MODER
NISMO
NO BR
ASIL
ANTECEDENTES DA SEMANA DE ARTE MODERNA
1912 – chegada de OSWALD DE ANDRADE da europa trazendo consigo as idéias Cubistas e Futuristas
- escreve, em versos livres, o poema "Passeio de Um Tuberculoso, pela Cidade, de Bonde". A obra foi tão mal recebida pelo público que o autor a jogou fora
"Estamos atrasados cinquenta anos em cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo."
1913 – Exposição de obras de LASAR SEGALL
LASAR SEGALL - pintor russo que fixou-se no Brasil, fez uma ex- posição de pintura Expressionista. Teve pouca repercussão nos meios artísticos. Algum tempo depois, Mário de Andrade disse o seguinte sobre essa exposição:“é a primeira exposição de pintura não acadêmica em nosso país”.
Duas amigas
Perfil de Zulmira
(1915) publicação da REVISTA ORPHEU, que marca o início do modernismo em portugal.
1917 - exposição de ANITA MALFATTI, primeiro confronto aberto entre o velho -Monteiro Lobato (Paranóia ou Mistificação?) e o novo - jovens artistas de são paulo.
Nu cubistaA estudante
SEMANA DE ARTE MODERNATEATRO MUNICIPAL – SÃO PAULODIAS 11 a 18 DE FEVEREIRO DE 1922CONFERÊNCIAS: 13,15 e 17
Durante os sete dias de exposição, foram expostos quadros e apresentadas poesias, músicas e palestras sobre a modernidade,o que deixou indignados alguns escritores e artistas de renome.
Tinha a intenção de colocar a cultura brasileira a par das correntes de vanguarda do pensamento europeu e pregar a tomada de consciência da realidade brasileira.
1ª. Noite Abertura – Graça AranhaErnani Braga – paródia de
Chopin
2ª. NoiteConferência de Menotti
Del Picchia - Leitura do poema Os Sapos – Manuel Bandeira
Guiomar Novaes
3ª. NoiteMusical - Villa Lobos
“Nós não sabíamos o que queríamos, mas sabíamos o
que não queríamos”.
(Mário de Andrade)
Os objetivos e preceitos da Semana de Arte Moderna não foram compreendidos pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias mais
conservadoras.
Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Montero, Osvaldo Goeldi, John Graz, Zina Aita, Inácio da Costa Ferreira, João Fernando de Almeida Prado, Antonio Paim Vieira e Alberto Martins Ribeiro;
Representavam a pintura:
A escultura:
A música:
Vítor Brecheret, Wilhelm Haerberg e Hildegardo Leão Veloso;
Villa-Lobos, Guiomar Novais, Ernani Braga, Frutuoso Viana, Paulina d’Ambrosio, Lucília Villa-Lobos, Alfredo Corazza, Pedro Vieira, Antão Soares, Orlando Frederico, além de outros coadjuvantes;
Antoni Garcia, Moya e Georg Przyrembel;
A arquitetura:
E a dança:Yvonne Daumerie.
REVISTAS:
• KLAXON ( SÃO PAULO)
• ESTÉTICA (RIO DE JANEIRO)
• FESTA ( RIO DE JANEIRO)
• TERRA ROXA E OUTRAS TERRAS ( SÃO PAULO)
• VERDE ( CATAGUAZES, MINAS GERAIS)
• REVISTA DE ANTROPOFAGIA ( SÃO PAULO)
• A REVISTA (BELO HORIZONTE)
GRUPOS:
• PAU-BRASIL ( SÃO PAULO)
• ANTROPÓFAGO (SÃO PAULO)
• VERDE-AMARELO ( SÃO PAULO)
• GRUPOS DE PORTO ALEGRE( RIO GRANDE DO SUL)
• GRUPO MODERNISTA-REGIONALISTA DE RECIFE (PERNAMBUCO)
MANIFESTOS:• MANIFESTO DA POESIA PAU-BRASILPublicado no Correio da Manhã em 18 de março de 1924, foi escrito por Oswald de Andrade em Paris. O título do manifesto prende-se à idéia de que o pau-brasil tinha sido o primeiro produto genuinamente brasileiro “de exportação”. O que Oswald pretendia era uma poesia autenticamente brasileira, e de exportação. O manifesto propunha a valorização dos estados primitivos da cultura brasileira.
• MANIFESTO ANTROPÓFAGOFoi o manifesto mais radical de todos os manifestos da primeira fase modernista. Propunha a devoração da cultura e das técnicas importadas, transformando o produto importado em exportável.O nome do manifesto recuperava uma crença indígena:os índios antropófagos comiam o inimigo, supondo que assim estavam assimilando suas qualidades.
• MANIFESTO NHENGUAÇU VERDE AMARELO.Tecia severas críticas ao que considerava o “nacionalismo importado” de Oswald de Andrade.Contrapunha a ele um nacionalismo. O grupo elegeu a anta como símbolo nacional e mais tarde autodenominou-se Escola da Anta.
• MANIFESTO REGIONALISTA DE 1926Foram pronunciamentos feitos em 1926, quando se realizou o 1º Congresso Regionalista do Nordeste. O grupo de Recife, pregava a reabilitação da cultura regional nordestina e seu aproveitamento como motivo artístico.
AS PROPOSTAS MODERNISTAS
1. Adaptar a arte nacional ao momento futurista e tecnológico:
“Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, motores, chaminés de fabrica, velocidade... E que o rufo do automóvel, nos trilhos de dois versos, espante da poesia o último deus homérico...”.
“Aqui de cima destes edifícios, nós olhamospara o passado e contemplamos suanulidade.”
Ó poetas de gabinete.Que da vida sabeis apenas a lição dos livros,Vossa poesia é um jogo de palavras.Vossa poesia é toda feita de habilidades de estilo,Sem a marca um pouco suja de experiências vividas.Não sabeis de nenhuma espécie de sofrimento,De nenhum dos aspectos sedutores do mal,Não sabeis de nada que está realmente na vida.
Não vos inquieta o desejo de quebrar a monotonia, A exasperada fadiga das coisas iguais,A saborosa audácia do mau gosto.Tudo em vós é correto, frio, sem surpresas.Ah, tudo que sabeis é através dos livrosNão sofreis a curiosidade viciosa das aventuras, Nem a mágoa dos meses vividos à toa. (Ribeiro Couto)
2. Combater a cultura formal, gabinetista, acadêmica, livresca
Estou farto do lirismo comedido.Do lirismo bem comportadoDo lirismo funcionário público com livros de ponto expediente protocolo [e manifestações de apreço ao
sr.diretor.Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho [vernáculo de um
vocábuloAbaixo os puristasTodas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceçãoTodos os ritmos sobretudo os inumeráveis (. . .)
Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbadosO lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação
(M. Bandeira)
3. Destruir os modelos artísticos do Parnasianismo
“Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor Imagino Irene entrando no céu:-Licença , meu branco!E São Pedro bonachão:-Entra, Irene, você não precisa pedir licença.”
4. Linguagem espontânea, coloquial:
“Dê-me um cigarroDiz a gramáticaDo professor e do alunoE do mulato sabidoMas o bom negro e o bom branco Da nação brasileiraDizem todos os dias Deixa disso camaradaMe dá um cigarro”
5. Desprezo pelas normas gramaticais :
Minha terra tem palmares Onde gorjeia o marOs passarinhos daqui Não cantam como os de lá.
Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra.Ouro terra amor e rosasEu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá.
Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São PauloSem que veja a rua 15E o progresso de São Paulo.
6. Uso da paródia como elemento desmitificador:
Moça linda bem tratada,Três séculos de família, Burra como uma porta: Um amor.
Grã-fino do despudor,Esporte, ignorância e sexoBurro como porta: Um coió.
Mulher gordaça, filóDe ouro por todos os poros Burra como uma porta: Paciência...
7. Emprego da ironia e do poema–piada:7. Emprego da ironia e do poema–piada:
Plutocrata sem consciência,Nada porta, terremotoQue a porta do pobre arromba:
Uma bomba.
(Mário de Andrade)
DESDOBRAMENTO
EUROPEIZAÇÃOEUROPEIZAÇÃO
19241924
NACIONALIZAÇÃONACIONALIZAÇÃO
VANGUARDAS EUROPÉIAS
VANGUARDAS EUROPÉIAS
UM OLHAR PARA O BRASIL
UM OLHAR PARA O BRASIL
GRUPOSGRUPOSCUBISMO
PAU-BRASILFUTURISMO
DADAÍSMO
EXPRESSIONISMO
SURREALISMOANTROPOFÁGICO
VERDE-AMARELO
REGIONALISTA
Fases do modernismo• Primeira fase - fase heróica- de 1922 a 1930
• Segunda fase – Regionalismo - de 1930 até 1945
• Terceira fase- Pós-Modernismo - de 1945 até a atualidade.
liberdade formal,
utilização do verso livre,
quase abandono das formas fixas, como o soneto,incorporação da fala coloquial e até de manifestações
linguísticas consideradas incultas,
ausência de pontuação, infringindo a gramática normativa,simultaneidade de cenas, num procedimento semelhante ao
da pintura cubista
enumeração caótica de idéias, formando verdadeiras colagensemprego de imagens resultantes da livre associação de
idéias, gerando uma aparente falta de lógica no texto.
PRIMEIRA FASE - HERÓICA
Primeira geração modernista 1922/1930
• A geração de 22, chamada de heróica teve como objetivo a destruição de todo o academicismo importado da Europa.
Principais autores:• Mário de Andrade, Oswald de Andrade,
Manuel Bandeira e Antônio de Alcântara Machado.
Mário de Andrade
MÁRIO DE ANDRADE (1893 / 1945)folclorista, músico, crítico, ensaísta, poeta, contista, romancistaLutou por uma língua brasileira, próxima do povo (oralizada). Desenvolveu dois temas básicos: A cidade de São Paulo O folclore nacionalSua poesia manifesta-se modernista a partir do livro Paulicéia
Desvairada(1922), análise e constatação da cidade de São Paulo (cidade multifacetada). Em seu Prefácio Interessantíssimo cria o manifesto do modernismo, com forte influência das vanguardas.
Obras:Há uma gota de sangue em cada poema(1917) => obra de estréia, influências de escolas anteriores (rigor métrico, rima, vocabulário...)
Clã do Jabuti(1927) => folclore e lendas regionais Amar, Verbo Intransitivo(1927) => crítica à burguesia paulista e
visão freudianaMacunaíma(1928) => o herói sem nenhum caráter. Rapsódia,
une o folclore e a cidade de São Paulo.
Ficção - Os contos de Belazarte (1934)- Contos novos (1946)
Ensaios: - A escrava que não é Isaura (1925) - Aspectos da Literatura brasileira (1943) - O empalhador de passarinho (1944) Poesia: - Losango cáqui (1926) - Remate dos males (1930)
- Lira paulistana (1946)
Oswald de Andrade
Tarsila do Amaral
OSWALD DE ANDRADE (1890-1954) Vanguardista e experimentalista Idealizador dos principais manifestos modernistas. Foi militante político. Nacionalismo crítico A paródia como uma forma de repensar a literatura.Poema-piada, poema-pílula (poesia-minuto) Valorização do falar cotidiano. Análise crítica da sociedade burguesa capitalista. Inovação da poesia no aspecto formal Linguagem cinematográfica, fragmentária, sem conectivos Rompeu com os limites prosa/poesiaObras:
O Rei da Vela(1937) - TeatroSerafim Ponte Grande(1933) (*)Memórias sentimentais de João Miramar(1924) (*)(*) Há quebra de estrutura dos romances tradicionais: capítulos curtíssimos e semi-independentes, num misto de prosa.
As Meninas da GareEram três ou quatro moças bem moças e bem gentisCom cabelos mui pretos pelas espáduasE suas vergonhas tão altas e tão saradinhasQue de nós as muito bem olharmosNão tínhamos nenhuma vergonha.
O Capoeira- Qué apanhá sordado?- O quê?- Qué apanhá?Pernas e cabeça na calçada
60. Namoros
Vinham motivos como gafanhotos para eu e Célia [comermos amoras e moitas de bocas. Requeijões fartavam mesas de sequilhos. Destinos calmos como vacas quietavam nos campos de sol parado. [...]
61. Casa da Parrarroxa
A noite O sapo o cachorro o galo e o grilo Triste tris-tris-tris-te Uberaba aba-aba Ataque aos relógios taque-taque Saias gordas e cigarros
Oswald de Andrade
Erro de português
Quando o português chegouDebaixo de uma bruta chuvaVestiu o índioQue pena! Fosse uma manhã de solO índio tinha despidoO português.
Manuel Bandeira
MANUEL BANDEIRA - 1886 / 1968Tuberculoso – tematiza a doença e as privações resultantes dela. As
fatalidades da vida deixam em sua obra cicatrizes profundas morte do pai, da mãe e da irmã, convivência e sofrimento com sua própria doença.
Intimismo Universal - Buscou na própria vida inspiração para os seus grandes temas: de uma lado a família, a morte, a infância no Recife, o rio Capibaribe; de outro, a constante observação da rua por onde transitam os mendigos, as prostitutas, os meninos carvoeiros, os carregadores das feiras.
Início simbolista – musicalidadeLinguagem oralizada, cotidiano, temas prosaicosQuestionamento socialObras:A Cinza das Horas (0bra de estréia-influência parn./simb.)Carnaval / O Ritmo Dissoluto (engajamento moderno)Libertinagem (Modernismo)
Manuel BandeiraRecife, 19/04/1886 – RJ, 13/10/1968
Eu faço versos como quem choraDe desalento... de desencanto...Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...Tristeza esparsa... remorso vão...Dói-me nas veias. Amargo e quente,Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,Assim dos lábios a vida corre,Deixando um acre sabor na boca.Eu faço versos como quem morre.
CONSOADA
Quando a Indesejada das gentes chegar(Não sei se dura ou caroável),Talvez eu tenha medo.Talvez sorria, ou diga:- Alô, iniludível!O meu dia foi bom, pode a noite descer.(A noite com seus sortilégios.)Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,A mesa posta,Com cada coisa em seu lugar.
A ONDA
A onda anda
Aonde anda
A onda?
A onda ainda
Ainda onda
Ainda anda
Aonde?
Aonde?
A onda a onda
Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia.Que dor de coração eu tinhaPorque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra salaPra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,Ele não se importava:Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
TRAGÉDIA BRASILEIRA
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos,uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria,
Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
Vou-me embora pra PasárgadaLá sou amigo do reiLá tenho a mulher que eu queroNa cama que escolhereiVou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra PasárgadaAqui eu não sou felizLá a existência é uma aventuraDe tal modo inconseqüenteQue Joana a Louca de EspanhaRainha falsa e dementeVem a ser contraparenteDa nora que nunca tive
E como farei ginásticaAndarei de bicicletaMontarei em burro braboSubirei no pau-de-seboTomarei banhos de mar!E quando estiver cansadoDeito na beira do rioMando chamar a mãe-d'águaPra me contar as históriasQue no tempo de eu meninoRosa vinha me contarVou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudoÉ outra civilizaçãoTem um processo seguroDe impedir a concepçãoTem telefone automáticoTem alcalóide à vontadeTem prostitutas bonitasPara a gente namorar
E quando eu estiver mais tristeMas triste de não ter jeitoQuando de noite me derVontade de me matar- Lá sou amigo do rei -Terei a mulher que eu queroNa cama que escolhereiVou-me embora pra Pasárgada
Vou-me Embora pra Pasárgada
SEGUNDO TEMPO MODERNISTA – PROSA
1930-1945- Questão da nacionalidade.- Crise cafeeira.- Revolução de 30.- Intentona Comunista.- Estado Novo (1937-45).- Ascenção do nazismo e
fascismo.- 2ª Guerra Mundial.
2 – CARACTERÍSTICAS GERAIS
Trilhou caminhos diferentes que ocasionou no Regionalismo, especialmente no
nordeste, através de uma ficção regionalista nordestina.
Buscava-se retratar as características sócio-culturais do nordeste brasileiro,
em que cada escritor tentou representar sua realidade geográfica, social,
cultural e econômica. Temas principais:
Denúncia das agruras da seca e da migração; problemas dos trabalhadores
rurais; miséria; ignorância.
Regionalismo – O romance regionalista de 1930
A Bagaceira, José Américo de Almeida Tema: Seca; miséria e migração – Região: Paraíba
O Quinze, Rachel de Queiroz Tema: Seca; miséria; ignorância e migração – Região: CearáPeronagens: Vicente, Conceição, Chico Bento
Vidas Secas, Graciliano RamosTema: Seca; miséria; migração e ignorância - Região : Alagoas Fusão do aprofundamento psicológico e da questão social
SÃO BERNARDOPersonagem: Paulo Honório e MadalenaFoco Narrativo: 1ª. pessoaAusência de sentimentos, brutalizado pelas dificuldades e ambição.Problemas de comunicação levam Madalena ao suicídio.
ANGÚSTIAPersonagens:Luis da Silva – traumas e
delírios Marina (noiva), Julião Tavares(antagonista)Foco Narrativo: 1ª. pessoa
Meninos de Engenho, José Lins do RegoTema: Decadência dos Engenhos de cana de açúcar; coronelismo; luta pela terra; cangaçoRegião: Paraíba
FOGO MORTOtrês partes:1ª. – Mestre José Amaro2ª. – O engenho do Seu Lula3ª. – Capitão VitorinoTematiza a decadência dos engenhos, e a consequente decadência social do nordeste, representada pela importância profissional do seleiro José Amaro; pelo declínio econômico e de poder do Coronel Lula de Holanda; e pelo desejo de resolver todos os problemas do nordeste na visão quixotesca do Capitão Vitorino.
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade - 1902 / 1987
Dezenas de livros em prosa e verso – predomínio da obra poética
Grande variedade temática, mas abordagem constante das
dificuldades diárias do homem comum
reflexão sobre o impasse existencial
Atitudes variadas: amargura, desencanto, ironia, humor
Contenção lírica - antilirismo
Linguagem direta e “enxuta” – concisão
Metalinguagem – poesia é feita por palavras
O medo
Obras: Alguma poesia / Brejo das almas• : dificuldades cotidianas, a
permanência delas na memória; a monotonia; o desajustamento social do indivíduo
Sentimento do mundo• : identificação de sua própria consciência e de sua responsabilidade de cidadão, daí lembranças do passado e desenvolvimento de sensibilidade diante do caos social
A rosa do povo• : aprofundamento da própria consciência e da sensibilidade quanto ao naufrágio moral da sociedade no pós-guerra, paralelamente a um sentimento de culpa diante dessa realidade
Claro enigma/Fazendeiro do ar/Lição de coisas• : preocupação com o metafísico; questionamentos sobre a existência humana, levando, às vezes, a momentos niilistas
Os ombros suportam o mundo Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandesque não tinha entrado na história.
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
No Meio Do Caminho
Procura da poesia Não faças versos sobre acontecimentos.Não há criação nem morte perante a poesia.(...)Não faças poesia com o corpo,esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.(...)Nem me reveles teus sentimentos,(...)Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.(...)A poesia (não tires poesia das coisas)elide sujeito e objeto.(...)Penetra surdamente no reino das palavras.Lá estão os poemas que esperam ser escritos.(...)Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.(...)Espera que cada um se realize e consumecom seu poder de palavrae seu poder de silêncio.(...)Chega mais perto e contempla as palavras.Cada umatem mil faces secretas sob a face neutrae te pergunta, sem interesse pela resposta,pobre ou terrível, que lhe deres:Trouxeste a chave?
ÁPOROUm inseto cavacava sem alarmeperfurando a terrasem achar escape.
Que fazer, exausto,em país bloqueado,enlace de noiteraiz e minério?
Eis que o labirinto(oh razão, mistério)presto se desata:
em verde, sozinha,antieuclidiana,uma orquídea forma-se.
Cecília Meireles
CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)Participou do grupo Festa – poetas simbolistas
Musicalidade, vaguidade, espiritualidade, abstrações
Linguagem harmônica: poesia de agradável e suave musicalidade
Sensibilidade das mais delicadas em língua portuguesa
Intimismo, sentimento de perda
Temas mais recorrentes: solidão, desamor, sentimento de perda e a
efemeridade da vida
Melancolia
Eterno e Efêmero – eternidade representada pela natureza (mar);
fugacidade e efemeridade da vida (passagem do tempo e a morte)
RetratoEu não tinha este rosto de hoje,assim calmo, assim triste, assim magro,nem estes olhos tão vazios,nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,tão paradas e frias e mortas;eu não tinha este coração que nem se mostra.Eu não dei por esta mudança,tão simples, tão certa, tão fácil:- Em que espelho ficou perdidaa minha face?
Motivo
Eu canto porque o instante existee a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento.
Se desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,— não sei, não sei. Não sei se ficoou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.Tem sangue eterno a asa ritmada.E um dia sei que estarei mudo:— mais nada.
Vinícius de Moraes
VINÍCIUS DE MORAES (1913-1980)
Linguagem culta e coloquialismo
Retomada de formas e temas clássicos
Neorromantismo
1ª. Fase - Poesia transcendental Misticismo cristãoVersos livres e longosLinguagem bíblica estilizada (ecos parnasianos)NeossimbolismoAngústia: pureza / pecado; espiritualismo / sensualismoobras: O Caminho para a Distância (1933)
Forma e Exegese (1935)Ariana, a Mulher (1936)Novos Poemas (1938)
O olhar para trásNem surgisse um olhar de piedade ou de amorNem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante...Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha fatalidadeSobre o cadáver ainda morno desse passado adolescente.
..................................................................................................................... Alba
E eu senti correr em meu corpo palpitações desordenadas de luxúria.Eu sofri, minha amiga, porque aquela rosa me trouxe a lembrança do teu sexo que eu não viaSob a lívida pureza da tua pele aveludada e calmaEu sofri porque de repente senti o vento e vi que estava nu e ardenteE porque era teu corpo dormindo que existia diante de meus olhos.Como poderias me perdoar, minha amiga, se soubesses que me aproximei da flor como um perdidoE a tive desfolhada entre minhas mãos nervosas e senti escorrer de mim o sêmen da minha volúpia?
obras de transição:Ariana, A Mulher (1936) - Alguns PoemasNovos Poemas (1938) -Alguns PoemasCinco Elegias (1943)
Luta contra a carne: “Caminhar ciliciando a carne/sobre o corpo macerado da vida”
Busca de novos caminhos (aceitação maior do desejo): “E compreendi que só onde cabia deus cabia Ariana”
Experimentalismos formais - poemas em prosa, coloquialismos, neologismos, humor, disposições gráficas inovadoras
2ª. Fase - Poesia popular
O COTIDIANO DA VIDA URBANA “Meninas de bicicletaQue fagueiras pedalaisQuero ser vosso poeta!”
EROTISMO: O AMOR FÍSICO“Essa mulher é um mundo – uma cadelaTalvez... – mas na moldura de uma camaNunca mulher nenhuma foi mais bela!”
A NATUREZA ASSOCIADA À SEXUALIDADE
HUMORISMO / ANTILIRISMO“As muito feias que me perdoemMas beleza é fundamental”
TEMÁTICA SOCIAL: A guerra, a bomba atômica, a miséria, a
exploração...
INTERTEXTUALIDADE E METAPOESIA
FORMAS TRADICIONAIS (soneto)
VERSOS LIVRES
Obras: POEMAS, SONETOS E BALADAS (1946)
PÁTRIA MINHA (1949)LIVRO DE SONETOS (1957)NOVOS POEMAS II (1959)
SONETO DA FIDELIDADEDe tudo, meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu cantoE rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angústia de quem viveQuem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :Que não seja imortal, posto que é chamaMas que seja infinito enquanto dure.
TERCEIRO TEMPO MODERNISTA
1945-
João Guimarães Rosa
Biografia do AutorRomancista e Contista • Cordisburgo, Minas Gerais, 27 de junho de 1908
• Cursou medicina em 1925
• 16 de novembro de 1967, assumiu sua cadeira na ABL
• Alemão, russo, francês, inglês, húngaro, grego, latim, italiano e espanhol
• Participou da Revolução de 32• Ingressou na carreira diplomática em 1934
• 19 de novembro de 1967, faleceu de enfarte no Rio de Janeiro
OBRAS DO AUTOR
• Sagarana, 1946 – Contos• Corpo de Baile, 1956 – Novelas• Grande Sertão: Veredas, 1956 – romance• Primeiras Estórias,1962 - Contos• Tutaméia:Terceiras Estórias, 1967 – Contos• Estas Estórias, 1969 – Contos• Ave, Palavra, 1970 - Contos
Pensamentos de Guimarães Rosa
• As aventuras não têm tempo, não tem princípio nem fim. E meus livros são aventuras... Escrevendo descubro sempre um novo pedaço de infinito.
• A gramática e a chamada filologia, ciência lingüística, foram inventadas pelos inimigos da poesia.
• No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou um tu; por ali os anjos e o diabo ainda manuseiam a língua.
Pensamentos de Guimarães Rosa
• O sertão é do tamanho do mundo• Se todo animal inspira sempre ternura, que
houve, então com o homem?• Mestre não é quem ensina, mas quem de
repente aprende.• Enfim, cada um o que quer aprova, o
senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...
Pensamentos de Guimarães Rosa
• Eu trazia sempre os ouvidos atentos, escutava tudo o que podia e comecei a transformar em lenda o ambiente que me rodeava, porque este, em sua essência, era e continua sendo uma lenda.
A prosa de ficção pós-45• Transreal, insólito, absurdo, mundo
mítico, fantástico• Linguagem não-letrada, infantil,
experimentalismo, reinvenção do código linguístico
• Universalismo do romance nacional• Enredo e suspense
Regionalismo Universal – “O Sertão é o mundo” – Violência, amor, loucura, misticismo, religiosidade
Linguagem própria – neologismo, arcaísmo, musicalidade, prosa poética. Universalismo do romance nacional
Clarice Lispector
Escritora brasileira de origem judia nascida na Ucrânia Introspecção psicológicaFluxo da consciênciaPrivilegia a reflexão sobre o enredoBase da obra: reflexões íntimas das personagens, muitas delas
femininasA estrutura de várias de suas narrativas obrigou a uma mudança
nos critérios avaliativos da crítica especializada. AC/DCCom frequência, seus textos subvertem a tradicional definição do
que era conto, ou novela, ou romance.Subverte os elementos formais da narrativa (tempo/
espaço/narrador/enredo/início/conflito/clímax/desfecho)A ordem cronológica e a sequência começo/meio/fim perdem
muito de sua importância no contexto do livro.O emprego de certas imagens e o constante uso de figuras de
linguagem como metáforas, antíteses, paradoxos, além de alguns recursos sonoros, acabam por transgredir a fronteira entre poesia e prosa.
Metáforas Insólitas
CLARICE LISPECTOR (1920-1977)
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
Crispei minhas unhas na parede: eu sentia agora o nojento na minha boca, e então comecei a cuspir, a cuspir furiosamente aquele gosto de coisa alguma, gosto de um nada que no entanto me parecia quase adocicado como o de certas pétalas de flor, gosto de mim mesma - eu cuspia a mim mesma, sem chegar jamais ao ponto de sentir que enfim tivesse cuspido minha alma toda. “- - - porque não és nem frio nem quente, porque és morno, eu te vomitarei da minha boca”, era Apocalipse segundo são João, e a frase que devia se referir a outras coisas das quais eu já não me lembrava mais, a frase me veio do fundo da memória, servindo para o insípido do que eu comera - e eu cuspia.
O que era difícil: pois a coisa neutra é extremamente enérgica, eu cuspia e ela continuava eu.
Só parei na minha fúria quando compreendi com surpresa que estava desfazendo tudo o que laboriosamente havia feito, quando compreendi que estava me renegando. E que, ai de mim, eu não estava à altura senão de minha própria vida.(...)
Eu que pensara que a maior prova de transmutação de mim em mim mesma seria botar na boca a massa branca da barata. E que assim me aproximaria do... divino? do que é real? O divino para mim é o real.(...)
Entendi que, botando na minha boca a massa da barata, eu não estava me despojando como os santos se despojam, mas estava de novo querendo o acréscimo. O acréscimo é mais fácil de amar.
A Paixão Segundo G.H.
João Cabral de Melo Neto
Recife, capital do Estado de PernambucoVisão dos retirantes fugitivos da seca, dos miseráveis habitantes dos
manguezais, o contraste entre os casarões e os mocambos construídos dentro da lama,...
Cidades de Olinda e de Recife com seus casarões antigos , seus mares e rios importantes como o Beberibe e o Capibaribe, e aos canaviais da zona da mata pernambucana. Mas também remete para a vegetação escassa da caatinga e à dor do agreste brasileiro. Por isso mesmo, dois de seus livros, "Pedra do sono", de 1942 e "A educação pela pedra", de 1966, trazem no título a idéia de pedra, símbolo da secura sertaneja e do solo pedroso da região.
Poesia Concreta e visual - poesia não-lírica, não-confessional, presa à realidade e dirigida ao intelecto. Único poeta da geração de 45 que influencia geração posterior, formada pela vanguarda brasileira dos anos 50 e 60 sobretudo a vanguarda concreta.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920-1999)
A poesia de João Cabral de Melo Neto pode ser dividida em dois módulos distintos, propostos pelo próprio poeta ao publicar o livro Duas Águas, de 1956.
Uma água Construtiva e outra Participante. A Primeira Água seria formada pelos poemas experimentais,
arquitetônicos, feitos para poetas e que versam sobre o próprio fazer poético.
A Água Participante volta-se para a problemática social do homem do nordeste e é formada por obras como "O cão sem plumas" e "O rio" que são poemas longos sobre os miseráveis habitantes dos manguezais do rio Capibaribe.
Pergunta da revista “Isto É Senhor” (n. 1059, de 3 de janeiro de 1990) ao poeta João Cabral de Mello Neto: IstoÉ: O que o senhor diria a um jovem poeta que deseja ‘construir seu
objeto’?” JCML: “Essas coisas são muito difíceis. Primeiro, que evite sempre a
palavra abstrata e prefira a palavra concreta. Eu acho que a palavra maracujá é muito mais poética do que melancolia, porque maracujá você sabe o que é. Se eu ponho num poema maracujá, estou pondo um objeto diante de sua vista; se ponho melancolia não, porque tenho um conceito de melancolia, você tem outro. Cada pessoa chama tristeza, melancolia, depressão e essa coisa de um estado diferente. Porque usando essas palavras abstratas você não pode ser preciso. Você dilui a poesia porque usa uma palavra que tem dez sentidos, cada pessoa dá o seu sentido a essa palavra, ao passo que maracujá ninguém confunde com manga.”
CrônicaRubem Braga
Recado ao senhor 903
Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e
e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21 :45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio.
...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.
Poesia ConcretaDécio Pignatari , Haroldo de Campos e Augusto de Campos
1952 - Publicação da Revista Noigandres
1956 - Exposição Nacional de Arte Concreta (MASP)
VerbiVocoVisual – significado, som, imagem
Coração cabeça
Augusto de Campos
O Pulsar Augusto de Campos
Precursores : Oswald de Andrade e João Cabral
Poema-objeto
“crise do verso”
recursos
Acústico
Visual
Carga semântica
Espaço tipográfico
Disposição geométrica dos vocábulos na página
PoesiaFerreira Gullar NÃO HÁ VAGAS
O preço do feijãonão cabe no poema. O preçodo arroznão cabe no poema.Não cabem no poema o gása luz o telefonea sonegaçãodo leiteda carnedo açúcardo pão
Comprometimento político e social
O funcionário públiconão cabe no poemacom seu salário de fomesua vida fechadaem arquivos.Como não cabe no poemao operárioque esmerila seu dia de açoe carvãonas oficinas escuras
- porque o poema, senhores, está fechado: "não há vagas"
Só cabe no poemao homem sem estômagoa mulher de nuvensa fruta sem preço
O poema, senhores, não fede nem cheira
Neoconcretismo
mar azul
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