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Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
BAIRRO ALTO
EVOLUÇÃO HISTÓRICA NA CIDADE DE LISBOA
A cidade de Lisboa, no início de quinhentos manifestava uma grande dinâmica, vivendo a
aventura dos Descobrimentos consolidando-se como um novo centro de comércio que exercia
um grande fascínio sobre toda a sorte de gentes.
Atraídos por este novo comércio e novas relações, chegam à cidade nacionais e estrangeiros,
num surto demográfico a custo contido pela muralha Fernandina, numa cidade eminentemente
medieval no seu emaranhado de ruas estreitas, becos sem saída e dificuldades de saneamento.
Lisboa inicia então, um acentuado crescimento em extensão territorial, permitida pela
revogação do antigo ordenamento que impedia a construção fora das muralhas. Imposta a
Baixa como centro urbano e o estuário como pólo dinamizador da vida mercantil, a cerca
medieval perde a sua importância e as classes populares começam a deslocar-se no seu
exterior.
Nestes contextos, regista-se em Lisboa, na transição no séc. XV para o séc. XVI, “um
fenómeno de desenvolvimento urbano do maior interesse: o primeiro anúncio duma
cidade moderna – O Bairro Alto”.
A urbanização deste bairro, pelos terrenos de vales e barrancos, montículos e colinas que
abundavam, é iniciada primeiro junto ao rio, por gentes modestas ligadas aos trabalhos do mar,
mas rapidamente sobe a encosta mais a Norte, privilegiada por boas exposições solares e
comunicação ampla, onde se instala uma nova classe de burgueses ricos, de mercadores e de
prestigiadas famílias fidalgas que aqui constróiem um grande número de palácios, conventos e
igrejas.
O Padre Baltazar Teles, no inicio do séc. XVII, dizia o Bairro ser “senão o mais
frequentado, ao menos o mais gabado; o sítio o mais alto da cidade mais descoberto a
Norte, mais lavado dos ventos, e mais purificado dos ares: e como as chuvas têm
tanta corrente para o mar fica tudo mui limpo, e sadio e fora dos incómodos, que nas
partes da cidade de padecem: as ruas são mui largas, e mui bem lançadas”.
Para os habitantes de Lisboa, que a peste tinha dizimado, as vantagens do novo sitio de traço
alargado e bem ventilado, em comparação com as empestadas e perigosas vizinhanças do
antigo centro urbano, justificam o sucesso deste novo bairro. No entanto, no último quartel doFigura 35 – Posicionamento do Bairro Alto na cidade
de Lisboa
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Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Figura 36 – Evolução do Bairro Alto ao longo dos anos ( a azul encontra-se o limite da muralha Fernandina)
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
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Figura 37 – Vista de Lisboa na 2ª metade do século XVI inserida na obra de George Braunio
(Civitates Orbis Terrarum de 1593
Figura 38 – O Bairro Alto na planta de Lisboa de 1807
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séc. XIX, o Bairro Alto passava de lugar mais desafogado e gabado, como dizia Baltazar Teles, a
lugar de trama apertada – um verdadeiro labirinto de ruas estreitas e declivosas onde
a circulação viária e pedonal são reduzidas e conflituosas.
Em 1527 refere-se já a existência de 408 edifícios e 1600 habitantes e menciona-se a
existência de cinco ruas no sentido Norte-Sul e duas no sentido Nascente-Poente. Na
“Civitates Orbis Terrarum” de Braunio pode-se observar, com relativa nitidez, a coerência e
quase completa definição do novo bairro, estruturado segundo um traçado ortogonal que define
quarteirões, possuindo logradouros internos.
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA
O território onde se desenhou o Bairro Alto é delimitado a Este pela rua do Alecrim (limite
originalmente associado à muralha Fernandina) e constitui-se topograficamente como um
planalto terminado a Norte por um marcado acidente topográfico que o interrompe quase
verticalmente. Esse planalto desenvolve-se depois com um agradável declive para Sul que
confina com o estuário do Tejo.
Analisando a área abrangida pelo Bairro Alto, integrada numa encosta, verificamos que esta é
atravessada no sentido Norte-Sul por duas linhas de festo secundárias ramificadas da
cumeada principal. Esta cumeada distingue, as bacias que drenam para a Baixa Pombalina,
das que drenam directamente para o Tejo e para as imediações da Av. D. Carlos I.
O sistemas hidrológico comporta três linhas de água que escoam directamente para Tejo, e
desenvolvem-se nas redondezas da Rua do Alecrim, Rua da Bica Duarte Belo e Calçada, Rua
das Flores e Rua Poço dos Negros. A preservação destas linhas de água sob a forma de ruas
está intimamente associada à necessidade de manutenção do sistema de drenagem natural, e
que de forma prática foi integrado na malha ortogonal implantada.
Em relação às linhas de festo, podemos dizer que a Rua das Chagas e a Rua Marechal
Saldanha são as mais privilegiadas por panorâmicas de grande amplitude sobre o bairro, rio e
margem sul pois, além de estarem bem orientadas, coincidem sobre linhas de festo que,
por consequência, fazem com que estas ruas estejam colocadas sobre cotas elevadas.
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Figura 39 – (1) Planta do Bairro Alto; (2) R. Das Flores; (3) R. da Misericórdia; (4) Travessa Queimada
(2) (3) (4)
(1)
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Relativamente aos declives, verifica-se que, apesar de esta ser uma zona localizada numa
encosta onde dominam declives superiores a 8%, existem vastas áreas com declives nas
classes 16 – 25% e mesmo superiores a 25%. Foram sobretudo estes declives locais associados
à eventual instabilidade do solo que em tempos passados deram origem a deslocamentos de
grandes massas de terra ao longo da encosta nesta zona. Dos aluimentos de terras que
mais se destacam está o de 1597 que permitiu uma reconstrução num vale que deu
origem ao Bairro da Bica.
Distinguem-se então duas áreas antagónicas em termos dos declives locais: enquanto
que o núcleo primitivo da zona integra-se numa área regular de declives superiores a 8%, cujo
traçado ortogonal se adapta ao relevo local dispensando a introdução de escadarias e evitando
a compartimentação deste núcleo por muros de suporte e desníveis elevados, a zona anelar e
principalmente a zona a sul distribui-se por uma área irregular em termos de declives não
permitindo desta forma o ajustamento do traçado urbano ao local. Nesta malha urbana
destacam-se assim as ruas extremamente declivosas e extensas escadarias
implantadas de forma a vencer grandes diferenças de cotas.
O estudo das orientações do terreno considerou sinteticamente os quadrantes Norte, sul,
Este e Oeste, integrando-se no segundo as áreas planas de forma a simplificar a análise em
curso.
A partir desta análise podem determinar-se áreas semelhantes em termos de radiação
incidente, exposição e ventos dominantes e outros elementos que influem no conforto
ambiental. Constata-se que na zona em estudo domina o quadrante Sul, existindo ainda áreas
de dimensões significativas expostas a Nascente e Poente. As ruas definidas permitem uma
insolação geral, sendo reduzidas as áreas expostas à radiação solar. É de notar, no entanto,
que a densidade da malha urbana e a imposição de volumes elevados deturpa a apreciação dos
parâmetros descritos.
Em suma, podemos dizer que a sua área de implantação permite uma excelente
exposição solar – que sabiamente se explorou orientando o maior número de espaços
públicos no sentido Norte-Sul, garantindo-se pela sábia utilização dos declives
existentes a evacuação.
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Figura 40 – (1) Travessa dos Fiéis de Deus; (2) Calçada do Tejolo; (3) Cunhal das Bolas
(1) (2)
(3)
37
RUA DO ALECRIM
CALÇADA DO COMBRO
R. DA BICA DUARTE BELO DO ALECRIM
R. POÇO DOS NEGROS
RUA DAS FLORES
Legenda
Linhas de Água
Linhas de Festo
Cartograma 11 – Linhas de água e de festo do Bairro Alto e Bica
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Cartograma 12 – Declives dominantes do Bairro Alto e Bica
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Legenda
> 25%
8-25%
5-8%
0-5%
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
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Cartograma 13 – Orientações dominantes do Bairro Alto e Bica
Legenda
Norte
Sul
Este
Oeste
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MOURARIA
EVOLUÇÃO HISTÓRICA NA CIDADE DE LISBOA
O termo Mouraria designa hoje uma vasta área que se estende pela Colina do Castelo,
desde o Martim Moniz até à Graça, no entanto, inicialmente aplicava-se somente ao arrabalde
destinado por D. Afonso Henriques aos mouros vencidos aquando da tomada da cidade em
1147.
Esta zona, não abrangida pela Cerca Moura, foi-se desenvolvendo de forma espontânea a
partir de dois eixos viários existentes desde o tempo dos romanos: o primeiro circundaria o
monte do castelo e bifurcava pela Calçada de Sto. André e pela Rua das Olaria enquanto a
segunda seguia para Poente e para Norte pela Rua da Madalena, prosseguindo pela Rua da
Mouraria e do Benformoso.
A topografia acidentada provocou o desenvolvimento de um traçado sinuoso e irregular,
que tinha como traços gerais descer pela encosta até ao vale de água outrora aí existente
(antiga ribeira que corresponde à actual Av. Almirante Reis).
Embora a Mouraria tenha uma localização central relativamente à cidade esta sempre foi
desprezada enquanto pólo urbano. Assim, quando em 1375 se edifica a Cerca Fernandina, a
Mouraria não é englobada pela mesma.
O terramoto de 1755 não veio a provocar grandes destruições no bairro e é assim que chega
aos nossos dias a malha urbana medieval em que surgem características das cidades árabes,
ou seja, uma malha apertada em que as parcelas de reduzidas dimensões são inteiramente
ocupadas com edificações ou logradouros; as ruas, becos e escadas são sempre muitos
estreitos e definem uma rede complexa; os largos são de pequenas dimensões e resultam de
acções acidentais (demolição de um exercício ou desacerto entre ruas).
Associado à marginalidade a que a Mouraria foi vetada e às más características
fisiográficas que a zona apresenta, como sejam as más exposições solares (encostas
voltadas a norte), as encostas expostas aos ventos frios de norte (as “nortadas”) e os
acentuados declives que o terreno apresenta, a área nunca foi apetecível para as classes
mais ricas em termos sociais e económicos, facto que pode ajudar a explicar a degradação a
que está hoje sujeito o parque habitacional e ao consequente abandono progressivo dos
proprietários.Figura 42 – Beco Imaginário
Figura 41 – Encosta poente da mouraria
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA
No limite ocidental da Mouraria surge uma linha de água coincidente com a Av. Almirante
Reis, da qual se pode dizer que é a base do sistema hidrográfico local pois directamente ou
indirectamente as restantes linhas de água drenam para ela.
Dessas linhas de menor importância podemos destacar a que se inicia no Largo Rodrigues de
Freitas e que desce pela Calçada de Santo André e pela Rua Capelão até ao Martim Moniz. Todo
este sistema fluí para a Bacia do Tejo atravessando ainda a Baixa Pombalina.
O facto das linhas de água coincidirem com ruas não é inocente e está associado à
necessidade de manutenção do sistema de drenagem natural que deriva da crescente
impermeabilização do solo, ao longo dos séculos, por alterações a nível geológico. Deste modo,
previnem-se problemas de escoamento e no passado constituiu um promotor de salubridade
pública. Assim sendo, admite-se como áreas de potencial risco de inundação as zonas planas
próximas da linha de água da Av. Almirante Reis.
A zona é envolvida por linhas de cumeada relacionadas com as colinas locais,
principalmente a do Castelo. A orientação das encostas e a distribuição permitem panorâmicas
a Norte, Sul e Poente como se pode apreciar no Miradouro da Graça.
Em termos de exposições solares verifica-se a existência de três zonas de características
bem distintas:
- Uma pequena parcela de encostas expostas a Sul onde existe maior quantidade de radiação
solar e portanto mais confortável do ponto de vista térmico;
- Uma zona predominante, de encostas expostas a Oeste caracterizadas por receberem
elevada quantidade de radiação, aprazível em termos térmicos;
- Algumas áreas de encostas expostas a Norte, pouco agradáveis em termos de conforto
térmico devido à baixa incidência de radiação solar.
Esta variação na quantidade de radiação incidente traduziu-se em diferentes tipos de
ocupação urbana. Assim as áreas expostas a Norte apresentam uma menor densidade de
ocupação, onde surgem armazéns retalhistas e oficinas, que as expostas a Sul e a Poente.
41
Figura 43 – Encosta da Mouraria exposta a Norte
Figura 44 – Calçada de Sto. André
Figura 45 – Planta da Mouraria
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Em relação aos declives, a Mouraria integra-se numa encosta declivosa, logo não é de
estranhar que dominem os declives superiores a 8% ainda que existem vastas áreas de declives
superiores a 25%. Apenas na base da encosta, pela proximidade da linha de água da Av.
Almirante Reis, é que surgem áreas praticamente planas (declives inferiores a 5%).
Estes grandes declives traduzem-se em problemas de circulação e acessos e
conduziram a que na implementação da malha urbana se tomassem medidas para suavizar as
inclinações sendo isto constatável pelo tipo de construção, pela existência de escadas, muros de
suporte e pela disposição das ruas (oblíquas às curvas de nível).
42
Figura 46 – Rua declivosa Figura 47 – Escadinha do Marquês de Ponte de Lima
Figura 48 – Mouraria
43
Legenda
Linhas de Água
Linhas de Festo
Cartograma 14 – Linhas de água e de festo da Mouraria
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
CALÇADA DE SANTO ANDRÉ
AV. ALMIRANTE REIS
R. CAPELÃO
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Cartograma 15 – Declives dominantes da Mouraria
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Legenda
> 25%
8-25%
5-8%
0-5%
45
Cartograma 16 – Orientações dominantes da Mouraria
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Legenda
Norte
Sul
Este
Oeste
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Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
ALFAMA E COLINA DO CASTELO
EVOLUÇÃO HISTÓRICA NA CIDADE DE LISBOA
O casco da Colina do Castelo é o mais antigo e porventura o mais rico de Lisboa.
Além de ser o berço da povoação, que viria a dar origem à cidade, os seus limites coincidiram
sensivelmente com os de Lisboa até quase ao final da primeira dinastia.
Deixando de parte a encosta norte da colina – a Mouraria – objecto de análise específica no
plano de urbanização a ela relativo, há a distinguir cinco núcleos: o Castelo, Alfama, a
Encosta da Sé, a Frente Ribeirinha e a franja do núcleo de S. Vicente que se entrecruza
com os limites da colina.
A Colina do Castelo fora de entre as colinas que ladeiam as margens do rio Tejo a preferida
para as primeiras fixações humanas que viriam a dar origem à cidade de Lisboa.
Desenhava-se já, ao longo da encosta sudoeste da colina, o arrabalde de Alfama.
Fortemente marcada pela sua situação geográfica, hidrográfica e topográfica, Alfama usufruía
de águas abundantes e da dupla proximidade do rio e da cidade – estabelecendo uma ponte
privilegiada entre esta e o seu termo, entre o núcleo urbano e a sua envolvente rural.
A Lisboa pós-reconquista e novamente cristã, manteria, ainda por alguns séculos, o perímetro
muralhado referido. A deslocação do pólo comercial de Lisboa para a zona ribeirinha acentuou-
se com o período das Descobertas acarretando a transferência de alguns dos núcleos vitais da
cidade para as franjas da colina. Outros rossios estendiam-se pelo aterro da margem até
Alfama, pontuados pelos chafarizes abastecedores de água à cidade.
O terramoto de 1755 teve efeitos desastrosos na maioria dos edifícios de
arquitectura notável da Colina do castelo.
O empirismo e o tradicionalismo de que Alfama se revestiu a reconstrução pós-terramoto
permitiram a subsistência da malha urbana medieval, particularmente marcada pela herança
árabo-mediterrânica – conjunto de características que conferem a Alfama uma fisionomia muito
própria no seio da colina. O traçado viário – íngreme, tortuoso e, em certos pontos,
quase labiríntico – organiza-se em becos e ruas exíguas, ligadas por numerosos arcos,
escadinhas e cotovelos. Consiste num tecido urbano que se desenvolve de forma orgânica,
em alvéolos.
Figura 49 – Largo do Peneireiro
Figura 50 – Vista de Alfama
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
O castelo que hoje lá podemos ver é fruto de uma vasta operação de “reconstituição”
histórica pensada no contexto a Exposição do mundo português (1940).
Em Alfama, ainda é possível ver vestígios das ocupações Romana e Árabe, duas das
civilizações mais dominantes no passado de Lisboa. As ruas estreitas, resultado da cultura
Muçulmana, guiam-se por leis individualistas em que os espaços públicos não são importantes.
Estas ruas são uma marca do Corão, onde pouco valor é dado às fachadas em detrimento do
interior das casas, que é muito mais valorizado.
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA
A vertente onde se localiza a área em estudo é limitada a Norte por uma linha de festo
principal, paralela ao Rio Tejo, que divide duas hemibacias: uma que drena directamente para
o Tejo e outra que orienta as águas para a antiga ribeira coincidente com a Av. Almirante de
Reis e Martim Moniz.
A área em estudo é favorecida em termos de conforto climático tanto pela exposição solar
dominante a Sul-Sudeste como pela presença da linha de festo a Norte que protege a encosta
Sul de ventos dominantes de quadrante Norte e que permite aproveitar as brisas de quadrante
Sul em períodos estivais.
Do festo principal derivam linhas secundárias que definiam hemibacias de reduzidas
dimensões que drenavam directamente para o Tejo.
Relativamente aos declives da área em estudo integra-se numa encosta declivosa em que
dominam declives superiores a 8%, verificando-se a existência de uma área significativa com
declives superiores a 25%, por vezes pouco perceptível no local pela implantação dos edifícios e
adaptação do terreno às necessidades humanas.
Em termos de exposições solares constata-se que a área analisada é dominada por
encostas expostas a Sul e a Nascente, exceptuando-se as mediações de S. Vicente e a
vertente voltada para a Baixa Pombalina, onde predominam as exposições a Poente e a Norte.
47
Figura 51 – Declive acentuado da rua Regueira
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
No entanto, há que fazer notar que a densa ocupação urbana impede a análise exacta
deste parâmetro pois altera a nível de solo, a incidência da radiação por ensombramento,
reflexão de superfícies, entre outros. Deste modo apenas podemos inferir alguns motivos que
presidiram ao tipo de ocupação estabelecida no local e na definição de intervenções que
permitiam adaptar o clima local à ocupação humana.
A solução imposta pelo relevo levou a que a urbanização se desenvolvesse
sensivelmente ao longo das curvas de nível, dando origem a uma paisagem ímpar e
espontânea, valorizada pela diversidade e harmonia que ainda preserva.
Esta intervenção secular atendeu à correcção dos declives pela construção de edifícios e
muros de suporte. Como solução compreendeu ainda a construção de rampas pouco
declivosas interligadas por escadarias.
E sta solução prática em termos de ocupação de uma encosta declivosa permitiu a redução da
incidência solar pela projecção da sombra dos edifícios.
48
Figura 52 – Travessa de S. Tomé
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Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Cartograma 17 – Linhas de água e de festo de
Alfama e Colina do Castelo
Legenda
Linhas de Água
Linhas de Festo
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Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Legenda
> 25%
10-25%
5-10%
0-5%
Cartograma 18 – Declives Dominantes
de Alfama e Colina do castelo
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
51
Cartograma 19 – Orientações dominantes de Alfama e Colina do Castelo
Norte
Nordeste
Este
Sudeste
Sul
Sudoeste
Oeste
Noroeste
Áreas Planas
Legenda
52
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
GRAÇA
EVOLUÇÃO HISTÓRICA NA CIDADE DE LISBOA
A Graça, como freguesia, foi formada já muito depois do terramoto de 1755, com a
integração das extintas freguesias de Santo André e Santa Marinha, só tendo adquirindo
identidade própria já no século XIX. Foi neste período pós terramoto que foi reconstruído o
Mosteiro, fundado em 1271 e que se ergue por detrás do miradouro da Graça.
Algumas residências apalaçadas e casas burguesas marcam o cenário, que tem a igreja e o
convento de Santo André e Santa Marinha, com a sua Torre do Relógio, como referência
principal de um bairro outrora aristocrático.
O terramoto de 1755 teve efeitos desastrosos na maioria dos edifícios de
arquitectura notável da Colina do castelo.
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA
Em traços gerais constata-se que na extensão das duas principais ruas da Graça, Rua da
Graça e Rua Senhora da Glória, se desenvolve uma linha de cumeada que não é mais que
uma pequena ramificação da rede hidrográfica da cidade. Daí resulta que estejamos perante
uma zona de altitude relativamente elevada, o que permite obter uma excelente
panorâmica sobre os telhados lisboetas, assim como uma visão privilegiada do castelo e do
rio.
Não se registam importantes linhas de água nesta zona, o que seria em parte de
esperar devido à topografia do local.
Em relação à distribuição das exposições solares na extensão da zona da Graça, torna-se
evidente que existem duas grandes zonas bem distintas:
- A primeira, mais a Sul trata-se de uma área privilegiada neste aspecto na qual podemos
distinguir três parcelas que, de Norte para Sul, se encontram expostas a Este, Sudeste e Sul,
sendo esta última, a que mais beneficia desta situação, delimitando inferiormente a zona.
Figura 53 – Largo da Graça
Figura 54 – R. Sta. Marinha
53
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
É então fácil de concluir que se tratará de uma área onde existe um elevado nível de radiação
solar donde resultam ganhos térmicos consideráveis, tal como uma boa iluminação.
- A segunda, delimitando a Norte a zona em análise, encontra-se numa vasta área com
exposição solar Nordeste e mesmo Norte onde o conforto térmico é claramente reduzido, o
que não se traduz, no entanto, numa menor área de habitação.
Em relação aos declives, a Graça encontra-se inserida numa superfície onde predominam
declives entre os 4 e os 12%, surgindo nalgumas zonas mais centrais uma inclinação mais
acentuada, onde os declives ultrapassam este intervalo de valores, não ultrapassando os 25%.
Devido a esta gama de declives toda a malha urbana é afectada, resultando dai ruas
muito inclinadas.
No que diz respeito às altitudes, a Graça apresenta uma pequena área de maior elevação,
que se situa entre os 80 e 100 metros e onde se situa o miradouro da Graça, estando toda a
restante zona incluída numa vasta área cuja altitude percorre um intervalo que vai de 50 a
80m.
Figura 55 – Calçada da Graça
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Cartograma 20 – Declives dominantes Graça
54
> 25%
8-25%
Legenda
[0,4]
]4,12]
]12,25]
>25
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
55
Cartograma 21 – Orientações dominantes da Graça
Norte
Nordeste
Este
Sudeste
Sul
Sudoeste
Oeste
Noroeste
Áreas Planas
Legenda
CONCLUSÃO
Localizada na margem direita do estuário do Tejo, virada sobre a frente atlântica da
Península Ibérica, no extremo ocidental da Europa, sensivelmente a meio da costa litoral
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
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BIBLIOGRAFIA
Livros:
A Baixa Pombalina e a sua importância para o património Mundial – Comunicações das jornadas
de 9-10 de Outubro de 2003;
Edição – Câmara Municipal de Lisboa – Licenciamento Urbanístico e Reabilitação Urbana;
Atlas de Lisboa, A cidade no espaço e no tempo, contexto 1993;
Lisboa em Mapas, Edição Câmara Municipal de Lisboa;
Plano de Urbanização do núcleo histórico do Bairro Alto e Bica et al.;
Plano de Urbanização do núcleo histórico da Mouraria et al.;
Plano de Urbanização do núcleo histórico de Alfama e Colina do Castelo et al.;
França, José Augusto (1997) – Lisboa: Urbanismo e Arquitectura. Instituto da Cultura e Língua
Portuguesa – Colecção Biblioteca Breve, 3ª. Edição, Lisboa;
Sites:
http://www.wikipedia.org/
http://www.cm-lisboa.pt/
http://www.epal.pt/
Imagens:
http://www.google.pt/
http://www.wikipedia.org/
http://www.inlisboa.com/index.html
Fotografias tiradas “in situ”
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
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