Análise Tecno-económica da recolha e triagem de resíduos urbanos.
Renato Simão Gonçalves Ribeiro
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia do Ambiente
Júri
Presidente: Professor Tiago Morais Delgado Domingos
Orientador: Professor Paulo Manuel Cadete Ferrão
Co-orientador: Engenheiro António Maria Raso da Cunha Lorena
Vogal: Professora Tânia Alexandra dos Santos Costa e Sousa
Novembro 2014
ii
Resumo
A reciclagem de embalagens surge como uma possibilidade de tratamento de resíduos mais
eficiente. Uma das principais preocupações é a necessidade de se obter meios cada vez mais sustentáveis
na otimização não só técnica mas também económica na gestão de resíduos urbanos, nomeadamente
nas embalagens, pelo que o principal objetivo deste trabalho consistiu em analisar o sistema de recolha
seletiva de embalagens, desde a fonte de produção até ao seu destino final, nomeadamente reutilização
ou fim de vida das embalagens. Estudou-se assim, os custos e benefícios da recolha seletiva de
embalagens, para os diferentes tipos de recolha, porta-a-porta, ecopontos e ecocentros. O processo de
reciclagem implica custos não só para as entidades operadoras dos resíduos recicláveis, mas também
para as entidades responsáveis pela retoma dos mesmos no mercado. A análise económica deste trabalho
teve como base o caso português, recorrendo-se ao sistema de gestão de resíduos e às entidades que
dele fazem parte, de modo a se perceber que funcionalidades estavam disponíveis nos sistemas de
recolha seletiva de embalagens, a fim de se obter um conjunto de resultados que revelassem de que modo
operam essas entidades, não só a nível tecnológico mas também a nível financeiro. Os resultados incluem
um modelo generalista para o sistema de gestão de resíduos recicláveis, um simulador para uso de casos
independentes.
Palavras-Chave:
Análise Económica; Embalagens; Sistemas de Gestão de Resíduos; Reciclagem; Custos; Benefícios.
iv
Abstract
Packaging recycling emerges as a possibility for more efficient treatment of waste. A major concern
is the need to achieve more sustainable means by optimizing not only technical but also economic ways in
urban waste management, more specific the packaging, so the aim of this study was to examine the system
of selective collection of packaging from the source of production to its final destination, including end of
life or reuse of packaging. Was studied as well in this work, the costs and benefits of selective collection of
packaging for different types of collection, including door-to-door, drop off systems and recycling centers.
The recycling process involves costs not only for operators of recyclable waste authorities, but also to those
responsible for recovery of the same market. The economic analysis of this work was based on the
Portuguese case, resorting to the waste management system and the entities that are part of it, so as to
realize that functionality were available in selective collection of packaging systems in order to obtain a set
of results that reveal how these entities operate, not only in technology but also financially. The results
include a general model for the management system of recyclable waste, a simulator for use of independent
cases.
Key-Words:
Economic Analysis; Packaging; Waste Management Systems; Recycling; Costs; Benefits.
v
Agradecimentos
Primeiramente gostaria de expressar a minha imensa gratidão ao meu orientador, Professor Doutor Paulo
Ferrão, e ao meu Co-orientador, Doutor António Lorena, pelo seu incessável empenho e dedicação, pelo
vasto conhecimento transmitido, pela constante motivação que me transmitiram e ideias sugeridas, e
sobretudo pela cumplicidade e pelo bom ambiente que proporcionaram.
Como não podia deixar de ser, agradeço aos meus familiares mais chegados nomeadamente à minha
Mãe, Pai e Irmão, pelo apoio constante e incondicional transmitido em todos os momentos da minha vida,
pela compreensão e amor demonstrado ao longo desta importante etapa.
Não poderia deixar de agradecer a todos os meus amigos, de uma forma especial ao Magno Mendes,
João Sargo, António Ramos, Tiago Seco, Mariana Matos, bem como a todos os que estiveram presentes
ao longo desta etapa, por toda a amizade, companheirismo, solidariedade e espírito de entreajuda que se
estabeleceu entre nós.
Por fim e não menos importante, agradeço à minha Avó, que estará para sempre presente na minha
memória!
vi
Índice Resumo .......................................................................................................................................................... ii
Abstract ........................................................................................................................................................ iv
Agradecimentos ............................................................................................................................................. v
Índice de Equações ......................................................................................................................................... x
1 Introdução ............................................................................................................................................. 1
1.1 Enquadramento Teórico ................................................................................................................. 1
1.2 Objetivos ........................................................................................................................................ 4
1.3 Definição de Âmbito ....................................................................................................................... 5
1.4 Organização da Tese ....................................................................................................................... 5
2 Sistema de Gestão de Resíduos .............................................................................................................. 7
2.1 Caracterização dos sistemas de gestão de resíduos urbanos ........................................................... 7
2.2 Enquadramento Estratégico e Legal .............................................................................................. 10
2.3 Gestão de Resíduos de Embalagem em Portugal ........................................................................... 14
Recolha Seletiva de Embalagens ........................................................................................................... 15
2.4 Triagem ........................................................................................................................................ 21
3 Revisão Bibliográfica com vista a determinar parâmetros para o modelo .............................................. 29
3.1 Tendências Internacionais ............................................................................................................ 30
3.2 Modelos Operacionais de Recolha ................................................................................................ 34
Modelos Económicos de Gestão de RU ................................................................................................. 37
3.3 Motivação do Estudo .................................................................................................................... 39
4 Modelo Tecnológico-Económico ........................................................................................................... 40
4.1 Metodologia ................................................................................................................................. 40
4.2 Dados ........................................................................................................................................... 43
4.3 Modelo Numérico ........................................................................................................................ 45
4.3.1 Custos Considerados ................................................................................................................ 45
4.3.2 Benefícios Considerados ........................................................................................................... 49
4.4 Pressupostos do Modelo .............................................................................................................. 51
Intervalos de valores ............................................................................................................................ 51
4.5 Desenvolvimento de Interface do Modelo .................................................................................... 54
5 Resultados ............................................................................................................................................ 57
5.1 Simulações Porta-a-Porta ............................................................................................................. 57
5.2 Simulações Ecoponto.................................................................................................................... 63
6 Conclusões ........................................................................................................................................... 68
vii
Indicações para um trabalho futuro .......................................................................................................... 69
7 Bibliografia ........................................................................................................................................... 70
Anexo II .......................................................................................................................................................... X
viii
Índice de Figuras
Figura 2.1-1: Distribuição dos destinos de RU em Portugal Continental e RAM em 2012, Fonte: APA e INE, 2013. ................................................................................................................................................. 7
Figura 2.1-2: Produção e capitação de RU em Portugal Continental no período 2002 – 2012, Fonte: GOV Proposta PERSU 2020. ..................................................................................................................... 8
Figura 2.1-3: Sistemas de Gestão de Resíduos em Portugal Continental, Fonte: Proposta PERSU 2020. ............................................................................................................................................................. 9
Figura 2.2-1: Hierarquia dos resíduos, Adaptado: PNGR, 2011. .......................................................... 11
Figura 2.3-1: Taxa de reciclagem de resíduos de embalagem. Adaptado: APA, 2013 ....................... 15
Figura 2.3-2: Diagrama de fluxos dos RE e seus respetivos fluxos económicos. ............................... 16
Figura 2.3-3: Valores de retomas de material reciclado em 2013, Fonte: SPV ................................... 18
Figura 2.3-4: Número de habitantes por ecoponto em 2011 em Portugal Continental, Fonte: PERSU 2020 ............................................................................................................................................................ 19
Figura 2.4-1: Abridor de sacos (14) ......................................................................................................... 21
Figura 2.4-2: Aspirador de filme (15) ....................................................................................................... 22
Figura 2.4-3: Crivo plano (15) ................................................................................................................... 22
Figura 2.4-4: Crivo rotativo (14) ................................................................................................................ 23
Figura 2.4-5: Classificador de ar (14) ...................................................................................................... 23
Figura 2.4-6: Mesa de triagem circular com lançamento frontal e lateral (19) ..................................... 24
Figura 2.4-7: Separador magnético (20) .................................................................................................. 25
Figura 2.4-8:Separação por corrente de Foucault (20) .......................................................................... 25
Figura 2.4-9: Separador balístico (20) ..................................................................................................... 26
Figura 2.4-10: Perfurador de garrafas de plástico (21) .......................................................................... 27
Figura 2.4-11: Prensa de enfardar (15) ................................................................................................... 27
Figura 2.4-12: Manuseamento de fardos de papel através de uma multicarregadora (15) ................ 28
Figura 3.1-1:Panorama dos Resíduos na Alemanha (23) (24) .............................................................. 30
Figura 3.1-2: Panorama dos resíduos na Coreia do Sul (25) ................................................................ 31
Figura 3.1-3: Panorama dos resíduos nos EUA (26) (27) ...................................................................... 31
Figura 3.1-4: Panorama dos resíduos na Inglaterra (29) (30) ............................................................... 32
Figura 3.1-5: Panorama dos resíduos em Espanha (31) (32) ............................................................... 32
Figura 3.2-1: Exemplo de contentorização e recolha seletiva de RU por ecoponto e porta-a-porta .. 36
Figura 4.1-1: Diagrama ilustrativo das fases de construção do modelo ............................................... 41
Figura 4.1-2: Passos para a operacionalização do método de simulação de Monte Carlo. Adaptado de Shamblin e Stevens, 1974 ................................................................................................................... 43
Figura 4.5-1:Interface do modelo de simulação ...................................................................................... 56
Figura 5.1-1: Histograma representativo do custo total do sistema porta-a-porta ............................... 57
5.1-2: Gráfico representativo do custo total do sistema porta-a-porta em função do número de habitantes por contentor ........................................................................................................................... 60
Figura 5.1-3: Gráfico representativo do custo total do sistema em função do valor de triagem ......... 62
Figura 5.2-1: Histograma representativo do custo total do sistema ecoponto ..................................... 63
Figura 5.2-2: Custo total do sistema fazendo variar a densidade populacional que utiliza o contentor .................................................................................................................................................................... 64
x
Índice de Equações
Equação 4.3-1: Custo de contentorização ...................................................................................... 45 Equação 4.3-2: Valor do contentor ................................................................................................. 45 Equação 4.3-3: Custo de recolha de recicláveis ............................................................................. 46 Equação 4.3-4: Custo total do veículo ............................................................................................ 46 Equação 4.3-5: Custo de gestão do veículo ................................................................................... 46 Equação 4.3-6: Custo do combustível ............................................................................................ 47 Equação 4.3-7: Custo da equipa de recolha ................................................................................... 47 Equação 4.3-8: Custo total de contentorização e recolha ............................................................... 48 Equação 4.3-9: Custo total da recolha seletiva de RE .................................................................... 51 Equação 5.1-1: Cálculo de número de sacos utilizados .................................................................. 59
xi
Índice de Tabelas
Tabela 2.2-1: Eixos de atuação para cumprimento das metas até 2020. Adaptado: PERSU 2020 .. 12
Tabela 2.2-2: Documentos estratégicos da redução de resíduos. Adaptado: PNGR.......................... 13
Tabela 2.3-1: Infraestruturas existentes nas SMAUT em 2012, Fonte (12) ......................................... 20
Tabela 2.3-2: RE enviados para reciclagem provenientes da recolha seletiva em 2012, Fonte (12) 20
Tabela 3.2-1:Lista de variáveis recolhidas através da revisão bibliográfica efetuada ......................... 39
Tabela 4.2-1: Dados para veículos de recolha e contentores ............................................................... 44
Tabela 4.3-1: Valor de Contrapartida para 2011, Fonte: SPV ............................................................... 49
Tabela 4.3-2: Valor de Contrapartida para 2011, Fonte: SPV ............................................................... 50
Tabela 4.3-3: Forma de cálculo do VC, Fonte: SPV ............................................................................... 50
Tabela 4.3-4: Valores de retoma de materiais para o ano de 2013, Fonte: SPV ................................ 50
Tabela 4.4-1:Valores das varáveis de entrada no sistema de recolha PaP ......................................... 52
Tabela 4.4-3: Valores das varáveis de entrada no sistema de recolha ecoponto ............................... 53
Tabela 5.1-1: Tabela de simulações realizadas e respetivos resultados ............................................. 58
Tabela 5.1-2: Tabela de simulações realizadas para o parâmetro Triagem e respetivos resultados 61
Tabela 5.1-3: Simulações realizadas à variação do parâmetro valor de contrapartida (VC) .............. 61
Tabela 5.2-1: tabela de simulações para o parâmetro utilização por contentor no sistema ecoponto .................................................................................................................................................................... 64
Tabela 5.2-2: Tabela de simulações variando o custo de triagem ........................................................ 65
Tabela 5.2-3: Simulações com variações de parâmetros na recolha Pap e Ecoponto ....................... 65
Tabela 6.1-1: Base de dados 1 ................................................................................................................... I
Tabela 6.1-2: Base de dados 2 .................................................................................................................. II
Tabela 6.1-3: Base de dados 3 .................................................................................................................. II
xii
Lista de símbolos
Siglas
APA – Agência Portuguesa do Ambiente
CDR – Combustível Derivado de Resíduos
DQR – Diretiva Quadro “Resíduos”
EGF – Empresa Geral do Fomento
ET – Estação de Triagem
EUA – Estados Unidas da América
INE – Instituto Nacional de Estatística
PAYT – Pay As You Throw
PaP – Porta-a-Porta
PEAD – Polietileno de Alta Densidade
PERSU – Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos
PET – Plitereftalato de Etileno
PNGR – Plano Nacional de Gestão de Resíduos
PVC – Policloreto de Vinil
RE – Resíduos de Embalagem
RS – Recolha Seletiva
RU – Resíduos Urbanos
SGR – Sistema de gestão de Resíduos
SGRU – Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos
SIGERU – Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura
SIGRE – Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens
SMAUT – Sistema Municipal e Autarquias
SPV – Sociedade Ponto Verde
TM – Tratamento Mecânico
UE – União Europeia
VC – Valor de Contrapartida
Símbolos alfabéticos
kg – Quilograma
l – Litros
m3 – Metro cúbico
1
1 Introdução
1.1 Enquadramento Teórico
O sector dos resíduos tem enfrentado desafios crescentes. A intensificação das atividades
económicas aumenta a pressão sobre os recursos naturais e sobre a capacidade natural para
absorção e processamento dos resíduos e efluentes, contribuindo para que sejam questões
relevantes e proeminentes, quer ao mais alto nível da decisão política, quer da sociedade em
geral. (1)
Com o crescente aumento de produção de resíduos, especialmente de embalagens, o sistema
de gestão de resíduos (SGR) enfrenta constantemente novas formas de combater esse aumento,
tendo em foco o fator sustentabilidade. Como tal, existe uma enorme preocupação em enfrentar
essa produção com novas formas de valorização e com meios sustentáveis não só a nível
tecnológico mas também numa vertente essencial, a vertente económica de todo o sector de
resíduos.
O SGR tem evoluído em resposta às preocupações ambientais, passando de uma política de
deposição em aterro para uma política cada vez mais recorrente na União Europeia (UE), política
essa visando o desvio de resíduos da deposição em aterro. Com esta evolução, surgiram novas
formas de tratamento e de gestão dos resíduos, bem como toda uma nova política que
transformou todo o sector de resíduos.
Uma gestão adequada de resíduos permitirá prevenir ou reduzir a produção de resíduos, o seu
carácter nocivo e os impactes adversos decorrentes da sua produção e gestão, bem como a
diminuição dos impactes associados à utilização dos recursos, de forma a melhorar a eficiência
da sua utilização e a proteção do ambiente e da saúde humana.
Para a gestão integrada dos resíduos urbanos (RU) e prossecução das prioridades que têm vindo
a ser definidas na legislação, está prevista a intervenção de dois tipos de entidades:os municípios
ou associações de municípios, em que a gestão do sistema pode ser concessionada a qualquer
empresa, e as entidades multimunicipais, cujos sistemas são geridos por empresas
concessionárias de capitais maioritariamente públicos. (2)
A transição para o comportamento de prevenção de resíduos e uma melhor utilização dos
recursos exige um conjunto integrado de medidas. Uma componente essencial das políticas de
gestão de resíduos, e que assenta num dos pilares da sustentabilidade de recursos naturais é o
consumo de bens. Como defendido por (3) a prevenção passa pela atuação ao nível do consumo.
2
O aumento do consumo de bens faz com que cada vez mais seja importante a adequada gestão
dos resíduos provenientes desse consumo, levando à importância de uma constante atualização
não só de políticas, mas também de objetivos, para que prevaleça a sustentabilidade neste
sector.
“Numa economia circular, a reutilização, a reparação e a reciclagem tornam-se norma, e os
resíduos fazem parte do passado. Ao utilizar mais eficazmente e durante mais tempo os recursos
para fins produtivos, a UE melhoraria não só na vertente económica, como também na vertente
ambiental na gestão de resíduos.” (4)
A União Europeia tem assim um papel fulcral na implementação de diretivas que permitam a
orientação de objetivos e responsabilidades, como é o caso de uma das suas diretivas
comunitárias, nomeadamente a nº 94/62/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de
Dezembro (Diretiva 94/62/CE) (5).
A reutilização de resíduos surge então, como um fator chave para que os objetivos traçados
possam ser alcançados, levando a que cada vez mais a reciclagem tenha um papel importante
na sociedade em que nos enquadramos, tornando-se ela também uma reflexão do que podemos
fazer no futuro. A reciclagem é então um processo que tem início na fonte de produção, com a
recolha dos resíduos recicláveis, até à sua reutilização, ou seja, até à sua deposição novamente
no mercado, através das indústrias retomadoras. Tem-se assim a reciclagem como um meio
sustentável na política de resíduos em Portugal, pois além de desviar resíduos de deposição em
aterros, permite reduzir recursos naturais no fabrico de novos produtos para bens consumíveis.
Sendo a reciclagem um meio de redução de recursos, um dos principais objetivos, é a análise
tecnológica e económica da mesma, percebendo assim de que maneira será possível tornar
cada vez mais eficiente a reciclagem, nomeadamente a reciclagem de embalagens (2).
Como defendido por (4), uma maior eficiência nesta vertente será impulsionada por uma
conceção inovadora, um melhor desempenho, produtos e processos de produção mais
sustentáveis, modelos comerciais virados para o futuro e avanços técnicos que transformem os
resíduos em recursos.
Em Portugal, a gestão de resíduos de embalagens do fluxo urbano é assim assegurada pela
entidade gestora Sociedade Ponto Verde (SPV) que gere a recolha seletiva de resíduos
depositados voluntariamente pelos consumidores, quer no sistema porta-a-porta, quer pelo
sistema de Ecopontos.
3
A gestão realizada pela SPV só é possível devido a uma política de transferência de
responsabilidades dos embaladores/importadores. Os municípios e outros operadores de
recolha e transferência, efetuam a recolha seletiva e a triagem das embalagens para posterior
encaminhamento para que se proceda à valorização e reutilização das mesmas.
Em termos de tecnologias, o aumento da eficiência das mesmas permite a que se recicle cada
vez mais embalagens, de modo a que se possa alcançar uma eficiência económica também
sólida. De salientar que a preocupação da reciclagem em apenas ecopontos tornou-se parte do
passado, e cada vez mais opta-se por novas formas de introdução de meios que possibilitem
uma maior taxa de deposição de recicláveis, nomeadamente com a introdução de contentores
diferenciados nos sistemas porta-a-porta, com a evolução dos sistemas de ecocentros,
implementação de eco-ilhas, bem como a introdução futuramente de sistemas pay-as-you-throw
(PAYT)1. Esta abordagem direcionada para a alteração das tecnologias não será completamente
bem-sucedida se não existir uma mudança no comportamento da população, ou seja, no modo
como utiliza os diferentes tipos de tecnologia. As medidas essenciais para reduzir o impacto do
sector dos resíduos, principalmente dos resíduos urbanos, passam por diminuir a produção dos
mesmos na fonte, fornecer alternativas altamente viáveis para a reciclagem, e obter rentabilidade
económica para que cada vez mais se preste um serviço de qualidade e com elevadas
eficiências.
Existem de momento três modelos de recolha seletiva que são os pilares de uma reciclagem
sustentada: os sistemas porta-a-porta (contentores diferenciados de pequeno porte nas
habitações onde os produtores depositam diferenciadamente os seus resíduos), sistemas de
ecopontos (contentores diferenciados de grandes dimensões, em pontos específicos, levando a
que os produtores se desloquem a pequenas distâncias para depositar seletivamente os
resíduos produzidos) e os sistemas de ecocentros (onde os produtores de resíduos se deslocam
a pontos específicos, geralmente a distâncias maiores do que as dos ecopontos, podendo
depositar grandes quantidades de resíduos diferenciados, desde embalagens a resíduos
provenientes de jardinagem, entre outros).
De acordo com o exposto, a promoção de cada uma destas alternativas requer o
desenvolvimento de diversas políticas que incentivem a população a utilizá-las. Regra geral, em
todas as cidades, encontra-se instituído algum tipo destes sistemas, vindo a ser feito cada vez
mais um esforço coletivo por parte das diversas entidades para que se pratique cada vez mais a
deposição correta de resíduos em cada um dos respetivos contentores, pois só assim se
conseguirá alcançar os objetivos pretendidos.
1 Princípio do poluidor-pagador, onde o responsável pela geração de resíduos paga pela quantidade de resíduos gerados, e não através do sistema atual de taxação.
4
Nesse sentido, este trabalho pretende realçar num sistema de resíduos recicláveis caracterizado
como um todo, a aplicabilidade destes sistemas de recolha seletiva, do ponto de vista das
tecnologias disponíveis em cada um deles, mas também do ponto de vista económico dos
mesmos, prevendo e analisando a sua afetação a jusante do sistema, nomeadamente na
produção e recolha de resíduos, e também a montante do sistema, onde diferentes tipos de
triagem poderão afetar também o sistema. Foi dado mais foco na utilização dos sistemas de
porta-a-porta e dos sistemas de ecopontos.
De modo a que a metodologia fosse elaborada de acordo com a realidade dos sistemas de
gestão de resíduos, foram localizados e analisados estudos que contribuíssem para a introdução
de parâmetros técnicos e económicos que contribuíram assim para a formulação de um modelo.
Tal metodologia consiste na formulação de um modelo técnico e económico que utiliza diversos
parâmetros de entrada, ou seja, “inputs” do modelo, e através de formulações permite assim uma
análise económica do sistema de recolha seletiva de embalagens, ou seja, devolve um conjunto
de parâmetros de saída (“outputs”) que são utilizados para compreender, analisar e perspetivar
novas formas de melhoramento no que se relaciona com este tipo de recolha.
1.2 Objetivos
Este trabalho pretende descrever e analisar do ponto de vista técnico e económico o sistema de
recolha seletiva em Portugal. A análise tem em conta parâmetros de contentorização, de recolha,
de triagem e de retoma dos materiais recicláveis por parte da indústria retomadora.
Esta análise é efetuada através de um modelo generalista, parametrizado com base em valores
de bibliografia. Pretende-se assim compreender de que modo o sistema de recolha seletiva
poderá ser mais eficiente a nível tecnológico e económico, realizando uma análise de custo-
benefício dos parâmetros afetos a este tipo de recolha.
Com a crescente preocupação de encontrar alternativas mais eficientes, este estudo pretende
assim contribuir para uma melhor compreensão e conhecimento deste sistema de recolha em
Portugal, tendo em conta todos os fatores determinantes, nomeadamente a gestão por parte das
entidades competentes e a organização do sistema de resíduos, desde a produção dos mesmos
até à sua reutilização ou fim de vida.
Este estudo contribuirá assim para uma avaliação de benefícios provenientes da recolha seletiva
em Portugal, e todas as oportunidades que advêm de tal recolha, bem como contribuirá com
sugestões que poderão ser implementadas para uma melhor gestão, eficiência tecnológica e
económica no setor dos resíduos urbanos.
5
1.3 Definição de Âmbito
A reutilização de materiais recicláveis provenientes de resíduos urbanos em Portugal, embora já
recorrente, é uma atividade que ainda necessita de vários estudos que possam contribuir para
uma melhor gestão desde a recolha até ao destino final das embalagens, seja esse o fim de vida
das mesmas ou a reutilização. Como tal, é necessária a investigação de novas tecnologias, de
novas metodologias, que permitam uma reestruturação mais eficiente e economicamente mais
viável, de modo a que Portugal não só cumpra com os objetivos propostos para as taxas de
reciclagem da União Europeia, mas que também possa contribuir assim para uma maior
sustentabilidade energética, material e económica.
Tendo em conta todas as oportunidades, este estudo vai de encontro com a gestão praticada na
atualidade em Portugal, inserindo alternativas, e conjugando um conjunto de fatores existentes
no sistema de recolha seletiva de embalagens, o que poderá permitir uma melhor gestão
estratégica para este tipo de recolha de resíduos.
Pretende-se ir de encontro aos paradigmas atuais provenientes dos sistemas de gestão de
resíduos urbanos, reescrevendo os mesmos em novas formas de contextualização adequadas
para enfrentar tamanhos objetivos de recolha seletiva propostos para Portugal.
1.4 Organização da Tese
Capítulo 1 - Enquadrando este estudo na sua organização, inicialmente foi realizada uma revisão
bibliográfica sobre gestão de resíduos urbanos, revisão essa que visou um conjunto de casos e
formas de gestão de resíduos a nível europeu e internacional. Recorreu-se a estudos
provenientes de relatórios de agências do ambiente presentes em diversos países, publicações
científicas, bem como documentos que pudessem complementar todo um conjunto de
informação necessária ao procedimento deste estudo por mim elaborado.
Capítulo 2 - Enquadrou-se o sistema de gestão de resíduos, nomeadamente a hierarquia dos
resíduos, a gestão dos mesmos em Portugal, a recolha seletiva como potencial de
desenvolvimento e sustentabilidade financeira, bem como destacou-se as entidades gestoras e
responsáveis por todo um sistema de gestão de resíduos.
Capítulo 3 - Revisão bibliográfica, onde através dessa revisão foi possível compreender a
importância deste mesmo estudo e a oportunidade de realizar uma metodologia que em diversos
casos não abrangia todo o sistema de gestão de resíduos recicláveis.
Capítulo 4 – Tendo sempre como foco as políticas ambientais para gestão de resíduos e as
metas traçadas no PERSU II (6), foi introduzido o modelo desenvolvido, nomeadamente a sua
conceção, desde valores utilizados, formulação de equações, parâmetros de entrada e saída e
dos pressupostos que visam a elaboração do mesmo.
6
Neste capítulo, é ainda descrito a elaboração de uma interface do modelo, que permite ao
utilizador inserir dados referentes ao sistema de recolha seletiva, de modo a que obtenha não só
valores de resposta, mas também uma perceção dos parâmetros que mais influenciam o sistema
aquando de alterações nos “inputs” do modelo.
Capítulo 5 - Discutiu-se a analisou-se os resultados provenientes do nosso sistema, em que se
destaca a obtenção de valores de custo e benefício de todo o sistema de recolha seletiva. Tal
sistema não consiste só na recolha, mas também numa fase posterior a esta, nomeadamente a
valores de custo-benefício de triagem de materiais, de benefícios de se evitar a recolha
indiferenciada e de outros valores como custos de deposição de resíduos em aterro, ou de
incineração dos mesmos.
Finalizando concluiu-se o estudo e elaborou-se possíveis casos de estudo futuros que visam
uma melhor análise dos diversos sistemas que compõem o panorama dos resíduos em Portugal.
7
9%
54%
0.28%
21%
2%14%
Recolha seletiva material Deposição em aterro TM
Valor. Energética Valor. Orgânica - RS Valor. Orgânica - RI
2 Sistema de Gestão de Resíduos
2.1 Caracterização dos sistemas de gestão de resíduos urbanos
Com o aumento da população mundial e nomeadamente com a crescente procura de bens, o
uso de embalagens tem sofrido um aumento com o passar dos anos, levando assim a uma maior
produção de resíduos de embalagens, o que potencia o aumento desses para reciclagem. Como
tal, o consumo de bens é um fator determinante nos planos de gestão de resíduos, pois com o
conhecimento necessário desse consumo e consequente utilização desses resíduos, é assim
possível um processamento mais adequado e eficiente por parte das entidades competentes,
potenciando assim não só a triagem, bem como uma maior taxa de reciclagem.
Em Portugal, a maior fatia de resíduos gerados é ainda depositada em aterro, sendo que a
recolha seletiva de materiais ainda está aquém das expetativas e das metas necessárias de
alcançar. Como é facilmente observável na Figura 2.1-1, grande parte dos resíduos sofre um
tratamento mecânico preliminar, antes de ser depositado em destino final (APA e INE, 2013).
“Em 2012 verificou-se um valor de 1,57 milhões de toneladas de RE produzidos, sendo da
mesma ordem de grandeza do valor registado no ano anterior, podendo este facto indicar uma
tendência para a estabilização.” (7)
FIGURA 2.1-1: DISTRIBUIÇÃO DOS DESTINOS DE RU EM PORTUGAL CONTINENTAL E RAM EM 2012, FONTE: APA E
INE, 2013.
8
“A produção e capitação anual desde 2010 tem vindo a descer gradualmente, o que evidencia
um menor consumo de bens por parte das famílias, facto esse evidenciado pelo decréscimo da
produção e capitação de RU desde 2010.Tal situação de decréscimo é igualmente comprovado
para o ano de 2013, apesar de a Figura 2.1-2 omitir os resultados para o respetivo ano (8).”
FIGURA 2.1-2: PRODUÇÃO E CAPITAÇÃO DE RU EM PORTUGAL CONTINENTAL NO PERÍODO 2002 – 2012, FONTE: GOV PROPOSTA PERSU 2020.
“Caracterizando um pouco mais o sistema de gestão de resíduos, Portugal Continental está
dividido em 23 Sistemas de Gestão de RU, 12 Multimunicipais e 11 Intermunicipais que se
caracterizam por uma acentuada discrepância no que respeita ao número de municípios que os
integram, na área e população abrangida e igualmente nas condições socioeconómicas da
população que servem, o que se reflete no fluxo de resíduos e consequentemente, nas opções
adotadas em termos de recolha e tratamento dos seus RU e também na rede de equipamentos
e infraestruturas para a sua gestão.” (9)
“Em Portugal, a gestão de resíduos no que respeita ao setor em baixa2 é feita pelas 259
entidades gestoras responsáveis pela recolha indiferenciada dos resíduos urbanos para os 23
SGRU anteriormente referidos. Destas, apenas 27 são também responsáveis pela atividade de
recolha seletiva multimaterial, em especial nas áreas da grande Lisboa e grande Porto, as
restantes entidades gestoras em baixa são apenas responsáveis pela atividade de recolha
indiferenciada de resíduos urbanos. Outro fator de diferenciação é a titularidade estatal ou
municipal dos sistemas e o modelo jurídico da respetiva entidade gestora. Os sistemas
2“ Os serviços de águas e resíduos têm sido classificados segundo as designações de “alta” e “baixa”, consoante as atividades realizadas. Esta classificação, que esteve no cerne da criação dos sistemas multimunicipais, maioritariamente responsáveis pela alta, e dos sistemas municipais, maioritariamente responsáveis pela baixa, corresponde, respetivamente, às atividades grossista e retalhista de abastecimento de água, de saneamento de águas residuais urbanas e de gestão de resíduos urbanos.” (59)
9
multimunicipais são concessões do Estado atribuídas a empresas que em regra têm uma
participação maioritária da EGF3.”
Os sistemas Multimunicipais com partição da EGF representam 60% da população e dos RU
produzidos em Portugal Continental.
FIGURA 2.1-3: SISTEMAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS EM PORTUGAL CONTINENTAL, FONTE: PROPOSTA PERSU
2020.
Na Região Autónoma dos Açores, a gestão dos RU é genericamente da responsabilidade direta
dos municípios, com exceção da gestão na ilha do Pico e de S. Miguel, onde é da
responsabilidade das respetivas Associações Municipais. Já no caso da Região Autónoma da
Madeira, a responsabilidade da gestão de RU foi atribuída à Valor Ambiente, Gestão e
Administração de Resíduos da Madeira, S.A. (PNGR).
Tal situação de criação destes sistemas leva a que não só Portugal, mas toda a Europa possa
assim evidenciar-se pela melhor gestão possível dos resíduos gerados, prevalecendo uma vez
mais critérios de sustentabilidade e eficácia tecnológica e económica.
3“ Empresa Geral do Fomento, responsável por assegurar o tratamento e valorização de resíduos. A gestão dos sistemas de tratamento e valorização de resíduos é feita através de 11 empresas concessionárias, constituídas em parceria com os municípios servidos, que processam anualmente cerca de 3,7 milhões de toneladas de resíduos urbanos, servindo cerca de 60% da população de Portugal, que corresponde a 6,4 milhões de habitantes.” (12)
10
A cooperação entre entidades é uma lógica que deverá prevalecer, pois só assim a minimização
da produção de resíduos poderá ser um elo positivo nas políticas ambientais. Com a tecnologia
em constante desenvolvimento, é necessário o incentivo às mudanças tecnológicas e ao
desenvolvimento de programas de investigação, de modo a prosseguir no rumo certo numa
gestão de resíduos orientada para o futuro.
2.2 Enquadramento Estratégico e Legal
A gestão de resíduos urbanos em território português tem vindo a sofrer diversas alterações que
seguem as políticas da UE, de modo assim a perfazer os objetivos propostos para todos os
estados membros, no que toca ao desvio de resíduos para aterro. Tais objetivos a longo prazo
visam uma UE como sociedade recicladora, prevenindo a produção de resíduos e utilizando-os
como recurso. Portugal assume assim o compromisso de alcançar os objetivos europeus
propostos de valorização e reciclagem de resíduos de embalagem, bem como desvio de resíduos
para aterro.
“Com base nas políticas europeias, Portugal visa abranger um conjunto de outros objetivos
elaborados na proposta do novo PERSU 2020 (8):
• Promoção da eficiência na utilização de recursos naturais na economia dissociando
assim o crescimento económico dos impactes ambientais relacionados com a produção
de resíduos;
• Reforço na prevenção de produção de resíduos, incentivando a sua reutilização e
reciclagem com vista a prolongar o seu uso na economia;
• Respeitar a hierarquia dos resíduos, onde como exemplifica a figura 2.2-1, a prevenção
deverá ser o elo principal nessa mesma gestão;
• Assegurar que a produção, recolha, transporte, tratamento e armazenamento de
resíduos sejam efetuados recorrendo a processos que por sua vez não causem danos
adversos sobre a população e o ambiente;
• Fazer prevalecer o cumprimento de objetivos comunitários e nacionais em matéria de
desvio de resíduos urbanos biodegradáveis de aterro e de reciclagem e valorização de
RE;
• Consolidar e otimizar a rede de operadores de gestão de resíduos urbanos.”
11
Prevenção e Redução
Preparação para a reutilização
Reciclagem
Outros tipos de valorização
Eliminação
FIGURA 2.2-1: HIERARQUIA DOS RESÍDUOS, ADAPTADO: PNGR, 2011.
Tais Objetivos só serão possíveis se todo o sistema de gestão de resíduos estiver consolidado
de modo a que se adeque a um novo paradigma, cada vez mais emergente na UE, que é a
sustentabilidade de recursos, visando a valorização e reutilização dos mesmos. As entidades
gestoras de resíduos terão assim que se articular de modo a perceber de que modo a melhor
gestão é favorecida, pois só assim Portugal encontrará a meta proposta em tais objetivos
ambiciosos. Como tal, Daskalopoulos et al. (10) consideram que existem três alternativas básicas
para a deposição final de resíduos:
• Deposição direta em aterro sanitário;
• Processamento dos resíduos antes da deposição final;
• Processamento de resíduos para recuperação de recursos (materiais e/ou energia) com
subsequente deposição de resíduos.
“As políticas da União Europeia para os resíduos têm sido muito importantes nos resultados
globais atingidos, mas as políticas nacionais têm determinado em grande medida os resultados
específicos. As opções de gestão de resíduos dependem em grande medida das infraestruturas
e estruturas de governação relativas à gestão dos resíduos, e estas têm sido influenciadas pelos
planos de gestão de resíduos, bem como pelo quadro jurídico nacional.” (9)
“Para que Portugal cumpra as metas de reciclagem, os eixos de atuação no setor dos resíduos
devem estar bem definidos, pois só assim será possível que as taxas de reciclagem aumentem,
bem como todo o sistema integrado de gestão de resíduos possa beneficiar com esse aumento,
perfazendo uma valorização económica por parte das entidades responsáveis. Na Tabela 2.2-1,
é possível verificar e analisar os diversos eixos de atuação propostos no novo modelo do PERSU
2020.” (8)
12
I. Prevenção na geração de resíduos, passando por objetivos que visem a revisão do programa de prevenção de resíduos urbanos (PPRU);
II. Aumento da reciclagem e da qualidade dos recicláveis, privilegiando a atuação a montante da cadeia de gestão de RU;
III. Redução da deposição de resíduos em aterro, aumentando a eficiência da tecnologia e da capacidade de tratamento;
IV. Novas abordagens económicas aos fluxos de recicláveis e seus subprodutos, influenciando assim a economia verde;
V. Definição de instrumentos económico-financeiros de incentivo ao desvio de aterro e à reciclagem, combatendo o défice dos sistemas de gestão de RU;
VI. Melhoria da eficácia e capacidade institucional e operacional do sector, assegurando a sustentabilidade dos diferentes agentes;
VII. Reforço da investigação e do desenvolvimento tecnológico, através da inovação e introdução de novas tecnologias;
VIII. Contributo do sector para outras estratégias nacionais, bem como de novos planos para o setor de resíduos.
TABELA 2.2-1: EIXOS DE ATUAÇÃO PARA CUMPRIMENTO DAS METAS ATÉ 2020. ADAPTADO: PERSU 2020
De acordo com o Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de junho, Portugal até 2020 pretende alcançar
as seguintes metas:
• Um aumento mínimo global para 50% em peso relativamente à preparação para a
reutilização e a reciclagem de resíduos urbanos, incluindo o papel, o cartão, o plástico,
o vidro, o metal, a madeira e os resíduos urbanos biodegradáveis;
• Um aumento mínimo para 70% em peso relativamente à preparação para a reutilização,
reciclagem e outras formas de valorização material.
Tais objetivos centram-se assim numa base sólida de redução de resíduos, criada com a nova
proposta do PERSU 2020, que tem em conta um conjunto de diretivas e estratégias
anteriormente elaboradas, como é possível verificar na Figura 2.2-2. (11)
13
TABELA 2.2-2: DOCUMENTOS ESTRATÉGICOS DA REDUÇÃO DE RESÍDUOS. ADAPTADO: PNGR
“Portugal mantém assim o compromisso de alcançar as metas de valorização e reciclagem de
resíduos de embalagens fixadas pelo Decreto-Lei n.º 92/2006, de 25 de maio, que transpõe para
a ordem jurídica interna a Diretiva 2004/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de
fevereiro, as quais consistem no cumprimento até ao final de 2011 de um mínimo de valorização
de 60% (em peso), do qual pelo menos 55% deverá corresponder a reciclagem, com metas
sectoriais mínimas de reciclagem de 60% para RE de papel/cartão e de vidro, 50% para o metal,
22,5% para o plástico e 15% para a madeira” (APA).
“O desenvolvimento de uma estratégia para os resíduos em Portugal deve ter em conta os
modelos organizativos existentes e os resultados alcançados ao nível da sua produção, recolha
e tratamento, mas também os documentos legais e estratégicos (nacionais e comunitários) que
foram publicados na última década” (PNGR).
Documentos Estratégicos
7º Programa Comunitário de Ação em Matéria de Ambiente
Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável 2015
Nova Estratégia da UE para o Desenvolvimento Sustentável
PERSU 2020
Estratégia Temática para a Utilização Sustentável dos Recursos Naturais
Estratégia Temática em matéria de prevenção e reciclagem de resíduos
Diretiva Quadro “Resíduos” (DQR)
Diretiva Aterros
Diretiva Resíduos Embalagens
14
2.3 Gestão de Resíduos de Embalagem em Portugal
A gestão de resíduos e mais especificamente de resíduos de embalagem (RE) provenientes do
fluxo urbano é assegurada pela recolha seletiva, que resulta da vontade cívica dos produtores
dos mesmos, em depositá-los voluntariamente nos ecopontos ou nos contentores diferenciados
porta-a-porta.
“São embalagens todos e quaisquer produtos feitos de materiais de qualquer natureza utilizados
para conter, proteger, movimentar, manusear, entregar e apresentar mercadorias, tanto
matérias-primas como produtos transformados, desde o produtor ao utilizador ou consumidor,
incluindo todos os artigos "descartáveis" utilizados para os mesmos fins” (APA).
Uma vez que as embalagens e resíduos de embalagem, transversais a todas as origens,
constituem um fluxo específico de resíduos, o seu modelo de gestão insere-se no âmbito da
aplicação do conceito da Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP), cuja responsabilidade
é do produtor dos bens e encontra-se, na sua maior parte, sob a responsabilidade de entidades
gestoras, não se excluindo a possibilidade da gestão ser assegurada individualmente (APA).
O circuito urbano de embalagens é então garantido pela SPV, em constante cooperação com os
sistemas multimunicipais e intermunicipais de gestão de RU, o que posteriormente encarregam-
se de sujeitar tais resíduos a uma triagem e encaminhamento para reciclagem. De salientar que
a gestão dos resíduos de embalagens de medicamentos, após a sua entrega nas farmácias, é
assegurada pela entidade gestora Valormed4.
No sistema de gestão do fluxo não urbano, o encaminhamento dos RE é efetuado pelos
produtores de resíduos para operadores de gestão licenciados, diretamente ou através de uma
rede de operadores com contrato com a Sociedade Ponto Verde (SPV).
Os RE de produtos fitofarmacêuticos são geridos pela Sigeru5, a entidade gestora do Sistema
Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura - Valorfito6.
4 Criada em 1999, a Valormed é uma sociedade sem fins lucrativos que tem a responsabilidade da gestão de embalagens vazias e medicamentos fora de uso. 5 Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura. 6 Designação que é comumente dada ao Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura.
15
0
10
20
30
40
50
60
70
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Taxa
de
reci
clag
em d
e R
E (%
)
Taxa de Reciclagem (total) Meta de Reciclagem (2011)
Recolha Seletiva de Embalagens
A recolha seletiva de embalagens é considerada uma mais-valia nos SGR, pois permite assim
perseguir as metas propostas para 2020, mas também permite dar seguimento a diversas
políticas ambientais que assentam-se na sustentabilidade e na diminuição de impactes
ambientais provenientes da produção de resíduos. Tal situação em Portugal é levada a cabo por
diversas entidades responsáveis pela recolha dos resíduos recicláveis, e a deposição dos
mesmos é efetuada de forma voluntaria por parte dos cidadãos em sistemas de ecopontos, eco-
ilhas, porta-a-porta ou através de ecocentros. A entidade gestora nesta gestão de RE é a SPV,
onde os resíduos provenientes do fluxo urbano são assim encaminhados para entidades
licenciadas no sistema elaborado pela SPV.
Em Portugal as taxas de reciclagem, têm vindo a sofrer variações por vezes positivas, outras
vezes nem tanto, mas ainda assim para 2012 e 2013 a taxa de reciclagem de RE em
percentagem do seu peso total é superior às metas estabelecidas para 2011, como é possível
verificar na Figura 2.3-1. Tal situação é tida como positiva, o que demonstra que o sistema de
recolha seletiva de embalagens tem vindo a ser uma mais-valia para o cumprimento das metas
propostas para 2020.
FIGURA 2.3-1: TAXA DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE EMBALAGEM. ADAPTADO: APA, 2013
Em Portugal, existem três entidades gestoras licenciadas para a gestão integrada de resíduos
de embalagens, designadamente a SPV, a Valormed e a SIGERU.
16
“Em Novembro de 1996, o Grupo Intersectorial da Reciclagem (GIR), em cooperação com a
Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca (CENTROMARCA), fundaram a
entidade privada Sociedade Ponto Verde S.A., aprovada pelo Ministério da Economia (ME) e o
Ministério do Ambiente (MA) em 1 de Outubro de 1997. A estrutura acionista da SPV é assim
constituída pelas seguintes entidades” (7):
• Embopar – 54,2%;
• Dispar – 20%;
• Interfileiras – 20%;
• Outros acionistas – 5,8%.
A SPV passa a ser primeira entidade gestora em Portugal orientada para recolha seletiva, retoma
e reciclagem de RE, no âmbito do sistema integrado previsto no DL nº 366-A/97 sobre
Embalagens e Resíduos de Embalagens.
Como entidade gestora e responsável, a SPV com o sistema ponto verde, também conhecido
por SIGRE7, existe assim para garantir uma melhor organização e gestão de um circuito que
assegura não só a retoma, mas também a valorização e reciclagem dos RE, como acima já
referido, contribuindo assim para a diminuição do volume de resíduos depositados em aterro. A
Figura 2.3-2 exemplifica como está elaborado esse mesmo sistema.
FIGURA 2.3-2: DIAGRAMA DE FLUXOS DOS RE E SEUS RESPETIVOS FLUXOS ECONÓMICOS.
7 Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens.
17
Os municípios, através do DL nº 239/97, de 8 de Setembro, são responsáveis pelo serviço público
de recolha dos RU. Dado que a recolha seletiva significa custos adicionais para os municípios, o
DL nº 366-A/97, de 20 de Dezembro, prevê que a organização que opera o sistema integrado de
valorização deve reembolsar estes custos adicionais através da celebração de contratos com os
SMAUT. As taxas de licenciamento são primeiramente usadas para cobrir os tais custos
adicionais. O restante é utilizado em campanhas, investigação e desenvolvimento. Os SMAUT
comprometem-se a proceder à recolha seletiva e à triagem das embalagens de origem urbana e
entregá-las a retomadores acreditados pela SPV. A SPV assume o compromisso de garantir, a
retoma e reciclagem ou valorização os RE, de acordo com as especificações técnicas. O
transporte realizado pelos municípios é também reembolsado pela SPV, de acordo com as tarifas
predeterminadas (Raminhos, 2012).
Em 2013, os valores de retomas de RE estão demonstrados na Figura 2.3-3 abaixo ilustrada. De
salientar que a fração papel/cartão é a que em mais quantidade é retomada, ficando a madeira
como fração com menores valores de retoma.
Em todos os Estados-Membros, os operadores económicos pertencentes a esta cadeia de RE,
nomeadamente fabricantes, embaladores, distribuidores e importadores, são assim ditos como
responsáveis pela gestão dos resíduos de embalagens e também por evidenciar um conjunto de
dados que permitam uma análise cuidada sobre as quantidades de embalagens que foram
novamente introduzidas no mercado.
Com a criação do sistema ponto verde acima referido, tal sistema permite que os operadores
possam encaminhar a sua responsabilidade de retoma de embalagens, em troca de um valor
económico anual previamente estabelecido pela SPV, e de acordo com o tipo de material em
questão. A simbologia verde proveniente nas embalagens que entram no mercado determina
assim uma forma de indicar que o produto é gerido pelo sistema de recolha seletiva.
A nível dos materiais recicláveis, as retomas de embalagens provenientes da recolha seletiva
multimaterial constituem o principal fluxo de saída de recicláveis. O mercado destes materiais é
maduro e encontra-se organizado pelo SIGRE há mais de 15 anos, sendo que no entanto existem
ainda desafios para aumentar o escoamento e a valorização económica destes resíduos.
“Garantir o escoamento destes materiais torna-se assim importante para o fecho do ciclo de
materiais e para a redução do consumo de recursos. Por outro lado, promover a sua valorização
económica é fundamental, dado que contribui para a sustentabilidade económica dos sistemas
de gestão de RU, bem como para a criação de riqueza a nível nacional” (PERSU).
18
178.795
316.219
101.26
56.345
40.765
693.384
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Vidro
Papel/Cartão
Plástico
Metal
Madeira
Total
Toneladas
Tip
o d
e m
ater
ial
FIGURA 2.3-3: VALORES DE RETOMAS DE MATERIAL RECICLADO EM 2013, FONTE: SPV
“A necessidade de aumentar a reciclagem material, levou à melhoria da rede de recolha seletiva
e de mecanismos compensatórios que garantissem a viabilidade financeira das entidades
responsáveis pela recolha seletiva. Verificou-se assim um aumento de 280% (INE, 2013 e APA,
2013), em Portugal entre 2002 e 2012, de recolha seletiva com vista à reciclagem, onde se
incluem outros resíduos para além de embalagens. Esta rede é caracterizada por uma
quantidade substancial de ecopontos com 3 contentores (verde, azul e amarelo), milhares de
contentores não agrupados em ecopontos (com apenas capacidade para armazenar um ou dois
fluxos – vidro, embalagens de plástico e metal, papel e cartão) e por cerca de 200 ecocentros
distribuídos por todo o país. A recolha Porta-a-Porta (PaP) é essencialmente realizada nos
grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto” (PNGR e PERSU, 2014).
O crescimento da rede de apoio à recolha seletiva permitiu que se atingisse um rácio de 262
habitantes por ecoponto em Portugal Continental. Contudo, verifica-se que o crescimento foi
heterogéneo (Figura 2.3.4). O rácio varia entre 360 (Ambisousa8) e 110 (AMCAL9) habitantes por
ecoponto.
8 “A Ambisousa é uma empresa intermunicipal de tratamento e gestão de resíduos sólidos da área geográfica do Vale do Sousa (região formada pelos concelhos de Castelo de Paiva, Felgueiras, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Lousada).” (APA) 9 “Associação de Municípios do Alentejo Central compreende os municípios de Cuba, Alvito, Vidigueira, Portel e Viana do Alentejo.” (APA)
19
FIGURA 2.3-4: NÚMERO DE HABITANTES POR ECOPONTO EM 2011 EM PORTUGAL CONTINENTAL, FONTE: PERSU
2020
Fazendo uma breve referência à figura acima ilustrada, denota-se uma tendência na diminuição
de habitantes por ecoponto quando se observa o lado esquerdo da figura, pelo fato de serem
empresas de gestão maioritariamente do Alentejo onde os ecopontos encontram-se mais
afastados da população, servindo menos habitantes por contentor. Denota-se ainda que a
capitação diminui quando se anda para baixo na figura, pelo fato de haver um menor consumo
de materiais recicláveis nestas localizações, nomeadamente em zonas com rendimentos mais
baixos.
Como já acima referido, em termos de infraestruturas da recolha seletiva salienta-se três grandes
grupos de sistemas, sendo eles os ecocentros, ecopontos e porta-a-porta. Os ecocentros
definem-se como pontos de entrega voluntária onde os produtores que pretendam desfazer-se
dos resíduos deslocam-se aos mesmos para proceder à entrega de recicláveis. Estes materiais
posteriormente são triados, prensados e enfardados para posterior entrega para reciclagem. Os
ecopontos são contentores especializados para a receção de resíduos triados na fonte, com
diferentes cores para cada tipo de material. A sua localização é maioritariamente escolhida de
acordo com a densidade populacional e vias de acesso, sendo o contentor verde para o vidro, o
azul para o papel e cartão e o amarelo para os plásticos e metais. No que diz respeito à recolha
seletiva porta-aporta nem todo o país é coberto por este tipo de recolha, caracterizando-se pela
diferenciação em contentores de menor porte que os ecopontos, e onde geralmente só existe a
capacidade de separação em dois fluxos de materiais.
20
Nas tabelas 2.3.2 e 2.3.3 é possível verificar em termos quantitativos para o ano 2012, as
infraestruturas existentes e os RE enviados para reciclagem provenientes da recolha seletiva.
TABELA 2.3-1: INFRAESTRUTURAS EXISTENTES NAS SMAUT EM 2012, FONTE (12)
TABELA 2.3-2: RE ENVIADOS PARA RECICLAGEM PROVENIENTES DA RECOLHA SELETIVA EM 2012, FONTE (12)
De referir que o papel/cartão que não é embalagem, também está inserido no mesmo circuito dos
acima mencionados, pois são também alvos de reciclagem.
Infraestruturas Existentes 2012
Contentores Verdes 48.921 un. 209 hab/un
Contentores Amarelos 43.175 un. 230 hab/un
Contentores Azuis 44.097 un. 225 hab/un
Ecopontos 42.164 un. 242 hab/un
Porta-a-Porta 595.572 hab 0.06 Total hab/servidos
Ecocentros 209 un.
Estações de Triagem 34 un.
RE da recolha seletiva enviados para reciclagem 2012
Vidro 158.719 ton/ano 15.06 kg/hab.ano
Papel/Cartão 90.566 ton/ano 8.59 kg/hab.ano
Plástico 43.813 ton/ano 4.16 kg/hab.ano
Aço 6.608 ton/ano 0.63 kg/hab.ano
Alumínio 399 ton/ano 0.04 kg/hab.ano
Madeira 4.245 ton/ano 0.40 kg/hab.ano
Total 304.351 ton/ano 28.88 kg/hab.ano
21
2.4 Triagem
Uma das forças identificadas nos sistemas de gestão de RU e que é de extrema importância
referir, é a rede de infraestruturas de triagem e tratamento mecânico. Contudo, é também
reconhecido que existem grandes diferenças ao nível da eficiência dos processos e que podem
ser atenuadas pela introdução, por exemplo, de equipamentos de triagem automática, pela
qualificação dos recursos humanos e pela propagação das melhores práticas.
Sendo a triagem a fase posterior à recolha, e que de certa forma determina a eficiência de
separação, esta pressopõe várias fases, de modo a que no final do processo de triagem, os
materiais estejam aptos para serem reutilizados. Analisando essas mesmas fases é essencial
referir que a escolha das operações unitárias do processo baseia-se no uso das características
físicas ou químicas dos diferentes materiais de forma a conseguir separá-los do restante fluxo
dos resíduos. Como tal descreve-se em baixo as etapas mais importantes no processo de
triagem de materiais provenientes do fluxo urbano de reciclagem.
Pré-Triagem
Nesta fase pretende-se organizar o fluxo dos resíduos de forma a facilitar e a melhorar o
processo de triagem que irá ser realizado após esta fase. Geralmente como os resíduos são
depositados dentro de sacos é, necessária a abertura dos mesmos, de modo a tornar acessível
os materiais para triagem. Os materiais contaminantes demasiado grandes como é o caso das
grades plásticas, mobiliário de jardim ou vassouras, que facilmente é mal depositada por parte
da população, são retirados por forma a evitar danos mecânicos nos equipamentos a jusante.
Nesta fase são removidos ainda os materiais de dimensão reduzida, designados por finos,
porque são demasiado pequenos para conseguirem ser triados ou a sua dimensão não permite
a reciclagem. Algumas das tecnologias presentes nesta fase estão descritas sucintamente
abaixo:
• Abridor de sacos
“Abre e remove o saco de plástico, podendo ser realizada através de abridores ou
trituradores de sacos mecânicos, ou pode ser uma operação realizada manualmente por
elementos da estação que se encontrem nesta fase do processo. Os abridores de sacos
funcionam também como reguladores do fluxo de resíduos para jusante.” (13)
FIGURA 2.4-1: ABRIDOR DE SACOS (14)
22
• Aspirador de filme
“Equipamento constituído por uma conduta onde, por meio de uma corrente de ar em
sucção, os filmes e os sacos de plástico são aspirados para uma zona ou contentor de
deposição. A sua remoção é de extrema importância, sobretudo em estações fortemente
mecanizadas, porque se tratam de materiais leves e flexíveis, que podem facilmente
depositar-se no interior dos equipamentos, causando-lhes avarias ou diminuindo a sua
eficiência.” (15)
FIGURA 2.4-2: ASPIRADOR DE FILME (15)
• Crivo plano
“Placa perfurada com espaçamentos geralmente de mesma dimensão, que permite uma
pré triagem granulométrica dos resíduos, por forma a eliminar os elementos demasiado
finos para serem triados. Os materiais que têm dimensões inferiores às das perfurações
passam através do crivo e, no final, têm-se dois fluxos diferentes.” (16)
FIGURA 2.4-3: CRIVO PLANO (15)
23
• Trommel ou crivo rotativo
“Um trommel é um crivo rotativo cuja secção pode ser circular, hexagonal ou octogonal,
apresentando-se como um tubo ligeiramente inclinado que pode ter diferentes zonas de
crivagem, o que permite separar RE de tamanhos diferentes. A mistura de resíduos
progride da zona mais elevada, onde é feita a alimentação, para a zona mais baixa
devido à inclinação e à rotação do trommel, sendo eliminados através dos diferentes
orifícios os resíduos de dimensões inferiores a estes, tal como no crivo plano. O facto de
os resíduos sofrerem um movimento circular permite que os diferentes materiais se
soltem uns dos outros, facilitando a remoção dos finos e a triagem posterior dos RE a
reciclar.” (16)
FIGURA 2.4-4: CRIVO ROTATIVO (14)
• Classificador de ar
“Estes equipamentos utilizam um fluxo de ar para separar a fração leve dos resíduos da
fração pesada, com base nas suas diferentes densidades. Outras variáveis afetam
também o resultado da separação, como o tamanho, o formato ou a humidade, facto que
no caso do papel pode alterar bastante o seu peso, tornando-o uma fração pesada.” (17)
FIGURA 2.4-5: CLASSIFICADOR DE AR (14)
24
Triagem
Sendo esta fase posterior à pré-triagem, pretende-se nela obter um conjunto de materiais com
as mesmas características, de acordo com as especificações técnicas das indústrias
retomadoras, e com a menor quantidade possível de impurezas. De referir que nenhum sistema
é 100% eficaz em termos de triagem. Como tal, referimos algumas tecnologias que desta fase
fazem parte:
• Mesa de triagem
“Este equipamento permite apresentar os RE aos diferentes postos de triagem sendo
esta geralmente constituída por um tapete móvel em tela que passa defronte dos
triadores.” (13)
“Quanto ao tipo de material removido do tapete, a triagem pode ser classificada como:
a. Triagem positiva, o triador remove do tapete os materiais a reciclar, deixando
ficar os indesejáveis;
b. Triagem negativa, o triador remove do tapete os contaminantes, deixando ficar
os materiais para reciclagem, sendo que neste tipo, a triagem só consegue ser
eficiente com fluxos relativamente limpos, ou em que há um tipo de material
claramente predominante em relação aos restantes RE.” (18)
FIGURA 2.4-6: MESA DE TRIAGEM CIRCULAR COM LANÇAMENTO FRONTAL E LATERAL (19)
25
• Separador magnético
“Com esta tecnologia, é possível separar os elementos ferrosos duma mistura em
movimento, por meio de atracão magnética. Pode ser constituído por um material
magnético que cria um campo magnético estável, um íman permanente, ou por um
eletroíman, que utiliza uma corrente elétrica para magnetizar um núcleo de ferro
(Tchobanoglous e Kreith, 2002). Este último é geralmente mais potente mas também
mais caro, já que necessita de uma alimentação elétrica.” (16)
FIGURA 2.4-7: SEPARADOR MAGNÉTICO (20)
• Separador por correntes de Foucault
“O princípio das correntes de Foucault é a geração de campos magnéticos repulsivos
para o alumínio e os metais não ferrosos, o que permite separá-los duma mistura de
embalagens. Estes campos magnéticos repulsivos são obtidos a partir de correntes
elétricas, induzidas elas próprias por um campo magnético variável. O gerador de
correntes de Foucault está colocado no interior de um transportador, no final do percurso
deste. À passagem dos resíduos, a força de repulsão levanta e lança para a frente as
embalagens de alumínio e de metais não ferrosos. Uma placa divisória permite separar
este fluxo do restante fluxo de materiais.” (13)
FIGURA 2.4-8:SEPARAÇÃO POR CORRENTE DE FOUCAULT (20)
26
• Separador balístico
Este equipamento é usado, sobretudo, em fluxos com materiais plásticos, separando as
embalagens de acordo com a sua forma (planas ou arredondadas) e densidade (leves
ou pesadas), proporcionando, simultaneamente, a eliminação dos finos. É constituído
por um conjunto de barras metálicas, de estrutura aberta e com umas pequenas
anteparas, montadas sobre um plano inclinado.
FIGURA 2.4-9: SEPARADOR BALÍSTICO (20)
• Triagem automática com sensores
Estes equipamentos foram introduzidos na triagem, de modo a melhorar a eficiência e a
produtividade da triagem manual. Este tipo de triagem é realizada através do auxílio de
sensores de diversos tipos, de modo a separar por via automática os materiais nos fluxos
respetivos, com as características desejadas.
Compactação
Nesta fase, já com os materiais triados de acordo com os fluxos e características necessárias,
procede-se à diminuição do volume dos materiais, densificando-os. Desta forma, é facilitado o
manuseamento dos materiais, otimizando também o espaço de armazenamento. Abaixo
descreve-se algumas tecnologias utilizadas nesta fase:
• Perfurador de garrafas de plástico
“Ao serem compactadas, as embalagens de plástico de PEAD 10 deformam-se com
facilidade e as de PVC11 quebram. Numa face oposta, as embalagens de PET12 resistem
à pressão se mantiverem as tampas, o que diminui a eficácia da compactação e acarreta
um risco de rebentamento dos fardos em posteriores manipulações, podendo inclusive
10 Polietileno de Alta Densidade é um polímero simples, barato, sendo um dos plásticos mais comumente utilizados no mercado, em várias aplicações e neste caso na produção de embalagens. 11 Policloreto de Vinil é um polímero constituído por etileno e vinil podendo ser rígido ou flexível, utilizado em inúmeras aplicações, sendo uma delas os contentores de lixo. 12 Politereftalato de Etileno é um polímero termoplástico, formado pela reação entre o ácido tereftálico e o etileno glicol, encontrando-se como material constituinte de inúmeras garrafas.
27
causar danos às prensas. Para evitar estes problemas é indispensável recorrer à
perfuração das embalagens de PET antes de as compactar.” (16)
FIGURA 2.4-10: PERFURADOR DE GARRAFAS DE PLÁSTICO (21)
• Prensa de enfardar
“A prensa de enfardar serve para compactar os materiais na forma de fardos, facilitando
a sua manipulação, armazenagem e transporte. Ao escolher uma prensa, é necessário
ter em conta alguns aspetos como o tipo de material a compactar, as dimensões dos
fardos, a potência necessária, entre outros” (16):
FIGURA 2.4-11: PRENSA DE ENFARDAR (15)
Manuseamento
Esta fase é a última etapa do processo de triagem, onde se inclui um conjunto de equipamentos
necessários à entrada, movimentação e saída dos resíduos na ET, como por exemplo
dispositivos de pesagem, veículos de recolha e retoma de RE.
28
A triagem torna-se assim uma operação essencial e de extrema importância, para que todo o
sistema de reciclagem possa acontecer, de modo a estabelecer a ponte de ligação entre o fim
de uso e a reutilização. A triagem adapta-se assim, a um conjunto de fatores que estão
associados ao sistema a montante, nomeadamente no tipo de recolha, pelo que as ET não têm
que satisfazer uma linha prévia de operações recomendadas e iguais a todas as ET, pois só
assim se consegue definir e alcançar eficiências elevadas, sendo importante a compreensão dos
processos e tecnologias mais adequadas para cada caso específico.
FIGURA 2.4-12: MANUSEAMENTO DE FARDOS DE PAPEL ATRAVÉS DE UMA MULTICARREGADORA (15)
29
3 Revisão Bibliográfica com vista a determinar parâmetros para o
modelo
A gestão de RU é um dos problemas da sociedade moderna. Os governos nacionais, regionais
e municipais enfrentam este problema com frequência, pois as politicas passadas de gestão de
resíduos baseadas em aterros e com baixo custo (baixo controlo), não são mais aceitáveis num
contexto de maior proteção ambiental e de eficiência de recursos.
A nova visão centra-se em cuidados de futuro para com as questões ambientais, mantendo o
equilíbrio entre o progresso, qualidade de vida e meio ambiente. A otimização da recolha de
resíduos, através da separação na fonte, deverá ser a mais-valia na superação de políticas de
gestão de resíduos baseadas em aterros.
A política da UE recomenda a redução da contribuição da gestão de RU para o impacto
ambiental, e a melhoria da reciclagem de materiais e recuperação de energia. Estas
recomendações terão um impacto significativo sobre as estratégias destinadas à otimização da
gestão de resíduos sólidos urbanos (22).
Nos últimos anos, os decisores têm sido capazes de contar cada vez mais com o apoio de
dispositivos eletrónicos e “software” específico, tornando esta gestão mais otimizada, com maior
controlo e reduzindo ainda custos elevados, na otimização de rotas, de meios mecânicos de
recolha e triagem. Desta forma, a informação melhorada é necessária, a fim de otimizar e reduzir
os custos de gestão, melhorando a qualidade do serviço para a aplicação destes princípios aos
cidadãos.
Nesta secção far-se-á uma abordagem e caracterização dos meios disponíveis
internacionalmente na recolha seletiva e gestão de resíduos urbanos, nomeadamente em
modelos de gestão já existentes neste tipo de recolha.
Como tal, foi feita uma revisão bibliográfica internacional, de modo a obtermos uma panóplia de
casos de estudo, fazendo assim com que pudéssemos ter várias variáveis para analisar,
contribuindo para um melhor entendimento nas futuras correlações feitas ao longo da conceção
do modelo tecnológico-económico resultante deste trabalho.
Um fator que determina a eficiência económica de um sistema de gestão de resíduos, é o tipo
de taxação que cada município adota. De notar, que atualmente o tipo de taxação baseado e
acoplado ao consumo de água (m3), não permite de forma justa e equitativa taxar a produção de
resíduos pelos produtores finais, sendo o facto de que atualmente com este tipo de taxação, as
entidades responsáveis pela recolha e gestão de resíduos vêm os seus custos colmatados em
aproximadamente 35%, o que origina um défice elevado que posteriormente tem que ser
assegurado pelas autarquias ou municípios correspondentes.
30
3.1 Tendências Internacionais
Ao introduzirmos neste capítulo uma visão mais global, ou seja uma revisão bibliográfica a nível
internacional, permite-nos assim identificar as principais variáveis que podem e interferem na
geração de RU, na recolha dos mesmos, no transporte e na triagem. Complementa-se assim o
que já é conhecido e realizado em Portugal, com novas rotas tecnológicas alternativas para o
tratamento e deposição de resíduos urbanos recicláveis.
Abaixo é possível observar uma análise a diversos países, onde é perceptivel alguns fatores
decisivos na gestão de RU, nomeadamente fatores estratégicos-legais, geração de RU, tipos de
tratamento e tendências para o futuro.
FIGURA 3.1-1:PANORAMA DOS RESÍDUOS NA ALEMANHA (23) (24)
Como é conhecido, a Alemanha salvo exceção não envia para aterro os seus RU. Em vez disso,
é um país em que a taxa de reciclagem aproxima-se dos 50%. Em 2009 como é possível
perceber pelo gráfico acima, este país ainda apostava muito no envio dos resíduos para aterro,
mas com o passar dos anos a Alemanha conseguiu através das suas políticas um aumento
crucial da reciclagem e ainda no tratamento térmico, nomeadamente na incineração.
31
FIGURA 3.1-2: PANORAMA DOS RESÍDUOS NA COREIA DO SUL (25)
Numa análise mais internacional feita à Coreia do Sul, é possível verificar que este país além de
produzir pouco resíduo por habitante/dia, recicla mais de 50% dos seus RU, fonte das fortes
implementações por parte do governo nas políticas de reciclagem, sendo esta uma tendência
para continuar a prosperar no país.
FIGURA 3.1-3: PANORAMA DOS RESÍDUOS NOS EUA (26) (27)
Nos Estados Unidos da América, as políticas até ao momento implementadas na maioria dos
estados, não permitem que as taxas de reciclagem aumentem, pois é um país com forte índice
de envio de RU para aterro. Tal deve-se ao facto de se produzir uma quantidade elevada diária
de resíduos, levando a que em muitos estados as instalações de tratamento sejam
sobrecarregadas, ou mesmo fiquem longe impossibilitando muitas vezes o envio dos resíduos
para as mesmas. (28)
32
FIGURA 3.1-4: PANORAMA DOS RESÍDUOS NA INGLATERRA (29) (30)
Em Inglaterra, em que já existe uma tendência de políticas ambientais em relação ao panorama
dos resíduos desde há muito tempo, este país todos os anos vem aumentando cada vez mais a
sua legislação no que toca a medidas de aumento de reciclagem, diminuindo assim e fechando
muitos dos aterros que se encontravam no ativo até meados de 2011, e onde se apostou forte
na compostagem e tratamento térmico dos resíduos.
FIGURA 3.1-5: PANORAMA DOS RESÍDUOS EM ESPANHA (31) (32)
33
Como Portugal, a vizinha Espanha ainda envia muito dos seus RU para aterro, muito devido à
difícil implementação de políticas ambientais por parte da agência do ambiente espanhola. Com
uma capitação média diária de resíduos muito parecida a Portugal, a reciclagem dos mesmos
ainda tem um longo caminho a percorrer até atingir níveis satisfatórios, embora nos últimos anos
esse esforço venha a ser feito com a introdução de legislação, como a que podemos observar
acima.
FIGURA 3.1-7: PANORAMA DOS RESÍDUOS NA UE (31)
Fazendo uma análise final ao panorama dos resíduos, na União Europeia é possível verificar
uma diminuição gradual da capitação diária por habitante ao longo dos anos, tendo como
principal meta até 2020 o aumento da reciclagem para todos os estados membros de 50%. A
deposição em aterro também vem sendo abordada cada vez mais na UE, de modo a se
conseguir a diminuição e o fecho de muitos dos mesmos e assim apostar na sustentabilidade
ambiental ambicionada. A legislação como já foi referida anteriormente tende cada vez mais a
ser maior e mais rigorosa, perfazendo com isto o aumento para níveis satisfatórios da reciclagem.
Finalizando, de salientar que Portugal, apresenta uma evolução em muito parecida à vizinha
Espanha, sendo que produz por habitante/ano cerca de 450 kg de RU, sendo que 30% dessa
produção é de RE. A nível de políticas, como já referido no enquadramento estratégico-legal do
capítulo 2, Portugal tem vindo a introduzir novas políticas e novos documentos de auxilío a
tomadas de decisões, bem como metas promissoras e ambiciosas para as taxas de reciclagem
e desvio de RU em aterro.
34
3.2 Modelos Operacionais de Recolha
À semelhança dos sistemas de recolha indiferenciada, os sistemas de recolha seletiva mais
generalizados na Europa, são os seguintes (Adenso-Diaz, 2005 (33)):
• Recolha Porta-a-Porta (PaP), em que cada família possui pequenos contentores, ou
sacos, para depositar os vários recicláveis abrangidos pelo sistema e os coloca na sua
porta na altura da recolha. Como o sistema de deposição é de fácil acesso, torna-se uma
vantagem para os utilizadores em geral, pois não têm que se deslocar para deixar os
recicláveis num ponto de recolha, fazendo-se assim com que se obtenha melhores
resultados de participação. Este é, no entanto, o sistema mais caro de implementar e o
que necessita de maiores recursos devido ao facto de ser um sistema denso que requer
muitas paragens por parte das equipas de recolha;
• Recolha Ecopontos, em que a população desloca-se até um determinado ponto da via
pública onde se encontram contentores destinados à deposição dos recicláveis,
normalmente de fácil acesso ao veículo de recolha. Este sistema tem a vantagem de
necessitar de menos recursos na recolha dos resíduos que o sistema PaP, no entanto
requer um maior esforço de deslocação por parte da população, principalmente para a
faixa etária mais envelhecida ou com problemas de locomoção.
• Recolha Ecocentro, que funciona normalmente como complemento a um dos dois
sistemas de recolha acima referidos, sendo onde se depositam os resíduos com
potencial para serem reciclados mas que no entanto não são abrangidos pelos restantes
sistemas de recolha, geralmente resíduos de maiores dimensões ou em grandes
quantidades. Estes sistemas abrangem uma zona geográfica mais alargada que os
restantes, pelo que a distancia a percorrer pela população é maior e voluntária.
Uma das grandes limitações dos sistemas de recolha seletiva é o fato de se encontrarem muito
dependentes das atitudes e comportamentos dos cidadãos, ou seja, da sua taxa de participação.
A incerteza relativamente a taxa de participação é assim um dos muitos fatores a acrescentar na
complexidade do planeamento e organização de circuitos de recolha seletiva.
“Nos sistemas PaP, a taxa de participação é calculada pelo registo do número de habitações que
colocam à sua porta os recipientes para serem removidos, pelo menos uma vez por mês, sendo
este cálculo uma medição direta de comportamentos. Quando se avalia os sistemas de
deposição em ecopontos, o cálculo da taxa de participação já não é possível, recorrendo-se para
o efeito a um levantamento indireto dos comportamentos, por questionários, solicitando-se as
pessoas que relatem a frequência com que se deslocam ao ecoponto” (34).
35
Numa análise mais específica aquando da implementação de sistemas de deposição, os
sistemas PaP são mais adequados para aglomerados de moradias ou prédios com menos de
três andares. Este tipo de sistema apresenta variações que dizem respeito ao número de
componentes a separar na fonte, ao tipo e número de recipientes utilizados para a deposição
dos recicláveis, ao tipo de veículos e sistema de recolha, à frequência e ao horário da recolha e
ao tipo de veículos. (35)
“Com um sistema de separação dedicada/veículo multi-compartimentado, os residentes separam
em casa mais do que uma fração de recicláveis e depositam-nos em recipientes diferentes e o
cantoneiro de recolha despeja o conteúdo de cada recipiente para o respetivo compartimento do
veículo” (35).
“Relativamente aos sistemas coletivos por transporte voluntário, incluem-se também uma grande
variedade de opções para a deposição e, tal como os sistemas PaP, exige-se aos produtores de
resíduos a separação na fonte, e também o seu transporte para os pontos de deposição” (35).
Os sistemas por transporte voluntário dividem-se nos seis seguintes sistemas (35):
1) Contentores isolados;
2) Ecopontos;
3) Ecocentros;
4) Sistemas de deposição móveis (contentores periódicos em localizações específicas);
5) Recolhas periódicas;
6) Centros de compra e venda de recicláveis.
Em relação aos sistemas de ecopontos, e de uma forma geral, estes apresentam as seguintes
vantagens (36):
1. Custos menores de capital e operação, comparativamente aos sistemas porta-aporta
(PaP);
2. São flexíveis para uma grande gama de contentores (tipo e dimensões) o que permite a
sua adaptação à estrutura e à densidade do tecido urbano;
3. Se o nível de participação dos cidadãos for elevado consegue-se a recolha de materiais
de boa qualidade.
Relativamente às desvantagens, destacam-se, como mais significantes, as seguintes (36) (37)
(38):
1. A quantidade e a qualidade dos materiais está muito dependente da eficiência de
participação dos cidadãos;
2. Contentores individuais e ecopontos são muito vulneráveis a atos de vandalismo e roubo,
podendo, igualmente, ser esteticamente desagradáveis, barulhentos, sujos e pouco
higiénicos.
36
3. Os ecopontos só são aceitáveis em determinados locais urbanos, devido à necessidade
de espaço na área circundante ao ecoponto para as manobras das viaturas de remoção.
FIGURA 3.2-1: EXEMPLO DE CONTENTORIZAÇÃO E RECOLHA SELETIVA DE RU POR ECOPONTO E PORTA-A-PORTA
Para uma melhor adequação aos diversos sistemas de recolha a implementar, é necessário um
estudo prévio sobre algumas condicionantes explicadas abaixo, que irão permitir assim definir o
tipo de recipiente a adotar (35):
• Características urbanas locais;
• Flexibilidade do sistema;
• Capacidade de deposição;
• Grau de participação a esperar da população;
• Número de contentores necessários;
• Melhoria das condições de higiene e segurança dos trabalhadores;
• Tipo de veículos de recolha;
• Custos de implementação e exploração;
• Adaptabilidade da tecnologia;
• Tempos de carga/descarga.
Finalizando de salientar que os sistemas de recolha indiferenciada, são também um tipo de
recolha de extrema importância não só para uma constante preservação do bem-estar público,
como também uma forma de após triagem dos RU provenientes desta recolha proceder-se à
extração de uma parcela de recicláveis, seja através de processos de degradação biológica ou
de triagem automatizada. Este tipo de recolha compreende maioritariamente a recolha PaP,
podendo no entanto muitas vezes surgir numa recolha por contentores isolados de grandes
dimensões, à semelhança dos ecopontos na recolha diferenciada.
37
Modelos Económicos de Gestão de RU
Focando a atenção apenas nos aspetos económicos, o planeamento de um sistema adequado
de recolha seletiva de RU, deve visar a minimização dos custos, juntamente com o objetivo de
otimizar o serviço prestado à comunidade. No entanto, ampliando a perspetiva de intervenção, a
atenção deve centrar-se simultaneamente nas consequências ambientais das opções técnico-
económicas feitas ou a serem feitas, bem como na minimização do consumo de recursos.
Observando algumas das limitações de estudos lidos, o estudo efetuado por A.W. Larsen (39) a
uma região da Dinamarca, onde esta se destacava apenas por três tipos de cenários possíveis
e para uma população de aproximadamente 300 mil pessoas, ficou ciente a dificuldade em
determinar um conjunto de variáveis que fossem possíveis assentarem como pilhares de um
modelo que permitisse determinar custos anuais de poupança com a recolha seletiva, onde a
participação pública foi uma das variáveis contabilizada através de questionários.
Gallardo et al (40) por sua vez no seu estudo de caso realizado em Espanha, não faz referência
aos custos associados à recolha seletiva, mas sim analisa diferentes cenários com diferentes
sistemas de recolha, nomeadamente na diferença de contentorização, e no número de
contentores utilizados, sendo este estudo limitado a uma população abrangida algo pequena,
onde chega a conclusões sobre quais os sistemas que maior quantidade recolhe.
Num estudo limitado por uma população entre 1000 a 10 000 habitantes, De Feo e Malvano (41),
analisam através de variáveis que focam o número de veículos e recursos humanos necessários
à recolha seletiva, os custos totais em €/hab/ano por tipo de fração recolhida, ou seja, se resíduo
orgânico ou resíduo seco (ambos recicláveis). Identificou ainda fases de impacto sobre os custos,
onde foi possível verificar que a recolha é uma das fases mais significativas sobre os custos
totais.
Com uma análise sobre os benefícios decorrentes da aplicação de cenários propostos no estudo
de caso na cidade de Zavidovici (Bósnia), Vaccari et al (42) propõe cenários ideais de recolha
seletiva, comparando-os com o cenário existente, retirando assim valores de custos e de volumes
depositados. Uma limitação do estudo, é que a população é muito limitada a nível de número de
habitantes, e o sistema utilizado atualmente na localidade para a recolha seletiva, é o da
deposição em sacos de 85L dos materiais recicláveis que são posteriormente recolhidos PaP.
Ainda outra limitação é a não inclusão do material vidro, pois não existem fábricas de reciclagem
do mesmo. O estudo conclui para esta localidade um défice de 73€/mês com o atual sistema de
reciclagem, onde com o cenário ideal a poupança ascenderia aos 10 000€/mês.
Outro estudo um pouco diferente dos acima referidos, onde a base dos mesmos é a escolha de
variáveis que constituirão um modelo de análise de custos consoante o tipo de sistema
implementado, Dahlén L. (43) (44) (45) (46), analisa um conjunto de fatores que influenciam a
recolha seletiva, desde a deposição até à sua posterior triagem. Elabora assim um conjunto de
43 variáveis entre as quais participação pública, incentivos económicos, estratégias de
38
informação, tipos de sistemas de recolha, entre outras, que deverão ser estudadas aquando de
uma execução de um plano de gestão de recolha seletiva de RU.
Com uma análise elaborada, e recorrendo a um “benchmark” internacional, o estudo levado a
cabo pela Bain&Company (47), elabora um conjunto de resultados provenientes de uma análise
detalhada de vários métodos de recolha e tratamento de RU. Entre as variáveis estudadas, está
o valor de contrapartida, valores de capex13 e opex14 das diversas operações necessárias à
recolha de RU, valores de Impostos por parte do governo, e ainda valores de EBITDA15. O
balanço final do fluxo económico é feito através dos valores de capex, impostos, opex, sendo
estes subtraídos ao valor do EBITDA. Este estudo embora muito detalhado, recorre a alguns
fatores que podem fazer variar os valores finais de custo quando comparados com outros
estudos do mesmo foro. Tais fatores são o horizonte de análise de projeto que é de 30 anos,
sendo este dividido numa fase de implementação, noutra de operação e outra ainda de pós-
operação, fatores como taxas de desconto anuais e taxa de retorno interna. O cálculo do capex
foi também divido em três fases, contemplando na terceira fase uma taxa de gasto a cada cinco
anos, o que irá somar a valores de opex, bem como na utilização de médias para variáveis sem
informação disponível. Finalizando a análise a este estudo, os valores de custo estão divididos
por tecnologia, ou seja, o modelo não nos fornece o custo total do sistema de reciclagem desde
a sua recolha até à sua reutilização, mas sim custos de recolha, custos de utilizar-se incineração,
custo de enviar RU para aterro, fazendo com que cada tecnologia seja um sistema individual,
com os seus respetivos custos.
Outros estudos como EIMPack (48), Carvalho, M (49), Fernandes, G (50), Lavita, M (51),
Carvalho e Marques (52), Gomes, C (53) e Marta, B (54), elaboram um conjunto de modelos e
pressupostos que estudam os sistemas de reciclagem existentes e os fatores que mais
influenciam tais sistemas. Ainda assim ficou percetível que devido à falta de informação
necessária à elaboração de modelos tecno-económicos, os estudos acima elaborados começam
a transmitir um conjunto de ferramentas necessárias para que no futuro muitas dessas
ferramentas em conjunto com novos modelos, possam ajudar numa melhor otimização dos
sistemas de gestão de RU, quer a nível tecnológico, quer a nível económico.
Com esta revisão bibliográfica foi então possível perceber e selecionar alguns parâmetros
essenciais à construção do modelo, pelo que no quadro 3.1-1 encontra-se essas mesmas
variáveis.
13 “Expressão inglesa capital expenditure (em português, despesas de capital ou investimento em bens de capital), sendo o montante de dinheiro despendido na aquisição (ou introdução de melhorias) de bens de capital de uma determinada empresa.” (Wikipédia) 14 “Operational Expenditure (em português, despesas operacionais) significa o capital utilizado para manter ou melhorar os bens físicos de uma empresa, tais como equipamentos, propriedades e imóveis. As despesas operacionais são os preços contínuos para dirigir um produto, o negócio, ou o sistema.” (Wikipédia) 15 “EBITDA é a sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, que em português significa lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações.” (Wikipédia)
39
Parâmetro Descrição Unidades
RU Geração RU ton/hab
NC Nº Contentores contentor
Nv Nº Veículos veículos
Pcomb Preço combustível €/l
Ce Custo equipa recolha €/veíc
St Salário dos trabalhadores €/h
F Frequência recolha semana
CRI Custo recolha indiferenciada €/ton
Caterro Custo deposição aterro €/ton
TABELA 3.2-1:LISTA DE VARIÁVEIS RECOLHIDAS ATRAVÉS DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EFETUADA
3.3 Motivação do Estudo
Uma das principais lacunas nos modelos acima descritos e revistos é a demonstração completa
dos custos e benefícios dos sistemas de recolha seletiva, ou seja, é a falta de um conjunto de
variáveis que permitam uma análise global deste tipo de sistemas.
Muitas das vezes a difícil comparabilidade entre os estudos dificulta o aproveitamento dos
mesmos na implementação de novos modelos que permitam assim compreender e demonstrar
os reais custos e benefícios do sistema de recolha seletiva. A falta de descrição metodológica
em muito dos mesmos, bem como a fraca transmissão da realidade, fazem com que estes
modelos contenham falhas nos valores finais a que se propõem.
Com esse foco, é necessário começar-se a fazer uma análise cada vez mais precisa e real, mas
também mais abrangente, visando sempre essa análise a vertente tecnológica e económica dos
sistemas de gestão de RU, de modo a se obter um conjunto de custos/benefícios que possam
ser utilizados com rigor em futuras análises, aumentando cada vez mais a eficiência dos
mesmos.
Sendo a falta de dados muitas vezes uma preocupação e uma obstrução a modelos de análise,
com este estudo criou-se um modelo que fosse possível conjugar uma base de dados recolhida
e recorrendo muitas vezes à bibliografia, com um conjunto de formulações que transmitissem
uma realidade aproximada dos custos/benefícios. Tal modelo contém um conjunto de variáveis
que permitem, uma análise global de todo o sistema, desde a recolha à reutilização dos resíduos,
de modo a que seja possível no futuro aproximar-se o mesmo a uma análise técnico-económica
dos sistemas de gestão de RU.
40
4 Modelo Tecnológico-Económico
4.1 Metodologia
Este estudo pretende realizar uma análise tecnológica-económica do sistema de reciclagem de
embalagens para Portugal, desde a sua produção, ou seja, sua deposição, bem como recolha,
transporte, triagem e por fim sua reutilização, sendo esta contabilizada pelo valor de
contrapartida inserido no sistema. Para tal, foram considerados um conjunto de tecnologias de
deposição, recolha, transporte e triagem, bem como foram considerados um conjunto de fluxos
financeiros presentes no sistema de reciclagem de embalagens. Os dados obtidos foram
conseguidos através de uma revisão extensa de bibliografia, através de trocas de informação
entre empresas da área em questão, e outros através de médias obtidas aquando da falta de
dados. De salientar que a análise realizada é apenas para o fluxo urbano de resíduos de
embalagens, não contabilizando assim fluxos provenientes do setor HORECA 16 , ou fluxos
industriais. Os limites considerados no nosso estudo começam no momento em que os materiais
recicláveis deixam de apresentar valor para os seus detentores, acabando no momento em que
esses materiais estão prontos a serem reutilizados, ou seja, no momento em que a reciclagem é
completada. De salientar que o espaço temporal utilizado no cálculo efetuado pelo modelo é
anual, sendo que as simulações foram efetuadas para o ano de aquisição, ou seja, para o ano
0.
Como já referido, o âmbito deste trabalho é a análise e simulação de um sistema de reciclagem
para RE. Para tal, após um estudo sobre os sistemas de gestão de recicláveis não só em
Portugal, mas também a nível internacional, foi possível perceber um conjunto de fatores que
são decisivos na modelação deste tipo de sistemas. Sendo este um modelo que aborda o sistema
de reciclagem de RE como um todo, ou seja, desde a deposição do resíduo, até à sua
reutilização, foram elaboradas num conjunto de fases, o modelo tecnológico-económico final.
Tais fases de construção estão descritas na Figura 4.1-1.
16 Setor da indústria alimentar, abrangendo a hotelaria e restauração, consistindo nos estabelecimentos que preparam e servem alimentos e bebidas, sendo o termo uma abreviação de Hotel/Restaurante/Café.
41
FIGURA 4.1-1: DIAGRAMA ILUSTRATIVO DAS FASES DE CONSTRUÇÃO DO MODELO
Como acima foi descrito através do diagrama da Figura 4.1-1, primeiramente foi realizada uma
vasta revisão bibliográfica não só a modelos do mesmo foro já existentes, como também foi
revista um conjunto de publicações sobre modelos de gestão de RU para que se percebesse que
variáveis determinam restrições, ou que influenciam direta ou indiretamente os sistemas de
gestão no nosso caso de recicláveis de embalagens, desde a sua deposição por parte dos
utilizadores finais, até à sua preparação para reutilização. De salientar que quanto mais profunda
for esta análise, mais variáveis de entrada para o modelo poderão ser escolhidas devido à sua
pertinência. Ainda assim, foram escolhidas as variáveis mais importantes e que mais se
adequavam ao modelo elaborado neste trabalho, não obstante que outras variáveis pudessem
ser escolhidas e aí o detalhe do modelo fosse maior, o que levaria também a um aumento de
erros de resultados, visto que como iremos perceber mais à frente, muitas variáveis foram
definidas com valores meramente bibliográficos.
Após a revisão bibliográfica acima comentada, foi-nos possível então elaborar um conjunto de
variáveis (que irão ser referenciadas mais à frente) para serem introduzidas como parâmetros
de entrada no modelo. De salientar que nesta fase já havia uma noção das formulações que
iriam ser efetuadas mais à frente, fruto da revisão bibliográfica e do ganho de conhecimento que
dela proveio.
Na fase de construção da base de dados a ser utilizada, focando o que havia sido lido e
pesquisado, foram retirados conjuntos de valores bibliográficos referentes às variáveis
Revisão Bibliográfica
Determinação das variáveis de entrada
que constituem o modelo
Construção de uma base de dados para
as variáveis de entrada
Formulações, que permitissem um
conjunto de cálculos necessários ao
modelo, bem como definição das
variáveis de saída
Análise de Monte Carlo ao conjunto de
formulações anteriormente
elaboradas
Análise de dados e resultados
Elaboração de uma interface de
utilizador
42
anteriormente escolhidas, como também foram estabelecidos contactos com diversas empresas
do sector de resíduos, de modo assim a obtermos valores válidos que viriam a complementar os
retirados da bibliografia, e assim diminuir o intervalo de valores para cada variável, de modo a
oscilar as mesmas de modo a que o intervalo de valores oscilado fosse menor e que garantisse
uma maior veracidade de valores, bem como uma diminuição no erro proveniente de valores
incorretos.
Após a obtenção de valores coerentes para cada variável, foi possível assim construir a base de
cálculo de custos do nosso modelo, através de um conjunto de formulações que fossem
adequadas ao cálculo proposto por este modelo, e também com base na bibliografia, que neste
tipo de modelo se torna útil no esclarecimento não só de possíveis dúvidas, como também de
possíveis “caminhos” a seguir nesta mesma formulação. Foram ainda definidas nesta fase, os
parâmetros de saída, que serão alvo de análise e que nos permitirão assim avaliar através do
modelo os sistemas de gestão de recicláveis de RE.
Com a base do modelo elaborada, procedeu-se a uma análise de sensibilidade das variáveis
através do modelo de Monte Carlo17 , com auxílio da ferramenta MATLAB18 . Tal análise é
elaborada quando o levantamento e análise de custos são dificultados devido à existência de
variáveis que apresentam elevada variabilidade de valores, o que poderá gerar algumas
incertezas nos resultados. O método é constituído por cinco etapas organizadas de forma
sequencial e abordadas, principalmente, a partir de expressões matemáticas. Tais fases estão
descritas na Figura 4.1-2. De salientar que o número de repetições estabelecidas para esta
mesma análise foram de 1000 repetições, de modo a podermos estabilizar as frequências de
valores.
O método de simulação de Monte Carlo pode ser aplicado em problemas de tomada de decisão
a qual envolva risco e incerteza, ou seja, situações nas quais o comportamento das variáveis
envolvidas com o problema não é de natureza determinística (55) (56).
17 “A denominação “Monte Carlo” foi cunhada em referência aos jogos de azar que fazem uso constante de sorteios e de dados, uma atração popular na cidade de Monte Carlo, Mônaco (METROPOLIS; ULAM, 1949;METROPOLIS, 1987). No entendimento de Lustosa, Ponte e Dominas (2004, p. 251), a simulação de Monte Carlo consiste em um método que “[...] utiliza a geração de números aleatórios para atribuir valores às variáveis do sistema que se deseja investigar”. Os números são obtidos de artifícios aleatórios (por exemplo: tabelas, roletas, sorteios) ou diretamente de “softwares”, através de funções específicas.” 18 “MATrix LABoratory, é um “software” interativo de alta performance utilizado em cálculo numérico. O MATLAB integra análise numérica, cálculo de matrizes, processamento de sinais e construção de gráficos, onde os problemas e suas soluções são expressos somente como eles são escritos matematicamente, ao contrário da programação tradicional” (Wikipédia).
43
FIGURA 4.1-2: PASSOS PARA A OPERACIONALIZAÇÃO DO MÉTODO DE SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO. ADAPTADO DE
SHAMBLIN E STEVENS, 1974
Após a elaboração do método de Monte Carlo, foram analisados os resultados obtidos através
das diversas simulações efetuadas para diferentes cenários. Posteriormente construiu-se uma
interface de utilização que como irá ser abordado num subcapítulo mais à frente, permitirá ao
utilizador a introdução de valores para cada uma das variáveis de entrada, e obter assim através
de um determinado tipo de cenário, valores de resposta, ou seja, valores dos parâmetros de
saída.
4.2 Dados
Para a obtenção dos dados, foi revista uma vasta bibliografia, bem como através de contactos
com empresas de gestão de resíduos e comercialização de equipamentos nessa mesma área,
obter-se dados atuais e reais necessários à estipulação dos intervalos de valores para cada um
das variáveis (ver Anexo I).
De salientar que embora fora conseguida uma elevada gama de valores para cada variável de
entrada, é de extrema dificuldade a aquisição de dados provenientes de SMAUTS, ou de outras
entidades de gestão de RU, pois muitos destes dados são económicos com alguma
sensibilidade, o que dificulta a transmissão de informação para posteriormente ser introduzida
neste trabalho académico. Na tabela 4.2-1, é possível observar algumas das fontes utilizadas
para a construção da base de dados, (embora numa versão resumida) sendo que os valores de
cada item encontra-se presente no Anexo I.
1•Definir variáveis no sistema em análise, com base em dados bibliográficos.
2•Construir uma base de dados consoante as variáveis escolhidas.
3
•Construir intervalos de valores para cada uma das variáveis, recorrendo à base de dados elaborada no passo anterior.
4
•Através de uma ferramenta de simulação, gerar valores aleatórios para cada variável, dentro do intervalo de valores anteriormente estabelecido
5
•Após o estabelecimento de um número de simulações (acima das 100 repetições), analisar as frequências e tendências de cada uma das variáveis simuladas.
44
Fonte Ano Veículo
Gomes et al.; Lopes 2008 Caixa 15m3
CM Portalegre 2009 Chassis + caixa + elevador + adaptação traseira
CM Moura 2009 Caixa 15m3
CM Penafiel 2009 Recolha RU
CM Mealhada 2009 Com Compactação
Abrantes 2009 EcoP 2500l
CM Entroncamento 2009 Recolha RU
CM Seixal 2009 Recolha RU
CM Gondomar 2009 Com Compactação
CM Sines 2009 Recolha RU
Valnor 2009 Recolha Vidro
Valnor 2009 Recolha Papel/Cartão e Embalagens
Valnor 2009 Recolha RU
ERSUC 2009 Chassis + caixa
Resialentejo 2010 Recolha seletiva
Valorminho 2009 Recolha RU 32 toneladas
Lavita 2008 Camião bi-fluxo, de 20 m3, com compactação
Lavita 2008 Camião Ampli-Roll c/grua, com caixas amovíveis de 20 m3
Lavita 2008 Camião Mono-fluxo, entre 15 e 20 m3, com compactação
Lavita 2008 Camião Bi-fluxo com grua entre 15 e 20 m3
Ambisousa 2010 Camião caixa aberta com grua, de 15 m3, sem compactação
Fonte Ano Contentorização
Almoverde 2014 SACOS DE 30l Rolo de 20 Sacos - 52x60 cm
Almoverde 2014 SACOS DE 50l Rolo de 10 Sacos - 60x80 cm
Almoverde 2014 CONTENTOR PLAST.400x300x130 cm
Almoverde 2014 CONTENTOR PLAST.600x400x200 cm
Almoverde 2014 Balde Retangular Basculante 26Ll
Contenur 2013 Ecoponto DUO PLAS 26 l
Contenur 2013 Balde de 40 l com 3 divisões (380x540x330 mm)
Almoverde 2014 Contentor de 52l c/ pedal
Contenur 2013 ECOPONTO ECOMAD 56 l
Contenur 2013 POLIMAX SIMPLES 13 l x 3
Almoverde 2014 Ecoponto Capacidade 80 l (3x26l)
Contenur 2013 Contentor Ecológico – 3 Resíduos 52 l
Contenur 2013 Contentor de 80L c/ pedal e rodas
Almoverde 2014 Contentor MGB´s 2 rodas 120l
Almoverde 2014 Contentor de 120l c/ pedal e rodas
Almoverde 2014 CONTENTOR LIXO 120l
Contenur 2013 Contentor MGB´s 2 rodas 240l
Almoverde 2014 CONTENTOR LIXO 360l
Contenur 2013 Contentor MGB 4R tampa plana 800l Sistema de Elevação Din
Almoverde 2014 Contentor MGB 4R tampa plana 800l Sistema de Elevação Oschner
Almoverde 2014 CONTENTOR LIXO 800l
Contenur 2013 Contentor MGB 4R tampa plana 1000l Sistema de Elevação Din
Almoverde 2014 Contentor Ecoponto Cyclea 2500l
Contenur 2013 Ecoponto CLYMA25, capacidade 2500 l
TABELA 4.2-1: DADOS PARA VEÍCULOS DE RECOLHA E CONTENTORES
45
4.3 Modelo Numérico
4.3.1 Custos Considerados Tal como referido, este trabalho pretende recorrendo a um modelo de simulação, a elaboração
de custos da reciclagem de embalagens através de uma análise económica consoante o tipo de
tecnologia adotada. De focar, que o pressuposto do nosso modelo é o sistema urbano de gestão
de resíduos. Como tal, foram identificados os principais custos, sendo eles os de aquisição
(despesas de capital, “capex”) e os operacionais (“opex”). O “capex” para as diversas etapas da
gestão de RE, refere-se a custos de aquisição de equipamento, e de construção de instalações
para processamento desses mesmos resíduos, enquanto o “opex” refere-se a custos de gestão
de ativos, nomeadamente infraestruturas (veículos, contentores, estações de triagem, entre
outros) e recursos humanos.
No cálculo de despesas de capital de contentorização, ou seja, o custo de aquisição de
contentores de deposição de recicláveis, nomeadamente contentores de PaP, Ecopontos e
Ecocentros, é calculado pela Equação 4.3-1:
EQUAÇÃO 4.3-1: CUSTO DE CONTENTORIZAÇÃO
CD = NC X VC
Onde:
• CD – Custo de contentorização (€);
• NC – Número de contentores (cont/ano);
• Vc – Valor do contentor (€/cont);
Em que:
EQUAÇÃO 4.3-2: VALOR DO CONTENTOR
VC = CIC + CMC
Onde:
• Cic – Custo de aquisição do contentor (€/cont);
• Cmc – Custo de manutenção do contentor (€/cont);
De salientar o facto de o custo de manutenção do contentor considerado oscilar entre o intervalo
de 10 a 15% do custo de aquisição. Este valor pode não ser o mais correto no ano de aquisição,
mas nos anos seguintes, considera-se uma boa aproximação aos gastos atuais com este tipo de
infraestrutura. Referir ainda, que caso queira-se simular os custos de contentorização no ano 2
ou outro que não o primeiro são retirados os valores de aquisição, mantendo-se apenas os
valores de manutenção e ainda uma fração de aproximadamente 10% sobre o número de
contentores que necessitam de nova aquisição no ano considerado, devido a problemas
impossíveis de solucionar sem a compra de novo elemento.
46
No que se refere a custos de recolha, as formulações são um pouco mais complexas, pois o
número de variáveis são maiores, bem como o número de equações necessárias à modelação
desta fase de gestão de RU nomeadamente de resíduos de embalagens. Como tal a Equação
4.3-3 representa os custos de recolha:
EQUAÇÃO 4.3-3: CUSTO DE RECOLHA DE RECICLÁVEIS
CR = CTV X NV
Onde:
• CR – Custo de Recolha (€);
• CTV – Custo total do veículo (€/veíc);
• Nv – Número de veículos (veíc);
O custo total do veículo é decomposto pela Equação 4.3-4:
EQUAÇÃO 4.3-4: CUSTO TOTAL DO VEÍCULO
CTV = CAV + CGV + CE
Onde:
• Cav – Custo de aluguer do veículo (€/veíc);
• Cgv – Custo de gestão do veículo (€/veíc);
• Ce – Custo de equipa de recolha (€/veíc);
O custo de aluguer de veículo é considerado em vez do custo de aquisição. Tal deve-se ao facto
de que a maioria das empresas responsáveis pela recolha de RU, utilizarem este tipo de gestão
de modo a combater o elevado custo de aquisição de um veículo que como podemos ver no
Anexo I, compreende intervalos de 80 000 a 200 000€. Como tal, utilizou-se esta forma de
cálculo, tendo os veículos uma vida útil de aproximadamente 10-15 anos, considerou-se um valor
de aluguer de cerca de 7-10%/ano do valor total de aquisição do veículo, fazendo com que após
o tempo de vida útil este valor não faça sentido de ser aplicável.
O custo de gestão de cada veículo (Cgv) é também ele decomposto pela Equação 4.3-5:
EQUAÇÃO 4.3-5: CUSTO DE GESTÃO DO VEÍCULO
CGV = CMV + CCOMB
Onde:
• Cmv – Custo de manutenção do veículo (€/veíc);
• Ccomb – Custo de combustível (€/veíc);
47
Sendo que o custo de manutenção ao ano por veículo (Cmv) é dado por 10% do custo de aluguer
anual do veículo, e onde o custo de combustível é representado pela Equação 4.3-6:
EQUAÇÃO 4.3-6: CUSTO DO COMBUSTÍVEL
CCOMB = PCOMB X CMK X (KMD X 52 X F)
Onde:
• Pcomb – Preço do combustível (€/l);
• Cmk – Consumo médio do veículo (l/km);
• kmd – Média de quilómetros efetuados pelo veículo por dia (km/veíc/dia);
• F – Frequência de recolha à semana, com aproximadamente 52 semanas no ano
(semana);
O preço do combustível é conseguido através de uma média calculada de uma gama de valores
para o ano 2014 (Janeiro a Julho) consoante as flutuações do mercado para este produto nos
respetivos meses recorrendo a (57), e assumindo como combustível o gasóleo, sem ser
considerado o custo da introdução do AdBlue19 num tanque diferente ao tanque de combustível,
o que iria perfazer mais gastos. Tal não foi considerado pois, é um aditivo que só os veículos
mais recentes contêm de modo a satisfazer as novas normas de emissões estabelecidas pela
EU.
A média de quilómetros efetuados pelo veículo (kmd) contabiliza as viagens desde a base até
aos pontos de recolha, as viagens de descarga ou transferência de resíduos, sendo também
considerado a extensão e frequência (F) de recolha nos circuitos estipulados, que mais à frente
será possível verificar.
Na Equação 4.3-4, o custo de equipa de recolha (Ce), contempla o número de trabalhadores por
veículo, e é representado pela seguinte Equação 4.3-7:
EQUAÇÃO 4.3-7: CUSTO DA EQUIPA DE RECOLHA
CE = ST X NE X HD
Onde:
• St – Salário do trabalhador (€/h);
• Ne – Número de elementos por equipa (elementos/veíc);
• hd – horas de trabalho por ano (h/ano);
19 “Solução aquosa de ureia (32,5% de ureia pura, 67,5% de água desmineralizada) que atua sobre os gases de escape dos motores de veículos pesados como conversor catalítico para reduzir as nocivas emissões de óxido de nitrogénio (NOx) gerados nos processos de combustão. O preço varia entre os 0.3 e os 0.4€/l, e os seus consumos são de cerca de 1.5l/100km.” (GalpEnergia)
48
Para o número de horas por ano foram contabilizadas 8 horas diárias por trabalhador, com
período de trabalho de 21 dias por mês, durante 11 meses por ano.
Finalizando, o custo total das duas frações contentorização e recolha perfazem a Equação 4.3-
8:
EQUAÇÃO 4.3-8: CUSTO TOTAL DE CONTENTORIZAÇÃO E RECOLHA
CT = CD + CR
Onde:
• CD – Custo de Contentorização (€);
• CR – Custo de Recolha (€);
O custo total acima referido, não corresponde ao custo total do sistema mas sim apenas à soma
das duas frações referidas. Tal custo acima representado com as unidades (€) irá posteriormente
ser dividido pela quantidade de resíduos depositada/recolhida de recicláveis, perfazendo assim
uma análise em €/ton.
Analisando o conjunto de formulações acima descritas, percebe-se que conseguiu-se incorporar
no modelo os custos associados à deposição de resíduos, nomeadamente os custos que os
sistemas responsáveis têm ao garantir contentores de deposição de recicláveis, bem como os
custos que as entidades têm com a recolha e transporte desses mesmos resíduos. É de extrema
importância perceber que não foram incorporados com grande detalhe variáveis que
contabilizassem tempos de recolha, de viagem, e de descarga, pois apesar de considerarmos
importantes tais fatores, tentamos introduzir como variável a quilometragem efetuada,
colmatando assim os tempos gastos com as distâncias percorridas. Como já referido
anteriormente, teve-se sempre a preocupação de introduzir um elevado grau de detalhe no
modelobde modo a que este fosse o mais aproximidado possível à realidade, bem como os seus
valores, que fosse um modelo completo mas ainda assim simples, sem demasiadas variáveis
que pudessem aumentar a margem de incerteza e de erro em relação aos dados a utilizar para
essas mesmas variáveis.
Passando para a parte pós-recolha, outro importante custo contabilizado, foi o de Triagem de
recicláveis provenientes da recolha seletiva de RE porta-a-porta, ou por ecoponto. Tal variável é
importante, pois é um fator decisivo na posterior venda dos recicláveis, pelo que o nosso modelo
considera a triagem como variável de custo. Importa salientar que o custo de triagem não foi
dividido no custo de aquisição nomeadamente no custo de infraestruturas, e no custo de
operação dessas mesmas infraestruturas, porque com base nos valores obtidos para cada uma
das variáveis (“capex” e “opex”), decidiu-se somar as duas e dividi-las pela quantidade de resíduo
depositado para triagem (€/ton), de modo a tornar as formulações finais mais simples, mas sem
perder a veracidade de resultados. Tal variável no modelo é introduzida como Triagem.
49
4.3.2 Benefícios Considerados
Finalizando os custos associados à recolha seletiva de RE provenientes do fluxo urbano
passamos a introduzir no modelo os benefícios económicos associados à mesma,
nomeadamente o fluxo financeiro dos materiais recicláveis posteriormente vendidos, ou seja, o
valor de contrapartida, os benefícios de evitar a recolha indiferenciada de resíduos, bem como
os benefícios de evitar a deposição em aterro.
Para introduzirmos a variável desvio de deposição em aterro considerou-se CAterro. Com o evitar
da recolha indiferenciada a sigla introduzida no modelo foi CRI. Ambas as variáveis foram
declaradas só com um único valor, ou seja, assim como na variável de triagem, optou-se por
juntar os custos de “capex” e “opex” num só valor, perfazendo assim um custo total quer na
deposição em aterro, quer na recolha indiferenciada.
No que diz respeito aos valores de contrapartida (VC) pagos pela SPV às autoridades locais
responsáveis pela recolha e triagem dos RE, esta variável já é um pouco mais complexa que as
outras, pelo que primeiramente iremos explicar como é feito esse pagamento, e seguidamente
de que modo se incorporou este benefício no modelo.
Os valores de contrapartida são por definição o valor a pagar aos sistemas pelo custo acrescido
resultante das operações de recolha e triagem de resíduos de embalagem. (58) As autarquias,
ou as entidades responsáveis a quem foi atribuída essa competência, entregam os resíduos
triados à SPV, que por sua vez reencaminha os resíduos para empresas licenciadas, sendo que
as autarquias recebem então a contrapartida financeira, em função das quantidades recolhidas
seletivamente e triadas, compensando assim o aumento de custos relativamente à recolha
indiferenciada que praticavam até então. O valor de contrapartida (VC) é único e estável em cada
ano e para cada tipo de material (vidro, madeira, plástico, papel/cartão, aço e alumínio), o que
significa que não está sujeito às oscilações de mercado verificadas para aqueles materiais. Como
tal, os SMAUT garantem o escoamento dos resíduos triados e assegurada uma fonte de
financiamento regular. (15)
Nas tabelas 4.3-1 e 4.3-2, é possível verificar os valores de contrapartida estipulados pela SPV
para o ano de 2011.
Material X1 X2 X3 Unidade
Vidro <14.3 <24.5 <40.8 kg/hab/ano
Plástico <2.1 <3.6 <15.3 kg/hab/ano
Papel/cartão <8.0 <10.0 <15.0 kg/hab/ano
Aço <0.4 <0.7 <4.1 kg/hab/ano
Alumínio <0.02 <0.04 <0.86 kg/hab/ano
Ecal <0.3 <1.8 <3.0 kg/hab/ano
TABELA 4.3-1: VALOR DE CONTRAPARTIDA PARA 2011, FONTE: SPV
50
P1 P2 P3 Unidade
35 48 60 €/ton
732 782 832 €/ton
122 136 149 €/ton
540 580 619 €/ton
689 914 1155 €/ton
693 741 788 €/ton
TABELA 4.3-2: VALOR DE CONTRAPARTIDA PARA 2011, FONTE: SPV
Com os valores acima referidos nas duas tabelas o modelo de cálculo do VC é então efetuado
da seguinte forma:
Abaixo de X1
Recebem
P1
Entre X1 e X2 P2
Entre X2 e X3 P3
Acima X3 P3
TABELA 4.3-3: FORMA DE CÁLCULO DO VC, FONTE: SPV
A variável valor de contrapartida introduzida no modelo, agregou num só valor esta variável, de
modo a simplificar os cálculos, mas ainda assim tornar esta variável numa mais-valia considerada
para o modelo. Considerou-se então o valor de contrapartida de cada fração presente nas tabelas
acima, e multiplicou-se pelas quantidades retomadas para o ano de 2013 presente na tabela 4.3-
4, agregando-se assim os diferentes valores de contrapartida num só valor de média. Pretendeu-
se assim quantificar o resíduo como um conjunto de frações de materiais que dele fazem parte
e perceber o peso de cada fração, através da tabela de retomas e então proceder-se ao cálculo
do valor de contrapartida, sendo este valor uma mais-valia não só para os cálculos do modelo,
como também na sua simplificação sem nunca perder a realidade atual de valores.
Retomas 2013
Material Quantidade Unidade %
Vidro 164.434 ton 27
Plástico 90.586 ton 15
Papel/cartão 275.99 ton 45
Metal 51.37 ton 8
Madeira 36.435 ton 6
Total 618.815 ton 100
TABELA 4.3-4: VALORES DE RETOMA DE MATERIAIS PARA O ANO DE 2013, FONTE: SPV
Finalizando os benefícios utilizados no modelo, procedemos então à formulação final do modelo,
ou seja, construímos a fórmula final de custo de recolha seletiva de RE. Tal fórmula está descrita
na equação 4.3-9:
51
EQUAÇÃO 4.3-9: CUSTO TOTAL DA RECOLHA SELETIVA DE RE
CUSTO TOTAL = [CT / (NC X NP X RU X FP)] + TRIAGEM – VC – CATERRO - CRI
Onde:
• Custo Total – Custo total do sistema de recolha seletiva de RE (€/ton);
• CT – Custo total de contentorização e recolha (€);
• NC – Número de contentores recolhidos (cont);
• NP – Número de pessoas por contentor (hab/cont);
• RU – Quantidade de resíduo produzido (ton/hab);
• FP – Fator de participação da população na deposição correta/reciclagem;
• Triagem – Custo de triagem (€/ton);
• VC – Valor de contrapartida (€/ton);
• Caterro – Custo de deposição em aterro (€/ton);
• CRI – Custo de recolha indiferenciada (€/ton);
Com a formulação final demonstrada, passaremos no subcapítulo seguinte a mencionar alguns
dos pressupostos do modelo, como por exemplo na quantificação das variáveis, entre outras
considerações necessárias.
4.4 Pressupostos do Modelo
Intervalos de valores
Nesta secção iremos abordar os pressupostos necessários à conceção do modelo, desde os
valores de variáveis, até a um conjunto de outras considerações essenciais. Uma das
considerações mais importantes foi a de apenas considerarmos os modos de recolha porta-a-
porta e ecopontos, e não ecocentros pois as variáveis necessárias para a sua modelação são
muito difíceis de quantificar, pelo que poderíamos estar a introduzir erros nos valores introduzidos
no modelo para este modo de deposição.
Focando-se apenas nos dois sistemas acima referidos, caracterizaram-se valores ou intervalos
de valores para cada uma das variáveis de entrada do modelo, e seguidamente recorrendo-se a
uma análise de Monte Carlo com auxílio do programa MATLAB, foi possível para as variáveis
compreendidas nos intervalos de valores abaixo ilustrados pelas tabelas 4.4-1 e 4.4-3, gerar
dentro desses mesmo intervalos de valores aleatórios durante 1000 simulações de modo a
obtermos assim as variáveis de saída do modelo já estabilizadas, ou seja, onde já era notável as
tendências para determinados valores, e assim podermos efetuar uma análise de sensibilidade
a cada uma delas, principalmente ao custo final de todo o sistema.
52
Sistema Porta-a-Porta
Variáveis Intervalo
de valores Variáveis Intervalo de
valores Variáveis Intervalo
de valores
CT (€/ton) - Cav (€/veíc) [10 000, 14 000] Ne [2, 4]
CR (€) - Nv [2000, 2500] St (€/h) [5, 7]
CD (€) - Cgv (€/veíc) - hd (h) [1800]
NC [2 000 000, 3 000 000] Cmv (€/veíc) [1000, 1400] F (sem) [3]
Vc (€/cont) - Ccomb (€/veíc) - Npessoas [10, 15]
RU (ton/hab) [0.5*0.3*0.9] Pcomb (€/l) [1.2; 1.5] VC (€/ton) [80, 100]
Cic (€/cont) [80,100] Cmk (l/km) [0.5, 0.7] Triagem (€/ton) [80, 100]
Cmc (€/cont) [10,20] kmd (km/veíc/dia) [50, 70] Caterro (€/ton) [20, 40]
CTV (€/veíc) - Ce (€/veíc) - CRI (€/ton) [50, 70] TABELA 4.4-1:VALORES DAS VARÁVEIS DE ENTRADA NO SISTEMA DE RECOLHA PAP
Onde:
• NC – (10 milhões de hab/ Npessoas) x 3 contentores para papel/cartão, plástico e vidro;
• RU – Capitação de 500kg/ano/hab x 30% de material recicláve
• Kmd – Assumiu-se uma distância de entre 50 a 70 Km/viagem desde a saída da viatura
do parque, até retorno para despecho de resíduos ou regresso ao parque de paragem20;
• Ne – Assumiu-se entre 2 a 4 elementos por viatura de recolha;
• hd – O número de horas anuais corresponde aproximadamente a 8h diárias x 21
dias/mês x 11 meses;
• F – Deduziu-se uma frequência semanal de três recolhas, podendo em cada recolha um
veículo efetuar mais do que uma viagem ( contabilizado por excesso na quilómetragem
efetuada por dia) ;
• NPessoas – Assumiu-se entre 10 a 15 hab/contentor neste tipo de sistema de recolha;
• VC – Como se sabe, o valor de contrapartida é calculado com base nas tabelas 4.3-1,
4.3-2 e 4.3-3 anteriormente evidenciadas, tendo uma forte relação com as diferentes
frações que constituem os resíduos recolhidos. Como tal através dos dados disponíveis
da SPV referentes às retomas de material reciclável para o ano de 2013 (4.3-4),
multiplicados pelo VC de cada material, chegou-se a uma média de 85€/ton, pelo que se
considerou o intervalo de [80, 100] (€/ton);
• Para os intervalos de valores das variáveis Triagem, CAterro e CRI, foram estipulados
através da vasta bibliografia revista e da base de dados elaborada (Anexo I).
20 Quilometragem média anual ponderada de aproximadamente 10 000Km de um veículo de recolha de resíduos, a partir de (61), assumindo os valores médios dos intervalos definidos para a quilometragem percorrida por um camião num dia de recolha (40 a 65 km/veículo.dia) e os dias de trabalho de um veículo por ano (entre 200 e 300 veículos.dia/ano)
53
Sistema Ecoponto
Variáveis Intervalo de
valores Variáveis Intervalo de
valores Variáveis Intervalo
de valores
CT (€/ton) - Cav (€/veíc) [10 000, 14 000] Ne [2, 3]
CR (€) - Nv [2000, 2500] St (€/h) [5, 7]
CD (€) - Cgv (€/veíc) - hd (h) [1800]
NC [120 000] Cmv (€/veíc) [1000, 1400] F (sem) [1, 2]
Vc (€/cont) - Ccomb (€/veíc) - Npessoas [200, 250]
RU (ton/hab) [0.5*0.3*0.45] Pcomb (€/l) [1.2; 1.5] VC (€/ton) [80, 100]
Cic (€/cont) [350,500] Cmk (l/km) [0.5, 0.7] Triagem (€/ton) [80, 100]
Cmc (€/cont) [30,50] kmd
(km/veíc/dia) [50, 70] Caterro (€/ton) [20, 40]
CTV (€/veíc) - Ce (€/veíc) - CRI (€/ton) [50, 70] TABELA 4.4-2: VALORES DAS VARÁVEIS DE ENTRADA NO SISTEMA DE RECOLHA ECOPONTO
Onde:
• NC – Através dos dados disponibilizados pela SPV, em 2013 existiam aproximadamente
40 000 ecopontos, cada um deles com 3 contentores para papel/cartão, plástico e vidro;
• RU – Capitação de 500kg/ano/hab x 30% de material recicláve x 0.45 (participação de
45% por parte da população em reciclar);
• Cic – Custo de aquisição de contentores mais elevado neste sistema devido à maior
dimensão dos mesmos e também devido a muitas vezes o tipo de material ter que ser
mais resistente;
• Ne – Assumiu-se entre 2 a 3 elementos por viatura de recolha;
• F – Deduziu-se uma frequência semanal entre uma e duas recolhas, podendo em cada
recolha um veículo efetuar mais do que uma viagem ( contabilizado por excesso na
quilómetragem efetuada por dia) ;
• NPessoas – Assumiu-se entre 200 a 250 hab/contentor neste tipo de sistema de recolha;
• Os valores das variáveis VC, Triagem, CAterro e CRI, são os mesmos praticados no
sistema de PaP.
Uma nota final para os resultados da variável Custo total do sistema, que quando positivos
significam como um valor de custo, e quando negativos representam um valor de benefício
económico para o sistema total de recolha e triagem de resíduos de embalagens.
54
4.5 Desenvolvimento de Interface do Modelo
Pensando nos utilizadores que necessitavam de condições específicas, ou seja, na introdução
de valores próprios dos seus sistemas de gestão, foi criada assim uma ferramenta recorrendo
ao programador do Excel, nomeadamente o Visual Basic, que permite assim a introdução de
valores nas variáveis de entrada, ou até recorrer a uma base de dados inserida no programa, de
modo a se realizar um conjunto de simulações para posterior análise, sendo essa análise com
base em variáveis de saída, desde variáveis de custo de contentorização, recolha, triagem,
custos evitados, entre outros. Essa análise é complementada com um conjunto de gráficos e
ainda com uma exportação de todos os dados inseridos que permitem em qualquer altura uma
revisão ou análise.
Tal ferramenta, permitirá desenvolver um conjunto de simulações que poderão ser úteis a
possíveis alterações nos sistemas de gestão, consoante a resposta das variáveis de saída,
desde a alteração do tipo de contentor, recolha, número de veículos, e até mesmo numa análise
de processos diversos de triagem e de benefícios que o sistema aufere.
Pretendeu-se com esta interface, tornar o modelo mais dinâmico, não sendo o utilizador do
mesmo quase que “obrigado” a simular um sistema de gestão de RU apenas com os intervalos
de valores pré-estabelecidos pelo programa. Na figura 4.5-1, é possível observar a base da
interface do modelo de simulação realizado, interface essa apresentada em conjunto com este
trabalho escrito.
55
Após iniciarmos o simulador, podemos introduzir através da base de dados existente, ou até mesmo introduzindo manualmente, valores para cada um dos parâmetros de entrada do modelo, seja para recolha porta-a-porta ou para recolha por ecopontos. Após o preenchimento de todos os parâmetros, ao selecionarmos avançar o simulador avança para a imagem seguinte.
Nesta parte da simulação podemos calcular os custos de contentorização, de recolha, custos evitados, valor de contrapartida e ainda o custo total do sistema por nós simulado. De salientar que introduzimos alguma complexidade nestas funções de modo a poder-se escolher as frações
56
existentes na composição do resíduo, bem como introduzir-se valores de triagem, recolha indiferenciada e ainda de custos de deposição em aterro. Após esta fase estar concluída o simulador avança para a última etapa da simulação onde é possível observar e analisar um conjunto de gráficos construídos através dos valores das diferentes variáveis. Introduziu-se ainda uma caixa de comentários para o utilizador poder introduzir algumas notas, bem como um botão de exportação de dados com a data de exportação, para a folha de Excel, de modo a que cada valor de cada parâmetro possa posteriormente ser revisto e analisado.
FIGURA 4.5-1:INTERFACE DO MODELO DE SIMULAÇÃO
57
5 Resultados 5.1 Simulações Porta-a-Porta
Analisando as simulações com uso do programa MATLAB, abordou-se no primeiro caso, o sistema de
recolha porta-a-porta, onde procederemos a análises de gráficos e resultados, bem como a um
conjunto de diversas simulações de modo a percebermos se alterássemos valores das variáveis,
como por exemplo o custo de triagem, o número de pessoas por contentor, o próprio custo de cada
contentor, entre outras, como o sistema iria reagir, e se isso traria custos acrescidos ou benefícios
para os sistemas de gestão de RU, análise esta importante para que os decisores possam ser
auxiliados nas tomadas de decisões no que se refere à otimização destes sistemas.
O histograma apresentado na figura 5.1-1 representa a frequência do custo total do sistema obtido
através de uma simulação de Monte Carlo (secção 4.1), onde as variáveis são baseadas nos intervalos
de valores por nós estabelecidos anteriormente, e onde esses intervalos correspondem a uma
aproximação aos valores reais praticados pelos sistemas de gestão, representados na tabela 4.4-1.
FIGURA 5.1-1: HISTOGRAMA REPRESENTATIVO DO CUSTO TOTAL DO SISTEMA PORTA-A-PORTA
Analisando o histograma acima representado, é de referir que o custo líquido do sistema está
representado 80% dos casos entre os -20 € e os 20€, tendo este sistema de recolha devolvido um
valor de média de -0.88€/ton correspondente a uma aproximação real aos sistemas de gestão de
RU, pois aproximou-se todas as variáveis a valores o mais próximo da realidade praticada e
descrita na bibliografia vária. Percebe-se que o valor final de custo se enquadra no valor real de
58
tratamento de recicláveis, pois o sistema como um todo está organizado de modo a que os
sistemas de gestão não tenham custos nem benefícios Os proveitos do sistema, em particular o
valor de contrapartida está por definição calculado para que apenas cubra os gastos acrescidos
de recolha seletiva e triagem. Salienta-se ainda a importância da análise do histograma acima
apresentado, pois representa um resultado de sensibilidade do sistema, na variação dos
parâmetros que do modelo fazem parte.
Sujeitamos o nosso modelo a uma repetição de 1000 casos, através do método de Monte-Carlo
e o que foi possível concluir do resultado acima, é que há uma tendência de o sistema
permanecer na grande maioria das repetições, em valores próximos do zero, sendo o pior caso
para os sistemas quando o valor é positivo, ou seja, quando existe custo associado, e em que o
melhor caso é quando o valor devolvido é negativo, perfazendo um benefício para o sistema.
Este histograma foi para o modelo, a base de resultados que se esperava, e que nos permitiu
assim perceber que as variáveis escolhidas para o nosso sistema e os valores das mesmas
representam significativamente uma aproximação cuidada e coerente com resultados não só de
outros modelos com a mesma vertente de cálculo, como também com valores reais praticados e
obtidos pelos sistemas de gestão de resíduos.
Prosseguindo com as simulações, introduzimos variações primeiramente na variável Npessoas
e seguidamente no Cic que representa o custo de aquisição de contentores. O Npessoas foi alvo
de variações, pois esta variável devolve ao sistema o número de pessoas que usam o mesmo
contentor, ou seja, quanto menor o número de pessoas a usar o mesmo contentor, maior será a
quantidade necessária de contentores para satisfazer toda a população.
Nas Tabelas 5.1-1, 5.1-2 e 5.1-3 é possível observar um conjunto de resultados obtidos através
de várias simulações aos parâmetros falados acima, mantendo todas as outras variáveis com os
valores padrão utilizados para construir o histograma presente na figura 5.1-1.
Sim Parâmetro 1 Valor
parâmetro 1 Parâmetro
2 Valor
parâmetro 2 Média Custo Total (€/ton) DP
1
Npessoas (hab/cont)
10 - - 17.3 17.7 2 15 - -4.8 17.4 3 20 - - -19.6 17.7 4 20
CiC (€/cont)
[120, 150] -1.4 17.1 5 50 [200, 250] -11.6 16.9 6 5 - 90 20.8
7 [2, 5] [1, 3] -53.8 17.2 TABELA 5.1-1: TABELA DE SIMULAÇÕES REALIZADAS E RESPETIVOS RESULTADOS
Como é possível observar acima, esta tabela representa a variação da densidade populacional
por contentor, ou seja, o número de pessoas que utilizam o mesmo contentor. Quanto menor o
número de pessoas a utilizar o contentor, maior será o número de contentores necessários para
satisfazer todos os habitantes, aumentando o custo total de todo o sistema porta-a-porta.
59
Exemplificando, se tivéssemos uma comunidade com 100 pessoas, e se apenas grupos de 5
pessoas usassem o mesmo contentor, os custos associados seriam maiores do que se para a
mesma comunidade 20 pessoas usassem o mesmo contentor. Tal significaria uma redução nos
custos de contentorização e num menor custo de recolha por parte das empresas responsáveis.
Fazendo referência à simulação 6, denota-se um custo total de 90 €/ton, custo este devido ao
baixo número de pessoas que utilizam o mesmo contentor (cenário mais pessimista), e ainda de
salientar a simulação 7 onde se criou um sistema de contentorização apenas por via de sacos
de cor, onde obtém-se benefícios de cerca de 54 €/ton. Tal simulação recriou conjuntos de 10
sacos disponíveis a valores entre 1 e 3 € por conjunto, onde estipulou-se para o cálculo de sacos
utilizados ao ano caso todos os habitantes de Portugal aderissem a este sistema, a seguinte
equação:
EQUAÇÃO 5.1-1: CÁLCULO DE NÚMERO DE SACOS UTILIZADOS
NS = SC SEMANA X 52 SEMANAS X POPULAÇÃO
Onde:
• NS – Número de sacos utilizados;
• Sc – Sacos por pessoa/ semana (sacos/hab.semana) = 6 sacos / semana, ou seja,
com 2 saco por fração/ semana, e ainda entre 2-5 pessoas a utilizar um saco;
Esta simulação, partia do pressuposto que todo o território português aderia a este sistema de
deposição de recicláveis por via de sacos, sendo o custo dos sacos na simulação recriada
abrangido pelos sistemas de gestão, e não a cargo dos habitantes, daí o benefício total do
sistema ser bastante elevado para este tipo de contentorização, quando comparado com o custo
de contentorização dos ecopontos
Nas simulações 4 e 5, foi necessário o aumento dos tamanhos dos contentores, visto que na
simulação 5 o número de pessoas a utilizar o mesmo contentor é muito maior e daí a capacidade
do mesmo também ter que ser maior. Ainda simulou-se na simulação 4 o mesmo valor da variável
NPessoas (hab/cont) que a simulação 3, mas aumentando-se também a capacidade dos
contentores, podendo-se observar que para o mesmo número de hab/cont, o benefício do
sistema é muito menor na simulação 4, devido ao fator falado anteriormente, pois com o aumento
de capacidade de contentor, maior será também o seu custo de aquisição e manutenção.
60
17.3
-6.9
-19.6
-1.4
-11.6
-25.0
-20.0
-15.0
-10.0
-5.0
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
40.0
45.0
50.0
55.0
0 10 20 30 40 50 60Méd
ia C
ust
o T
ota
l (€/
ton
)
habitante/contentor
PaP
No gráfico da figura 5.1-2 estão representadas as simulações acima, excetuando a simulação 7.
5.1-2: GRÁFICO REPRESENTATIVO DO CUSTO TOTAL DO SISTEMA PORTA-A-PORTA EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE
HABITANTES POR CONTENTOR
Analisando o gráfico correspondente às simulações geradas pelo modelo, referentes à tabela
5.1-1, observa-se que um sistema em que contenha 50 hab/cont, sendo cada contentor de uma
capacidade de aproximadamente 800l, apresenta valores muito satisfatórios, pois significa que
há mais contentores localizados em zonas com maior aglomerado de habitantes a utilizar o
mesmo contentor, sistema este representativo de zonas prediais, que contenham casas de lixo
próprias em cada prédio, e onde facilmente este número de hab/cont é conseguido, sendo esta
simulação muito satisfatória e possível de se aplicar em zonas como as descritas. Nos restantes
resultados, de referir que o pior cenário encontra-se o mais à esquerda do gráfico, onde com
apenas 10 habt/cont o custo associado é elevado, e pode facilmente representar zonas com
moradias, onde a densidade populacional é baixa, sendo que cada casa utiliza os seus
contentores, diminuindo o número de hab/cont e perfazendo um gasto superior na recolha dos
recicláveis.
Prosseguindo com mais um conjunto de simulações, o que se pretendeu com este conjunto de
simulações foi recriar um conjunto de sistemas em tudo iguais uns aos outros, menos na variável
custo de triagem. Esta análise é importante para perceber-se que a triagem é uma variável chave
nos sistemas de gestão de resíduos, pois aumentando o valor da mesma, por um lado poderá
ser interpretado como uma melhoria tecnológica e assim uma maior eficiência e um retorno ao
nível de valor de contrapartida maior, mas neste caso pretendeu-se aumentar deliberadamente
61
o custo desta variável no sentido de se impor ao sistema uma triagem que consoante o aumento
do custo por tonelada, menor seria a sua eficiência, e não a primeira situação.
Sim Parâmetro Valor parâmetro Média Custo Total (€/ton) DP
7
Triagem (€/ton)
50 -35.9 17.4 8 60 -26.3 17.9 9 70 -17.1 16.9 10 80 -6.6 16.5 11 90 2.8 17.9 12 100 13.8 17.8
13 120 33.5 18.1 TABELA 5.1-2: TABELA DE SIMULAÇÕES REALIZADAS PARA O PARÂMETRO TRIAGEM E RESPETIVOS RESULTADOS
Analisando a tabela acima, e como já era expectável, um aumento da variável custo de triagem,
fará com que o sistema comece a ter custos associados para valores superiores a
aproximadamente 85€/ton. Mais uma vez salientar que o que pretende-se com esta análise é
perceber que com a diminuição de eficiência de triagem, aumenta-se os custos da mesma, no
sentido de que será mais difícil triar os resíduos e daí aumentar-se este parâmetro. Tal aumento
fará com que se fizesse diminuir o valor de contrapartida em cada uma das simulações, apesar
de ser uma diminuição não muito significativa. Para tal multiplicou-se um fator ao valor de
contrapartida que diminuiria desde o valor 1 até ao valor 0.7, consoante o aumento do parâmetro
triagem. Exemplificando, quando o valor de triagem foi de 120 €/ton, multiplicou-se ao valor de
contrapartida uma fração de 0.7, ou seja, este fator representa a menor eficiência da triagem e
consequentemente uma menor quantidade de resíduos aptos a receber o seu respetivo valor de
contrapartida.
Na tabela 5.1-3 apresenta-se os resultados das simulações fazendo-se variar o valor de
contrapartida, onde com o modelo de cálculo do mesmo anteriormente explicado no capítulo 4,
fez-se variar as frações de cada parcela constituinte do RU reciclável, e assim obter-se valores
para a variável de custo de contrapartida. É observável que se variar-se as frações onde o valor
de contrapartida é maior, nomeadamente na fração plástico, em comparação com a fração vidro
e a fração papel/cartão, pode levar a um benefício substancial do sistema, ou seja, o valor de
contrapartida aumenta. Seria interessante no futuro fazer-se uma análise pormenorizada a esta
variável de modo a perceber-se de que forma com a alteração mais cuidada de cada fração o
valor de contrapartida reagiria, e o que essa variação implicaria nos sistemas.
Sim Parâmetro Fração
Papel/Cartão Fração Plástico
Fração Vidro
Fração Outros
Valor parâmetro
Média Custo Total (€/ton) DP
14
VC (€/ton)
0.45 0.15 0.3 0.1 81 -6.9 17.9 15 0.4 0.4 0.1 0.1 124 -29.8 18.3
16 0.3 0.2 0.2 0.3 101.5 -8.4 17.6 TABELA 5.1-3: SIMULAÇÕES REALIZADAS À VARIAÇÃO DO PARÂMETRO VALOR DE CONTRAPARTIDA (VC)
62
-35.9
-26.3
-17.1
-6.6
2.8
13.8
33.5
-31.1
-22.3
-14.6
-4.1
3.9
15.2
35.8
-40.0
-35.0
-30.0
-25.0
-20.0
-15.0
-10.0
-5.0
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
40.0
40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
Méd
ia C
ust
o T
ota
l (€/
ton
Custo da Triagem (€/ton)
PaP
Ecoponto
O gráfico abaixo, mostra a tendência do custo total fazendo variar o valor da triagem, sendo que
para ambos os sistemas de recolha (porta-a-porta e ecoponto) os valores de custo total do
sistema são maiores no sistema de recolha por ecoponto, do que para porta-a-porta.
FIGURA 5.1-3: GRÁFICO REPRESENTATIVO DO CUSTO TOTAL DO SISTEMA EM FUNÇÃO DO VALOR DE TRIAGEM
O gráfico acima contém os dois sistemas de recolha, pois não seria apropriado fazer uma análise
dos mesmos separadamente. Para ambos os casos, com o aumento do parâmetro custo de
triagem, o sistema comporta-se como expectável, ou seja, terá cada vez um custo associado
maior, correspondendo ao lado direito do gráfico.
De notar que o valor do parâmetro Triagem é sempre maior para o sistema ecoponto, devido ao
fato dos resíduos muitas vezes aparentarem uma mistura muito heterogénea de frações, ou seja,
a participação das pessoas é menor neste tipo de sistema, referindo menor como a má
separação em contentores apropriados, menos resíduos depositados também devido às maiores
distâncias entre habitações, o que leva a um acréscimo nos custo de triagem dos materiais
provenientes deste tipo de sistema de recolha.
Finalizando todo um conjunto de simulações para o sistema de recolha porta-a-porta, iniciamos
no subcapítulo 5.2 as simulações para o sistema de recolha por ecopontos.
63
5.2 Simulações Ecoponto
Com a variação do sistema de recolha, e como já foi referido no capítulo 4, um conjunto de
parâmetros é também alterado, de modo a obter-se um conjunto de resultados que representem a
realidade dos custos associados a estes tipos de sistemas. Na figura 5.2-1, apresenta-se o histograma
para o caso que mais se aproxima à realidade, ou seja, em que os valores das variáveis são os da
tabela 4.4-3.
FIGURA 5.2-1: HISTOGRAMA REPRESENTATIVO DO CUSTO TOTAL DO SISTEMA ECOPONTO
Observando a figura acima, é de referir que o custo líquido do sistema está representado 80%
dos casos entre os -20 € e os 20€, à semelhança do sistema de recolha porta-a-porta, tendo este
sistema de recolha devolvido um valor de média de 0.94€/ton, ou seja, apresentando como valor
de média um custo para o sistema, ao contrário do valor de média do sistema anterior. Uma vez
mais, ficou presente com estes resultados, que o modelo apresentou resultados sólidos para
este tipo de recolha, resultados esses correspondendo a um conjunto de valores de variáveis
que se aproximaram o mais possível da realidade praticada por parte dos sistemas. Referir ainda
que sujeitamos o nosso modelo uma vez mais a um conjunto de repetições, mais concretamente
de 1000 repetições
Introduzindo nesta fase variações em alguns parâmetros, a tabela 5.2-2 apresenta um conjunto
de simulações onde fez-se variar o parâmetro hab/cont, e observou-se à semelhança do sistema
anterior que quanto maior o números de pessoas a utilizar os ecopontos, maior será o benefício
económico para o sistema de recolha ecoponto, sendo um valor considerado com este estudo
64
10.1
1.9
-14.6
-26.8
-30.0
-25.0
-20.0
-15.0
-10.0
-5.0
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330
Méd
ia C
ust
o T
ota
l (€/
ton
)
habitante/contentor
Ecoponto
plausível e real de se utilizar, cerca de 225 a 250 pessoas por contentor, com taxas de
participação cada vez mais elevadas.
Simulação Parâmetro Valor parâmetro Média Custo Total (€/ton) DP
1
Npessoas (hab/cont)
175 10.1 18.2
2 225 1.9 17.8
3 275 -14.6 19.7
4 325 -26.8 17.4 TABELA 5.2-1: TABELA DE SIMULAÇÕES PARA O PARÂMETRO UTILIZAÇÃO POR CONTENTOR NO SISTEMA ECOPONTO
No gráfico da figura 5.2-2 é fácil de se perceber que os valores decaem para valores de benefício
do sistema (direita do gráfico) com o aumento de habitantes que utilizam o mesmo contentor. Tal
aumento ou decaimento tem correlação linear muito grande entre as duas variáveis
representadas no gráfico.
FIGURA 5.2-2: CUSTO TOTAL DO SISTEMA FAZENDO VARIAR A DENSIDADE POPULACIONAL QUE UTILIZA O CONTENTOR
Como foi possível verificar pelo gráfico da figura 5.1-3 do subcapítulo anterior, a tabela abaixo
mostra-nos a variação do custo de triagem e consequente valor de média final do sistema global.
Refere-se que à semelhança do sistema porta-a-porta e já esperando tais valores de resultado,
este sistema apresenta-se muito idêntico em termos de custo/beneficio quando se varia a
variável triagem, embora apresente valores superiores nos valores da variável custo total do
sistema.
65
Sim Parâmetro Valor parâmetro Média Custo Total (€/ton) DP
7
Triagem (€/ton)
50 -31.1 17.4 8 60 -22.3 17.9 9 70 -14.6 16.9 10 80 -4.1 16.5 11 90 3.9 17.9 12 100 15.2 17.8
13 120 35.8 18.1 TABELA 5.2-2: TABELA DE SIMULAÇÕES VARIANDO O CUSTO DE TRIAGEM
De modo a introduzir-se um maior número de variabilidade de simulações, o que simulou-se nesta fase foram um conjunto de alterações em parâmetros previamente escolhidos e conhecidos como possíveis influenciadores do valor de custo final. A tabela 5.2-3 mostra um conjunto de simulações e respetivos resultados.
Simulação Recolha
Parâmetro Valor parâmetro Média Custo Total (€/ton)
14 PaP F 1 -2.3 15 PaP F 3 -0.2 16 PaP F 4 1.3 17 PaP F 5 4.0 18 Ecoponto F 1 -4.7 19 Ecoponto F 2 -0.1
20 Ecoponto F 3 2.5
21 PaP CAterro 10 €/ton 19.5
22 PaP CAterro 20 €/ton 9.8
23 PaP CAterro 30 €/ton 0.5
24 PaP CAterro 40 €/ton -8.3
25 Ecoponto CAterro 10 €/ton 21.8
26 Ecoponto CAterro 20 €/ton 12.3
27 Ecoponto CAterro 30 €/ton 1.8
28 Ecoponto CAterro 40 €/ton -6.9
29 PaP CiC 80 €/cont = 80l -5.8
30 PaP CiC 100 €/cont = 80l 6.6
31 PaP CiC 150 €/cont = 360l -1.5
32 PaP CiC 300 €/cont = 800l -15.3
33 Ecoponto CiC 350 €/cont = 800l -3.4
34 Ecoponto CiC 400 €/cont = 1100l 2.3
35 Ecoponto CiC 650 €/cont = 2500l -8.3 TABELA 5.2-3: SIMULAÇÕES COM VARIAÇÕES DE PARÂMETROS NA RECOLHA PAP E ECOPONTO
Como é possível verificar na tabela acima, da simulação 14 à simulação 20, fez-se variar para
os dois casos a frequência de recolha (F), ou seja, o número de vezes que se recolhia os
recicláveis durante a semana. Após as simulações foi possível analisar que este parâmetro tem
mais influência na recolha por ecoponto do que porta-a-porta, pelo facto de os contentores se
encontrarem mais isolados uns dos outros e muitas vezes as distâncias entre os mesmos serem
mais elevadas do que no caso de PaP. Salientar ainda que podia-se pensar que quanto maior o
numero de recolhas, mais resíduos seriam triados contribuindo para um maior beneficio do
sistema. Tal não acontece, pelo facto de que se a frequência fosse por exemplo de 5 dias à
66
semana, verificar-se-ia que a taxa de ocupação dos contentores seriam menores e acabar-se-ia
por no final da semana recolher-se a mesma quantidade de resíduos do que se a frequência
fosse por exemplo de 3. Nos ecopontos este valor é mais expressivo por essa mesma razão.
Nas simulações 21 a 28, variou-se o custo de deposição em aterro. De referir que este é um
custo para as entidades, mas no nosso modelo é um custo evitado, pois ao fazer-se recolha de
recicláveis estamos a evitar a sua deposição em aterro. Verificou-se então que quanto maior o
custo de deposição em aterro, mais benéfico será fazer-se a reciclagem ou o desvio de resíduos
de aterro, pelo que os sistemas comportaram-se melhor para o valor de 40 €/ton de custo de
deposição em aterro. Observou-se para este mesmo valor, resultados melhores na recolha PaP
devido à maior adesão em reciclar e daí o sistema comportar-se melhor.
Finalizando fez-se variar no conjunto de simulações 29 a 35 o valor de custo de aquisição de
contentor, ou seja, podendo este valor ser visto como a capacidade dos mesmos. Quanto maior
o custo de aquisição maior será a capacidade dos contentores, pelo que observou-se que nos
serviços de recolha PaP a simulação 32 obteve benefícios de 15 €/ton, pois fez-se variar o
número de pessoas que utilizavam o mesmo contentor devido à maior capacidade do mesmo,
refletindo por exemplo zonas prediais. No ecoponto foi possível verificar que as ilhas ecológicas
com contentores de capacidade elevada, nomeadamente de 2500l e custo de aquisição de 650€
perfazia benefícios na ordem dos 8 €/ton. Salientar que quando se fala em ilhas ecológicas e o
seu valor de aquisição de contentores, não estamos a contar com os custos de obra inerentes à
construção das mesmas.
Em modo de discussão de resultados, percebe-se que este sistema de simulações é complexo,
devido ao elevado número de variáveis que contem o modelo presente neste estudo. Torna-se
por vezes difícil perceber-se qual o peso das variáveis de entrada do modelo, devido à variação
muito baixa dos valores de algumas delas, de modo a que possam sempre corresponder à maior
realidade possível. Conseguiu-se ainda assim uma elevada gama de valores de simulação e de
variação de parâmetros.
Analisando os sistemas em simultâneo, é percetível que os sistemas PaP em relação aos
ecopontos apresentam uma oscilação de valores totais maior, com a variação de habitantes por
contentor. Por sua vez os ecopontos têm uma maior vantagem em relação à contentorização, ou
seja, ao tamanho dos contentores e número de pessoas que conseguem abranger por contentor,
no entanto a taxa de adesão à deposição de recicláveis é menor quando comparada com a dos
sistemas PaP, o que acarreta custos mais elevados nos custos de recolha, não só pelas
distâncias, mas também pela taxa de ocupação dos contentores.
Percebeu-se ainda que a frequência por ser mais elevada inicialmente no PaP não faz variar
muito o custo final do sistema quando aumentada de 3 para 5 vezes à semana. Já nos sistemas
67
de ecoponto, essa frequência faz oscilar mais os resultados finais de custo quando variada de 1
para 3 vezes à semana.
Analisou-se ainda o custo de triagem e aterro para cada um dos casos, em que fazendo variar
estes parâmetros, ambos os sistemas comportam-se da mesma maneira, sendo que quer na
triagem quer nos custos evitados de aterro o sistema ecoponto quando variado para simulações
mais favoráveis obtém valores de custo final sempre menores aos sistemas PaP.
Fazer conjugar um sistema de ecoponto com o porta-a-porta, com este modelo é possível, mas
de difícil implementação devido à quase duplicação do número de variáveis e respetivos novos
valores que teríamos que assumir, pelo que num trabalho futuro poder-se-á fazer tal abordagem.
Finalizando esta seção, é importante salientar que este modelo é muito complexo e útil para que
possamos quantificar cada vez melhor e percebermos as condicionantes e pontos fortes dos
sistemas de gestão de resíduos recicláveis. Referir ainda que foi um trabalho demoroso e de
difícil aquisição de valores para os parâmetros, pois muitos desses parâmetros tratarem-se de
dados económicos de elevada sensisbilidade para as empresas de gestão de RU.
68
6 Conclusões
Nos últimos anos o sector dos resíduos tem tido um conjunto de progressos, não só tecnológicos
mas de políticas mais abrangentes e que focam a sustentabilidade necessária para que este
sector contribua para criar cada vez menos impacto ambiental e económico na natureza e
sociedade.
Os sistemas de gestão de RU devem ter constantemente um olhar crítico de modo a que a
poupança seja cada vez maior, os modelos de decisão mais eficazes e as taxas de reciclagem
cada vez maiores, pois só assim se cumprem metas ambiciosas como as que Portugal tem até
2020.
Sendo a reciclagem um processo critico para as receitas dos sistemas que gerem esta parte do
setor, é necessário apelar a uma maior taxa de adesão à separação, contribuindo com processos
e mecanismos para que a sociedade faça o seu papel. É importante analisar este tipo de
sistemas seja com recolha porta-a-porta, seja através de recolha em ecopontos, ecocentros,
ilhas-ecológicas ou novos mecanismos que contribuam para a valorização e reutilização dos
materiais depositados nos contentores, fazendo aumentar o ciclo de vida das mesmas.
Na revisão bibliográfica elaborada neste estudo, foi percetível que a reciclagem tem mostrado
vantagens económicas e até ambientais quando comparada com outros sistemas. Entre as
vantagens da reciclagem destacam-se como já acima referido a extensão de ciclo de vida dos
materiais, redução de deposição em aterro, e no futuro possíveis ganhos económicos com uma
análise estudada e cuidada caso a caso.
Na análise tecno-económica elaborada neste estudo, foram consideradas um conjunto de
variáveis e parâmetros que foram a base de construção do modelo descrito no modelo, onde se
conjugou custos de capital, operação, e benefícios, obtendo-se assim um custo total final para
cada tipo de sistema de recolha de recicláveis, mais concretamente na recolha porta-a-porta e
na recolha por ecopontos. Foi possível, embora não se dando tanto enfase quanto o necessário,
a construção de uma interface de utilizador que irá contribuir para que cada sistema
individualmente e com base neste modelo, introduzir ou ir a uma base de dados pré-definida e
selecionar valores para cada uma das variáveis e num processo interativo com o utilizador
promover uma análise cuidada e eficaz para um melhoramento dos sistemas de gestão de
recicláveis.
Os resultados da análise de sensibilidade obtidos através das simulações de Monte-Carlo, foram
muito satisfatórios e com valores próximos dos praticados atualmente, tendo os diagramas
apresentado médias próximas do valor zero, o que nos permitiu concluir que as aproximações
efetuadas pelo nosso modelo foram muito positivas.
69
A variável frequência de recolha não faz oscilar muito os custos totais dos sistemas PaP, o que
no sistema de Ecoponto esta variável já faz oscilar mais os custos totais, devido a maiores
distâncias percorridas na recolha, bem como custo de aquisição mais elevados nas
infraestruturas de contentorização.
A combinação de sistemas de recolha Ecoponto e PaP pode ser benéfica em alguns casos, em
que a tipologia das cidades (rural, urbano) não permite a que apenas um sistema de recolha
possa ser aplicável, sendo que efetou-se simulações no nosso modelo para sistemas rurais e
sistemas urbanos, com moradias e prediais, em que os resultados foram muito positivos.
Ficou claro que conseguiu-se aproximar com este modelo a realidade, e que compreendeu-se o
quão complexo poderá ser o sistema, mas ainda assim retratá-lo e obter valores que poderão
ser animadores para o futuro próximo.
Uma última referência à grande dificuldade em obter valores concretos para algumas variáveis,
pelo fato de que a bibliografia nesta vertente é muito reduzida, e ainda de salientar que modelos
com tamanho detalhe são de difícil obtenção e que este modelo pretendeu assim auxiliar para
que num futuro mais estudos possam ser elaborados e assim obter-se uma gestão mais
sustentada e eficiente nos sistemas de gestão de resíduos recicláveis de embalagens.
Indicações para um trabalho futuro
Para desenvolvimentos futuros, existem vários aspetos que poderão enriquecer e completar este
trabalho. Um aspeto importante a desenvolver no futuro prende-se com o cruzamento destes
dados com dados mais reais sejam de empresas de recolha ou de gestão de resíduos urbanos,
que embora sendo dados sensíveis podem ser aferidos. Aferir ainda os intervalos de valores
utilizados neste modelo, de modo a introduzir-se cada vez mais uma veracidade de valores cada
vez mais elevada e mais aproximada da praticada pelos sistemas de gestão de RU.
Trabalhar com a sensibilidade do valor de contrapartida e com variáveis como o número de
pessoas por contentor, ou a alteração dos sistemas de contentorização, bem como projetar
cenários industriais poderão contribuir para um futuro cada vez mais promissor no setor dos RU.
Por fim, de modo a complementar este trabalho poderá ser realizado um estudo de análise do
ciclo de vida das embalagens, bem como de processos mais eficientes e baratos de triagem de
modo a ver as suas influências nos custos finais dos sistemas.
70
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I
Anexo I
Base de dados recolhida:
Sacos CAPEX € + IVA
SACOS DE 15l Rolo de 20 Sacos - 52x60 cm 0.7
SACOS DE 30l Rolo de 20 Sacos - 52x60 cm 1.0
SACOS DE 50l Rolo de 10 Sacos - 60x80 cm 1.5
SACOS DE 80l Rolo de 10 Sacos - 80x90 cm 2.1
SACOS DE 120l Maço de 10 kg 50 Sacos 30.0
Fitas de cor para sacos (1m) 0.3
Contentores Interior CAPEX € + IVA
CONTENTOR PLAST.400x300x130 cm 9.0
CONTENTOR PLAST.600x400x200 cm 18.0
Balde Rectangular Basculante 26Litros 20.00 €
Ecoponto DUO PLAS 26 Lts. 25.00 €
Balde com Tampa 26 Lts 18.00 €
Cestos em plástico 35 l 25.0 €
Balde de 40 Lt com 3 divisões (380x540x330 mm) 25.00 €
Contentor de 52L c/ pedal 20.0
ECOPONTO ECOMAD 56 Lts 27.50 €
POLIMAX SIMPLES 13 Lts x 3 45.00 €
Ecoponto Capacidade 80 Lts (3x26l) 65.00 €
Contentor Ecológico – 3 Resíduos 52 l 65.00 €
Contentores Exterior CAPEX € + IVA
Contentor de 80L c/ pedal e rodas 65.0
Contentor MGB´s 2 rodas 120l 40.00 €
Contentor de 120l c/ pedal e rodas 73.0
CONTENTOR LIXO 120l 150.0
Contentor MGB´s 2 rodas 240l 50.00 €
Contentor de 240L c/ pedal e rodas 105.0
CONTENTOR LIXO 240l RGIno 180.0
Contentor MGB´s 2 rodas 360l 60.00 €
Clyma10 caixa para contentores de 360l 250.00 €
Contentor MGB 360l 75.00 €
Total de Contentor Clyma 10 360l 325.00 €
CONTENTOR LIXO 360l 171.0
CONTENTOR LIXO 360l 230.0
Contentor MGB 4R tampa plana 800l Sistema de Elevação Din 185.00 €
Contentor MGB 4R tampa plana 800l Sistema de Elevação Oschner 205.00 €
CONTENTOR LIXO 800l 390.0
Contentor MGB 4R tampa plana 1000l Sistema de Elevação Din 235.00 €
Contentor MGB 4R tampa plana 1000l Sistema de Elevação Oschner 255.00 €
CONTENTOR 1000l 470.0
CONTENTOR LIXO1100l 525.0
Contentor Ecoponto Cyclea 2500l 400.0
Ecoponto CLYMA25, capacidade 2500 l 475.00 €
TABELA 0-1: BASE DE DADOS 1
II
Fonte Ano Contentor CAPEX € + IVA
Lavita 2008 Cyclea 2500l 396.0
Valnor 2009 Ecoponto 2500l 401.0
Ecolezíria 2008 EcoP 2500l 431.0
Braval 2009 Eco Superfície 2500l 425.0
Valnor 2010 Cyclea 2500l 295.0
Amarsul 2008 EcoP 2500l 440.0
Lavita 2008 Normal 800l 109.0
Gomes et al.; Lopes 2008 Normal 800l 112.0
C.M. Angra Heroísmo 2009 Normal 770l 188.0
Município Anadia 2009 Polietileno 800l 125.0
Município Montijo 2010 Normal 800l 149.0
Amarsul 2009 Normal 800l 121.0
Amarsul 2010 Normal 800l 123.0
TABELA 0-2: BASE DE DADOS 2
Fonte Ano Veículo
CAPEX
Milhares€ +
IVA
Gomes et al.; Lopes 2008 Caixa 15m3 87.5
CM Portalegre 2009 Chassis+caixa+elevador+adaptação traseira 100.0
CM Moura 2009 Caixa 15m3 105.3
CM Penafiel 2009 Recolha RU 114.9
CM Mealhada 2009 Com Compactação 127.7
Abrantes 2009 EcoP 2500l 132.0
CM Entroncamento 2009 Recolha RU 133.8
CM Seixal 2009 Recolha RU 154.0
CM Gondomar 2009 Com Compactação 127.0
CM Sines 2009 Recolha RU 146.2
Valnor 2009 Recolha Vidro 59.0
Valnor 2009 Recolha Papel/Cartão e Embalagens 60.0
Valnor 2009 Recolha RU 108.5
ERSUC 2009 Chassis+caixa 115.9
Resialentejo 2010 Recolha selectiva 129.5
Valorminho 2009 Recolha RU 32 toneladas 116.0
Lavita 2008 Camião bi-fluxo, de 20 m3, com compactação 212.5
Lavita 2008 Camião Ampli-Roll c/grua, com caixas amovíveis de 20 m3 136.6
Lavita 2008 Camião Mono-fluxo, entre 15 e 20 m3, com compactação 100.0
Lavita 2008
Camiões bi-fluxo de 8 m3 com sistema de acondicionamento
em 1 compartimento 90.0
Ambisousa 2010 Camião caixa aberta com grua, de 15 m3, sem compactação 60.0
Bain 2012 Recolha selectiva papel, plastico e metal 210.0
TABELA 0-3: BASE DE DADOS 3
X
Anexo II
Código-fonte da estrutura do modelo inserido no programa MATLAB para respetivas simulações:
for i=1:1000
NPessoas=randint(1,1,[,]); NC=()*();
RU=0.5*0.3*FatorAdesão;% 0.5 ton ano por habitante produzido * 30%
produção de recicláveis * fator de adesão Cic=randint(1,1,[,]); Cmc=0.1*Cic; Cav=randint(1,1,[,]); Nv=randint(1,1,[,]); Cmv=0.1*Cav; Pcomb=randint(1,1,[12,15])*0.1; Cmk=randint(1,1,[5,7])*0.1; F=(); kmd=randint(1,1,[5,7])*10*52*F; Ne=randint(1,1,[,]); St=randint(1,1,[6,7]); hd=1800;
Triagem=randint(1,1,[8,10])*10; Vretoma=randint(1,1,[8,10])*10; CRI=randint(1,1,[5,7])*10; CAterro=randint(1,1,[2,4])*10;
%equações Ce=St*Ne*hd; Ccomb=Pcomb*Cmk*kmd; Cgv=Cmv+Ccomb; CTV=Cav+Cgv+Ce; CR=CTV*Nv; Vc=Cic+Cmc; CD=NC*Vc; CT=CD+CR; CustoTotal=[(CT/(NC*NPessoas*RU))+ Triagem – Vretoma – Caterro - CRI]; %disp(['CustoTotal (€/ton) = ' num2str(CustoTotal)]); %X=zeros(1,24); X(i,1)=CustoTotal; X(i,2)=CT; X(i,3)=CR; X(i,4)=CD; X(i,5)=NC; X(i,6)=Vc; X(i,7)=RU; X(i,8)=Cic; X(i,9)=Cmc; X(i,10)=CTV; X(i,11)=Cav; X(i,12)=Nv; X(i,13)=Cgv; X(i,14)=Cmv; X(i,15)=Ccomb; X(i,16)=Pcomb; X(i,17)=Cmk;
XI
X(i,18)=kmd; X(i,19)=Ce; X(i,20)=Ne; X(i,21)=St; X(i,22)=hd; X(i,23)=F; X(i,24)=NPessoas; X(i,25)=Triagem; X(i,26)=Vretoma; X(i,27)=CRI; X(i,28)=CAterro; M=mean(X(:,1)) DvP=std(X(:,1))
Y=zeros (1,24); for Y=i; Y(1,1)=mean(X(:,1)); Y(1,2)=mean(X(:,2)); Y(1,3)=mean(X(:,3)); Y(1,4)=mean(X(:,4)); Y(1,5)=mean(X(:,5)); Y(1,6)=mean(X(:,6)); Y(1,7)=mean(X(:,7)); Y(1,8)=mean(X(:,8)); Y(1,9)=mean(X(:,9)); Y(1,10)=mean(X(:,10)); Y(1,11)=mean(X(:,11)); Y(1,12)=mean(X(:,12)); Y(1,13)=mean(X(:,13)); Y(1,14)=mean(X(:,14)); Y(1,15)=mean(X(:,15)); Y(1,16)=mean(X(:,16)); Y(1,17)=mean(X(:,17)); Y(1,18)=mean(X(:,18)); Y(1,19)=mean(X(:,19)); Y(1,20)=mean(X(:,20)); Y(1,21)=mean(X(:,21)); Y(1,22)=mean(X(:,22)); Y(1,23)=mean(X(:,23)); Y(1,24)=mean(X(:,24)); Y(1,25)=mean(X(:,25)); Y(1,26)=mean(X(:,26)); Y(1,27)=mean(X(:,27)); Y(1,28)=mean(X(:,28)); end
for i=1:1000 X(1,30)=X(i,1)/X(i,12); end
%histfit(X(:,12)) WW=X(:,1); ZZ=X(:,25); histfit(X(:,1)) end