In A. Teodoro & C. A. Torres (orgs.) (2005, no prelo).Educao Crtica e Utopia. Perspectivas para o Sculo XXI.Porto: Afrontamento
A SOCIOLOGIA DA EDUCAO EM PORTUGAL:
ELEMENTOS PARA A CONFIGURAO DO "ESTADO DA ARTE"
Almerindo Janela Afonso
No pretendendo apresentar uma sntese ampla e exaustiva do campo cientfico
onde este texto se inscreve, procuro, mais modestamente, fazer uma breve incurso s
fronteiras temticas abertas pela sociologia da educao em Portugal, tomando como
referncia simultnea trabalhos publicados (ou, excepcionalmente, que tenham sido
apresentados em contexto acadmico para provas de mestrado ou doutoramento) e que
tenham sido referenciados ou que se auto-referenciem ao campo sociolgico, tendo
sempre como objecto de anlise e investigao a Educao (escolar e no-escolar).
Revisitando snteses publicadas anteriormente (Stoer, 1992; Stoer & Afonso, 1999;
Afonso, 2001a), trata-se, essencialmente, de apresentar um outro ensaio sobre o "estado
da arte" em sociologia da educao onde, naturalmente, se procuram convocar e
considerar novas aproximaes, informaes e dados recentes, dando assim continuidade
a um trabalho (sempre provisrio) voltado para a configurao de um campo cientfico
cada vez mais aberto a contributos terico-conceptuais e metodolgicos plurais e
diversificados.
Na ausncia de critrios de escolha objectivos e estabilizveis relativamente aos
trabalhos existentes, e na presena de um campo muito heterogneo que atravessado
por descontinuidades de diferentes matizes, subsiste a minha responsabilidade nas
"escolhas" (que, afinal, se traduzem objectivamente em incluses e excluses), mais ou
menos justificveis consoante os receptores, mas, em qualquer dos casos, sempre
decorrentes da impossibilidade de tudo incorporar, sabendo, por exemplo, que mesmo a
qualidade de alguns autores impe restries, eventualmente arbitrrias, mas
necessrias, devidas at, por vezes, amplitude da pesquisa e reflexo publicadas.
Certamente que algumas ausncias foram tambm derivadas do desconhecimento no
voluntrio de trabalhos realizados, ainda que publicados, mas, por motivos vrios, pouco
conhecidos; e, por ltimo, outras escolhas e ausncias, no necessariamente mais
justificveis do que as anteriores, foram condicionadas pelas caractersticas do contexto
de recepo imediato a que se destinava este trabalho de sntese, ou seja, o Seminrio
Internacional organizado em Portugal, com a colaborao da Universidade Lusfona, pela
seco de Sociologia da Educao da Associao Internacional de Sociologia (Midterm
Conference Europe 2003 Internacional Sociological Association (ISA), Research
Committee on Sociology of Education. Lisboa, 20 de Setembro de 2003). Neste contexto,
como se compreender, no fazia muito sentido deixar de lado, por exemplo, a referncia
a algumas linhas relativas gnese e evoluo do campo disciplinar em anlise (as
quais, por si s, justificam, por comparao com snteses anlogas anteriores, algumas
repeties de obras e autores), embora, tambm neste aspecto, se tenha procurado
trazer novas informaes. Em qualquer dos casos, as opes tomadas foram tambm
justificadas pela preocupao conjuntural de atender a expectativas de colegas e
investigadores, sobretudo estrangeiros, que no possuam qualquer informao prvia
sobre o teor desta interveno, mas que, ao se inscreverem no Seminrio, estavam
certamente interessados em conhecer alguns indicadores do campo da sociologia da
educao em Portugal.
A sociologia da educao em Portugal: tempos e (des)continuidades
A sociologia da educao em Portugal tem ainda uma escassa tradio como
disciplina acadmica. Tal como aconteceu, em sentido mais amplo, com a sociologia 1, o
seu desenvolvimento deu-se sobretudo a partir de meados dos anos setenta, na fase
posterior revoluo democrtica de Abril de 1974. Isso no significa, no entanto, que
no faa sentido falar de um percurso j anteriormente iniciado percurso esse, alis,
muito bem caracterizado e documentado na primeira anlise publicada sobre a evoluo
deste campo por Stephen Stoer (1992). Nesta mesma linha, outros contributos
posteriores, como o de Guilherme R. Silva, mostram igualmente que, recuando s
primeiras dcadas do sculo XX, possvel, entre outros aspectos, encontrar marcas
consistentes das influncias dos trabalhos de Auguste Comte e de mile Durkheim em
importantes autores portugueses. Neste sentido, por exemplo, Adolfo Lima, um dos mais
eminentes pedagogos portugueses deste perodo, chegou mesmo a publicar, em 1924,
um nmero temtico da revista Educao Social, de que era tambm director,
subordinado precisamente ao tema A Sociologia na Educao. Neste nmero especial da
revista, Adolfo Lima apresenta a obra de Durkheim e reitera a importncia da sociologia
na formao dos educadores e professores. At ao momento da priso deste pedagogo,
j em contexto de represso poltica e anti-democrtica do Estado Novo, pode mesmo
considerar-se que a revista Educao Social estava a liderar um processo de construo
de uma sociologia da educao e que esse processo foi interrompido para ser retomado
somente dcadas mais tarde num outro contexto scio-poltico (cf. R. G. Silva, 2000)2.
1 Para um excelente trabalho de anlise sobre a gnese e evoluo da sociologia em Portugal, ver JosMadureira Pinto (1997).
2 A este mesmo propsito, Antnio Joaquim Esteves, num ensaio que procura igualmente sistematizar alguns
2
A longa travessia do Estado Novo portugus como regime autoritrio (1926-
1974) a qual foi extremamente desfavorvel generalidade das cincias sociais e
humanas, sobretudo as que assumiam um carcter mais problematizador e crtico
impediu, pelas mesmas razes, o desenvolvimento da sociologia (e, portanto, tambm
da sociologia da educao e de outras sociologias especializadas) at, pelo menos, ao
momento em que comearam a notar-se os primeiros e frgeis sinais de abertura
poltica, j em finais da dcada de sessenta, incio da dcada de setenta. H, no entanto,
um relativo consenso entre os autores, sobretudo os que tm procurado dar algum
contributo para a histria da sociologia da educao em Portugal, relativamente ao facto
de ser a dcada de sessenta o momento em que se nota uma viragem significativa em
termos da produo sociolgica. Neste perodo, d-se nfase aos estudos sobre a
universidade e desenvolve-se uma significativa discusso em torno da contribuio desta
instituio para o processo de modernizao da sociedade portuguesa (cf. Stoer, 1992).
Paralelamente reflexo sobre o papel da universidade, que ir ser um dos principais
objectos de estudo do ento Gabinete de Investigaes Sociais sob a liderana de Sedas
Nunes (um dos mais conhecidos impulsionadores da sociologia portuguesa), comeam
tambm a surgir outros interesses de pesquisa por parte de diferentes autores, incidindo
nomeadamente sobre o ensino secundrio e o insucesso escolar interesses esses que,
ao longo dos anos setenta, iro contribuir para dar alguma visibilidade, por exemplo, aos
efeitos de alguns percursos duais e socialmente discriminatrios de escolarizao da
juventude portuguesa.
A este propsito, no mbito das actividades do Centro de Investigao
Pedaggica da Fundao Calouste Gulbenkian (1965) que inclua j, nos seus
objectivos e na sua orgnica, um "Servio de Sociologia da Educao e de Estatstica
Aplicada Educao" , so promovidos uma srie de estudos e conferncias, no
deixando de ser significativa a vinda a Portugal, em meados da dcada de sessenta, da
sociloga da educao Viviane Isambert-Jamati, com o objectivo de orientar um
seminrio sugestivamente intitulado "Educao dos jovens e mudana social" 3. Trata-se,
alis, de uma autora que, alguns anos mais tarde, teria um dos seus textos includos
traos do pensamento de um outro precursor do pensamento sociolgico e educacional portugus, mostracomo interessante "Ler alguns textos de Antnio Srgio (1883-1969) com o intuito de extrair algumas notasde sociologia da educao" (cf. Esteves, 1998, p. 53).
3 Para alm de algumas escassas indicaes contidas na apresentao do dossier que organizei em 1991, sobresociologia da educao em Portugal para a Revista O Professor (n 22, pp. 21-62), considero aqui outrasinformaes sobre o Centro de Investigao Pedaggica, da Fundao Calouste Gulbenkian, que foram muitooportunamente lembradas pela professora e historiadora urea Ado, a qual, amavelmente, me disponibilizou,posteriormente, outro material importante sobre a actividade do CIP e, especificamente, algumas referncias arelatrios onde se alude a conferncias de especialistas estrangeiros convidados e, entre outros, a trabalhos de"investigao sociolgica" realizados. Num desses relatrios refere-se, por exemplo, que "Entre 10 e 14 deMaio de 1965 realizaram-se no auditrio da Fundao e no CIP, uma srie de conferncias e um seminrio acargo de Viviane Isambert-Jamati, do C. N. R. S. (de Paris) a propsito do tema ducation des jeunes etchangement social. O Seminrio obedeceu ao seguinte programa: L' ducation des jeune enfants,anthropologie e sociologie; enseignement du second degr et classe social; enseignement et emploi; lesuniversits, les tudiants". Nessa ocasio, so particularmente interessantes os registos dos debates dasconferncias e, em especial, o dilogo entre Sedas Nunes e Isambert-Jamati (cf. Centro de InvestigaoPedaggica, 1965).
3
numa das raras colectneas de sociologia da educao publicadas at hoje em Portugal
(cf. Grcio, Miranda & Stoer, orgs., 1982; Grcio & Stoer, orgs., 1982) colectneas
que, embora contendo apenas contribuies de autores estrangeiros, passaram a servir
de referncia (como, alis, outra colectnea organizada por Filomena Mnica, 1981),
para todos aqueles que, a partir da, se aproximaram deste campo disciplinar, quer em
termos de docncia, quer em termos de investigao. A propsito daquela primeira
iniciativa editorial colectiva, pode ler-se na introduo ao primeiro volume: "Os pontos
de vista dos autores que seleccionmos fornecem um conjunto de quadros tericos que
possibilitam a ruptura com o senso comum em matria de escola e educao: se
puderem contribuir para uma investigao sobre a realidade nacional que ponha em
primeiro plano os interesses populares em matria de educao e cultura, consideramos
que se ter conseguido o objectivo que presidiu organizao da presente antologia"
(Grcio, Miranda & Stoer, 1982, pp. 10-11). No momento em que surgem estas
colectneas, e estando ns j a alguns anos de distncia do perodo revolucionrio ps-
25 de Abril (ocorrido entre 1974 e 1976) e, portanto, caminhando aceleradamente
para a normalizao poltica, social e econmica da vida portuguesa, ou seja, para uma
aproximao aos padres europeus de uma sociedade capitalista demo-liberal, que
haveria de consolidar-se a partir de 1986 com a adeso do pas ento Comunidade
Econmica Europeia , no deixar de surpreender a observao dos autores atrs
citados quando afirmam, em plena dcada de oitenta, que ainda predominavam em
Portugal os "estudos de carcter histrico" e que, por esse facto, se tornava urgente
"contribuir para fomentar a necessria investigao sociolgica sobre a realidade
portuguesa em matria de educao e cultura" (Grcio, Miranda & Stoer, 1982, p. 9). A
surpresa resultar, talvez, de se poder pensar que a sociologia, tendo sido preterida e
cerceada na poca do regime autoritrio do Estado Novo (1926-1974), teria acabado por
despontar em fora logo aps a instaurao da democracia com a Revoluo dos Cravos
porm, pelo menos no caso da sociologia da educao, isto s veio a acontecer de
forma lenta e gradual, alguns anos depois de Abril de 1974. Compreende-se, por isso,
que houvesse a necessidade de comear por dar prioridade a um olhar mais diacrnico
(por ser, sem dvida, urgente e necessrio conhecer melhor a nossa histria educacional
recente), e evitando, tambm, desta forma, os dilemas do investigador que se confronta
com importantes problemas metodolgicos quando pretende fazer uma sociologia a
quente (ou seja, sem o necessrio recuo em relao aos acontecimentos) dilemas que
so mais acentuados sobretudo em conjunturas de profundas e rpidas mutaes
sociais, e num clima politicamente instvel e atravessado por importantes tenses
ideolgicas, como o que se viveu a seguir revoluo democrtica. No entanto, mesmo
tendo em conta que alguns trabalhos importantes deste perodo se situaram justamente
na fronteira entre a histria e a sociologia como o caso da obra Educao e
Sociedade no Portugal de Salazar (Mnica, 1978), considerada, alis, uma referncia
4
precursora nos estudos de sociologia da educao , mesmo assim faz sentido afirmar
que foi a necessidade de um olhar sociolgico mais sincrnico e voltado para a
descoberta das realidades portuguesas que veio impulsionar, ao longo da dcada
seguinte, uma parte importante daquilo que foi escrito no mbito deste campo disciplinar
em anlise.
A sociologia da educao na dcada de oitenta: a descoberta tardia das
realidades portuguesas
Estando quase tudo por investigar no incio da dcada de oitenta, a sociologia da
educao vai constituir-se, a partir da, tendo sobretudo como base os contributos de
docentes e investigadores universitrios que, em funo de interesses mais individuais do
que resultantes de compromissos com projectos colectivos, vo elegendo no interior
deste campo uma crescente pluralidade de objectos de pesquisa e de reflexo. Alguns
destes trabalhos tm um carcter predominantemente terico, valorizando sobretudo a
reviso e recontextualizao crticas da literatura estrangeira disponvel; outros, pelo
contrrio, j comeam a alicerar-se em resultados concretos de alguma investigao
emprica e metodologicamente orientada. Uns circunscrevem-se predominantemente ao
espao pedaggico da escola e da sala de aula, outros, ao contrrio, so de natureza
mais macro-sociolgica procurando, neste caso, compreender o papel do Estado na
configurao das prticas e polticas de educao.
Todavia, no se observa ainda, com suficiente frequncia e consistncia, um
esforo de explicitao de quadros paradigmticos ou terico-conceptuais, ainda que no
seja difcil perceber algumas influncias de perspectivas neo-marxistas, weberianas,
durkheimianas e interaccionistas. Nesta dcada de oitenta, como observou Stephen
Stoer, a relevncia da Escola de Frankfurt e de autores como Jrgen Habermas e Claus
Offe era ainda muito tnue, acontecendo algo semelhante relativamente ao estruturo-
funcionalismo e sociologia fenomenolgia e, sobretudo, designada nova sociologia da
educao (cf. Stoer, 1992, pp. 38-39).
Paralelamente ao desenvolvimentos de trabalhos de natureza mais terico-
conceptual e emprica, deve ser relembrada, como uma das boas iniciativas do final dos
anos oitenta, o I Congresso Portugus de Sociologia onde a sociologia da educao
marcou j alguma presena atravs de comunicaes de autores como Jorge Arroteia
("sistema de ensino e mobilidade social"), Ana Benavente ("contributos para uma
sociologia do sucesso escolar"), Telmo Caria ("classes populares perante o fim da
escolaridade obrigatria"), Srgio Grcio ("crise juvenil e inveno da juventude" e Maria
Manuel Vieira ("prticas de educao feminina das classes superiores") (cf. AAVV., 1990,
5
vol.1, pp. 67-126). Pouco tempo depois, ocorreu tambm a realizao da I Conferncia
Internacional de Sociologia da Educao a qual procurou criar um espao de dilogo entre
autores portugueses e estrangeiros a trabalhar neste campo. Realizada na Escola
Superior de Educao de Faro, entre 5 e 9 de Abril de 1988, a conferncia teve como
tema principal "A Sociologia da Educao na Formao de Professores", tendo estado
presentes autores estrangeiros como Henry Giroux, Peter McLaren, Len Barton, Geoff
Whitty, Christer Fritzell e Suzanne Mollo-Bouvier, bem como autores portugueses como
Ana Benavente, Ana Maria Morais, Rui Canrio, Conceio Alves Pinto, Jos Manuel
Resende, Cristina Rocha, entre muitos outros 4.
Ainda durante a dcada de oitenta, com a assuno e expanso da formao de
professores como eixo de desenvolvimento estratgico das universidades novas e das
escolas superiores de educao, as cincias da educao, em geral, e a sociologia da
educao, em particular, vo continuar a revelar um interesse crescente por uma ampla
pluralidade de objectos e temas de investigao. Uns, constituem-se em torno da anlise
da relao da escola com a sociedade, outros privilegiam as polticas educativas e o papel
do Estado; alguns incidem no insucesso escolar como fenmeno recorrente em vrios
nveis do sistema de ensino, outros do visibilidade problemtica do profissionalismo e
do sindicalismo docentes; alguns outros incidem no papel da sociologia na formao de
professores ou tentam chamar a ateno para questes mais microssociolgicas como a
interaco selectiva, outros discutem ainda a gnese escolar de comportamentos
divergentes e algumas formas de controlo social na sala de aula.
Para alm de um plo constitudo por alguns investigadores e docentes da
Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do Porto, ou outros
investigadores dispersos, a rea de Anlise Social da Educao (inicialmente rea de
Macro-Educao) da ento Unidade Cientfico-Pedaggica de Cincias da Educao, da
Universidade do Minho, era j nessa altura, com alguma antecedncia no contexto
4 Como principal impulsionador desta conferncia, e na qualidade de representante da comisso organizadora,Joo Viegas Fernandes assinala na altura:" []esta iniciativa um acontecimento histrico num ciclo deafirmao pblica da sociologia em Portugal. Aps a realizao do 1 Congresso Portugus de Sociologia, nopassado ms de Janeiro, agora a vez de os(as) estudiosos(as) de Sociologia da Educao se encontrarem anvel nacional com colegas da comunidade cientfica internacional, para uma troca de ideias, de resultados deinvestigao e de processos de interveno no sistema escolar" (V. Fernandes, 1988). Quem cotejar as Actasda I e da II Conferncia Internacional de Sociologia da Educao (esta realizada em 1993), perceber que,para alm de novas e significativas presenas de autores estrangeiros (alguns dos quais brasileiros), htambm um crescimento muito significativo de comunicaes de autores portugueses referentes a temticasagrupadas em torno do Estado e polticas educativas; educao, movimentos sociais e universos culturais;escola e desenvolvimento; organizao e gesto escolares; currculo, saberes, prticas e interaces;professores e mudanas sociais, entre outras (cf., AAVV., 1996).Tambm no que diz respeito ao II CongressoPortugus de Sociologia, realizado entre 5 e 7 de Fevereiro de 1992, a presena de objectos referenciados sociologia da educao e formao e s polticas educativas, crescente e bastante significativa (cf. AAVV.,1993). Nos congressos de sociologia subsequentes, a educao e as polticas educativas estaro semprepresentes, bem como em outros congressos e seminrios organizados por diversas entidades e instituies. Noentanto, no mais recente V Congresso Portugus de Sociologia, realizado em Braga em Maio de 2004, apesarde haver um nmero elevado de comunicaes da rea de educao submetidas quer ao atelier educao eaprendizagens, quer a outros ateliers, a afirmao da sociologia da educao portuguesa, do meu ponto devista, no saiu reforada. Salvo uma ou outra boa excepo, alicerada na convocao de quadros terico-conceptuais consolidados ou sustentada em investigao emprica consistente e recente, muitas dascomunicaes em educao traduziram-se em abordagens pouco inovadoras face evoluo terica emetodolgica da sociologia da educao contempornea.
6
universitrio portugus, um dos ncleos importantes de desenvolvimento da sociologia
da educao (cf. Pires, Formosinho & Fernandes, 1991; Pires, 2000)l5.
Enquanto muitos dos trabalhos at agora referenciados constituem contribuies
pontuais ou que apenas tiveram uma escassa continuidade, h outros que, ao contrrio,
deram origem a linhas de investigao coerentes e duradouras, algumas das quais se
mantm at hoje. Para alm do mrito de introduzir no contexto educacional portugus
os contributos especficos de Basil Bernstein (Domingos et al., 1986), a equipa
coordenada por Ana Maria Morais da Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa
um exemplo raro de continuidade produtiva numa linha de investigao que tem dado
importantes contribuies tericas e empricas para a consolidao do campo da
sociologia da educao em Portugal (Morais et al., 2000). No interior deste mesmo
campo da sociologia da educao, e pelo menos desde o incio dos anos oitenta, outras
linhas de investigao tm tido entre ns uma continuidade crescente, quer a partir de
iniciativas de carcter mais individual, quer a partir de projectos colectivos localizados
em diferentes departamentos universitrios. Refiro-me, por exemplo investigao feita
relativamente s polticas pblicas de educao em Portugal, e que se pode
genericamente traduzir como constitutiva (ou com contributos constituveis) de uma
sociologia das polticas educativas.
A sociologia a educao enquanto sociologia das polticas educativas
Os trabalhos de Stephen R. Stoer, da Faculdade de Psicologia e de Cincias da
Educao da Universidade do Porto, quer a nvel individual, quer, sobretudo, resultantes
da realizao de projectos com parcerias vrias, constituem tambm um contributo
assinalvel e de longa durao, frequentemente em torno da pesquisa e reflexo sobre
problemas novos (ou menos discutidos entre ns) situados no campo da sociologia das
polticas educativas inicialmente, sobre o papel do Estado nacional em contexto de
mudana social (cf. Stoer, 1982, 1986); mais tarde, sobre o papel da educao bsica e
das suas relaes com o trabalho em contexto semiperifrico (cf. Stoer & Arajo, 1992);
logo depois, dando continuidade reflexo sobre a construo da escola democrtica (cf.
Stoer, 1994a, 1994b); mais recentemente, fazendo a crtica a diferentes concepes de
poltica educativa e inter/multiculturalismo (cf. Stoer & Corteso, 1999; Stoer, 2001) ou,
ainda, analisando os movimentos de transnacionalizao e europeizao da educao (cf.
Magalhes & Stoer, 2003).
A este propsito, e tendo apenas como referncia teses de doutoramento, no
5 Uma parte da herana de leccionao e de investigao destas reas disciplinares teve continuidade no actualDepartamento de Sociologia da Educao e Administrao Educacional, do Instituto de Educao e Psicologia,da Universidade do Minho, sob a direco de Licnio C. Lima.
7
pode deixar de ser referida, deste mesmo autor, a obra precursora Educao e Mudana
Social em Portugal (Stoer, 1986) e, posteriormente, de outros autores, entre outras, as
obras Ensinos Tcnicos e Poltica em Portugal, 1910-1990 (S. Grcio, 1998); Polticas
Educativas e Avaliao Educacional (Afonso, 1998); Legitimao e Contingncia na Escola
Secundria Portuguesa (R. Gomes, 2000); A Construo Poltica da Educao (Teodoro,
2001); Polticas Educativas e Ensino Superior em Portugal (Seixas, 2003); Escola-
Famlia, uma Relao Armadilhada (P. Silva, 2003); Polticas Educativas Nacionais e
Globalizao (Antunes, 2003); A Identidade do Ensino Superior: Poltica, Conhecimento e
Educao numa poca de Transio (Magalhes, 2004)6. Sendo verdade que estas e
outras teses beneficiaram (e ainda bem) de muitas outras sinergias disciplinares,
gostaria de referir, como exemplo de interfaces: i) entre a sociologia da educao, a
antropologia e a formao de professores, a tese Educao Intercultural, Utopia ou
Realidade? (Peres, 1999); ii) entre a antropologia social, a histria e sociologia da
educao, a tese Histrias de Vida e Identidades. Professores e Interculturalidade (R.
Vieira, 1999); iii) entre a histria da educao e a sociologia da educao, a tese
Pioneiras na Educao. As professoras primrias na viragem do sculo (1870-1933)
(Arajo, 2000); iv) entre a sociologia das organizaes educativas e a sociologia das
polticas educativas, a tese Redescobrir a Escola Privada Portuguesa como Organizao
(Estvo, 1998) e, mais recentemente, as teses Decentralisation, School Autonomy and
the State in England and Portugal, 1986-1996 (Marques Cardoso, 2001) e A Participao
dos Pais na Escola Pblica Portuguesa (S, 2003), ou, ainda, a partir de olhares
disciplinares cruzados, sobretudo entre as polticas educativas e as dinmicas locais e
comunitrias, a tese o Estudo do 'Local' em Educao (F. I. Ferreira, 2003).
O interesse pela anlise das polticas educativas por parte dos socilogos da
educao portugueses, verificado sobretudo a partir de finais da dcada de oitenta,
mostra uma certa coincidncia temporal com o momento em que o interesse por esta
mesma rea se comea a notar em outros pases. Por exemplo, na Inglaterra e em outros
pases anglo-saxnicos, os investigadores em educao (com uma ou outra excepo
como a que se refere aos trabalhos de Roger Dale), apenas redescobriram a importncia
dos estudos das polticas (policy studies) j pelo final dos anos oitenta7. Como refere S.
Ball, nas duas dcadas precedentes (anos 60 e 70), a ateno da investigao
educacional ou foi direccionada para a escola e a sala de aula, privilegiando as
perspectivas interaccionistas, ou focalizou a economia, predominando neste caso as
6 Tambm no que diz respeito a dissertaes de mestrado publicadas, podem ser referenciadas sociologiadas polticas educativas, entre outras, as seguintes obras: Poltica Educativa como Tecnologia Social (Grcio,1986);Poltica Educativa em Portugal (Teodoro, 1994); Polticas Educativas para Portugal, anos 80/90 (Antunes,1998); Polticas de Educao Pr-Escolar em Portugal, 1977-1997 (Vilarinho, 2000a).
7 Para outra realidade, mas em consonncia com esta mesma concluso, escreve tambm XavierBonal: "[] la sociologa de la poltica educativa se confirma en los aos noventa como un campo especficode anlisis de la sociologa de la educacin" (Bonal, 1998, p. 187).
8
perspectivas estruturalistas e neo-marxistas (cf. Ball, 1994). Tendo como principal
motivao a anlise das reformas educativas, nomeadamente as reformas realizadas na
Inglaterra pelos Conservadores que estiveram no poder na dcada de oitenta, muitos
socilogos da educao reactualizaram a partir desta ltima data os seus objectos
tradicionais de investigao 8, ao mesmo tempo em que contornaram ou redefiniram
estrategicamente o seu estatuto acadmico numa conjuntura poltica que, embora sendo
desafiadora para a "imaginao sociolgica face adversidade" (Barton & Whitty, 1988),
no deixar de revelar-se muito desfavorvel expanso da prpria sociologia da
educao nos departamentos universitrios e escolas de formao de professores
situao esta, alis, que, com algumas especificidades, comeamos hoje (nos primeiros
anos do novo milnio) a sentir fortemente em Portugal.
No sendo de modo algum despiciendo o impacto (ainda ambguo mas
persistente) das orientaes europeias em termos de polticas educativas, sobretudo para
o ensino superior, trata-se, no fundo, de constatar que, tambm entre ns, certos
padres de produo cientfica e pedaggica e de interveno social e poltica mais
problematizadores e crticos, que sejam referenciados ou se referenciem a certas reas
de conhecimento (como a Educao, em geral, ou a prpria sociologia da educao, em
particular), no apenas tm vindo a ser neutralizados, na sua visibilidade social, por
interposio das ideologias neoconservadora e neoliberal dominantes como, de algum
modo, tm tambm perdido algum vigor endgeno, atribuvel, entre outras razes, s
prprias estratgias adoptadas e incapacidade de legitimao colectiva contrastando
esta situao com o que aconteceu de meados dos anos oitenta a meados dos anos
noventa onde alguns autores ou grupos de trabalho e de investigao em Educao
tiveram, genericamente, um papel (talvez at demasiado) central no prprio
condicionamento da agenda relativa chamada reforma educativa 9.
Ainda no que respeita comparao da nossa realidade educacional com a
realidade mais abrangente, penso ser importante sinalizar, como hiptese a verificar
melhor, que o interesse crescente dos socilogos da educao portugueses pela anlise
das polticas educativas pode tambm justificar-se pela recepo e impacto que alguns
trabalhos estrangeiros, predominantemente anglo-saxnicos, mas tambm francfonos,
tiveram na reflexo sociolgica sobre as polticas educativas em Portugal, sobretudo em
8 Como refere Stewart Ranson, "Researchers could investigate theoretical perspectives and explore avariety of methodological approaches to empirical work and data analysis. This opportunity has been seizedand now, in the mid 1990s a vast literature exists on the impact of the Education Reform Act agenda oneducation " (Ranson, 1995, p. 427).
9 Numa outra perspectiva (complementar que eu acabei de enunciar acima) Antnio Magalhes e StephenStoer escrevem: "[] com verdadeiro espanto que assistimos nos diferentes meios de comunicao social presena de 'especialistas' em educao como jornalistas, economistas, gestores, corretores, empresrios, etc.A aproveitam para expender as suas vises e opinies acerca dos desafios, dos significados, das prioridadesque se colocam educao. O nosso espanto no relativo ao facto de eles/elas terem opinies e vises, oque nos espanta a total ausncia daqueles que mais tempo, esforo e massa cinzenta investem na tentativade compreender os fenmenos educativos e escolares" (Magalhes & Stoer, 2004, p. 7).
9
alguma daquela reflexo (mais expressiva) publicada a partir do incio dos anos noventa.
Numa poca de crescente internacionalizao da sociedade portuguesa e de maior
disponibilidade de recursos para a investigao universitria e para o acesso s fontes
bibliogrficas, abriu-se a possibilidade de um maior nmero de investigadores aproveitar
da contribuio de autores e trabalhos estrangeiros, anteriormente acessveis somente a
alguns (poucos) investigadores que, ou estudaram fora do Pas, ou, muitas vezes na
sequncia dessa experincia, passaram a manter contactos e intercmbios para alm do
contexto acadmico nacional. Embora, em alguns casos, e como efeito perverso, a
tendncia para a importao ou reproduo mimticas de outras agendas e objectos de
investigao tenha aumentado, a verdade que, mesmo assim, os trabalhos mais
significativos de sociologia das polticas educativas em Portugal so justamente aqueles
que cedo assumiram (e esse tem sido um dos seus contributos decisivos) que seria
necessrio no perder de vista a investigao das especificidades e "realidades
portuguesas" (Stoer, 1986, p. 15).
Por estas e outras razes, mais recentemente, muitos trabalhos tm procurado
desenvolver uma anlise das polticas educativas indo buscar ou construir, em dilogo
com outras contribuies sociolgicas disponveis, os quadros terico-conceptuais com
maior capacidade hermenutica para avanar na compreenso das referidas realidades.
Neste sentido, tem sido particularmente evidente o efeito positivo da incorporao
gradual de contributos vindos de outras sociologias especializadas e da prpria teoria
sociolgica, bem como de outras cincias sociais, nos trabalhos dos socilogos da
educao que, entre ns, tm privilegiado a anlise das polticas educativas. A este
propsito, posso referir, como exemplo, a incorporao crtica e criativa de contributos da
sociologia portuguesa (como os trabalhos de Jos Madureira Pinto ou de Boaventura de
Sousa Santos, entre vrios outros) que tm sido frequentemente convocados para o
estudo da educao e das polticas educativas, a par de trabalhos de autores estrangeiros
(sobretudo os trabalhos de Geoff Whitty, Roger Dale, Stephen Ball e Carlos Alberto Torres
e, mais recentemente, de autores francfonos como Michel Foucault, Franois Dubet, Lise
Demailly, Jean-Louis Derouet, Agns Van Zanten, Luc Boltansky, entre outros)10. Os
autores francfonos, alis, h algum tempo atrs menos influentes entre ns, tm agora,
uma presena mais marcante 11.
10 Neste aspecto, os socilogos da educao portugueses que elegeram como objecto as polticaseducativas no podero ser acusados de fechamento relativamente aos contributos de outras cincias sociaise humanas, ao contrrio, por exemplo, do que parece ter acontecido no contexto ingls em que, comoescreveu Barry Troyna, "education policy sociology, as it is presently constituted, is limited and limiting in itstheoretical disciplinary and strategic concerns. This is because it continues to turn a blind eye to issuesarising from cognate theoretical and disciplinary sources which have the potential to illuminate the policyprocess" (Troyna, 1994, p. 70).
11 A este propsito, e em contraste com a parcimnia relativa a autores portugueses, paradigmtica areferenciao bibliogrfica efectuada por Rui Canrio (2003) no seu Relatrio da Disciplina de Sociologia daEducao I apresentado no mbito de Provas de Agregao na Faculdade de Psicologia e Cincias da Educaoda Universidade de Lisboa.
10
Apesar da maioritria representao de trabalhos de sociologia das polticas
educativas no conjunto dos trabalhos referenciveis ao campo mais amplo da sociologia
da educao, deve reconhecer-se, todavia, que eles no so ainda suficientes para
podermos ter uma compreenso ampla das realidades portuguesas, razo pela qual
necessrio que os (ainda escassos) cursos de ps-graduao que leccionam a disciplina
de sociologia das polticas educativas (ou disciplinas semelhantes) se constituam
tambm como lugares privilegiados de produo e induo de novas investigaes neste
campo. Isto, certamente, no dispensa o desenvolvimento de projectos que envolvam
(tambm) investigadores de diferentes departamentos universitrios e centros de
investigao (nacionais e estrangeiros), e de diferentes disciplinas do campo da
educao e das cincias sociais e humanas, com o objectivo de produzir trabalhos de
anlise comparada, terica e empiricamente sustentados, e mais consistentes e
aprofundados atravs da prtica de um maior dilogo e confronto interdisciplinares. A
este propsito comearam, mais recentemente, a ser publicados os resultados de
projectos mais abrangentes (cf., por exemplo, Stoer; Corteso & Correia, orgs., 2001) e
tambm importantes trabalhos parcelares de projectos de pesquisa, j prximos da sua
concluso (cf., por exemplo, Barroso, org., 2003)12.
Em sntese, se a dcada de oitenta e noventa foi, tambm entre ns, fortemente
propiciadora de sugestivos trabalhos sociolgicos tendo como objecto as polticas
educativas grande parte dos quais motivados pela anlise das propostas e
regulamentaes no mbito da ltima 'grande' reforma educativa portuguesa (cf., por
exemplo, Benavente & Grcio, 1989; Stoer, Stoleroff & Correia, 1990; Correia, Stoleroff
& Stoer, 1993; A. Santos Silva, 1994; Afonso, 1997; Lima, 1994; Lima & Afonso, 1995,
2002; Antunes, 1998; Teodoro, 1995; Grcio, 1998) , espera-se agora que, superada
a normal desfasagem entre produo da pesquisa e a sua publicao, possam continuar
a surgir novas anlises sobre as polticas educativas mais recentes, elaboradas e
implementadas pelos governos socialistas (1995-2001), como, alis, j est a acontecer
(cf., a este propsito, por exemplo, Teodoro, org., 1996); Barroso, 1998, 1999; Stoer,
Corteso & Magalhes, 1998; Afonso, 2000; Lima, 2000; Canrio, Alves & Rolo, 2000;
Stoer & Rodrigues, 2000; Benavente, 2001; Stoer & Magalhes, 2002; A Santos Silva,
2003; Barbieri, 2003; Alves & Canrio, 2004)13.
Embora tenham surgido entre ns, h j alguns anos, algumas anlises de
poltica educativa relativas emergncia de um mercado em educao (ver, entre
12 Refiro-me, ainda, de forma mais abrangente, ao Projecto coordenado por Joo Barroso intituladoReguleducnetwork Changes in regulation modes and social production of inequalities in education systems:a European comparison (http://www.fpce.ul.pt/investigacao/projectos/).
13 A expectativa de virem a ser publicados mais trabalhos relativos s polticas educativas recentes nosignifica que a anlise sociolgica no possa ou no deva continuar a incidir em outros objectos e conjunturashistricas e sociais. A este propsito, ver, entre muitos outros, Correia (1999); R. Gomes (1999); Lima(1999). Do mesmo modo, h tambm trabalhos (com colaborao de alguns socilogos) que apresentam umcarcter mais prospectivo em relao evoluo da educao em Portugal e que, embora menos divulgados eestudados, no podem deixar de ser referenciados (cf. Carneiro, Caraa & So Pedro, coords., 2000).
11
outros, Afonso, 1994, 1997), mais recentemente tm sido objecto de pesquisa emprica
e de anlise comparada (e comeam a ser publicadas) outras perspectivas sobre
estratgias e polticas de escolha das escolas que mostram que esta questo continua (e
continuar durante mais tempo) a ser muito relevante, nomeadamente, no campo da
sociologia da educao em Portugal (cf. por exemplo, C. G. Silva, 1999; M. Vieira,
2003b; Barroso & Viseu, 2003; Barroso, 2003b; Marques Cardoso, 2003).
A partir desta heterogeneidade de trabalhos referenciveis a uma sociologia da
polticas educativas, gostaria de concluir este ponto deixando um breve apontamento
referente a questes de natureza metodolgica. So diversas as metodologias e tcnicas
de recolha de dados privilegiadas nos trabalhos de natureza sociolgica que incidem nas
polticas educativas, no sendo difcil encontrar exemplos que vo da etnografia aos
inquritos por questionrio, passando pelas entrevistas e pela anlise de contedo de
documentos e discursos polticos. Subsiste, todavia, um desequilbrio importante no que
se refere predominncia de trabalhos que tendem a dar centralidade aos discursos
polticos, s regulamentaes legislativas e mesmo aco governativa, os quais, em
consequncia disso, deixam por vezes a descoberto quer os processos de recepo das
polticas quer as respectivas prticas de recontextualizao pedaggica, em que devem
ter evidente centralidade os actores e os contextos de aco. No mnimo, uma sociologia
das polticas educativas, no devendo prescindir de tentar estabelecer os eventuais nexos
entre o contexto global e as especificidades nacionais, tambm no dever deixar de
considerar os discursos educativos oficiais e as prticas dos actores, problematizando
ainda, sempre que isso seja pertinente, as mediaes (frequentemente complexas e
contraditrias) entre esses nveis. Os desafios mais recentes implicam que a sociologia da
educao em Portugal, que continue a tomar como objecto as polticas educativas, no
pode deixar de considerar as novas formas hbridas de regulao social (cf., por exemplo,
Barroso, 2003a) e o papel de agncia que, cada vez mais, os actores colectivos
assumem, nos diversos contextos marcados pela globalizao. Certamente que haver,
cada vez mais, trabalhos a procurar essas articulaes de forma intencional, ajudando,
tambm neste aspecto, a abrir as cincias da educao, em geral, e a sociologia da
educao, em particular.
Perante esta diversidade de temticas, autores e metodologias, parecem
inevitveis as ambiguidades que atravessam a anlise sociolgica das polticas
educativas (Teodoro, 1997). A prpria existncia de nuances diversas na justificao e
configurao deste subcampo que, por sua vez, se reflectem, directa ou
indirectamente, na pluralidade de denominaes em uso na literatura especializada
contribui tambm para manter algumas indecises conceptuais. O confronto crtico com
estas ambiguidades no tem impedido, todavia, como acabou de se exemplificar, que
uma parte muito significativa dos trabalhos includos nesta sntese tenham como objecto
12
central as polticas educativas.
Outros objectos de investigao na sociologia da educao
Para alm das polticas educativas, h muitas outras problemticas que tm vindo
a ser consideradas em termos de pesquisa e de reflexo terico-conceptual, inscrevendo-
se (ou podendo ser inscritas) no campo mais amplo da sociologia da educao em
Portugal. Como quero relembrar, no pretendo seno reter algumas referncias a
trabalhos mais recentes ou actualizar algumas j feitas em snteses anteriores, mesmo
porque acabmos recentemente de completar e de comemorar trs dcadas de
democracia ps revoluo de Abril de 1974, que no podem, nem devem, fazer esquecer
que, ao longo desse tempo, se abriram horizontes largos cincias sociais e que
tambm, no que diz respeito sociologia da educao, esto por estudar e conhecer
muitos outros percursos e objectos de pesquisa.
No entanto, sobretudo desde finais dos anos noventa, surgiram, com maior
frequncia, trabalhos com caractersticas prprias de uma sociologia da educao
multicultural e inter/multicultural (Seabra, 1999; Peres, 1999; Stoer & Corteso, 1999;
Resende & Vieira, 2002), bem como contributos relacionveis, mas distintos, que
procuram articulaes entre etnicidade e gnero (Casa-Nova, 2002a, 2000b) e entre
desigualdades de gnero e educao (Arajo, Fonseca, Magalhes & Leite, 2002; A. M.
Ferreira, 2002). Para alm disso, outras perspectivas analticas tm considerado a
questo da "incomensurabilidade da diferena" (Stoer & Magalhes, 2001) e outras,
ainda, tm procurado articular as diferenas com as questes da justia educativa (cf.,
por exemplo, Resende, 2003b). Alis, a problemtica da justia e da educao, tal como
muitas outras problemticas que tm sido fortemente influenciadas por autores
estrangeiros, aparece crescentemente abordada por autores portugueses (cf., por
exemplo, Correia, 2000, 2003; Estvo, 2001; 2002). H tambm novos acrscimos a
uma sociologia dos professores (e dos pais) e das suas prticas educativas (C. A. Gomes,
1998; Arajo, 2000; Corteso, 2000; Caria, 2000, 2002; Correia & Matos, 2001a; J. A.
Lima, 2002a, 2002b; Lima & S, 2002), bem como novas aproximaes (ainda
fragmentrias) a problemticas j anteriormente sinalizados, directa ou indirectamente
relacionadas com a configurao da educao no-escolar, e que tm vindo a ganhar
outros impulsos atravs da anlise crtica, mais ampla, das evolues da educao
escolar, em alguns casos implicando intencionalmente a reactualizao do objecto
(tradicional) da sociologia da educao e/ou aprofundando os recentes factores de crise
da escola e a revalorizao social (nas organizaes de servio e produtivas e nos
discursos e orientaes polticos) dos contextos e processos de aprendizagem informal e
no-formal (cf., por exemplo, Afonso, 2001b; 2003; Canrio, 2002; Cabral, 2002; Nvoa,
13
2002). Neste mesmo sentido, hoje inevitvel considerar os sentidos e significados da
formao e aprendizagem ao longo da vida tendo, entre outros aspectos, que considerar
as suas relaes e consequncias no contexto das chamadas sociedade da aprendizagem
e da informao (cf. Matos, 2002; Lima, 2003; Stoer & Magalhes, 2003), bem como
constituir como objecto de anlise sociolgica as polticas mais hbridas que procuram
naturalizar e descomplexificar as relaes tensas e contraditrias entre, por exemplo,
educao, competitividade e cidadania (cf. Afonso & Antunes, 2001). Apesar das polticas
oficiais de educao de adultos que, entre ns, continuam a atravessar velhos e novos
dilemas (cf. Benavente, Rosa, Costa & vila, 1996; Lima, Melo & Almeida, 2002),
reconhecem-se (embora no necessariamente por referncia a elas) alguns contributos
que nos propem outras formas de pensar as questes da educao e do
desenvolvimento local e, em alguns casos, que enunciam, quer o papel de mediao do
local, quer as conexes do local com questes mais amplas de ordem cultural, econmica
e poltica (cf. Melo, 2000; Canrio, 2000; Amiguinho, 2003; Correia & Caramelo, 2003).
Outros contributos retomam ainda, com alguma sistematicidade, o papel das
organizaes locais, como as universidades e as suas relaes com a comunidade (cf.,
por exemplo, Loureiro, 2001; Loureiro & Cristvo, 2001). Aparecem tambm
contribuies para uma sociologia do ensino secundrio (Resende & Vieira, 1998;
Azevedo, 2000) ou do ensino superior (Amaral & Magalhes, 2000; Seixas, 2003;
Cabrito, 2000, 2002; Arroteia & Martins, 1998; Arroteia, 2000; Martins, Arroteia &
Gonalves, 2002; M. Vieira, 2001; Caria, 2001). Podem igualmente considerar-se
estudos e reflexes que contribuem para uma sociologia das polticas e prticas de
formao (Barroso & Canrio, 1999; Estvo, 1999; M. A. Silva, 2001, 2003; Torres,
2001), bem como esto a ganhar uma crescente visibilidade social e acadmica, por um
lado, novas problemticas congruentes com uma sociologia da educao da infncia (cf.
Vilarinho & Seabra, 1999; Seabra, 2000; M. Sarmento, 2002a, 2002b; M. Ferreira,
2002), algumas das quais elegem como prioridade as polticas educativas para a infncia
(cf. Formosinho & Vasconcelos, 1996; Vilarinho, 2000a, 2000b, 2000c, 2002a, 2002b,
2004; Formosinho & T. Sarmento (2000); M. Sarmento, 2001; Vasconcelos, 2000, 2001;
Vasconcelos, coord., 2003), ao mesmo tempo em que, por outro lado, emerge entre ns
uma sociologia da infncia mais claramente interdisciplinar e que pode ser
conceptualizada como "um espao de trabalho onde se cruzam socilogos e outros
cientistas sociais de diferente provenincia disciplinar (como a economia, a demografia, a
sociologia da sade, a sociologia da famlia, a sociologia da educao, os estudos
femininos, entre outros)" (M. Sarmento, 2000b, p. 147). Com este enfoque, mais aberto
a uma maior diversidade de contributos disciplinares, comeam a adquirir alguma
importncia no panorama portugus vrios trabalhos (cf. Almeida, 2000; M. Sarmento,
2000a, 2000b; M. Sarmento & Cerisara, orgs., 2004); Ferreira, Rocha & Vilarinho, 2000;
Rocha, Ferreira & Vilarinho, 2002a, 2002b). Ainda em relao s reactualizaes do(s)
14
objecto(s) da sociologia da educao em Portugal, parece tambm estar a surgir um
interesse renovado pelos estudantes de diferentes nveis de ensino, pelas suas prticas
associativas e formas de mobilizao (cf. Estvo & Afonso, 1998; Gomes & Lima, 1998;
Palhares, 1998; Drago, 2004), pelas suas prticas culturais e relacionais dentro e fora do
contexto escolar (cf. Lopes, 1997, 2003), pelas suas culturas, identidades juvenis,
dinmicas de escolaridade e projectos relativos ao trabalho (cf. Pais, 1998, 1999; Alves,
1998; Fonseca, 2003; Abrantes, 2003), pela "alunizao da juventude" (cf. Correia &
Matos, 2001b; Canrio & Alves, 2000) e pelas violncias do e no contexto escolar (cf.
Correia & Matos, orgs., 2003). Relativamente aos estudos sobre as questes de gnero,
parece evidente uma maior cumulatividade da investigao nesta rea, para cuja
visibilidade social e acadmica muito tem contribudo (principalmente, mas no
exclusivamente) o trabalho de algumas socilogas da educao portuguesas (cf., por
exemplo, Arajo, 2001; Arajo & Magalhes, 1999; Arajo & Henriques, 2000), trabalho
esse publicado em livros (nacionais e estrangeiros) e em peridicos, alguns mais
recentes, como a revista ex aequo, da Associao Portuguesa de Estudos sobre as
Mulheres. Finalmente, e em simultneo com uma internacionalizao crescente da
produo sociolgica no campo da educao (cf., por exemplo, Nvoa, 1998, 2000b;
Arajo, 1999; Ferreira, Rocha & Vilarinho, 2000; Magalhes & Stoer, 2003), observa-se
uma evidente preocupao por parte dos investigadores portugueses em ter em
considerao o contexto europeu e mundial, dando relevo no apenas s instncias
nacionais como tambm s instncias supranacionais na configurao das polticas
educativas (Antunes, 1999, 2000, 2001, 2003; Teodoro, 2003a; Afonso, 2001c, 2001d;
Barroso 2003c). So ainda de sinalizar trabalhos que retomam questes mais
abrangentes e dilemas recorrentes no nosso sistema educativo (Sebastio, 1998;
Esteves, 2000; R. Gomes, 2001; Teodoro, 2003b, 2003c) ou que convocam e
reactualizam quadros terico-conceptuais especficos e autores centrais na configurao
do campo da sociologia da educao (cf., por exemplo, Grcio, 2002; Mendes & Seixas,
2003;
Adoptando uma atitude de maior estabilidade e durabilidade, podemos hoje
certamente reconstituir percursos, confrontar leituras crticas e desenvolver novos
objectos em torno de diferentes contextos sociais e educacionais e isso comea j a
ser visvel pela produo de trabalhos de pesquisa sociolgica mais demorados e
metodologicamente mais consistentes. Os olhares problematizadores da sociologia da
educao devero continuar a abrir-se a outros objectos, aprofundando analiticamente
os novos desafios postos sociedade portuguesa, num contexto de integrao europeia
e de globalizao.
Sendo tradicionalmente sociologia da Escola, mas procurando ir cada vez mais
alm na compreenso dos espaos emergentes de educao no-formal e informal, a
15
sociologia da educao em Portugal tem que se reinventar permanentemente, desejando
o confronto mais frequente e sistemtico com investigadores estrangeiros e com uma
nova gerao de socilogos portugueses.
A sociologia da educao e os novos contextos e processos educativos
no-escolares
Numa atitude mais prospectiva, gostaria, antes de terminar esta minha
interveno, de chamar a ateno para a oportunidade que temos nossa frente para
"abrir" e renovar a sociologia da educao atravs da reflexo e investigao em torno
daquilo que poderia designar como a crescente visibilidade e valorizao da educao
informal e no-formal, que tem vindo a verificar-se, a partir da ltima dcada e meia, em
decorrncia das mudanas sociais, polticas, culturais e econmicas em curso.
Retomando aproximaes anteriores, seria muito importante assumir que sociologia
da educao no apenas deve continuar a estudar a Escola, mas tambm deve estar
atenta emergncia e ao desenvolvimento de outros contextos e processos de educao
e aprendizagem (no-formal e informal) que esto ganhando crescente importncia e
visibilidade no mundo contemporneo.
A sociologia da educao, enquanto disciplina acadmica e campo de investigao,
tem sido, em boa medida e em diferentes pases, uma sociologia da Escola e dos
processos educativos formais. Com algumas nuances importantes, os paradigmas de
maior tradio na anlise sociolgica da educao como o funcionalismo (nas suas
diferentes verses), ou as teorias mais longamente referenciadas, como as teorias da
correspondncia e as teorias da reproduo social e cultural , sempre reconheceram,
por razes muito diferentes, uma importncia decisiva Escola, num caso, justificando
os processos de educao e socializao escolar em funo das relaes com o sistema
econmico e outros sistemas sociais, noutro caso, procurando explicar e denunciar a
subordinao da escola s exigncias e estratgias de classe, ou s ideologias
socialmente dominantes. ainda essa escola o principal espao e lugar onde a sociologia
da educao, num eventual cruzamento com as pedagogias crticas, se confronta com as
teorias da resistncia e as teorias do inter/multiculturalismo, assumindo, tambm ela,
uma linguagem da possibilidade, inconformada com a denncia e empenhada em
construir alternativas concretas e inovadoras.
Embora de forma muito desigual e descontnua consoante os contextos nacionais,
a longa tradio da sociologia da educao como sociologia da Escola vai certamente
manter-se porque, por um lado, no previsvel (nem desejvel) que a Escola possa ser
facilmente substituda na sua funo histrica e cultural e, por outro, porque
continuamos a assistir incorporao de novas investigaes, reflexes e quadros
16
terico-conceptuais que so sociologicamente relevantes por causa da Escola e,
sobretudo, mais pertinentes quando desenvolvidos nas e atravs das escolas. Porm,
sendo a sociologia da educao um campo cientfico construdo em grande medida por
causa da Escola, ele no pode reactualizar-se verdadeiramente se continuar confinado
aos contextos e processos educativos formais. isso que se pretende induzir em termos
de pesquisa e de reflexo terico-conceptual quando se prope a designao de
sociologia da educao no-escolar. Isto , a sociologia da educao deve ser sensvel,
cada vez mais, emergncia e centralidade social de novos contextos e processos
educativos (informais e no-formais), de modo a dar conta de outras formas de
educao, formao e aprendizagem, no subordinadas e no subordinveis ao
paradigma escolar14. isso precisamente que eu quero salientar ao retomar aqui a
designao de sociologia da educao no-escolar que , antes de tudo, uma
designao estratgica no sentido em que tem como principal objectivo promover a
necessria visibilidade social e acadmica de novos objectos e temticas de investigao
no interior da Sociologia da Educao15. No se trata, portanto, de inventar uma nova
fragmentao (ou especializao) do saber sociolgico para a qual posteriormente se
deseja, ou se espera, a afirmao de uma nova "soberania" disciplinar. Nada disso.
Trata-se apenas de contribuir para abrir e alargar as fronteiras da sociologia da educao
para alm dos limites a que esta disciplina tem sido muitas vezes enclausurada. Como
sinalizei num texto anterior a este propsito, e lembrando a observao de uma
sociloga j em meados da dcada de 1970, necessrio introduzir algumas rupturas
em relao "prtica ortodoxa da sociologia da educao" porque esta se traduz por
vezes na excessiva identificao entre o que se faz nos departamentos universitrios e
aquilo que se julga ser o campo da disciplina (cf. Mnica, 1977). De qualquer modo, a
sociologia da educao no-escolar (uma vez que , antes de mais, sociologia da
educao), deve ser capaz de continuar a mobilizar (agora tambm em relao
educao informal e no-formal) os contributos da teoria sociolgica e outros adquiridos
da pesquisa emprica que se mostrem particularmente pertinentes e adequados s
realidades educacionais contemporneas.
Ao referir-me ao facto de os processos e contextos educativos no-formais serem
14 Convm lembrar que as formas de aprendizagem e educao no subordinveis ao paradigma escolarpodem ocorrer tanto no interior da escola como, sobretudo, fora dela. esse precisamente o sentido quequero transmitir quando falo de no-escolar. O no-escolar (tanto pode ocorrer na escola como fora da escola)basta que estejamos perante formas de educao e aprendizagem que sejam diferentes daquelas em tornodas quais se estrutura a escola tradicional. Dito de outra maneira, mesmo numa escola tradicional pode haveralguns momentos e espaos de educao e aprendizagem (informal e no-formal) que no estejamcondicionados pela sequencialidade curricular, pela rigidez da programao, pela avaliao em funo dacertificao e da classificao, ou pelas assimetrias nas relaes entre professores e alunos, apenas para falarem algumas caractersticas do paradigma escolar. Certamente que estaro ainda mais distantes do paradigmaescolar muitas das formas de educao popular de adultos ou de educao no contexto dos movimentossociais, para referir apenas alguns exemplos (cf., por exemplo, Gohn, 1992, 1999; Caldart, 2000).
15 Algumas destas reflexes foram inicialmente produzidas em alguns textos que publiquei em finais dos anosoitenta e incio dos anos noventa. Ver por todos, Afonso (2003).
17
particularmente adequados para se constiturem como objecto da sociologia da educao
no-escolar, tenho em mente o facto de a imensa diversidade de aprendizagens e
possibilidades educativas espontneas, fluidas, diversificadas, instveis e no
organizadas, para as quais remete a designao de educao informal, no ser,
metodologicamente e por comparao com as formas de educao no-formal, to
facilmente constituvel como objecto de estudo sociolgico autnomo, sabendo, todavia,
que so cada vez mais frequentes os trabalhos de investigao que tomam como objecto
as aprendizagens e processos educativos informais, no apenas continuando a dar
ateno a contextos como o(s) da(s) famlia(s) ou aqueles que se constituem na
interaco com as diversas culturas juvenis, mas tambm, mais recentemente,
privilegiando os estudos etnogrficos e autobiogrficos em contextos organizacionais
hospitalares, empresariais, escolares e associativos. Se nestes contextos organizacionais
e de trabalho ocorrem (e tm sido estudados) processos de educao informal (cf. por
exemplo, Guimares, 2002), tambm ocorrem (e, certamente, de uma forma mais
acessvel ao prprio investigador), processos de educao e aprendizagem no-formal.
precisamente em funo da acessibilidade e da maior probabilidade de
constituio e manuteno de condies de observao sistemtica (para alm da
compreenso dos aspectos epistemolgicos em causa) que eu tenho proposto que uma
sociologia da educao (no-escolar) dever caracterizar-se por atender
preferencialmente, mas no exclusivamente, aos contextos e processos relevantes de
educao e aprendizagem no-formal. Neste sentido, por exemplo, o estudo das
associaes pode ser particularmente interessante para o socilogo da educao,
sobretudo se ele tiver em considerao aquelas que procuram as (re)articulaes locais,
nacionais e globais, preocupando-se com questes cada vez mais centrais no mundo
contemporneo, como a defesa (e educao) dos direitos dos consumidores, a
preservao do meio ambiente e a educao ecolgica, ou a educao e o
envelhecimento humano, para nomear apenas algumas. Do mesmo modo, nos ltimos
anos tm emergido outros factores que se podero constituir tambm como
oportunidade para reactualizar e expandir o campo de anlise e investigao da
sociologia da educao no-escolar. Refiro-me s orientaes e polticas que so
produzidas a partir de organizaes internacionais e supranacionais (como a Unio
Europeia) e que dizem respeito chamada sociedade da aprendizagem ou sociedade
cognitiva, as quais parecem estar directa ou indirectamente relacionadas com a chamada
crise da escola.
Neste sentido, a crescente visibilidade social do campo da educao no-formal (e
certamente do campo da educao informal) no separvel das representaes e dos
discursos em torno da chamada crise da educao escolar. Muito embora os discursos
sobre a crise da educao escolar sejam to antigos como a prpria Escola, os factores
supostamente geradores da actual crise so hoje mais amplos e heterogneos. No
18
contexto actual, as referncias crise da educao escolar remetem (implcita e
explicitamente) para condicionantes econmicas, sociais e politico-ideolgicas muito
diversificadas e, consequentemente, as explicaes produzidas e divulgadas so hoje
mais heterogneas e contraditrias do que em outras pocas e conjunturas histricas.
Na impossibilidade de aqui recensear, de forma mais cuidada e aprofundada,
todas as variveis em jogo, gostaria de lembrar apenas que a crise da educao escolar
no pode ser compreendida sem levar em considerao os seguintes factos: i) as
condies actuais de expanso e internacionalizao da economia capitalista num
contexto de dominncia ideolgica neoliberal; ii) a emergncia do capitalismo
informacional (Castells, 1998), as mutaes aceleradas nas formas de organizao do
trabalho e a inevitabilidade (tambm, em grande medida, ideologicamente construda)
do desemprego estrutural, a afectar sobretudo as novas geraes; iii) a permeabilidade e
vulnerabilidade da Escola s presses sociais presses que permitem que esta aceite,
quase sempre passivamente, ser o bode expiatrio para as crises econmicas cada vez
mais frequentes; iv) os discursos vulgares que induzem os cidados a pensar que a falta
de emprego devida no qualificao dos indivduos, sendo esta no qualificao, por
sua vez, acriticamente atribuda incapacidade estrutural da Escola para preparar os
estudantes em funo das (supostas) necessidades da economia; v) a perda de
confiana no valor social dos diplomas, induzida pela distores nas relaes entre a
educao e o mercado de trabalho (veja-se, por exemplo, o crescente desemprego dos
licenciados, a proliferao de empregos precrios disputados por portadores de
qualificaes superiores s exigidas para o exerccio das funes que lhe so propostas,
a existncia de contextos de trabalho indutores de regresses culturais); vi) a
centralidade dos meios de comunicao de massa que se constituem como fortes
agentes de socializao secundria, substituindo ou neutralizando a aco dos agentes e
contextos de socializao primria; vii) a constatao, sinalizada em trabalhos recentes,
de que a Escola, j no sendo capaz de cumprir cabalmente os mandatos que h muito
lhe foram atribudos, continua (paradoxalmente) a ser pressionada para assumir novos
mandatos, na medida em que os problemas sociais aumentam, se diversificam e se
complexificam; viii) a emergncia de um sentimento anti-escola que se expressa, em
alguns pases, pela existncia de um movimento de defesa do ensino em contexto
familiar (home schooling), movimento este que estimulado por discursos anti-
estatistas que reclamam do fracasso da escola pblica e que so promovidos por uma
mescla de sectores religiosos fundamentalistas e segmentos neoliberais e
neoconservadores desejosos de restaurar valores sociais e educacionais tradicionais
(sobre este ltimo facto, ver Apple, 2000).
Estes e outros factos, reais ou ideologicamente construdos, que podem ser
convocados para explicar a actual crise da educao escolar so, como acima comecei
por referir, relativamente sincrnicos com a expanso e recente revalorizao dos
19
campos da educao no-formal e informal. No entanto, importante observar que,
apesar deste relativo sincronismo, a revalorizao da educao no-formal e informal s
em parte pode ser atribuda crise da Escola. Na verdade, nem todos os indicadores da
crescente (e aparentemente paradoxal) pedagogizao da vida social so imediatamente
explicveis pela crise da Escola. Veja-se a este propsito a emergncia dos novos lugares
imateriais e virtuais de educao no-formal e informal que configuram o ciberespao
(cf. Alava, 2002), ou os contextos e processos, no menos fluidos e de fronteiras
tambm instveis, que comeamos a relacionar com a chamada sociedade cognitiva (cf.
Comisso Europeia, 1995).
O que importa considerar por agora que se verdade que estes novos lugares
da educao (no-formal e informal) se originaram em fenmenos que pouco ou nada
tm a ver com a crise da Escola, tambm verdade que eles podero vir a acentuar e
aprofundar a crise dessa mesma Escola, sobretudo se forem ocupados e controlados por
interesses econmicos dominantes a nvel nacional e global. Por estas e outras razes,
precisamos de uma sociologia da educao (no-escolar) que afirme a importncia dos
contextos e processos de educao e aprendizagem para alm da escola no no
sentido de deslegitimar a funo da Escola, mas sim no sentido de alargar o campo da
Educao e, atravs disso, contribuir tambm para renovar a Escola. Tal como tem
acontecido em relao educao formal, tambm a educao informal e no-formal
podem inscrever-se predominantemente quer em lgicas de reproduo e de regulao,
quer em lgicas de mudana e de emancipao social. Por isso, e ao contrrio do que
pretendem alguns poderes polticos e econmicos dominantes, necessrio que a
crescente valorizao dos novos lugares e tempos da educao informal e no-formal
no ocorra contra a Escola, ou custa da crise actual dessa mesma Escola. Os caminhos
e olhares mais crticos da sociologia da educao devero abrir-se tambm a estes novos
desafios postos s sociedades contemporneas. Espaos como os deste Seminrio so
cruciais para pensar esses desafios e reinventar o futuro.
BIBLIOGRAFIA
AAVV. (1988) Actas da I Conferncia Internacional de Sociologia da Educao. Faro:Escola Superior de Educao.
AAVV. (1990) A Sociologia e a Sociedade Portuguesa na Viragem do Sculo. Lisboa:Fragmentos, 2 vols.
AAVV. (1993) Estruturas Sociais e Desenvolvimento. Lisboa: Fragmentos, 2 vols.
20
AAVV. (1996) Actas da II Conferncia Internacional de Sociologia da Educao. Faro:Escola Superior de Educao.
ABRANTES, Pedro (2003) Os Sentidos da Escola. Identidades juvenis e dinmicas deescolaridade. Oeiras: Celta.
AFONSO, Almerindo J (1994) "A centralidade emergente dos novos processos deavaliao no sistema educativo portugus. Frum Sociolgico, n 4, pp. 7-18.
AFONSO, Almerindo J (1997) "O neoliberalismo educacional mitigado numa dcada degovernao social-democrata. Revista Portuguesa de Educao, vol. 10, n 2, pp.103-137.
AFONSO, Almerindo J. (1998) Polticas Educativas e Avaliao Educacional para umaanlise sociolgica da reforma educativa em Portugal (1985-1995). Braga,Universidade do Minho.
AFONSO, Almerindo J (2000) "Polticas educativas em Portugal, 1985-2000: a reformaglobal, o pacto educativo e os reajustamentos neo-reformistas", in A. CATANI, &R. OLIVEIRA (orgs.) Reformas Educacionais em Portugal e no Brasil. BeloHorizonte: Autntica, pp. 17-40.
AFONSO, Almerindo J. (2001a) "Tiempos e itinerarios portugueses de la sociologa de laeducacin: (dis)continuidades en la construccin de un campo". Revista deEducacin, n 324, pp. 9-22.
AFONSO, Almerindo J. (2001b) "Os lugares da educao", in Olga von Simson et al.(orgs.) Educao No-Formal: Cenrios da Criao. Campinas. Editora daUnicamp, pp. 29-38.
AFONSO, Almerindo J. (2001c) "A redefinio do papel do Estado e as polticaseducativas: elementos para pensar a transio". Sociologia, Problemas ePrticas, n 37, pp.33-48.
AFONSO, Almerindo J. (2001d) "Reforma do Estado e polticas educacionais: entre a crisedo Estado-nao e a emergncia da regulao supranacional". Educao &Sociedade, n 75, pp. 15-32.
AFONSO, Almerindo J. (2003) "A Sociologia da Educao e os contextos e processoseducativos no-escolares". Educao & Linguagem, ano 6, n 8, pp. 35-44.
AFONSO, Almerindo J. & ANTUNES, Ftima (2001) "Educao, cidadania ecompetitividade: algumas questes em torno de uma nova agenda terica epoltica". Cadernos de Cincias Sociais, ns 21-22, pp. 5-31.
ALAVA, Sraphin (2002) Ciberespao e Formaes Abertas. Rumo a novas prticaseducacionais? Porto Alegre: Artmed.
ALMEIDA, A. Nunes (2000) "A sociologia descoberta da infncia: contextos e saberes".Frum Sociolgico, ns 3/4 (2 srie), pp. 11-31.
ALVES, Natlia (1998) "Escola e trabalho: atitudes, projectos e trajectrias", in M.Villaverde Cabral & J. M. Pais (orgs.) Jovens Portugueses de Hoje. Oeiras: Celta,pp. 53-133.
ALVES, Natlia & CANRIO, Rui (2004) "Escola e excluso social: das promessas sincertezas". Anlise Social, vol. XXXVIII, n 169, pp. 981-1010.
21
AMARAL, Alberto; MAGALHES, Antnio M. (2000) O conceito de stakeholder e o novoparadigma do ensino superior. Revista Portuguesa de Educao, vol. 13, n 2,pp. 7-28.
AMIGUINHO, Ablio (2003) "Educao e mundo rural: percursos biogrficos, interveno epesquisa". Educao, Sociedade & Culturas, n 20, pp. 9-42.
ANTUNES, Ftima (1998) Polticas Educativas para Portugal, anos 80-90. O debateacerca do ensino profissional na escola pblica. Lisboa: IIE.
ANTUNES, Ftima (1999) "A Comunidade/Unio Europeia e a transnacionalizao daeducao: elementos para debate", in A. Estrela & J. Ferreira (orgs.) Educao ePoltica [Actas do congresso]. Lisboa, Faculdade de Psicologia e de Cincias daEducao, pp. 855-868.
ANTUNES, Ftima (2000) "Novas diferenciaes e formas de governao em educao: oprocesso de criao das escolas profissionais em Portugal". Revista Brasileira dePoltica e Administrao da Educao, vol. 16, n 1, pp. 31-45.
ANTUNES, Ftima (2001) "Os locais das escolas profissionais: novos papis para o Estadoe para a europeizao das polticas educativas", in Stephen Stoer et al. (orgs.)Transnacionalizao da Educao. Da crise da educao 'educao' da crise.Porto: Afrontamento, pp. 163-208.
ANTUNES, Ftima (2003) Polticas educativas Nacionais e Globalizao. NovasInstituies e Processos Educativos. O Subsistema de Escolas Profissionais emPortugal (1987-1998). Braga: Universidade do Minho [Dissertao deDoutoramento].
APPLE, Michael (2000) Away with all teachers: the cultural politics of home schooling.International Studies in Sociology of Education, vol. 10, n 1, pp. 61-80.
ARAJO, Helena C. (1999) "Pathways and subjectivities of portuguese women Teachersthrough their life histories, 1919-1933, in K. Weiler & S. Middleton (orgs.)Telling Women Teachers Lives. Buckingham/Philadelphia: Open University, pp.113-129
ARAJO, Helena C. (2000) Pioneiras na Educao. As professoras primrias na viragemdo sculo, 1870-1933. Lisboa: Instituto de Inovao Educacional.
ARAJO, Helena C. (2001) "Gnero, diferena e cidadania na escola: caminhos abertospara a mudana social?", in D. Rodrigues (org.) Educao e Diferena. Valores eprticas para uma educao inclusiva. Porto: Porto Editora, pp. 143-154.
ARAJO, Helena C. & MAGALHES, Maria Jos (1999) Des-fiar as Vidas. Perspectivasbiogrficas, mulheres e cidadania. Lisboa: CIDM.
ARAJO, Helena C. & HENRIQUES, Fernanda (2000) Poltica para a igualdade entre ossexos em educao em Portugal: uma experincia de realidade. ex aequo, ns2-3, pp. 141-151.
ARAJO, Helena C.; FONSECA, Laura; MAGALHES, Maria Jos & LEITE, Carlinda (2002)"Em busca da interculturalidade entre mulheres ciganas e padjas na educao".ex aequo, n 7, pp. 149-161.
ARROTEIA, J. Carvalho (2000) Aspectos da avaliao do ensino superior. RevistaPortuguesa de Educao, vol. 13, n 2, pp. 111-123.
22
ARROTEIA, J. Carvalho & MARTINS, Antnio (1998) Insero Profissional dos Diplomadospela Universidade de Aveiro. Aveiro: Universidade de Aveiro.
AZEVEDO, Joaquim (2000) O Ensino Secundrio na Europa. O neoprofissionalismo e osistema educativo mundial. Porto: Asa.
BALL, Stephen (1994) "At the cross-roads: education policy studies". British Journal ofEducational Studies, vol. 42, n 1, pp. 1-5.
BARBIERI, Helena (2003) "Os TEIP, o projecto educativo e a emergncia de 'perfis deterritrio' ". Educao, Sociedade & Culturas, n 20, pp. 43-75.
BARROSO, Joo (1998) "Descentralizao e autonomia: devolver o sentido cvico ecomunitrio escola pblica". Colquio/Educao e Sociedade, n 4, pp. 32-58.
BARROSO, Joo (1999) "Regulao e autonomia da escola pblica: o papel do Estado,dos professores e dos pais". Inovao, vol. 12, n 3, pp. 9-33.
BARROSO, Joo (2001) "O sculo da escola: do mito da reforma reforma de um mito",in AAVV., O Sculo da Escola. Entre a Utopia e a Burocracia. Porto: Asa, pp. 63-94.
BARROSO, Joo (2003a) "Regulao e desregulao nas polticas educativas: tendnciasemergentes em estudos de educao comparada", in J. Barroso (org.) A EscolaPblica Regulao, desregulao, privatizao. Porto: Asa, pp. 19-48.
BARROSO, Joo (2003b) "A 'escolha da escola' como processo de regulao: integraoou seleco social?", in J. Barroso (org.) A Escola Pblica Regulao,desregulao, privatizao. Porto: Asa, pp. 79-109.
BARROSO, Joo (2003c) "Organizao e regulao dos ensinos bsico e secundrio, emPortugal: sentidos de uma evoluo". Educao & Sociedade, vol. 24, n. 82, pp. 63-92.
BARROSO, Joo & CANRIO, Rui (1999) Centros de Formao das Associaes de Escolas das expectativas s realidades. Lisboa: IIE.
BARROSO, Joo & VISEU, Sofia (2003) "A emergncia de um mercado educativo noplaneamento da rede escolar: de uma regulao pela oferta a uma regulaopela procura". Educao & Sociedade, vol. 24, n. especial, pp. 897-921.
BARROSO, Joo (org.) (2003) A Escola Pblica Regulao, desregulao, privatizao.Porto: Asa.
BARTON, Len & WHITTY, Geoff (1988) "Exercising the sociological imagination inadversity: sociologists and teacher education under Thatcherism". In AAVV.,Actas da 1 Conferncia Internacional de Sociologia da Educao. Faro: ESE deFaro, pp. 43-62.
BENAVENTE, Ana; GRCIO, Srgio (1989) "A reforma do ensino um processo social".Sociologia Problemas e Prticas, n 6, pp. 157-167.
BENAVENTE, Ana (2001) "Portugal, 1995-2001: reflexes sobre democratizao equalidade na educao bsica". Revista Iberoamericana de Educacin, n 27, pp.99-123.
BENAVENTE, Ana (coord.); ROSA, Alexandre; COSTA, A. Firmino & VILA, Patrcia (1996)A Literacia em Portugal resultados de uma pesquisa extensiva e monogrfica.Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian/ Conselho Nacional de Educao.
23
BONAL, Xavier (1998) Sociologa de la Educacin. Uma aproximacin crtica a lascorrientes contemporneas. Barcelona: Paids.
CABRAL, M. Villaverde (2002) "Espaos e temporalidades sociais da educao emPortugal", in AAVV., Espaos de Educao, Tempos de Formao. Lisboa:Fundao Calouste Gulbenkian, pp. 47-67.
CABRITO, Belmiro (2000) Os estudantes universitrios e o papel do Estado na produode ensino superior. Revista Portuguesa de Educao, vol. 13, n 2, pp. 199-221.
CABRITO, Belmiro (2002) O Financiamento do Ensino Superior. Condio Social eDespesas de Educao dos Estudantes Universitrios em Portugal. Lisboa: Educa.
CALDART, Rosali Sales (2000) "O MST e a formao dos sem terra: o movimento socialcomo princpio educativo", in P. Gentili & G. Frigotto (orgs.) A Cidadania Negada.Polticas de Excluso na Educao e no Trabalho. Buenos Aires: CLACSO, pp.125-144.
CANRIO, Rui (2000) "A escola no mundo rural: contributos para a construo de umobjecto de estudo". Educao, Sociedade & Culturas, n 14, pp. 121-139.
CANRIO, Rui (2002) "Escola crise ou mutao?", in AAVV. Espaos de Educao,Tempos de Formao. Lisboa: F. C. Gulbenkian, pp. 141-151.
CANRIO, Rui (2003) Sociologia da Educao I Relatrio da disciplina. Lisboa:Universidade de Lisboa/FPCE [Provas de Agregao em Cincias da Educao].
CANRIO, Rui; ALVES, Natlia (2000) "Os trabalhos de casa vistos pelos alunos", in A.Estrela & J. Ferreira (orgs.) Diversidade e Diferenciao em Pedagogia [Actas doColquio], Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao /AFIRSCEpp. 591-600.
CANRIO, Rui; ALVES, Natlia & ROLO, Clara (2000) "Territrios educativos deinterveno prioritria: entre a 'igualdade de oportunidades' e a 'luta contra aexcluso'", in AAVV., Territrios Educativos de Interveno Prioritria. Lisboa:Instituto de Inovao Educacional, pp. 139-170.
CARIA, Telmo H. (2000) A Cultura Profissional dos Professores. Lisboa: FundaoCalouste Gulbenkian/Fundao de Cincia e Tecnologia.
CARIA, Telmo H. (2001) "A universidade e a recontextualizao profissional doconhecimento abstracto: hiptese de investigao e aco poltica". Cadernos deCincias Sociais, n 21/22, pp. 71-85.
CARIA, Telmo H. (2002) "O uso do conhecimento: os professores e os outros". AnliseSocial, n 164, pp. 805-831.
CARNEIRO, Roberto (2000) "2020: 20 anos para vencer 20 dcadas de atraso educativo",in R. Carneiro; J. Caraa & Emlia So Pedro (coords) O Futuro da Educao emPortugal Tendncias e Oportunidades. Um estudo de reflexo prospectiva.Lisboa: Ministrio da Educao.
CASA-NOVA, Maria Jos (2002b) "Etnicidade e classes sociais em torno do valorheurstico da conceptualizao da etnia como categoria social", in Educao,Sociedade & Culturas, n.16, pp. 63-82.
CASA-NOVA, Maria Jos (2002a) Etnicidade, Gnero e Escolaridade. Lisboa: IIE.
24
CASTELLS, Manuel (1998) La Era de la Informacin. Economa, Sociedad y Cultura. Vol. 3 Fin de Milenio. Madrid: Alianza.
COMISSO EUROPEIA (1995) Ensinar e Aprender. Rumo Sociedade Cognitiva. [LivroBranco sobre educao e formao]. Luxemburgo: Servio de PublicaesOficiais das Comunidades Europeias.
CORREIA, J. Alberto (1999) "As ideologias educativas em Portugal nos ltimos 25 anos".Revista Portuguesa de Educao, vol.12, n 1, pp. 81-110.
CORREIA, J. Alberto (2000) "A construo cientfica do poltico em educao". Educao,Sociedade & Culturas, n. 15, pp. 19-43.
CORREIA, J. Alberto (2003) "A construo poltico-cognitiva da excluso social no campoeducativo", in David Rodrigues (org). Persepctivas sobre a Incluso. DaEducao Sociedade. Porto. Porto editora, pp. 37-55.
CORREIA, J. Alberto & MATOS, Manuel (2001a) Solides e Solidariedades no Quotidianodos Professores. Porto: Asa.
CORREIA, J. Alberto & MATOS, Manuel (2001b) "Da crise da escola ao escolocentrismo",in Stephen Stoer et al. (orgs.) Transnacionalizao da Educao. Da crise daeducao 'educao' da crise. Porto: Afrontamento, pp. 91-117.
CORREIA, J. Alberto & CARAMELO, Joo (2003) "Da mediao local ao local da mediao:figuras e polticas". Educao, Sociedade & Culturas, n 20, pp. 167-191.
CORREIA, J. Alberto & MATOS, Manuel (orgs.) (2003) Violncia e Violncias da e naEscola. Porto:Afrontamento.
CORREIA, J. Alberto; STOLEROFF, Alan; STOER, Stephen (1993) "A ideologia damodernizao no sistema educativo em Portugal". Cadernos de Cincias Sociais,ns 12-13, pp. 25-51.
CORTESO, Luiza (1982) Escola, Sociedade. Que relao? Porto, Afrontamento, 1982.
CORTESO, Luiza (2000) Ser Professor: Um ofcio em risco de extino? Porto:Afrontamento.
DOMINGOS, Ana M. ; BARRADAS, Helena ; RAINHA, Helena & NEVES, Isabel (1986) ATeoria de Bernstein em Sociologia da Educao. Lisboa, Fundao CalousteGulbenkian.
DRAGO, Ana (2004) Agitar Antes de Ousar O Movimento Estudantil 'antipropinas'.Porto: Afrontamento.
ESTEVO, Carlos V. (1999) Cidadania organizacional e polticas de formao. Revistade Educao, vol. VIII, n 1 pp. 49-56.
ESTEVO, Carlos V. (1998) Redescobrir a Escola Privada Portuguesa como Organizao.Braga: Universidade do Minho.
ESTEVO, Carlos V. (2001) Justia e Educao. S: Paulo: Cortez.
ESTEVO, Carlos V. (2002) "Justia complexa e educao". Revista Crtica de CinciasSociais, n 64, pp. 107-134.
25
ESTEVO, Carlos V.; AFONSO, Almerindo J. (1998) "Associaes de estudantes emcontexto escolar: a construo sociolgica de uma singularidade organizacional",in Licnio C. Lima. (org.): Por Favor, Elejam a B. O associativismo estudantil naescola secundria. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, pp. 75-112.
ESTEVES, A. Joaquim (1998) "Antnio Srgio: Notas de releitura sociolgica para aeducao". Saber Educar, n 3, pp. 53-66.
ESTEVES, A. Joaquim (2000) "Mitos, ritos e smbolos: a escola, o trabalho e a culturanacional". Cadernos de Cincias Sociais, ns 19-20, pp. 39-60.
ESTEVES, A. Joaquim; STOER, Stephen R. (orgs.) (1992) A Sociologia na Escola.Professores, educao e desenvolvimento. Porto, Afrontamento.
FERNANDES, J. Viegas (1988) "A sociologia da educao na formao de professores(as):contributos para o sucesso escolar/educativo", in Actas da I ConfernciaInternacional de Sociologia da Educao. Faro: Escola Superior de Educao, pp.298-310.
FERREIRA, Ana Maria (2002) Desigualdades de Gnero no Actual Sistema Educativo.Coimbra: Quarteto.
FERREIRA, Fernando Ildio (2003) O Estudo do Local em Educao. Dinmicassocioeducativas em Paredes de Coura. Braga: Universiadde do Minho [Tese dedoutoramento].
FERREIRA, Manuela (2002) As Crianas como Actores Sociais e a (Re)organizao Socialdo Grupo de Pares no Quotidiano de um Jardim de Infncia. Porto: Universidadedo Porto [Tese de doutoramento].
FERREIRA, Manuela; ROCHA, Cristina & VILARINHO, Emlia (2000) Changingprofessional pratice: a sociology of childhood for the right of children toparticipate, in Developing Identities in Europe: Citizenship education and highereducation. Proceedings of the second Conference of the childrens. Identity andcitizenship in Europe thematic network London: CICE publication.
FONSECA, Laura (2003) "Revisitando culturas juvenis: investimentos de raparigas naescola". ex aequo, n 7, pp. 85-98.
FORMOSINHO, Joo (1997) "O contexto organizacional da expanso da educao pr-escolar". Inovao, vol. 10, n 1, pp. 21-36.
FORMOSINHO, Joo & VASCONCELOS, Teresa (1996) Relatrio Estratgico para aExpanso e Desenvolvimento da educao Pr-escolar. Lisboa: Ministrio daEducao.
FORMOSINHO, Joo & SARMENTO, Teresa (2000) "A escola infantil pblica como serviosocial: a problemtica do prolongamento de horrio". Infncia & Educao:Investigao e Prticas, n 1, pp. 7-27.
FUNDAO CALOUSTE GULBENKIAN (1965) Centro de Investigao Pedaggica Objectivos e Orgnica. Lisboa: FCG.
CENTRO DE INVESTIGAO PEDAGGICA (1965) Boletim Bibliogrfico e Informativo.Lisboa: FCG.
GOHN, Maria da Glria (1992) Movimentos Sociais e Educao. So Paulo: Cortez.GOHN,Maria da Glria (1999) Educao No-Formal e Cultura Poltica. So Paulo:
26
Cortez.
GOMES, Carlos A. (1998) Conflito e Cooperao na Escola Secundria Portuguesa Umaanlise sociolgica da interaco na sala de aula. Braga: Universidade do Minho[Tese de doutoramento].
GOMES, Carlos A. & LIMA, Licnio C. (1998) "Associativismo estudantil no ensinosecundrio e reproduo poltica das organizaes partidrias de juventude", inLicnio C. Lima (org.): Por Favor, Elejam a B. O associativismo estudantil naescola secundria. Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, pp. 27-73.
GOMES, Rui (1999) "25 anos depois: expanso e crise da escola de massas em Portugal".Educao, Sociedade & Culturas, n 11, pp. 133-164.
GOMES, Rui (2000) Legitimao e Contingncia na Escola Secundria Portuguesa, 1974-1991. Arqueologia, genealogia e simblica da escola. Lisboa: UniversidadeTcnica de Lisboa [Tese de doutoramento].
GOMES, Rui (2001) "A globalizao da escola de massas: Perspectivas institucionalistas egenealgicas". Revista Crtica de Cincias Sociais, n. 61, pp. 135-167.
GRCIO, Srgio (1986) Poltica Educativa como Tecnologia Social as reformas doensino tcnico de 1948 e 1983. Lisboa: Livros Horizonte.
GRCIO, Srgio (1998) Ensinos Tcnicos e Poltica em Portugal (1910-1990). Lisboa:Instituto Piaget.
GRCIO, Srgio (2002) "Verso forte ou verso matizada das teorias da reproduocultural? Uma discusso". Educao, Sociedade & Culturas, n. 18, pp. 41-66.
GRCIO, Srgio & STOER, Stephen (orgs.) (1982) Sociologia da Educao II Antologia.A Construo Social das Prticas Educativas. Lisboa: Livros Horizonte.
GRCIO, Srgio; MIRANDA, Sucuntala; STOER, Stephen (orgs.) (1982) Sociologia daEducao I Antologia. Funes da Escola e Reproduo Social. Lisboa: LivrosHorizonte.
GUIMARES, Paula (2002) "Espao, tempo e processos de educao informal numaenfermaria". Revista Portuguesa de Educao, vol. 15, n 1, pp. 85-109.
LIMA, Jorge vila (2002a) "A dimenso relacional das culturas de escola: umaperspectiva estrutural", in AAVV., O Particular e o Global no virar do Milnio.Cruzar Sabes em Educao. Lisboa: Colibri/SPCE, pp. 613-629.
LIMA, Jorge vila (2002b) "A presena dos pais na escola: aprofundamento democrticoou perverso pedaggica?", in J. A. Lima (org.) Pais e Professores: um desafio cooperao. Porto: Asa, pp. 133-174.
LIMA, Licnio C. (1994) "Modernizao, racionalizao e optimizao: perspectivasneotaylorianas na organizao e administrao da educao". Cadernos deCincias Sociais, n 14, pp. 119-139.
LIMA, Licnio C. (1999) "E depois de 25 de Abril de 1974. Centro(s) e periferia(s) dasdecises no governo das escolas", en Revista Portuguesa de Educao, vol. 12,n 1, pp. 57-80.
LIMA, Licnio C. (2000) "Administrao escolar em Portugal: da revoluo, da reforma e
27
das decises ps-reformistas", in A. Catani & R. Oliveira. (orgs.) ReformasEducacionais em Portugal e no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, pp. 41-76.
LIMA, Licnio C. (2003) "Formao e aprendizagem ao longo da vida: entre a mo direitae a mo esquerda de Mir", in AAVV., Cruzamento de Saberes, AprendizagensSustentveis. Lisboa: Fundao C. Gulbenkian, pp. 129-148.
LIMA, Licnio C. & AFONSO, A. J. (1995) "The Promised Land: school autonomy,assessment and curriculum decision-making in Portugal". Educational Review,vol. 47, n 2, pp. 165-172.
LIMA, Licnio C. & AFONSO, Almerindo J. (2002) Reformas da Educao Pblica.De