Evolução
Histórica
Antonio Castelnou
Tão antiga quanto à própria humanidade,
a ARQUITETURA surgiu a partir da
necessidade do ser humano fixar-se e ter um
abrigo, permanente e seguro, contra o clima, os
inimigos e os animais selvagens, o que ocorreu
por volta de 8000 aC.
Na PRÉ-HISTÓRIA, o homem era um caçador
nômade, que vivia em constante mudança à
procura de alimentos, ocupando cavernas
naturais ou vivendo à sombra de árvores.
Introdução
Até cerca de 4000 aC,
quando o ser humano
passou a cuidar de
rebanhos, a necessidade
de construir habitações
ainda não era grande.
Porém, a partir do
momento que começou a
cultivar alimentos, a sua
FIXAÇÃO no território
tornou-se primordial.
Habitações primitivas Choças e cabanas
Em paralelo à REVOLUÇÃO
AGRÍCOLA (surgimento da
agricultura), ocorreu a
sedentarização humana e
o aparecimento da escrita, a
qual deu início à HISTÓRIA.
A maior especialização e
também o comércio levaram
à REVOLUÇÃO URBANA,
que se refere à formação dos
primeiros estabelecimentos
urbanos (cidades), marcando
o início da CIVILIZAÇÃO.
Catalhöyuk (Turquia) Reconstituição de uma das primeiras cidades
Aldeias
A EVOLUÇÃO da arquitetura e da transformação do
papel do arquiteto na sociedade acompanharam a
História da Civilização Humana, que teve basicamente
04 (quatro) fases consecutivas:
4000-3500 aC
476 1453
1789
IDADE
ANTIGA
MOVIMENTO
MODERNO
(1915/45)
0
IDADE
MÉDIA IDAD
MODER IDADE
CONTEMPORÂNEA
PRÉ-
HISTÓRIA HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO
Tanto na Era Antiga como Medieval, a atividade
arquitetônica era praticamente ANÔNIMA, já que as grandes
obras eram realizadas por grupos de escravos e/ou corporações de artesãos.
Salvo algumas exceções, pouco se conhece a respeito dos primeiros arquitetos, que podem ser considerados mais como construtores ou artistas.
Im-hotep
(c. 2600 aC.) Fidias
(490-431 aC)
Vitrúvio (c.80-25 aC)
Idade Antiga
Com o início da fundição do bronze em 4000 aC, surgiram as primeiras
civilizações e, com elas, um período marcado pelo desenvolvimento gradual
de estilos particulares.
Em toda a Antiguidade, as culturas mantiveram-se
isoladas, o que lhes conferiu traços próprios e bastante característicos.
Stonehenge (c.3000-1500 aC,
Wilshire GB)
Conjunto de Carnac (c.4500 aC, França)
As principais características da prática arquitetônica da ERA ANTIGA foram:
Arquitetos construtores que criavam e executavam coletivamente as obras
Prática geralmente anônima, em que as obras eram realizadas artesanalmente por escravos e/ou em grupo
Monumentalidade, pesadez (austeridade) e forte relação arquitetura/poder político
Emprego de materiais naturais (barro, pedras, madeiras, etc.)
Grandes Pirâmides de Gizeh (c.2600 aC, Cairo - Egito)
Zigurate de Urnammu (c.2125 aC, Ur – Mesopotânia, atual Iraque)
Palácio de Persépolis (480 aC, Pérsia
- Atual Irã)
- Arquitetura Mesopotâmica - Arquitetura Egípcia - Arquitetura Persa - Arquitetura Hindu - Arquitetura Budista
Grande Stupa de Sanchi (c.100, Pradesh - Índia)
Templo Mahabodhi (c.300-600, Bodhgaya - Índia)
STUPA Séc. III aC – I dC
Índia
DAGODA Séc. II dC
Índia
PAGODA Séc. V-VII dC
China
PAGODA Séc. VII dC
Japão
EVOLUÇÃO DO TEMPLO BUDISTA
- Arquitetura do Extremo Oriente - Arquitetura Pré-Colombiana - Arquitetura Grega e Romana
Teotihuacán (c. 50 aC, México)
Grande Muralha (c.220 aC, China)
Parthenon (447/38 aC, Atenas - Grécia)
Colosseo (c.72/80 dC, Roma)
Roma (117 dC)
Idade Média
O período medieval iniciou-se a partir das invasões
bárbaras, que aceleraram o declínio romano e
esfacelaram a sociedade europeia (Feudalismo).
Com a Queda do Império do Ocidente (476 dC), diversos povos se estabeleceram em
vilarejos, construídos próximos a castelos.
Aldeia medieval
Foi uma época marcada pela afirmação do
cristianismo no Ocidente, pelas cruzadas e pelo desaparecimento das cidades, que somente
puderam renascer a partir do comércio e do
HUMANISMO.
Durando cerca de 1.000 anos, esse longo período dividiu-se em: Alta Idade Média (do século V ao X) e Baixa Idade Média (do
século X ao XV).
Reinos Bárbaros (Séc. V)
Krak des Chevaliers (1142, Talkalakh - Síria)
As principais características
da arquitetura realizada na
ERA MEDIEVAL foram:
Continuação da postura do arquiteto ao mesmo tempo criador e executor dos espaços arquitetônicos
Prática ainda anônima, em que as obras eram realizadas por artesãos (mestres/aprendizes) organizados em corporações de ofício (guildas)
Monumentalidade, aspecto rústico e ligação estreita entre arquitetura e poder religioso
Grande interrelacionamento entre arquitetura, escultura e pintura (relevos, mosaicos, vitrais, etc.)
Catedral de Paris
(1163/1250, França)
Igreja de San Vitale (c.526/47, Ravena - Itália)
Basílica de Santa Fosca (c.1100, Torcello - Itália)
- Arquitetura Paleocristã - Arquitetura Românica - Arquitetura Bizantina - Arquitetura Gótica
Basílica di San Marco (976/1094, Veneza - Itália)
Catedral de Colônia (1243/1473 Alemanha)
EVOLUÇÃO DA PLANTA DA IGREJA MEDIEVAL
PALEOCRISTÃ BIZANTINA ROMÂNICA GÓTICA Séc. I-V Séc. V-IX Séc. X-XI Séc. XII-XIV
N abside transepto capelas
naves nártex
Com a quebra da unidade do mundo mediterrânico, novos reinos se estabeleceram na Europa, levando à expansão
da CIVILIZAÇÃO ISLÂMICA, que conquistou novos territórios entre os séculos VII e XV e acabou provocando a Queda do Império Romano do Oriente (1473). Por sua
vez, a arquitetura do resto do mundo mantinha-se isolada.
Meca
Domo da Rocha (691, Jerusalém)
- Arquitetura Muçulmana - Arquitetura Mudéjar - Arquitetura Xintoísta - Arquitetura Indochinesa
Mesquita de Córdoba (987, Espanha)
Templo de Byodoin (1053, Kyoto – Japão)
Angkor Wat (c.1150,
Camboja)
Grande Mesquita de Qairouan (836, Tunísia)
Idade Moderna
Várias mudanças políticas e socioeconômicas que
vinham se processando na Europa culminaram com o
RENASCIMENTO; um movimento cultural e
artístico do século XV, cujo berço foi Florença.
Antes anônimo, o arquiteto adquiriu status como um artista maior, responsável tanto pela criação quanto
construção de obras.
Duomo (1420/36, Florença) Filippo Brunelleschi (1377-1446)
Altos-relevos medievais
Com a Renascença, modificou-se a posição profissional do ARQUITETO, que passou a ser considerado um
especialista autônomo de alto nível, independente das corporações medievais e, desta vez, ligado aos clientes
(nobres, burgueses e religiosos) pelo mecenato.
Donato Bramante (1444-1514) e outros
Igreja de S. Pietro (1506/46, Vaticano)
Piazza del Campidoglio (1538/1612, Roma) Michelangelo (1475-1564)
- Arquitetura Renascentista - Arquitetura Maneirista - Arquitetura Barroca - Arquitetura Rococó Piazza Navona (1574/1651, Roma)
Gian Lorenzo Bernini (1598-1680)
Leon B. Alberti (1404-72) Palazzo Rucellai (1450, Florença)
Diogo de Boitaca (1460-1528)
Torre de Belém (c.1600, Lisboa - Portugal)
Houve o surgimento do ENSINO FORMAL de arquitetura através de
Academias e de grandes mestres, os quais ditavam
seus preceitos estéticos por meio de Tratados.
Com a Era das Navegações, esses ideais foram difundidos
em todo o mundo e as manifestações arquitetônicas na Ásia, África e Américas –
antes primitivas e/ou desconhecidas – acabaram
sendo influenciadas. Villa Rotunda (1550/54, Vincenza - It.)
Andrea Palladio (1508-80)
I Quattro Libri dell’Architettura (1570)
Papel de destaque desempenhou a ARQUITETURA
COLONIAL, tanto nos EUA como no Brasil, além
de outros lugares do mundo, onde ocorreu a
transferência e adaptação de padrões europeus.
Boston MA
(EUA) Olinda PE (Brasil)
Era das Navegações (Sécs. XV-XVI)
As principais características da
prática dos arquitetos da ERA
MODERNA foram:
Trabalho autônomo, protegido e financiado pelo clero, nobreza e burguesia (grande relação com o poder econômico)
Desenvolvimento de regras acadêmicas (simetria, proporção, perspectiva, etc.) e resgate dos elementos da arquitetura clássica (colunas, frontões, arcos, etc.)
Grande intercâmbio estético, através de um processo de europeização
Emprego de materiais naturais manipulados, além de requinte e suntuosidade em igrejas e palácios
Donato Bramante (1444-1514) Tempietto de S. Pietro in Montorio (1502/10, Roma)
Palais de Versailles (1623/1710, França)
Idade Contemporânea
Iniciada oficalmente com os acontecimentos que deram origem à REVOLUÇÃO FRANCESA (1789/99),
caracterizou-se pela transformação decisiva do perfil profissional do arquiteto, que embora mantivesse sua
autonomia, viu seu status social se modificar com a ascensão da carreira de engenharia civil.
Desde os progressos tecnológicos (novos materiais e técnicas) até as mudanças socioeconômicas oriundas da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1750-1830) – como a
urbanização acelerada e a proletarização de milhares de trabalhadores – fizeram com que o arquiteto tivesse seu
trabalho totalmente transformado no século XIX.
As novas tecnologias e os materiais trazidos com a industrialização fizeram surgir a carreira do engenheiro
civil, o qual passou a dividir com o arquiteto a produção de espaços no século XIX. Após uma fase de desprestígio,
a arquitetura retomaria sua importância com o advento do MOVIMENTO MODERNO (1915/45).
Giuseppe Mengoni (1829-77) Galleria Vittorio Emanuele II
(1865/70, Milão - Itália) Gustave Eiffel (1832-1923)
O surgimento da MÁQUINA, as modificações nos métodos de representação gráfica (geometria mongeana, sistema métrico, etc.)
e de construção (padronização, etc.), além do desmembramento
da atividade arquitetônica, exigiram uma mudança radical.
Durante todo o século XX, os arquitetos acabaram como meros decoradores das obras
modernas e/ou presos no chamado HISTORICISMO.
Capitólio (1811/17, Washington DC) Benjamin H. Latrobe (1764-1820)
Jean Chalgrin (1739-1811) L’Arc de Triomphe (1806/36, Paris - França)
As principais características da
arquitetura oitocentista antes do
do MODERNISMO foram:
Contínuo desprestígio da profissão, que se divorciou das novas técnicas, voltando-se apenas às questões decorativas, de valor estético-formal
Prática calcada no resgate/ releitura de modelos antigos e exóticos (Historicismo), resultando em edificações marcadas pelo rigor e excesso ornamental
Adoção progressiva dos materiais novos (ferro, vidro e concreto), assim como de métodos industriais, primeiramente de modo simulado e depois de forma revolucionária.
Neuschwanstein (1869/81, Baviera - Alemanha)
Georg von Dollmann (1830-95)
- Arquitetura Neoclássica - Arquitetura Neogótica - Arquitetura Eclética - Arquitetura Art Nouveau
Houses of Parliament (1840/60 - Londres GB)
Charles Barry (1795-1860) & Augustus W. N. Pugin (1812-52)
Antoni Gaudi (1852-1926) Templo expiatória da Sagrada Família (1882 em diante, Barcelona - Espanha)
Paul Abadie (1783-1868) Sacré-Coeur (1875/1914, Paris)
Somente após a Primeira Guerra Mundial (1914/18)
e com a fundação da BAUHAUS (1919/33), a arquitetura moderna
difundiu-se pelo mundo, associando arte e indústria.
Através da composição com volumes puros, além de
materiais industrializados e ênfase na ideia de
FUNCIONALIDADE, nascia finalmente o perfil moderno
do arquiteto e urbanista.
Walter Gropius (1881-1969) Nova sede da Bauhaus (1924/25, Dessau - Alemanha)
Red-and-Blue Gerrit Rietveld (1888-1964)
Pavilhão alemão (1929, Barcelona - Espanha) Mies van der Rohe (1886-1969)
O MOVIMENTO MODERNO (1915/45) consistiu em uma série de transformações no
modo de pensar e fazer arquitetura, que buscavam a expressão de uma “nova” arquitetura da Era Industrial.
Todos os mestres modernistas criticavam a mistura de estilos
e defendiam o emprego de formas e materiais novos, através de uma linguagem
funcional e universal.
Le Corbusier (1887-1965) Villa Savoye (1928/29,
Poissy - França)
Casa da Cascata (1934/36, Bear Runn PA) F.L. Wright (1857-1959)
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939/45), novas transformações socioeconômicas e tecnológicas fizeram com que os princípios modernos fossem revisados, o que fez eclodir o MOVIMENTO PÓS-MODERNO, que trouxe
outros desafios como a questão da sustentabilidade.
Renzo Piano (1937-)
Zaha Hadid (1951-2016)
Shigeru Ban (1957-)
Jean Nouvel (1945-)
Sir Norman Foster (1935-)
Leitura Complementar
APOSTILA – Capítulo 04.
GLANCEY, J. A história da arquitetura. São Paulo: Loyola, 2001.
GYMPEL, J. Historia de la arquitectura de la antigüedad a nuestros días. Köln: Könemann, 1996.
JORDAN, R. F. História da arquitetura no ocidente. São Paulo: Verbo/Camarate, 1985.
STRICKLAND, C. Arquitetura comentada. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.