UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ELIANE CRISTINA DE LIMA CARDOSO
AS PRINCIPAIS CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR NOS
SISTEMAS DE ENSINO E A INTERVENÇÃO DO ORIENTADOR
EDUCACIONAL COMO FACILITADOR DESSE PROCESSO
Orientador: Prof. VILSON SÉRGIO DE
CARVALHO
Rio de Janeiro
Julho de 2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ELIANE CRISTINA DE LIMA CARDOSO
AS PRINCIPAIS CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR NOS
SISTEMAS DE ENSINO E A INTERVENÇÃO DO ORIENTADOR
EDUCACIONAL COMO FACILITADOR DESSE PROCESSO
OBJETIVOS:
Monografia apresentada à Universidade
Candido Mendes, como requisito para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato
Sensu de Orientação Educacional e
Pedagógica.
Rio de Janeiro
Julho de 2010
3
AGRADECIMENTOS
A Deus que é a razão do meu viver, sem ele
não encontraria forças para encarar os
obstáculos da vida. Obrigado por ter iluminado
os meus pensamentos dando a necessária
sabedoria para desenvolver este trabalho.
Ao corpo docente do IAVM por ter nos
incentivado a seguir nosso objetivo.
A minha família, que mesmo distante, me
incentivou com palavras de encorajamento.
A minha diretora Zulmira Alem e minhas
amigas companheiras de trabalho que
estiveram comigo durante este trajeto, sempre
me incentivando.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta obra aos que muito contribuíram
para minha formação, em especial a minha
mãe Maria da Guia, por todo amor e carinho
dedicados nos momentos de aflição, como
reconhecimento de tudo o que tenho recebido
dela. As minhas irmães Elisângela e Elidiane
pelo companheirismo durante esse percurso.
5
RESUMO
O tema que move esta pesquisa procura compreender alguns elementos que nos
auxiliam a pensar sobre o fracasso escolar e suas principais causas nos sistemas de
ensino. O fracasso escolar é hoje um grande problema encontrado nas instituições de
ensino. Neste sentido, pretendo neste trabalho, apontar reflexões acerca do assunto,
mostrando as possíveis causas do fracasso escolar, e, além disso, alguns mecanismos
utilizados pela escola para minimizar esse quadro. Ao longo dos capítulos,
responderemos as seguintes indagações: O que vem provocando o fracasso escolar
nos sistemas de ensino? Que mecanismos de ensino o educador pode usar para
minimizar a questão do fracasso escolar? Qual o Papel da Orientação Educacional na
escola, para a possível redução do fracasso escola.
O estudo busca sinalizar que o fracasso escolar pode ser transformado a partir da
mudança de paradigmas de ensino dos educadores, sendo estes trabalhados de forma
interativa com a Orientação Educacional, estimulando assim uma melhor visão de
mundo da escola. Para isso, é necessário que os discentes avaliem sua práxis
pedagógica, sendo esta estimulada pela Orientação Educacional na instituição escolar,
valorizem e acreditem no potencial de seus alunos, mostrando-os que todos são
capazes de aprender, cada um em seu tempo.
6
METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfico / documental,
seguindo os seguintes itens: levantamento e seleção da bibliografia e leitura analítica
de textos.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................8 CAPÍTULO I O FRACASSO ESCOLAR................................................................................11 CAPÍTULO II A POSTURA DO PROFESSOR E O FRACASSO ESCOLAR......................26 CAPÍTULO III
O PAPEL DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA PARA A POSSÍVEL
REDUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR........................................................35
CONCLUSÃO.................................................................................................42
BIBLIOGRAFIA..............................................................................................45
8
INTRODUÇÃO
O fracasso escolar é hoje um grande problema para o sistema educacional
brasileiro. Muitas vezes, para se livrar da responsabilidade deste fracasso, busca-se um
culpado; alguém que possa assumir sozinho esta situação.
A explicação para as causas do fracasso escolar passará obviamente pela
reflexão de que a escola explica e lida com as desigualdades reais, porém, o que
ocorre muitas vezes é a busca pelos culpados por tal fracasso e, a partir daí, percebe-
se um jogo, ora se culpa a criança, ora determinada classe social, ora todo um sistema
econômico e político. Mas será que existe mesmo um culpado para a não
aprendizagem?
Normalmente, define-se o fracasso escolar como conseqüência de dificuldades
de aprendizagem e como a expressão de uma falta de conhecimentos e competências.
Esta visão que “naturaliza” o fracasso impede a compreensão de que ele resulta de
formas, de normas de excelência que foram incluídas pela escola, cuja execução revela
algumas arbitrariedades, entre as quais a definição de exigência do qual depende o
limiar que separa aqueles que têm êxito daqueles que não têm. As formas de
excelência que a escola valoriza, se tornam critérios e categorias que coincidem sobre
a aprovação ou reprovação do aluno. A própria instituição educativa que muitas vezes
não leva em consideração a visão de mundo do aprendente. As discrepâncias entre o
desempenho fora e dentro da escola são significativas. Ou seja, muitas vezes os
profissionais da educação não conseguem transpor o conhecimento para a realidade do
aprendente.
Com efeito, é difícil ficar indiferente ou imune às discussões sobre o fracasso
escolar e suas implicações no processo educativo, já que essa é uma questão contínua
para aqueles comprometidos com a escola, seja ela, uma instituição pública ou privada.
9
Temos ciência de que este problema no interior da escola não se dá apenas por
uma causa, e sim pelo currículo todo (objetivos, conteúdos, metodologia,
relacionamento etc). Ou seja, se aprender é algo intrínseco ao ser humano, a verdade é
que o ensino não é uma condição necessária nem suficiente para que se verifique uma
aprendizagem. Aprendem-se coisas que são ensinadas e ensinam-se coisas que
ninguém aprende.
Para os seus incontestáveis méritos, a escola tem o gravíssimo defeito de não
trabalhar com pessoas, mas sim com alunos, com o propósito principal de habituá-los a
está sentados em silencio, e a observar pontualmente o lhe é prescrito.
A verdade, é que a escola deveria ser o lugar onde os alunos ganhassem o
gosto pelo trabalho de aprender, porém, as aulas não constituem uma parte significativa
na vida dos educandos.
Muitos estudiosos dessa problemática da aprendizagem vêm se dedicando a
pesquisar as possíveis causas do baixo desempenho escolar, que hoje, já não são
atribuídos somente aos alunos ou a fatores extra - escolares, como deficiências de
ordem biológica e/ ou psicológica, cultural e carências de diversos tipos. O problema do
fracasso escolar deve ser atribuído a diversas causas: deficiência na formação de
professores; deficiência na avaliação dos alunos; preconceitos por conta de diferenças
sócio - culturais do aluno; desconhecimento por parte da escola sobre o processo do
conhecimento desconsidera os diferentes níveis do desenvolvimento cognitivo.
No contexto deste estudo surge a necessidade de conhecer as principais causas
do fracasso escolar nos sistemas de ensino e como a Orientação Educacional pode
intervir nesse processo para melhoria desse quadro. Contudo, tentaremos responder as
seguintes indagações: Quais as principais causas do fracasso escolar? Como a
Orientação Educacional, juntamente a todo corpo docente da escola podem intervir
para a melhoria desse quadro?
10
Acredita-se que a presente monografia possa apontar reflexões significativas
sobre o tema e que os resultados escolhidos possam ter relevância social a partir do
momento em que puderem contribuir para que os educadores passem a ter uma
interação mais afetiva em suas realidades.
Para isso, esta monografia foi organizada em três capítulos:
Capítulo I - Procurou-se, conceituar e caracterizar o fracasso escolar,
destacando alguns indicadores mais relevantes e tecendo-se considerações sobre suas
conseqüências para a formação do aluno.
Capítulo II - Esta parte aborda o fracasso escolar e a postura do professor,
bucou-se apresentar as idéias para uma caracterização e delimitação das causas e
conseqüências.
Capítulo III – No último capítulo vislumbramos sugestões da Orientação
Educacional para enfrentar desafios apontados nos capítulos anteriores, com intuito de
reduzir o fracasso escolar nos sistemas de ensino.
Ao final, tecemos algumas considerações cujas pretendem responder ao problema,
bem como atingir o propósito desse trabalho.
11
CAPÍTULO I
O FRACASSO ESCOLAR
Fracasso escolar hoje em dia, não é tarefa fácil de ser abordada, principalmente
a alguns tipos de públicos, para alguns o assunto é muito familiar, podendo assim
correr o risco de ser repetitivo ou causar algum tipo de impacto, seja pelo nível de
desconhecimento das causas até hoje identificadas, seja pelas resistências que podem
provocar.
A mais ou menos seis décadas, as altas taxas de reprovação e evasão escolar
são denunciadas e, no entanto, este quadro muito lentamente vem sido alterado, e em
apenas alguns locais. Por outro lado, de algumas forma estamos envolvidos com este
problema, quer como professores, supervisores e / ou pesquisadores, quer como
cidadãos.
Segundo Candau (2008),
“pensar a educação em um contexto de tantas dúvidas e incertezas nos obriga de certa forma articular a perplexidade inicial com o desafio instigante de refletir sobre mudanças, de procura pistas de reflexão para diferentes questões que se colocam hoje neste campo.”(p.19)
Este estudo julga o tema – fracasso escolar – mito e realidade – bastante
oportuno, pois quanto mais se ampliar o conhecimento sobre uma dada realidade,
melhores serão as condições para encontrar formas de superar uma dada situação que
julgamos ser profundamente injusta e inaceitável.
Maria Helena de Souza Patto (1999), procurou explicar o fracasso escolar da
seguinte forma:
“fazendo um retrospecto das argumentações adotadas para explicar o insucesso na escola, afirmam que atitude moralista, que atribuía a culpa simplesmente à própria criança, teve que ser ultrapassada quanto os conhecimentos científicos mostraram que fatores diversos podiam estar atuando de forma acondicionar a dificuldade da criança na escola.” (p. 256)
12
Com isso vemos que a questão do fracasso escolar ultrapassa o pensamento, de
que somente a criança é culpada pelo seu insucesso na escola. São vários fatores que
interferem no aprendizado, já que a aprendizagem não só acontece na escola; ele se
realiza em vários ambientes e deve ser levado em consideração na hora do ensino-
aprendizagem, o saber não sistematizado dos educandos.
Outra ação sobre o fracasso escolar diz que é uma simples conseqüência da
dificuldade de aprendizagem, mas a escola muitas vezes não leva em consideração a
visão de mundo do aprendente. As discrepâncias entre o desempenho fora e dentro da
escola são significativas. O sujeito pode está em dificuldades de aprendizagem por ter
ligado este fato a uma situação de desprazer. Esta situação pode está ligada a algum
acontecimento escolar.
Não há como negar que as condições materiais, concretas, de vida da maioria
das crianças que freqüentam a Escola Pública são de fato extremamente precárias,
ocorrendo, freqüentemente, um quadro de alimentação deficiente, falta de atenção, de
carinho e de estímulos em casa, de informações, contatos com a língua escrita, além da
necessidade de ajudar, seja trabalhando seja tomando conta dos irmãos, sabe-se
também que não contam com o auxílio e até mesmo espaço apropriado para estudar.
Essas crianças constituem a grande maioria da população do nosso país e são
elas, justamente, as que mais precisam da escola para melhorar de vida.
Segundo Freire (1979),... “nós não podemos nos colocar na posição do ser
superior que ensina um grupo de ignorantes, mas sim na posição humilde daquele que
comunica um saber relativo a outros que possuem outro saber relativo”. (p.29). Ou seja,
o educador tem que ter consciência de que ele não é o centro do saber e sim, que deve
exercer o seu papel como mediador, favorecendo assim uma interação entre todos.
Podemos perceber que esse problema está ligado a um conjunto de situações
envolvendo o fracasso escolar nas classes menos favorecidas, entre elas: a interação
professor- aluno; o desemprego; a desmotivação dos alunos; a falta de vagas nas
13
Escolas Públicas; a deficiência na organização pedagógica, didática e administrativa; os
baixos salários dos professores; as inadequadas estruturas físicas das escolas; a
reprovação/ evasão e a falta de capacitação dos professores.
Devemos deixar bem claro que a aprendizagem não só acontece na escola. O
processo educativo se desenvolve em vários ambientes, e ele é parte integrante das
relações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma determinada sociedade. É
importante que os professores aproveitem esses saberes não sistematizados e levem
para a sala de aula o cotidiano de cada aluno, favorecendo assim uma interação entre
todos. Como aponta Freire (1996),
“ao professor ou, mais amplamente à escola, têm o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela, mas também, ele sugere, discutir com os alunos a razão de ser de alguns saberes em relação com o ensino dos conteúdos”. (p.30).
Nesse sentido, a educação precisa ser voltada para uma prática reflexiva e os
educandos aprendem de forma significativa, relacionando conceitos, idéias e
proposições a idéias claras e disponíveis na estrutura cognitiva. Esse tipo de
aprendizagem tem como característica básica à possibilidade de ser evocada com
maior facilidade pelo indivíduo, sendo, portanto, mais duradoura.
1.1 - O ambiente escolar.
Freqüentemente se discute a crise da escola como se ela existisse desgarrada
de um contexto histórico – social, econômico e político concreto onde a mesma se
insere; como se ela pudesse ser decifrada sem a inteligência de como o poder, nesta
ou naquela sociedade, se vem constituindo, a serviço de quem e servindo a quem, em
favor de que e contra quê.
Na crise da escola, percebem-se de saída, as complicações provocadas pelas
relações pedagógicas. Do ponto de vista individual, os professores e alunos entram em
14
sala de aula agressivos. Lá não é mais o lugar onde é possível provar o próprio valor,
crescer, dando aos alunos as respostas que se esperam. Ao contrário, a aula,
atualmente, tornou-se o momento onde se ignoram ou se rejeita a cultura, onde o que
os professores falam é contestado.
Em um mundo onde só é admitido falar bem se trata da língua escolar
estandardizada, a única reconhecida pela escola como correta. Toda maneira
espontânea de falar da criança (expressões, frases, pronúncia etc), que não
corresponda às normas da língua escolar, é constante e permanentemente corrigida,
reprimida, penalizada pelo professor, na esperança de que, de correção em correção,
todas as crianças acabarão falando a língua exigida pela escola.
O resultado é que certas crianças, para não correr o risco de serem criticadas
por falar “errado”, preferirão calar a boca e procurarão reduzir o que tiverem de escrever
ao mínimo possível, para não se expor às observações do tipo “pobreza de
vocabulário”, “falta de sentido”, “erro ortográfico”, etc.
Lamentavelmente, se o processo de ensino - aprendizagem não se efetiva é o
aluno que se culpa, é o aluno que não aprendeu, é nele que se acaba buscando a
causa do fracasso escolar atribuir aos alunos estigmatiza alunos sadios, afetando o
autoritarismo a auto –estima dos mesmos, além de perpetuar a situação. O aluno, por
sua vez, com o acúmulo de fazeres escolares, acaba por usar estratégias ego
defensivas para cada vez mais se distanciar do seu próprio aprender. Cabe enfatizar
que, se por um lado, nas explicações tradicionais do fazer escolar a culpa recai no
aluno, sem que se leve em conta mesmo, o papel da escola e das demais condições
culturais mesmo, por outro lado, existem evidências sólidas de que os alunos que
“fracassam” na escola não são, de modo algum, incapazes de raciocinar e aprender.
Para Trindade (2000),
"o que importa é deixar bem explícito que qualquer aprendiz precisa ser estimulado, incentivado, encorajado; afinal, aprender é aproximar-se de novo, do desconhecido, e é muito importante nesse caminho ter alguém em quem confiar, alguém que nos diga: “vai/vá”; alguém que nos diga “vem”; ou alguém que seja capaz de
15
dizer: vamos. Mas, para isto, nós educadores/ professores, temos que ter uma confiança inabalável na potência de vida dos nossos alunos olhá-los e sermos capazes de nos fascinar com a vida e as múltiplas possibilidades que ela nos apresenta.”(p.13)
Ao inverso, as crianças dos meios populares sentem grande estranheza diante
da linguagem, normas e valores da escola, que são totalmente diferentes daqueles a
que estão habituadas. Elas sentir-se-ão ainda mais inferiorizadas pelo fato de não
poderem trazer para a escola a maneira de falar e sua experiência na família e no
bairro menos favorecido. Elas vão se sentir perdidas diante da falta de sentido e
utilidade imediata dos exercícios escolares, confusas pelo lado artificial das situações
na sala de aula.
Ora, na escola todos aprendem justamente que nada podemos fazer, por nós
mesmos ou em colaboração com outros, com aquilo que a escola nos ensina. Na
verdade as qualificações escolares não nos ajudam em nada a melhorar nossa vida
quotidiana nem a satisfazer nossas necessidades mais elementares. As aptidões
aprendidas na escola, quando elas existem, só nos servem para vendermos um pouco
mais da nossa própria força de trabalho no mercado.
1.2- Visão bancária da educação
A educação é um ato dinâmico, pois ela nos acompanha durante toda a nossa
vida e deve ser levada a sério.
Paulo Freire contribuiu como poucos na reflexão do homem e seu compromisso
com a sociedade. Esta contribuição fez com que ele, um pedagogo brasileiro em
destaque, não só no âmbito nacional, como também no internacional, não limitou
apenas a teorizar, mas através do seu empenho e dedicação reverter à visão bancária
da educação.
16
Portanto, entende-se por pedagogia em Freire, a ação que pode e deve ser
muito mais que um processo de treinamento ou domesticação; um processo que nasce
da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora.
A concepção bancária da educação é uma critica a educação que existe no
sistema capitalista.
Como aponta Paulo Freire (1983.)
” nesta concepção o educador é o que educa; os educandos os que são educados; o educador o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos os que escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos os disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a prescrição; o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos se acomodam a ele; o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; o educador finalmente é o sujeito do processo; os educandos meros objetos”. (p.68)
Não é de surpreender, então que nesta visão “bancária” da educação, os
homens sejam considerados como serem destinados a se adaptar, a se ajustar.
Quanto mais alunos se empenham em arquivar os “depósitos” que lhes são
entregues, tanto menos eles desenvolvem em si a consciência criticas que lhes
permitiria inserir-se no mundo como agentes de sua transformação, como sujeitos.
Quanto mais lhes é imposta a passividade, tanto mais, de maneira primária, ao
invés de transformar o mundo, eles tendem a se adaptar à realidade fragmentada.
No entanto, a grande maioria das reformas e inovações pelas quais a escola
passa são simples retoques de fachada: prédios mais modernos, programas mais
atualizados, exames mais menos comuns que os testes de múltipla escolha, utilização
17
de métodos audiovisuais etc. Estas novidades não tocam o essencial: o conhecimento
continua a ser transmitido do professor, que sabe, aos alunos, que são ignorantes.
Estes conhecimentos que vem dos livros ou da palavra do professor, e nunca da
experiência e da pesquisa dos próprios alunos, é recebido, memorizado, repetido e
arquivado. Não é jamais descoberto, testado e recriado pelos que estão ali para
aprender. Em conseqüência, aquilo que a escola ensina pouco ou nada tem a ver com
a vida, com a experiência, com as necessidades e com os interesses dos educadores e
dos educandos.
A escola inerente ao modo industrial de produção não faz senão prolongar e
reforçar - ao invés de contrabalançar e de corrigir – a ação desintegradora, infantilizante
e domesticadora da sociedade de consumo do estado.
Como aponta Patto (1999)
“por isso mesmo é que uma outra educação só será viável em larga escala quando a escola realizar uma sociedade de classes igualitárias, ou seja, uma sociedade no qual os lugares sociais seriam ocupados com mérito pessoal de participação e, portanto, de conhecimento.” (p.28)
A reestruturação do modo de produção e de organização social no qual vivemos
é um processo inseparável da reinvenção dos contextos e das modalidades de
aquisição do saber.
Para tornar o ambiente escolar mais agradável, é imprescindível fortalecer a
atividade do professor, para melhorar suas condições de trabalho e seu
desenvolvimento profissional. A preparação dos professores não pode se centrar
exclusivamente nos seus conhecimentos das técnicas didáticas básicas, é necessário
compreender as necessidades dos alunos, as estratégias para que os alunos
participem no processo de aprendizagem e na avaliação do seu rendimento. Mas para
isto é indispensável: estabilidade dos professores, os recursos disponíveis, as
estratégias de formação, a oferta educativa, a resposta organizacional para a
18
diversidade dos alunos e os mecanismos de avaliação são questões que deveriam
estar reunidas no acordo entre a escola e a administração educacional.
Segundo Freire (1998)
“a pratica educativa, [...],é algo muito sério. Lidamos com gente,
com criança, adolescente ou adulto. Participamos de sua formação, ajudamo-los ou prejudicamos nessa busca. Estamos intrinsecamente a eles ligados no seu processo de conhecimento. Podemos concorrer com nossa incompetência, má preparação, irresponsabilidade, para o fracasso. Mas, podemos, também, com nossa responsabilidade, preparo científico e gosto do ensino, com nossa seriedade e testemunho de luta contra injustiças, contribuir para que os educandos vão se tornando presença marcante no mundo.” ( p.47)
Portanto, é necessário termos consciência na escolha do magistério, para
enfrentarmos a todos os obstáculos que surgirão. Devemos estar preparados para
desvencilharmos dos mesmos. Precisamos de um profissional que saiba enfrentar as
dificuldades de aprendizagem dos alunos, buscando junto a eles acabar com o fracasso
escolar.
1.3 - Repetência e evasão
A relação entre repetência e evasão escolar é nítida, pois o aluno que repete por
várias vezes a mesma série, acaba desinteressando-se pela escola e a abandonando-
a. A questão da reprovação e evasão observada nas escolas públicas não é a mesma
se comparada com as escolas privadas, já que se verifica que o “fracasso escolar” tem
afetado mais as camadas populares. Visto por este lado, não podemos dizer que a
escola tem sido democrática.
É necessário que a escola pública estimule os educandos, dando-lhes um ponto
de partida, e torne visíveis e concretizáveis modalidades de intervenção educativas
orientadas para emancipação e a realização plena da pessoa humana. Quanto ao
ponto de chegada, isso depende de cada um”.
19
Dentre diversos fatores responsáveis pelo fracasso escolar, os mais evidentes
são a reprovação e a evasão, visto que são conseqüências de diversas outras falhas do
processo de ensino – aprendizagem.
A reprovação escolar não quer dizer maiores oportunidades de aprendizagem;
ao contrario, ela reduz as oportunidades que o aluno possa ter, tanto na escola, quanto
na vida. Em muitos casos esta reprovação ocorre não pela falta de desempenho do
aluno, mas pela falta de desempenho e competência da escola.
O aluno é reprovado por questões como: indisciplina, avaliações mal elaboradas, falta
de planejamento escolar ou até mesmo por evasão do professor pelo aluno.
A realidade da reprovação escolar, a qual tem sido atribuída ao aluno ou ao
sistema de ensino do país, está na maioria dos casos dentro da sala de aula. Esta
reprovação escolar tem esse índice elevado quando se trata da escola pública porque
nela concentram-se as crianças das camadas populares, cujos privilégios são poucos
em relação ao ensino e ao mercado de trabalho.
O aluno fica em uma determinada série, sem justificativas plausíveis para tal.
Há um jogo de culpabilidade entre os docentes quando vão passando de série
em série a responsabilidade da escola e aumentando o fracasso escolar. É preciso que
os docentes saiam deste jogo e entrem no jogo da responsabilidade buscando
alternativas para cada problema vivenciado. Como disse Freire (1999.p.7), “só
educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o
ato de serem educados pelos educandos; só eles separam o ato de ensinar do de
aprender”.
È espantoso o quadro de evasão e repetência nas escolas públicas, não só pelo
o que ocorre nas salas de aula, mas também pelo meio social. Os alunos que
pertencem às camadas populares encontram dificuldades no rendimento escolar, tendo
assim poucas pretensões para a vida futura. Estes alunos, por sofrerem mais no seu dia
– a – dia, não têm o privilégio de iniciar seus estudos na idade escolar adequada e além
20
disto, ficaram retidos em diversas séries. Com isso concluem, quando fazem, o Ensino
Fundamental com uma idade adulta, levando-o obrigatoriamente para o mercado de
trabalho, tornando assim a mão de obra do país.
Ainda dentro da condição de vida do aluno, a renda familiar contribui,
principalmente, para o processo de evasão, visto que o aluno precisa abandonar a sala
de aula em busca de recursos financeiros para a própria sobrevivência.
1.4 – Avaliação e Fracasso Escolar
A escola está tão intimamente ligada ao processo de avaliação, que esta é
considerada o objetivo máximo da escola, na visão de muitos educadores. O que torna
a avaliação escolar um insucesso levando-a como fator do fracasso escolar, é, antes de
tudo, o seu caráter quantitativo.
Não se avalia para medir a qualidade do ensino que está ministrando e nem a
qualidade formada do discente, pensa-se em primeira estância nas notas que o aluno
deve atingir para ser considerado aprovado ou reprovado. Diante dos resultados de
avaliação, se o aluno fracassa, é tratado como desinteressado, incapaz, deficiente
naquela questão. Ele se diferencia dos outros alunos por questões de deficiência do
próprio ensino – aprendizagem.
Como aponta Hoffmann (2005, p.45) “essa é uma questão bastante ampla que
deve ser abordada e discutida e o educador não pode se limitar apenas a dar notas.
Mesmo com outras possibilidades de avaliação, os professores e instituições de ensino
ainda se mantêm atrelados a esse modelo”.
A questão da “diferença” e da “deficiência” tem sido muito abordada pela
professora Magda Soares, para qual ela dedica o livro “Linguagem e Escola”: uma
21
perspectiva social”. Ela mostra claramente como o aluno é tratado em relação às suas
diferenças, as quais, ao invés de serem trabalhadas, são taxadas como deficiências,
levando-o a discriminação e ainda mais, a reprovação ou a evasão.
A principal questão que se levanta nessa discussão é não transformar o
instrumento de avaliação no objetivo maior da educação, levando os alunos a
estudarem apenas para conseguir bons resultados nas provas, tirar boas notas e
passar de ano, anulando, assim, a apropriação de novos conhecimentos para a vida.
Como sabemos, a boa nota não garante o sucesso na vida, e a baixa nota não define o
limbo para ninguém, ao contrario do que o atual sistema pode demonstrar.
A avaliação feita nas escolas tem se tornado um processo contra a escola, pois
existe um mito e um medo por parte do aluno em relação a este quadro. O aluno
entende por avaliar somente através das provas preestabelecidas e a escola reforça
este pensamento dando ênfase somente as provas, criando um monstro em torno
delas. Sentindo-se apreensivo, o aluno acaba por não ser bem sucedido, entrando na
estatística da evasão ou da reprovação escolar.
A nota, a quantificação é importante numa outra perspectiva, ou seja, numa
situação de classificação em que o avaliador precisa seriar os alunos, como é o caso do
vestibular, ou uma competição.
Uma breve leitura dos estudos de Luckesi nos incita a repensar a avaliação da
aprendizagem como um ato amoroso, e é através dessa metáfora, que nos remete a
uma avaliação enquanto um dispositivo de inclusão.
A escola, para aprender a avaliar, deve em primeiro lugar aprender a se avaliar.
Tem que se tomar consciência de que o aluno deve ser avaliado continuamente,
levando em consideração tudo o que ele faz. Esta avaliação deve ser um caráter
qualitativo ou diagnóstico em que a avaliação serve para verificar como está se dando o
aprendizado dos alunos, as dificuldades e os avanços desse progresso, para que o
22
educador possa corrigir ou mudar as diretrizes do planejamento pedagógico. É,
portanto, uma ferramenta fundamental para garantir ao professor a aferição de seu
trabalho, e sendo assim, deve assumir um caráter cooperativo e orientador.
Para se avaliar adequadamente, não existe uma receita única e pronta, é preciso
que se pense em cada escola como um problema diferente, pois as instituições de
ensino não apresentam as mesmas características.
A avaliação educacional através de dados confiáveis, pode contribuir para a
centralização de mudanças efetivas no sistema educacional. Isto resume toda a
proposta de mudanças no quadro da avaliação educacional.
O material didático tem sido outro problema no processo de educacional. O
professor trabalha com poucos recursos didáticos, limitando, às vezes o seu próprio
desempenho. Alguns educadores usam a criatividade e, sobretudo, o profissionalismo
para melhor abordar esta questão. Normalmente o que se vê são os livros didáticos, o
quadro negro e o giz. Realmente são recursos precários para se realizar um ensino de
boa qualidade.
Enfatizando o livro didático, sabe-se que ele é um meio muito usado e mal
explorado pelos docentes. Ele é usado a fim de tornar as aulas mais fáceis e menos
cansativas para o professor, pois não trabalha com o lado ativo do aluno,
desenvolvendo a disciplina. Esse fenômeno ocorre em grande escala na rede pública
de ensino, já que os subsídios didáticos utilizados na rede privada de ensino são mais
adequados aos alunos.
Os livros didáticos precisam ser modificados, pois trazem ao longo de muitos
anos as mesmas atividades, não acompanhando as mudanças que surgem com o
tempo. As questões não são abordadas dentro da modernidade e o professor, por sua
vez, não faz as adaptações necessárias para seus alunos, tornando assim, a aula
maçante.
23
Mas o processo pedagógico parece exigir a instrução escolar muito mais do que
isto. A instrução deveria permitir o uso do conhecimento informal que, ao invés de ser
banido ou substituído, deveria ser integrado nos conhecimentos de sala da aula. A
criança deveria poder ampliá-lo, revisar os modelos de conhecimento, ou seja, cada
aluno tem uma bagagem que deveria ser respeitada e explorada pelo educador, não
padronizadas.
Quando organizamos o ensino, não devemos cometer o erro de desconsiderar
as categorias conceituais que as crianças já têm sobre os objetos de estudos, pois
dessa forma corremos o risco de tirar delas a oportunidade de interação com esses
objetos e assim dificultar o seu processo de aprendizagem.
A aprendizagem é um processo ativo, criativo e deve ser construída pelo aluno.
Este não pode ser visto como um mero receptor passivo de informações. Existe todo
um conjunto de fatores internos do aluno que devem ser considerados na hora do
aprender, tais como: necessidades, expectativas de sucesso, atitudes, pensamentos e
sentimentos, dentre outros.
A linguagem do professor reflete uma metodologia que tem como característica
principal à explanação. Ao explanar, discorrer, explicar, o professor transforma o aluno
em receptor silencioso e submisso: um mero espectador.
Segundo Paulo Freire (1985):
“uma das características desta educação dissertadora é a “sonoridade” da palavra e não sua força transformadora quatro vezes quatro dezesseis. Pará capital Belém, que o educando fixa, memoriza, repete, sem perceber o que realmente significa quatro vezes quatro. O que realmente significa capital, na afirmação: Pará, capital Belém, Belém para o Pará e Pará para o Brasil.” (p.47)
Aprendemos, então, que nesta linguagem dissertadora, o professor é o agente
ativo do processo, enquanto o aluno é o receptor passivo. Hoje, depois de vários
estudos nesta área, acredita-se que desta postura passiva do aluno, sem participação
24
consciente na construção do conhecimento, decorre apenas um acúmulo de
informações e não de conhecimento. Conseqüentemente, o aluno, não percebe como e
quando aplicar o que aprendeu. Há uma decodificação que ele se habitua a fazer.
Paralelamente, há poucos recursos nas escolas no que se refere aos livros de
pesquisa, visto que as bibliotecas escolares são mal equipadas. O aluno tem, portanto,
pouco acesso aos materiais já utilizados no mundo fora da escola.
Outros recursos didáticos são pouco utilizados pelos professores, como por
exemplo, o retroprojetor, o slide, a televisão, a música, os quais não são encontrados
em todas as escolas. Quando são, o professor não se sente estimulado para usá-los. A
escola precisa dar passos largos para aproximar-se da realidade do mundo.
Há muitas pessoas no campo da educação que são contra a cultura da avaliação
e sustentam que é possível medir os resultados mais importantes da formação; que o
procedimento de avaliação distorce o pleno de estudos e que todo o artifício desvia a
atenção da aprendizagem e do ensino que são verdadeiros propósitos de estudos.
As escolas que ainda utilizam práticas de avaliação autoritárias e excludentes,
testes e provas são comprovadamente falhos por não respeitarem o processo de
aprendizagem dos alunos porque estes instrumentos de avaliação são terminais. Não
se entende que ele está construindo o seu saber, formulando hipóteses e tirando
conclusões, que cada aluno tem o seu próprio tempo, que não adianta querer que todos
acompanhem a matéria ao mesmo tempo.
É o que Jussara Hoffmann diz (2003, p.61), “essa é uma escola que fracassa
porque não exerce efetivamente uma ação educativa de respeito e acompanhamento
do desenvolvimento dos alunos”. A escola em que a maioria dos alunos fracassa,
reflete o fracasso do seu próprio sistema educacional e deixa de lado o maior
compromisso, que é o de proporcionar as condições adequadas para que os alunos
aprendam e se desenvolvam, tendo acesso aos outros graus de ensino.
25
O importante seria tentar mudar as formas de avaliação, explicitando critérios de
classificação / e ou eliminação nela contidos: buscando organizar o aparelho escolar em
torno da preocupação com o desenvolvimento da competência compartilhada por todos
os educandos.
Trabalhando nesta direção, a avaliação passaria a ter realmente um novo
significado: ela constituiria um diagnóstico, servindo como indicadora do nível de
aprendizagem, contribuindo para a melhoria da prática pedagógica. Seria, pois um meio
através do qual um aluno tomaria consciência dos seus erros, de suas dificuldades e se
posicionaria revendo seus problemas de aprendizagem. Nesse contexto, trabalhar-se-ia
com uma avaliação que realmente estivesse pensando em uma educação voltada para
a cidadania, para a formação das pessoas que possam ter maior possibilidade de
comunicação, de discussão e entendimento para a solução de problemas comuns, e
não para disputa e para competição.
De acordo com Luckesi (1984, p.19), “nós, professores, temos de acolher os
acertos e erros do aluno para ajudá-lo a progredir”. Dessa forma, o professor não
padroniza o erro, mesmo porque cada aluno tem suas próprias condições de
desenvolvimento e a cada erro, ele estará mais próximo de alcançar o sucesso. Por isso
o aluno não deve ser punido quando erra, porque ele se sentirá desmotivado a continuar
tentando. O erro deve ser visto como parte do processo de construção do saber.
O fracasso escolar é visto então, como uma questão individual, própria de cada
aluno e seus problemas. No entanto, não podemos responsabilizar somente a ele, nem
tão pouco ao professor, que muitas vezes não é preparado para esta outra função de
avaliador. Precisamos, sobretudo, rever os paradigmas da avaliação do desempenho
escolar, bem como da educação como um todo, para que a aprendizagem possa ir além
do aluno.
26
CAPÍTULO – II
A POSTURA DO PROFESSOR E O FRACASSO ESCOLAR
O problema do fracasso escolar também está associado à sala de aula e, em
particular, ao docente. O atual corpo docente brasileiro é formado por professores que,
levados pela remuneração precária, acabam por fazer da sala de aula um meio para a
complementação da renda, esquecendo-se do profissionalismo e do compromisso de
educar.
Infelizmente esse é um grande problema existente em nosso sistema de ensino,
pois, o professor deveria agir de forma diferente, procurando desenvolver o seu papel
com alegria, esperança e responsabilidade, mesmo diante das dificuldades que
enfrentam no cotidiano da escola: problemas sociais e econômicos, condições de
trabalho e salários pouco estimulantes. Surgem, portanto, falhas irrecuperáveis como a
falta de afetividade na sala de aula. Sem essa relação de afetividade entre educando e
educador, não é possível um ensino rentável. Cada aluno tem o “rosto” do professor
que educa. Para que surjam e se desenvolvam experiências de aprendizagem, os
alunos devem ser atingidos por um envolvimento que não seja apenas algo que se lhes
oferece como lição. Esse processo ou essa ação requer uma relação de paixão do
professor pelo processo de aprendizagem como possibilidade de vida agradável e
realizações possíveis. A convivência do olhar critico e da paixão, na pratica, tem feito
tanto educadores quantos as escolas apresentarem resultados mais satisfatórios,
diminuindo a reprovação e a evasão, conseqüentemente, aumentando a aprendizagem.
Primeiro, conquista-se o ser humano, depois ensinam os caminhos da vida.
Segundo Garcia (1978),
“o professor assumiu também um caráter de autoritarismo, colocando-se em ponto extremo ao lado do aluno. Há, sem dúvida, uma distancia entre o professor e o aluno. A verdade passa a ser uma característica apenas do docente, pois, passa-se a idéia de que nele se concentra todo o saber. Deve se tirar da sala de aula a figura do professor autoritário, que realiza o seu trabalho através de ameaças e centraliza suas atividades nas páginas do livro didático; é preciso que entre um professor que saiba caminhar com o mundo: assim, ele saberá trabalhar com seus alunos. É possível tratar um perfil para um bom profissional da educação. Algumas sugestões incluem: conhecer direitos e deveres do aluno e do professor; ter autocontrole; ser afetivo; adquirir credibilidade no seu trabalho; ser
27
dinâmico; e até sonhar; ser incentivador da aprendizagem; ser diretor do espetáculo.” (p.107).
Se tomarmos consciência e trabalharmos dentro de novas perspectivas, o
fracasso escolar poderá ser reduzido acentuadamente, pois, apesar dos outros fatores,
o docente é o maior intermediador do processo de ensino – aprendizagem.
É preciso que o professor esteja bem atento para ajudar seus planos, motivando-
se e aceitando-os com todas as limitações, visando aprimorar suas possibilidades, para
que possam adquirir confiança em si mesmos.
Na relação professor-aluno, as diferenças pessoais, os fatores afetivos e
cognitivos de ambos exercem influencia decisiva no processo ensino-aprendizagem.
O sentimento de alegria, de alto astral, produzirá resultados mais significativos
na aprendizagem se houver uma contaminação geral da escola: os servidores
entenderem que ali estão em jogo os destinos de cada aluno; se do porteiro ao diretor
houver um compromisso generalizado com o sucesso do aluno. Mas que isso, se existir
vontade e alegria na busca de fazer o melhor para o aluno. Entusiasmo e alegria não
bastam para garantir a plena aprendizagem dos alunos; contudo, sem desejo, garra e
alegria, também não será possível garantir uma aprendizagem satisfatória.
Acreditando-se na afetividade e na auto-estima como fatores de grande
importância na aprendizagem, a escola poderá abrir um espaço para ouvir seu aluno,
aproximando-o do professor e favorecendo o diálogo entre os próprios colegas de sala
de aula.
O coração do educador, quando olha com carinho, com ternura, pode ver em
cada aluno os mais ricos detalhes. Por que será que alguns educadores vêem tanta
coisa bonita, tantos saberes em seus alunos, e outros educadores não conseguem ver
nada nesses mesmos alunos, ou melhor, só conseguem ver qualidades negativas?
Realçar as atitudes positivas, a riqueza cultural que o aluno já adquiriu, contribui para
estimular a aprendizagem.
28
Ao professor cabe distinguir as semelhanças do seu tempo de adolescente e de
agora. Se compreendê-las, vai cumprir melhor e com mais compromisso, vai conseguir
melhores resultados na aprendizagem dos alunos. Os jovens de hoje continuam com a
mesma energia do passado, porém, são mais irreverentes pelo fato de terem mais
acesso à informação. Professores adultos que esqueceram que o seu passado como
criança e adolescente foi semelhante ao das crianças e dos adolescentes de hoje
sofrem na sua pratica pedagógica. Rotulam esses jovens de indisciplinados, quando
compreendê-los facilitaria a sua ação.
O brasileiro que mais falou de amor, de paixão e de educação juntos foi o
educador Paulo Freire. Ele afirmou que, por mais difícil que o cotidiano se apresente,
não podemos perder o entusiasmo e a esperança, pois estes atuam como motores das
iniciativas da aprendizagem. E a alegria de ser professor, o prazer de conviver com a
magia das crianças, a felicidade de poder ser contagiada com a irreverência da
juventude, a busca para garantir a aprendizagem dos alunos, o desejo da esperança de
que dias melhores estão por vir têm sido o sentimento dominante da maioria dos
educadores brasileiros, mesmo diante das dificuldades que enfrentam no cotidiano da
escola.
É importante que os professores retornem ao trabalho de um educador que,
embora morto há dez anos, ainda é utilizado como bússola para a nossa vida
pedagógica, uma vida que não termina quando fechamos a porta da sala de aula a
cada dia, mas que será incorporada a nossos corações e mentes e adaptada ao ritmo
cotidiano de nossas vidas.
Somente pela afetividade dentro da escola, onde o respeito e o
comprometimento de todos aconteça de fato, estaremos colaborando na formação de
um homem completo. Mesmo diante de todo o problema que a escola apresenta, a
população ainda acredita na sua importância para a vida.
29
2.1-Professor: autoridade versus autoritarismo
Apesar de muitos estudos e dos avanços nas teorias de aprendizagem, o nosso
sistema de ensino ainda tem como figura central “o professor”. Ele encarna aquele que
datem a posse do conhecimento que deve ser “transmitido” aos alunos. Esta visão de
do ensino desenvolve uma relação entre professor e aluno, baseada no saber dos
docentes. A posse deste privilégio transforma o professor em autoridade legitimada
pelo sistema: “a autoridade legal”.
Tradicionalmente, sobretudo no mundo político, a autoridade é classificada em
liberal e autoritária. Entende-se por autoridade liberal aquela que faz uso do poder e da
inteligência / habilidade que possui para satisfazer e servir aqueles que estão sob sua
influência, ligando sua sorte a dos mesmos e perseguindo um fim comum.
Por autoritária se entende aquela pessoa que se serve do poder e dos instrumentos de
que dispõem para subordinar os outros a seus particulares, buscando primordialmente,
impor-se aos demais para desfrutar das vantagens e privilégios derivados do poder que
recebeu.
Na sociedade atual, preponderam, geralmente, as relações de poder. Uns estão
habituados, a obedecer aos “superiores” em quanto outros aprenderam a impor,
dominar os que estão em posição subordinada.
Assim, caberia a afirmação de que o professor se transforma em “saber – poder”
ora, a se encontra uma versão do autoritarismo que conduz o aluno à passividade, à
obediência serviu. Sente-se inibido de questionar a legitimidade dos instrumentos de
que o professor se utiliza para realizar sua missão. Esta se resume a “transmitir” um
conteúdo programático, sem admitir que seu conhecimento seja submetido à avaliação
e que lhe seja a autoridade questionada ou desafiada.
O que leva o aluno a acatar passivamente atitudes autoritárias do professor?
Por que endossar essa postura de dono do poder?
30
Apesar de vivermos na era da globalização e da informática tanto a sociedade
quanto a própria estrutura da escola ainda fazem o aluno acreditar que o professor é a
única fonte do saber escolar. Raras são as escolas que estimulam o aluno a procurar o
saber fora das salas de aula, a pesquisar, a tentar descobrir caminhos próprios para o
seu desenvolvimento pessoal. A auto-educação, embora definida pelos teóricos, não é
avaliada pela pratica pedagógica.
O sistema de avaliação, atualmente adotado em grande parte de nossas escolas,
por seu cunho classificatório, contribui também para que a figura do professor seja
aceita como uma autoridade incontestável. Geralmente os alunos são avaliados a partir
de provas em que devem repetir, tão fielmente como poderem, os conhecimentos que o
professor lhe passou. Em contrapartida, são premiados ou castigados com notas, que
por seu lado, são decisivas para o sucesso ou fracasso do sistema escolar.
2.3- Professor: um mero transmissor de conhecimentos?
No ensino brasileiro ainda costuma colocar como figura central do sistema “o
professor”, apesar dos muitos estudos e dos avanços das teorias de aprendizagem. O
professor encarna o papel daquele que detém a posse do ser “transmitido” aos alunos.
Esta visão do ensino desenvolve uma relação entre professor e aluno, baseada
no saber dos docentes. A posse deste privilégio transforma o professor em autoridade
legitimada pelo sistema, ele vira “a autoridade legal”, o dono do poder.
Sendo assim, é válido resumir as representações do imaginário social quanto à escola,
da seguinte maneira:
• a escola é o lugar onde se adquire conhecimento;
• ensinar é transmitir conhecimento;
• o professor controla o saber, sua autoridade é incontestável;
• a avaliação restringe-se a promoção / reprovação do aluno;
• o bom aluno obedece.
31
A escola, hoje, ainda não avalia a aprendizagem do educando, ela examina nos
mesmos moldes jesuíticos. Para perceber isso, basta verificarmos o abismo que
separa o ato de examinar do de avaliar.
A todo o momento, professores dizem que os estudantes não têm interesse na
escola. E nosso investimento onde está? Se quisermos que os nossos estudantes
aprendam e que nossas estatísticas revelem resultados satisfatórios, precisamos
cultivar a aprendizagem e seu desenvolvimento.
Portanto, ”quebrar” tais preconceitos é um dos primeiros passos a mudar o
paradigma atual de ensino, um dos maiores responsáveis pelo fracasso escolar.
2.4 - Por uma nova relação professor – aluno.
Nas escolas brasileiras é prática comum que nas primeiras series do Ensino
Fundamental tenha-se somente um único professor por turma. A relação professor –
aluno, sobre estas bases, se constrói através de um forte componente afetivo, devido a
convivência diária entre ambos, possibilitando ao professor conhecer
aspectos pessoais de seus alunos tais como: a história familiar, personalidade, as
reações, os interesses, as dificuldades, dentre outros. Tal relação afetiva entre
professor e aluno contribui muito no processo de ensino-aprendizagem, pois o
professor conhecendo melhor sua turma, pode, certamente, orientá-la melhor.
Esse vínculo afetivo favorece aos educandos e educadores a possibilidade de
criar diálogos em torno das ações realizadas em sala de aula, tais ações estimulam os
alunos a pensar em si mesmos e perceber o seu valor e a sua capacidade de aprender,
resolver problemas e situações. É disso que o aluno precisa para construir sua
aprendizagem.
A partir do 6º ano do Ensino Fundamental, essa relação será radicalmente
alterada. O aluno passa a ter um docente por disciplina, o que torna o convívio
32
professor – aluno muito reduzido e bastante impessoal. Conseqüentemente, ele só
conhece de forma superficial seus alunos, bem como seus interesses pessoais. Fica
sua atenção voltada apenas para o conteúdo / metodologia, o que dificulta qualquer
orientação mais humana e pessoal. O elo entre professor – aluno passa a ser a
disciplina de ensinar. Deixa de ser o vinculo afetivo/ pessoal.
Diante da variedade de professores, o aluno percebe que o saber de cada
disciplina exige modos específicos de apreensão cognitiva e gera reações afetivas
também específicas. Sua mente / imaginação constrói para cada disciplina um
respectivo modelo de professor. Assim, como os seus conteúdos são diferentes, e
guardam peculiaridades bem distintas assim também deve ser diferenciada sua
personalidade. O aluno logo percebe que cada educador estabelece uma relação
diferente com ele.
Ninguém aprende na indiferença. Aprendemos por amor, impregnados a um
querer, ou seja, por meio de vínculos. Cabe ao professor, portanto, construir um
movimento intencional, provocativo, que traga um tom mobilizador, capaz de ajudar os
educandos nessa relação afetiva tão importante no processo de ensino - aprendizagem.
Nós nos fazemos humanos na relação com o outro, superando obstáculos
inteligentes e instigantes, em outras palavras, resolvendo problemas. Trata-se, portanto,
de uma atividade interativa (construção compartilhada) e estratégica (propõe caminhos
para atingir objetivos).
O professor tem a missão de mostrar o caminho novo, tornar possibilidades de
aprendizagens reais e significativas para o aluno, para que assim possamos ter
realmente uma educação formativa. Além disso, ele tem que ser o mediador, com o
objetivo de mostrar ao aluno o verdadeiro significado dele está ali, na sala de aula;
fazer com que ele se aproprie da sua história e da cultura para ser feliz na vida e
transformar seus sonhos em ação concreta para um país mais justo, ético e igualitário.
33
Todos os documentos oficiais que tratam da educação escolar propõem como
um dos seus objetivos propiciar o desenvolvimento das potencialidades do educando. A
formação de indivíduos críticos e criativos exige a transformação das concepções que
orientam a pratica do professor. Este tem de resolver, em sua formação profissional,
estas e outras questões psicopedagógicas. O que é aprender, como se adquire o
conhecimento, como se desenvolve a inteligência, quais os procedimentos mais
indicados para o desenvolvimento do espírito crítico, e que papel foi reservado ao
professor em todo esse processo.
Um trabalho voltado para a formação de alunos mais criativos exige desempenho
mais atuante dos alunos e do professor. Este trabalho não restringe apenas a explorar
as possibilidades dos materiais e suas propriedades.
Diante de um tal quadro, tornam-se necessários todos os esforços para uma
melhor formação do futuro professor.
Segundo Libânio (1984)
“o ensino escolar é o elemento coadjuvante no conjunto das lutas sociais. Portanto, o trabalho docente é responsável da prática social, o que significa que a primeira preocupação do professor é o conhecimento da prática de trabalho e da vida do aluno : suas condições socioculturais, vida familiar, ambiente social, conhecimento e experiências de que dispõem, reações frente ao estudo das matérias e expectativas em relação ao futuro.” (p.77)
Os professores precisam conscientizar-se de que suas metas educacionais não
se resumem na transmissão de conhecimentos e que devem, portanto atuar no sentido
de promover o desenvolvimento, ensinando os seus alunos a aprender a prender, mas
também sobre o papel das estratégias de aprendizagem, da auto - reflexão e dos
processos cognitivos da aprendizagem. É essencial que aprendam a ensinar para o
“aprender a aprender”. De fato, professores podem ensinar alunos quando usar
estratégias específicas por meio da demonstração e da prática significativa.
34
Esforço, por parte de educadores, devem também ser direcionados no sentido de
uma reflexão critica da maneira preconceituosa e esteriotipada, a que os alunos
brasileiros com rendimento escolar insatisfatório vêem sendo alvos, para que possa se
transformar o discurso do aluno “culpado pelo seu próprio fracasso escolar em atitude
de confiança e credibilidade na capacidade do mesmo para” aprender a aprender “e se
tornar um aprendiz motivado”.
35
CAPÍTULO III
O PAPEL DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA PARA A POSSÍVEL
REDUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR
A Orientação Educacional tem sido analisada em diferentes momentos históricos
da nossa sociedade e podemos perceber que em cada época, ela apresentou
diferentes papéis.
Antes focava apenas o aluno, aos seus “problemas”, à sua família, aos
“desajustes” escolares etc, pouco ou quase nada voltado à autonomia do aluno e à sua
contextualização como cidadão. Em seguida, volto-se à prestação de serviços, mas
sempre com o objetivo de ajustamento ou prevenção.
A Orientação Educacional era responsável por encaminhar os estudantes
considerados “problema” a Psicólogos. Ela ganhou uma nova atribuição, perdeu o
antigo rótulo de delegado e hoje trabalha para intermediar os conflitos escolares e
auxiliar os educadores a lidar com os alunos com dificuldade de aprendizagem, ou seja,
ela faz a ponte entre estudantes, docentes e pais.
Olívia Porto (2009) menciona que:
“o educando passou a ser olhado de maneira mais compreensiva, com a intenção de ser apreendido integralmente, em sua realidade sócio – humana, sendo assistido e fortalecido em suas dificuldades, bem como, valorizado em seus aspectos positivos, de modo que se possa prepará-lo para integra-se ao meio social, como cidadão participativo”. (p.48)
Para o sucesso profissional no âmbito escolar é necessário que o Orientador
Educacional construa uma relação de confiança, que permita administrar os diferentes
36
pontos de vista, ter habilidade de negociar e prevê ações. Caso contrario, passa a se
dedicar aos incêndios diários no ambiente escolar.
Como aponta Grinspun (2006)
“A Orientação Educacional deve ser parceira competente da escola, técnica ou politicamente, para pensar, refletir e procurar soluções para o fracasso dela, não somente em discursos científicos ou entre educadores, mas frente à realidade dos fatos ocorridos, sejam eles intra ou extras escolares”.(p.84)
Sabemos que o compromisso da Orientação Educacional é com a formação
permanente no que diz respeito a valores, atitudes, emoções, sentimentos, sempre
discutindo, analisando e criticando. Entretanto, ele contribui para o desenvolvimento
pessoal do aluno, ajuda à instituição escolar a organizar e desenvolver a proposta
pedagógica, além de dinamizar o trabalho em parceria com o professor, para assim
compreender o comportamento dos educandos e agir de maneira adequada em relação
a eles ouve, dialoga e dá orientações. Ou seja, ele lida mais com assuntos que dizem
respeito a escolhas, relacionamentos com colegas e vivencias familiares.
Como vimos anteriormente, o fracasso escolar não depende de uma só causa, é
um fato social sistêmico, são fatores (situação social, familiar e escolar) que atuam de
modo coordenado, por seus múltiplos parâmetros, entrelaçando-se e provocando o seu
surgimento. Uma vez que nenhum desses fatores isoladamente chegaria a provocar o
fracasso escolar.
O fracasso escolar ocorre quando alguma política educacional não funciona
como deveria, é quando acontece a exclusão de algumas camadas sociais. Portanto,
política ou prática que não funciona deve ser reparada deve-se estudar e denunciar as
lógicas perversas que geram tais fatos e os educadores devem se comprometer com a
transformação desse quadro.
37
Quando o papel da Orientação Educacional é bem sucedido, a dinamização do
processo educativo é satisfatória. É necessário que aconteça a “prevenção” dos
problemas institucionais, para que assim o fracasso escolar não venha a acontecer.
O papel da educação hoje é formar cidadãos comprometidos com seu tempo e
sua gente. Ela deve estar voltada ao crescimento educacional em todos os aspectos e
formar o aluno para a escola e para a vida.
Um dos principais papéis da Orientação Educacional é fazer uma escuta atenta
das relações interpessoais construídas no cotidiano, cabendo a ele atender a todos os
alunos em suas solicitações e expectativas, não restringindo a sua atenção apenas aos
alunos que apresentam problemas disciplinares ou de aprendizagem. A atuação dele,
entretanto, se potencializa quando está integrada ao trabalho da equipe pedagógica da
escola. O Orientador Educacional precisa ter conhecimento sobre o desenvolvimento
cognitivo do aluno, sua afetividade, emoções, sentimentos, valores, atitudes, além de
promover entre eles atividades de discussão e informação sobre o mundo do trabalho.
Estimular no cotidiano escolar o bom relacionamento com todos os colegas.
A Orientação Educacional com os demais grupos integrantes do contexto escolar
deve proporcionar meios para que seja discutida a problemática da escola, dos alunos,
dos educadores, do currículo, de seu projeto - pedagógico. Dinamizando todo o
processo educativo, o Orientador Educacional estará visando à construção de um
espaço educativo ético e solidário.
Segundo Olívia Porto (2009)
“ É importante o Orientador Educacional ver a escola como um todo, interna e externamente; que a instituição escolar assuma a sua função de formar cidadãos críticos, para que acima de tudo, sejam capazes de organizar-se para defenderem para si e para os demais homens o direito de cidadania”.(p.73)
Para que a formação escolar atenda a essas demandas educacionais é
necessário que o Orientador Educacional seja co-responsável pela aprendizagem dos
38
alunos. Sendo assim, ele deve questionar práticas docente, envolvendo os aspectos
didáticos-pedagógicos, tais como: metodologia, avaliação, relação professor-aluno,
objetivos, conteúdos, mostrando para os educadores a importância do seu
conhecimento sobre o real significado da existência da escola e sua função social. É
importante lembrar que há uma necessidade de refletirmos sobre uma questão muito
relevante sobre a formação do professor, a necessidade de domínio dos conteúdos
para sua atuação em sala de aula. Precisamos de um professor mais atuante, mais
atualizado e com novas competências; que seja capaz de perceber que o aluno por sua
vez é a razão de ser da escola, e a Orientação Educacional deve estar engajada nesse
processo, desenvolvendo propostas, juntamente aos educadores para que elevem o
nível cultural dos alunos e tudo fazer para que o ambiente escolar seja o melhor
possível.
O Orientador Educacional é um dos membros do corpo gestor da escola.
Portanto, cabe a ele, interagir em todo o trabalho pedagógico desenvolvido na
instituição. Nos momentos coletivos como:Conselhos de Classe; avaliação da Proposta
Pedagógica, por exemplo, ele deve oferecer subsídios para melhor avaliação do
processo educacional. Participando do planejamento e conhecendo a escola e a
comunidade, ele poderá contribuir significamente, para todas as decisões que se
referem ao ambiente escolar.
Partindo dessa ideia, se destaca a importância do trabalho do Orientador
Educacional que é de promover a integração de todos os profissionais da escola,
conscientizado-os da necessidade de sicronicidade do fazer pedagógico. Assim,
garantindo um trabalho integrado e cooperativo na escola. Ele também é responsável
por acompanhar as atitudes dos professores em sala de aula; analisando se há uma
relação entre os conteúdos trabalhados e metodologia à realidade de vida dos alunos.
Em relação à família, a Orientação Educacional é responsável em fazer a
articulação entre ela e a escola. Para tanto, seu papel é contribuir para a aproximação
entre as duas, planejando momentos culturais em que a família possa estar presente,
39
junto com seus filhos, na escola. A situação escolar do aluno deve ser informada aos
responsáveis, e ele deve sempre ser estimulado a aprender de forma significativa. Ou
seja, o papel da orientação educacional com relação à família não é apontar desajustes
ou procurar os pais para tecer reclamações sobre o comportamento do filho e, sim,
procurar meios, junto à família, para que o espaço escolar seja favorável ao aluno.
O Orientador Educacional que compreende o modo de vida, os interesses,
aspirações, necessidades, as conquistas do contexto local (comunidade) é muito
importante, pois assim, é possível o apoio da instituição escolar na luta da comunidade
por melhores condições de vida. Neste sentido, aponta-se uma das tarefas dele, que é
o conhecimento da comunidade e das situações, cujas facilitam sua vida, tanto quanto
as que dificultam.
Grinspun (2006) diz que:
“Devemos levar o aluno a valorizar todas as manifestações culturais de sua comunidade ou Estado, pois a Orientação poderá ajudá-los a desvelar sua própria historia cultural e social”. (p.71)
O Orientador Educacional deve estar atento ainda aos acontecimentos sociais do
país ou do mundo. Como ele não tem um currículo a seguir na escola, pode se
organizar e trazer para os educandos os fatos sociais mais marcantes que nos
envolvem, bem como, incentivá-los a participação de lutas maiores. A escola não pode
fugir dos grandes questionamentos que a mídia nos mostra diariamente. Discutir
questões como: corrupção, atos de terrorismo, violência urbana entre outras situações
presentes na sociedade brasileira e mundial será de grande valia para os demais
componentes curriculares.
Todavia, a educação estará sendo pensada como processo social de formação
de homem coletivo responsável pela construção não do seu futuro, mas do futuro de
toda sociedade.
40
3.1 – Algumas atribuições do Orientador Educacional, a serem
desenvolvidas no ambiente escolar, para o sucesso de todos os envolvidos no
processo educativo.
• Coordenar o processo de acompanhamento dos alunos, ouvindo, dialogando e
encaminhando-os a outros especialistas aqueles que exigem assistência
especial;
• Contribuir na análise dos indicadores de aproveitamento escolar, repetência e
evasão;
• Realizar atendimentos individuais ou de pequenos grupos. Quando for em
grupos, propor temas (textos, trabalhos, debates, vídeos etc);
• Propor estratégias comuns entre os professores, coordenação e orientação, para
assim haver uma melhor articulação das atividades;
• Acompanhar o trabalho dos educadores em sala de aula, com intuito de divulgar
nos conselhos de classe o perfil de cada turma, sanando algumas questões de
ordem pedagógica para melhoria do processo educacional;
• Proporcionar encontros com os professores com o objetivo de mostrá-los
técnicas de observação sobre o comportamento dos alunos, para que em outras
ocasiões consigam descobrir através da auto-avaliação e da execução de
atividades, suas dificuldades e facilidades;
• Analisar, juntamente aos educadores, as causas de desajustes e aproveitamento
deficiente dos alunos;
41
• Planejar o processo de integração escola-família-comunidade, atuando como elo
de ligação e comunicação entre todos;
• Estimular atitudes favoráveis à efetiva participação dos senhores responsáveis
na tarefa educativa;
• Ilustrar, juntamente aos senhores responsáveis, atitudes corretas em relação ao
estudo dos seus filhos, avaliando possibilidades e disponibilidades de
colaboração em relação à vida escolar deles;
• Construir, no espaço escolar, uma sala somente para o desenvolvimento das
atividades de Orientação Educacional, já que este é um profissional de
compromisso ético com a educação.
42
CONCLUSÃO
Nos moldes em que a prática pedagógica se constrói hoje, mesmo diante de
tantas discussões sobre uma educação transformadora, infelizmente em muitas
instituições de ensino ainda permanece uma educação em que o papel do aluno é
apenas ouvir e registrar o que o professor expõe. Efetuar exercícios semelhantes aos
resolvidos pelo professor; memorizar regras das quais nem sempre entende a
significação; envolver-se com a resolução de questões que não despertam seu
interesse e que em geral, admitem uma única solução. Enfim, responder corretamente,
isto é, segundo desejam os mestres, em questões propostas nas provas.
Tal prática não leva em conta as diferenças individuais, porque nem sabe como
lidar com elas. Não valoriza a contribuição pessoal do aluno, na descoberta de
propriedades e relações, não o desafia a produzir soluções diferentes para o mesmo
problema, nem reconhece quando ele o faz. Não aposta na sua capacidade em
construir o conhecimento, não o induz a pensar, a refletir o porquê das coisas, leva-o
apenas a tentar descobrir qual a resposta exata das questões propostas pelo educador.
Nela se evita qualquer situação que possa gerar conflitos de opiniões.
Os professores precisam conscientizar-se de que suas metas educacionais não
se resumem na transmissão de conhecimentos e que devem, portanto atuar no sentido
de promover o desenvolvimento dos processos psicológicos pelos quais o
conhecimento é adquirido, ensinando aos educandos a aprender a prender. Isso não é
uma tarefa tão simples de se resolver, pois muitos professores acabam usando essa
maneira de transmissão de conhecimento sem lembrar que o verdadeiro aprendizado
se dar a partir das experiências que os alunos já possuem consigo. Outro ponto
importante são as estratégias de ensino que quando bem pensadas favorecem na
aprendizagem dos alunos, já que é muito importante utilizar diferentes formas de
43
trabalhar determinados assuntos em sala de aula, logo se percebe tamanho interesse
dos educandos pelo assunto.
Ao término do presente trabalho monográfico a conclusão a que se chega é de
que o fracasso escolar está intimamente relacionado a posturas pedagógicas
inadequadas.
A fim de se alcançar à formação de indivíduos críticos e criativos faz-se
necessária à transformação de concepções que orientam a prática do professor.
Não se pode, entretanto, evitar o questionamento acerca da própria formação do
professor. Será que esta fornece ao professor condições necessárias para a tarefa que
lhe cabe realizar? A responsabilidade que lhes é reservada nesse novo contexto de
educação é de “recriar” sua experiência pedagógica. Cumpre assinalar que, afinal eles
também são fruto dessa educação que inibe o espírito de inovação. Um trabalho
voltado para a formação de alunos mais criativos exige desempenho mais atuante não
só dos alunos como também do professor, ou seja, uma educação mais eficaz, crítica e
mais planejada para os desafios do viver humano é fruto de um processo de interação e
participação entre todos os envolvidos no processo pedagógico é o momento de
percebermos a importância do Orientador Educacional como dinamizadora do processo
de ensino, já que hoje sua função liga-se a construção da cidadania, à dimensão
política, e o seu trabalho reveste-se de uma dimensão mais pedagógica.
Cabe, portanto, ao educador, repensar sobre sua atuação, rever criticamente a
sua forma de ensinar, refletir sobre preconceitos e ser capaz de encarar desafios
surgidos no âmbito escolar acreditando sempre numa prática que realmente tenha
significado para os alunos para que assim eles aprendam com prazer e construam seus
próprios conceitos. Introduzir na sala de aulas práticas que possam fazer diferença, que
possa atenuar e aliviar o sentimento de fracasso dos educandos. Nesse sentido,
propõe-se que em momento nenhum se reduza o fracasso das escolas públicas
brasileiras a meras inabilidades técnicas características de alunos desfavorecidos,
44
tente-se resgatar o compromisso e a responsabilidade da escola com seus alunos,
tornando-se a instrução mais poderosa para ensinar aos alunos a aprender a aprender
levando-se em conta variáveis psicológicas e cognitivas que afetam o processo de
ensino – aprendizagem, sobretudo a relação professor – aluno.
É preciso resgatar a auto – estima do professor: fazê-lo acreditar nas suas
possibilidades de intervenção na realidade. Aumentar o grau de
realização/concretização (e, portanto de satisfação) do trabalho; desfrutar o prazer de
conhecer (a realidade do campo de intervenção) e de concretizar em seu trabalho
docente o que foi planejado em busca de transformações positivas.
A tarefa é difícil porque nos falta à cultura e a coragem de participação nas
decisões, falta-nos experiência e confiança na continuidade das políticas educacionais.
Falta principalmente intimidade com a democracia. Mas, é essencial lembrar que, o
planejamento e compromisso docente são indispensáveis para organizar a mudança.
Portanto, o desafio que temos a enfrentar é evidente: passar de mera
aprendizagem para o aprender a aprender, fazer da escola o lugar privilegiado da
educação e do conhecimento, unir saber a ação.
Tendo o aluno como seu principal objeto de trabalho, o Orientador Educacional
passa a ser um profissional de grande relevância para o resultado final do ensino que é
a aprendizagem, conseqüentemente ser comprometido com a formação do cidadão
consciente no mundo em que vive, disso, portanto, resulta a importância da escola.
Só assim poderemos garantir e gerar o futuro, com uma sociedade que tenha
acesso a uma base educativa que lhe propicie a respectiva cidadania.
Afinal, não há como chegar à qualidade de vida sem a educação. Mas não será
educação aquela que não se destinar a formar sujeito histórico crítico e criativo.
45
BIBLIOGRAFIA
CANDAU, Vera Maria. Reinventar a escola.6.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008
FREIRE, Paulo. Professor sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo:
Olho d água, 1998.
____________ Educação e Mudança. 23. ed. Paz e Terra,1999.
GRINSPUN,Mírian P.S.Z. A orientação educacional: conflito de paradigmas e
alternativas para a escola. 3.ed.amp. São Paulo: Cortez,2006.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. A pedagogia crítico -
social dos conteúdos. São Paulo. Edição Loyola, 1984.
LUCKESI,Carlos Cipriano. Avaliação educacional escolar.
Tecnologia Educacional, 13 (61): 6-26, 1984.
PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de
submissão e rebeldia. São Paulo, 1999.
PORTO, Olívia. Orientação educacional: teoria, prática e ação. Rio de Janeiro: Wak
Ed; 2009.
TRINDADE, Azoilda Loretto. Multiculturalismo: mil e uma faces da escola.2.ed. Rio
de Janeiro: DP &A, 2000.
CANDAU, Vera Maria. Reinventar a escola.6.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch Avaliação: mito e desafio : uma perspectiva
construtivista.35ª ed. Mediação, Porto Alegre, 2005.