Transcript
  • Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Mrcia Garcia Alves Galvo

    2010

    Amantadina e rimantadina

    para tratamento e preveno da influenza A

    em crianas e idosos: reviso sistemtica e metanlise

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  • ii

    Mrcia Garcia Alves Galvo

    Tese de Doutorado a ser apresentada ao Programa de Ps-graduao em Clnica Mdica, rea de Concentrao em Sade da Criana e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias. Orientadores: Prof. Antonio Jos Ledo Alves da Cunha Prof. Marilene Augusta Rocha Crispino Santos

    Rio de Janeiro Agosto de 2010

    UFRJ Amantadina e rimantadina

    para tratamento e preveno da influenza A

    em crianas e idosos: reviso sistemtica e

    metanlise

    TTULO

  • iii

    Amantadina e rimantadina

    para tratamento e preveno da influenza A

    em crianas e idosos: reviso sistemtica e metanlise

    Mrcia Garcia Alves Galvo

    Orientadores

    Prof. Antonio Jos Ledo Alves da Cunha

    Prof. Marilene Augusta Rocha Crispino Santos

    Tese de Doutorado a ser submetida ao Programa de Ps-graduao em Clnica Mdica, rea de Concentrao em Sade da Criana e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias. Aprovada por: Presidente, Prof. Mrcia Gonalves Ribeiro

    Prof. Clemax Couto SantAnna

    Prof. Edson Ferreira Liberal

    Prof. Gesmar Volga Haddad Herdy

    Prof. Thalita Fernandes de Abreu

    Rio de Janeiro

    Agosto de 2010

  • iv

    Galvo, Mrcia Garcia Alves.

    Amantadina e rimantadina para tratamento e preveno da influenza A em crianas e idosos: reviso sistemtica e metanlise / Mrcia Garcia Alves Galvo. Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2010.

    xix, 193 f. : il. ; 31 cm

    Orientadores: Antonio Jos Ledo Alves da Cunha e Marilene Augusta Rocha Crispino Santos.

    Tese (doutorado) -- UFRJ, Faculdade de Medicina, Programa de Ps-graduao em Clnica Mdica, 2010.

    Referncias bibliogrficas: f. 93-118.

    1. Amantadina - uso teraputico. 2. Amantadina - efeitos adversos. 3. Rimantadina - uso teraputico. 4. Rimantadina - efeitos adversos. 5. Influenza Humana preveno & controle. 6. Vrus da Influenza A efeitos de drogas. 7. Lactente. 8. Pr-escolar. 9. Crianas. 10. Adolescente. 11. Idoso. 12. Idoso de 80 anos ou mais. 13. Reviso. 14. Metanlise. 15. Sade da criana e do Adolescente - Tese. I. Cunha, Antonio Jos Ledo Alves da. II. Santos, Marilene Augusta Rocha Crispino. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Programa de Ps-graduao em Clnica Mdica. IV. Ttulo.

  • v

    La evidncia s als ulls de lesperit

    el que la visi s als del cos.

    As evidncias so para os olhos do esprito

    o que a viso para os olhos do corpo.

    Antoni Gaud

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    A meus pais, pela certeza do incentivo no

    percurso de todos os caminhos. Por sua

    presena amorosa que mantm sempre aceso

    o desejo de retornar.

  • vii

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Antonio Jos Ledo Alves da Cunha, primeiro incentivador da realizao

    desse estudo. Por sua orientao competente, seu entusiasmo contagiante e pela

    confiana depositada em todas as etapas do trabalho. Por responder com segurana

    ao desafio de apontar caminhos sem interferir nas escolhas, contribuio essencial

    na formao e amadurecimento de um pesquisador.

    A Professora Marilene Augusta Rocha Crispino Santos, por sua inspiradora trajetria

    de mdica e pesquisadora. Por encurtar as distncias nos dias de trabalho solitrio e

    por celebrarmos juntas as alegrias de cada conquista. Por aliar cotidianamente e

    com perfeio o apoio caloroso e fraterno ao exerccio preciso da funo de

    orientadora, alicerces fundamentais do trabalho realizado

    Aos Drs Amanda Burls, Rebecca Mears, David Moore, Lisa Gold e Karen Elley que

    nos permitiram a utilizao de seu protocolo, que serviu de base para a elaborao

    do protocolo por ns desenvolvido.

    Ao Prof. Tom Jefferson e Sr. Richard Stubbs por seus comentrios na fase inicial do

    desenvolvimento do protocolo.

    A Dra. Elizabeth Dooley do Cochrane Acute Respiratory Infections Group pela

    assistncia prestada em todas as fases do desenvolvimento desse estudo

    equipe do Centro Cochrane Iberoamericano, e em especial Dra. Marta Roque

    por sua orientao nos aspectos estatsticos e metodolgicos dessa reviso.

    Aos Drs. Raimundo Santos, Vladmr Plesnik, Oleg Borisenko e Sra Stuko Nakano

    por sua contribuio na traduo dos ensaios clnicos publicados respectivamente

    em alemo, francs, tcheco, russo e japons

    Aos Drs Caroline Hall, David Payler e Vladmr Plesnik, que gentilmente nos forneceram dados no publicados de seus ensaios clnicos.

  • viii

    RESUMO

    Mrcia Garcia Alves Galvo

    Orientadores:

    Prof. Antonio Jos Ledo Alves da Cunha

    Prof. Marilene Augusta Rocha Crispino Santos

    Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Ps-graduao em Clnica Mdica, Setor de Sade da Criana e do Adolescente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias.

    Introduo

    A amantadina (AMT) e a rimantadina (RMT) so empregadas para o alvio ou

    tratamento dos sintomas de influenza A, em adultos saudveis. Entretanto, pouco se

    sabe sobre a eficcia e a segurana destes antivirais na preveno e no tratamento

    da influenza A em crianas e idosos.

    Objetivo

    Determinar as evidncias da eficcia e segurana no uso da AMT e da RMT para a

    preveno e tratamento da influenza A em crianas e idosos.

    Estratgia de busca

    A pesquisa englobou o banco de dados da Cochrane Central Register of Controled

    Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library, 2007, issue 3); MEDLINE (1966 to July

    2007) e EMBASE (1980 to July 2007).

    Amantadina e rimantadina

    para tratamento e preveno da influenza A

    em crianas e idosos:reviso sistemtica e metanlise

  • ix

    Critrios de incluso

    Foram includos os ensaios clnicos (EC) randomizados ou quasi-randomizados que

    comparavam AMT e/ou RMT em crianas ou em idosos com: placebo, controle com

    outras drogas, outras drogas antivirais, diferentes dosagens ou intervalos de

    administrao ou nenhuma interveno

    Coleta de dados e anlise

    Dois revisores, de forma independente, selecionaram os ensaios clnicos e avaliaram

    a respectiva qualidade metodolgica de cada um deles. As discordncias foram

    resolvidas por consenso. Todos os ensaios, com exceo de um, foram analisados

    separadamente pelos autores. Os dados foram processados, analisados e

    apresentados utilizando-se o programa estatstico Cochrane Review Manager 4.2

    Resultados principais

    Dos 168 artigos inicialmente selecionados, 12 preencheram os critrios de seleo.

    Em crianas, a RMT reduz a febre a partir do terceiro dia de tratamento. A AMT

    mostrou um efeito profiltico. No houve relao entre o uso de AMT e RMT e a

    maior ocorrncia de efeitos adversos. Em idosos, a RMT foi bem tolerada, porm

    no mostrou efeito profiltico. Doses diferentes foram comparveis na profilaxia de

    idosos, assim como nos efeitos adversos relatados.

    Concluso dos revisores

    A AMT foi efetiva na profilaxia da influenza A em crianas. Como vieses de

    confundimento podem ter influenciado os resultados, preciso cautela ao se indicar

    uma profilaxia. As concluses sobre a efetividade de ambos os anti-virais no

    tratamento da influenza A em crianas ficaram limitadas ao benefcio comprovado de

    reduo da febre a partir do terceiro dia de tratamento. Devido ao reduzido nmero

    de estudos disponveis, no se pode chegar a uma concluso definitiva sobre a

    segurana da AMT ou sobre a efetividade da RMT na preveno da influenza A em

    crianas e nos idosos.

    Palavras-chaves: amantadina, rimantadina influenza, idoso, criana, tratamento,

    efeitos adversos

  • x

    ABSTRACT

    Amantadine and rimantadine

    for prevention and treatment of influenza A

    in children and the elderly: systematic review and

    metha-analysis

    Mrcia Garcia Alves Galvo

    Orientadores: Prof. Antonio Jos Ledo Alves da Cunha

    Prof. Marilene Augusta Rocha Crispino Santos

    Abstract da Tese de Doutorado a ser submetida ao Programa de Ps-graduao Clnica Mdica, setor de Sade da Criana e do Adolescente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Clnica Mdica.

    Introduction: Amantadine (AMT) and rimantadine (RMT) are used to relieve or treat

    influenza A symptoms in healthy adults. Nevertheless, little is known about the

    effectiveness and safety of these antivirals in preventing and treating influenza A in

    children and the elderly.

    Objectives: to systematically consider evidence on the efficacy and safety of AMT

    and RMT in preventing and treating influenza A in children and the elderly.

    Methods: 1) Search strategy: we searched the Cochrane Central Register of

    Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library issue 3, 2007); MEDLINE (1966

    to July 2007) and EMBASE (1980 to July 2007). 2) Selection criteria: any

    randomised or quasi-randomised trials comparing AMT and/or RMT in children and

    the elderly with placebo, control, other antivirals or comparing different doses or

  • xi

    schedules of AMT and/or RMT or no intervention. 3) Data collection & analysis:

    two review authors independently selected trials for inclusion and assessed

    methodological quality. Disagreements were resolved by consensus. In all

    comparisons except for one, the trials in children and in the elderly were analysed

    separately. Data were analysed and reported using Cochrane Review Manager 4.2

    software.

    Main results: of a total of 168 articles, 12 met the selection criteria. In children, RMT

    was effective in the abatement of fever on day three of treatment. AMT showed a

    prophylactic effect against influenza A infection. AMT and RMT were not related to an

    increase in the occurrence of adverse effects. RMT also was considered to be well

    tolerated by the elderly, but showed no prophylactic effect. Different doses were

    comparable in the prophylaxis of influenza in the elderly, as well as in reporting

    adverse effects.

    Reviewers' conclusions: AMT was effective in the prophylaxis of influenza A in

    children. As confounding matters might have affected our findings, caution should be

    taken when considering which patients should to be administered this prophylactic.

    Our conclusions about efficacy of both antivirals for the treatment of influenza A in

    children were limited to a proven benefit of RMT in the abatement of fever on day

    three of treatment. Due to the small number of available studies we could not reach a

    definitive conclusion on the safety of AMT or the effectiveness of RMT in preventing

    influenza in children and the elderly.

    Key-words: amantadina, rimantadina influenza, aged, child, therapeutic use,

    adverse effects

  • xii

    SUMRIO RESUMO..........................................................................................................

    viii

    ABSTRACT...................................................................................................

    x

    LISTA DE TABELAS E FIGURAS ..

    xvi

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS........................................................

    xx

    1 Introduo.................................................................................................

    1

    2 Fundamentos tericos.. 2.1 Influenza...............................................................................................

    5 5

    2.1.1 Histrico........................................................................................ 5 2.1.2 A doena....................................................................................... 13 2.1.3 Profilaxia e tratamento................................................................. 15 2.2 A busca das evidncias........................................................................

    17

    2.2.1 Histrico........................................................................................ 17 2.2.2 O que uma reviso sistemtica?.............................................. 20 2.2.3 O que metanlise?..................................................................... 26 2.2.4 Limitaes dos estudos de metanlise...................................... 29 3 Justificativa..............................................................................................

    32

    4 Objetivos..................................................................................................

    35

    5 Mtodos....................................................................................................

    36

    5.1 Desenho do estudo............................................................................

    36

    5.2 Amostra...............................................................................................

    36

    5.2.1 Critrios de incluso................................................................... 36 5.2.1.1 Tipos de estudo............................................................... 36 5.2.1.2 Tipos de participantes.................................................... 36 5.2.1.3 Tipos de interveno....................................................... 37 5.3 Desfechos estudados.........................................................................

    37

    5.4 Comparaes......................................................................................

    40

    5.4.1 Comparaes em crianas......................................................... 40 5.4.2 Comparaes em idosos............................................................ 41 5.5 Critrios de excluso..........................................................................

    42

    5.6 Amostragem........................................................................................ 42 5.6.1 Estratgia de busca para a identificao dos estudos............ 42 5.6.2 Busca eletrnica.......................................................................... 42 5.6.3 Outras formas de busca.............................................................. 44 5.6.4 Seleo dos estudos................................................................... 44

  • xiii

    5.6.5 Avaliao da qualidade................................................................ 45 5.7 Arbitragem...........................................................................................

    46

    5.8 Extrao dos dados...........................................................................

    46

    5.9 Anlise dos dados..............................................................................

    47

    6 Resultados...............................................................................................

    52

    6.1 Descrio dos estudos.......................................................................

    52

    6.2 Qualidade metodolgica dos estudos includos..............................

    58

    6.3 Comparaes.......................................................................................

    59

    7 Discusso..................................................................................................

    82

    8 Concluses................................................................................................

    90

    8.1 Implicaes para a prtica..................................................................

    90

    8.2 Implicaes para a pesquisa..............................................................

    92

    9 Referncias bibliogrficas ..................................................................

    94

    9.1 Referncias bibliogrficas textuais..................................................

    94

    9.2 Referncias bibliogrficas dos estudos includos.......................... 101 9.3 Referncias bibliogrficas dos estudos excludos..........................

    103

    Apndice................................................................................................

    120

    Apndice 1: Formulrio para coleta de dados..........................................

    121

    Apndice 2: Figuras de comparao entre AMT ou RMT com o controle, em que apenas um ensaio clnico controlado foi selecionado................

    129

    Apndice 3: Caractersticas dos estudos includos...................................

    143

    Apndice 4: Caractersticas dos estudos excludos..................................

    150

    Apndice 5: Amantadine and rimantadine for influenza A in children and the elderly: artigo publicado................................................................

    155

    Apndice 6: Antibiotics for undifferentiated acute respiratory tract infections in children under five years of age [protocolo]....................

    186

  • xiv

    LISTA DE TABELAS E FIGURAS

    Figura 1 Metanlise. AMT e RMT comparadas ao controle no tratamento da influenza A em crianas: febre no dia 3.................

    61

    Figura 2 Metanlise. AMT e RMT comparada ao controle na profilaxia da influenza A em crianas..............................................

    63

    Figura 3 Metanlise. Efeitos adversos da AMT e RMT comparados aos do controle em crianas: diarria............................

    64

    Figura 4 Metanlise. Efeitos adversos da AMT comparados aos do controle em crianas: exantema...............................................

    65

    Figura 5 Metanlise. Efeitos adversos da AMT comparados aos do controle em crianas: mal estar................................................

    65

    Figura 6 Metanlise. Efeitos adversos da AMT comparados aos do controle em crianas: dor muscular nos membros.................

    66

    Figura 7 Metanlise. Efeitos adversos da AMT comparados aos do controle em crianas: cefalia...................................................

    66

    Figura 8 Metanlise. Efeitos adversos da AMT comparados aos do controle em crianas: agitao e insnia...............................

    67

    Figura 9 Metanlise. Efeitos adversos da AMT e RMT comparados aos do controle em crianas: tonteira............................

    68

    Figura 10 Metanlise. Efeitos adversos da AMT comparados aos do controle em crianas: mal estar................................................

    69

    Figura 11 Metanlise. Efeitos adversos da AMT comparados aos do controle em crianas: nuseas e vmitos................................

    69

    Figura 12 Metanlise. Efeitos adversos da AMT e RMT comparados aos do controle em crianas: nuseas e vmitos.........

    71

    Figura 13 Metanlise. RMT comparada ao controle na profilaxia da influenza A em idosos........................................................................

    72

    Figura 14 Metanlise. RMT nas doses de 100 e 200mg comparada ao controle na profilaxia da influenza A em idosos. Excluso do estudo de Schilling (1998).....................................................................

    73

  • xv

    Figura 15 Metanlise. RMT na dose convencional de 200mg comparada ao controle na profilaxia da influenza A em idosos.........

    74

    Figura 16 Metanlise. RMT na dose de 100mg comparada ao controle na profilaxia da influenza A em idosos..................................

    75

    Figura 17 Metanlise. Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: estimulao e insnia.....................................

    76

    Figura 18 Metanlise. Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: confuso..........................................................

    76

    Figura 19 Metanlise. Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: fadiga................................................................

    76

    Figura 20 Metanlise. Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: vmitos............................................................

    77

    Figura 21 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: nuseas................................................................................

    78

    Figura 22 Metanlise. RMT comparada ao zanamivir na profilaxia da influenza A em idosos........................................................................

    80

    Figura 23 Metanlise. RMT comparada ao controle na profilaxia da influenza A em crianas e idosos.....................................................

    81

    Figura A1 RMT comparada ao controle no tratamento da influenza A em crianas: tosse no dia 7................................................

    129

    Figura A2 RMT comparada ao controle no tratamento da influenza A em crianas: mal estar no dia 6.........................................

    129

    Figura A3 RMT comparada ao controle no tratamento da influenza A em crianas: conjuntivite no dia 5....................................

    130

    Figura A4 RMT comparada ao controle no tratamento da influenza A em crianas: sintomas oculares (dor movimentao e viso turva) no dia 5................................................................................

    130

    Figura A5 Efeitos adversos da AMT comparada ao controle em crianas: dispnia...................................................................................

    131

    Figura A6 Efeitos adversos da AMT e RMT comparados aos do controle em crianas: diarria................................................................

    131

    Figura A7 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em crianas: sintomas GI.......................................................................

    132

  • xvi

    Figura A8 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em crianas: tonteira...............................................................................

    132

    Figura A9 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em crianas: sintomas relacionados ao SNC.......................................

    133

    Figura A10 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em crianas: alterao de comportamento...........................

    133

    Figura A11 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em crianas: ataxia cerebelar.................................................

    134

    Figura A12 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em crianas: hiperatividade....................................................

    134

    Figura A13 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em crianas: zumbido..............................................................

    135

    Figura A14 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: cefalia..................................................................

    136

    Figura A15 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: dificuldade de concentrao...............................

    136

    Figura A16 - Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: rash e reao alrgica......................................

    136

    Figura A17 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: convulses e contraes clnicas.....................

    137

    Figura A18 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: boca seca..............................................................

    137

    Figura A19 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: tonteira..................................................................

    138

    Figura A20 Efeitos adversos da RMT comparados aos do controle em idosos: ansiedade..............................................................

    138

    Figura A21 Diferentes doses de RMT (100 e 200 mg/dia) na profilaxia da influenza A em idosos.......................................................

    138

    Figura A22 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: confuso.................................................................

    139

  • xvii

    Figura A23 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: depresso...............................................................

    139

    Figura A24 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: dificuldade de concentrao................................

    139

    Figura A25 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: insnia ou dificuldade de conciliar o sono.........

    140

    Figura A26 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: perda de apetite....................................................

    140

    Figura A27 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: rash ou reao alrgica........................................

    140

    Figura A28 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: convulses ou contraes clnicas.........................

    141

    Figura A29 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: boca seca....................................................................

    141

    Figura A30 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: fadiga e sonolncia.....................................................

    141

    Figura A31 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: cefalia.........................................................................

    142

    Figura A32 Efeitos adversos relacionados a diferentes doses da RMT em idosos: fraqueza e debilidade.................................................

    142

    Figura A33 Resumo dos principais resultados..................................

    142

  • xviii

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    AC

    Antonio Cunha

    ACM acetaminofen

    AIDS sndrome da imunodeficincia adquirida (Acquired immune deficiency syndrome)

    AMT

    amantadina

    CER

    taxa de ocorrncia do evento nos controles ( Control Event Rate )

    CF fixao de complemento

    CS

    creatinina srica

    IC

    intervalo de confiana (confidence interval)

    IRA infeco respiratria aguda

    EC

    ensaios clnicos

    EUA Estados Unidos da Amrica

    HA hemaglutinao

    HI inibio da hemaglutinao

    I2

    I ao quadrado (I square)

    GI

    gastrintestinal

    MC Marilene Crispino

    MG Mrcia Galvo

    MS

    Ministrio da Sade

    NA neuraminidase

  • xix

    NNTB nmero necessrio de pacientes a serem tratados para que um indivduo se beneficie do tratamento em relao a um desfecho (Number needed to treat to

    benefit)

    OMS

    Organizao Mundial de Sade

    PB

    placebo

    RevMan

    Review Manager software

    RMT

    rimantadina

    RR

    Risco relativo

    SNC

    sistema nervoso central

  • 1. INTRODUO

    A influenza constitui-se em um grave problema mundial de sade,

    especialmente devido s epidemias e s pandemias que ocorrem

    periodicamente. Todavia, em crianas e adultos saudveis a doena no

    costuma ser grave e pode durar apenas poucos dias, apesar de a

    astenia e a depresso poderem persistir por algumas semanas. Embora

    as taxas de infeco sejam altas em crianas, as complicaes graves e

    a morte so mais frequentes em adultos de 65 anos ou mais e em

    crianas at dois anos (Le Riverend 2005).

    A disseminao da doena muito rpida, uma vez que o

    contgio interpessoal, por meio da disseminao de partculas virais

    presentes nos aerossis e nas secrees respiratrias de indivduos

    infectados. Este tipo de disseminao to eficiente, que faz com que

    as taxas de infeco cheguem a 90% entre indivduos confinados e em

    regies de alta densidade populacional (Le Riverend 2005).

    Desde 1998, a ameaa de uma pandemia de influenza humana

    vinha aumentando gradativamente. Tal fato ganhava relevncia

    principalmente com a emergncia dos vrus da influenza aviria,

    altamente patognicos, como o Influenza A (H5N1) capazes de produzir

    epidemias em aves e humanos na sia, Europa e frica. A expanso

    desse vrus de alta letalidade serviu de alerta para que a Organizao

    Pan-Americana da Sade e a Assemblia Mundial da Sade

  • 2

    estimulassem, em 2003, o desenvolvimento e a implementao de

    planos de preparao e enfrentamento de uma nova pandemia. Assim,

    vrias reas de investigao sobre o tema foram alvo de interesse

    mundial. Dentre elas destacam-se os estudos sobre fatores relacionados

    virulncia, patogenia, ao desenvolvimento de meios de preveno e

    tratamento, alm de testes diagnsticos (Mujica 2008). possvel que

    esse crescente interesse tenha contribudo para um aumento do nmero

    de trabalhos publicados sobre influenza. Segundo levantamento

    realizado pela autora em fevereiro de 2009 no banco de dados Medline,

    utilizando-se a palavra influenza e tendo como nico limite os estudos

    do tipo Clinical Trial foram encontrados 860 artigos publicados at

    dezembro de 1997. De janeiro de 1998 a dezembro de 2008, havia 998

    trabalhos publicados indexados a esse banco.

    Foi nesse contexto que o presente estudo teve incio. Sabe-se

    que os antivirais se incluem entre as medidas de profilaxia e tratamento

    da influenza nas populaes de maior risco (Hayden 2006b).

    Questionava-se se essas medicaes poderiam tambm ser teis na

    reduo da disseminao dos vrus, principalmente por crianas,

    reconhecidamente importantes nessa cadeia de transmisso.

    Entretanto, devido aos custos elevados, j se reconhecia que alguns

    pases teriam acesso limitado ou mesmo no teriam acesso aos

    antivirais, principalmente durante uma pandemia (Hayden 2006b).

    Alm disso, a possibilidade de desenvolvimento de resistncia viral

    sempre se apresenta como uma ameaa, o que torna necessrio o

    estudo continuado de todas as alternativas teraputicas.

  • 3

    Assim, consideramos oportuno que se conhecesse se os diferentes

    antivirais disponveis poderiam ser usados para o tratamento e

    profilaxia de casos de influenza A. At a data de incio da realizao

    desse estudo no se dispunha de revises sistemticas sobre o uso da

    amantadina (AMT) e da rimantadina (RMT) no tratamento e profilaxia

    de influenza em crianas e idosos, populaes de maior risco de

    complicao pela infeco. Esses fatos motivaram o interesse pelo

    tema do trabalho que se segue.

    O emprego da reviso sistemtica de estudos como mtodo em

    uma tese de doutorado no novo no Brasil (Malta 2008, Andrade

    2003, Soares 1997). No entanto, foram necessrias algumas

    adequaes de formatao para que se atendessem s normas de

    apresentao de uma tese tradicional. Dentre essas se destacam:

    A incluso das seces Discusso e Concluses. Esses itens no so

    considerados obrigatrios. A comparao dos achados de uma reviso

    sistemtica ainda indita com os achados de outros autores para

    elaborao da Discusso no seria possvel. As Concluses nesse

    tipo de estudo so os Resultados propriamente ditos (Higgins 2008).

    A apresentao das Referncias bibliogrficas subdivididas em:

    I) Referncias bibliogrficas textuais, em que so mencionados

    os trabalhos que contriburam para a elaborao do texto.

    II) Referncias bibliogrficas dos estudos includos: em que so

    mencionados os ensaios clnicos controlados (EC) que

    atenderam aos critrios de seleo e cujos resultados

  • 4

    contriburam para os achados dessa reviso. No texto da tese

    essas referncias esto destacadas na cor azul.

    III) Referncias bibliogrficas dos estudos excludos: em que

    so mencionados os EC que, embora inicialmente selecionados,

    foram excludos da reviso por no atenderam aos critrios de

    seleo.

    Essas subdivises visam facilitar o entendimento de leitor, e seguem o

    modelo proposto pela Colaborao Cochrane para esse objetivo. Para que a

    apresentao das referncias seguisse uma padronizao nica, os estudos

    foram identificados pelo ltimo sobrenome do primeiro autor seguido do ano de

    publicao. Nos casos de publicao de mais de um estudo pelo mesmo autor

    no mesmo ano, o sobrenome do primeiro autor e o ano foram seguidos de

    indentificao alfabtica (Higgins 2008).

  • 5

    2. FUNDAMENTOS TERICOS

    2.1 A influenza

    A influenza uma doena respiratria aguda, usualmente autolimitada,

    decorrente da infeco pelos vrus A ou B. Os vrus da influenza A, B e C so

    pleomrficos e pertencem famlia Orthomyxoviridae. Contm dois tipos de

    glicoprotenas: hemaglutininas (HA) e neuraminidase (NA), que sofrem

    variaes independentes. Os trs tipos de vrus so antigenicamente

    diferentes. Os vrus A so o principais causadores das grandes epidemias

    devido a sua grande variabilidade antignica. Os vrus B causam epidemias

    mais limitadas e os C no costumam ser associados a epidemias. As cepas do

    tipo A so classificadas em subtipos, segundo o tipo de HA e de NA (H1N1,

    H3N2, etc.). Foram isoladas cepas do tipo A em vrias espcies animais como

    aves, porcos e equinos. Embora existam barreiras para a transmisso entre

    espcies, vem sendo isolados em animais tipos de HA e NA indistinguveis dos

    isolados em humanos (Nicholson 1992).

    2.1.1 Histrico

    Trata-se de uma das mais estudadas doenas virais. As descries de

    quadros clnicos semelhantes aos conhecidos nos dias de hoje so anteriores a

    2000 aC. Entretanto, o isolamento de seu agente etiolgico s se deu em 1933

    (influenza A) por Smith, Andrewes e Laidlaw. Posteriormente, em 1940 e 1947

    foram isolados respectivamente os vrus influenza B (por Francis e Magill) e C,

    por (por Taylor) (Betts 1995, Toniolo Neto 2001).

    file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Nicholson%25201992

  • 6

    As pandemias

    A primeira descrio caracterstica de uma epidemia de influenza, onde

    os sintomas mostraram-se mais convincentes, data de 1173-74. De 1200 a

    1500, apesar de se ter conhecimento de algumas possveis epidemias, os

    relatos da doena so muito vagos, ficando difcil uma avaliao mais

    detalhada desse perodo (Toniolo Neto 2001).

    A anlise dos episdios de influenza no sculo XVI possibilitou um

    melhor conhecimento de seu comportamento. Nessa poca sugeria-se que

    aproximadamente a cada 30 ou 40 anos ocorreriam epidemias que se

    alastrariam pelos continentes. Tais episdios peridicos aconteceram durante

    os sculos XVI a XIX, at que ao fim deste tivemos pela primeira vez uma

    pandemia que alcanou praticamente todos os pases do mundo. Trata-se da

    pandemia de 1889, que se acredita tenha surgido inicialmente na Rssia.

    (Toniolo Neto 2001)

    No sculo XX foram descritas trs pandemias de influenza: a de 1918, a

    de 1957 e a de 1968. As duas ltimas ocorreram j na era da virologia

    moderna e foram mais detalhadamente caracterizadas. As trs ficaram

    conhecidas segundo o local presumido de origem ou onde teriam atingido

    maior gravidade: Espanhola, Asitica e de Hong Kong. Sabe-se que

    representam trs subtipos antignicos de diferentes vrus influenza A: H1N1,

    H2N2 e H3N2, respectivamente. Outra epidemia se destacou no mesmo

    sculo: a epidemia de 1977, que foi classificada como pandmica em crianas

    (Kilbourne 2006).

  • 7

    Assim, as maiores epidemias no parecem ter periodicidade nem um

    padro previsvel. Podem tambm diferir umas das outras quanto ao agente

    etiolgico, s caractersticas epidemiolgicas e a gravidade da infeco

    (Kilbourne 2006).

    A pandemia de 1889-90 (influenza russa ou asitica).

    Trata-se de uma epidemia mais grave que suas predecessoras.

    Acredita-se que tenha se iniciado na regio asitica da Rssia, em maio de

    1889. Em outubro chegou a So Petersburgo e se espalhou pelo resto do

    mundo um ano depois. Alguns estudos sugerem uma ligao do vrus do

    sculo XIX pandemia de Hong Kong (Skog 2008)

    A pandemia de 1918 (influenza espanhola)

    At hoje existem discusses quanto origem dessa pandemia. Em

    conferncia proferida em 1936, Richard Shope descreve uma doena sem

    diagnstico estabelecido, em porcos, mas semelhante influenza em

    humanos, descrita no final do vero e incio do outono de 1918 nos Estados

    Unidos (Kilbourne 2006). No hemisfrio norte, durante a primavera de 1918, a

    influenza em humanos se disseminou rapidamente por todo o mundo. Em

    outubro de 1918, uma doena diagnosticada como influenza surgiu em porcos

    russos e chineses. Sob o ponto de vista epidemiolgico, parece que o vrus se

    disseminou de humanos para porcos, e no ao contrrio. Nos porcos, o vrus

    teria permanecido inalterado at ser isolado por Shope mais de uma dcada

    depois, quando pela primeira vez o vrus influenza foi isolado em mamferos

    (Kilbourne 2006).

  • 8

    O vrus de 1918 foi singular em sua virulncia, embora a maioria dos

    pacientes tenha apresentado apenas um quadro clnico tpico da infeco com

    3-5 dias de durao seguido de completa recuperao. Embora o diagnstico

    virolgico ainda no estivesse disponvel nessa poca, bacteriologistas e

    patologistas em estudos post-mortem dos pacientes com influenza

    demonstraram a existncia de patgenos bacterianos nos pulmes (Kilbourne

    2006).

    Segundo Kilbourne (2006), deve-se enfatizar que nesse tempo as

    superinfeces bacterianas que ocorriam em pacientes com infeces virais

    podiam rapidamente levar morte. Esse autor destaca ainda que a relevncia

    dessa informao reside na possibilidade de fazer-se uma previso sobre se

    poderia acontecer um outro 1918. Pela dimenso da participao das

    infeces bacterianas secundrias nas elevadas taxas mortalidade por

    influenza, razovel admitir-se que os antimicrobianos poderiam contribuir

    para um maior controle desses ndices, a exemplo do que ocorreu em 1957.

    A Pandemia de 1957 (influenza asitica H2N2)

    Aps a pandemia de 1918, a influenza retornou aos padres usuais, com

    epidemias regionais de menor virulncia nas dcadas de 30 e 40 e incio da

    dcada de 50 do sculo XX. Pela primeira vez, durante a pandemia de 1957,

    foi possvel investigar laboratorialmente o vrus influenza. A maioria da

    populao no tinha contato prvio com o vrus. Embora em 1957 a vigilncia

    mundial da influenza fosse mais limitada que atualmente, investigadores da

    Austrlia, Inglaterra e EUA rapidamente isolaram o vrus em seus laboratrios.

  • 9

    Foi possvel reconhecer em exames laboratoriais que se tratava de um vrus

    influenza A. Os antgenos HA e NA eram diferentes daqueles at ento

    encontrados em humanos. Posteriormente estabeleceu-se que se tratava de

    um vrus H2N2 (Kilbourne 2006).

    No foram evidenciadas diferenas nas caractersticas dos vrus

    isolados dos pulmes de pacientes que evoluram para bito quando

    comparados aos vrus isolados da orofaringe de pacientes sem

    comprometimento pulmonar em pequenas epidemias hospitalares circunscritas

    (Kilbourne 2006).

    Com a chegada da influenza asitica, o fenmeno da pneumonia pelo

    vrus da gripe voltou a ser mais amplamente discutido. Demonstrou-se nesse

    perodo que uma infeco unicamente viral, mesmo na ausncia de infeco

    bacteriana secundria poderia ser letal. Embora a pneumonia bacteriana

    secundria tenha sido uma caracterstica proeminente dos casos fatais em

    1918, verificou-se, em 1957, que em muitos casos de morte rpida em que

    ocorreu consolidao do pulmo ou edema pulmonar, a infeco bacteriana

    no podia ser demonstrada.

    Contrariamente ao que havia sido descrito em 1918, doenas

    pulmonares e cardacas crnicas de base foram descritas na maioria dos casos

    fatais, embora as mortes de pessoas previamente saudveis, no fossem

    raras. Estudos norte-americanos descreveram a doena reumtica como a

  • 10

    doena pregressa mais comum. Mulheres no terceiro trimestre de gestao

    tambm estavam entre os mais vulnerveis. (Kilbourne 2006)

    A influenza asitica tambm trouxe a primeira oportunidade de se

    estudar o comportamento da infeco e da doena ps-pandmica. Estudos

    conduzidos nos Estados Unidos da Amrica (EUA) durante um perodo de trs

    anos demonstraram a ocorrncia de infeces subclnicas a cada ano, e que as

    manifestaes clnicas decresciam paralelamente ao aumento dos nveis de

    anticorpos anti HA H2N2. A diminuio da incidncia de infeco clnica

    pode tambm ser atribuda a uma mudana na virulncia intrnseca do

    vrus (Kilbourne 2006).

    O chamado vrus asitico H2N2 estava destinado a uma curta

    sobrevivncia na populao humana. Desapareceu aps 11 anos surgindo

    ento o subtipo Hong Kong H3N2 (Kilbourne 2006).

    A Pandemia de 1968 (influenza de Hong Kong H3N3)

    Como em 1957, uma nova pandemia de influenza surgiu na dcada de

    1960, no sudeste asitico, sendo conhecida como a influenza de Hong Kong.

    Importantes diferenas de padro de adoecimento e morte foram ento

    verificados. No Japo, ocorreram epidemias pequenas e dispersas at o final

    de 1968. O mais impressionante foram as altas taxas de incidncia e de

    mortalidade nos EUA, aps a introduo do vrus na costa oeste daquele pas.

    Esta ocorrncia contrasta com o que se verificou na Europa Ocidental,

  • 11

    incluindo o Reino Unido, onde o aumento na incidncia no foi acompanhado

    de acrscimo nas taxas de mortalidade em 1968-1969. A mortalidade seguiu

    estvel at o ano seguinte ao da pandemia (Kilbourne 2006).

    Uma vez que o vrus Hong Kong diferia do vrus asitico por seu

    antgeno HA, mas conservava o mesmo antgeno N2, especula-se que seu

    carter mais espordico e seu impacto varivel em diferentes regies do

    mundo podem se dever s diferenas na imunidade prvia ao N2

    (Viboud 2005; Kilbourne 2006). Portanto, a pandemia de 1968 foi

    apropriadamente descrita como "latente" (Viboud 2005). Outra evidncia de

    que o contato prvio com o N2 influenciaria a resposta ao vrus de Hong Kong

    foi descrita por Eickhoff e Meiklejohn, que demonstraram que a vacinao de

    cadetes da Fora Area com uma vacina contra o H2N2 levava a reduo

    subsequente das infeces do vrus influenza H3N2 (Viboud 2005).

    A evoluo mais satisfatria da infeco pelo vrus H3N2 em funo da

    imunidade desenvolvida ao antgeno NA assume um papel relevante se

    considerarmos a letalidade do vrus. Mais de 40 anos depois, o subtipo H3N2

    ainda se destaca como um dos mais problemticos vrus influenza em seres

    humanos (Kilbourne 2006).

    Influenza Russa, uma pandemia com limitao etria e o retorno do

    vrus humano H1N1 - 1977

    Em 1977, uma pandemia causada por um vrus H1N1, destacava-se por

    sua capacidade de infectar pessoas que no tinham histria prvia de contato

    com o vrus. A ocorrncia da nova infeco veio tona em novembro de 1977,

    na ento Unio Sovitica. Essa epidemia espalhou-se rapidamente, mas

  • 12

    restringiu-se quase inteiramente a indivduos de at 25 anos de idade. Em

    geral, a doena no era grave, embora se caracterizasse pelos sinais e

    sintomas tpicos da influenza. A distribuio etria foi atribuda ausncia de

    vrus H1N1 em humanos aps 1957 e predominncia subsequente dos

    subtipos H2N2 e em seguida, do H3N2.

    A caracterizao antignica e molecular deste vrus mostrou que os

    antgenos HA e NA eram semelhantes aos da dcada de 1950. Kilbourne

    (2006) levantou algumas questes sobre o tema. Onde o vrus teria

    pernanecido, praticamente inalterado, aps 20 anos? Se transmitido entre

    humanos, deveriam ter ocorrido variaes antignicas aps duas dcadas. A

    reativao de uma infeco latente era uma possibilidade, embora contrariasse

    os conhecimentos biolgicos disponveis. poca, chegou-se e especular a

    possibilidade de o vrus ter sido mantido congelado. Aceitar tal possibilidade

    seria admitir a ocorrncia de experimentaes com vrus vivos. A inexistncia

    de mudanas evolutivas em um hospedeiro animal no parecia razovel. E

    qual seria o hospedeiro? Ainda hoje, no existem respostas definitivas para a

    epidemia de 1977.

    Assim, verifica-se que as pandemias so diferentes umas das outras. O

    requisito mnimo parece ser uma mudana no antgeno HA (1968). Em 1957,

    as alteraes em ambos os antgenos HA e NA foram associados a altas taxas

    de doena e morte. A singularidade e a gravidade da pandemia de 1918 podem

    ter dependido, pelo menos em parte, das condies de guerra e das infeces

    bacterianas secundrias, na ausncia de antimicrobianos. Alm disso,

    respiradores mecnicos e oxigenoterapia no estavam disponveis naquele

  • 13

    tempo. Embora se reconhea que a recombinao com os antgenos HA e NA

    em animais sejam essenciais na origem das pandemias, grandes modificaes

    virais podem levar disseminao global da doena (Kilbourne 2006).

    Apesar da evoluo tecnolgica nas ltimas trs dcadas, tivemos nesse

    perodo, no mundo, mais de 30 milhes de mortes causadas pelo vrus

    influenza. Enquanto no incio do sculo XX, o vrus influenza demorava cerca

    de quatro meses para circular por todo o mundo, hoje, com o avano dos meios

    de transporte, essa circulao se d em menos de quatro dias, dificultando

    ainda mais o controle da doena (Toniolo Neto 2001).

    2.1.2 A doena

    Tipicamente o quadro clnico se caracteriza por um incio abrupto dos

    sintomas, que incluem: cefalia, febre, dores generalizadas, fraqueza e mialgia,

    acompanhadas por manifestaes do trato respiratrio, particularmente tosse e

    dor de garganta. Todavia, um espectro variado de apresentaes clnicas pode

    ocorrer, indo desde uma doena respiratria, afebril, do trato superior at

    prostrao grave, acompanhada de sinais e sintomas respiratrios e

    sistmicos. A complicao mais comum que ocorre durante as epidemias de

    influenza a pneumonia, tanto viral como bacteriana. Complicaes extra-

    pulmonares tambm podem ocorrer e incluem: sndrome de Reye em crianas

    (mais frequente entre 2 e 16 anos), miocardite, pericardite e doenas do

    sistema nervoso central (SNC) como encefalite, mielite, mielite transversa e

    sndrome de Guillain-Barr (Wiselka 1994).

    file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Wiselka%25201994

  • 14

    Muito embora essas doenas possam ocorrer em todas as faixas etrias

    (Pineda Solas 2006) os riscos de complicaes, hospitalizaes e mortes por

    influenza so maiores em trs grupos etrios: 1) indivduos com idade acima de

    65 anos, 2) crianas bem jovens, 3) indivduos em qualquer idade que

    apresentem comorbidade que os coloquem em risco aumentado. As taxas de

    infeco mais altas esto entre as crianas, que tambm se constituem em um

    dos elementos mais importantes na cadeia de transmisso da doena (Dolin

    2005).

    A cada ano, a epidemia tpica de influenza infecta 5 a 20% da

    populao, resultando em cerca de 250.000 a 500.000 mortes, de acordo com

    dados da Organizao Mundial da Sade (OMS). Outras estimativas referentes

    aos bitos decorrentes de complicaes chegam a 1 a 1,5 millhes de mortes.

    As pandemias ocorrem quando o vrus influenza se dissemina globalmente,

    infectando 20 a 40% da populao mundial em um ano. Isto resulta em

    aproximadamente 10 milhes de mortes (WHO 2003).

    O vrus influenza est sujeito, ao longo dos anos, a dois tipos de

    mutaes: as mutaes menores e as mutaes maiores. As mutaes

    menores ocorrem praticamente todos os anos. Com elas surgem novas

    variantes do vrus capazes de escapar da imunidade conferida pela vacinao

    ou por uma infeco prvia. J as mutaes maiores provocam pandemias que

    se disseminam rapidamente por todo o mundo, no havendo, na populao,

    anticorpos para neutraliz-los. A grande questo relacionada s pandemias so

    os reservatrios animais, especialmente os de aves e mamferos, que

    possibilitam o reagrupamento de genes do vrus que infectam humanos e

    file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Pineda%2520Solas%25202006file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Dolin%25202005file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Dolin%25202005file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23WHO%25202003

  • 15

    animais. Isso significa que h intercmbio de material gentico entre o vrus

    humano e o vrus animal, no qual algumas espcies funcionam como

    portadores ou transmissores. O intercmbio do vrus entre diferentes espcies

    facilitado pela relao prxima elas, especialmente na sia, reforando a

    hiptese de que a China encontra-se como o centro de novas variantes

    pandmicas de influenza. Segundo tal hiptese, as pandemias surgiriam nesse

    pas, onde porcos, patos e humanos convivem em condies de proximidade,

    espalhando-se ento para o resto da sia, Europa, Amricas e para todo o

    mundo (Bonn 1997, Toniolo Neto 2001).

    2.1.3 Profilaxia e tratamento

    Atualmente a profilaxia e o tratamento da influenza se baseiam em duas

    medidas principais: a imunizao com vacinas anti-influenza e os agentes

    antivirais (Demicheli 2000). Embora a vacinao seja a estratgia preventiva

    primria, existem algumas situaes nas quais a quimioprofilaxia com agentes

    antivirais assumem fundamental importncia. Entende-se como quimioprofilaxia

    a administrao de uma droga para preveno de uma doena antes que ela

    ocorra. Indivduos portadores de enfermidades prvias ou que fazem parte de

    grupos de risco podem receber medicaes que impeam o desenvolvimento

    de condies que os coloquem em risco. No que diz respeito influenza, a

    cada estao, o vrus pode sofrer modificaes antignicas aps a formulao

    da vacina anual. Assim, o efeito protetor da vacina ficaria reduzido, e as

    epidemias ocorreriam em populaes de risco mais elevado. Alm disso, no

    curso de uma epidemia, os suprimentos de vacina podem no ser suficientes

    para a demanda, no atingindo a rapidez necessria para impedir o progresso

    file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Bonn%25201997file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Demicheli%25202000

  • 16

    de uma epidemia por uma nova cepa do vrus influenza. Portanto, provvel

    que vacinas no estejam disponveis em quantidade suficiente para a primeira

    onda de disseminao viral (Hayden 2004). Os agentes antivirais tornam-se,

    ento, parte importante de uma abordagem racional no manejo da influenza

    (Moscona 2005, Smith 2006).

    Atualmente existem duas classes de antivirais utilizados no tratamento e

    preveno da influenza, cada uma delas com duas drogas: os inibidores do

    canal de on M2 (AMT e RMT) e os inibidores da NA (zanamivir e oseltamivir).

    Os inibidores do canal de on M2 interferem na atividade do canal do on

    atravs da membrana celular. H registros de eficcia pela interferncia no

    ciclo de replicao do vrus tipo A (mas no o B). Os inibidores da NA

    interferem com a liberao da progenia do vrus influenza de clulas

    hospedeiras infectadas e so efetivos contra o vrus influenza A e B (Moscona

    2005). Ambas as drogas mostraram eficcia parcial para o tratamento e

    preveno da influenza A, embora seja menos provvel que os inibidores de

    NA se relacionem ao desenvolvimento de resistncia viral s medicaes

    (Moscona 2005).

    A eficcia da AMT e RMT no tratamento e na preveno da influenza A

    em adultos j foi objeto de uma reviso sistemtica (Jefferson 2006b). Os

    resultados apresentados confirmaram que a AMT e a RMT tinham uma eficcia

    comparvel na preveno e no tratamento da influenza A em adultos

    saudveis. Alm disso, em pandemias anteriores os vrus se mostraram

    susceptveis a esta classe de drogas. razovel, portanto, considerar a

    utilizao dos inibidores M2 na abordagem da influenza, se a cepa for sensvel.

    file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Hayden%25202004file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Moscona%25202005file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Moscona%25202005file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Moscona%25202005file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Moscona%25202005file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Jefferson%25202006b

  • 17

    2.2 A busca das evidncias

    2.2.1 Histrico

    A valorizao da busca de evidncias para o aperfeioamento da prtica

    clnica citada h muitos anos. Na antiga Medicina Chinesa, durante o reinado

    do Imperador Quianlang, o mtodo kaocheng (busca de evidncia prtica) foi

    usado para interpretar antigos textos de Confcio. Na Paris do sculo XVIII, no

    perodo ps-revoluo, alguns clnicos, dentre os quais Pierre Louis, rejeitaram

    os chamados pronunciamentos das autoridades e buscaram fundamentar suas

    decises na observao sistemtica dos pacientes. Nessa perspectiva,

    destacou-se sua rejeio indicao das autoridades da poca venosseco

    como tratamento da clera (Sackett 2003).

    Em 1972, o mdico escocs Archibald Cochrane, com seu interesse

    pelos estudos epidemiolgicos e com as experincias da prtica mdica nas

    guerras na Europa na primeira metade do sculo XX, sugeriu que, uma vez que

    os recursos sero sempre limitados, eles deveriam ser aplicados de forma a

    garantir a equidade de sua distribuio em cuidados e tratamentos de sade

    que fossem comprovadamente efetivos. No ano de 1979, Cochrane criticou o

    fato de os mdicos ainda no disporem das informaes oriundas das

    pesquisas, organizadas de forma sistemtica, como j ocorria em reas como a

    agricultura e educao. Declarava ainda a necessidade de os resultados

    descritos nos EC serem tambm apresentados de forma resumida, crtica e

    com atualizaes peridicas. Em homenagem ao Dr. Cochrane, em 1992, foi

    fundado em Oxford, no Reino Unido, o primeiro Centro Cochrane e no ano de

    1993 foi fundada a Colaborao Cochrane. Trata-se de uma organizao

  • 18

    internacional, independente e sem fins lucrativos, que se dedica a preparar,

    atualizar e divulgar estudos de reviso sistemtica sobre os efeitos de

    intervenes em sade (Cochrane 2010).

    Mais recentemente, Sacket e cols (2003), destacaram a importncia da

    busca da melhor evidncia na prtica mdica diria. A expresso Medicina

    Baseada em Evidncias passa a ser mais utilizada, sendo definida por esses

    autores como a integrao das melhores evidncias de pesquisa, com a

    habilidade clnica do mdico e a preferncia do paciente. Os autores

    consideram que a melhor evidncia de pesquisa significa pesquisa

    clinicamente relevante, com frequncia a partir de cincias mdicas bsicas,

    mas especialmente de EC. Consideram como habilidade clnica a capacidade

    de usar os conhecimentos cnicos e a experincia para identificar rapidamente

    o estado de sade e o diagnstico de cada paciente, seus riscos individuais e

    benefcios das intervenes propostas, bem como valores e expectativas

    pessoais do paciente. Os valores do paciente referem-se s suas preferncias

    particulares, preocupaes e expectativas trazidas consulta e que devem ser

    incorporadas s decises clnicas. Enfatizam ainda que quando esses trs

    elementos so integrados, o mdico e o paciente formam uma aliana

    diagnstica e teraputica que otimiza o resultado clnico e contribui para a

    melhora na qualidade de vida.

    A busca por uma forma objetiva de obteno das informaes

    necessrias ao aperfeioamento da qualidade do atendimento ganha cada vez

    mais importncia com o aumento da produo cientfica. Diariamente, mdicos

  • 19

    e responsveis pela elaborao de polticas de sade recebem uma grande

    quantidade de informaes que dificilmente poderiam ser assimiladas (Mulrow

    1994). Em 1991, Richard Smith (1991) afirmava que existem atualmente cerca

    de 3.000 revistas biomdicas em todo o mundo. No entanto, apenas 15% das

    intervenes mdicas esto baseadas em evidncias. Alm da limitada

    disponibilidade de tempo, muito profissionais encontram dificuldades para a

    compreenso dos mtodos aplicados e, portanto, para avaliar criticamente as

    informaes disponveis.

    As revises sistemticas e o emprego da metanlise podem contribuir

    para superao desses obstculos. Considera-se reviso sistemtica como a

    aplicao de estratgias cientficas que limitem o vis de seleo de artigos,

    avaliem com esprito crtico os artigos e sintetizem todos os estudos relevantes

    em um tpico especfico. O termo metanlise formado pelo prefixo grego

    meta, que significa transcender, e pela raiz anlise, foi usado pela primeira

    vez por Glass (1976). Resumidamente, trata-se da anlise da anlise. Foi

    definida como uma reviso sistemtica quantitativa, ou seja, aquela em que se

    empregam mtodos estatsticos para combinar e resumir o resultado de vrios

    estudos.

  • 20

    2.2.2 O que uma reviso sistemtica?

    Uma reviso o termo genrico para qualquer tentativa de sintetizar

    resultados e concluses de estudos sobre um tpico especfico. Trata-se,

    assim, de uma reviso de estudos sobre uma pergunta claramente formulada

    em que se utilizam mtodos sistematizados e explcitos para identificao,

    avaliao e seleo dos estudos relevantes e para coleta e anlise dos dados

    dos estudos includos. Como anteriormente descrito, o uso de mtodos

    explcitos e sistemticos reduz vieses e efeitos do acaso, originando ento

    resultados mais confiveis sobre os quais sero tiradas concluses e tomadas

    decises (Systematic review study group 2009). Tradicionalmente a elaborao

    desse tipo de estudo pressupe que sejam seguidos os seguintes estgios ou

    passos (Coutinho 2002):

    I. Formulao da pergunta

    Para tanto, importante identificar a necessidade de se conduzir tal

    reviso. Num estudo sobre interveno, essencial que a populao, a

    interveno e o desfecho estejam claramente explicitados.

    II. Localizao e seleo dos estudos

    A reviso sistemtica sobre estudos de interveno geralmente enfoca

    os relatos de EC quando tais dados esto disponveis por se tratarem de

    estimativas de efeito mais confiveis.

    Uma busca abrangente de EC relevantes, com a finalidade de minimizar

    vieses, uma etapa considerada como essencial no desenvolvimento de uma

    reviso sistemtica e um dos fatores que a distingue da reviso tradicional.

  • 21

    II.a Fontes de pesquisa:

    Bancos eletrnicos de dados: tais como MEDLINE, EMBASE, Cochrane

    Library e outros.

    Busca manual: para a localizao de estudos publicados, mas no

    eletronicamente disponveis.

    Identificao de artigos no publicados: procedimento mandatrio para

    a preveno de vieses, que inclui conferncias, dissertaes, teses e

    registros dos EC.

    Pesquisa nas listas de referncias apresentadas nos artigos, incluindo

    aquelas de revises sistemticas previamente publicadas, a fim de se

    conseguir detectar relatos de relevncia.

    Comunicao pessoal: para descobrir se ainda h estudos no

    encontrados aps a busca descrita, os revisores podem enviar uma lista

    de estudos encontrados para os respectivos autores ou mesmo para a

    indstria farmacutica, perguntando se h cincia de algum outro

    estudo de relevncia (publicado ou no).

    II.b Estratgia de busca:

    Desenvolver e documentar a estratgia de busca e rastrear os estudos

    identificados de muito importante em uma reviso sistemtica.

    necessrio equilbrio entre abrangncia e preciso ao se proceder a

    uma estratgia de busca. O desenvolvimento dessa estratgia um processo

    contnuo em que termos so usados e modificados, tendo-se como base o

    material obtido. Documentar a estratgia de busca conhecer como a busca

    foi feita, o que e para que foi pesquisado e quando a pesquisa foi realizada em

  • 22

    cada um dos bancos de dados investigados. Com a finalidade de se evitar a

    duplicao de incluso de um mesmo artigo na anlise dos resultados,

    imprescindvel que se tenha algum sistema que permita a deteco das

    referncias julgadas como de relevncia.

    III. Avaliao crtica dos estudos

    Trata-se da avaliao da qualidade de estudos individuais que se

    encontram sumarizados nas revises sistemticas. Nessa fase o que se espera

    verificar o quanto o desenho do estudo e a forma como foi conduzido

    poderiam prevenir ou produzir erros sistemticos. Os erros sistemticos mais

    comuns ocorrem nas seguintes etapas:

    alocao dos pacientes nos grupos de interveno e controle,

    tratamento prestado aos pacientes nos grupos de interveno e controle,

    seguimento e perdas e

    deteco do desfecho.

    H diversos modos pelos quais as avaliaes de qualidade podem ser

    utilizadas em uma reviso:

    Como um limite para a incluso de estudos. Dessa forma haveria menor

    variao de validade nos relatos includos.

    Como uma possvel explicao para as diferenas nos resultados dos

    vrios estudos (porque diferentes nveis de validade entre os estudos

    podem conduzir a diferentes resultados).

    Na anlise de sensibilidade.

  • 23

    Como um peso atribudo na anlise estatstica dos resultados dos

    estudos

    Quando avaliamos a validade dos EC, pretendemos verificar se existem as

    seguintes as diferenas de validade:

    Aplicabilidade, tambm chamada de validade externa ou generalizao:

    est relacionada definio de perguntas bem formuladas, incluindo

    populao, interveno, estratgia e desfecho.

    Validade interna (denominada simplesmente validade) de um estudo:

    indica o quanto este estudo pode evitar erros sistemticos ou vieses.

    Preciso indica o quanto o estudo pode prevenir erros randmicos. Isto

    se reflete no tamanho do intervalo de confiana (IC) e no peso conferido

    para cada um dos estudos. Quanto mais precisos os resultados, maior o

    peso conferido.

    Para avaliarmos a qualidade dos estudos, possvel utilizar diferentes

    checklists e escalas.

    O ponto de importncia a de que no existe um padro ouro para a

    validade de um ensaio clnico. O nmero de revisores que avaliam os EC e

    suas experincias anteriores deve estar explicitados no protocolo.

    Uma das ferramentas utilizadas na avaliao crtica a escala de Jadad.

    Trata-se de uma escala de pontos que variam de zero a cinco, em que se

    verifica se houve randomizao, o mtodo de randomizao, se houve

    cegamento e avaliao do seguimento e de perdas. De modo geral, EC com

    pontuao de trs ou mais so considerados de boa qualidade (Jadad 1996).

  • 24

    IV. Coleta de dados

    o elo entre o relato dos investigadores dos estudos primrios e o relato

    final da reviso. Nessa fase possvel ainda confirmar a elegibilidade do

    estudo.

    O processo de coleta envolve:

    o desenvolvimento pelos revisores de um formulrio

    especificamente elaborado para a reviso em questo,

    a fase de teste do formulrio (piloto),

    o aperfeioamento do modelo

    a coleta de dados propriamente dita.

    Itens como mtodos, caractersticas dos participantes, intervenes,

    medidas de desfecho e resultados devem constar no formulrio.

    Pode ficar evidente a ausncia de dados essenciais para reviso, no

    publicados no EC selecionado. Sempre que possvel, a estratgia de

    contatar os autores do EC pode trazer informaes relevantes.

    Pelo menos dois revisores devem preencher os formulrios de coleta de

    dados de forma independente. Posteriormente, esses formulrios devem

    ser comparados. Em caso de discordncia quanto a qualquer um dos itens,

    uma estratgia de arbitragem deve ser previamente acordada entre os

    avaliadores.

  • 25

    V. Anlise e apresentao dos dados

    A anlise constitui-se essencialmente nas comparaes que desejamos

    conduzir. Assim os estudos devem ser agrupados por semelhana. Para

    cada tratamento estudado podemos estabelecer uma comparao com

    placebo, controle ou outros tratamentos disponveis.

    Tambm possvel analisar um subgrupo de pacientes, caso haja

    interesse em se estudar caractersticas especficas ou haja possibilidade de

    selecionar um determinado tipo de frmaco dentro de uma famlia de

    medicamentos ou diferentes doses desse frmaco.

    Os resultados de uma reviso sistemtica so apresentados de forma

    grfica e numrica. Tipicamente, como uma figura conhecida como floresta

    (forest plot), mostrando a estimativa-ponto e o intervalo de confiana de

    cada um dos estudos. Seis tipos de informao so especialmente teis

    (Fletcher 2006):

    o nmero de estudos que preenchem critrios rigorosos de qualidade,

    as referncias bibliogrficas dos estudos componentes,

    o padro das magnitudes do efeito. Elas favorecem mais o tratamento

    experimental ou o controle? So consistentes uma com a outra, ou

    discordam?

    o nmero de estudos estatisticamente significativos,

    o que os grandes estudos estaticamente significativos mostram em

    comparao com os menores e

  • 26

    a ordem cronolgica dos estudos, o que pode mostrar se os resultados

    mudaram com o passar do tempo e quando foram conduzidos os

    maiores estudos.

    VI. Interpretao dos resultados

    Nesse estgio, verificamos se existe um contraste entre os desfechos

    observados nos grupos experimental e controle. Independentemente de os

    revisores optarem por uma anlise narrativa ou quantitativa.

    Tambm consideramos se possvel combinar e resumir os resultados

    dos estudos selecionados.

    VII. Aperfeioamento e atualizao

    Essa etapa ocorre aps a publicao. Os novos estudos assim como as

    crticas e sugestes de outros autores so discutidas ou incorporadas s

    edies subsequentes um estgio no qual se reafirma o compromisso dos

    autores com a atualiazao permanente do conhecimento.

    2.2.3 O que metanlise?

    Como descrito anteriormente, trata-se de um mtodo estatstico aplicado

    reviso sistemtica para combinar e resumir os resultados de dois ou mais

    estudos.

    O desenvolvimento de mtodos para combinar resultados de estudos

    independentes tem origem nos trabalhos do matemtico alemo Karl Gauss e

  • 27

    do matemtico francs Pierre-Simon Laplace durante a primeira metade do

    sculo XIX. Foi na astronomia que seus mtodos encontraram aplicao

    prtica: medir a posio das estrelas resultava em estimativas um pouco

    diferentes, assim, eram necessrias tcnicas para combinar as estimativas

    para produzir uma mdia derivada da combinao dos resultados. Em 1861,o

    astrnomo real britnico George Airy, publicou um manual para astrnomos

    no qual ele descrevia os mtodos usados para este processo de sntese

    quantitativa (James Lind Library 2007).

    A agricultura tambm considerada rea pioneira, com a aplicao

    desses mtodos a partir da dcada de 1930. Desde 1950 as cincias sociais, a

    educao e a psicologia tm dedicado maior interesse a esses estudos (Olkin

    1995; Hunt 1997).

    Quanto rea mdica, um dos primeiros exemplos de metanlise foi o

    estudo publicado na Revista Britnica de Medicina (British Medical Journal) em

    1904 por Karl Pearson, a quem o governo pediu que revisasse a evidncia dos

    efeitos de uma vacina contra febre tifide. Em 1955 o peridico Journal of the

    American Medical Association (JAMA) publicou uma metanlise sobre a

    eficcia do placebo conduzida por Beecher. Entretanto, foi somente a partir do

    final da dcada de 1970 que a metanlise se consolidou como mtodo de

    investigao mdica. Considera-se como marco dessa consolidao a

    publicao dos artigos sobre o uso de trombolticos venosos para a reduo da

    mortalidade em pacientes com infarto agudo do miocrdio, em 1977, por

    Chalmers, e sobre o uso de esterides administrados s mulheres em risco de

    parto prematuro para reduo das complicaes decorrentes da prematuridade

  • 28

    nos recm-nascidos por Crowley e cols em 1990 (Chalmersl 1977, Crowley

    1990, Hunt, 1997).

    Os estudos de metanlise so particularmente teis quando resultados

    de vrios trabalhos discordam quanto magnitude ou direo do efeito,

    quando os tamanhos amostrais so individualmente pequenos para detectar

    um efeito e quando os ensaios para avaliar um determinado assunto so caros

    ou demandam longo tempo para serem realizados (Periss, 2001). Alm de

    fornecer uma estimativa mais precisa dos efeitos do tratamento essas

    pesquisas permitem uma avaliao apropriada da heterogeneidade entre os

    estudos individuais e podem fornecer informaes teis para as decises da

    prtica clnica. Tambm apontam reas onde as evidncias disponveis so

    insuficientes e para as quais novos EC so necessrios. Por todas essas

    caractersticas, contribuem para a racionalizao do emprego dos recursos,

    indo tambm ao encontro dos interesses dos pases menos desenvolvidos nos

    quais os recursos disponveis para assistncia e pesquisa em sade so ainda

    mais limitados (Egger 2005).

    Atualmente, essas pesquisas so reconhecidas como importantes

    ferramentas na definio de polticas pblicas de sade. Entretanto, em um

    estudo no publicado sobre a produo cientfica da Amrica Latina realizado

    em julho de 2009 pela autora dessa pesquisa, verificou-se que as revises

    sistemticas com metanlise ainda so escassas em nossa regio. Utilizando o

    banco de dados Medline e os limites: metanlise; crianas at cinco anos;

    publicao nos ltimos cinco anos, foram pesquisados os temas considerados

    relevantes, dada sua alta prevalncia em pases menos desenvolvidos:

  • 29

    imunizao, diarria, infeco respiratria aguda, tuberculose, AIDS,

    aleitamento materno, asma e malria. Obtivemos 779 estudos, sendo 20

    (2,6%) latino-americanos. Destes, oito eram brasileiros, quatro mexicanos, trs

    argentinos, dois colombianos, um chileno, um peruano e um panamenho.

    Quatro (50%) estudos brasileiros foram publicados exclusivamente em

    portugus e um argentino, exclusivamente em espanhol. Publicaes em ingls

    corresponderam a 774 artigos. Do total de estudos identificados, 145 (18,6%)

    abordavam os temas destacados. Em relao aos 20 trabalhos latino-

    americanos, apenas cinco (25%) versavam sobre tais temas.

    Os mtodos de metanlise enfocam a comparao e a combinao dos

    diversos resultados nos vrios estudos encontrados. Para a determinao da

    medida-sumrio, inicialmente se obtm os resultados encontrados em cada

    estudo. Para os EC esses valores correspondem aos efeitos dos tratamentos e

    sero apresentados como RR, se os dados forem dicotmicos. A seguir a

    estimativa-sumrio do efeito do tratamento calculada como uma mdia

    ponderada das medidas dos efeitos do tratamento nos estudos individuais

    (Higgins 2005).

    2.2.4 Limitaes dos estudos de metanlise

    Apesar de haver certa concordncia em relao s vantagens dos

    estudos de metanlise tambm existem controvrsias em relao a algumas

    questes em torno deste tipo de estudos, como, por exemplo, em relao a

    qual deve ser seu objetivo primrio. H quem defenda que o objetivo primrio

    deve ser o clculo de medidas de associao que sumarizem os resultados dos

  • 30

    vrios estudos analisados um objetivo sinttico e h tambm quem

    defenda que deve ser a identificao e anlise das diferenas entre estes um

    objetivo analtico. No podemos esquecer que um estudo de metanlise com

    intuito meramente sinttico pode dar uma falsa impresso de consistncia entre

    os vrios estudos. importante considerar-se que nenhuma metanlise pode

    compensar as limitaes inerentes aos estudos em que se baseia, uma vez

    que, eles prprios, tm erros, sistemticos e aleatrios, que no so corrigidos

    pela sua anlise conjunta, sendo, pelo contrrio, aditivos. Da, a grande

    importncia do objetivo analtico num estudo de metanlise (MedStatWeb

    2010).

    Uma das grandes limitaes a possibilidade de ocorrncia dos

    chamados vieses de publicao. Existe, no meio cientfico, uma tendncia para

    publicar, mais facilmente, estudos com resultados positivos e no publicar

    estudos com resultados negativos (no existncia de efeito). possvel,

    portanto, a ocorrncia de erros sistemticos no sentido de resultados positivos,

    ainda que estes no existam de fato. por esta razo que se reveste da maior

    importncia fazer uma pesquisa o mais abrangente possvel de modo a

    encontrar no s os estudos com resultados positivos, mas tambm os que

    encontraram resultados negativos (MedStatWeb 2010).

    Uma ferramenta que pode auxiliar a avaliar a possibilidade da ocorrncia

    do vis de publicao so os chamados grficos em funil. Nesse tipo de grfico

    a preciso na estimativa do efeito de um tratamento aumenta com o tamanho

    das amostras dos estudos individuais. Os resultados dos estudos pequenos

    ficam ento dispersos difusamente na base do grfico e os resultados dos

  • 31

    estudos maiores estreitam-se na parte superior. Quando no h vis de

    publicao o grfico toma a forma de funil invertido simtrico. Na presena

    desse vis, veremos um grfico assimtrico. Deve ser destacado, entretanto,

    que quando o nmero de estudos selecionados pequeno, o que ocorre com

    frequncia nas revises sistemticas, no possvel analisar se h ou no

    simetria grfica (Egger 2005, Higgins 2005).

    Mesmo encontrando todos os estudos sobre a questo a analisar,

    normalmente, no se tem acesso aos dados completos de cada estudo.

    Geralmente, no possvel ir alm do descrito nos artigos dos peridicos em

    que foram divulgados os resultados dos estudos. A no existncia de dados

    suficientes que permitam a anlise de cada estudo , deste modo, um dos

    maiores problemas encontrados na realizao de uma metanlise, tanto por

    no se ter acesso aos estudos, como por eles prprios poderem ter limitaes

    e deficincias (MedStatWeb 2010).

    Por ltimo deve-se referir que muitas vezes o que dificulta a elaborao

    de um estudo de metanlise, a divergncia encontrada entre os vrios

    estudos que pretendem responder a uma questo comum, em relao a fatores

    como definio da exposio, definio do resultado esperado e definio

    das variveis de confuso. (MedStatWeb 2010).

  • 32

    3. JUSTIFICATIVA

    A escolha do tema em questo justifica-se pela antiga, porm sempre

    presente preocupao mundial com o surgimento de uma nova pandemia de

    influenza. poca do incio desse estudo, no havia previses exatas sobre

    quando uma nova pandemia poderia ocorrer. Tampouco era possvel prever

    precisamente suas consequncias individuais, sociais, econmicas e sobre os

    sistemas de sade. Considerava-se, entretanto, que crianas e idosos estariam

    entre as populaes de maior risco para as complicaes decorrentes da

    influenza. Ainda hoje, continua sendo necessrio buscar meios que limitem a

    disseminao de uma epidemia nesses grupos, especialmente nas regies em

    que so escassos os recursos destinados sade.

    A Assemblia Mundial de Sade de 2003 havia aprovado uma resoluo

    de incentivo a elaborao de planos de preparao para fazer frente a uma

    possvel pandemia de influenza. Em resposta a essa resoluo, no Brasil, o

    Ministrio da Sade elaborou o Plano de Preparao Brasileiro para o

    Enfrentamento de uma Pandemia de Influenza (2005). Nessa poca, os

    resultados preliminares do estudo de cenrios pandmicos de influenza no

    Brasil indicavam um impacto negativo importante na demanda aos servios de

    sade. Usando-se como modelo taxas de ataque entre 20 e 33% num perodo

    de cinco a oito semanas, teramos a ocorrncia de 37 milhes a 61 milhes de

    casos. Estimando-se 13% da populao como pertencente ao grupo de maior

    risco para as complicaes da doena e que, destes, 30% viessem a requerer

    alguma interveno mdica, teramos 5 milhes de casos complicados apenas

  • 33

    entre indivduos de alto risco. Dentre os doentes que no pertencem a nenhum

    grupo de risco, poderia esperar-se 13 milhes de casos complicados, o que

    totalizaria 18 milhes de pessoas requerendo atendimento para complicaes

    em todo o Brasil, assumindo-se um cenrio intermedirio, com taxa de ataque

    de 25%. (MS 2005)

    De acordo com essa anlise preliminar, se houvesse indicao e

    disponibilidade de antivirais para o tratamento de todos os doentes, no Brasil, a

    taxa de hospitalizao poderia ser reduzida em 40%.

    A vacinao ainda a primeira escolha para a preveno da influenza

    em todo o mundo (Demichelli 2000). Entretanto, em algumas situaes, os

    antivirais esto estabelecidos como uma estratgia razovel para a preveno

    e tratamento da infeco. Exemplos dessas situaes so as mudanas

    genticas do vrus influenza durante uma epidemia e aps o desenvolvimento e

    distribuio da vacina anual, alm da capacidade limitada de produo e

    distribuio de vacinas (Hayden 2004).

    Embora AMT e RMT sejam consideradas medicamentos antigos, com

    mais de 40 anos, devemos destacar que esses antivirais haviam sido includos

    nos planos de enfrentamento da pandemia de alguns pases. Havia a

    possibilidade de que fosse uma medida importante, principalmente se, em uma

    nova pandemia, os vrus se mostrassem sensveis a essas medicaes

    (Jefferson 2006b). Assim, considerando-se a realidade brasileira e mundial e a

    necessidade de busca de evidncias que justifiquem o emprego dessas

  • 34

    medicaes na faixa etria estudada, julgamos oportuna a realizao de uma

    reviso sistemtica sobre essas duas drogas na preveno e no tratamento da

    influenza.

  • 35

    4. OBJETIVOS

    Geral

    Estudar sistematicamente as evidncias sobre eficcia e

    segurana da AMT e RMT na preveno e tratamento da

    influenza A em crianas e idosos.

    Especficos:

    Estabelecer a eficcia desses antivirais na preveno de

    casos de influenza A.

    Estabelecer a eficcia desses antivirais na reduo da

    durao das manifestaes da infeco por influenza A.

    Comparar o risco da ocorrncia de efeitos adversos no

    grupo experimental (usando AMT ou RMT) com o grupo

    controle.

  • 36

    5, MTODOS

    5.1 Desenho do estudo

    Trata-se de uma reviso sistemtica de EC.

    5.2 Amostra

    5.2.1 Critrios de incluso

    5.2.1.1 Tipos de estudos

    EC randomizados ou quasi-randomizados sobre tratamento ou

    preveno da influenza A com AMT e/ou RMT em crianas e idosos.

    5.2.1.2 Tipos de participantes

    Estudos randomizados ou quasi-randomizados sobre tratamento ou

    preveno da influenza A com AMT e/ou RMT em que pelo menos 75% da

    amostra fossem constitudas de crianas e adolescentes de at 19 anos (WHO

    2007) ou indivduos acima de 65 anos de idade. Ensaios em pacientes de faixa

    etria mais ampla, mas cujos dados por subgrupos etrios de interesse nesse

    estudo estivessem disponveis tambm poderiam ser includos.

  • 37

    5.2.1.3 Tipos de interveno

    As intervenes de interesse foram as comparaes entre AMT ou RMT

    com: placebo, outras medicaes, outros antivirais, doses ou intervalos de

    administrao diferentes de AMT ou RMT e nenhuma interveno, tanto para a

    profilaxia quanto para o tratamento da influenza A.

    5.3 Desfechos estudados

    Resposta ao tratamento: medida como casos das manifestaes abaixo,

    segundo o dia de uso da AMT ou RMT:

    febre no terceiro dia,

    tosse no stimo dia

    mal-estar no sexto dia

    conjuntivite no quinto dia,

    sintomas oculares no quinto dia.

    Casos de influenza: definidos pela ocorrncia de manifestaes clnicas

    com comprovao laboratorial.

    Casos de efeitos adversos em crianas:

    diarria,

    exantema,

    mal-estar,

    dor muscular nos membros,

    cefalia,

    dispnia,

  • 38

    tonteira

    agitao,

    insnia,

    nuseas,

    vmitos,

    arritmia,

    outras manifestaes GI,

    outras manifestaes relacionadas ao SNC,

    alterao de comportamento,

    hiperatividaade,

    zumbidos,

    Casos de efeitos adversos em idosos:

    cefalia,

    tonteira

    agitao,

    insnia,

    nuseas,

    vmitos,

    ansiedade,

    confuso mental,

    fadiga,

    depresso,

    dificuldade de concentrao,

    perda de apetite,

  • 39

    rash cutneo ou reao alrgica,

    convulses,

    espasmos clnicos.

    boca seca,

    fraqueza,

    debilidade.

    Deve ser ressaltado que os EC so estudos controlados. Portanto, ao

    avaliarmos a resposta ao tratamento, estudamos a eficcia da AMT e RMT

    porque as medicaes foram consideradas em condies experimentais (da

    Silva 1994). Planejava-se inicialmente estudar o efeito da AMT e da RMT na

    melhora da febre e da tosse, uma vez que essas so consideradas as

    manifestaes clnicas mais frequentes da influenza (Van Esso 2006). Com a

    coleta de dados verificou-se que o perodo de tempo, monitorado de forma

    contnua para a observao da evoluo desses desfechos, no estava

    mencionado nos estudos includos. Assim, buscou-se uma alternativa para se

    estimar a resposta de pacientes com influenza A AMT e RMT. Para esta

    anlise conduzida de forma no programada, foram considerados os dados

    disponveis e de modo arbitrrio determinamos o tempo de uso dos antivirais

    para a avaliao da resposta teraputica. Esta escolha baseou-se no estudo de

    Eccle, (2005) no qual as manifestaes clnicas foram classificadas em iniciais

    e tardias (Eccle 2005). Tipicamente a febre pode ter a uma durao de quatro a

    oito dias, de forma que foi escolhido o terceiro dia de tratamento (Dia 3) como o

    ponto de corte para observao de uma resposta favorvel ao antiviral (Eccle

    2005). A tosse considerada uma manifestao tardia que se desenvolve

    vagarosamente e que ainda pode estar presente uma semana aps o incio da

    file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Eccle%25202005file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Eccle%25202005file:///C:/Users/Documents%20and%20Settings/Marcia/Configuraes%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/K9AVKH2N/A005%20NOV%2009%202007.HTM%23Eccle%25202005

  • 40

    doena (Eccle 2005). Do mesmo modo, foi escolhido o stimo dia de

    tratamento (Dia 7) como ponto de corte para observao de uma resposta

    favorvel ao antiviral.

    Finalmente, foi possvel incluir outros desfechos referentes ao tratamento a

    partir das informaes adicionais obtidas diretamente de um dos autores (Hall

    1987) aps correspondncia eletrnica. De forma similar, foi arbitrado o sexto

    dia (Dia 6) de uso do antiviral para avaliarmos a resposta do desfecho mal-

    estar no sexto dia, j que esse sintoma se inicia precocemente, podendo ainda

    ser referido durante uma a duas semanas (Eccle 2005; Smith 2006). Tambm

    as manifestaes oculares que podem ocorrer precocemente no curso da

    doena, foram avaliadas no quinto dia (Dia 5) para observao de uma

    resposta favorvel ao antiviral (Treanor 2005; Wright 2004).

    5.4 Comparaes

    5.4.1 Comparaes em crianas:

    1 - AMT e RMT comparadas ao controle (placebo ou outros medicamentos) no

    tratamento da influenza A.

    2 - AMT e RMT comparadas ao controle (placebo ou outros medicamentos) na

    profilaxia da influenza A.

    3 Efeitos adversos da AMT e R