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Charles Pennaforte
Análise dosSistemas-Mundo
uma pequena introdução ao
pensamento de ImmanuelWallerstein
cenegri edições
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uma pequena introdução aopensamento de Immanuel
Wallerstein
Charles Pennaforte
2011
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Copyright © 2011 Charles Pennaforte. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de12/02/1998. Proibida a reprodução total ou parcial sem aautorização expressa escrita pelo autor ou editores.Publicação sem fins lucrativos.2011Impresso no BrasilPrinted in Brazil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Análise dos Sistemas-Mundo: uma pequena introduçãoao pensamento de Immanuel Wallerstein / CharlesPennaforte. -- Rio de Janeiro: CENEGRI - Centro deEstudos em Geopolítica e Relações Internacionais,2011. (Coleção perspectivas do mundo contemporâneo)
Bibliografia.ISBN 978-85-61336-03-5
1. Globalização - Aspectos sociais 2. Históriasocial 3. Mudança social 4. Política mundial5. Sistemas sociais 6. Teoria dos sistemas7. Wallerstein, Immanuel, 1930- I. Título.II. Título: Uma pequena introdução ao pensamento deImmanuel Wallerstein. III. Série.
11-02588 CDD-303.4
Índices para catálogo sistemático:
1. Análise dos Sistemas-Mundo : Teoriawallersteiniana : Ciências sociais 303.4
Revisão do Texto: José Alexandre da SilvaCapa: Cenegri Edições
Centro de Estudos em Geopolítica e Relações
Internacionais – CENEGRICNPJ 06.984.953/0001-18http://www.cenegri.org.brRua Dois de Dezembro, 38 Grupo 602-603Flamengo - Rio de Janeiro - CEP 22220-040Tel: ++ 55 21 2195-1315 Fax: ++ 55 21 2195-1301Brasil
Cenegri Edições
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ColeçãoPerspectivas do Mundo Contemporâneo
Coordenação Charles Pennaforte
Conselho Editorial
Ricardo Luigi
CENEGRI
Daniel Chaves
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Angelo Segrillo
Universidade de São Paulo
Roberto Miranda
Universidad Nacional de Rosario
Leonardo Granato
Universidad Nacional Tres de Febrero
Amine Ait-Chalaal
Université Catholique de Louvain
Arturo Rúas de Cabo
Universidad de La Habana
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Autor
harles Pennaforte é diretor-geral doCentro de Estudos em Geopolíticae Relações Internacionais
(CENEGRI) e conferencista. Possuiinúmeros artigos e trabalhos publicadosno Brasil e no exterior.
Seus livros publicados são: PerspectivasGeopolíticas — Uma AbordagemContemporânea (Org.), China, o Gigante do
Século XXI (Org.) e PanoramaContemporâneo — Geopolítica e RelaçõesInternacionais (Org.) pela Cenegri Edições;Depois do Muro — O Mundo Pós-GuerraFria e Globalização — A Nova DinâmicaMundial pela Editora Ao Livro Técnico; América Latina e o Neoliberalismo: Argentina, Chile e México e Fragmentação eResistência: o Brasil e o Mundo no Século XXI pela Editora E-Papers. Em coautoria,Enciclopédia de Guerras e Revoluções doSéculo XX pela Elsevier/Campus.
É docente do curso de Geografia dasFaculdades Integradas Simonsen (RJ) ecoordenador acadêmico da Escola de AltosEstudos Estratégicos (EAEEG).
C
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Agradecimentos
Gostaria de agradecer a leitura crítica do
professor Ricardo Luigi.
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SUMÁRIO
Introdução15
As Origens da Análise dosSistemas-Mundo
26
A Análise dos Sistemas-Mundo35
Os Ciclos do Sistêmicos de Acumulação49
O Declínio da Hegemonia dos EUA
63
A Utopística71
As Perpectivas do Mundo
Contemporâneo76
Bibliografia78
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Duas coisas ameaçam o mundo: a ordem e adesordem.
Paul Valéry
Eles praticam um massacre e o chamam de paz.
Tácito
Os homens que mudaram o mundo nunca o fizeram mudando os dirigentes, mas sempre
agitando as massas.
Napoleão Bonaparte
O capitalismo só tem êxito quando começa a seridentificado com o Estado, quando ele próprio é o
Estado.Fernand Braudel
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l
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Introdução
Sigo creyendo que el análisis de los sistemas-mundo, esen primer lugar una protesta en contra de las formasen las cuales la ciencia social se presenta actualmente,
e incluyendo aquí el ámbito de su modo de teorizar.Immanuel Wallerstein1
herança marxista desde o início
do século passado semprecolocou o capitalismo como
“pronto” para o colapso. Na verdade, as
próprias observações de Marx sobre o
caráter autofágico do capitalismo e suasincoerências estruturais apontavam (e
apontam) para a sua “crise final”. Processo
1 “Continuo acreditando que a an|lise dos sistemas-
mundo é, em primeiro lugar, um protesto contra asformas nas quais a ciência se apresenta atualmente,incluindo aqui, o }mbito de sua forma de teorizar”. In:The itinerary of world-systems analysis or how toresist becoming a theory. A pud ImmanuelWallerstein y la Perspectiva Crítica del “Análisisde los Sistema-Mundo. Carlos Antonio A. Rojas.Textos de Economia. Florianópolis, v. 10, nº 2, p. 14,
jul/dez, 2007.
A
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esse, inerente ao desenvolvimento do
próprio capitalismo. Sobre isso, inclusive,
não há dúvidas.
Basta uma leitura atenta da obra marxiana.
Não se trata de “positivismo” ou
“catasfrofismo” anticapitalista.
Contudo, a capacidade de superação da
burguesia (termo quase esquecido hoje em
dia) ou dos investidores (o termo mais
moderno) na criação de saídas e/ou
“fórmulas” para manter o seu sistema
“saud|vel” frente aos dilemas estruturais,
não pode ser levada em conta no início da
análise do capitalismo enquanto sistema
no século XIX. O motivo era óbvio: o
capitalismo estava ainda em
desenvolvimento.
Alguns teóricos foram importantes
para a superação positiva do legado
marxiano e compreensão da dinâmica
capitalista desde então. Se por um lado
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Marx teorizou o capitalismo em sua lógica
estrutural e ideológica, coube a Lênin
transformar a realidade e não somente
interpretá-la, parafraseando uma da teses2
de Marx nas Teses Sobre Feuerbach3.
O líder comunista e teórico italiano
Antonio Gramsci, também foi um
importante colaborador nessa empreitada,
fornecendo uma abordagem mais
sofisticada para a análise do capitalismo e
de sua sociedade4. A pertinência de
Gramsci nos dias de hoje é surpreendente
e indispensável.
Compreender e criticar um sistema
complexo como o capitalismo é uma tarefa
2 Trata-se da décima primeira tese: “Os filósofos têmapenas interpretado o mundo de maneiras diferentes;a questão, porém, é transformá-lo” .3 Teses Sobre Feuerbach. Traduzido do alemão porÁlvaro Pina. Editorial "Avante! " — Edições ProgressoLisboa — Moscovo, 1982.4 Conceituações teóricas como “revoluç~o passiva”,“hegemonia”, “bloco histórico”, “funç~o piemontesa”,entre outras, fazem parte do léxico gramsciano. Sua
influência sobre as ciência sociais é considerável.
http://www.pcp.pt/publica/edicoes-avante/http://www.pcp.pt/publica/edicoes-avante/
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hercúlea. Principalmente quando se
objetiva fugir do discurso panfletário e/ou
ortodoxo e, até mesmo, da “perfeiç~o”
defendida pelos liberais.
Dentro de tudo do que foi exposto até
aqui, acredito que o trabalho intelectual
levado a cabo por Immanuel Wallerstein é
de suma importância para a compreensão
da dinâmica capitalista da segunda metade
do século XX e suas influências sobre as
Ciências Sociais. Tal importância é atestada
pelo seu trabalho influenciar várias áreas
do conhecimento humano: da política às
relações internacionais.
O objetivo deste livro e apresentar ao
leitor uma visão panorâmica do
pensamento de Immanuel Wallerstein de
forma clara e sucinta.
Devemos salientar que não é uma
tarefa fácil, pois o teórico navega com
facilidade ente as várias áreas do
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pensamento humano. Esperamos que o
nosso propósito seja alcançado de forma
integral.
Para entendermos o trajeto intelectual
e consequentemente os seus objetos de
estudo de Immanuel Maurice Wallerstein,
faremos agora, uma breve resenha de sua
biografia.
Formado em Sociologia, nasceu em
Nova Iorque (EUA) em 28 de Setembro de
1930. Wallerstein obteve toda a sua
formação acadêmica na Universidade de
Columbia (Nova Iorque). O sociólogo
lecionou na universidade até o início dos
anos 1970.
No Canadá lecionou Sociologia na
Universidade McGill até 1976. Entre 1976
e 1996 trabalhou na Universidade de
Binghamton, Nova Iorque. Foi professor
visitante em várias universidades do
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mundo. Desde 2000 é pesquisador sênior
na Universidade de Yale (EUA).
O trabalho de Wallerstein direcionou-
se inicialmente para os temas africanos
pós-coloniais5. No início dos anos 1970, o
teórico deslocou o seu interesse da África
para a história e a dinâmica da economia
mundial.
O reconhecimento internacional éconstante. Além de inúmeros títulos
honoríficos por diversas universidades ao
redor do mundo, vale mencionar o título
de Doutor Honoris Causa oferecido em
2009 pela Universidade de Brasília.
Feito isso, vamos delinear o caminho do
nosso livro. Ele será divido em cinco partes
com o objetivo de facilitar a compreensão
da obra wallersteiniana.
5 Ao final do livro o leitor encontrará uma listacompleta dos livros publicados por Wallerstein em
português (Brasil) e em inglês.
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Na primeira parte, As Origens da Análise
dos Sistemas-Mundo (ASM), traçaremos
uma visão geral das bases históricas e
metodológicas que favoreceram o
surgimento da ASM.
A crítica à Teoria da Modernização e as
às lutas de libertação nacional ocorridas na
África e Ásia no pós-45, configuraram-se
no pano de fundo para o seu surgimento.
Na segunda parte, A Análise dos
Sistemas-Mundo, veremos o arcabouço
téorico proposto por Immanuel
Wallerstein e suas críticas epistemólogicas
ao entendimento da nova dinâmica gerada
pelo surgimento do Terceiro Mundo e as
explicações para o seu atraso econômico e
social. Serão, ainda, explicitadas as
principais categorias que formam a ASM.
Na terceira parte, Os Ciclos Sistêmicos
de Acumulação, conheceremos a
contribuição de Giovanni Arrighi para a
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ASM no campo econômico, revelando as
influências de Antonio Gramsci e de
Nikolai Kondratieff 6.
A quarta parte desta obra, O Declínio da
hegemonia dos EUA, trata de uma das teses
mais polêmicas de Wallerstein. Em seu
livro Decline of American Power: The U.S. in
a Chaotic World 7 de 2003, Wallerstein já
fazia um amplo estudo sobre as origens da
crise de hegemonia dos EUA.
Como já assinalamos, a velha tradição
marxista sempre apontou a inevitabilidade
da derrocada capitalista. Inúmeros críticos
do marxismo contantemente apontavam
os “resquícios” do positivismo em tais
afirmativas. Vale lembrar que a “crença” de
um capitalismo perfeito e equilibrado, com
6 Economista russo que elaborou, nos anos 1930, osciclos econômicos que explicariam as crisesendêmicas do capitalismo sob uma perspectivaestrutural.7 Edição brasileira: O declínio do poder Americano.
Rio de Janeiro, Contraponto, 2004.
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uma “m~o invisível” regulando com
perfeição a dinâmica do sistema é tão
positivista quanto as afirmativas
marxistas.
A contribuição de Wallerstein para
este tema é justamente a indicação dos
motivos do declínio hegemônico norte-
americano. Ou seja, ele apontou o que
seriam os “elos fracos” do capitalismo
contemporâneo.
A crise econômica mundial de 2008
pareceu corroborar as análises de
Wallerstein até o momento. Sem a atuação
do “famigerado” Estado, as economias
norte-americana e mundial teriam entrado
em uma crise tão acentuada que o crack da
Bolsa de 1929 não se configuraria como
algo realmente importante do ponto de
vista histórico-econômico.
Outro símbolo contumaz da crise
hegemônica dos EUA é a capacidade de
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intimidar os outros países diminiu
consideravelmente.
Finalizando o nosso outlook sobre a
obra wallersteiniana teremos A Utopística.
Nesta parte abordaremos os caminhos e
perspectivas para o que está porvir na
visão de Wallerstein.
De que maneira devemos nos preparar
para o que irá ocupar o lugar do
capitalismo nesse momento de transição?
O que virá depois do capitalismo?
Uma obra instigante e
fundamentalmente importante para todosaqueles que querem ficar um “passo {
frente” na atualidade.
O principal mérito, em minha opinião,
de Immanuel Wallerstein é a suaatualidade na criação de visões do
momento por que passa o capitalismo e
suas influências sobre a vida de bilhões de
pessoas.
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Como ficaremos em um cenário de
desagregação do atual ciclo de
acumulaç~o? Os países ditos “emergentes”
terão capacidade de ocupar o lugar das
nações que compõem o atual ciclo de
acumulação? E os EUA? A sua derrocada é
inevitável ou o sistema se adaptará mais
uma vez e superará a sua atual crise?
Muitas perguntas? Respostas
certamente existem, mas não dentro do
senso comum difundido em jornais, e
revistas, ou por acadêmicos que fazem
parte da “folha de pagamentos” das
grandes corporações internacionais ou dasinstiuições de ensino vinculadas ao
processo de manutenção sistêmico.
Wallerstein está propondo as suas
análises. Por que não conhecê-las?
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As Origens da Análise dosSistemas-Mundo
O capitalismo representa a recompensa material paraalguns, mas para que isto possa acontecer nunca podehaver recompensa material para todos.
Immanuel Wallerstein8
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(ASM) surgiu da crítica ao modelode análise social e econômico
utilizado pelas Ciências Sociais desde o
século XIX. Do final do século XIX até 1970
as Ciências Sociais consistiam em uma
série de disciplinas específicas com maior
ou menor aceitação de suas fronteiras sob
o ponto de vista epistemológico.
Entre 1850 e 1945, as clivagensintelectuais mais importantes entre os
8 Ciência social e sociedade contemporânea. As
garantias evanescentes de racionalidade, In: Comoconcebemos o fim do mundo. Rio de Janeiro,
Editora Revan, p. 174-175, 2002.
A
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acadêmicos desde o século XIX eram: o
passado/presente e o mundo
Ocidental/resto do mundo. Dentro dessa
lógica, os historiadores estudavam o
passado e os economistas, cientistas
políticos e sociólogos estudavam o
presente.
A História, a Economia, a Ciência
Política e a Sociologia estavam voltadas
para o mundo ocidental, enquanto os
“orientalistas” e antropólogos estudavam o
“resto do mundo”9. Até 1945, as fronteiras
entre estas disciplinas eram bem
delimitadas.
No pós-guerra, segundo Wallerstein,
este modelo não conseguiu dar conta da
nova realidade surgida com o processo de
lutas de independência.
9 Os antropólogos estudavam as sociedades"primitivas" e os orientalistas estudavam as "grandes
civilizações” n~o-ocidentais.
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Sob ataque, o modelo vigente de análise
das Ciências Sociais começou a
enfraquecer. Para Wallerstein, “a maior
mudança na ciência social mundial nos 25
anos após 1945 foi a descoberta da
realidade contemporânea do Terceiro
Mundo”10.
Como consequência as pesquisas do
mundo ocidental foram divididas em três
domínios em função da nova configuração
do mundo moderno: o mercado
(economia), o Estado (ciência política) e a
sociedade civil (sociologia).
Um novo contexto se abriu no pós-45
com as lutas pela independência. Inúmeras
nações foram influenciadas pela proposta
socialista, principalmente pelo exemplo
bem-sucedido depois da Revolução Russa
10 A ascensão e futura falência da análise de sistemas-mundo, In: Como concebemos o fim do mundo. Op.
cit., p. 231.
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com a República Popular da China,
adotaram o modelo.
As ex-colônias trataram de defender
sua autonomia política e cultural no bojo
das lutas de libertação nacional e em
eventos internacionais como, por exemplo,
a Conferência de Bandung11 em 1955.
Tratava-se de um processo de reafirmação
e/ou autoafirmação perante o mundo
ocidental.
As novas nações que a priori não
deviam mais satisfações aos colonizadores,
estavam em pleno processo de “tomar as
rédeas” de seus destinos.
A perspectiva espistemológicas de
disciplinas específicas para os países ricos
(Metrópoles) e de outras para o “resto do
mundo”, entrou em declínio e a integração
11 A conferência reuniu inúmeros países do entãoTerceiro Mundo que não aceitavam a bipolaridadeentre EUA/URSS como forma de divisão do sistema
internacional.
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passou a ser necessária. A partir de então,
o estudo sobre América Latina, Ásia ou
África, tornou-se legítimo.
O fim do poder metropolitano trouxe à
tona uma triste realidade para as ex-
colônias, demonstrando o real caráter do
sistema capitalista como um todo. A ideia
de que a ocupação europeia seria
“benéfica” para os povos atrasados da
África e Ásia, não se mostrou verdadeira.
Pelo contrário.
O que se verificou foi um resultado
nefasto da “civilizaç~o” sobre os povos
“atrasados”, principalmente na África.
Todas as imagens de guerras, miséria e
epidemias que vemos hoje, tem em seu
bojo a trama criada pelos colonizadores
europeus em suas formas econômicas e/ou
sociais.
Com este cenário, os movimentos
políticos pós-coloniais, optaram por outro
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modelo que não fosse o do colonizador, daí
a vitória da proposta socialista e terceiro-
mundista entre asiáticos e africanos.
Como forma de fugir da
responsabilidade deste legado, alguns
setores da academia vinculados ao
capitalismo elaboraram teorias que
justificassem o “atraso” das ex-colônias e,
ao mesmo tempo, “resgatassem” a
dimensão benéfica do capitalismo
enquanto sistema organizador sócio-
econômico. A ideia do desenvolvimento em
etapas, um processo evolutivo, tornou-se a
grande “moda” no pós-guerra.
O desenvolvimento econômico (algo
inevitável, pela lógica dos seus defensores)
para a solução das mazelas econômicas e
sociais das ex-colônias ganhou força no
meio acadêmico ocidental, oferecendo ao
mesmo tempo, uma “perspectiva” teórica
de melhoria para as novas nações. A
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“culpa” do atraso social e conômico não
seria mais das ex-metrópoles ou do
capitalismo enquanto sistema, mas sim do
“baixo” desenvolvimento das antigas
colônias.
Surgia, assim, a Teoria da
Modernização (TM) cujo método de análise
era a comparação sistemática entre todos
os Estados. A TM partia da premissa de um
desenvolvimento linear e universal de
todas as sociedades na direção do
crescimento econômico. Sendo assim,
todas as ex-colônias chegariam
inevitavelmente ao desenvolvimentocopiando os “modelos de sucesso” das
antigas metrópoles independentemente de
que parte a ex-colônias estavam inseridas
na estrutura sistêmica do capitalismo12
.
12 Para um aprofundamento do desenvolvimentismo eseus resultados, ver o artigo Geocultura dodesenvolvimento, ou transformação da nossa
geocultura. In: Após o liberalismo em busca da
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A TM era perfeita para explicar o
resultado não muito favorável da
exploração colonial desde o século XIX. Na
verdade, o que se propunha agora era um
“choque” capitalista para as ex-colônias
que haviam sofrido com o capitalismo.
É na direção oposta que a ASM
apresentou-se como uma perspectiva
teórica para compreender e explicar a
nova realidade do momento.
Mais precisamente, “Se a an|lise de
sistemas-mundo tomou forma nos anos
[19]70, foi porque as condições do seu
surgimento estavam maduras no interior
do sistema-mundo”13.
Continuando, Wallerstein afirma que
‘(...) [a] “intenç~o original da an|lise dos
reconstrução do mundo. Rio de Janeiro, EditoraVozes, 2002.13 A ascensão e futura falência da análise de sistemas-mundo, In: Como concebemos o fim do mundo,
p. 231.
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sistemas-mundo [era] o protesto contra a
teoria da modernizaç~o”14 (...).
Finalizando, ele argumentou que,
It is at point that world-systems
analysis presented itself as aknowledge movement that made aseries of arguments which calledinto question first modernizationtheory and then, morefundamentally, the whole structureof the social sciences as they hadbeen constructed in the nineteenthcentury.15 (…)
O cenário para a formulação de
respostas ao status quo pós-colonial estava
formado.
14 Ibidem, p. 234.15
“É no ponto que a análise de sistemas-mundo seapresenta como um movimento de conhecimento quefez uma série de argumentos que pôs em causa ateoria da modernização e depois, maisfundamentalmente, toda a estrutura das ciênciassociais como tinham sido construídos no século XIX”.Immanuel Wallerstein. World System History,World-System Analysis. Encyclopedia of Life
Support Systems (EOLSS).
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A Análise dos Sistemas-Mundo
gora iremos conhecer as bases
teóricas da ASM. No capítuloanterior observamos as
contradições sistêmicas que permitiram o
surgimento da ASM.
A construção teórica elaborada porImmanuel Wallerstein possui três
influências importantes na sua
constituição: a Escola dos Annales, o
Marxismo e a Teoria da Dependência16.
Sendo da primeira*,
(…) “Wallerstein got from Braudel’shis insistence on the long term (lalongue durée). (…) The impact of the
Annales is at the generalmethodological level”.
16 Vela, Carlos A. Martinez. World Systems Theory.ESD. 83 Fall 2001, p.3.* (…) “Wallerstein tomou de Braudel a sua insistênciana longa duração (longue durré). (...) O impacto dos
Annales est | no nível metodológico geral”. Ibidem.
A
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A contribuição dos Annales através da
longue durré (longa duração) ajudaria na
compreens~o do “sistema-mundo” como
um “sistema-histórico” que possuiria um
“ciclo” de vida: a ascensão e a decadência.
Sendo assim, exisitira um processo
dinâmico e dialético que permitira a
existência de um sistema-mundo que seria
substituído por outro, ocorrendo, assim, os
períodos de transições17.
De Marx**,
“Wallerstein learned that (1) thefundamental reality if social conflict
among materially based humangroups, (2) the concern with a
17 A análise do sistema-mundo: a segunda fase. In: Ofim do mundo como o concebemos. Rio de Janeiro,Editora Revan, p. 306, 2002.**
“Wallerstein aprendeu que (1) a realidadefundamental esta materialmente baseada no conflitosocial entres os grupos humanos (2) a precupaçãorelevantes com a totalidade, (3) a natureza tansitóriadas formas sociais e téoricas sobre elas (4) acentralidade do processo de acumulação e dacompetitividade da luta de classes resulta dela (5) umsenso dialético do movimento através do conflito e da
contradiç~o”. Vela, Carlos A. Martinez. Op. cit. p. 3.
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relevant totality, (3) the transitory
nature of social forms and theoriesabout them, (4) the centrality of theaccumulation process andcompetitive class struggles thatresult from it, (5) a dialectical senseof motion through conflict and
contradiction”.
A Teoria da Dependência***,
(…) “draws heavily formdependency theory, a neo-Marxistexplanation of developmentprocesses, popular in thedeveloping world (…) Dependencytheory focuses on understandingthe ‘periphery’ by looking at core-periphery relations (…)”
Os economistas Karl Polanyi e Joseph
Schumpeter também forneceram
importantes observações para os trabalhos
de Wallerstein. Para alguns analistas, a
ASM seria de alguma maneira uma
*** (...) “inspira-se fortemente forma a teoria dadependência, uma explicação neo-marxista dosprocessos de desenvolvimento, popular no mundo emdesenvolvimento (...) A teoria da dependênciaconcentra-se na compreensão da "periferia", olhando
para as relações centro-periferia”. Ibidem.
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adaptação da TD por apresentar uma
explicação do processo de
desenvolvimento econômico atrelado à
dinâmica Centro (países ricos),
Periferia e Semi-Periferia (países
subdesenvolvidos)18.
Nesse processo, os países pobres
levariam desvantagens qualitativas nos
termos de troca entre produtos de pouco
valor agregado (matérias-primas, por
exemplo) por produtos de alto valor
agregado (indistrializados) das nações
mais desenvolvidas (Centro) dentro do
sistema-mundo capitalista. O desníveltecnológico entre as nações seria o ponto
central no processo de atraso econômico e
social e na manutenção desse status quo.
Sobre tais influências Wallerstein
construiu uma importante análise de
interpretação da realidade capitalista nos
18
Ibidem, p. 4.
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últimos trinta e cinco anos e com grande
influência nas Ciências Sociais. Como já
vimos, o teórico refuta19 ideia de ter
construído uma “teoria dos sistemas-
mundo”.
Segundo ele,
“[...] sempre resisti a usar o termo‘teoria dos sistemas-mundo’,frequentemente empregado paradescrever o que estamos discutindo,especialmente por não especialistas,e tenho insistido em chamar nossotrabalho de “análise de sistemas-mundo”. É cedo demais parateorizar de maneira minimamenteséria, e quando chegarmos ao ponto
de fazê-lo, é a ciência social e não ossistemas-mundo que devemosteorizar. Vejo o trabalho dos últimosvinte anos e de alguns anos adiantecomo limpeza de terreno que nospermitirá construir um uma
estrutura útil para a ciência social.
19 A ascensão e futura falência da análise de sistemas-mundo. In: O fim do mundo como o concebemos.
Rio de Janeiro, Editora Revan, p. 231, 2002.
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40
Como já assinalamos, a ASM surgiu
como um movimento de conhecimento que
fez uma série de argumentos que puseram
em xeque a TM e depois, mais
fundamentalmente, toda a estrutura das
Ciências Sociais como tinha sido
construída desde o século XIX.
Para Wallerstein, a ASM deveria conter
três eixos. Uma teria a ver com o espaço,
outra com o tempo, e com a epistemologia:
1) O Sistema-Mundo (não os Estados-Nação) é a unidade básica de análisesocial;
2)
Nem as epistemologias idiográficas20
e nomotéticas21 são úteis paraanálise da realidade social e
20
Corresponderiam, grosso modo, às ciênciashumanas/sociais, cuja metodologia não estarianecessariamente vinculada à criação de leis gerais degrande envergadura explicativa como os eventos queocorrem no universo.21 Estabelecem leis gerais para fenômenossusceptíveis serem reproduzidos para a compreensãodo universo. De modo geral, corresponderiam às
ciências exatas.
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41
3) A existência de limites das
disciplinas dentro das ciênciassociais não faz qualquer tipo desentido intelectual.
Wallerstein definia o sistema-mundo
como (...) “[uma] divisão territorial do
trabalho multicultural na qual as
produções e intercâmbio de bens básicos e
matérias-primas é necessária para a vida
de seus habitantes todos os dias”22.
Um detalhe importante sempre
mencionado pelos críticos da ASM é a
dicotomia macro-micro, local/nacional.
Para Wallerstein isso seria uma falsa
polêmica, pois delimitar se as fronteiras
sociais correspodem ao sistema-mundo ou
às nações-Estado é o menos importante.
Para o sociólogo norte-americano,
22 (...) “multicultural territorial division of labor inwhich the productions and exchange o basic goodsand raw materials is necessary for the everyday life of
its inhabitants”. Vela, Carlos A. Martinez. Op. cit., p.4.
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(...) a real novidade é que a
perspectivas dos sistemas-mundonega que a “Nação-Estado”represente em algum sentido uma“sociedade” relativamente autônomaque se “desenvolve” ao longo dotempo23.
O capitalismo é compreendido como o
Moderno Sistema Social, uma economia-
mundo, que possui inúmeros centros
políticos (Estados), que disputam a
hegemonia do sistema. Na ASM a definição
da hegemonia estaria acoplada aos ciclos
sistêmicos de acumulação24.
Para Rojas, a obra de Wallerstein
segue quarto eixos importantes25: o
histórico-crítico, a análise crítica, o estudo
da história mais imediata e a reflexão
epistemológica crítica.
23 A análise do sistema-mundo: a segunda fase. In: Ofim do mundo como o concebemos. Rio de Janeiro,Editora Revan, p. 306, 2002.24 Veremos esse tema no próximo capítulo.25
Rojas, Op. cit., p. 15-20.
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43
O eixo histórico-crítico corresponderia
à análise da história global do capitalismo
desde o século XVI até os dias de hoje. A
análise crítica corresponde à elucidação
dos principais processos do que seria o
”longo século XX” e todas as contradições
sistêmicas.
No estudo da história mais imediata
Wallerstein traça projeções do futuro do
sistema capitalista enquanto sistema-
mundo. O quarto e último eixo da
abordagem wallersteiniana é a reflexão
epistemológica crítica. Nesta etapa é feita
uma reavaliação crítica das ciências sociaise do saber dominante na economia-mundo
capitalista.
O trajeto para a construção da ASM
teve início em 1974, quando Wallerstein
publicou The Rise and Future Demise of the
World Capitalist System: Concepts for
Comparative Analysis, importante
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contribuição para os estudos históricos e
sociológicos. O objetivo de Wallerstein era
segundo Skopcol:
“a clear conceptual break withtheories of ‘modernization’ and thus
provide a new theorical paradigm toguide our investigations of theemergence and development ofcapitalism, industrialism, andnational states” 26.
O pesquisador Carlos A. Martinez Velaassinala que o objetivo era fazer umacrítica ampla aos paradigmas vigentes noperíodo:
“Criticisms to modernizationinclude (1) the reification of the
nation-state as the sole unit ofanalysis, (2) assumption that allcountries can follow only a singlepath of evolutionary development,(3) disregard of the world-historicaldevelopment of transnational
26 “uma clara ruptura conceitual com as teorias de"modernização" e, assim, fornecer um novoparadigma teórico para orientar as nossasinvestigações acerca do surgimento edesenvolvimento do capitalismo, o industrialismo, eos estados nacionais”. Apud Vela, Carlos A. Martinez.
Op. cit., p.2.
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structures that constrain local and
national development, (4)explaining in terms of ahistoricalideal types of ‘tradition’ versus‘modernity’, which are elaboratedand applied to national cases”27.
Dois anos depois, Wallerstein publicouThe Modern World System: Capitalist
Agriculture and the Origins of the European
World Economy in the Sixteenth Century ,
sua magnum opus.
Em The Modern World System,
Wallerstein teve como objetivo
desenvolver um quadro teórico que
permitisse a compreensão das mudançashistóricas envolvidas na ascensão do
mundo moderno.
27 “As críticas à modernização incluem (1) a reificação
do Estado-nação como a única unidade de análise, (2)pressuposto de que todos os países podem seguirapenas um caminho único de desenvolvimentoevolutivo, (3) desconsideração do desenvolvimentohistórico-mundial da transnacional estruturas quecondicionam o desenvolvimento local e nacional (4),explicando em termos de tipos ideais histórica da"tradição" versus "modernidade", que são elaboradas
e aplicadas a casos nacionais”. Op. cit., p. 2.
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46
Para Wallerstein, o moderno Sistema-
Mundo (capitalista) poderia ser explicado
pela crise do sistema feudal e a ascensão
da Europa Ocidental à supremacia mundial
entre 1450 e 1670. Tal perspectiva
facilitaria o entendimento do processo de
modernização no período assinalado,
proporcionando comparações entre partes
do mundo diferentes.
Wallerstein28 explica que,
Um sistema-mundo não é o sistemado mundo, mas um sistema que éum mundo e que pode ser, efrequentemente tem sido localizado
numa área menor que o globointeiro. Uma análise de sistemasmundiais argumenta que asunidades da realidade social dentrodas quais nós operamos, cujasregras nos restringem, são na
maioria tais sistemas mundos.
28 Apud Márcio Roberto Voigt. A Análise dossistemas-Mundo e a Política Internacional: uma
Abordagem Alternativa das Teorias das RelaçõesInternacionais. Textos de Economia. Florianópolis, v.
10, nº 2, 110, jul/dez, 2007, p. 110.
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O teórico apontava, ainda, a
existência de dois tipos de sistemas-
mundo: os impérios mundiais e as
economias-mundos. A diferenciação entre
os dois tipos de sistemas-mundo se daria
pelo que fato que os Impérios mundiais
seriam uma grande estrutura burocrática
com centralização política e uma divisão
de trabalho central, coexistindo culturas
múltiplas.
A economia-mundo, ao contrário, se
caracterizaria por uma grande divisão
central do trabalho, inúmeros centros
políticos mantendo a coexistência demúltiplas culturas.
O atual Moderno Sistema Mundial
teria sido formado no século XVI, na
Europa, expandindo-se pelo globo até o
século XX:
O mundo no qual nós estamosinseridos agora, ou seja, o sistemamundial moderno teve suas origens
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no século XVI. Este sistema mundial
foi então localizado em somenteuma parte do globo, principalmenteem regiões da Europa e dasAméricas. Ele se expandiu ao longodos anos e atingiu todo o globo. É, esempre foi, uma economia mundo.
É, e sempre foi, uma economiamundo capitalista29.
29
Apud Op. cit, p.111.
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Os Ciclos Sistêmicos de Acumulação
utro importante teórico paraconstrução da ASM foi o
economista italiano radicado nos
EUA, Giovanni Arrighi (1937-2009). Com o
seu livro O Longo Século XX 30
, entre outrasobras, Arrighi forneceu importante
colaboração.
A sua contribuição ocorreu na análise
da hegemonia dos EUA sob inspiraçãogramsciana e nos ciclos de acumulação
capitalista.
Arrighi era adepto, tal como
Wallerstein, dos Ciclos de Kondratieff,
30 Os livros O Longo Século XX , Caos e Governabilidadeno Moderno Sistema Mundial (em co-autoria comBeverly Silver) e Adam Smith em Pequim, emconjunto, formam sua trilogia sobre o capitalismo emperspectiva histórico-mundial e estão entre as
principais obras da Análise dos Sistemas-Mundo.
O
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elaboração teórica do economista russo
Nikolai Kondratieff na década de 1930. A
tese do economista russo para o
capitalismo era que o seu desenvolvimento
era baseado em ciclos.
Um ciclo de Kondratiev teria um
período de duração determinada
(de 40 a 60 anos), que corresponderia
aproximadamente ao retorno de um
mesmo fenômeno. Apresenta duas fasesdistintas: uma fase ascendente ( fase A) e
uma fase descendente ( fase B). Essas
flutuações de longo prazo seriam
características da economia capitalista.A primeira referência de Kondratieff
aos ciclos prolongados ocorreu em seu
livro A economia mundial e sua conjuntura
durante e depois da guerra (1922).
Para ele a natureza particularmente
aguda da crise do pós-guerra (Primeira
Guerra Mundial) se explicava pelo ponto
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de mudança no ciclo prolongado e o
começo de sua fase descendente. Em 1926,
Kondratieff apresentou, na sua obra "As
ondas longas da conjuntura" , a hipótese da
existência de ciclos longos31.
Partindo de curvas empíricas,
Kondratieff elaborou curvas teóricas que, a
seu ver, mostravam tendências seculares.
Considerou ter encontrado dois ciclos
longos e meio entre 1780 e 1920, iniciando
a fase descendente do terceiro ciclo.
31 Kondratieff fez sua base na análise de sériescronológicas de preços no atacado, de 1790 a 1920,das potências capitalistas no período: Estados Unidos,
da França e do Reino Unido.
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P a r t e s u p e r i o r d o g r á f i c o : m á q u i n a a v a p o r - a l g o d ã o / f e r r o v i a s / e n g e n h a r i a e l é t r i c a e q u í m i c a / p e t r o q u í m i c a e a u t o m ó v e i s / t e c n o l o g i a d a
i n f o r m a ç ã o .
P a r t e i n f e r i o r : p r o s p e r i d a d e / r e c e s s ã o / d e p r e s s ã o / r e c u
p e r a ç ã o . F o n t e : h t t p : / / w a p e d i a . m o b i / e n / F i l e : K o n d r a t i e f f_
W a v e . s v g
C I C L O S D E K O N D R
A T I E V
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53
Segundo Kondratieff, a base dos ciclos
longos é o desgaste, a reposição e o
incremento do fundo de bens de capital
básicos, cuja produção exigiria
investimentos enormes.
A reposição e o incremento desse fundo
não seria um processo contínuo e correria
por saltos. Os ciclos econômicos
ocorreriam a partir destes fatos.
Sob inspiração dos Ciclos de
Kondratieff, o sistema capitalista para
Arrighi teria passado por quatro ciclos
sistêmicos de acumulação e expansão:
genovês, holandês, britânico e norte-
americano.
Os ciclos sistêmicos de acumulação de
capital constituem uma cadeia de estágios
parcialmente superpostos, por meio dos
quais a economia capitalista europeia
transformou a economia mundial em um
intenso sistema de trocas.
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A superposição desses ciclos ocorre na
passagem de um para o outro, ou seja,
enquanto um ciclo está se aproximando do
seu término, ao mesmo tempo, outro ciclo
sistêmico de acumulação começa a se
formar. Esta fase de superposição ocorre
durante a chamada turbulência financeira
do ciclo que está chegando ao fim32.
32 “O aspecto principal do perfil temporal docapitalismo histórico aqui esquematizado é aestrutura semelhante de todos os séculos longos.Todos esses constructos consistem em trêssegmentos ou períodos distintos: (1) um primeiroperíodo de expansão financeira (que se estende de
Sn-1 a Tn-1), no correr do qual o novo regime deacumulação se desenvolve dentro do antigo, sendoseu desenvolvimento um aspecto integrante da plenaexpansão e das contradições deste último; (2) umperíodo de consolidação e desenvolvimento adicionaldo novo regime de acumulação (que vai de Tn-1 a Sn),no decorrer do qual seus agentes principaispromovem, monitoram e se beneficiam da expansão
material de toda a economia mundial; e (3) umsegundo período de expansão financeira (de Sn a Tn),no decorrer do qual as contradições do regime deacumulação plenamente desenvolvido criam espaçopara o surgimento de regimes concorrentes ealternativos, um dos quais acaba por se tornar (notempo Tn) o novo regime dominante”. Arrighi,Giovanni. O Longo Século XX. Rio de Janeiro, Editora
Contraponto,1996, pp. 219-20.
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Desse modo, as grandes expansões
materiais e financeiras ocorreriam quando
um bloco dominante tivesse acúmulo
suficiente para dominar o sistema mundial
que, ao chegar ao seu término, provocaria
a mudança de poder hegemônico. Quando
isso ocorre, um novo ciclo sistêmico de
acumulação tem início.
Arrighi corrobora que a contribuição
mais importante e perene para o
desenvolvimento do capitalismo como
sistema mundial encontra-se no âmbito
das altas finanças, durante o Renascimento
italiano do final do século XIV e início doséculo XV, que é o período do seu
surgimento.
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O primeiro ciclo sistêmico, o genovês,
segundo Arrighi, é derivado de Fernand
Braudel. (...) “a maturidade de todos os
grandes desenvolvimentos da economia
capitalista mundial é anunciada por uma
guinada peculiar do comércio de
mercadorias para o comércio de
moedas”33.
O capitalismo financeiro genovês
desenvolveu-se na segunda metade do séc.
XVI. Segundo Arrighi34,
(...) À medida que se intensificaramas pressões competitivas e que
houve uma escalada na luta pelopoder, o capital excedente, que jánão encontrava investimentoslucrativos no comércio, foi mantidoem estado de liquidez e usado parafinanciar a crescente dívidapública das cidades-Estados, cujo
Patrimônio e receita futura foramassim, mais completamente
33 Ibidem, p. 111.34
Ibidem, p. 112.
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alienados do que nunca a suas
respectivas classes capitalistas. (...)
O ciclo de acumulação genovês foi o
ponto máximo de acumulação de capital
sob uma perspectiva sistêmica e
estruturada:
(...) uma grande expansão materialda economia mundial europeia,através do estabelecimento denovas rotas de comércio e da
incorporação de novas áreas deexploração comercial foiacompanhada por uma expansãofinanceira que acentuou o controlede capital sobre uma economiamundial ampliada. Além disso, uma
classe capitalista claramenteidentificável (a genovesa)incentivou, supervisionou e sebeneficiou das duas expansões, emvirtude de uma estrutura deacumulação de capital que, em suamaior parte, já passara a existir
quando a expansão material teveinício35.
35
Ibidem, p. 129-130.
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Para Arrighi, esse padr~o seria o “ciclo
sistêmico de acumulaç~o”. Os capitalistas
genoveses seriam os precursores no século
XVI, fato que ocorreria mais três vezes.
No ciclo holandês a sua supremacia
comercial baseava-se em uma lógica
capitalista de poder (representada pela
fórmula Dinheiro-Trabalho-Dinheiro’),
enquanto a supremacia comercial
posterior, a inglesa que se inicia nos
primórdios do século XVIII, baseou-se em
uma síntese harmônica entre a lógica
territorialista de poder (T-D-T’) e a
capitalista (D-T-D’).
Essa síntese foi o fator fundamental
para o regime inglês ter alcançado um ciclo
sistêmico de acumulação muito mais
avançado do que o holandês36.
O ciclo britânico caracterizou-se por
processo contínuo de expansão,
36
Ibidem, p. 204.
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reestruturação e reorganização financeira
da economia mundial capitalista. Os
períodos de expansão financeira foram
momentos em que aumentaram as
pressões competitivas tanto sobre os
governos quanto empresas e comércio.
Essas pressões favoreceram a expansão
industrial inglesa, que se manteve na
supremacia econômica mundial até o início
do século XX.
O ciclo norte-americano seria a
expansão do Moderno Sistema Mundial
que ocorreu durante quase todo o século
XX e entrando em crise na década de 70 doséculo passado.
Segundo Arrighi, utilizando agora as
reflexões de Antonio Gramsci, a crise
hegemônica é um componente importante
para o fim do ciclo de acumulação:
O conceito de ‘hegemonia mundial’(...) refere-se especificamente àcapacidade de um Estado exercer
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funções de liderança e governo
sobre um sistema de naçõessoberanas. Em princípio, esse poderpode implicar apenas a gestãocorriqueira desse sistema, tal comoinstituído num dado momento.Historicamente, entretanto, o
governo de um sistema de Estadossoberanos sempre implicou algumtipo de ação transformadora, quealterou fundamentalmente o modode funcionamento do sistema37.
Estaríamos, portanto, vivendo a crise
do ciclo sistêmico de acumulação, fato que
favoreceria ao surgimento de novas
perspectivas antissistêmicas para a
superação da atual fase. Conforme assinalaWallerstein:
Estamos passando por umatransição em nosso atual sistemamundial, a economia mundial
capitalista, estará se transformandoem um outro sistema – ou em outrossistemas – mundiais. Não sabemosse essa mudança será para melhor
37
Ibidem, p. 27.
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ou para pior. E não saberemos até
que cheguemos lá, um processo quepode demorar ainda uns cinquentaanos a partir do momento em queestamos. Sabemos, no entanto, que operíodo de transição será umperíodo difícil para todos os que
vivenciarem38
.
38 Wallerstein, Immanuel. Utopística ou as decisõeshistóricas do século vinte e um. Petrópolis, Editora
Vozes, p. 49, 2003.
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O Declínio da Hegemoniados EUA
ara Wallerstein o declínio dos EUAcomeçou na década de 1970 e
decorre de uma lógica simples, a
priori, como ele mesmo assinala:
(...) os fatores econômicos, políticose militares que contribuíram para ahegemonia dos EUA são os mesmosfatores que produzirão o iminentedeclínio dos EUA39.
Historicamente a hegemonia dos EUAteve início com a recessão mundial de
1873, quando a sua economia cresceu
acentuadamente ao mesmo tempo em que
a economia britânica entrava em uma
inflexão. No período entre 1873 e 1914, os
EUA e a Alemanha tornaram-se os
39 O Declínio do poder americano. Rio de Janeiro,
Contraponto, p. 21, 2004.
P
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principais produtores de aço e produtos
químicos.
A busca pela hegemonia tornou-se um
processo natural. A Segunda Guerra
Mundial proporcionou uma posição
privilegiada para os EUA que não sofreram
diretamente os efeitos catastróficos da
guerra. Seu território não sofreu nenhum
dano em termos físico-estruturais, ao
contrário da Europa e Ásia.
Com a derrota do nazismo, o socialismo
tornou-se o principal obstáculo à
hegemonia dos EUA em termos globais. A
proposta socialista ganhou força no
período pós-45 através das vitórias da
URSS sobre o III Reich.
Se por um lado os soviéticos
colaboraram decisivamente para o sucesso
da vitória dos Aliados, sob o ponto de vista
ideológico, o Kremlin conseguiu uma
posição privilegiada ao projetar para o
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mundo uma imagem de nação com grande
força militar e defensora dos valores
universais de igualdade. Ao mesmo tempo,
ocorreu a expansão de sua influência
política sobre o Leste Europeu através da
formação de “Estados-satélites”.
Na Ásia, os EUA também tiveram alguns
reveses: a vitória de Mao Zedong na China
(1949), a divisão das Coreias (1953) e a
unificação do Vietnã sob a liderança de Ho-
Chi Min (1976).
Apesar dos “problemas” verficados na
região, a atuação dos EUA na reconstrução
do Japão a partir dos anos 1950, permitiu
aos norte-americanos encontrar “brechas
ideológicas” importantes para manter o
comunismo longe dos seus aliados. O Japão
tornou-se uma “vitrine” do capitalismo na
Ásia demostrando com o decorrer do
tempo como a economia de mercado era
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um “modelo de sucesso” a ser seguido
e/ou copiado.
Segundo Wallerstein, o sucesso dos
EUA no Pós-guerra como potência
hegemônica é que provocou o início de sua
própria decadência:
O sucesso dos EUA como potênciahegemônica no período do após-guerra criou as coondições para quea sua pópria hegemonia fosseminada. Este processo pode sercapturado em quatro símbolos: aguerra do Vietnã, as revoluções de1968, a queda do Muro de Berlimem 1989 e os ataques terroristas desetembro de 2001. Cada símbolo
acresce ao anterior, culminando nasituação em que os EUA seencontram hoje: uma superpotênciasolitária à qual falta um verdadeiropoder, um líder mundial queninguém segue e poucos respeitam,
e uma nação perigosamente àderiva, imersa em um caos globalque não pode controlar.40
40
Ibidem, p. 25.
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Os quatro eventos apontados por
Wallerstein representariam cada momento
o declínio do poder norte-americano.
Gastos militares em linha crescente, o
enfraquecimento ideológico do sistema
capitalista enquanto criador de uma
“sociedade livre”, por exemplo,
demonstram a lógica deste quadro
segundo o teórico.
A Era Bush (2001-2009) corroeu
totalmente a geocultura41 norte-
americana. De antigos “defensores do
mundo livre”, os EUA passaram a ser
associados à opressão e à tortura. SobGeorge W. Bush, os EUA tornaram-se um
vilão global.
41 Segundo Wallerstein, “Geocultura (...) termo criadopor analogia com o da geopolítica, designa normas epráticas discursivas amplamente reconhecidas comolegítimas no seio de um sistema-mundo”.Comprendre le Monde. Paris, La Découvert, p. 150,
2006.
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Sem o velho embate da Guerra Fria, os
EUA ficaram sozinhos no palco global e
para execer o seu poder agora amplamente
questionado, tiveram que utilizar o hard
power 42 de maneira mais incisiva.
Um aspecto que deve ser reafirmado é
que o enfraquecimento da hegemonia
norte-americana é um processo que ocorre
desde os anos 1970 e, como vimos, envolve
inúmeros fatores.
O desgaste inevitável do poder
hegemônico foi acentuado com a grande
competição intracapitalista a partir do pós-
guerra: Tigres Asiáticos, China e Japão.
Sem a Guerra Fria como pano de fundo
e justificativa para os seus atos arbitrários
em todo o planeta, os EUA se encaixam
42 Termo que representa a utilização de meioscoercitivos (guerras, invasões, sanções econômicasetc.) por um Estado contra outro, para obter a
satisfação dos seus interesses políticos e econômicos.
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perfeitamente na visão de Wallerstein: um
líder que ninguém segue ou respeita.
Tendo em mente os fatores apontados,
é possível explicar o surgimento de
“pontos de contato” entre Washington e
alguns países como Irã e Coreia do Norte.
Ou a perda da influência sobre a América
Latina, como atestam os governos “mais {
esquerda” de Cháves (Venezuela), Rafael
Correa (Equador) e Evo Morales (Bolívia)
ou mais próximos ao “centro” como o casal
Kirchner (Argentina) e Lula com eleição e
sua sucessora, Dilma Roussef. Uma
liderança realmente em declínio sob oponto de vista político.
Com todo o foco da política externa
norte-americana praticamente direcionado
para o Oriente Médio desde o fim da
Guerra Fria, a Casa Branca afrouxou o seu
“controle” sobre antigas áreas menos
importantes do planeta, mas que
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ganhavam algum destaque no chessboard
internacional em virtude da grande
“ameaça” comunista.
A adminstração de Barack Obama vem
tentando reverter esta perda de força
ideológica procurando o uso soft power 43
como caminho mais fácil para recuperar o
seu prestígio.
Mas, n~o devemos esquecer que o “líder
ainda é líder” apesar de sua perda de
legitimidade.
43 Termo criado por Joseph Nye, professor daUniversidade de Harvard, para designar a capacidadede um Estado influenciar ideologicamente eculturalmente outras nações sem a utilização demeios coercitivos para obter sucesso na defesa dos
seus interesses. É o oposto ao conceito de hard power .
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A Utopística
egundo Wallerstein, a atual crise
sistêmica do capitalismo está na
ordem do debate. Tal fato favorece
a seguinte pergunta: o que está por vir? As
contradições sistêmicas aumentam dia
após dia, apesar de “poucas vozes”
apontarem tais problemas de maneirarealmente efetiva como Wallerstein e
Arrighi, por exemplo.
O fato é que a transição histórica, a
bifurcação sistêmica atual requer uma
profunda análise sobre o futuro e o que
está sendo gestado nesse momento. O que
ocupará o lugar do capitalismo? Até 1990
o socialismo “real” (ou n~o) seria apontadocomo o substituto. Mas, e agora?
O sociólogo norte-americano é
categórico na afirmativa de estaríamos
S
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passando por uma transição no sistema
capitalista mundial. Contudo, não é
possível detectar se a mudança será para
um sistema ou vários sistemas44.
Será para melhor ou pior? Wallerstein
não ousou apontar isso. Para uma
avaliação correta do que está acontecendo
e do que poderá acontecer, Wallerstein
elaborou a “Utopística”. Para ele a
Utopística seria:
(...) uma avaliação profunda dasalternativas históricas, o exercíciode nosso juízo para examinar aracionalidade substantiva de
possíveis sistemas históricosalternativos; é uma avaliação sóbriae racional e realista dos sistemassociais humanos, em que condiçõesele podem exisitir, e as áreas queestão abertas à criatividade
humana. Não o rosto de um futuroperfeito (e inevitável) e sim o rostode um futuro cujas melhoras sejamverossímeis e que seja
44 Utopística ou as decisões históricas de século
vinte e um. Petrópolis, Editora Vozes, p. 49, 2003
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historicamente possível (embora
longe de ser inevitável) assim éum exercício que ocorresimultaneamente na ciência, napolítica e na moralidade45.
A Utopística, portanto, é a necessidade
real do conhecimento de como o sistema
social funciona na atualidade. Somente a
partir disso poderemos elaborar formas de
superação da atual transição histórica que
estamos passando.
A discussão sobre futuro deve envolver
além do entendimento do que está
ocorrendo, a perspectivade construção de
algo “novo”. Daí a importância detrabalharmos as perspectivas sob a forma
de um trinômio: ciência-política-
moralidade.
A lógica predatória do capitalismo é
uma característica inata do sistema, apesar
das tentativas de “domesticaç~o” do seu
45
Ibidem, p. 8.
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caráter impiedoso cujo exemplo “bem-
sucedido” é o Welfare State46 europeu. São
sempre mencionados os casos da França,
Suécia e da Alemanha. Não devemos
esquecer que tais benefícios sociais na
realidade são recursos deslocados de
outras partes do mundo (sociedades) sob a
forma de juros, atrasos tecnológicos e
sociais etc.
Contudo, a montagem de aparatos
jurídico-estatais que garantam benefícios
sociais aos trabalhadores foge totalmente à
lógica sistêmica do capitalismo histórico.
Portanto, não é possível a igualdade paratodos. O sistema não suporta tal golpe.
Portanto, o primeiro passo é realmente
termos o conhecimento do sistema
histórico no qual vivemos. Conhecimento
46 Em português, Estado do Bem-Estar Social ouEstado-providência. Refere-se ao sistema de garantiassociais à população, implementado principalmente na
Europa no pós-guerra.
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sem o “véu ideológico”, a “geocultura”
como coloca Wallerstein, o sucesso mítico
com algo comum e de acesso a todos.
Trata-se, portanto, de uma procura pela
apreensão da Totalidade como substrato
fundamental para o avanço social. E uma
das formas de avanço é estarmos
preparados para a discussão das
estruturas do conhecimento47. Após esse
processo estaremos aptos a (re)discutir a
política e a moralidade sob um novo
paradigma social.
47
Op. cit., p. 12.
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As Perspectivas do Mundo
Contemporâneo
crise econômica mundial de
2008-200948 certamente deixou o
mundo atônito, pricipalmente ao
demonstrar a fragilidade da superpotência
ou como preferem alguns, a hiperpotência.
Mais do que apontarmos este o aquele
país em crise, devemos compreender que a
crise é estrutural e permanente. O leitor já
deve ter notado que as crises mundiais
estão em espaço de tempo cada vez menor
e a intensidade (gravidade) são cada vez
maiores. Isso no plano econômico.
48 A crise econômica internacional que teve comoepicentro os EUA. O banco Lehman Brothers fundadona segunda metade do séc. XIX decretou sua falência e“contaminou” o sistema financeiro do país do mundo.O governo dos EUA desde então, socorreram as suasinstituições financeiras com aproximadamente dois
trilhões de dólares.
A
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O planeta também dá os seus sinais de
crise. O modelo baseado exclusivamente na
ideia do consumo acima de tudo vem
provocando catástrofes em várias regiões
do planeta com efeitos inimagináveis até
algumas décadas atrás.
O que devemos notar é a “feiç~o
estrutural” de tais problemas, sejam no
âmbito econômico ou político, além de
lembrarmos que os dois estão interligados
inexoravelmente. Salientamos que a ASM é
uma das construções teóricas que, a nosso
ver, possui as categorias necessárias para
superarmos a atual bifurcação sistêmica.Tal como apontou Wallerstein há algumas
décadas, estamos vivendo essa bifurcação.
A base dos nossos problemas é o
capitalismo histórico que há pelo menos
200 anos degrada e dilapidada o meio
ambiente com intensidade cada vez maior.
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O diagnóstico e algumas soluções foram
apontadas. Resta, agora, trabalharmos
utopisticamente na elaboração do Novo.
BibliografiaARRIGHI, Giovanni. Hegemonia eMovimentos Anti-Sistêmicos. In: OsImpasses da Globalização: Hegemonia eContra-Hegemonia (Vol.1). São Paulo, Ed.
Loyola, p. 107-121, 2003.___________. Adam Smith em Pequim:origens e fundamentos do séc. XXI. SãoPaulo, Boitempo Editorial, 2008.
_____________ et al. Antisystemic
movements. New York, Verso, 1997.____________. Hegemony and antisystemicmovements. Rio de Janeiro, SeminarInternational REGGEN 2003.
____________. O longo século XXI. Rio deJaneiro, Editora UNESP,1996.
____________. A ilusão do desenvolvimento.Petrópolis, Editora Vozes, 6ª ed., 1998.
BRAUDEL, Fernand. La dynamique ducapitalisme. Éditions Flammarion, 2008.
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__________. Civilization matérielle,économie et capitalisme – 2 . Les jeux del’echange. Paris, Armand Colin, 1979.
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WALLENSTEIN, Immanuel. Geopolitics,class politics, and the current world
disorder. Rio de Janeiro, SeminarInternational REGGEN 2003.
_______________. The Modern WorldSystem: Capitalist Agriculture and theOrigins of the European WorldEconomy in the Sixteenth Century. New
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_______________. Universalismo europeu.São Paulo, Boitempo Editorial, 2007.
________________. O declínio do poder Americano. Rio de Janeiro, Contraponto,
2004.___________________. Utopística ou asdecisões históricas de século vinte e um.Petrópolis, Editora Vozes, 2003.
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___________________. O fim do mundo comoconcebemos. Rio de Janeiro, EditoraRevan, 2002.
__________________. Capitalisme etéconomie-monde (1450-1640). Paris,Flammarion, 1980.
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Livros publicados no Brasil
Publicado em 2001, apresentatextos sobre a dinâmicacapitalista à luz do marxismocrítico.
Editora Contraponto
Publicado em 2002, faz umbalanço da onda liberal e dosseus valores que se
tornaram dominantes após adesintegração da URSS.
Editora Vozes
Publicado em 2002, este
livros traz inúmeros artigospublicados pelo autor entre1995 e 1998.
Editora Revan.
Publicado em 2003, traz a sériede Conferências Sir DouglasRobb proferidas naUniversidade de Auckland(Nova Zelândia)
Editora Vozes.
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Publicado em 2004, o autorexpõe a sua tese sobrea decadência econômicae, pricipalmente, delegitimidade dos EUA.
Editora Contraponto
Publicado em 2006, apresentaimportantes textos críticossobre as Ciências Sociais,
Desenvolvimento e Sistemas–Mundo.
Editora Vozes e Letras
Publicado em 2007, faz umacrítica contudente ao ideárioeuropeu universalista de defesados direitos individuais ehumanos.
Editora Boitempo.
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Bibliografia Completa de
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1967: África: The Politics of Unity . NewYork: Random House.
1969: University in Turmoil: The Politics ofChange. New York:Atheneum.
1972 (com Evelyn Jones Rich): África:Tradition & Change. New York: RandomHouse.
1974: The Modern World-System, vol. I:Capitalist Agriculture and the Origins of theEuropean World-Economy in the SixteenthCentury . New York/London: AcademicPress.
1979: The Capitalist World-Economy .
Cambridge: Cambridge University Press.1980: The Modern World-System, vol. II:Mercantilism and the Consolidation of the
49 Bibliografia retirada dos sites Immanuel
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1986: África and the Modern World .Trenton, NJ: África World Press.
1989: The Modern World-System, vol. III:The Second Great Expansion of the
Capitalist World-Economy, 1730-1840's.San Diego: Academic Press.
1989 (com Giovanni Arrighi e Terence K.Hopkins): Anti-systemic Movements.London: Verso.
1990 (com Samir Amin, Giovanni Arrighi eAndre Gunder Frank): Transforming theRevolution: Social Movements and theWorld-System. New York: Monthly ReviewPress.
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Class: Ambiguous Identities. London: Verso.1991: Geopolitics and Geoculture: Essays onthe Changing World-System. Cambridge:Cambridge University Press
1991: Unthinking Social Science: The Limits
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Immanuel Wallersteinhttp://www.faculty.rsu.edu/~felwell/Theorists
/Wallerstein/index.htm
Grupo de Economia Política do Sistema-Mundo/UFSChttp://www.gpepsm.ufsc.br/html/index.php
World-Systems Archives
http://wsarch.ucr.edu/
Fernand Braudel Centerhttp://fbc.binghamton.edu/
The Institute for Research on World-
Systemshttp://irows.ucr.edu/
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Entrevista de I. Wallerstein
disponíveis na Internet
Immanuel Wallerstein (ProgramaMilênio da GloboNews)- legendas emportuguêshttp://www.youtube.com/watch?v=8X
eJICHkNW4Questions sur les États-Unis et leMonde : Les États-Unis face à leurdecline – Francês (2006)http://www.youtube.com/watch?v=nBuusuj7c3s
Breakfast with ImmanuelWallerstein - On Latin America -Inglês (2010)http://www.youtube.com/watch?v=G30fv0ZUWEo
Breakfast with Wallerstein - OnCentral Asia – Inglês (2010)http://www.youtube.com/watch?v=biDhDJ3vj0Y
Immanuel Wallerstein on the end ofCapitalism - Inglês (2009)http://www.youtube.com/watch?v=nLvszWBf6BQ
Wallerstein on the Structures ofKnowledge (Inglês) http://www.youtube.com/watch?v=THR_Yks7YkU
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público brasileiro a maior diversidade possível deenfoque. Como aponta o Organizador na Apresentaçãoda obra:
(...) Refletir sobre as novas (re) configuraçõessistêmicas que surgiram tendo como base o “binômio”ordem/desordem do final do século XX tornou-se apedra de toque dos pesquisadores envolvidos com a
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