CENTRO DE APOIO OPERACIONAL CRIMINAL
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RECOMENDAÇÃO1
ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO:
CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL
e/ou
CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SÃO PAULO, através do seu órgão de execução em
exercício na ...........Promotoria de Justiça de...............,
que detém a atribuição de Controle Externo da
Atividade Policial Civil e Militar (ou atribuição em
crimes dolosos contra a vida), com fulcro no artigo 127
caput e 129 incisos II, III e VI da Constituição Federal,
no art. 27, inciso IV, da Lei Federal n° 8.625/93, no
artigo 103, inciso VII, da Lei Complementar Estadual n°
734/93, na Resolução CNMP nº 20, de 28 de maio de
2007 e no artigo 94 do Ato Normativo n° 484/06, vem
expor, através deste ato formal de natureza preventiva,
as razões fáticas e jurídicas abaixo elencadas, o que faz
1 (*) Esta Recomendação foi elaborada com apoio na peça elaborada pelo Promotor de Justiça de Presidente Prudente, Dr. André Luís Felício.
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não só com a finalidade de orientação e advertência, mas
também para evitar futura alegação de desconhecimento
de seu conteúdo ou até mesmo irregularidade de conduta
(configuradora do elemento subjetivo – dolo). Assim,
CONSIDERANDO que o Ministério Público é órgão
vocacionado constitucionalmente para zelar pelo efetivo respeito aos
Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados na Carta da República, promovendo as medidas necessárias a
sua garantia;
CONSIDERANDO que cabe ao mesmo Ministério
Público a expedição de recomendações, visando a melhoria dos serviços de
relevância pública, bem como o respeito aos interesses, direitos e bens cuja
defesa lhe cabe promover, fixando prazo razoável para a adoção das
providências;
CONSIDERANDO que o controle externo da atividade
policial é uma função constitucional primária do Ministério Público, que tem
por escopo "manter a regularidade e a adequação dos procedimentos
empregados na execução da atividade policial, bem como a integração das
funções do Ministério Público e das Polícias voltada para a persecução
penal e o interesse público" (art. 2º da Res. CNMP 20/2007).
CONSIDERANDO que tal controle não se confunde
com o controle interno que é exercido na esfera administrativa através das
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respectivas corregedorias. Na verdade, se bem exercido o controle interno, a
atividade externa se torna meramente confirmatória da legalidade interna,
não gerando quaisquer consequências indesejáveis ou constrangedoras para
as autoridades e órgãos fiscalizados.
CONSIDERANDO que, em observância a essa função
constitucional, a ............. Promotoria de Justiça de .............., que possui,
dentre as suas atribuições, a de exercer o controle externo da atividade
policial e/ou oficiar nos procedimentos inquisitivos da seara criminal que
apuram os crimes dolosos contra a vida, vem recebendo notícias de que, por
todo o estado, em casos envolvendo mortes de civis pela Polícia Militar, os
próprios policiais militares estão tomando providências de competência
exclusiva da Polícia Judiciária, tais como apreensão de armas, alteração da
cena dos fatos, oitivas de envolvidos e testemunhas, dentre outras diligências
elucidativas;
CONSIDERANDO que, a adoção de providências e
diligências de investigação primeiramente pela Polícia Militar, subtraindo-
se tais providências à Polícia Civil, importa no mais das vezes no transcurso
de lapso temporal prejudicial a própria investigação dos fatos, quando não
total comprometimento do arcabouço probatório;
CONSIDERANDO que a competência jurisdicional da
Justiça Militar Estadual para os crimes militares praticados contra civis não
abrange os dolosos contra a vida quando a vítima for civil, nos termos do §
4º do art. 125 na redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/04,
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reproduzido pelo artigo 79-B da Constituição Estadual, na redação dada pela
Emenda Constitucional nº 21/06. No mesmo sentido o §1º, do art. 9º do
Código Penal Militar, na redação dada pela Lei n. 13.491/2017, ao preceituar
que:
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando
dolosos contra a vida e cometidos por militares contra
civil, serão da competência do Tribunal do Júri.
CONSIDERANDO ainda a impossibilidade de se
alegar que o § 2º do art. 82 do Código de Processo Penal Militar, na redação
dada pela Lei nº 9.299/96, serve como fundamento hábil a embasar
entendimento em sentido contrário, porquanto a Emenda Constitucional nº
45/04, que alterou o §4º do art. 125 da Constituição Federal e a Emenda nº
21/06, que acrescentou o artigo 79-B à Constituição Estadual, estabelecem a
competência para processamento e julgamento de crimes dolosos contra a
vida de civil praticados por militar, por força da ressalva nela constantes.
CONSIDERANDO que, dúvidas inexistem que
compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crimes dolosos
contra a vida de civil praticados por militar, a ela compete também, e
privativamente, pronunciar-se, em sede de promoção de arquivamento
do inquérito policial, recebimento de denúncia, decisão de pronúncia ou
plenária, assim como o controle do inquérito. E, se compete à Justiça
Comum o processamento dos crimes dolosos contra a vida de civil praticados
por militar porque não constituem infrações militares, por certo não cabe à
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Polícia Militar sua investigação, sendo reservada a essa tão somente a
investigação das infrações militares.
CONSIDERANDO que o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça é claro no sentido de que:
“(...) 3. Diante de tais modificações, esta Corte
Superior de Justiça adotou o entendimento de que,
diante da incidência instantânea das normas
processuais penais disposta no artigo 2º do Código de
Processo Penal, a Lei 9.299/1996 possui aplicabilidade
a partir da sua vigência, de modo que todas as
investigações criminais e processos em curso relativos
à crimes dolosos contra a vida praticados por militar
contra civil devem ser encaminhados à Justiça Comum.
(STJ, RHC 25.384-ES, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge Mussi,
07-12-2010, v.u., DJe 14-02-2011)”.
“PROCESSUAL PENAL. CONFLITO POSITIVO
DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL.
ADMISSIBILIDADE DE CONFLITO EM FASE PRÉ-
PROCESSUAL. COMPETÊNCIA JUÍZO DA CAUSA.
TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS
(...)
IV -Aplicada a teoria dos poderes implícitos,
emerge da competência de processar e julgar, o
poder/dever de conduzir administrativamente
inquéritos policiais. Conflito de competência
conhecido para declarar competente o Juiz de Direito
da Vara do Júri e das Execuções Criminais da
Comarca de Osasco/SP” (STJ-CC 144919-SP, Rel.
Min. Felix Fischer, j. 220.6.2016) – destaque
nosso.
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CONSIDERANDO que, no ano passado, o Egrégio
Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo publicou a Resolução nº
54, de 18 de agosto de 2017, que dispõe:
“O Presidente do Tribunal de Justiça Militar, no
uso de suas atribuições legais e regimentais;
CONSIDERANDO que o § 4º do artigo 125 da
Constituição Federal dispõe que os crimes militares
definidos em lei, quando dolosos contra a vida de civil,
são da competência do júri;
CONSIDERANDO que o § 2º do artigo 82 do
Código de Processo Penal Militar dispõe que nesses
casos a Justiça Militar encaminhará os autos do
inquérito policial militar à Justiça Comum;
CONSIDERANDO que os Títulos II e III do Livro
I do Código de Processo Penal Militar tratam
detalhadamente do exercício da polícia judiciária
militar e da elaboração do inquérito policial militar;
CONSIDERANDO que, ainda assim, quando da
instauração de inquéritos policiais militares para
apuração de crimes dolosos contra a vida de civil,
algumas dúvidas têm surgido sobre o correto proceder
em relação à apreensão de instrumentos ou objetos que
digam respeito ao fato;
CONSIDERANDO a conveniência de se
disciplinar o assunto, evitando que essas dúvidas
resultem no desatendimento do princípio constitucional
da celeridade no trâmite desses feitos;
CONSIDERANDO o decidido pelo E. Pleno na
Sessão Administrativa Extraordinária de 18 de agosto
de 2017;
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RESOLVE:
Art. 1º. Em obediência ao disposto no artigo 12,
alínea “b” do Código de Processo Penal Militar, a
autoridade policial militar a que se refere o § 2º do
artigo 10 do mesmo Código, deverá apreender os
instrumentos e todos os objetos que tenham relação com
a apuração dos crimes militares definidos em lei,
quando dolosos contra a vida de civil.
Art. 2º. Em observância ao previstos nos artigos8º,
alínea “g”, e 321 do Código de Processo Penal Militar,
a autoridade de polícia judiciária militar deverá
requisitar das repartições técnicas civis as pesquisas e
exames necessários ao complemento da apuração dos
crimes militares definidos em lei, quando dolosos
contra a vida de civil.
Art. 3º. Nos casos em que o órgão responsável pelo
exame pericial proceder a liberação imediata, o objeto
ou instrumento deverá ser apensado aos autos quando
da remessa à Justiça Militar, nos termos do artigo 23
do Código de Processo Penal Militar.
Art. 4º. Nas hipóteses em que o objeto ou
instrumento permaneça no órgão responsável pelo
exame pericial e somente posteriormente venha a ser
encaminhado à autoridade de polícia judiciária militar,
esta deverá também prontamente, quando do
recebimento, efetuar o envio desse material à Justiça
Militar, referenciando o procedimento ao qual se
relaciona.
Parágrafo único –O mesmo procedimento deverá
ser adotado pela autoridade de polícia judiciária
militar quando do recebimento do laudo ou exame
pericial.
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Art. 5º. Esta Resolução entrará em vigor na data
da sua publicação, revogadas as disposições em
contrário”
CONSIDERANDO que, apesar disso, a
constitucionalidade da referida resolução foi questionada pelo Exmo. Senhor
Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo perante a Corte de
Justiça Paulista, recebendo tal feito o nº 2166281-19.2017.8.26.0000;
CONSIDERANDO que, em 13 de setembro de 2017, o
relator, Exmo. Desembargador Péricles Piza, deferiu a liminar pleiteada pelo
Procurador-Geral e suspendeu os efeitos, ex nunc, da eficácia da resolução
impugnada, sendo que até o momento, o mérito da Ação Direta de
Inconstitucionalidade ainda não foi julgado, encontrando-se, portanto, em
vigor referida medida liminar suspensiva.
CONSIDERANDO que a Secretaria de Segurança
Pública do Estado de São Paulo editou a Resolução n. 40/2015, disciplinando
o procedimento a ser adotado no caso de “morte decorrente de intervenção
policial”, estando ou não o agente em serviço, ficando determinado que :
“Os policiais que primeiro atenderem a ocorrência deverão preservar o local
até a chegada do Delegado de Polícia, e providenciar para que não se alterem
o estado e conservação das coisas para a realização de perícia, comunicando,
imediatamente, o COPOM ou CEPOL, conforme o caso”, determinando
ainda, que o Delegado deverá apreender os objetos que tiverem relação com
o fato, após liberados pelos peritos criminais, bem como colher todos os
elementos informativos que servirem para o esclarecimento do fato e suas
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circunstâncias, inclusive, desde logo, identificar e qualificar as testemunhas
presenciais do fato, ficando claro, assim, que a Resolução SSP-40 determina
que a condução das apurações ficará a cargo do Delegado de Polícia.
CONSIDERANDO que, à Polícia Militar cabe,
segundo a mesma Resolução, zelar pela observância dos procedimentos
operacionais de preservação do local do crime, e a respectiva Corregedoria
deverá acompanhar a ocorrência, com o objetivo de coletar dados e
informações para instrução de procedimento administrativo.
CONSIDERANDO que o controle externo da atividade
policial é exercido pelo Ministério Público por disposição do art. 129, VII,
da Constituição Federal; que a Lei Complementar Estadual 734/1993, em
seu art. 103, XIII, c, permite que o Promotor de Justiça, no exercício do
controle externo, represente à autoridade competente “pela adoção de
providências para sanar a omissão ou para prevenir ou corrigir ilegalidade
ou abuso de poder” e, além disso, a Resolução 20/2007 do CNMP, que trata
do controle externo da atividade policial, em seu art. 4º, IX, diz incumbir ao
Promotor de Justiça “expedir recomendações, visando à melhoria dos
serviços policiais, bem como o respeito aos interesses, direitos e bens cuja
defesa seja de responsabilidade do Ministério Público, fixando prazo
razoável para a adoção das providências cabíveis”.
Este órgão de execução do Ministério Público, a fim
de evitar prejuízos ou irregularidades nas apurações feitas através de
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inquéritos policiais, RECOMENDA às Polícias Militar e Civil dos
municípios de .................................. que, nos casos de morte decorrente de
intervenção policial militar, estando ou não o agente em serviço,
atentem que, enquanto perdurar a suspensão liminar da Resolução nº 54, de
18 de agosto de 2017:
1- Os respectivos procedimentos para se apurar tais
mortes são da competência da Justiça Comum
Estadual da comarca na qual funciona o Tribunal do
Júri;
2- As atribuições para conduzir as investigações,
procedendo a todos os atos é exclusiva da Polícia
Civil de São Paulo;
3- Os agentes da segurança pública que primeiro
atenderem a ocorrência, após acionar a Polícia Civil,
deverão zelar pela observância dos procedimentos
operacionais de preservação do local do crime até a
chegada do Delegado de Polícia, inclusive para que
não se alterem o estado e conservação das coisas para
a realização da perícia;
4- Após se dirigir ao local, o Delegado de Polícia
responsável, deverá apreender os objetos que tiverem
relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais; colher todas as provas que servirem para
o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; e,
desde logo, identificar e qualificar as testemunhas
presenciais do fato, além das demais obrigações
rezadas pelo regramento processual pátrio;
5- O Promotor de Justiça com atribuições de Controle
Externo das Atividades Policiais e/ou com
atribuições em crimes dolosos contra a vida, bem
como a Corregedoria da Polícia Militar, deverão ser
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imediatamente comunicados das ocorrências de
modo a permitir o acompanhamento completo das
apurações;
6- Qualquer descumprimento ou não atenção ao
disposto na Resolução 40, de 24 de março de 2015
da Secretaria de Segurança Pública, deverá ser
imediatamente comunicada à Promotoria de Justiça
Criminal de .................................., que detém a
atribuição de Controle Externo da Atividade Policial
e/ou atribuição em crime doloso contra a vida;
Tendo por termo a quo a entrega da presente
RECOMENDAÇÃO, o Ministério Público de .............................., através
de sua .......... Promotoria de Justiça que detém a atribuição de Controle
Externo da Atividade Policial e/ou atribuição em crime doloso contra a vida,
considera seus destinatários cientes de seu completo teor e, nesses termos,
passíveis de eventual responsabilização por qualquer ação ou omissão apta a
contrariar os termos aqui expostos.
Destarte, e para que se tomem as providências
necessárias para a efetivação do ordenamento jurídico em questão, remeta-
se tal RECOMENDAÇÃO:
- Ao Ilustríssimo Senhor Comandante do Comando
de Policiamento do Interior – CPI ......................;
- Ao Ilustríssimo Senhor Comandante do .......
Batalhão da Policia Militar – ........................;
- Ao Exmo. Senhor Diretor do Departamento de
Polícia Judiciária de São Paulo do Interior –
DEINTER- ...............;
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- Ao Exmo. Senhor Delegado Seccional de Polícia de
......................................
Por fim, sendo necessária a comunicação às demais
autoridades da área da Segurança Pública, remetam-se cópias desta
recomendação para ciência :
-Ao Exmo. Senhor Procurador-Geral de Justiça do
Estado de São Paulo;
-Ao Exmo. Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara do
Júri da Comarca de .........................................;
-Ao Exmo. Senhor Promotor de Justiça Secretário das
Promotorias Criminais de ...........................................
Data,
Promotor de Justiça