ARQUITECTURASUSTENTÁVEL
NA GUINÉ-BISSAU MANUAL DE BOAS PRÁTICAS
ARQUITECTU
RA SUSTEN
TÁVEL NA GU
INÉ-BISSAU
MA
NUAL DE BOA
S PRÁTICA
S
Editor
CPLP • Comunidade dos Países de Língua Portuguesawww.cplp.org
CoordEnação
Prof. Arqº. Manuel Correia Guedes [email protected]
Equipa téCniCa
Prof. Engº Klas Borges, Universidade de LundProf. Dr. Leão Lopes, Escola Internacional de Artes do Mindelo Prof. Arqº. Gustavo Cantuária, Universidade de Cambridge Prof. Arqº. Manuel Correia Guedes, Instituto Superior TécnicoProf. Engº. Manuel Pinheiro, Instituto Superior TécnicoEngª. Italma Simões Pereira, Instituto Superior TécnicoArqº. Adolfo Ramos, Ministério das Infra ‑estruturas, Comunicações e Transportes da Guiné BissauEngº. Gilberto Lopes, Instituto Superior TécnicoEngª. Carla Gomes, Universidade de Aveiro
dEsign gráfiCo
José Brandão • Susana BritoAlexandra Viola Paginação [Atelier B2]
pré ‑imprEssão E tratamEnto dE imagEns
Joana Ramalho • Gabriel Godoi[Atelier B2]
imprEssão
idg Imagem Digital Gráficawww.idg.pt
isbn 978-989-97178-0-0
nº dE ExEmplarEs
750
dEpósito lEgal
323393/11
5
Apresentação
O presente manual tem como principal objectivo
sugerir medidas básicas para a prática de uma ar-
quitectura sustentável. Destina -se a estudantes e
profissionais de arquitectura e engenharia civil,
sendo também acessível ao público com alguma
preparação técnica na área da construção. Tendo
em conta o clima, os recursos naturais e o contex-
to socioeconómico, são traçadas, de forma simpli-
ficada, estratégias de boas práticas de projecto.
Foi elaborado no âmbito do projecto europeu
SURE–Africa (Sustainable Urban Renewal: Energy
Efficient Buildings for Africa), implementado para
aprofundar e disseminar o conhecimento existente
em quatro países africanos de língua oficial portu-
guesa, na área da arquitectura sustentável – em
particular no que se refere ao projecto bioclimáti-
co e à eficiência energética em edifícios, contri-
buindo para a melhoria das condições de habitabi-
lidade do espaço construído. Participaram no
projecto três instituições académicas europeias –
o Instituto Superior Técnico (coordenador do pro-
jecto), a Universidade de Cambridge (Reino Unido)
e a Universidade de Lund (Suécia) – e quatro insti-
tuições africanas: o Departamento de Arquitectura
da Universidade Agostinho Neto (Angola), a Escola
Internacional de Artes do Mindelo (M–EIA, em
Cabo Verde), o Ministério das Infra -estruturas e
Transportes da República da Guiné -Bissau, e a Fa-
culdade de Arquitectura da Universidade Eduardo
Mondlane (Moçambique).
Ao longo do projecto SURE–Africa, que decor-
reu entre 2007 e 2009, foram realizados diversos
seminários, workshops e conferências, foi criada
uma rede de conhecimento entre as instituições
envolvidas, no domínio da arquitectura e planea-
mento urbano sustentável, e foi produzido mate-
rial de apoio ao ensino, assim como manuais de
boas práticas. Os manuais são publicações pionei-
ras, podendo servir de referência não só para os
países de língua portuguesa, mas também para
outros países africanos, e constituem um ponto de
partida para futuros trabalhos, tão necessários
nesta área.
Deve ser salientado o contributo da Engª. Italma
Simões Pereira para a elaboração deste manual, en-
quadrado na sua investigação sobre Construção Sus-
tentável na Guiné -Bissau.
Prof. Manuel Correia Guedes
Coordenador do projecto SURE–Africa.
7
> Ao Ministério das Infra -estruturas, Comunicações e Transportes da Repúbli-
ca da Guiné -Bissau, pelo apoio dado à realização deste manual e ao desenvol-
vimento das acções do projecto SURE -Africa na Guiné Bissau.
> Ao Engº. Gilberto Lopes do IST, pela constante e preciosa ajuda dada ao
longo de todo o projecto.
> A todas as pessoas individuais e entidades locais, públicas ou privadas, que
colaboraram na recolha de informações para este manual, nomeadamente: Uni-
versidade Colinas de Boé, Câmara Municipal de Bissau, ONG Acção para o Desen-
volvimento (AD), ONG Tininguena, Banco de África Ocidental (BAO), Dimensão 3,
Arquitectónica, ASCON, Arqº. Domingos Fernandes da União dos Arquitectos Gui-
neenses, Engº. Carlos Silva, Domingos Quessange, Catarina Schwarz, Miguel de
Barros e Engº. João Carlos Esteves.
> Aos colegas da Universidade de Cambridge – os Doutores Koen Steemers,
Torwong Chenvidyakarn, Judith Britnell e, muito em particular, ao Doutor Nick
Baker, que esteve na génese do projecto SURE -Africa, e que foi um elemento
chave para a sua realização.
> Ao Dr. Luís Alves, aos Engenheiros Ulisses Fernandes e Anildo Costa,
e à Rita Maia e Maria do Céu Miranda, do IDMEC -IST.
> À Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que apoiou e finan-
ciou esta publicação.
> À Fundação para a Ciência e Tecnologia, que contribuiu com financiamento
para a execução do design gráfico do manual.
> Ao programa COOPENER da União Europeia, principal financiador do projecto
SURE -Africa, e às instituições que para ele contribuíram com co -financiamento:
a CPLP, a Fundação Calouste Gulbenkian, a FCT e a Direcção Geral de Energia.
Agradecimentos
8
A profissão de Arquitecto na Guiné-Bissau é, para todos os efeitos, uma
profissão nova.
Por razões que não importa aqui esmiuçar, o ofício
de arquitecto vinha sendo relegado para a penumbra
das profissões. A tendência de absorção da forma pela
substância ou dos meios pelos fins desvirtuou a pers-
pectiva metodológica e artística da obra, retardando a
autonomia do ofício de Arquitecto e subalternizando-
a a outros ramos da engenharia, com ele conexos.
Sendo certo que, na Guiné-Bissau, o ensino liceal
só surgiu no terceiro quartel do século passado, na-
tural será que as profissões susceptíveis de cativar a
atenção dos estudiosos e a admiração da praça sejam
as susceptíveis de produzir, por si próprios, resulta-
dos concretos de indiscutível utilidade.
Tal como se impuseram os ofícios de médico e de
advogado, também o de engenheiro marcou o seu espa-
ço, com a diferença de trazer em si já uma imparciali-
dade, englobando agrónomos, civis e electrotécnicos,
para só citar alguns, talvez os mais representativos.
Tão marcante era a tendência que, mesmo durante o
período colonial, não fazia parte do quadro de mestres
o exercício profissional especializado de Arquitecto.
Prefácio
9
Havia, sim, os chamados “desenhadores” da Câ-
mara Municipal de Bissau geralmente praticados,
formados na tarimba, a quem se incumbia a elabo-
ração de “projectos”.
Seja como for, assistia-se ao nascimento de
uma profissão cuja projecção estava condicionada
pelas reais potencialidades do mercado, nessa al-
tura. Alias, para todos os efeitos, o Regulamento
Geral de Edificação Urbana contava com esses prá-
ticos, facto que testemunha o reconhecimento de
uma profissão indispensável, desde logo, por uma
questão metodológica.
Com o advento da independência, começaram
a surgir Arquitectos de formação. A nova geração
que na segunda metade de década de setenta fize-
ra as malas para as faculdades das diferentes Uni-
versidades do exterior, regressava agora com uma
nova visão e novas preocupações profissionais.
Pouco a pouco, o Arquitecto guineense começa a
pôr em causa o seu estatuto de andaime, conquis-
tando, palmo a palmo, o direito de estar presente no
momento da festa, exactamente na mesma posição
em que estaria o maestro.
Para coroar este esforço permanente de dignifi-
cação do ofício, os profissionais desta praça insti-
tuíram uma associação, a “União dos Arquitectos
da Guiné-Bissau”, que se afirma, cada vez mais,
como factor de aglutinação e de uniformização da
linguagem técnica de profissionais oriundos das
mais diferentes escolas, como interlocutora dos po-
deres públicos e instrumento de divulgação e pro-
moção da arte arquitectónica.
Enfim, é este o desafio com que o Arquitecto
guineense se vê confrontado, demonstrar a impor-
tância e os benefícios da arquitectura e do urbanis-
mo, lutar pela afirmação e consolidação da união
cultural arquitectónica. Neste contexto, o manual
de boas práticas vem dar um contributo importante
para a arte de bem projectar e construir.
“Se sonhamos, é bom sonhar sonhos grandes
e sublimes para alargar a nossa alma e enchê -la de
grandeza.” Maria Ulrich,(1949)
Arq. Domingos Fernandes
União dos Arquitectos da Guiné ‑Bissau
Prefácio
ÍNDICE
Apresentação 5
Agradecimentos 7
Prefácio 8
Introdução 14
1. Enquadramento 18
1.1 Informação geral 19
1.2 Espaço construído: situação actual 20
1.3 Medidas de intervenção 26
2. Tipologias arquitectónicas 28
2.1 Arquitectura vernacular 31
2.2 Arquitectura colonial 42
2.3 Tendências contemporâneas 45
2.4 Construção para ecoturismo 48
3. Projecto bioclimático: princípios gerais 52
3.1 Contexto climático 55
3.2 Localização, forma e orientação 56
3.3 Sombreamento 62
3.4 Revestimento reflexivo da envolvente 69
3.5 Isolamento 71
3.6 Áreas de envidraçado e tipos de vidro 74
3.7 Ventilação natural 77
3.8 Inércia térmica 87
3.9 Arrefecimento evaporativo 90
3.10 Controle de ganhos internos 91
3.11 O uso de controles ambientais 92
3.12 Estratégias passivas e critérios de conforto térmico 93
4. Materiais de construção 98
4.1 Zinco 101
4.2 Terra crua 102
4.3 Madeira 106
4.3 Bambu 106
4.3 Pedra 107
4.4 Viabilidade económica 108
5. Energias alternativas 110
6. Água e Saneamento 114
6.1 Água 115
6.1.1 Métodos de captação 116
6.1.2 Métodos de potabilização 117
6.1.3 Abastecimento 118
6.1.4 Instalação 118
6.2 Saneamento 118
6.2.1 Latrina seca 119
6.2.2 Fossa séptica 121
7. Casos de estudo 124
7.1 Análise de três casos de estudo 125
7.2 Moradia proposta 139
7.3 Conclusões 148
7.4 Sumário: recomendações gerais para a Guiné ‑Bissau 152
Bibliografia 153
Anexos
A1 Energia solar fotovoltaica 160
A2 O sistema Líder A 168
A3 Vegetação e conforto microclimático 186
A4 A gestão urbana e o licenciamento: revisão bibliográfica 193
A5 Desenvolvimento limpo nos PALOP 208
Autorias 212
12
A questão do desenvolvimento sustentável vem ocupando um lugar de
destaque nas sociedades, e “construir de forma sustentável” tornou -se,
mais do que um slogan, numa necessidade cada vez mais pertinente e de-
terminante para a qualidade de vida.
Este estudo centra -se na análise dos constran-
gimentos que se impõem à construção nos trópi-
cos, onde o clima é agente determinante, condicio-
nando o desempenho dos edifícios durante o seu
tempo de vida útil. É desenvolvido para a Guiné-
-Bissau, país africano de clima tropical, tendo
como premissas os principais problemas que afec-
tam a construção nessa região:
> Elevados níveis de temperatura e humidade
> Défice habitacional provocado pela falta de pla-
neamento urbano, e pelo elevado êxodo rural das po-
pulações mais pobres para os centros urbanos
> Degradação do património edificado
> Conflito entre o tradicional e a modernização
> Carência energética
> Fraco poder económico dos utentes
Há muitas definições para Arquitectura Sustentá-
vel, mas a essência da sustentabilidade está intrinse-
camente ligada à essência da Arquitectura. Um bom
edifício é naturalmente sustentável.
Introdução
13
“Os edifícios designados para a sustentabilida‑
de são construídos e operados para minimizar to‑
dos os impactos negativos nos ocupantes (em ter‑
mos de saúde, conforto e produtividade), e no
ambiente (uso de energia, recursos naturais e po‑
luição)” Plainotis (2006).
Podemos afirmar que Vitrúvio no século I a.C.
já defendia um projecto de Arquitectura Sustentá‑
vel. O sistema firmitas, vetustas, utilitas (solidez,
beleza e utilidade) deveria incluir uma observação
da Natureza e um consequente aproveitamento
dos recursos naturais, com a utilização da ilu-
minação solar e da ventilação natural. Factores
determinantes para a funcionalidade ambiental,
como a escolha do local para implantação das
cidades, a disposição das vias e a orientação
das edificações deveriam reger o projecto desde
o seu início.
Encontramos também práticas de sustentabi-
lidade na arquitectura vernacular, não erudita,
de muitas comunidades. Esta incorpora tecno-
logias construtivas que são o produto do conhe-
cimento empírico de muitas gerações, que ao
longo de séculos desenvolveram estratégias de
adaptação ao meio ambiente, utilizando recur-
sos locais.
As problemáticas da sustentabilidade e das
alterações climáticas são frequentemente consi-
deradas como questões pertencentes aos países
ricos. O continente africano, apesar de pouco
industrializado e pouco consumista, encontra -se
numa posição mais vulnerável do que os países
desenvolvidos e fortemente industrializados.
O hiper -consumismo não deve ser um modelo a
seguir pelos países em desenvolvimento que por
vezes erradamente prescrevem as tendências oci-
dentais. Há uma necessidade latente de não se-
guir os maus exemplos do mundo industrializado
e preservar uma qualidade, que podemos consi-
derar como intrínseca à falta de riqueza financei-
ra, que é a capacidade de reciclar e aproveitar os
recursos existentes.
Os países mais ricos têm explorado os recursos na-
turais dos mais pobres, e alguns dos (poucos) ricos
dos países mais pobres colaboram com este sistema,
permitindo a exportação de recursos naturais a custos
irrisórios. O debate contra a fome, a pobreza e as do-
enças endémicas ocupa um lugar cimeiro em África.
Introdução
14
É essencial pensar em estratégias de planea-
mento ecológico e desenvolvimento sustentável,
de forma holística e integrada, evitando soluções
de curto prazo e alcance. A sustentabilidade ener-
gética e o uso responsável dos recursos locais de-
vem ser partes integrantes do desenvolvimento
sustentável do ecossistema.
Actualmente, a problemática da construção
sustentável, adaptada o contexto climático, socio-
-económico e cultural em que se insere, não se
encontra devidamente estudada ou explorada no
continente africano. Existe contudo um vasto cor-
po de conhecimentos e ferramentas de análise que
permitem identificar as principais estratégias a
utilizar no projecto de edifícios em África, – solu-
ções eficazes e económicas para um bom desem-
penho do conforto interior de um edifício. O pre-
sente manual pretende ser um contributo para o
conhecimento nesta área de estudos.
Uma medida indispensável é a auto -suficiência.
Os altos custos de importação poderão ser a moti-
vação para produzir e conduzir naturalmente a so-
luções mais viáveis em termos ecológicos e de res-
peito ambiental – envolvendo o uso de recursos
locais. Tem de haver uma sensibilização da popu-
lação neste sentido. O que pode e deve vir do ex-
terior são as novas técnicas e concepções de cons-
trução, que permitem uma utilização mais racional
da matéria -prima.
Apesar de medidas pontuais do sector da cons-
trução fazerem alguma diferença, este só poderá
ser verdadeiramente fomentado através de um
novo modelo de crescimento económico, que te-
nha por base um desenvolvimento ecologicamen-
te sustentado. Deverão ser incrementadas medi-
das para a promoção de materiais de baixo custo,
com desenvolvimento de tipologias e tecnologias
de construção locais, que se revelem determinan-
tes e eficientes.
O processo participativo e a auto -construção
deverão ser integrados nesta teia sinergética de
solidariedade e união colectiva, com o objectivo
de superação dos problemas de escassez de recur-
sos financeiros. O arquitecto, na sua prática pro-
fissional, para além da utilização de materiais lo-
cais e da introdução de sistemas de energias
renováveis, deve prever no projecto os espaços de
construção prioritária e contemplar o edifício
como um organismo que pode crescer, num pro-
cesso espacial evolutivo que acompanha o cresci-
15
mento das famílias. O abrigo evolutivo que com-
porta espaços com potencial de expansão, para a
família em crescimento, é um elemento cultural
em África. Paralelamente, a definição dos espaços
de construção prioritária é fundamental para a
gestão dos recursos financeiros.
Mais de mil milhões de pessoas nos países em
desenvolvimento não têm abrigo adequado e
calcula -se que cem milhões não têm casa. O ob-
jectivo deste Manual é sugerir medidas básicas
para a concepção de uma casa confortável, que
respeite a natureza, e com custos reduzidos de
construção e de manutenção. Tendo em conta o
clima, os recursos naturais e o contexto socioeco-
nómico, são traçadas estratégias de boas práticas
para o projecto arquitectónico na Guiné -Bissau.
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1.1 Informação geral
Acerca do território
Localização: Costa Ocidental Africana, latitude
11º5'N e longitude 15º4'E, limitada a Norte pela
República do Senegal, a Este e Sul pela República
da Guiné Conacri e a Oeste pelo Oceano Atlântico.
Superfície: 36.125 km2
População: 1.500.000 habitantes (de acordo com
os resultados provisórios do último censos 2009)
Território: composto por continente e ilhas,
subdivide -se num sector autónomo, Bissau, e oito
regiões – Gabú, Bafatá, Oio, Cacheu, Tombali, Quí-
nara, Bolama/Bijagós, e Biombo. FIG. 1.1 Guiné -Bissau, localização geográfica.
FIG. 1.2 Panorâmicas da Guiné -Bissau.
Relevo: caracterizado por planícies, galerias flo-
restais, e ausência de acidentes orográficos, sen-
do o ponto mais alto na montanha Futa Djalon,
região de Gabú, com 300 metros de altura.
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Condições climáticas
Clima: tropical quente e húmido, com duas estações.
Estação húmida: de finais de Maio a Outubro,
com ventos de sudoeste, com chuvas fortes que
chegam a tingir 600 mm de precipitação, e níveis
de humidade elevados, acima dos 80% nos meses
de Julho a Outubro.
Estação seca: de Novembro a Abril, com ventos de nor-
deste, onde ocorrem os dias menos quentes do ano.
Temperatura: média oscila entre os 25 e 30ºC du-
rante todo o ano.
História, cultura e economia
História: Descoberta em 1446 pelo navegador
português Nuno Tristão, a Guiné -Bissau foi coló-
nia portuguesa durante 527 anos, até à proclama-
ção unilateral da independência a 24 de Setembro
de 1973, reconhecida por Portugal após o 25 de
Abril (1974).
Cultura e Sociedade: marcadas pelas características
dos principais grupos étnicos – Balantas, Papéis, Bija-
gós, Manjacos e Felupes, essencialmente animistas, os
Fulas e Mandingas, islâmicos, e os Beafadas e Nalus.
Economia: apoia -se essencialmente na agricultura,
que representa 62% da actividade económica do
País (AD, 2006ª). PIB: 173,32 bilhões FCFA (em va-
lor), dados do Instituto nacional de Estatística.
Recursos naturais
Constituições rochosas: xistos argilosos, grés,
doloritos, e formações lateríticas, que se encon-
tram em quase todo o território (Oliveira, 1967).
Madeira: existe em abundância, devido à riqueza
local em espécies florestais.
Outros recursos: bauxite, fosfato, e potencialidade
de se explorar depósitos de petróleo.
1.2 Espaço construído: situação actual
A prática da construção na Guiné -Bissau implica
enfrentar condições climáticas específicas, e pro-
blemas de habitação e urbanismo, como as carên-
cias habitacionais e infra -estruturais, degradação
acentuada de edifícios, e falta de identidade urba-
na, comuns a países tropicais.
FIG. 1.3 Paisagens da Guiné -Bissau.
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Acções como a radiação solar, chuvas intensas e
humidade do ar, desafiam arquitectos, engenheiros
e urbanistas à criação de soluções mais sustentá-
veis na procura de segurança e conforto em edifí-
cios. A forte exposição à radiação solar contribui
para o sobreaquecimento, factor crítico para a ob-
tenção de conforto. A protecção à radiação solar, e
a promoção de ventilação natural são prioridades
para o contexto Guineense.
A acção das chuvas pode ter um efeito erosivo,
contribuindo para o desgaste mais acentuado dos
materiais, principalmente nos aplicados no exterior
(coberturas, revestimentos de fachada, etc.), po-
dendo também ser responsável por fissuras superfi-
ciais devido ao arrefecimento rápido das superfí-
cies, e por humidades interiores devido a infiltrações.
Assim, ao fenómeno de sobreaquecimento pode ser
adicionado o da “sobre -humidificação”, pois a ele-
FIG. 1.4 Edifício na zona antiga da cidade de Bissau – Bissau velho, agredido ao longos dos anos pelos agentes climáticos, evidenciando actualmente necessidade de reabilitação profunda.
FIG. 1.5 Edifício no centro da cidade de Bissau, com todas as fachadas sombreadas pela cobertura e envolvente arborizada.
FIG. 1.6 Fachada de tipologia importada, bastante desadequada para a nossa região climática e cultural.
vada humidade aumenta a sensação térmica de ca-
lor, contribuindo significativamente para o aumen-
to de desconforto. O elevado teor de humidade no
exterior aumenta também o grau de deterioração
dos materiais (rebocos, madeiras, metais…) por
acção de vegetações parasitárias e oxidação.
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As condições climáticas surgem assim como
um factor essencial a considerar no projecto de
um edifício, seja ele moderno ou tradicional.
O urbanismo nos trópicos requer também con-
siderações relativamente a técnicas de planea-
mento e reabilitação urbanos. Nas zonas húmidas
a movimentação do ar é necessária para a manu-
tenção do conforto. As próprias ruas devem ser
orientadas de forma a aproveitar as brisas, e a ar-
borização não deve impedir a circulação do ar,
sendo as árvores altaneiras como a palmeira as
mais aconselháveis.
Os edifícios, tendo alguma diferença de alturas
podem promover a ventilação, e actuar no som-
breamento adjacente uns dos outros. Ruas com
um traçado regular, e espaços amplos entre os
edifícios, também facilitam a ventilação.
Na densificação em baixa altura devem ser consi-
derados os custos com a infra -estrutura, o consumo
FIG. 1.7 “Modernização” desadequada da arquitectura tradicional. FIG. 1.8 O arquitecto deverá ter a capacidade de fazer a simbiose entre as influências adquiridas no exterior com as tradições e vivencias locais.
energético em combustível, a redução da diversidade
social, a destruição da natureza circundante, entre
outros factores da expansão humana. Investigações
levadas a cabo por economistas latino -americanos
permitiram determinar que preparar um lote com
serviços nos subúrbios para a construção de uma vi-
venda e custear os serviços, facilidades, transporte,
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equipamentos, custa a um país até 16 vezes mais
que o mesmo num centro urbano consolidado.
O desenvolvimento de cidades intermédias como
estratégia para alívio das cidades grandes, criando-
-se oportunidades de progresso entre elas, deve ser
uma prática corrente. Evitar a expansão da cidade ao
infinito e estabelecer os seus limites através de cor-
redores biológicos urbanos é uma ferramenta aplicá-
vel nos trópicos, com muitas garantias de êxito.
O urbanismo tropical depende de soluções pú-
blicas e privadas:
Melhor aproveitamento do tecido urbano, dotando-
-o de infra -estruturas, e passando as actividades
públicas para os pisos superiores dos edifícios;
Aplicação do princípio da intensidade–densidade,
procurando -se equilibrar a população com a ener-
gia das suas actividades urbanas. A previsão de ex-
tensas áreas para a intensidade de vida urbana é
FIG. 1.9 A integração e valorização de materiais locais associados a tipologias e materiais modernos reforçam a identidade cultural e facilitam a integração no meio ambiente.
FIG. 1.10 Arquitectura é o retrato, o resumo, da cultura e do meio em que surge, da gente que a produz...
FIG. 1.11 Sombreamento de edifícios por palmeiras, com espaço livre para ventilação natural.
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uma boa prática porque torna a cidade mais homo-
génea, e evita a segregação entre áreas deprimidas
e animadas;
Criação de instrumentos imediatos e efectivos (pa-
ralelamente aos planos directores), que permitam
atingir objectivos urbanísticos mais precisos e urgen-
tes, evitando -se a utopia de ordenação e o fomentar
da negligência oportunista. Isso implica a definição
de prioridades por parte da administração, determi-
nando quais as cidades previstas, desenvolvendo ins-
trumentos de acção e aplicando -os a curto prazo.
Definição de limites dentro dos limites da peri-
feria da cidade, permitindo maior controlo e reali-
zações mais efectivas;
Incorporação de vegetação no desenho das ruas;
previsão de materiais ecológicos e adequados à ac-
ção da chuva e do sol, na construção de estradas;
Correcto dimensionamento das soluções de per-
meabilização e escoamento das águas pluviais,
evitando o seu acesso aos rios; sobre -elevação
dos edifícios do solo; previsão de áreas de reten-
ção para controlo da água nas grandes avenidas,
evitando -se inundações e erosão;
Manipulação do vento dentro das cidades, através
de corredores, pois permite baixar a temperatura da
ilha de calor, e quando associada ao solo, fachadas,
e coberturas jardinadas, a frescura é efectiva.
Em termos de Instrumentos de gestão urbana,
ainda nos anos 90 foram aprovados o “Regulamen-
to Geral da Construção e Habitação” (actualmente
designado “Regulamento Geral para a Construção
e Urbanismo na Guiné -Bissau” após revisão em
2006), e a “Lei do Ordenamento Territorial e Urba-
no”, para Bissau, e elaborados “Planos de Ocupa-
ção do Solo”, para sete cidades (Bafatá, Gabú,
Farim, Bissorã, Canchungo, Buba, e Catió), que
servem de instrumentos de base no uso e ocupa-
ção do solo (A. Ramos, 2007). O “Regulamento
FIG. 1.12 Incorporação de vegetação no desenho da rua, funcionando simultaneamente como corredor de manipulação do vento, e ao mesmo tempo protegendo a estrada da acção das chuvas. A inclinação das bermas é propícia ao escoamento superficial da água das chuvas, directamente para os jardins laterais.
FIG. 1.13 Edifício ecoturístico sobre -elevado do solo, protegendo -o da humidade do terreno, relevante na época das chuvas.
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Geral para a Construção e Urbanismo na Guiné-
-Bissau” regulamenta a execução de novas edifi-
cações, e de quaisquer obras de construção civil
(reconstrução, ampliação, reparação, ou demoli-
ção), ou ainda trabalhos que impliquem a altera-
ção da topografia local, dentro do perímetro urba-
no, e das zonas rurais de protecção fixadas para as
sedes de Município e Sector, e para as demais lo-
calidades sujeitas por lei a planos de urbanização
e expansão (MOPCU, 2006).
No que toca à problemática da habitação, esta en-
globa invariavelmente o alojamento, infra -estruturas
sanitárias e de saneamento, energia, educação, equi-
pamentos, e emprego, mais especificamente no res-
peitante às suas carências. Actualmente a carência
habitacional predomina na capital (onde se situam os
principais equipamentos colectivos) devida em parte
ao enorme êxodo rural, e à falta de planeamento urba-
no. A malha urbana não tem acompanhado a evolução
da cidade, adoptando -se pelo contrário soluções de
urbanização de mais bairros e de concessão de terre-
nos para a construção de forma liberal, sem conside-
rações no âmbito do saneamento básico, ou infra-
-estruturação de apoio (instalações eléctricas, redes
de abastecimento de água, telefone, ou mesmo vias
de acesso). A falta de manutenção dos edifícios e
infra -estruturas antigas é apenas mais um factor de-
terminante na degradação da cidade.
Assim, no panorama actual identificam -se os se-
guintes problemas:
Falta de identidade urbana nas principais cida-
des, gerada pela construção livre e espontânea
FIG. 1.14 A construção de uma cidade moderna implica: organização e planeamento participativo; promoção da mudança de mentalidade; e investimento (rentabilização da cidade e captação de recursos).
FIG. 1.15 Perante a actual situação económica, as relações entre a Arquitectura/Planeamento urbano e o trópico devem ser encaradas, principalmente em termos da contribuição que possam trazer para o rendimento do nível económico e social das classes ainda hoje marginalizadas da evolução e do progresso da técnica, e que representam a imensa maioria entre os que vivem nos trópicos.
FIG. 1.16 Edifícios na zona de Bissau velho evidenciando degradação dos materiais exteriores e aparecimento de vegetação indesejada.
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Carência em termos de infra -estruturas habita-
cionais, de transportes colectivos, energia, higie-
ne e saneamento básico
Degradação acentuada de edifícios coloniais e
vias de circulação
Deficiência no fornecimento de energia eléctrica
Desconforto no interior e rápida degradação dos
edifícios em geral devido a agentes atmosféricos
Transição das casas vernaculares típicas no meio
rural, para moradias atípicas
1.3 Medidas de intervenção
No diagnóstico da construção e habitação na Guiné-
-Bissau propõe -se possíveis soluções, consideran-
do -se também propostas de Pereira (2001) e A. Ra-
mos (2007):
Desenvolvimento de políticas de promoção à ha-
bitação e acções de saneamento, definindo -se os
objectivos, as prioridades, e os instrumentos ne-
cessários à sua implementação
Desenvolvimento de políticas de expansão, e de
conservação ou recuperação do património arqui-
tectónico e infra -estrutural colonial
Investimento em tecnologias e materiais de
construção de fabrico local, mais adequados ao
clima, com vista à redução das necessidades de
importação e aumento do conforto e durabilidade
Promoção da coordenação entre as diversas áre-
as intervenientes na cidade (transportes, comér-
cio, indústria, etc.);
FIG. 1.17 Edifícios contíguos numa das principais avenidas da cidade de Bissau (Mercado de Bandim), evidenciando características arquitectó-nicas e construtivas bastante diferentes entre si, e independentes dos edifícios típicos do centro da cidade, na sua maioria coloniais. Por um lado um edifício de 2 pisos com comércio no rés -do -chão e armaduras de espera para o seu prolongamento em altura, tipificando uma construção
que tem proliferado na sub -região ocidental africana; a cobertura é plana e as fachadas a descoberto, com elementos estruturais em betão armado. Por outro lado uma habitação horizontal de baixo custo, com paredes de adobe, e cobertura de zinco de 4 águas, protegendo as 4 fachadas. Este tipo de construção é típico dos arredores da cidade e no interior, tendo vindo a substituir a tradicional palhota de colmo e taipa.
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Criação de incentivos e mecanismos para o fo-
mento de uma participação mais activa do sector
privado, através de investimentos no mercado
imobiliário, construção civil e obras públicas
Criação de um plano estratégico de formação de
técnicos, a diversos níveis, com competência para
implementar e executar as políticas definidas para
os diversos sectores
Promoção de acções e campanhas com vista à
mudança de mentalidades e promoção de compor-
tamentos de cidadania adequados à vida urbana
Criação de mecanismos de controlo da qualidade e
tipo de construção, bem como instrumentos de ges-
tão urbanística, que evitem o caos urbanístico
Valorização das características da habitação
tradicional
Desenvolvimento de políticas de encorajamento
das populações rurais à fixação nos seus locais
tradicionais de residência; criação das autarquias
regionais, e desenvolvimento dos equipamentos
colectivos adequados
Maior planificação, traduzido em planos de urbani-
zação, acompanhados de redes eléctricas, e de sane-
amento básico (água, esgotos, recolha de lixo, etc.)
Reabilitação ponderada dos edifícios, adequando-
-os à realidade urbana actual
Investimento em tecnologias associadas às
energias renováveis
Melhoria dos projectos, com vista à diminuição
de necessidades energéticas em edifícios
Requalificação e integração dos edifícios exis-
tentes, para que apresentem as necessárias condi-
ções de habitabilidade
Adopção de regras construtivas que propiciem
maior conforto no interior dos edifícios
No próximo capítulo são descritas as principais
tipologias arquitectónicas existentes na Guiné
Bissau – sendo de seguida traçadas estratégias de
sustentabilidade, em termos do projecto bioclimá-
tico dos edifícios, do uso de energia, da àgua, e
do saneamento.
FIG. 1.18 “Bungalow” inserido no logradouro de um conjunto habitacional tirando partido do sombreamento natural e dos materiais locais: revestimento de pedra, que resiste bem ao desgaste provocado pela acção das chuvas, cobertura em colmo, bastante mais fresco, protegendo do calor intenso, e revestimento interior em esteiras feitas com taras de cana e bambu local. No pavimento aproveitamento de pedaços irregulares de cerâmica partida.
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Na Guiné -Bissau identificam -se, de forma geral, qua-
tro tipologias arquitectónicas: a arquitectura vernacu-
lar, a arquitectura colonial, a arquitectura contempo-
rânea corrente, e também as recentes edificações para
ecoturismo. Na arquitectura tradicional, encontram -se
soluções construtivas simples, inspiradas na seguran-
ça, no conforto e em crenças religiosas, patrimónios
de grande valor cultural, reveladores de profundos co-
nhecimentos empiricamente adquiridos. Na arquitec-
tura típica colonial a utilização da régua e do esqua-
dro é mais evidente, com intervenção clara de técnicos
especializados, bem como nos edifícios com tendên-
cias contemporâneas, actualmente distribuídos um
pouco por todo o território.
1 Arquitectura vernacular – casas de palha, em
zonas rurais, com paredes de taipa ou adobe e co-
bertura de colmo.
FIG. 2.1 Arquitectura vernacular: Casa do Régulo de Gabú.
FIG. 2.2 Edifícios da época colonial, com varanda saliente.
2 Arquitectura colonial – moradias construídas
no período de administração portuguesa no centro
das principais cidades (Cacheu, Bolama, Bissau,
Gabú…), abarcando diferentes estilos, elementos
formais e técnicas construtivas.
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3 Tendências contemporâneas – moradias contem-
porâneas com elementos estruturais de betão armado,
paredes de tijolo cerâmico ou blocos de betão, e co-
bertura de telha, na periferia dos centros urbanos;
FIG. 2.3 Edifício contemporâneo atípico construído no alto Bandim.
4 Construção para ecoturismo – com predilecção
pelo uso de materiais naturais como a terra, a madei-
ra, e o colmo.
FIG. 2.4 Construção para ecoturismo.
QUADRO 2.1 Classificação das tipologias arquitectónicas da Guiné -Bissau. Casas a cinzento indicam ocorrências que não correspondem à situação típica ou mais usual.
Característica Descrição Tipologias Vernacular Colonial Contemporânea Ecoturismo
Tipo de inserção
Rural
Urbano
Periurbano
Materiais de parede
Taipa
Adobe
Adobe reforçado
Blocos de betão
Tijolo
Materiais de cobertura
Colmo
Zinco
Aluzinco
Fibrocimento
Telha
Betão
Promotor
Público
Privado
Cooperativa
Autoconstrução
Tipo de uso
Unifamiliar
Colectiva
Administrativo
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O tipo de construção pode ainda ser distinguido
consoante os agentes, que se dirigem a estratos socio-
económicos diferentes. Por um lado a promoção públi-
ca destinada essencialmente a famílias com fraco po-
der económico, por outro o sector privado que promove
habitações para um estrato social economicamente
mais estável (rendimentos médios a elevados), e num
plano intermédio o sector cooperativo, que procura
responder às necessidades de uma pequena burguesia,
organizando -se normalmente nos ministérios ou insti-
tuições, destinado aos funcionários. Existe ainda a
construção popular não consolidada em espaço urba-
no, não controlada pelos mecanismos administrativos,
praticada em ambiente peri -urbano ou infiltrada em
bairros já existentes, sem qualquer plano de base.
2.1 Arquitectura vernacular
A sociedade guineense possui uma multiculturalida-
de caracterizada pelas diversas etnias, cerca de 30,
cujas particularidades se reflectem na língua, usos e
costumes, na organização espacial e ordenamento
FIG. 2.5 Distribuição dos grupos étnicos pelas regiões.
FIG. 2.6 Relações funcionais entre a casa e o meio ambiente.
Modos de vida
Actividade económica
Meio físico
Materiais de construção
Condições de segurança
Casa
do território, na construção das habitações e mate-
riais utilizados, bem como na simbologia e crenças
religiosas. Tal diversidade poderia ainda estender -se
à gastronomia, práticas rituais, manifestações festi-
vas e actividades de natureza económica.
A arquitectura vernacular engloba as habita-
ções mais ancestrais do território, designadas “ca-
sas de palha”, cuja técnica de construção foi sen-
do transmitida de geração para geração. Esta
arquitectura de autoconstrução, espontânea e sem
intervenção de técnicos especialistas, respeita no
entanto uma ordem interna com fundamentos nos
usos e costumes seculares dos diversos grupos ét-
nicos, os quais conservam a sua tradição.
As casas de arquitectura vernacular encontram -se
distribuídas pelo país com características globais mui-
to próximas e detalhes únicos conforme o grupo étni-
co, estabelecendo -se entre a casa e o meio ambiente
as relações funcionais focadas na FIGURA 2.6 .
Tradicionalmente a população rural tem as suas ac-
tividades repartidas entre a agricultura, a pesca e a
pastorícia, o que influencia a organização das habita-
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ções em moranças1 dispersas ou concentradas. Por
exemplo o grupo Balanta sendo dedicado à agricultura
assenta -se em moranças dispersas por bolanhas (pân-
tanos para o cultivo do arroz), enquanto os Bijagó que
se dedicam mais à pesca, e os Manjaco dedicados a
culturas rotativas, apresentam moranças concentradas.
O conjunto de várias moranças forma o povoamento.
Os povoamentos com moranças dispersas vão
usufruir de melhores condições de ventilação natu-
ral, embora todos sejam inseridos em meios natural-
mente arborizados por árvores altaneiras, que não só
promovem a ventilação, como também conferem um
adequado sombreamento às habitações, e protecção
contra a acção directa da água das chuvas.
As técnicas de construção associadas a alguns
grupos étnicos apresentam -se de seguida, de acordo
com o seu modo de vida. Foram consultadas obras de
diversos autores para a elaboração do texto seguida-
mente apresentado sobre arquitectura vernacular,
nomeadamente de J. Araújo, Franklin Sousa, Augus-
to Lima, A. Meireles, Avelino Mota, Ventim Neves, e
Fernando Quintino (em A. Mota, ed., 1948).
Balanta
As habitações Balanta são caracterizadas por pa-
redes de barro, cobertura de paus rijos revestidos
de capim, sobre um forro (tecto).
As construções são iniciadas na época seca, duran-
te os meses mais quentes a seguir ao período das chu-
vas, Março ou Abril, e decorem em média 2 meses,
desde o levantamento das paredes até à execução da
cobertura. Primeiro escolhe -se o local, cumprem -se as
praxes cerimoniais religiosas, e antes de se iniciar a
construção propriamente dita, a planta da casa é tra-
çada numa clareira, com todas as suas divisórias.
Não há intervenção de pessoal especializado, é
o próprio interessado que edifica a sua casa, re-
correndo à ajuda de parentes ou amigos, em troca
de qualquer tipo de remuneração, em geral, gado
abatido e comido em comunidade, acompanhado
de algumas bebidas espirituosas.
As paredes são erguidas por camadas de 1 metro,
com barro amassado com palha de arroz para aumentar-
-lhe a consistência, e após o endurecimento ao sol da
primeira camada, é colocada a camada seguinte, até
se atingir os 3 metros de altura. Nos intervalos de es-
pera para o endurecimento das camadas, reúne -se o
material necessário para a fase seguinte: paus para o
forro, geralmente paus de mangal, por serem mais re-
sistentes e menos vulneráveis ao ataque dos bichos,
canas para o ripado do telhado, fibras para as ligações,
extraídas de pau de cibe, e colmo para a cobertura.
FIG. 2.7 Casa vernacular Balanta, evidenciando -se a constituição da cobertura por colmo aplicado sobre uma trama de bambu e paus de mangal. As paredes são de adobe ou taipa, e os pilares de tronco de palmeira.
1. Agrupamentos de casas de indivíduos pertencentes à mesma família, ao mesmo grupo etário, ou género.
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Ao mesmo tempo que se constroem as paredes,
fazem -se recipientes no interior, também em bar-
ro, para guardar o arroz, os quais não poderiam
depois entrar pelas portas. O pavimento é feito de
terra batida, levando uma camada de barro mistu-
rado com palha de arroz, e em alguns casos excre-
mentos de animais. Não são feitas fundações, sen-
do essa camada de reforço que impede que a água
das chuvas afecte a base das paredes.
O tamanho da casa é função das necessidades
do chefe de família: número de mulheres, número
de filhos, quantidade de arroz a armazenar, quan-
tidade de gado a recolher, etc. A preocupação
com a segurança está patente não só nos mate-
riais empregues, como na arquitectura interior
da habitação, e deve -se maioritariamente aos
costumes desta etnia, onde aos jovens é permiti-
da uma vida boémia tal, que leva à existência de
roubos de natureza engenhosa e demais actos
menos lícitos. Com a actividade económica base-
ada na cultura de arroz, são projectados nas ha-
bitações espaços próprios para o armazenamento
deste, denotando uma preocupação óbvia com a
segurança contra roubos.
FIG. 2.8 Forro da cobertura, em quirintin, que não só protege o interior da habitação em caso de incêndio, como também permite a sua ventilação adequada, sendo ainda utilizado para guardar lenha no tempo das chuvas. O quirintin é um entrançado de varas de bambu, muito utilizado na construção vernacular guineense.
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A ocupação profissional determina a localização
das povoações, nas proximidades dos pântanos
onde é cultivado o arroz, de onde advém porém al-
guns inconvenientes como a proliferação dos mos-
quitos. Consequentemente, o Balanta atribui uma
disposição especial às suas casas, dotando -as em
geral de quartos sem janelas, e havendo alguma, é
pequena, no quarto do dono da casa e virada para
a varanda. A ventilação é feita através de pequenos
orifícios vedados com 10 cm de diâmetro.
A cobertura de colmo seco, torna o perigo com
o fogo bastante real, logo, as casas levam um for-
ro especial, constituído por um gradeamento de
madeira revestido de barro, sobre o qual assenta a
estrutura do telhado.
Por todos os cuidados já referidos, a habitação
caracteriza -se também por uma longevidade ele-
FIG. 2.9 Planta de uma casa bijagó.
vada, mantendo -se em bom estado de conserva-
ção durante anos. Apenas o colmo tem de ser
substituído regularmente. Este funciona como
bom isolante, e encontra -se em abundância, sen-
do o único inconveniente a humidade proveniente
das chuvas, e a acção de insectos.
A casa tradicional típica de forma arredondada,
possui uma parede direita na fachada principal,
donde se alarga uma varanda em arco, que serve
não só de cozinha, como também de sala de visi-
tas e de refeitório.
Bijagó
Os Bijagós vivem num arquipélago composto por
ilhas muito próximas umas das outras, com árvo-
res imponentes, e plantas herbáceas e sub-
-arbustivas. As suas habitações apresentam um
carácter concentrado no meio da arborização.
Neste grupo étnico as casas são predominante-
mente circulares, construídas com recurso aos se-
guintes materiais:
Barro: terra vermelha amassada com água, em
proporções livres (quanto baste);
Cana: utilizada para suportar a cobertura, abun-
dante em algumas ilhas, e com uma forma mais
direita para o assentamento da palha, o que a tor-
na esteticamente mais agradável do que as varas
de mangal; no entanto, a única preocupação é en-
contrar tamanhos razoáveis de um ou de outro que
alcancem do cume ao beiral da casa;
Corda: tiras das folhas de palmeira, previamente
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batidas e metidas em água, de forma a perderem a
seiva, propícia aos insectos, conservando malea-
bilidade e rigidez;
Colmo: capim entrançado e tecido ao chão, para de-
pois ser colocado por cima da estrutura da cobertura.
No local onde vai ser erguida a habitação é
marcado o centro da habitação com um pau crava-
do no chão. A partir deste traçam -se três circun-
ferências concêntricas, correspondendo o círculo
interior à casa principal, o espaço livre entre este
e a circunferência intermédia é utilizado como va-
randa interior ou corredor, e por fim a varanda ex-
terior é limitada pelo círculo exterior.
O processo construtivo inclui 3 fases, elevação
das paredes, alisamento do pavimento e execução
da cobertura. A elevação das paredes é feita de dois
em dois dias, por camadas, dando um dia de inter-
valo para a secagem das camadas de barro. Nos dias
de intervalo alisa -se o chão com palmatórias de
madeira e deitando -lhe água. A tarefa de amassar o
barro é da responsabilidade das mulheres solteiras,
FIG. 2.10 Instalação sanitária exterior à casa – Ilha de Bubaque.
enquanto as paredes são elevadas pelas mulheres
casadas, e a cobertura executada pelos homens.
A casa principal de forma cilíndrica tem um raio
médio de 2,20 m e a altura de 3,60 m. Neste espaço
encontram -se as camas em terra batida destinadas
aos donos da casa, bem como a cozinha que con-
siste em 3 pedras onde assenta o caldeirão. As por-
tas desta divisão possuem 1,60 m de altura por 46
cm de largura, com 10 cm de soleira, para o interior
e para o exterior. As paredes da casa têm uma es-
pessura de 30 cm. O tecto encontra -se a 2 metros
de altura, e é constituído por 6 traves de pau de
FIG. 2.11 Armação para a parede e cobertura de uma casa fula.
FIG. 2.12 Pormenor de uma parede Fula, com uma base de entramado de canas rebocada com barro, lembrando a técnica da taipa de fasquio ou tabique.
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mangal entrançado, atravessados por cima por ou-
tros troncos agarrados uns aos outros, deixando um
espaço lateral livre de um metro que permite subir
para a espécie de sótão que se forma por cima,
e permitindo ventilar a cobertura.
O corredor ou varanda interior em geral com dois
metros da largura, é limitado exteriormente por uma
parede circular intermédia de 1,80m de altura, e es-
pessura de 20cm. Este espaço compreende uma sala
de visitas, um quarto, um pequeno hall, e um quarto
FIG. 2.13 Remate da armação da cobertura.
FIG. 2.14 Pormenor da armação de uma cobertura (região de Tombali).
de hóspedes. A varanda exterior circunda toda a
casa, numa largura de 1m, e altura de 1m.
A casa não tem janelas, e as portas são feitas
com madeira do Poilão (árvore tropical de troncos
fortes). No topo da cobertura é executado um remate
de sensivelmente 40cm, composto por um pau verti-
cal amarrado ao travejamento e forrado com o colmo
da cobertura. Este elaborado remate tem o fim útil
de evitar a infiltração das águas da chuva.
Estas casas, típicas palhotas redondas benefi-
ciam de um sombreamento eficaz, conferido pela
cobertura, prolongada quase até ao chão. Aliado ao
isolamento do forro, e do colmo, e à ausência de
janelas, a frescura interior fica garantida. A grande
inclinação da cobertura garante um bom escoamen-
to da água das chuvas, e menor exposição solar.
Fula
O material preponderante na construção de uma casa
fula é sem dúvida o bambu. Com secções de 3 a 5 cm,
o bambu é cortado longitudinalmente em 4 partes, e
após retirar -se o revestimento interior, é tecido em es-
teiras, formando uma estrutura mais espessa que será
o principal constituinte das paredes (quirintin), cons-
truídas fixando este entrançado de bambu a estacas
previamente espetadas no chão, posteriormente re-
vestido de lama no interior e no exterior, ou alternati-
vamente em apenas uma das faces.
A estrutura da cobertura é construída em separado
também com canas de bambu, previamente secas, e só
depois colocado sobre as paredes da casa, com compri-
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FIG. 2.15 Casa vernacular Manjaca – sector de Canchungo.
mento até 2 metros. Caso as paredes sejam muito al-
tas, a cobertura constrói -se directamente sobre elas. O
revestimento de colmo é disposto por camadas de bai-
xo para cima, e rematado com um tufo de capim, cuja
principal função é barrar a entrada da água das chuvas
na junção das estacas da estrutura da cobertura.
Manjaco
Os Manjacos utilizam maioritariamente a forma rec-
tangular, desde a época colonial, com o objectivo
de reduzir o valor dos impostos, que incidia sobre o
número de quartos da habitação, e na casa rectan-
gular é possível aproveitar bem o espaço sem efec-
tuar muitas subdivisões.
Os materiais utilizados são o barro amassado
com a água e os paus de mangal. O barro é extra-
ído perto do local onde se pretende erguer a habi-
tação, sendo molhado com água e amassado for-
mando pequenas bolas.
No local escolhido, é feito um alicerce com pro-
fundidade entre 10 a 50cm, no contorno das pare-
des exteriores, com a largura destas (20 a 25cm).
O alinhamento das paredes é feito com cordas de
palmeira e pequenas estacas, e estas são erguidas
por camadas de entre 40 a 70cm (sendo mais co-
mum as camadas serem de 50cm), alisadas com pá
de arado, que levam em média 5 dias a secar e ga-
nhar consistência, período de espera entre a execu-
ção de duas camadas sucessivas.
Após as paredes estarem completamente ergui-
das, constrói -se o forro ou tecto a 2m do chão, atra-
vés de um sistema de grades com paus de mangal a
aguentarem paus de tara unidos, atravessados por
cima. Sobre as taras são colocadas folhas de bana-
neira ou palmeira de modo a evitar que a camada de
barro que se lhe sobrepõe caia para o interior.
A camada de barro evita a propagação rápida do
fogo em caso de incêndio por queda directa do col-
mo da cobertura para o interior da casa. Desta forma
pode -se ganhar um tempo de resistência ao fogo de
30 minutos, o suficiente para pôr a salvo as vidas hu-
manas, os animais e o recheio da habitação.
A construção da cobertura inicia -se logo após
a secagem da camada de barro colocada por cima
do forro do tecto. A estrutura da cobertura de duas
(ou quatro) águas é sustentada por colunas de
pau de mangal ou pau carvão, que partem do forro
ou do chão e terminam em forquilha, permitindo
assentar o pau de fileira também do mesmo mate-
rial (cumeeira da cobertura). Deste último partem
outros paus, que vão até ao beiral da cobertura,
onde são amarrados com cordas de palmeira, bem
como todos os outros paus entre si, pois não há
recurso a pregos nesta construção. De seguida
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executa -se a ripagem por cima destes, com canas
amarradas também com cordas de palmeira.
À volta das paredes exteriores da casa é ergui-
da uma varanda com uns 20cm de altura acima do
chão e com largura variável entre 1 e 1,5m, cuja
função principal é proteger a habitação da pene-
tração da água das chuvas. Por último a casa é co-
berta com palha, vinda das lalas ou do mato e en-
trançada com corda feita de tara.
Estas habitações caracterizam -se pela inexistên-
cia quase total de janelas. Para a ventilação e clari-
dade, são abertos orifícios quadrados de 30cm de
lado, a uns 2 metros de altura, geralmente apenas no
FIG. 2.16 Interior de uma cobertura Manjaca com folhas de palmeira e armação de troncos.
quarto do dono da casa. Nos restantes compartimen-
tos são abertos buracos circulares ao nível do chão
entre 3 e 6, com 7 a 8cm de diâmetro, ou quadrados
com 15cm de lado. As portas de madeira de poilão,
são colocadas a 30 ou 40cm acima do nível do chão,
com dimensões variáveis, sendo comuns alturas en-
tre 1 e 1,2m, e larguras entre 60 a 80cm.
Mancanha
A casa rural dos Mancanhas situa -se geralmente à
sombra de um poilão, de mangueiros ou cajueiros
no interior de um pequeno bosque. A proximidade
das lalas é evitada principalmente devido à acção
dos mosquitos, mais acentuada nas zonas onde
assentam (sectores de Bula, Canchungo e Farim).
As habitações são redondas nas moranças dos ho-
mens grandes ou rapazes que já constituíram fa-
mília (tantas quanto o número de mulheres que
possuem), e quadradas ou rectangulares no caso
de jovens até a idade dos 14 anos.
As palhotas redondas são constituídas por pa-
redes de taras de bambu, revestidas com lama ar-
gilosa, e cobertura de palha em formato de sino,
enquanto as casas rectangulares são de paredes
de adobe, as primeiras com maior conforto térmi-
co do que as segundas, por serem mais ligeiras,
e levarem o revestimento de barro.
O processo construtivo inicia -se com a fixa-
ção das estacas de cibe ou de pau carvão no solo,
com comprimentos entre 1,5m e 2m, que servem
de suporte à armação da palhota (construída à
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parte, pelos “homens grandes”, os únicos capa-
zes de iniciar na perfeição a execução desta ar-
mação interior). Depois de concluída, a armação
é colocada por cima do conjunto de estacas, e
coberta de colmo tecido com fibras de palmeira
de modo a formar uma passadeira que é desenro-
lada por cima da armação da casa. De seguida
monta -se o quirintin que serve de parede, levan-
do por cima um revestimento de lama. Por fim
monta -se o tecto, uma espécie de forro feito com
canas, e a porta de madeira.
Nas palhotas a armação da cobertura é consti-
tuída por um ripado de canas cruzadas formando
uma espécie de grelhas, e nas casas rectangulares
por cibe atravessado por canas presas à armação
com fibras de palmeira.
As casas de arquitectura vernacular podiam há
umas décadas atrás ser classificadas de acordo
com a sua forma, técnica de construção utilizada
e os materiais aplicados.
As paredes ligeiras de entrançado de bambu sal-
picadas de lama beneficiam da permeabilidade do
FIG. 2.17 Entrada de um povoamento Mancanha.
primeiro à ventilação natural, e da inércia térmica da
segunda, principalmente se o revestimento for pelo
exterior, originando habitações interiormente mais
frescas. As paredes de terra maciça também tiram
partido da inércia térmica do material, sendo massas
térmicas eficazes no combate ao calor exterior.
A planta de forma redonda foi a tradicionalmente
mais utilizada, com telhado geralmente cónico, de
secção convexa, recta ou em forma de sino, associada
a crenças animistas de que o espírito dos antepassa-
dos permanece assim no interior da habitação.
A estrutura de sustentação do telhado é consti-
tuída por canas amarradas, que podem vir directa-
mente apoiadas nas paredes exteriores, ou pelo
contrário em estacas independentes, neste caso
com maiores vantagens para a ventilação natural,
pois assim a cobertura fica suspensa sobre a habi-
tação funcionando como uma pala, muito bem are-
jada. Por outro lado, quando a cobertura vem apoia-
da directamente sobre as paredes, também existe
possibilidade de ventilação pela armação desta.
Noutros grupos as estacas são ainda apoiadas
numa viga transversal de madeira, e num conjunto
de canas ou ramos (Blazejewicz,1983).
A forma rectangular surgiu durante o período
colonial, sendo actualmente a mais utilizada em
quase todos os grupos étnicos, com telhados de
duas ou quatro águas. Ainda na etnia Balanta
encontra -se a casa típica de forma arredondada,
com varanda fechada ao redor.
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QUADRO 2.2 Tipos de Habitação Vernacular.
Grupo 1
Casas de paredes de terra maciça, com a cobertura apoiada nestas ou em prumos.
Bijagó, Papel: Casas redondas de paredes espessas em terra;
Balanta: Casas arredondadas com paredes muito finas;
Manjaco: Conforme a região, encontram-se casas de planta em coroa elíptica, coroa circular, (Pecixe e Caió respectivamente); Nos da região de costa baixo as paredes não têm função resistente, vindo a cobertura e o forro assentes em prumos de madeira;
Felupe: Casa redonda ou rectangular de paredes espessas.
Grupo 2
Casas de paredes ligeiras feitas de entrançados de bambu ou tara salpicados com lama, revestindo os prumos de suporte da cobertura, que é independente das paredes.
Mancanha: Casas redondas com paredes de taras de bambu (quirintin);
Grupo 3
Casas de paredes constituídas por terra amassada com palha de esteiras de bambu, ligadas aos prumos de suporte da cobertura.
Fula, Mandinga: Casas redondas com paredes feitas com armação de esteiras de bambu (quirintin) ou palha (a mesma da cobertura) revestidas com lama;
Nalus, Beafada: Casas redondas com paredes construídas com prumos verticais e varas horizontais, preenchidas com lama.
Manjaca
Papel
Balanta
Nalu/Beafada
Mancanha
Fula
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Tendo em conta a divisão interior, as casas
apresentam uma arquitectura simples, com divi-
são interna ou sem divisão interna, neste último
com varanda exterior dividida e aproveitada.
A adopção de plantas simples e varandas exterio-
res, são estratégias interessantes, no sentido em que a
primeira diminui a possibilidade de formação de ilhas
de calor, evitando a existência de muitos obstáculos, e
consequentemente de zonas activas. A segunda opção
tem a vantagem de proteger não só as paredes da ac-
ção directa do sol e das chuvas, mas também de con-
ferir a sobre -elevação necessária para a habitação su-
portar a humidade do solo, e a corrente das chuvas.
A predilecção ancestral da forma redonda sobre
a quadrada embora tenha conotações religiosas e
de culto, pode eventualmente dever -se ao facto da
forma redonda termicamente funcionar melhor.
O modelo de casa tradicional apresenta agora
características mais uniformes por todo o territó-
rio nacional, independentemente da localização
geográfica, ou do grupo étnico dominante. As ca-
racterísticas individualizadas por regiões vão de-
saparecendo, porque a distribuição dos grupos ét-
nicos também tem -se tornado mais homogénea,
sendo mais difícil encontrar uma região apenas
com um único grupo étnico.
Cónico – Fula Secção recta – Nalu Forma de sino – Mancanha
FIG. 2.18 Tipos de telhados – Casa circular.
FIG. 2.19 Pormenor da armação da cobertura – Manjaca.
Colmo
Cana de Bambu (30 cm) amarrada com tiras de palmeira
Cibe com 40 a 50 cm
Cana de Bambu (com 40 a 50 cm)
Cibe
Fio da folha de palmeira
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Quatro águas – Balanta Duas águas – Manjaca
FIG. 2.20 Tipos de telhados – Casa rectangular.
A forma dominante é a rectangular, com paredes
de blocos de adobe simples ou taipa, e cobertura de
palha ou chapa de zinco. Esta última embora pior em
termos de desempenho térmico, é muito utilizada
pela facilidade de montagem e baixo custo da chapa,
e por não necessitar de substituições periódicas,
como acontece no caso da cobertura de colmo.
Continua a ser muito usual a existência de varan-
da ao redor de toda a casa, num patamar sobreleva-
do do chão em cerca de 20 a 50cm, com a cobertura
apoiada em paredes, e em pilares de cibes. A varanda
sombreada protege as paredes dos raios solares, e da
água das chuvas, e o espaço entre a cobertura e as
paredes promove a ventilação natural. A existência
de vãos maiores e mais normalizados também é ac-
tualmente uma característica constante.
Um facto também muito comum tem sido o apare-
cimento de construções contemporâneas de um ou
dois pisos em meio rural, na sua maioria de imigrantes
que querem aproveitar o terreno anteriormente rural,
para edificar uma nova habitação. O resultado é a de-
sintegração da paisagem rural, e a perda de traços tra-
dicionais e históricos da uma cultura nativa. A posição
das autoridades administrativas, bem como o fomento
ao desenvolvimento de habitações de construção de-
finitiva, em detrimento da casa vernacular, caracteri-
zada de precária, não é imparcial na promoção da ha-
bitação e urbanismo locais.
2.2 Arquitectura colonial
A arquitectura colonial surge associada às edificações
construídas durante a época de administração portu-
guesa, e varia nas suas características, desde constru-
ção maciça setecentista, a estilos mais ecléticos do
início do século 20, moradias típicas dos anos 40 a 60,
até edificações acentuadamente modernistas.
Os edifícios são na sua maioria moradias de pé-
-direito elevado, e varandas largas, isoladas com lo-
gradouro à volta, ou prédios de um andar, com rés-
-do -chão reservado ao comércio e varanda superior
saliente. A cobertura é em geral de telha, usando -se
também o fibrocimento num período mais recente.
Com a independência, a Guiné herdou um con-
junto edificado de características específicas, bem
como infra -estruturas de apoio, deixadas essen-
cialmente nas cidades de Bissau, actual capital,
Cacheu, Bolama, Gabú e Bafatá, que foram impor-
tantes entrepostos comerciais na época.
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A cidade de Bissau apresenta a estrutura or-
ganizacional típica das principais cidades dos
países que passaram pela colonização portugue-
sa, caracterizada por uma praça central, rodeada
de edifícios administrativos, a partir da qual esta
cresce, em traçado regular, até atingir a perife-
ria, onde podem ser encontrados bairros habita-
cionais para os colonos e alguns para alojamento
da população local.
Até 1914 Bissau limitava -se entre o porto e as
imediações da fortaleza de S. José de Amura, par-
te da cidade até hoje designada de Bissau velho,
por ser a sua zona mais antiga.
A expansão e crescimento para além do forte,
deu -se apenas na década de 20, procedendo -se à
abertura de mais ruas, construção da catedral, ce-
mitérios, de entre os equipamentos colectivos.
Na cidade de Bissau, existem ainda hoje, bairros
habitacionais de casas sociais para as populações
locais que surgiram na época colonial, devido ao
FIG. 2.21 Edifício da época colonial, em Bissau
acréscimo demográfico que se deu na capital. É o
caso dos bairros de Santa Luzia e Ajuda.
Nos bairros sociais, as habitações são quase to-
das de planta rectangular, com um alpendrado na fa-
chada principal, providenciando uma boa protecção
à acção directa dos raios solares. Os materiais de
construção utilizados são blocos de betão, e cober-
turas de zinco, fibrocimento, ou telha.
No bairro de Santa Luzia, a malha urbana mostra
um esquema de habitações alinhadas ao longo das
estradas, notando -se um planeamento tipo régua e
esquadro, com espaços livres para ventilação, bas-
tante diferente do arranjo funcional mais concen-
trado dado pela população rural nas suas casas tra-
dicionais. A funcionalidade destas habitações não
constituiu uma resposta eficaz às necessidades da
população alvo na altura, mas hoje em dia, esses
bairros constituem importantes núcleos habitacio-
nais, solucionando parte da problemática que o
país enfrenta, no que toca à habitação na capital.
FIG. 2.22 Casa colonial.
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O pé -direito elevado das construções coloniais,
as varandas superiores salientes, janelas grandes e
palas por cima dos vãos denotam uma preocupação
adicional na protecção contra o calor, humidade do
solo e promoção da ventilação no interior.
Eram na altura delineadas algumas recomenda-
ções de projecto, por exemplo prevendo uma sobre-
-elevação em altura das construções em 50cm, deno-
tando preocupações com a humidade do solo.
Existem preocupações adicionais com a orientação,
e a disposição das moradias, de forma a facilitar a
ventilação. As varandas são por vezes fechadas, para
a protecção contra os mosquitos, o seu pavimento
um degrau abaixo do interior da habitação, para que
a água das chuvas não penetre. A sua cobertura re-
vestida inferiormente, para que a camada de ar que
aí se forma, actue como câmara isolante.
Os blocos de cimento vazados também utiliza-
dos na construção colonial eram produzidos com
areia e inertes de dimensão mais reduzida, com o
cimento como ligante. O sistema tradicional de
produção permitia obtê -los no próprio local da
obra, com o auxílio de formas unitárias ou máqui-
nas que moldam 4 a 5 blocos de uma vez, com di-
mensões correntes de 40x20x20cm3.
Também os chamados blocos de terra eram
muito utilizados na época colonial nas constru-
ções de e para os locais, em adobe ou em taipa.
Denota -se a preocupação para que as cobertu-
ras fossem ventiladas, e a sua inclinação acen-
tuada, permitindo o rápido escoamento da água
das chuvas.
FIG. 2.23 Casa Nunes e Irmão, com comércio no rés-do-chão e habitação na zona superior.
FIG. 2.24 Avenida de ligação entre a praça dos heróis nacionais e o Cais, onde se encontra grande parte dos edifícios administrativos herança da época colonial.
FIG. 2.25 Diocese de Bissau.
FIG. 2.26 Edifício habitacional do bairro de Santa Luzia.
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FIG. 2.27 Bairro de Santa Luzia.
FIG. 2.28 Bairro social construído na época colonial para a população local – estado actual.
FIG. 2.29 Casa Adélio.
FIG. 2.30 Escola de ensino básico José António de Almeida (ou como tradicionalmente conhecida “Escola de Padre”).
FIG. 2.31 Estado actual do edifício da Câmara Municipal de Bolama.
FIG. 2.32 Antigo edifício administrativo no sector de Bolama, actualmente abandonado.
FIG. 2.33 Bairro de Santa Luzia.
FIG. 2.34 Bissau velho.
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Grande parte dos edifícios coloniais encontra -se
actualmente em fase avançada de degradação,
justificando -se a sua reabilitação ponderada e requa-
lificação, no sentido de serem dotados de novos usos,
adequados à realidade actual, e de forma a preservar
as suas funcionalidades mais básicas, como a seguran-
ça estrutural, conforto ambiental, e estética.
Actualmente, o modelo de casa isolada, com
logradouro à volta é o mais utilizado em toda a ci-
dade, sendo o modelo com que grande parte da
população na cidade se identifica, funcionando
bem na promoção da ventilação na envolvente dos
edifícios, e beneficiando de sombreamento se o
espaço adjacente for arborizado.
2.3 Tendências contemporâneas
Actualmente, a periferia das principais cidades vai sen-
do dominada por moradias contemporâneas, que privi-
legiam a utilização de materiais como o betão armado
nos elementos estruturais, e tijolos cerâmicos ou blo-
cos de betão nas paredes, com coberturas de telha.
É muito comum, essas moradias serem em du-
plex, com um primeiro andar onde normalmente se
situam as zonas de dormir, e varandas ou terraços.
Os promotores desta construção são particulares com
algum poder económico, recorrendo a pequenas em-
presas locais de construção, ou mais comummente,
a um técnico especializado na área, sendo o acom-
panhamento da obra efectuado pelo próprio dono da
obra, em paralelo com o técnico.
O sombreamento é conseguido através da va-
randa corrida, não havendo muitas preocupações
com a promoção da ventilação.
Denota -se muita preocupação em termos estéti-
cos, com influências de uma construção mais euro-
peizada, aparentando uma transladação quase exac-
ta de modelos vigentes no estrangeiro, com pouca
preocupação da sua adequação à realidade local.
Apesar do sombreamento dos vãos, grande parte dos
edifícios de dois pisos apresentam as fachadas a des-
coberto, susceptíveis à acção do sol e da chuva.
No caso das moradias de piso único já se deno-
ta maiores preocupações com a ventilação, e tam-
bém na protecção contra a chuva.
Ainda nas zonas peri -urbanas encontram -se
bairros de moradias sociais ou de cooperativa, tipi-
camente rectangulares, com paredes de adobe re-
forçado, ou blocos de betão, e coberturas de zinco,
são habitações feitas com o apoio ou comparticipa-
ção do estado, o qual assume parte do seu custo,
quer seja concedendo terrenos para urbanização,
ou através de fundos para o desenvolvimento. De-
notam características contemporâneas, resolvendo
parte dos problemas habitacionais existentes.
Os prédios de cooperativa apresentam característi-
cas interessantes. No caso do edifício dos Antigos Com-
batentes a preocupação com a ventilação é clara, pela
disposição dos envidraçados, e ventilação da cobertu-
ra. Os prédios de Taiwan necessitam de maior manuten-
ção e conservação, principalmente na protecção contra
a acção das chuvas. O tipo de coberturas utilizado não
é o ideal para o tipo de clima em questão, sendo mais
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aconselhável o uso de coberturas inclinadas, e prolon-
gadas em beiral para além das paredes, tanto para esse
último como no caso dos prédios Pequeno Moscovo.
No centro da cidade, (zona do mercado de Ban-
dim) a avenida está preenchida de prédios (destina-
dos ao comércio) de contexto diferente, talvez deno-
tando alguma influência dos países francófonos
vizinhos. Geralmente o primeiro piso é destinado ao
comércio sendo os restantes destinados à habitação.
É muito usual a adopção de tijoleiras nas fachadas
exteriores, para evitar a sua rápida degradação e ne-
cessidade constante de reposição da pintura.
Os edifícios para escritórios vão sendo mais co-
muns na cidade de Bissau, apresentando também ten-
dências contemporâneas. O Palácio do Povo e a sede
do BCEAO1, são apenas alguns dos exemplos mais in-
teressantes, este último também com tijoleira no ex-
terior ao invés de pintura, e envidraçados reflexivos.
Em zonas peri -urbanas, grande parte da popula-
ção pratica ainda contudo uma construção espon-
tânea (auto construção), de carácter precário, com
carência de infra -estruturas e sem qualquer plano
de base. A procura de soluções urbanas e arquitec-
tónicas para as zonas de construção não consolida-
da em espaço urbano é um desafio prioritário.
FIG. 2.35 Edifício em construção no Alto Bandim.
FIG. 2.36 Edifícios unifamiliares em duplex, no Alto Bandim, com preocupações de sombreamento das janelas, e existência de arborização.
FIG. 2.37 Moradia unifamiliar, zona de Antula. FIG. 2.38 Edifício unifamiliar de piso único no Alto Bandim, denotando preocupações com ventilação, nas diversas aberturas que podem ser visualizadas.
1. Banco Central dos Estados da África Ocidental.
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FIG. 2.39 Urbanização Pequeno Moscovo, construído através de cooperação bilateral com a ex União Soviética.
FIG. 2.40 Edifício do bairro construído para os funcionários do Ministério do Plano.
FIG. 2.41 Muro de separação entre duas moradias isoladas num bairro de cooperativa, evidenciando preocupações na promoção da ventilação.
FIG. 2.42 Prédios novos ainda não habitados, construídos ao abrigo da cooperação com China, para alojamento dos ex -combatentes.
FIG. 2.43 Prédio com alguma degradação pela acção prolongada da chuva e falta de manutenção.
FIG. 2.44 Prédio na Avenida principal, com comércio no piso térreo.
FIG. 2.45 Palácio Colinas de Boé (Assembleia Nacional Popular).
FIG. 2.46 Sede do BCEAO.
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2.4 Construção para ecoturismo
Dentro das tendências contemporâneas destaca -se
um tipo particular de edificações de qualidade,
que merece relevo. O ecoturismo é um segmento
do turismo baseado em princípios que visam es-
sencialmente a preservação dos recursos naturais.
A sua prática permite o intercâmbio com a nature-
za, dispondo -se dela de forma ponderada.
A Guiné -Bissau um país rico em biodiversidades,
e um mercado viável para o turismo, que merece ser
explorado de forma consciente. A maioria dos edifí-
cios ecoturísticos inspira -se no modelo de habita-
ção vernacular. Desde a protecção dos ecossistemas
até à interacção com as populações locais, geral-
mente de elevado interesse cultural, histórico e so-
cial, o ecoturismo é uma forma inovadora e promis-
sora de turismo sustentável, onde a palavra de
ordem é dispor do bem comum natural, sem com-
prometer o seu usufruto a gerações futuras.
Os princípios básicos que se associam de um
modo geral a um turismo responsável são: respei-
tar as culturas locais; minimizar impactos ambien-
tais; maximizar a satisfação do visitante; e maxi-
mizar os benefícios para as comunidades locais.
Um exemplo de projecto ecoturístico na Guiné-
-Bissau são os três bungalows criados em Ienberém,
no sul do país, com características construtivas que
apresentam um enquadramento com o habitat tradi-
cional, tendo por base o modelo de construção tra-
dicional fula. Foram utilizados materiais 100% natu-
rais como o adobe e a palha, sendo a estrutura da
cobertura, metálica, por ser mais durável.
A inserção destes bungalows no meio rural, junto do
Parque Natural Floresta de Cantanhez (floresta densa,
típica tropical, rica em fauna e floras raras, onde podem
ser encontradas espécies como elefantes, búfalos e leo-
pardos), bem como o envolvimento da população local
na implementação do projecto, tornam -no bastante in-
teressante em termos da exploração das potencialida-
des ecoturísticas nesta região do sul, Tombali.
Foram definidas algumas regras ecoturísticas,
de forma a envolver a comunidade local:
Envolver o maior número possível de aldeias, be-
neficiando das actividades promovidas;
Envolver todos os grupos sociais e etários, res-
pondendo ao seu interesse e prioridade;
Os promotores do ecoturismo devem procurar
colocar -se no lugar da comunidade para cada ini-
ciativa que pretendam implementar, sem impor as
suas prioridades;
Aliar a preservação e boa gestão dos recursos na-
turais à verdadeira melhoria das condições de vida
e trabalho das comunidades.
O arquipélago dos Bijagós, considerado reserva
da Biosfera pela UNESCO (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), tam-
bém apresenta riquezas em fauna e flora inclusive
marítimas, que incitam à prática de um turismo sus-
tentável, sem descurar da riqueza cultural Bijagó,
antiga e sob muitos aspectos preservada até hoje.
Desde ilhas virgens, a espécies raras, algumas em
vias de extinção, o arquipélago dos Bijagós encerra
48
no seu interior o que de mais belo, natural e surpre-
endente pode ser visto na Guiné-Bissau.
A riqueza dos espaços naturais é realçada pela
existência de parques e/ou reservas naturais reco-
nhecidas oficialmente, e de acordo com os critérios
estabelecidos a nível internacional como áreas pro-
tegidas: Parque Natural de Mangrove do Rio Cacheu,
Parque Natural das Lagoas de Cufada, Parque Nacio-
nal de Orango, Parque Nacional Marinho de João
Vieira e Poilão, Reserva da Biosfera do Arquipélago
dos Bijagós, e o Parque Nacional Marinho das Ilhas
Formosa. As áreas naturais referidas apresentam ri-
queza tanto em fauna como flora, com uma impor-
tante biodiversidade nos diversos meios, quer flores-
tal como costeiro e marinho. Algumas das espécies
encontram -se em vias de extinção: o hipopótamo, o
elefante africano, o crocodilo ou lagarto preto, a ga-
zela pintada, o leão, o chimpanzé, entre outros.
Existe um aproveitamento natural das espécies ar-
bóreas existentes, as quais são integradas no projec-
to, explorando -se as suas vantagens sem comprome-
ter a sua sustentabilidade futura. Alguns bungalows
são desenvolvidos a partir de outros materiais natu-
rais como o barro e a palha, utilizando -se a técnica da
taipa, conhecida pelas suas características de durabi-
lidade e eficiência térmica, promovendo o equilíbrio
em termos do conforto no interior, com revestimento
de terra cozida no exterior, dispensando pintura.
Os maiores desafios que se impõem ao desen-
volvimento do ecoturismo na Guiné -Bissau são
primeiramente desenvolver -se uma consciência
nos aspectos relativos ao ambiente e aos recursos
naturais disponíveis; posteriormente, a definição,
valorização e protecção (em alguns casos já feita)
de zonas de reconhecida riqueza natural.
Na integração de qualquer área no âmbito de
um turismo sustentável, é importante a definição
de regras que garantam a utilização ponderada do
espaço, a atracção de turistas com consciência
ambiental, e não só, que controlem ou evitem a
FIG. 2.47 Bungalows ecoturísticos de Ienberén – Fase de construção.
FIG. 2.48 Bungalows ecoturísticos de Ienberén – Pormenor da cobertura (AD, 2006b).
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exploração irreversível dos recursos naturais dis-
poníveis, e evitem comportamentos indesejáveis
tanto por parte do empreendedor, como do utili-
zador final, que possam entrar em conflito com a
cultura, tradições, e valores locais.
Actualmente existe uma tendência natural nos
países mais desenvolvidos para se fugir dos cen-
tros urbanos, elegendo -se zonas de paisagens na-
turais, para relaxar do stress diário das grandes ci-
dades. Países em vias de desenvolvimento, e ricos
em biodiversidades como a Guiné -Bissau, podem
encontrar nesta forma de turismo, um meio equi-
librado de gerar riqueza e promover o desenvolvi-
mento económico local, minimizando o nível de
pobreza, e melhorando o acesso a bens de primei-
ra necessidade, por parte de populações autócto-
nes. Assim o turismo surge como factor não só de
desenvolvimento económico, como de promoção
de bem -estar social.
FIG. 2.49 Construções para Ecoturismo no sul, Ienberém (Fonte: AD – Acção para o Desenvolvimento).
FIG. 2.51 Pormenor da cobertura.
FIG. 2.50 Na ilha de Ruban (arquipélago dos Bijagós) foram desenvolvidos projectos de estância turística, com algumas características que vão de encontro aos princípios do ecoturismo. São soluções interessantes sob o ponto de vista de um turismo sustentável, como as moradias rectangulares de madeira, cobertas de palha, ligeiramente destacadas do chão, e com tecto revestido de cana.
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No contexto climático da Guiné -Bissau é possí-
vel atingir um equilíbrio entre o edifício e o cli-
ma através da aplicação de uma série de estra-
tégias de projecto – referidas como bioclimáticas
ou de design passivo.
As estratégias de design passivo têm como ob-
jectivo proporcionar ambientes confortáveis no
interior dos edifícios e simultaneamente reduzir o
seu consumo energético. Estas técnicas permitem
que os edifícios se adaptem ao meio ambiente en-
volvente, através do projecto de arquitectura e da
utilização inteligente dos materiais e elementos
construtivos, evitando o recurso a sistemas mecâ-
nicos consumidores de energia fóssil.
O uso de energia fóssil, não renovável, é, como
se sabe, o principal responsável pelo grave proble-
ma do aquecimento global, resultante da emissão
de gases de efeito de estufa para a atmosfera. Nos
edifícios, o uso de electricidade proveniente de
energia fóssil, contribui em larga medida para a
intensificação deste problema.
As medidas passivas são as que mais contri-
buem para reduzir os gastos energéticos do edifí-
cio ao longo da sua existência. Dois exemplos de
estratégias passivas são a optimização do uso da
iluminação natural para reduzir o recurso a siste-
mas de iluminação artificial, ou a promoção de
ventilação natural, para evitar o uso de aparelhos
de ar condicionado para arrefecimento.
Na Guiné Bissau existem bons exemplos de ar-
quitectura adequada ao meio ambiente em que se
insere. Contudo, hoje em dia a prática de uma arqui-
tectura passiva ou bioclimática, com preocupações
ambientais e energéticas, necessita ainda de imple-
mentação. Embora as publicações existentes refiram
extensamente os potenciais benefícios desta arqui-
tectura, o seu uso é ainda muitas vezes mal compre-
endido, sendo erradamente considerado um risco,
ineficiente, demasiado complicado ou caro. Por exem-
plo, em muitas novas construções as preocupações de
climatização são deixadas para engenheiros, que ten-
dem a adoptar o uso “seguro” do ar condicionado.
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Apesar de existirem já muitos exemplos que com-
provam a eficácia, melhores níveis de conforto, e
vantagens económicas do uso das técnicas passivas
ainda há uma grande necessidade de difusão deste
conhecimento e do aumento do número de edifí-
cios passivos, bioclimáticos, em termos de nova
construção e reabilitação.
Sendo um clima quente, é também dada neste
manual particular atenção à questão da refrigera-
ção dos edifícios, fundamental para obtenção de
ambientes confortáveis. O arrefecimento dos edi-
fícios deve, e pode, ser conseguido através de
meios naturais, evitando o recurso a sistemas de
climatização energívoros. O objectivo das técnicas
de arrefecimento passivo é evitar a acumulação de
ganhos de calor e fornecer refrigeração natural,
evitando o sobreaquecimento. Os princípios de
técnicas de arrefecimento passivo foram usados
com sucesso durante séculos, antes do apareci-
mento do ar condicionado. Estas técnicas tradicio-
FIG. 3.2 Edificação recente: para habitação (em cima), e em complexo turístico (em baixo), com tipologias construtivas inspiradas na arquitectura vernacular.
FIG. 3.1 Habitação vernacular, adaptada ao contexto climático local.
nais foram simplesmente reforçadas com o conhe-
cimento tecnológico hoje disponível, e optimizadas
para que pudessem ser incorporados com sucesso
na concepção e operação dos edifícios.
Neste capítulo é feita primeiramente uma descri-
ção sumária do contexto climático da Guiné -Bissau,
ponto de partida para a prática de uma arquitectura
bioclimática, de design passivo. Seguidamente são
apresentadas as principais estratégias de projecto
bioclimático.
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FIG. 3.4 Valores médios de radiação solar (IRAD), temperatura do ar (TEMP), humidade relativa (linhas azuis em baixo), e precipitação (barras cinzentas), para Bissau. Dados gerados pelo software Meteonorm, cruzados com os do Serviço de Previsão a Nível Mundial (para a precipitação), e comparados com os dados mensais fornecidos pelo Observatório de Bissau.
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24-10 0.0k
0 0.2k
10 0.4k
20 0.6k
30 0.8k
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°C W / m²DAILY CONDIT IONS - 22nd S eptember (265)
LE GE ND
T emperatureR el.Humidity
Direct S olarDiffuse S olar
W ind S peed Cloud Cover
Comfort: T hermal Neutrality
Jan Feb Mar Apr May Jun Jul Aug S ep Oct Nov Dec-10 0.0k
0 0.2k
10 0.4k
20 0.6k
30 0.8k
40 1.0k
°C W / m²MONT HLY DIUR NAL AVE R AGE S - Bissau, Guiné-Bissau
FIG. 3.3 Em cima: gráfico com o perfil anual de valores médios de temperatura para Bissau. Em baixo: valores de temperatura do ar (azul), velocidade do vento (tracejado azul claro), radiação solar directa (amarelo) e difusa (tracejado), para um dia típico (22 de Setembro). Valores estimados, obtidos através do software METEONORM.
3.1 Contexto climático
O território situa -se na zona climática quente e
húmida, caracterizada por forte radiação solar, tempe-
raturas constantemente altas, precipitação intensa
(entre 1000 a 1600 mm por ano), humidade relativa
elevada, chegando a ultrapassar os 80%, e ventos mo-
derados, que no seu todo condicionam o nível de con-
forto no interior dos edifícios, e o seu estado de con-
servação exterior e interior.
Na Guiné -Bissau a temperatura oscila durante o ano
entre mínimas de 20ºC e máximas de 35ºC, com ampli-
tudes diárias na ordem dos 6º–10ºC. O período mais
quente do ano ocorre entre Março a Maio, chegando as
máximas diárias a atingir valores entre 32 a 39ºC. Na
estação seca (de Novembro a Abril), verificam -se os
dias menos quentes do ano, nos meses de Dezembro a
Fevereiro, com valores mínimos abaixo dos 20ºC.
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Durante a estação húmida (de finais de Maio a Ou-
tubro) ocorrem chuvas fortes, principalmente no mês
de Agosto, em que a precipitação na cidade de Bissau
ultrapassa os 600 mm, e os ventos dominantes são de
nordeste. Os níveis de humidade são bastante eleva-
dos, acima dos 80% nos meses de Julho a Outubro.
Para o projecto de arquitectura devem ser pre-
viamente analisadas algumas questões que estão
associadas ao clima, como: a orientação da casa;
os tipos de materiais a serem utilizados; as neces-
sidades de protecção solar nas diferentes zonas,
etc.. Estes princípios são seguidamente apresen-
tados, começando pelos primeiros passos a consi-
derar no projecto – a localização, forma e orienta-
ção das edificações.
3.2 Localização, forma e orientação
A selecção do lugar, a forma e a orientação do edi-
fício são as primeiras opções a considerar para a
optimização da exposição ao trajecto solar e aos
ventos dominantes. Num clima quente como o da
Guiné, é essencial que a implantação das casas te-
nha em consideração o regime de ventos, para uma
ventilação eficiente, e consequente melhoria do
conforto na habitação. Nas zonas de encosta, as
habitações devem ser implantadas nas zonas mais
baixas e acima do leito das ribeiras, onde circula
mais o ar. Deve privilegiar -se o lado da encosta
que beneficia de mais horas de sombra. No litoral,
FIG. 3.5 Localização de um aglomerado numa encosta. No primeiro esquema, as habitações ficam demasiado expostas ao sol nas horas de maior incidência. O segundo esquema mostra uma localização mais favorável. Nas horas de maior incidência do sol, as casas beneficiam da sombra da encosta.
• Sol
as fachadas voltadas para o mar devem ser prote-
gidas por alpendres de dimensões generosas, para
diminuir o impacto do reflexo do sol sobre o mar
no interior das habitações. Os arranjos exteriores
são essenciais para proteger o interior dos ganhos
solares excessivos.
As novas zonas habitacionais devem também ser
projectadas a uma distância conveniente da estra-
da de maior circulação, evitando ruídos e outros
inconvenientes. As ruas devem ser estreitas e
orientadas por forma a que pelo menos um lados
tenha sempre sombra.
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FIG. 3.6 É necessário evitar a implantação das habitações em linhas de água, ribeiras secas, zonas predispostas a inundações e encostas sujeitas a enxurradas. Devem -se escolher zonas seguras e protegidas de inundações. Nas alturas de chuvas torrenciais, a água conhece o seu antigo caminho. As obras de correcção pluvial ficam sempre m ais caras e normalmente só se executam quando as chuvas já causaram muitos prejuízos. O segundo esquema apresenta a localização conveniente de um aglomerado.
• Chuva
FIG. 3.7 Orientação correcta, considerando o regime dos ventos.
• Vento
× Não
FIG. 3.8 Num aglomerado situado numa encosta devemos estudar os ventos dominantes, para que a localização favoreça o arejamento das casas.
Sendo o ambiente externo quente, a ventilação
e o conforto dentro de casa são aspectos críticos.
Nas zonas urbanas o impacto dos raios solares nos
telhados e nas fachadas dos edifícios e a circula-
ção da brisa fresca em redor dos edifícios deve ser
estudado. Caso contrário, poderá haver o risco da
criação de um ambiente muito desconfortável no
interior das habitações.
Em termos de forma do edifício, a configuração e o
arranjo dos espaços internos, de acordo com a função,
influenciam a exposição à radiação solar incidente,
bem como a disponibilidade de ventilação e ilumina-
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FIG. 3.9 Neste esquema, os raios de sol (1) incidem na fachada do edifício que os reflecte para o pavimento e depois para o interior do edifício. Os raios (2) atingem o pavimento e reflectem na zona de circulação de pessoas. Os raios (3) caem sobre a cobertura plana do edifício mais baixo reflectindo -se na fachada do edifício mais alto. O vento resvala por cima da cobertura plana e como não encontra nenhuma reentrância na fachada da frente passa por cima do edifício. O ambiente fica excessivamente quente em redor e dentro dos edifícios.
FIG. 3.10 A configuração da fachada do edifício alto e da cobertura do edifício baixo foram alterados para melhorar o ambiente externo nessa zona. A árvore amortece o efeito dos raios solares e favorece a circulação do ar. O efeito do vento na zona, ajudado pela cobertura inclinada do edifício baixo e pelas varandas do edifício alto, torna -se mais diversificado, podendo assim penetrar nas habitações.
ção natural. Em geral, um edifício compacto terá uma
superfície de exposição relativamente pequena, ou
seja, um baixo rácio superfície/volume. Para as peque-
nas e médias construções, esta situação oferece van-
tagens para o controlo de trocas de calor através da
envolvente do edifício – devendo contudo este ofere-
cer sempre uma área de exposição de aberturas sufi-
cientemente ampla para potenciar a ventilação natu-
ral. A geminação dos edifícios em banda tem também
vantagens; ao diminuir a área de exposição solar, são
reduzidos os riscos de sobreaquecimento.
As áreas do edifício potencialmente ventiladas e
iluminadas naturalmente, as chamadas áreas passi-
vas, podem ser consideradas como tendo uma pro-
fundidade de duas vezes a altura do pé -direito (i.e.
geralmente cerca de 6 metros). Esta profundidade
pode ser reduzida quando há obstáculos à luz natural
e à ventilação, devido uma compartimentação inte-
rior pouco adequada, a edifícios vizinhos, ou no caso
de espaços adjacentes a átrios. A proporção de área
passiva de um edifício, em relação à sua área total,
dá uma indicação do potencial do edifício para o em-
prego de estratégias bioclimáticas.
O objectivo é sempre maximizar a área passiva. Em
edifícios com áreas não passivas (activas) de dimen-
são significativa, as soluções com recurso a sistemas
mecânicos energívoros tendem a prevalecer FIGURA
3.11 . No caso da reabilitação de edifícios com áreas
activas, deve -se procurar que estas sejam convertidas
em espaços não ocupados, por exemplo arrumos.
Quando a área activa atinge grandes dimensões, é
aconselhável a incorporação de saguões ou átrios.
O conceito de zona passiva deve ser considerado
a partir da primeira fase do projecto, em que são
definidas a forma e a orientação do edifício. As es-
tratégias de design passivo a utilizar variam segun-
do a orientação das diferentes zonas do edifício.
Estas estratégias que incluem, por exemplo, a alte-
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FIG. 3.11 Definição de áreas passivas (cor clara) e não passivas (ou activas, cor mais escura) na planta de um edifício (adaptado de Baker, 2000).
ração da área de envidraçado e a utilização de dife-
rentes dispositivos de sombreamento, encontram-
-se descritas nos subcapítulos seguintes.
A melhor orientação do edifício para reduzir os ga-
nhos solares de calor será paralela ao eixo Nascente-
-Poente, uma vez que restringe a área de exposição das
fachadas que recebem sol de ângulo baixo (Nascente e
Poente) e permite o sombreamento da fachada que
mais recebe sol de ângulo alto (Sul), beneficiando ain-
da de iluminação natural – conforme representado na
FIGURA 3.12 . Em remodelações, e em muitas situa-
ções urbanas onde a orientação está fora do controlo
do projectista, uma orientação desfavorável pode ser
compensada através do reforço de outras estratégias
adequadas de controlo de ganhos solares, como o som-
breamento ou o dimensionamento de janelas.
FIG. 3.12 Optimização da orientação solar para a zona de Bissau. A melhor orientação para a fachada principal é de 2º5’N. Para o território Guineense, a orientação aceitável não deve exceder uma variação até 45º a partir do Norte.
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A orientação correcta dos espaços de permanên-
cia da habitação, em função do percurso do sol e do
vento, é o ponto de partida para aproveitar estas
energias renováveis. A insolação das fachadas é de-
finida no processo de implantação do edifício e é de-
cisiva no conforto dos espaços interiores. A orienta-
ção a Sul é geralmente recomendada para o hemisfério
Norte, por ser a que mais optimiza os ganhos solares
para aquecimento durante a estação fria. Contudo,
em regiões onde a questão do sobreaquecimento é
prioritária, como no caso da Guiné, a melhor orien-
tação é a Norte, sendo contudo aceitável uma varia-
ção até 45º (entre Nordeste e Noroeste). De acordo
com simulações realizadas utilizando o software Eco-
tect, por exemplo para o caso de Bissau uma ligeira
variação (2º5’N) será a orientação óptima.
FIG. 3.13 Diagrama Ecotect representando a melhor orientação para a cidade de Bissau (2º 5’N). A cor encarnada indica as orientações que podem originar sobreaquecimento, a cor amarela a zona de maior protecção, a seta amarela a orientação optimizada.
Os quartos de dormir, quando orientados a Nas-
cente, captam menos calor e durante a tarde são
espaços mais frescos. Os alçados orientados a Po-
ente devem ser protegidos para não haver radia-
ção solar excessiva. A utilização de frestas e de
pequenos vãos é uma medida eficiente. O dimen-
sionamento das áreas envidraçadas deve ser com-
patibilizado com a orientação da fachada. O espa-
ço da cozinha deve ser o mais fresco da habitação,
por isso não pode ser orientado a Poente. Deve ser
tida em conta a direcção dos ventos dominantes
para que quando soprem não arrastem os cheiros
e o calor para o resto da casa.
A optimização da orientação e da área passiva
contribuem para evitar situações de sobreaquecimen-
to, sendo o primeiro passo para a promoção de estra-
tégias de protecção e dissipação do calor. As técnicas
de protecção ao calor como o sombreamento, o di-
mensionamento das janelas, o revestimento reflexivo
da envolvente, ou o isolamento oferecem protecção
térmica contra a penetração de ganhos de calor inde-
sejáveis para o interior do edifício e ganhos internos.
Na Guiné devem ser previstos elementos de sombrea-
mento das áreas de envidraçado e paredes exteriores,
por forma a evitar situações de sobreaquecimento,
para haver conforto térmico no interior dos comparti-
mentos. Estes elementos podem ser tectónicos: palas
ou alpendres, elementos vegetais ou ainda elementos
mistos. Os elementos vegetais junto a fachadas ou
mesmo o revestimento de fachadas com elementos
vegetais aumentam o conforto interior e funcionam
como um filtro dos raios solares.
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As Técnicas de dissipação do calor maximizam
as perdas do calor que se acumulou no interior do
edifício, dissipando -o através de ventilação natural e
inércia térmica, evaporação, radiação, ou de um
“poço de calor” como o solo. A utilização destas téc-
nicas evita o sobreaquecimento, conduzindo os valo-
res da temperatura interior a níveis próximos da tem-
peratura do ar exterior, ou mesmo abaixo destes.
A radiação solar directa é, de longe, a principal
fonte de calor. O uso de técnicas de controlo solar
no projecto de arquitectura é uma estratégia de
alta prioridade para minimizar o impacto dos ga-
nhos solares no edifício.
As melhores soluções de projecto para arrefeci-
mento passivo combinam várias estratégias, com
o fim de se alcançar uma maior eficácia – como
por exemplo o arrefecimento por ventilação noc-
turna com isolamento externo da massa térmica.
A eficácia das técnicas de arrefecimento passi-
vo pode muitas vezes ser melhorada através do
uso de sistemas mecânicos de energia renovável,
como os painéis solares ou fotovoltaicos, ou de
sistemas de baixo consumo (de energia fóssil),
como as ventoinhas. Estes sistemas são referidos
no capítulo 5.
FIG. 3.14 Os ganhos de calor: I Ganhos solares – causados pela incidência da radiação solar sobre as superfícies externas, que é conduzida para o interior do edifício (ganhos solares externos), e pela passagem da radiação solar através das janelas (ganhos solares internos); II Ganhos internos – provenientes dos ocupantes, iluminação artificial e equipamentos;
III Ganhos por condução – a partir da condução de calor proveniente do ar exterior mais quente para o interior do edifício, através das superfícies externas do edifício (fachadas e telhado); IV Ganhos por ventilação – a partir da infiltração de ar quente para o interior do edifício.
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3.3 Sombreamento
O sombreamento é uma estratégia muito eficaz para
reduzir a penetração da radiação solar no edifício,
oferecendo protecção às áreas de envidraçado (jane-
las), e também à envolvente opaca. Os ganhos de
calor através das janelas podem ser muito significa-
tivos, visto que estas têm muito pouca resistência à
transferência de calor radiante. Em regiões quentes,
um edifício bem sombreado pode ser entre 4°C a
12°C mais fresco do que um sem sombra.
FIG. 3.15 O sombreamento é uma estratégia secular de protecção ao calor.
O sombreamento da envolvente opaca do edifí-
cio pode ser feito por dispositivos fixos de som-
breamento, pela vegetação, ou através de disposi-
tivos ajustáveis. Varandas, pátios ou átrios, podem
ser tipologias úteis na protecção solar.
Em termos de sombreamento das áreas de en-
vidraçado, o edifício deve ser especialmente pro-
tegido dos ganhos solares nas janelas orientadas
a Nascente e Poente, devido ao ângulo baixo do
sol no início da manhã e ao fim da tarde. As orien-
tações a Nascente e Poente podem facilmente ori-
ginar sobreaquecimento, especialmente em edifí-
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FIG. 3.16 Sombreamento fixo: projecção da cobertura e varanda para sombreamento das fachadas.
FIG. 3.17 Sombreamento ajustável: portadas venezianas em edifício modernista em Bissau.
cios mal isolados e de baixa inércia. Existe uma
grande variedade de dispositivos de sombreamen-
to, fixos ou ajustáveis, internos ou externos, mais
ou menos leves. Os QUADROS 1 e 2 apresentam as
características dos diferentes tipos de sombrea-
mento, que podem ser usados em habitações ou
edifícios de serviços.
Os sistemas de sombreamento fixo cortam a inci-
dência dos raios solares antes de atravessarem o vi-
dro, evitando o efeito de estufa. Há diversos elemen-
tos que podem ter esta função, como as palas, “brise
soleil”, venezianas, toldos, estores e beirais. É im-
portante garantir alguma distância entre o elemento
de sombreamento e a zona envidraçada, para que a
radiação térmica captada pelo elemento de sombra
não seja transmitida para o interior do edifício.
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Sombreamento Descrição Desempenho
Dispositivosfixos
Geralmente elementos
externos, como palas
horizontais, “brise soleil”,
aletas verticais,
ou sistemas
de grelhas.
As palas horizontais, usadas acima de áreas de janela
orientadas a Sul podem proporcionar um bom nível de
sombreamento. Nas fachadas Nascente e Poente um dis-
positivo fixo vertical pode ser melhor do que um horizon-
tal, mas a janela nunca é completamente sombreada. Ale-
tas verticais podem também proteger a fachada Norte do
sol baixo, de nascente e poente.
O uso de sistemas de grelhas (desde simples gelosias de
madeira até sistemas pré -fabricados em cimento ou material
cerâmico) também pode ser muito eficaz para sombreamen-
to, e oferece vantagens em termos de privacidade. Reduz
contudo a vista para o exterior, e na sua concepção devem
ser especialmente consideradas as necessidades de luz e ven-
tilação natural.
O uso de cor clara para o sombreador é preferível à cor
escura, já que tem melhor desempenho na reflexão da radia-
ção solar, reduzindo a sua penetração para o edifício. O uso
de cor clara tem também um melhor desempenho em termos
de iluminação natural.
Espaços intermédios
Varandas, pátios, átrios
ou arcadas.
Estas tipologias podem ser muito úteis como uma forma de
sombreamento fixo, se o seu design for adequado. Como em
todas as estratégias de sombreamento, o projecto também
deve considerar os requisitos de ventilação e iluminação na-
tural. O desempenho do sombreamento depende da configu-
ração do edifício, e do desenho das varandas.
Prédios vizinhos
Os edifícios vizinhos,
e.g. do outro lado da rua,
podem proporcionar
sombreamento
de fachada,
particularmente
em pisos inferiores.
Os edifícios vizinhos podem proporcionar um sombreamento
eficiente, embora em algumas situações, como em ruas estrei-
tas, tal possa diminuir a disponibilidade de luz natural.
O impacto do sombreamento dos edifícios vizinhos deve ser
considerado no processo de design, em termos da escolha dos
dispositivos de sombreamento e dimensionamento da janela,
por exemplo aumentando um pouco o tamanho da janela em
áreas permanentemente sombreadas, para melhorar o desempe-
nho de iluminação natural.
QUADRO 1 Características de estratégias de sombreamento através de dispositivos fixos, espaços intermédios e prédios vizinhos.
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FIG. 3.20 Sombreamento fixo: projecção da cobertura em edifício vernacular (em cima), e em edifícios recentes (centro e em baixo).
FIG. 3.18 As árvores e as plantas, e os beirais salientes, diminuem a incidência solar.
FIG. 3.19 Alguns exemplos típicos de dispositivos de sombreamento externos para janelas.
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FIG. 3.21 Exemplos de sombreamento fixo por projecção da varanda em edifícios na cidade de Bissau.
FIG. 3.22 Alpendres sombreados.
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FIG. 3.23 Sombreamento do espaço exterior – ruas em zona antiga de Bissau.
Sombreamento Descrição Desempenho
Vegetação A vegetação pode ser
usada para sombrear
os pisos inferiores
do edifício.
Nas regiões quentes como na Guiné, é preferível a utilização de
árvores de folha perene, de modo a proporcionar sombra ao longo
de todo o ano. As árvores altaneiras, como a palmeira, são mais
aconselháveis para não causar obstrução do fluxo de ventilação.
Dispositivos ajustáveis
Estes dispositivos
podem ser externos
– tais como estores
ou persianas retrácteis,
palas ou venezianas
ajustáveis, aletas
giratórias, placas
horizontais, toldos,
tendas, cortinas
ou pérgulas – feitos
de madeira, metais,
plásticos, tecidos, etc.
Também podem ser
internos – como cortinas,
persianas ou venezianas.
Os dispositivos ajustáveis podem ser mais eficazes do que fi-
xos, pois podem ser regulados para diferentes ângulos de in-
cidência solar. A sua flexibilidade permite também um me-
lhor aproveitamento da luz natural, quando comparado com
sombreamento fixo. Os dispositivos ajustáveis permitem
também o controle pelos ocupantes, de acordo com as suas
preferências individuais.
Os dispositivos externos de sombreamento são mais efi-
cientes do que os internos, pois reduzem a incidência da ra-
diação solar sobre a área envidraçada, enquanto que os dis-
positivos de sombreamento interno apenas conseguem
reflectir uma parcela da radiação que já entrou no espaço in-
terno. No entanto há sistemas, como os estores, comuns em
edifícios domésticos, que podem ser uma má escolha em ter-
mos de vista, iluminação natural e ventilação.
Os dispositivos externos translúcidos de cor clara, tais como
dispositivos de tela ajustável, de preferência brancos, podem
reflectir até 60% dessa radiação.
QUADRO 2 Características de estratégias de sombreamento através de vegetação e dispositivos ajustáveis.
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FIG. 3.25 Sombreamento ajustável: toldo (esquerda) e janela com cortina interior e portadas venezianas exteriores de madeira (direita). As portadas venezianas proporcionam sombreamento e simultaneamente permitem iluminação e ventilação natural.
FIG. 3.24 Exemplos de utilização de vegetação para sombreamento.
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3.4 Revestimento reflexivo da envolvente
As cores claras de alguns materiais de revestimento
reflectem uma parcela considerável da radiação so-
lar. A cal branca para pintar os edifícios é um exem-
plo. Os revestimentos de cores claras contribuem
para reduzir a temperatura da envolvente do edifí-
cio e evitar a condução de calor para o interior do
edifício. O QUADRO 3 descreve as características
dos revestimentos reflexivos, de cor clara.
QUADRO 3 Características do uso de revestimentos de cor clara (reflexivos).
REVESTIMENTO REFLECTIVO (Tinta ou azulejos de cor clara)
Tinta ou azulejos de cor
clara (por exemplo, branco)
nas fachadas.
O telhado, sempre que
possível, também deve
ser de cor clara.
A pintura de cor clara é um meio económico e eficaz
para reduzir a entrada de calor no edifício, reflectindo
a radiação solar. A cor que mais reflecte a radiação so-
lar é o branco.
A pintura das paredes internas com uma cor clara
também pode melhorar os níveis internos de iluminação
natural, reduzindo assim a necessidade de luz artificial.
Nas proximidades da casa deve evitar -se o uso de
materiais de cores escuras, como o gravilhão, a areia pre-
ta e o betão, para diminuir a absorção de radiação.
Em algumas situações urbanas, a reflexão da radia-
ção solar para outros prédios, por vezes, pode não ser
desejável, mas pode constituir uma vantagem em termos
de luz natural. As reflexões indesejáveis de prédios vizi-
nhos podem ser evitadas através da utilização de dispo-
sitivos de sombreamento.
Descrição Desempenho
FIG. 3.26 As superfícies pintadas de branco reflectem uma grande parte da radiação solar (em cima). A proximidade da casa aos pavimentos de cor escura deve ser evitada, para não haver absorção de calor e irradiação para dentro da habitação (em baixo).
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FIG. 3.27 Edifícios pintados de cores claras, para reflectir a radiação solar.
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3.5 Isolamento
A localização correcta do isolamento protege o
edifício contra os ganhos de calor durante os pe-
ríodos mais quentes, e melhora o conforto térmico
durante todo o ano. Também pode melhorar a ve-
dação das paredes (evitando a infiltração de ar
quente), e reduz problemas de condensação em
superfícies, em zonas com climas mais húmidos.
FIG. 3.28 O uso de colmo para cobertura na arquitectura vernacular. O colmo é um material isolante, que protege o edifício contra os ganhos de calor.
FIG. 3.29 Utilização do colmo em edifícios contemporâneos. Ao utilizar esta tipologia de tradição local, recolhem -se também os benefícios térmicos da protecção solar.
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Descrição Desempenho
ISOLAMENTO O material isolante pode ser
acrescentado na superfície
exterior das fachadas,
ou na cavidade entre panos
de parede (paredes duplas).
Os materiais de isolamento
evitam a condução de calor
para o interior devido
à existência de gás
aprisionado em muitas
camadas (e.g. fibra de vidro,
lã de rocha) ou em células
(poliestireno), aumentando
a resistência térmica
do material à condução,
proporcionalmente à sua
espessura, mas não
restringem necessariamente
o calor radiante.
O isolamento externo pode
ser adicionado utilizando
painéis isolantes
pré -fabricados. Deve ser
pintado com cor clara.
O isolamento dos elementos opacos externos, ou o uso de
isolamento adicional para as fachadas, é uma das medi-
das mais simples e eficazes de protecção ao calor e redu-
ção da necessidade de arrefecimento.
O próprio ar existente nas cavidades dos tijolos, ou
no espaço entre paredes (parede dupla de fachada) con-
fere isolamento ao edifício, mas este pode ser significati-
vamente reforçado com material adicional (isolamento
externo ou de cavidade).
O isolamento externo é preferível ao isolamento
de cavidade, fazendo máximo uso da capacidade de arma-
zenamento da massa térmica interna, e tem um melhor
desempenho em termos de prevenção de ganhos de calor.
Minimiza também as pontes térmicas do edifício.
O recurso ao isolamento interno deve ser evitado,
dado que reduz a área de exposição da massa térmica,
retirando o benefício da inércia ao interior do edifício.
O isolamento do telhado é uma prioridade, pois diminui
o risco de temperaturas elevadas no piso superior.
BARREIRAS RADIANTES
As barreiras radiantes, feitas
de produtos reflexivos, como
chapa de alumínio, podem ser
instaladas em cavidades
ventiladas do telhado.
A chapa metálica reflecte
a radiação, e a ventilação na
cavidade impede a condução
do calor para o interior
do edifício.
A eficácia deste método depende da ventilação necessá-
ria para transportar o calor da chapa por convecção.
Quando o arrefecimento é a principal preocupação pode
ser preferível usar um sistema de barreira radiante, em al-
ternativa a elevados níveis de isolamento do telhado.
Este sistema pode contudo ser mais caro e complexo do
que o isolamento simples.
QUADRO 4 Características de isolamentos e barreiras radiantes.
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FIG. 3.33 Representação esquemática de uma barreira radiante num telhado, com caixa de ar ventilada (direita).
Caixa de ar
Folha de alumínio
Isolamento
Laje de cobertura FIG. 3.32 Isolamento interno da cobertura, utilizando materiais
de origem local (em cima).
FIG. 3.30 Sistema construtivo misto de cobertura. O colmo é sobreposto em chapa ondulada de material metálico (sub -capa): aos benefícios da impermeabilização e durabilidade conferidos pelo uso da sub -capa metálica adiciona -se a capacidade isolante do colmo.
FIG. 3.31 O uso sem protecção (isolamento) de material metálico para coberturas deve ser evitado, dado que leva ao agravamento de situações de sobreaquecimento interno. Com a oxidação, a chapa perde reflectividade, transmitindo ainda mais calor para o interior das habitações.
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3.6 Áreas de envidraçado e tipos de vidro
Grande parte dos ganhos de calor de um edifício
passa através das áreas envidraçadas das facha-
das, já que as janelas oferecem muito pouca resis-
tência à transferência de calor radiante. A orienta-
ção e dimensionamento das áreas de envidraçado,
bem como a escolha do tipo de vidro, determi-
nam, em grande medida, a penetração da radiação
solar no edifício.
Para um clima quente, com grande incidência de
radiação solar, como na Guiné, é importante evitar
grandes vãos de envidraçado nas fachadas, condu-
FIG. 3.34 Troca energética numa janela de vidro simples de 3mm.
centes a sobreaquecimento e ao uso de aparelhos
de ar condicionado. De forma geral, a área de envi-
draçado não deve ultrapassar 40% da área das fa-
chadas a Norte e a Sul, considerando já que os vãos
têm sombreamento adequado. Na fachada Nascente
não deve ultrapassar os 20% com sombreamento. A
Poente o uso de vão envidraçados deve ser, se pos-
sível, evitado. O dimensionamento das janelas é
uma tarefa complexa. Há contudo uma série de pro-
gramas de software de simulação, disponíveis para
projectistas, para ajudar no dimensionamento das
aberturas, como por exemplo, o EnergyPlus, o DOE,
ou, para arquitectos, o Ecotect.
A utilização de vidros duplos pode reduzir os ga-
nhos e as perdas de calor. Pode também recorrer -se
a um tipo de vidro que transmite selectivamente as
FIG. 3.35 Devem ser evitadas tipologias de fachadas com grandes áreas de envidraçado, largamente responsáveis pelo sobreaquecimento do interior do edifício, e consequente recurso a sistemas energívoros de ar condicionado. As fachadas com grandes áreas de envidraçado são uma tipologia importada, não se adequando ao clima quente da Guiné.
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FIG. 3.36 Uma parte significativa dos edifícios residenciais que encontramos nas zonas urbanas mais consolidadas em Maputo têm áreas de envidraçado muito razoáveis. São uma boa referência para o projecto de novos edifícios. A área de envidraçado não deve exceder os 40% da superfície total das fachadas Norte ou Sul, e deve ser devidamente sombreada.
Descrição Desempenho
DIMENSIONAMENTO DE JANELAS
Janelas, área de envidraçado,
orientação, fachadas.
As janelas também influenciam o desempenho da ilumina-
ção e ventilação natural, acústica, e o contacto visual com
o ambiente externo. Devem, portanto, ser projectadas para
permitirem essa integração.
As janelas devem ser dimensionadas de acordo com a
orientação. Existe software apropriado para o dimensiona-
mento de vãos, como por exemplo os programas DOE, Energy
Plus, ou, para arquitectos, o Ecotect. Poder ser utilizados
tanto no design de novos edifícios como na reabilitação.
A área de envidraçado deve ser reduzida ao indispensá-
vel. É recomendado que não ultrapasse 40% da área das fa-
chadas a Norte e a Sul, e 20% a Nascente, considerando já
que os vãos têm sombreamento adequado. A Poente o uso de
vãos envidraçados deve ser evitado.
As áreas de envidraçado horizontal só devem ser utiliza-
das muito pontualmente, em zonas de pé -direito elevado (du-
plo, de preferência), e com sombreamento adequado, pois po-
dem facilmente causar problemas de sobreaquecimento.
QUADRO 5 Descrição das estratégias que envolvem o dimensionamento de janelas.
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Descrição Desempenho
TIPO DE VIDRO Vidro simples, vidro duplo,
vidro de baixa emissividade.
O vidro duplo aumenta o valor do isolamento da área de
envidraçado, e tem também a vantagem de reduzir con-
densações, e as taxas de infiltração. Comparado com vi-
dros simples, o seu uso pode reduzir significativamente
os ganhos de calor. A amortização de janelas de vidro du-
plo pode ser alcançada entre 5 e 15 anos, de acordo com
a qualidade dos materiais e o tamanho das janelas.
Uma maior redução no ganho de calor é alcançada
com o uso de vidros de baixa emissividade. Estes vidros
podem ser quase opacos à radiação infravermelha, redu-
zindo a transmissão de energia solar em mais de 50%.
Este tipo de vidro não reduz os níveis de luz natural, ape-
sar de serem eficientes na redução da radiação solar. No
entanto, podem ser bastante caros.
O uso de vidros fumados e reflexivos para sombrea-
mento e prevenção de brilho deve ser evitado, pois estes
materiais reduzem substancialmente os níveis de luz na-
tural, aumentando o uso de luz artificial (gerando maior
consumo energético, e calor). É preferível usar vidro
translúcido, e sombreamento adequado.
partes do espectro solar visível necessários para a
iluminação natural, reflectindo a radiação indese
jável – os chamados vidros de baixa emissividade.
Os QUADROS 5 e 6 descrevem as estratégias para
protecção da radiação solar através do dimensiona-
mento das janelas e da escolha do tipo de vidro.
O dimensionamento dos vãos e o isolamento da
envolvente opaca, além de protecção contra a radia-
ção solar, também previnem a entrada de ganhos de
calor por condução, causados pelo fluxo de calor
proveniente do ar exterior mais quente, através das
paredes e áreas envidraçadas, quando a temperatura
externa é maior do que a temperatura interna. São
um motivo de preocupação, principalmente em regi-
ões mais quentes, com altas temperaturas, que po-
dem chegar no verão a 40°C, como muitas regiões de
países africanos. Os ganhos por condução tendem
contudo geralmente a ter um impacto relativamente
menor nas necessidades de refrigeração, quando
comparados com os ganhos solares ou internos.
QUADRO 6 Descrição das estratégias que envolvem a escolha do tipo de vidro.
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3.7 Ventilação natural
A ventilação natural consiste no fluxo de ar entre
o exterior e o interior do edifício. A ventilação na-
tural é originada por duas forças naturais: por di-
ferenças de pressão criadas pelo vento em redor
do edifício - ventilação por acção do vento; e por
diferenças de temperatura – ventilação por “efeito
de chaminé”. O QUADRO 9 mostra os vários ob-
jectivos da ventilação e respectivos requisitos.
FIG. 3.37 Na Guiné é muito comum a utilização de janelas triplas, a interior em vidro, uma intermédia em rede e a exterior com aparas de madeira, revestidas a tinta ou verniz, e caixilharia de madeira. Estas reflectem uma preocupação não só com o calor, mas também a promoção de ventilação sem entrada de insectos, e a protecção à chuva.
FIG. 3.38 Grelhas de fachada: alem de proporcionarem sombreamento e segurança, permitem a ventilação natural.
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FIG. 3.39 Edifícios com cobertura ventilada.
A ventilação por pressão do vento é influencia-
da pela intensidade e direcção do vento e ainda por
obstruções decorrentes de prédios vizinhos ou ve-
getação. O conhecimento das condições do vento
em torno do edifício e o seu padrão de velocidade
e direcção (informação que pode ser obtida em ins-
titutos meteorológicos) são dados necessários para
a concepção dos vãos. A direcção do vento pode
variar ao longo do dia. Além dos ventos dominan-
tes, o regime de ventos de terra (noite) e a brisa do
mar (dia) são também importantes.
A distribuição, dimensão e a forma dos vãos são
elementos fundamentais para a realização de uma ven-
tilação eficiente. As aberturas devem ser amplamente
distribuídas nas diferentes fachadas, de acordo com os
padrões de vento, assegurando que estes terão dife-
rentes pressões, melhorando a distribuição do fluxo de
ar no edifício. As aberturas de entrada e de saída (ja-
nelas, portas, outros vãos) devem estar localizadas de
forma a ser alcançado um sistema eficaz de ventilação
em que o ar percorre todo espaço ocupado, conside-
rando já os elementos que poderão funcionar como
obstáculos (divisórias internas). As aberturas que se
localizam numa posição alta permitem altas taxas de
ventilação para dissipação de calor. As aberturas situa-
das num nível inferior podem proporcionar a circulação
do ar em toda a zona ocupada. As janelas acentuada-
mente verticais facilitam a ventilação a nível superior,
e conseguem um melhor desempenho em termos de
iluminação natural e arranjo do espaço interior.
No design de janelas para ventilação natural deve
haver um compromisso com outras necessidades am-
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bientais, tais como a protecção contra mosquitos, a
iluminação natural, a impermeabilização, os ganhos
solares, o desempenho funcional, a manutenção, o ru-
ído, a segurança, os custos e o controlo de circulação
de ar. O problema do ruído, típico dos ambientes ur-
banos, pode ser minimizado através da utilização de
prateleiras acústicas no exterior das janelas ou painéis
acústicos absorventes sobre as superfícies internas.
Os problemas de poluição também podem ser evitados
com o uso de espaços tampão, e trazendo para o inte-
rior do edifício o ar que entra de uma área exterior me-
nos poluída. Os problemas de segurança podem ser
resolvidos através do dimensionamento das aberturas,
ou colocação de portadas exteriores venezianas.
Objectivos Descrição Requisitos
Fornecimento de ar fresco
A ventilação é necessária para
fornecer ar fresco aos ocupantes,
melhorando a qualidade do ar:
substituindo o ar viciado
e controlando odores, humidade,
CO2 e concentração de poluentes.
Para este processo são normalmente necessárias 0,5 -3 reno-
vações de ar por hora por pessoa, dependendo da intensida-
de da ocupação. Em geral, a regulamentação internacional
considera um padrão mínimo de 5l/s por pessoa (o que é
conseguido através da taxa de infiltração média), aumen-
tando este padrão para 16l/s em zonas de fumadores.
Remoção de calor do edifício
Este tipo de ventilação é usado
para remover o calor excessivo
do interior do edifício,
proporcionando temperaturas
mais confortáveis.
Requer maiores taxas de ventilação que o processo an-
terior. Mais eficaz a nível superior (junto ao tecto),
para remover o calor acumulado.
Quando a temperatura do ar exterior é inferior
à temperatura do ar interior, as taxas típicas de ventila-
ção para dissipação do calor no espaço são 5 -25 ach/h,
dependendo da diferença de temperaturas. Quanto maior
o ganho de calor, mais necessária é a ventilação.
Arrefecimento do corpo humano por convecção e evaporação.
Uma maior velocidade do ar
aumenta a taxa de evaporação
do suor da pele, ampliando
o limite superior da temperatura
de conforto. A sensação térmica
correspondente a uma temperatura
efectiva de 27°C pode ser alcançada
se uma circulação do ar de 1m/s
for aplicada a um quarto com uma
temperatura do ar de 30°C.
Este processo requer velocidades do ar entre 0,5 e 3 m/s.
Admite -se que cada aumento de 0.275m/s corres-
ponde a um acréscimo do limite superior de conforto
de 1°C.
A velocidade máxima do ar recomendado em escri-
tórios é de 1,5 m/s. Para habitações este valor pode
aumentar para os 2,5 – 3m/s.
QUADRO 9 Os vários objectivos da ventilação e respectivos requisitos.
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Pressão do vento Descrição Desempenho
Ventilação unilateral (lado único)
Ventilação fornecida
por aberturas em apenas
um lado da divisão
ou fachada.
A ventilação unilateral tem uma penetração menos pro-
funda do que a ventilação cruzada – normalmente de 3 a
6m ou até cerca de duas vezes a altura do tecto ao chão.
Este tipo de ventilação é criado com a entrada de ar na
divisão, ar que sai poucos segundos depois devido à flu-
tuação de pressão estática do vento.
Ventilação cruzada
Aberturas de ambos
os lados do edifício
e um percurso de fluxo
de ar dentro do edifício.
A ventilação cruzada constante é geralmente o mais forte
mecanismo de ventilação natural, especialmente em edi-
fícios de maiores dimensões.
Este tipo de ventilação funciona em situações com
uma profundidade útil de 9m, ou até três vezes a altura
de pé -direito – zonas com 18m podem ser ventiladas, se
estiverem dispostas “costas com costas”.
Áreas de circulação, como corredores e escadas, tam-
bém podem ser utilizadas para abastecer as divisões que
não têm acesso ao lado de barlavento.
Podem ser utilizados pátios, em vez de planos profun-
dos, para promover a ventilação cruzada.
Se o edifício está voltado para a direcção predomi-
nante do vento, e o vento tem uma boa intensidade, a
utilização de condutas e cavidades na laje para ventila-
ção cruzada também podem ser eficazes.
Torres de vento
Se o edifício não está
numa posição favorável
ao sentido do vento e brisas
predominantes, podem ser
utilizados dispositivos
para canalização do vento,
tais como torres de vento.
Torres eólicas, como as usadas em alguns países quentes
(2 a 20m de altura), também podem ser úteis para criar o
movimento de ar, quando o vento para ventilação cruzada
não está disponível a nível do edifício. O abastecimento
e extracção da torre de vento são feitos por pressão do
vento, revertendo para “efeito de chaminé” quando não
há vento suficiente.
Em certas regiões com clima quente e seco, charcos ou
potes de cerâmica com água são colocadas na base da torre
eólica para fornecer arrefecimento evaporativo adicional.
QUADRO 10 Estratégias de ventilação natural por pressão do vento, para arrefecimento do edifício e do ocupante.
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FIG. 3.40 Posição de aberturas para dois tipos de arrefecimento. A situação do primeiro esquema é ideal para o conforto do ocupante (arrefecimento) – a entrada de ar mais fresco é feita a nível inferior. A situação do segundo esquema serve para o para arrefecimento do edifício – escoamento do ar aquecido, que sobe e se acumula junto ao tecto, é feito a nível superior. O uso de janelas altas, verticais, é ideal para permitir e controlar estes dois níveis de ventilação.
FIG. 3.41 Alguns padrões de ventilação para diferentes tamanhos e posições de janela.
FIG. 3.42 As pressões positivas e negativas causadas por diferentes direcções do vento e as posições das aberturas. As aberturas principais dos espaços devem ser orientadas perpendicularmente ás brisas prevalecentes na época mais quente. Se não há uma direcção prevalecente das brisas devem usar -se elementos arquitectónicos como paredes, parapeitos para guiar e orientar o fluxo de ar. As aberturas de entrada de ar não devem ser obstruídas mas podem ser usados elementos que distribuam o fluxo sem restringir a área de entrada e saída do ar. As aberturas de entrada e saída de ar devem ter a mesma área. Quando as aberturas são na mesma fachada é aconselhável abrir dois vãos a mais longe possível um do outro.
A ventilação por “efeito de chaminé” é apropriada
para edifícios em altura, e principalmente em situações
em que o vento não consegue proporcionar um movi-
mento de ar adequado: quando há baixa velocidade de
ventos ou o vento tem um padrão imprevisível. Este
método também pode ser utilizado em conjunto com a
ventilação por pressão do vento, para reforçar o de-
sempenho do sistema de ventilação, especialmente em
prédios de plano mais profundo onde é difícil conseguir
a ventilação cruzada. O “efeito de chaminé” consiste
na geração de uma diferença de pressão vertical, de-
pendendo da diferença de temperatura média entre a
coluna de ar e da temperatura externa, os tamanhos de
abertura/localização e da altura da coluna de ar. O ar
quente sobe e sai do topo das aberturas; o ar mais fres-
co irá penetrar no edifício em níveis de solo. O proble-
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ma da ventilação por “efeito de chaminé” é o sistema
atingir o seu máximo quando se registam temperaturas
exteriores mais baixas e quando há maiores diferenças
de temperatura dentro do edifício. Em climas mais
quentes, como o Guineense, uma chaminé solar pode
ser usada para elevar as temperaturas nas áreas deso-
cupadas, aumentando as diferenças de temperatura.
O desempenho é mais fraco do que o da ventilação por
pressão do vento, uma vez que requer maiores diferen-
Efeito de chaminé Descrição Desempenho
Aberturas duplas de um único lado
Aberturas com posições
baixa e alta, numa janela
ou parede.
Pode ser eficaz até 6m ou duas vezes a altura do pé di-
reito. Pode aumentar a profundidade da ventilação natu-
ral em salas de plano profundo. Depende da diferença de
altura entre a entrada (inferior) e saída (superior).
Átrios A introdução de um átrio
oferece um bom potencial
para ventilação por efeito
de chaminé.
Os átrios podem ser utilizados em edifícios de maiores di-
mensões e devem ter uma altura considerável em países
quentes, já que podem conduzir a sobreaquecimento.
Chaminés solares Em chaminés solares,
a radiação solar é usada
para aumentar o efeito
de chaminé. Quando as
superfícies da chaminé são
aquecidas pelo sol, a taxa
de ventilação aumenta.
A chaminé solar deve terminar bem acima do topo do te-
lhado, de modo a oferecer maior superfície exposta para
aquecimento, potenciando a circulação por efeito de
chaminé. O seu desempenho também é influenciado pe-
las pressões de vento no topo da chaminé.
Paredes com cavidade ventilada
Paredes com cavidade
ventilada (ver também
“massa térmica”).
As paredes com cavidade ventilada melhoram a dissipação
do calor armazenado no edifício. Esta técnica é exclusiva
para a remoção de calor do edifício.
QUADRO 11 Estratégias de ventilação natural por efeito de chaminé.
FIG. 3.43 Esquema de ventilação por efeito de chaminé num edifício de átrio.
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Dia/Noite Descrição Desempenho
Ventilação diurna
É a estratégia mais simples
para melhorar o conforto quando
a temperatura interna é superior
à temperatura externa. Pode ser usada
ventilação por pressão do vento,
ou por efeito de chaminé.
Apropriado quando o conforto interior pode ser obtido
na temperatura do ar exterior, e com variações de
temperatura diurna inferiores a 10°C.
Recomendada para todas as regiões climáticas da Guiné-
-Bissau.
Ventilação nocturna
Usada para arrefecer a massa
do edifício durante a noite. No final
do dia, a temperatura de armazena-
mento (nas paredes, lajes, e outros
elementos maciços) será aumentada
sem degradar o conforto, aumentando
também a capacidade de dissipação
de calor do sistema. O calor é então
libertado através de ventilação
durante a noite, e o edifício
está fresco na manhã seguinte
(ver também massa térmica).
É especialmente adequada para situações em que as
temperaturas exteriores são demasiado quentes du-
rante o dia, e a ventilação diurna é impossível. A ven-
tilação nocturna é eficaz quando as temperaturas noc-
turnas são substancialmente inferiores às temperaturas
diurnas, com uma amplitude de 8ºC -10ºC.
O seu desempenho pode ser melhorado através da uti-
lização de ventoinhas (ventilação mecânica).
Esta técnica é utilizada para a remoção de calor do
edifício. O seu uso é mais eficaz durante a estação seca.
QUADRO 12 Uso de estratégias de ventilação natural em função da diferença entre as temperaturas externas e internas: ventilação diurna e nocturna.
ças de temperatura e maiores áreas de aberturas (por
exemplo, a ventilação cruzada alcançada a partir de um
vento a 2.7m/s pode superar a de uma chaminé com
3m de altura a 43°C no seu topo).
Os QUADROS 10 e 11 mostram as características
da ventilação por pressão do vento e “efeito de
chaminé”. O QUADRO 12 diz respeito a casos par-
ticulares de técnicas nocturnas e diurnas de ven-
tilação, incluindo ventilação por pressão do vento
e “efeito de chaminé”. O QUADRO 13 diz respeito
à utilização de ventilação assistida.
Quando a temperatura exterior é demasiado
quente, há que prevenir os ganhos de calor por
ventilação – causados pela infiltração de ar quente
exterior dentro do edifício. Este tipo de ganhos
pode ser minimizado através da redução da taxa de
ventilação quando a temperatura exterior é maior
do que a temperatura interior. A taxa de ventilação
deve ser substancialmente aumentada nos períodos
em que a temperatura exterior é menor do que a
temperatura interior – por exemplo, durante a noite
(ventilação nocturna).
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FIG. 3.45 Quando os vãos da entrada de ar são mais pequenos do que os da saída de ar, há maior eficiência na sucção do ar fresco que expulsa o ar quente.
FIG. 3.46 A pala distanciada da parede aumenta a entrada de ar.
FIG. 3.44 O ar quente deve ser puxado para o exterior para não se acumular no tecto.
FIG. 3.47 Com árvores baixas a brisa sobe; com árvores altas a brisa desce e refresca a habitação.
FIG. 3.48 Quanto maior for a distância entre o edifício e as árvores, mais força terá a entrada da brisa.
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FIG. 3.49 No primeiro esquema, a clarabóia está mal localizada, porque o ar quente do telhado entra dentro do edifício. No segundo esquema, há um bom posicionamento – o ar quente do comparti-mento pode sair pela clarabóia.
FIG. 3.50 No caso das coberturas inclinadas, a abertura deve ser feita na parede mais alta.
FIG. 3.51 Dois recursos para forçar a movimentação do ar, através de abertura nos tectos.
FIG. 3.52 O movimento de ar fresco também pode ser produzido através de dois pátios, um mais pequeno que o outro. O ar do pátio mais pequeno, por ter mais sombra, é mais fresco do que o ar do pátio maior. Assim, o ar quente sobe, fazendo com que o ar fresco penetre melhor nos compartimentos entre os dois pátios.
FIG. 3.53 Podemos construir um captador central para a ventilação de todos os compartimentos ou pequenos captadores individuais (torres de vento). Uma forma de fazer entrar ar fresco e limpo no interior de um edifício é utilizar captadores, que permitem reciclar o ar viciado e aquecido. Quanto maior for a altura de captação, mais fresca é a brisa; evita -se também a entrada de poeiras arrastadas pelo vento. Se a direcção da brisa fresca for relativamente constante, esta solução é muito eficaz.
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Algumas das medidas para baixar a temperatura
nas lajes de cobertura são: isolar a cobertura; fazer
aberturas de saída de ar quente na parte mais alta das
paredes; melhorar a entrada de ar com aberturas na
parte baixa das paredes – orientadas na direcção dos
ventos de forma a proporcionar no interior da habita-
ção uma ventilação cruzada; isolar com caixa -de -ar;
fazer canteiros. As lajes de betão aligeiradas com abo-
badilhas suportadas por vigotas pré -esforçadas são
uma solução eficaz. Além de serem leves, têm custos
mais reduzidos e permitem uma boa ventilação.
Em regiões com períodos muito quentes, a venti-
lação natural pode ser reforçada com dispositivos me-
cânicos de refrigeração de baixo consumo energético,
como ventoinhas. Os dispositivos de arrefecimento de
baixa energia podem ser muito úteis em casos de edi-
fícios existentes, especialmente naqueles onde o po-
tencial da ventilação natural é limitado.
Em situações muito pontuais em que o poten-
cial de ventilação natural é reduzido e o uso de sis-
temas de ventilação de baixo consumo, como as
ventoinhas, não são suficientes para colmatar as
necessidades de ventilação e refrigeração do edifí-
cio, é preferível utilizar os chamados sistemas de
“modo misto” – ou seja utilizar os sistemas de cli-
matização apenas quando e onde for necessário.
A utilização de estratégias de “modo misto” pode
evitar o sobredimensionamento dos sistemas cen-
tralizados, reduzir os custos operacionais do edifí-
cio e economizar energia.
FIG. 3.54 Esquema de um edifício ventilado pelo subsolo, um sistema que já se usava na antiguidade. É possível baixar a temperatura interior da habitação através de um sistema de ventilação de subsolo. Esta técnica consiste em fazer passar o ar por debaixo do solo por meio de um tubo, a cerca de dois metros de profundidade, para tornar o ar mais frio. O tubo é conduzido até ao compartimento que se quer refrescar. É importante que o tubo esteja a essa profundi-dade para se obter ar fresco. A captação faz -se numa área fresca com sombra de árvores ou de plantas. A saída do tubo, dentro do compartimento, protege -se com uma rede de mosquiteiro, para evitar a entrada de insectos, e persianas com lâminas móveis, para controlar a entrada de ar. Estes sistemas requerem geralmente o uso de ventiladores (de baixo consumo) para acelerar o fluxo de ar.
FIG. 3.55 Pormenor de um piso ventilado com tubos PVC. As lajes podem ter canais de circulação de ar para climatização da habitação. Estes canais devem ter entrada e saída para o exterior para que o ar circule e se renove no interior do piso. As aberturas devem ser protegidas contra a entrada de insectos.
FIG. 3.56 Esquema de um edifício ventilado pela cobertura. A maior parte dos ganhos e perdas térmicas dá -se através da cobertura, por estar mais exposta à insolação.
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3.8 Inércia térmica
Na maior parte das construções consolidadas na
Guiné Bissau, a envolvente opaca do edifício, as
estruturas e as divisões internas são construídas
com materiais maciços, como o adobe, a taipa, o
betão, o tijolo, ou a pedra. A massa térmica actua
como armazenamento de calor e frio, regulando e
suavizando as oscilações de temperatura. A inércia
térmica dos componentes de construção maciça di-
minui os valores máximos de temperatura radiante
no Verão, proporcionando melhores condições de
conforto. O calor armazenado durante o dia pode
ser dissipado durante a noite através de ventilação
nocturna. A inércia atrasa as trocas de calor por
condução com o exterior, o que é particularmente
benéfico durante as ondas de calor. Este sistema
tem utilidade particularmente durante a estação
seca, e em regiões com amplitudes médias diárias
de temperatura superiores a 8ºC durante uma parte
significativa do ano. Em zonas onde prevalecem
baixas amplitudes, é aconselhável um tipo de cons-
trução leve, de baixa inércia (e.g. em madeira).
Ao contrário de outros dissipadores de calor,
como a atmosfera, o céu, ou o subsolo, que forne-
cem um recurso quase ilimitado para este propósito,
o uso da massa térmica é uma solução temporária,
Descrição Desempenho
VENTOINHAS O uso de ventoinhas pode melhorar
o desempenho das técnicas
de ventilação natural.
Ventoinhas de tecto, caixa ou oscilan-
tes, aumentam as velocidades do ar
interior e trocas por convecção,
aumentando os processos convectivos
e melhorando o conforto.
Estes mecanismos podem também
ser úteis quando a abertura de janelas
causa a penetração de calor, excesso de
velocidade do ar, ou problemas de ruído.
Os sistemas de ventilação assistida,
envolvendo ductos e aberturas
especiais para o efeito, podem também
ser utilizados para melhorar a circulação
do ar através do edifício.
A utilização de ventoinhas de tecto, de caixa ou oscilantes
podem permitir um aumento da temperatura de conforto in-
terior, de 3°C -5ºC, a 1m/s, digamos de 24°C a 28°C, reduzin-
do muito as exigências de arrefecimento.
As ventoinhas de tecto podem ter um período de re-
torno de apenas 3 anos.
A qualidade do movimento turbulento e variável de ar
produzido pelas ventoinhas também produz efeitos mais
confortáveis do que o movimento do ar uniforme.
Uma ventoinha de tecto ou de mesa não incomoda ou
causa correntes de ar a 1m/s.
Os sistemas de ventilação assistida envolvendo ductos
e aberturas especiais, fora da zona ocupada, não são utili-
zados para o resfriamento convectivo do corpo, mas para
o arrefecimento da massa da construção e fornecimento de
ar fresco. Estes sistemas podem ser muito mais baratos e
consumir menos energia do que o ar condicionado.
QUADRO 13 Ventilação assistida
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de transição. Após um certo ponto, o calor começa a
acumular na massa do edifício e a massa térmica di-
minui a sua eficiência. Portanto, o uso da massa tér-
mica deve ser conjugado com estratégias de ventila-
ção para remover o calor acumulado, em particular
com ventilação nocturna. As estratégias de ventila-
ção nocturna aliadas a uma boa massa térmica po-
dem reduzir as temperaturas médias internas durante
o dia abaixo da média das temperaturas exteriores
diurnas. No entanto, em edifícios com grandes ga-
nhos internos, como edifícios de serviços com gran-
de concentração de ocupantes e equipamento, isto é
mais difícil de ser conseguido. Contudo, mesmo nes-
tes casos particulares, as temperaturas médias diur-
nas no interior podem ser mesmo assim reduzidas
para valores próximos da média exterior, ou um pou-
co acima desta, com um desempenho ainda razoável
em termos de arrefecimento passivo.
Quando são necessários sistemas auxiliares de re-
frigeração, como no caso dos edifícios de “modo
misto”, a utilização de massa térmica pode atrasar a
necessidade de refrigeração e reduzir os períodos de
tempo em que se torna necessário arrefecer.
O desempenho da massa térmica depende da ca-
pacidade das características construtivas do edifí-
cio para a transferência de calor para o espaço, ou
seja, depende do coeficiente de transmissão térmi-
ca dos materiais empregues. O desempenho depen-
de também da capacidade física desses materiais
para armazenar calor, ou seja, o seu calor específi-
co. A porção de massa térmica utilizada no proces-
so corresponde tipicamente a uma espessura de
FIG. 3.57 Exemplos de utilização de materiais maciços na construção Guineense.
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Descrição Desempenho
MASSA TÉRMICA Elementos construtivos maciços,
como paredes, estrutura, lajes.
A ventilação nocturna da massa térmica
proporciona um meio eficiente
de refrigeração do edifício.
À noite, quando a temperatura exterior
é consideravelmente menor do que no
interior, a ventilação nocturna é usada
para dissipar o calor acumulado
durante o dia na massa do edifício,
para a atmosfera, de mais baixa
temperatura, impedindo
o sobreaquecimento no dia seguinte.
O ar exterior é introduzido no edifício
através das janelas, ou através de canais
especiais incorporados na estrutura
do edifício.
Os sistemas de refrigeração nocturna podem ser
uma das mais eficientes técnicas de arrefecimento
passivo. Este sistema exige taxas de ventilação,
de 10 – 25 ach/h, e amplitudes de 8ºC–10ºC entre
dia e noite, tendo a construção de ser suficiente-
mente maciça para armazenar o efeito de resfria-
mento até o dia seguinte. Este tipo de ventilação
pode ser natural ou assistida por ventoinhas.
As paredes e a estrutura devem ser suficiente-
mente expostas ao fluxo de ar, evitando o uso de
tectos falsos, e de quaisquer outros elementos que
poderiam impedir este contacto. A optimização da
inércia térmica normalmente não exige acções com-
plexas e caras – pode ser suficiente aumentar a ex-
posição em massa térmica, por exemplo, através da
remoção de tectos falsos e abrir as janelas existen-
tes, tendo em conta as precauções de segurança,
protecção contra insectos e correntes de ar. Para fa-
cilitar a ventilação nocturna, as janelas podem ter
aberturas na parte superior.
QUADRO 14 Técnicas que podem ser usadas para optimizar a utilização de massa térmica.
FIG. 3.58 O uso de edifícios de estrutura ligeira oferece vantagens nas zonas com baixas amplitudes térmicas (menores que 8ºC entre noite e dia durante a maior parte do ano), onde a inércia tem menor efeito. São consideradas boas práticas estruturas sobrelevadas, coberturas ventiladas, e varandas com captação de vento.
50 -150mm a partir da superfície. O material maciço
deve ter a maior exposição possível. Os problemas
de acústica, por vezes causados pelo aumento da
exposição dos elementos maciços (paredes, lajes),
podem ser reduzidos pelo uso de tectos falsos per-
furados, com absorvente de som.
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3.9 Arrefecimento evaporativo
O arrefecimento evaporativo é alcançado por um
processo adiabático, em que a temperatura sen-
sível do ar é reduzida e compensada por um ga-
nho de calor latente. O uso de fontes e vegetação
nos pátios, assim como o acto de derramar água
no chão e a utilização de grandes vasos de barro
poroso cheio de água nos quartos são bons exem-
plos de técnicas de arrefecimento evaporativo
directo, usados em alguns dos países mais quen-
tes de África e que também poderão ser aplica-
das com sucesso na Guiné durante a estação
seca, e quando o teor de humidade relativa não
ultrapassa os 60%.
Existem também técnicas de arrefecimento
evaporativo indirecto, em que o ar é arrefecido
sem que haja aumento do seu conteúdo em vapor
de água. Através destes sistema, a temperatura do
ar pode ser diminuída até se igualar à Temperatura
de Bolbo Húmido. O consumo de água é bastante
mais reduzido que em sistemas directos. Contudo,
os sistemas indirectos envolvem o recurso a apa-
relhos mecânicos, que podem ser caros e requerer
uma manutenção complexa.
FIG. 3.59 Exemplos de uso de vegetação em espaços exteriores: além de oferecerem sombreamento e contribuírem para a beleza do local, a vegetação também contribui para uma ligeira redução da temperatura do ar através do processo de evapotranspiração resultante da fotossíntese (arrefecimento evaporativo).
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3.10 Controle de ganhos internos
As principais fontes de calor no interior do edifí-
cio são: a iluminação eléctrica, a concentração
dos ocupantes e os equipamentos que estes utili-
zam. Os ganhos internos de calor também podem
contribuir significativamente para o sobreaqueci-
mento, especialmente em edifícios de serviços de
maiores dimensões. As principais estratégias para
reduzir os ganhos internos de calor são:
a) Evitar o uso excessivo de iluminação artificial;
b) Optimizar a utilização da luz natural;
c) Evitar ganhos excessivos de calor de ocupantes
e equipamentos.
QUADRO 7 Estratégias de utilização de diferentes tipos de iluminação para reduzir ganhos internos.
Descrição Eficiência
Luz Artificial O uso de iluminação artificial é
muitas vezes excessivo, ou porque
os níveis de iluminação são muito
altos, os sistemas de iluminação
são ineficientes, ou devido a uma
má gestão por parte dos ocupantes.
Os ganhos internos de calor
provenientes da luz artificial podem
variar de 6 a mais de 20 W/m2.
É recomendado o uso de iluminação pontual, de secretária,
com baixos níveis de iluminação de fundo
Fontes de luz de alta eficácia, com baixa emissão de calor
e baixo consumo energético, como lâmpadas fluorescentes, de-
vem ser utilizadas em vez das convencionais lâmpadas incan-
descentes, de tungsténio.
Em edifícios de serviços também podem ser usados extrac-
tos de ventilação junto das luminárias para reduzir os ganhos
de calor.
Luz Natural O uso da luz natural pode reduzir
substancialmente as cargas
de refrigeração, ao substituir
ou complementar o uso de luz
artificial durante o dia.
A luz natural deve ser bem
distribuída pelas várias divisões.
Deve ser tomado em conta
o conforto visual dos ocupantes,
evitando situações de encadeamen-
to e contraste luminoso excessivo.
Estima -se que por cada 1KWh evitado para iluminação na esta-
ção de arrefecimento, se poupam cerca de 0.3KWh de electri-
cidade usada pelo ar condicionado.
Deve ser considerado que a área de espaço que pode ser ilumi-
nada naturalmente é a correspondente ao dobro da altura do tecto
ao chão – em geral até cerca de 6m em profundidade, a partir das
janelas. Regra geral, janelas localizadas a um nível mais alto têm
um desempenho melhor do que janelas a um nível mais baixo, e ja-
nelas verticais altas, têm um desempenho melhor do que janelas
horizontais em banda (visto que a luz do sol entra mais profunda-
mente no espaço). A utilização de cores claras (reflexivas) nas pa-
redes e decoração também aumenta os níveis de iluminação.
A utilização de clarabóias nos últimos andares deve ser fei-
ta com cuidado, dado que pode causar o sobreaquecimento du-
rante o verão, assim como o encandeamento.
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3.11 O uso de controles ambientais
Algumas técnicas de arrefecimento passivo, como
a utilização de isolamento térmico ou de revesti-
mento reflexivo para reduzir a penetração do calor
dentro do edifício, não envolvem o uso de contro-
los operacionais, ou seja, os sistemas são fixos,
inerentes ao edifício, não exigindo controlo por
parte do ocupante ou interacção automática.
No entanto, em muitas outras estratégias passi-
vas, como a abertura de janelas para ventilação natu-
ral, o ajuste de sombreamento ou a utilização de ven-
toinhas, o desempenho do sistema é regulado por
controlos operacionais. Nestes casos, a eficiência dos
sistemas de redução do consumo de energia e a cria-
ção de ambientes confortáveis estão condicionadas
não só pela eficiência dos controlos, mas também
pelo pela forma como os ocupantes os utilizam. O uso
de controlos ambientais permite aos utilizadores mu-
dar o ambiente, adaptando -o às suas necessidades de
conforto térmico. Consecutivamente, pode haver uma
melhoria significativa na satisfação térmica, permitin-
do que os ocupantes vão ao encontro das suas neces-
sidades específicas de conforto, reduzindo o descon-
forto por sobreaquecimento.
É importante que os ocupantes se apercebam que
a utilização de controlos não só leva a uma melhoria
da eficiência do próprio sistema, mas também tem um
grande impacto sobre a poupança de energia. Para tal,
o seu design deve ser simples, por forma a facilitar
uma compreensão intuitiva sobre o seu uso.
Descrição Eficiência
Pátios e Átrios A introdução de pátios e átrios
pode melhorar a iluminação
natural e a ventilação,
reduzindo o consumo
de energia da iluminação
artificial e ar condicionado.
A introdução de átrios envidraçados deve ser cuidadosamente
considerada em climas mais quentes, já que muitas vezes leva
a problemas de sobreaquecimento. A zona naturalmente ilumi-
nada adjacente ao átrio a ser considerada é limitada à zona de
visão do céu (o que corresponde a uma proporção de cerca de
3 para 1 entre a altura e a largura do átrio).
Ocupantes e equipamento interno
Os ganhos internos provenientes
dos ocupantes e equipamentos,
como computadores
e fotocopiadoras, podem
produzir ganhos de calor anual
na faixa de 15 a 30W/m2.
A redução dos ganhos internos pode ser alcançada através da lo-
calização do equipamento de geração de calor em áreas especiais
(por exemplo, sala de informática), com maiores taxas de venti-
lação (climatização especial, se necessário), servindo como es-
paços tampão, e longe dos ocupantes, se possível.
Os ganhos internos dos ocupantes podem ser reduzidos evi-
tando uma excessiva densidade de ocupação, no caso de escri-
tórios, através de uma boa gestão da organização espacial.
QUADRO 8 Estratégias para reduzir ganhos internos.
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3.12 Estratégias passivas e critérios de conforto térmico
As técnicas de design passivo podem ser aplicadas
com um bom grau de eficácia. É verdade que não pro-
movem o tipo de ambientes uniformes, de baixas
temperaturas, encontradas em edifícios com ar con-
dicionado. Coloca -se uma questão: esse tipo de am-
bientes internos é realmente necessário e desejável?
Em pesquisas realizadas por todo o mundo em edi-
fícios naturalmente ventilados, onde as condições de
ambiente térmico variam fora da zona de conforto
convencional, um número maioritário de pessoas rela-
taram sentir -se, de facto, confortáveis com o seu am-
biente térmico. Outros estudos, realizados em edifí-
cios com ar condicionado central, demonstraram uma
insatisfação significativa com o ambiente térmico por
parte dos ocupantes. Este descontentamento poderia
ser atribuído a várias causas como a falta de “natura-
lidade” e os problemas de saúde inerentes ao sistema
e ainda a outro factor muito importante: a falta de
controlos ambientais existentes em edifícios com sis-
tema centralizado, que inibem o processo natural de
adaptação humana.
Existe hoje uma grande controvérsia em rela-
ção aos critérios de conforto térmico. As normas
convencionais apresentam uma zona limitada de
temperatura, como sendo teoricamente “ideal”,
isto é, dentro da qual a grande maioria dos ocu-
pantes de um edifício se vai sentir confortável.
Estes padrões de conforto convencionais, como as
actuais normas ASHRAE ou ISO, são considerados
ainda como aplicáveis em qualquer lugar do mun-
do, apesar da grande variedade climática existen-
te, com apenas uma pequena variação sazonal
para situações de Verão e Inverno. Consideram
temperaturas de Verão em torno de 22ºC como
ideais, com temperaturas máximas na ordem dos
26ºC. Em países mais quentes, tal implica o recur-
so extensivo a sistemas de ar condicionado.
Por outro lado, existe hoje um vasto corpo de
informação, que demonstra que as pessoas que vi-
vem em países com climas mais quentes estão sa-
tisfeitas em temperaturas mais altas do que as
pessoas que vivem em países com climas mais
frios, e estas temperaturas são significativamente
diferentes (superiores e inferiores, respectivamen-
te) das temperaturas consideradas “ideais” pelos
padrões convencionais. Nos trópicos, em zonas
onde as médias se situam entre os 24 e os 28ºC o
ano todo, admitem -se valores de limite superior
de temperatura de conforto 31ºC, com humidade
relativa entre 35 e 75%, e considerando o efeito
de brisa refrescante (Salmon, 1999).
Os edifícios que usam técnicas de arrefecimen-
to passivo podem ser uma alternativa mais efi-
ciente e económica, de baixo consumo energético
e amigos do ambiente, a edifícios com ar condi-
cionado. Estes edifícios bioclimáticos oferecem
também ambientes térmicos mais satisfatórios –
não na sua capacidade de cumprir normas rigoro-
sas, mas na melhoria do conforto fisiológico e psi-
cológico dos ocupantes.
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Para uma melhor percepção do que poderá sig-
nificar o conforto interior de um edifício para o cli-
ma da Guiné, apresentam -se na FIGURA 3.60 os
diagramas psicométricos para duas grandes cida-
des, Bissau e Bolama, com representação das áreas
de influência de cada uma das técnicas de arrefeci-
mento passivo já referidas. As manchas a azul escu-
ro na carta representam as características climáti-
cas (temperatura de bolbo seco e húmido, humidade
relativa e pressão de vapor), e o contorno amarelo,
a zona convencional de conforto ASHRAE.
Nestas figuras encontram -se ainda sobrepostas as
zonas de influência das diversas técnicas de arrefeci-
mento passivo. Os diagramas mostram como a zona
convencional de conforto poderia ser ampliada atra-
vés da utilização de várias técnicas de arrefecimento
passivo com base em pesquisa realizada por Givoni
(1969). Fora dessas zonas, o uso de ar condicionado,
ou sistema activo alternativo, seria requerido.
As estratégias referenciadas são as mais adequa-
das ao bom desempenho do edifício nessa zona cli-
mática. Pode verificar -se que, se nenhuma estraté-
gia passiva for utilizada, a aplicação de padrões de
conforto da ASHRAE (ASHRAE, 1995) leva ao uso
de ar condicionado durante a maior parte do ano.
Em ambos os casos, a estratégia principal de ar-
refecimento passivo a implementar é a ventilação
diurna. A ventilação nocturna e a inércia térmica de-
sempenham também um papel importante no arrefe-
cimento do edifício, em particular durante a época
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FIG. 3.60 Diagramas psicométricos – cidades de Bissau (esquerda) e Bolama (direita). A mancha azul escura ilustra o perfil climático da região. O gráfico mostram como a zona convencional de conforto de verão da ASHRAE (1) pode ser ampliada através da utilização de várias técnicas de arrefecimento passivo. As várias zonas apresentadas nos gráficos foram definidas por Givoni (1969) e correspondem a: 1 Zona convencional de conforto de Verão da ASHRAE, utilizada como padrão para o uso de ar condicionado (contorno amarelo)2 Zona de influência da ventilação diurna (contorno rosa).3 Zona de influência da ventilação nocturna (contorno carmim).4 Zona de influência da inércia térmica (contorno azul).5 Zona de influência do arrefecimento evaporativo directo (contorno lilás) e indirecto (verde).6 Zona de aquecimento passivo (contorno vermelho). 7 Zona onde o ar condicionado é necessário (fundo branco, à direita).
seca. O arrefecimento evaporativo (zona verde) pode
também contribuir para algum arrefecimento duran-
te a estação seca. Regista -se também uma muito li-
geira necessidade de aquecimento durante um breve
período do ano, que pode ser facilmente conseguido
através de uma correcta orientação solar.
Para os períodos excepcionalmente quentes, cor-
respondentes à margem que se localiza na zona acti-
va (zona a branco à direita), pode -se recorrer a sis-
temas de baixo consumo energético, como ventoinhas
(mais económicas e eficazes), ou sistemas de modo
misto. Para situações de excepção, em que o uso de
ar condicionado é difícil de evitar (e.g. grandes edi-
fícios de serviços), existe também hoje tecnologia
alternativa aos sistemas convencionais de climatiza-
ção: o chamado AVAC solar, um sistema mecânico de
ar condicionado em que o uso de electricidade pro-
veniente de combustíveis fósseis é substituído pelo
da energia solar, uma fonte renovável, reduzindo as-
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sim o impacto negativo sobre o ambiente, e também
os custos de manutenção.
Os gráficos apresentados na FIGURA 3.61 expõem
a variação na percentagem de conforto mediante a
promoção de diversas técnicas, e a FIGURA 3.62 a
combinação múltipla das técnicas de dissipação de
calor. Estas últimas referem -se apenas à cidade de Bis-
sau, uma vez que o clima não varia muito dentro do
território nacional. De acordo com os referidos gráfi-
cos, mostrando as variações nas percentagens de con-
forto conforme se adoptem ou não estratégias de de-
sign passivo, é possível concluir que é através da
ventilação natural que se pode conseguir as maiores
melhorias no conforto. De uma situação de conforto
quase inexistente, passa -se para uma situação de
40%. O que se reflecte no gráfico da variação de con-
forto considerando -se múltiplas estratégias.
Não deixam contudo de se observar níveis de insa-
tisfação eventualmente elevados. Mas mostra a expe-
riência que habitantes de zonas quentes toleram mais
o calor do que indivíduos habituados aos padrões eu-
ropeus de conforto. Isto é, temperaturas altas como
FIG. 3.61 Percentagens de conforto para cada uma das técnicas de arrefecimento passivo. A ventilação natural é a única técnica a partir da qual é possível tirar proveito o ano todo, mesmo
nos períodos em que ocorrem os dias medianamente mais quentes (época húmida, de Junho a Outubro).
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as que chegam a atingir os 30ºC podem na verdade ser
condições de conforto numa região em que as máxi-
mas diárias chegam a atingir os 39ºC.
Embora estes gráficos mostrem uma janela de
oportunidades em termos de arrefecimento passi-
vo, não traduzem a situação real de conforto, uma
vez que foram calculados tendo por base fórmulas
empíricas baseadas nos padrões de conforto de
climas tipicamente frios, sendo por isso bastante
conservadores. Esta é uma área de estudos onde é
ainda muito necessário o desenvolvimento de in-
vestigação que clarifique as exigências reais de
conforto em regiões tropicais como o caso da Gui-
né Bissau – por forma a evitar desconforto e gas-
tos desnecessários de energia, com sérias conse-
quências económicas e ambientais.
FIG. 3.62 Variação nas percentagens de conforto por combinação de múltiplas técnicas passivas.
FIG. 3.63 O uso do ar condicionado pode ser evitado através da correcta utilização de design passivo, evitando encargos económicos e danos ambientais.
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Na Guiné -Bissau, tal como em outros países de cli-
ma similar, os elevados níveis de humidade, a chu-
va intensa, e o calor constante, são as principais
agressões aos materiais e às próprias construções.
Nas regiões húmidas encontram -se várias ma-
deiras duráveis e resistentes a ataques de insec-
tos, as quais devem ser sempre que necessário
cuidadosamente protegidas. Por exemplo, espé-
cies contendo resina são resistentes às térmitas
(Lauber, 2005).
Os materiais orgânicos por natureza degradam -se
mais rapidamente, e nos metais a corrosão é uma
ameaça real e constante, sendo também a sua fraca
inércia térmica merecedora de algumas considera-
ções adicionais. A questão dos insectos como as tér-
mitas (localmente conhecidas por baga baga) repre-
senta um grande perigo para todos os materiais de
construção orgânicos, como é exemplo o colmo e a
madeira utilizados na construção vernacular. Embora
existam actualmente vários métodos de protecção FIG. 4.1 Casa de térmita.
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dos materiais naturais contra o ataque dos insectos,
sejam resinas, óleos, ou protecções químicas, estes
ainda não se encontram difundidos no país.
Os materiais utilizados na construção das casas
tradicionais são os mais vulneráveis à acção do
clima, por serem utilizados no seu estado natural,
mas esta característica é também o que os torna
uma solução ecologicamente mais limpa, e sob
vários aspectos mais sustentável.
A selecção dos materiais de construção deve
obedecer a critérios como:
A disponibilidade do material na região;
Os processos de extracção, transporte, fabrico,
armazenamento ou manutenção requeridos;
O comportamento do mesmo perante o clima, em
termos do conforto no interior da casa, e durabilidade;
FIG. 4.2 A terra é normalmente utilizada misturada com material vegetal (bambu, folhas de palmeira ou palha) para aumentar a resistência das paredes, em terra maciça ou blocos de adobe. O telhado é coberto de colmo, com uma armação que pode ser em bambu partido, canas, paus ou cibe (troncos de palmeira).
A disponibilidade de mão -de -obra, ou necessi-
dade de mão -de -obra especializada;
A combinação adequada de materiais diferentes;
Os recursos económicos e necessidades do dono
da casa;
A resistência ao fogo, e a térmitas.
E não depender tanto do estatuto conferido a
determinados materiais como o betão, o aço, ou o
vidro. Nas grandes cidades de regiões tropicais, a
preferência ou o nível de aceitação de um material
prende -se muito com o seu status. Materiais como
a terra, a madeira e o bambu são facilmente rejei-
tados, mesmo por pessoas com fraca capacidade
económica, as quais anseiam por construir com
materiais catalogados como mais “nobres”, como
o betão, o aço, e o vidro.
FIG. 4.3 Combinação de armação de troncos de palmeira (cibes) com revestimento interior do tecto por esteiras de bambu. Bubaque, Arquipélago dos Bijagós.
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Vem -se notando uma clara preferência pela co-
bertura de zinco em substituição do termicamente
mais adequado colmo (em zonas rurais), e a catalo-
gação do adobe como um material precário, dando-
-se preferência ao seguro, e termicamente menos
eficiente bloco de betão (em zonas peri -urbanas).
FIG. 4.4 Edifício em zona peri -urabana construído à base de materiais como o betão armado e a telha, considerados materiais de construção definitiva.
FIG. 4.5 Processo de substituição da cobertura de uma casa de adobe em zona rural, coberta anteriormente de colmo, por zinco. A armação utilizada é comum, de troncos de palmeira cortados longitudinalmente. Ienberém, Sul do País.
FIG. 4.6 Moradia com características contemporâneas inserida em meio rural. Sector de Canchungo.
4.1 Zinco
As principais vantagens da opção pelo zinco são as
suas características de durabilidade e impermeabili-
zação, e as principais desvantagens o baixo isola-
mento térmico e acústico, contribuindo para o so-
breaquecimento interior, principalmente se a casa
não dispor de tecto. A melhor solução seria uma co-
bertura dupla com estes dois materiais, aliando as
propriedades de durabilidade de um, às boas caracte-
rísticas térmicas do outro, ou alternativamente a
utilização de painéis sandwich com isolamento (por
exemplo de poliuretano ou poliestireno expandido).
FIG. 4.7 Cobertura dupla de aluzinco com palha por cima.
FIG. 4.8 Cobertura dupla com folha de zinco, palha por cima e revestimento interior em esteira de bambu.
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4.2 Terra crua
A terra crua é um dos primeiros materiais a ser
utilizado pelo homem na construção das suas ci-
dades, desde há cerca de dez mil anos. Este mate-
rial permite -nos conhecer também a identidade
cultural e arquitectónica de vários povos antigos,
totalmente erguidas em terra, entre um infindável
número de construções que perduram até hoje.
Apresenta características que a tornam um ma-
terial ecológico, pois não explora recursos escas-
sos, nem tão pouco requer processos de transfor-
mação da matéria -prima que envolvam meios
energéticos dispendiosos, é facilmente reciclável e
reutilizável, não é tóxico, é incombustível, apre-
senta bom desempenho térmico, e não polui o meio
ambiente. É de acesso fácil, no entanto há que ter
em consideração os inconvenientes que podem re-
sultar da sua aplicação, tais como a rápida degrada-
ção sob acção da água das chuvas, a fraca resistên-
cia mecânica, e os requisitos de segurança e
durabilidade, pretendidos nas construções actuais.
No caso do desempenho térmico, a propriedade
mais importante é o calor específico, quantidade ne-
cessária para aquecer 1 kg de material em 1ºC, que
neste caso é de 0,24 Kcal/Kg ºC. A condutividade e
capacidade de transferência, variam em função da for-
ma como a terra é empregue, e dependem do calor es-
pecífico, da massa específica, e da espessura do ele-
mento. Quanto maior a massa específica, massa de
material contida num determinado volume, maior a
condutividade térmica. Quanto maior a massa especí-
fica e a espessura do elemento terra, maior a sua ca-
pacidade térmica, logo maior será o tempo necessário
para que o calor externo atinja o interior, e maior o
amortecimento da amplitude térmica exterior.
As principais técnicas de construção por terra po-
dem ser agrupadas em três grandes grupos: constru-
ções monolíticas, alvenarias, e enchimento, que com-
preendem as técnicas hoje difundidas, nomeadamente:
Taipa, Adobe e Blocos de Terra Comprimidos (BTC).
O Adobe e a taipa foram largamente utilizados
como técnicas de construção tradicional, nas
construções mais antigas do mundo, enquanto os
BTC, são uma técnica mais moderna e actual.
As características mais determinantes para se-
leccionar o tipo de terra e técnica mais adequadas
são a granulometria, a plasticidade, a humidade, e
o grau de compactação. Através de ensaios labo-
ratoriais é possível determinar estas característi-
cas do material, aferindo também a sua adequabi-
lidade para à construção.
A terra é utilizada com diferente teor em água para
cada técnica, por exemplo, no adobe deverá estar hú-
mida, dentro do intervalo plástico, enquanto na taipa
poderá estar praticamente seca, com pouca humidade,
sendo a coesão dada pela compactação. De forma se-
melhante, na produção de BTC a água é necessária
apenas para fornecer uma coesão inicial, que facilita
o transporte dos blocos antes de se iniciar o processo
de cura do cimento. O ciclo de produção da terra tem
um processo idêntico nas várias técnicas, havendo al-
gumas especificidades próprias de cada uma.
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Uma das grandes limitações desta matéria-
-prima como material de construção prende -se
com a necessidade de garantir certos padrões ac-
tuais de qualidade, existindo a necessidade de se
recorrer pontualmente ao betão e/ou outros mate-
riais correntes, para satisfazer esses requisitos.
As propriedades mecânicas e de permeabilida-
de podem ser melhoradas por adição de produtos
ditos estabilizantes.
Taipa
A taipa é uma técnica de construção de paredes
monolíticas de aproximadamente 50 cm de espes-
sura, com recurso à terra crua, que é humedecida
e colocada entre moldes, sendo comprimida para
formar um bloco ou uma parede, que conferem
bom isolamento térmico à habitação. O termo
“taipa” é utilizado para caracterizar tanto o mate-
rial como a técnica.
FIG. 4.9 Construção em taipa.
Na construção tradicional guineense a técnica
da taipa é utilizada (designando -se por taipe), no
entanto sem recurso a moldes ou cofragens.
O terreno é escavado perto do local escolhido,
retira -se a primeira camada, por conter matéria
orgânica, utilizando -se a terra da camada virgem.
A terra é desagregada, amassada com um bocado
de água, consoante o seu nível de humidade natu-
ral. As fiadas são elevadas por camadas de 50 cm
(sensivelmente), através de bolas de terra, que
são desfeitas e compactadas por cima da camada
anterior, formando estruturas monolíticas.
Um dos problemas com que se pode deparar
nesta técnica é a retracção do material, o que leva
à sua fissuração. Nos meses quentes a secagem do
material é mais rápida, acentuando -se este pro-
blema. Uma correcção granulométrica pode dimi-
nuir o índice de vazios, que mais rapidamente são
preenchidos na compactação. Ainda para optimi-
zação do material pode ser adicionada cal apaga-
da em pó, na proporção entre 6 a 8 %. material
que sendo mais poroso diminui a retracção, e a
tendência para a fendilhação, para além de au-
mentar a trabalhabilidade (Ruivo, 2008).
Beirão (2005) sugere ainda a introdução de uma
camada de 2 a 3 cm de uma mistura de cal e areia,
entre as fiadas da taipa, de forma a reduzir a possi-
bilidade de fissuração, e melhorar a aderência ao
reboco de cal que serve de acabamento.
O uso da taipa em construções modernas é um re-
conhecimento das suas qualidades. Actualmente no
exterior esta é aplicada essencialmente em paredes
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exteriores, substituindo a parede dupla de alvenaria
de tijolo com isolamento térmico e caixa -de -ar. No in-
terior é usual a utilização da alvenaria de tijolo.
Em termos de custo, a taipa é uma técnica
acessível, quando comparada com as outras técni-
cas de construção em terra, que exigem para além
do custo com a execução, a aquisição e o trans-
porte do material. Quando comparada com as pa-
redes de alvenaria tradicional de tijolo, as diferen-
ças de custo prendem -se mais com os ritmos da
construção alcançáveis com a última, bastante
mais expedita.
Adobe
O adobe refere -se a paredes feitas com blocos de
terra crua, por vezes misturada com fibras vegetais
ou sintéticas para aumentar -lhe a consistência,
preparados em moldes e secos ao sol. É das técni-
cas de construção em terra mais antigas, e onde fo-
ram desenvolvidos muitos estudos experimentais a
nível mundial, no que toca à utilização de aditivos
e estabilizantes, e à melhoria de processos de fabri-
co mecânicos. O adobe foi a base da arquitectura
mesopotâmica e egípcia, e permite para além da
construção de paredes, a edificação de arcos, abó-
badas e cúpulas (Lourenço, 2002).
O Adobe pode em muitos casos ser uma alter-
nativa viável ao tijolo cozido, reduzindo bastante
os custos de fabrico, para além de que proporcio-
na um maior conforto térmico e acústico.
FIG. 410 Construção de paredes em adobe reforçado com cimento.
No seu fabrico a terra deve ser muito bem mis-
turada e amassada, após a adição de água, poden-
do ser utilizado o mesmo equipamento que se uti-
liza no fabrico de betões, a betoneira. A pasta que
resulta é moldada num molde.
FIG. 4.11 Hoje em dia, para além dos moldes que permitiam a execução de uma ou duas peças de cada vez, existem moldes de compartimentos múltiplos que permitem a execução de vários blocos em simultâneo, mas para a utilização destes, a terra deve estar mais líquida, pois ao ser despejada no molde, é necessário garantir que preencha uniformemente todos os moldes.
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Os moldes podem ser com ou sem fundo, de
madeira, plástico ou ferro, e a qualidade deve ser
tal que não permita o apodrecimento ou o empeno
por contacto com a água. Devem ser molhados e
salpicados de areia, antes de levarem a terra, que
é então ajustada, sem descuidar dos cantos, que
devem ser completamente preenchidos de terra.
Entre duas utilizações os moldes devem ser lava-
dos com jactos de água sobre pressão.
Para a execução em obra, os moldes múltiplos
permitem um bom rendimento, sendo a produção
mecânica justificada apenas para produções em
grande escala, por exemplo, de carácter comer-
cial. A produção é feita por extrusão, cujo rendi-
mento é também bastante satisfatório.
A granulometria deve respeitar alguns valores
de referência, nomeadamente: Areia – 55 a 75%;
Silte – 10 a 28%; Argila – 15 a 18% (Lourenço,
2002). Quando o teor de argila é baixo, adiciona-
-se à terra cal aérea, melhorando a sua resistên-
cia. Por outro lado, quando a teor de argila é su-
perior, é usual a adição de fibras vegetais (palha
moída), que diminuem os efeitos da retracção no
processo de secagem, e melhoram a resistência.
Em Lengen (2004) são sugeridos testes simples
para determinar se uma terra é boa para fazer adobes.
Nas escavações dispensa -se a camada de cima,
porque contém muita matéria vegetal;
Pela cor dispensa -se terra negra, por ser gordu-
rosa, e branca, por ser arenosa; as melhores cores
são a vermelha, castanha, e amarelo -claro, sendo
esta última a mais adequada;
Odor a mofo indica que a terra é vegetal, logo
pouco adequada;
O ideal é uma terra com porções de argila e areia.
Também é possível testar o adobe já feito, à
resistência mecânica, permeabilidade, procedendo
da seguinte forma:
Colocá -lo sobre outros dois, e pisar com força.
Este deve aguentar sem partir;
Colocá -lo de molho na água durante 4 horas,
quebrá -lo e verificar a espessura da superfície mo-
lhada, a qual não deve ultrapassar 1 cm;
Colocá -lo de molho na água durante 4 horas,
depois colocá -lo sobre outros dois, e empilhar um
conjunto de 6 blocos por cima dele. Deve aguen-
tar pelo menos 1 minuto antes de quebrar.
Tal como nas paredes de tijolo, também com o
adobe podem ser feitas paredes duplas com isola-
mento no interior, para melhoria tanto do confor-
to térmico como acústico.
Blocos de terra comprimidos (BTC)
Esta técnica é actualmente muito utilizada, e não
deriva de uma técnica manual ou tradicional. Con-
siste na execução de blocos prensados, que com-
parados ao adobe, são muito regulares em forma e
dimensões, e mais densos (Lourenço, 2002). Apre-
sentam uma dimensão de 29x14x9 cm, e um peso
de 7,5 Kg, sendo assentes em fiadas e contra fia-
das, com juntas desfasadas.
Os blocos são produzidos por um processo me-
canizado e automatizado, em que a matéria -prima
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(argila, silte e areia) é tratada num pulverizador
que uniformiza a granulometria e retira as impure-
zas da mistura. Após este processo, na misturadora
é adicionada água e estabilizantes (cal e/ou cimen-
to numa quantidade que varia entre 6 a 8%). Este
material é finalmente transportado para uma má-
quina compactadora, através de uma passadeira. É
possível produzir até 2500 blocos por cada dia de
trabalho com apenas dois homens para operar. No
final do processo, os blocos podem ser armazena-
dos ao ar livre sem qualquer tipo de protecção.
É uma técnica que se adequa a modelos arqui-
tectónicos bioclimáticos, pela elevada massa tér-
mica dos BTC, conduzindo a uma estabilização tér-
mica no interior das construções, principalmente
em temperaturas ambientalmente mais altas. Alia-
da a sistemas de design passivo, como a promoção
da ventilação natural, aumenta a eficácia em ter-
mos de conforto ambiental nos edifícios. É utiliza-
da pouca energia na produção dos BTC, utilizando-
-se mais mão -de -obra.
FIG. 4.12 Troncos de palmeira cortados longitudinalmente.
As construções que utilizam BTC representam so-
luções económicas e sustentáveis, na produção, con-
somem pouca energia e provocam impactos ambien-
tais baixos, e no uso, nível de conforto térmico
propício no interior.
4.3 Madeira
A madeira é um recurso que existe em abundância,
devido à riqueza local em espécies florestais. De en-
tre as várias espécies referem -se duas com boas pro-
priedades construtivas (Oliveira, 1967): Bissilon
(Khay senegalensis A. Juss.) – ocorre especialmente
na região Norte e Central da floresta aberta (Bafatá,
Oio e Cacheu); Cibes (Borassus aethiopum Mart.) –
pode ser encontrada em todo o território, desenvolve-
-se em terrenos de aluvião e savana, em solos lodo-
sos e em algumas depressões de maior humidade.
Apresenta -se sem fendas e resiste ao ataque de xiló-
fagos, sendo muito utilizada em pilares e postes.
4.4 Bambu
Outro material disponível nestas zonas é o bambu,
muito aplicado nos edifícios de construção tradicio-
nal. A cana de bambu atinge resistência máxima 3 a
6 anos após o seu crescimento (que dura 3 ou 4 me-
ses), e é nessa altura pode ser utilizado na constru-
ção (Lengen, 2004). A partir dos 6 anos, se não for
cortado, começa a perder a sua rigidez. É um mate-
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rial extremamente económico, com comprimentos
elevados (20 a 30 metros), oferecendo vantagens
como o facto de ser leve, altamente resistente a for-
ças de tracção, compressão, e momentos flectores, e
ser facilmente trabalhável, sem necessidade de mão-
-de -obra especializada (Lauber, 2005).
A maior vantagem do Bambu é sem dúvida o seu
sistema de rotação, isto é, começa a crescer nova-
mente, imediatamente após o seu corte. A grande
desvantagem é a vulnerabilidade aos insectos, fun-
gos e fogo, embora já existam tratamentos bastan-
te eficazes para ambos.
4.5 Pedra
A pedra sendo abundante nas regiões tropicais, pode
ser utilizada em edifícios construídos em terra, por
resistir à erosão, ou em muros exteriores onde a ne-
cessidade de manutenção é mínima. Embora termi-
camente seja pouco isolante, pode ser funcional
quando combinado com isolamentos ou com tijolos
de terra na forma de paredes duplas.
FIG. 4.13 Entramado de taras de bambu, localmente designado quirintin. É utilizado em paredes de casas vernaculares revestido em um ou ambos os lados por barro, e muito utilizado como muro de vedação.
FIG. 4.14 Pormenor de uma cobertura com revestimento interior de esteira (taras de bambu).
FIG. 4.15 Tecto falso revestido com esteiras de bambu.
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4.6 Viabilidade económica
A questão da escolha de materiais sustentáveis para
construção, não se resolve apenas com a utilização de
“materiais naturais”, há que ponderar também a sua
disponibilidade como matéria -prima, a energia neces-
sária para a sua transformação, bem como o seu po-
tencial de reciclagem e reutilização. A utilização de
materiais locais embora tenha a vantagem de reduzir
os gastos com o transporte, deve ter em conta a dis-
ponibilidade da matéria -prima para exploração.
Os impactes da construção no ambiente são de
diversas ordens, passando pela poluição, consumo
de recursos naturais, geração de resíduos, e erosão
dos solos. Portanto, a viabilidade económica de um
material ou técnica construtiva, implica avaliar
também o seu impacte sobre o ambiente, pois os
custos que daí advêm, ainda são significativos.
A localização geográfica da zona em que se
pretende construir, bem como a sua disponibilida-
de em termos da matéria -prima básica necessária,
são factores que podem ter maior ou menor peso,
na deliberação entre a opção por uma técnica de
construção por terra crua em alternativa aos res-
tantes materiais existentes no mercado.
Do ponto de vista económico, os materiais natu-
rais tornam -se atractivos pelo baixo custo energéti-
co e de material, e pela simplicidade dos processos
de produção e de aplicação. O sistema construtivo
FIG. 4.17 Museu de Guiledge – aspecto final.
107
FIG. 4.16 Museu de Guiledge – fase de construção.
associado às construções em terra implica baixos
custos de transporte, e mão -de -obra pouco especia-
lizada, aliada a prazos de execução da obra relativa-
mente curtos. O investimento inicial, em termos de
equipamentos para a produção dos materiais é redu-
zido, sendo o maior capital de investimento da cons-
trução em terra crua referente à mão -de -obra. Por-
tanto, em locais em que a oferta de mão -de -obra é
elevada, a construção por terra crua revela -se bas-
tante atractiva em termos económicos.
Nos países industrializados este tipo de cons-
trução surge associada a uma consciência ambien-
tal, mas tradicionalmente, o material pode ser as-
sociado a uma cultura de autoconstrução.
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As energias renováveis ou alternativas caracterizam-
-se essencialmente pela ausência de poluição, po-
dendo advir de fontes energéticas como o sol, o
vento, a água, e a biomassa, entre outras. Por se-
rem uma tecnologia limpa, e inesgotável, o seu uso
deve ser considerado na concepção de edifícios.
No caso dos trópicos, faixa de forte exposição so-
lar, justifica -se falar no aproveitamento energético
dos raios solares, essencialmente em duas tecnolo-
gias: a solar térmica, tradicionalmente utilizada para
aquecimento de água, e a solar fotovoltaica, utiliza-
da para a produção de energia eléctrica. Podem ain-
da revestir -se de interesse a energia eólica, a hidráu-
lica e a biomassa, conforme o contexto climático de
cada País. A primeira baseia -se no aproveitamento
da energia produzida pelo vento, a segunda na ener-
gia produzida pela força da água, e a terceira no
aproveitamento de desperdícios de matéria -prima.
A produção de energia eólica envolve tecnolo-
gias avançadas, e portanto associadas a um custo
inicial bastante elevado, e é uma tecnologia que
não responde por si só a picos de consumo, pois
não é possível controlar nem prever de forma deter-
minante o fluxo do vento. A biomassa tem a vanta-
gem da matéria -prima ser de baixo custo, não emi-
te dióxido de enxofre, podendo também contribuir
para a limpeza das florestas, para além de que as
cinzas produzidas são de menor agressividade, e
podem ser aproveitadas para outros fins.
Em termos de energia solar, existem os painéis
solares fotovoltaicos, que permitem converter
energia solar em energia eléctrica, tendo também
a vantagem de providenciarem um adequado iso-
lamento térmico e acústico, através da resistência
do material de que são constituídos. Uma célula
fotovoltaica é constituída por camadas de mate-
riais semi -condutores que absorvem a energia so-
lar, produzindo corrente eléctrica.
Existem 3 tipos principais de células solares:
Mono -cristalinas: representam a primeira gera-
ção de células, com rendimento eléctrico elevado
(aproximadamente 16%), mas em contrapartida as
tecnologias utilizadas na sua produção são com-
plexas e caras. Recorre -se a materiais em estado
puro, com estrutura cristalina perfeita, o que re-
quer maior consumo de energia no seu fabrico.
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Poli -cristalinas: O cristal utilizado é menos per-
feito, o que requer menos consumo de energia na
produção, mas consequentemente o rendimento
eléctrico é inferior, na ordem dos 13%.
De Silício Amorfo: São as de menor custo, mas
com um rendimento eléctrico também reduzido
(na ordem dos 8 a 10%).
Uma célula individual num sistema fotovoltai-
co produz uma potência eléctrica que varia co-
mummente entre 1 a 3W, com uma tensão menor
que 1 Volt. A sua integração em painel ou módu-
lo torna possível disponibilizar potências mais
elevadas. A ligação em série das células produz
um aumento na tensão disponibilizada, enquan-
to ligações em paralelo permitem aumentar a
corrente eléctrica. A maioria dos módulos comer-
cializados é composta por 36 células de silício
cristalino, ligadas em série para aplicações de
12V. Quanto maior o módulo, maior a potência e/
ou corrente disponível.
Os módulos por não terem partes móveis, são
de fácil manutenção. Recomenda -se uma limpeza
regular, típica dos vidros, para que não haja perda
da eficiência da conversão de energia solar em
eléctrica. Comercializam -se com garantias até 25
anos, dadas pelos fabricantes (Febras, 2008).
As principais vantagens da tecnologia solar foto-
voltaica são:
Alta fiabilidade – não tem peças móveis, o que
é muito útil em aplicações em locais isolados;
A fácil portabilidade e adaptabilidade dos mó- FIG. 5.1 Aplicação de painéis fotovoltaicos na cobertura da sede da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, em Bissau.
dulos – permitem montagens simples e adaptáveis
a várias necessidades energéticas;
O custo de operação reduzido, e a manutenção
quase inexistente (não necessita combustível, trans-
porte, nem trabalhadores altamente qualificados);
As qualidades ecológicas, pois o produto final é não
poluente, silencioso e não perturba o ambiente;
A melhoria da estética dos edifícios, podendo
substituir revestimentos (fachadas, telhados…),
(Varandas et al., 2005);
A melhoria da rede eléctrica local e descentraliza-
ção da produção eléctrica (Varandas et al., 2005).
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Algumas desvantagens:
O fabrico dos módulos fotovoltaicos exige tec-
nologia muito sofisticada, levando a um investi-
mento inicial elevado;
O rendimento real de conversão de um módulo é
reduzido (o limite teórico máximo numa célula de
silício cristalino é de 28%), face ao custo do
investimento;
Os geradores fotovoltaicos raramente são com-
petitivos do ponto de vista económico, face a ou-
tros tipos de geradores (e.g. geradores a gasóleo).
A excepção restringe -se a casos onde existam re-
duzidas necessidades de energia em locais isola-
dos e/ou em situações de grande preocupação
ambiental;
Quando é necessário proceder ao armazenamento
de energia sob a forma química (baterias), o custo do
sistema fotovoltaico torna -se ainda mais elevado.
Em termos de viabilidade económica, esta
forma de energia é ainda bastante cara, com um
tempo de retorno elevado, sendo de se explorar
a redução do seu custo, através da investiga-
ção, prevendo -se incentivos que permitam a
melhoria da tecnologia. O único custo que im-
porta considerar é o do investimento inicial,
uma vez que, não existem custos adicionais com
combustíveis, e a questão da manutenção tam-
bém não ser determinante.
Na Guiné já existem alguns edifício com a tec-
nologia solar fotovoltaica, mas esta ainda se res-
tringe a edifícios públicos e administrativos.
FIG. 5.2 Uso de painéis fotovoltaicos para alimentação de posto médico, localizado em zona rural.
FIG. 5.3 Painel solar para aquecimento de águas quentes, num edifício em Bissau.
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6.1 Água
Actualmente uma em cada seis pessoas no mundo não
tem acesso a água potável, e África é o continente
mais afectado. Os problemas ligados à água estão in-
timamente conectados com a saúde. Muitas vezes, a
água aparece contaminada por bactérias originárias
de matérias orgânicas de diversas origens: resíduos
humanos, resíduos animais e lixos industriais, provo-
cando cólera, disenteria, febre tifóide, esquistosso-
mose, ancilostomíase e tracoma. A água contaminada
das principais causas de morte no mundo. A escassez
de água potável é um problema enfrentado em África,
mas que se agrava a um ritmo galopante em todo o
Mundo. Por isso, actualmente, a investigação nesta
área é prioritária, e a implementação de medidas nos
países africanos, poderá constituir um potencial mo-
delo para o ocidente, num futuro próximo.
Brian Edwards (2008) refere -se à água como “o pe-
tróleo do futuro". A resolução de problemas de sus-
tentabilidade deve privilegiar as questões ligadas a
este bem essencial e ao saneamento. É necessário
criar redes de abastecimento de água não contamina-
da; incrementar equipamentos sanitários apropriados
e a colecta e tratamento de águas residuais e esgoto,
contribuindo para a saúde da população.
Existem zonas cujo único recurso de abasteci-
mento é de nascentes, que se situam a grandes dis-
tâncias de aglomerados habitacionais e em locais
de difícil acesso... Muitas famílias gastam também
parte do seu rendimento em água potável engarra-
fada, que tem custos muito mais elevados do que
nos países desenvolvidos. Há localidades abasteci-
das por lençóis aquíferos subterrâneos e outras por
nascentes, através de cisternas municipais, onde
são contudo necessários sistemas de purificação e
distribuição da água.
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6.1.1 Métodos de captação
• Captação e conservação da água da chuva
Um dos principais problemas para a sobrevivência e
melhoria da qualidade de vida das populações rurais
é a escassez ou a falta de água potável para o con-
sumo humano. Um bom sistema de armazenamento
de água consiste numa cisterna equipada com um
filtro que recolhe e conserva a água da chuva cana-
lizada da cobertura da habitação.
Nas regiões onde não existem sistemas de abaste-
cimento regular de água, recomenda -se a constru-
ção de cisternas domésticas para o armazenamento
da água na época das chuvas. A cisterna é equipada
com um filtro que recolhe e conserva a água da
chuva canalizada da cobertura da habitação.
FIG. 6.1 Cisterna doméstica de recolha da água da chuva. FIG. 6.2 Sistema de filtração da água da chuva.
• Sistema de água doce por evaporação solar da água do mar
Da água do mar ou a partir de águas salobras podemos
ter água doce por evaporação solar. A produção de
água por metro quadrado pode ir de 4 a 6 litros por
dia. O processo consiste em fazer evaporar a água den-
tro de um recipiente fechado (evaporador ou destila-
dor solar), cuja tampa é um vidro inclinado. O vapor
de água em contacto com o vidro condensa e a água
purificada é recolhida. O evaporador deve ser orienta-
do a Sul e em lugar acessível para facilitar a limpeza.
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6.1.2 Métodos de potabilização
Métodos físicos
• Filtração
A água de qualidade duvidosa deve ser filtrada.
Embora a filtração ajude a eliminar as bactérias,
não é suficiente para garantir a potabilização da
água. Um sistema de um filtro de areia e cascalho
de construção simples com um bidão de 200 litros
pode ser uma boa solução para o meio rural.
• Ebulição
A ebulição é o melhor método para destruir os mi-
crorganismos patogénicos que se encontram na
água. Para que este método seja efectivo é neces-
sário que a água seja fervida.
Método químico
Existem vários métodos químicos para o tratamento
da água, mas o cloro é sem dúvida o elemento mais
importante para a desinfecção da água. A lixívia é
de fácil controlo, económica e eficiente. Deve -se
filtrar a água previamente antes de juntar a lixívia
que deve ficar em repouso durante cerca de 20 mi-
nutos antes de ser usada. Para cada litro de água é
necessário juntar duas gotas de lixívia.
FIG. 6.3 Sistema de captação da água do mar – vista lateral e perspectiva de um destilador solar.
FIG. 6.4 Sistema de filtração com um bidão com filtro de areia e cascalho.
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6.1.4 Instalação
O princípio de distribuição de água corrente numa
habitação aplica -se tanto no meio rural como no
meio urbano. Estas instalações, que se designam
instalações sanitárias, consistem em tubos de dis-
tribuição de água aos equipamentos sanitários e
seus acessórios e na evacuação das águas negras.
A existência de um sistema de abastecimento de
água exige a presença de um sistema de evacua-
ção de águas negras.
6.1.3 Abastecimento
Os custos de um sistema de abastecimento de água
às comunidades são muito mais baixos relativamente
aos custos que uma família dispensa em tempo e es-
forço para o seu auto -abastecimento. Neste caso, os
perigos de contaminação da água são mais evidentes.
A importância social de um sistema de abastecimen-
to domiciliário de água é indiscutível, justificando -se
todos os esforços para o realizar. A longo prazo, é o
sistema mais barato de obter água potável, uma vez
que proporciona: melhores condições para a saúde;
maior poupança e consequentemente maior riqueza;
um meio ambiente mais saudável. O aproveitamento
adequado dos sistemas de abastecimento de água
consiste em evitar desperdícios ou fugas de água,
que nunca se justificam, especialmente num país
onde os recursos são escassos.
FIG. 6.5 Sistema de abastecimento de água numa habitação.
6.2 Saneamento
Há uma interdependência entre as condições eco-
nómicas das pessoas, os seus hábitos de higiene
e a salubridade dos ambientes que habitam. Ao
sistema de conexão recíproca entre estes três ele-
mentos é associado um outro: a água. A escassez
de água potável em certas zonas, e a falta de ini-
ciativa para recorrer a sistemas de captação de
água agrava a falta de condições de higiene das
habitações.
Uma grande parte da população africana vive
em ambientes rurais ou periferias, onde as insta-
lações sanitárias e as infra -estruturas de sanea-
mento são escassas.
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Os aglomerados familiares são, na maior parte
dos casos, numerosos e, muitas vezes, as habita-
ções comportam não só as famílias, mas também
os animais que estas possuem. A vivência em con-
dições de higiene precárias provoca doenças,
como a febre tifóide, e agrava ainda mais o estado
económico destas famílias.
Os resíduos são fontes de contaminação do am-
biente natural e como tal devem ser confinados e
eliminados, para evitar focos de infecção.
Uma resposta eficaz e económica para o isola-
mento e tratamento dos resíduos orgânicos é o re-
curso a latrinas secas.
FIG. 6.6 Auto -construção de uma latrina seca. FIG. 6.7 Auto -construção de uma latrina seca com tanque duplo.
6.2.1 Latrina seca
As experiências feitas com latrinas secas têm tido
resultados muito positivos. A latrina seca, de for-
ma económica, resolve o problema do isolamento
e da eliminação das fezes humanas.
Este sistema é de fácil manutenção e especial-
mente indicado para habitações e escolas em zo-
nas rurais ou de periferia sem uma rede de abaste-
cimento de água. A utilização de materiais locais
torna esta solução mais sustentável.
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Processo de auto ‑construção da latrina seca com tanque duplo
Estruturas
Sub -estrutura: a parte da construção abaixo do ní-
vel do terreno ou a sub -estrutura da latrina, que
também chamamos de tanque, fosso ou fossa, deve
ser: rectangular com 1.30mx0.90m (medidas para
cada tanque) e a altura recomendada é de 1.80m.
A fossa deve ser revestida com blocos e rebo-
cada para impermeabilização.
Sobre -estrutura: O abrigo deve conter uma porta
para protecção das condições climatéricas adver-
sas, um sistema de ventilação e uma sanita.
FIG. 6.3 Localização da latrina seca.
O tempo de utilização de um poço para uma fa-
mília de seis pessoas, segundo as experiências já
desenvolvidas, pode ser de cinco a seis anos.
No entanto, independentemente deste tempo
que é meramente indicativo, logo que o nível das
matérias fecais chegue a cerca de 50cm, deve -se
cobrir o fosso com terra, tapar o buraco e criar um
novo tanque. A transferência do tanque, deverá
ser feito no interior da casinha ou abrigo que,
para este caso, terá dimensões apropriadas.
Esta latrina pode ser geminada e ampliada,
para utilização numa escola.
A localização da latrina deverá ter em conta as se-
guintes condicionantes:
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A distância mínima entre a latrina e a casa de-
verá permitir uma orientação voltada a sul, de
modo a haver uma maior incidência do sol sobre a
tampa dos tanques;
Em terrenos com pendentes, a latrina deve estar
situada na parte mais baixa;
Quando há poços no terreno de implantação, a
distância mínima deverá ser de 15 metros.
As regras de manutenção para o correcto funciona-
mento da latrina devem incluir as seguintes acções:
Proteger todas as entradas de ar com rede de mos-
quiteiro para evitar a entrada de moscas na latrina;
Não guardar nada dentro do abrigo e manter a
porta sempre fechada;
FIG. 6.9 Esquema de instalação de uma fossa séptica.
Tapar o buraco quando este não está a ser
utilizado;
Não deitar água ou outro líquido dentro do fos-
so, incluindo desinfectantes;
Deitar cinzas dentro do fosso.
6.2.2 Fossa séptica
A fossa séptica é um método eficaz e de baixo
custo para a eliminação de resíduos orgânicos e
de pequenas quantidades de águas negras em ha-
bitações unifamiliares ou de um conjunto de habi-
tações, quando não existem sistemas de esgoto.
A instalação da fossa séptica numa habitação
implica água corrente em quantidade suficiente
para garantir o bom funcionamento do sistema.
Compartimentos
Tanque séptico: É um tanque impermeável, geral-
mente subterrâneo, construído segundo determi-
nados requisitos, que mantendo as águas em re-
pouso, provoca a sedimentação e a formação de
natas. Com o tempo, o volume de natas e a sedi-
mentação tendem a desaparecer deixando uma
água entre as duas camadas pela acção de seres
microscópicos que se desenvolvem no tanque.
O ambiente interior tem de ser favorável ao desen-
volvimento destes seres – sem oxigénio nem luz.
Esses seres, que se chamam de anaeróbios, sobrevi-
vem nos resíduos orgânicos, transformando -os em
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líquidos e em gases. Com essa transformação, as
águas ficam de tal forma expostas ao ar, que rapi-
damente oxidam, tornando -se inofensivas pela ac-
ção de outras bactérias que precisam de oxigénio
para sobreviver.
Campo de oxidação e poço de absorção: Instalação
para oxidar o efluente, ou seja, as águas negras que
saem do depósito séptico. O campo de oxidação con-
siste numa série de drenos instalados no subsolo de
um terreno poroso e pelos quais se distribui o efluen-
te, que oxida em contacto com o ar contido nos po-
ros do terreno. O poço de absorção substitui o cam-
po de oxidação, quando não se dispõe de terreno
suficiente para a instalação articulada do campo de
oxidação e do poço.
Caixa de separação de gorduras e sabão: Entre a habi-
tação e a fossa séptica deve -se construir uma caixa
para reter as gorduras das lavagens da cozinha. Esta
caixa também recebe as águas dos banhos e da lava-
gem da roupa que poderão ser reaproveitadas para
regar um jardim. Neste caso, este sistema intermé-
dio deve ser montado sem ligação à fossa nem ao
poço de absorção. A água sem gorduras passa pela
caixa, que também funciona como filtro, e depois é
conduzida para o jardim.
Tabela para o desenho das fossas sépticas:
Para se construir uma fossa, com as normas funcio-
nais, de forma a evitar problemas, devemos seguir
uma tabela que tem em conta os seguintes factores:
Para serviço doméstico: capacidade de 150 litros/
pessoa/dia e um período de retenção de 24 horas.
Para escolas: no período de trabalho escolar a
contabilização é feita com 8 horas de trabalho/
dia/pessoa. Para se calcular a capacidade de uma
fossa para uma escola estabelece -se a relação en-
tre o período de retenção (24 horas) e o período
de trabalho escolar (8 horas) e depois relaciona -se
o resultado com a capacidade doméstica.
Para exemplificar, apresentamos a seguinte
situação: temos as dimensões de uma fossa de
FIG. 6.10 Caixa de separação de gorduras e sabão.
121
ÁGUA
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ANEA
MEN
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uso doméstico que serve 40 pessoas. Queremos
saber quantas pessoas de uma escola uma fossa,
com as mesmas características daquela que já foi
executada, pode servir, se o período de funciona-
mento é de 8 horas. Dividimos o período de re-
tenção – 24 – pelo período de trabalho – 8. O re-
sultado é 3. Multiplicamos o resultado por 40
(capacidade da fossa). Então, concluímos que a
fossa pode servir uma população escolar de 120
pessoas (3x40).
FIG. 6.11 Tabela para o desenho das fossas sépticas.
FIG. 6.12 Fossa séptica -tipo. FIG. 6.13 Fossa séptica rectangular para dez pessoas.
123
CASO
S DE
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7.1 Análise de três casos de estudo
Neste capítulo é apresentado um trabalho de inves-
tigação realizado no âmbito de uma tese de Mestra-
do. Ilustra os principais passos metodológicos a con-
siderar para a análise de tipologias do edificado
existente na Guiné -Bissau, no que diz respeito es-
sencialmente ao seu desempenho ambiental e ener-
gético. O principal objectivo foi determinar a influ-
ência de técnicas de design passivo na promoção do
conforto, e em que medida o consumo energético as-
sociado aos equipamentos mecânicos pode ser evita-
do ou minimizado.
Este trabalho pode servir de ponto de partida
para estudos mais aprofundados nesta área, por
forma a serem obtidos resultados definitivos, que
possam, por exemplo, ser utilizados como referên-
cia na elaboração de regulamentos. A metodologia
seguida resume -se na FIGURA 7.1 .
Casos de estudo
Medições in situ
Moradia contemporânea
Moradia social
Moradia colonial
Sistemas de arrefecimento
Conforto e satisfação
Caracterização da amostra
Construção sustentável
Moradia proposta
Moradia colonial
Moradia vernacular
Simulações de edifícosQuestionários
FIG. 7.1 Casos de estudo – metodologia de investigação.
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As medições e os questionários foram realiza-
dos durante um trabalho de campo decorrido em
Abril e Maio de 2009, i.e. durante a época seca, no
período do ano em que se registam as máximas di-
árias anuais.
Paralelamente desenvolveram -se modelos habi-
tacionais baseados nas tipologias existentes, urba-
na e rural, e simulou -se o seu desempenho térmico
e energético no software Ecotect, propondo -se um
modelo padrão com características contemporâne-
as, para o ambiente urbano.
Medições in situ
Os aparelhos de medição permitiram registar os
níveis de temperatura e humidade em três edifí-
cios típicos habitacionais, localizados em zonas
urbanas distintas:
Moradia Social: casas de cooperativa, com pa-
redes de adobe reforçado e coberturas de zinco.
Localização: Bairro de Plano, Alto Bandim, em
zona costeira.
Moradia Colonial: paredes de blocos de betão e
cobertura de telha. Localização: Bairro Chão de
Papel, na proximidade de pântanos.
Moradia Contemporânea: paredes de tijolo ce-
râmico e cobertura de telha. Localização: Bairro
de Quelélé.
Os resultados das medições de humidade rela-
tiva ilustrados no gráfico seguinte, mostram que
quanto maior a proximidade à zona costeira maior
a humidade relativa interior.
FIG. 7.2 Bairros de Bissau e seus limites.
Delimitação dos Bairros onde foram realizadas medições de temperatura e humidade
125
CASO
S DE
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É possível observar que a moradia do Bairro de
Plano, é a que apresenta valores maiores de humida-
de relativa (entre os 63 e os 68% durante todo o
dia), seguida da moradia no Bairro de Chão de Papel,
e por último a moradia do Bairro de Quelélé, onde os
mínimos chegam aos 56%. O Bairro de Plano
encontra -se mesmo junto das margens do rio Geba,
beneficiando por isso da brisa costeira, mais húmida,
seguido do Bairro de Chão de Papel relativamente
próximo, e o Bairro de Quelélé mais distante.
A temperatura exterior é inferior na moradia do
Bairro de Plano, e com menor amplitude diária,
pois pela sua localização é natural beneficiar de
FIG. 7.3 Moradia do bairro habitacional de Plano. FIG. 7.4 Moradia do bairro habitacional de Quelélé.
brisas mais frescas, embora as médias sejam idên-
ticas para as três moradias.
A tendência diária é a mesma para as três loca-
lizações especificadas, com as mínimas a ocorre-
rem por volta das 7 da manhã, e máximas entre as
10 e as 16h. A maior amplitude térmica exterior
verifica -se na moradia do Bairro de Quelélé, com
mínimas de quase 22ºC, e máximas na ordem dos
32ºC, antevendo -se a possibilidade de tirar parti-
do da inércia térmica e da ventilação nocturna.
Em termos de temperatura interior, FIGURA 4.6 ,
a média na moradia do Bairro de Plano situa -se
nos 28ºC, com uma amplitude de 2ºC, do período
FIG. 7.5 Amplitudes da humidade relativa. FIG. 7.6 Amplitudes térmicas no exterior.
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mais fresco, para o período mais quente. A casa
contemporânea do Bairro de Quelélé é a habitação
que apresenta maior flutuação diária, cerca de
3,5ºC, com máximas de 30,5ºC e mínimas de 27ºC.
Não seria de se esperar que esta habitação apre-
sentasse o pior comportamento térmico uma vez
que a casa é de tijolo e telhas cerâmicas, mate-
riais de conhecida inércia térmica, no entanto é a
habitação mais afastada da costa.
Na moradia colonial o Chão de Papel verifica -se
uma mínima ligeiramente abaixo dos 28ºC e máxi-
ma de 30ºC.
Das medições de temperatura no interior, é
possível tirar essencialmente duas conclusões, a
primeira é que a tendência para a moradia do
Bairro de Plano apresentar temperaturas mais
amenas no interior confirma -se, a outra é que
nenhuma das três habitações está a tirar o maior
partido das flutuações de temperatura e humida-
de que ocorrem no exterior, principalmente a mo-
radia contemporânea de tijolo e telha do Bairro
de Quelélé, que é a que apresenta maior amplitu-
de térmica exterior.
FIG. 7.7 Amplitudes térmicas no interior das habitações.
Questionários
Caracterização da amostra
O questionário foi realizado na cidade de Bissau, no
total 100 indivíduos. 21% dos inquiridos são técni-
cos da área da construção, arquitectura e/ou urba-
nismo, em exercício da profissão na Guiné -Bissau.
De entre os vários grupos inquiridos incluem -se
os moradores do Bairro Cooperativo de Plano, do
conjunto habitacional de casas contemporâneas,
no Bairro de Quelélé, e do conjunto habitacional
do Bairro de Chão de Papel, alvos das medições.
Cerca de 30% dos inquiridos vive numa casa
de adobe e zinco, e 21% de Bloco e zinco, e 6%
de solo -cimento e zinco FIGURA 7.8 , isto é, cer-
ca de 57% das casas estudas são cobertas de
zinco, seguidos da cobertura de telha, em 25%
dos casos, e as restantes cobertas de aluzinco
ou fibrocimento.
No que toca ao material nas paredes, o adobe é
utilizado em 37% dos casos (simples ou reforçado com
cimento), e em 49% dos casos o bloco de betão, com
cobertura de zinco ou telha, conforme o poder econó-
mico de cada um. O uso do tijolo furado resume -se a
5% das casas referidas neste estudo, amostra a partir
da qual não é possível fazer uma análise conclusiva.
Relativamente aos materiais de construção pre-
feridos, as opções recaíram sobre:
Blocos de cimento: porque são mais resisten-
tes, consideram -se de construção definitiva, têm
maior durabilidade, são mais baratos, e apresen-
tam maior disponibilidade que o tijolo;
127
CASO
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Telha: porque é mais fresca, bonita, e durável;
O adobe tem menos aceitação por ser associa-
do a uma construção precária, de acordo com as
próprias classificações oficiais, e o zinco é referi-
do em 7% dos casos apenas por ser economica-
mente mais acessível. Com 83% dos inquiridos a
preferir telha, é facilmente constatável que, gran-
de parte da população prefere este material, mes-
mo sendo o uso do zinco mais comum.
FIG. 7.8 Características das habitações.
FIG. 7.9 Material preferido nas paredes.
FIG. 7.10 Material preferido na cobertura.
Níveis de satisfação
Embora os utentes revelem satisfação com a venti-
lação, segurança, iluminação natural e sistemas de
sombreamentos, existe uma percentagem conside-
rável que se encontra insatisfeita ou muito insatis-
feita com a temperatura e humidade, resultado que
pode indicar que, sendo os níveis de temperatura e
humidade elevados, seja difícil a manutenção do
conforto apenas por estratégias passivas.
As várias propriedades analisadas (temperatura,
humidade, ventilação, segurança, iluminação natu-
ral…) encontram -se ligadas a soluções construti-
vas como a abertura de vãos, prolongamento da co-
bertura, área de envidraçados, e existência de muros
de vedação e grades de protecção nas janelas, entre
outros. As respostas em relação à segurança não re-
caíram apenas na segurança estrutural, e sim na se-
gurança contra intrusos, ou roubos.
Os utentes das casas de bloco e zinco expres-
sam conforto no interior das suas habitações, em
cerca de 42% das respostas. Este facto pode ser
associado ao poder económico, superior numa
casa de bloco, à qualidade do zinco utilizado, para
além de que, nas respostas, a questão do recurso
a aparelhos de arrefecimento não está explícita, o
que influenciaria no nível de conforto.
Nas moradias de bloco e telha, o nível de satisfação
é ainda maior, havendo até quem se sinta muito satis-
feito, o que pode dever -se às características térmicas
da telha, ou mais uma vez ao poder económico dos
utentes, melhores isolamentos e acabamentos, ou ain-
da ao recurso a aparelhos mecânicos de arrefecimento.
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Relativamente à humidade, os utentes das ca-
sas de bloco e zinco são os que denotam maior ní-
vel de conforto, seguidos dos utentes das casas de
adobe e zinco.
Os níveis de insatisfação em geral registados, estão
associados à época das chuvas, altura em que a humi-
dade é maior, e à proximidade de zonas alagadas.
Na questão seguinte (o que melhoraria na sua ha-
bitação?), cerca de 26% dos inquiridos responde que
mudava a cobertura, ou ampliava a casa, de forma a
ter mais espaço. Enquanto 9% preferiam demolir e
fazer de novo, e 7% dos inquiridos respondem que
não mudavam nada. Justificações apresentadas:
Cobertura: Devido a infiltrações; substituição
de telhas partidas; mudança de zinco para telha,
devido ao barulho com a chuva, e infiltrações;
mudança para chapa galvanizada ou fibrocimento;
troca de fibrocimento por telhas; colocação de pa-
lha ou vegetação por cima do aluzinco;
Nada: casas de adobe ou bloco, e zinco;
Demolia: casas de adobe e zinco na maioria; casa
horizontal para fazer em altura; casa de taipa;
O factor a que é atribuída maior importância é
a segurança. O custo foi considerado o factor me-
nos importante, no sentido de ser um factor de-
pendente apenas do poder económico.
QUADRO 7.1 Nível de satisfação nas habitações (%).
Muito satisfeito Satisfeito Insatisfeito Muito insatisfeito
Temperatura 3 31 44 22
Humidade 5 52 29 14
Ventilação 16 55 18 11
Sombreamentos 13 76 8 3
Iluminação 14 66 16 4
Segurança 20 55 17 8
FIG. 7.11 Nível de satisfação em termos de temperatura para as principais tipologias.
FIG. 7.12 Nível de satisfação em termos de humidade para as principais tipologias.
129
CASO
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Este tópico mostra as prioridades na escolha
ou construção de uma habitação na Guiné.
A protecção contra à chuva é considerada uma
qualidade inerente à condição de casa, cuja fun-
ção de abrigar acaba naturalmente por proteger
contra à chuva. Por outro lado justificou -se que
“havendo segurança todas as outras característi-
cas estão asseguradas”, ou que “o custo não é im-
portante desde que sejam garantidas todas as
qualidades necessárias na casa”, devendo ser ga-
rantidas todas as qualidades da casa procurando-
-se sempre o menor custo, um princípio básico da
sustentabilidade na construção.
A estética, é considerada a propriedade menos
importante por 24% dos inquiridos, e mais impor-
tante por apenas 11%.
Em relação aos períodos de maior desconforto,
tanto a época seca como a das chuvas são citadas,
com as seguintes justificações:
Chuva: problemas de saneamento (escoamento
superficial deficiente, lixo, mau cheiro); apareci-
mento de insectos; humidade nas paredes (subida
de nível freático); vento forte (telhas partidas –
infiltrações); degradação dos materiais;
Seca: poeira; temperaturas elevadas.
FIG. 7.13 Tipos de alteração nas habitações.
FIG. 7.14 Nível de importância das propriedades de uma habitação.
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O período da quaresma, que vai de Março a
Maio ou Junho, isto é na transição da seca para a
chuva, é considerado por muitos como sendo o
mais quente da estação seca, o que é na verdade
a altura em que e atingem os picos de calor do
ano. E a altura do dia de maior desconforto é entre
as 12h e as 18h devido simplesmente ao calor.
Nada interessado Pouco interessado Interessado Muito interessado
0% 13% 46% 41%
FIG. 7.15 Períodos de maior desconforto.
Essenciais Melhor do que nada Dispensáveis Preferia não ter
31% 29% 21% 19%
QUADRO 7.2 Opinião sobre os aparelhos de ar condicionado.
Ventoinha Ar condicionado Os dois Nenhum
49% 6% 17% 28%
QUADRO 7.3 Percentagem que utiliza algum sistema mecânico de arrefecimento.
QUADRO 7.4 Nível de Interesse em sistemas passivos de arrefecimento.
Sistemas de arrefecimento
São colocadas 3 questões relativamente aos siste-
mas de arrefecimento, cujas respostas apresentam-
-se nos QUADROS 7.2, 7.3 e 7.4 .
Muitos consideram os aparelhos de ar condi-
cionado essenciais ou mesmo indispensáveis
(31%), tendo em conta o clima da Guiné, bastan-
te quente, no entanto, numa segunda abordagem
fala -se logo na questão da falta de energia eléc-
trica, que mesmo havendo, é com fraca intensi-
dade, tornando impossível a utilização destes
aparelhos. Pelo que, mesmo para os que os têm,
são muitas as referências de que não chegam a
utilizá -los, pois também muito dificilmente são
arrancáveis com geradores.
O que a maioria tem e não dispensa, são as
ventoinhas, mais baratas, e de menos consumo
energético (49% dos inquiridos).
131
CASO
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Quando confrontados com a possibilidade de uma
habitação em que o conforto no interior seja garan-
tido pelas regras construtivas, sem necessidade de
recursos aos sistemas mecânicos de arrefecimento, a
maioria dos inquiridos mostrou -se interessado (46%),
ou muito interessado (41%), considerando -se que
seria uma solução ideal. No entanto, denotam -se al-
gumas reservas na eficiência de uma solução deste
género (13%), pelo facto do clima ser muito quente.
O ponto forte desta solução, é o facto de minimizar
a necessidade de aparelhos mecânicos de arrefeci-
mento, muitas vezes impossíveis de ter, pela carên-
cia energética que se vive no país.
Construção sustentável
No que diz respeito à construção sustentável,
colocaram -se questões cujo objectivo era determinar
o nível de conhecimentos que já existe nesse domí-
nio, principalmente junto dos técnicos da área.
Na Guiné ainda não se falava em “construção
sustentável”, no entanto a construção, é feita
tendo em conta os pressupostos de uma constru-
ção sustentável, desde a procura de materiais dis-
poníveis localmente, até à preocupação com o que
é mais confortável termicamente, ou economica-
mente viável. O que ainda não incorpora os pro-
jectos são as demais técnicas de design passivo
para além da ventilação e sombreamentos. Na se-
lecção dos materiais pesa mais o poder económico
do utente, do que as características de inércia tér-
mica, levando à conclusão de que não importa
apenas a criação de soluções arquitectónicas sa-
tisfatórias sob o ponto de vista de um design bio-
climático, mas sim ter em conta a sua viabilidade
económica. A economia, é um factor muito impor-
tante na Guiné -Bissau, país onde 64,7% da popu-
lação vive numa situação de pobreza, com menos
de 2 dólares/dia (Documento de Estratégia Nacio-
nal de Redução da Pobreza, 2005).
Independentemente do conhecimento já exis-
tente sobre a construção sustentável, 99% dos in-
quiridos mostra -se interessado ou muito interes-
sado em saber mais sobre o assunto.
No âmbito da construção sustentável também
é importante falar na importância das energias re-
nováveis. Mais de 90% dos inquiridos consideram
os painéis solares importantes, ou muito impor-
tantes, principalmente num país cheio de sol (du-
rante o ano todo) como é a Guiné, e onde a ener-
gia pública é escassa, mas faz -se referência ao
investimento inicial elevado, como uma condicio-
nante à adopção destas soluções.
Sim Não
Técnicos da área 62% 38%
Restantes inquiridos 46% 54%
QUADRO 7.5 Nível de familiarização com os conceitos de uma construção sustentável.
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As características consideradas importantes para
a construção para habitação na Guiné mostram pre-
ferência por casas grandes e horizontais, falando -se
também em prédios de 3 a 4 pisos, no custo aces-
sível e na existência de zonas de convívio e laser, e
da importância de materiais frescos como a palha e
a telha e duráveis como os blocos de betão.
Simulações de edifícios
As simulações foram feitas com recurso ao softwa-
re Ecotect, 5.20, desenvolvido por Andrew J. Mar-
sh da Universidade de Cardiff, o qual no âmbito da
arquitectura bioclimática possibilita uma modela-
ção expedita, em termos elementares, do desem-
penho energético e de conforto ambiental.
FIG. 7.16 Características que as construções para habitação deveriam ter na Guiné -Bissau.
Moradia vernacular redonda Moradia vernacular rectangular Moradia colonial social
FIG. 7.17 Modelos de edifícios simulados.
133
CASO
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Simularam -se 3 modelos de edifícios para habi-
tação, com base em algumas das tipologias exis-
tentes discutidas no capítulo 2: vernacular redon-
da, vernacular quadrada, e colonial (social).
Moradias existentes
Moradia vernacular redonda
O modelo de casa vernacular redonda foi criado com
base nas características da habitação Bijagó.
Apresenta -se o comportamento térmico desta
habitação, para os dias medianamente mais quen-
te e medianamente mais frio do ano.
No dia mais quente do ano, a temperatura radian-
te média é na ordem dos 32,6ºC; enquanto no dia
mais fresco do ano, a temperatura radiante média
situa -se nos 24,6 ºC.
É possível observar que o dia mais condicio-
nante é 9 Julho, em que a temperatura média no
interior da habitação se situa nos 32.5ºC, bastan-
te acima da banda de conforto estipulada.
Para o dia mais frio a temperatura do ar
encontra -se dentro da banda de conforto, com um
valor médio de 25ºC.
Paredes de Taipa Cobertura de Colmo Alicerce de Terra
Espessura (mm) 300 150 500
QUADRO 7.6 Características do modelo de moradia vernacular redonda.
FIG. 7.18 Análise do Conforto Térmico – MRT dia mais quente.
FIG. 7.19 Análise do Conforto Térmico – MRT dia mais frio.
FIG. 7.20 PPD, dia mais quente.
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HOUR LY T E MPE R AT UR E S - Casa principal Monday 9th July (190) - Bissau, Guiné-Bissau
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Outside T emp. Beam S olar Diffuse S olar W ind S peed Zone T emp. S elected Zone
HOUR LY T E MPE R AT UR E S - Casa principal Friday 12th January (12) - Bissau, Guiné-Bissau
FIG. 7.21 Temperatura horária no dia mais quente – Moradia redonda. FIG. 7.22 Temperatura horária no dia mais frio – Moradia redonda.
134AR
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Moradia vernacular quadrada
O modelo de casa vernacular rectangular utilizado
possui as características de uma habitação típica Man-
jaca, que é quadrada, e a cobertura vem apoiada em
prumos, deixando um espaço ventilado entre as pare-
des e a cobertura. A Espessura é ligeiramente inferior,
e existe um forro entre a cobertura e o interior.
A média da temperatura radiante é de 32ºC
para o dia mais quente, e abaixo dos 24ºC (cerca
de 19 ºC), para o dia mais frio.
A percentagem de insatisfeitos no dia mais
quente é na ordem dos 93%, e no dia mais frio
fica -se pelos 45%.
Os meses mais condicionantes são os mais
quentes. No dia mais quente, a temperatura per-
manece acima dos 30ºC, enquanto no dia mais frio
apresenta -se inferior aos 25ºC registados na casa
redonda, principalmente no período nocturno.
Paredes de Taipa Cobertura de Colmo Varanda circundante
Espessura (mm) 250 150 200
QUADRO 7.7 Características do modelo de moradia vernacular quadrada.
FIG. 7.23 MRT, dia mais quente. FIG. 7.24 PMV, dia mais frio
FIG. 7.25 PPD, dia mais quente. FIG. 7.26 PPD, dia mais frio.
135
CASO
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Moradia colonial
A moradia colonial criada foi adaptada do modelo
social construído na época colonial, para o bairro
de Santa Luzia.
Esta moradia possui ainda tecto falso, janelas
envidraçadas, e varanda exterior. A análise térmi-
ca a revela que o MRT para o dia mais quente é
mais baixo, apresentando um valor médio de
24,97ºC, enquanto para o dia mais frio é de
19,10ºC. Tal descida justifica -se pelo material pre-
sente nas paredes, blocos de betão, onde a baixa
inércia térmica do cimento reflecte -se na capaci-
dade de calor que este material consegue reter,
apresentando um valor mais baixo de temperatura
radiante. Este resultado também é influenciado
pela espessura da parede, como se mostra na aná-
lise comparativa, mais adiante.
É importante referir que, embora os valores da
temperatura radiante sejam inferiores, aos dois
casos anteriormente apresentados, a temperatura
do ar interior mantém -se elevada, principalmente
no dia mais quente.
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HOUR LY T E MPE R AT UR E S - Quarto_chefe Monday 9th July (190) - Bissau, Guiné-Bissau
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Outside T emp. Beam S olar Diffuse S olar W ind S peed Zone T emp. S elected Zone
HOUR LY T E MPE R AT UR E S - Quarto_chefe Friday 12th January (12) - Bissau, Guiné-Bissau
FIG. 7.27 Temperatura horária no dia mais quente FIG. 7.28 Temperatura horária no dia mais frio
Paredes de Bloco Cobertura de Fibrocimento Piso de betonilha
Espessura (mm) 250 8 200
QUADRO 7.8 Características do modelo de moradia colonial.
FIG. 7.29 MRT para o dia mais quente (esquerda) e dia mais frio (direita).
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Análise comparativa
Justifica -se agora desenvolver uma análise com os
parâmetros do dia mais típico, aquele cujas condi-
ções se verificam mais vezes ao longo do ano, o dia
22 de Setembro. É um dia típico, apresentando um
valor de temperatura média semelhante ao das mé-
dias diárias para os 365 dias do ano, e uma máxima
igual à moda (e média) das máximas diárias, e mí-
nima igual à moda (e média) das mínimas diárias.
Os resultados em termos de temperatura nos
principais compartimentos (quartos) são apresen-
tados no QUADRO 7.10 , para as 3 habitações.
Desta análise conclui -se que, para esta situa-
ção típica, o modelo com melhor comportamento
é a moradia vernacular quadrada. Nesse período as
diferenças de temperatura entre o exterior e o in-
terior chegam a ser de -5.8ºC (às 15h, hora de
maior calor), o que é uma variação considerável.
FIG. 7.30 Temperatura horária no dia mais quente – moradia colonial.
FIG. 7.31 Temperatura horária no dia mais frio – moradia colonial.
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Outside T emp. Beam S olar Diffuse S olar W ind S peed Zone T emp. S elected Zone
HOUR LY T E MPE R AT UR E S - Quarto Monday 9th July (190) - Bissau, Guiné-Bissau
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HOUR LY T E MPE R AT UR E S - Quarto Friday 12th January (12) - Bissau, Guiné-Bissau
Min Med Máx
Temperatura 23.3 28.5 34.3
Hora
Moradia redonda Temp
Moradia quadrada Temp
Moradia colonial Temp
Exterior Temp
Média 29.32 28.80 29.65 28.5
Desvio Padrão 0.14 0.38 0.49 3.9
MRT (15h) 28.95 28.56 22.59 34.3
QUADRO 7.9 Condições térmicas para um dia típico – 22 de Setembro.
QUADRO 7.10 Resultados da temperatura do ar nos quartos – 22 de Setembro.
137
CASO
S DE
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No entanto, no período nocturno, em que as tem-
peraturas no exterior são mais baixas (com míni-
mas de 23.3ºC), o interior apresenta -se mais quen-
te, com uma amplitude que atinge os 5.9ºC. Este
comportamento reflecte uma propriedade de pare-
des com elevada massa térmica, que conseguem
armazenar o calor que recebem do exterior duran-
te muito tempo antes de o libertar para o interior,
o que acaba por ocorrer no período nocturno, em
que as temperaturas são mais amenas. Neste caso
poder -se -ia reduzir significativamente a tempera-
tura interior através de ventilação nocturna.
Observando o caso das paredes de betão, com
a baixa inércia térmica característica de materiais
a base de cimento, nota -se o inverso: o ar interior
rapidamente é aquecido à tarde, apresentando va-
lores elevados de temperatura, no entanto com rá-
pido arrefecimento à noite. Este material faz com
que o edifício se apresente quente ou frio, confor-
me as variações da temperatura exterior, enquanto
a taipa conserva no interior uma temperatura mais
ou menos constante (o desvio padrão é muito in-
ferior nas duas habitações de taipa).
A ausência quase total de janelas nas habita-
ções de taipa, também contribui para a constân-
cia da temperatura interior, sendo positiva duran-
te o período de maior calor (a casa actua como um
envelope protector), mas pouco interessante à
noite, pois torna impossível tirar partido do arre-
fecimento por ventilação nocturna.
A diminuta temperatura interior no período da
tarde na habitação quadrada (sem dúvidas a habi-
tação que apresenta melhor comportamento tér-
mico) também pode ser explicada pela presença
do forro interior revestido de barro, que para além
de funcionar como pára -fogo, aumenta a inércia
térmica na cobertura, elemento mais exposto em
qualquer habitação.
7.2 Moradia proposta
A moradia modelada é uma casa típica contempo-
rânea, de um piso, com paredes de blocos de be-
tão, e cobertura de telha.
Ensaiaram -se variações essencialmente sob o pon-
to de vista da orientação, percentagem de envidraça-
dos, iluminação natural, sombreamentos, inércia tér-
mica, isolamentos, ventilação, e tipos de vidro.
As análises são feitas em termos de necessida-
des de arrefecimento, traduzidas em consumo
energético necessário para que as condições tér-
micas se encontrem dentro da faixa de conforto.
Orientação
O edifício foi orientado segundo o eixo E-W, com
as fachadas principais no eixo N-S, e calculou-se
o nível de insolação em cada fachada. É possível
observar que todas as fachadas apresentam forte
exposição solar, facto que se prende com a locali-
zação geográfica do país, junto do equador. Ainda
assim, a fachada Norte, sendo mais protegida da
radiação solar, apresenta menor insolação, segui-
da da fachada Sul. Na fachada Oeste o nível de in-
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solação ascende ao valor médio de 149 Wh/m2,
pois durante o período da tarde a radiação chega
a incidir perpendicularmente, sendo esta a facha-
da mais condicionante.
A orientação segundo o eixo E-W é a que favo-
rece a protecção contra a radiação solar nas fa-
chadas principais, ao mesmo tempo que permite
tirar partido da ventilação natural, com ventos
dominantes de Nordeste.
Áreas de Envidraçado
A distribuição dos vãos envidraçados pelas fachadas
foi feita com base na orientação pré -definida, e com
especial atenção ao máximo aproveitamento solar
para iluminação natural e conforto visual, sem con-
tribuir para o sobreaquecimento global.
Optou -se por distribuir maior percentagem de
envidraçados nas fachadas N e S, por serem as que
apresentam menor insolação média diária (por m2
de área). Nas fachadas E e W colocou -se a menor
percentagem de envidraçados, em consideração à
incidência solar directa durante o nascer, e o pôr-
-do -sol, respectivamente.
Verifica -se que a alteração de envidraçados não
tem muita influência nos consumos energéticos,
sendo a melhor solução com 30% de envidraçados
a Norte e a Sul, e 15% nas restantes fachadas.
Mantendo a percentagem máxima na fachada
mais protegida ao sol (Norte), simulou -se ainda a di-
minuição da percentagem de envidraçados nas res-
tantes fachadas de onde resultam as soluções B3, B4
e B5, nenhuma com resultados mais satisfatórios.
N S E W
Média diária (Wh/m2) 65.3 87.4 104.6 149.0
Área de fachada (m2) 43.5 43.5 26.1 26.1
QUADRO 7.11 Níveis de insolação nas 4 fachadas.
Solução Envidraçados N‑S‑E‑W (%) Total (kWh/m2)
B1 30-30-15-15 (90) 6.11 Sol.1
B2 30-15-30-15 (90) 6.14
B3 30-20-15-15 (80) 6.19
B4 30-15-20-15 (80) 6.20
B5 30-15-15-15 (75) 6.19
QUADRO 7.12 Consumos energéticos para diferentes áreas de envidraçado.
139
CASO
S DE
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Poderia também ter -se simulado o aumento de
envidraçados na fachada Norte para 40%, no entan-
to não há necessidade, uma vez que os 30% res-
pondem satisfatoriamente aos níveis de iluminação
e conforto visual requeridos, conforme se apresenta
de seguida, na simulação de iluminação natural.
Iluminação Natural
Em termos de iluminação natural adoptou -se como
critério a maximização de áreas passivas (áreas que
podem ser iluminadas e arrefecidas por meios natu-
rais, não mecânicos) e garantia de que o comparti-
mento menos favorecido pela luz natural (o corre-
dor) beneficiaria pelo menos de 100 lux.
No QUADRO 7.13 , mostra -se a variação dos
consumos energéticos de acordo com as altera-
ções efectuadas na solução 1, na planta interior e
no material das portas.
A melhoria verificada no quadro acima deve -se
essencialmente à melhor disposição interior, sa-
lientando a importância da maximização de áreas
passivas, como factor determinante para a efici-
ência energética dos edifícios, na medida em que
contribui significativamente para a redução dos
consumos e aumento do conforto visual.
Com a solução 1, obtém -se boa iluminação na-
tural na fachada principal, e nas laterais. No entan-
to, a zona central (corredor) e parte da cozinha
QUADRO 7.12 Consumos energéticos para diferentes áreas de envidraçado.
Solução 1 Planta alterada Portas de vidro
Total (kWh/m2) 6.11 5.74 5.75 Sol.2
QUADRO 7.13 Consumos energéticos para alterações em planta.
SALA ESTAR
SALA JANTAR COZINHA I.S. QUARTO - 16.8 M2
HALL ENTRADA QUARTO - 12 M2 QUARTO - 16,8 M2
I.S.
1.0
14.5
8.7
0.2
3.11.61.0
3.1
2.0
2.0
2.0
2.0
2.0 0.6 3.1 3.1
FIG. 7.32 Planta inicial.
FIG. 7.33 Iluminação natural para a solução inicial (à direita, em cima).
FIG. 7.34 Iluminação natural para a solução alterada (à direita, em baixo).
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apresentam um nível de iluminação natural inferior
a 100 lux, sugerindo luz solar insuficiente.
A alteração da planta interior, com transforma-
ção dos três compartimentos interiores a sul, em
dois, reduz as áreas activas, resultando em ganhos
bastante positivos em termos de iluminação natu-
ral, e também em diminuição dos consumos ener-
géticos. Simulou -se ainda a alteração das portas
dos quartos a Oeste, e a porta central da sala para
o corredor, inicialmente em madeira, para vidro. O
resultado, na FIGURA 7.34 , mostra a valorização
em termos de iluminação passiva, especialmente
no corredor, que passa assim a apresentar mais do
que o mínimo requerido, sem aumento significati-
vo nos consumos.
Sombreamentos
As alturas que se revestem de maior interesse para
as análises em questão correspondem ao solstício
de verão, em que o hemisfério Norte se encontra
inclinado contrariamente ao sol, e o solstício de
inverno em que o mesmo hemisfério se encontra
inclinado para o sol. Os equinócios, alturas em
que o sol se encontra sobre o equador revestem -se
de menos importância, pois, durante estes os som-
breamentos conseguem -se basicamente através da
própria cobertura.
Para os dias 21 de Junho (solstício de verão) e 21
de Dezembro (solstício de inverno), os períodos mais
condicionantes são durante o nascer e o pôr -do -sol,
e as fachadas mais afectadas a Este e Oeste.
Nessa sequência foram simulados a criação de va-
randa exterior fechada na fachada Norte (considera-
da não ventilada pois o regime de ventilação é de-
pois simulado para toda a moradia), o prolongamento
da cobertura em beiral, e a criação de um alpendre
em redor de toda a casa para protecção dos vãos.
Apesar da solução com varanda resultar à pri-
meira vista pior para os consumos energéticos,
esse aumento de consumos deve -se apenas ao fac-
to de neste momento a varanda figurar como mais
um compartimento a arrefecer através do sistema
de ar condicionado.
Durante o solstício de verão, o sol encontra -se
mais a Norte, existe um sombreamento permanen-
te na fachada sul da moradia que não acontece
para a fachada norte.
Adoptou -se então a criação de uma varanda
exterior, ao longo de toda a fachada norte, o que
resolve o problema da insolação nesta.
Solução 2 Varanda Beiral Palas Beiral + Alpendre
Comprimento (mm) – 1500 500 700 700 500+700 400+700 Sol.3
Total (kWh/m2) 5.75 6.03 5.63 5.54 5.54 4.39 6.04
QUADRO 7.14 Consumos energéticos para soluções de sombreamento.
141
CASO
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Na FIGURA 7.38 apresenta -se a situação para o
solstício de inverno, mais condicionante para a fa-
chada sul.
Adicionalmente experimentaram -se aumentos no
comprimento do beiral da cobertura, para protecção
das paredes exteriores e dos vãos contra a radiação
solar, e palas horizontais. O desempenho dos siste-
mas adoptados é observado nas três fachadas que re-
manescem desprotegidas (S, E, e W), durante o sols-
tício de inverno. A alteração importante que se
verifica é a existência de zonas das paredes a S, E, e
W, que passam a estar sombreadas, enquanto na so-
lução inicial, essas fachadas encontravam -se total-
mente desprotegidas, durante os períodos do ano em
que o sol se encontra a sul do equador.
Tendo em conta as condições climatéricas locais,
que não se prendem apenas com a radiação solar,
mas também com as chuvas intensas durante metade
FIG. 7.35 Projecção da sombra no solstício de verão, fachada Sul.
FIG. 7.36 Projecção da sombra no solstício de verão, fachada Norte.
FIG. 7.37 Projecção da sombra na fachada norte, com varanda exterior– 21 de Junho, 13h.
FIG. 7.38 Projecção da sombra no solstício de inverno, fachada Sul(esquerda).
FIG. 7.39 Projecção da sombra no solstício de inverno, fachada Norte.(direita).
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das as fachadas encontram -se protegidas, haven-
do apenas um curto período de tempo durante a
nascente e o poente, em que as fachadas Este e
Oeste, respectivamente, apanham radiação solar
directa. Uma outra opção possível, mas mais dis-
pendiosa, para a protecção das paredes exteriores
e envidraçados seria a criação de varanda exterior
em redor de toda a casa, no entanto como já se
viu, a varanda cria uma zona de calor que tem de
ser correctamente ventilada, e durante a estação
húmida requer -se que parte das paredes apanhe
sol para evitar humidades interiores.
Inércia térmica
De acordo com o Regulamento Geral de Construção
e Habitação Urbana na Guiné -Bissau, em vigor:
A espessura mínima estipulada para edificações
destinadas à habitação é em geral de 200 mm;
Admite -se a possibilidade da construção de pa-
redes exteriores em alvenaria de pedra, sendo para
esse caso a espessura mínima de 400 mm.
FIG. 7.40 Projecção da sombra na fachada NW e NE – 21 de Dezembro, 13h.
FIG. 7.41 Projecção da sombra na fachada sul com alpendre – 21 de Dezembro, 13h.
do ano, que podem ser responsáveis por condições
interiores de desconforto devido à humidade, optou-
-se pela alteração das palas horizontais, propícias à
humidade, por alpendres inclinados, com revesti-
mento semelhante à cobertura.
Com a solução apresentada, consegue -se que
as paredes e os envidraçados se encontrem prote-
gidos do sol durante a maior parte do tempo, e
principalmente nos períodos mais condicionantes.
Quando o sol se encontra alto, a meio do dia, to-
143
CASO
S DE
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UDO
No que diz respeito à protecção contra variações tér-
micas e humidade, as paredes de edificações de carác-
ter permanente devem ser equivalentes pelo menos à
parede de alvenaria de blocos furados de betão, com
200 mm de espessura, rebocada em ambos os paramen-
tos, sem prejuízo de que, o seu coeficiente de transmis-
são térmica médio seja superior a 2.5 W/m2 ºC.
A variação da inércia térmica foi simulada
adoptando -se materiais mais à base da argila, co-
nhecida pelas suas boas propriedades de elevada
inércia térmica. Testou -se então a substituição dos
blocos de betão por tijolos cerâmicos perfurados, e
por adobe reforçado (ou solo -cimento), e ainda, o
aumento da espessura do bloco de betão.
A parede de tijolo furado para respeitar o regula-
mento tem de ser dupla nas paredes exteriores, com
220 mm de espessura, podendo as paredes interiores
ser simples com 110 mm de espessura. Para o caso
em estudo, o teste é feito apenas para realçar as ca-
pacidades térmicas deste material, uma vez que no
presente momento não é produzido, nem comerciali-
zado no território nacional. Nas edificações de carác-
ter permanente a opção recai essencialmente sobre
os blocos de betão. Sendo assim é esta solução que
será testada nos pontos seguintes. O solo -cimento
ou adobe reforçado embora conhecido pelas suas
propriedades de resistência e inércia térmica, ainda
existem algumas reservas na sua aplicação em cons-
trução urbana de carácter definitivo, pois regula-
mentarmente ainda é considerado um material de
construção precário, designação contestável, pelas
inúmeras características que o tornam um material
bastante apropriado.
Uma vez provado que o comportamento dos blo-
cos de betão melhora com o aumento da espessura
da parede, procede -se às análises seguintes a partir
da solução 3 (paredes de blocos de 200 mm), sendo
de reter que qualquer solução optimizada apresen-
tará um comportamento melhor quando o material
nas paredes for substituído por blocos de 250 mm,
por tijolo cerâmico, ou ainda por solocimento.
Isolamentos
A prescrição de isolamentos nos materiais em con-
tacto com o exterior é uma das formas possíveis
de protecção contra o calor, e humidade. A análise
foi conduzida testando alterações na cobertura
QUADRO 7.16 :
Solução 3/ blocos Blocos Tijolo furado Bloco solo ‑cimento
Total (kWh/m2) 4.39 3.98 3.49 4.09
Espessuras (mm) 200 250 220 240
U (W/m2ºC) 2.27 2.05 1.08 1.97
QUADRO 7.15 Consumos energéticos para diferentes soluções de parede.
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Painéis sandwich de chapa de zinco com isola-
mento interior em poliestireno expandido (EPS);
Isolamento na base das telhas cerâmicas (EPS);
Isolamento no tecto falso à base de fibras de vidro;
E nas paredes QUADRO 7.17 :
Paredes duplas de tijolo furado, com isolamento
e caixa -de -ar;
Paredes de bloco de betão com isolamento inte-
rior e exterior.
A solução de isolamento pelo exterior da pare-
de, requer algum cuidado, pois embora mais efi-
ciente na protecção contra o calor, pode resultar
incompatível com o clima durante o período das
chuvas. A solução de parede dupla de tijolo com
caixa -de -ar e isolamento é testada, mais no senti-
do de comprovar as suas qualidades únicas, no en-
tanto não é objectivo deste estudo utilizar apenas
o melhor material, mas sim testar o compromisso
entre soluções termicamente satisfatórias e eco-
nomicamente viáveis.
Adopta -se então a solução combinada de paredes
de blocos de betão com isolamento exterior em EPS,
com a cobertura de painéis sandwich para a fase se-
guinte em que será testado um regime de ventilação.
Comparando -se a solução obtida com as que
até então devolveram melhores resultados,
verifica -se que a opção é coerente pois tanto para
a solução de paredes duplas de tijolo, como para
a solução e cobertura em telha com isolamento, a
diferença em kWh/m2 é inferior a 0,1.
Solução 3 Painéis sandwich Telha com isolamento Tecto com isolamento
Isolamento – EPS EPS Fibra de vidro
Espessura (mm) – 30 30 30
Total (kWh/m2) 4.39 4.44 4.48 4.05
QUADRO 7.16 Consumos energéticos para soluções de isolamento na cobertura.
Solução 3 Tijolo duplo Bloco com isolamento int. Bloco isolamento ext.
Isolamento – EPS + caixa-de-ar EPS EPS
Espessura (mm) – 30 30 30
Total (kWh) 4.39 3.35 3.44 3.37
QUADRO 7.17 Consumos energéticos para soluções de isolamento nas paredes.
145
CASO
S DE
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Ventilação
A ventilação foi simulada com o regime de modo
misto (mixed ‑mode system), combinando o siste-
ma de ar condicionado com a ventilação natural.
Sempre que as condições exteriores estiverem
dentro da banda de conforto, o sistema de ar con-
dicionado desliga.
Esta solução é a que devolve melhores resulta-
dos, confirmando a ideia inicial de que a ventila-
ção natural é a melhor estratégia de dissipação de
calor nos climas quentes. Para essa solução
simulou -se ainda alteração do tipo de vidros,
obtendo -se pouca variação nos resultados. A am-
plitude térmica interior no compartimento princi-
pal é a que se apresenta na FIGURA 7.42 , com uma
média de 28.4ºC, valor perfeitamente aceitável
para a banda de conforto considerada.
Os resultados obtidos permitem a compreensão
do desempenho ambiental das diferentes soluções
simuladas, sendo útil essencialmente na compara-
ção de cenários. Para resultados absolutos de con-
sumos energéticos, propõe -se simulações, com
softwares mais complexos, especificamente dedi-
cados a análises energéticas, como os baseados
em regulamentos de térmica ou softwares do âm-
bito do EnergyPlus.
Sistema de modo misto
Total (kWh/m2) 0.83 Sol.5
QUADRO 7.19 Consumos energéticos em regime de ventilação de modo misto.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22-10 0.0k
0 0.4k
10 0.8k
20 1.2k
30 1.6k
40 2.0k
°C W / m²
Outside T emp. Beam S olar Diffuse S olar W ind S peed Zone T emp. S elected Zone
HOUR LY T E MPE R AT UR E S - Quarto_1 S aturday 22nd S eptember (265) - Bissau, Guiné-Bissau FIG. 7.42 Temperatura horária para um dia típico – Moradia proposta.
Painéis sandwich + isolamento parede ext.
Total (kWh/m2) 3.43 Sol.4
QUADRO 7.18 Consumos energéticos para a solução de isolamentos.
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7.3 Conclusões
Na Guiné -Bissau, país de clima tropical quente e
húmido, os principais problemas associados ao
clima são o excesso de calor e o aparecimento de
sinais de humidade nos elementos construtivos,
principalmente durante a época das chuvas.
O calor é apontado como a maior causa para o
desconforto, tendo se verificado que, embora exista
o desagrado relativamente ao desempenho térmico,
em termos das restantes propriedades como a venti-
lação, os sombreamentos, e a iluminação natural, os
utentes mostram -se bastante satisfeitos.
As medições de temperatura e humidade confir-
mam a situação de desconforto térmico no interior
das moradias, independentemente dos materiais apli-
cados, no entanto com melhorias de conforto na mo-
radia em ambiente mais húmido, localizado em zona
costeira. Pensa -se que esta melhoria deve -se essen-
cialmente ao aproveitamento das brisas do rio, mais
frescas, pelos vãos adequadamente distribuídos, e
pela cobertura ventilada. Por outro lado, registaram-
-se amplitudes diárias entre 6 a 10ºC nas três mora-
dias analisadas em localizações diferentes, sugerindo
a existência de condições para se tirar partido da inér-
cia térmica, associada à ventilação e radiação noctur-
nas, na promoção do arrefecimento passivo.
A questão do aumento da inércia deve ser vista
com algum cuidado. Por um lado, materiais de elevada
inércia térmica preservam a temperatura fresca duran-
te o dia, libertando o calor apenas à noite, altura em
que beneficiam da ventilação nocturna para a sua dis-
sipação. Por outro, massas térmicas eficazes levam
mais tempo a arrefecer. Neste estudo verificou -se nas
simulações da moradia proposta que o aumento da es-
pessura da parede leva a uma diminuição em termos
de consumos energéticos, e na análise dos modelos
existentes verificou -se que os modelos tradicionais de
paredes de taipa apresentam um patamar mais mode-
rado e constante para a temperatura interior, com me-
lhorias significativas quando associadas a cobertura
ventilada (casa tradicional quadrada), neste último
com a média diária nos 28.8ºC, valor de conforto, de
acordo com Salmon (1999) para estas regiões.
No modelo proposto, com blocos de betão nas pa-
redes (material de reduzida inércia térmica), a venti-
lação natural é a estratégia mais determinante na re-
Consumos energéticos para diferentes tipos de vidro
Caixilhos de alumínio Caixilhos de madeira
Mês Simples Persianas Duplo simples Duplo Duplo_low-E
PER M² 0.83 0.83 0.82 0.82 0.82 0.81
QUADRO 7.20 Consumos energéticos para diferentes tipos de janelas.
147
CASO
S DE
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dução de consumos associados à climatização artificial.
O que se simulou foi um sistema modo misto (Mixed‑
‑mode system), que se desliga automaticamente sem-
pre que as condições térmicas exteriores estiverem
dentro da banda de conforto, admitindo a abertura
das janelas. Os resultados obtidos realçam a vantagem
da promoção de conforto através da ventilação natu-
ral e radiação, principalmente em regime nocturno.
Os melhores materiais para o espaço urbano
são o tijolo e a telha, no entanto, neste estudo
optou -se por procurar soluções acessíveis ao maior
número de utentes possível, portanto, procurou-
-se adaptar as soluções actualmente mais pratica-
das como sejam o bloco de betão e o zinco.
Os painéis sandwich com isolamento interior re-
velam um comportamento quase tão eficiente quan-
to a telha no modelo proposto, no que diz respeito
aos consumos energéticos para a manutenção do
conforto interior. Em relação à cobertura de telha,
contrariamente ao esperado, a melhor solução de
isolamentos verificou -se no tecto e não na telha.
Contudo a prescrição de isolamentos em climas quen-
tes exige alguma razoabilidade, pois tal como acon-
tece com a inércia térmica, funcionam nos dois sen-
tidos, impedindo a entrada do calor do exterior, mas
também dificultando a dissipação do calor que já se
encontra no interior. Por isso, recomenda -se que este
se encontre próximo do exterior, para impedir a en-
trada do calor e não o contrário. Mas, prevendo -se a
utilização de aparelhos de ar condicionado, pode re-
sultar mais económico aumentar o nível de isola-
mento, em todas as envolventes externas.
Nos sistemas de sombreamento a melhor solução
na moradia proposta foi a adição de um alpendre in-
clinado sobre os vãos, em redor de toda a moradia,
com material de revestimento idêntico ao da cobertu-
ra. A criação de varanda exterior na fachada principal
resultou numa solução isoladamente pouco eficiente,
provocando um ligeiro aumento nos consumos ener-
géticos por metro quadrado, mas quando associado
aos restantes sistemas de sombreamento como a cons-
trução de alpendre e o prolongamento da cobertura,
a eficiência energética da moradia aumenta.
Ainda na moradia proposta a maior alteração
verificada nos consumos energéticos ocorre com a
simulação simultânea de ventilação natural asso-
ciada ao sistema de ar condicionado. Por outro
lado, a alteração de envidraçados pouca influência
teve nos resultados, foi mais determinante a ma-
ximização de áreas passivas, do que propriamente
a optimização dos envidraçados. Com a ventilação
natural garantida nos períodos em que ocorrem os
mínimos de temperatura, o tipo de vidro utilizado
não provoca alterações nos resultados, sendo per-
feitamente adequada a utilização de vidros sim-
ples. Durante as análises procurou -se a optimiza-
ção do modelo em termos de desempenho térmico,
mas tendo sempre em atenção o aspecto económi-
co da solução adoptada. Pois, ainda que a longo
prazo o custo inicial seja reversível, o fraco poder
económico da maioria dos utentes não permitiria
um investimento inicial muito elevado.
Os equipamentos mecânicos admitidos neste
estudo podem facilmente funcionar à base de
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energias renováveis, captadas por exemplo atra-
vés dos painéis solares.
O domínio das energias renováveis, tal como o das
tecnologias associadas à produção de materiais à base
da terra, requer alguma consideração, pelos vários as-
pectos positivos de que se reveste a sua adopção.
A terra crua é apelativa quer pela sua disponi-
bilidade, características de elevada inércia térmi-
ca, quer pelo baixo consumo energético envolvido
na sua transformação e aplicação, e mão -de -obra
disponível. Os materiais à base da argila, como se-
jam os tijolos e telhas cerâmicos, também se apre-
sentam com comportamentos satisfatórios tanto
em termos de resistência, como de desempenho
térmico, rapidez na construção, e durabilidade.
Estes recursos apresentam grande potencial de
viabilidade, mas requerem estudos e algum investi-
mento inicial, logo é necessário, primeiro que inte-
grem os objectivos e as prioridades estabelecidas pe-
las autoridades responsáveis pela organização e
gestão do sector da construção e urbanismo no país.
No que diz respeito ao urbanismo, os problemas
referidos em diagnóstico, embora não tenham sido
o alvo central deste trabalho, requerem alguma
atenção, pois o panorama actual não deixa dúvidas.
Admite -se a necessidade de maiores cuidados na
área do planeamento urbano. Problemas como a ca-
rência habitacional e de infra -estruturas de apoio
são resolúveis, através da criação de instrumentos
de aplicação a pequena escala, sendo os recursos
disponíveis concentrados na resolução de pequenas
parcelas do problema, bairro por bairro.
Em termos dos objectivos estabelecidos verifica-
-se que para o clima da Guiné, a maior forma de dis-
sipação do calor é através da ventilação, seguindo-
-se medidas de protecção por sombreamentos, e da
inércia térmica associada a uma boa ventilação.
O recurso a espaços exteriores arborizados, com ár-
vores altaneiras, também é importante, pois para
além de protecção, permitem a circulação do vento,
actuando directamente na redução da temperatura
do ar na envolvente. A arborização é importante
também no contexto urbanístico, na medida em que
protege tanto os edifícios, como as estradas, da ac-
ção directa e prolongada dos raios solares e da chu-
va, reduzindo o seu desgaste, ou por outras palavras
aumentando a sua durabilidade.
Os resultados do questionário realçam a pro-
blemática da habitação no principal centro urba-
no (Bissau), devido ao êxodo rural associado
também ao facto de os principais equipamentos
colectivos se encontrarem essencialmente no
centro da cidade. Embora a maioria dos utentes
denote preferência pela moradia isolada com lo-
gradouro à volta, modelo claramente bioclimáti-
co, pensa -se ser a altura ideal para o desenvolvi-
mento de soluções de prédios em altura, até um
máximo de 4 pisos (tendo em conta a realidade
do país, onde a carência energética ocupa ainda
um lugar de grande destaque). O desenvolvimen-
to de edifícios em altura ocupa menor área urba-
na, permitindo o desenvolvimento de mais áreas
verdes, e deixando espaços para os equipamen-
tos colectivos que devem acompanhar a expan-
149
CASO
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são urbana, para além da densificação em altura
ser mais adequada para a resolução dos proble-
mas habitacionais supracitados. A expansão para
o interior e a criação de autarquias regionais
também são medidas que actuariam na diminui-
ção do êxodo para a cidade.
A questão cultural que se prende com a prefe-
rência pela moradia unifamiliar isolada vai sendo
ultrapassada na actualidade, com tantos emigran-
tes e recém -licenciados a regressarem ao país,
após experiências de vivências em prédios.
Interessa agora fazer um à parte para referir a
questão da habitação vernacular. Estas habitações,
para além do conhecimento empiricamente adquiri-
do que encerram, representam um património úni-
co. A valorização das técnicas ancestrais, pela uti-
lização de termos mais adequados na caracterização
desta tipologia, e a delimitação séria e concreta de
zonas reservadas a este tipo de construção, ajuda-
ria a preservar o que a construção local tem de mais
genuíno, a tradicional palhota de barro, coberta de
colmo, para além de perfeitamente adequada ao
clima, quente, sendo a acção das chuvas evitada
pelos remates cuidadosos, prolongamento da co-
bertura e elevação da varanda.
O futuro da construção na Guiné -Bissau passa
indubitavelmente pela maior participação e envol-
vência do sector privado na construção, cabendo
ao estado assumir o seu papel de agente de con-
trolo e supervisão, conforme sugere Pereira (2001).
Este pode ser considerado o maior desafio a longo
prazo, aliado ao investimento em novas aborda-
gens, estratégias e tecnologias na concepção dos
edifícios, com a introdução de consciência am-
biental nos edifícios, conceitos que podem vir a
melhorar o desempenho das tipologias arquitectó-
nicas e construtivas existentes, determinando
também quais as abordagens mais acessíveis eco-
nomicamente, e climáticamente mais adaptáveis.
Factores como a qualidade da paisagem construí-
da, a preservação das diversidades culturais e dos
valores de identidade, são também a ser conside-
rados na racionalização e gestão do sector da
construção, adicionalmente aos aspectos técnicos
e económicos. A reabilitação ponderada dos inú-
meros edifícios coloniais que não apresentam ac-
tualmente condições mínimas de adequabilidade
ao uso, é também um desafio real na actual socie-
dade guineense.
As principais oportunidades que decorrem des-
te estudo são a aplicação das estratégias associa-
das ao arrefecimento passivo, tirando -se partido
da ventilação, do aproveitamento da luz solar para
iluminação natural e transformação em energia
eléctrica, a predilecção no uso de materiais locais,
preferencialmente materiais de fontes renováveis
ou com possibilidade de reutilização, e que mini-
mizem o impacto ambiental. Justifica -se a reali-
zação de mais investigação neste domínio, para a
confirmação da eficiência das estratégias que de-
volveram melhores resultados, bem como a reali-
zação de mais inquéritos, incluindo também o
meio rural, onde se encontram as casas de arqui-
tectura vernacular.
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É interessante num trabalho futuro, desenvolver-
-se a mesma abordagem com o software de análise
energética EnergyPlus, o qual permite a simulação
de sistemas de AVAC, e cujos resultados permitiriam
estabelecer uma correlação, com os aqui apresenta-
dos, bem como a simulação de um modelo de edifí-
cio em altura (até 4 pisos sem elevador, ou até 6 pi-
sos com elevador), para escritórios ou habitação.
7.4 Sumário: recomendações gerais para a Guiné‑Bissau
1 Orientação preferencial segundo o eixo E-W,
com predominância da fachada principal a Norte;
2 As maiores áreas de envidraçados devem ser
localizadas nas fachadas a Norte e Sul, por serem
as fachadas menos expostas ao sol e mais facil-
mente sombreadas, e minimização dos envidraça-
dos nas fachadas Este e Oeste;
3 Sombreamento de paredes e vãos envidra-
çados através do prolongamento dos beirais da
cobertura, e se possível com alpendre inclinado
em redor de todo o edifício ou apenas sobre os
vãos, evitando -se deste modo o desgaste dos re-
vestimentos das paredes, provocado pelo sol e/ou
pelas chuvas, e o sobreaquecimento ou apareci-
mento de humidades no interior;
4 Prescrição de varanda exterior logo na fase de
concepção, essencialmente na fachada principal;
5 Envolventes arborizadas, principalmente
para moradias isoladas;
6 Coberturas inclinadas, pois favorecem o es-
coamento rápido da água das chuvas, e diminuem
a área de exposição ao sol, evitando o sobreaque-
cimento do material (num plano inclinado, a área
de incidência do sol é menor);
7 A construção de forro ou tecto falso, mes-
mo nas moradias vernaculares, pois permitem
maior protecção ao calor;
8 A disposição dos vãos em linha, de acordo
com a direcção dos ventos dominantes (de nor-
deste), promovendo ventilação cruzada;
9 Janelas altas e sombreadas; pé -direito ele-
vado, para facilitar as renovações do ar interior;
10 Moradias sobrelevadas, para evitar a hu-
midade do solo;
11 Impermeabilizações na cobertura para
evitar humidades devidas a infiltrações;
12 O uso de chapas de zinco ou chapas galva-
nizadas (mais resistentes e duráveis), associados a
isolamentos, por exemplo em painéis sandwich, na
cobertura, para habitações mais económicas;
13 A prescrição de materiais isolantes na en-
volvente opaca, com a disposição de isolamentos
em paredes pelo exterior, quando possível, por
forma a não reduzir a inércia térmica;
14 Cores claras nas fachadas para reflectir a
radiação solar;
15 A prescrição de produtos protectores ade-
quados nos materiais de construção, para a pro-
tecção dos vãos, e janelas internas de rede, pela
protecção contra os insectos, muito importante
no panorama dos climas húmidos.
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A1 Energia Solar Fotovoltaica
Introdução
O conceito de construção sustentável está asso-
ciado com a melhoria de processo construtivo e de
utilização de materiais, equipamentos mais efi-
cientes e energias renováveis com a finalidade de
assegurar conforto, reduzir custos e poluição do
meio ambiente.
Em localidades afastadas da rede eléctrica con-
vencional ou onde a rede funcionar mal ou por ne-
cessidade de redução de CO2 na atmosfera, a utili-
zação de energia solar fotovoltaica é uma
alternativa real.
Um sistema de produção de energia por con-
versão fotovoltaica é uma fonte de energia que,
através da utilização do painel solar, converte a
radiação solar em electricidade.
Vantagens fundamentais
Não consome combustível;
É silencioso;
Tem uma vida útil superior a 20 anos;
É resistente a condições atmosféricas extremas
(granizo, vento, temperatura e humidade);
Não tem peças móveis;
Baixo custo de manutenção;
É modular, isto é, permite incorporar módulos
adicionais.
Principais aplicações
Electrificação rural;
Electrificação de moradias;
Automação;
Telecomunicações;
Bombagem de água;
Sinalização;
Iluminação exterior.
Componentes do sistema
O sol é a fonte de energia do sistema fotovoltaico.
O sistema fotovoltaico começa no painel solar que
converte a radiação solar em electricidade corrente
contínua. Quanto mais radiação recebida mais electri-
cidade produz. O painel é o gerador de energia.
O regulador de carga liga o painel solar, bateria
e cargas, regula a tensão de carga da bateria e
protege -a de sobrecarga e sobre descarga.
A bateria armazena a energia gerada pelo pai-
nel fotovoltaico durante as horas de luminosidade
a fim de poder ser utilizada à noite ou durante pe-
ríodos prolongados de céu encoberto.
O inversor converte a corrente contínua em
corrente alternada para alimentar equipamentos
que funcionam com este tipo de corrente.
Os suportes de fixação são estruturas que asse-
guram a montagem dos painéis solares na cober-
tura, no terraço, nas colunas ou no chão.
As cargas são os equipamentos eléctricos, por
exemplo lâmpadas, TV, rádio, bombas de água, fri-
159
ANEx
OS
goríficos, ventoinha, etc. Estes equipamentos de-
vem ser eficientes do ponto de vista do consumo de
energia, e de preferência devem ser escolhidos
aqueles que são concebidos para funcionar com sis-
temas fotovoltaico.
Cabos e condutores fazem a ligação entre os
equipamentos que constituem o sistema fotovol-
taico, e, devem ser utilizados os cabos específicos
para esta aplicação.
Para a instalação do sistema fotovoltaico é ne-
cessário espaço para que os painéis solares fiquem
expostos à radiação solar durante o dia, sobretudo
no período entre às 9h00 e ás 18h00.
Configurações do sistema
O sistema fotovoltaico pode ser muito simples, apenas
com painel solar e carga na situação de alimentação
directa de uma bomba de água, ou mais complexo
como por exemplo para alimentação de uma moradia
moderna. O sistema fotovoltaico para alimentação de
uma bomba de água só necessita de funcionar durante
o dia, enquanto o que alimenta uma moradia moderna
necessita de energia durante a noite, pelo que será
necessário reserva de energia.
Em ambas as situações o princípio é o mesmo,
pelo que o sistema é adaptável de acordo com as
necessidades de energia.
QUADRO A2.1 Exemplos de configurações de sistemas fotovoltaico.
Pequeno sistema fotovoltaico em corrente contínua.
Aplicações: Casa de férias, telemetria.
Grande sistema fotovoltaico em corrente contínua.
Aplicações: Casa, espaços lazer.
Sistema fotovoltaico simples em corrente contínua.
Aplicações: Bombagem de água.
Grande sistema fotovoltaico em corrente contínua e alternada.
Aplicações: Casa moderna.
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Dimensionamento de sistemas de geração fotovoltaica de energia
No dimensionamento vamos abordar apenas siste-
mas fotovoltaicos isolados.
Conceitos eléctricos
Tensão e corrente
A electricidade é o fluxo de partículas carregadas
(electrões) que circulam através de materiais con-
dutores – cabos, pedaços de metais, semiconduto-
res. Estas partículas adquirem energia numa fonte
que pode ser painel solar, bateria gerador eléctri-
co, etc e transferem essa energia às cargas (lâm-
pada, TV, motor, etc) e a seguir retornam à fonte
para repetir o ciclo.
FIG. A2.1 Exemplos de circuitos.
Ligação em série
Se os elementos de um circuito se conectarem em
série, isso quer dizer que todo o fluxo de electrões
passa por cada um dos seus elementos. Portanto o
fluxo é constante em qualquer ponto do circuito.
Quando se ligam módulos em série, a tensão
resultante é a soma das tensões de cada um deles
e a corrente do circuito é a menor corrente gerada
pelos módulos.
Ligação em paralelo
Se os elementos de um circuito se conectarem em
paralelo, isto quer dizer que o fluxo é repartido
por cada um dos seus elementos, a corrente resul-
tante é soma das correntes de cada um dos ele-
mentos, e a tensão resultante coincide com a que
é entregue por cada um dos módulos.
FIG. A2.2 Exemplo de circuito em série (à esquerda).
FIG. A2.3 Exemplo de circuito paralelo (em cima).
161
ANEx
OS
Potência
A potência é a capacidade instantânea de produzir
energia. É o produto da tensão pela intensidade
de corrente: P = V x I
Em que:
P é a potência, medida em Watts [W];
V é a tensão aplicada, medida em Volts [V];
I é a intensidade de corrente que circula, me-
dida em Amperes [A].
Analisando os exemplos de ligação em série e
ligação em paralelo, concluímos que os módulos
operam com valores de potência iguais:
Ligação em série: 24V x 2A = 48W; ligação em
paralelo: 12V x 4A = 48W.
Resistência
A resistência de um condutor eléctrico é a oposição
que um condutor oferece ao fluxo de electrões. É uma
propriedade que depende das características próprias
do material do condutor e da sua geometria.
Assim, R = Þ x (L/ S)
Em que:
R é a resistência, medida em Ohms [Ω];
Þ é a resistência específica ou resistividade do
material, medida em [Ω mm2 /m] que no caso do
cobre Þ = 0,017 Ω mm2 /m;
S é a secção do condutor, medida em [mm2];
L é o comprimento, medido em metros [m].
Perdas de potência
Da mesma forma que os condutores oferecem re-
sistência à passagem de electrões, os equipa-
mentos são constituídos por condutores, com-
ponentes e sistemas que para operar consomem
energia e oferecem também resistência à passa-
gem de electrões pelo que o sistema terá perdas
de potência desde o início (painel solar) até
à carga.
Iniciando o percurso energético pelos raios so-
lares que incidem no painel solar, podemos enu-
merar alguns tipos de perdas:
Perdas por sujidade no painel solar;
Perdas por abaixamento de tensão no painel so-
lar com o aumento da temperatura;
Perdas associadas ao início e ao fim do dia,
quando a luminosidade é mais reduzida e a tensão
é insuficiente para carregar a bateria;
Perdas aos terminais do regulador de carga;
Perdas de rendimento na conversão de corrente;
Perdas devido à eficácia energética da bateria.
Não restitui toda a energia armazenada;
Perdas por queda de tensão aos terminais dos
condutores, dependendo do seu comprimento,
secção e corrente transportada.
Energia
A energia é “a soma no tempo” da potência. É o
produto da potência pelo número de horas de uti-
lização: E = P x t
Em que:
E é a energia necessária para um determinado
equipamento, medida em Watt -hora [Wh];
t é o tempo de utilização de um determinado
equipamento, medido em horas [h].
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Autonomia prevista
Devido à necessidade de utilização de energia
mesmo no período em que não haja sol (noites e
dias de céu nebulado), é preciso armazenar a ener-
gia produzida em bancos de baterias.
A autonomia refere -se ao número de dias em
que se prevê que diminuirá ou não haverá gera-
ção de energia e que deverão ser tido em conta
no dimensionamento da bateria. Para alimenta-
ção rural ou casas tomam -se de 5 a 7 dias e para
sistemas de comunicações remotos 7 a 10 dias
de autonomia. Também se deve ter em conta no
dimensionamento da bateria o factor de correc-
ção devido ao envelhecimento, profundidade de
descarga e redução da capacidade por influên-
cia da temperatura.
Mostra -se a seguir um exemplo de dimen-
sionamento.
Dados necessários para dimensionar um sistema
Necessidades de energia da aplicação
Para calcular as necessidades de energia (quer de
corrente contínua quer de corrente alternada) du-
rante o dia, determinam -se as necessidades ener-
géticas de cada um dos equipamentos e adicionam-
-se. Deve ser incluído nesse cálculo as potências
relativas às perdas, porque todas as necessidades
suplementares implicarão um aumento de potên-
cia, isto é a capacidade de gerar e armazenar
energia.
Produção eléctrica diária de um painel solar
O painel solar caracteriza -se, acima de tudo, pela
sua potência de pico Pc.
Para calcular a produção diária de um painel é
preciso ter em consideração a localização geográ-
fica do local (latitude, longitude e estações do
ano) para ter a insolação média que nos permite
calcular o factor “número de horas equivalentes”
(média aritmética da energia solar diária do local)
que multiplicado pela potência de pico do painel
solar obtém -se a energia eléctrica produzida pelo
painel solar.
FIG. A2.4 Dados da insolação média na Guiné -Bissau.
163
ANEx
OS
QUADRO A2.2 Exemplo de dimensionamento de sistema fotovoltaico para uma casa.
de cabo adequada a utilizar para uma queda de
tensão de 5% em sistema de 12VDC.
Na coluna à esquerda escolhe -se a corrente no-
minal do sistema. Nessa mesma linha procura -se a
distância que o cabo percorrerá e lê -se na parte
superior da respectiva coluna a secção do cabo
correspondente.
Quando a tensão da instalação for diferente de
12VDC, por exemplo 24VDC, 36VDC ou 48VDC, procede-
-se da mesma forma, mas nesse caso deve -se dividir a
secção do cabo obtido por 2, 3 ou 4 respectivamente.
Se o valor que resultar não for normalizado, escolhe-
-se a secção normalizada imediatamente superior.
Instalação
Para uma boa instalação é importante seleccionar a
melhor localização possível para os painéis solares,
tendo em consideração os seguintes aspectos:
Estar o mais próximo possível das baterias;
Estar suficientemente afastado dos abjectos que
possam projectar sombra sobre os painéis solares;
QUADRO A2.3 Tabela com a distância máxima, em metros, para uma queda de tensão de 5% em sistemas de 12VDC.
Dimensionamento de condutores e cabos
Para assegurar uma operação apropriada das cargas
deve -se efectuar a selecção adequada dos conduto-
res e cabos de ligação que interligam o sistema às
cargas. A fim de assegurar o funcionamento ade-
quado das cargas não deverá haver mais de 5% da
queda de tensão tanto entre painéis solar e as ba-
terias como entre as baterias e as cargas.
A selecção do cabo fica mais simplificado se
utilizarmos a tabela seguinte, que indica a secção
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No caso da Guiné -Bissau a latitude é 12º Norte os
painéis deverão estar inclinados em relação ao plano
horizontal num ângulo de 12º + 5º = 17º de modo a
que a sua face frontal fique voltada para sul;
Painel solar Regulador de carga Baterias Inversor de corrente
O regulador de carga e inversor de corrente devem
ser instalados o mais próximo possível das baterias;
As baterias deverão ser instaladas num compar-
timento separado e com ventilação adequada.
Exemplos de equipamentos cargas e aplicações
Lâmpadas de baixo consumo
Bomba de água submersível
Arca congeladora Sundanzer DCF 165
Instalação de bombagem de água
QUADRO A2.4 Exemplos de equipamentos, cargas e aplicações.
165
ANEx
OS
Autor: Engº. Gilberto Lopes, IST
Bibliografia
Internet:
www.siemenssolar.com;
www.outbackpower.com;
www.lorentz.de;
www.stecasolar.com;
www.studer-inno.com.
FIG. A2.5 Perfil de consumo de energia da Arca Sundanzer DCF 165.
QUADRO A2.5 Instalação na cobertura de uma casa.
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A2 O sistema LiderA
sistema voluntário para avaliação da sustentabilidade dos ambientes construídos
A2.1 Enquadramento: a importância de utilizar sistemas integrados para a procura da sustentabilidade no projecto e construção
As actividades humanas, de que é um exemplo a
construção, têm acompanhado o crescimento po-
pulacional. De acordo com a UNEP e a UNDP a po-
pulação mundial atingiu os 6.464 milhões em
2005 (UNEP, 1999; UNPD, 1998) e segundo as mes-
mas fontes, a economia mundial quintuplicou o
seu tamanho, nomeadamente por via do aumento
do nível de vida individual das populações, da
maior capacidade de mobilizar recursos e do con-
sequente impacte ambiental.
A construção é um vasto processo/mecanismo
para realizar os ambientes construídos e infra-
-estruturas que suportem o desenvolvimento das
sociedades. Esta pode incluir a extracção e bene-
ficiação de matérias -primas, a produção de mate-
riais e componentes, o ciclo do projecto da cons-
trução, da viabilidade do projecto, as obras de
construção, operação e gestão, até a desconstru-
ção do ambiente construído (CIB, 2002).
Os países africanos de língua oficial Portugue-
sa têm diferentes condições climáticas, culturais e
económicas, apesar de existirem muitos aspectos
em comum entre eles. É possível, tal como defini-
do pela Agenda 21 (CIB, 2002), focarem -se aspec-
tos comuns e reconhecer a diversidade no facto de
cada solução dever ser ajustada e apropriada ao
contexto local.
Estes países partilham também de barreiras co-
muns para a implementação da construção susten-
tável (CIB, 2002), como incertezas ambientais e
económicas, por vezes reduzida compreensão e
capacidade da área da sustentabilidade da cons-
trução, pobreza e subsequentemente baixo inves-
timento urbano, falta de dados precisos e envolvi-
mento dos vários agentes.
Os desafios envolvem a rápida urbanização, a
existência de práticas, infra -estruturas, soluções
construtivas e urbanas inadequadas, sendo as
oportunidades a procura de habitação, infra-
-estruturas e zonas urbanas sustentáveis, fomen-
to de desenvolvimento rural, educação, aposta
em valores tradicionais ajustados e na inovação
para a sustentabilidade.
Em muitos casos, esse aumento quantitativa-
mente significativo das construções não se re-
flectiu num aumento das preocupações ambien-
tais, nem na procura de eficiência em termos dos
consumos energéticos e de materiais, colocando
assim na agenda a necessidade de uma aborda-
gem mais activa da dimensão ambiental na pro-
cura sustentabilidade.
Nesta lógica e associado à perspectiva de de-
senvolvimento sustentável e da sua aplicação às
construções, promove -se a procura de soluções ar-
167
ANEx
OS
quitectónicas de bom desempenho bioclimático,
devendo, nesse aspecto estrutural, alargar as ques-
tões da sustentabilidade a serem consideradas nos
ambientes construídos.
A sustentabilidade da construção significa
que os princípios do desenvolvimento sustentá-
vel são aplicados de forma compreensível ao ciclo
da construção. Este processo global (holístico)
deseja restaurar e manter a harmonia entre os
ambientes naturais e construídos, enquanto se
criam aglomerados urbanos que afirmam a digni-
dade humana e encorajam a equidade económica
(CIB, 2002).
A Construção Sustentável é, ainda hoje, um
conceito novo para a Indústria da Construção, dis-
pondo de múltiplas perspectivas, o que desafia o
aparecimento de instrumentos que permitam ava-
liar a procura da sustentabilidade.
As formas práticas de avaliar e reconhecer a
construção sustentável são cada vez mais uma re-
alidade nos diferentes países, destacando -se as
que fomentam a construção sustentável através
de sistemas voluntários de mercado (CIB, 1999;
Silva, 2004) e as que permitem avaliar desde logo
o desempenho ambiental dos edifícios.
A nível internacional, existem já vários siste-
mas (Portugal, Reino Unido, Estados Unidos da
América, Austrália, Canadá, França, Japão, entre
outros), para reconhecer a construção sustentá-
vel. Entre essas abordagens destaca -se o sistema
de apoio e avaliação da construção sustentável
para Portugal e para os Países de Língua Oficial
Portuguesa, denominado de LiderA (www.lidera.
info), isto é liderar pelo ambiente, que seguida-
mente se apresenta.
A2.2 LiderA como instrumento para avaliar o caminho para a Sustentabilida‑de nos Países de Língua Oficial Portuguesa
O sistema LiderA
O sistema LiderA (Pinheiro, 2004) tem como objec-
tivo liderar a procura de boas soluções ambientais
e de sustentabilidade nas diferentes fases, desde o
plano ao projecto e à obra, manutenção, gestão,
reabilitação, até à fase final de demolição.
Para esse objectivo considera -se relevante que
os planos, projectos, actividades construtivas,
edifícios, infra -estruturas e ambientes construí-
dos olhem a sustentabilidade de uma forma inte-
grada, abrangendo várias vertentes, já que basta
uma delas não estar assegurada para que a susten-
tabilidade efectiva seja difícil de atingir.
No LiderA a procura da sustentabilidade en-
globa a integração local, o consumo de recursos
(como por exemplo a energia, a água, os mate-
riais e a produção alimentar), as cargas ambien-
tais, o conforto ambiental, a vivência socioeco-
nómica e o uso sustentável.
Para cada uma destas seis vertentes, são conside-
radas áreas (no total vintes e duas, ver FIGURA A2.1 ).
Em cada uma área são definidos critérios (que na ver-
são de aplicação aos Países de Língua Oficial Portu-
guesa considera vinte e dois critérios).
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A procura da sustentabilidade (nas vertentes,
áreas e critérios) pode ser classificada em níveis
maiores ou menores do desempenho nesse cami-
nho para a sustentabilidade, nomeadamente das
classes de menor desempenho G, E até às classes
de maior desempenho A, A+ e A++, que revelam
uma maior sustentabilidade.
Esta escala é definida tendo em consideração a
prática usual não sustentável, que é classificada
como classe E, até uma boa prática que assuma
necessidades de consumos ou reduções da ordem
de 2 vezes (classe A), da ordem das 4 vezes (Clas-
se A+) ou da ordem das 10 vezes (Classe A++).
Por exemplo, a utilização de grandes áreas envi-
draçadas na fachada do edifício origina consumos
energéticos e necessidades de arrefecimento muito
elevados. Assim, através da área envidraçada (solu-
ção adoptada) ou através dos consumos de energia
(kilogramas equivalentes de petróleo (kgep) por m2
ou kWh/m2) tal é classificado como classe E. A re-
dução da área envidraçada no edificado e a utiliza-
ção de princípios bioclimáticos (adequada orienta-
ção, sombreamento, fomento da ventilação natural,
FIG. A2.1 Vertentes e áreas (subdivisão das vertentes) consideradas pelo Sistema LiderA para a procura da sustentabilidade.
FIG. A2.2 Níveis de Desempenho Global.
169
ANEx
OS
entre outros) permite melhorias energéticas nesse
edifício que podem chegar a reduções dos consu-
mos de 2 a 10 vezes (Classes entre A e A++).
Esta classificação pode ser efectuada de forma
qualitativa, nomeadamente se estão considera-
dos os princípios da sustentabilidade em cada ver-
tente (ver explicação da aplicação desta aborda-
gem no capitulo 4.1) de forma semi -quantitativa,
através da resposta a um conjunto de questões
dentro de cada vertente e abrangendo as diferen-
tes áreas (ver capitulo 4.2) ou através de uma
base quantitativa com o valor do desempenho
definido em cada critério (ver capitulo 4.3).
Esta lógica permite a aplicação do sistema,
desde as fases iniciais de planeamento e projec-
to, até fases de projecto mais detalhadas, culmi-
nando na fase de operação do edificado e am-
bientes construídos. Tal permite avaliar e procurar
melhorias, mesmo com níveis de informação re-
duzidos e ir progredindo até níveis de informa-
ção elevados.
Essa lógica assume que o nível de sustentabili-
dade, por exemplo no consumo de energia, varia
de uma habitação para um escritório, ajustando
os diferentes níveis de desempenho ao tipo de
serviço do ambiente construído e potenciando a
procura de soluções ajustadas e eficientes.
Assim, o sistema, ao definir princípios e níveis
de desempenho na sustentabilidade, diferencia as
soluções a considerar, contribuindo para adoptar
soluções e propostas mais eficientes no caminho
da sustentabilidade pretendida.
Princípios para a Sustentabilidade
Para o LiderA a procura de sustentabilidade nos
ambientes construídos – edifícios, infra -estruturas
e outros espaços construídos – baseia -se em pro-
curar bom desempenho em seis vertentes a serem
adoptados através dos seguintes princípios:
1 Valorizar a dinâmica local e promover uma
adequada integração. Para tal sugere -se que a in-
tegração local procure essa dinâmica no que diz
respeito às áreas do Solo, dos Ecossistemas Natu-
rais e da Paisagem e Património;
2 Fomentar a eficiência no uso dos recursos,
abrangendo as áreas da Energia, da Água, dos Ma-
teriais e da Produção Alimentar;
3 Reduzir o impacte das cargas ambientais
(quer em valor, quer em toxicidade), envolven-
do as áreas dos Efluentes (esgotos), das Emis-
sões Atmosféricas (poeiras e gases), dos Resí-
duos (lixos), do Ruído Exterior e da Poluição
térmico -lumínica (efeito de ilha de calor e ex-
cesso de luz);
4 Assegurar a qualidade do ambiente, focada
no conforto ambiental, nas áreas do Conforto Tér-
mico, Iluminação, Qualidade do Ar, e Acústica;
5 Fomentar a vivência socioeconómicas sus-
tentável, passando pelas áreas do Acesso para To-
dos, da Diversidade Económica, das Amenidades e
Interacção Social, da Participação e Controlo, e
dos Custos no Ciclo de vida;
6 Assegurar a melhor utilização sustentável
dos ambientes construídos, através da Gestão Am-
biental e da inovação.
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A2.3 Que aspectos considerar
Esses princípios podem ser avaliados e implementa-
dos considerando a aplicação nas várias áreas e cri-
térios, que seguidamente se explicam de forma su-
mária, abrangendo as seis vertentes consideradas.
A2.3.1 Assegurar uma boa Integração Local
Na perspectiva da sustentabilidade, a localização
dos empreendimentos, constituindo a fase inicial
de desenvolvimento do projecto, assume -se como
um dos aspectos chave do mesmo. Efeitos como a
ocupação do solo, as alterações ecológicas do ter-
ritório e da paisagem, a pressão sobre as infra-
-estruturas e as necessidades de transportes, es-
tão associados à escolha do local e condicionam o
seu desempenho ambiental.
No geral, a decisão da escolha do local é da
responsabilidade do promotor e deve estar asso-
ciada ao conhecimento das sensibilidades e parti-
cularidades ambientais do mesmo. É útil proceder
a uma avaliação das perspectivas de sustentabili-
dade ao nível da Avaliação Ambiental Estratégica
(AAE) se for um plano ou um programa, ou ao ní-
vel do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), no
caso de ser um projecto de dimensões significati-
vas, ou ainda ao nível de uma análise ambiental
expedita, no caso de empreendimentos de dimen-
são reduzida.
A escolha do local associa -se ao modelo de
desenvolvimento perspectivado, o qual se deve
inter -relacionar com a dinâmica local e regional.
O modelo adoptado deve integrar -se na perspec-
tiva de desenvolvimento sustentável, ou seja de
acordo com o princípio “pensar globalmente, agir
localmente”.
A forma de crescimento sustentável (sua loca-
lização e integração) é um aspecto muito questio-
nado. Uma solução pode assentar, por exemplo,
nos princípios de um crescimento inteligente (re-
ferenciado na literatura anglo -saxónica como
smart growth) que considera a aplicação de 10
princípios (ICMA e Smarth Grow Network, 2003a;
ICMA e Smart Grow Network, 2003b):
1 Uso misto do solo;
2 Adoptar as vantagens de projectar edifícios
compactos;
3 Criar uma gama de oportunidades de habita-
ções e de escolhas;
4 Criar uma vizinhança baseada na distância
que se pode percorrer a pé;
5 Criar aspectos distintivos, ou seja, comuni-
dades atractivas com uma forte noção do local;
6 Manter os espaços abertos, as zonas cultivadas,
a beleza natural e as áreas ambientais críticas;
7 Focar e desenvolver em direcção às comuni-
dades existentes;
8 Fornecer variedades de opções de transporte;
9 Tornar decisões de desenvolvimento previsí-
veis, justas e efectivas em termos de custos;
10 Encorajar a comunidade e a colaboração
dos vários agentes envolvidos (stakeholder) nas
decisões de desenvolvimento.
171
ANEx
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Os aspectos ambientais particulares da localiza-
ção (por exemplo, a topografia, geologia, geotec-
nia) devem ser entendidos não como um problema,
mas como uma oportunidade de desenvolver essas
especificidades locais, devendo ser equacionados.
Para contribuir para a sustentabilidade na ver-
tente da Integração Local, considera -se relevante
considerar a dinâmica do solo, valorizar e preservar
a ecologia local, assegurar a integração na paisa-
gem e a valorização e preservação do património.
No quadro seguinte QUADRO A2.1 sumarizam -se
os principais aspectos considerados na vertente da
Integração Local. No quadro apresenta -se uma in-
dicação da importância através da ponderação, ou
seja do peso de cada área/critério (wi); por exem-
plo o solo tem um peso de 7%. Simultaneamente,
deve -se verificar se aplicam requisitos legais (nota-
ção de Pre -req, significa que se deve ver se existem
pré requisitos legais) e apresenta -se o número do
critério, no caso de 1 a 6 (A1 a A3).
É essencial dispor de informação ambiental da
zona. Complementarmente e em função das carac-
terísticas do local e do empreendimento, pode ser
relevante considerar outros aspectos, tais como a
condição dos solos.
A2.3.2 Reduzir as necessidades de Recursos
O consumo de recursos, como a energia, a água, os
materiais e os recursos alimentares, associa -se
a impactes muito significativos do ponto de vista
do edificado, sendo este um aspecto fundamental
no que se refere à sustentabilidade, nas diferentes
fases do ciclo de vida dos empreendimentos.
Os Recursos constituem uma vertente que, numa
perspectiva da sustentabilidade, assume um papel
fundamental para o equilíbrio do meio ambiente,
uma vez que os impactes provocados podem ser
muito significativos e podem ocorrer nas diferentes
fases do ciclo de vida dos empreendimentos.
QUADRO A2.1 Integração Local: Áreas e Critérios de base considerados.
Vertentes Área Wi Pre ‑Req. Critério Nºc
Integração local3 Critérios
14%
Solo 7% S Valorização territorial A1
Ecossistemas naturais 5% S Valorização ecológica A2
Paisagem e património 2% S Valorização paisagística
e patrimonialA3
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A possibilidade de produção alimentar pontual
que, apesar de não afectar directamente a operação
dos edifícios e das zonas, pode contribuir pontual-
mente para a disponibilização de alimentos, para a
ocupação de tempo ligada à natureza e para a redução
da pegada do transporte, é um aspecto a considerar.
QUADRO A2.2 Recursos: áreas e critérios de base considerados.
QUADRO A2.3 Cargas Ambientais: áreas e critérios de base considerados.
Vertentes Área Wi Pre ‑Req. Critério Nºc
Recursos4 Critérios
32%
Energia 17% S Gestão da energia A4
Água 8% S Gestão da água A5
Materiais 5% S Gestão dos materiais A6
Produção Alimentar 2% S Produção local de alimentos A7
Vertentes Área Wi Pre ‑Req. Critério Nºc
Cargasambientais5 Critérios
12%
Efluentes 3% S Gestão dos efluentes A8
Emissões atmosféricas 2% SGestão das emissões
atmosféricas A9
Resíduos 3% S Gestão dos resíduos A10
Ruído exterior 3% S Gestão do ruído A11
Poluição ilumino -térmica 1% S Gestão ilumino -térmica A12
173
ANEx
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A2.3.3 Reduzir e valorizar as Cargas
Ambientais
As cargas ambientais geradas decorrem das emis-
sões dos efluentes líquidos, das emissões atmosfé-
ricas, dos resíduos sólidos e semi -sólidos, do ruído
e dos efeitos térmicos (aumento de temperatura) e
luminosos.
Os impactes das cargas geradas pelos ambientes
construídos e actividades associadas decorrem das
emissões de efluentes líquidos, das emissões atmos-
féricas, dos resíduos sólidos e semi -sólidos produzi-
dos, do ruído e complementarmente da poluição
térmico -lumínica. Esta vertente foca -se nos edifícios
e nas estruturas construídas, bem como na estreita
relação que estes estabelecem com o exterior.
A2.3.4 Assegurar um bom nível de Conforto Ambiental
No que diz respeito aos edifícios e ambientes cons-
truídos, alguns dos problemas de conforto associa-
dos à má qualidade da construção e acabamentos, à
fissuração, ventilação deficiente e a falta de manu-
tenção, são os problemas menos identificados.
Desta forma, verifica -se que mesmo em edifícios
com uma qualidade construtiva superior, os problemas
são muitos e, em grande parte, dizem respeito ao con-
forto para os ocupantes. Nesta perspectiva, reforça -se
a ideia de que o que se anda a construir não só não
obedece aos critérios de eficiência energética, como
não proporciona a satisfação dos ocupantes.
À luz dos modos de vida actuais e tendo em con-
ta a consciência mais ponderada sobre as questões
ambientais e económicas por parte da sociedade
em geral, torna -se essencial que os edifícios e os
ambientes exteriores respondam não só às exigên-
cias de eficiência energética mas também à satisfa-
ção dos utentes, pelo que a intervenção nesta área
assume um papel relevante e necessário, que deve
ser equacionado. Não há regras rígidas e rápidas ou
soluções únicas para criar ambientes que respon-
dam ao conforto e ao bem -estar humanos.
No entanto, devem existir métodos de quantifica-
ção que demonstrem a eficácia e a eficiência das so-
luções adoptadas. Essas soluções devem estar asso-
ciadas a estratégias específicas que dependam dos
ocupantes, das actividades e do programa. Os factores
seguintes podem ser úteis na consideração de diferen-
tes escalas e questões, facilitando desta forma a capa-
cidade dos ocupantes modificarem as suas condições
de conforto nos espaços interiores e exteriores.
A2.3.5 Contribuir para a Vivência
Socioeconómica
A criação de ambientes construídos pode contribuir
também, de forma relevante, para uma melhor vi-
vência. A questão da vivência económica está rela-
cionada directamente com a sociedade e abrange
vários aspectos sociais e económicos, ao garantir o
acesso para todos, a dinâmica económica, as ame-
nidades e a interacção social, a participação e o
controlo, e os baixos custos no ciclo de vida.
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A vivência socioeconómica é uma vertente que rela-
ciona directamente a sociedade com o espaço em
que esta se situa. Dos vários aspectos sociais e eco-
nómicos que compõem esta interacção fazem parte:
no Acesso para Todos – a acessibilidade e a mobi-
lidade, que abrangem o tipo e a facilidade de movi-
mentos e deslocações realizados pela população;
nas Amenidades e Interacção Social – a qualida-
de e o tipo de amenidades que compõem o espa-
ço, influenciando a qualidade de vida da popula-
ção e o tipo de interacção social que se fomenta
entre a população;
na Diversidade Económica – a dinâmica econó-
mica que, tal como o nome indica, abrange uma
maior ou menor variedade de espaços com dife-
rentes tipos de funções e economia;
na Participação e Controlo – o controlo e a segu-
rança, que garante uma maior ou menor segurança
da população e desta com o espaço envolvente, e
as condições de participação nas decisões impor-
tantes, que influenciam a sua qualidade de vida;
nos Custos no Ciclo de Vida – a garantia de bai-
xos encargos durante o ciclo de vida dos ambien-
tes construídos, que estabelecem uma relação
mais adequada entre o preço e qualidade.
Pretende -se que estes aspectos sejam abordados
de forma a garantir crescentemente uma estrutura e vi-
vência socioeconómica mais versátil e eficiente para a
qualidade de vida da população residente e flutuante.
A2.3.6 Contribuir para o uso sustentável
A gestão e uso sustentável, quer através da infor-
mação a fornecer aos agentes envolvidos, quer
através da aplicação de sistemas de gestão, pode
assegurar a consistência e concretização dos cri-
térios e soluções com reflexos no desempenho
ambiental, uma dinâmica de controlo e melhoria
QUADRO A2.4 Conforto Ambiental: áreas e critérios de base considerados.
Vertentes Área Wi Pre ‑Req. Critério Nºc
Conforto ambiental3 Critérios
15%
Qualidade do ar 5% S Gestão da qualidade do ar A13
Conforto térmico 5% S Gestão do conforto térmico A14
Iluminação e acústica 5% S Gestão de outras condições
de confortoA15
175
ANEx
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contínua ambiental dos empreendimentos, e a
promoção da inovação. Entre os aspectos relevan-
tes estão o nível de informação e a sensibilização
dos utentes (através da criação de, por exemplo,
um manual), a adopção de um Sistema de Gestão
Ambiental e a inovação de práticas, quer nas solu-
ções, quer na integração e na operação.
Um dos elementos que se pretende reforçar e
incentivar aquando da aplicação de soluções que
promovam a sustentabilidade é a adopção de me-
didas inovadoras. A capacidade para apresentar
elementos inovadores na projecção, construção,
operação e demolição dos edifícios tem de ser
enaltecida, já que cada vez mais os projectos
têm a necessidade de se tornarem cada vez mais
sustentáveis, pelo que os desafios adquirem uma
dimensão de desempenho muito superior à que
actualmente se regista.
QUADRO A2.5 Vivência sócio -económica: áreas e critérios de base considerados.
QUADRO A2.6 Uso sustentável: áreas e critérios de base considerados.
Vertentes Área Wi Pre ‑Req. Critério Nºc
Vivência socioeconómica5 Critérios
19%
Acesso para todos 5% S Contribuir
para acessibilidadeA16
Diversidade económica 4% S Contribuir para
a dinâmica económicaA17
Amenidades e
interacção social4% S Contribuir para
as amenidadesA18
Participação e controlo 4% S Condições de controlo A19
Custos no ciclo de vida 2% S Contribuir para os baixos
custos no ciclo de vidaA20
Vertentes Área Wi Pre ‑Req. Critério Nºc
Uso sustentável2 Critérios
Gestão ambiental 6% S Promover a utilização
e GestãoA21
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A2.4 Aplicar o LiderA no desenvolvimento dos Planos, Projectos e Soluções
A2.4.1 Aplicar de forma preliminar
O sistema LiderA, através da sua aplicação nos em-
preendimentos, permite suportar o desenvolvimen-
to de soluções que procurem a sustentabilidade. Ou
porque se encontra numa fase inicial ou porque o
nível de informação é reduzido, a abordagem é qua-
litativa. Pode assim avaliar -se o edifício ou zona
existente e procurar soluções, utilizando para o
efeito dois conjuntos de questões que abrangem,
as primeiras, os seis princípios referidos (verten-
tes), e as segundas o conjunto de questões quanto
à abrangência da aplicação (ver QUADRO A2.7 ).
Analisar se estão assumidos os princípios de sustentabilidade no caso de análise
Para aplicar os princípios da sustentabilidade
sugere -se um processo iterativo de análise, para
verificar se estão a ser aplicados os princípios e
em caso de não serem que aspectos devem ser in-
cluídos no plano ou projecto para os concretizar.
Ao efectuar a análise identificam -se soluções
que podem dar resposta a estes princípios (ver as
questões colocadas na segunda coluna e inserir a
resposta na quarta coluna do QUADRO A2.7 ) indi-
cando (na terceira coluna do QUADRO A2.7 ) se foi
considerado o princípio parcialmente (atribuindo-
-lhe um valor de 1) ou totalmente (atribuindo -lhe
o valor de 2).
Os valores atribuídos devem ser somados no fi-
nal. No caso de a soma ser superior a 6 indica que
se está caminhar para a sustentabilidade, mas que
importa considerar outros aspectos. Se tiver um
valor de 12 então é porque estão assumidos os
princípios chave da sustentabilidade. Caso seja in-
ferior a 12 deve ser considerado que aspectos po-
derão vir a ser incorporados e que oportunidades
de melhoria existem para o caso em análise, sendo
de considerar a possibilidade de as incorporar.
Analisar se princípios de sustentabilidade estão a ser aplicados nas diferentes áreas de sustentabilidade no caso de análise
Para analisar a abrangência da aplicabilidade dos
princípios às várias áreas da sustentabilidade,
também através de um processo iterativo de aná-
lise, deve verificar -se em primeiro lugar se se
abrange as diferentes áreas e, no caso de não se-
rem abrangidas, que aspectos devem ser incluídos
no plano ou projecto para as incluir.
Ao efectuar a análise, identificam -se soluções
que podem dar resposta para estas áreas (ver as
questões colocadas na quinta coluna e inserir a
resposta na oitava coluna do QUADRO A2.7 ) indi-
cando (na sétima coluna do QUADRO A2.7 ) se foi
considerado o princípio parcialmente (atribuindo-
-lhe um valor de 1) ou totalmente (atribuindo -lhe
o valor de 2).
Os valores atribuídos devem ser somados no
final. No caso de a soma ser superior a 6 indica
que se está caminhar para a sustentabilidade,
mas com uma abrangência parcial, pelo que é de
177
ANEx
OS
QUADRO A2.7 Princípios e abrangência da aplicação. NPT Não (0), Parcial (1), Total (2).
Integraçãolocal
Está prevista a valorização da dinâmica local e promover uma adequada integração?
Solo A integração local procura essa dinâmica no que diz respeito à área do Solo, aos Ecossistemas naturais e Paisagem e ao Património?
Ecossistemas naturais
Paisagem e património
Recursos Está assumido o fomentar da eficiência no uso dos recursos naturais?
Energia Abrange a área da Energia, a Água, os Materiais e os recursos Alimentares?Água
Materiais
Produção alimentar
Cargas ambientais
Está previsto o reduzir do impacte das cargas ambientais (quer em valor, quer em toxicidade)?
Efluentes Envolve as áreas dos Efluentes (esgotos), as Emissões Atmosféricas (poeiras e gases), os Resíduos (lixos), o Ruído Exterior e a Poluição Ilumino--térmica (excesso de luz e efeito de ilha de calor)?
Emissões atmosféricas
Resíduos
Ruído exterior
Poluição ilumino -térmica
Confortoambiental
Está assegurada a qualidade do ambiente, focada no conforto ambiental?
Qualidade do ar Está considerada a Qualidade do Ar, do Conforto Térmico, da Iluminação e Acústica?
Conforto térmico
Iluminação e acústica
Vivência socio -económica
Assume -se fomentar as vivências socioeconómicas sustentáveis?
Acesso para todos É abrangido o Acesso para Todos (incluindo a transportes públicos), considera os Custos no Ciclo de vida, a Diversidade Económica, as Amenidades e a Interacção Social e Participação e Controlo?
Diversidade económica
Amenidades e interacção social
Participação e controlo
Custos no ciclo de vida
Uso sustentável
Estão assumidos condições de boa utilização sustentável?
Gestão ambiental Estão assumidos modos de gestão sustentável e possibilidades de inovação?Inovação
Assumir dos princípios? Abrangência da Aplicação?
VertenteQuestões iniciais? NPT Descrição Área
Abrangência da aplicação NPT Descrição
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analisar se não se devem considerar outros as-
pectos. Se tiver um valor de 12, então é porque
estão assumidos princípios chave da sustenta-
bilidade, abrangendo as diferentes áreas. Caso
seja inferior a 12 deve ser considerado que as-
pectos podem vir a ser incorporados e que opor-
tunidades de melhoria existem para o caso em
análise sendo de considerar a possibilidade de
incorporar essas intervenções dando uma abran-
gência alargada.
Esta abordagem do LiderA agora referida con-
tribui assim nesta fase para compreender qual é
o âmbito da procura da sustentabilidade posicio-
nando e identificando áreas de intervenção a
desenvolver.
A2.4.2 Aplicar de forma detalhada
Numa fase de análise mais detalhada, pode ser avalia-
do o desempenho através de uma avaliação ao nível
dos critérios do LiderA, nomeadamente identificando
quais os níveis de desempenho, valores ou soluções,
que permitem implementar a sustentabilidade.
Assim, vertente a vertente, área a área, critério a
critério, cada empreendimento procura desenvolver
as soluções mais ajustadas ao seu posicionamento
económico e de mercado, registar os comprovativos
dessa solução e sempre que possível do desempenho
que consegue atingir. Este processo utiliza o sistema
LiderA e os seus níveis Classe E a A++, como base
para orientar e concretizar a procura da sustentabili-
dade e sua implementação.
Análise detalhada:Critérios e níveis de desempenho
Como apoio à procura da sustentabilidade, sugere-
-se um conjunto de critérios nas diferentes áreas.
Os critérios propostos pressupõem que as exigên-
cias legais são cumpridas e que são adoptadas
como requisitos essenciais mínimos nas diferentes
áreas consideradas, incluindo a regulamentação
aplicada ao edificado, sendo a sua melhoria a pro-
cura da sustentabilidade.
Para orientar e avaliar o desempenho, o sistema
possui um conjunto de critérios que operacionali-
zam os aspectos a considerar em cada área. Na ver-
são LiderA África estão predefinidos 22 critérios,
um por cada área. Os critérios estão numerados de
1 a 22 (isto é, um critério sugerido como NºC).
Níveis de desempenho:Factor 1, 2, 4 e 10 e Classes E a A++
Tal como noutros sistemas internacionais de avalia-
ção, de que são exemplo o BREEAM, o LEED, o HQE e
o CASBEE (Pinheiro, 2006), estas propostas evo-
luem com a tecnologia, permitindo assim dispor de
soluções ambientalmente mais eficientes. No en-
tanto, os critérios e as orientações apresentadas
pretendem ajudar a seleccionar, não a melhor solu-
ção existente, mas a solução que melhore, prefe-
rencialmente de forma significativa, o desempenho
existente, também numa perspectiva económica.
Para cada tipologia de utilização e para cada
critério são definidos os níveis de desempenho
considerados, que permitem indicar se a solução é
179
ANEx
OS
ou não sustentável. A parametrização para cada um
deles segue, ou a melhoria das práticas existentes,
ou a referência aos valores de boas práticas, tal
como é usual nos sistemas internacionais.
Estes níveis são derivados a partir de dois refe-
renciais chave. O primeiro assenta no desempenho
tecnológico, pelo que a prática construtiva existente
é considerada como nível usual (Classe E) e o melhor
desempenho decorre da melhor prática construtiva
viável à data, o que tem como pressuposto que uma
melhoria substantiva no valor actual é um passo no
caminho da sustentabilidade. Decorrentes desta aná-
lise, para cada utilização, são estabelecidos os níveis
de desempenho a serem atingidos.
Às classificações nos critérios é atribuído um ní-
vel global de desempenho ambiental que se encaixa
num dos escalões de avaliação, sendo que as avalia-
ções iguais ou superiores a A são aquelas que mais
se evidenciam em termos de desempenho ambiental.
Como referencial no valor global final, considera -se
que o melhor nível de desempenho é A, significando
uma redução de 50% face à prática de referência (no
geral a prática actual), que é considerada como E.
O reconhecimento é possível de ser efectuado
nas classes C a A. Na melhor classe de desempe-
nho existe, para além da classe A, a classe A+, as-
sociada a um factor de melhoria de 4 e a classe
A++ associada a um factor de melhoria de 10.
As soluções que sejam regenerativas do ponto de
vista do ambiente, isto é com balanço positivo,
enquadrando -se numa lógica de melhoria, classifica-
da como superior a 10, associam -se à classe A+++.
A título indicativo, apresentam -se no quadro
seguinte QUADRO A2.8 as vertentes, áreas e crité-
rios, da versão Lidera África, sendo que se sumari-
zam os principais aspectos a considerar para as
diferentes áreas consideradas na procura da sus-
tentabilidade, num caso de análise detalhada.
Como sugestão de aplicação deve olhar -se
para a proposta de intervenção (em projecto) ou
caso de análise (edifício ou ambiente construído
existente) e procuram -se identificar quais as so-
luções a adoptar ou presentes e qual será o seu
nível de desempenho.
O foco central da análise na avaliação aos am-
bientes construídos assenta no desempenho em
situação normalizada do ambiente construído, do
edifício, do espaço público, etc. Isto é, como fun-
ciona o edificado numa utilização padrão, por
exemplo uma sala de aulas durante as 8 horas pre-
vistas, ou a habitação no período usual, ou o es-
paço público.
Esta utilização normalizada revela como funcio-
na o edificado projectado ou construído, tal como
quando se indica um automóvel consome 6 litros
aos 100 km se está a indicar que num circuito es-
pecífico, parte urbano e parte rural, esse é o consu-
mo médio. Naturalmente, em função do tipo de uti-
lização o valor pode ser maior o menor. Da mesma
forma, os valores de desempenho normalizado são
utilizados para a avaliação, posicionamento, reco-
nhecimento/certificação pelo LiderA, e permitem
ver as possibilidades de melhoria, nomeadamente
através da adopção de soluções construtivas.
QUADRO A2.8 Aplicação do LiderA – nível detalhado. C.A. Classe de avaliação; F.A. Fundamentação da avaliação.
Vertentes Área Wi Pre ‑Req. Critério Nºc C.A. F.A.
Integração local3 Critérios
14%
Solo 7% S Valorização territorial A1
Ecossistemas naturais 5% S Valorização ecológica A2
Paisagem e património 2% SValorização paisagística e patrimonial
A3
Recursos4 Critérios
32%
Energia 17% S Gestão da energia A4
Água 8% S Gestão da água A5
Materiais 5% S Gestão dos materiais A6
Produção alimentar 2% SProdução local de alimen-tos
A7
Cargas ambientais5 Critérios
12%
Efluentes 3% S Gestão dos efluentes A8
Emissões atmosféricas 2% SGestão das emissões atmosféricas
A9
Resíduos 3% S Gestão dos resíduos A10
Ruído exterior 3% S Gestão do ruído A11
Poluição ilumino -térmica 1% S Gestão ilumino -térmica A12
Conforto ambiental3 Critérios
15%
Qualidade do ar 5% S Gestão da qualidade do ar A13
Conforto térmico 5% SGestão do conforto térmi-cocondições de conforto
A14
Iluminação e acústica 5% SGestão de outras condições de conforto
A15
Vivência socioeconómica5 Critérios
19%
Acesso para todos 5% SContribuir para acessibilidade
A16
Diversidade económica 4% SContribuir para a dinâmica económica
A17
Amenidades e interacção social
4% SContribuir para as amenidades
A18
Participação e controlo 4% S Condições de controlo A19
Custos no ciclo de vida 2% SContribuir para os baixos custos no ciclo de vida
A20
Uso sustentável2 Critérios
8%
Gestão ambiental 6% SPromover a utilização e Gestão
A21
Inovação 2% S Promover a inovação A22
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Como se avalia: Prescritivo versus Desempenho
No caso da aplicação dos critérios, estes podem ter
uma lógica prescritiva, isto é, referenciar a solução
a adoptar ou podem ser de desempenho, isto é,
associarem -se a valores de desempenho, por exem-
plo percentagem de energias renováveis utilizadas
para aquecimento das águas quentes sanitárias.
As vantagens dos critérios prescritivos é que
apresentam logo a solução a adoptar, sendo fácil
este passo; as desvantagens é que restringem a
solução a adoptar. Os critérios de desempenho
apresentam a vantagem de permitir escolher a
gama de soluções mais ajustadas, embora seja por
vezes difícil de avaliar o desempenho em fases
iniciais do projecto, onde é muito importante que
a sustentabilidade comece a ser considerada.
Assim, a solução adoptada para a versão LiderA
África assenta num conjunto de critérios prescriti-
vos, pressupondo a capacidade de integração e
valorização da paisagem e assumindo uma pers-
pectiva de qualidade arquitectónica. Os critérios
propostos são uma base (núcleo) passível de ser
ajustada, face ao tipo de utilização do empreendi-
mento e aos aspectos ambientais considerados.
Por exemplo, no caso de uma habitação social,
a acessibilidade à comunidade pode e deve ser en-
tendida como o acesso aos utentes e o respectivo
custo. No caso de um edifício de um banco o cri-
tério da acessibilidade pode ser entendido como
segurança, e assim sucessivamente.
A lógica é, no geral, que o valor ou solução se
for superior a 50% às práticas usuais (e em muitos
casos não adequadas, excepto nas soluções verna-
culares) se classifica como classe A e se for quatro
vezes superior como classe A+ e dez vezes supe-
rior como classe A++. Para a aplicação em casos
concretos é de referir que pode ser contactado o
sistema LiderA ([email protected]) para obter
mais informação.
A2.4.3 A certificação pelo Sistema LiderA
A aplicação para certificação pelo LiderA assenta no
acordo para a candidatura, com a equipa de desen-
volvimento do LiderA, durante a qual serão aferidos
os critérios aplicados e respectivos limiares, em fun-
ção dos usos e da fase em causa. Para a respectiva
aplicação e instrução do processo, é relevante a par-
ticipação dos assessores do sistema, que apoiem o
desenvolvimento das soluções do empreendimento,
bem como sistematizem os comprovativos.
O seu reconhecimento em fase de projecto ou
certificação em fase de construção ou operação,
decorre da obtenção de provas quanto ao nível
atingido e é efectuado através de um processo de
verificação desses comprovativos e nível do nível
de desempenho atingido, por uma terceira parte
(independente face ao empreendimento) e indica-
da pelo sistema LiderA.
O reconhecimento é possível ser efectuado quan-
do se comprova que, para as diferentes áreas ou no
global, o empreendimento se encontra nas classes C
(superior em 25% à prática), B (superior em 37,5%
à pratica) e A (50% superior à pratica). Na melhor
Vertentes Área Wi Pre ‑Req. Critério Nºc C.A. F.A.
Integração local3 Critérios
14%
Solo 7% S Valorização territorial A1
Ecossistemas naturais 5% S Valorização ecológica A2
Paisagem e património 2% SValorização paisagística e patrimonial
A3
Recursos4 Critérios
32%
Energia 17% S Gestão da energia A4
Água 8% S Gestão da água A5
Materiais 5% S Gestão dos materiais A6
Produção alimentar 2% SProdução local de alimen-tos
A7
Cargas ambientais5 Critérios
12%
Efluentes 3% S Gestão dos efluentes A8
Emissões atmosféricas 2% SGestão das emissões atmosféricas
A9
Resíduos 3% S Gestão dos resíduos A10
Ruído exterior 3% S Gestão do ruído A11
Poluição ilumino -térmica 1% S Gestão ilumino -térmica A12
Conforto ambiental3 Critérios
15%
Qualidade do ar 5% S Gestão da qualidade do ar A13
Conforto térmico 5% SGestão do conforto térmi-cocondições de conforto
A14
Iluminação e acústica 5% SGestão de outras condições de conforto
A15
Vivência socioeconómica5 Critérios
19%
Acesso para todos 5% SContribuir para acessibilidade
A16
Diversidade económica 4% SContribuir para a dinâmica económica
A17
Amenidades e interacção social
4% SContribuir para as amenidades
A18
Participação e controlo 4% S Condições de controlo A19
Custos no ciclo de vida 2% SContribuir para os baixos custos no ciclo de vida
A20
Uso sustentável2 Critérios
8%
Gestão ambiental 6% SPromover a utilização e Gestão
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Inovação 2% S Promover a inovação A22
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classe de desempenho existe, para além da classe A,
a classe A+, associada a um factor de melhoria de 4
e a classe A++ associada a um factor de melhoria de
10 face à situação inicial considerada, sendo esta úl-
tima equivalente a uma situação regenerativa.
Para cada tipologia de utilização são definidos
os níveis de desempenho considerados, que per-
mitem indicar se a solução é ou não sustentável.
A parametrização para cada um deles segue, ou a
melhoria das práticas existentes, ou a referência
aos valores de boas práticas, tal como é usual nos
sistemas internacionais.
Exemplo de Certificações pelo Sistema LiderA
Em Outubro de 2007, em Lisboa, foram atribuídos os
primeiros cinco certificados de bom desempenho am-
biental (Classe A) pela marca portuguesa registada
LiderA – Sistema de Avaliação da Sustentabilidade.
Desde essa altura, o sistema Lider A têm sido utiliza-
do para o reconhecimento e certificação de empreen-
dimentos pelo seu bom desempenho, abrangendo
uma diversidade de situações; no sector residencial,
empreendimentos turísticos de vulto, edifícios de
serviços, ou intervenção em planos de pormenor de
novas áreas de expansão urbana. Os exemplos mais
representativos dos certificados atribuídos são apre-
sentados no website www.lidera.info.
Actualmente estão em curso candidaturas mui-
to inovadoras de avaliação para países africanos
de língua oficial portuguesa, quer em termos de
planeamento urbano, quer em termos de projecto
de arquitectura (nova construção e reabilitação).
A2.5 Concluindo
A procura da sustentabilidade começa a abranger
diferentes empreendimentos e desafia estrutural-
mente o sector da construção. O Sistema LiderA
tem como objectivo liderar a procura de boas solu-
ções ambientais e de sustentabilidade nas diferen-
tes fases, desde o plano ao projecto, à obra, manu-
tenção, gestão, reabilitação e até à fase final de
demolição. Para efeito define um conjunto de seis
princípios, que se subdividem em vinte e duas áreas
e em 22 critérios. Os critérios estão numerados de
1 a 22 (isto é, um critério sugerido com NºC).
FIG. A2.3 Níveis de Desempenho Global.
Para o sistema LiderA o grau de sustentabilidade é mensurável e passível de ser certificado em classes de bom desempenho (C, B, A, A+ e A++) que incluem uma melhoria de 25% (Classe C) face à prática (Classe E), passando por uma melhoria de 50% (Classe A), melhoria de factor 4 (Classe A+) até uma melhoria de factor 10 (Classe A++).
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O sistema LiderA pode ser utilizado para efec-
tuar o desenvolvimento e a procura de soluções,
de forma integrada e eficiente, quer nas fases pre-
liminares ou qualitativas, quer nas fases detalha-
das e quantitativa, permitindo assim um apoio es-
trutural ao longo das várias fases dos projectos.
O LiderA assume -se assim como um instrumen-
to de apoio ao desenvolvimento de soluções sus-
tentáveis integradas e de certificação, dando as-
sim ao mercado uma referência da boa procura da
sustentabilidade.
FIG. A2.4 Sistema LiderA.
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Autor: Manuel Duarte Pinheiro, Instituto Superior Técnico. Responsável do Sistema LiderA (www.lidera.info)
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A3 Vegetação e Conforto Microclimático
com referência a países africanos
Esta secção visa mostrar a possibilidade de melhorar
o microclima local através da vegetação. Foca em
particular o microclima exterior associado a edifícios
localizados no meio urbano, em países africanos lu-
sófonos, durante a estação quente e seca. É referido
o potencial microclimático da vegetação em condi-
cionar um espaço para reduzir as altas temperaturas,
minimizando a sensação de desconforto.
Alguns factores que influenciam as variações
de temperatura e humidade são: o tipo e tamanho
FIG. A3.1 Benefícios da vegetação: sombreamento, arrefecimento do microclima (evapotranspiração), redução da poluição e conforto psicológico.
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da vegetação, formato de copa, a qualidade e per-
meabilidade de sombra projectada, e também a fi-
siologia vegetal. O uso da vegetação é uma estra-
tégia de arrefecimento passivo eficiente, de baixo
custo e baixa manutenção. O seu uso gera espaços
mais confortáveis, salubres, humanos e dignos,
elevando a qualidade de vida da população.
Como a maioria das questões na sociedade mo-
derna, a arquitectura também foi influenciada
pelo processo de globalização, onde a cultura e
identidade local tem dado lugar à voz maciça da
ignorância e o poder do mais forte. Grandes caixas
de vidro, totalmente seladas, estão sendo cons-
truída nos trópicos, ignorando qualquer recurso
natural ou potencial bioclimático. A África não é,
infelizmente, excepção. As “caixas de vidro” sela-
das estão proliferando pelas cidade, sem noção do
seu absurdo e efeitos negativos. Importar ideias,
tipologias e conceitos arquitectónicos de países
estrangeiros, onde a geografia, o meio ambiente e
o clima são absolutamente diferentes do contexto
local, tem levado a soluções arquitectónicas im-
próprias e inadequadas.
É importante, se não essencial, que se faça uso
ao máximo do potencial do meio ambiente, para
se obter o maior benefício possível, de uma ma-
neira inteligente e sustentável
Para muitos, a questão da habitação de baixa ren-
da é meramente um exercício matemático de econo-
mia e estatística, resultando muitas vezes em solu-
ções indevidas. A solução apropriada para uma
comunidade não é necessariamente apropriada para
outra. Há milhares de pessoas com problemas habita-
cionais e urbanos, e por isso deveria haver milhares
de soluções. As ideias devem ser abundantes e apro-
priadas para cada contexto. O conhecimento não
deve jamais ser ignorado, sempre se aperfeiçoando
de experiências passadas. Consequentemente, valores
culturais, tradições e memória histórica, tudo que faz
pessoas e cidades distintas, interessantes e únicas,
devem ser preservados. As árvores e vegetação de um
modo geral, podem melhorar condições microclimáti-
cas indesejáveis em torno de edificações. Todavia,
seu potencial tem sido ignorado, principalmente pela
falta de informações sobre as suas vantagens em ter-
mos de providenciar conforto e bem estar, além dos
benefícios em termos energéticos e ambientais.
Muitas vezes o processo de urbanização tem sido
caracterizado por devastação, onde toda a cobertura
vegetal nativa é removida de forma irresponsável,
FIG. A3.2 Conforto microclimático – vegetação no espaço suburbano, em Bissau.
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na tentativa de simplificar a implementação urbana.
O processo de devastação traz um enorme impacto
negativo no meio ambiente deixando a terra vulnerá-
vel a erosões, escassez de sombreamento e muita po-
eira. O maior problema porém é a exposição à exces-
siva e castigante radiação solar. Essa combinação
agrava ambientes já secos resultando em áreas de
muita pouca humidade, sendo os baixos valores con-
siderados alarmantes para a saúde pela World Health
Organisation (WHO). Estas condições tornam algumas
tarefas do quotidiano urbano impraticáveis em certas
épocas do ano. Para se criarem ambientes internos e
externos confortáveis, ou para se reduzir a carga de
arrefecimento, construir com o controle solar em
mente é essencial É vital o melhoramento do microcli-
ma externo para se alcançarem espaços mais confor-
táveis, principalmente para pessoas que não tem ne-
nhum outro recurso ou meio para explorar a não ser o
entorno imediato. Analisando o clima e vegetação lo-
cal, podemos perceber o potencial que a implantação
de árvores ao redor da casa tem para o controle am-
biental microclimático, providenciando arrefecimento
passivo através do sombreamento e da humidificação
do ar através da evapotranspiração. Com a vegetação
urbana há ainda benefícios psicológicos e culturais,
alem de ganhos sustentáveis como retenção de polui-
ção, absorção de barulho e poluição, filtração dos
raios solares e produção de frutos.
Da mesma forma que não há nenhuma luz me-
lhor do que a luz solar natural, e não há nenhuma
brisa melhor do que a brisa de vento, não há tam-
bém nenhuma sombra melhor do que a de uma ár-
vore. Os benefícios associados ao microclima com
árvores são descritos posteriormente, em especial a
importância da utilização de árvores e seus efeitos
em diminuir a temperatura e aumentar os níveis de
humidade relativa por meio de bloqueio do sol e da
transpiração da folha. Extremo calor e secura são as
FIG. A3.3 Processos de sombreamento (protecção da radiação solar) e evapotranspiração.
FIG. A3.4 Sombreamento: redução de temperaturas.
187
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principais causas de condições fisiológicas descon-
fortáveis em locais quentes. Bernatzky (1978) afir-
ma que “o sobreaquecimento provoca distúrbios da
saúde: congestionamento de sangue para a cabeça,
dor de cabeça, náusea e fadiga.” Projectar com ve-
getação está directamente relacionado e afecta o
conforto térmico das pessoas. Nesses casos é críti-
co o controle da radiação solar, e a maximização do
ganho por evaporação. São seguidamente descritos
os efeitos microclimáticos das árvores.
As variáveis do microclima incluem a radiação so-
lar e terrestre, velocidade de vento, humidade, tempe-
ratura do ar e precipitação. O microclima da subcopa
é o espaço térmico em baixo da folhagem que é deter-
minado pelas características da árvore, relacionado as
condições ambientais circundantes FIGURA A3.3 .
A vegetação é um elemento ideal para a obstru-
ção de radiação solar pois tem baixa transmitância;
evitando a passagem da radiação para os espaços
adjacentes. Não sobreaquece acima da temperatura
do ar devido à sua capacidade auto -regulação. Em
geral, e’ considerado que, da radiação entrando em
uma folha, aproximadamente 50% é absorvida, 30%
reflectida e 20% transmitida (Robinnette, 1983)
FIGURA A3.5 . Como a maioria das copas são cons-
tituídas por múltiplas camadas, a radiação é filtra-
da, resultando em uma transmitância muito baixa,
quando atinge a parte inferior da copa. Grande par-
te da radiação é reflectida para outras folhas, redu-
zindo assim o montante que se reflecte a espaços
adjacentes. A maioria da radiação absorvida pelas
árvores e plantas é perdido pela evaporação da hu-
midade que é transpirada pelas folhas ou absorvida
pela terra e lentamente liberada.
A evapotranspiração é um processo natural da bio-
química das plantas, que tem o efeito de influenciar o
arrefecimento. Durante este processo as árvores ab-
sorvem água através de suas raízes, que atravessa seu
tronco e pela transpiração das folhas, lentamente in-
troduzem água para a atmosfera circundante. Por con-
seguinte, o ar perto de espaços verdes tende a ser
mais húmido. Enis (1984) descreve que uma arvore
madura de grande porte pode criar um efeito de arre-
fecimento de 2500kcal/h, que equivale a cinco apare-
lhos de ar condicionado de tamanho convencional
funcionando 20 h/dia. Federer (1976), também, con-
firma que a sombra de uma grande árvore urbana de
20 metros pode fornecer tanto frio quanto aparelhos
de ar condicionado funcionando praticamente o dia
todo. Sendo assim, a evapotranspiração pode provi-
denciar um melhoramento local da ilha de calor urba-
na, e reduzir a energia necessária para o arrefecimento
de espaços em edificações.
FIG. A3.5 Radiação reflectida, absorvida e transmitida por uma folha.
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A grande fonte de energia no microclima de qual-
quer local, é radiação solar. O excesso de calor e luz
que evitamos, geralmente é bem vinda pela vegeta-
ção. A quantidade de radiação recebida e mantida em
um microclima irá depender de suas características
como tamanho, localização e orientação do sítio e os
objectos nesse sítio; as características de superfície; o
tamanho e tipo de vegetação. Copas finas e leves po-
dem interceptar 60–80% da radiação solar e copas
densas podem interceptar até 99%. Morfologias dife-
rentes de árvores e folhas terão variações. Galhos e
ramos também ajudam a bloquear a radiação solar. No
caso de locais quentes, a obstrução eficiente dos ex-
cessos solares é uma necessidade e a árvore uma efi-
ciente aliada, de baixo custo e manutenção.
Elementos de paisagem têm diferentes albedos e
espécies de árvores diferentes interceptam radiação
em níveis diferentes, dependendo da época do ano.
Sua altura, transmissividade da copa, sazonabilida-
de, folhagem e desfolhação são algumas maneiras
como as arvores se diferenciam na sua capacidade de
influenciar a radiação directa. Radiação solar directa
incidindo em paredes e janelas é a principal fonte de
ganhos de calor, mas dois outros factores também
são importantes: calor do ar ambiente radiação indi-
recta decorrente das imediações. Todos os três des-
ses factores podem ser moderados por plantação de
árvores próximas à residência.
As árvores ajudam especialmente no sombrea-
mento de telhados e muros. Pode ser usada de três
maneiras para proteger o edifício da radiação so-
lar, sendo elas: adjacente ao edifício, sobre a
construção e independente do edifício. Telhados
com vegetação podem diminuir o fluxo de calor
através da laje na cobertura. Alguns estudos de
Cantuária (2001) exemplificam bem as variações
de temperatura em microclimas com árvores. Nos
exemplos estudados, a mangueira apresentou ser
um excelente condicionador de ar natural.
As árvores têm também uma influência benéfi-
ca na saúde. A presença de árvores nas cidades foi
associada à redução de stress mental e física dos
seus habitantes. Paisagens com árvores e vegeta-
ção “produzem estados fisiológicos mais relaxados
nos seres humanos do que paisagens que carecem
de recursos naturais ” (Ulrich, 1984). O ar mais
puro também deverá melhorar a saúde.
As árvores trazem benefícios sociológicos, contri-
buindo para a vitalidade de uma cidade ou de uma
vizinhança. Elas podem dominar a paisagem urbana
e contribuir para seu carácter e imagem de um am-
biente habitável e atraente. O paisagismo urbano
traz uma responsabilidade ambiental, ética e um for-
te senso de comunidade, capacitação, para os resi-
dentes. Plantar árvores melhora as condições da vizi-
FIG. A3.6 Contributo da vegetação para a filtração do ar, e obstrução e reflexão da radiação solar.
189
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nhança e reforça o sentimento da comunidade de
identidade social, auto -estima, territorialidade e pro-
move a educação ambiental e sensibilização. A vege-
tação urbana ajuda a aliviar algumas das dificuldades
da cidade especialmente para grupos de baixa renda,
e podem fornecer uma oportunidade tão necessária
para crianças de cidade de experimentar a natureza.
Através da sua rede de raízes e efeitos hidrológi-
cos, as árvores afectam também substancialmente a
estabilidade de encostas inclinadas, e impedem a
erosão. Funcionam também como estruturas de re-
tenção e detenção, quando reduzindo o escoamento,
que é essencial em muitas comunidades, como as-
sentamentos urbanos populares onde a tubulação de
drenagem não é inexistente. O custo do tratamento
de água das chuvas em assentamentos pode ser di-
minuído, reduzindo o escoamento devido a intercep-
ção de chuvas. Portanto reduzindo a taxa e o volume
de escoamento de água das chuvas, danos de inun-
dação, custos de tratamento de água de tempestade
e problemas de qualidade da água, árvores urbanas
pode desempenhar um importante papel nos proces-
sos hidrológicos urbanos.
Quando bem projectadas, plantações de árvores
e arbustos podem reduzir significativamente o ruí-
do, agindo como abafadores de som. As folhas ab-
sorvem o som e reduzem o tempo de reverberação.
Reduções de 50% ou mais podem ser alcançadas na
intensidade aparente por amplos cintos de árvores
densas e altas combinados com superfícies macias
de terreno (Cook, 1989).
Recomendações de design:
Uma árvore deve ser localizada por forma a forne-
cer o máximo de sombreamento para as fachadas,
particularmente a Nascente e Poente. As fachadas
com maior área de janela devem ser privilegiadas
em sombreamento.
O potencial de arrefecimento da sombra tende a di-
minuir com a distanciamento do seu tronco. Devem
FIG. A3.7 Uso de vegetação para sombreamento, num complexo turístico na zona insular (esquerda) e no continente (direita).
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ser plantadas árvores considerando que quando madu-
ras, a parte externa da copa esteja perto da fachada.
Neste processo devem ser também consideradas res-
trições em termos de segurança, relacionadas com o
sistema de raízes e a resistência do ramo.
Deve -se buscar o sombreamento das coberturas
por altas e grandes copas. Danos ao edifício, ou
de paredes, podem ser evitados, seleccionando as
espécies correctas para o espaço disponível.
Em locais onde a necessidade de refrigeração do
ambiente está presente quase todo o ano recomen-
da -se o plantio de espécies perenes, com rápido
crescimento.
Autor: Gustavo Cardoso Cantuária,
University of Cambridge
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ZION, Robert L. (1995). Trees for Architecture and Landscape. Van Nostrand Reinhold, New york.
A4 A gestão urbana e o licencia‑mento: revisão bibliográfica
Neste anexo é apresentada e comentada a biblio-
grafia actual e relevante na área da gestão urbana
– numa perspectiva de sustentabilidade. São tam-
bém sumariamente descritos conceitos essenciais.
A literatura que indicamos serve como fonte de
inspiração para todos, e os diversos títulos men-
cionados são fácilmente acessíveis.
A4.1 O processo de promoção imobiliária
Definição
Na promoção imobiliária identificamos o papel
dos agentes principais – o promotor imobiliário e
o Município (autarquia local). Também há outros
agentes, como por exemplo os construtores indivi-
duais, incluindo os auto -construtores. Neste gru-
po encontramos as construções legais e clandesti-
nas. Uma forma identificar o papel destes agentes
é definir a participação nalgumas partes da pro-
cesso de promoção imobiliária.
O processo de promoção imobiliária pode ser
definido em várias formas, por exemplo:
“A transformação da forma física, conjunto de
direitos, e valor material e simbólico de terrenos
e edifícios, através da acção de agentes com inte‑
resses e propósitos na aquisição e utilização de
recursos, nas regras de funcionamento, e na apli‑
cação e desenvolvimento de ideias e valores”
(Healey 1991)
“...um processo que envolve a alteração ou a in‑
tensificação do uso da terra para produção de edifí‑
cios para ocupação.” (Wilkinson & Reed 2008)
Estas duas definições focam a transformação do
terreno com a construção. Começa -se com uma
ideia e uma análise da possibilidade mudar o uso do
terreno para ter um aproveitamento melhor. A cons-
trução vem como consequência desta análise, e do
investimento.
Esta perspectiva do processo de promoção imo-
biliária não é apenas aplicável na Europa ou nou-
tros países industrializados. É evidente que a ur-
banização também se enquadra em processos de
promoção imobiliária em países africanos. As for-
mas podem ser diferentes, mas os fundamentos
são os mesmos.
As fases da promoção imobiliária
Um modelo de actividades (event ‑sequence) pode
ter um certo número de actividades típicas. Não é
uma lista de cada passo que se toma, mas uma
classificação das actividades principais. Kalbro
(2010) descreve o processo em oito fases:
Iniciação de um projecto
Planeamento e projecto de uso de terreno, edi-
fícios e equipamento
Processo de licenciamento por autoridades
Aquisição de terreno
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Financiamento
Construção
Avaliação
Também descreve mais duas fases que são impor-
tantes para completar a lista:
Acordos de implementação
Cedência e manutenção
Mesmo num país com capacidade limitada de
planeamento físico pelo Município, há outras for-
mas planear e levar projectos para a frente. O li-
cenciamento através do alvará de loteamento e de
construção é a forma usada, quer os para ambos
os alvarás, quer apenas para o de construção. Este
processo de licenciamento também exige uma ca-
pacidade urbanística do Município, e nem sempre
existe para satisfazer em quantidade suficiente.
A qualidade na apreciação dos projectos de lotea-
mento e/ou construção também é uma questão
importante para satisfazer as exigências da socie-
dade e do ambiente.
Significa que as urbanizações se podem desen-
volver apenas com iniciativas privadas, dos indivídu-
os ou famílias, e também dos promotores privados.
Mesmo nestes casos, sem a intervenção do Município
na área de planeamento e de licenciamento, pode
haver outros actores locais que satisfazem as neces-
sidades de organização do espaço físico, transferên-
cia de terrenos para construir e do enquadramento
das infraestruturas.
O objectivo de um processo de planeamento urba-
no e de licenciamento do Município é promover uma
perspectiva global da sociedade, coordenando diver-
sos interesses sociais, económicos e ambientais.
Existe uma variedade de situações onde o pla-
neamento urbano e o licenciamento são factores
essenciais. A ambição e capacidade real do Muni-
cípio variam. Não é aconselhável ter uma ambição
muito além da capacidade da administração do
Município, pois poderia causar demoras no proces-
so, e incentivos para desviar os pedidos da trami-
tação normal. Tal situação pode criar oportunida-
des de corrupção, construções clandestinas e
outras formas de gestão não desejada. Deve -se
procurar um equilíbrio entre as exigências e a ca-
pacidade administrativa, com directrizes bem cla-
ras e transparência na tramitação.
As estratégias de construção sustentável têm
de ser enquadradas no contexto do processo de
promoção imobiliária. Têm de se encaminhar os
indivíduos numa direcção comum, definida pela
sociedade. Entendemos que a indústria imobiliária
está progressivamente disposta a integrar aspec-
tos de sustentabilidade. Resumimos esta secção
sugerindo a leitura de dois livro de referência so-
bre a produção imobiliária QUADRO A4.1 .
Healey, P, 1991, Models of the development process:
a review. Journal of Property Research, 9, 219–238.
Wilkinson, S & Reed, R, 2008, Property
Development, Taylor & Francis Ltd. 5th edition.
QUADRO A4.1 Publicações de referência sobre o processo de promoção imobiliária. Na quinta edição do livro “Property Development” foi introduzido um capítulo sobre o impacto ambiental na promoção imobiliária, com vários exemplos práticos.
193
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A4.2 A gestão urbana e do território Perspectivas internacionais
Nesta parte apresentamos algumas publicações
que consideramos úteis para compreender melhor
a área de planeamento urbano, o licenciamento e
o processo de promoção imobiliária. A maior par-
te das publicações é de instituições das Nações
Unidas, sendo a nossa base comum como países
membros, independentemente do país e conti-
nente do mundo. Por isso, têm o peso e autorida-
de da comunidade global. Os comentários são
nossos, como interpretações e enquadramento
no contexto local.
As instituições com documentos de interesse
nesta área são várias. Apresentamos estas organi-
zações com as suas páginas Web de publicações
visto que muitos são documentos electrónicos, em
pdf, e assim acessíveis sem nenhum custo. A nos-
sa escolha é a seguinte:
FAO, Food and Agriculture Organization
of the United Nations (www.fao.org)
WB, World Bank/Banco Mundial
(www.worldbank.org)
International Institute for Environment
and Development (www.iied.org)
UN Habitat, the United Nations Human Settle-
ments Programme (www.unhabitat.org)
com três redes de internet:
GLTN, Global Land Tenure Network (www.gltn.net)
SUD -NET, Sustainable Urban Development Network
(http://www.unhabitat.org/categories.asp?catid=570)
GENUS, Global Energy Network
for Urban Settlements
(http://www.unhabitat.org/categories.asp?catid=631)
Cada organização tem a sua tarefa, com um ou
alguns departamentos com publicações que nos in-
teressam. Tomamos a FAO como exemplo. Tem vá-
rias áreas e séries de publicações. A ênfase é no de-
senvolvimento rural, mas existem partes gerais que
se aplicam também no contexto urbano. Na página
http://www.fao.org/corp/publications/en/ há listas de
publicações, incluindo os documentos acessíveis
como documentos electrónicos ou impressos.
A maior parte dos documentos da FAO são es-
critos em Inglês, mas muitos documentos tam-
bém são escritos em Francês, Espanhol e outras
línguas. As publicações em Português são pou-
cas. A FAO tem várias áreas de acção, e várias sé-
ries de publicações. Uma área é “Sustainable Na-
tural Resources Management” com mais de 100
publicações. Uma série de publicações é “Land
Tenure Working Paper”.
Gestão urbana e a política de ordenamento territorial.
Cada construção no meio urbano tem de ser inte-
grada neste contexto. Significa que tem de existir
uma coordenação entre as construções individuais,
isto é uma política de ordenamento territorial.
Baseados na literatura apresentada no QUADRO A4.3 ,
são apresentados alguns aspectos mais relevantes
sobre o tema.
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Há vários níveis de gestão urbana e ordena-
mento territorial. O nível mais directo é o alvará
ou licença de construção. Mas há outros níveis,
com exigências e princípios que devem integrar
os alvarás num contexto mais alargado. Pode -se
definir estes níveis, desde uma escala do porme-
nor até o geral:
Alvará/licenciamento (de obras, de loteamento)
Planos urbanísticos (loteamento, de pormenor,
plano director municipal)
Outros planos de desenvolvimento e planos sec-
toriais (gerais, regionais, do meio ambiente, zona
costeira, sociais, etc.)
Nacional: política nacional, legislação (lei de terra,
lei de ordenamento territorial, lei de planeamento, lei
de obras), códigos (de obras, municipal, etc.)
Enquadramento científico (sobre o território,
posse de terra, gestão/governação)
Começando pelo nível geral, apresentamos se-
guidamente algumas definição básicas sobre os
recursos fundiários (Suaréz et al, 2009, p 19):
1 “A posse da terra é a relação, definida legal‑
mente ou culturalmente, entre as pessoas com res‑
peito à terra.”
2 “Administração da terra é a forma como que
as regras da posse da terra são aplicadas e
operacionalizadas.”
3 “A prevenção da corrupção é um aspecto ób-
vio da boa governação”.
Num relatório elaborado pela FAO faz -se a se-
guinte definição de governação:
“Governação é o sistema de valores, políticas e
instituições através das quais uma sociedade admi‑
nistra as suas acções em termos económicos, políti‑
cos e sociais, entre o Estado, a sociedade civil e o
sector privado. A administração da terra diz respeito
às regras, processos e organizações através das quais
são tomadas decisões sobre o acesso à terra e seu
uso, a maneira pela qual as decisões são implemen‑
tadas, e a forma como os interesses concorrenciais
sobre a terra são geridos”. (Sotomayor, 2008, p. 8)
Estas definições identificam os recursos fundiá-
rios como essenciais para a governação da socieda-
de. A sociedade é desenvolvida com uma boa ges-
tão dos recursos fundiários. No caso contrário, as
perspectivas de futuro da sociedade são piores.
A partir daqui importa abordar a questão da
gestão destes recursos ao meio urbano. Suaréz et
al (op cit) usam uma descrição do conceito boa
gestão urbana, proposta pela UN -Habitat:
“A boa gestão urbana deve ser baseada no con-
ceito de «cidades inclusivas», em que as decisões
são globalmente participadas e há uma devolução
do poder do governo central para o local. A base
conceptual para a descentralização deve ser a
transferência de responsabilidades para o nível
mais perto da realidade local. A pedra angular
para uma boa administração urbana – a participa-
ção directa e ampla das comunidades na tomada
de decisões – é uma forma de melhorar a eficácia
das políticas locais e dar prioridade às iniciativas
e necessidades dos cidadãos”.
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Significa que se deve procurar um balanço entre
o nível central e local, e que a descentralização
também deve abranger os cidadãos, de uma forma
democrática. A descrição inclui a sociedade civil e
o sector privado, isto é, não pode ser uma área
onde o Estado (Governo central e os Municípios)1
tem um poder exclusivo, sem interacção com os ou-
tros que desempenham um papel nesta área.
A UN -Habitat (2009), faz uma caracterização
do conceito boa gestão urbana em sete critérios:
sustentabilidade – equilibrando as necessidades
sociais, económicas e ambientais das gerações
presentes e futuras;
subsidiariedade – a atribuição de responsabili-
dades e recursos para o nível adequado mais pró-
ximo da realidade local;
equidade de acesso aos processos de decisão e
às necessidades básicas da vida urbana;
eficiência na prestação dos serviços públicos e na
promoção do desenvolvimento económico local;
transparência e responsabilização dos decisores
políticos e de todas as partes interessadas;
QUADRO A4.2 Publicações sobre a gestão urbana e a política de ordenamento territorial.
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Monitoring Target 11. http://www.unhabitat.org/pmss/
getPage.asp?page=bookView&book=1157
1. Os Municípios fazem uma gestão pública. Podem fazer parte da estrutura do Estado, ou ser mais independentes como autarquias locais. Nesta explicação usamos o contexto do Estado, sem distinguir de uma eventual autonomia municipal.
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responsabilização cívica e de cidadania – reconhe-
cendo que as pessoas são o bem principal das cidades,
indispensável para um desenvolvimento sustentável;
segurança dos indivíduos e do contexto onde vivem.
Depois desenvolve -se mais sobre o planeamento
físico, enquadramento legal e a política de gestão ur-
bana. Aqui queremos mencionar algumas publicações
com exemplos concretos. Smolka & Mullahy (2007)
apresenta diversos artigos sobre países na América La-
tina, abordando assuntos como as tendências e pers-
pectivas das políticas de uso da terra, a informalidade,
legislação e direitos de propriedade, imposto predial,
recuperação de mais -valias, uso do solo e desenvolvi-
mento urbano, participação e gestão pública. Estes
artigos são práticos e acessíveis para usar como exem-
plo na gestão urbana em países africanos. O livro é
indicado pela GLTN como uma colecção de bons exem-
plos. Na nossa lista de literatura, apresentada no
QUADRO A4.2 , também propomos algumas publica-
ções em Português, do Brasil, Moçambique e Angola.
A UN -Habitat & Global Urban Observatory
(2003) identificam quatro critérios para identifi-
car o grau de progresso de melhorar a vida urbana
do meio habitacional:
estabilidade no acesso e posse de terra
durabilidade e qualidade e de edifícios
acesso a água potável
acesso a infraestruturas sanitárias
Significa que os edifícios fazem parte de um sis-
tema urbano, incluindo as infraestruturas técni-
ca e fundiária.
Contexto global do urbanismo
A gestão do território tem de ser enquadrada num
contexto global. As perspectivas são várias, e aqui
queremos indicar umas partes que são mais rela-
cionadas com o urbanismo.
Comecemos pela perspectiva geral sobre as cida-
des no mundo. O Banco Mundial promove estudos e
análises sobre a gestão urbana, com a perspectiva de
sustentabilidade (Leautier, ed., 2006). Exige -se uma
gestão das cidades, para enquadrar as iniciativas dos
actores neste meio urbano. Tem de existir uma gestão
com directrizes (regimes regulatórios), integrando in-
fraestruturas e serviços sociais. Também é dada a ên-
fase à participação dos cidadãos, e dos agentes deste
mercado. A acção pública é uma necessidade para se
conseguir criar cidades sustentáveis. Esta acção tam-
bém inclui uma interligação entre as áreas do clima
mundial e da gestão fundiária. Significa que a mudan-
ça gradual do clima tem implicações no sistema fun-
diário e da sua política (land policy; Quan 2008).
O Banco Mundial (World Bank 2003) também
desenvolve a ideia da terra como recurso, a sua in-
tegração no sistema fundiário e o papel para o de-
senvolvimento económico: “A definição de direi-
tos, conferindo segurança sobre a posse de terra é
um factor crucial para os esforços de desenvolvi-
mento“. Notamos que o Banco Mundial considera a
gestão pública essencial, e que há uma necessida-
de criar uma política de terra (land policy) para
conseguir o melhor aproveitamento.
Mohlund & Forsman (2010) descrevem o processo
de planeamento da zona urbana. Fazem -no como um
197
ANEx
OS
guia, com uma descrição detalhado e pratico como
criar um processo de planeamento a nível de toda a
cidade. A figura de plano director municipal (PDM) é
desenvolvida para coordenar o uso de terra na área
total de um município. A zona urbana e peri -urbana
de uma cidade está no foco de interesse de investi-
mentos de todas as camadas da população e empre-
sas. O guia pretende mostrar exemplos e conselhos
como o planeamento pode ser feito com a participa-
ção de todos os actores locais, incluindo a popula-
ção pobre, mulheres, políticos, técnicos e outros. Um
exemplo deste tipo de planeamento é apresentado
separadamente por Forsman (2007). As publicações
fazem parte das publicações da UN Habitat.
Assim, começamos com uma perspectiva global
mas mesmo assim existem conselhos à nível prático
como desenvolver este contexto global numa situ-
ação local.
O mercado imobiliário e o financiamento do meio urbano
A gestão municipal do meio urbano é essencial, mas o
papel do mercado imobiliário também tem de ser con-
siderado. O mercado tem movimento e actua em rela-
ção às regras e estruturas criadas. Temos de entender
que o mercado reage conforme os custos e benefícios
que entendem, isto é, com a melhor lógica. Banco
Mundial (World Bank 1993) faz uma análise do merca-
do imobiliário em países em desenvolvimento, e des-
creve o fracasso do seu funcionamento. Propõe que se
dever criar estruturas para o sector privado, incluindo
o sector informal. Também explica o papel de uma
gestão pública, e uma política de urbanismo e de ha-
bitação. Apresenta dados de 52 países, e tira conclu-
sões dos factores que incentivam e desincentivam in-
vestimentos. A seguir apresenta um programa como se
pode facilitar aos Governos desenvolver o mercado.
Negrão (ed., 2004) mostra como se pode identi-
ficar o papel do mercado de terras nas zonas urba-
nas. Mostra a importância existir um sistema funcio-
nal de alocação de terras para os cidadãos, e o
impacto de um desequilíbrio nesta área é essencial
para ter uma justiça social. O estudo feito em Mo-
çambique é um bom exemplo como realizar um estu-
do num país lusófono na África. Os níveis de valor de
terra são bem conhecidos pela população, como uma
realidade que se tem de enfrentar para conseguir um
terreno para construir, e também no caso de compra
de uma casa já construída.
Gilbert (2004) descreve num estudo para o Banco
Mundial uma outra parte da gestão urbana, e em es-
pecial como se podem encontrar formas de interven-
ção nas cidades. As intervenções públicas funcionam
como incentivos para investimento privado. Descre-
ve 99 projectos urbanos com participação de habi-
tantes e instituições financeiras. Significa que se
procura uma participação com vários actores, e não
contam apenas com o município/governo local ou a
sua verba do Governo Central. Os projectos foram de-
senvolvidos nas áreas dos sistemas de água, esgotos
e de lixo, bem como em outras áreas. Mostra que o
meio urbano pode ser melhorado também nas zonas
pobres da cidade, com a participação conjunta des-
tes actores e consumidores dos sistemas urbanos.
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QUADRO A4.3 Publicações sobre o contexto global do urbanismo.
A4.3 Gestão municipal do urbanismo
O papel do município
Os estudos sobre a gestão do meio urbano podem
ser feitos a nível global, mas a implementação da
política é feita a nível local. A gestão municipal é
a chave para levar a política nacional à realidade
na construção. O ambiente no bairro é um resulta-
do da gestão municipal, tanto em casos positivos,
como em casos negativos – quando a gestão é
ineficiente ou mesmo inexistente.
Lee & Gilbert (1999) apresentam experiências de
projectos de desenvolvimento de autarquias locais –
municípios, no Brasil e nas Filipinas. O estudo reali-
zado mostra a necessidade haver um funcionamento
local da gestão pública. Mostra como se poder ava-
liar medidas e como implementar as melhores formas
de descentralização das funções públicas de gestão.
É um bom exemplo, mostrando haver possibilidade
de se conseguir uma descentralização em países no
terceiro mundo, onde a estrutura municipal muitas
vezes é limitada. Davey (1993) também dá muitos
QUADRO A4.4 Publicações sobre o mercado imobiliário e o financiamento do meio urbano.
Forsman, Åsa, 2007, Strategic citywide spatial plan-
ning – A situational analysis of metropolitan Port -au-
-Prince, Haiti. UN Habitat & GLTN http://www.unhabi-
tat.org/pmss/listItemDetails.aspx?publicationID=3021
Leautier, Frannie (ed.), 2006, Cities in a Globaliz-
ing World: Governance, Performance, and Sustaina-
bility. World Bank. http://publications.worldbank.
org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown
&item%5fid=5435493
Mohlund, Örjan & Forsman, Åsa, 2010, Citywide
Strategic Planning – A Step by Step Guide. UNHabi-
tat/GLTN. http://www.unhabitat.org/pmss/listItem-
Details.aspx?publicationID=3020
Quan, Julian, 2008, Climate change and land ten-
ure. The implications of climate change for land ten-
ure and land policy. FAO Land Tenure Working Paper
2. FAO, IIED and Natural Resources Institute. ftp://
ftp.fao.org/docrep/fao/011/aj332e/aj332e00.pdf
World Bank, 2003, Land Policies for Growth and
Poverty Reduction. http://publications.worldbank.
org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown
&item%5fid=939227
Gilbert, Roy 2004, Improving the Lives of the Poor
through Investment in Cities: An Update on the Per-
formance of the World Bank’s Urban Portfolio. http://
publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/pro
duct?context=drilldown&item%5fid=2452871
Negrão, José (ed.), 2004, Mercado De Terras Urba-
nas Em Moçambique. Research Institute for Develop-
ment. http://www.gltn.net/index.php?option=com_
docman&gid=196&task=doc_details&Itemid=24
(Inglês, e http://www.iid.org.mz/html/relatorios.html
(Português)
World Bank, 1993, Housing: Enabling Markets to
Work. A World Bank policy paper.http://www -wds.
worldbank.org/external/default/main?pagePK=6419
3027&piPK=64187937&theSitePK=523679&menuPK=
64187510&searchMenuPK=64187283&theSitePK=523
679&entityID=000178830_98101911194018&search
MenuPK=64187283&theSitePK=523679
199
ANEx
OS
bons exemplos da gestão autárquica do meio urbano.
Alguns aspectos são o financiamento dos serviços,
métodos de avaliação dos serviços e colaboração en-
tre Municípios o sector privado.
UN Habitat & GLTN (2007) descrevem a situa-
ção de planeamento urbano num país pobre, a ci-
dade de Port -au -Prince, em Haiti. Analisam o pa-
pel do planeamento urbano, com uma gestão
activa do território. Também foca a necessidade
integrar a perspectiva metropolitana na gestão
municipal, isto é, não limitar a acção a cada mu-
nicípio na área metropolitana, mas estender a
perspectiva a toda a área urbana.
UN Habitat (2004) também apresenta perspec-
tivas sobre a integração dos bairros pobres no pla-
neamento. O papel do Estado e dos municípios é
importante, e também de outros agentes locais.
As medidas para melhorar os bairros existentes
também podem servir de exemplo para as novas
urbanizações – e outras ocupações informais de
terreno. O processo de licenciamento enquadra
muitos projectos novos, e em especial projectos
de carácter prioritário. Todos os exemplos e inicia-
tivas para melhorar o meio urbano, com um plane-
amento do uso de terra, e com as habitações exis-
tentes e novas, devem ser divulgados ao público.
O livro da UN Habitat é um bom exemplo que se
pode trabalhar com métodos e medidas praticas
para as populações pobres. Não devem ser excluí-
das dos trabalhos urbanísticos.
Sugerimos também a consulta de outros títulos
da UN Habitat referidos abaixo, ou directamente
na página de Web desta organização. As publica-
ções abrangem vários aspectos de medidas deseja-
das para melhorar os bairros urbanos existentes,
tanto a nível geral, político e financeiro como
questões praticas de infraestruturas.
Comparticipação Município – sector privado
A gestão municipal é essencial, mas podem -se pro-
curar formas de colaboração com o sector privado,
isto é, no mercado imobiliário e noutras actividades
económicas. Significa que se procura integrar o sec-
tor privado no contexto global, do urbanismo e do
ordenamento do território, e assim alargar a pers-
pectiva do licenciamento de obras, ou de loteamen-
tos. PPIAF & World Bank (2005) descrevem a colabo-
ração com o sector privado na área de infraestruturas
em Angola. Na área de urbanismo há uma complexi-
dade maior, e com benefícios comuns, que não se
pode cobrar directamente no seu consumo, por
exemplo, o uso de terrenos comuns. Mas as experiên-
cias numa áreas económicas podem ser usadas para
desenvolver a área de urbanismo.
Imparato & Ruster (2003) descrevem um outro
processo de colaboração, junto com os cidadãos
dos bairros degradados na América Latina, e apre-
sentam várias formas de financiamento, tanto lo-
cal como externo. Fazem a seguinte definição de
colaboração (participation):
“A participação é um processo no qual a popula‑
ção, em particular a população carenciada, influen‑
cia a alocação de recursos e a formulação e imple‑
mentação de políticas fundiárias, e é envolvida a
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diferentes níveis na identificação de soluções duran‑
te o projecto de planeamento, e posteriormente na
sua implementação, e avaliação pós ‑ocupação.“
A ênfase inicial no conceito de participação é
feita para sublinhar o papel e a possibilidade
abranger os cidadãos dos bairros, e neste contexto
os proprietários dos prédios.
Godin & Farvacque -Vitkovic (1998), num estudo
lançado pelo Banco Mundial, apresentam uma pers-
pectiva do desenvolvimento das cidades na África
francófona durante os últimos 25 anos, isto é, du-
rante as décadas 1970–1990. O crescimento das ci-
dades tem sido muito elevado, e tem causado mui-
tos problemas criar estruturas urbanas para
acompanhar o desenvolvimento. Mostram questões
chaves no que concernem o papel dos parceiros, fi-
nanciamento, infraestruturas, etc.
Peterson (2008) sublinha as mesmas ideias
uma década mais tarde, e com uma ênfase no va-
lor fundiário como recurso para financiamento de
infraestruturas. Faz um exame da teoria subjacen-
te a diferentes aspectos financeiros, tais como ta-
xas de melhoria, taxas de impacto, e da troca de
activos em terras e infraestruturas públicas e pri-
vadas. Estas ideias tem sido desenvolvidas duran-
te os últimos anos considerando o habitat urbano
como um recurso financeiro, visto que os investi-
mentos realizados nas construções representam
QUADRO A4.5 Publicações sobre o papel do município no urbanismo.
Davey, Kenneth J, 1993. Elements Of Urban Manage-
ment / Elementos de la Gestion Urbana , World Bank.
http://publications.worldbank.org/ecommerce/cata-
log/product?context=drilldown&item%5fid=194821
(Inglês – esgotado) http://publications.worldbank.org/
ecommerce/catalog/product?context=drilldown&item%
5fid=217916 (Espanhol – acessível)
Lee, Kuy Sik & Gilbert, Roy, 1999, Developing Towns
& Cities: Lessons from Brazil and the Philippines,
World Bank http://publications.worldbank.org/ecom-
merce/catalog/product?context=drilldown&item%5fi
d=210802
UN Habitat, 2008a, How to Develop a Pro -poor Land Po-
licy – Process, Guide and Lessons. http://www.unhabitat.
org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2456
UN Habitat 2008b, Manual on the Right to Water
and Sanitation. http://www.unhabitat.org/pmss/ge-
tPage.asp?page=bookView&book=2536
UN Habitat, 2008c, Participatory Budgeting in Africa –
A Training Companion (Volume I: Concepts and Princi-
ples; Volume II: Facilitation Methods). http://www.unha-
bitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2460
UN Habitat, 2006a, Analytical Perspective of Pro -poor
Slum Upgrading Frameworks. http://www.unhabitat.
org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2291
UN Habitat 2006b, Financial Resource Mapping. For
Pro -Poor Governance Part – I. For Untied Resources
Available at City Level Part II. http://www.unhabitat.
org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2391
UN Habitat, 2004, Pro -Poor Land Management: In-
tegrating Slums into City Planning Approaches.
ht tp : //www.unhab i ta t .o rg/pmss/ge tPage.
asp?page=bookView&book=1105
UN Habitat & GLTN, 2007, Strategic citywide spatial
planning – A situational analysis of metropolitan
Port -au -Prince,Haiti.http://www.gltn.net/index.
php?option=com_docman&gid=209&task=doc_
details&Itemid=24
World Bank, 2009, Improving Municipal Manage-
ment for Cities to Succeed: An IEG Special Study.
http://publications.worldbank.org/ecommerce/cata-
log/product?context=drilldown&item%5fid=9199933
200
201
ANEx
OS
um capital muito maior do que os investimentos
de cooperação.
UN Habitat & EcoPlan International (2005/2007)
têm uma série de quatro volumes como um manual
pratico para entender e trabalhar com a autarquia lo-
cal, e assim identificar como financiar os investi-
mentos sem depender do Estado Central. A co-
-participação com o sector privado, tanto os
construtores como os proprietários, pode contribuir
nos investimentos para criar o meio urbano deseja-
do. A vantagem com esta série é que tem uma partes
gerais e outras partes práticas e que servem bem
para usar pelos encarregados nos municípios e nas
empresas privadas.
A4.4 A gestão do meio urbano
Espaços verdes no meio urbano
O meio urbano não é constituída apenas pelas cons-
truções, mas também pelas partes publicas e co-
muns. É evidente que as infraestruturas viárias são
públicas, mas também há uma necessidade de espa-
ço verde – como um pulmão na área urbana. A área
urbana é desenvolvida como o ‘habitat’ – o nosso
meio de viver. As perspectivas de sustentabilidade
nas construções é uma parte importante e talvez a
parte mais em foco. As zonas verdes no meio urbano
também fazem parte deste meio urbano. Aqui limita-
mos a nossa perspectiva a alguns exemplos práticos.
Rukunuddin & Hassan (2003) mostram a necessidade
criar um meio ambiente nas cidades grandes, e neste
caso numa cidade em Bangladesh com uma percen-
tagem alta de pobreza. Significa que a gestão urbana
tem de procurar formas para garantir estes espaços
verdes. Propõe -se o uso de indicadores no planea-
mento. O artigo foi destacado e publicado pela FAO
como um bom exemplo.
Um outro artigo destacado na página Web da FAO
foi escrito por um grupo de cientistas do Danish Fo-
rest and Landscape Research Institute (Konijnindijk
et al, 2003), para dar ênfase aos aspectos verdes no
desenvolvimento urbano. O artigo apresenta o con-
ceito de UPF (Urban and peri -urban forestry – zonas
verdes/bosque no meio urbano e peri -urbano), e aí
inclui -se a participação no processo de planeamento
e implementação. Entendemos que a gestão pública
é essencial, mas depende de uma boa co -participação
de outros agentes, privados, associações e de cida-
dãos para ter sucesso. Também mostram no artigo
que não é apenas uma questão dos países desenvol-
vidos, mas de todos os países. Mostram exemplos de
UPF em várias partes do mundo, e assim entendemos
que há condições para implementar o conceito.
A4.5 Financiamento e créditos
Os investimentos no sector imobiliário representam
uma grande parte do produto nacional bruto. As for-
mas de financiamento são várias, e variam muito en-
tre as camadas da população. O auto -financiamento
é grande nos países em desenvolvimento, em espe-
cial nas camadas populacionais médias e pobres.
O crédito hipotecário é uma forma muito usada nos
países desenvolvidos, e permite um investimento
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maior para o dono sem recursos na situação actual.
Exige um sistema de segurança hipotecária, que se
baseia no enquadramento dos prédios num sistema
de posse formal de terra, para se poder hipotecar va-
lores da unidade predial. Para funcionar bem têm de
existir unidades prediais bem distintas e com valor
oficial, que é usado como unidade hipotecária.
Em todos os países existe uma estrutura para hipo-
tecar as propriedades, mas não é usada num nível
muito elevado em países em desenvolvimento. O es-
tudo comparativo do economista de Soto (2003) é o
mais destacado para identificar um problema específi-
co nesta área. Explica a diferença entre os países
latino -americanos e os EUA na confiança no sistema
judicial e no desenvolvimento do sector hipotecário.
A polémica criada por de Soto tem sido útil para mos-
trar alternativas para financiamento, e com a necessi-
dade de uma infraestrutura financeira. Outros, por
exemplo, Home & Lim (2004) mostram mais perspec-
tivas para entender as origens do problema e a varie-
dade de soluções em países africanos e das Caraíbas.
O guia da UN Habitat (2008 a) é uma boa introdu-
ção nesta área, como desenvolver as possibilidades fi-
nanceiras de habitações para toda a população, e em
especial para as camadas de rendimento médio e bai-
xo. Descreve e analisa os sistemas formais e informais.
Portanto, é um guia para uma política mais abrangen-
te no sector imobiliário. Não se deve pensar apenas
nos sistemas formais, a que apenas uma pequena par-
te da população tem efectivamente acesso.
Também há estudos específicos em vários países,
nos continentes Sul -Americano, Africano e Asiático:
Bolívia, Chile, Perú, Zimbabwe, África do Sul, Índia,
Indonésia, Tailândia e Coreia. O exemplo da África do
QUADRO A4.6 Publicações sobre a comparticipação entre municípios e sector privado.
Godin, Lucien & Farvacque -Vitkovic, Catherine,
1998, The Future of African Cities: Challenges and
Priorities in Urban Development. World Bank. Tam-
bém acessível em Francês. http://publications.world-
bank.org/ecommerce/catalog/product?context=drilld
own&item%5fid=204720
Imparato, Ivo & Ruster, Jeff, 2003, Slum Upgrading and
Participation: Lessons from Latin America. World Bank.
http://publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/
product?context=drilldown&item%5fid=1088629.
Peterson, George E, 2008, Unlocking Land Values to Fi-
nance Urban Infrastructure. World Bank. Palgrave Mac-
millan. http://publications.worldbank.org/ecommerce/
catalog/product?context=drilldown&item%5fid=8811078
PPIAF & World Bank, 2005, Private Solutions for Infras-
tructure in Angola. Soluciones Privadas para a Infraestru-
tura em Angola. Edição em Inglês e Português http://pu-
blications.worldbank.org/ecommerce/catalog/product?c
ontext=drilldown&item%5fid=4281347 ou 4281538
UN Habitat, 1996, Policies and Measures for Small –
Contractor Development in the Construction Industry.
ht tp : //www.unhab i ta t .o rg/pmss/ge tPage.
asp?page=bookView&book=1340
UN Habitat e EcoPlan International, 2005/2007, Local
Economic Development (LED) series -Promoting Local
Economic Development through Strategic Planning (Four
Volumes – 1 Quick Guide, 2 Manual, 3 Toolkit and 4 Action
Guide) Promovendo o Desenvolvimento Econômico Local
através do Planejamento Estratégico. Edição em Inglês
2005, em Português 2007. Também acessível em Francês.
http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page
=bookView&book=2625 (em Português) http://www.
unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView
&book=1922 (em Inglês)
203
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OS
Sul (UN Habitat 2008 b) pode servir bem. UN Habitat
(2002) também apresenta um panorama de vários
países na área de financiamento habitacional, e as-
sim serve de exemplo e incentivo para enquadrar e
desenvolver os sistemas nacionais de financiamento.
As experiências apresentadas mostram que existem
soluções para melhorar a situação habitacional para
todos, e que o financiamento não é restrito ao sector
formal onde o título de propriedade permite a con-
cessão de crédito através da hipoteca formal. As ini-
ciativas na área de construção sustentável exigem
tanto um conhecimento melhor de técnicas de cons-
trução e design, como investimentos financeiros.
A4.6 Construção no meio urbano
As técnicas de construção são descritas noutras partes
deste manual. Nesta parte queremos apenas concluir
a abordagem de literatura das organizações interna-
cionais com alguns poucos títulos sobre a construção
e o seu papel como consumidor de energia. A área é
bem vasta, e não pretendemos fazer uma abordagem
grande, mas apenas mostrar que faz parte dos progra-
mas e iniciativas das organizações internacionais.
A UN Habitat tem uma secção sobre a habitação,
e faz a ligação com o terreno, já descrito acima.
Chama -se ‘Land and Housing’, o que indica que fa-
zem a ligação entre o acesso a terreno e a constru-
ção. São duas partes interligadas na urbanização.
O tema de ‘Land and Housing’ tem muitos títu-
los sobre as técnicas de construção, incluindo a
energia, tecnologias, e sustentabilidade na cons-
trução. O acesso geral às publicações da UN Habi-
tat: http://www.unhabitat.org/pmss/.
Aqui queremos mencionar duas publicações da UN
Habitat, para mostrar o desenvolvimento nesta área.
UN Habitat (1997) dá uma abordagem global sobre no
final da década de 1990. Entendemos que esta área já
era importante nessa altura, que se tentava mostrar e
fazer chegar conhecimentos de soluções adequadas
na construção. Nota -se que o tema é tecnologias para
as construções de custos baixos, e assim são adapta-
das a pessoas sem grandes recursos financeiros.
Uma década mais tarde, UN Habitat (2007) apre-
senta opções para melhorar o acesso e consumo de
energia em bairros suburbanos pobres. Significa que
há soluções para resolver a situação actual nesses bair-
ros. O consumo é individual mas depende do forneci-
mento do bairro, e como se organiza esta área a nível
local. Como se entende da descrição do livro, foi uma
reunião de peritos para identificar as limitações em to-
das as áreas onde a energia é um factor essencial. Tam-
bém faz uma análise do ambiente local, onde o consu-
mo de energia pode melhorar para evitar a poluição.
A UN Habitat também promove iniciativas na
área de energia através de uma rede de internet,
GENUS, the Global Energy Network for Urban Set-
tlements. Acesso: http://www.unhabitat.org/ca-
tegories.asp?catid=631.
A rede é nova, e realizou dois encontros em
2009, sobre transportes e electrificação para bair-
ros suburbanos respectivamente, e dois em 2010
sobre transportes urbanos e energia produzida
com lixo. Nota -se que estes tipos de técnicas e
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acções são conhecidos em países desenvolvidos,
como por exemplo o programa do urbanismo sus-
tentável da cidade de Malmö (ver a parte inicial
deste capítulo).
Uma outra rede de internet criada pela UN Ha-
bitat é a SUD–NET – Sustainable Urban Develop-
ment Network: http://www.unhabitat.org/cate-
gories.asp?catid=570
Os temas desta rede são grandes, e abrange as-
pectos mais globais sobre as mudanças climáticas,
mas também aspectos mais locais e aplicáveis na
construção civil e planeamento urbano. A cidade
de Maputo é uma de quatro cidades piloto desta
rede, e assim tem alguns estudos já feitos e outros
por fazer. A análise identifica vários problemas,
como por exemplo inundações fluviais, desapare-
cimento de zonas de mangal, e degradação da
qualidade de água.
A4.7 Uma cidade sustentável
O processo de construção sustentável tem de ser
apoiado por uma estratégica de sustentabilidade
da gestão urbana. É um aspecto prioritário do pro-
grama SURE–Africa – Sustainable Urban Renewal
– Energy Efficient Buildings in Africa.
Os promotores de construção precisam de uma
contrapartida do sector público, tanto a nível lo-
cal e como a nível nacional, com uma boa orien-
tação sustentável na gestão urbana.
Seguidamente é descrito, de forma sucinta, um
exemplo de boas práticas de gestão sustentável,
promovida a nível municipal– a cidade de Malmö.
A cidade de Malmö – exemplo sustentável
A cidade de Malmö, ao sul da Suécia, é apresentada
como inspiração e para mostrar o que o sector público
QUADRO A4.7 Publicações sobre espaços verdes no meio urbano.
QUADRO A4.8 Publicações sobre financiamento e créditos.
Rukunuddin, Ahmed Miyan & Hassan, Rakibul, 2003,
People’s Perception toward Value of Urban Greenspace
in Environmental Development. World Forestry Congress,
Sept 23–30, 2003, Quebec city, Canada http://www.fao.
org/DOCREP/ARTICLE/WFC/xII/0347 -B5.HTM
Konijnendijk, Cecil C; Sadio, Syaka; Randrup, Thomas B.
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gress, Sept 23–30, 2003, Quebec city, Canada. http://
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Home, Robert & Lim, Hilary (ed.) 2004, Demystify-
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pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2547
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South Africa. http://www.unhabitat.org/pmss/get-
Page.asp?page=bookView&book=2549
UN Habitat, 2002, Financing Adequate Shelter for All.
http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page
=bookView&book=1277
205
ANEx
OS
pode fazer para apoiar as actividades dos promotores
privados. As condições são diferentes entre a Suécia e
os países africanos abrangidos pelo Sure -Africa. Mas
apresentam -se umas ideais do trabalho que se faz para
orientar a gestão urbana com este objectivo.
Vamos começar com o trabalho do Município na
área de sustentabilidade urbana. Aqui encontramos
uma visão bem enraizada, em forma de trabalhos já
feitos e visões. Foram realizadas duas conferências
sobre o tema Sustainable City Development, em 2005
e 2007 respectivamente. Identificaram -se muitas
áreas para encaminhar o desenvolvimento urbano
nesta direcção. A documentação das conferências
está acessível no website http://www.malmo.se/ser-
vicemeny/malmostadinenglish/sustainablecitydevel
opment.4.33aee30d103b8f15916800024628.html.
Este website contem também muitos outros docu-
mentos, disponíveis em formato pdf, como por exem-
plo programas gerais de desenvolvimento sustentá-
vel, e programas sobre energia e clima. Os temas dos
workshops da conferência de 2007 mostram a situa-
ção complexa das intervenções, ou seja, as possibi-
lidades de actividades para mudar a gestão urbana.
A cidade de Malmö foi um exemplo destacado
pela UN Habitat no World Habitat Day 2009. Outros
exemplos do mundo inteiro, incluindo 20 projectos
em países africanos, desde o início desta iniciativa
em 1989, até 2009, são acessíveis na seguinte di-
recção: http://www.unhabitat.org/content.asp?ty
peid=19&catid=588&cid=7306.
Autor: Klas Ernald Borges, University of Lund
QUADRO A4.9 Publicações sobre construção no meio urbano.
UN Habitat, 1997, Global Overview of Construction Technology Trends: Energy -Efficiency in Construction. ht tp : //www.unhab i ta t .o rg/pmss/ge tPage.asp?page=bookView&book=1452
UN Habitat, 2007, Enhancing Access to Modern Energy Options for Poor Urban Settlements. http://www.unhabi-tat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2354
A4.10 Workshops na conferência sobre Sustainable Development, em Malmö, 2007.
Workshop 1 Arquitectura sustentável
2 Alterações climáticas
3 Manutenção e operação
de edifícios sustentáveis
4 Parcerias público -privadas
no sector da Energia
5 Sistemas de energias renováveis
6 Design de edifícios sustentáveis
– o desenvolvimento do conceito
7 Como melhorar a acessibilidade
sem aumentar o número
de viaturas privadas
8 Construção sustentável
nas regiões do Báltico e Escandinávia
9 Vegetação urbana como meio
de adaptação ao clima
10 Planeamento urbano
11 Um futuro sem petróleo
12 Sistema de saúde sustentável
13 Como reduzir produção sem reduzir os bens
14 Integração urbana
15 Educação e desenvolvimento
sustentável das cidades
16 Ferramentas para a concepção
de edifícios sustentáveis
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A5 Desenvolvimento Limpo nos PALOP: Potencial para energias sustentáveis
O Protocolo de Quioto, as políticas e mecanismos
com ele relacionadas deram novo fôlego à ideia de
obter um modelo energético sustentável, que contri-
bua ao mesmo tempo para combater as alterações
climáticas e para reduzir a pobreza. Enquanto se pro-
cura minimizar os efeitos do crescimento económico
sobre o planeta, é indefensável negar às populações
mais pobres – que não têm acesso a serviços básicos
e foram as que menos contribuiram para a situação
actual – a melhoria do seu nível de vida.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM na
sigla inglesa) é um dos três mecanismos de flexibilida-
de previstos no Protocolo de Quioto, a par da Imple-
mentação Conjunta e do comércio de emissões, e o
único que envolve directamente os países mais pobres.
Pressupõe o investimento dos países desenvolvidos
(Anexo I da Convenção sobre as Alterações Climáticas)
em projectos de redução de emissões nos países em
desenvolvimento (não Anexo I), contribuindo para o
desenvolvimento sustentável destes países e contabi-
lizando esses investimentos nos seus próprios compro-
missos de redução face ao Protocolo de Quioto (e face
a metas regionais como as da União Europeia).
Existem no entanto obstáculos a esta ideia de “de-
senvolvimento sustentável”. O CDM, enquanto mecanis-
mo de mercado, e nos moldes actuais, tem -se revelado
mais apropriado para projectos de larga escala e países
em crescimento económico acelerado. Muito se tem fa-
lado do envolvimento de África, que está em último
plano, com menos de 2% de projectos CDM registados
até hoje. Só a China e a Índia representavam mais de
60% dos projectos registados pelo Comité Executivo do
CDM a 8 de Novembro de 2010 (2 486 no total).
Existe uma grande diversidade de tecnologias de
redução de emissões consideradas no CDM, mas
abordaremos aqui em concretos as que estão rela-
cionadas com o aproveitamento das Fontes de Ener-
gia Renováveis (FER).
Para fazer face à necessidade de reduzir emis-
sões em diversas frentes, Portugal recorreu aos me-
canismos de flexibilidade e criou um Fundo de Car-
bono com o objectivo de investir em projectos de
redução de emissões, incluindo de Desenvolvimen-
to Limpo. Desde 2007 já foram assinados memoran-
dos de entendimento com os cinco PALOP, que dão
grande destaque aos projectos de FER.
A cooperação portuguesa estava até aqui dedica-
da a outras áreas, mas nos últimos anos o ambiente
e a sustentabilidade têm aparecido como preocupa-
ções estratégicas, com o ambiente a surgir nos pla-
nos anuais e plurianuais de cooperação.
No entanto, ainda não há projectos CDM no ter-
reno e também há pouca informação sobre o real
potencial destes países para receber investimentos
deste tipo. Será necessário apostar nos próximos
anos em estudos e levantamentos mais exaustivos.
É ainda mais escassa a informação sobre países pe-
quenos como São Tomé e Príncipe e a Guiné -Bissau.
Angola e Moçambique têm vastos territórios que pare-
cem oferecer um universo de possibilidades. Cabo Ver-
de, por seu turno, assistiu a um grande entusiasmo
207
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FIG. A5.1 Projectos CDM registados (Fonte UNFCCC).
pelas renováveis, nos anos 70 a 80, mas nos últimos
anos tem vindo novamente a afirmar -se neste campo,
tendo um conjunto de projectos previstos com apoios
internacionais, incluindo de Portugal.
A5.2 O caso dos PALOP: energia e alterações climáticas
O uso de biomassa é dominante em África, com
consequências na preservação dos recursos naturais
do continente. O consumo de energias fósseis e de
electricidade nunca foi generalizado à população e
a maior parte dos países não é totalmente servida
por uma infra -estrutura energética. Esta fonte de
energia permanecerá como a mais importante, mas
há formas de atenuar os seus efeitos, por exemplo
promovendo a utlização de fornos solares ou mais
eficientes, uma vez que a maior parte da energia é
utilizada na confecção de alimentos.
Todos os PALOP estão classificados como Países
Menos Avançados (PMA) pelas Nações Unidas. Ex-
cepto Cabo Verde que passou a ser considerado um
País de Rendimento Médio em 2008. Todos estes
cinco países ratificaram já a Convenção sobre as Al-
terações Climáticas e o Protocolo de Quioto, mas
apenas Cabo Verde e Moçambique têm as suas Au-
toridades Nacionais Designadas operacionais, um
passo fundamental para poderem receber projectos
CDM. Portugal tem dado prioridade à constituição
destes organismos na cooperação com os PALOP.
Em termos de potencial de implementação de pro-
jectos FER, a biomassa e a energia solar serão as duas
fontes mais disponíveis nos PALOP, mas é necessário
proceder a estudos aprofundados para apurar o verda-
deiro potencial existente nas diversas áreas. A eólica
não terá viabilidade em todas as geografias, sendo
adequada por exemplo no caso de Cabo Verde.
Um estudo feito pelo Banco Mundial em 2008,
sobre oportunidades de desenvolvimento de projec-
tos CDM em África, abrangeu quatro PALOP (São Tomé
e Príncipe não foi incluído) e apenas uma parte das
FER, mas ainda assim conclui que o potencial de re-
dução de emissões pode ser significativo.
Cabo Verde
O país revela potencial para o aproveitamento de di-
versas FER, em particular a solar e a eólica. Cabo Verde
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tem muito pouca chuva ao longo do ano e o número
de horas de Sol pode atingir uma média de 200 por
mês (IE4Sahel/IST, 2007). Esta fonte de energia tem
sido pouco aproveitada ao longo dos anos, havendo
recentemente alguns projectos para as zonas rurais.
Além dos elevados níveis de insolação, um dos
elementos climáticos predominantes em Cabo Verde é
o vento, que sopra de forma constante dos quadrantes
Nordeste e Este. As médias situam -se entre os 4 m/s e
os 7 m/s (Alves et al., 2007).
Em 2004, a energia eólica representou cerca de
3% da produção de electricidade. Em 2007 foi ela-
borado um Atlas Eólico de Cabo Verde pelo labora-
tório Risø, da Dinamarca. Espera -se que a taxa de
utilização da eólica aumente para os 18% com os
quatro projectos recentemente aprovados para as
ilhas de Santiago, São Vicente, Sal e Boa Vista.
Angola
A mini -hídrica, solar e aproveitamento da biomassa são
as áreas de maior potencial nas FER. Um estudo sobre o
perfil ambiental de Angola, realizado pela MHV para a
Comissão Europeia em 2006, recomenda a difusão das
fontes renováveis (nomeadamente solar, mini -hídrica e
biomassa) a iniciar em escolas em meio rural, nos par-
ques naturais e em áreas desérticas (maior utilização
solar), assim como a promoção da eficiência energética
junto da indústria e da utilização de gás natural, com o
objectivo de reduzir a dependência de combustíveis.
O sector dos biocombustíveis tem suscitado in-
teresse por parte das grandes empresas privadas da
área da energia.
Moçambique
A biomassa, lenha e carvão vegetal, representa mais
de 90% do consumo de energia, mas o país tem poten-
cial para exploração de algumas FER, em particular a
hídrica e mini -hídrica, pois é rico neste tipo de recur-
sos, exportando inclusivamente a maior parte da elec-
tricidade produzida pela barragem de Cahora Bassa.
A radiação solar global é de 220 W/m2, mais
que o dobro da do continente europeu, o que per-
mite igualmente o aproveitamento da energia so-
lar (Greenpeace/ITDG, 2002).
Já o potencial para desenvolvimento da energia
eólica não é tão significativo neste território, com
uma velocidade média de vento que pouco ultrapassa
2 m/s, excepto nas zonas costeiras onde pode atingir
3 a 4 m/s, como concluíram por exemplo estudos de-
senvolvidos pelo projecto CDM for Sustainable Africa1.
O desenvolvimento de biocombustíveis tem suscita-
do interesse, tal como em Angola, pelo potencial de ex-
ploração de produtos como o coqueiro ou a mandioca.
FIG. A5.2 Micro -turbina eólica.
209
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Guiné ‑Bissau
Essencialmente dependente da biomassa (recursos
florestais) e da importação de produtos petrolíferos.
A desflorestação é um problema significativo que se
tem agravado com o passar dos anos, apesar da po-
lítica nacional de reflorestação. (MHV/CE, 2007).
Também neste país a produção de biocombus-
tíveis a partir de recursos agrícolas poderá ser
uma das FER mais importantes a explorar, mas
também a solar e a eólica.
A velocidade média do vento na Guiné -Bissau situa-
-se 3 e 5 m/s, sendo suficiente para a instalação de
parques eólicos. O país dispõe além disso de uma boa
radiação solar – 5 a 6 KWh/m2/dia (8 horas diárias).
São Tomé e Príncipe
O potencial do país para utilização das FER está
ainda pouco estudado e requer um levantamento
exaustivo das potenciais fontes.
O relatório pedido pelo governo de São Tomé ao
Earth Institute da Universidade de Columbia, em
2004, recomendava o uso da biomassa florestal,
através da gaseificação e posterior aproveitamento
do gás na confecção de alimentos. O mesmo estudo
defendia inclusivamente que o agroflorestamento
poderia levar a produção de biomassa a atingir as
40 mil toneladas anuais, o que equivaleria à produ-
ção anual de energia eléctrica do país.
Autora: Carla Gomes Mestre em Gestão e Políticas Ambientais pela Universidade de Aveiro
Referências
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leviation in Sahel/IE4Sahel: Public Report, Insti-
tuto Superior Técnico, Lisboa.
Earth Institute, Universidade de Columbia (2004),
Relatório sobre Infra -estrutura de Energia – São
Tomé e Príncipe, Columbia.
GOUVELLO, C., Dayo, F., & Thioye, M. (2008), Low-
-carbon Energy Projects for Development in Sub-
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Reconstruction and Development / The World Bank,
Washington, DC
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Pays – Guinée Bissau: Rapport final (pour la CE),
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Convention on Climate Change
http://www.wri.org, World Resources Institute (WRI)
1. CDM for Sustainable Africa Project – Consórcio formado por instituições de ensino e investigação de países europeus e africanos, com o objectivo de aprofundar o conhecimento sobre o potencial de África para desenver projectos de Desenvolvimento Limpo. Dados retirados do mapa CDM de Moçambique: http: //www.rgesd -sustcomm.org/CDM_AFRICA/cdm_africa_Mapping_Mo-zambique.htm. Fontes: IEA Energy Statistics and The World Fact Book.
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Texto Introdução Leão Lopes,Italma Simões PereiraCapítulo 1 Italma Simões Pereira,Adolfo Ramos Capítulo 2 Italma Simões PereiraCapítulo 3 Manuel Correia Guedes,Italma Simões Pereira Capítulo 4 Italma Simões PereiraCapítulo 5 Italma Simões Pereira Capítulo 6 Leão Lopes, Italma Simões PereiraCapítulo 7 Italma Simões Pereira
Anexo 1 Gilberto LopesAnexo 2 Manuel Pinheiro Anexo 3 Gustavo Cantuária Anexo 4 Klas BorgesAnexo 5 Carla Gomes
Quadros Capítulo 2 Italma Simões Pereira Capítulo 3 Manuel Correia Guedes Capítulo 7 Italma Simões PereiraAnexo 1 Gilberto Lopes Anexo 2 Manuel Pinheiro Anexo 4 Klas Borges
Figuras Capa Foto Italma Simões Pereira
1.1 Imagem Italma Simões Pereira (adaptado de .wikipedia.org)
1.2 Fotos Italma Simões Pereira1.3 Fotos Catarina Schwarz1.4 Foto Catarina Schwarz1.5 Foto Italma Simões Pereira1.6 Foto Adolfo Ramos1.7 Foto Adolfo Ramos1.8 Foto Adolfo Ramos1.9 Foto Adolfo Ramos1.10 Foto Adolfo Ramos1.11 Foto Miguel de Barros1.12 Foto Manuel Correia Guedes1.13 Foto Italma Simões Pereira1.14 Foto Adolfo Ramos1.15 Foto Adolfo Ramos1.16 Foto Catarina Schwarz1.17 Foto Italma Simões Pereira1.18 Foto Italma Simões Pereira
2.1 Foto Miguel de Barros2.2 Foto Miguel de Barros2.3 Foto Italma Simões Pereira2.4 Foto Manuel Correia Guedes2.5 Imagem Italma Simões Pereira
(adaptado de Nóbrega, 2003)2.6 Esquema Italma Simões Pereira
(adaptado de Tenreiro, 1950)2.7 Desenho de Aisha Ferreira
(adaptado de de Blazejewicz et al., 1983)2.8 Foto Italma Simões Pereira2.9 Desenho Italma Simões Pereira
(adaptado de Lima, 1948)2.10 Foto Italma Simões Pereira2.11 Foto Italma Simões Pereira2.12 Foto Italma Simões Pereira2.13 Foto Italma Simões Pereira2.14 Foto Italma Simões Pereira2.15 Foto Italma Simões Pereira
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2.16 Foto Italma Simões Pereira2.17 Desenho Aisha Ferreira
(adaptado de Araujo, 1948)2.18 Desenho Aisha Ferreira
(adaptado de Blazejewicz et al., 1983)2.19 Desenho Aisha Ferreira
(adaptado de Blazejewicz et al., 1983)2.20 Desenho Aisha Ferreira
(adaptado de Blazejewicz et al., 1983)2.21 Foto Italma Simões Pereira2.22 Foto Italma Simões Pereira2.23 Foto Miguel de Barros2.24 Foto Miguel de Barros2.25 Foto Manuel Correia Guedes2.26 Foto Italma Simões Pereira2.27 Desenho S. M. Arroja
(em Mota, 1948)2.28 Foto Italma Simões Pereira2.29 Foto Italma Simões Pereira2.30 Foto Italma Simões Pereira2.31 Foto Domingos Fernandes2.32 Foto Domingos Fernandes2.33 Foto Italma Simões Pereira2.34 Foto Catarina Schwarz2.35 Foto Italma Simões Pereira2.36 Fotos Italma Simões Pereira2.37 Foto Italma Simões Pereira2.38 Fotos Italma Simões Pereira2.39 Foto Italma Simões Pereira2.40 Foto Italma Simões Pereira2.41 Foto Italma Simões Pereira2.42 Foto Italma Simões Pereira2.43 Foto Italma Simões Pereira2.44 Foto Italma Simões Pereira2.45 Foto José Carlos Esteves2.46 Foto Italma Simões Pereira2.47 Foto Carlos Silva (AD)2.48 Fonte: Acção para o Desenvolvimento
(AD, 2006b)2.49 Fonte: Acção para o Desenvolvimento
(AD, 2006b)2.50 Foto Catarina Schwarz
2.51 Foto Italma Simões Pereira
3.1 Foto Italma Simões Pereira3.2 Fotos Manuel Correia Guedes3.3 Gráfico Italma Simões Pereira3.4 Gráfico Italma Simões Pereira3.5 Desenho Leão Lopes3.6 Desenho Leão Lopes3.7 Desenho Leão Lopes3.8 Desenho Leão Lopes3.9 Desenho Leão Lopes3.10 Desenho Leão Lopes3.11 Desenho Mariana Pereira
(adaptado de Baker, 2000)3.12 Desenho Mariana Pereira3.13 Diagrama Italma Simões Pereira3.14 Desenho Joana Aleixo 3.15 Foto Manuel Correia Guedes3.16 Fotos Manuel Correia Guedes3.17 Foto Manuel Correia Guedes3.18 Desenho Leão Lopes 3.19 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Goulding, 1992)3.20 Fotos Manuel Correia Guedes3.21 Fotos Manuel Correia Guedes3.22 Fotos Manuel Correia Guedes3.23 Fotos Manuel Correia Guedes3.24 Fotos Manuel Correia Guedes3.25 Fotos Manuel Correia Guedes3.26 Desenho Leão Lopes 3.27 Fotos Manuel Correia Guedes3.28 Fotos Manuel Correia Guedes3.29 Foto Manuel Correia Guedes3.30 Fotos Manuel Correia Guedes3.31 Fotos Manuel Correia Guedes3.32 Foto Manuel Correia Guedes3.33 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Goulding, 1992)3.34 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Thomas, 1996)3.35 Fotos Manuel Correia Guedes3.36 Fotos Manuel Correia Guedes
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3.37 Foto Manuel Correia Guedes3.38 Fotos Manuel Correia Guedes3.39 Fotos Manuel Correia Guedes3.40 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Thomas, 1992) 3.41 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Thomas, 1992)3.42 Desenho Mariana Pereira3.43 Desenho Joana Aleixo 3.44 Desenho Leão Lopes 3.45 Desenho Leão Lopes3.46 Desenho Leão Lopes3.47 Desenho Leão Lopes3.48 Desenho Leão Lopes3.49 Desenho Leão Lopes3.50 Desenho Leão Lopes3.51 Desenho Leão Lopes3.52 Desenho Leão Lopes3.53 Desenho Leão Lopes3.54 Desenho Leão Lopes3.55 Desenho Leão Lopes3.56 Desenho Leão Lopes3.57 Fotos Manuel Correia Guedes3.58 Foto Italma Simões Pereira3.59 Fotos Manuel Correia Guedes 3.60 Diagramas Italma Simões Pereira3.61 Gráficos Italma Simões Pereira3.62 Gráficos Italma Simões Pereira3.63 Fotos Manuel Correia Guedes
4.1 Foto Manuel Correia Guedes4.2 Foto Manuel Correia Guedes4.3 Foto Italma Simões Pereira4.4 Foto Italma Simões Pereira4.5 Foto Italma Simões Pereira4.6 Foto Italma Simões Pereira4.7 Foto Italma Simões Pereira4.8 Foto Italma Simões Pereira4.9 Foto Italma Simões Pereira4.10 Foto Carlos Silva4.11 Desenho Aisha Ferreira
(Adaptado de Lourenço, 2002)
4.12 Foto Italma Simões Pereira4.13 Foto Italma Simões Pereira4.14 Foto Italma Simões Pereira4.15 Foto Italma Simões Pereira4.16 Foto Italma Simões Pereira4.17 Foto Italma Simões Pereira
5.1 Foto Miguel de Barros5.3 Foto Manuel Correia Guedes5.4 Foto Manuel Correia Guedes
Capítulo 6 Desenhos Leão LopesCapítulo 7 Imagens Italma Simões Pereira
Anexo 1 Imagens Gilberto Lopes Anexo 2 Imagens Manuel PinheiroAnexo 3 Imagens Gustavo CantuáriaAnexo 5 Imagens Carla Gomes
ARQUITECTURASUSTENTÁVEL
NA GUINÉ-BISSAU MANUAL DE BOAS PRÁTICAS
ARQUITECTU
RA SUSTEN
TÁVEL NA GU
INÉ-BISSAU
MA
NUAL DE BOA
S PRÁTICA
S
O presente manual tem como principal objectivo sugerir medidas básicas para a prática de uma arquitectura sustentável. Destina--se a estudantes e profissionais de arquitectura e engenharia, sendo também acessível ao público com alguma preparação técnica na área da construção. Tendo em conta o clima, os re-cursos naturais e o contexto socioeconómico, são traçadas, de forma simplificada, estratégias de boas práticas de projecto.
Foi elaborado no âmbito do projecto europeu SURE-Africa (Sus-tainable Urban Renewal: Energy Efficient Buildings for Africa), em que participaram quatro instituições africanas: o Departamento de Arquitectura da Universidade Agostinho Neto (Angola), a Es-cola Internacional de Artes do Mindelo (M-EIA, em Cabo Verde), o Ministério das Infra-estruturas e Transportes da República da Guiné-Bissau, e a Faculdade de Arquitectura da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique), e três instituições académicas europeias: o Instituto Superior Técnico (coordenador do projecto), a Universidade de Cambridge (Reino Unido) e a Universidade de Lund (Suécia).