ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA
AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas
Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de
dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4
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ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA
PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA
AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de
Licenciando em Física pela Universidade do Estado do Rio de janeiro
Bolsista do núcleo de educação especial e inclusiva da UERJ
COELHO, Débora Miranda
Psicóloga pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Bolsista do núcleo de educação especial e inclusiva da UERJ
FERNANDES, Edicléa Mascarenhas
Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Professora do Mestrado em Diversidade e Inclusão da UFF
RESUMO : Este trabalho visa, por meio da análise de conteúdo categorial dos memoriais, levantar os principais
assuntos que os futuros professores mencionam ao relatar suas experiências com a disciplina de
Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva, que é oferecida pela faculdade de educação na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro aos cursos de licenciatura e tem como objetivo capacitar
minimamente os futuros docentes a lidar com a diversidade encontrada nas salas de aula. A disciplina
possui uma carga horária teórica e outra prática onde os alunos tem a oportunidade de participar de
oficinas introdutórias de LIBRAS, Braille, tecnologia assistiva e material adaptado. Na análise
categorial, foram criadas oito categorias a partir de trechos destacados dos relatos dos próprios alunos.
Os assuntos mais recorrentes foram sobre a importância da disciplina, o que é gratificante para nós por
percebermos que estamos formando professores mais sensíveis as necessidades alheias.
Palavras-chave: Educação inclusiva. Formação de professores. Práticas Pedagógicas.
ABSTRACT
This work aims, through the content of the memorials analysis, raise the main issues that future
teachers mention when reporting their experiences with the issue of discipline Pedagogical Practices in
Inclusive Education. It is offered by the education faculty at the University of the State of Rio de
Janeiro to degree courses and it aims minimally to train future teachers to deal with the diversity found
in classrooms. The course has a theoretical work and other practices where students have the
opportunity to participate in introductory Brazilian sign language, Braille, assistive technology and
adapted material‟s workshops. Eight categories were created from highlighted sections. By analyzing
the memorials, we observed that the most frequent subjects were the importance of discipline and it is
gratifying for us to form more teachers with sensibility to the needs of other people.
Key-words: Inclusive Education. Teacher´s training. Pedagogical Practices.
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INTRODUÇÃO
A disciplina Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva foi criada em 2006, em
cumprimento à portaria 1793 de 1994 que discursa sobre a criação de uma disciplina que
aborde “aspectos ético-político-educacionais” na educação de pessoas com necessidades
especiais nos currículos do curso de Pedagogia, Psicologia e licenciaturas a fim de preparar
estes profissionais para lidar com a diversidade das salas de aula. Ela possui uma carga
horária de 60 horas, incluindo aulas teóricas e práticas, onde, por estar ligada ao NEEI
(Núcleo de Educação Especial e Inclusiva), permite oferecer a esses alunos oficinas
introdutórias de Braille, LIBRAS, tecnologia assistiva e produção de material acessível.
Os memoriais que analisamos neste trabalho são trabalhos feitos pelos alunos da
disciplina de Práticas Pedagógicas em educação inclusiva, da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro pela Faculdade de Educação, que está alocada no Departamento de Educação
Inclusiva e Continuada. Ela é oferecida às licenciaturas dos cursos de Artes Visuais, Ciências
Biológicas, Ciências Sociais, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, Historia, Letras,
Matemática, Psicologia e Química. Para alguns desses cursos, a disciplina é tida como
obrigatória e, para outras, é apenas uma eletiva, em que o aluno pode escolher cursá-la, ou
não (FERNANDES, 2012).
A disciplina possui seis turmas ao todo, com cerca de 50 alunos em cada turma. Esta
análise foi feita a partir dos memoriais das turmas da manhã da disciplina Práticas
Pedagógicas em Educação Inclusiva que cursaram o período letivo 2015.1.
A tabela abaixo auxilia na visualização dos cursos em que a disciplina é oferecida:
Tabela 1 –Curso, Situação e Período em que Práticas Pedagógicas é oferecida às Licenciaturas
CURSO SITUACAO PERIODO LETIVO
ARTES VISUAIS ELETIVA ———————————
CIENCIAS BIOLOGICAS OBRIGATORIA OITAVO PERIODO
CIENCIAS SOCIAIS ELETIVA ———————————
EDUCACAO FISICA OBRIGATORIA SETIMO PERIODO
FILOSOFIA OBRIGATORIA NONO PERIODO
FISICA OBRIGATORIA SETIMO PERIODO
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Tabela 1 –Curso, Situação e Período em que Práticas Pedagógicas é oferecida às Licenciaturas
CURSO SITUACAO PERIODO LETIVO
GEOGRAFIA OBRIGATORIA QUINTO PERIODO
HISTORIA OBRIGATORIA TERCEIRO PERIODO
LETRAS ELETIVA ———————————
MATEMATICA ELETIVA ———————————
PSICOLOGIA ELETIVA ———————————
QUIMICA OBRIGATORIA SEGUNDO PERIODO
Na abordagem da disciplina, é feito um resgate histórico em que é construído com os
alunos as ideias que cada momento da educação possuía e porque o método usado era, ou não,
eficiente, buscando, a partir das percepções dos alunos, as críticas que levaram ao surgimento
da educação inclusiva.
Os memoriais consistem em trabalhos onde os alunos podem expressar suas angústias
e suas ideias sobre a temática da disciplina de maneira livre, cabendo a eles estabelecer o
tema de seus textos a partir de suas memórias e dos discursos abordados pela disciplina
durante o período letivo.
Buscamos destacar alguns trechos dos memoriais e dividi-los em categorias, a partir
das quais fizemos a análise de conteúdo (Bardin, 1997). A medida que observamos a
necessidade de criarmos uma categoria, adicionamos a ela os trechos retirados dos memoriais.
Foram feitos destaques de trechos como o seguinte:
Essa disciplina me ajudou a entender melhor a diversidade existente em sala
de aula, a ser flexível e a me adaptar no contexto de uma sala de aula.
Ajudou-me também a refletir sobre as minhas próprias limitações. E que se
antes eu tinha medo de não conseguir dar aula e ser rotulada como uma
professora incapaz, hoje eu acredito muito em mim e nos meus futuros
alunos. (Aluna do curso de Química)
Na fala, a perspectiva pessoal, a inclusão e a disciplina são temas que aparecem de
forma entrelaçada por meio da reflexão que esta aluna fez sobre as mudanças que ela percebia
a partir do que a disciplina lhe trouxe: ajudou na percepção de que existe diversidade na sala
de aula, ajudou a ser flexível e entender que precisará também se adaptar ao contexto da sala
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de aula, ajudou a perceber suas limitações e pensar a respeito das mesmas, ajudou a acreditar
mais em si e em seus futuros alunos. A análise do conteúdo das falas, portanto, é um recurso
que auxilia na percepção do real impacto da disciplina na formação dos docentes
(SANTIAGO, MATTOS e FERNANDES, 2011).
1. FUNDAMENTOS LEGISLATIVOS
A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional
pela Declaração de Salamanca que consiste num pacto entre diversos países a fim de garantir
oportunidades de educação e cidadania para todas as pessoas, inclusive aquelas com alguma
deficiência.
Na esfera nacional temos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9394/96) e a Lei
10172/2001 que entendem a educação especial como uma modalidade de oferta de serviço. O
artigo 208 da Constituição Federal diz que alunos com necessidades educacionais
diferenciadas devem receber atendimento educacional especializado prioritariamente na rede
regular de ensino. Em seu artigo 59, do capítulo V, que versa sobre a inclusão de alunos com
necessidades educacionais diferenciadas em classes regulares de ensino, há o informe de que
estes alunos devem ser assistidos por profissionais especializados, que devem ter tal formação
em nível superior ou em nível médio.
Segundo Fernandes (2012), data de 1978 o primeiro projeto educacional para pessoas
com deficiência e altas habilidades. Neste, os parâmetros para atendimento de pessoas com
necessidades educacionais especiais seguia o modelo clínico e diferia do currículo previsto
para o ensino fundamental. Então, havia a compreensão de que a Educação Especial ocorreria
em paralelo com o Ensino Básico. Por esta razão, a formação de professores na Graduação
também se dava em separado, com técnicas e métodos específicos. Atualmente, a
recomendação para a educação nacional é a de que o atendimento se dê preferencialmente na
rede regular de ensino.
Neste sentido, a disciplina de Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva atende às
colocações que o âmbito legislativo vem demandando. Além disso, ela rompe com a
formação de docentes em paradigmas excludentes, permitindo que os alunos resignifiquem
estes modelos, como no caso da homogeneização, ou no de „aluno ideal‟, por entender o
fenômeno da deficiência a partir do paradigma da complexidade, visando o trabalho
interdisciplinar entre diferentes áreas de saber (FERNANDES, 2012).
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Baseamo-nos principalmente no que Eduardo Vasconcelos (2002) entende por
interdisciplinaridade. Para ele, o prefixo „inter‟ diz respeito à diversas fronteiras de saber que
não se limitam apenas ao trabalho com disciplinas e paradigmas de campos diversos, mas
abarca também a arte e a cultura popular como racionalidade estético-expressiva a fim de
construir um senso comum emancipatório. Este autor defende ainda que práticas „inter‟ não
devem ficar restritas aos ambientes de pesquisa, mas se ampliar para a formação básica no
sentido de modificar currículos e cursos de graduação e pós-graduação. Para este autor, o
objetivo é ir em direção à reprofissionalização mais complexa por meio do contato com outras
áreas de conhecimento ao longo da formação, além da inserção em projetos de estágio,
pesquisa e extensão que envolvam diferentes profissionais.
Nesta perspectiva, há a valorização da complexidade do objeto, assim como da própria
subjetividade do pesquisador e daqueles com quem trabalha, o que, em geral, ultrapassa a
formação específica e acadêmica que possui. Por esta razão, Vasconcelos (2002) incentiva o
uso de habilidades extraprofissionais, como artes plásticas, música, dança, e outras, por parte
dos profissionais que, em seu caso, lidam com saúde mental.
Na disciplina de Práticas Pedagógicas de Educação Inclusiva, o uso de habilidades
outras, para além das acadêmicas, é estimulada por meio da proposta de construção de uma
adaptação, que consiste em um recurso a ser utilizado por alunos de diversas áreas para dar
uma aula inclusiva, ou seja, uma aula que atenda a necessidade de um suposto aluno com
algum deficiência e os demais alunos.
Outra recomendação deste autor diz respeito a dar voz àqueles com quem trabalhamos
de forma direta para que possam identificar a complexidade de suas próprias demandas e
realidades. Isto permitiria também a construção de profissionais e clientela (que no caso de
professores, serão seus alunos), de recursos, dispositivos, que reinventem suas histórias e não
os mantenha numa posição de receber assistência. Para ele, a produção de conhecimento deve
tomar o fenômeno social humano em sua dimensão complexa e multidimensional, trazendo,
portanto, contribuições de outras maneiras de teorizar e compreender o mundo, que
favoreçam um processo autoral na produção de conhecimento.
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3. RESULTADOS ALCANÇADOS
Ao todo foram analisados 75 (setenta e cinco) memoriais e deles foram destacados 56
(cinquenta e seis) trechos por sua relação com a temática da disciplina. Esses trechos foram
sub-divididos em 8 (oito) categorias que foram criadas com a medida em que um novo tema
ou conteúdo era mencionado.
A análise de conteúdo foi feita de forma quanti-qualitativa, onde analisamos a
freqüência em que os temas apareciam. Na análise qualitativa, buscamos aprofundar as
colocações de alguns trechos que nos saltaram mais aos olhos.
Ao analisar os memoriais, observamos que os assuntos mais recorrentes foram acerca
da importância da disciplina, sobre experiências vividas de inclusão, experiências de
exclusão, sobre acessibilidade e sobre a postura dos docentes quanto à educação inclusiva.
Dentre as categorias, a que tem maior frequência (cerca de 25,9%) é a importância da
disciplina para os futuros professores. Há muitos agradecimentos e declarações de que a
disciplina os prepara para lidar com a diferença de cada aluno e a inclusão de todos. Isto
corrobora com os resultados encontrados por Santiago, Mattos e Fernandes (2011), quando
relataram encontrar nos memoriais trabalhados descrições dos licenciandos a respeito da
contribuição que a disciplina teve para modificar a maneira de pensar a inclusão em sala de
aula.
3.1. ANÁLISE QUANTITATIVA
As categorias criadas foram: inclusão, acessibilidade, postura docente, exclusão,
percepção dos outros, importância da disciplina, primeiros contatos com educação inclusiva,
políticas publicas e relato de superação. Na tabela está o número de trechos destacados em
cada categoria e a sua porcentagem em relação ao total de trechos destacados.
Tabela 2 – Categorias e número de vezes em que aparecem no texto
Categoria Número de vezes que
aparece
Porcentagem (%)
Inclusão 7 12,5
Acessibilidade 9 16,07
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Tabela 2 – Categorias e número de vezes em que aparecem no texto
Categoria Número de vezes que
aparece
Porcentagem (%)
Postura docente 9 16,07
Exclusão 7 12,5
Percepção dos
outros
3 3,35
Importância da
disciplina
14 25,0
Primeiros
contatos com educação
inclusiva
5 8,93
Políticas públicas 1 1,79
Relatos de
superação
1 1,79
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Com este tipo de dados, notamos que o tema mais abordado, com cerca de 25%, diz
respeito à importância da disciplina, em segundo lugar temos a acessibilidade e a postura
docente (ambas com 16,07%), seguidos da inclusão e exclusão (ambas com 12,5%), primeiros
contatos com educação inclusiva (com 8,39%), percepção dos outros (com 3,35%) e políticas
públicas e relatos de inclusão (ambas com 1,79%).
2.2. ANÁLISE QUALITATIVA
Falas que apontam para a importância da disciplina com vistas a preparar os futuros
docentes para o trato com as diferenças foram explicitadas em relatos como os que estão
abaixo:
Com o contato com a matéria fiquei mais atenta, mais crítica [...]
É possível e viável adaptar uma aula, e deve ser pensada para seu aluno com
limitação em um processo de integração, é trabalhoso o seu
desenvolvimento, mas é satisfatório na mesma medida, ver a gratidão de
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alguém no olhar, no sorriso, em um abraço, é sinônimo de esperança.(Aluna
de História)
Bom, mas com tudo o que pude aprender ao longo desse semestre com a
prática em educação inclusiva, me resta como uma professora mais
conscientizada buscar descobrir mais a fundo sobre os meus alunos e assim
obter a melhor prática possível para poder atender e entender ainda mais os
meus alunos especiais ou não. (Aluna Letras/Inglês)
Para o licenciando em formação, futuro professor, a grande contribuição da
disciplina para sua futura pratica docente reside justamente num despertar de
consciência, numa sensibilização acerca das dificuldades e desafios que os
portadores de qualquer necessidade educativas especiais se veem postos a
encarar, cotidianamente, nas escolas. (Aluno de filosofia)
Essa materia contribuiu para minha formação, pois alem de me tornar apta a
dar aula para todos os tipos de pessoa, nos ensina, acima de tudo, a respeitar
a todos. Aprendemos também como montar um planejamento de aula e a
sempre procurar alternativas para que todos sejam incluídos. (Aluna de
Química)
Essa disciplina me ajudou a entender melhor a diversidade existente em sala
de aula, a ser flexível e a me adaptar no contexto de uma sala de aula.
Ajudou-me também a refletir sobre as minhas próprias limitações. E que se
antes eu tinha medo de não conseguir dar aula e ser rotulada com uma
professora incapaz, hoje eu acredito muito em mim e nos meus futuros
alunos.( Aluna de Química)
Essa inexperiência no assunto foi um dos motivos pelos quais me interessei
na disciplina. Além disso, nossa formação profissional ainda deixa muito a
desejar nesse quesito. Por isso, fiz questão de cursar a disciplina, sem ela
estaria completamente despreparada para enfrentar o desafio de ter um aluno
incluído em minha sala de aula. Ela me abriu os olhos para a questão da
educação inclusiva. Antes era contra a integração de alunos com
necessidades especiais em turmas regulares. Acreditava que a escola
especializada era a melhor opção para estes alunos, pois teriam um ensino
individualizado. Hoje entendo a importância da inclusão. (Aluna de letras-
inglês)
Cada uma das falas guarda peculiaridades a respeito da escolha e da experiência que a
disciplina deixou nos alunos, porém todas apontam para a mudança que foi produzida neles
no sentido de procurarem adaptar a aula levando em consideração as limitações e
necessidades que seus alunos apresentem.
Nestas falas, está presente também o destaque para a dimensão sensível que tem a
educação, por exemplo, quando um dos alunos diz “a grande contribuiçao da disciplina para
sua futura prática docente reside justamente num despertar de consciência, numa
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sensibilização acercadas dificuldades e desafios que os portadores de qualquer necessidade
educativas especiais”(Aluno de Filosofia). Vasconcelos (2002), ao falar sobre o paradigma da
complexidade, destaca o aspecto estético e popular como componentes necessários na
compreensão de fenômenos humanos e, talvez, esteja precisamente aí a retomada da dimensão
sensível necessária na educação de pessoas que desafiam um saber/fazer instituído e
homogeneizador.
Outro aspecto destacado nas falas diz respeito à valorização dos aspectos práticos e da
participação de eventos, como o da Síndrome de Willians, por permitirem que a aula não se
restrinja à transmissão de conhecimentos, mas também permita uma aproximação da forma
como a pessoa com deficiência experiencia o mundo. A partir do relato abaixo, percebemos
que o aspecto prático da disciplina aumentou significativamente o interesse da aluna pelos
assuntos abordados, o que a levou a participar de outros espaços, fora dos da sala de aula, em
busca de conhecimento. Ela diz:
O interesse cresceu de forma exponencial e me levou a uma palestra
ministrada pela professora sobre a síndrome de Williams, estar perto de
crianças que me mostraram algo que só conhecia por fotos ou citações foi
uma experiência única e nenhum livro me faria ter o mesmo aprendizado ou
sensibilidade conquistados naqueles momentos de troca. (Aluna de
Matemática)
Ainda sobre as contribuições práticas, os dois relatos abaixo apontam para as
possibilidades que as oficinas disponibilizadas na disciplina trouxeram por ajudá-los a
repensar sua formação docente:
Durante as práticas pude perceber que não são necessários grandes esforços
ou adaptações para incluir-se um deficiente. Às vezes, pequenas adaptações
ou simplesmente o ganho de pequenos conhecimentos são o suficiente. Isto
ficou muito claro ao realizar a tarefa final da disciplina. Pois como havíamos
escolhido a cegueira foi necessário confeccionar alguns pequenos textos em
Braile. Durante esta prática, ficou claro que com um pouco de conhecimento
(realmente pouco) podemos dar grandes auxílios a um portador de
deficiência, o que realmente nos incentiva a buscar outros recursos e
contribuir ainda mais.(Aluno de História)
São oferecidas também as oficinas, que nos colocam em contato com
materiais e tecnologias direcionadas às pessoas com necessidades
específicas. Foi muito bom para minha formação, pois tive contato com
tecnologias assistivas (as quais eu não conhecia!), pude aprender e usar um
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pouco o Braile, participar de um pequeno diálogo usando LIBRAS e ver
várias ideias de materiais adaptados. (Aluno de História)
A disciplina de Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva também se torna
enriquecedora por trazer diferentes profissionais e algumas falas fazem menção à experiência
de educar em um hospital. As alunas disseram:
Uma das aulas cujo conteúdo mais chamou minha atenção foi a aula que
tratou acerca dos projetos de aulas para crianças internadas. Minha
experiência pessoal dialoga diretamente com este tópico, pois trabalho em
um hospital de grande porte há cinco anos. Em toda minha experiência de
vida no hospital estadual nao presenciei qualquer atividade voltada para esse
sentido. […] A parte da minha experiência profissional, busquei novamente
a universidade para formar-me professora. A experiência desse curso e em
especial dessa aula mostra quão importante e urgente é o contato entre as
duas áreas técnicas do saber de saúde e educação. […] Pensar essas questões
no cenário de formação da universidade é essencial para futuros
profissionais de ambas as áreas, o que torna essa aula muito relevante no
curso de licenciatura.(Aluna de Pedagogia)
A única forma de integração das crianças internadas eram as “tias da
história”, voluntárias que assim como eu possuíam um motivo para estar ali
(a proximidade com algum paciente), porém eu achava que era uma forma
interessante do hospital “distrair as crianças”, mas durante uma das aulas
desse ano, fiz uma reflexão e cheguei a conclusão que era para haver uma
classe hospitalar, voltada para demanda das crianças, pois é direito delas ter
acesso à educação. (Aluna de História)
Houve um relato de superação, onde percebemos uma admiração por parte do aluno a
um colega que mesmo com dificuldades conseguiu alcançar seus objetivos, este está
devidamente apresentado no trecho abaixo:
Ele se formou no 3º ano, e decidiu entrar para o pré-vestibular no ano
seguinte estudando na mesma escola, os alunos que cursavam o pré-
vestibular ficavam o ano todo estudando na sala que fica no térreo, com
muito esforço conseguiu ser aprovado na UERJ para o curso de ciências da
computação, atualmente ele continua estudando na UERJ, cursa o 5º
período. (Aluno do curso de Química)
Com este relato podemos observar que as universidades estão recebendo os alunos
com necessidades educacionais especiais e que mais políticas públicas são necessárias para
atendê-los. Esta constatação se aproxima do relato de um aluno de Geografia que diz que de
fato, as políticas públicas voltadas aos portadores de necessidades especiais evoluíram muito
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nas últimas décadas, mas, principalmente, no Brasil precisamos de maiores transformações,
mais respeito, mais sentimento humanitário e principalmente uma consciência de cidadania.
Uma cidadania que não condição de povo, estamos muito longe de conquistar (sic).
Fernandes e Glat (2005) mencionam a necessidade de incentivar o envolvimento do
corpo pedagógico e de dicentes para elaboração de estratégias que tornem o espaço escolar
mais inclusivo, a partir do que já existe neste ambiente, e considerando as particularidades do
mesmo.
Nesse contexto, temos também a declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) que em
um de seus pontos orienta que priorizem política e financeiramente os sentidos educacionais
para incluir crianças, independente de suas diferenças e dificuldades individuais. Contudo,
ainda não vemos tal prática em nosso país, como relatado na fala a seguir:
Eu estava no C.A. quando mudei de escola pela primeira vez. Foi a primeira
vez, também, que conheci uma pessoa com deficiência auditiva. C era um
pouco mais velha que as outras pessoas da turma, mas eu não via problema
nisso. Apesar de ela ser muito carinhosa, eu não sabia como estabelecer
nenhum tipo de comunicação com ela e isso nos afastava. Não queria sentir
pena, mas era inevitável. C. tinha dificuldades para acompanhar a aula, que
ninguém preparava pensando nela. A aula não era inclusiva. C. não era
incluída." (aluna de Química)
A inclusão seria mais eficiente com uma melhor capacitação dos docentes e é isto que
buscamos fazer na disciplina. Às vezes, apenas uma postura diferente da parte do professaor
ja é um grande avanço. As crianças, em geral, tem uma tendência a lidar mais facilmente com
a diversidade, por não terem uma pre-concepção sobre elas. É o que podemos perceber na fala
a seguir.
(…) nossa professora utilizava constantemente trabalhos relacionados a
artes, fazíamos muitos desenhos e era nítida a dificuldade dele em preenchê-
los. Nunca fiquei sabendo qual era sua deficiência, ou porque ele não
conseguia escrever e desenhar como as outras crianças, por mais que todos
soubessem que ele era diferente por algum motivo, nenhum dos alunos
comentava sobre e nem tiravam sarro dele por causa disso, seu
relacionamento com a turma era absolutamente normal.(Aluna de História)
Segundo Lippe e Camargo (2009), docentes tendem a homogeneizar seus alunos de
forma involuntária, simplesmente, por desconhecerem suas necessidades específicas e
gerando prejuízo para seu aprendizado. A capacitação dos profissionais é essencial para o
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processo de aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especificas. Algumas
vezes pode faltar por parte dos docentes iniciativa para lidar com a diversidade, ou por falta
de tempo e muitas vezes exaustão com as praticas diárias, no entanto, muitas vezes é bem
simples fazer o auxilio a um aluno especial. Nesta disciplina, com as oficinas vemos que não
é tão difícil assim.
Ao longo do semestre o curso permite aos estudantes tomarem conhecimento
da existência de diversas condições, técnicas, ferramentas didáticas e
tecnologias assistivas que se revelam praticamente indispensáveis a
iniciativa de educação inclusiva (aluno de filosofia)
A inclusão de alunos com deficiências não é apenas bom para eles que estão
vivenciando o processo de fazer parte de um grupo, mas para toda a sociedade. Conviver com
a diferença nos faz saber lidar melhor com a diversidade humana. É esta a percepção desta
aluna de Educação Física:
Alunos com deficiência visual e física passaram por mim, deixando não
apenas a ideia de que precisam ser incluídos na sociedade de acordo com
suas necessidades, mas também o pensamento de superação e de
normalidade de vida como qualquer outra pessoas não portadora de
deficiência. O indivíduo deficiente pauta-se bastante nas questões das
experiências positivas e negativas. As positivas ocorrem quando o
sentimento de pertencimento é cativado, ou seja, o aluno sente-se parte do
todo. Se isso fosse por muitas vezes cultivado, o quadro da educação
inclusiva poderia ser um pouco melhor diferenciado.
Falta de capacitação de profissionais e a falta de informação atrapalham o processo de
inclusão nas falas a seguir observamos isso.
Quando trabalhei em uma determinada creche, havia um aluno autista de
oito anos que era tratado claramente como diferente dos outros alunos de
uma maneira muito excludente. Ele não participava das aulas com os demais
e muito menos era colocado em alguma sala de aula. Simplesmente o
deixavam, com sua agitação, correndo ao redor de uma arvore no pátio da
creche sem nenhuma consideração. Eu perguntava para minhas colegas de
trabalho na época, e elas diziam que era a única coisa que podiam fazer, já
que não havia formação para lidar com esse caso de aluno autista e não
sabem como mantê-lo “controlado” para dar aula e fazê-lo aprender ou
participar de trabalhos em sala de aula. Eu falava com a diretora da creche,
mas não me davam atenção em relação como eles tratavam o aluno. (Aluna
de Ciências Sociais)
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Um exemplo de falta de preparo dos professores aconteceu na escola do meu
primo Felipe. Assim que ele chegou nessa escola, acompanhado da minha
tia, a professora o viu e entrou em desespero. Ela ficou dizendo, na frente do
meu primo e da minha tia, que não sabia trabalhar com crianças com
Síndrome de Donw. Claro que foi absurdo ela ter feito isso, mas isso é
reflexo da má preparação dos docentes. (Aluna de História)
No decorrer de minha experiência escolar, do ensino fundamental ao ensino
médio, não lembro de ter tido algum colega de classe com necessidades
especiais, pelo contrário, as pessoas com deficiências que soube existir no
bairro ou nas cercanias de onde morava geralmente ficavam “escondidas”
em suas casas. Lembro que meu coraçãozinho de criança percebia um certo
ar de 'sina', de 'má sorte' na vida dessas pessoas com deficiência, uma
espécie de 'lepra' cultural que nos indicava a manter distância; uma espécie
de fatalidade com que se tinha de baixar as cabeças e seguir com a vida da
maneira que fosse possível. Raciocinando nos dias atuais, tanto a família
como o Estado, em sua extensão nas escolas públicas onde estudei, não
pareciam muito dispostos a considerar essa ideia de inclusão.(Aluno de
Letras)
Hoje em dia, o acesso ao conhecimento se dá de forma mais fácil. A falta de interesse
também não pode ser confundida com a falta de possibilidades. A conscientização das
especificidades de cada ser humano não é algo tão difícil de ser entendida que não possa ser
abordada pela sociedade em geral. No relato abaixo, vemos que uma única pessoa pode
começar fazendo a sua parte.
Atualmente, combater o preconceito em sala de aula é um dos principais
deveres do professor, porém, o que realmente vemos é um certo descaso do
docente em relação a essa questão. Muitos nao tentam mudar essa
problemática e outros até praticam com os próprios alunos.(Aluno de
Química).
Estamos buscando abordar a inclusão no aspecto educacional, mas a inclusão é
fundamentalmente um fenômeno social, como relatado a seguir:
A inclusão, na escola nao deve ser encarada apenas do ponto de vista
cognitivo, deve ser encarada do ponto de vista social também. É claro que
algumas crianças com certas deficiências nao vai consegui aprender todo o
conteúdo da mesma maneira que os outros. Cabe aos professores aprender a
lidar com seus alunos, adaptar sua aula e acreditar no potencial dos alunos.
(Aluna de Química)
No que tange a inclusão, posturas docentes e adaptações curriculares não podem fazer
uma inclusão adequada sem a acessibilidade aos locais. Notamos que muitos alunos ao relatar
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problemas de acessibilidade falaram mais sobre a acessibilidade relacionada a uma
deficiência física, como vistos nos relatos abaixo:
O único problema era durante as aulas da educação física, ele nunca fez
nenhuma atividade relacionada aos esportes do 9º ano até a 2ª série do
ensino médio (na minha escola, não tínhamos aula de educação física na 3ª
série do ensino médio), durante as aulas de educação física ele ficava no
canto da quadra, normalmente conversando com o pessoal, os que não
faziam aula e também os que faziam aula e podiam ficar sentados no banco,
normalmente esperando para participar de alguma atividade, ou esperando
uma atividade acabar, por exemplo, as garotas que ficavam olhando os
meninos jogarem futsal, ou os garotos, que ficavam esperando as meninas
jogarem handball, para passar em educação física, ele entregava ao professor
um trabalho escrito relacionado a matéria, ou seja, ele possuía um método
diferente de ser avaliado na matéria, normalmente, o sistema da escola,
consistia na nota ser baseada no número de aulas que o aluno realizava a
cada trimestre.(Aluno de Química)
Meu segundo contato com uma pessoa com deficiência não foi de forma
direta, às vezes eu só observava, era uma menina da outra turma com
paralisia, suponho que ela estava no oitavo ano do ciclo. As vezes, via ela
(sic) chegar de carro com a mãe ou junto de algumas colegas que ajudavam
comer algum lanche. A condição dela trazia dificuldades em um colégio que
nao era adaptado para cadeirantes, nao haviam rampas, nem elevadores,
apenas escadas. Ela ficava restrita em estudar apenas nas salas do primeiro
andar, quando era necessário exibir algum filme no auditório, que ficava no
terceiro andar, ela tinha que ser carregada no colo.(Aluna de historia)
Em um, dentre os casos que me lembro, o de um colega cadeirante é um
exemplo que infelizmente ainda ocorre muito em escolas. Sua acessibilidade
diária para chegar à sala de aula era dificultosa. Porque não havia rampas
muito menos um elevador ou equipamento equivalente para levá-lo a sua
sala de aula e assim, assistir as aulas. Todos os dias funcionários com o pai
do meu colega ajudavam no seu deslocamento trabalhoso que poderia ser
evitado com a acessibilidade adequada em que ele e tantos outros têm
direito. (Aluna de Ciências Sociais)
Durante toda a caminhada de visitas a fisioterapeutas, neurologista, pediatra,
escolas, dentre outros profissionais que poderiam ajudar no desenvolvimento
do meu irmão, me recordo de um obstáculo que me dói: acessibilidade. Até
os 14 anos do Raí, meus pais não tinham condições financeiras para adquirir
um automóvel próprio, e passada uma certa idade tanto dos meus pais que
ficavam velhos, tanto do meu irmão que estava crescendo, ficava cada vez
mais difícil deslocá-lo de um lado para o outro nos braços. Era motoristas
que não paravam, ônibus "quebrado", às vezes meu pai ficava até uma hora
aguardando a "boa vontade" de um motorista que quisesse parar. Até a
entrada do primeiro processo em uma das empresas de onibus, que por sinal,
está rolando até os dias de hoje.(Aluna de História)
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Existem grandes desafios para um local se tornar acessível. Não se pode pensar
somente em acessibilidade do espaço físico. No entanto, uma aluna relatou uma percepção
diferente de acessibilidade, neste caso para com um deficiente auditivo.
A acessibilidade para deficientes auditivos é relativamente tranquila, por ser
uma 'deficiência invisível, nao aparente à primeira vista. A acessibilidade era
difícil quando era necessária a fala, e boa parte dos locais públicos, de escola
regulares e médicos à bancos e lojas, nao tem a presença de um tradutor de
libras ou alguém que saiba a linguagem de sinais, dificultando e muito a
interação dessas pessoas. (Aluna de Química)
Este relato de acessibilidade nos mostra que a escola se adaptou ao aluno e não o
aluno a sua escola. Esse é um desafio enfrentado pelas escolas, elas não tem que receber os
alunos apenas, mas dar a eles a melhor formação possível, com as devidas adaptações. Não
são todos os colégios que estão aptos a receber alunos diferenciados. As escolas e
universidade tem que ir se adaptando, a demanda existe e a cada dia aumenta mais. Em nossa
Universidade mesmo a inclusão não é feita adequadamente como relatado pela aluna.
Ainda sobre a conversa, o aluno me disse que assistia às aulas na maioria das
vezes com um gravador próprio, as provas eram orais, lembro-me dele dizer
que as condições de adaptações não eram muito boas, o que me levou a
refletir sobre minha vida e de como reclamo às vezes de coisas tão poucas,
entendendo assim que o benefício que ganhei naquele dia foi de ouvir aquela
experiência de vida que me tornou uma pessoa muito melhor, ao imaginar
quantos desafios esse graduando enfrentava diariamente com força e
coragem, tentando a todo tempo superar um obstáculo. (Aluna*)
A inclusão é um desafio social que o Brasil aceitou, ao qual nos unimos também a
partir da Declaração de Salamanca (1994), e agora vemos futuros professores lutando por
isso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos relatos, percebemos, então, que a disciplina de Práticas Pedagógicas em
Educação Inclusiva tem contribuído para despertar seus alunos para a necessidade de se
preparar para as diferenças presentes na sala de aula. Nas falas, são trazidas temáticas diversas
que repensam a forma de ensinar e aprender, assim como são discutidas questões relacionadas
ao que seria acessibilidade, o que seria inclusão e como esta pode, ou não, ocorrer. Enfim, por
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meio dos relatos, notamos que a disciplina tem contribuído para formar professores que
atendam não só às demandas legislativas e às declarações internacionais, mas também aptos a
se sensibilizar com às necessidades alheias.
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