2
ISBN: 978-85-423-0096-3
Coordenao geral
Profa. Dra. Miracy Barbosa Gustin
Coordenao do Seminrio
Fernanda de Lazari Cardoso Mundim
Juliano Napoleo Barros
Estagirio responsvel:
Daniel Geraldo Oliveira Santos
Organizao dos anais
Alissa Cristina Campos
3
Equipe de seleo e avaliao dos trabalhos
Prof. Dr. Marcelo Cattoni (UFMG)
Profa. Dra. Maria Fernanda Salcedo Repols (UFMG)
Profa. Dra. Mnica Sette Lopes (UFMG)
Profa. Dra. Adriana Goulart de Sena Orsini (UFMG)
Prof. Dr. Rennan Lanna Mafra (UFV)
Profa. Dra. Maria Tereza Fonseca Dias (UFMG)
Profa. Dra. Miracy Barbosa de Sousa Gustin (UFMG)
Ms. Juliano Napoleo Barros (UFMG)
Ms. Fernanda de Lazari Cardoso Mundim (UFMG)
Prof. Dr. Eloy Lemos Pereira Jnior (Universidade de Itana)
4
Equipe Coordenadora dos Grupos de Trabalho (GT)
GT 1: Identidades coletivas nos meios urbanos e rurubanos
Profa. Dra. Ana Beatriz Vianna Mendes
Ludmilla Zago
Profa. Dra. Ana Flvia Santos
Prof. Dr. Aderval Costa Filho
GT 2: Polticas pblicas no meio urbano e rururbano
Profa. Dra. Adriana Goulart de Sena
Raquel Portugal
Prof. Dr. Marcelo Cattoni
Prof. Dr. Eloy Lemos Pereira Jnior
Prof. Dr. Rennan Lanna Mafra
Carla Beatriz Marques Rocha e Mucci
Profa. Dra. Fabiana Menezes
Mila Batista Leite Corra da Costa
GT 3: Mobilizao e organizao social
Profa. Dra. Maria Tereza Fonseca Dias
Luana Pinto Xavier
Prof. Dr. Andr Luiz Freitas Dias
Mariana Gontijo
5
Aline Barbosa Pereira
Profa. Dra. Marcela Furtado Magalhes Gomes
GT 4: Experincias de acesso s condies de trabalho e de
justia
Gabriela Freitas Figueiredo Rocha
Henrique Napoleo
Profa. Dra. Rosana Ribeiro
6
Sumrio
GRUPO DE TRABALHO 1 Identidades coletivas nos meios urbanos e rurubanos
18
GRUPO DE TRABALHO 2 Polticas pblicas no meio urbano e rururbano
63
GRUPO DE TRABALHO 3 Mobilizao e organizao social
157
GRUPO DE TRABALHO 4 Experincias de acesso s condies de trabalho e de justia urbana
205
7
Apresentao
O I Seminrio Internacional pretende divulgar e problematizar os resultados
parciais da pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa de mesmo nome,
iniciativa interdisciplinar da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro
de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em parceria com a
Universidade Federal de Viosa, a Universidade de Itana, o Ministrio Pblico
de Minas Gerais e o Programa Plos de Cidadania. O projeto financiado pelo
CNPq / FCT, pela Capes e pela Fapemig e conta com a coordenao geral da
Professora Doutora Miracy Barbosa de Sousa Gustin e do Professor Doutor
Boaventura de Sousa Santos.
A realizao de um Seminrio Internacional se prope investigao e
divulgao do direito s cidades a partir de um enfoque plural que se mostre
apto a intensificar o dilogo entre os pesquisadores de diferentes reas do
conhecimento que investigam o espao urbano e as pessoas que nele vivem.
Princpios como a funo social da propriedade e a gesto democrtica e
multicultural da cidade reforam um novo paradigma de reforma, planejamento
e gesto urbana. O contexto atual exige criatividade, capacidade poltica,
mobilizao social e empenho crtico-cientfico para colocar em prtica esses
preceitos, sobretudo ao se constatar que as cidades vo muito alm do que os
seus planos preveem, integrando diversos agentes, grupos, com suas formas
variadas de pensar, agir, sentir e de se relacionar.
Para a realizao de seus objetivos, a pesquisa ora proposta atua atravs de
dois eixos temticos, respectivamente: Eixo I: Convivncia multicultural e
polticas pblicas de incluso/integrao no espao urbano e Eixo II: Regulao
e efetivao de experincias de justia urbana.
O Eixo I se ocupa dos desafios construo de uma cidadania mais inclusiva.
Parte do pressuposto de que, no territrio urbano, existe uma diversidade
social, cultural e tnica de comunidades, que so marginalizadas nos espaos
da cidade, silenciadas por presses econmicas, fundirias e por outros
processos discriminatrios. Neste eixo, pretende-se dar visibilidade a diversos
8
grupos culturalmente diferenciados e avaliar o acesso desses grupos a
polticas pblicas universais e especficas, que assegurem a reproduo social
da diferena.
Acredita-se que o reconhecimento intersubjetivo da legitimidade existencial e
de livre participao poltica do outro condio para a efetiva
incluso/integrao no espao urbano, sob os moldes do Estado Democrtico
de Direito. Mas o simples reconhecimento das diferenas ou essencializao
das identidades no suficiente para capturar a complexidade e dinmica das
situaes sociais envolvidas. Os processos de intolerncia cultural e
socioreligiosa, discriminao e marginalizao associados a condies
socioeconmicas, polticas e tnicas influenciam o acesso a polticas pblicas e
o exerccio do direito cidade. Assim, entendemos que a descrio dos
problemas de intolerncia e no-reconhecimento intercultural pertinente, mas
no esgota o diagnstico dos entraves emancipao dos indivduos e grupos
sociais no espao urbano, nem os aspectos epistemolgicos da excluso.
J no Eixo II a pesquisa se concentra na investigao das possibilidades de
promoo da sustentabilidade no espao urbano e no alcance de polticas
pblicas direcionadas efetivao do direito cidade em relao a seus
diversos elementos: ao prprio homem e s relaes que ele estabelece no
ambiente urbano; realizao da justia ambiental; ao implemento de
condies para a efetivao de seus direitos sociais, individuais, coletivos e
difusos; dentre outros.
Por conseguinte, a anlise dos processos polticos, sociais, culturais e jurdicos
ser feita considerando o debate sobre a democracia participativa a partir da
anlise das diferentes formas de acesso deciso poltica sobre o territrio,
sobre questes de cidadania e de implementao do direito cidade e s suas
variadas culturas. Dessa maneira, sero investigados, alm dos modos de
mobilizao social, modos extrajudiciais de resoluo de conflito, analisando,
assim, experincias que possibilitem o empoderamento de camadas de
pessoas e comunidades marginalizadas por vias que excedem a regulao.
A pesquisa, bem como a realizao de um Seminrio Internacional, destina-se
investigao e divulgao do direito cidade, oferecendo subsdios a uma
compreenso mais ampla sobre a convivncia multicultural e a justia urbana.
Desse modo, prope-se superar a reproduo de modelos homogeneizantes
9
de compreenso da cidade, oferecendo substratos a intervenes polticas
mais justas e relacionadas s necessidades e demandas plurais de seus
habitantes.
10
Programao 25 de setembro, tera-feira
18h - Credenciamento
19h - Abertura
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Glaucius Oliva
Presidente CNPQ
Mario Neto Borges
Presidente FAPEMIG
Prof. Dr. Cllio Campolina Diniz
Reitor da UFMG
Prof. Faial David Freire Chequer
Reitor da Universidade de Itana
Profa. Dra. Nilda de Ftima Ferreira Soares
Reitora da UFV
Prof. Dr. Gregrio Assagra de Almeida
Coordenador do Curso de Mestrado em Direito da Universidade de Itana
Doutor Alceu Jos Torres Marques
Procurador-Geral de Justia do Ministrio Pblico do Estado de Minas Gerais
Prof. Dr. Giordano Bruno Soares Roberto
Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Direito da UFMG
Profa. Dra. Ana Louise de Carvalho Fiza
Coordenadora de Ps-Graduao em Extenso Rural da UFV
Profa. Dra. Amanda Flvio de Oliveira
11
Diretora da Faculdade de Direito da UFMG
Prof. Dr. Boaventura de Sousa Santos
Profa. Dra. Miracy Barbosa de Sousa Gustin
Coordenadores Gerais do Projeto Cidade e Alteridade - CNPq/FCT
Apresentao da pea teatral A Mala
Trupe A Torto e a Direito do Programa Plos da Faculdade de Direito da UFMG
20h - Intervalo
20h30 - Conferncia de abertura
As controvrsias e vicissitudes das cidades: alteridade e possibilidades de incluso
Presidente da Mesa:
Prof. Dr. Giordano Bruno Soares Roberto
Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Direito da UFMG
Conferencista:
Prof. Dr. Edsio Fernandes
Professor universitrio em diversos pases: Inglaterra, Holanda, Estados Unidos, Brasil
Coordenador do IRGLUS - International Research Group on Law and Urban Space
26 de setembro, quarta-feira
8h30 - Mesa redonda
Identidade e alteridade no espao urbano
Presidente da Mesa: Profa. Dra. Ana Beatriz Vianna Mendes
Professora Adjunta da UFMG
Subtema: Identidade e Violncia
Tiago Monge
Coletivo Famlia de Rua
Membro Organizador do Duelo de Mcs - Belo Horizonte
Subtema: Incorporao da alteridade no espao urbano
Henry Acselrad
Professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ
Subtema: Movimentos sociais e cultura
Prof. Dra. Heloisa Buarque de Hollanda
12
UFRJ - Professora e escritora
Coordenadora do Programa Avanado de Cultura Contempornea
Curadora do Portal Literal
Subtema: Pixao e o Direito Cidade
Prof. Sergio Miguel Franco
Mestre pela USP
Docente na Casa do Saber
10h30 - Intervalo
10h50 - Conferncia
Criminalizao de espaos urbanos envolvendo a populao de rua
Presidente da Mesa: Prof. Dr. Renato Lima Santos
Pr-reitor de pesquisa da UFMG
Conferencista: Profa. Dra. Marie-Eve Sylvestre
Doutora em Direito pela Universidade de Harvard
Professora na Universidade de Ottawa - EUA
14h00 - Dilogo interno entre as equipes brasileira e portuguesa
19h00 - Mesa redonda
Megaeventos, polticas pblicas e ameaas ao direito cidade
Presidente da Mesa: Profa. Dra. Andra Luisa Moukhaiber Zhouri
Professora da UFMG
Subtema: Megaeventos e polticas pblicas
Prof. Dr. Carlos Vainer
Professor Titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - IPPUR/UFRJ
Diretor da Rede de Observatrio de Conflitos Urbanos
Subtema: Ameaas ao direito cidade
Prof. Leandro Franklin Gorsdorf
Professor da UFPR
Relator Nacional do Direito Cidade
Subtema: O caso dos barraqueiros do Mineiro
Ernani Francisco Pereira
Presidente da Associao dos Barraqueiros da rea Externa do Mineiro (ABAEM)
20h30 - Intervalo
20h50 - Conferncia
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A cincia do direito e a heterogeneidade da sociedade contempornea
Presidente da Mesa: Profa. Dra. Ana Flvia Moreira Santos
Professora Adjunta da UFMG
Conferencista: Profa. Dra. Josefa Dolores Ruiz-Resa
Universidade de Granada - Espanha
27 de setembro, quinta-feira
08h30 - Mesa redonda
Flexibilizao trabalhista, ameaas e violaes aos direitos do trabalhador urbano
Presidente da Mesa: Prof. Dr. Mrcio Tlio Viana
Professor Associado da UFMG - Professor Adjunto III da PUC/MG
Subtema: Mitigao de Princpios Constitucionais: A flexibilizao das relaes de trabalho no
espao urbano
Profa. Dra. Gabriela Neves Delgado
Professora Adjunta e Coordenadora do Curso de Direito da UNB
Lder do grupo de pesquisa "Trabalho, Constituio e Cidadania"
Subtema: Violaes aos direitos do trabalhador
Helder Amorim
Procurador Chefe do Ministrio Pblico do Trabalho
Subtema: O trabalho na cidade e a concreo do direito
Profa. Dra. Mnica Sette Lopes
Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 3a regio de Belo Horizonte
Professora Associada da UFMG
Subtema: Flexibilizao trabalhista e conciliao
Profa. Dra. Adriana Goulart de Sena Orsini
Juza Federal do Trabalho - Titular da 35 VT de Belo Horizonte
Coordenadora de Mediao do Programa Plos de Cidadania
Juza Auxiliar da Comisso de Acesso Justia do Conselho Nacional de Justia
Professora Adjunta da UFMG
10h30 - Intervalo
10h50 - Conferncia
O status de proteo da diversidade social e os direitos tnicos por parte do Estado, na
Amrica Latina e no Caribe
Presidente da Mesa: Prof. Dr. Aderval Costa Filho
14
Professor Adjunto da UFMG
Membro da Coordenao-Geral de Apoio a Segmentos e Comunidades Especficas, Comisso
Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais
Conferencista: Diego Iturralde
Advogado e Antroplogo - especialista en Antropologia Jurdica e Direitos dos Povos
Indgenas.
Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropologa Social (CIESAS)
14h00 - Grupos de trabalhos
I - Identidades Coletivas nos meios urbano e rururbano
II - Polticas Pblicas no meio urbano e rururbano
III - Mobilizao e organizao social
IV - Experincias de acesso s condies de justia urbana
19h00 - Mesa redonda
Participao popular nas cidades
Presidente da Mesa: Dr. Paulo Csar Vicente de Lima
Promotor de Justia MPMG
Coordenador da CIMOS Coordenadoria de Incluso e Mobilizao Social MPMG
Subtema: Populao em situao de rua nas cidades
Profa. Dra. Maria Ceclia Loschiavo dos Santos
Professora Titular em Design USP
Vice-coordenadora do Comit de tica em Pesquisa da FSPUSP
Presidente da Comisso de Cultura e Extenso - USP
Subtema: Medidas socioeducativas e a ameaa de higienizao urbana
Profa. Dra. Camila Niccio
Coordenadora da Subsecretaria de Atendimento s Medidas Socioeducativas (SUASE) -
SEDS-MG
Subtema: Movimentos populares e participao nas cidades
Maria da Conceio Menezes (Sozinha)
Educadora Popular - RECID Minas Gerais
Subtema: A situao dos moradores de rua de Belo Horizonte
Maria Cristina Bove Roletti (a confirmar)
Coordenadora da Pastoral de Rua
20h30 - Intervalo
15
20h50 - Conferncia
Novos dilogos e desafios das prticas de participao popular na gesto das cidades
Presidente da Mesa: Prof. Dr. Rennan Lanna Martins Mafra
Professor Adjunto I da UFV
Conferencista: Prof. Dr. Giovanni Allegretti
Doutorado em Planejamento Urbano, Territorial e Ambiental - Universidade de Florena - Itlia
Professor- pesquisador do CES/Coimbra - Portugal
28 de setembro, sexta-feira
08h30 - Mesa redonda
A efetivao de direitos no espao rururbano
Presidente da Mesa: Profa. Dra. Ana Flvia Moreira Santos
Professora Adjunta da UFMG
Subtema: Pesquisa em espaos de excluso
Profa. Dra. Dorien DeTombe
Presidente da Sociedade Internacional de Pesquisa em Metodologia de Complexidade das
Sociedades
Utrecht University e Delft University Technology - Holanda
Subtema: Direito de Povos e Comunidades Tradicionais
Prof. Dr. Aderval Costa Filho
Professor Adjunto da UFMG
Membro da Coordenao-Geral de Apoio a Segmentos e Comunidades Especficas, Comisso
Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais
Subtema: A relao cidade e campo
Prof. Dr. Rennan Lanna Martins Mafra
Professor Adjunto I do Departamento de Economia Rural e do Programa de Ps-Graduao
em Extenso Rural da UFV
Subtema: A efetivao de direitos coletivos
Prof. Dr. Gregrio Assagra de Almeida
Coord. do Curso de Mestrado em Proteo dos Direitos Fundamentais da Universidade de
Itana
Promotor de Justia do Ministrio Pblico do Estado de Minas Gerais
Consultor Institucional do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais
16
10h30 - Intervalo
10h50 - Conferncia
Assentamentos e reassentamentos: problemas urbanos ou das polticas urbanas?
Presidente da Mesa: Profa. Dra. Mrcia Helena Batista Crrea da Costa
Professora Auxiliar da UEMG - Divinpolis/MG
Conferencista: Dr. Jacques Tvora Alfonsin
Procurador do Estado aposentado
Advogado e Assessor Jurdico de Movimentos Populares
14h00 - Visitas das equipes brasileira e portuguesa aos locais de pesquisa do projeto cidade e
alteridade
19h00 - Mesa redonda
A luta pelo direito moradia e o direito cidade
Presidente da Mesa: Profa. Miracy Barbosa de Sousa Gustin
Professora Associada UFMG
Coordenadora da Pesquisa Cidade e Alteridade - CNPq/FCT
Professora do Mestrado em Direito da Universidade de Itana
Subtema: A luta por direitos no campo e na cidade
Frei Gilvander Lus Moreira
Mestre em Cincias Bblicas pelo Pontifcio Instituto Bblico de Roma, Itlia
Assessor da Comisso Pastoral da Terra - CPT
Militante na luta pelos Direitos Humanos na cidade e no campo
Subtema: O direito moradia
Dra. Marta Alves Larcher
Promotora de Justia MPMG
Coordenadora da Coordenadoria Estadual das Promotorias Estaduais de Habitao e
Urbanismo
Subtema: A regularizao fundiria e o direito cidade
Dra. Liana Portilho
Procuradora do Estado de Minas Gerais
Membro do International Research on Law and Urban Space / IRGLUS
Autora e organizadora de diversos livros em Direito Urbanstico
20h30 - Intervalo
20h50 - Conferncia de encerramento
Seguridade Social, um elemento essencial da democracia
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Presidente da Mesa: Dr. Jos Eduardo de Resende Chaves Jnior
Desembargador Federal do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais
Juiz Auxiliar da Presidncia do Conselho Nacional de Justia - CNJ
Conferencista: Joaquin Aparcio Tovar
Catedrtico de Direito do Trabalho e Seguridade Social
Universidade de Castilla - La Mancha
18
GRUPO DE TRABALHOS 1
Identidades coletivas nos
meios urbanos e rurubanos
19
Coordenadores
Profa. Dra. Ana Beatriz Vianna Mendes
Ludmilla Zago
Profa. Dra. Ana Flvia Santos
Prof. Dr. Aderval Costa Filho
20
MIGRAO SAZONAL E MIGRAO DEFINITIVA:
A DISPORA GURUTUBANA
Aderval Costa Filho1
Pedro de Aguiar Marques2
Este trabalho visa analisar o processo migratrio do povo Gurutubano,
comunidade quilombola do centro norte mineiro, que vive s margens do Rio
Gurutuba desde o sculo XVIII. Sabe-se que esta comunidade foi vitimada por
um cruel processo de expropriao de suas terras ao longo sculo XX,
intensificado pela chegada da Superintendncia de Desenvolvimento do
Nordeste SUDENE, a partir da dcada de 70. A partir de trabalho de campo
realizado no territrio Gurutubano, busca-se demonstrar como, mesmo
convivendo com a constante perda das condies de ordem ambiental e scio
econmica, esta comunidade resiste no intuito de reproduzir suas formas
sociais e sua identidade. Porm, apesar da resistncia e constante luta para
que lhes sejam assegurados direitos, esta comunidade convive com um
contundente fluxo migratrio de vrios de seus membros procura de uma vida
melhor. Compreender-se-, portanto, como, apesar da forte migrao, esto
sendo mantidos os laos de pertencimento de seus membros, a partir das
constantes visitas entre parentes, acolhimento para tratamento de sade no
contexto urbano e estratgias visando assegurar renda familiar. Procura-se
demonstrar como a diminuio da presso sobre a terra escassa conjuga-se
com necessidades conjunturais relacionadas com a escolarizao, ao acesso a
servios de sade, dentre outros direitos.
1 Doutor em Antropologia Social pela UnB; Professor Adjunto do Departamento de Sociologia e
Antropologia da UFMG. 2 Bacharelando em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos e Bolsista sob orientao
do Professor Aderval Costa Filho no Projeto Cidade e Alteridade.
21
RELAO CAMPO CIDADE:
UMA SIMBIOSE POSSVEL E INEVITVEL
Adriana nogueira Vieira Lima1
Paulo Rosa Torres2
O presente artigo pretende refletir sobre as relaes campo-cidade na
perspectiva de demonstrar a convivncia entre ambos, em oposio a uma
tendncia exposta por alguns autores da existncia de uma dicotomia, uma
oposio entre estes dois territrios, ou mesmo, como afirmam alguns, o fim do
mundo rural. Pretende, ainda que sucintamente, demonstrar que tal
convivncia j acontece numa seqncia de relaes produtivas, comerciais,
familiares, tursticas, etc. o que supera possveis antagonismos e oposies,
permitindo, ao contrrio, uma convivncia permanente e harmnica. Tendo
como ponto de partida do texto de Raymond Williams sobre O campo e a
cidade na histria e na literatura e de sua afirmativa que Campo e cidade
so palavras muito poderosas, e isso no de se estranhar, se aquilatarmos o
quanto elas representam na vivncia das comunidades humanas (Williams,
1990, p. 11), tenta evidenciar que as populaes rurais criaram mecanismos de
sobrevivncia com a introduo de vrias outras atividades, ampliando sua
vivncia com o espao rural e estabelecendo novas relaes com o meio
urbano, fazendo emergir um momento histrico novo e novas realidades. Para
evidenciar tais fatos, discute o processo de excluso da terra e dos direitos,
onde aborda a contnua expulso dos camponeses, sua luta pela permanncia
ou volta ao campo az partir do engajamento dos movimentos sociais e as
novas relaes campo-cidade onde se identifica uma simbiose - palavra aqui
tomada no de cooperao mtua entre pessoas ou grupos em uma sociedade
(Michaellis, 1998) - em oposio dicotomia apregoada por alguns autores.
1 Mestra e Doutoranda em Urbanismo Universidade Federal da Bahia. Professora de Direito
da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS. Advogada. [email protected] 2 Mestre em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social - Universidade Catlica do
Salvador. Professor de Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS. Consultor em regularizao fundiria rural e urbana. Advogado. [email protected]
22
A POLTICA DE UM RISCO POTICO
Ana Carolina Estrela da Costa1
A poltica - no o exerccio ou a luta pelo poder, mas a configurao de um
espao especfico, partilha de esferas particulares de experincia - teria, para
Jacques Rancire, uma esttica em seu fundamento, entendida no sentido
kantiano sobretudo como experincia da determinabilidade de ns mesmos
no mundo. A arte no seria poltica por transmitir mensagens e sentimentos
que representam estruturas, conflitos ou identidades sociais, mas por tomar
distncia dessas funes, recortando esse tempo e povoando esse espao.
No Brasil, a pixao tem-se desenvolvido expressivamente, desde os anos 70,
como uma arte poltica e marginal. Essencialmente contestador, incmodo, o
pixo no s destroi: essa escrita inaugura a visibilidade dos cidados que a
fazem, recompondo uma paisagem urbana. Se pixadores so hoje punidos
como vndalos, formadores de quadrilha, e se a Lei e demais medidas
alimentam a discriminao em torno deles (distinguindo a pixao do graffite,
por exemplo, tratando uma como vandalismo e outra como arte Lei n
12.408/11), examinamos seu modo refinado de conhecer e percorrer o territrio
da cidade, e suas formas de organizao, que nada tem de quadrilhas
criminosas, aproximando-se mais de reunies artsticas. A partir da experincia
etnogrfica compartilhada com pixadores em Belo Horizonte e demais capitais,
traamos referncias histricas, registramos estilos caligrficos e tipos de
mensagens. Sobretudo, verifica-se a elaborao sofisticada de um discurso
que protesta atravs do risco - contra o prprio Estado, levando s ltimas
consequncias o questionamento do poder de polcia, da circulao da
informao, do direito de ir-e-vir e da propriedade privada.
1 Ana Carolina Estrela da Costa formada em Direito pela UFMG e cursa o ltimo semestre de
Msica na UFMG, com Formao complementar em Antropologia. Em 2012 co-produziu e dirigiu o documentrio independente Mestres do Viaduto, sobre MCs de Belo Horizonte. Atualmente, trabalha na elaborao e edio audiovisual com os ndios Maxakali, no projeto "Por uma Escrita Audiovisual Indgena", pelo INCT de Incluso no Ensino Superior e na Pesquisa, com apoio do Museu do ndio e do CNPq.
23
BASES DE CONSTRUO DE UMA CULTURA CIDAD
PARA O PLANO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Ana Lucia Pardo1
Este artigo prope refletir sobre o processo de trabalho de construo do
Plano Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Um plano decenal, cujo principal
desafio ser ultrapassar as aes pontuais propondo uma poltica de Estado.
Porm, a formulao do plano, pressupe, necessariamente passar por um
amplo dilogo com a populao dessa cidade. preciso, antes, reconhecer o
acmulo cultural dos que nela residem, os seus diferentes atores, apostar
numa construo coletiva e reafirmar as identidades locais como nico
instrumento vlido para a emancipao humana dentro de uma cidadania
democrtica e plural.Toda a construo desta poltica de cultura deve espelhar
a diversidade cultural da cidade, as suas potencialidades artsticas, o seu poder
de inveno e criao, propondo polticas transversais da cultura com as reas
de educao, comunicao, turismo, meio ambiente, cincia e tecnologia,
habitao, sade. Em respeito ao significado da cidade do Rio, daquilo que
representa e daquilo que ainda pode ser, daquilo que anseia e almeja ser,
como fazer um plano que espelhe as carncias e potncias dessa cidade?
Como garantir o pleno exerccio dos direitos culturais dos atores desse
processo? Como corrigir desigualdades e concentraes? Como democratizar
o acesso e a participao? Essas questes devem estar nas bases de
implantao de uma poltica cultural que d condies e fomento para deixar
florescer a cidade e seus cidados, em tudo o que so e o que ainda podem
ser, dentro de um conceito de cultura cidad, desde o qual construir cidade
construir cidadania para a cidade.
1 Mestre em Polticas Pblicas e Formao Humana na UERJ; atriz, jornalista, pesquisadora e gestora cultural. Curadora e Coordenadora do Ciclo A Teatralidade do Humano e do Ciclo Inter-Agir; Foi Ouvidora e Chefe de Diviso de Polticas Culturais do Ministrio da Cultura; Assessora da Comisso de Cultura da Assemblia Legislativa do Rio de Janeiro; Consultora do Ministrio da Cultura, da Universidade da Bahia e da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro no Plano Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
24
A AUTONOMIA COMO NECESSIDADE PRIMORDIAL NO CONTEXTO DAS
SOCIEDADES MINORITRIAS NO OCIDENTE:
uma compreenso do multiculturalismo canadense e a prtica da
clitorectomia
Ana Paula Santos Diniz1
O presente artigo pretende compreender o multiculturalismo canadense e a
prtica da clitorectomia; refletir sobre a autonomia do indivduo como
necessidade primordial no contexto das sociedades minoritrias no ocidente,
principalmente sobre a cultura islmica presente no Canad; ressaltar que os
grupos no podem suprimir as liberdades individuais de seus membros;
abordar questes como alteridade, preservao da cultura, autonomia coletiva
e individual e multiculturalismo emancipatrio. Objetiva-se, tambm, analisar se
a cultura islmica confronta ou apenas aparenta confrontar com os direitos
humanos internacionais e demonstrar que o inter dilogo cultural ou dilogo
transconstitucional a via mais adequada para o entendimento entre as
culturas, baseando-se na noo de que a diversidade um bem humano em si.
Palavraschave: Multiculturalismo. Autonomia. Direitos humanos.
1 Advogada, especialista, mestranda em Direito pela Universidade de Itana, MG e professora
na Faculdade de Par de Minas FAPAM.
25
O ESPAO DO RURAL: REPRESENTAES SOCIOESPACIAIS DO
SUJEITO MIGRANTE NO NORTE DE MINAS GERAIS-BRASIL
Andra Maria Narciso Rocha de Paula1
Quem migra do rural, perde a identidade camponesa? Fica sem razes e sem
identidade sociocultural? Ou quem migra continua campons e incorpora novos
valores e promove a identidade rural nos lugares de destino? A experincia de
migrar modifica em qu as praticas espaciais na unidade familiar? Indagaes
que fazem do processo migratrio uma importante abordagem de interpretao
das questes complexas e ao mesmo tempo singulares constitutivas do mundo
rural. Neste trabalho procuramos estudar as ruralidades dos sujeitos
migrantes na sua realidade socioespacial. Assim, devemos centrar nossas
leituras nos modos de vida e do trabalho, como a apreenso do real, construdo
com a memria, com os valores, com as tradies e nas interpretaes que o
migrante faz do mundo em que habita. Nossa anlise tem como pressuposto
metodolgico as trajetrias individuais das migraes campo cidade no e
para o Norte de Minas. Procurando estabelecer uma interface entre as teorias
das cincias da Geografia, da Antropologia e da Sociologia. Desta forma,
construindo um arcabouo terico descritivo das ruralidades e das
representaes socioespaciais. Entre idas e vindas nos espaos naturais e
sociais, as famlias geram e consolidam nos lugares de origem e / ou de
destino, as redes de reciprocidade e de sociabilidade (relaes de ajuda mutua,
manifestaes culturais, costumes religiosos, festejos, culinria, convivncia e
participao), tpicas das sociedades camponesas.
Palavras-Chaves: Processo migratrio, rural / urbano, representao
socioespacial, ruralidade.
1 Doutora em Geografia na Universidade Federal de Uberlndia. Professora Efetiva do
Departamento de Poltica e Cincias Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros. Pesquisadora e bolsista da FAPEMIG. [email protected]
26
POVOS RIBEIRINHOS AFETADOS POR PROJETOS INDUSTRIAIS:
O CASO DA EMPRESA ALBRAS/ALUNORTE EM BARCARENA-PAR
Bruce Leal do Nascimento1
Evelin Lopes Feitosa2
O presente trabalho busca visualizar como os povos tradicionais
ribeirinhos so afetados sob diversas dimenses com a vinda de grandes
projetos na Amaznia, mais especificamente dos projetos industriais liderados
por grandes empresas como a ALBRAS/ALUNORTE voltados para a produo
de mineral em Barcarena, no porto de Vila do Conde, estado do Par, a partir
das jazidas do rio Trombetas. Tais projetos terminam alterando sobremaneira o
modus vivendi de uma srie de populaes que esto em seu contexto. Nessa
regio h abundncia hidrogrfica, existindo diversos rios, igaraps e baias,
onde muito comum a presena de comunidades ribeirinhas vivendo a partir
dessa conjuntura, tirando seu sustento das guas e das matas.
A partir da construo da ALBRAS/ALUNORTE essas comunidades
passam a ter seu ecossistema alterado e a sofrer com a alterao social de
onde vivem e com possibilidades de suas remoes/expulses. Moradores que
vivem da pesca e antes tinham um rendimento bom, terminam por t-lo
drasticamente reduzido, assim como a interferncia na atividade extrativista,
fora os problemas com a poluio do ar e das prprias bacias hidrogrficas,
acarretando uma mudana de seus hbitos e diminuio de suas qualidades de
vida.
Assim, propomos uma forma de incluso desses povos a esse novo
contexto local, conservando-se suas prticas culturais e estilo de vida, evitando
suas expulses, seu esfacelamento sociocultural e a degradao ambiental
que esses projetos acarretam por meio da utilizao de instrumentos jurdicos e
polticos do direito Urbanstico, positivados em Legislaes como o Estatuto da
Cidade (Lei 10.257/01) e o Plano Diretor.
1 Graduando em Direito pela Universidade Federal do Par, estagirio da Defensoria Pblica do
Estado do Par Ncleo Criminal (NACRI) e Bolsista do Projeto de Extenso Programa de Regularizao Fundiria no Bairro da Terra FirmeBelm/PA. 2 Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Par, estagirio da Defensoria Pblica
do Estado do Par Ncleo Criminal (NACRI) e Bolsista do Projeto de Extenso Programa de Regularizao Fundiria no Bairro da Terra FirmeBelm/PA.
27
SONORIDADES URBANAS: UMA CIDADE, UM VIR A SER.
Cleber de Oliveira Santana1
Os estudos contemporneos identificam a cidade como um espao frtil para
reflexes em torno das produes materiais de cultura, relaes de
sociabilidades ou suas produes de memria. E um dos aspectos que sempre
est em pauta de discusso a questo das sonoridades e a coletividade. A
convivncia com sons na cidade no um elemento novo, sempre esteve
como uma questo de ordem pblica ou privada, nas legislaes ou nos
cdigos disciplinadores. Porm, as cidades ultrapassam os pensamentos dos
planejadores, pois nela esto inseridos diversos segmentos sociais com formas
variadas de pensamento, ao, sentimento, e acima de tudo sociabilidades. O
encontro da razo tcnica enrijecida, da cidade fria dos cdigos e dos modelos,
com os organismos vivos que transitam pela cidade quente, que pulsa,
promove um choque de realidade. O artigo tem como objetivo evidenciar a
relao entre cidade e sonoridades urbanas e uma sinfonia (dis)sonante, a
partir das percepes das mltiplas experincias sociais de uma cidade
nordestina, Aracaju, entre os sculo XIX e XX.
1 Doutorando em Histria Social/Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Este trabalho teve a orientao da Profa. Dra. Yvone Dias Avelino/PUC-SP. [email protected]
28
ESPAO PBLICO E TRABALHO INFORMAL EM GOINIA:
O CASO DO MERCADO ABERTO (SETOR CENTRAL)
Derli Almeida Fernandes Junior1
Marcela Ruggeri Meneses2
Pedro Henrique Mximo Pereira3
Na cidade contempornea a relao existente entre trabalho informal e o
espao pblico ganha notoriedade, no somente pela presena de seus
agentes no espao, mas pela dinamizao de trocas e comrcio que eles
exercem onde trabalham. Apesar disso, fica em xeque questes como a
contribuio tributria dos mesmos, a procedncia dos produtos
comercializados, e acima de tudo, a privatizao do espao pblico, que por
muitas vezes se ocupam das caladas, praas e ruas. Mas at que ponto a
presena destes trabalhadores interfere na qualidade da apropriao do
espao pblico e da relao do habitante com a cidade?
O caso do Mercado Aberto de Goinia um exemplo significativo e ponto de
imbricao de tais questes. Localizado no Setor Central em ponto estratgico,
o Mercado Aberto adquire escala metropolitana. No cruzamento das Avenidas
Gois (uma das mais importantes da cidade) e Paranaba, e fruto de
remanejamento da administrao pblica dos trabalhadores que outrora se
concentravam ao longo das Avenidas Gois e Anhanguera, o Mercado Aberto
configurado por diversos grupos que territorializam o espao em funo de
dias e horrios para alm do horrio de trabalho, como os skatistas, os
motociclistas e os profissionais do sexo por exemplo.
1 Possui graduao em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual de Gois (2009) e atualmente cursa mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia. 2 Possui graduao em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Catlica de Gois (2004), mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Gois (2009) e especializao em Auditoria, Gesto e Percia Ambiental (2012). Atualmente Tcnica em Edificaes/Arquitetura no Ministrio Pblico do Estado de Gois e Professora Adjunta, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Paulista em Goinia. 3 Possui graduao em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual de Gois (2012), atualmente cursa mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia e cursa Artes Visuais pela Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Gois. docente de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Estadual de Gois.
29
Para avaliar as formas de utilizao deste importante espao pblico central
sob a problemtica acima explicitada, utilizar-se- a etnografia qualitativa como
metodologia, que possibilita investigar os sujeitos e agentes sociais usurios da
rea e sua interao com o espao.
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HISTRIAS DO NORDESTE DE BH: TECENDO UMA REDE DE MEMRIA
DOS AGENTES CULTURAIS COMUNITRIOS
Eduardo Barbosa de Andrade
Rafaela Pereira Lima
Sheila Castro Queiroz
Vera Lcia Monteiro Lisboa1
O artigo apresenta a metodologia de atuao, resultados preliminares,
aprendizados e reflexes acerca de um projeto, iniciado em 2011, de registro,
compartilhamento e difuso de histrias de vida de agentes culturais
comunitrios que atuam no extremo nordeste de Belo Horizonte (MG). A regio
tem um amplo leque de iniciativas culturais populares e nela se localiza um
quilombo.
O projeto envolve a sistematizao de um banco de dados sobre os sujeitos
que mobilizam a cultura local e inmeras atividades de sensibilizao, registro
e difuso da memria individual e coletiva, dentre as quais destacamos:
Encontros de Diagnstico Participativo: mais de 100 agentes culturais foram
identificados. Eles participam de encontros em que se d a construo de um
mapa cultural e um livro artesanal sobre cada bairro. Alm disso, so
elaboradas linhas do tempo individuais e coletivas, com vistas a traar a
histria da cultura local a partir dos cruzamentos das histrias de vida.
Crculos de Histrias de Vida: com base numa metodologia desenvolvida pelo
Museu da Pessoa, so realizadas rodas nas quais cada um escolhe um
acontecimento expressivo de sua histria e relata ao grupo. Os participantes
trocam impresses sobre as narrativas e, em seguida, cada um reconta a sua
histria. As histrias so registradas em udio e, em alguns casos, em vdeo.
1 Rafaela Lima jornalista, mestre em Cincia da Informao e gestora da AIC Associao
Imagem Comunitria. Eduardo Barbosa filsofo, especialista em educao ambiental e coordenador de projetos culturais da Associao dos Amigos das Bibliotecas Comunitrias da RMBH Sabic BH. Sheila Castro Queiroz uma agente cultural do bairro Ribeiro de Abreu, no qual realiza inmeras atividades em educomunicao, vdeo e dana. educadora do programa Escola Aberta na Escola Municipal Secretrio Humberto Almeida (Ribeiro de Abreu). Vera Lcia Monteiro Lisboa liderana comunitria e agente cultural do bairro Paulo VI. fundadora do movimento comunitrio Equipe Linha de Frente, criou e coordena uma creche comunitria e integra o conselho gestor da Sabic-BH. Os quatro autores esto frente do projeto cultural Histrias do Nordeste de BH: rede de memria dos agentes culturais comunitrios, realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte.
31
Elaborao e veiculao de produtos para difuso da memria local: esto
sendo criadas uma coletnea dos registros no formato de livro e uma srie de
plulas radiofnicas com histrias de vida, que sero veiculadas pela Rdio
UFMG Educativa.
32
(TRANS)FORMAO DA IDENTIDADE CULTURAL NA
MICRORREGIO ALTO RIO PARDO
Fabiana Oliveira Arajo1
O trabalho abordar a (trans)formao da identidade cultural na Microrregio
Alto Rio Pardo, Norte de Minas Gerais. So fatores que contriburam para isso:
o Rio Pardo, elemento estruturador da paisagem e do territrio, e o isolamento
virio existente at a dcada de 1980.
Em um territrio com economia baseada na agropecuria, com longos perodos
de estiagem, o Rio Pardo tm ditado, historicamente, o ritmo da economia e do
cotidiano rural e urbano, configurando-se como importante contribuidor para a
cultura e identidade locais.
O isolamento virio foi determinante para as relaes sociais, econmicas e de
consumo, por exemplo. A acessibilidade precria dificultava a importao de
produtos, inclusive alimentcios, e contribuiu para o predomnio da atividade
agropecuria voltada tambm para o abastecimento local e regional. Com isso,
uma caracterstica forte que se desenvolveu, e que permanece at hoje, apesar
das transformaes que tm passado aps a melhoria da acessibilidade, so
os mercados e as feiras, locais de festa e de concentrao do excedente, que
contribuem para a formao de uma identidade baseada na relao de troca e
complementaridade entre rural e urbano, ajudando a manter alguns costumes e
modos de vida at os dias de hoje.
Juntando esses fatores, pode-se dizer que o que melhor caracteriza e identifica
o territrio e a paisagem da microrregio o rural, e no o urbano. Esse ltimo
se apresenta, grosso modo, como ponto de conexo e mediao entre o
mundo local e regional e tambm como o elemento de contato com o resto do
mundo.
1 Graduada em arquitetura e urbanismo. Mestranda do Ncleo de Ps-Graduao em
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista Capes. Orientanda do Prof. Dr. Roberto Luis de Melo Monte-Mr. Previso da defesa de dissertao para maro de 2013.
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POR UMA POSSVEL BELEZA DA MARGEM:
Artesos de Rua Desafios e perspectivas da vida nas grandes
metrpoles: um estudo do caso de Belo Horizonte
Flvia Marcelle Torres Ferreira de Morais1
Gustavo Pessali Marques2
O presente estudo se prope a fazer uma anlise interdisciplinar e
multifacetada da situao dos Artesos de Rua ou Malucos da Estrada que
convivem e coexistem com/no meio urbano hodierno, problematizando os
desafios de sua efetiva incluso na sociedade a partir da garantia de respeito a
sua cultura e modo de vida. Observar-se- as diferentes protees legais
inscritas no s em mbitos jurdicos da Repblica, mas tambm a nvel
internacional regional e universal -, dadas s minorias culturais,
problematizando, tambm, o papel do direito e do Poder Pblico em contextos
urbanos multiculturais onde conflitam interesses bastante antagnicos.
Paralelamente e a ttulo complementar, ser feita anlise da situao do
municpio de Belo Horizonte, caso paradigmtico onde evidenciam-se posturas
de diversos agentes que compem o grande coletivo urbano Artesos de
Rua, Defensoria Pblica, Ministrio Pblico, Movimentos Sociais, Governo,
sociedade civil, dentre outros. A partir desta concatenao de ideias, apontar-
se- consequncias e projees deste tipo de conflito urbano e algumas
possibilidades de atuao pela proteo e garantia dos Direitos Humanos.
1 Bacharel em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Defensora Pblica do Estado
de Minas Gerais Ncleo de Direitos Humanos Coletivos e Scio-Ambientais. 2 Bacharelando em direito com formao complemetar em Cincias do Estado pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Membro do Comit Popular dos Atingidos pela Copa BH.
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O INVISVEL NA HISTRIA:
DAS ANTIGAS FAVELAS PARA AS VILAS PROLETRIAS.
A cultura afro-brasileira na Villa Concrdia
Flvia Regina de Oliveira Chaves1
O presente trabalho aborda algumas questes relacionadas criao da
primeira vila proletria de Belo Horizonte, a Vila Concrdia, a partir do Decreto
n 31 de 6 de setembro de 1928 organizada na antiga Fazenda do Retiro
Sagrado Corao de Jesus, pertencente a Jos Cndido da Silveira. As
instalaes operrias que haviam se estabelecido na regio central, como no
caso da favela da Barroca e do Barro Preto, seriam ento desapropriadas e
novas reas seriam abertas especificamente para servir de moradia para os
trabalhadores. O presente trabalho analisa ento a transposio desses
operrios, em sua maioria afro-descendentes, para a referida vila,
ressignificando o espao e perpetuando tradies como as guardas de
Congado, os terreiros de candombl e umbanda, entre outros espaos de
recriao da cultura afro-brasileira, transformando-se no lugar de
manifestaes da fora comunitria. A Vila representou assim a reproduo de
um micro-cosmo nuclear da cultura afro-brasileira em Belo Horizonte.
Palavras-Chave: Belo Horizonte, Vila Concrdia, operrios, tradies, afro-
brasileiras.
1 Graduada em Histria pela Universidade Federal de Minas Gerais, ps-graduada em Histria
e Cultura Afro-brasileira pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais programa de Ps-graduao Lato sensu.Atualmente leciona Histria na rede particular de Belo Horizonte.
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SIMMEL E RACIONAIS APRESENTAM: NA CIDADE GRANDE ASSIM...
1Frederico Alves Lopes
O presente artigo uma anlise da vida metropolitana a partir de duas
narrativas: uma artstica e outra sociolgica. Na arte Racionais MCs, grupo de
rap brasileiro mais famoso atualmente, e na sociologia Georg Simmel, um dos
fundadores da disciplina e considerados por muitos um clssico nas cincias
sociais; ambos apresentam a metrpole e suas relaes cotidianas como
centrais em suas obras. Objetiva-se neste trabalho apreender peculiaridades
interpretativas acerca da urbanidade moderna, realizando um paralelo entre as
teorias do autor alemo com as letras dos rappers paulistanos. Nota-se nas
cidades metropolitanas um alto contingente populacional sendo atrado para os
seus centros, entretanto, a capacidade receptiva das grandes cidades no
abarca todos cidados que nelas povoam. Deste modo, surgem as periferias,
espaos muitas vezes marginalizados, onde seus habitantes acabam por
desenvolver interaes singulares com a cidade. Dessas interaes
caractersticas acaba por aflorar o movimento conhecido como Hip Hop.
Percebe-se nas msicas dos Racionais uma cidade conflituosa e desigual.
Descrio corroborada tambm por Simmel, que interpreta o conflito como
incessante e contnuo. As narrativas de ambos demonstram que na metrpole
a vida intensa e dinmica, devendo ser encarada, como nas palavras de
Mano Brown, como um desafio.
Palavras Chave: Cidade; Simmel; Metrpole; Rap; Racionais Mcs
1 Gestor Pblico pela UEMG, graduando em Cincias Sociais pela UFMG e bolsista de
Iniciao Cientfica pela Fundao de Amparo Pesquisa.
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APLICABILIDADE DO DIREITO URBANSTICO NO CONTEXTO DOS
MOVIMENTOS CULTURAIS
Gabriela Cristina Mota Ribeiro1
Layon Duarte Costa2
Resumo: O presente artigo prope-se a analisar as interferncias sociais e
polticas provocadas pelos movimentos culturais, mediante o olhar do Direito
Urbanstico. Procuraremos relacionar a importncia desses movimentos dentro
do atual arranjo constitucional do Estado brasileiro e, a partir dessa anlise,
estabelecer um parmetro comparativo de como o uso da cidade, mais
propriamente, como o uso do espao pblico, se deu ao longo da histria
mundial. Pretendemos, ainda, questionarmos a legitimidade do Estado,
partindo da premissa de que ele resultado da vontade social e, mesmo assim,
age com o intuito de dificultar e at mesmo impedir as manifestaes artstico-
culturais. Para tanto, visaremos estabelecer as bases histricas mais
elementares partindo da realidade histrica grega, passando pela idade mdia,
at os dias atuais. Num segundo momento, trataremos dos efeitos da
represso a esses movimentos e suas conseqncias para o desenvolvimento
da sociedade. Nesse ponto, tentaremos demosntrar como as manifestaes
artstico-culturais contribuem, significativamente, para a edificao de uma
sociedade mais complexa e melhor estruturada. A posteriori, tentaremos
mostrar o vnculo jurdico das interferncias realizadas pelo poder estatal numa
tentativa de regulamentao e otimizao da utilizao do espao pblico. Por
fim, nortearemos nosso trabalho por meio de respostas seguinte pergunta:
At onde o poder de polcia (poder de estado) deve agir e quando tal poder
comea ferir a liberdade individual e/ou coletiva?
1 Graduanda do 5 Perodo do Curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, e-
mail de contato: [email protected] 2 Graduando do 5 Perodo do Curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, e-
mail de contato: [email protected]
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O RECONHECIMENTO E A CONQUISTA DE DIREITOS DE UM QUILOMBO
NA CIDADE
Gabriela de Freitas Figueiredo Rocha1
O artigo trata dos problemas enfrentados por uma comunidade
remanescente de quilombo na conquista de seus direitos tnico-territoriais no
contexto urbano, o quilombo de Mangueiras, em Belo Horizonte/MG. O auto-
reconhecimento do grupo foi a primeira etapa de um processo complexo e
contnuo de reconhecimento social, envolvendo desde sua insero como
sujeito tnico destinatrio de polticas especficas, at novas formas de
territorializao e de relacionar-se com seu entorno. Primeiramente, coloca-se
a questo de como as instituies lidam com o problema do quilombo, e como
o Poder Pblico revela a aparente desarticulao entre polticas sociais e
polticas urbanas, na medida em que os quilombolas passam a ser unicamente
tratados como um pblico a ser especialmente tutelado. desarticulao de
polticas em nveis federal, estadual e municipal, soma-se o desafio de um
processo de territorializao especfico, protagonizado por uma instituio
tradicionalmente ligada realidade rural o INCRA dentro de um contexto
regido por suas prprias regras de produo espacial: a cidade. Por fim, a partir
da percepo de que o quilombo pertence a uma parcela da cidade e
estabelece com ela relaes de dependncia, trocas, conflitos, torna-se
necessrio compreender como a auto-identificao tnica (re)constri essas
relaes e, assim, condiciona o exerccio da autonomia do grupo, que no deve
ser tratado como uma populao a ser isolada ou protegida do restante da
cidade.
1 Bacharel em Direito e mestre em Antropologia, ambos pela UFMG. Participou do Programa
Plos de Cidadania e atualmente orientadora de campo no grupo de pesquisa Cidade e Alteridade.
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A REAL DA RUA, O ACESSO DO PIXO AO DIREITO:
DA TOLERNCIA ZERO PALAVRA COMO PRIMEIRO PASSO
Guilherme Del Debbio
Joanna Ladeira
Ludmilla Zago1
A teoria da tolerncia zero usada para sustentar a poltica urbana do
Movimento Respeito por BH (fundamentado tambm pela Teoria das Janelas
Quebradas). Propomos apresentar duas experincias de mobilizao,
organizao popular e acesso aos direitos que subvertem tal tentativa de
ordenamento do modo de vida urbano pela excluso das diferenas.
A primeira delas, a Real da Rua, se originou da parceria entre a ONG
Pacto Desenvolvimento Social e Pesquisa e a Famlia de Rua a partir de
demandas referentes ao espao, ao Duelo de MCs, ao pblico e se constitui
como aposta em um modo de organizao social baseado no dilogo entre
vrios e no encaminhamento de aes que tenham inscritas marcas, palavras e
demandas reais, de quem vivencia o duelo a cada semana, e de quem o
respeita.
A outra experincia surge a partir da pesquisa Cidade e Alteridade, no
subeixo da cultura de rua. Realizou-se, como tentativa de aproximar a pesquisa
de demandas referentes ao direito e ao ordenamento e execuo jurdicos de
assuntos relacionados pixao, o encontro entre pixadores, pesquisadores,
parceiros e advogados.
Apostamos que as duas experincias apontam para uma subverso no
modo de abarcar a convivncia na cidade, mais consonante com o que a Carta
Mundial do Direito as Cidades prope.
1 Psiclogo, Psicanalista, Tcnico Social do Servio de Medidas Socioeducativas da Prefeitura
de Belo Horizonte, pesquisador-extensionista do Projeto de Pesquisa Cidade e Alteridade: convivncia multicultural e justia urbana e membro da Pacto Desenvolvimento Social e Pesquisa.
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OS POVOS TRADICIONAIS E A CIDADE
Helena Dolabela1
Carlos Eduardo Marques2
Alexandre Sampaio3
O paper pretende apresentar a situao de alguns povos tradicionais que
vivem na cidade de Belo Horizonte e que encontram dificuldades para
manterem suas territorialidades, conforme seus modos de ser, saberes e
fazeres prprios. As anlises mostram que os obstculos decorrem,
principalmente, da ausncia de reconhecimento do Poder Pblico Municipal
quanto diversidade destes povos e suas respectivas singularidades.
Um dos grupos a serem apresentados uma comunidade cigana Caln,
habitante de uma rea pblica da extinta rede ferroviria. O grupo mora na
regio do bairro So Gabriel, regio nordeste, h mais de vinte anos. Os outros
casos envolvem as dificuldades e conflitos em torno da regularizao territorial
dos grupos remanescentes de quilombo,: Mangueiras, comunidade impactada
pela execuo da Operao do Isidoro, na regio Norte; Luzes na regio
Oeste; e Manzo Ngunzo Kaingo, na regio Leste, que alm de ser quilombola,
tambm reconhecido como um povo tradicional de terreiro.
O objetivo da apresentao demonstrar a diversidade de sujeitos, coletivos,
que demandam o reconhecimento e o direito a permanecerem habitando
territorialidades construdas ao longo de dcadas e que vem sendo posta em
risco pela presso econmica, notadamente imobiliria, e pela sua
invisibilizao, principalmente no mbito da poltica urbana. Se por um lado o
poder pblico municipal acompanha alguns destes grupos no sentido de
promover, ainda que precariamente, algumas polticas sociais, a poltica
urbana no percebe tais grupos como singulares e, portanto, detentores de
uma forma prpria de apropriao e uso do espao urbano, principalmente de
sua territorialidade.
1 Helena Dolabela, jurista, especialista em Direito Urbanstico e Mestre em Cincia
Poltica/UFMG. 2 Carlos Eduardo Marques, antroplogo e doutorando em antropologia/ UNICAMPINAS.
3 Alexandre Sampaio, economista e Mestre em Cincias Sociais/UFMG
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A CIDADE DANDARA:
DA QUESTO DA MORADIA AOS DIREITOS AOS LUGARES E S RAZES
Isabella Gonalves Miranda
Juliana Luiz
A comunicao a ser apresentada parte de algumas reflexes sobre o
espao de moradia concebido como um articulador de diferentes sentidos e
funes sociais, polticas e ecolgicas assumidas no mbito de uma
ocupao realizada na rea metropolitana de Belo Horizonte. O lugar
conhecido como Comunidade Dandara introduziu uma proposta de ocupao
rururbana, que orienta-se para a construo de um espao habitacional
articulado ao espao de vivencia comunitrio e de produo, atravs de
prticas de agriculturas urbanas tanto hortas nos quintais das residncias,
como o cultivo de diferentes alimentos em reas de uso e acesso comunitrio.
Dandara ainda se encontra em processo de disputa judicial para que os
e as moradoras possam concluir o projeto proposto. Alm da luta pela
permanncia, a disputa em torno do conceito de ocupao que orientou o
projeto inicial tambm tem estado na agenda poltica da comunidade.
Considerando este contexto, prope-se recuperar alguns elementos da
memria da ocupao Dandara, retomando s razes, as argumentaes e as
utopias do projeto inicial com o objetivo de destacar e analisar as contribuies
desse processo para os debates tericos e polticos sobre trs eixos temticos
que se articulam entre si: espao de moradia, agriculturas urbanas e direito aos
lugares.
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O CORPO E O CRCERE: A TRANSGRESSO DOS ESPAOS
NORMATIVOS EM LIMITE BRANCO (1970), DE CAIO FERNANDO ABREU
Juan Filipe Stacul1
Gracia Regina Gonalves2
No presente trabalho, pretendemos realizar uma leitura crtica do romance
Limite branco (1970), de Caio Fernando Abreu, que articule a construo da
subjetividade com a representao dos espaos. Interessa-nos a forma como
Abreu se apropria dos ambientes da esfera domstica enquanto delineadores
do processo de aprendizagem do protagonista do romance, o adolescente
Maurcio. Acreditamos que este elemento espacial se apresenta enquanto um
operador na evoluo da personagem, o qual analisa o universo ao seu redor,
incapaz de definir uma identidade plena, posto que esta se v recalcada fsica
e psicologicamente. Para tal anlise, utilizaremos as teorizaes de Bachelard,
Harvey e Stanley, sobre as interlocues entre espao e construo da
identidade na contemporaneidade.
Palavras-chave: Literatura brasileira; Caio Fernando Abreu; Subjetividade;
Gnero; Espao.
1Mestre em Estudos Literrios (UFV) e Professor Substituto da Universidade Federal de Viosa.
E-mail: [email protected]. 2Doutora em Estudos Literrios (UFMG) e Professora Associada da Universidade Federal de
Viosa. E-mail: [email protected].
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ARTESOS NMADES E A PRAA SETE:
UMA LUTA PELO RECONHECIMENTO DE IDENTIDADE NO ESPAO
URBANO
Kenaty Mayara M. Guasti1
Sofa A. Ramos Daz2
O presente artigo busca correlacionar o conflito jurdico entre os artesos
nmades e a Prefeitura de Belo Horizonte com a luta pelo reconhecimento da
identidade coletiva de tal grupo nos meios urbanos. O conflito se configura
medida que os artesanatos expostos na Praa Sete so apreendidos
constantemente pela Polcia Militar com a justificativa de que tal atividade fere
o Cdigo de Posturas, que no permite a comercializao livre sem
licenciamento em espao pblico. A prefeitura, em contrapartida, props que os
artesos participassem em feiras.
Porm, os artesos nmades no querem ver seu trabalho enquadrado
como uma atividade comercial. Diante disso, h formas de regulamentao
alternativas que j so utilizadas em outros estados do Brasil.
Visto que a identidade coletiva est implicada pelas prticas sociais que
o grupo desenvolve, a luta por um lugar no espao pblico transforma-se numa
luta pelo prprio reconhecimento. Identidade essa que apropriao de um
lugar no mundo social, que garante uma continuidade da experincia do ns e
1 Graduanda em Psicologia, UFMG [email protected]
2 Graduanda em Cincias Sociais, Sciences Po Paris [email protected]
Co-autores: Marcos Bernardes Rosa. Graduando em Direito, UFMG [email protected]
Amanda Marina Lima Batista. Graduanda em Direito, PUC [email protected]
Deborah Stephane de Oliveira Henrique. Graduanda em Psicologia, UFMG [email protected]
Flvio Alvarenga Sampaio. Graduando em Direito, UFMG [email protected]
Joviano Gabriel Maia Mayer. Graduado em Direito, UFMG [email protected]
Julia Dinardi Alves Pinto. Graduanda em Direito, UFMG [email protected]
Mariana Ribeiro dos Santos Lima. Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UFMG [email protected]
Sarah de Matos Pereira. Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UFMG [email protected]
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diz algo sobre a sua pertena a determinado grupo, compartilhando uma
dimenso sentimental. Quando um sentimento tal como a indignao
compartilhado pelo grupo, este pode facilmente se politizar. o que est
acontecendo neste momento com os artesos nmades da Praa Sete.
A anlise do conflito ser feita com base nos argumentos de ambas as
partes: do poder pblico e dos artesos nmades. O objetivo analisar o
desenvolvimento, defesa e politizao de uma identidade coletiva nos meios
urbanos.
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VOC SUJA MINHA CIDADE, EU SUJO SUA CARA:
protesto e humor contra a propaganda poltica.
Laura Guimares Corra1
Desde o ano de 2010, observa-se o surgimento de perfis nas redes sociais
criados por pessoas que protestam contra a propaganda poltica nas ruas das
cidades. Dois exemplos desse fenmeno so as pginas "Voc suja minha
cidade, eu sujo sua cara"2, e "Quem suja agora, vai sujar depois"3, ambas no
Facebook.
O trabalho proposto trata inscries praticadas pelos sujeitos comuns sobre a
propaganda poltica nas cidades, ou seja: sobre placas, cavaletes, cartazes,
"santinhos", bandeiras que anunciam candidaturas a cargos pblicos poca
das eleies. As interferncias reconfiguram sentidos por meio da adio ou
supresso de signos.
Esse fenmeno ser objeto de anlise sobre dilogos no espao urbano. As
interaes revelam disputas simblicas, estticas e polticas em que o humor
utilizado para esconder e criticar o/a candidato/a e ao mesmo tempo para expor
o abuso na apropriao do espao pblico como lugar da promoo das
candidaturas.
Observa-se a ressignificao dos discursos na propaganda poltica. O
material publicitrio de candidatos/as est exposto ao das pessoas
comuns, que dialogam por meio de intervenes imagticas e lingusticas
com a fotografia, o nome, o nmero e o slogan de quem se prope a ocupar o
cargo pblico.
1 Professora adjunta no curso de Comunicao Social da UFMG. Doutora em Comunicao
pela UFMG. Integrante do Gris- UFMG, coordenadora do GrisPub - Grupo de pesquisa em publicidade, mdia e consumo. 2 http://www.facebook.com/sujosuacara
3 http://www.facebook.com/quemsujaagora
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INFLUNCIAS DO INDIVIDUALISMO E DO MATERIALISMO
CONTEMPORNEO NA RECONFIGURAO DO ESPAO URBANO
Leonardo Meirelles1
O presente artigo aborda a configurao do espao urbano e suas
modificaes a partir da compreenso do recrudescimento do individualismo e
do materialismo como corrente filosfica que tem sua alta expresso na
contemporaneidade. Busca-se em um primeiro momento delimitar o escopo
das duas correntes para em seguida estudar sua relao direta com a
reconfigurao do espao urbano contemporneo. Buscamos responder de
que maneira as grandes regies metropolitanas brasileiras so mais afetadas
por tais influncias, e de maneira o que "anda" na cabea do homem
contemporneo corresponde ao que "anda" no espao urbano - andar no duplo
sentido de acontecer e de caminhar no espao, redesenhando-o. Relacionar
pensamento contemporneo e espao urbano a linha mestra que guia o
argumento deste trabalho.
Palavras-chave: inividualismo; materialismo; espao urbano; reconfigurao.
1 Graduado em Direito pela UFMG, Graduado em Histria pela PUC-Minas, Mestre em filosofia
pela Universit Paris X-Nanterre, doutorando em Filosofia pela UFMG, tema da tese de doutorado: alteridade em Emmanuel Lvinas.
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VALORIZAO PROFISSIONAL DE TRAVESTIS: DAS ESTRATGIAS
PESSOAIS S POLTICAS DE INCLUSO
Lincoln de Oliveira Rondas1
Luclia Regina de Souza Machado2
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada para fins de
concluso de um mestrado e motivada pela observao de que h um nmero
muito pequeno de travestis inseridas no mercado de trabalho, especialmente o
formal. Buscou-se dar visibilidade s experincias e dificuldades vividas por tal
grupo sociocultural para obter a aceitao de sua identidade e diversidade pela
sociedade e, consequentemente, sua insero no mercado de trabalho e a
valorizao dos seus anseios e projetos profissionais. Alm dos resultados
desta pesquisa, o artigo apresenta recomendaes de interesse para o
planejamento e execuo de polticas inclusivas de educao e de qualificao
profissional e de promoo da insero e permanncia de travestis no mercado
de trabalho. A realizao do estudo contou com a participao de doze
travestis belorizontinas e de cidades prximas, que ofereceram com seus
depoimentos dados sobre condies socioeconmicas; perfil educacional;
situao de trabalho; experincias e dificuldades para a insero no mercado
de trabalho formal e nele permanecer; objetivos, aes e meios de obter
valorizao profissional e engajamento pessoal em aes afirmativas de
carter coletivo como estratgia de afirmao pessoal e profissional. Por
estratgia de valorizao profissional foram consideradas as decises, aes e
seus resultados, que tenham a perspectiva de tornar mais valorizados
socialmente o exerccio de profisses e aqueles que as exercem.
1 Graduao em Letras (UFMG) e mestrado em Gesto Social, Educao e Desenvolvimento
Local (UNA). 2 Graduao em Cincias Sociais (UFMG), Mestrado em Educao (UFMG) e Doutorado em
Educao (PUC de So Paulo).
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AS NOVAS PRTICAS URBANO-AMBIENTAIS EM BELO HORIZONTE E O
ATUAL PROCESSO DE OCUPAO DA REGIO DE ISIDORO.
Matheus Soares Cherem1
O artigo trata sobre a trajetria da poltica pblica urbano-ambiental em Belo
Horizonte desde sua fundao at os dias atuais, tendo como foco as
transformaes a partir da dcada de 1990. Pretende-se examinar as
diferentes formas de atuao dos governos municipais frente dinmica
urbana e suas peculiaridades, como por exemplo, a especulao imobiliria. As
mudanas de posturas dos governos Patrus Ananias, Clio de Castro,
Fernando Pimentel e Marcio Lacerda sero analisadas tendo como base de
comparao e pice o processo de ocupao da Regio do Isidoro. rea esta
que recebe o nome do ribeiro que a corta, mas tambm conhecida como
Granja Werneck devido a famlia do primeiro proprietrio do terreno. A regio
uma das poucas grandes reas verdes e pouco urbanizadas remanescentes
de Belo Horizonte e tem sua ocupao prevista desde as discusses e os
debates da poca de elaborao do Plano Diretor Municipal e da Lei de
Parcelamento, Uso e Ocupao do Solo, em meados de 1990.
1 Bacharel em Cincias Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais com nfase em
Cincia Poltica (Polticas Pblicas) e especializao por Formao Complementar em Teorias Urbanas (Urbanismo).
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DUELO DE MCS:
conflito, identidade e espetacularidade
Maurilio Andrade Rocha1
Este trabalho relata o estudo etnogrfico sobre o Duelo de MCs, realizado nas
noites de sexta feira, desde 2007, sob o viaduto de Santa Tereza, na cidade de
Belo Horizonte. O evento rene a cada semana um pblico de cerca de 500
pessoas em torno de manifestaes da cultura Hip Hop. Na atrao principal
da noite, quatro duplas de MC's duelam em rounds de um minuto. O pblico
presente, formado principalmente por jovens de diversas camadas sociais,
escolhe os vencedores atravs de gritos e palmas. Fora do palco, o
evento marcado por conflitos entre os organizadores e o poder pblico, mas a
plateia se diverte calorosa e pacificamente. No palco, os duelos so marcados
por Raps improvisados, recheados de expresses de violncia. Ao final de
cada duelo os MCs se cumprimentam, deixando claro que ali a violncia se
circunscreve apenas ao jogo de palavras. O Duelo de MCs uma prtica
espetacular onde a convivncia humana se faz rica em diversidade, conflitos e
contradies. Onde a msica e a performance dos duelistas nos permitem
interpretar o cotidiano da cidade, marcado pela desigualdade social e pela
busca de afirmao de identidades atravs de manifestaes culturais.
1 Professor Associado da Escola da Belas Artes da UFMG. Coordenador do Programa de Ps
Graduao em Artes da UFMG. Integra o Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa, Portugal.
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COMUNIDADES TRADICIONAIS: O QUILOMBO URBANO DOS LUZES E O
DESAFIO NO ENFRENTAMENTO DO EFMERO NA
CONTEMPORANEIDADE.
Miriam Aprigio Pereira1
O presente artigo tem como objetivo analisar a emergncia de assegurar
visibilidade s comunidades Tradicionais, de modo especifico um Quilombo
Urbano, que dialoga com a dinmica e a rotatividade cultural de uma grande
cidade. Ser apresentado um histrico de evoluo e transformao do
espao, do qual o Quilombo faz parte, e que mesmo diante dos desafios
estabelecidos pelos novos rumos e valores contemporneos, guardam em seu
territrio costumes, crenas, memria e tradio. Atravs da oralidade, a
Comunidade Negra dos Luzes, na condio de um agrupamento tnico,
estabelecido em Belo Horizonte desde fins do sculo XIX, apresenta a
sociedade da capital mineira, um modo de vida suy generis que advm de uma
estreita ligao entre o legado deixado por seus ancestrais, e a prtica
cotidiana da vida moderna. Portanto, o presente artigo pretende traar um
panorama da situao vivenciada pelos quilombolas no presente, que
procuram driblar os desafios do mundo globalizado; o descaso da gesto
pblica frente s questes associadas noo de preservao dos grupos que
remetem ao mito fundador da noo de identidade nacional, alm do conflito
advindo da especulao imobiliria, que reduz o territrio e as possibilidades
de perpetuao de sua histria.
1 Miriam Aprigio Pereira Bacharel e Licenciada em Histria PUC MINAS
Cursando Especializao em Histria e Cultura Poltica UFMG Professora de Rede Estadual de Ensino de MG Diretora de Educao da Federao Quilombola de MG Aluna do programa Aes Afirmativas Consrcio UFMG - UEMG com recursos da Fundao Ford
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NOSSA SENHORA DO ROSRIO NA ESTRADA REAL: AS FESTIVIDADES
DO CONGADO EM CIDADES DA ROTA DOS DIAMENTES
Profa. Dra. Vnia Noronha1
Paula Miranda Alves Pimenta2
Minas Gerais um dos estados brasileiros onde a devoo ao
catolicismo bastante evidente. Aqui encontramos como forte tradio a festa
do congado, ou Reinado, manifestao catlica reinventada pelos negros, em
homenagem a Nossa Senhora do Rosrio e aos santos pretos, So Benedito e
Santa Efignia. Ao longo de todo trajeto da Estrada Real a festa do congado
fez e ainda se faz presente em vrios municpios e distritos, momento em que
os devotos modificam a estrutura dessas localidades, ocupando de forma
diferenciada seus espaos, com procisses e missas, sempre seguidas de
cantos, danas e o som dos tambores. Assim, o estudo teve como objetivo
identificar e analisar os grupos de congado na Rota dos Diamantes da Estrada
Real - de Diamantina a Ouro Preto em seus aspectos histricos, sociolgicos,
culturais, religiosos e tursticos, a partir de registros das hi(e)strias e memrias
dos representantes de suas Guardas, aprofundando o debate sobre o legado
das heranas afro-brasileiras e a constituio do nosso Estado, bem como a
importncia das festas do Reinado como fenmeno turstico nas localidades
investigadas. Foram contempladas nove cidades nas quais a manifestao
vivenciada e aonde foram encontrados grupos de congado. Para tanto a
histria oral foi adotada como estratgia metodolgica uma vez que
reconhecida como uma importante fonte histrica, sendo utilizada para
obteno de novos registros. A tradio passada de gerao em gerao
pela oralidade e continua modificando o cotidiano desses lugares manifestando
a ampla e ntima relao entre festa, religio e a cidade.
1 Professora do Curso de Educao Fsica da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais.
Belo Horizonte, MG. Rua So Clemente, 1175, Aparecida, 31230-460. Belo Horizonte / MG. (031)3422-5285 / (031)98851121. [email protected] 2 Licenciada em Educao Fsica pela PUC Minas, Belo Horizonte, MG. Rua Expedicionrio
Sinval Melo, 93, Caiara. 30770-310. Belo Horizonte / MG. (031) 8624-9294. [email protected]
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O ESTADO DE EXCEO E A MULTIDO NA CIDADE
Rafael de Oliveira Alves1
A cidade pode ser compreendida como obra coletiva, a ser construda e
apropriada coletivamente. Nesse campo de lutas, o capital e o Estado so os
agentes hegemnicos que moldam as subjetividades e regulam as
possibilidades de uso e de troca no espao da cidade. Contudo, no mesmo
espao, h uma multido que resiste, que se insurge e que constitui uma outra
ordem, um outro direito cidade.
Essa narrativa pode ser recontada [1] pelo Estado de direito, ora objeto, ora
sujeito nos processos histricos; ou [2] pela sua contraface de Estado de
exceo, que suspende o direito e deixa a vida nua margem. Aqui, so teis
as falas de Marx, Poulantzas, Schmitt, Benjamin, e Agamben. Sobre esse
quadro geral, [3] Harvey, Vainer, Lefebvre, Holston, Boaventura, Negri e Hardt
ajudam a perceber a mudana empreendida pela multido que ocupa e produz
a cidade.
Nessa trilha, o regime biopoltico do Estado de exceo contraposto ao
projeto comum emancipatrio do direito cidade. Em uma toada, a cidade
sitiada pelo capital e pela violncia estatal; em outra, a vida reocupa a cidade
em oposio propriedade privada, ao Estado e ao direito moderno.
Nesse sentido, o texto proposto deseja enunciar alguns suportes tericos sobre
o Estado de exceo presente na cidade e, assim, contribuir para o avano da
prxis social rumo ao projeto do comum.
1 Mestre em Direito Urbanstico, Doutorando em Geografia, e Professor da UFOP.
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DIREITO S RUAS DA CIDADE:
UM CONTRAPONTO AO FASCISMO SOCIAL
Raphaella Gonalves Oliveira Alves1
Eduarda Miranda Figueiredo 2
Cintia de Freitas Melo3
Emanuelle Brenda Lopes Perptuo4
Gabriela Fantine Antunes Soares5
A populao de rua um segmento social extremamente fragilizado e
vulnervel que est sujeita a uma situao permanente de violncia que se
apresenta sob diversas formas. Essa violncia pode partir do Estado ou da
prpria sociedade, materializando-se nas agresses e apreenso dos objetos
pessoais dos moradores de rua, estendendo-se negao da cidadania e do
acesso a direitos.
H uma relao indissocivel deste quadro com um projeto de cidade que vem
sendo implementado. So constantes as denncias do contemporneo
processo higienista que levado a cabo nas grandes metrpoles brasileiras,
tendo como um dos grupos atingidos, a populao de rua, tornada indesejvel
nas cidades estreis, voltadas para a realizao dos interesses exclusivamente
mercadolgicos.
Este trabalho pretende demonstrar que a violncia sofrida pela populao de
rua se d no mbito de um projeto de cidade feita para poucos. Para tanto,
utilizaremos dados obtidos em noticias sobre a violncia cometida contra a
populao de rua. A analise desses dados ser feita em consonncia com a
literatura sobre o tema. Como marco terico, pretendemos usar o conceito de
1 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-
extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania. 2 Graduanda em Cincias do Estado pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania. 3 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania. 4 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania. 5 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania.
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fascismo social, desenvolvido por Boaventura de Sousa Santos, no texto
Poder o direito ser emancipatrio?.
Por meio da promoo dos eixos estruturantes do Programa Plos de
Cidadania autonomia, subjetividade e cidadania - almejamos a realizao de
um contraponto a este quadro de violncia e, consequentemente, a garantia do
direito cidade e o acesso aos direitos fundamentais e aos direitos humanos.
Palavras-chave: populao de rua; violncia; direito cidade; fascismo social;
direitos humanos.
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PAISAGENS QUE MENTEM E REVELAM: A AUTOCONSTRUO NAS
PERIFERIAS COMO ESTRATGIA DE POTENCIALIZAO ESPACIAL
Regiane Valentim Leite1
O presente trabalho teve como intuito desmascarar os esteretipos existentes
sobre a paisagem perifrica urbana de Viosa-MG, a partir da reflexo sobre a
constante autoconstruo ou, como conhecida popularmente: os famosos
puxadinhos, que surgem nas periferias enquanto estratgia econmica da
populao de baixa renda nativa ou proveniente da zona rural, em uma
tentativa de ajustar-se ao crescimento desordenado da cidade, aps a
federalizao da UFV na dcada de 70. Para a realizao deste estudo, foram
abordados os conceitos de paisagem, espao, autoconstruo e territrio, alm
de serem utilizados dados estatsticos e literatura interdisciplinar, que
demonstraram que os puxadinhos revelam a criatividade brasileira de
potencializar o espao e se adequar s constantes mudanas ocorridas no
meio geogrfico, permitindo-nos apont-los como aspecto concreto da
identidade coletiva da populao segregada. Conclui-se que as caractersticas
incompletas da urbanizao brasileira resultam em padres perifricos de
crescimento urbano constitudos por espaos de precariedade das condies
de reproduo social e agravam a heterogeneidade entre as paisagens e os
espaos citadinos. Contudo, fazem aflorar na periferia outras centralidades,
foras e poderes, que tambm reivindicam o espao da cidade, seus servios e
benefcios, principalmente os ligados moradia. Sugere-se, ento, repensar as
polticas pblicas voltadas ao planejamento e gesto urbanos, bem como fazer
ganhar fora a gesto democrtico-participativa a fim de que haja a ruptura da
imagem enegrecida atribuda aos arredores urbanos e a melhoria das relaes
entre periferia/periferia e periferia/centro.
1 Licenciada em Geografia Universidade Federal de Viosa - MG (2012), Graduanda em
Bacharelado em Geografia - Universidade Federal de Viosa - MG.
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A BUSCA POR UM LUGAR MENOS LOTADO: A ARTE DA PERIFERIA
Renata Patrcia da Silva1
Este artigo se prope a discutir o acesso a bens culturais na cidade de Belo
Horizonte e as iniciativas de coletivos artsticos e da comunidade em romper
com a separao centro/periferia. Assim, discorreremos acerca das
delimitaes geogrficas da cidade de Belo Horizonte e, consequentemente,
seus reflexos sociais, que implicam em uma desigualdade de acesso a bens
artsticos e culturais entre o centro da metrpole e a periferia. Diante disso, a
iniciativa de artistas e comunidade na criao de espaos artsticos e culturais,
fora do eixo central, reflete o desejo de democratizao do acesso a estes
bens, bem como a criao de uma identidade artstica perifrica. Logo, frente a
este propsito, toma-se como referncia o trabalho da Cia Zona de Arte da
Periferia ZAP 18, que sai do centro da cidade de Belo Horizonte e estabelece
sua sede no bairro Serrano, regio Noroeste da capital, mudana que interfere
nas aes desenvolvidas pelo coletivo neste novo espao, em que as
interferncias geradas pelo entorno, de certa forma, determinam uma outra
forma de trabalho e , por conseguinte, a construo de uma identidade do
grupo que, ao se estabelecer na periferia da cidade, adota a expresso Zona
de Arte da Periferia, que identifica o coletivo e seu espao no tecido urbano.
1 Mestranda em Artes na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais.
Teatro-Educadora e pesquisadora em Pedagogia do Teatro.
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A VILA ACABA MUNDO E A CONSTRUO DE MUNDOS POSSVEIS:
REFLEXES SOBRE UMA EXPERINCIA DE LUTA PELA MORADIA
Renata Versiani Scott Varella1
O artigo objetiva discutir os conflitos sociais no espao urbano e os processos
de organizao e interao entre as coletividades nas cidades, tomando, como
ponto de partida, a histria da Vila Acaba Mundo, localizada em Belo Horizonte,
cujos moradores tm se organizado e reivindicado os direitos moradia e
cidade por algumas dcadas. Analisa-se a mobilizao dos moradores da
referida vila, com ateno aos eventos ocorridos em 2008 e 2009, a fim de
perquirir acerca das identidades coletivas formadas, bem como compreender e
problematizar a constituio dinmica de prticas e significados que
conformam a comunidade e suas interaes complexas, contraditrias e em
constante mudana com outras coletividades, com o Estado e com a cidade.
Na tentativa de valorizar a dimenso da prtica social, os cdigos culturais
produzidos pelas populaes organizadas e a articulao entre teoria e prtica,
adota-se uma metodologia qualitativa de pesquisa, notadamente de pesquisa
ao, bem como a combinao de diversas tcnicas de investigao: aplicao
de entrevistas, realizao de grupo focal e acompanhamento cotidiano da
comunidade. No primeiro captulo, traado um breve histrico da Vila Acaba
Mundo, com base principalmente nos relatos dos moradores. Na segunda
parte, analisa-se a formao da identidade coletiva dos moradores da Vila e as
prticas e os significados produzidos nas mobilizaes. O terceiro captulo trata
das conformaes e das interaes do Estado e das coletividades envolvidas
na apropriao da cidade. No terceiro captulo, busca-se apontar caminhos
para a compreenso do espao urbano de uma forma ampla e das distintas
sociabilidades existentes.
1 Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e
Polticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). Mestre em Sociologia pelo mesmo Instituto e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ex-integrante do Programa Plos de Cidadania da UFMG. Endereo para acessar o currculo lattes: http://lattes.cnpq.br/6268205112018842.
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ATRS DAQUELE MATO TEM:
HISTRIAS, MEMRIAS E NARRATIVAS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA
DE MARINHOS
Rosalba Lopes1
Ricardo Ferreira2
Juliana Oliveira3
Descrio e anlise da identidade coletiva da comunidade quilombola de
Marinhos, localizada no municpio de Brumadinho/MG, revelada por meio de
fragmentos de memria de moradores e ex-moradores da localidade. Os
fragmentos de memria foram apresentados oralmente, em atividade intitulada
O Resgate da Histria Oral, ocorrida em 25 de maro de 2012 e organizada por
lideranas locais. Destaca-se a considerao do peso e do significado das
relaes sociais que se estabeleceram no passado entre os atores que, no
presente, rememoram suas vivncias naquele local. Assim, em uma
comunidade que busca reafirmar sua identidade quilombola e registrar a
memria do lugar, sobressaem narrativas de ex-moradores, sobretudo,
daqueles que ocuparam posies sociais que implicavam algum nvel de poder.
Reveladoras do mesmo elemento so as palavras da liderana comunitria que
mais se destaca, tendo inclusive organizado a atividade em questo, ao narrar
as demandas da comunidade como pedidos e no reivindicaes. Observa-se
ainda a desproporo entre brancos e negros que participam da atividade e
fazem uso da palavra, destacando-se a predominncia de brancos.
PALAVRAS-CHAVE: Memria, identidade, comunidade quilombola.
1 Doutora em Histria Social pela Universidade Federal Fluminense/UFF. Coordenadora do
Centro Inhotim de Memria e Patrimnio CIMP, integrante da Diretoria de Incluso e Cidadania; Presidente da Comisso de tica em Pesquisa do Instituto Inhotim - COEPI; Presidente da Comisso de Bolsas do Instituto Inhotim. Professora da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais/PUC-MG. 2 Graduado em Histria pela Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP. Mestrando em
Ambiente Construdo e Patrimnio Sustentvel - MACPS/UFMG. Integrante do Centro Inhotim de Memria e Patrimnio CIMP; analista de Incluso e Cidadania do Instituto Inhotim. 3 Graduada em Turismo pela FUMEC. Mestranda em Ambiente Construdo e Patrimnio
Sustentvel- MACPS/UFMG. Coordenadora do Projeto Desenvolvimento Territorial da Diretoria de Incluso e Cidadania do Instituto Inhotim; analista de Incluso e Cidadania.
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PICHAO: DEMARCAO TERRITORIAL DO HIPERCENTRO DE
BELO HORIZONTE
Rodrigo Guedes Braz Ferreira1
Srgio Alves Alcntara2
Alexandre Magno Alves Diniz3
Existem diversas formas dos atores sociais se fazerem presentes na
cidade. Uma dessas formas a prtica da pichao. Intensas lutas por
dema