Jacqueline Ellida de Melo Forte Sousa
“ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA URBANIZAÇÃO DA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA”
São Paulo 2008
FMU- Faculdade Metropolitanas Unidas Jacqueline Ellida de Melo Forte Sousa
“ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA URBANIZAÇÃO DA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA”
Trabalho apresentado para conclusão do curso de Medicina Veterinária/FMU, sob orientação do Prof. Dr Carlos Augusto Donini.
São Paulo 2008
2
Dedico este trabalho aos meus Pais que me
incentivaram nas horas difíceis, e nunca me
deixaram desistir.
3
Agradeço a todos aqueles que contribuíram
para a concretização deste trabalho, ao
Professor e orientador Donini, pela atenção
e disponibilidade que em todos os
momentos dispensou a este trabalho. Aos
colegas de turma que de alguma forma me
incentivaram e ajudaram.
4
"Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis."
Bertolt Brecht
5
RESUMO Sousa, J. E. M. F. 2008
No Brasil, a importância da LV (Leishmaniose Visceral) passou a constituir um grave
problema de saúde publica, não somente por sua grande incidência e ampla
distribuição, mas também pela possibilidade de assumir formas graves e letais. A
crescente urbanização da doença ocorrida nos últimos 20 anos coloca em discussão as
estratégias de controles empregadas. Nesta pesquisa foram analisados os aspectos
biológicos, ambientais e sociais que induziram no seguimento do processo de difusão e
urbanização dos focos da doença. Os métodos disponíveis de diagnósticos e
tratamento não são eficientes, embora as pesquisas de novos testes diagnósticos e
fármacos terapêuticos estejam em estudo. Até o momento as medidas de controle da
doença não foram capazes de eliminar a transmissão e impedir a ocorrência de novas
epidemias. Uma nova vacina para cães, já testada em campo esta sendo
industrializada e comercializada no Brasil desde 2004.Embora muito se tenha estudo
sobre a LVH( Leishmaniose Visceral Humana) e LVC (Leishmaniose Visceral Canina)
lacunas ainda precisam ser preenchidas.
Palavras-chave: Leishmaniose Visceral Humana/Canina. Zoonose. Epidemiologia.
6
ABSTRAT
In Brazil, the importance of VL (Visceral Leishmaniose) has become a serious public
health problem, not only for its high incidence and wide distribution, but also the
possibility of taking severe and lethal forms. The increasing urbanization of the disease
occurred in the last 20 years brings into question the strategies employed. Were
analyzed in this study the biological, environmental and social problems that led through
the process of dissemination and urbanization of the disease. Available methods of
diagnosis and treatment are not efficient, although the search for new diagnostic tests
and therapeutic drugs are in studies. So far the measures to control the disease have
not been able to eliminate the transmission and prevent the occurrence of new
epidemics. A new vaccine for dogs, already is being field tested in industrialized and
marketed in Brazil since 2004. Although much has been studied on HVL (Human
Visceral Leishmaniose) and CVL (Canine Visceral Leishmaniose) gaps still need to be
met.
Word-key: Human Visceral Leishmaniose and Canine Visceral Leishmaniose
7
SUMÁRIO
1. JUSTIFICATIVA........................................................................................................9
2. OBJETIVO................................................................................................................11
3. ASPECTOS .............................................................................................................12
3.1 Aspectos Biológicos................................................................................................12
3.2 Aspectos Epidemiológicos......................................................................................13
3.3 Aspectos Clínicos....................................................................................................15
3.3.1 Diagnóstico.........................................................................................................18
3.4 Aspectos Preventivos...............................................................................................20
4. CONTROLE E TRATAMENTO................................................................................23
4.1 Eutanásia.................................................................................................................24
4.2 Vacinas....................................................................................................................27
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................32
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS..............................................................................34
ANEXOS........................................................................................................................41
8
1. JUSTIFICATIVA
No Brasil, a importância da Leishmaniose Visceral (Calazar), reside não somente
na sua elevada incidência e ampla distribuição, mas também na possibilidade de
assumir formas graves e letais quando associadas ao quadro de má nutrição e
infecções concomitantes. A crescente urbanização da doença ocorrida nos últimos 20
anos, coloca em pauta a discussão das estratégias de controle empregadas.
(VIEIRA,2001)
A ocorrência da doença em uma determinada área depende basicamente da
presença do vetor e de um hospedeiro/reservatório susceptível. A possibilidade de que
o homem, principalmente crianças desnutridas, venha em alguns casos a ser fonte de
infecção pode conduzir a um aumento na complexidade da transmissão da LV.
(GENARO, 2000; BANETH, 2006).
A principal forma de transmissão do parasita para o ser humano e outros
hospedeiros mamíferos (raposas, marsupiais e chacal) é através da picada de fêmeas
de dípteros da família Psychodidae, sub família Phebotominae, conhecidos
geneticamente por Flebotomíneos. A Lutzomyia longipalpis é a principal espécie
transmissora da Leishmania chagasi no Brasil. (GENARO, 2000; BANETH, 2006).
No ambiente doméstico, o cão é considerado um importante hospedeiro e fonte
de infecção para os vetores, sendo um dos alvos nas estratégias de controle.
Entretanto, para se determinar o papel destes animais na manutenção da transmissão
da LV, são necessários estudos mais complexos. (SLAPPENDEL; FERRRER, 1998).
Com a expansão da área de abrangência da doença e o aumento significativo no
número de casos, a LV passou a ser considerada pela Organização Mundial de Saúde
uma das prioridades dentre as doenças tropicais. A doença atinge principalmente as
populações mais pobres. Embora existam métodos de diagnósticos e tratamentos
9
específicos, grande parte da população não tem acesso a estes procedimentos,
elevando os índices de mortalidade. Isso indica a necessidade de uma importante
vigilância zoonótica atuante e de medidas profiláticas adequadas para o controle dessa
enfermidade. (RIBEIRO et al., 1998).
10
2. OBJETIVO
O presente estudo tem por objetivo pesquisar e reforçar a importância da tarefa
educativa e da mobilização das comunidades a fim de conscientizá-las, sensibilizá-las e
promover sua participação ativa no controle do Calazar.
Buscar articulação com programa de governo de outras endemias, zoonoses de
vigilância alimentar e de nutrição.
Examinar os cães e sacrificar aqueles infectados em áreas com transmissão
conscientizando os proprietários dos riscos de se ter um animal soro positivo para
Leishmaniose Visceral.
Manter a população informada e orientada sobre a doença, reservando espaço
para sua participação ativa no desenvolvimento das ações de controle.
Estimular o diagnóstico precoce de casos humanos junto à rede básica de
saúde.
O controle do Calazar é de responsabilidade do SUS (Sistema Único de Saúde)
que deve possibilitar a identificação de todos as áreas afetadas controlar fontes de
infecção, controlar a população do vetor, apoiar instituições de pesquisa, visando o
aperfeiçoamento das diretrizes do programa de controle garantir o suprimento de
medicamentos e insumos, incentivar a rede básica a detecção, notificação, diagnóstico
precoce, tratamento e acompanhamento de casos humanos, objetivando a pesquisa de
novos antígenos.
11
3. ASPECTOS 3.1 Aspectos Biológicos
A LV é uma enfermidade de larga distribuição mundial sendo considerada uma
enfermidade emergente ou reemergente (BRASIL, 2004; Carmo et al. 2001, Santa
Rosa e Oliveira, 1997). Cabe aqui ressaltar que em muitos lugares até esse momento, o
controle da LVC tem sido basicamente o mesmo, mudando apenas na incorporação de
um ou outro aprimoramento. A aplicação do controle parcial, freqüentemente leva a um
resultado pouco satisfatório. (FEITOSA;IKEDA;LUVIZOTTO,2000)
Neste aspecto ao realizar uma pesquisa “Leishmania”, verifica-se que se
produziu muito sobre a doença de um ponto de vista biológico, mas não se dedicou a
conhecer como a doença se comporta.
No novo mundo, a Lutzomyia longipalpis tem sido incriminada como vetor da LV
em praticamente todos as áreas de ocorrência dessa parasitose. De hábitos peri e
intradomiciliares, também é encontrado em abundância, nos ecotopos naturais, tais
como: grutas, fendas de rochas, troncos e ocos de arvores (GAVATI et al; 2001).
Trata-se de um flebotomíneo, com 2 a 3 mm de comprimento, coberto de pêlos e
coloração clara variando de palha a castanho claro. São facilmente reconhecíveis pelo
seu comportamento de voar em pequenos saltos e pousar com as asas entreabertas e
ligeiramente levantadas, em vez de ser cruzarem sobre o dorso (Castro, 1996).
A L. longipalpis esta adaptada ao ambiente modificado, sendo comum encontrá-
la fora das residências em galinheiros, chiqueiros, canil, paiol e outros lugares
sombreados, onde as fêmeas encontram animais para seu repasto sanguíneo.
12
Após a cópula, ovipoem na terra, em lugares úmidos e com matéria orgânica
como restos de vegetais, folhas, frutos, resíduos de alimentos e fezes de animais.
O período preconizado de maior atividade do flebotomíneo inicia-se cerca de
uma hora após o crepúsculo, e esgota-se aproximadamente às 23 horas (Castro, 1996).
O Ciclo do parasita pode ser descrito a partir da picada do inseto vetor infectado,
que inocula a forma promastigota metacíclica no hospedeiro vertebrado (animal e
homem). As formas promastigotas são fagocitadas na epiderme por células dendríticas
(macrófagos da pele) e, no seu interior, evoluem para amastigotas. Essas formas
apresentam multiplicação intensa intracelular quando conseguem vencer as
resistências oferecidas pelo organismo. As células repletas rompem-se e liberam as
formas amastigotas no meio tissular. Então, o novo flebótomo faz seu repasto
sanguineo e ingere células (macrófagos) parasitadas por amastigotas. Essas formas
são liberadas no trato digestivo e tornam-se promastigotas, que se multiplicam
intensamente, colonizam o esôfago e a faringe do flebótomo e, na porção anterior do
sistema digestivo, tornam-se promastigotas metaciclicas, a forma infectante. Com um
novo repasto sanguíneo, a inoculação do agente vai ocorrer. O ciclo completo no vetor
ocorre em torno de vinte dias. (RIBEIRO,2004)
3.2 Aspectos Epidemiológicos
A transmissão das Leishmanias ocorre principalmente a partir da picada do
inseto vetor contaminado, provocando infecções em seres humanos e animais
principalmente nos países tropicais e subtropicais com climas quentes e úmidos.
(GENARO, 2000; BANETH, 2006).
Essa doença está presente nas Américas, Europa, Oriente Médio, Ásia e África
fazendo com que se torne epidemia estando entre as seis mais importantes do mundo.
(WHO, 1990).
13
No Brasil as principais regiões atingidas são: Norte, Nordeste, Centro Oeste e
Sudeste. Mas há uma grande expansão da doença pelo País. O primeiro caso de LVC
no Estado de São Paulo ocorreu na cidade de Araçatuba em 1998. (BIAZZONO, 1999).
Em 1999, no mesmo município, foi registrado o primeiro caso humano autóctone
no Estado. (CAMARGO- NEVES, 1999).
No ano de 2000, foram registrados mais de 3.700 casos da Leishmaniose
humana em 18 estados brasileiros. Calcula-se que para cada caso humano, exista pelo
menos uma média de 200 cães infectados. As infecções dos cães antecedem sempre a
aparição dos casos humanos, pois o cão é considerado o principal reservatório para a
doença humana. Entretanto, excepcionalmente não fazendo parte da epidemiologia da
doença, picadas de moscas (a Stomoxys calcitrans, uma mosca sugadora de sangue
bastante comum) e de carrapatos (Rhipicephalus sanguineos), ambos podem transmitir
a leishmaniose. (CARVALHO, 2006). Ainda podemos ter a transmissão da leishmaniose
de forma acidental através de material infectado (acidente de laboratório) pele
lesionada na qual se encontra o agente na forma promastigota (úlceras) ou através de
transfusão sanguínea. (RIBEIRO,2004).
Os mosquitos flebotomideos são os vetores mais comum na transmissão das
Leishmanioses, dentre eles a Lutzomyia longipalpis. “A epidemiologia, ainda que de forma simplificada, deve ser entendida
como ciência que estuda o processo saúde – doença na sociedade,
analisando a distribuição populacional e os fatores determinantes das
enfermidades, os danos a saúde e os eventos associados à saúde
coletiva, propondo medidas especificas de prevenção, controle ou
erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de
suporte ao planejamento administrativo e avaliação das ações de
saúde” (Almeida Filho & Rouquayrol,1992).
14
O desconhecimento da abrangência da epidemiologia como ferramenta de
avaliação e controle, o seu uso de maneira reducionista ou mesmo a negação da sua
utilização têm muitas vezes conduzido a conclusões equivocadas e ao uso de
premissas falsas para se tomar decisões e implementar ações. Segundo Minayo (1994),
o resultado mais aberrante do conhecimento produzido a partir dos dados mensuráveis
desgarrados do contexto têm sido um tecnicismo carregado de especialização, que
reflete a pobreza da reflexão social contemporânea. A autora diz ainda que “... a
restrição se dá na pretensão de uma certa pratica dominante de substituir as questões
teóricas, ditas ideológicas, pela mensuração levada ao mais auto grau de sofisticação,
como se nela estivesse contida a verdade.”
3.3 Aspectos clínicos
As manifestações clínicas da doença no cão e no homem são similares, e
apresentam sinais inespecíficos, como febre regular de 40,5º C à 41ºC por longos
períodos, anemia que ocorre devido a perda de sangue da lise de hemácias, ou, mais
freqüentemente, da diminuição da eritropoiese em decorrência de uma hipoplasia ou
aplasia medular. A emaciação é geralmente um sinal de envolvimento virceral. Alguns
cães perdem peso, apesar de apresentarem normorexia, e pacientes severamente
afetados apresentam caquexia. (FEITOSA, 2006; FRASER, 1991).
Nos órgãos linfóides, a proliferação de linfócitos B, plasmócitos, histiócitos e
macrófagos pode resultar em linfoadenomegalia generalizada e hepatoesplenomegalia.
As alterações dermatológicas são bastante freqüentes em animais com leishmaniose
visceral e podem ocorrer na ausência de outros sintomas. (NEVES, 2000).
No entanto animais com alterações dermatológicas, provavelmente, também
possuem envolvimento sistêmico, porque os parasitos estão geralmente disseminados
por todo o corpo antes do aparecimento das lesões de pele. As alterações cutâneas
incluem uma excessiva descamação da epiderme que pode ser localizada nas regiões
periocular e na borda dos pavilhões auriculares ou difusa por todo o corpo. Os animais
15
podem apresentar pelame seco, queda de pêlos e áreas de alopecia. Alguns cães
apresentam despigmentação cutânea e áreas de hiperqueratose e lignificação,
principalmente em locais correspondentes a saliências ósseas. Podem existir úlceras e
nódulos intradérmicos, provavelmente decorrentes da multiplicação das formas
amastigotas na epiderme, produzindo um processo inflamatório local, ou de uma
vasculite necrotizante causada pela deposição de imunocomplexos. As úlceras
cutâneas podem aparecer em qualquer sítio, mas sua ocorrem mais nas zonas ósseas
salientes, na face, no plano nasal, nos pavilhões auriculares e na região interdigital.
Observa-se também onicogrifose (crescimento exagerado das unhas) , associada à
presença do parasito estimulando a matriz ungueal. (TILLEY et al., 2003).
Em muitos animais com leishmaniose, observa-se uma miotrofia, inicialmente
nos músculos das fossas temporais, seguidas, sucessivamente, pelo resto da
musculatura do corpo. (TABOADA et al., 1997).
A deposição de imunocomplexos nos rins (ao longo da membrana basal
glomerular e tubular), eventualmente, resulta em glomerulonefrite proliferativa e em
nefrite intersticial, podendo levar a uma insuficiência renal que é, muitas vezes a
principal causa de morte em cães com leishmaniose.
As leishmanias também se multiplicam em macrófagos do fígado, produzindo
uma hepatite ativa crônica e, ocasionalmente, hepatomegalia, vômitos, poliúria,
polidipsia, anorexia e perda de peso. Alguns animais apresentam diarréia crônicas e
melena devido à presença de ulcerações de mucosa gástrica e intestinal. A enterite
pode ser resultado de um dano parasitário direto ou conseqüência de uma insuficiência
renal. (LUVIZOTTO, 2006; TILLEY, 2003).
É possível observar animais com um quadro de pneumonia intersticial,
miocardite aguda não supurativa e pericardite. Cães com leishmaniose podem
apresentar diáteses hemorrágicas, como hematúria, petéquias e sufusões e,
principalmente, epistaxe. Além da ocorrência de ulcerações nas cavidade nasal
16
(provavelmente a principal causa da epistaxe), outras causas para a ocorrência de
hemorragias incluem vasculite, hiperglobulinemia, que pode interferir com a
polimerização da fibrina, uremia, que interfere com a função plaquetária, seqüestro
esplênico de plaquetas e, eventualmente, trombocitopenia por aplasia ou hipoplasia
medular. (GONÇALVES, 2003).
Quadros de leishmaniose visceral podem vir acompanhados de lesões oculares,
principalmente blefarite associada à dermatite facial, embora não seja raro encontrar
uma ceratoconjuntivite bilateral. Em alguns cães, pode-se observar também uma uveíte
bilateral com intensa leucocitose marginal, associada a um edema de córnea ou à
formação de sinéquia, devido à presença de Leishmania ou como conseqüência de
uma deposição de imunocomplexos na íris e no corpo ciliar. (FEITOSA, 2006;
LUVIZOTTO,2006; WEST et al., 1988; STADES et al., 1999).
No sistema nervoso, observam-se depósitos de antígenos e de imunoglobulinas
no plexo coróide, levando a uma coroidite, além de alterações histológicas no encéfalo
e no cerebelo, tais como deposição de substância amilóides e degeneração neural.
Dentre as alterações neurológicas observadas em cães com leishmaniose visceral,
destacam-se tetraparesia, convulsões, mioclonias, andar em círculos, nistagmo, tremor
de intenção, alterações em nervos cranianos, tais como estrabismo, paralisia de
mandíbula e ptose labial. Tais alterações são decorrentes da deposição de
imunecomplexos ou de infecções oportunistas no sistema nervoso central. (LIMA, 2003;
FEITOSA, 2006).
A incidência de problemas locomotores, em casos de leishmaniose visceral,
pode ser decorrente de neuralgia, poliartrite, sinovite, polimiosite, osteomielite, fissuras
nos coxins ou úlceras interdigitais. Em alguns casos, é possível a identificação da
Leishmania no líquido sinovial, mesmo sem a presença de alterações radiográficas. A
poliartrite pode ser causada por depósito de imunocomplexos circulantes no líquido
sinovial. Na avaliação citológica do líquido sinovial pode-se observar inflamação, mas
não necessariamente parasitos. A imunossupressão causada pela leishmaniose pode
17
promover a ocorrência de infecções oportunistas concomitantes, tais como cistites,
pneumonias bacterianas, piodermites, malassezíoses, dermatofitoses e demodiciose.
Consequentemente, o quadro clínico pode ser complicado. Infecções combinadas com
Ehrlichia, Babesia e Dirofilaria são muito comuns se a infecção por Leishmania ocorrer
em regiões onde esses organismos também são endêmicos. (TABOADA et al., 1997).
Em muitos pacientes, particularmente nos de meia idade a idosos, a doença esta
associada a uma causa que deprimiu o sistema imune, tal como parasitismo, infecções,
doenças crônicas e alguns tipos de medicamentos. A literatura cientifica relata vários
casos de leishmaniose associados a diferentes doenças, tais como hemangiosarcoma,
leucemia linfóide, mieloma, linfoma e pênfigo foliáceo. ( GONÇALVES, 2003).
3.3.1 Diagnóstico O diagnóstico da LVH – Leishmania visceral humana e LVC muitas vezes é um
problema por ser uma enfermidade que tem sintomas comuns com outras doenças tais
como doença de chagas, malária, esquistossomose, febre tifóide e tuberculose.
Pacientes com LV apresentam febre prolongada, esplenomegalia, hepatomegalia,
leucopenia, anemia, hipergamaglobulinemia, tosse, dor abdominal, diarréia, perda de
peso e caquexia. Não existe um teste diagnostico totalmente preciso e específico já que
todos os métodos diagnósticos possuem suas limitações. Sabe-se, entretanto que
dependendo do estado clinico do animal existe maior possibilidade de se encontrar o
parasita, enquanto que em animais infectados, porem assintomáticos, o achado do
parasita é pouco freqüente. (GONTIJO; MELO, 2004).
A demonstração do parasito pode ser feita em material de biópsia ou punção
aspirativa do baço, fígado, medula óssea ou linfonodos. O material obtido é utilizado
para a confecção de esfregaço ou impressão em lâminas, histologia, isolamento em
meios de cultura ou inoculação em animais de laboratório. A especificidade destes
métodos é de 100%, mas a sensibilidade é muito variável, pois a distribuição dos
parasitas não é homogênea no mesmo tecido. A sensibilidade mais alta (98%) é
18
alcançada quando se utiliza aspirado do baço. As punções esplênicas e de medula
óssea são consideradas procedimentos invasivos e exigem ambientes apropriados para
a coleta, não sendo procedimentos adequados para estudos epidemiológicos em larga
escala, e muitas vezes são também inadequados para diagnóstico individuais.
(FERRER et al, 1988).
No Brasil, os testes mais utilizados e recomendados pelo Ministério da Saúde no
diagnostico de LV humana e canina são a RIFI- Reação de imunofluorescência indireta,
e ELISA - Enzyme Linked Immunossorbent Assay, sendo consideradas, sobretudo este
ultimo, testes de escolha para inquéritos populacionais.(AVILES et al. 1999).
A RIFI apresenta alta especificidade, exige na sua execução pessoal treinado, é
uma reação dispendiosa e não está adaptada para estudos epidemiológicos em larga
escala. Uma das principais limitações da técnica é a ocorrência de reações cruzadas
com leishmaniose tegumentar, doença de chagas, malaria, esquistossomose e
tuberculose pulmonar. Isto dificulta a interpretação dos dados epidemiológicos, pois no
Brasil ocorre superposição da LV, sobretudo com leishmaniose tegumentar e doença de
chagas. (AVILES et al, 1999).
O teste de ELISA é o mais utilizado para imuno diagnostico de leishmaniose
visceral. É uma técnica rápida, de fácil execução e leitura, sendo um pouco mais
sensível e um pouco menos especifico que a RIFI. O teste é sensível, permitindo a
detecção de baixos títulos de anticorpos, mas é pouco preciso na detecção de casos
assintomáticos. Funciona igualmente bem para o diagnóstico da LVC.
Nos estudos com LV, a PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) tem sido
utilizada com várias finalidades além do diagnóstico, tais como o monitoramento do
tratamento e estudos epidemiológicos. Está técnica tem sido descrita como um método
sensível para a detecção do parasita, independente da imunocompetência ou da
história clínica do paciente. Muitos centros de pesquisa têm avaliado o uso da PCR
para diagnóstico de LV utilizando o sangue periférico. (LACHAUD et al, 2002
19
Apesar de ser um método sensível para a detecção de Leishmania em uma
variedade de materiais clínicos de humanos e cães, tais como amostras de sangue e
linfonodos e por testes de imunoistoquimico de pele. A PCR é mais usada em estudos
epidemiológicos do que no diagnóstico de rotina. Para utilização em larga escala, a
PCR necessita de ajustes para se tornar mais simples e com custo operacional mais
baixo. (LACHAUD et al, 2002).
3.4 Aspectos Preventivos
O PCLV (Programa de Controle da Leishmaniose Visceral) do Ministério da
Saúde, inicialmente foi proposto para ser aplicado nas áreas de risco visando reduzir as
taxas de letalidade e o grau de morbidade através do diagnóstico e tratamento precoce
dos casos humanos, bem como diminuição dos riscos de transmissão mediante
controle da população de reservatórios e vetores. (SANTA ROSA & OLIVEIRA,1997).
Entretanto, durante a década de 60, as ações foram interrompidas e apenas em 1982 o
programa foi retomado quando a extinta SUCAM (Superintendência de Controle de
Endemias) detectou um aumento do número de casos de LV no Brasil (ALVES et al.,
2004). Atualmente, o PCLV incorpora áreas sem ocorrências de casos humanos ou
caninos da doença nas ações de vigilância e controle, objetivando evitar ou minimizar a
expansão da doença (SANTA ROSA & OLIVEIRA 1997; GONTIJO et al.,2004).
O desenvolvimento de estratégias, tanto no campo da terapêutica como no
controle do vetor, eliminação do hospedeiro doméstico, não tem se mostrado eficaz em
conter a epidemia. Desta forma a busca de novas ferramentas que contribuam de forma
determinada e efetiva no combate é imprescindível (LINDOSO et al., 2006).
Estudos de modelagem matemática demonstram que o combate ao vetor deveria
ser a primeira estratégia de controle da LVH, seguido pela busca da redução da
susceptibilidade, através da melhoria da condição nutricional de crianças e busca de
vacinas para cães e humanos. Os esforços para o combate ao vetor são direcionados,
principalmente para as formas adultas dos flebotomíneos, pois os criadouros da maioria
20
das espécies são ainda desconhecidos. O combate ao vetor é realizado por borrifacões
do domicílio e peridomicílio com produtos a base de organoclorados, organofosforados,
DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) e piretroides sintéticos sendo considerado eficiente
para reduzir a população peridoméstica dos flebotomos e conseqüentemente a
transmissão parasitaria. Entretanto o efeito é temporário e exige um programa contínuo.
O saneamento ambiental, com a limpeza de quintais e lotes, alem de medidas da
educação sanitária da população são medidas em conjunto que devem ser tomadas e
estão inclusas no PCLV (GENARO et al.,2002; MINISTERIO DA SAUDE, 2005;
MULLER et al., 1985).
A utilização de produtos à base de permetrina, aplicados diretamente nos cães
tem demonstrado, durante períodos de 15 a 30 dias, alta capacidade letal e repelente
para os flebotomíneos. Coleiras impregnadas com deltametrina tem sido indicadas para
uso canino com resultados favoráveis na redução do risco de infecções de cães e
conseqüentemente quebra do ciclo da transmissão (GONTIJO et al., 2004; NEVES et
al., 2004; CAMARGO – NEVES et al., 2006; OPS, 2006).
Uma medida direcionada à população canina que não pode ser esquecida é o
controle de cães errantes, modestamente realizada nos centros urbanos brasileiros,
que deveria ser assumida como prioridade, pois estes animais podem ser veiculadores
não somente de leishmaniose, mas também outros agentes zoonóticos (RIBEIRO et al.,
1998).
Outra medida importante é orientar o proprietário a colocar telas nos canis (telas
finas) que protejam os animais nas horas de atividade do mosquito que tem hábitos
crepusculares.
É preciso reconhecer que, apesar de todo envolvimento emocional e vontade de
preservar a vida do animal de estimação, ao veterinário cabe a responsabilidade de
esclarecer para proprietário os riscos e conseqüências da manutenção de um animal
positivo e que, por mais que seja doloroso ter que eutanasiar um ente tão próximo, o
21
bem individual não pode se sobrepor ao bem da comunidade. (SANTA ROSA &
OLIVEIRA,1997).
Tendo em vista que os métodos atualmente utilizados têm sido parcialmente
efetivos na prevenção controle da doença, novas estratégias de controle devem ser
desenvolvidas. As perspectivas para as vacinas contra LV humana e canina foram
recentemente revistas. Até o presente momento não há uma vacina humana eficaz, e
as duas vacinas já descritas na literatura para cães não mostram eficácia no campo
(GONTIJO et al., 2004).
Debates recentes patrocinados pelo Ministério da Saúde indicam o
reposicionamento das autoridades sanitárias, visando priorizar o controle ao vetor na
luta contra a LVH. A eutanásia de cães soropositivos é uma medida de controle.
Recomendada pela OMS (Organização Mundial de Saúde). (RIBEIRO et al., 1998).
22
4. CONTROLE E TRATAMENTO
Por mais de sessenta anos, o tratamento da leishmaniose vem sendo realizado
com antimoniais pentavalentes: antimoniato de N-metil glucamina-Glucantime e
estibogluconato de sódio Pentostan, que são os medicamentos de primeira escolha
para o tratamento. Estes fármacos são tóxicos, nem sempre efetivas, e na LV são
usados em esquemas prolongados. O principal efeito colateral do glucantime é a
nefrotoxíciddade. Como tratamento alternativo no Brasil, são utilizados a anfotericina B
e suas formulações lipossomais (anfotericina B – lipossomal e anfotericina B –
dispersão coloidal), as pentamidinas (sulafto e mesilato) e os imunomoduladores
(interferon gama e GM-CSF). Com exceção dos dois primeiros fármacos, as demais se
encontram ainda em fase de investigação. A utilização destes fármacos só deve ser
realizada em hospitais de referência. Dados recentes indicam que a resistência aos
antimoniais tem se tornado um problema na Índia e no Sudão. No entanto, a
quimioterapia da leishmaniose está mais promissora atualmente do que há alguns
anos, com novos fármacos e novas formulações para ao fármacos que já vinham sendo
utilizados. O desenvolvimento de anfotericina B encapsulada em lipossomas
(AmBisome) tem mostrado bons resultados, com cura de 90-95% na Índia. O
miltefosine, uma droga desenvolvida como um agente antitumoral, mostrou 95% de
cura efetiva em estudo no calazar indiano. Esta droga apresenta a vantagem de ser de
uso oral e bem tolerada, embora seja potencialmente teratogênica, o que limita a sua
utilização por grávidas. Os novos fármacos, principalmente AmBisome e miltefosine,
têm mudado o perfil do tratamento da LVH, mas o custo das novas terapias leva a
diferentes práticas de tratamento, de acordo com a condição socioeconômica e cultural
de cada região. (GONTIJO; MELO, 2004).
A Leishmaniose Visceral Canina representa um desafio para o clínico veterinário
em pelo menos dois aspectos: na complexidade do diagnóstico e no prognóstico do
paciente. (RIBEIRO, 2004).
23
De acordo com a portaria interministerial nº1.426, de 11 de julho de 2008, ficou
proibido o tratamento de cães com LV, por não existir até o momento uma garantia de
que os fármacos existente seja eficazes ou que haja redução na transmissão da
doença, ou ainda que o animal não se mantenha como reservatório, ficando assim
proibido em todo território nacional o tratamento da LV em cães infectados ou doentes
com produtos de uso humano ou produtos não registrado no MAPA (Ministério da
Agricultura Pecuário e Abastecimento).(ANEXO 1 – Portaria Interministerial).
4.1 Eutanásia
Na legislação brasileira, a leishmaniose é uma doença de notificação obrigatória
e é regida pelo decreto do Senado Federal nº 51.838, de 14 de março de 1963, que a
considera endemia rural. Entre as normas técnicas do referido decreto para o combate
a leishmaniose, destacam-se o Artigo 1º “O combate às leishmanioses tem por objetivo
a interrupção da transmissão da doença do animal ao homem, e/ou inter-humana”; o
artigo 3º “O Departamento Nacional das Endemias Rurais executará as seguintes
medidas profiláticas: a) investigação epidemiológica; b) inquéritos extensivos para
descoberta de cães infectados; c) eliminação dos animais domésticos doentes; d)
campanhas sistemáticas contra os flebótomos nas áreas endêmicas; e) tratamento dos
casos humanos”; o Artigo 5º “A educação sanitária será realizada com o objetivo de
esclarecer a população sobre a importância do cão na epidemiologia da doença,
ressaltando a necessidade da eliminação do cão doente”; o Artigo 8º “Nas áreas
endêmicas será obrigatório o exame dos cães, visando manter o controle da zoonose”;
e o Artigo 9º “Os cães encontrados doentes deverão ser sacrificados, evitando-se,
porém, a crueldade”. Com o passar dos anos, a doença foi inserida no contexto das
legislações estaduais e municipais sobre zoonoses, definindo-se que os animais
soropositivos, além dos doentes, devem ser sacrificados. Dessa forma, os médicos
veterinários são desestimulados a tratar os cães infectados.
Entretanto, ante o fenômeno da urbanização da doença e a inegável
“humanização” dos animais de estimação, a questão surge como um grave problema
24
em vista da decisão entre eliminarem-se ou tratarem-se os cães. A OMS recomenda o
sacrifício como medida ideal de controle, porém reconhece as limitações dessa prática
quando cães de alto valor afetivo e econômico são infectados. No Brasil, o
constrangimento provocado por essa medida é relatado por profissionais ligados ao
setor público e responsáveis pelo controle da LV quando da busca do cão positivo para
eliminação. Esse momento, entendido como portador de forte componente emocional,
significa, dada a importância do cão no ambiente familiar, a determinação da “sentença
de morte” para um “membro da família”. São crescentes as ocorrências de recusa em
entregar o animal, o que, conseqüentemente, mantém a cadeia de transmissão.
(Decreto Lei 51.838,14 março 1963).
A ausência de alternativas leva muitos proprietários a remover seus animais para
outros ambientes, ás vezes não atingidos pela doença, gerando, dessa forma, um foco
de dispersão do agente; ou acarretando ações judiciais envolvendo cidadão e poder
público. É o caso de uma jurisprudência, verificando em Belo Horizonte, favorável à
preservação de um cão infectado e tratado. O claro desejo da comunidade em optar
pelo tratamento de seus cães é expresso por 80% dos proprietários que se confrontam
com a realidade de ter seu animal de estimação doente. Soma-se a esse fato a
inexistência de programas de controle permanentes e eficazes do cão vadio, que
perambula pelos centros urbanos e representa fonte potencial de disseminação de
leishmânia e de outras zoonoses. (RIBEIRO,2004).
Estudos de modelagem matemática indicam, desde 1996, que a eutanásia de
cães soropositivos deveria ser, em escala de importância, a terceira medida adotada.
Pesquisas realizadas no Brasil concluem que a retirada de cães soropositivos tem
surtido efeito temporário na diminuição da força de transmissão entre os animais; e, de
acordo com estudos controlados, a propagação do calazar não foi significativamente
afetada pela exclusiva eliminação de cães soropositivos. (RIBEIRO,2004).
25
Os resultados inconsistentes obtidos no controle da leishmaniose visceral,
associada ao caráter descontínuo das políticas de saúde, tem suscitado debates nos
órgãos responsáveis pelo controle da doença. (RIBEIRO,2004).
A decisão pelo tratamento da LVC se deve ao conhecimento de que a doença
não é uniformemente fatal e de que alguns cães podem apresentar cura espontânea.
Os experimentos de tratamento variados levaram à elaboração de protocolos que
oferecem boas possibilidades de cura clínica, baixo índice de recidivas e diminuição ou
supressão da capacidade infectante da pele. Entretanto, o tratamento é também
complexo, prolongado e, em alguns casos, ineficientes. (RIBEIRO,2004).
A Leishmaniose é um problema crescente de saúde pública na maior parte dos
países.
“Ninguém se lembra que está doença humana existe na
Europa”, alerta Lenea Campino, Diretora da Universidade de
Leishmaniose, do IHMT-UNL (Intituto de Higiene e Medicina
Tropical - Universidade Nova Lisboa) e co-autora do trabalho
agora publicado. Na verdade, o número de novos casos de
leishmaniose nos países Mediterrâneos tem vindo a aumentar. A
causa deve-se principalmente a co-infecções Leishmania – VIH,
sendo que cerca de 90% dos doentes desenvolvem a doença.
Nesta população verificou-se o aparecimento de um novo ciclo de
transmissão: a contaminação entre consumidores de drogas, em
que a partilha de seringas substitui o vetor usual – o inseto
flebotomíneo. Há ainda a acrescentar o aumento de transmissão
da Leishmania infantum, a espécie responsável pela doença no
nosso país, devido às alterações climáticas “.
“ Se aparecer algum fator de desequilíbrio “ diz Campino.
“poderemos enfrentar uma grande epidemia”
26
Existe uma grande polemica em torno da origem da LV no Novo Mundo, se ela
foi introduzida resentemente, na época da colonização européia e causada pela
espécie L. infantum ou a vários milhões de anos, juntamente com a introdução dos
canídeos devido a espécie ser classificada como L. chagasi. De acordo com
algunsautores, a L. chagasi foi resentemente considerada idêntica á L. infantum.
(SANTA ROSA;OLIVEIRA,1997; MILES et.al., 1999).
4.2 Vacinas
A primeira vacina produzida no mundo contra a Leishmaniose recebeu
autorização do Ministério da Agricultura para ser comercializada no país. A vacina foi
desenvolvida por pesquisadores brasileiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O produto de uso veterinário é utilizado nos cães, principais hospedeiros do protozoário
que transmite a doença. A vacina está sendo comercializada, de maneira controlada, a
médicos veterinários de áreas endêmicas do país. (MIRACELLY, 2004).
Desenvolvida no Brasil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria
com outro laboratório a Leishmune oferece entre 92% e 95% de proteção aos cães
vacinados, segundo os estudos a campo realizados. Desde junho de 2003 a Fort Dodge
detém autorização do Ministério da Agricultura para produzir e comercializar a vacina.
(MENZ, 2006).
A Leishmune é resultado de 24 anos de pesquisa desenvolvida pela
pesquisadora Doutora Clarisa Palatnik de Sousa e sua equipe do Instituto de
Microbiologia da URFJ. A parti de 1999 o laboratório passou a cooperar com a
universidade na realização de estudos sobre a vacina e no desenvolvimento das
técnicas para sua produção em escala industrial. (MENZ, 2006).
Trata-se de uma vacina de subunidade, ou seja, é obtida de uma glicoproteína
existente na membrana do protozoário (leishmânia) capaz de estimular a produção de
anticorpos. Por isso, a Leishmune é uma vacina altamente purificada, que exige meios
27
de cultura específicos e cuja produção é bastante complexa. (BORJA – CABRERA et
al., 2002)
A vacina é de uso exclusivo dos médicos veterinários e deve ser aplicada em
cães soronegativos (testes sorológicos negativo para a doença) e assintomáticos a
partir dos quatro meses de idade. Devem ser administradas três doses com intervalos
de 21 dias entre elas. É recomendada a vacinação anual dos animais. (NOGUEIRA et
al., 2005).
O lançamento da vacina explicita, obrigatoriamente, as políticas públicas de
combate à LVH, ditadas pelo Ministério da Saúde, que prevêem, entre outras medidas,
a eliminação de animais soropositivos para a doença, após a realização de testes.
Ocorre que, hoje não é possível diferenciar, por meio desses exames, os cães
vacinados daqueles naturalmente infectados. Pelo teste, ambos apresentarão
anticorpos contra a leishmânia. Assim um animal que tenha recebido a eishmune pode
ser envolvido m um “inquérito epidemiológico” e deveria passar por outros testes para
comprovar sua condição de não-transmissor. Do contrario, pode vir a ser sacrificado.
(RIBEIRO 2004).
O laboratório tem seu produto regulamentado desde junho de 2003 pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, órgão que rege a produção e
comercialização de produtos veterinários no Brasil. A Leishmune segundo a empresa
demostrou sua eficácia na prevenção da LVC em todos os testes requeridos pelo
ministério para seu registro. Mas a empresa optou por estabelecer diálogo com a
Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, de maneira a informar os
técnicos sobre sua eficácia na prevenção da doença canina e possibilidade de ajudar
na diminuição dos casos humanos. (RIBEIRO 2004).
Em setembro daquele ano, por orientação da sua matriz americana, a empresa
deu início a novos estudos que comprovassem a aplicabilidade do uso do produto na
práica clínica. O protocolo-piloto, realizado com 600 cães de áreas endêmicas e
28
periendêmicas, no qual foi utilizado o lote 001/03 da Leishmune, foi concluído em
setembro de 2004 de acordo com a empresa a análise de eficácia, uma vez mais,
comprovou os resultados de proteção já obtidos nos estudos anteriores. (RIBEIRO
2004).
Para lançar a vacina, a empresa traçou uma cuidadosa estratégia de
apresentação do produto aos médicos veterinários e a conseqüente educação desses
profissionais e proprietários de animais quanto ao uso do produto e sua implicações.
Nesse sentido, uma série de simpósios técnicos que abordam os vários aspectos da
LVC e o uso da vacina como uma das ferramentas de controle da doença nos cães vem
sendo realizado pela empresa. (RIBEIRO 2004).
Os eventos são restritos a médicos veterinários, que estão sendo cadastrados
pela empresa de forma a habilitá-los a adquirir a vacina. A empresa vem cadastrando
também, por meio de visitas de representantes técnicos, os profissionais veterinários
que não participaram dos simpósios. (RIBEIRO 2004).
Em vista da possibilidade de inclusão de cães vacinados em inquérito
epidemiológicos, com eventual eutanásia, como é preconizado hoje, a empresa vem
orientando os médicos veterinários a alertar os proprietários de animais sobre esse
risco e certificar-se de que eles estejam informados de que, uma vez vacinados, seus
cães apresentarão testes sorológicos positivos para leishmaniose. Para isso, a empresa
criou um atestado de vacinação no qual médico e proprietário afirmam estar cientes de
que “o cão poderá apresentar sorologia positina, estando sujeito às normas do Manual
de Vigilância e Controle da LV impostas pelo Ministério da Saúde”. Assim, a empresa
acredita que dá aos veterinários e clientes todos os elementos necessários para que
escolham o que for melhor para os animais, seus donos e comunidades em que vivem.
A empresa entende que há uma relação de risco-beneficio que deve ser avaliada por
profissionais e proprietários: vacinar significa considerar a chance de o cão torna-se
soropositivo e expô-lo, portanto, a um eventual inquérito epidemiológico, o que é
relativamente raro; não vacinar pó outro lado, significa expor o cão à doença, situação
29
bastante possível em áreas endêmicas, e, da mesma forma, sujeitá-lo às ações que
vêm sendo preconizadas pelos órgãos de saúde nas ultimas quatro décadas. (RIBEIRO
2004).
A empresa, no entanto, com base em estudos realizados, entende que cães
vacinados não permanecem como agentes de infecção do vetor. (RIBEIRO 2004).
Os simpósios de lançamento da Leishmune já aconteceram nas cidades de
Araçatuba (SP), Bauru (SP), Belo Horizonte (MG) e Campo Grande (MG). Nessas
regiões, a vacinação com a Leishmune já teve início. (RIBEIRO 2004).
O preço da vacina Leishmune ainda é um empecilho para a imunização em
massa dos animais na região de Araçatuba. A Vacina está disponível em clínicas
veterinárias da região, mas o preço assusta os proprietários de cães que querem
proteger seus animais contra a leishmaniose: o interessado precisa desembolsar em
média R$ 205 pela imunização.
Cada dose da Leishmune custa R$ 70 (esse preço é tabelado). A imunizaçao
completa é feita com três doses aplicadas em um intervalo de 21 dias. Antes de ser
vacinado, o cão precisa passar por uma consulta veterinária, que custa de R$ 25 a 30.
O animal também precisa fazer um exame laboratorial para verificar se não está
infectado pela doença. Esse procedimento custa R$ 15.
Naturalmente, os cães vacinados apresentam dor transitória no local da injeção
além de letargia e anorexia. Esses sintomas regridem no prazo de 48 a 72 horas. Em
geral, os animais de pequeno poste são mais susceptíveis ao efeito colateral.
(MIRACELLY, 2004).
Existe uma raça chamada Ibizam Hound que é muito saudável e forte. Hoje em
dia não são encontrados sinais de problemas genéticos como o de algumas raças
modernas. Também são imunes em adquirir doenças freqüentes. Pesquisadores da
30
Universidade de Barcelona acreditam que o Ibizam Hound seja a única raça do mundo
a ser imune a leishmaniose.
31
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil, a importância da LV reside não somente na sua alta incidência e
ampla distribuição, mas também na possibilidade de assumir formas graves e letais
quando associadas ao quadro de má nutrição e infecções concomitantes.
Por isso a classe veterinária têm mostrado muita preocupação com a LV, e
inúmeros encontros e pesquisas tem sido realizados em todo o mundo, com a
finalidade de analisar os principais aspectos biológicos, ambientais e sociais que
influenciaram no processo de expansão e urbanização da doença dos focos da doença.
Os métodos disponíveis para o diagnóstico e tratamento não apresentaram a eficácia e
aplicabilidade desejada, embora muitos avanços tenham sido alcançados com as
pesquisas de novos testes diagnósticos e fármacos erapêuticos. Ressaltamos que
muito ainda se deve buscar para aprimoramento do controle e tratamento da LVC e que
todas as medidas discutidas devem ser mantidas em associação, o que contribuirá para
redução dos riscos de que o cão, assim tratado, não atue como reservatório da
infecção.
Outra medida a ser combatida é o trânsito de animais infectados proveniente de
outras regiões e o abandono de cães nas ruas, que são fatores que contribuem para a
instalação e expansão da doença na cidade, pois esses animais podem ser
vinculadores não somente de leishmaniose mais também outros agentes zoonóticos.
O sacrifício de cães soro positivos tem sido de eficácia limitada, em
conseqüência da resistência dos proprietários em entregar os cães para serem
sacrificados.
Pesquisadores trabalham com a hipótese de que algumas espécies de moscas e
de carrapatos também sejam vetores de LV.
32
Essas medidas de controle hoje adotadas mostram-se ineficientes pois
estabelecem como prioridade a retirada de cães soropositivos do convívio humano.
Com o que foi exposto, fica bem claro que a principal ação de controle deveria ser a
redução do vetor em nosso meio, através de borrifação constante no peridomicilio e
domicílio, além de adotar medidas de controle com uso de repelentes e vacinas nos
cães.
O controle da LVC depende de inúmeros fatores, tendo como prioridade as
ações governamentais continuas, através de investimentos necessários para a
aquisição de ferramentas eficazes no controle ao vetor, educação continuada de
profissionais da saúde, desenvolvimento de pesquisas para descoberta de novas
drogas e vacinas, limpeza das áreas verdes e terrenos baldios, projetos de educação à
população e condição de vida digna, com saneamento básico, moradia alimentação e
assistência a saúde eficientes.
33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALVES,WA e BEVILACQUA,PD. Reflexões sobre a qualidade do diagnóstico da
leishmaniose visceral canina em inquéritos epidemiológicos: o caso da epidemia de
Belo Horizonte, minas Gerais, 1993-1997. Cad.Saude Publica.2004,v 20 n.1,p 259 –
265. Disponível em: :http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artextopid
=50102_311x2004000100043lnh=ptcnrm=iso./ssno0102-311x.> Acesso em:10 set.
2008.
ALENCAR, J.E. Leishmaniose visceral no Novo Mundo. Publicações Médicas. Rio de
Janeiro, v. 196, p.71-87, 1956.
ALMEIDA FILHO,N ROUQUAYROL,M.Z. Introdução a Epidemiologia Moderna. Belo
Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro: Coop_med Editora, APCE, ABRASCO,1992.2. ed.
184p.
BORJA-CABRERA, G. P.; CORREIA PONTES, N. N,; da SILVA, v.0.; PARAGUAI de
SOUZA, E.; SANTOS, W. R.; GOMES, E. M.; LUZ, K. G.; PALATNIK de Sousa, C. B.,
in: Efective immunotherapy against canine Visceral Leishmaniasis With FML- vaccine
BRAGA-MIRANDA, L.C.; MIRANDA, M., GALATI, E. A. B. Fauna flebotomínea de área
rural do Pantanal sul-matogrossense. Brasil. Revista de Saúde Publica. V.40, n.2, São
Paulo, 2006. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_artex&pid=S003489102006000200021>i
ISSN0034-8910> Acesso em: 23 de set. 2008
BRASIL.MINISTERIO DA SAÚDE. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose
Visceral. Brasília-DF: editora MS.120p.2004
CAMARGO-NEVES, V.L.F.; RODAS, L.A.C.; PAULIQUÉVIS JR, C. Avaliação da
efetividade da utilização de cóleras impregnadas com Deltametrina a 4% para o
34
controle da Leishmaniose Visceral Americana no Estado de São Paulo: Resultados
Preliminares. São Paulo: Boletim Epidemiológico Paulista-BEPA, a.1, n.12, dez/2004,
mensal, ISSN:18064272. Disponível em:
>http://www.cve.saúde.sp.gov.br/agencia/bepa_edi.htm.> acesso em out. 2008.
CAMARGO-NEVES V.L.F.; KATZ G, RODAS LAC, POLETTO D.W, LAGE L.C,
SPÍNOLA R.M.F et al. Utilização de ferramentas de análise espacial na vigilância
epidemiológica de leishmaniose visceral americana-Araçatuba, São Paulo-Brasil, 1998-
1999.
CARMO,V.T; MODERNA,C.M; Santa Rosa, 1, C. A Percepção e Representação de
Clinicas Veterinárias de Pequenos Animais sobre a Leishmaniose Visceral Americana
em Belo Horizonte. In; Curais de Simpósio Intenacional Programa de Treinamento e
Controle de Zoonozes e as Interações homem Animal. São Paulo: Asca
Brasil.87p,2001.
CARVALHO, F.V. A Leishmaniose esta entre as seis mais importantes endemias do
mundo. 2006. Disponível em: htt://animalivre.uol.com.br/home/?tipo=noticia&id=1819.
Acesso em: out de 2008.
CASTRO, A.G. Controle, diagnóstico e tratamento da leishmaniose visceral. (Calazar)-
Normas Técnicas. Brasília: Fundação Nacional de Saúde. P.86, 1996.
COSTA, C.A; GENARO, O.; LARAM.; MAGALHÂES, P.A; DIAS, M; MICHALICK,
M.S.M.; MELO, M.N.; COSTA, R.T.; ROCHA, N.M.N.; MAYRINK, W. Leishmaniose
visceral canina: avaliação da metodologia sorológica utilizada em inquéritos
epidemiológicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. V.24, n.1, p.21-
25, 1991.
DECRETO-LEI 51.838,14 de março de 1963. Normas para o controle da Leishmaniose-
Brasil.
35
FEITOSA, M.M. Avaliação Clínica de Animais Naturalmente infectados. Anais do 1fórum
sobre Leishmaniose Visceral Canina. Colégio Brasileiro de Parasitologia Veterinária,
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária da Universidade Estadual Paulista.
Jaboticabal(SP), 2006.
FEITOSA, M.M; IKEDA F.A., LUVIZOTTO, M.C.R; PERRI, S.H.V. Aspectos clínicos de
cães com Leishmaniose Visceral no município de Araçatuba-São Paulo-(Brasil) Clínica
Veterinária, ano v, n28, p. 36-44, 2000.
FERNANDES, A.P. Imunidade a vacinas na leishmaniose visceral canina. Anais do 1
Fórum sobre Leishmaniose Visceral Canina. Colégio Brasileiro de Parasitologia
Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária da Universideda Estadual
paulista. Jaboticabal(SP), 2006.
FERRER, L.M.; RABANAL, R.; FONDEVILA, D.; RAMOS, J.A.; DOMINGO, M.
Skinlesions in canine Leishmaniasis. J. Small Anim. Pract., v.29, n.6, p.381-388, 1988.
FRASER, C.M. Leishmaniose Visceral. Manual Merck de Veterinária. 6ed São Paulo-
Roca, 1991, p.366-367.
FORTES, Elinor. Parasitologia Veterinária. Ed Cone.p93-97.
GALLATI. E.A.B, et al. Estudo de Flebotomínios(Díptera: Psychodidae) em foco de
Leishmaniose Visceral no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, Revista de Saúde
Público 31: 378,1997.
GALATI, E.A.B.; NUNES, V.L.B.; REGO, F.A.R.; OSHIRO, M.R.C. Estudo de
flebotomíneos (Díptera: Psychodidae) em foco de leishmaniose visceral no Estado de
Mato Grosso do Sul. Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. V.34,
n.3, p.302, 2001.
36
GENARO, O.; MARQUES, M.J.; REIS, A.B.; SILVA, A.L.F.F.; MICHALICK, M.S.M.;
COSTA, C.A.; MAYRING, W.; DIAS, M. Leishmaniose visceral americana. In: NEVES,
D.P. Parasitologia Humana. 10ed São Paulo: Atheneu, p.56-72, 2000.
GONÇALVES, R.; TAFURI, W.L.; MELO, M.N.; RASO, P.; TAFURI, W.L. Cronic
interstitial pneumonitis in dog naturally infected with Leishmania (Leishmania) chagasi: a
histopathological and morphometric study. Revista do Instituto de Medicina Tropical de
Sao Paulo: v.45, n.3, 2003. ISSN 0036-4665.
GONTIJO, C.M.F.; MELO, M.N. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual, desafios
e perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia 2004, v.7, n.3 p.338-349. Disponível
em:>http://www.sielo.Br/ sielo. php?script=sci_arttext&pid=S1415-
790x2004000300011&Ing=pt&nrm=isso> Acesso em out 2008.
LACHAUD, L.; MARCHERGUI-HAMMAMI,S.; CHABBERT, E.; DEREURE, J.; DEDET,
J.P.; BASTIEN, P. Comparason of six PCR methods using peripherical blood for
detection of canine visceral leishmaniasis. J. Clin. Microbiol. V.40, n.1, p.210-215, 2002.
LINDOSO, J.A.L; GOTO, H. Leishmaniose visceral: situação atual e perspectivas
futuras. São Paulo: Boletim Epidemiológico Paulista-BePa, a.3 n.26, fev.2006, mensal.
Disponível em: http://www.cve.saude.sp.gov.br/agenciamento/bepa26_Iva.html. Acesso
em: nov. 2008.
LIMA, V.M.\\\\\f.; GONÇALVES, M.C.R.; LUVIZOTTO and FEITOSA, M.M. Anti-
leishmania antibodies in cerebrospinhal fluid from dogs with visceral leishmaiasis.
Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v.36(4) p.485-489, 2003.
Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S0100-
879x2003000400010&Ing=pt&nrm=iso. Acesso em out 2008. Issno100-879x.
37
LUVIZOTTO, M.C.R. Alterações patológicas em animais naturalmente infectados. Anais
do 1 Fórum sobre leishmaniose Visceral Canina. Colégio Brasileiro de Parasitologia
Veterinária. Faculdades de Ciências Agrárias e Veterinária da Universidade Estadual
Paulista. Jaboticaba(SP), 2006.
MENZ, I. Leishmune – Desenvolvimento e Resultados Atuais (dez 2005). Anais do 1
Fórum sobre Leishmaniose Visceral Canina. Colégio Brasileiro de Parasitologia
Veterinária. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual
Paulista. Jaboticabal(SP), 2006.
MINAYO.M.C.S. Quantitativo e Qualitativo em Indicadores de Saúde: Revendo
Conceitos. In Costa.M.F.L: Soreza, R.P(org), Qualidade de Vida: Compromisso
Histórico da Epidemiologia. Belo Horizonte: Coop.Med.1994,cap.3, p 25-33.
MINISTERIO DA SAUDE. Posição Oficial do Ministério da Saúde quando ao tratamento
da LVC. Nota Técnica, Ministério da Saúde-Brasil, 2005.
MINISTERIO DA SAUDE. Vacina Anti-Leishmaniose Visceral-Leishmune. Nota Técnica,
Ministério da Saúde-Brasil, 2005.
MIRACELLY, K. Vacinação contra leishmune custa R$ 250. 2004. Disponível em:
www.folhadaregiao.com.br/noticia?45577. Acessado em: out de 2008.
MOREIRA, M.A.B.; LUVIZOTTO, M.C.R.; NUNES, C.M.; SILVA, T.C.C.; LAURENTI,
M.D.; CORBETT, C.E.P. Aplicação da técnica de imunofluorescencia direta para o
diagnostico da leishmaniose visceral canina em aspirado de linfonodo. Brazilian Journal
of Veterinary Research and Animal Science, v.39, n.2 p.103-106, São Paulo 2002.
Disponivel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
95962002000200009&1. Acesso em: out 2008. ISSN1413-9596.
38
NEVES, D.P. Parasitologia Humana. 10ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2000. p.65.
NOGUEIRA, F.S.; MOREIRA, M.A.; BORJA-CABRERE, G.P.; SANTOS, F.N.; MENZ, I.;
PARRA, L.E.; XU, Z.; PALANTIK-de- SOUSA, C.B.; LUVIZOTTO, M.C.R. Leishmune®
vaccine blocks the transmission of canine visceral leishmaniasis. Absence of
Leishmania parasites in blood, skin and lymphnodes of vaccinated exposised dogs.
Revista Vaccine, mai 2005, p.1-6. Disponivel em:
http://www.elsevier.com/locate/vaccine.
MORENO, S. Ministério da Agricultura autoriza comercialização da primeira vacina
contra leishmaniose 2004. Disponível em:
http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/13242.
NUNES, V.L.B.; YAMAMOTO, Y.I.;JUNIOR, F.A.R.; DORVAL, M.E.C.; GALATI, E.A.B.;
OSHIRO, E.T.; RODRIGUES, M. Aspectos epidemiológicos da leishmaniose visceral
em cães de Corumbá, mato Grosso do Sul. Pesq. Vet. Brás. V.8, n.1/2, p.17-21, 1988.
Nunes, V.L.B; GALATI, E.A.B.;NUNES, D.B. et al. Ocorrência de leishmaniose visceral
canina em assentamento agrícola no Estado de Mata Grosso do Sul, Brasil. Ver. Soc.
Brás. Méd. Trop.2001, v.34, no.3 p.301-302. Disponível em:
http://www.scielo.br/sielo.php?script-sci_arttext. Acesso em out 2008.
REITHINGER, R.; ESPINOZA, J.C.; COURTENAY, O.; DAVIES, C.R. Evaluation of
PCR as a diagnosticmass-screening tool to detecte Leishmania (Viannia) spp. In:
domestic dogs (Canis familiaris). J. Clin. Microbiol. V.41, n.4, p.1486-1493,2002.
RIBEIRO, Marcio – Leishimoniose, Manual Técnico de Leishimoniose Visceral Canina,p
13-23 e 28-29.
RIBEIRO, V.M; MICHALICK, M.S.M. Protocolos terapêuticos e controle da leishmaniose
visceral canina. Revista Nosso Clínico, ano5, n.24, 1998.
39
SANTA ROSA;ICA;OLIVEIRA, ICS. Leishmaniose Visceral: Breve Revisão sobre uma
Zoonoze Reemergente. Clin. Vet 11:24-28,1997
SLAPPENDEL; FERRER, L. Leishmaniasis. In GREENE, C.E. Clinical Microbiology and
INFECTIONS Diseases of the dog cat. 2ed. Philadelphia: W.B. SAUNDERS C.O., 73,
p.450-458, 1998.
TABOADA, J.; MERCHANT, S.R. Infecções por protozoário e por outras causas. In:
ETTINGER; S.J.;FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinárias. Moléstias
do cão e do gato. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997, Cap.68, p.565-67.
TILLEY, L.P.; SMITH JR, F.W. Leishmaniose. Consulta Veterinária em 5 minutos –
espécies canina e felina. 2ed. São Paulo: Manole, 2003 p.892.
WHO Experts Committee-Technical Report series 793, 1990.
40
ANEXOS
Anexo 1 - Portaria Interministerial
Ministério da Saúde
Gabinete do Ministro
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 1.426, DE 11 DE JULHO DE 2008
Proíbe o tratamento de leishmaniose visceral canina com produtos de uso humano ou
não registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE E O MINISTRO DE ESTADO DA
AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no uso das atribuições que lhes
confere o inciso II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e Considerando o
Decreto-Lei Nº 51.838, de 14 de março de 1963, que dispõe sobre as normas técnicas
especiais para o combate as leishmanioses no País;
Considerando o Decreto-Lei Nº 467, de 13 de fevereiro de 1969, que dispõe sobre a
fiscalização de produtos de uso veterinário, dos estabelecimentos que os fabricam e dá
outras providências;
Considerando o Decreto Nº 5.053, de 22 de abril de 2004, que aprova o regulamento de
fiscalização de produtos de uso veterinário e dos estabelecimentos que os fabriquem ou
comerciem, e dá outras providências;
Considerando a Lei Nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, que dispõe sobre infrações à
legislação sanitária federal, estabelecendo as sanções;
Considerando a Lei Nº 6.259, de 30 de outubro de 1975, que dispõe sobre as ações de
vigilância epidemiológica;
Considerando a Resolução No- 722, de 16 de agosto de 2002, que aprova o Código de
Ética do Médico Veterinário e que revogou a Resolução Nº 322, de 15 de janeiro de
1981;
41
Considerando o Informe Final da Consulta de expertos, Organização Pan-Americana da
Saúde (OPS) Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre Leishmaniose Visceral em
Las Américas, de 23 a 25 de novembro de 2005;
Considerando o Relatório Final do Fórum de Leishmaniose Visceral Canina, de 9 a 10
de agosto de 2007;
Considerando as normas do "Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose
Visceral" do Ministério da Saúde;
Considerando que não há, até o momento, nenhum fármaco ou esquema terapêutico
que garanta a eficácia do tratamento canino, bem como a redução do risco de
transmissão;
Considerando a existência de risco de cães em tratamento manterem-se como
reservatórios e fonte de infecção para o vetor e que não há evidências científicas da
redução ou interrupção da transmissão;
Considerando a existência de risco de indução a seleção de cepas resistentes aos
medicamentos disponíveis para o tratamento das leishmanioses em seres humanos; e
Considerando que não existem medidas de eficácia comprovada que garantam a não-
infectividade do cão em tratamento, resolvem:
Art. 1º - Proibir, em todo o território nacional, o tratamento da leishmaniose visceral em
cães infectados ou doentes, com produtos de uso humano ou produtos não-registrados
no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Art. 2º - Definir, para efeitos desta Portaria, os seguintes termos:
I - risco à saúde humana: probabilidade de um indivíduo vir a desenvolver um evento
deletério de saúde (doença, morte ou seqüelas), em um determinado período de tempo;
II - caso canino confirmado de leishmaniose visceral por critério laboratorial: cão com
manifestações clínicas compatíveis com leishmaniose visceral e que apresente teste
sorológico reagente ou exame parasitológico positivo;
III - caso canino confirmado de leishmaniose visceral por critério clínico-epidemiológico:
todo cão proveniente de áreas endêmicas ou onde esteja ocorrendo surto e que
apresente quadro clínico compatível de leishmaniose visceral, sem a confirmação do
diagnóstico laboratorial;
42
IV - cão infectado: todo cão assintomático com sorologia reagente ou parasitológico
positivo em município com transmissão confirmada, ou procedente de área endêmica.
Em áreas sem transmissão de leishmaniose visceral é necessária a confirmação
parasitológica; e
V - reservatório canino: animal com exame laboratorial parasitológico positivo ou
sorologia reagente, independentemente de apresentar ou não quadro clínico aparente.
Art. 3º - Para a obtenção do registro, no MAPA, de produto de uso veterinário para
tratamento de leishmaniose visceral canina, o interessado deverá observar, além dos
previstos na legislação vigente, os seguintes requisitos:
I - realização de ensaios clínicos controlados, após a autorização do MAPA; e
II - aprovação do relatório de conclusão dos ensaios clínicos mediante nota técnica
conjunta elaborada pelo MAPA e o Ministério da Saúde (MS).
§ 1º O pedido de autorização para realização de ensaios clínicos controlados deve estar
acompanhado do seu Protocolo.
§ 2º Os ensaios clínicos controlados devem utilizar, preferencialmente, drogas não
destinadas ao tratamento de seres humanos.
§ 3º A autorização do MAPA vincula-se à nota técnica conjunta elaborada pelo MAPA e
o MS.
Art. 4º - A importação de matérias-primas para pesquisa, desenvolvimento ou
fabricação de medicamentos para tratamento de leishmaniose visceral canina deverá
ser solicitada previamente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
devendo a mesma estar acompanhada do protocolo de estudo e respectivas notas do
artigo anterior.
Art. 5º - Ao infrator das disposições desta Portaria aplica-se:
I - quando for médico veterinário, as infrações e penalidades do Código de Ética
Profissional do Médico Veterinário;
II - o art. 268 do Código Penal; e
III - as infrações e penalidades previstas na Lei No- 6.437, de 20 de agosto de 1977, e
no Decreto-Lei No- 467, de 13 de fevereiro de 1969.
Art. 6º - O MS e o MAPA deverão adotar as medidas necessárias ao cumprimento
efetivo do disposto nesta Portaria.
43
Art. 7º - As omissões e dúvidas por parte dos agentes públicos cujas funções estejam
direta ou indiretamente relacionadas às ações de controle da leishmaniose visceral, na
aplicação do disposto nesta Portaria serão apreciadas e dirimidas pela Secretaria de
Vigilância em Saúde (SVS/MS) e pela Secretaria de Defesa Agropecuária ( SDA/
MAPA).
Art. 8º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
Ministro de Estado da Saúde
REINHOLD STEPHANES
Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
44