COMISSO DE CONCURSO 57 CONCURSO PBLICO PARA INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTRIO PBLICORESOLUO N 007/2013
ATA DE REUNIO Julgamento dos Recursos da Prova Preambular
Aos seis (6) dias do ms de dezembro de 2013, s quinze horas, reuniu-
se, na sala de reunies do Procurador-Geral de Justia, no edifcio sede da
Procuradoria-Geral de Justia, a Comisso do 57 Concurso para Ingresso
na Carreira do Ministrio Pblico Promotor de Justia Substituto.
Estavam presentes, alm do Presidente da Comisso do Concurso, Dr.
Lauro Machado Nogueira, as Procuradoras de Justia Estela de Freitas
Rezende e Analice Borges Stefan, os Promotores de Justia Mrcio do
Nascimento e Roberta Pond Amorim de Almeida, bem como o
representante da OAB-GO, Dr. Mrcio Pacheco Magalhes. Iniciados os
trabalhos, o Procurador-Geral de Justia Lauro Machado Nogueira
informou que seriam julgados os recursos interpostos contra o gabarito
preliminar da prova preambular, publicado no dia 27.11.2013, na edio
n 1090 do DOMP. As questes impugnadas pelos candidatos foram: 3, 4,
5, 6, 10, 11, 12, 14, 15, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 29, 30, 33, 37, 39, 46,
49, 52, 55, 57, 66, 67, 71, 72, 73, 74, 77, 80, 81, 86, 87, 90, 94, 95, 98
e 100. No total, foram protocolizados 134 (cento e trinta e quatro)
recursos na Secretaria da Comisso que, atendidos os requisitos dos itens
18.1.1 e 18.1.2 do edital, foram encaminhados s respectivas bancas
examinadoras para, no prazo de dois (2) dias, apresentarem as
contrarrazes. Ato contnuo, a Comisso de Concurso conheceu de todos
os recursos, uma vez que interpostos no prazo e na forma prescrita no
edital do certame, analisou-os e deliberou na forma e pelas razes a
seguir descritas:
RECURSO N. 129
Questo recorrida: 21
Sntese do recurso: alega o recorrente, em suma, que a questo
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apresenta duas respostas corretas: a letra 'd', apontada pelo gabarito, e a
letra 'a'.
Fundamentao da banca examinadora: O item a da questo n. 21
manifestamente incorreto, por destoar do texto do art. 10 da Lei
12.850/13. No deve prosperar o recurso, face a ausncia de
fundamentao lgico-jurdica. O erro a ser apontado no item a,
justamente o fato de ter-se mencionado que a infiltrao de agentes
poderia ser policial ou por agentes de inteligncia. Tal desacerto era
criticado pela doutrina majoritria1, haja visto que tais agentes de
inteligncia (por exemplo, aqueles agentes da ABIN), no possuam
dentre as suas atribuies, o munus de produo de provas para os fins
processuais penais. Por essncia, tais agentes deveriam se limitar a
defesa da soberania nacional, evitando-se preventivamente, situaes que
pudessem, porventura, colocar em risco a segurana nacional. A nova Lei
12.850/13, justamente apresentou como uma das novidades, a definio
de que a infiltrao de agentes somente poder se dar atravs de
agentes policiais (art. 10). Apoiando tais assertivas, cite-se a melhor
doutrina sobre o tema: Anote-se, de plano, que a infiltrao aqui
examinada somente pode ser efetuada por agentes de polcia.
Assim, ao contrrio da revogada Lei n 9034/95, que permitia essa
infiltrao por agentes de polcia ou inteligncia, a legislao em comento
autoriza essa investigao apenas queles primeiros (SANCHES CUNHA,
Rogrio; BATISTA PINTO, Ronaldo, Crime Organizado. Comentrios
nova Lei sobre o crime organizado Lei n 12.850/2013, Salvador:
Editora Juspodivm, 2013, p. 97). Grifo nosso. Dessa forma, a nica
alternativa correta consiste no item d, que trata da ao controlada
quando houver transposio de fronteiras, de acordo com o disposto no
art. 9. Diante do exposto, somos pelo improvimento do recurso.
Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento ao recurso.
1 Vide nosso comentrio crtico a tal questo, em CARDOSO PEREIRA, Flvio. El
agente infiltrado desde el punto de vista del garantismo procesal penal. Curitiba:
Editor Juru, 2013, p. 346-347.
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RECURSO N. 28
Questo recorrida: 23
Sntese do recurso: argumenta o recorrente, com fundamento nos artigos
126 e 127 da Lei de Execuo Penal, que a alternativa correta aquela
sob a letra C.
Fundamentao da banca examinadora: O candidato era instado a
assinalar a alternativa correta, tendo em vista as proposies contidas nos
itens de I a IV, todos relativos remio no processo de execuo penal.
A alternativa correta aquela sob a letra A. A alternativa sob a letra
C, que diz que somente as alternativas I e IV esto erradas,
incorreta, pois a proposio sob n. II tambm est errada, pois de acordo
com o 5 do art. 126 da Lei de Execuo, o tempo a remir em funo
das horas de estudo ser acrescido de 1/3 (um tero) no caso de
concluso do ensino fundamental, mdio ou superior durante o
cumprimento da pena, e na proposio afirma-se que o tempo a remir
ser acrescido de metade. Pelos argumentos supra, sugiro o
conhecimento e improvimento do recurso.
Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento ao recurso.
RECURSO N. 34
Questo recorrida: 37
Sntese do recurso: argumenta o recorrente, com fundamento no art. 226
do Cdigo de Processo Penal e em lies de Aury Lopes Jnior, que a
alternativa a ser marcada a letra A.
Fundamentao da banca examinadora: Dentre as alternativas
relativas ao reconhecimento de pessoas, o candidato era instado a
assinalar a alternativa inexata. A alternativa sob a letra A correta,
como reconhece o prprio recorrente, na insurgncia, ao citar o autor
Aury Lopes Jr. A alternativa a ser assinalada a aquela sob a letra C,
cuja redao era a seguinte: na fase da instruo criminal ou em plenrio
de julgamento, se houver razo para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidao ou outra influncia, no diga a
verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade
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providenciar para que esta no veja aquela. Esta alternativa colide
com o disposto no art. 226 do Cdigo de Processo Penal, que tem
a seguinte redao: art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se
o reconhecimento de pessoa, proceder-se- pela seguinte forma: I - a
pessoa que tiver de fazer o reconhecimento ser convidada a descrever a
pessoa que deva ser reconhecida; II - a pessoa, cujo reconhecimento se
pretender, ser colocada, se possvel, ao lado de outras que com ela
tiverem qualquer semelhana, convidando-se quem tiver de fazer o
reconhecimento a apont-la; III - se houver razo para recear que a
pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidao
ou outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa que
deve ser reconhecida, a autoridade providenciar para que esta
no veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se- auto
pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para
proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Pargrafo nico. O disposto no no III deste artigo no ter aplicao
na fase da instruo criminal ou em plenrio de julgamento. Pelos
argumentos supra, sugiro o conhecimento e improvimento do
recurso.
Deciso da Comisso de Concurso : A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento ao recurso.
RECURSO N. 112
Questo recorrida: 37
Sntese do recurso: argumenta o recorrente que a questo nula, pois a
alternativa C est correta, tendo em vista o disposto no art. 226, inciso
III, c/c art. 400, ambos do Cdigo de Processo Penal.
Fundamentao da banca examinadora:Dentre as alternativas
relativas ao reconhecimento de pessoas, o candidato era instado a
assinalar a alternativa inexata. A alternativa sob a letra C incorreta. A
redao da alternativa est assim elaborada: na fase da instruo
criminal ou em plenrio de julgamento, se houver razo para recear que a
pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidao ou
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outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa que deve ser
reconhecida, a autoridade providenciar para que esta no veja aquela.
Esta alternativa colide com o disposto no art. 226, pargrafo
nico, do Cdigo de Processo Penal. Vejamos o inteiro teor do
artigo: art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o
reconhecimento de pessoa, proceder-se- pela seguinte forma: I - a
pessoa que tiver de fazer o reconhecimento ser convidada a descrever a
pessoa que deva ser reconhecida; Il - a pessoa, cujo reconhecimento se
pretender, ser colocada, se possvel, ao lado de outras que com ela
tiverem qualquer semelhana, convidando-se quem tiver de fazer o
reconhecimento a apont-la; III - se houver razo para recear que a
pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidao
ou outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa que
deve ser reconhecida, a autoridade providenciar para que esta
no veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se- auto
pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para
proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Pargrafo nico. O disposto no n o III deste artigo no ter aplicao
na fase da instruo criminal ou em plenrio de julgamento. Tem-
se, pois, que a alternativa sob a letra C a nica incorreta. Pelos
argumentos supra, sugiro o conhecimento e improvimento do recurso.
Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento ao recurso.
RECURSO N. 117
Questo recorrida: 37
Sntese do recurso: argumenta o recorrente que a questo exigia o
apontamento do item correto e que o item sob letra B est correto.
Fundamentao da banca examinadora: Dentre as alternativas
relativas ao reconhecimento de pessoas, o candidato era instado a
assinalar a alternativa inexata ou seja, a alternativa incorreta. De
fato, a alternativa sob letra B est certa logo, no era a
alternativa a ser assinalada e a alternativa sob letra C a
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nica incorreta. A redao da alternativa est assim elaborada: na
fase da instruo criminal ou em plenrio de julgamento, se houver razo
para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de
intimidao ou outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa
que deve ser reconhecida, a autoridade providenciar para que esta no
veja aquela. Esta alternativa colide com o disposto no art. 226,
pargrafo nico, do Cdigo de Processo Penal. Vejamos o inteiro
teor do artigo: art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o
reconhecimento de pessoa, proceder-se- pela seguinte forma: I - a
pessoa que tiver de fazer o reconhecimento ser convidada a descrever a
pessoa que deva ser reconhecida; Il - a pessoa, cujo reconhecimento se
pretender, ser colocada, se possvel, ao lado de outras que com ela
tiverem qualquer semelhana, convidando-se quem tiver de fazer o
reconhecimento a apont-la; III - se houver razo para recear que a
pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidao
ou outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa que
deve ser reconhecida, a autoridade providenciar para que esta
no veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se- auto
pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para
proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Pargrafo nico. O disposto no n o III deste artigo no ter aplicao
na fase da instruo criminal ou em plenrio de julgamento. Tem-
se, pois, que a alternativa sob a letra C a nica incorreta. Pelos
argumentos supra, sugiro o conhecimento e improvimento do
recurso.
Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento ao recurso.
RECURSO N. 74
Questo recorrida: 17
Sntese do recurso: emana do recurso n 74 que assertiva apontada
como correta no gabarito preliminar, letra 'a', seria incorreta em razo de
que: [] em verdade, o Direito Penal, conforme esta concepo, estaria
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mais apto ao combate dos crimes de rua []. J os delitos de colarinho
azul, segundo sentido empregado pelo Supremo Tribunal Federal,
especialmente Ministro Luiz Fux, so os crimes que envolvem corrupo
no mbito do Poder Pblico, os quais, diferentemente os crimes de rua,
so praticados longe da vigilncia do Estado [...]. (sic)
Fundamentao da banca examinadora: Nada mais equivocado. Em
verdade, os delitos de rua2 so praticados exatamente pelos detentores de
colarinho azul, contrapondo-se diametralmente aos crimes de colarinho
branco. Nessa vereda, impende destacar o excerto extrado do voto p.
1.495-1.496 do acrdo do Min. LUIZ FUX, proferido por ocasio do
julgamento da afamada Ao Penal n 470 (Mensalo): Os 'crimes do
colarinho branco' constituem um conceito relativamente novo, que apenas
alcanou reconhecimento no ano de 1939, nos Estados Unidos, em um
discurso do socilogo Edwin Sutherland na American Sociological Society,
que criticou criminlogos da poca por atriburem a criminalidade
pobreza ou a condies psicopticas e sociopticas. A noo de white
collar crime particularmente importante por evidenciar a necessidade
de considerar as infraes praticadas por indivduos ocupantes de
posies de poder como crimes e no apenas ofensas civis. Ope-se aos
blue-collar crimes, que so delitos perpetrados por integrantes de
estratos sociais mais desfavorecidos. A definio de Sutherland, que
enfatizava mais o sujeito que o delito praticado sendo, por isso, mais
adequada a expresso 'criminosos do colarinho branco' , foi substituda
posteriormente por uma concepo voltada para o fato. Assim, o Bureau
of Justice Statistics (BJS) dos Estados Unidos utiliza o seguinte conceito
de white collar crime: 'crime no violento dirigido ao ganho financeiro,
cometido mediante fraude'. Observa-se, portanto, que no h um rol
2 So delitos praticados pelas pessoas de classes sociais desfavorecidas, a exemplo
dos furtos executados por miserveis, andarilhos e mendigos. Estes crimes so cometidos aos olhos da sociedade, em locais supervisionados pelo Estado (praa, parques, favelas etc.), e por esta razo so frequentemente objeto das instncias de proteo (Polcia, Ministrio Pblico e Poder Judicirio). Os crimes de rua se contrapem aos 'crimes de colarinho branco', cometidos por aqueles que gozam e abusam da elevada condio econmica e do poder da decorrente, como o caso dos delitos contra o sistema financeiro nacional, disciplinados na Lei 7.492/1986 (CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Geral. Vol I. 7 ed. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 212).
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delimitado de delitos que compem a categoria de 'crimes do colarinho
branco', o que, todavia, no impede a represso e a punio aos autores
desse tipo de infraes. Dentre os delitos que podem se amoldar ao
conceito, incluem-se os crimes tributrios (tax crimes), as fraudes
bancrias (bank fraud), os crimes de corrupo (public corruption) e a
lavagem de dinheiro (money laundering), todos de relevantssimo
interesse para a presente causa (PODGOR, Ellen S. White Collar Crime in
a nutshell. Minnesota: West Publishing Co., 1993. p. 1-4). [] Os crimes
do colarinho branco, em essncia, so condutas punveis na esfera penal,
e no apenas civilmente irregulares; so proibies relevantssimas para o
seio social, e no apenas restries formais e circunstanciais. Cuida-se,
nas palavras de Abanto Vsquez, da proteo dos bens jurdicos mais
importantes contra as aes perigosas mais graves em uma sociedade,
motivo pelo qual a tendncia da legislao e da doutrina penal dominante
a de recrudescer o tratamento penal conferido a condutas que afetem
negativamente interesses sociais econmicos (ABANTO VSQUEZ, Manuel
A. Derecho Penal Econmico consideraciones jurdicas y econmicas.
Lima: IDEMSA, 1997. p. 37). O desafio na seara dos crimes do
colarinho branco alcanar a plena efetividade da tutela penal dos
bens jurdicos no individuais. Tendo em conta que se trata de
delitos cometidos sem violncia, incruentos, no atraem [os
crimes de colarinho branco] para si a mesma repulsa social dos
'crimes do colarinho azul' (Go directly to jail: white collar sentencing
after the Sarbanes-Oxley Act. In: Harvard Law Review, vol. 122, 2008-
2009. p. 1742 e ss.). A inoperncia das instituies causa um nefasto
efeito sistmico, que, fomentado pela impunidade, causa pobreza atrs de
pobreza, para o enriquecimento indevido de alguns poucos. Sobre o
ponto objeto de anlise, DANILO ANDREATO3 assevera que: Crimes do
colarinho azul ou blue collar crime so os praticados geralmente
por pessoas economicamente menos favorecidas, como furto,
roubo, estelionato etc. A aluso ao colarinho azul deve-se cor da
3 Crimes do colarinho branco e crimes do colarinho azul. Disponvel em: http://daniloandreato.com.br/2013/03/27/crimes-do-colarinho-branco-e-crimes-do-colarinho-azul/
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http://daniloandreato.com.br/2013/03/27/crimes-do-colarinho-branco-e-crimes-do-colarinho-azul/
gola do macaco dos operrios e trabalhadores de fbricas. Os
operrios eram chamados de blue-collar (colarinho azul) em razo da cor
dos uniformes. Os executivos, por sua vez, no usavam macaces azuis,
porm camisas brancas, com colarinhos da mesma cor, razo por que
Sutherland ops criminalidade dos pobres (blue collar) a white-
collar criminality. Por todo o exposto, nota-se a impertinncia da
afirmao do recorrente segundo a qual os delitos de colarinho azul,
segundo sentido empregado pelo Supremo Tribunal Federal,
especialmente Ministro Luiz Fux, so os crimes que envolvem corrupo
no mbito do Poder Pblico (sic). Como visto, os crimes de colarinho azul
(praticados pelos maiores fregueses da Justia Criminal) so o avesso
dos crimes de colarinho branco. Segundo a crtica formulada por ZAFFARONI,
ALAGIA, SLOKAR e NILO BATISTA, a inevitvel seletividade operacional da
criminalizao secundria e sua preferente orientao burocrtica (sobre
pessoas sem poder e por fatos grosseiros e at insignificantes) provocam
uma distribuio seletiva em forma de epidemia, que atinge apenas
aqueles que tm baixas defesas perante o poder punitivo4. Assim, de
acordo com essa concepo, o Direito Penal estaria de fato mais
vocacionado ao combate dos crimes do colarinho azul. Dessarte, o
improvimento do recurso medida de rigor.
Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento ao recurso.
RECURSOS N. 20, 41, 82 e 107 .
Questo recorrida: 17
Sntese dos recursos: os quatro recursos impugnam a assertiva 'c' da
questo 17, cujo enunciado diz: C) a outra face da teoria da
coculpabilidade pode ser identificada como a coculpabilidade s avessas,
por meio da qual defende-se a possibilidade de reprovao penal mais
severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado
poder econmico, e que abusam desta vantagem para a execuo de
delitos. Os recorrentes buscaram demonstrar que o contedo da
assertiva incorreto e no correto, como indica o gabarito preliminar.
4 Direito Penal Brasileiro. vol. I. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 47.
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Ainda, emana do recurso n 82 que assertiva de letra 'b', apontada
como correta pelo gabarito preliminar, seria incorreta em razo de que:
[] segundo a doutrina, para denominar a diferena apresentada entre a
criminalidade real e a criminalidade conhecida e enfrentada pelos rgos
formais de represso, nos crimes socioeconmicos, chamada de 'cifra
negra' e no de 'cifra dourada', como fez meno alternativa 'B'. Nesse
sentido: 'Nem todos os fatos criminosos chegam ao conhecimento ou so
objeto de apurao pelas autoridades competentes. Parcela dos crimes
que passam a ser oficialmente registrados pelo sistema de Justia criminal
chamada de criminalidade revelada. A frao que permanece oculta
(no investigada e consequentemente impune), quando se refere
a crimes de colarinho branco, denomina-se cifra dourada da
criminalidade' [...]. (sic)
Fundamentao da banca examinadora: Os recorrentes buscaram
demonstrar que a alternativa questionada ('c') seria errada e no
correta, como considerou a banca examinadora em razo de que,
segundo eles, a ideia de coculpabilidade s avessas corresponderia
exatamente ao oposto do sentido mencionado na assertiva. Para melhor
visualizao, insta pinar alguns trechos dos recursos supramencionados:
Recurso n 20: a assertiva diz que, pela teoria da culpabilidade sic
s avessas, os crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder
econmico merecem reprovao penal mais severa, contudo, na verdade,
sic uma reprovao mais branda. [] Tal o que preceitua Grgore
Moura [], para quem essa coculpabilidade s avessas se manifesta de
trs maneiras: i) ...; ii) ; iii) como fator de aumento da reprovao
social e penal5 (sic). Recurso n 41: [...] a teoria da co-culpabilidade
s avessas corresponde exatamente ao oposto, ou seja, uma reprovao
menos severa aos autores de crimes praticados por pessoas dotadas de
elevado poder econmico. Nesse diapaso, so as lies de Grgore
Moura, o qual preceitua ser possvel a manifestao da co-culpabilidade s
avessas sob trs formas: a) ; b)...; c) como fator de aumento da
5 A vertente negritada foi exatamente a cobrada na alternativa impugnada. Esse , pois, mais um recurso em que o candidato cita uma doutrina contrria a sua pretenso recursal.
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reprovao social e penal6 (sic). Recurso n 82: [...] o conceito de
coculpabilidade s avessas justamente o contrrio daquilo que foi
descrito pela alternativa, ou seja, no se fala em punibilidade 'mais severa
no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado por
econmico', mas sim em abrandamento sano de delitos praticados por
pessoa com alto poder econmico e social, como no caso dos crimes de
colarinho braco. [] Nesse particular, a coculpabilidade s avessas
surge positivada na legislao de duas sic maneiras: a)
tipificando condutas dirigidas a pessoas marginalizadas; b)
aplicando penas mais brandas aos detentores do poder
econmico7 (sic). Recurso n 107: [...] O conceito de coculpabilidade
s avessas justamente o oposto do que est descrito no item 'c',
possuindo duas vertentes (espelho de prova discursiva do Ministrio
Pblico de Minas Gerais autoria: professor Leonardo Moreira Alves ):
'Essa a primeira perspectiva em que pode ser analisada a
coculpabilidade s avessas, ou seja, a identificao crtica da seletividade
do sistema e da incriminao da prpria vulnerabilidade. Nesse
particular, a coculpabilidade s avessas surge positivada na
legislao de duas maneiras: a) tipificando condutas dirigidas a
pessoas marginalizadas; b) aplicando penas mais brandas aos
detentores do poder econmico'8[...] (sic). Fixados os lindes dos
6 Idem a nota supra.7 O recorrente, no af de conseguir anular a questo fustigada, deturpou a doutrina de Grgore Moura ao excluir a terceira forma de manifestao na legislao da coculpabilidade s avessas, qual seja: aquela que atua como forma de aumento da reprovao social e penal (GRGORE MOREIRA DE MOURA. Do Princpio da Co-culpabilidade. Niteri: Impetus, 2006, p. 44), e que d substrato doutrinrio assertiva.
8 O recorrente citou o espelho da prova discursiva do concurso pblico para o cargo de Promotor de Justia do MPMG com o escopo de fundamentar o alegado equvoco do gabarito da questo recorrida, e, nesse rumo, destacou duas formas pelas quais a coculpabilidade s avessas manifesta-se na legislao. No entanto, curiosamente, o recorrente omitiu o pargrafo seguinte do citado espelho de prova, donde se extrai:
Mas h, ainda, outra perspectiva, pois se o objetivo posto no reconhecimento da coculpabilidade no Direito Penal moderno justamente o caminho contrrio (a proteo dos hipossuficientes e a busca da igualdade material sem os odiosos privilgios, ainda existentes), a ideia pode ser legitimamente manipulada para punir de forma mais severa os privilegiados, como ocorre, expressamente, na legislao penal da Argentina e de Portugal. De certa forma, tambm no Brasil, temos disposies legais que preveem a coculpabilidade s avessas para incremento da reprovao penal (...) (disponvel em: http://www.leonardomoreiraalves.com.br/system/arquivos/89/original/Grupo%20II%20-%20questao%203%5B1%5D.pdf?1322846714).
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recursos manejados contra a alternativa em testilha, passa-se a
demonstrar, para alm do que j foi consignado nas notas de rodap de
n 7-10, a improcedncia dos seus fundamentos. Preliminarmente, h de
se fixar uma premissa: no foi cobrado por meio da alternativa
impugnada o conceito de coculpabilidade s avessas, nem tampouco
todas as suas acepes e vocaes. Afirmou-se apenas que, por meio
dela, defende-se a possibilidade de reprovao penal mais severa no
tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder
econmico, e que abusam desta vantagem para a execuo de delitos.
Apenas isso. Conforme ficar demonstrado, a assertiva encontra-se em
absoluta consonncia com a doutrina. De incio, perceba-se que a teoria
da coculpabilidade, tal como idealizada por ZAFFARONI e PIERANGELI9,
preconiza a possibilidade de diviso de responsabilidade entre a sociedade
e o autor de uma infrao penal, com fundamento no reduzido grau de
autodeterminao do indivduo. No dizer dos mestres: [...] h sujeitos
que tm um menor mbito de autodeterminao, condicionado desta
maneira por causas sociais. No ser possvel atribuir estas causas sociais
ao sujeito e sobrecarreg-lo com elas no momento da reprovao de
culpabilidade. Costuma-se dizer que h, aqui, uma 'co-culpabilidade', com
a qual a prpria sociedade deve arcar. E arrematam aduzindo que a
coculpabilidade faz parte da ordem jurdica de todo Estado Social de
Direito e, portanto, tem cabimento no CP mediante a disposio
genrica do art. 66. Com a maestria que lhe peculiar, ROGRIO GRECO10
professa que: A teoria da co-culpabilidade ingressa no mundo do Direito
Penal para apontar e evidenciar a parcela de responsabilidade que deve
ser atribuda sociedade quando da prtica de determinadas infraes
penais pelos seus supostos cidados. Contamos com uma legio de
miserveis que no possuem teto para abrigar-se, morando embaixo de
viadutos ou dormindo em praas ou caladas, que no conseguem
emprego, pois o Estado no os preparou e os qualificou para que
pudessem trabalhar, que vivem a mendigar por um prato de comida, que
9 Manual de Direito Penal Brasileiro Parte Geral. 5 ed. So Paulo: RT, 2004, p. 580.
10 Curso de Direito Penal Parte Geral. 6 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 454.
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fazem uso de bebida alcolica para fugir realidade que lhes impingida,
quando tais pessoas praticam crimes, devemos apurar e dividir essa
responsabilidade com a sociedade. A seu turno, a coculpabilidade s
avessas tem sido analisada sobre dois vieses, a saber: II.A) IDENTIFICAO
CRTICA DA SELETIVIDADE DO SISTEMA PENAL E INCRIMINAO DA VULNERABILIDADE. Por
esse prisma, a coculpabilidade s avessas diz respeito identificao
crtica da seletividade do sistema penal e incriminao da prpria
vulnerabilidade11. Nesse sentido, tendo em mira que o Direito Penal
direciona o seu arsenal punitivo contra os indivduos mais frgeis,
normalmente excludos da vida em sociedade e das atividades do Estado,
possvel visualizar a adoo invertida do conceito de coculpabilidade
pela legislao tanto na tipificao de condutas pela simples condio
social do agente, como no exemplo da contraveno penal vertida no art.
59 da Lei das Contravenes Penais (vadiagem), bem como nas benesses
legais12 concedidas aos autores de crimes contra o sistema tributrio, para
os quais o pagamento do tributo a qualquer tempo extingue a
punibilidade. Assim, sob esse ngulo, a coculpabilidade s avessas presta-
se a expr a perversa seletividade do sistema penal. Nas pegadas do que
giza GRGORE MOREIRA DE MOURA13, esse mote j pode ser encontrado na
legislao das seguintes formas: a) tipificando condutas dirigidas a
pessoas marginalizadas14; b) aplicando penas mais brandas aos
detentores do poder econmico15. II.B) REPROVAO PENAL MAIS SEVERA NO
TOCANTE AOS CRIMES PRATICADOS POR PESSOAS DOTADAS DE ELEVADO PODER ECONMICO.
A segunda acepo da coculpabilidade s avessas a que foi cobrada
na prova, sem excluir a primeira , compreende a possibilidade de que
sejam apenados com maior rigor os delitos cometidos por pessoas
inseridas em um contexto social e econmico mais privilegiado, que, em
11 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Geral. Vol I. 7 ed. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 463.
12 [...] o pagamento do tributo a qualquer tempo extingue a punibilidade quanto aos crimes contra a ordem tributria (HC n 232376/SP, 5 Turma do STJ, DJe 15.06.2012).13 Do Princpio da Co-culpabilidade. Niteri: Impetus, 2006, p. 44.14 o caso dos arts. 59 e 60 da Lei de Contravenes Penais, respectivamente, vadiagem e mendicncia.15 No Brasil temos esta hiptese no que tange aos efeitos da reparao do dano. Quanto aos ditos crimes comuns mera causa de diminuio de pena ou atenuante genrica, j nos crimes tributrios causa de extino da punibilidade, como no caso do art. 168-A do CP.
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razo de suas singulares condies socioculturais, possuem amplo
discernimento para identificar condutas ilcitas e optar ou no por pratic-
las. Assim sendo, tal como consignado na alternativa objeto de recurso, a
outra face da teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a
coculpabilidade s avessas, por meio da qual defende-se a
possibilidade de reprovao penal mais severa no tocante aos crimes
praticados por pessoas dotadas de elevado poder econmico, e que
abusam desta vantagem para a execuo de delitos. exatamente isso
que defende a doutrina que se debrua sobre o tema. A propsito, com o
objetivo de demonstrar o acerto da alternativa impugnada, cita-se o
magistrio do doutor em Direito Penal pela PUC/SP, CLEBER MASSON16, para
quem: A coculpabilidade s avessas tambm envolve a reprovao
penal mais severa no tocante aos crimes praticados por pessoas
dotadas de elevado poder econmico, e que abusam desta
vantagem para a execuo de delitos (tributrios, econmicos,
financeiros, contra a Administrao Pblica etc.), em regra, prevalecendo-
se das facilidades proporcionadas pelo livre trnsito nas redes de controle
poltico e econmico. Cuida-se da face inversa da coculpabilidade: se
os pobres, excludos e marginalizados merecem um tratamento
penal mais brando, porque o caminho da ilicitude lhes era mais
atrativo, os ricos e poderosos no tm razo nenhuma para o
cometimento de crimes. So movidos pela vaidade, por desvios de
carter e pela ambio desmedida, justificando a imposio da
pena de modo severo. [] Destarte, a punio mais rgida dever ser
alicerada unicamente na pena-base, levando em conta as circunstncias
judiciais desfavorveis [], com fulcro no art. 59, caput , do Cdigo
Penal. Questionando os fundamentos da teoria da coculpabilidade, PAULO
QUEIROZ17, aps dizer que que em verdade a chamada co-culpabilidade no
seno uma dimenso do prprio conceito de culpabilidade enquanto
circunstncia legal, a atenuar ou agravar a pena, insere em seu texto
uma nota de rodap para ressaltar que tanto assim que se fala de
16 Op. cit., p. 463. 17 Co-culpabilidade?. Disponvel em: http://pauloqueiroz.net/co-culpabilidade/
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co-culpabilidade s avessas, situao em que a pena seria
agravada. A possibilidade de reprovao penal mais severa no tocante
aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder econmico
(aventada na alternativa em anlise) foi muito bem retratada na obra de
GRGORE MOREIRA DE MOURA18, segundo o qual a co-culpabilidade s
avessas pode se manifestar na legislao de trs formas: a) [...];
b) []; c) como fator de diminuio e tambm de aumento da
reprovao social e penal. Tratando especificamente da terceira forma
de manifestao da coculpabilidade s avessas, GRGORE MOREIRA DE MOURA19
pioneiro na adoo da expresso coculpabilidade s avessas aduz:
Fazendo uma interpretao literal ou gramatical do art. 41 do Cdigo
Penal argentino, o legislador, ao tratar da co-culpabilidade,
permite que ela sirva tanto para agravar como para atenuar a pena,
uma vez que o art. 41 faz expressa referncia ao art. 40. O mesmo ocorre
no Anteprojeto de Reforma do Cdigo Penal da Costa Rica, bem como no
Cdigo Penal portugus. Da se nos afigura uma questo: possvel a
aplicao do princpio da co-culpabilidade como forma de maior
reprovao da conduta, isto , a reprovao penal daqueles que sempre
foram includos socialmente e tiveram boas condies culturais e
socioeconmicas no maior do que a dos socialmente excludos? Pela
interpretao literal do Cdigo Penal argentino, do Anteprojeto de
Reforma do Cdigo Penal da Costa Rica e do Cdigo Penal
Portugus, a resposta a nossa indagao seria positiva. Utilizando
a interpretao teleolgica, tentaremos conceber a co-
culpabilidade para aumentar a reprovao social e, por
conseguinte, elevar a pena. A co-responsabilidade estatal no
cometimento de determinados delitos varia de acordo com as condies
socioeconmicas e culturais do agende (incluso social em sentido amplo).
Quanto menor esta (incluso social) maior aquela (co-responsabilidade
estatal). Tomando por base o outro lado da moeda, teramos:
quanto melhor as condies socioeconmicas e culturais do
18 Do Princpio da Co-culpabilidade. Niteri: Impetus, 2006, p. 44-46.
19 Op. cit., p. 45-46.
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agente, menor a co-responsabilidade do estado; logo, maior a
reprovao social. No Brasil, temos disposies legais que
prevem indiretamente a co-culpabilidade para aumentar a
reprovao penal. Trata-se dos arts. 76, inciso IV, alnea a, da Lei n
8.078 e do art. 4, 2, da Lei n 1.521/51. Mais adiante, ao analisar a
doutrina de ANTNIO EVARISTO DE MORAES FILHO20 sobre o tema, GRGORE MOREIRA
DE MOURA21 arremata dizendo que: a interpretao dada pelo estudioso
demonstra que a co-culpabilidade tambm serviria para aumentar
a reprovao social do agente nos casos em que ele fosse includo
socialmente. Em concluso, para que nenhuma dvida paire sobre o
acerto da alternativa questionada, pode-se assistir no YouTube, no
programa Academia, da TV Justia, um interessante debate sobre a
multicitada dissertao Do Princpio da Co-culpabilidade. Na ocasio,
GRGORE MOREIRA DE MOURA exps taxativamente que, por meio da
coculpabilidade s avessas, pode-se defender uma reprovao penal mais
severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado
poder econmico. Os vdeos seguintes falam por si: Academia Co-
culpabilidade no direito penal (2/3) link:
http://www.youtube.com/watch?v=0vumhQUf5Gc (trecho: 9m a
9m25s); Academia Co-culpabilidade no direito penal (3/3) link: e
http://www.youtube.com/watch?v=kkNmDz65VG0 (trecho: 4m32s a
5m50s). A questo no reclama maiores digresses. Por todo o exposto,
percebe-se com clareza solar que a afirmao segundo a qual a outra
face da teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a
coculpabilidade s avessas, por meio da qual defende-se a possibilidade
de reprovao penal mais severa no tocante aos crimes praticados por
pessoas dotadas de elevado poder econmico, e que abusam desta
vantagem para a execuo de delitos, encontra-se em plena sintonia com
a doutrina especializada. Note-se, por curial, que a alternativa no
pretendeu esgotar tudo o que j se escreveu sobre a coculpabilidade s
avessas. O fato de o instituto tambm ser utilizado para que se promova
uma identificao crtica da seletividade do sistema penal, no afasta a
20 Apud NILO BATISTA. In: Introduo crtica ao Direito Penal brasileiro. 1990, p. 105.21 Do Princpio da Co-culpabilidade. Niteri: Impetus, 2006, p. 77.
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http://www.youtube.com/watch?v=kkNmDz65VG0http://www.youtube.com/watch?v=0vumhQUf5Gc
sua inconteste vocao terico-doutrinria para se permitir uma
reprovao penal mais severa no tocante aos crimes praticados por
pessoas dotadas de elevado poder econmico. Assim sendo, o
improvimento dos recursos medida de rigor. Fundamentao da
banca examinadora quanto ao segundo questionamento do
recurso n 82 no sentido de que assertiva de letra 'b', apontada
como correta pelo gabarito preliminar, seria incorreta:
Estranhamente o recorrente impugnou a alternativa fundamentando-se
em uma doutrina contrria a sua pretenso. Em outros termos, o
recorrente citou uma doutrina que confirma o acerto (e no o erro) da
assertiva impugnada. No fosse apenas isso bastante, com esteio nos
ensinamentos do prof. MARCELO ANDR22, digno membro do Ministrio Pblico
do Estado de Gois, impende estabelecer a diferena entre cifra negra e
cifra dourada da criminalidade. In ipsis litteris: Como as agncias de
criminalizao no possuem estrutura para realizar o programa
(criminalizao primria), acaba realizando apenas uma parcela, de sorte
que surge a chamada cifra oculta ou negra da criminalidade (diferena
dos crimes efetivamente ocorridos com a parcela que chega ao
conhecimento das instncias penais ou que so efetivamente punidos).
[] em relao aos crimes de colarinho branco (financeiros,
tributrios etc.) utiliza-se a expresso cifra dourada da
criminalidade. Na mesma linha intelectiva, colhe-se a lio de CLEBER
MASSON23:Nesses crimes socioeconmicos, surgem as 'cifras
douradas do Direito Penal', indicativas da diferena apresentada
entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida e
enfrentada pelo Estado. Raramente existem registros envolvendo
delitos desta natureza, inviabilizando a persecuo penal e acarretando a
impunidade das pessoas privilegiadas no mbito econmico. Em
arremate, ANA KARLA VIANA24 verbera: [] Mas o que a populao precisa
precisa saber que os crimes socioeconmicos causam danos to
22 Direito Penal Parte Geral. 3 ed. Salvador: Jus Podivm, 2013, p. 294.23 Direito Penal Parte Geral. Vol. 1. 7 ed. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 212/213.
24 Contributo para um incremento no combate aos crimes de colarinho branco. Disponvel em: http://profeduardoviana.wordpress.com/2010/05/17/contributo-para-um-incremento-no-combate-aos-crimes-de-colarinho-branco/
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graves quanto os crimes tradicionais. Apenas para uma referncia,
em 2003, a sonegao estimada pelo valor no declarado de
faturamento foi de R$ 748,35 bilhes. Para 2008, o IBPT (Instituto
Brasileiro de Planejamento Tributrio) apontou que a soma dos tributos
sonegados corresponde a 9% do PIB brasileiro, traduzindo em nmeros
mais claros, a sonegao atingiu a marca de R$ 1,32 trilho. Este dado
demonstra, no mnimo, que sobre os delitos econmicos pairam as
'cifras douradas' da criminalidade, ou seja, a diferena entre a
criminalidade que realmente se apresenta no mundo dos fatos e
aquela que chega ao conhecimento e persecuo das instncias
formais de controle social. Por todo o exposto, nota-se facilmente que
a alternativa impugnada no merece ser reformada, sendo absolutamente
correta a assero segundo a qual: a diferena apresentada entre a
criminalidade real e a criminalidade conhecida e enfrentada pelos rgos
formais de represso (Ministrio Pblico, Judicirio e Polcia), nos crimes
socioeconmicos, chamada de cifra dourada. Assim sendo, o
improvimento dos recursos medida de rigor.
Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento aos recursos.
RECURSOS N. 66, 80, 97 e 113
Questo recorrida: 18
Sntese dos recursos: os recorrentes impugnam a assertiva 'b' da questo
18, que diz: B) o oferecimento de dinheiro ou qualquer outra vantagem a
perito oficial para que este falseie o contedo de seu trabalho pericial
configura o crime previsto no art. 343 do Cdigo Penal, apelidado
doutrinria e jurisprudencialmente de corrupo ativa de testemunha ou
perito. Em suma, os recorrentes buscaram demonstrar que a alternativa
questionada seria correta e no errada, como considerou a banca
examinadora , sob os seguintes argumentos: a) para que o crime do
artigo 343 seja configurado basta que a pessoa subornada tenha a
qualidade de perito, testemunha, contador, tradutor, ou intrprete, no
momento da ao (recursos n 80 e 97); b) o delito vertido no art. 343
do Cdigo Penal tem, de fato, o apelido doutrinrio e jurisprudencial de
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corrupo ativa de testemunha ou perito (recurso n 66); c) no h
qualquer erro no contedo da assertiva 'b' da questo n 18 (recurso n
113). O recurso n.113 diz, ainda, que a assertiva tida como correta, de
letra 'c', guarda concluso que destoa da legislao vigente e dos
ensinamentos da doutrina: [...] mostra-se equivocada a compreenso de
que Josef K, na situao hipottica descrita, tenha praticado apenas o
crime delineado no artigo 157, 2, inciso V, do Cdigo Penal,
especialmente, por ter havido a destruio do veculo []. A destruio do
veculo no pode ser um indiferente penal ou, muito menos, um mero
exaurimento do crime de roubo. Poderia muito bem Josef K. ter se
limitado a subtrair o veculo, sem, necessariamente, t-lo destrudo (sic).
Fundamentao da banca examinadora: Indo direto ao ponto, o que
torna a alternativa em foco ('b') errada a expresso oficial. Isso
porque, o perito a que a lei se refere [no art. 343, CP] o
particular. Caso se trate de perito oficial, o crime o de corrupo
ativa comum (art. 333), pois o destinatrio da oferta ou promessa
funcionrio pblico.25 Portanto, [...] na hiptese de dinheiro ou
qualquer outra vantagem entregue, oferecida ou prometida a perito,
contador, tradutor ou intrprete oficial, estar caracterizado o crime de
corrupo ativa (CP, art. 333), em face da condio funcional de tais
pessoas.26 Fundamentao da banca examinadora quanto
segunda irresignao do recurso n.113: Antes de mais nada, calha
destacar que dolo a vontade livre e consciente dirigida a realizar
a conduta prevista no tipo penal incriminador27. Ora, no exemplo
citado na alternativa impugnada possvel notar a presena desses dois
momentos do dolo na conduta de Josef K., quais sejam: vontade livre (de
subtrair o veculo da vtima para si) e conscincia (dos elementos
objetivos do tipo). A alegao recursal no sentido de que teria faltado, no
exemplo, o elemento objetivo para si, previsto no caput do art. 157 do
Cdigo Penal, soa, no mnimo, equivocada. Como pode-se notar pelo
25 VICTOR EDUARDO RIOS GONALVES. Direito Penal Esquematizado Parte Especial. 2 ed. So Paulo: Saraiva, 2012, p. 803.26 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Especial. Vol III. 3 ed., So Paulo: Mtodo, 2013, p. 881.27 ROGRIO GRECO. Curso de Direito Penal Parte Geral. 4 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004, p. 200.
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excerto infra, aps agir violentamente contra a vtima, Josef K. colocou-a
em liberdade e fugiu com o seu veculo: [...] atacou seu inimigo com
algumas bofetadas, subjugou-o e fez com que ele dirigisse por alguns
quilmetros at coloc-lo em liberdade, para, ento, fugir com o seu
veculo [...]. No se pode olvidar, ainda, que o esprito de vingana
no desnatura a conduta criminosa do agente. De igual maneira, o fato de
Josef K. no visar a obteno de lucro com o veculo subtrado (o que fica
claro em razo de sua destruio) no desconfigura o crime de roubo.
Isso porque, para a consumao do art. 157 do Cdigo Penal,
prescinde-se da inteno de lucro (animus lucrandi). Alm disso,
irrelevante o motivo [vingana] do crime.28 Demais disso, [...] a
jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal no sentido de que,
para a consumao do crime de furto ou de roubo basta a sada,
ainda que breve, do bem da chamada esfera de vigilncia da
vtima (v.g., HC n 89.958/SP, Rel. Min. Seplveda Pertence, 1 Turma,
unnime, j. 03.04.2007, DJ 27.04.2007). 3. Habeas corpus denegado.
(HC n 113.563/SP, 1 Turma do STF, Rel. Rosa Weber. DJe
19.03.2013). Portanto, de se considerar consumado o roubo
quando o agente, cessada a violncia ou a grave ameaa, inverte a
posse da coisa subtrada (HC n 95.998-9/SP, 1 Turma do STF, Rel.
Carlos Britto. DJe 12.06.2009). Assim sendo, no h como negar a
consumao do crime de roubo, em razo de ter o agente Josef K.
subtrado para si (fugiu com a res), mediante violncia (bofetadas), bem
alheio (veculo). Acerca da causa de aumento de pena delineada no art.
157, 2, inciso V (se o agente mantm a vtima em seu poder,
restringindo sua liberdade), do Cdigo Penal, a sua incidncia decorre da
seguinte narrativa: [...] subjugou-o e fez com que ele dirigisse por
alguns quilmetros at coloc-lo em liberdade. Nesse sentido, citando
exemplo assaz semelhante ao que foi cobrado na prova, CLEBER MASSON29
apregoa: Observe-se, porm, que a espcie de extorso prevista no art.
158, 3, do Cdigo Penal no derrogou a modalidade de roubo
circunstanciado definida pelo art. 157, 2, inciso V, do Cdigo Penal.
28 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Especial. Vol. II. 5 ed. So Paulo: Mtodo, p. 339.29 Direito Penal Parte Especial. Vol. II. 5 ed. So Paulo: Mtodo, p. 461.
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Estar configurado o roubo quando o agente restringir a liberdade da
vtima, mantendo-a em seu poder, para subtrair seu patrimnio. Nessa
hiptese, possvel o criminoso apoderar-se da coisa alheia mvel
independentemente da efetiva colaborao da vtima. o que se d,
exemplificativamente, quando o sujeito subjuga a pessoa que
estava no interior do seu automvel, parado em um semforo,
ingressa no veculo e faz com que ela dirija por alguns quilmetros
at ser colocada em liberdade [...]. Por ltimo, no h falar em
concurso com o crime de dano (art. 163 do Cdigo Penal) e, muito menos,
apenas na configurao exclusiva desse delito. Entender dessa maneira
seria ferir de morte o princpio da consuno, tantas vezes invocado
para a soluo dos conflitos aparentes de normas. No ponto, o imortal
mestre NLSON HUNGRIA30 lecionava que um fato, embora configure
crime, pode deixar de ser punvel quanto anterior ou posterior
(straflose vor und nachtat) a outro crime mais grave. Para HUNGRIA,
a consuno por post factum impunvel poderia ocorrer, por exemplo, []
quando a leso ao bem jurdico acarretada pelo crime anterior torna
indiferente o fato posterior: ulteriormente ao furto, o ladro destri a
res furtiva (responder pelo crime de furto, e no tambm pelo de
dano). A lio supratranscrita foi apreendida por toda a doutrina. A
propsito, didticos so os esclarecimentos do prof. MARCELO ANDR31 sobre o
que chamou de fato posterior no punvel: [...] sempre que o fato
posterior (eventual crime posterior) se referir ao mesmo bem jurdico e
mesma vtima, ficar absorvido pelo primeiro (crime anterior), uma vez
que j houve a lesividade ao bem jurdico. Ex.: o agente destri a coisa
furtada. No responder pelo crime de dano (art. 163). Ante o
exposto, o improvimento do recurso medida de rigor, devendo-se o
gabarito oficial permanecer inalterado. Ante o exposto, no h como
aparar os presentes recursos, sendo o improvimento medida de rigor.
Deciso da Comisso de Concurso : A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento aos recursos.
30 Comentrios ao Cdigo Penal. Vol. I, Tomo I, 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 148.31 Direito Penal Parte Geral. 2 ed. Salvador: Jus Podivm, 2011, p. 114.
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RECURSOS N. 14, 58, 73, 106 e 116
Questo recorrida: 18
Sntese dos recursos: os recorrentes impugnam a assertiva 'c' da questo
18, que diz: C) Josef K., aps ser preso injustamente, nutrindo um dio
profundo pelo seu delator, resolveu fazer justia pelas prprias mos
assim que foi colocado em liberdade. Dessarte, em determinada situao,
Josef K. percebeu que seu delator conversava tranquilamente ao celular
dentro de seu automvel que se encontrava estacionado. Nesse instante,
de sbito, Josef abriu a porta do veculo, atacou seu inimigo com algumas
bofetadas, subjugou-o e fez com que ele dirigisse por alguns quilmetros
at coloc-lo em liberdade, para, ento, fugir com o seu veculo e, enfim,
destru-lo. Nesse cenrio, Josef K. responder apenas pelo crime
delineado no art. 157, 2, inciso V, do Cdigo Penal. Em suma, os
recorrentes buscaram demonstrar que a alternativa questionada seria
errada e no correta, como considerou a banca examinadora , sob
os seguintes argumentos: Recurso n 14: A inteno de Josef era
causar dano ao patrimnio de seu desafeto, portanto, cometera o crime
do artigo 163, pargrafo nico, I do CP (sic); Recurso n 58: Josef K.
no teria agido com dolo em relao ao roubo, ao contrrio, o nimo
demonstrado foi apenas o de 'vias de fato' e constrangimento com intuito
de vingana e, no mximo, o posterior dolo de dano coisas (sic);
Recurso n 73: Josef K. no teria agido com dolo em relao ao roubo,
mas somente com relao ao dano. O recorrente ainda sugere outra
concluso: o que se poderia cogitar a existncia de delito praticado em
concurso formal ou material a depender do entendimento do intrprete
com o de dano qualificado, como constrangimento ilegal, ou sequestro
(sic). Recurso n 106: Josef K. estava imbudo no esprito de vingana
(ad vindictam), bem como destruio do veculo (animus nocendi), mas
no teve como constatar a finalidade de subtrao (animus furandi) (sic).
Pode-se afirmar que o Josef K aproxima-se mais do concurso material de
crimes de sequestro (art. 148) e dano qualificado pela violncia (art. 163,
pargrafo nico, inciso I do CP) (sic). Recurso n 116: A narrao do
fato no destaca o dolo do agente em subtrair para si o carro da vtima,
mediante violncia e grave ameaa. Trata-se de uma vingana, em que o
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agente pretendia destruir o automvel do delator. [] Embora tenha
havido constrangimento, dano, no que se falar em roubo (sic).
Fundamentao da Banca Examinadora: Nenhum dos fundamentos
recursais tem fora suficiente para modificar o gabarito oficial da
alternativa questionada. Antes de mais nada, calha destacar que dolo
a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta prevista
no tipo penal incriminador32. Ora, no exemplo citado na alternativa
impugnada possvel notar a presena desses dois momentos do dolo na
conduta de Josef K., quais sejam: vontade livre (de subtrair o veculo da
vtima para si) e conscincia (dos elementos objetivos do tipo). A
alegao recursal no sentido de que teria faltado, no exemplo, o elemento
objetivo para si, previsto no caput do art. 157 do Cdigo Penal, soa, no
mnimo, equivocada. Como pode-se notar pelo excerto infra, aps agir
violentamente contra a vtima, Josef K. colocou-a em liberdade e fugiu
com o seu veculo: [...] atacou seu inimigo com algumas bofetadas,
subjugou-o e fez com que ele dirigisse por alguns quilmetros at coloc-
lo em liberdade, para, ento, fugir com o seu veculo [...]. No se
pode olvidar, ainda, que o esprito de vingana no desnatura a conduta
criminosa do agente. De igual maneira, o fato de Josef K. no visar a
obteno de lucro com o veculo subtrado (o que fica claro em razo de
sua destruio) no desconfigura o crime de roubo. Isso porque, para a
consumao do art. 157 do Cdigo Penal, prescinde-se da inteno de
lucro (animus lucrandi). Alm disso, irrelevante o motivo
[vingana] do crime.33 Demais disso, [...] a jurisprudncia do
Supremo Tribunal Federal no sentido de que, para a consumao
do crime de furto ou de roubo basta a sada, ainda que breve, do
bem da chamada esfera de vigilncia da vtima (v.g., HC n
89.958/SP, Rel. Min. Seplveda Pertence, 1 Turma, unnime, j.
03.04.2007, DJ 27.04.2007). 3. Habeas corpus denegado. (HC n
113.563/SP, 1 Turma do STF, Rel. Rosa Weber. DJe 19.03.2013).
Portanto, de se considerar consumado o roubo quando o agente,
32 ROGRIO GRECO. Curso de Direito Penal Parte Geral. 4 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004, p. 200.
33 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Especial. Vol. II. 5 ed. So Paulo: Mtodo, p. 339.
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cessada a violncia ou a grave ameaa, inverte a posse da coisa
subtrada (HC n 95.998-9/SP, 1 Turma do STF, Rel. Carlos Britto.
DJe 12.06.2009). Assim sendo, no h como negar a consumao do
crime de roubo, em razo de ter o agente Josef K. subtrado para si (fugiu
com a res), mediante violncia (bofetadas), bem alheio (veculo). Acerca
da causa de aumento de pena delineada no art. 157, 2, inciso V (se o
agente mantm a vtima em seu poder, restringindo sua liberdade), do
Cdigo Penal, a sua incidncia decorre da seguinte narrativa: [...]
subjugou-o e fez com que ele dirigisse por alguns quilmetros at coloc-
lo em liberdade. Nesse sentido, citando exemplo assaz semelhante ao
que foi cobrado na prova, CLEBER MASSON34 apregoa: Observe-se, porm,
que a espcie de extorso prevista no art. 158, 3, do Cdigo Penal no
derrogou a modalidade de roubo circunstanciado definida pelo art. 157,
2, inciso V, do Cdigo Penal. Estar configurado o roubo quando o
agente restringir a liberdade da vtima, mantendo-a em seu poder, para
subtrair seu patrimnio. Nessa hiptese, possvel o criminoso apoderar-
se da coisa alheia mvel independentemente da efetiva colaborao da
vtima. o que se d, exemplificativamente, quando o sujeito
subjuga a pessoa que estava no interior do seu automvel, parado
em um semforo, ingressa no veculo e faz com que ela dirija por
alguns quilmetros at ser colocada em liberdade [...]. Por ltimo,
no h falar em concurso com o crime de dano (art. 163 do Cdigo Penal)
e, muito menos, apenas na configurao exclusiva desse delito. Entender
dessa maneira seria ferir de morte o princpio da consuno, tantas
vezes invocado para a soluo dos conflitos aparentes de normas. No
ponto, o imortal mestre NLSON HUNGRIA35 lecionava que um fato, embora
configure crime, pode deixar de ser punvel quanto anterior ou
posterior (straflose vor und nachtat) a outro crime mais grave.
Para HUNGRIA, a consuno por post factum impunvel poderia ocorrer, por
exemplo, [] quando a leso ao bem jurdico acarretada pelo crime
anterior torna indiferente o fato posterior: ulteriormente ao furto, o
ladro destri a res furtiva (responder pelo crime de furto, e no
34 Direito Penal Parte Especial. Vol. II. 5 ed. So Paulo: Mtodo, p. 461.35 Comentrios ao Cdigo Penal. Vol. I, Tomo I, 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 148.
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tambm pelo de dano). A lio supratranscrita foi apreendida por toda
a doutrina. A propsito, didticos so os esclarecimentos do prof. MARCELO
ANDR36 sobre o que chamou de fato posterior no punvel: [...] sempre
que o fato posterior (eventual crime posterior) se referir ao mesmo bem
jurdico e mesma vtima, ficar absorvido pelo primeiro (crime
anterior), uma vez que j houve a lesividade ao bem jurdico. Ex.: o
agente destri a coisa furtada. No responder pelo crime de dano
(art. 163). Ante o exposto, o improvimento dos recursos medida de
rigor, devendo-se o gabarito oficial permanecer inalterado.
Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento aos recursos.
RECURSO N. 88
Questo recorrida: 19
Sntese do recurso: o recorrente impugna a assertiva 'd' da questo 19,
considerada 'errada' no gabarito preliminar, cujo enunciado o seguinte:
"D) a participao de menor importncia e a cooperao dolosamente
distinta so institutos adstritos aos casos de participao, no tendo
incidncia em se tratanto de coautoria."O recorrente discordou do
gabarito oficial afirmando que: Quanto participao de menor
importncia, induvidosa a sua aplicao apenas ao partcipe. No tocante
cooperao dolosamente distinta, outra soluo no parece correta [...].
Fundamentao da Banca Examinadora: Para fundamentar seu ponto
de vista no sentido de que a cooperao dolosamente distinta somente
teria lugar em se tratando de participao , o recorrente citou trechos
das obras de Mirabete e Delmanto. No entanto, como se ver, as
mencionadas doutrinas no foram lidas em sua completude pelo
recorrente e, assim, no tm fora suficiente para impulsionar uma
alterao do gabarito oficial. No se discute que a "participao de menor
importncia" (art. 29, 1, do Cdigo Penal) um instituto adstrito aos
casos de participao, no tendo incidncia em se tratanto de coautoria
(com isso concorda o recorrente). Por outro lado, a "cooperao
dolosamente distinta" ou "desvios subjetivos" (art. 29, 2, do Cdigo
36 Direito Penal Parte Geral. 2 ed. Salvador: Jus Podivm, 2011, p. 114.
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Penal) compatvel tanto com os casos de participao como com os de
coautoria, como indica o dispositivo legal: "Se algum dos concorrentes
quis participar de crime menos grave, ser-lhe- aplicada a pena deste;
essa pena ser aumentada at a metade, na hiptese de ter sido
previsvel o resultado mais grave." Nesse sentido, ganha especial relevo a
doutrina de ROGRIO GRECO37, um dos maiores expoentes do Ministrio
Pblico brasileiro: "Merece destaque o fato de que o 2 do art. 29 do
Cdigo Penal permite tal raciocnio tanto nos casos de co-autoria
como nos de participao (moral e material). O pargrafo comea a
sua redao fazendo meno a 'alguns dos concorrentes', no limitando
a sua aplicao to-somente aos partcipes. [...] Deve ser frisado,
portanto, que a frase 'quis participar de crime menos grave' no
diz respeito exclusivamente participao em sentido estrito,
envolvendo somente os casos de instigao e cumplicidade, mas sim em
sentido amplo, abrangendo todos aqueles que, de qualquer modo,
concorreram para o crime, estando a includos autores (ou co-
autores) e partcipes." No diverso o entendimento do magistrado
GUILHERME DE SOUZA NUCCI38: "Particiao em crime menos grave
(cooperao dolosamente distinta): trata-se de um benefcio criado ao
acusado, pois, como dizia Florian, possvel haver 'desvios subjetivos'
entre os co-autores ou partcipes. A lei utiliza o termo 'concorrente', o
que permite supor ser possvel aplicar o disposto neste pargrafo
tanto a co-autores, como aos partcipes." No mesmo caminho, DAMSIO
DE JESUS39 professa: "Diz o 2 do art. 29 do CP que, 'se algum dos
concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- aplicada a
pena deste; essa pena ser aumentada at a metade, na hiptese de ter
sido previsvel o resultado mais grave'. Esse dispositivo cuida da
hiptese de o autor principal cometer delito mais grave que o
pretendido pelo partcipe ou co-autor." At mesmo no afamado
Cdigo Penal Comentado citado pelo recorrente, encontra-se
sacramentado esse posicionamento, bem defendido pelos DELMANTO40:
37 Curso de Direito Penal Parte Geral. Vol I. 6 ed. Niteri: Impetus, 2006, p. 496-497.38 Cdigo Penal Comentado. 5 ed. So Paulo: RT, 2005, p. 251.39 Direito Penal Parte Geral. Vol. I. 28 ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 431.40 Cdigo Penal Comentado. 6 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 62-63.
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"Tratando do concurso de pessoas, o caput deste art. 29, ao usar a
expresso 'quem, de qualquer modo, concorre para o crime', abrange
tanto o co-autor quanto o partcipe, que respondero 'na medida de sua
culpabilidade'. J o 1, ao empregar o termo 'participao de menor
importncia', est se referindo apenas ao partcipe e no ao co-autor, pois
no pode existir 'co-autoria de menor importncia'. Por sua vez, o 2,
embora utilize o verbo 'participar, o faz em sentido amplo,
abrangendo tanto o co-autor quanto o partcipe, j que de sua
redao consta expressamente o termo concorrentes ', verbis : 'Se
um dos concorrentes quis participar ...' [...]." Noutro giro, verdade
que o saudoso MIRABETE41 chegou a afirmar que o art. 29, 2, refere-se
apenas ao partcipe e no ao co-autor. Todavia, o prprio mestre se
inclinou diante do entendimento diverso ou seja, pela aplicabilidade do
art. 29, 2, CP tanto aos casos de participao como de coautoria
trilhado pela jurisprudncia e, em especial, vista da teoria do
domnio do fato. A transcrio abaixo no deixa dvidas a esse respeito:
"[...] mesmo sendo o agente co-autor, se, durante a execuo de
um crime, afasta-se do local, deixando de colaborar com o fato
(furto, por exemplo), no pode ser responsabilizado pelos atos
subsequentes, para os quais no concorreu (roubo ou latrocnio).
O mesmo se pode dizer, por exemplo, no caso do agente que, para a
prtica de um furto ou roubo, apenas transporta os autores e co-autores
ao local do crime, que acaba se transformando em latrocnio enquanto
permanece de vigia. Tais solues, diante do art. 29, 2, se
justificam se adotada a teoria do domnio do fato." Destarte, reina
unssono da doutrina e na jurisprudncia42 o entendimento no sentido
de que o art. 29, 2, do Cdigo Penal pode ser aplicado tanto s
hipteses de participao como s de coautoria (da porque a
alternativa recorrida foi considerada errada pela banca examinadora).
41 Manual de Direito Penal. 24 ed. So Paulo: Atlas, 2007, p. 236-237.
42 Quando se trata da hiptese em que um dos concorrentes quis participar de crime menos grave do que aquele que acabou sendo cometido pelo outro concorrente, cada qual responde de acordo com o que quis, isto , de conformidade com o seu dolo. Portanto, embora responsvel pelo fato, no est o co-autor sujeito mesma pena, que ser diferenciada pelo Juiz de acordo com a ao de cada um no evento (TJMG, Rel. Des. Costa Loures. RTJE 88/155).
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Ante o exposto, o improvimento do recurso medida de rigor."
Deciso da Comisso de Concurso : A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento ao recurso.
RECURSOS N. 13 e 130
Questo recorrida: 22
Sntese dos recursos: os recorrentes buscaram demonstrar que a
alternativa 'a' seria correta e no errada, como considerou a banca
examinadora , sob os seguintes argumentos: Recurso n 13: o
concurso de pessoas no crime de roubo pode ser comprovado por cmeras
de segurana, tendo em vista que se trata de prova lcita, sendo
prescindvel a identificao do co-ru (sic). Recurso n 130: o que
consta na assertiva 'A' tambm est correto, pois descreve uma conduta
permitida ao magistrado, desde que observada a questo do aditamento
da inicial acusatria, atravs da 'mutatio libelli'.
Fundamentao da Banca Examinadora: Nenhum dos fundamentos
recursais tem fora suficiente para modificar o gabarito oficial da
alternativa questionada. Conforme bem disse o autor do recurso n 130,
a possibilidade de condenao do ru (Olmpio) pela prtica de roubo
circunstanciado, na hiptese descrita na alternativa recorrida, seria
possvel, apenas e to somente, se observado o procedimento da
mutatio libelli previsto no art. 384 e pargrafos do Cdigo de Processo
Penal: Art. 384. Encerrada a instruo probatria, se entender
cabvel nova definio jurdica do fato, em conseqncia de prova
existente nos autos de elemento ou circunstncia da infrao
penal no contida na acusao, o Ministrio Pblico dever aditar
a denncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta
houver sido instaurado o processo em crime de ao pblica, reduzindo-se
a termo o aditamento, quando feito oralmente. [] Haveria malferimento
ao art. 129, inciso I, da Constituio da Repblica (mola propulsora do
sistema acusatrio), alm de ntida violao aos princpios do
contraditrio, da ampla defesa e da correlao entre a acusao e a
sentena se, conforme afirmado na alternativa impugnada, ao final do
processo, plenamente convencido do concurso de pessoas, o magistrado
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simplesmente condenasse o ru pela prtica do crime de roubo
circunstanciado (art. 157, 2, II, do Cdigo Penal), deixando de
observar o procedimento supracitado (mutatio libelli). Nesse sentido o
entendimento jurisprudencial: APELAO CRIMINAL. SUPRESSO DE
DOCUMENTO. CONDENAO PELA PRTICA DO DELITO DE FURTO.
MUTATIO LIBELLI. VIOLAO DO PRINCPIOS DA CORRELAO ENTRE A
DENNCIA E SENTENA. NULIDADE DA SENTENA. 1) Se o magistrado
condena o acusado por crime no narrado na denncia, sem
observar o disposto no artigo 384 do Cdigo de Processo Penal, a
sentena condenatria deve ser nulificada, por evidente afronta
aos princpios da correlao entre a denncia e a sentena, do
contraditrio e da ampla defesa. 2) Recurso conhecido e provido,
declarando a nulidade da sentena, a fim de que no juzo a quo sejam
aplicadas as medidas descritas no artigo 384 do Cdigo de Processo Penal.
(Apelao n 36741-15.2011.8.09.0006 (201190367416), 1 Cmara
Criminal do TJGO, unnime, DJe 06.12.2012). Por fim, ao lecionar sobre
aditamento denncia, o notvel processualista RENATO BRASILEIRO LIMA43
exemplifica: "[...] suponha-se que determinado indivduo tenha sido
denunciado pela prtica do crime de roubo simples (CP, art. 157, caput).
Porm, no curso da instruo processual, descobre-se que o crime fora
cometido mediante o concurso de outra pessoa, cuja identidade, porm,
no foi obtida. Se, ao final do processo, o magistrado estiver plenamente
convencido de que o delito fora cometido mediante concurso de duas
pessoas, poder condenar o acusado pela prtica do crime de roubo
circunstanciado (CP, art. 157, 2, II)? Evidentemente que no, sob
pena de violao aos princpios do contraditrio, da ampla defesa
e da correlao entre a acusao e sentena." Ante o exposto, o
improvimento dos recursos medida de rigor, devendo-se o gabarito
oficial permanecer inalterado.
Deciso da Comisso de Concurso : Verifica-se que a assertiva
questionada tem a seguinte redao: "A) Olmpio foi denunciado pela
prtica do crime de roubo simples (art. 157, caput, do Cdigo Penal).
43 Curso de Processo Penal. Niteri: Impetus, 2013, p. 270. Nota : o exemplo citado serviu de inspirao para a elaborao da alternativa fustigada.
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Todavia, no curso da instruo processual, o Ministrio Pblico juntou aos
autos do processo penal uma mdia contendo uma filmagem captada por
uma cmera de segurana que demonstra claramente que o crime foi
cometido em concurso com outra pessoa, cuja identidade, porm, no foi
obtida. Ao final do processo, plenamente convencido do concurso de
pessoas, pode o magistrado condenar o ru pela prtica do crime de
roubo circunstanciado (art. 157, 2, II, do Cdigo Penal)." Logo, patente
que o enunciado no menciona a adoo do procedimento da mutatio
libelli previsto no art. 384 e pargrafos do Cdigo de Processo Penal, no
se podendo presumir que ele tenha ocorrido para tomar a assertiva como
correta. Noutro vrtice, o ponto nodal da questo passa ao largo de
validade ou no de prova e identificao de corru. Destarte, a Comisso
de Concurso acolhe, integralmente, como razo de decidir, os argumentos
apresentados pela banca examinadora, e nega provimento aos
recursos.
RECURSOS N. 07 e 128
Questo recorrida: 29
Sntese dos recursos: os recorrentes buscaram demonstrar que a
alternativa 'b' guarda contedo correto e no errado, como
considerou a banca examinadora , sob os seguintes
argumentos:Recurso n 07: a alternativa 'b' est correta, pois trata-se
de causa relativamente independente e concomitante a conduta do
agente, que se encontra na linha de desdobramento da conduta, isto ,
no exclui o nexo causal, o agente responde por seus atos praticados
(latrocnio), tendo em vista que a morte da vtima foi provocada em
razo da grave ameaa em que foi submetida durante o roubo (sic).
Recurso n 128: [...] o que consta na assertiva est correto,
porquanto, uma vez presente causa concomitante relativa independente,
o sujeito responde pelo crime consumado. Desta forma, o autor do fato
responde sim pelo crime de latrocnio.
Fundamentao da Banca Examinadora: Nenhum dos fundamentos
recursais tem fora suficiente para modificar o gabarito oficial da
alternativa questionada, e a razo para tanto extremamente simples:
no h falar em latrocnio quando o evento morte advm de
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grave ameaa, conforme o caso hipottico apresentado na alternativa
recorrida (durante um assalto, a vtima, apavorada com a arma de fogo
que lhe apontada, morre de ataque cardaco). Esse entendimento
encontra substrato na prpria descrio do tipo que exige, para a sua
configurao, que o evento morte advenha da violncia empregada: Art.
157, 3, CP. Se da violncia resulta leso corporal grave, a pena de
recluso, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, alm da multa; se resulta
morte, a recluso de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuzo da
multa. Sobre o ponto, vale conferir o magistrio sempre preciso de VICTOR
EDUARDO RIOS GONALVES44: "So requisitos do latrocnio: a) que a morte
seja decorrente da violncia empregada pelo agente; b) que a
violncia causadora da morte tenha sido empregada durante o contexto
ftico do roubo; c) que haja nexo causal entre a violncia provocadora da
morte e o roubo em andamento (violncia empregada em razo do
roubo). [...] Ao contrrio, existem casos noticiados pela imprensa,
em que o agente cometeu roubo exclusivamente por meio de
grave ameaa, apontando uma arma para a vtima, que, diante do
quadro, acabou se assuntando de uma tal maneira que morreu de ataque
cardaco. Em tal situao, na qual a morte decorreu de grave
ameaa, simplesmente no h enquadramento no tipo penal do
latrocnio, devendo o ladro responder por roubo agravado pelo
emprego da arma em concurso formal com homicdio culposo [...]."
Na mesma direo, os Promotores de Justia MARCELO ANDR e ALEXANDRE
SALIM45, com a didtica que lhes caracteriza, asseveram que, para haver
latrocnio, "a morte deve resultar da violncia empregada durante a
execuo e em razo do roubo. [...] Se a morte decorrer da grave
ameaa, no haver latrocnio. Nesse caso, poder haver concurso de
crimes de roubo e homicdio, doloso ou culposo, dependendo das
circunstncias (Bitencourt, Nucci e Capez)." Em linhas conclusivas, de se
notar que o autor do recurso n 128 citou um julgado do Tribunal de
Justia do Paran com o escopo de fundamentar o seu ponto de vista,
44 Direito Penal Esquematizado Parte Especial. 2 ed., So Paulo: Saraiva, 2012, p. 375-376.45 Direito Penal Parte Especial. 2 ed. Salvador: Jus Podivm, 2013, p. 319.
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sem perceber, no entanto, que o caso apreciado por aquela Corte de
Justia dizia respeito a um tpico exemplo de latrocnio, ou seja: roubo
exercido com violncia fsica (e no grave ameaa) da qual resulta
morte (a morte da vtima em decorrncia de infarto no momento em
que estava sendo asfixiada [violncia] pelo agente causa
relativamente independente que no exclui o nexo causal entre a conduta
do ru e o resultado - excertos da citada ementa). Logo, o precedente
citado pelo recorrente infirma a sua tese e confirma a anttese
apresentada nessas contrarrazes. Ante o exposto, o improvimento do
recurso medida de rigor, devendo-se o gabarito oficial permanecer
inalterado.
Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento aos recursos.
RECURSO N. 134
Questo recorrida: 30
Sntese do recurso: o recorrente pretendeu demonstrar que a alternativa
'a' da questo 30 seria correta e no errada, como considerou a
banca examinadora , com esteio na seguinte argumentao:As
infraes penais liliputianas (crime ano ou contraveno penal), em regra
sofrem mesmo a incidncia dos institutos despenalizadores previstos na
Lei 9.099/95, mas h pelo menos uma exceo: as contravenes penais
praticadas no mbito domstico contra a mulher.
Fundamentao da Banca Examinadora: Eis o enunciado da
alternativa impugnada: "A) nem todas as infraes penais liliputianas
admitem, em tese, a incidncia dos institutos despenalizadores previstos
na Lei n 9.099/95." Em conformidade com o Gabarito Oficial divulgado
por meio do Comunicado 007/2013-CC, a assertiva foi considerada
errada. Por dissentir do Gabarito Oficial, foi apresentado o recurso de
n 134. O recorrente pretendeu demonstrar que a alternativa
questionada seria correta e no errada, como considerou a banca
examinadora. () O raciocnio desenvolvido pelo recorrente no tem o
condo de alterar o gabarito oficial da alternativa questionada.
Primeiramente, insta sublinhar que infrao penal liliputiana o nome
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doutrinrio reservado s contravenes penais46. Apreendida esta
conceituao, convm observar que, na esteira do art. 61 da Lei n
9.099/95, consideram-se infraes penais de menor potencial
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenes penais e os
crimes a que a lei comine pena mxima no superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou no com multa. Ora, por imposio legal, todas as
contravenes penais previstas no Decreto-Lei n 3.688/41 (Lei das
Contravenes Penais) so consideradas infraes de menor potencial
ofensivo. Exatamente por isso, correto afirmar que todas as infraes
penais liliputianas admitem, "em tese" (e no "em concreto"), a
aplicao dos institutos despenalizadores previstos na Lei n 9.099/95.
Noutro giro, absolutamente "errado" afirmar que "nem todas as
infraes penais liliputianas admitem, em tese, a incidncia dos institutos
despenalizadores previstos na Lei n 9.099/95", haja vista que todas as
infraes penais catalogadas na Lei de Contravenes Penais (infraes
liliputianas) admitem sim, em tese, ou seja, abstratamente, a
composio civil (art. 74 da Lei n 9.099/95), a transao penal (art. 76
da Lei n 9.099/95) e a suspenso condicional do processo (art. 89 da Lei
n 9.099/95). No h exceo alguma. Em "concreto" (hiptese que no
foi objeto de questionamento no certame), no entanto, vrias so as
situaes (e no apenas a mencionada pelo recorrente) que podem fazer
com que os institutos despenalizadores previstos pela Lei dos Juizados
Especiais Criminais deixem de ser aplicados s infraes penais
liliputianas. Vejamos algumas:* Por expressa previso legal (art. 76, 2,
da Lei 9.099/95), No se admitir a proposta [de transao penal]
se ficar comprovado:I - ter sido o autor da infrao condenado, pela
prtica de crime, pena privativa de liberdade, por sentena definitiva;II
- ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos,
pela aplicao de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;III -
no indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstncias, ser necessria e
suficiente a adoo da medida. * O art. 89 da Lei 9.099/95 estabelece
46 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Geral. Vol. 1. 7 ed. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 213.
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que o Ministrio Pblico, "ao oferecer a denncia, poder propor a
suspenso do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado no
esteja sendo processado ou no tenha sido condenado por outro crime,
presentes os demais requisitos que autorizariam a suspenso
condicional da pena (art. 77 do Cdigo Penal)". A seu turno, o
mencionado art. 77 do Cdigo Penal traz as seguintes condicionantes:
Art. 77. A execuo da pena privativa de liberdade, no superior a 2
(dois) anos, poder ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde
que: I - o condenado no seja reincidente em crime doloso; II - a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstncias autorizem a concesso
do benefcio; III - no seja indicada ou cabvel a substituio prevista no
art. 44 deste Cdigo. Assim, no sendo observadas na anlise do "caso
concreto" (e no "em tese", como mencionado na assertiva recorrida) as
citadas condicionantes, no poder o autor de uma infrao penal
liliputiana beneficiar-se do sursis processual. * O art. 41 da Lei n
11.340/2006 estatui que "aos crimes praticados com violncia domstica
e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, no se
aplica a Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995". Dessarte, na
apreciao do "caso concreto", restanto configurada a violncia de
gnero praticada no mbito domstico, os institutos despenalizadores da
Lei dos Juizados Especiais Criminais no podero ser aplicados ao autor de
uma contraveno penal praticada contra a mulher. As trs circunstncias
supramencionadas so reveladoras de hipteses "concretas" que esto a
impedir a incidncia de institutos despenalizadores s infraes penais
liliputianas. Todavia, ressalta-se uma vez mais, em obsquio ao art. 61 da
Lei n 9.099/95, todas as contravenes penais admitem, "em tese" (em
abstrato), a composio civil, a transao penal e a suspenso
condicional do processo. Portanto, o gabarito oficial deve ser mantido tal
como divulgado, por ser equivocado afirmar que "nem todas as infraes
penais liliputianas admitem, em tese, a incidncia dos institutos
despenalizadores previstos na Lei n 9.099/95". Ante o exposto, o
improvimento do recurso medida de rigor, devendo-se o gabarito
oficial permanecer inalterado.
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Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,
integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela
banca examinadora, e nega provimento ao recurso.
RECURSO N. 127
Questo recorrida: 33
Sntese do recurso: o recorrente impugna a alternativa 'b', considerada
'correta' conforme gabarito preliminar, argumentando que verdade
que o l est registrado [na alternativa "B"] de fato o
entendimento do Pretrio Excelso at ento utilizado sobre o tema.
Todavia, tal en