ASPECTOS TÉCNICOS E ÉTICOS
NA ABORDAGEM DE PESSOAS EM
RISCO DE SUICÍDIO
SORAYA CARVALHO
Coordenadora do NEPS/CIAVE
26/04/2017
ROTEIRO
1. INTRODUÇÃO
2. SUICÍDIO – EPIDEMIOLOGIA
3. ASPECTOS TÉCNICOS: Suicídio x SM
Fatores de Riscos x Protetores
Sinais e Sintomas
4. PERCEPÇÕES - CRENÇAS - Mitos e Verdades
5. ASPECTOS ÉTICOS NA ABORDAGEM
1. INTRODUÇÃO POR QUE AS PESSOAS SE MATAM?
POR QUE FRENTE A SITUAÇÕES “SEMELHANTE”
ALGUMAS PESSOAS SE PRECIPITAM EM UM ATO
SUICIDA E OUTRAS NÃO?
POR QUE PARA ALGUNS A MORTE SE APRESENTA
COMO ÚNICA SAÍDA?
QUEM QUER SE MATAR, AVISA?
SUICÍDIO: ATO DE CORAGEM OU DE COVARDIA?
1. INTRODUÇÃO
SHNEIDMAN:
Fenômeno exclusivamente humano - Todas as
culturas
História da humanidade
Significados - valores
Civilização - momento histórico
Atualidade:
Índices Alarmantes
2. SUICÍDIO NO MUNDO – OMS - 2014
MORTE VIOLENTA POR CAUSAS EXTERNAS,
(CID-10)
+ ½ Mortes Violentas no Mundo
1 milhão/ano → 1S/40’’ → 3.000 S/dia
2ª causa de morte no mundo → 15 a 29 anos
Maior taxa de mortalidade → 70 anos +
6
2.1 SUICÍDIO e TENTATIVA
1 S → 10 a 25 TS
½ S → TS anterior
TS → Fator de Risco Importante (BOTEGA, 2007)
2.2 SUICÍDIO NO MUNDO - HANKING OMS
2014
INDIA
CHINA
USA
RÚSSIA
JAPÃO
CORREIA DO SUL
PAQUISTÃO
BRASIL – 8º lugar no ranking
№ RELATIVOS : 6/100 mil hab
№ ABSOLUTOS: 11.821 mortes
25 S/dia
+ 01 S/hora
3ª Causa entre jovens
WHO - Preventing suicide - A global imperative – Disponível em:
http://www.who.int/mental_health/suicide-prevention/world_report_2014/en/
2. SUICÍDIO UM GRAVE PROBLEMA DE SAÚDE
PÚBLICA MUNDIAL - OMS
1 S afeta → 6 pessoas (mínimo)
Escola e Trabalho → Impacto: centenas (WHO, 1999)
SUPRE - Suicide Prevention Program
Manual de Prevenção do Suicídio →
Recomenda aos Estados-Membros
ações e políticas de assistência e prevenção
do suicídio. (WHO, 2002).
www.abeps.org.br
2. SUICÍDIO ou MORTE VOLUNTÁRIA
FENÔMENO COMPLEXO E MULTIFATORIAL
INTERAÇÃO:
Fatores externos – precipitantes - gatilho
Fatores internos ou biográficos:
História de vida (marcas)
Traços de personalidade
Doenças mentais
Fatores sócio-culturais: Sigdo – Função
Fatores Genéticos
ESTUDO: BERTOLOTE E FLEISCHMANN, 2002.
MÉTODO: AUTÓPSIA PSICOLÓGICA
RESULTADOS: 98% SUICÍDIOS → Diagnóstico TM
Depressão, Alcoolismo, Esquizofrenia
CONCLUSÃO: TM → Importante Fator de Risco
TRATAMENTO: TM → Estratégia Essencial Prevenção
do Suicídio.
3. SUICÍDIO x SAÚDE MENTAL
3.1 DEPRESSÃO x SUICÍDIO
DEPRESSÃO → Causa Prevalente (BARLOW, 2005).
15 a 20% dos deprimidos se suicidam
DEPRESSÃO → Fator de Risco e não a causa
do suicídio. (GOODWIN e JAMISON, 1990).
3.2 DEPRESSÃO
DOR DE EXISTIR - Condição humana
DEPRESSÃO: Dor de existir – Patológicos
EXPRESSÃO: Estado grande sofrimento psíquico
3.3 DEPRESSÃO x DC
O DC não produziu → Signo legitimado
Lógica do capital:
Depressão: Signo déficit, fracasso, menos-valia
Imperativo de gozo e de sucesso
Não há lugar: falha, tristeza, dor de existir
Deprimidos/suicidas: marginais e subversivos
Transformam: improdutivos em doentes,
multiplica-os, excluem, segregam,silenciam (CORDÁS,
2002).
3.5 FATORES DE RISCO MANIFESTAÇÕES DE SOFRIMENTO PSIQUÍCO:
Depressão, uso abusivo de substâncias psicoativas e outras
doenças.
TENTATIVA DE SUICÍDIO ANTERIOR
HISTÓRICO DE SUICÍDIO NA FAMÍLIA
HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA: abuso sexual, negligência,
abandono e etc.
REDE DE SUPORTE SOCIAL FRAGILIZADA
DIFICULDADE DE LIDAR COM PERDAS: mortes,
desilusão amorosa, separação conjugal, perda de emprego,
derrocada financeira.
ACESSO A MEIOS LETAIS
3.6 SINAIS – SINTOMAS
Automutilação e/ou práticas autodestrutivas
Mudanças marcantes: comportamento/hábitos
Isolamento social
Interesse por sites e/ou redes sociais sobre suicídio
Sempre dispostos a desistir – Recusam ajuda
Se acham um fardo
Na adolescência: Agressividade-Irritação impulsividade
podem camuflar depressão.
Em idosos: diminuição ou ausência de cuidados
com o corpo, isolamento social e doenças crônicas
4. SUICÍDIO
Uma das maiores causas mortalidade no mundo Morte
violenta por causas externas, (como homicídio e
acidentes de trânsito) (CID-10, 1995) Expressão de
grande sofrimento
POR QUE O SUICÍDIO NÃO PROVOCA
COMPAIXÃO?
Por que provoca reações de revolta, indignação e
repudio e ódio?
Por que ele supõe a transgressão da Lei “Não
matarás!”?
4. SUICÍDIO → ESTIGMA - POR QUE?
↓ INFORMAÇÃO → Desconhecimento fenômeno
→ Reduzir ideias simplicistas
↑ PRECONCEITO → Compreensão equivocada
Abordagens inadequadas
Posturas éticas duvidosas
CONSEQUÊNCIA → IATROGENIA DAS PALAVRAS
Novas TS ou S
4. SUICÍDIO
ABORDAGENS e POSTURAS INADEQUADAS
O que há de particular no suicídio capaz de
provocar nas equipes de saúde das emergências
reações eticamente inadequadas nas abordagens a
esses sujeitos?
Sujeito - Ato
Desestabiliza a ordem familiar, social e médica.
Subverte a ordem médica
Contraria as leis cristãs
Desafia a lógica capitalista
Indesejado, prejulgado, condenado
-
4. QUEM É O SUJEITO DO SUICÍDIO?
4. SUICÍDIO: MITOS E VERDADES
CRENÇAS → MITOS → ESTIGMAS
PERCEPÇÕES DISTORCIDAS
POSTURAS INADEQUADAS
RESULTADO: PACIENTE/PESSOA (DES)CUIDADO
4. SUICÍDIO: CRENÇAS - MITOS
1. Suicídio ato de fraqueza - covardia
2. Quem quer se matar não avisa
3. Quem ameaça não se mata.
4. Quem quer morrer mesmo, se mata.
5. TS: Chamar atenção - Manipulação
6. Suicídio é de falta de Deus - de fé
4. O QUE É O SUICÍDIO?
MANIFESTAÇÃO HUMANA UMA ESCOLHA
DIANTE DRAMA EXISTENCIAL MODO DE LIDAR
COM O SOFRIMENTO EXTREMO SAÍDA
RADICAL - DOR DE EXISTIR
CARTA NA MANGA (CARVALHO-RIGO, 2006)
RESPOSTA → REAL - IMPOSSÍVEL DA
EXISTÊNCIA
4. SUICÍDIO: ESTIGMA
PERCEPÇÃO DISTORCIDA → Interpretação
Simplista e Superficial
MANIPULAR - CHAMAR ATENÇÃO
Pôr vida em risco:
- Emocionalmente doente ou
- Sofrimento proporções intoleráveis
NECESSITA DE AJUDA E NÃO DE CRÍTICAS
4. QUEM É O SUJEITO DO SUICÍDIO?
SUJEITO MERGULHADO: ANGÚSTIA DESMEDIDA
SOFRIMENTO PSÍQUICO
- Abandono do Outro
- Incapacidade atender às exigências do Outro. (CARVALHO-RIGO, 2013)
- Não ser suficiente para o Outro. (CARVALHO-RIGO, 2015)
4. QUEM QUER SE MATAR, AVISA.
MINHA VIDA NÃO VALE NADA
SE EU PUDESSE EU DORMIA E NÃO ACORDAVA
SOU UM PESO
NÃO QUERO MAIS VIVER
QUERO MORRER
VOU ME MATAR
ESTUDOS MOSTRAM:
- 40% dos que cometeram suicídio buscaram
um serviço de saúde de 2 a 7 dias antes do ato. (MS, 2006).
- 60 a 75% dos que se suicidam procuraram
ajuda médica ou estiveram hospitalizados de 1 a
6 meses antes. (OMS , 2000).
COMO A FAMÍLIA, O AMIGO, O PROFESSOR,
O(A) NAMORADO(A), O CHEFE, ETC ...
PODEM AJUDAR A PREVENIR UM SUICÍDIO?
5. QUAL A ABORDAGEM MAIS ADEQUADA?
1. Lições de ânimo – Encorajamento
2. Desviar o foco para aspectos (+)
3.Fazer perceber o sofrimento que o suicídio
provocará na família
4. Convencer que lhe foi dado uma nova chance
2 PERGUNTAS FUNDAMENTAIS
1. O QUE HÁ COM VOCÊ?
- O QUE ESTÁ DOENDO?
- ONDE ESTÁ DOENDO?
2. COMO POSSO LHE AJUDAR?
1. EVITAR - JULGAMENTOS PRÉVIOS e
PRECONCEITUOSOS
- IDEIAS SIMPLISTAS: “Quem ameaça não se
mata”, “ Quem quer morrer não avisa”,
- RÓTULOS: Chamar atenção, Manipulação,
- INTERPRETAÇÕES EQUIVOCADAS:
Ato de fraqueza, covardia ou coragem
Falta de fé, de Deus ou de amor, etc.
- INCENTIVO: Pensamento +
A QUEM INTERESSA O INCENTIVO?
2. RESPEITAR - Condição Emocional e Sofrimento
Paciente
5. ASPECTOS ÉTICOS NA ABORDAGEM
5. PESSOA PESSOA
→ NUNCA: MINIMIZAR, DESVALORIZAR
COMPARAR, ROTULAR
ABANDONAR
INCENTIVAR
DESAFIAR
→ SEMPRE: LEVAR A SÉRIO
ESCUTAR SEM JULGAMENTO
OFERECER AJUDA
ACOMPANHAR
5. CONSEQUÊNCIAS:
PESSOA MAIS PROTEGIDA
CONFIANTE
NÃO ESTÁ SOZINHA
TEM COM QUEM CONTAR
A QUEM RECORRER – SEM PRE-JULGAMENTOS
ESPERANÇA
PROFISSIONAL PACIENTE Â N I M O
ACOLHIMENTO → OFERTA DE UM LUGAR → ESCUTADO
- A TENÇÃO: percurso - tratamento - vida
- N EUTRALIDADE ATIVA: sem críticas ou julgamentos
- I NTERESSE: na sua singularidade, sua história
- M ANEJO: para suportar sem expectativas
- O UVIDOS: para escutar além do dito
DISPONIBILIZAR TELEFONE CELULAR
5. CONSEQUÊNCIAS
SUJEITO acolhido na crise → oferta escuta atenta,
comprometida e interessada.
A construção de um “LUGAR” → faz “LAÇO”
há alguém que se preocupa, atento a sua vida e
“disponível” a ouvi-lo nos momentos de
desespero.
“LAÇO”: fundamental para aqueles que desistiram
de estabelecer com o mundo qualquer relação.
NEPS – NÚCLEO DE ESTUDO E PREVENÇÃO DO
SUICÍDIO - 2007 - 2017
Clientela: Pessoas Risco de suicídio com ou sem TS
Portas de Entrada:Emergência e Ambulatório Busca Ativa Encaminhamentos Demanda Espontânea
Ação e Prevenção Suicídio: Paciente Equipe de Saúde Família
NEPS
EQUIPE:
2 Psicólogas
3 Psiquiatras
2 Terapeutas Ocupacional
1 Enfermeira
1 Residente de Psicologia
2 Apoios Administrativos
NEPS: AÇÃO E PREVENÇÃO EM 3 NÍVEIS
I - PACIENTE: TRATAMENTO psicológico, psiquiátrico e
TO → pessoas risco de suicídio
PROJETOS: Espaço de Leitura, Ciranda
Literária, Jornal Galera NEPS, A vida em 4
estações, CINEPS, etc.
II - FAMÍLIA: Reuniões Informativas sobre Depressão e
Suicídio.
Grupo de Família
III - EQUIPE: Cursos de Capacitação, Fóruns, Oficinas.
Referências Bibliográficas
BOTEGA et all., SILVA, C. CF, STEFANELLO S, Fabrício Mauro ML, Vaz
Scavacini de Freitas G, Botega NJ. Factors associated with repeated suicide
attempts. Preliminary results of the WHO Multisite Intervention Study on
Suicidal Behavior (SUPRE-MISS) from Campinas, Brazil. Crisis.
2009;30(2):73-8.
BERTOLOTE E FLEISCHMANN, 2002.
CARVALHO-RIGO, A morte pode esperar? Salvador: ACCP, 2014.
CARVALHO-RIGO, S. C. A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO. Trabalho
apresentado no V Congresso Brasileiro de Toxicologia Clínica. Salvador:
Abracit, 2014.
CORDÁS, T.A. Depressão: da bile negra aos neurotransmissores. São
Paulo: Lemos Editorial, 2002.
Referências Bibliográficas LOPES, F. H. Suicídio & saber médico: estratégias históricas de
domínio, controle e intervenção no Brasil do século XIX. Rio de
Janeiro: Apicuri, 2008.
LOPES, F. H. Reflexões históricas sobre o suicídio – Saberes,
biopolítica e subjetividade. In: ArtCultura, Uberlândia, v. 14, n. 24,
p. 185-203, jan.-jun. 2012.
Link:http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF24/Fabio_Henrique_Lope
s.pdf
Organização Mundial da Saúde. Relatório mundial da saúde. Saúde
mental: nova concepção, nova esperança. Lisboa: OMS, 2002.