família que contava com dois adolescentes em anos sucessivos do ensino médio amargou um prejuízo de mais de seiscentos reais na compra de novo material didático que veio a substituir aquele que poderia ter sido reutilizado.   

Roberto Sobral [email protected]   

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educação de jovens e adultos.

PNBE Professor 2010

Em 2010, os professores da rede pública terão livros específicos para orientá-los como ensinar em cada disciplina da educação básica. Além do cunho metodológico, as obras focarão a prática com o aluno durante as aulas e serão divididas em cinco segmentos: anos iniciais do ensino fundamental; anos finais do ensino fundamental; ensino médio; ensino fundamental da educação de jovens e adultos; e ensino médio da educação de jovens e adultos.

Outra iniciativa para 2010 será a distribuição de periódicos às bibliotecas das escolas públicas. As revistas servirão como complemento à formação e atualização dos docentes e demais profissionais da educação. Para serem adquiridas pelo FNDE, as publicações precisam comprovar no mínimo um ano de circulação e apresentar periodicidade de quatro a 12 edições anuais.

 

Além  desses  adicionam‐se  as  perdas  significativas  dos 

estudantes particulares e demais consumidores de  livros didáticos, gramáticas, 

dicionários etc. 

Como  bem  se  vê,  não  se  pode  dizer  que  não  houve 

consequência  material  expressiva  do  que  se  legislou,  em  face  dos  gastos 

públicos  e  particulares  assim  comprometidos.  Aos  quais  se  acrescentam 

inúmeras outras consequências dispendiosas, como formulários das repartições, 

placas de sinalização, manuais técnicos etc.  

Do  que  deriva  comprometido  o  princípio  da  eficiência, 

requisito  constitucional  (artigo  37  da  CF)  ausente  naquele  Decreto  de 

implementação do Acordo.  

Agora,  examine‐se  o  pressuposto  objetivo  daquele 

Decreto, o motivo, sob a inteira lição de Celso Antônio Bandeira de Mello:  

“Motivo é o pressuposto do fato que autoriza ou exige a prática 

do ato. É, pois, a situação do mundo empírico que deve ser tomada em 

conta  para  a  prática  do  ato.  Logo,  é  externo  ao  ato.  Inclusive  o 

antecede.  Por  isso  não  pode  ser  considerado  como  parte,  como 

elemento do ato.  

O motivo pode ser previsto em lei ou não. Quando previsto em 

lei,  o  agente  só  pode  praticar  o  ato  se  houver  ocorrido  a  situação 

prevista.”6 

                                                            6 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio in Curso de Direito Administrativo, 13ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000, pg.354.  

Roberto Sobral [email protected]   

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Ora a  situação prevista,  como  antecedente  lógico para  a 

produção  e  distribuição  da  gigantesca  massa  de  livros  didáticos,  era  a 

elaboração do VOCLP, que, repita‐se: não chegou a existir.  

Prossegue o Professor Celso Antônio:  

“Quando  não  há  previsão  legal,  o  agente  tem  liberdade  de 

escolha  da  situação  (motivo)  em  vista  da  qual  editará  o  ato.  É  que, 

mesmo se a lei não alude expressamente aos motivos propiciatórios ou 

exigentes de um ato, nem por isso haverá liberdade para expedi‐lo sem 

motivo  ou  perante  um motivo  qualquer.  Só  serão  de  aceitar  os  que 

possam  ser  havidos  como  implicitamente  admitidos  pela  lei  à  vista 

daquele caso concreto, por corresponderem a supostos fáticos  idôneos 

para  demandar  ou  comportar  a  prática  daquele  específico  ato, 

espelhando,  dessarte,  sintonia  com  a  finalidade  legal,  Vale  dizer: 

prestantes  serão  os  motivos  que  revelem  pertinência  lógica, 

adequação  racional  ao  conteúdo  do  ato,  ao  lume  do  interesse 

prestigiado na lei aplicada. (destaques)7  

Considerando  que  a  finalidade  legal  do  Decreto,  como 

todos  sabem,  é  a  concretização  do Acordo Ortográfico  da  Língua  Portuguesa 

segundo o compromisso assumido pelo Brasil perante os demais signatários, o 

que  não  se  obteria  ausente  o  pressuposto  fático  do  VOCLP,  segue‐se  a 

conclusão da doutrina aqui acolhida: 

“Além disto, em todo e qualquer caso, se o agente se embasar 

na  ocorrência  de  um  dado motivo,  a  validade  do  ato  dependerá  da 

existência do motivo que houver sido enunciado, isto é, se o motivo que 

invocou for inexistente, o ato será inválido.” 

Do que decorre  a  lógica  conclusão:  inexistente o VOCLP, 

pressuposto fático do Decreto, e não havendo a menor adequação racional ao 

conteúdo do ato  (quem apontaria  racionalidade, adequação dos meios ao  fim 

pretendido no demandar a portentosa tarefa no indigitado tempo inexequível?) 

é  de  se  ter  como  inválido  o  Decreto,  por meio  do  qual  foi  encomendada  a 

grandiosa  tarefa,  desconsiderando‐se  que  desde  1990  são  fixados  e 

descumpridos todos os prazos razoáveis fixados para tal fim.  

Escrevendo  sobre  Ação  Popular,  em  obra  atualizada  por 

Arnold Wald e Gilmar Ferreira Mendes, registra o saudoso Hely Lopes Meireles 

que esta “tem fins preventivos e repressivos da atividade administrativa ilegal e 

                                                            7  

Roberto Sobral [email protected]   

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lesiva  ao  patrimônio  público”,  e,  fazendo  referência  aos  atos  lesivos  ao 

patrimônio público, conforme o texto constitucional relativo à matéria (art. 5º, 

LXXIII),  lembra que na “ampla acepção administrativa, ato é a  lei, o decreto, a 

resolução, a portaria, o contrato e demais manifestações gerais ou especiais de 

efeitos concretos, do Poder Público e dos entes com funções públicas delegadas 

ou equiparadas”.8  

Conjugando  as  lições  dos  doutos  Celso  Antônio  e  Hely 

Lopes  ressalta  cristalina  a  invalidade  do  ato  consubstanciado  no  decreto  de 

implementação do Acordo Ortográfico de 1990,  já pelo que  acima  se  aduziu. 

Observa‐se  que  em  uma mesma  data,  com  propósitos  concatenados,  foram 

publicados quatro decretos:  

1. DECRETO  Nº  6.583,  DE  29  DE  SETEMBRO  DE  2008:  

“Promulga o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, 

assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990”. 

2. DECRETO  Nº  6.584,  DE  29  DE  SETEMBRO  DE  2008: 

“Promulga  o  Protocolo  Modificativo  ao  Acordo 

Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Praia, 

em 17 de julho de 1998”. 

3.  DECRETO  Nº  6.585,  DE  29  DE  SETEMBRO  DE  2008: 

“Dispõe  sobre  a  execução  do  Segundo  Protocolo 

Modificativo  ao  Acordo  Ortográfico  da  Língua 

Portuguesa, assinado em São Tomé, em 25 de julho de 

2004”. 

4.  DECRETO  Nº  6.586,  DE  29  DE  SETEMBRO  DE  2008: 

“Dispõe sobre a  implementação do Acordo Ortográfico 

da Língua Portuguesa”. 

 

O  que  logo  acima  se  lê  é  o  resultado  do  mais  puro 

voluntarismo político, pouco responsável, com que este assunto foi conduzido. 

E, na  linguagem própria dos Administrativistas, pergunta‐se: ajusta‐se o ato ao 

fim  colimado?  Pode‐se  apoiar  algo  assim,  impensado,  em  discursos 

conservadores de oportunidade e conveniência?  

                                                            8 MEIRELES, Hely et alii, “Mandado de Segurança e Ações Constitucionais”, São Paulo: Malheiros, Pg. 177. 

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Page 42: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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Evidente que não.  

Se  o  Presidente  da  República  e  três  Ministros  de  seu 

Governo  foram  induzidos  em  erro  por  aqueles  que  teriam  dado  a  entender 

como  pronto  o  Vocabulário  Comum  que  nunca  veio  a  ser  elaborado,  não  se 

sabe.  Configurando‐se  tal  hipótese  é  de  vir  a  ser  examinada  pelo Ministério 

Público Federal, em face de possível infração penal.  

De  toda  sorte,  do  quadro  exposto  desdobram‐se  as 

seguintes ilegalidades:  

1.  O  descumprimento  por  parte  dos  Ministérios  da 

Educação, da Cultura e das Relações Exteriores, primeiros incumbidos de adotar 

as  providências  para  a  elaboração  do  Vocabulário  Comum,  quando 

efetivamente não adotaram, bem assim a inobservância do dever de solicitar a 

colaboração  “de  entidades  afins nacionais”, prosseguindo no  antidemocrático 

cometimento de exclusiva atribuição da tarefa para a ABL;  

2. A distribuição dos  livros  escolares  à  rede pública  com 

base  no  Vocabulário  Ortográfico  Comum  da  Língua  Portuguesa  que  nunca 

chegou  a  ser  concluído,  segundo  a  atuação  executiva  do  Ministério  da 

Educação, Órgão do Governo que se incumbiu dessa atividade.9 E ainda que mal 

se entenda que o VOCLP não seria requisito para o VOLP, este, em sua 5ª edição 

não  poderia  ser  tido  como  produto  oficial  do  Acordo  Ortográfico,  e  assim 

imposto à produção e distribuição, nem servir de base para a alteração de todos 

os  livros escolares, porquanto  introduz alterações unilaterais com violações às 

regras do próprio Acordo a que deveria se submeter, como pretenso veículo de 

sua  implementação.  Das  inovações  unilaterais  que  representam  violações  ao 

acordado e que nunca  foram submetidas ao Congresso Nacional, mais adiante 

se tratará.  

Todo  aquele  esforço  governamental,  com  forte  e 

crescente  inversão  de  dinheiro  público  (os  impressionantes  R$  690 milhões, 

somente em 2.010)  foi  realizado no ano de 2010 como decorrência das novas 

bases ortográficas estabelecidas em desconformidade com a Lei. 

3. Da parte da Academia Brasileira de  Letras  registra‐se 

como  primeira  ilegalidade  a  atuação  contrária  ao  interesse  manifesto  do 

                                                            9 De se lembrar, em todo esse processo, a importância do FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, autarquia federal criada pela Lei no 5.537, de 21 de novembro de 1968, vinculada ao Ministério da Educação, órgão de execução das políticas públicas de investimento em livros para distribuição gratuita para rede pública de ensino. 

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Acordo de 1990 desde o nascedouro, quando participante e  representante do 

Brasil na construção daquele movimento levou a impressão de que o texto que 

ali  surgia  era  fruto  de  um  debate  aprofundado  no  País.  Tanto  assim  que  o 

Acordo foi publicado expressando a seguinte consideração:  

 

Considerando que o  texto do acordo que ora se aprova  resulta de 

um aprofundado debate nos Países signatários,...  

Artigo 1o  

É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que consta 

como  anexo  I  ao  presente  instrumento  de  aprovação,  sob  a 

designação de Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) e vai 

acompanhado da respectiva nota explicativa, que consta como anexo 

II  ao mesmo  instrumento de  aprovação,  sob  a designação de Nota 

Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).  

 

Pois  bem,  ali  surgia  o Acordo  com  todas  as  suas  regras, 

fruto de produção exclusiva da Academia Brasileira de Letras, no que concerne à 

participação  brasileira,  o  que  fez  em  face  da  omissão  dos  Ministérios  da 

Educação, da Cultura e das Relações Exteriores, mantendo a atitude de quem 

tem  atribuição  exclusiva  para  adotar  as  providências  ali  apontadas  como 

“necessárias  para  elaboração  de  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua 

portuguesa”.  

Eis  a  razão  pela  qual  a ABL  recusou  a  representar‐se  na 

audiência pública no Congresso Nacional,  comportamento evasivo  igualmente 

adotado  pelo Ministério  da  Educação.  As  “entidades  afins  nacionais”  jamais 

foram solicitadas ou admitidas ao círculo restrito da tarefa técnica que, até por 

isso,  não  chegou  a  ser  cumprida:  a  “elaboração  de  vocabulário  ortográfico 

comum da língua portuguesa”.  

Se as  “entidades afins” nacionais não  foram  solicitadas a 

contribuir,  pior  se  deu  com  relação  às  possíveis  entidades  contribuintes  dos 

países signatários do Acordo.  

No plano  interno basta que  se  indague aos dirigentes da 

Associação  Brasileira  de  Imprensa,  da  Ordem  dos  Advogados  do  Brasil,  das 

associações  de  Magistrados  e  de  Membros  do  Ministério  Público,  se 

efetivamente foram convidados a participar da reforma ortográfica? 

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E se estas não forem consideradas “entidades afins”, quais 

seriam?  Quem  dera  fossem  chamados,  por  suas  entidades,  poetas, 

compositores, dramaturgos,  filólogos, professores de português. Não! Não  se 

tem  notícia  de  qualquer  convocação  neste  sentido.  Pelo  contrário, 

didaticamente, comportando‐se como dona do  idioma, a ABL mantém em seu 

endereço eletrônico um acesso para esclarecimento de dúvidas a  respeito da 

nova  ortografia,  atitude  de  quem  dispõe  desse  patrimônio  comum, 

desconhecendo qualquer autoridade que não seja ela mesma para o assunto. 

E  como  entidade  que  atuava  sob  delegação  estatal, 

consciente  das  normas  de  Regência,  é  de  ser  responsabilizada  a  ABL  pelo 

comportamento exclusivista no  tratamento da matéria,  indiferente às normas 

estabelecidas.  

4. Como  segunda  ilegalidade  a  ser  imputada  à  ABL 

sobreleva  em  importância  o  não  cumprimento  do  dever  de  registro  o mais 

completo  possível  não  só  dos  vocábulos  de  uso  comum  como  também  da 

terminologia científica e técnica.   Cometida a tal tarefa desde 1990, a ABL não 

só  não  o  fez,  como,  muito  provavelmente  iludiu  as  autoridades  que  nela 

confiaram dando a  impressão de que  já existia tal produto ou de que este não 

era pressuposto para a implementação do Acordo.  

5.  E  como  terceira  ilegalidade  a  ser  imputada  à  ABL,  

assim  surgiu o VOLP,  sem  a expressão  “comum”, Vocabulário Ortográfico da 

Língua  portuguesa,  que  ganhou  a  chancela  de  obra  oficial,  cujo  conteúdo 

tornou‐se referencial cogente por  tudo que vier a ser produzido na  linguagem 

escrita do Brasil. Ainda que se admita que as autoridades não chegaram a ser 

iludidas  pela  ABL,  contudo,  nada  justifica  o  descumprimento  ao  mais  claro 

objetivo  do  Acordo,  qual  seja,  a  não  elaboração  do  Vocabulário  Ortográfico 

Comum da Língua Portuguesa.  

Registre‐se,  retomando  a  análise  sobre  o  tema  acima 

realizada, que para o Eminente Acadêmico Professor Evanildo Bechara o VOLP 

não desrespeita o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, AOLP, na medida 

em que a determinação de elaboração de um vocabulário ortográfico comum 

estaria restrita às terminologias científicas e técnicas. Por este raciocínio, a ABL 

estaria livre para fazer o seu VOLP independente do vocabulário comum.  

  O  que,  aduzindo  por  acréscimo  ao  que  já  foi  dito,  seria 

verdade  se  fossem  observados,  ao menos,  três    pressupostos:  a  de  que  tal 

repertório técnico‐científico efetivamente fosse elaborado; que o VOLP incluísse 

Roberto Sobral [email protected]   

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tal  repertório  em  seu  acervo;  e  que  não  se  falasse  em  regras  ortográficas 

comuns e cogentes para todos os que escrevem em língua portuguesa, como se 

tais  regras  fossem  decorrentes  do  Acordo,  aquele  que  foi  assinado  sob  a 

pretensão  de  expressar  o  resultado  de  aprofundados  debates  nos  países 

signatários.  

  Nenhum dos pressupostos, todavia, foi observado. Não se 

fez  o  tal  Vocabulário  Comum  das  Expressões  Técnicas  e  Científicas,  que, 

inexistente, por óbvio não veio a estar  incluído no VOLP e não se teve o pudor 

de  esclarecer  que  o  VOLP  jamais  poderia  ser  considerado  expressão  de  um 

vocabulário ortográfico comum da  língua escrita na comunidade dos países de 

língua portuguesa.  

Pelo  contrário,  a  boa‐fé  da  cidadania  brasileira  vem 

sofrendo a adoção de regras imprecisas do VOLP acreditando que está a pagar o 

preço pela  comunhão da  Língua Comum,  segundo o  sonho de  valorização do 

patrimônio  que  conforma  essa  particular  comunidade  Internacional  formada 

por Portugal e suas ex‐colônias.  

E para arrematar a cabal demonstração de ilegalidade, no 

que  concerne  a  este  ponto,  veja‐se  o  absurdo  dos  absurdos:  ainda  que  se 

admita como verdade que  toda a  imensa publicidade que se  fez em  torno da 

importância  do  Acordo  Ortográfico  da  Língua  Portuguesa,  o  Acordo,  em 

verdade, não passava de um mero  registro de expressões  técnico‐científicas, 

como explicar, que ainda assim a ABL conseguiu descumprir o Acordo? 

Ora pois, pois! Assim foi. A ABL desrespeitou o Acordo 

grafando  expressões  científicas  contrárias  as  regras  trazidas  em  seu 

texto. E, somente para registrar o que se inicia pela letra “A”, veja‐se: o VOLP 

prescreve  as  grafias  anidro,  anidrido  ou  anídrido,  da  química;  anidrita,  da 

mineralogia;  anidrose,  da  medicina  e  botânica;  anidrobiose,  da  biologia; 

anepático, anepatia, da medicina... todas em desobediência ao Acordo, que 

orienta para essas palavras o uso do hífen em an‐hidro, an‐hidrido, an‐

hidrose etc. 

  Ou  seja,  se  os  Estados  signatários,  em  desrespeito  ao 

artigo  2º,  não  elaboraram  o  VOCLP,  condição  básica  para  a  implantação  do 

Acordo,  quem  teria  dado  autorização  para  alterar  terminologias  científicas  e 

técnicas e assim incluí‐las no VOLP? Ninguém. Mas, como visto acima, a equipe 

liderada pelo Professor Bechara assim o fez.   

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5. Aí já se adentra no campo da quarta ilegalidade a ser 

imputada à ABL: o desrespeito às regras do próprio ortográfico que se sentia 

incumbida de  impor ao Brasil. Assim, descumprindo o Acordo, a   ABL  legislou 

de modo unilateral, grafando palavras desviando‐se das regras preestabelecidas 

sem a ninguém consultar e sem, ao  fim,  levar as suas alterações à discussão e 

aprovação  do  Congresso  Nacional,  destarte  descumprindo  o  texto  diversas 

vezes repetido nos decretos que trataram da matéria, dentre os quais se inclui o 

vigente Decreto 6.584 de 2008, verbis:  

 

Art.  2o  São  sujeitos  à  aprovação  do  Congresso  Nacional quaisquer  atos  que  possam  resultar  em  revisão  do  referido Protocolo,  assim  como  quaisquer  ajustes  complementares  que, nos  termos  do  art.  49,  inciso  I,  da  Constituição,  acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.  

 

      E  para  que  não  se  busque  justificar  tais  alterações 

unilaterais,  ilegais,  como  sendo  criação  brasileira  para  melhorar  alguns 

problemas  técnicos  do  acordo,  impõe‐se  considerar,  ainda  que  com  algum 

prejuízo  para  a  continuidade  do  texto  que  aqui  se  desenvolve,  o  exame  da 

lesividade ao patrimônio  cultural  linguístico brasileiro que  resulta do Acordo 

Ortográfico de 1990.   

        Aqui  a  “lesividade”,  requisito  tido  como  indispensável  à 

Ação Popular, verifica‐se em  face de bem não material, ainda que dela possa 

resultar  prejuízo  desta  natureza,  consoante  entendimento  de  Hely  Lopes 

Meirelles:  

  “Na  conceituação  atual,  lesivo  é  todo  ato  ou  omissão 

administrativa  que  desfalca  o  erário  ou  prejudica  a  Administração, 

assim como o que ofende bens ou valores artísticos, cívicos, culturais, 

ambientais ou históricos da comunidade.”...”Na verdade, tanto é lesiva 

ao patrimônio público a alienação de um imóvel por preço vil, realizada 

por favoritismo, quanto a destruição de um recanto ou de objetos sem 

valor  econômico, mas  de  alto  valor  histórico,  cultural,  ecológico  ou 

artístico  para  a  coletividade  local.”...“Desse  entender  não  dissente 

Bielsa,  ao  sustentar,  em  substancioso  estudo,  que  a  Ação  Popular 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 47: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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protege  interesses  não  só  de  ordem  patrimonial  como,  também,  de 

ordem moral e cívica”.10     

Sem dúvida, o  conceito  jurídico de  lesividade há que  ser 

considerado em face da relevância da Causa aqui trazida a Juízo, que não é de 

pequena dimensão.  

Da  importância  de  uma  reforma  ortográfica  e  o 

subsequente  estabelecimento  de  um  dicionário  ortográfico  da  língua 

portuguesa  o  que  diriam  Rui  Barbosa  e  Machado  de  Assis,  este  que  foi  o 

primeiro  presidente  Academia?  Sem  a  língua  escrita  o  que  destas 

personalidades,  cultoras  do  idioma,  restaria?  Basta  lembrar  a  severidade  do 

ataque do Acadêmico Rui contra o texto do Código Civil de Bevilácqua de 1916, 

acerba  crítica  fundada  de modo  primordial  nas  falhas  no manejo  da  língua 

escrita,  para  que  se  tenha  ideia  do  rigorismo  com  que  o  grande  intelectual 

baiano,  o Águia  de Haia,  trataria  a  inadequação  da  Reforma  de  1990  ao  fim 

colimado.  

Com  certeza  não  escaparia  da  arguta  percepção  de  Rui 

que  o  principal  documento  que  formaliza  a  existência  do Acordo Ortográfico 

exibe um manifesto descuidado com regras gramaticais consolidadas, como é o 

(des)caso do tratamento dado aos numerais, com prejuízo ao que se ensina em 

todas  as  escolas  brasileiras    quanto  ao  registro  das  datas.  Veja‐se,  abaixo 

destacado, que no artigo 2º se lê “1 de janeiro” e no 3º, “1º de janeiro”.  

Artigo 2º  Os  Estados  signatários  tomarão,  através  das  instituições  e  órgãos 

competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de janeiro  de  1993,  de  um  vocabulário  ortográfico  comum  da  língua 

portuguesa,  tão  completo  quanto  desejável  e  tão  normalizador  quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.  

 

Artigo 3º  

O  Acordo Ortográfico  da  Língua  Portuguesa  entrará  em  vigor  em  1º  de janeiro  de  1994,  após  depositados  os  instrumentos  de  ratificação  de todos os Estados junto do Governo da República Portuguesa.  

 

Este  é  apenas  um  dos muitos  descuidos  gramaticais  do 

referido Acordo, sintomático de tantos outros em outras áreas, como a jurídica 

                                                            10 MEIRELES, Hely et alii, “Mandado de Segurança e Ações Constitucionais”, São Paulo: Malheiros, Pg. 173. Apud Rafael Bielsa, “A ação popular e o poder discricionário da Administração”, RDA 38/40.     

Roberto Sobral [email protected]   

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e  a  pedagógica. A  título  de  exemplo  e  de  descontração  leia‐se,  no Anexo  III, 

texto da lavra de Everardo Leitão, em que o respeitado Professor das disciplinas 

Redação e Análise de Texto, destaca:  

1. Desprezando  o  significado  da  expressão  latina 

abreviada  et  cetere,  etc,  que  significa  “e  as  demais 

coisas”,  razão pela qual não pode  ser  antecedida por 

vírgula,  o  Acordo  grafa  uma  vírgula  precedente.  De 

modo  que  em  lugar  de  “banana,  laranja, maçã  etc.” 

agora escreve‐se “banana, laranja, maçã, etc.”,  ou seja 

um subentendido conectivo “e” depois de uma vírgula, 

contrariando a lógica gramatical.  

2. O  que  usar  em  uma  enumeração  depois  de  dois 

pontos? No texto do acordo fez‐se uma miscelânea, no 

mínimo desorientadora. Veja‐se:  

   EXEMPLO 1 Anexo I, Base XVIII, 2º: a) Por uma só forma vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões perfeitas: i. do, da, dos, das; (…); ii. no, na, nos, nas; (…).

EXEMPLO 2 Anexo I, Base XIX: 1º) A letra minúscula inicial é usada: a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes. b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.

EXEMPLO 3 Anexo I, Base II: 2º) O h inicial suprime-se: a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão (…); b) Quando, por via de composição, passa a interior (…).

  Comenta o Professor Everardo:  

No exemplo 1, inicial minúscula depois dos dois-pontos que antecedem a enumeração (do, no) e ponto e vírgula para separar os itens. No exemplo 2, inicial maiúscula (Ordinariamente, Nos) e ponto para separar os itens. No exemplo 3, inicial maiúscula (Quando, Quando) e ponto e vírgula para separar os itens. Em outras palavras, uma salada. Não é que exista aí um padrão que possamos adotar como regra. Antes fosse. O que existe aí é uma confusão imperdoável, que desorienta o usuário. Assim é que a resposta para a pergunta sobre qual o padrão para uso de letra inicial e pontuação depois dos dois-pontos nas enumerações só pode ser uma: tanto faz. Tanto faz? É. Afinal, o

Roberto Sobral [email protected]   

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acordo – aprovado por todos os países lusófonos e documento emitido justamente para tratar de assuntos da língua portuguesa – tem autoridade mais que suficiente para ditar regra naquilo que orienta explicitamente e naquilo que orienta implicitamente pelo uso. Portanto, quem quiser obedecer ao ditame inequívoco da autoridade só tem uma saída: fazer o que lhe der na telha. 

Anomia como expressão de liberdade? Seria superestimar 

o  que  aí  se  vê.  Atecnia,  ou  simplesmente  desleixo? Mas,  desleixo  em  uma 

regulação dessa magnitude!  

Como desconsiderar que sob a forma da expressão escrita 

de  hoje  reescreve‐se  o  passado,  registra‐se  o  presente  e  condiciona‐se  o 

escrever do futuro imediato?  

 Considerando  a  curva  exponencial  de  criação  de  novos 

conhecimentos,  acelerada  em  íngreme  aclive  a  partir  do  início  do  século  XX, 

época em que  surgiam o  rádio, o  telefone, os automóveis, prenunciando‐se a 

televisão e o que demais se seguiria em vertiginosa velocidade, em especial a 

computação e a internet, fica evidenciada a necessidade de formação de novos 

vocábulos  para  expressar  as  novas  realidades, muitas  sequer  imaginadas  em 

menos de um século passado. 

Por  óbvio,  os  novos  vocábulos  obedecem  a  leis  de 

formação  que  lhes  são  precedentes.  Leis  que  trazem  em  si,  como  atributo 

necessário,  uma  lógica  normativa  própria  da  cultura  que  pretende  regular. A 

lógica  da  construção  de  padrões  ortográficos,  como  se  pode  antecipar  pelo 

raciocínio, serve de elemento de coesão da unidade  linguística, valor cada vez 

mais  necessário  em  face  da  pletora  de  invasões  de  neologismos  de  todos os 

campos do conhecimento, em sua maioria alienígena. 

 Razão  pela  qual  hão  de  se  desdobrar,  os  pesquisadores 

linguísticos, os filólogos, professores, estudiosos e todos os produtores culturais 

na reconstrução cotidiana da linguagem dentro de critérios assimiláveis, porque 

lógicos.  O  que  significa  dizer  que,  nessa  novíssima  ambiência  da  pós‐

modernidade, decorar exceções  sem  sentido  lógico é velho absurdo, cada vez 

mais inaceitável. 

Mas,  veja‐se  o  que  tais  considerações  têm  a  ver  com  a 

reforma Ortográfica de 1990, aqui contestada:  

1. Anacronismo. Não se podem, em pleno século XXI, admitir 

regras  que  não  se  coadunam  com  o  raciocínio  e  a  compreensão. Esse 

Roberto Sobral [email protected]   

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Acordo foi pensado em 1975, quando a computação não era disseminada 

de forma pessoal e quase ninguém sabia o que era e muito menos o que 

viria a ser a internet. Eram tempos de mimeógrafo, maquinas de escrever 

e  papéis  carbono,  que  exigiam  delicado  cuidado  no  apagar  e  retificar 

qualquer palavra datilografada errada. De tal tempo vem a concepção do 

Acordo que veio a ser assinado em 1990, de modo que se pode entender 

até então compatível com a velha prática educacional do ensino por via 

da  memorização.  A  Pedagogia  moderna,  que  se  firmou  a  partir  das 

últimas décadas do último milênio, tem por preceito o entendimento e o 

uso  da  lógica  e  da  racionalidade.  O  Acordo,  por  ser  de  outra  época, 

apresenta  regras que se contradizem, que se baseiam em pressupostos 

antagônicos, com várias  listas de exceções,  intermináveis, pois seguidas 

de  reticências. Aos  jovens do  século XXI não  faz  sentido perder  tempo. 

Ou o que se lhes ensina é lógico, prático, ou não lhes desperta interesse. 

Essa já é uma grande conquista atribuída à pedagogia atual. Não se quer 

saber  de  decorar.  Quer‐se  entender.  É  necessário  simplificar  e  trazer 

essas regras ao espírito do nosso tempo, até para baratear a Educação e 

torná‐la mais eficiente, beneficiando todos os países envolvidos. 

2. Fuga do objetivo: Como o próprio nome diz, o Acordo é ortográfico e não 

ortofônico, ou seja, deve‐se ater à grafia, à maneira de se escrever, sem 

que se afete a pronúncia... como anteriormente mudara‐se  ley para  lei, 

fallar  para  falar,  pharmacia  para  farmácia.  Mas,  esse  Acordo 

estranhamente eliminou o trema, que, em sua essência, é um marcador 

de  pronúncia.  Será  que  os  responsáveis  por  esse  Acordo  não  sabiam 

disso? Não importa a resposta, o trema é indiscutivelmente ortofônico e 

só  deveria  ser  extinto  se  tivesse  sido  criado  um  outro  mecanismo 

identificador da pronúncia... Em estilingue, equidistante e trilíngue, o gue 

tem realizações fônicas que o leitor, com o trema, sabia distinguir e, sem 

ele,  terá  de  perder  tempo  no  dicionário. Quem  estiver  a  acompanhar 

uma criança  (ou qualquer pessoa) em processo de alfabetização verá a 

dificuldade da distinção  com a  supressão do  trema em  face da palavra 

“equino”.  Sem o  trema, que  tão  adequadamente diferenciava,  ficará  a 

dúvida  se  o  som  será  ekino  ou  ekuíno;  portanto  inútil,  indevida  e 

prejudicial alteração ortofônica sem autorização legal. 

3. Contradição de Princípios: Nas palavras  compostas  em que o  segundo 

elemento começa com h, qual o princípio? Manter‐se o h, ou eliminá‐lo? 

Uma  regra  lógica  só  se  fixa  com  princípios  definidos,  coerentes  e  não 

contraditórios. Quando o Acordo diz que se deve usar hífen antes de h 

Roberto Sobral [email protected]   

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(extra‐humano), está dizendo que o h é importante e deve ser mantido. 

Quando  diz  que  em  des+humano  se  deve  grafar  desumano,  está 

pregando contraditoriamente a desimportância e eliminação da referida 

letra.  Para  permanência  do  h,  deveria  escrever‐se  extra‐humano,  des‐

humano  (opção  coerente);  para  sua  eliminação,  escrever‐se‐ia 

desumano,  extraumano  (opção  também  coerente).  Seria  também 

coerente e até mais prático eliminar‐se definitivamente o uso do hífen, 

como  se  fez na  língua alemã. Mas, o Acordo que  tinha a  sua  razão de 

existir na simplificação da ortografia, manteve regras que mal se mantêm 

como tais, diante de tantas exceções sem sentido lógico.  

4. Imprecisão  de  conceitos: O  Acordo  chama  de  aglutinadas  as  palavras 

“girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, 

etc.”, mostrando desconhecer que “glut” significa comer, engolir... e, por 

isso,  aglutinação  pressupõe  algum  som  engolido  ou  alterado  (filho  de 

algo  =  fidalgo; perna alta  = pernalta; alto  sonante  = altissonante...). A 

sequência dos exemplos dados no texto do Acordo mostra compostos em 

que  se  unem  palavras  sem  que  haja  alteração  ou  perda  de  qualquer 

fonema  (girassol...  pontapé...  paraquedas...)  e  que,  por  isso,  não  são 

aglutinadas, mas  justapostas,  segundo  todos  os  nossos  gramáticos.  Tal 

imprecisão trouxe a muitos professores a ideia de que foram alterados os 

conceitos de  justaposição  e  aglutinação,  o  que  foge  absolutamente  ao 

escopo do Acordo. A pergunta é como pode a redação de um Acordo de 

natureza linguística apresentar conceitos equivocados? 

5. Ilogicidade e excepcionalidade inúteis: a) Todos, absolutamente todos os 

topônimos compostos não iniciados por grão e grã, por verbo e que não 

contenham artigo grafam‐se sem hífen (Mato Grosso, São Paulo, Espírito 

Santo, Rio Grande, Cabo Verde, Castelo Branco), porém Guiné‐Bissau e 

Timor‐Leste  fogem à  regra. Por quê? Não  seria mais  fácil e econômico 

seguirem  a  regra,  para  ninguém  precisar  decorar  exceções?    b)  Todas, 

simplesmente todas as locuções perderam o hífen, com exceção de água‐

de‐colônia, arco‐da‐velha, cor‐de‐rosa, mais‐que‐perfeito, pé‐de‐meia, ao 

deus‐dará,  à  queima‐roupa...  (note‐se  que  a  relação  termina  em 

reticências). Por quê? Não seria mais fácil e econômico seguirem a regra, 

para  ninguém  precisar  decorar  exceções?      E,  veja‐se,  as  reticências 

parecem sugerir que há alguma lógica de formação subentendida. Só que 

esta lógica não existe, pelo contrário: por que água‐de‐colônia tem hífen 

e água de cheiro, não? Por que pé‐de‐meia é hifenado e pé de chinelo, 

não? Porque  cor‐de‐rosa usa hífen, mas  cor de  jasmim, não? Por que 

Roberto Sobral [email protected]   

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futuro do presente e futuro do pretérito, nomes de tempos verbais são 

escritos  sem  hífen  se  mais‐que‐perfeito,  também  nome  de  tempo 

verbal,  é  hifenado?  Como  justificar  que  guarda‐chuva  tem  hífen  e 

mandachuva não,  se ambos  são  compostos de  verbo+substantivo e a 

extinção  do  hífen  sequer  alteraria  a  pronúncia,  fazendo‐o 

desnecessário? Giravolta não tem hífen, mas gira‐mundo tem. E no que 

concerne à relação entre primitivos e derivados: por que há duas grafias 

corretas para pré‐embrião e preembrião e somente uma para o derivado 

pré‐embrionário?  Os  derivados  deveriam  seguir  a  lógica  do  primitivo. 

Mas, se algum estudioso quiser descobrir aí alguma regra,  logo verá um 

exemplo  inverso, em que do primitivo pré‐esclerose  resultam possíveis 

duas  grafias  para  seu  derivado  que  se  pode  escrever  como  

preesclerótico e pré‐esclerótico. Não há qualquer  lógica,  só decorando. 

Qual  a  razão  para  tais  absurdos?  Obrigar  todos  à  aquisição  do  novo 

dicionário que  veicula o Vocabulário Ortográfico,  “fruto” do Acordo de 

1990?    Exemplos  outros  de  ilogicidade,  muitos  e  sem  pretensão  de 

exaurir  a  imensa  lista,  estão  descritos  no  folheto  anexado  à  presente 

Ação sob o título “Convite à Reflexão” (ver Anexo III).  

6. Improvisação: A ortografia da Língua Portuguesa sempre foi tratada de 

maneira superficial e cada proposta de alteração (foram nove só no 

século passado – 1911, 1931, 1943, 1945, 1971, 1973, 1975, 1986, 1990) 

não passou de um exercício tímido de atualização. Nunca se fez, e já é 

tempo e necessário que se faça um verdadeiro inventário dos radicais da 

língua portuguesa, um trabalho profundo e tão exauriente quanto 

possível da base etimológica da língua. Para quem opuser a reconhecida 

dificuldade de assim se proceder, convém lembrar a extrema minudência 

com que os modernos cientistas inventariam cadeias genéticas de 

elevada complexidade, para cujo mister contam com aparatos adequados 

da ciência da computação. Por que não se fazer tal esforço com vistas à 

estruturação racional da ortografia? Pessoas e recursos não faltarão. As 

Faculdades de Letras, e são muitas em todo o país, sem dúvida teriam 

com que colaborar. Enquanto algo sério não se produzir, a cada Acordo 

verificar‐se‐á um infindável cerzir ou remendar puídos de um tecido 

frágil. Remenda‐se aqui, rompe‐se acolá; cerze‐se acolá, desfia ali; 

costura‐se ali, esgarça noutro lugar. Em tempos passados, calava‐se ante 

tais superficialidades. Hoje, com o compartilhamento do saber, 

proporcionado pela rede mundial, não é mais possível usurpar o tempo 

do cidadão com improvisações. Há de se ter coragem de tecer, substituir 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 53: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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o pano. A Língua é viva, forte, viçosa, bela, no entanto envolta em trapos 

de múmia. O problema não está na Língua, está na ortografia, que 

precisa ser reestruturada, reconstruída com a visão deste século, para os 

parâmetros atuais, mais racionais, claros, objetivos e práticos. 

7. Onerosidade: É caríssimo o ensino de ortografia em Português. Do 

Fundamental ao final do Nível Médio, segundo pesquisa com professores 

da rede pública do Distrito Federal, o aluno terá assistido a 400 horas‐

aula para aprender efetivamente quase nada e passará pela 

universidade, e abraçará uma profissão e, durante toda a vida, mesmo 

que viva mais de um século, continuará inseguro, a recorrer ao dicionário 

para saber como se escreve esta ou aquela palavra. Quantos milhares de 

horas um cidadão que viva 80 anos despende em consultas ortográficas? 

Multiplique‐se esse total por duzentos e cinquenta milhões de cidadãos... 

Um desperdício desmesurado de tempo e dinheiro para o Brasil e para os 

demais países signatários do Acordo. Que tempo desmesurado se perde 

nas redações e revisões da indústria editorial e gráfica! 

São razões que  levam a concluir que  lançar uma Reforma 

Ortográfica  já na  segunda década deste  terceiro milênio,  reproduzindo velhas 

regras ilógicas com inumeráveis exceções, é algo que há de receber reprovação 

por absoluto desprezo ao Princípio da Eficiência, que não se pode desconsiderar 

em  razão  das  repercussões  econômicas  adversas  que  de  tal  quadro  advêm, 

mormente  quando  se  considera  o  tempo  desnecessário  de  aprendizagem 

decorada.                       

  Mas,  não  bastassem  os  prejuízos  provindos  de  uma 

Reforma  em  que  voluntarismo  político  e  oportunismo  sobrepõem‐se  ao  bem 

público que deveria se alcançar, a ABL ainda ousou mais. Ousou alterar, sponte 

sua, diversas outras regras do próprio Acordo sem consulta aos demais países 

signatários  e  sem  submeter  ao  Congresso  Nacional  as  suas  criações. 

Simplesmente inovou e fez assim publicar em seu dicionário, o VOLP, 5ª edição. 

O quadro exibido a seguir, em duas colunas, traz o suficiente para comprovar o 

desrespeito ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, AOLP. 

 

 

 

Desrespeitos do VOLP (5ª edição) ao AOLP (17.7.2011)

Roberto Sobral [email protected]   

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AOLP – Acordo Ortográfico da L.P Assunto: Uso do hífen. Bases XV e XVI

VOLP – Vocabulário Ortográfico da L.P. (pág. LI, LII e LIII) Nota Explicativa da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ABL.

Base XV – 1º - Obs.: “Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.” Base XV – 4º - Obs.: “Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc. - Essa “Obs.” mostra exceções ao uso do hífen estipulado no parágrafo anterior. A expressão “etc.”, ao fim da lista, aponta para a existência de outras excepcionalidades não ali relacionadas. Base XV – 6º:” Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colônial, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).” - A expressão “como é o caso de” indica que a lista admite outras palavras não mencionadas ali. Base XVI – 1º - Obs:” Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc. - Essa “Obs.” mostra exceções ao estipulado no parágrafo anterior. A expressão “etc.”, ao fim da lista, aponta para a existência de outras excepcionalidades não aí relacionadas.

VOLP, 5ª edição, pág. LII: no item 5, orienta a “Limitar as exceções de emprego de hífen às palavras explicitamente relacionadas no Acordo, admitindo apenas as formas derivadas e aquelas consagradas pela tradição ortográfica dos vocabulários oficiais, como passatempo, varapau.” 1- Esse texto altera as várias passagens do Acordo, citadas ao lado. 2- Provoca ambiguidade, porque “formas derivadas” pode referir-se a qualquer outra palavra derivada, mesmo não relacionada nas listas de exceções, ou pode restringir-se apenas às derivadas das relacionadas nessas listas”. 3- Desconsidera o fato de os vocabulários oficiais estarem sempre atrasados em relação às novas palavras que se criam diuturnamente na língua, e de o Acordo dever oferecer parâmetros para a população escrever esses neologismos, antes mesmo de registrados nos vocabulários.

- Este item 5, da página LII do VOLP altera vários pontos do Acordo original.

Roberto Sobral [email protected]   

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- A própria redação é um exemplo lastimável de ineficiência, por imprecisão. Base XV – 2º - Obs.: Os outros topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O topônimo Guiné-Bissau é, contudo uma exceção consagrada pelo uso. - Na parte por nós sublinhada, constata-se, na lista de exceções, apenas um topônimo.

VOLP, 5ª edição, pág. XLIX: no Art. 1º, aparece “República Democrática de Timor-Leste...” (com hífen). VOLP, 5ª edição, pág. L: no 1º e no 5º parágrafo do preâmbulo e no Art. 5º, (aparece três vezes Timor-Leste (com hífen).

Como se vê, o Acordo admite apenas uma exceção com hífen (Guiné-Bissau), mas o VOLP apresenta duas (Guiné-Bissau e Timor-Leste). A quem o Ministério da Educação e o cidadão devem seguir, a lei (Decreto Presidencial 6.583, de 29 de setembro de 2008) que promulga o Acordo, ou o VOLP? Base XVI – 1º. “Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-...)”, só se emprega o hífen nos seguintes casos: a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico /anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro...”

VOLP, 5ª edição, pág. LII: no item 9, determina “Excluir o prefixo co do caso 1º, letra a, da Base XVI ... Assim, por coerência, co-herdeiro passará a coerdeiro”. VOLP, 5ª edição, pág. LII: no item 14, manda “Excluir o emprego do hífen com o prefixo an-, quando o segundo elemento começar por h-, letra que cai à semelhança do que preceitua o texto do Acordo para os prefixos des- e in-: anistórico, anepático.”

- Por melhor que a alguns possa parecer a justificativa, o Acordo prescreve uso do hífen em co-herdeiro, an-histórico e an-hepático, no que é desrespeitado pelo VOLP, que orienta a eliminação do hífen (coerdeiro, anistórico, anepático). O Acordo tem uma Lei que o promulga, tem, portanto, força de Lei, o que o VOLP não tem. A quem o MEC e o cidadão devem seguir: o VOLP ou a Lei? Base XVI – 1º. “Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-...)”, só se emprega o hífen nos seguintes casos: a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico /anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro...”

VOLP, 5ª edição, pág. LII: no item 11, dispõe que se deve “Registrar a duplicidade de formas quando não houver perda de fonema vocálico do primeiro elemento e o elemento seguinte começar por h-, exceto nos casos já consagrados, com eliminação desta letra: bi-hebdomadário e biebdomadário, carbo-hidrato e carboidrato, mas só cloridrato.”

- Consoante o Acordo, já está claro que existe uma só grafia para bi-hebdomadário e carbo-hidrato, pois seguem anti-higiénico /anti-higênico (a diferença da

Roberto Sobral [email protected]   

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acentuação se deve à diferença de pronúncia entre Portugal e Brasil), circum-hospitalar, co-herdeiro. - Porém, aparece o VOLP e complica. Primeiro, porque traz ao texto um assunto mal resolvido, o de palavras ora iniciadas com h, ora sem h. Segundo, porque oficializa uma péssima solução para o ensino: a dupla grafia. Terceiro, porque faz referência a uma lista em aberto: “os casos já consagrados”. Deve cada cidadão, a partir de agora, para conhecer “os casos já consagrados”, adquirir todos os dicionários dos oito países signatários, porque não há um dicionário ortográfico comum a todos? Onde ficou o espírito de união do Acordo? Base XV – 3º. “Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor... bem-te-vi (nome de um pássaro).” - O Acordo fala apenas em espécies botânicas ou zoológicas

VOLP, 5ª edição, pág. LII: no item 7, determina “Incluir no caso 3º da Base XV, relativo às denominações botânicas e zoológicas, as formas designativas de espécies de plantas, flores, frutos, raízes e sementes, conforme prática da tradição ortográfica: azeite-de dendê, bálsamo-do-canadá, água-de-coco”. - O VOLP acrescenta “espécies de plantas, flores, frutos, raízes e sementes” e apresenta como exemplos “azeite-de-dendê, bálsamo-do-canadá, água-de-coco”, que sequer constituem flores, frutos raízes ou sementes.

Há outro texto do Volp sem os exemplos “azeite-de-dendê, bálsamo-do-canadá, água-de-coco”. Há ainda outro texto do VOLP em que aparecem os exemplos “azeite-de-dendê, bálsamo-do-canadá, água-de-coco” antecedidos da expressão “produtos afins”. O Acordo, a lei, diz, o VOLP desdiz. O MEC e o cidadão devem seguir o VOLP ou a Lei? Base XVI – 1º. b) – Obs.:”Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.

VOLP, 5ª edição, pág. LII: no item 10, impõe “Incluir, por coerência e em atenção à tradição ortográfica, os prefixos re-, pre- e pro- à excepcionalidade do prefixo co-, referida na letra b do caso 1 da Base XVI: reaver, reeleição, preencher, proótico.”

- O Acordo, que é a lei, manda escrever re-haver, re-eleição, pre-encher, pro-ótico (Base XVI, caso 1, letra b). Já o VOLP define como corretas as grafias reaver, reeleição, preencher, proótico. O VOLP não respeita a lei e desrespeita o Acordo.   Contemplando  o  irrefutável  quadro  de  desvios  acima 

apresentado, pode‐se até pretender  justificar as mudanças com base na grafia 

costumeira, ou em alguma pontual  justificativa  técnica. Mas,  resta  indiscutível 

que  se  está  alterando  o  acordado  e,  neste  passo,  onde  ficará  a  pretendida 

Roberto Sobral [email protected]   

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unidade  ortográfica? O  Acordo  é  internacional. O  compromisso  firmado  pelo 

Estado  Brasileiro  é  de  unidade  ortográfica.    Proceder  às  alterações  sem 

submetê‐las ao Congresso Nacional e aos parceiros é prática que se traduz em 

claro desvio de poder, por parte dos que ficaram responsáveis pelo encargo. E 

desvio de finalidade, quanto à substância do Acordo.  

  Vislumbram‐se,  adicionalmente,  violações  concernentes 

ao  campo do Direito  Internacional Público, especialmente no que  concerne a 

um Acordo que se diz comum a todos os países lusófonos, embora possa dar‐se 

como firmado bastando três assinaturas. Tal enfrentamento, bem assim quanto 

aos  elementos  visíveis  de  violações  constitucionais,  aqui  não  vem  a  ser 

encetado. Sem prejuízo das respectivas identificações, são matérias que melhor 

conviriam  em  uma  Ação  Civil  Pública  ou  em  uma  Ação  Direta  de 

Inconstitucionalidade.  

  Assim  ponderando,  aqui  se  deixa  de  atacar  o  Acordo 

Ortográfico  de  1990,  em  si,  considerando  tratar‐se  de  importante  iniciativa, 

carecedora de todo o cuidado e de denodado esforço de aperfeiçoamento até 

que culmine por merecer implementação por todos os Países Signatários.  

  Fosse o Acordo cumprido conforme assinado em 1990, na 

data  prevista  de  1993,  todo  o  processo  histórico  que  daí  decorreria  tornaria 

possível a criação de mecanismos de aperfeiçoamento do próprio Acordo. Mas, 

o  fruto  passou  do  tempo.  Agora,  duas  décadas  depois,  vê‐se  com  nitidez  o 

conjunto  de  inadequações  decorrentes  do  descompasso  histórico  com  que 

Decreto  6586/2008,  em  um  arroubo  de  voluntarismo,  buscou  elaborar  em 

apenas  três meses  o  Vocabulário  Comum  antes  não  realizado,  sobrevindo  a 

estapafúrdia imposição do Acordo tal qual concebido no passado já distante da 

década  de  setenta,  tendo  como  pressuposto  o  que  não  se  conseguiria  fazer 

entre setembro de 2008 e janeiro de 2009.  

  E, neste ponto, não há justificativa ou evasiva que disfarce 

a realidade: ou se tentou  implementar o Acordo de 1990, como um fruto mais 

do  que  passado  pelo  tempo,  desprezando  o  descumprimento  da  obrigação 

pressuposta,  a  construção do  até hoje  inexistente  vocabulário  comum, ou  se 

imaginou que seria possível plantar e colher algo assim em cerca de três meses, 

sega temerária que se percebe claramente imatura.  

   Melhorar  o  Acordo,  levar  à  consecução  do  bem  público 

almejado,  contribuir  para  a  simplificação  e  unificação  possível  da  escrita  da 

Língua Comum de mais de duzentos e cinquenta milhões de seres, eis o espírito 

Roberto Sobral [email protected]   

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do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, para o qual não se há de 

admitir desvio de rumo.  

  Neste  sentido,  prestar  contribuição,  no  limite  das 

possibilidades  de  uma  Ação  Popular  que  trata  de  um  tema  de  elevada 

magnitude,  como  esta,  configura  um  verdadeiro  problema.  Daí  a 

responsabilidade do que  se vai pedir, certo de que  se o que se espera é uma 

sentença razoável o pedido há de ser razoável.  

  Como generalidade, os pedidos, com os quais se delimita a 

porção  desta  lide  trazida  em  juízo,  hão  de  voltar‐se,  de  imediato,  para  a 

cessação  de  um  estado  de  progressiva  lesividade  e,  em  segundo momento, 

conduzir  a  possíveis  reparações  do  dano  já  causado  à  ortografia  da  Língua 

Portuguesa.  

  Aqui  ressalta  o  caráter  predominantemente 

desconstitutivo  da  decisão  que  se  pretende  obter,  com  vistas  a  minorar  a 

disseminação do fruto mal amadurecido do Acordo Ortográfico de 1990, que se 

projeta contaminando até as sementes do que virá.    

    No mais,  desde  logo  se  renuncia  à  expectativa  de  um 

impossível retorno ao status quo ante, por submissão à lógica do que já se tem 

como  realidade  irreversível:  a  lesividade  irreparável  de  uma  gigantesca 

distribuição  de  dicionários  e  livros  didáticos  nos  quais  são  empregados 

vocábulos escritos em contrariedade às regras do Acordo. A perda será mesmo 

dos cofres públicos, do tesouro nacional, vez que nisto se traduz a condenação 

da União Federal. 

   Mas  a  lesividade  não  se  limita  aos  seiscentos  e  noventa 

milhões gastos com a distribuição de  livros didáticos em 2010, nem com uma 

derivada  proporcional  deste  cálculo  para  2011.  Um  número  incalculável  de 

horas‐aula  está  sendo ministrada,  dia  após  dia,  para  a  imposição  de  regras 

ortográficas ilegais, como são todas aquelas acima apontadas para as quais não 

houve pronunciamento do Congresso Nacional. 

  Cessar  esta  lesividade  cotidiana  é  preciso. Modular  os  efeitos  de  uma 

decisão  anulatória  do  Decreto,  igualmente, mostra‐se  imprescindível.  Assim,  

salvo  melhor  Juízo,  impende  requerer  ao  Excelentíssimo  Juiz  Federal  da 

presente causa a declaração de nulidade do artigo segundo do  DECRETO Nº 6.586, 

DE 29 DE SETEMBRO DE 2008, que “Dispõe sobre a  implementação do Acordo Ortográfico 

da Língua Portuguesa”, verbis: 

Roberto Sobral [email protected]   

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Art. 2º Os  livros escolares distribuídos pelo Ministério da Educação à rede pública  de  ensino  de  todo  o  País  serão  autorizados  a  circular,  em  2009, tanto na atual quanto na nova ortografia, e deverão ser editados, a partir de  2010,  somente  na  nova  ortografia,  excetuadas  a  circulação  das reposições  e  complementações  de  programas  em  curso,  conforme especificação  definida  e  disciplinada  pelo  Fundo  Nacional  de Desenvolvimento da Educação ‐ FNDE. 

Consabida  a  consagração  da  técnica  de  modulação  de 

efeitos  decisórios  pelo  Supremo  Tribunal  Federal11,  aqui  se  vislumbra  a 

possibilidade de emprego de tal recurso para assegurar minimização de efetivo 

prejuízo  social  ante  um  processo  que  há  de  ser  remendado  sem  solução  de 

continuidade, assim como um avião se repara em pleno voo.   

                                                            

11 A segurança jurídica tem sido o valor invocado pelo STF para assegurar medidas de preservação, ou de minimização de prejuízo, para aquelas situações jurídicas constituídas e consolidadas em tempos anteriores à declaração de inconstitucionalidade da norma de regência que as possibilitaram. Este modelo de dotação de efeitos modulados, por alguns chamado de ‘consequencialismo’, coerente com a prudente valoração de bens constitucionais sujeitos à ponderação quando faceados em confronto, vê-se hoje estendido ao Controle Difuso de Inconstitucionalidade, segundo o que se colhe do julgamento dos RREE 556664, 559882, 559943 e 560626, nos quais a Corte

decidiu pela inconstitucionalidade da lei ordinária que fixou prazos de decadência e prescrição

em matéria tributária, vindo, em um seguir a restringir os efeitos da decisão, modulando-os. Do

“blog” http://supremoemdebate.blogspot.com/2008/06/conseqencialismo‐e‐modulao‐de‐

efeitos.html, retira‐se o seguinte excerto do voto do Min. Gilmar Mendes:

“É verdade que, tendo em vista a autonomia dos processos de controle incidental ou concreto e

de controle abstrato, entre nós, mostra-se possível um distanciamento temporal entre as

decisões proferidas nos dois sistemas (decisões anteriores, no sistema incidental, com eficácia

ex tunc e decisão posterior, no sistema abstrato, com eficácia ex nunc). Esse fato poderá

ensejar uma grande insegurança jurídica. Daí parecer razoável que o próprio STF declare,

nesses casos, a inconstitucionalidade com eficácia ex nunc na ação direta, ressalvando,

porém, os casos concretos já julgados ou, em determinadas situações, até mesmo os casos

sub judice, até a data de ajuizamento da ação direta de inconstitucionalidade. Essa ressalva

assenta-se em razões de índole constitucional, especialmente no princípio da segurança

jurídica. Ressalte-se que, além da ponderação central entre o princípio da nulidade e outro

princípio constitucional, com a finalidade de definir a dimensão básica da limitação, deverá a

Corte fazer outras ponderações, tendo em vista a repercussão da decisão tomada no recurso

extraordinário sobre as decisões de outros órgãos judiciais nos diversos processos de controle

concreto. Dessa forma, tem-se, a nosso ver, adequada solução para o difícil problema da

convivência entre os dois modelos de controle de constitucionalidade existentes no direito

brasileiro, também no que diz respeito à técnica de decisão”.   

Roberto Sobral [email protected]   

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No curso desta pretensão, a dilação do prazo previsto no 

parágrafo único do  artigo  segundo do Decreto Nº  6.583, DE  29 DE  SETEMBRO DE 

2008,  por  conseguinte,  apresenta‐se  como medida  adequada  e  proporcional, 

necessária ao primeiro propósito, o da cessação da progressiva lesividade: 

Art.  2º  O  referido  Acordo  produzirá  efeitos  somente  a  partir  de  1º  de janeiro de 2009. Parágrafo  único. A  implementação  do Acordo  obedecerá  ao  período  de transição de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, durante o qual coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova norma estabelecida. 

 

Ou  seja,  o  Pedido  consiste  em  prorrogar  o  período  de 

transição  até  que  sejam  restabelecidos  os  pressupostos  legais  para  a 

implementação  do  referido  Acordo.  Pedido  que,  uma  vez  atendido,  além  de 

mostrar‐se coerente com a causa de pedir imediata – consistente no propósito 

de  restabelecer  a  Ordem  Violada  –  cria  as  condições  de  possibilidade  de 

melhorar o Acordo, superar as suas deficiências com a participação de todos os 

interessados, até aqui ilegalmente alijados do processo.  

Também em benefício da implementação legal do próprio 

Acordo  volta‐se  o  pedido  de  condenação  da  União,  este  consistente  no 

pagamento  de  valor  equivalente  ao  gasto  de  um  único  ano  na  distribuição 

gratuita de material didático, tendo‐se por referência o valor declarado no ano 

de 2010 – R$ 690 milhões  ‐ quantia a  ser depositada em  conta específica do 

FNDE, com vista a assegurar a mesma distribuição gratuita do  futuro material 

conformado ao Acordo Legal. 

Por  outro  lado,  o  pedido  de  condenação  da  Academia 

Brasileira  de  Letras,  restringir‐se‐á  nos  valores  brutos  auferidos  com  a 

comercialização da 5ª edição do seu VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua 

portuguesa, valor a ser objeto de específica  liquidação para compor um  fundo 

específico destinado a devolução aos adquirentes da referida obra composta em 

desacordo  com  o  Acordo  Ortográfico  de  1990.  Fundamentam  o  pedido  de 

condenação as seguintes violações legais: 

1. descumprimento  do  Acordo  consistente  em  omitir‐se 

na elaboração do Vocabulário Comum; 

2. pela  violação  unilateral  das  regras  estabelecidas  no 

próprio Acordo que ajudou a formatar; 

Roberto Sobral [email protected]   

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3. pela  não  submissão  de  tais  alterações  ao  Congresso 

Nacional; 

4. pela  violação  ao  dever  de  lealdade  para  com  as 

Autoridades signatárias dos decretos 6583, 6584, 6585 

e  6586  de  2008,  quando  (presume‐se)  deixou  de 

esclarecer  que  nunca  se  chegara  a  um  Vocabulário 

Comum,  pressuposto  para  que  tais  decretos 

impusessem a  implementação do Acordo, ou quando,  

em  conduta  alternativa, mostrou‐se  conivente  com  a 

temeridade  do  que  ali  se  decretava  –  a  ordem  de 

elaboração de um Vocabulário Comum a ponto de ser 

concluído,  impresso  e  distribuído  em  pouco mais  de 

três meses – conivência agravada por ter a ABL atuado 

como  mente  e  braço  técnico  brasileiro  do  referido 

Acordo. 

 

Com  relação  às  responsabilidades  do  Presidente  da 

República,  dos Ministros  da  Educação,  da  Cultura  e  das  Relações  Exteriores, 

bem assim daquele que atuou em nome da Academia Brasileira de Letras, é de 

se  registrar  que  não  há  indícios  de  improbidade  ou  de  aproveitamento  de 

caráter pessoal em qualquer dos atos aqui impugnados.  

Contudo, não há escolha a ser feita por parte do Autor da 

presente  demanda  senão    atuar  conforme  o  entendimento  de  que  na  Ação 

Popular  a  “legitimação  passiva  será  sempre múltipla.  Vale  dizer:  formar‐se‐á 

litisconsórcio  necessário  no  pólo  passivo  da  relação  processual”,  conforme 

assinala José dos Santos Carvalho Filho, destacando:  

“De acordo com a lei reguladora, “a ação será proposta contra 

as pessoas públicas ou privadas e as entidades  referidas no art. 1º, 

contra  as  autoridades,  funcionários  ou  administradores  que 

houverem  autorizado,  aprovado,  retificado  ou  praticado  o  ato 

impugnado,  ou  que,  por  omissão,  tiverem  dado  oportunidade  à 

lesão,  e  contra  os  beneficiários  diretos  do mesmo”.  (art.  6º  de  Lai 

4.717/65)”. 

“É  fácil  notar  que  o  legislador  pretendeu  introduzir  no  pólo 

passivo  do  processo  todos  aqueles  que,  de  alguma  forma,  tenham 

interesse  no  desfecho  da  causa  e  na  apuração  da  lesão  aos  bens 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 62: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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tutelados,  Poderíamos,  por  questão  de método,  agrupá‐las  em  três 

categorias:  

1) a pessoa jurídica de onde promanou o ato; 

2) os servidores, de qualquer nível, que de algum modo tenham 

contribuído para a lesão; e 

3) os terceiros beneficiários diretos do ato lesivo.” 

Registra  Luís  Roberto  Barroso  que  na  ação  popular 

preponderam os  caracteres declaratório ou  constitutivo negativo,  vindo  a  ser 

acessório  o  pedido  condenatório  das  pessoas  responsáveis  pelo  dano.  Ainda 

que  assim  se  compreenda,  sobrevêm  os  pedidos  condenatórios, mesmo  que 

com caráter simbólico em relação às pessoas legitimadas passivamente por suas 

qualificações como Autoridade. Diferenciando‐se,  todavia, daqueles que se  faz 

em  face  da  União  Federal  e  da  Academia  Brasileira  de  Letras,  vez  que  o 

litisconsórcio que se forma, neste passo, é necessário, mas não é unitário.  

IV. DA SUSPENSÃO LIMINAR DO ATO LESIVO IMPUGNADO.  

A  Lei  4.717/65,  norma  de  regência  da  Ação  Popular, 

contempla  a  possibilidade  de medida  urgente  apta  a  facear  o  periculum  in 

mora da prestação jurisdicional. Para este fim prevê no § 4º do seu art. 5º  que 

“na  defesa  do  patrimônio  público  caberá  a  suspensão  liminar  do  ato  lesivo 

impugnado”.  

Tal  perigo  evidencia‐se  diante  do  curso  do  prazo  para 

implementação do Acordo Ortográfico de 1990,  com  termo  final estabelecido 

para  31  de  dezembro  de  2012,  data  em  que  cessa  o  emprego  da  dupla 

ortografia,  tornando‐se  obrigatória  e  exclusiva  a  ortografia  que  aqui  se 

demonstrou desenvolvida em descumprimento ao feixe normativo a que estava 

obrigada.    

Contudo,  sem embargo da  clara presença do  fumus boni 

juris  ‐ pelo que deu a conhecer o Autor, através de documentos  idôneos e da 

clara  exposição  de  frontal  violação  aos  textos  legais  aqui  reproduzidos  ‐  a 

complexidade da causa e a sua magnitude desaconselham que tal medida seja 

solicitada sob a cláusula inaudita altera pars. A própria sociedade a quem serve 

esta Causa não pode ser abalada por qualquer decisão que prescinda de uma 

razoável, para não dizer sólida, cognição dos  fatos e da conjuntura em que se 

desenvolvem.  

Roberto Sobral [email protected]   

Page 63: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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Também  o  respeito  que  aqui  se  manifesta  pela 

independência e máximo senso de responsabilidade pública da Justiça Federal, 

valores  reconhecidos  e mais  que  respeitados  por  todos  os  seus  Julgadores, 

conforme se extrai da exemplificação cotidiana do Tribunal Regional Federal da 

1ª  Região,  tudo  aconselha  que  sejam  ouvidos  os  argumentos  suficientes  de 

quem  quiser  se  opor  ao  que  aqui  se  pede,  sem  que  se  deixe  de  considerar, 

entretanto, a necessidade de tempestiva decisão e prorrogar o termo final para 

implementação do Acordo até que sejam observados os ditames legais até aqui 

desobedecidos. Pode‐se deduzir que o grau de lesividade ao patrimônio público 

resultante  dos  atos  aqui  repulsados  mantém‐se  em  relação  de 

proporcionalidade  ao  tempo em que estes  vierem  a  ser  impugnados. Quanto 

mais  tardio  vier  o  reconhecimento  de  tais  ilegalidades  e  suas  consequentes 

declarações de nulidade, maior será o prejuízo, sempre progressivo.  

 A prudência com que se pede a  liminar, portanto, não a 

desmerece  como  necessária,  antes  quer  situar  tal  pedido  em  um  patamar 

intermediário  entre  um  simples  pedido  de  urgente  preferência  na  prestação 

jurisdicional e uma concessão de liminar inaudita altera pars.   

Em  nome  da  razoabilidade,  atento  aos  fins  colimados,  o 

que pretende o Autor é que não  se perca a prestação do  Juízo. Não  se pede 

qualquer  condenação  prematura,  nem mesmo  a  desconstituição  imediata  do 

que se  fez ao arrepio da Lei. Pede‐se,  tão somente, em prudente  liminar, que 

seja prorrogado o período da dupla grafia até que seja estabelecida sob critérios 

legais aquela que  já deveria estar sendo  implementada, considerando o que  lá 

em 1990 havia sido decidido e encomendado.           

V. DOS PEDIDOS.   

Ademais, expostos os fatos e os fundamentos jurídicos que 

consubstanciam  a  presente  Ação  Popular,  tendo  sempre  como  presente  e 

determinante o interesse público perseguido, pede o Autor: 

1) Que seja julgada procedente a Ação e seja declarada a 

nulidade do artigo  segundo do Decreto nº 6.586, de 

29  de  setembro  de  2008,  que  “Dispõe  sobre  a 

implementação  do  Acordo  Ortográfico  da  Língua 

Portuguesa”,  no  que  concerne  a  obrigatoriedade 

exclusiva  da  nova  grafia  que  já  se  demonstrou 

produzida  em  desrespeito  ao  conjunto  normativo  as 

que devia obedecer;   

Roberto Sobral [email protected]   

Page 64: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

64  

 

2) que  seja prorrogado o período de  vigência da dupla 

ortografia  ‐  estabelecido  no  §  único  do  artigo  2º  do 

mesmo  Decreto,  verbis:  “  A  implementação  do  Acordo 

obedecerá ao período de transição de 1º de janeiro de 2009 

a  31  de  dezembro  de  2012,  durante  o  qual  coexistirão  a 

norma  ortográfica  atualmente  em  vigor  e  a  nova  norma 

estabelecida”  ,    passando  o  termo  final  a  ficar 

condicionado  ao  cumprimento  das  normas  de 

regência sobre a matéria, a saber:  

a. Sujeição  à  aprovação  do  Congresso  Nacional 

daqueles  “atos que  impliquem  revisão do  referido 

Acordo,  bem  como  quaisquer  ajustes 

complementares que, nos termos do inciso I do art. 

49 da Constituição  Federal, acarretem encargos ou 

compromissos  gravosos  ao  patrimônio  nacional”, 

disposição  literalmente  ordenada  através  dos Decreto  Legislativo  Nº  54,  DE  1995,  Decreto 

legislativo Nº 120, DE 2002, artigo 3º do Decreto 

6.583 de 29 de setembro de 2008 e artigo 2º do 

Decreto 6.584, de 29 de setembro de 2008.  

b. A sujeição da Reforma Ortográfica em curso no 

Brasil às determinações legais no sentido de que 

“ O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, entre 

os Governos  da República  de Angola,  da República 

Federativa do Brasil, da República de Cabo Verde, da 

República  de  Guiné‐Bissau,  da  República  de 

Moçambique,  da  República  Portuguesa  e  da 

República Democrática de  São  Tomé  e Príncipe, de 

16  de  dezembro  de  1990,  apenso  por  cópia  ao 

presente Decreto,  será  executado  e  cumprido  tão 

inteiramente  como  nele  se  contém.”, 

mandamento  reproduzido  nos  artigos 

primeiro  dos  Decreto  nº  6.583,  6.584  e 

6.585,todos de 29 de setembro de 2008;  

c. O cumprimento à clara determinação trazida no 

artigo primeiro do Decreto nº 6.586 de 2008, no 

sentido de que “Nos  termos do artigo 2º do Acordo 

Ortográfico  da  Língua  Portuguesa,  os  Ministérios  da 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 65: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

65  

Educação, da Cultura e das Relações Exteriores,  com a 

solicitação  de  colaboração  da  Academia  Brasileira  de 

Letras  e  de  entidades  afins  nacionais  e  dos  Países 

signatários  do  Acordo,  adotarão  as  providências 

necessárias para elaboração de vocabulário ortográfico 

comum  da  língua  portuguesa.  (Sublinhadas  pelo  Autor 

as partes reiteradamente desobedecidas);   

 

3) que a UNIÃO FEDERAL  seja condenada ao pagamento 

equivalente a maior quantia dentre aquelas que foram 

dispendidas nos anos de 2010 e de 2011 na produção e 

distribuição  gratuita  de  livros  didáticos  para  todo  o 

país, quantia esta a ser depositada em favor do Fundo 

Nacional de Desenvolvimento da Educação, cujo valor 

relativo  a  2010  estima‐se  em  R$  690.000.000,00 

(Seiscentos  e  noventa milhões  de  reais),  valor  a  ser 

depositado em conta específica do Fundo Nacional de 

Desenvolvimento  da  Educação,  vinculada  ao  fim  de 

assegurar a distribuição gratuita do material didático a 

ser produzido de modo fiel ao Acordo Ortográfico, este 

implementado segundo as devidas disposições legais. 

 

4) que a Academia Brasileira de Letras seja condenada a 

publicar e disponibilizar, em volume equivalente ao 

que fez publicar a 5ª edição do seu Vocabulário 

Ortográfico da Língua Portuguesa, especial edição com 

a dupla grafia, seja como anexo ou como completa 

reedição, e ainda compelida ao ressarcimento dos 

valores eventualmente reclamados para devolução dos 

exemplares que sejam objeto de tal solicitação.  

 

 

5) que,  em  face  da  exigência  normativa  para 

responsabilização  das  autoridades  comissivas  ou 

omissivas  das  ilegalidades  apontadas,  sejam 

condenados  os  Excelentíssimos  Samuel  Pinheiro 

Guimarães  Neto,  Fernando  Haddad  e  João  Luiz  Silva 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 66: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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Ferreira,  que  á  época  da  assinatura  do  Decreto  aqui 

impugnado ocupavam os cargos de Ministros de Estado 

das  Relações  Exteriores,  da  Educação  e  da  Cultura, 

respectivamente,    cada um no pagamento da quantia 

de R$ 1000,00 (hum mil reais), valor a ser recolhido em 

favor do FNDE, Fundo nacional de Desenvolvimento da 

Educação; 

 

6) que, a igual modo, seja condenado o presidente da 

Academia brasileira de Letras, o Acadêmico Marcos 

Vinicios Vilaça, no pagamento da quantia de R$ 

1.000,00 (hum mil reais), valor a ser recolhido em favor 

do FNDE, Fundo nacional de Desenvolvimento da 

Educação;  

 

7)  que  durante  o  período  em  que  estiver  prorrogada  a 

dupla ortografia, esta assim seja admitida em todos os 

processos/procedimentos oficiais, em especial no que 

concerne aos exames seletivos para preenchimento de 

cargos públicos e vagas nos vestibulares; 

 

8) que sejam citados os demandados para que possam vir 

contestar,  assim  querendo,  assistidos,  quando 

pertinente, pela Advocacia Geral da União; 

 

9) que  seja deferida a produção de provas documentais, 

testemunhais e periciais,  se necessário, em especial o 

que  se  possa  produzir  a  partir  do  depoimento  das 

partes; 

  

 

10)  o parecer do Ministério Público Federal.  

 

Dá‐se à causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ 690.000.000,00 (seiscentos e noventa 

milhões de reais). 

Roberto Sobral [email protected]   

Page 67: AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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Roberto Sobral [email protected]   

Manifestando  o  sincero  interesse  de,  por  meio  desta  Ação 

Popular, servir a tão relevante causa democrática, o Autor pede Deferimento. 

Brasília, 29 de agosto de 2011. 

 

 

Roberto Catarino da Silva Sobral 

OAB Nº 13.839/DF 

 


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