ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA
CAPITAL – RJ
Contrafé
COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO, órgão vinculado à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, sem
personalidade jurídica, especialmente constituída para defesa dos interesses e direitos dos
consumidores, estabelecida à Rua Dom Manoel s/n, Praça XV, Rio de Janeiro – CEP 20060-000
vem, por seus procuradores, com fulcro nos artigos 6º, 30, V, 37, § 6º, 205, 206 caput e inciso VII,
227, 230, § 2º da CRFB; artigos 7º, 53 caput e inciso VII, da Lei 8.069/1990; artigos 4º e 22 da Lei
8.078/1990; artigo 6º, §§ 1º e 2º da Lei 8.987/1995; artigos 39 da Lei 10.741/2009; artigo 245 da
CERJ; artigo 1º, da Lei Estadual nº 3.339/1999 c/c artigo 1º da Lei Estadual 4.047/2002; artigo 1º da
Lei Estadual 4.510/2005 e artigos 134, 142, I, II, III e IV da Lei Orgânica do Município de São
Gonçalo, propor a presente:
AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO
COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
em face do MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO, com sede administrativa à Rua Feliciano Sodré, 100,
São Gonçalo, São Gonçalo, RJ, CEP: 24.440-440, cuja prefeitura é inscrita no CNPJ sob o nº
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28.363.579/0001-00; AUTO VIAÇÃO ABC S/A, situada à Rua Francisco Neto, 136, Alcântara, São
Gonçalo, RJ, CEP: 24.730-590, inscrita no CNPJ sob o nº 31.694.813/0001-52; AUTO ONIBUS
ALCANTARA S/A, situada à Rua Capitão Acácio, 363, Boassu, São Gonçalo, RJ, CEP: 24.467-
110, inscrita no CNPJ sob o nº 31.520.745/0001-05; AUTO ONIBUS FAGUNDES LTDA, situada à
Rua Padre Afonso Rodrigues, 326, Vista Alegre, São Gonçalo, RJ, CEP: 24.736-210, inscrita no
CNPJ sob o nº 29.553.609/0001-70; COESA TRANSPORTES LTDA, situada à Estrada das
Palmeiras, 151, Itauna, São Gonçalo, RJ, CEP: 24.475-002, inscrita no CNPJ sob o nº
42.285.148/0001-60; EXPRESSO TANGUA LTDA, situada à Rua Joaquim Campos, 231, Itauna,
São Gonçalo, RJ, CEP: 24.461-570, inscrita no CNPJ sob o nº 30.350.631/0001-00; RIO ITA LTDA,
situada à Rua Joaquim Campos, 226, Itauna, São Gonçalo, RJ, CEP: 24.461-570, inscrita no CNPJ
sob o nº 29.853.942/0001-02; VIAÇÃO ESTRELA S/A, situada à Rua Abílio José de Mattos, 1191,
Porto da Pedra, São Gonçalo, RJ, CEP: 24.346-000, inscrita no CNPJ sob o nº 31.675.747/0001-73;
VIAÇÃO GALO BRANCO S/A, situada à Rua Guilherme Santos Andrad, 206, Galo Branco, São
Gonçalo, RJ, CEP: 24.422-330, inscrita no CNPJ sob o nº 31.683.162/0001-03; VIAÇÃO MAUA
S/A, situada à Av. Capitão Acácio, 363, Boassu, São Gonçalo, RJ, CEP: 24.467-110, inscrita no
CNPJ sob o nº 31.688.609/0001-29; VIAÇÃO NOSSA SENHORA DO AMPARO, situada à Rua
Prefeito Joaquim Mendes, 34, 1 Distrito, Maracá, RJ, CEP: 28.509.164/0001-68, inscrita no CNPJ
sob o nº 28.509.164/0001-68; VIAÇÃO RIO OURO, situada à Av. Eugênio Borges, 1840, Arsenal,
São Gonçalo, RJ, CEP: 24.751-000, inscrita no CNPJ sob o nº 28.279.297/0001/95; VIAÇÃO
SANTA IZABEL LTDA, situada à Estrada da Fortuna, 101, Santa Izabel, São Gonçalo, RJ, CEP:
24.735-550, inscrita no CNPJ sob o nº 31.683.154/0001-59, pelos motivos de fato e de Direito que
passa a expor:
DOS FATOS
Ao longo dos últimos anos, a autora recebeu reiteradas denúncias contra prática comercial
engendrada pelas concessionárias rés com o objetivo de reprimir o Direito de acesso gratuito aos
transportes públicos coletivos fornecidos no município réu. Vale listar, principalmente, acesso do
usuário idoso, do usuário estudante e portador de necessidades especiais.
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A prática consiste em, tomando por base alguns dispositivos de leis, fazer concorrer nas mesmas
“linhas” de transporte veículos (ônibus) com características que legitimariam – segundo a
interpretação dada – a negativa de acesso franqueado àqueles que a ele têm direito.
Ao longo dos anos, as concessionárias passaram a substituir, gradativamente, os veículos de
transporte coletivo de duas portas, que segundo a legislação seriam os únicos a que os usuários da
gratuidade teriam acesso, por veículos de menor porte, de uma única porta e/ou com ar
condicionado, vedando assim o acesso gratuito dos beneficiários aos serviços. Vale dizer que em
alguns casos, principalmente quanto aos veículos com ar condicionado, as tarifas sofrem uma
pequena variação como para justificar a classificação do coletivo como especial.
Não obstante aparentemente ambos os coletivos – de duas ou uma porta; com e sem ar
condicionado – concorram nas mesmas “linhas”, itinerários e intervalos de horário, a gratuidade
passou a só ser admitida em uma parcela dos mesmos, situação que vem gerando inúmeros
transtornos aos beneficiários, violações à legislação federal e a Constituição, além de discriminação
dos usuários beneficiários das gratuidades.
Como acima afirmado, a conduta das concessionárias rés parte de equivocada (ou mal
intencionada) interpretação de alguns dispositivos legais. Vejamos exemplos:
Artigo 2º da Lei Estadual 3.339/1999. “Para efeito desta Lei, considera-se transportes coletivos
urbanos intermunicipais: os trens, metrô, barcas, catamarães e ônibus de linhas intermunicipais da
categoria AS de acordo com o Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de
Janeiro – DETRO/RJ, ou seja, tipo urbano, com duas portas”. (grifos nossos)
Artigo 142 da Lei Orgânica do Município de São Gonçalo. São isentos do pagamento das tarifas
dos transportes públicos municipais, na forma da Lei:
(...)
§ 3º. “As isenções de que trata o caput deste artigo serão concedidas, exclusivamente, nos
ônibus do tipo AS ou urbano, ou seja, com portas distintas para embarque e desembarque e
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equipados com roletas, salvo se a linha operada, exclusivamente por veículos de outro tipo ,
quando a isenção valerá para a modalidade de menor tarifa”. (grifos nossos)
Lei Municipal 218/1009 artigo 27, § 1º. “as isenções de que trata o caput serão concedidas os
ônibus do tipo AS ou urbano, ou seja, com portas distintas para embarque e desembarque e
equiparados com catracas e validadores eletrônicos, sempre de forma onerosa”.
Apenas para ilustrar o nível de comprometimento dos direitos à gratuidade nesses casos, e
tomando por referência uma interpretação possível (literal) do dispositivo da Lei Orgânica
supracitado, vale dizer que para impedir o uso de gratuidade nos ônibus de uma porta em
determinada “linha”, bastaria que as concessionárias mantivessem um único coletivo de duas portas
em cada itinerário, situação que legitimaria, segundo essa interpretação, o não acesso dos
beneficiários de gratuidade a todos os demais veículos que concorressem os mesmos itinerários e
horários.
Não por acaso, diversas denúncias recebidas pela autora relatam casos em que idosos e
estudantes das redes públicas de ensino, indivíduos que segundo a Constituição (Título VIII –
Capítulo VII) e suas legislações específicas (artigos 1º e 4º da Lei 8.069/1990; 2º e 3º da Lei
10.741/2003) deveriam ter proteção integral e absoluta prioridade no atendimento, permaneceram
nos pontos de ônibus durante longos períodos enquanto assistiram a grupos e mais grupos de
usuários comuns (não beneficiários das gratuidades) serem transportados pelos coletivos de
pequeno porte e uma única porta. Prática que se repete, também, com o uso concorrente de
coletivos com ar condicionado nas mesmas linhas dos convencionais.
No que se refere a esses últimos (de ar condicionado) vale aqui uma observação. Considerando as
altas temperaturas alcançadas em nosso estado, a existência de ar condicionado nos coletivos não
justifica a distinção de tratamento, afinal, isso é o mínimo de atualidade e adequação que se pode
esperar de tal serviço (art. 6º, §§ 1º e 2º da Lei 8.987/1995).
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Com tal procedimento, as rés passaram a condicionar o Direito à gratuidade ao tipo de coletivo
utilizado no transporte, mesmo estando tal Direito, de ordem constitucional (art. 227 c/c 208, VII e
230, § 2º, da CRFB), muito acima de qualquer opção comercial sobre o tipo de veículo que será
utilizado pelas concessionárias.
A ressalva que se observa na legislação deveria evitar, tão somente, que os transportes
convencionais deixassem de ser utilizados pelos beneficiários das gratuidades, em virtude da
existência de veículos mais confortáveis. No entanto, ao inserir nas mesmas “linhas” de itinerário um
misto de coletivos de uma e duas portas, com e sem ar condicionado, as concessionárias rés estão
criando um discrímen que não é encontrado na legislação federal ou na Constituição.
Nesse sentido, a melhor redação positivada para o Direito ora sob análise, de forma a harmonizar
(art. 4º, III, do CDC) o aparente conflito entre as normas supracitadas, parece ser aquela prevista na
Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), artigo 39:
“Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos
públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos seletivos e especiais, quando prestados
paralelamente aos regulares”. (grifos nossos).
Como abaixo se demonstrará, é requisito básico para a oferta de um transporte público diferenciado
pela qualidade a pré-existência, em paralelo, de outro que atenda de forma geral, e com tarifas
módicas, à generalidade de usuários. Em outras palavras, o serviço de transporte público “especial”
só se legitima quando prestado em paralelo, e não em concorrência, com o convencional. Motivo
pelo qual é possível dizer que, na prática, as rés estão violando os direitos à gratuidade quando
circulam ou permitem circular nas mesmas linhas veículos que autorizam ou não o uso de
gratuidades.
O fato é que tal situação termina fugindo ao controle do poder concedente, pois a prática demonstra
que os contratos de concessão são celebrados para que a concessionária atenda a determinada
linha de transporte, tendo por base determinada demanda de usuários ou horários, logo, as formas
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empresariais e operacionais para atendimento do requerido no contrato de concessão terminam
permanecendo em reserva de livre iniciativa. Não é comum que o Poder Concedente interfira na
forma como o serviço será prestado pelo concessionário. Desde que atendida à demanda ou os
intervalos de tempo contratados.
Vale ressaltar que antes da propositura dessa ação judicial, a autora requereu, através de ofício
(Ofício-Codecon/Pres./121/2011 – anexo) à Prefeitura do Município réu, cópia do contrato de
concessão celebrado com uma das concessionárias rés para analisar o padrão de concessão feito
pelo Município de São Gonçalo. Pedido esse que não foi atendido ou mesmo respondido por aquele
município.
Desta forma, considerando que a concorrência de ônibus que permitem (duas portas) e não
permitem (uma porta) o transporte de gratuidades nas mesmas linhas e horários, tem produzido
situações discriminatórias para os beneficiários de gratuidade, violando Direitos estabelecidos
através de políticas afirmativas de beneficiamento dos necessitados, inclusive, as previstas nas
regras dos artigos 227 c/c 208, VII e 230, § 2º, da Constituição brasileira, não restou à autora
alternativa que não ingressar com a presente ação coletiva de consumo para resguardar os Direitos
de tais minorias.
DO DIREITO
Dos objetivos do Serviço Público sob o enfoque da Dignidade da Pessoa Humana
Desde a promulgação da atual Constituição brasileira, tornou-se corrente no tráfego jurídico é idéia
de que o ser humano esta, hoje, no centro da atividade estatal. Como fundamento do próprio
Estado, o conceito de Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III, da CRFB) promoveu, em conjunto
com a transferência da Constituição para o centro do ordenamento jurídico, uma verdadeira
revolução sócio-jurídica.
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Como reflexo dessa mudança de paradigma, os serviços públicos, que sempre estiveram na
vanguarda do atendimento das necessidades sociais e humanas, elevaram-se em importância. Não
só para os usuários que deles se beneficiam, como também, para o Estado, que passou a ser
devedor de diretos subjetivos públicos por eles realizáveis. O usuário, e não a prestação, passou a
ser o centro dos serviços e utilidades públicas disponibilizadas pelo Estado.
“Jorge Salomoni menciona que a reforma constitucional argentina de 1994, que
alterou o art. 42 da Constituição, fez do usuário o centro das considerações
acerca do serviço público. (...)
Também aqui se busca uma visão do serviço público fundamentalmente ligada à
posição do usuário. Conquanto não tenha havido uma reforma constitucional
específica entre nós que leve a essa modificação de pensamento, a consagração
cada vez mais intensa da dignidade da pessoa humana como fundamento da
ação do Poder Público conduz à valorização do indivíduo, da pessoa, como
finalidade da atuação do Estado. (...) Sobre o tema, são precisas as lições de
Marçal Justen Filho. A partir do reconhecimento do caráter transcendental
do princípio da dignidade da pessoa humana, o autor aponta o especial
relevo que merece ‘o exame das competências estatais quanto ao
atendimento a necessidades individuais’” (PEREIRA, Cesar A. Guimarães.
Usuários de serviços públicos: usuários, consumidores e os aspectos
econômicos dos serviços públicos. – 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2008. pág.
1)
Seguindo em suas conclusões, frisou o autor que “algumas pessoas necessitam receber
atenção especial por parte do Estado” (idem). A conclusão decorre de uma realidade social que
foi observada pelo constituinte originário quando do estabelecimento dos objetivos fundamentais do
estado brasileiro. Vivemos em um país pobre e marcado por profundas desigualdades sociais e
regionais (art. 3º, III, da CRFB).
Disso decorre outra conclusão lógica. Se essa é a realidade do Estado brasileiro, e os serviços
públicos visam atender a necessidades básicas do brasileiro, é natural que sua disponibilização
também sofra ingerência dessa reconhecida desigualdade, mormente pela potencialidade que têm
de reduzi-la.
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A doutrina costuma atribuir à concessão dos serviços públicos uma função natural de redistribuição
de renda entre os membros da sociedade. Segundo Marçal Justen Filho, ao promover a delegação
dos serviços públicos à iniciativa privada, o Estado, que outrora os prestava à custa do orçamento
público e onerando a todos os contribuintes, transfere os custos de tais serviços apenas para
aqueles que efetivamente dele façam uso. Substitui-se a premissa da solidariedade social pela de
custo benefício. Aquele que se beneficia diretamente do serviço, arca com os seus ônus.
Entretanto, mesmo com a delegação à iniciativa privada, os serviços não perdem sua natureza
“pública”, logo, devem observar a uma pauta geral de interesses primários que preveja o
atendimento de Direitos Fundamentais e cumprimento de objetivos previstos na Constituição. Não
por acaso, diz-se que o serviço público, para ser considerado adequado (art. 6º, § 1º, da Lei
8.987/1995), deve satisfazer, entre outras condições, à generalidade.
“Assim colocada a questão, torna-se evidente a necessidade de conjugar o
regime efetivo da concessão com os princípios jurídicos fundamentais. Ou seja, a
definição da concessão ter de ser compatibilizada com os valores fundamentais
consagrados na CF/88.
Não é defensável adotar definições rígidas e rigorosas que conduzam à
frustração da função do serviço público. A concessão não pode ser uma via
de obstaculização da implementação dos valores constitucionais. Essa
postulação se relaciona não apenas com a temática da qualidade do
serviço. Nem se vincula apenas com a modicidade da tarifa. Entranha-se
diretamente com a sistemática de distribuição de renda na comunidade.
Dito diretamente, a concessão não pode ser concebida como instrumento de
transferência da riqueza dos extratos mais pobres da população em benefício
dos outros segmentos sociais ou do próprio Estado. O princípio da capacidade
contributiva tem de informar a estrutura da concessão, de modo a impedir
que a delegação da prestação do serviço público seja uma forma de
agravamento das diferenças sociais existentes ou frustração das garantias
constitucionalmente reconhecidas aos cidadãos usuários e não-usuários”.
(JUSTEN FILHO, Marçal. Teoria geral das concessões de serviço público.
São Paulo: Dialética, 2003. pág. 72 e 73)
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“O Estado tem o dever de assegurar que as necessidades individuais e
coletivas continuem a ser satisfeitas, depois de produzida a privatização. A
empresa privada que assumir a atividade correspondente ao serviço
público, ainda que o faça sob regime de Direito Privado, terá o dever de
fazê-lo em termos universais, com observância dos princípios da igualdade,
da continuidade e da modicidade de tarifas”. (JUSTEN FILHO, Marçal. Teoria
geral das concessões de serviço público. São Paulo: Dialética, 2003. pág. 62)
Isso é o que impõe ao Estado – e ao concessionário quando se dá a delegação do serviço público à
iniciativa privada – a adoção de tratamentos diferenciados em razão de necessidades específicas
apresentadas por determinados grupos de usuários e supridas por certos serviços essenciais. As
tarifas sociais e gratuidades dos serviços públicos são reflexo direto dessa realidade.
Como a prestação de serviços públicos visa atender a uma demanda de direitos sociais e
fundamentais, demanda essa que é do Estado (art. 175, CRFB), sua transferência à iniciativa
privada não pode permitir que o foco da prestação dos serviços públicos seja alterado. Também o
concessionário, com eventuais disfunções empresariais que isso possa acarretar, deve suportar
determinadas demandas que são próprias dos serviços públicos.
As políticas de tarifação social, gratuidades e subsídios cruzados são ferramentas de sua
efetivação. São irradiações de uma interpretação constitucional dos Direitos Fundamentais que hoje
se impõe não só ao Estado, mas também ao agente econômico que resolva explorar atividades
típicas daquele (art. 175, da CRFB).
“Uma das mais importantes consequências da dimensão objetiva dos direitos
fundamentais é o reconhecimento de sua eficácia irradiante. Esta significa que
os valores que dão lastro aos direitos fundamentais penetram por todo o
ordenamento jurídico, condicionando a interpretação das normas legais e
atuando como impulsos e diretrizes para o legislador, a administração e o
judiciário. A eficácia irradiante, nesse sentido, enseja a ‘humanização’ da
ordem jurídica, ao exigir que todas as suas normas sejam, no momento de
aplicação, reexaminadas pelo operador do direito com novas lentes, que
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terão cores da dignidade humana, da igualdade substantiva e da justiça
social, impressas no tecido constitucional”. (SARMENTO, Daniel. Direitos
fundamentais e relações privadas. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Editora Lúmen
Júris, 2008. pág. 64)
No caso em análise, temos o atendimento de algumas dessas necessidades subjetivas públicas.
A Constituição da República Federativa do Brasil prevê, em seu Título VIII, Capitulo VII, o
estabelecimento de políticas de proteção especial a determinados segmentos vulnerárias da
sociedade, dentre eles, a criança e o adolescente, o idoso e o portador de necessidades especiais.
O fato é que, como abaixo se demonstrará, por garantir direitos fundamentais, tais políticas não
comportam sacrifícios incompatíveis com os ideais previstos na Constituição, logo, o exercício de
tais Direitos não pode ser condicionado por regras que lhes reduzam o conteúdo abaixo do mínimo
constitucionalmente exigido, ou que criem situações, como as descritas acima, incompatíveis com a
Constituição.
Desta forma, fica evidenciado que os serviços públicos, mesmo quando delegados à iniciativa
privada, não deixam de estar associados a uma pauta constitucional de objetivos, dentre outros: a
redução das desigualdades sociais e regionais (art. 3º, III da CRFB); a solidariedade (art. 3º, I da
CRFB); a igualdade substantiva (art. 5º da CRFB), com intolerância a quaisquer tipos de
discriminação (art. 3º, IV da CRFB); e a proteção especial do idoso, da criança e do adolescente e
do portador de necessidades especiais (art. 226 c/c 227 e § 2º; 230 da CRFB).
Do Direito de acesso ao transporte público como forma de realização dos Direitos
Fundamentais
Muito embora alguma discussão tenha surgido sobre a questão, hoje é pacífico, tanto na doutrina
quanto na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que o rol de direito fundamentais garantidos
na Constituição não se limita àqueles previstos em seu artigo 5º.
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Ao contrário, tais Direitos encontram-se expressos e implícitos em toda ordem jurídica como
irradiação direta de uma única fonte normativa. Um princípio vetor. A dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CRFB).
Porém, foi considerando a pluralidade social brasileira, suas características e peculiaridades,
principalmente enquanto sociedade marcada por vários níveis de desigualdade sócio-regionais (art.
3º, III, da CRFB), que o constituinte originário previu, na mesma ordem constitucional, diferentes
graus de garantia para atender a uma diversidade ainda maior de demandas sociais. Em outras
palavras, garantir que a partir de medidas formalmente desiguais, fosse possível almejar uma
igualdade substancial a ser observada. Uma justiça distributiva (Aristóteles).
Assim se deu, por exemplo, ao determinar a edição de uma lei específica voltada à defesa do
consumidor (art. 5, XXXII e 48 da ADCT), grupo de pessoas naturalmente vulneráveis e que por isso
demandam uma proteção especial por parte do Estado (art. 1º e 4º, da Lei 8.078/1990).
O mesmo se deu com alguns outros grupos de pessoas que sem uma especial atenção por parte do
Estado e da sociedade, também teriam comprometidas suas buscas individuas por dignidade.
Tal situação remonta ao antigo conflito entre teorias liberais e sociais de Estado; “solucionado” pelo
neo-liberalismo e pela criação de um espaço reservado às políticas públicas afirmativas e normas
de ordem pública e interesse social: Direito laboral; Código de Defesa do Consumidor; Estatuto da
Criança e do Adolescente; Estatuto do Idoso (entre outros).
“Apesar dos progressos que o advento dos direitos liberais representou para a
Humanidade, a realidade mostrava a sua insuficiência para assegurar a
dignidade humana. A industrialização, realizada sob o signo do laissez faire,
laissez passer, acentuava o quadro de exploração do homem pelo homem,
problema que o Estado liberal absenteísta não tinha como resolver. Como
destacou Nelson Saldanha, os excessos do capitalismo acabaram ‘ (...) por
desnaturar a idéia de liberdade e por dar a deixa para a famosa pergunta de
Proudhon: ‘ Où est la liberté du no proprietaire?’ Onde está a liberdade do
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não proprietário?). Era preciso avançar, ir além, para aprofundar a luta
pelos valores humanitários latentes no Iluminismo.
(...)
Assim, com o passar do tempo, foi se consolidando a convicção de que, até
para o efetivo desfrute dos direitos individuais, era necessário garantir
condições mínimas de existência para cada ser humano.
(...)
Assiste-se, neste contexto, a um crescente intervencionismo estatal em prol das
partes mais fracas das relações sociais. O Direito do Trabalho desmembra-se do
Direito Civil, afirmando-se como um novo ramo da ordem jurídica, fundado sobre
premissas inteiramente diversas, com objetivo de proteção do trabalhador diante
do seu empregador, como parte mais fraca da relação jurídica. No Direito
Privado, multiplicam-se as normas de ordem pública, ampliando-se as hipóteses
de limitação à autonomia da vontade das partes em prol dos interesses da
coletividade”. (SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações
privadas. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2008. págs. 15, 17 e
19).
Foi a partir de tais políticas públicas que o constituinte originário buscou estabelecer proteções
especiais e prioritárias em favor de algumas classes tidas como mais vulneráveis: a família,
enquanto base da sociedade (art. 226); a criança e o adolescente estudante, como meio de garantir
o próprio futuro do país (art. 277) e o idoso, como recompensa por todos os esforços empregados
durante sua vida (art. 230).
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
Art. 277. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e
ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:
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VII – atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as
pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhe o direito à vida.
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos
transportes coletivos urbanos.
Como sustentado pela Ministra Carmem Lúcia em voto proferido nos autos da Ação Direta de
Constitucionalidade nº 3.768-4/DF, a gratuidade não é um fim em si mesmo. É forma instrumental
de efetivação de outros tantos Direitos Fundamentais previstos na Constituição.
“Em essência, tem-se que o direito ao transporte gratuito dos que têm mais de
65 anos não é um fim em si mesmo. A facilitação de deslocamento físico do
idoso pelo uso de transporte coletivo haverá de ser assegurado, como
afirmado constitucionalmente, como garantia da qualidade digna de vida
para aquele que não pode pagar ou já colaborou com a sociedade em
períodos pretéritos, de modo a que lhe assiste, nesta fase da vida, direito a
ser assumido pela sociedade quanto aos ônus decorrentes daquele uso.
Na Nota Técnica do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(fls. 144-145), foram apresentados dados da Secretária Nacional de Assistência
Social do Ministério do Desenvolvimento Social indicativos do contigente de
idoso de baixa renda no Brasil, vulneráveis econômica e socialmente, e que se
utiliza precipuamente do transporte coletivo gratuito.
Só em ‘(...) julho de 2006, 1.138.004 (hum milhão, cento e trinta e oito mil e
quatro) idosos perceberam o benefício de prestação continuada (BPC), benefício
não contributivo da assistência social destinado a idosos sem cobertura
previdenciária, cuja renda per capta familiar é de ¼ do salário mínimo.‘ (fl.144)”.
Os preços das tarifas de transporte podem constituir dificuldades a mais,
quando não impossibilidades, enfrentadas pelos idosos e que os levam a
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manter-se acantonados em suas casas, impedidos de se deslocar e
fadados a esperar visitas que não vêm, médicos que não chegam, enfim,
vidas que se acomodam pela falta de condições para que a pessoa circule.
No interior de Minas se diz que ‘velho quando não anda, desanda’. É
inimaginável que estejamos construindo uma sociedade em que uma
geração, que ainda tem pernas a andar e estradas a palmilhar, permaneça
aquietado por carência de condições para circular. Nem é isso que dispõe a
Constituição brasileira”. (STF – ADI 3.768-4/DF – Pleno – Relatora: Min. Carmem
Lúcia – Julgamento em: 19/09/2007)
Eis a origem dos direitos à gratuidade que se defende nesse processo judicial. Sem o transporte
coletivo gratuito, e considerando as condições econômico-sociais dos seus destinatários, é fácil
concluir que outros tantos Direitos Fundamentais restarão comprometidos. A criança que deixará de
comparecer a escola, o idoso que deixará de ir ao médico e mesmo ao convívio de parentes, etc.
Circunstâncias que criarão outros tanto problemas sociais em uma escala previsível de
desdobramentos.
Disso decorrerá, para a criança e o adolescente estudante, principalmente violação ao Direito
Fundamental à Educação como previsto no artigo 208 e inciso VII da CRFB.
Para o idoso, a própria Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III, e 230, da CRFB), o Direito a Vida
(art. 5º, da CRFB), a Saúde (art. 196), ao bem-estar (art. 230), etc., pois afinal, normalmente o
exercício de tais Direitos depende da locomoção. Direito também elevado à condição de
Fundamental pelo poder constituinte originário (art. 230, § 2º, da CRFB).
Da violação ao Princípio Constitucional da Igualdade
É fato que a garantia ao transporte urbano gratuito estabelecido na Constituição não é fruto de
caridade. A muito a disputa entre a reserva do possível e do mínimo existencial tem lugar comum
nas questões que tratam de garantir direitos fundamentais e sociais, afinal, dentro de uma realidade
de recursos escassos e necessidades humanas quase ilimitadas, a tarefa de atender àquelas, na
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forma prevista na Constituição, nem sempre é fácil. Tarefa que se agrava quando a esse conflito é
adicionada à figura do delegatário de serviço público.
O fato é que em uma ordem econômica fundada na livre iniciativa (art. 170, da CRFB), as
intervenções do Estado na iniciativa privada devem ser pontuais e garantidas por contrapartidas.
Principalmente quando se fala em realizar “obrigações” típicas de Estado (constitucionais) através
de instrumentos de parceria com a iniciativa privada.
Não é dado ao Estado prestar garantias sociais com recursos econômicos alheios, ou como
defende o Ministro Marco Aurélio (STF – ADI 3.225-9/RJ): “... cumprimentar com chapéu alheio”. De
mais a mais, é de se reconhecer que a Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais ainda é uma
teoria extremamente controvertida no Direito brasileiro.
Assim entendeu o Supremo Tribunal Federal ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.225-
9/RJ em que se discutia a legitimidade do disposto no artigo 112, § 2º da Constituição do Estado do
Rio de Janeiro; dispositivo que veda a instituição de gratuidades ou benefícios tarifários no serviço
público prestado indiretamente, sem que o Estado indique a correspondente fonte de custeio do
benefício.
“EMENTA: INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Art. 112, § 2º, da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Serviço público. Prestação indireta.
Contratos de concessão e permissão. Proposta legislativa de outorga de
gratuidade, sem indicação da correspondente fonte de custeio. Vedação de
deliberação. Admissibilidade. Inexistência de ofensa a qualquer cláusula
constitucional. Autolimitação legítima do Poder Legislativo estadual. Norma
dirigida ao regime de execução dos contratos em curso. Ação julgada
improcedente. Voto vencido. É constitucional o disposto no art. 112, § 2º, da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro” (STF – ADI 3.225-9/RJ – Órgão
julgador: Tribunal Pleno – Min. Relator: Min. Cesar Peluso)
Veja-se trecho do voto do relator, Ministro Cesar Peluso:
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
“A exigência de indicação da fonte de custeio para autorizar gratuidade na
fruição de serviços públicos em nada impede sejam estes prestados
graciosamente, donde não agride nenhum direito fundamental do cidadão. A
medida reveste-se, aliás, de providencial austeridade, uma vez que se
preordena a garantir a gestão responsável da coisa pública, o equilíbrio na
equação econômico-financeira informadora dos contratos administrativos
e, em última análise, a própria viabilidade e continuidade dos serviços
públicos e das gratuidades concedidas”.
Da interpretação dada ao dispositivo pelo Supremo Tribunal Federal, e da equação econômico-
financeira presente em todos os contratos de concessão (art. 9º, § 2º da Lei 8.987/1995) decorre
uma conclusão elementar. Os usuários de tarifas sociais e gratuidades não são um ônus para as
prestadoras de serviços públicos concedidos, ao contrário, toda gratuidade é socializada (art. 3º, I,
da CRFB) por mecanismos de distribuição de riquezas operacionalizados através da tributação.
O Estado arrecada de todos os contribuintes e redistribui a receita arrecadada por intermédio de
benefícios fiscais que garantirão a outorga, por exemplo, de tarifas sociais ou gratuidades pelos
prestadores privados de serviços públicos. No caso dos transportes públicos, em geral através de
benefícios para a aquisição de combustíveis e lubrificantes. A proposta é clara, subsidiar a garantia
aos Direitos Sociais para que sejam prestados diretamente pelas delegatárias de serviços públicos,
sem que isso gere desequilíbrio ou onere indevidamente o contrato de concessão.
Disso decorre outra conclusão lógica, os usuários de gratuidades, por essas e outras razões, não
podem receber tratamento diferenciado dos usuários “convencionais” como hoje ocorre no
município réu. Não podem, como extrai-se das reclamações anexo, permanecer nos pontos de
ônibus observando o embarque e desembarque dos demais passageiros (não usuários de
gratuidades) até a chegada dos ônibus de duas portas. Não, quando as duas espécies de coletivos
(de duas e uma porta) concorrem nos mesmos itinerários (linhas) e horários de transporte, pois isso
viola frontalmente o princípio constitucional da igualdade (art. 5º, da CRFB), ofende a garantia de
amparo à pessoa idosa (art. 230, da CRFB), a proteção integral e a absoluta prioridade de
atendimento às suas necessidades (art. 2º, 3º, da Lei 10.741/2003) e, em ultima análise, lhes
produz uma forte sensação de inferioridade.
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Não é difícil imaginar a sensação de impotência e o sentimento de inferioridade sentido por um
idoso que permanece por um longo período nos pontos de ônibus enquanto observa pessoas com,
entre outras coisas, maior resistência física, embarcar e desembarcar de coletivos exercendo uma
liberdade de locomoção que não lhe esta sendo garantida.
Da mesma forma, o sentimento de descrédito no valor educação sentido por um estudante que,
entre muitas dificuldades (material, uniforme, etc.), tem encarar a realidade de que outras tantas
atividades são mais prestigiadas e valoradas pela sociedade do que a sua ida ao colégio. Se
estivesse trabalhando, por exemplo, receberia um crédito transporte que lhe permitiria ir e voltar do
trabalho sem se sujeitar às sucessivas negativas de atendimento nos ônibus de uma porta. Um
desestímulo à educação.
Nesse ponto volta-se a afirmar. A melhor interpretação do benefício é aquela que decorre da parte
final do dispositivo do artigo 39, da Lei 10.741/2003, qual seja: a gratuidade é garantida “exceto nos
seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares”.
Como reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no curso das ADIs 3.768-4/DF e 3096-5/DF, a
norma do artigo 39 da Lei 10.741/2003 tem eficácia plena e repete o disposto no artigo 230, § 2º da
Constituição do República Federativa do Brasil, ou seja, a luz da Constituição, não pode haver
restrição de ordem material ao uso de gratuidades nos transportes coletivos públicos para os
maiores de sessenta e cinco anos, mormente quando tais restrições produzem um verdadeiro
discrímen entre os usuários idosos e não idosos.
Não parece razoável interpretar que ao contrário queira a Constituição, ou seja, que os usuários não
beneficiários de gratuidade possam valer-se de tratamento preferencial sobre aqueles que têm
direito à gratuidade. Em outras palavras, que os usuários de gratuidades tenham que assistir ao
transporte daqueles (não usuários) enquanto esperam pelos coletivos – do mesmo itinerário e
concorrendo com o mesmo horário – que permitem o seu embarque, para somente então fazer jus
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ao benefício que foi outorgado pela Constituição e pelo Estatuto do Idoso sem qualquer restrição de
tal ordem.
Tal medida poderia ser considerada razoável, se estivéssemos diante de coletivos que
possibilitassem um atendimento especial como descrito no Estatuto do Idoso – ônibus executivos ou
semelhantes – mas não quando estamos tratando de diferenças tão básicas na prestação do
serviço.
No caso em análise, não é possível afirmar que o simples fato de determinado coletivo ter apenas
uma porta o torne especial para fins do disposto nos artigo 39 da Lei 10.741/2003. Menos ainda do
disposto no artigo 230, § 2º, da Constituição. Dispositivo que não estabelece qualquer restrição de
ordem material para o uso das gratuidades.
Da mesma forma – e nesse ponto não é possível desconsiderar as altas temperaturas alcançadas
no Estado do Rio de Janeiro (35º, 40º) – que a mera presença de equipamentos de ar condicionado
em coletivos comuns lhes dê a adjetivação de “especiais” para afastar o Direito à gratuidade
previsto no Estatuto do Idoso e na Constituição. Aliás, a atualidade é uma das características
exigíveis dos serviços públicos (art. 6º, § 2º, da Lei 8.987/1995) e o uso de ar condicionados nos
transportes coletivos urbanos no Rio de Janeiro é o mínimo que se pode esperar nesse sentido.
Art. 6º, § 2º da Lei 8.987/1995
A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do
equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a
melhoria e expansão do serviço.
Com reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, não é legítimo impor condicionamentos materiais
ao exercício de um Direito onde a Constituição não estabeleceu, pois isso importa em sacrifícios
ilegítimos a Direitos constitucionalmente estabelecidos.
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
O mesmo raciocínio se aplica as demais gratuidades de transporte estabelecidas em favor de
outras minorias.
No caso dos estudantes, por exemplo, não parece razoável interpretar que o atendimento
absolutamente prioritário determinado na Constituição (art. 227), e revivido pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente (art. 4º da Lei 8.069/1990), queiram permitir que tais indivíduos possam aguardar
maior tempo na espera do transporte que os não usuários de gratuidades, mormente se
considerado o fato de que o transporte nesse caso é instrumental para a realização do Direito a
Educação. Compromisso marcado pela pontualidade de horários.
Não há efetividade na realização de tal Direito se o beneficiário, por ter que aguardar maior tempo
na espera dos coletivos de duas portas, invariavelmente perde a hora de chegada ao colégio
enquanto assiste aos demais usuários serem transportados.
Situação semelhante é vivida por pelos deficientes físicos. Indivíduos que por sua marcada
dificuldade de locomoção, devem também ter garantida a prioritário de atendimento no transporte
público (art. 227, § 2º da CRFB).
Sua situação, embora por motivos diferentes, não é diferente dos demais usuários de gratuidades.
Imagine-se a situação de um usuário com dificuldades de locomoção que terá que permanecer de
pé no ponto de ônibus aguardando a chegada do coletivo. É inegável que esse indivíduo, por ter
maior dificuldade de locomoção, e em regra menor resistência física, também é mais sacrificado
quando precisa aguardar o transporte, logo, e com razão, vê-se discriminado quando tem que
aguardar mais dos que aqueles que não têm qualquer tipo necessidade especial pelo transporte
esperado.
As situações são evidentes e colocam quaisquer leis que venham a dispor sobre condicionantes
não isonômicas para o exercício do Direito à gratuidade na condição de manifesta
inconstitucionalidade. Causa de pedir desta ação judicial.
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Assim sendo, é de ser reconhecida a inconstitucionalidade e a ilegalidade de quaisquer dispositivos
de lei federal, estadual e local, bem como eventuais cláusulas de contratos de concessão, que
restrinjam o acesso dos usuários de gratuidades a coletivos que – não obstante determinadas
características específicas – concorram com coletivos “convencionais” nos mesmos itinerários.
Da antecipação da tutela
No caso em questão, necessário se faz a concessão de medida liminar para impor às
concessionárias rés a obrigação permitir aos usuários de gratuidade (idosos, estudantes e
portadores de necessidades especiais) o acesso aos coletivos de uma única porta e ou com ar
condicionado, desde que tais coletivos concorram no mesmo itinerário (“linha”) com coletivos de
duas portas e ou sem ar condicionado.
Tal medida evitará que tais usuários – detentores de prioridade de atendimento – terminem
injustificadamente aguardando por mais tempo o transporte coletivo do que os demais usuários das
mesmas “linhas” de transporte; eis que esses podem fazer uso tanto de uns quanto de outros
coletivos.
A medida, caso deferida, não será capaz de causar danos irreversíveis as rés. Independentemente
de transportar ou não os usuários beneficiários de gratuidade, os coletivos de uma porta e ou com
ar condicionado circularam da mesma forma, logo, com ou sem usuários de gratuidades, cumprirão
os seus horários, itinerários e produzirão as mesmas despesas para a concessionária rés, sendo,
na maior parte das vezes, economicamente mais interessante que trafeguem com tais passageiros
do que vazios.
Quanto ao requisito da reversibilidade da medida pleiteada (art. 273, § 2º). Como é fácil concluir do
pedido de antecipação supra, não havendo dano, não há risco de irreversibilidade a justificar a não
concessão da medida.
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
E mesmo que se entenda de forma diversa, a prática forense demonstra que a grande maioria dos
casos em que o direito encontra-se em situação que justifica a concessão de tutelas antecipadas,
ou seja, em estado de perigo iminente, não possibilita a reversão da medida concedida; uma vez
efetivada. No entanto, mesmo nesta hipótese, permitir que diante da possível irreversibilidade o
Direito pereça, é o mesmo que admitir, de logo (no inicio do processo), que ao final, seja qual for a
posição adotada no mérito, o jurisdicionado não alcançará o direito pretendido, pois este
inevitavelmente sucumbirá pela demora.
“O ativismo judicial que hoje se apregoa faz da lei nova um diploma
recheado de vetustez e covardia, sem prejuízo de afastar-se dos mais
modernos postulados da efetividade do processo. Esse acanhamento do
legislador foi tão longe que retirou praticamente com a outra mão a
sedutora idéia da tutela antecipada, ao dispor no § 2º do art. 273, que,
verbis : ‘Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de
irreversibilidade do provimento antecipado’.
É que não se atentou para o fato de que, na grande maioria dos casos da
prática judiciária, as situações de urgência que reclamam a antecipação da
tutela geram, inexoravelmente, situações irreversíveis, porque encerram
casos em que a satisfação deve ser imediata, como, v.g. , aquela em que é
autorizada uma viagem, uma cirurgia, uma inscrição imediata em concurso,
etc.
Desta sorte, a redação, como esta, serve de instrumento para os que não
reconhecem o que denominamos de ‘dever geral de segurança’. E, para tanto,
basta que se justifique ou motive a decisão, como quer o § 1º do art. 273, sob o
argumento de que a concessão implicará irreversão.
A regra ora in foco melhor disporia se, obedecendo à mesma margem de
discricionariedade que inseriu para a concessão, a mantivesse mesmo nos
casos de irreversibilidade, que representam grande parte das demandas de
urgência. (FUX, Luiz. A tutela antecipada nos Tribunais Superiores. In
Revista de Direito da Associação dos Procuradores do Novo Estado do Rio de
Janeiro – Vol. X – Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002. pág. 109)
O indeferimento da tutela requerida permitirá, em sentido contrário, a violação irrecuperável dos
Direitos dos usuários de gratuidades, como acima descrito.
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Para o caso em análise, todos os dias centenas de usuários vêem perecer o seu Direito diante das
práticas descritas nessa inicial. Direito irrecuperável, pois, cada ônibus de uma porta e/ou com ar
condicionado que nega acesso a um usuário de gratuidade, não permite que esse Direito, uma vez
negado, volte a ser exercício. Cada viagem uma viagem, cada negativa, um Direito que deixa de ser
exercido e que não volta atrás.
Ou seja, mesmo que o dano, no pedido de tutela satisfativa seja inevitável (o que não parece ser o
caso), quer para a parte requerente (no indeferimento), quer para requerida (quando do
deferimento), a melhor solução sempre será aquela que prestigie a efetividade do processo como
instrumento de realização substancial do Direito, ou seja, que não permita o perecimento de Direitos
no aguardo do pronunciamento jurisdicional.
“Dano irreparável, nesse sentido, manifesta-se na impossibilidade de
cumprimento posterior da obrigação ou na própria inutilidade da
concessão da providência, salvo antecipadamente. O esvaziamento da
utilidade da decisão vitoriosa revela um ‘dano irreparável’ que deve ser
analisado em plano muito anterior ao da visualização da possibilidade de
se converter em perdas e danos a não-satisfação voluntária pelo devedor”.
(FUX, Luiz. A tutela antecipada nos Tribunais Superiores. In Revista de
Direito da Associação dos Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro –
Vol. X – Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002. pág. 112 e 113) Dispõe o parágrafo 3º do artigo 84 do CDC (repetido no artigo 461, § 1º do CPC) que, “sendo
relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final,
é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu”.
O dispositivo supramencionado cuida da concessão de tutela liminar para garantir a total satisfação
do direito do consumidor nos casos em que a espera pelo provimento final da demanda interfere de
forma negativa.
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Trata-se, portanto, de verdadeira antecipação de tutela, logo, deve o dispositivo ora em comento ser
interpretado em harmonia com o artigo 273 do Código de Processo Civil, que trata do assunto de
forma geral.
O artigo 273 do CPC exige, para que seja concedida a antecipação parcial ou total da tutela
pretendida, que exista prova inequívoca que convença o juiz sobre a verossimilhança das
alegações do autor, e que “haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação”.
A doutrina e a jurisprudência já se manifestaram sobre a contradição existente nas expressões
“prova inequívoca” e “que convença da verossimilhança da alegação”, contidas no artigo 273 do
CPC, concluindo que, havendo uma prova inequívoca haverá certeza, e não simples
verossimilhança, cujo real significado é parecer ser verdadeiro o alegado, logo, a melhor
interpretação para o dispositivo é haver probabilidade da existência do direito alegado, para que
possa ser concedida a antecipação da tutela.
“O artigo 273 condiciona a antecipação da tutela à existência de prova
inequívoca suficiente para que o juiz se convença da verossimilhança da
alegação. A dar peso ao sentido literal do texto, seria difícil interpretá-lo
satisfatoriamente porque prova inequívoca é prova tão robusta que não
permite equívocos ou dúvidas, infundindo no espírito do juiz o sentimento
de certeza e não mera verossimilhança. Convencer-se da verossimilhança,
ao contrário, não poderia significar mais do que imbuir-se do sentimento de
que a realidade fática pode ser como a descreve o autor.
Aproximadas as duas locuções formalmente contraditórias contidas no
artigo 273 do Código de Processo Civil (prova inequívoca e convencer-se
da verossimilhança), chega-se ao conceito de probabilidade, portador de
maior segurança do que a mera verossimilhança”. (DINAMARCO, Cândido
Rangel. A reforma do Código de Processo Civil. São Paulo: Malheiros, 1995,
pág.143)
RESPONSABILIDADE CIVIL DO FABRICANTE. ANTICONCEPCIONAL
INERTE. DEFEITO DO PRODUTO RECONHECIDO. INGESTÃO PELA
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
AUTORA NÃO PROVADA. IMPOSIÇÃO DO PAGAMENTO DE DESPESAS DO
PARTO EM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. A prova inequívoca, para efeito de
antecipação da tutela, quando se trata de relação de consumo, é de ser
interpretada sem rigorismo, pois, nessa matéria, mesmo em sede de cognição
plena, dispensa-se juízo de certeza, bastante a probabilidade extraída de provas
artificiais da razão. DECISÃO MANTIDA (TJRS, AI 599374303, 9ª CâmCív., Rel.
Desa. Mara Larsen Chechi, j. 25-8-1999).
Portanto, para que a antecipação de tutela possa ser concedida é necessário que haja prova (ou
mesmo indícios) demonstrando que há probabilidade de ser verdadeira a alegação do autor da
demanda e o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.
A situação acima descrita, de negativa de acesso dos usuários de gratuidades os coletivos de uma
porta e/ou ar condicionado, é matéria de confissão por várias das rés (respostas anexo), que
sustentam sua legitimidade com base em várias legislações estaduais e locais que tratam da
matéria.
Assim sendo, presentes estão os requisitos para a antecipação da tutela, pois a demora no
provimento jurisdicional permitirá que dia após dia outros tantos beneficiários de gratuidade tenham
negado seu acesso aos coletivos que, embora circulem nos mesmos itinerários (“linhas”), vêm
sendo considerados pelas rés como especiais.
Para que a medida possa surtir os efeitos desejados (caso seja concedida), e assim evitar mais
danos aos consumidores, necessário se faz a fixação de multa para o caso de descumprimento da
ordem judicial, conforme previsto nos artigos 461, § 1º, do CPC, e 84, § 4º, do CDC.
CONCLUSÃO
Por todo aqui exposto, resta claro que as rés vêem negando indevidamente acesso à gratuidade
para aqueles que a ela têm Direito, prejudicando com isso o exercício de diversos Direitos
Fundamentais, gerando situação anti-isonômica e violando a Constituição.
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
DOS PEDIDOS
Requer a parte autora:
1) A citação das rés, via mandado próprio, para, querendo, contestar a presente;
2) Em antecipação dos efeitos da tutela, a condenação das concessionárias rés na obrigação de
permitir o acesso dos usuários de gratuidades a todos os coletivos – mormente nos de uma única
porta e/ou com ar condicionado – que circulem em itinerários (“linhas”) nos quais é possível fazer o
uso de tal benefício apenas em alguns coletivos (os de duas portas);
3) Alternativamente, que seja deferida antecipação dos efeitos da tutela, para obrigar as
concessionárias rés a manter em cada “linha” de transporte coletivo, no mínimo, o dobro de
coletivos que permitam o uso da gratuidade em comparação com os que não permitam, garantindo
que a oferta de coletivos daquela espécie observará freqüência intercalada de no mínimo: para
cada dois (2) veículos que aceitem gratuidades, circulando na mesma “linha”, haja apenas um (1)
que vede o uso do benefício. A regra preservará no seu mínimo a idéia de prioridade de
atendimento prevista na Constituição;
4) O reconhecimento da inconstitucionalidade de todas as normas que disponham sobre limitação
de acesso dos usuários de gratuidades (idosos, estudantes e portadores de necessidades
especiais) à coletivos de uma porta e/ou ar condicionado, sempre que tais veículos estejam em
circulação nos mesmos itinerários e concorrendo nas mesmas “linhas” com os de duas portas (AS),
para confirmar em sentença a liminar deferida, ou, para condenar as concessionárias rés nas
mesmas obrigações previstas, alternativamente, nos pedidos nº 2 e 3;
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
5) A condenação do município réu na obrigação de alterar e não mais incluir nos contratos de
concessão celebrados para fornecimento de transporte no exercício de sua competência
administrativa, cláusulas que permitam às concessionárias limitar o acesso dos usuários
beneficiários de gratuidades em razão da espécie de coletivo utilizado no transporte de passageiros,
sempre que houver previsão do uso de veículos de mais de uma espécie nas mesmas “linhas”;
6) Alternativamente, a condenação do município réu na obrigação de, permitindo no contrato de
concessão o uso de duas ou mais espécies de coletivos no mesmo itinerário (“linha”), fixar
obrigação para que as concessionárias garantam, no mínimo, oferta do dobro de coletivos para
atendimento das gratuidades em cada linha de transporte, garantindo que a oferta de coletivos
observará freqüência intercalada de: para cada dois (2) veículos que aceitem gratuidades,
circulando na mesma “linha”, haja apenas um (1) que vede o uso do benefício. A regra preservará
no seu mínimo a idéia de prioridade de atendimento prevista na Constituição;
7) A condenação do município réu na obrigação de fiscalizar a garantia do uso das gratuidades na
forma estabelecida por esse juízo;
8) Sejam as concessionárias rés condenadas a pagar, em favor de fundo de defesa de direitos
difusos, indenização a título de danos morais coletivos pelos transtornos causados à coletividade de
usuários de gratuidades;
9) A inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC) para que as rés comprovem que não há
discriminação de tratamento entre os usuários dos serviços de transporte no município réu;
10) a intimação do Ministério Público;
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
11) a condenação das concessionárias rés no pagamento dos ônus sucumbências.
Protesta por todos os meios de prova admitidos. Dá-se à causa o valor de R$ 34.000,00 (trinta e
quatro mil reais).
Rio de Janeiro, 28 de março de 2012.
ANDRE LUIZ DE SOUZA CRUZ
OAB/RJ Nº 150.514
Matrícula nº 414.377-2
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