FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMP RESA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICO E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÁO PÚBLICA AUDITORIA OPERACIONAL: UMA NOVA ÓTICA DOS TRIBUNAIS DE CONTAS AUDITAREM A GESTÃO PÚBLICA, SOB O PRISMA DA EFICIÊNCIA, ECONOMICIDADE, EFICÁCIA E EFETIVIDADE, E O DESAFIO DE SUA CONSOLIDAÇÃO NO TCE/RJ
POR
ROBERTO VASCONCELLOS DE OLIVEIRA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Rio de Janeiro 2008
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RESUMO
Este estudo objetiva investigar o estágio em que se encontra a auditoria operacional no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), quais as suas modalidades já foram realizadas, os benefícios gerados para a melhoria da gestão do gasto público e os estágios que faltam para ser considerada plenamente implementada. A pesquisa parte do pressuposto de que no TCE-RJ a auditoria operacional ainda se encontra num estágio embrionário, assim como em quase todos os Tribunais de Contas dos demais estados, e necessita avançar mais para alcançar o estágio pleno, uma vez que este tipo de auditoria amplia os seus papéis para além da fiscalização legal das ações governamentais, ao ter que verificar a existência de eficiência, eficácia, economicidade e efetividade nessas ações. Além de proporcionar o fortalecimento dos controles internos e aperfeiçoamento das rotinas e procedimentos dos órgãos auditados e abrir um canal para interação com os gestores públicos. Para materializar os objetivos fixados, levantamos todas as auditorias com enfoque de auditoria operacional ou de avaliação de programas realizados nos últimos dois anos no TCE-RJ, selecionamos então uma delas para uma análise detalhada dos seus conteúdos e benefícios gerados ao aperfeiçoamento da gestão pública. O estudo analisou, ainda, como os técnicos gestores do Tribunal percebem auditoria operacional, a fim de identificar os benefícios que ela traz e os estágios a serem alcançados para a sua plena implementação..
Palavras-chave: auditoria operacional, tribunal de contas, nova administração pública.
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO...............................................................................................................04
1 CONTEXTUALIZAÇÃO .........................................................................................10
1.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: PATRIMONIALISTA,BUROCRÁTICA
E A NOVA GESTÃO PÚBLICA.............................................................................10
1.2 AUDITORIA: ORIGEM, CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES................................16
1.3 ENTIDADES DE FISCALIZAÇÃO SUPERIOR: ORIGEM, EVOLUÇÃO,
SUAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO NO MUNDO E NO BRASIL.......................26
1.4 O IMPACTO DA NOVA GESTÃO PÚBLICA NAS EFS: A EMERGÊNCIA
DA AUDITORIA OPERACIONAL..........................................................................34
2 AUDITORIA OPERACIONAL ...............................................................................43
2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA...................................................................43
2.2 ASPECTOS GERAIS DA AUDITORIA OPERACIONAL.......................................47
2.3 O CICLO DA AUDITORIA OPERACIONAL...........................................................64
3 AUDITORIA OPERACIONAL NO TCE-RJ ..........................................................82
3.1 A COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO RODOVIÁRIOS E TERMINAIS
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – CODERTE...............................................83
3.2 PESQUISA DOCUMENTAL NO TCE/RJ..………………………………………….90
3.3 ANÁLISE DA INSPEÇÃO DE CARÁTER OPERACIONAL REALIZADA
PELO TCE/RJ NA CODERTE..............................................................................93
3.4 A PERCEPÇÃO DOS TÉCNICOS DO TCE/RJ…………………………………..107
CONCLUSÕES............................................................................................................113
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.................................................................................117
APÊNDICE – ROTEIRO DA ENTREVISTA COM TÉCNICOS DO TCE/RJ.............123
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INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é: averiguar se já é realidade na Administração
Pública os seus órgãos, entidades, setores e programas serem inspecionados pelo
Tribunais de Contas através de auditorias de natureza operacional, instituídas pela
Constituição Federal de 1988; o grau de desenvolvimento institucional em que se
encontram essas auditorias operacionais realizadas pelo Tribunais de Contas quanto à
metodologia empregada nas avaliações de eficiência, economicidade, eficácia e
eficácia; e as medidas administrativas necessárias para que as auditorias operacionais
realizadas pelos Tribunais de Contas alcancem o nível de maturidade institucional de
suas auditorias de conformidade
Neste sentido, o Tribunal de Contas da União (TCU), foi o primeiro a realizar
trabalhos com enfoque nos resultados da gestão pública, através da auditoria
operacional, desde a década de 1990. A partir daí, determinados Tribunais
subnacionais, como o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro – TCE/RJ,
passaram a realizar auditorias deste tipo visando contribuir para a melhoria do
desempenho de programas e órgãos do governo.
A auditoria operacional concentra-se nas áreas críticas ou de alto risco, e
também naquelas em que o controle interno é menos atuante. Uma das maiores
diferenças em relação à auditoria tradicional está no fato de não apenas apurar os
efeitos, mas as causas que originaram as perdas e prejuízos, e oferecer informações
ou sugestões, no formato de recomendações, com vistas ao aperfeiçoamento da
administração pública.
Os Tribunais de Contas, assim, devem se preocupar não somente com as
regularidades das contas públicas, enfocando apenas os aspectos legal, orçamentário,
contábil, financeiro e patrimonial, mas também confrontar a execução dos planos,
normas e métodos com os objetivos da entidade auditada, visando avaliar o seu
desempenho e os resultados obtidos. Possui uma ligação muita próxima com os
conceitos de economicidade, eficiência, eficácia e efetividade.
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Compreende-se como economicidade a capacidade de fazer, gastando
pouco. É executar uma atividade ao menor custo possível, ou seja, gastar menos.
Eficiência é a capacidade de fazer as coisas direito. É apresentar um desempenho
satisfatório sem desperdícios, ou seja, gastar bem. Eficácia, por seu turno, é a
capacidade de fazer as coisas certas. É alcançar os objetivos ou metas previstas, ou
seja, gastar sabiamente (Araújo, 2006, p. 39). Efetividade, por fim, é considerada como
grau em que se atingiu o resultado esperado, não tendo cunho econômico, mas de
avaliação qualitativa dos serviços públicos. O conceito de efetividade produz a noção
de que a missão primordial do governo é prestar serviços de qualidade, ou seja, é a
preocupação com a qualidade incorporada ao modelo gerencial. Além disso, promove a
discussão sobre o caráter político da prestação dos serviços públicos, visto que
somente os usuários são capazes de avaliar a qualidade dos programas
governamentais.
É, portanto, uma auditoria analítica, que verifica não só o controle da
legitimidade e legalidade dos atos administrativos, como à otimização dos recursos e a
consistência e eficácia dos resultados das ações governamentais, além de ajudar a
exteriorização do papel da auditoria governamental, ao ter que transpor as paredes da
repartição, para buscar junto a população as causas de certas situações que são
reveladas pelas informações contábeis.
Assim, após o exposto, chegamos então às perguntas norteadoras dessa
pesquisa: As auditorias operacionais realizadas pelo Tribun al de Contas já
alcançaram o mesmo grau de desenvolvimento instituc ional de suas auditorias
de conformidade? Em caso negativo, o que falta faze r então para avançar e
alcançar este patamar?
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Para responder a tais perguntas, teremos como objetivos principais levantar:
• Analisar o conteúdo dos relatórios de suas inspeções atribuídas com a natureza de
auditoria operacional e verificar se os desempenhos dos órgãos, setores e
programas são avaliados quanto à eficiência, economicidade, eficácia e eficácia;
• Analisar o regimento interno, deliberações, resoluções e outros dispositivos
administrativos internos - como manuais, organogramas, cronogramas de
inspeções, planejamento estratégico, relatórios de atividades e portal da internet –
para constar o grau de importância institucional alcançado por suas inspeções de
natureza operacional;
• Identificar as medidas necessárias para as auditorias operacionais atingirem o
mesmo grau de desenvolvimento e importância institucional de suas auditorias de
conformidade.
Outros Objetivos, intermediários, também deverão ser atendidos também
com a pesquisa proposta, servindo de base para responderem às questões principais
apresentadas, a saber:
• Levantar a bibliografia, artigos em revistas e páginas da internet que tratem dos
temas de auditoria, auditoria operacional, administração pública e tribunais de
contas;
• Identificar os tribunais de contas que realizam auditorias operacionais, seus
manuais, suas revistas, publicações e páginas da internet;
• Pesquisar e identificar os relatórios de inspeções atribuídas com a natureza de
auditoria operacional;
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• Levantar e analisar a documentação interna dos Tribunais de Contas – Lei
Orgânica, regimento interno, deliberações, resoluções, planejamento estratégico,
relatório de atividades, manuais e cronogramas de inspeções.
Face à complexidade e extensão do tema, que continua em plena marcha de
desenvolvimento por diversos organismos e instituições nacionais e internacionais
incorporando, inclusive, novos campos de atuação e métodos de trabalhos, sem
qualquer expectativa de prazo para o seu consenso definitivo, bem como o uso da
auditoria operacional está difundido em diversos Tribunais de Contas do Brasil,
estabeleceu-se, como fator delimitador da presente pesquisa, restringir o seu foco as
auditorias operacionais realizadas pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de
Janeiro, que tenham como escopo avaliar o desempenho dos órgãos, entidades e
setores da Administração Pública Estadual quanto à eficiência, economicidade e
eficácia de órgãos, entidades e setores.
A parte inicial do estudo compreendeu a revisão da literartura sobre o tema,
por intermédio da pesquisa bibliográfica em livros, dissertações de mestrados, artigos
científicos, publicações em periódicos e jornais especializados, além de pesquisas em
páginas da internet que tratam desta temática.
Na segunda parte, efetuamos uma pesquisa documental no TCU, o órgão
que se encontra mais avançado em auditoria no Brasil, no próprio TCE-RJ, e no TCE-
BA, que também dispõe de uma documentação de boa qualidade sobre o assunto. A
pesquisa consistiu em analisar manuais, boletins de técnicas de auditoria e revistas
técnicas do TCU, legislação, planejamento estratégico, relatórios de atividades e portal
da internet do TCE/RJ.
Na terceira parte, efetuou-se pesquisa de campo com técnicos do TCE-RJ,
com experiência em auditorias operacionais e auditorias de conformidade. Como
instrumento de coleta de dados foram utilizadas entrevistas semi-estrtuturadas.
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Paralelamente, realizou-se como Estudo de Caso, a inspeção com natureza
de auditoria operacional realizada na Companhia de Desenvolvimento de Terminais
Rodoviários e Estacionamentos do Estado do Rio de Janeiro – CODERTE, para
através da análise do seu relatório de inspeção avaliar o nível institucional de
desenvolvimento de suas avaliações de desempenho efetuadas quanto à eficiência,
economicidade e eficácias identificadas, bem como a capacidade contributiva de suas
recomendações para a melhoria da gestão pública.
Este trabalho está estruturado em três capítulos, O primeiro capítulo efetua
a contextualização do trabalho, inicialmente apresentando uma breve resenha da
administração pública, abrangendo os períodos patrimonialistas, burocrático e
gerencialista. Destaca a reforma do Estado Brasileiro em 1995 em consequência da
falência do antigo modelo burocrático, tecendo comentários sobre o atual paradigma
da nova administração pública.
Em seguida, apresenta os conceitos e as diversas modalidades existentes
de auditoria, introduzindo a de natureza operacional. Posteriormente, apresenta a
origem, evolução e estruturação das Entidades de Fiscalização Superior (EFS) no
Brasil e no Mundo, entre elas o modelo dos Tribunais de Contas.
Por último, amalgama esses assuntos, apresenta o arcabouço legal que a
Nova Administração Pública propiciou as Entidades de Fiscalização Superiores (EFS)
a incluírem as auditorias operacionais no rol das suas principais atividades.
O segundo capítulo é totalmente dedicado à auditoria operacional
apresentando de forma detalhada a sua: origem, evolução, conceitos, tipos,
metodologia de trabalho, técnicas de auditorias empregadas, e o ciclo auditorial de
realização – planejamento, execução, relatório e acompanhamento das
recomendações.
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O terceiro capítulo é destinado ao Estudo de Caso sobre a inspeção
ordinária com natureza de auditoria operacional realizado pelo TCE/RJ na Companhia
de Desenvolvimento de Terminais Rodoviários e Terminais – CODERTE, bem como o
tratamento resultante da pesquisa de campo realizado junto ao quadro de inspetores
do TCE/RJ da pesquisa empírica.
Em relação ao Estudo de Caso da CODERTE, por meio da análise de seu
relatório identificaram-se as metodologias empregadas na fase de planejamento, as
técnicas de auditorias utilizadas durante a sua execução, a forma de elaboração do seu
relatório de auditoria e as recomendações sugeridas ao seu Gestor.
Quanto à pesquisa de campo, por intermédio das entrevistas realizadas com
técnicos do TCE/RJ, foram conhecidas e analisadas às suas impressões, experiências
e opiniões sobre os aspectos positivos e negativos das metodologias e rotinas das
auditoria operacional realizadas, assim como as medidas necessárias para consolidar a
sua implantação.
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1. CONTEXTUALIZAÇÁO
O objetivo deste capítulo é fazer uma abordagem sobre Administração
Pública, Auditoria e Entidades de Fiscalização Superior, apresentando a origem,
evolução, classificações e principais conceitos de cada um desses assuntos. E para
finalizar, expõe-se como a gênese da auditoria operacional nas Entidades de
Fiscalização Superior estar implicitamente vinculada ao movimento da Administração
Pública que ficou conhecido como a Nova Gestão Pública
1.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: PATRIMONIALISTA, BUROCRÁTICA E A NOVA
GESTÃO PÚBLICA
O Estado moderno, em sua primeira versão, era absolutista e adotava
administração patrimonialista, no qual o patrimônio público e o patrimônio do soberano
confundiam-se. Todas as decisões político-administrativas concentravam-se no
monarca (L’état c’est moi) e beneficiavam apenas o clero e a nobreza;
conseqüentemente, a corrupção, o empreguismo e o nepotismo eram marcantes.
Na segunda metade do século XIX – época do Estado Liberal em que o
capitalismo passou a dominar - os países capitalistas mais avançados empreenderam,
a primeira grande reforma administrativa, a reforma do serviço público ou reforma
burocrática, com o propósito de não só de distinguir o púbico do privado, mas também
diferenciar o administrador público do ser político, e assim proteger o Estado da
corrupção, do empreguismo e do nepotismo. Para Bresser Pereira (1998, p.9),
começava a tomar forma assim:
“(...) a administração burocrática moderna, racional-legal (nos termos de Weber); surge a organização burocrática, baseado na centralização das decisões, na hierarquia traduzida no princípio da unidade de comando, na estrutura piramidal do poder, nas rotinas rígidas, no controle passo a passo dos processos administrativos, em uma burocracia estatal formada por administradores profissionais especialmente recrutados e treinados, que respondem de forma neutra aos políticos. Max Weber (192) definiu e descreveu de forma genial esse tipo de administração no início deste século”.
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Behn (1998, p.8), acrescenta a contribuição de Max Weber, as de Woodrow
Wilson e Frederick Winslow Taylor. Para esse autor, os três, de fato, construíram a
base conceitual da atual forma da maioria dos governos. Segundo Wilson a
administração deveria – e poderia – ser separada da política; depois que os
responsáveis pelas políticas tomassem as decisões de Estado, a tarefa de implementar
tais políticas podia ser delegada àqueles bem versados na ciência administração, que
executariam a tarefa da implementação da forma mais eficiente possível. Isso seria
possível porque, de acordo com Taylor, “entre os vários métodos e implementos
utilizados em cada elemento de cada caso, existe sempre um método e um implemento
mais ágil e melhor que todos os outros”. Finalmente, conforme Weber, a burocracia
era o mais eficiente mecanismo organizacional; assim a burocracia seria ideal para
implementar os princípios científicos de Taylor.
Todos eles, Wilson, Taylor e Weber, buscavam melhorar a eficiência. E além
de ser um valor em si mesmo, a eficiência tem outra vantagem. Ela é impessoal e,
portanto, justa. Ao separar a administração das políticas, aplicando o exame científico
ao desenho do melhor processo de trabalho, e empregando organizações burocráticas
para implementar esses processos, o governo garantiria não só que as políticas fossem
justas, mas que sua implementação também o fosse.
As primeiras notícias de organização governamental no Brasil remontam ao
período da transferência da corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, quando D. João VI
constituiu os Ministérios de Negócios do Reino, de Negócios Estrangeiros e da Guerra
e de Negócios da Marinha e Ultramar. O contexto era caracterizado pelo
patrimonialismo, nele, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do
soberano, e os cargos são considerados prebendas produz como conseqüência, a
corrupção, o clientelismo e o nepotismo (Marini, 2004:2-3).
Raymondo Faoro (apud Da Costa, 2006:144), em seu famoso livro Os donos
do poder, publicado em 1979, que toda estrutura de poder – o estamento – que se
formou em Portugal foi transplantada para a Colônia, manteve-se no Brasil
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independente e mesmo no Brasil republicano, orientando e dirigindo a economia em
favor de seus interesses particulares.
Para autor de Os donos do poder, a monarquia portuguesa que moldou
nossas instituições, era um Estado patrimonial apoiado por um estamento poderoso,
formado por um corpo de letrados a serviço do rei. Precursora de uma espécie de
capitalismo de Estado – o “capitalismo político” -, a Coroa afirmava-se como principal
empreendedora do país. Os descobrimentos, a colonização, e o comércio de ultramar
eram empreendimentos estatais. Na corte portuguesa, o mundo político dominava a
vida econômica. O desenvolvimento do império colonial e a diferenciação do Estado
português levam à burocratização do estamento que, entretanto, mantém seu “caráter
aristocrático, com uma ética e um estilo de vida particularizados”.
Na perspectiva de Faoro, o patrimonialismo brasileiro absorveu o capitalismo
e promoveu o desenvolvimento dele sob seu comando político, aproveitando-se das
técnicas, indústrias, empresas e grande mercados criados por ele, mas,
contraditoriamente, conservava concessões e privilégios. Sob o pulso estatal, “liberais
autoritários” inventaram o capitalismo à brasileira, onde, muitas vezes, o cartório e o
favor substituem o risco.
A Revolução de 1930, simbolicamente associada à quebra da espinha dorsal
das oligarquias regionais, teve como desdobramento principal a criação do estado
administrativo no Brasil, através de dois mecanismos típicos da administração racional-
legal: estatutos normativos e órgãos normativos e fiscalizadores. A abrangência desses
estatutos e órgãos incluía áreas temáticas clássicas que, até hoje, se revelam como
estruturantes da organização pública: administração de material, financeira e de
pessoal (Lima Junior, 1998).
A criação do DASP (Departamento Administrativo do Setor Público), em
1936, é o marco de introdução desta nova forma de administração pública, informada
pelos princípios do tipo ideal de burocracia de Max Weber, a impessoalidade, o
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formalismo, a profissionalização, a idéia de carreira funcional. O interesse público e o
controle a priori passam a determinar essa fase denominada como administração
burocrática (Guerreiro Ramos, 1983).
Até 1945, o Estado aumenta a sua indústria de base, passando a ter uma
função mais intervencionista. Como resultado do aumento das funções econômicas do
Estado, há o crescimento da função empresarial do Estado e, daí, surge a necessidade
de uma administração mais gerencial, utilizando-se princípios e técnicas da iniciativa
privada, mas com ênfase no interesse público. De 1945 a 1964, começa a surgir um
ideal de planificação do Estado (Guerreiro Ramos, 1983). Em 1964, surge à Lei
Complementar 4.320 que institui normas de direito financeiro para elaboração e
controle de orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal.
O crescimento do Estado, como empresário, provoca a necessidade de
providências no âmbito da administração pública. O modelo burocrático dá lugar a um
novo modelo, o chamado pós-burocrático ou gerencial. O Decreto 200/67 foi a primeira
tentativa de superação da rigidez da administração burocrática, estabelecendo os
conceitos de planejamento, descentralização, delegação da autoridade, coordenação e
controle na administração pública brasileira. A partir deste período, há um grande
crescimento do Estado, através da criação de diversas empresas estatais
(administração indireta), até a década de 80 (Bresser Pereira, 1996).
Nos últimos anos, o mundo assistiu a um frenética debate sem– até hoje não
concluído – sobre o papel que o Estado deve desempenhar na sociedade e o nível de
intervenção que deve ter na economia.
Durante o período de pós-guerra (1945 até 1980), a associação entre o
keynesianismo ou socialdemocracia e o modo fordista de produção permitiu ao mundo
um ciclo de prosperidade inédito para a humanidade, que garantiu uma acumulação de
capital com base no emprego e na utilização de máquinas. Ao Estado cabia o papel de
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regulador dos contratos e também prover os direitos sociais aos que se encontravam
fora do mercado de trabalho para que os mesmos pudessem participar do “pacto” como
consumidores. Tal modelo de intervenção, também conhecido como welfare state ou
Estado do bem-estar foi questionado pelos neoliberais durante todo esse período.
Enquanto esse modelo continuou garantindo a prosperidade econômica aos países
centrais, os adeptos do livre mercado permaneceram como uma tímida voz
discordante, mas esse quadro mudou radicalmente quanto a crise começou (Paes de
Paula, 2007:41-42).
A crise econômica da década de 1970, provocada pelo do modelo do estado
interventor, se agravou com a internacionalização dos problemas econômicos: inflação,
estagnação, choque do petróleo. Essa crise trouxe à tona um discurso por mudanças
no setor produtivo e econômico, que gira em torno das máximas “reestruturação
produtiva”, “globalização” e “crise do estado”.
Ao final da década de 1970 a crise do modelo de acumulação que atingiu
fortemente os Estados capitalistas alcança o seu apogeu e caracteriza-se pelos
seguintes fatores: crise fiscal, marcada pela crescente perda de crédito por parte dos
Estados e pela poupança pública que se torna negativa; esgotamento da estratégia
estatizante de intervenção do Estado; superação da forma tradicional e burocrática de
administrar o Estado (Carneiro apud Leal, 2006:20).
Assim, do mesmo modo que Keynes ofereceu alternativas para a crise do
liberalismo, os neoliberais apontaram saídas para a crise do Keynesianismo e tornaram
suas idéias mais palatáveis. O caso da Inglaterra de Margaret Thatcher é emblemático
para essas transformações, com sua ascensão, mediante a vitória obtida pelo Partido
Conservador nas eleições, consolidou-se uma nova agenda para o mundo do trabalho
baseado na desregulamentação da legislação trabalhista e na flexibilização dos direitos
sociais.
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Essas transformações se desenrolaram durante a década de 1980,
entrelaçando-se à “nova cultura gerencial” que passou a dominar os Estados Unidos e
a Europa. Emergiam então as esperadas soluções pós-fordista para o mundo do
trabalho, que desencadearam o enxugamento das empresas, o crescimento de
pequenas unidades produtivas, a formatação de contratos flexíveis e terceirização do
trabalho. Paralelamente, também ocorreu a proliferação de business schools e a
disseminação de “panacéias” gerenciais como reengenharia, a administração de
qualidade total e a administração participativa, entre outras (Paes de Paula, 2007:43).
Dessa forma, a sobrevivência do Estado dependia da redefinição de seu
papel em relação ao mercado e à sociedade civil. E, a proposta sugerida pelas elites
internacionais para resolver a crise foi à reforma do Estado, cuja implementação se
alastrou por todo mundo. Essa proposta apoiava-se em três pontos fundamentais: a
superação da crise fiscal, a redefinição das formas de intervenção governamental e a
reforma da administração pública (Nunes, 2004:65).
Assim, em meio a uma grave crise econômica, agravada em 1990 por um
processo de hiperinflação, entendeu-se necessário reformar o Estado Brasileiro. E,
ainda visto que os custos decorrentes provocados pela Constituição de 1988 que
encareceram significativamente o custo da máquina administrativa, constatando-se
também o aumento da ineficiência dos serviços sociais ofertados e o crescimento do
clientelismo, adveio a Emenda Constitucional no 19, de 04.06.1998 – reforma
constitucional conhecida como “Reforma Administrativa”, introduzindo a gestão
gerencial ou pós-burocrática (Bresser Pereira, 1998b:50),
Verifica-se, que no novo modelo de gestão, permaneceram algumas
características do modelo burocrático clássico – a impessoalidade, a hierarquia, e a
meritocracia, porém reduze-se o formalismo (legalidade) e atribui-se maior liberdade ao
gestor público. Apesar das críticas ao modelo weberiano, o novo gerencialismo público
não nega todos os princípios da burocracia, a diferença está na forma de controle, que
deixa de se concentrar nos processos administrativos para considerar os resultados
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alcançados. Parte-se, agora de que é possível desenvolver estratégias administrativas
fundadas na ampla delegação de autoridade e na cobrança a posteriori de resultados.
O pressuposto da desconfiança, marca da tradicional administração hierárquica, dá
lugar à confiança limitada (Bresser Pereira, 1998:10)
Esse novo paradigma exige organizações mais flexíveis e menos
hierarquizada, descentralização administrativa, fortalecimento dos papéis de
formulação de política e regulação, além da definição dos objetivos a serem atingidos,
na forma de indicadores de desempenho (Albuquerque, 2007:24).
1.2 . AUDITORIA: ORIGEM, CONCEITOS E CLASSSIFICAÇÕES
A origem da palavra auditoria vem do latim audire e significa “ouvir”. Na
língua inglesa esse termo foi traduzido para a palavra auditing, e, inicialmente, e era
usado para designar: “o conjunto de procedimentos técnicos para a revisão dos
procedimentos contábeis” (Araújo, 2006:13).
É difícil precisar quando começa a história da auditoria, pois toda a pessoa
que possuía a função de verificar a legitimidade dos fatos economicos-financeiros,
prestando contas a um superior, pode ser considerada como auditor.
Os imperadores romanos nomeavam altos funcionários que eram
encarregados de supervisionar as operações financeiras de seus administradores
provinciais e lhes prestar contas verbalmente. Na França, no século III, os barões
tinham que realizar leitura pública das contas de seus domínios, na presença de
funcionários designados pela Coroa.
No Brasil colonial, tínhamos a figura do juiz colonial, o olho do rei, que era
destacado pela Coroa portuguesa para verificar o correto recolhimento dos tributos
para o Tesouro, reprimindo e punindo fraudes.
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O que podemos notar, em todos esses casos, é que a preocupação desses
dirigentes era com a fraude.
Atualmente, é praticamente consenso a ampliação do conceito de auditoria,
que vai além do sentido meramente contábil, podendo ser utilizada no contexto de
outros ramos do conhecimento humano, ao ser definida como: a ação independente de
se confrontar uma determinada condição com um critério preestabelecido, que se
configura como a situação ideal, para que se possa opinar a respeito (Araújo, 2006:13).
A Auditoria consiste em um exame cuidadoso, sistemático e independente,
cujo objetivo seja averiguar se as atividades desenvolvidas em determinada empresa
ou setor estão de acordo com as disposições planejadas e/ou estabelecidas
previamente, se estas foram implementadas com eficácia e se estão adequadas (em
conformidade) à consecução dos objetivos.
O escritório do Auditor-Geral do Canadá, importante instituto de auditoria do
mundo moderno, conceitua auditoria, no modo latu sensu, como a ação independente
de um terceiro sobre uma relação de accountability, objetivando expressar uma opinião
ou emitir comentários e sugestões sobre como essa relação está sendo obedecida.
Portanto, a auditoria é a verificação de como a prática de contabilidade está sendo
cumprida.
Quanto ao significado deste importante termo accountability, palavra de
origem inglesa, Campos (2005) é categórica ao afirmar que no Brasil, mais do que
uma palavra para traduzi-la falta, na verdade, o próprio conceito. Accountability vai
além do conceito de responsabilidade, pois traz em seu âmago a noção de dever, de
comprometimento, de obrigatoriedade de resposta, de prestar e render contas. Não é
simplesmente a prestação de contas, frise-se, é a obrigação de prestar contas.
Mesmo na língua inglesa o termo é ambíguo, segundo Quirk (1997 apud Dos
Santos e Cardoso, 2001:7):
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accountability is a chameleon word. We all like accountability, when others are accounting of themselves to us; we are not quite so keen when we are required to account of ourselves to others. At this personal and basic level, accountability revolves around the relationships between people, the power relations between people and the level of trust between people.
Esse mesmo autor chama atenção para os três propósitos principais da
accountability na Administração Pública: direcionar e orientar a ação administrativa;
aferir o desempenho e os resultados; e garantir sua probidade e integridade. Ao longo
desse trabalho, utilizaremos a expressão no sentido de “responsabilização” dos
agentes políticos, dirigentes e servidores públicos pelo resultado de sua gestão,
perante os atores sociais e políticos aos quais prestam contas.
Nóbrega & Figueirêdo (2004) compreende accountability como uma
atribuição a uma rede de órgãos estatais responsáveis por supervisionar, controlar,
aplicar sanções e, sobretudo, prover o cidadão das informações relativas a conduta do
gestor público. Dentre estes órgãos, englobaria o Ministério Público, o sistema de
Controle Interno dos Poderes, o Poder Judiciário e os Tribunais de Contas.
A accountability é uma relação em que o delegante transfere a
responsabilidade para o delegado, que a aceita e assume o compromisso de informar
ao delegante, como ele, delegado, está desempenhando as ações inerentes à
responsabilidade que lhe foi conferida. A auditoria cabe essa responsabilidade de
informar ao delegante, de forma independente, como ela – a accountability – foi ou está
sendo cumprida pelo delegado, na forma demonstrada a seguir:
Figura 1
Fonte: Araújo (2006:14)
AUDITORIA
ACCOUNTABILITY
DELEGANTE DELEGADO
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Classificação da Auditoria
Todo ramo do conhecimento humano, para melhor ser estudado, deve ser
classificado. Esta é uma premissa básica desde o princípio da filosofia. A auditoria por
ser uma atividade totalmente sistematizada não poderia ser diferente, pois é muito
comum ser encontrado na literatura técnica, como nos debates, cursos de pós-
graduação, seminários, congressos e outros eventos técnicos e acadêmicos, vasta
numeração de tipo de auditoria. Contudo, não existe para esta importante técnica uma
classificação uniforme.
Araújo et al (2008), propõe um classificação didática baseada em três
critérios, a saber:
• Quanto ao campo de atuação
a) Governamental ou pública;
b) Privada.
• Quanto à forma de realização
a) Interna;
b) Externa.
• Quanto ao objetivo do trabalho
a) Contábil ou financeira;
b) Operacional;
c) Integrada.
O Tribunal de Contas da Bahia, em seu manual de auditoria (Bahia, 2000),
define auditoria governamental da seguinte forma:
A auditoria consiste no exame objetivo, isento de emissão de juízos pessoais motivados, sistêmico e independente, das operações orçamentárias, financeiras, administrativas e de qualquer outra natureza, objetivando verificar os resultados dos respectivos programas, sob os critérios de legalidade, legitimidade, economicidade, razoabilidade, tendo em vista sua eficiência e eficácia.
20
A auditoria governamental é o tipo de auditoria que está voltada para o
acompanhamento das ações empreendidas pelos órgãos e entidades que compõem a
administração direta e indireta das três esferas de governo, ou seja, de quem gerem a
res publica. Normalmente é realizada por entidades superiores de realização, sob a
forma de tribunais de contas ou controladoria, e organismos de controle interno da
administração pública (Araújo, 2006:19).
O macro-ambiente da auditoria governamental, conforme Peter & Machado (2007), compreende:
• Pessoas: ordenadores de despesas, arrecadadores de recursos,
dirigentes de entidades, responsáveis pela guarda de bens e valores;
• Recursos: financeiros, humanos, materiais e tecnológicos;
• Sistemas: financeiro, orçamentário, contábil, patrimonial, material,
legislação, pessoal;
• Organizações: Unidades de Administração Direta e Entidades de
Administração Indireta;
• Órgãos de controle: Secretarias de Controle Interno, Tribunais de
Contas, Controladorias, Auditores Independentes
• Clientes: Governo e Sociedade.
Figura 2 – Macro Ambiente da auditoria governamenta l
Transparência Fonte: Peter & Machado (2007)
Informações
Informações
Auditoria
Sujeitos • Pessoas • Organizações • Sistemas • Recursos
Órgãos de Controle
• SCI’s • TC’s • Controladorias • Auditores
Independentes
Governo
Objetivos e Metas
Sociedade
Responsabilidade Social
Informações
21
A auditoria privada cuja atuação se dá no âmbito das entidades que visam
o lucro. Para as companhias abertas, que negociam as suas ações na Bolsa, as suas
demonstrações financeiras e contábeis são obrigatoriamente auditadas por auditores
independentes registrados na Comissão de Valores Mobiliados – CVM, de forma a
atender ao artigo 177 da Lei das Sociedades por Ações – Lei nº 6.404/76 (Almeida,
1996: 24).
Auditoria Interna é a realizada por profissionais vinculados à entidade
auditada. Além das informações contábeis, preocupam-se também com os aspectos
operacionais. Normalmente, a auditoria interna se reporta diretamente à presidência da
organização, funcionando como um órgão de assessoramento (Araújo, 2006:20).
Crepaldi (2000:41) amplia o conceito de auditoria Interna ao incluir os
mecanismos de controle interno entre os seus objetivos, como se verifica na sua
definição: conjunto de procedimentos que tem por objetivo examinar a integridade,
adequação e eficácia dos controles internos e das informações físicas, financeiras e
operacionais da entidade.
De acordo com Araújo (2006:20), auditoria externa pode ser definida como
aquela realizada por profissionais qualificados que não são empregados da
administração auditada, com o objetivo precípuo de emitir uma opinião independente,
com base em normas técnicas, sobre a adequação ou não das demonstrações
contábeis. Também conhecida como auditoria independente, é a auditória contábil
realizada por especialistas não vinculados à organização examinada.
A posição de Crepaldi (2000:48) é a mesma, porém mais detalhada, para ele
auditoria externa é o conjunto de procedimentos técnicos que tem por objetivos a
emissão do parecer sobre a adequação com que os balanços e as demonstrações
contábeis representam a posição patrimonial e financeira, as mutações do Patrimônio
Líquido e as origens e aplicações de recursos da entidade auditada consoante as
normas brasileiras de contabilidade.
22
A auditoria externa é executada por profissional independente, sem ligação
com o quadro da empresa, sua intervenção é ajustada em contrato de serviço. Os
testes e indagações se espalham por onde haja necessidade de levantar questões
elucidativas para a conclusão do trabalho ajustado.
A auditoria externa surgiu como parte da evolução do sistema capitalista.
No início do capitalismo, as empresas eram fechadas e pertenciam a grupos familiares.
Com a expansão do mercado e o acirramento da concorrência, houve a necessidade
das empresas ampliarem suas instalações fabris e administrativas, investir no
desenvolvimento tecnológico e aprimorar os controles e procedimentos internos em
geral, principalmente visando à redução de custo e, portanto, tornando mais
competitivo seus produtos no mercado.
No relatório intitulado “The modernization of the public control pyramid:
international trends”, de Sterck, Scheers e Bouckaert (2005, apud Araújo et al, 2008:
33-34), apresentam estudo sobre a evolução na Pirâmide de Controle edificada em
três níveis de controle, em do governo federal ou central da Austrália, do Canadá, da
Holanda, da Suécia, da Inglaterra e dos Estados Unidos.
Figura 3 – Pirâmide de Controle
Sistema Tribunais de contas ou Instituições equivalentes
Auditorias e Controladorias
Responsabilidade da administração
Fonte: adaptado por Araújo et al (2008:34) de Sterck et al (2005:15)
AUDITORIA INTERNA
AUDITORIA EXTERNA
CONTROLE INTERNO
23
De acordo com os citados autores, a base da pirâmide encontra-se o
sistema de controle interno , de vital importância para que a administração alcance os
resultados pretendidos. No segundo nível, apresenta-se o sistema de auditoria interna,
o qual serve para verificar a manutenção da efetividade, vale dizer, atualização
constante e acompanhamento, dos sistemas de controle interno. A auditoria interna
pode ser definida como o controle do controle interno. No terceiro nível, há a auditoria
externa, a qual pode utilizar no seu trabalho, os trabalhos, os resultados e realizações
da auditoria interna.
Para Almeida (1996:50), o controle interno representa em uma organização
o conjunto de procedimentos, métodos, rotinas com os objetivos de proteger os ativos,
produzir dados contábeis confiáveis e ajudar a administração na condução ordenada
dos negócios. Apresenta, inclusive, exemplos de controles contábeis e administrativos
sob sua responsabilidade.
Quadro 1 – Controles Contábeis versus Controles Adm inistrativos
Controles Contábeis Contr oles Administrativos
• Sistemas de conferência, aprovação e
autorização;
• Segregação de funções;
• Controle físico sobre os ativos;
• Auditoria interna.
• Análise estatística de lucratividades por
linhas de produtos;
• Controle de qualidade;
• Treinamento de pessoal;
• Estudo de tempos e movimentos;
• Análise das variações entre os valores
orçados e incorridos;
• Controles dos compromissos assumidos,
mas ainda não realizados
economicamente.
Fonte: adaptado de Almeida (2006:50-1)
A auditoria contábil ou financeira , nos termos de Araújo (2006:20), é
idêntica a definição tradicional de auditoria externa, como se segue:
Representa o conjunto de procedimentos técnicos aplicados de forma independente por um profissional habilitado, segundo normas preestabelecidas, com o objetivo de emitir uma opinião sobre a adequação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto.
24
Na área governamental, a auditoria contábil ou financeira é mais
conhecida como auditoria de conformidade ou regularidade, cuja definição
apresentada no TCE-BA (Bahia, 2000) enfatiza o seu aspecto da legalidade dentro do
contexto do direito financeiro, como se pode interpretar:
Realiza o exame das operações e transações de natureza contábil, financeira,
orçamentária, orçamentária e patrimonial, com o objetivo de se emitir uma
opinião sobre a adequação das demonstrações tomadas em conjunto, assim
como verifica o atendimento às leis, normas e regulamentos aplicáveis, além
da moralidade e legitimidade dos atos administrativos.
O Tribunal de Contas da União – TCU em seu glossário, disponível na sua
página da internet, conceitua auditoria de forma similar ao TCE-BA, porém acrescenta
o seu campo de atuação:
procedimento de fiscalização utilizado para obter dados de natureza contábil,
financeira, orçamentária e patrimonial, quanto aos aspectos técnicos, de
legalidade e de legitimidade da gestão dos responsáveis pelo órgão, projeto,
programa ou atividade e para conhecer a organização e o funcionamento dos
órgãos e entidades da Administração direta, indireta e fundacional dos Poderes
da União, inclusive fundos e demais instituições jurisdicionadas ao TCU;
A auditoria operacional , na concepção de Araújo (2006:20), é a auditoria
que objetiva avaliar o desempenho e a eficácia das operações, os sistemas de
informação e de organização, e os métodos de administração; a propriedade e o
cumprimento das políticas administrativas; e a adequação e a oportunidade das
decisões estratégicas.
O TCE-BA (Bahia, 2000), no glossário do seu Manual de Auditoria, define de
forma sucinta: (a) economicidade – operacionalização ao menor custo possível, ou
seja, a aquisição de insumos ao menor preço sem prejuízo de qualidade; (b) eficiência
– relação entre produtos (bens e serviços) gerados e os custos dos recursos
consumidos, em determinado período de tempo; refere-se à utilização racional dos
25
AUDITORIA DE ECONOMIA
E EFICIÊNCIA
AUDITORIA CONTÁBIL
AUDITORIA DE EFICÁCIA
insumos ao rendimento máximo sem desperdício; (c) eficácia – grau de cumprimento
das metas estabelecidas, em determinado período de tempo; (d) efetividade – relação
entre os resultados obtidos e esperados; representa o impacto transformador do
programa sobre a realidade que se modificar, atentando para a satisfação das
necessidades da sociedade. Quanto à auditoria integral , também conhecida como auditoria de amplo
escopo (comprehensive audite), a mesma envolve três aspectos relacionados, mas
individualmente distinguíveis no que se refere a accountability (obrigação de responder
por uma responsabilidade conferida) quais sejam: exame das demonstrações contábeis
ou financeiras; exame de conformidade com as autorizações ou exame de legalidades;
e exame de economia, eficiência e eficácia (Araújo, 2006:20)
Reider (1993) apud Araújo (2006:21) apresenta um interessante estudo, que
de forma sintética, efetua uma classificação da auditoria quanto à sua finalidade.
Figura 4 – Classificação das Auditorias Quanto ao o bjetivo do Trabalho
AE
AI
AEF AO
AO = Auditoria Operacional AI = Auditoria Integrada AE = Auditoria de economia e eficiência AEF = Auditoria de eficácia
Fonte:Araújo (2006:21)
26
Como mostra a figura, as auditorias as figuras das auditorias de economia e
eficiência e de eficácia – componentes da auditoria operacional - necessitam de
informações contábeis e financeiras para serem realizadas. A auditoria operacional
engloba, portanto, a auditoria dos três “E”: Economia, Eficiência e Eficácia. A
realização da auditoria contábil tradicional juntamente com a auditoria integral dá
origem à auditoria integrada.
1.3 ENTIDADES DE FISCALIZAÇÃO SUPERIOR: ORIGEM, EVOLUÇÃO, SUAS
FORMAS DE ORGANIZAÇÃO NO MUNDO E NO BRASIL
O controle financeiro-patrimonial dos Estados é uma instituição milenar, que
desde os tempos dos estados mais antigos de nossa civilização, zela pelo bom uso dos
recursos públicos e, ainda assim, o seu estudo sempre foi relegado a um segundo
plano pelas Ciências Sociais.
O controle é um fenômeno elementar para a análise dos processos de
organização social. Martins apud Speck (2000:13) , propõe um mapeamento útil para
visualizar os vários aspectos do controle no sistema sócio-político, separando quatro
dimensões.
Quadro 2 – Quatro dimensões de controle entre Estad o e Sociedade
Controlado Controlador Sociedade Estado
Sociedade A C
Estado B D
Fonte: Speck (2000:13)
A primeira dimensão (A) se refere ao controle que a própria sociedade
exerce sobre si mesma. Formas de organização social, como costumes, normas e
hábitos sociais, são firmados por intermédio de mecanismo de mecanismo de sanção
social, e perpetuados culturalmente através de processos descritos nas ciências sociais
como de “socialização”.
27
A segunda dimensão (B) se refere ao controle que a sociedade realiza sobre
o exercício político. A sociedade efetua esse controle por meio de ampla gama de
mecanismos, como sistemas eleitorais, partidos políticos e grupos de interesses.
A terceira dimensão (C) se refere ao controle que o Estado exerce sobre a
sociedade. A expressão máxima desse poder é o uso legítimo da força contra os
cidadãos que não obedecerem às normas acordadas coletivamente. Essa dimensão,
também conhecida como controle “horizontal”, apresenta os mecanismos preferidos de
controle dos agentes públicos para alvo de estudos pelas ciências sociais.
Finalmente, a última dimensão (D) trata do controle que o sistema político
exerce sobre si mesmo. Todas as democracias modernas dispõem de vários
mecanismos de controle mútuo, com poderes de revisão sobre a atuação de outras
instituições. Como exemplo, citamos: a possibilidade de responsabilização do
presidente por improbidade administrativa pelo Senado, e a revisão das leis pelo
Supremo Tribunal Federal.
Essa última dimensão, cujos mecanismos são também caracterizados como
controle “vertical”, em contraposição a terceira dimensão, recentemente, em função dos
novos arranjos político-administrativos, que fortaleceu a autonomia e a independência
de instituições concorrentes, reacendeu o interesse de pesquisa pelos cientistas
sociais. O sistema de controles horizontais não se limita às instituições centrais do
sistema político, como o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Em áreas específicas,
ele envolve uma série de instituições regulatórias intermediárias – como o Ministério
Público, Tribunais de Contas (Controle Externo), e Sistemas de Controle Interno -,
caracterizadas por um alto grau de autonomia, e não sujeitas ao controle popular.
Nesse sentido, em praticamente todos os países democráticos do mundo,
independente de seu sistema de governo, ao lado das instituições que dão
funcionalidade aos três Poderes existe um organismo de controle técnico das finanças
públicas (Albuquerque, 2006:2). São as chamadas Entidades Fiscalizadoras Superiores
(EFS) que em países como França, Portugal, Espanha, Alemanha,e Brasil possuem a
28
configuração de Tribunais de Contas, órgão colegiado, com função judicante, criados a
partir do modelo francês. Enquanto nos países de origem anglo-saxônica, essas
instituições são organizadas sob a forma de órgãos singulares, sem função judicante,
denominados auditorias ou controladorias, como Reino Unido, Canadá, Estados Unidos
e Austrália.
As instituições superiores de controle, segundo Speck (2000), têm longa
tradição, em alguns países remontam inclusive a alguns séculos de existência. Porém,
somente durante o século XIX, a preocupação com o controle financeiro tomou a
dimensão que resultou na criação de instituições específicas em muitos países, a
maioria sem independência para o exercício do controle financeiro. O propósito, em
geral, para as sua criações, independente do regime político ser monarquia ou
república, visavam introduzir mecanismos próprios de controle, para aumentar a
racionalidade do uso dos recursos públicos.
Quadro 3 - Criação de instituições superiores de co ntrole financeiro
País Ano Nome
Espanha Séc. XV Tribunal de Cuentas
Prússia 1714 Generalrechenkammer
Aústria 1761 Hofrenchenkammer
França 1807 Cour dês Comptes
Holanda 1814 Algemene Rekenkamer
Finlândia 1824 General Revision Court
Bélgica 1830 Rekenhof
Portugal 1842 Tribunal do Tesouro Público
Itália 1862 Corte dei Conti
Inglaterra 1866 Comptroller and Auditor General
Brasil 1891 Tribunal de Contas
Estados Unidos 1921 General Accounting Office
Fonte: Speck (2000:28)
29
Uma característica interessante das Entidades Fiscalizadoras Superiores é a
estabilidade da sua configuração no sistema político, integrando-se e adaptando-se aos
mais diversos contextos políticos e administrativos. Enquanto os principais poderes
constitucionais, nos sistemas políticos passam por reconfigurações profundas – de
monarquias para república, de regimes democráticos para autoritários, ou vice-versa-,
as EFS apresentam uma estabilidade surpreendente. As mudanças nas suas funções
não se dão em meio a um grande debate nacional, mas acontecem gradualmente, em
função de rearranjos institucionais que passam despercebidos pela grande maioria dos
observadores.
Outras características importantes das EFS, é que são instituições
complexas, com cada uma representando papéis com diferentes características entre
si. Algumas apresentam papel quase-administrativo, ao exercerem previamente atos da
administração para atestar a sua regularidade. Outras assessoram o Legislativo, ao
elaborarem os pareceres sobre o desempenho econômico-financeiro, que servirão de
subsídio para a aprovação ou reprovação das contas do governo pelo Legislativo.
Freqüentemente, EFS atuam como promotores, ao encaminharem
irregularidades apuradas aos órgãos competentes. Ou desempenham funções judiciais,
ao responsabilizarem os administradores por eventuais danos ao erário público em
virtude de má-gestão. Finalmente, temos aquelas que analisam processos
administrativos em busca de mais eficiência. São tarefas próximas dos gestores de
políticas públicas, pois tentam identificar o impacto de determinados programas
político-administrativo na sociedade.
Speck (2000: 24) aponta que as EFS foram instituídas, historicamente, com
duas finalidades diferentes: primeira, na preocupação gerencial de administrar bem os
recursos públicos. Essa inquietação nasce no seio da própria administração e dá
origem a EFS inicialmente alocadas no âmbito do próprio poder Executivo. A segunda
finalidade surgiu na preocupação do Poder Legislativo, representando a apreensão
liberal, em limitar o Poder Executivo, e cuja origem tem origem nos primeiros órgãos
representativos, como as Cortes Gerais medievais.
30
As EFS criadas pelo Poder Executivo na Europa entre o séc. XVIII e XIX,
durante a fase do absolutismo esclarecido e das repúblicas constitucionais, tinham na
sua essência, como forma de bem gerir o recurso público, a preocupação primária de
controlar os administradores e, portanto, estavam atreladas ao processo de efetuar a
racionalização administrativa.
Segundo Weber, elementos importantes dessa racionalização são: a
separação entre os bens públicos e privados; a disponibilização dos recursos materiais
necessários para a administração do Estado; o crescimento quantitativo da
administração pública, pela expansão das tarefas nas áreas fiscal, judicial e militar e
finalmente, a profissionalização dessas atividades, que serão exercidas por
funcionários públicos.
Assim, EFS, como a da Prússia, criada em 1716, pelo monarca absolutista
Guilherme I, deram impulso decisivo à racionalização administrativa, já que visavam
controlar, como forma de modernização administrativa de iniciativa do Executivo, a
gestão financeira dos administradores.
Por sua vez, a preocupação liberal de limitação do poder e de
responsabilização dos agentes por eventuais abusos, se iniciou no próprio Poder
Legislativo, que aperfeiçoou a capacidade de acompanhar criticamente, através de
corpos representativos, como as antigas Cortes Gerais, os atos da Administração.
Esses órgãos representativos, que inicialmente se reuniam ocasionalmente, se
transformaram em instituições permanentes, desenvolvendo profissionalmente a
discussão sobre a correta aplicação dos recursos públicos. O parlamento inglês foi o
precursor em criar uma comissão interna – em 1861, o Comitê de Contas Públicas – e,
a partir de 1866, de uma instituição externa de assessoria – chefiada por um auditor
geral - a essa comissão na fiscalização dos gastos públicos. Vários países,
influenciados pelo modelo anglo-saxão de democracia, criaram instituições a partir da
preocupação liberal de controlar o Poder Executivo pelo Legislativo.
31
Além deste modelo de dois tipos ideais, baseado nas duas funções inerentes
ao controle financeiro-patrimonial, surge em 1807 o modelo francês de Tribunal de
Contas, com outra configuração institucional e que serviu de exemplo para a criação de
instituições similares em muitos países. A característica mais importante do modelo
francês é a sua posição eqüidistante de ambos os poderes.
Os Tribunais de Contas instituídos sob orientação do modelo francês se
tornam cada vez mais independentes e autônomos na realização de suas tarefas, não
mais servindo como mero órgão de assessoramento ao Executivo ou ao Legislativo. Os
integrantes são nomeados por períodos prolongados ou até mesmo por cargos
vitalícios, recebendo garantias comparáveis às dos membros do Poder Judiciário e
têm o poder de programar o próprio trabalho. E como instituições independentes, a
tarefa de responsabilizar os agentes públicos, oriunda da preocupação liberal, fez com
adquirissem o formato de justiça administrativa.
Portanto, é o Tribunal de Contas que, em nome próprio e em última
instância, responsabiliza ou absolver os agentes públicos quanto à regularidade e à
legalidade da gestão financeira. Nessa configuração, como instituições com alto grau
de independência, os Tribunais de Contas tendem a se identificar mais com a
preocupação liberal, já que visam comprometer os administradores com o cumprimento
da lei.
Somente, em tempos mais recentes, esta mesma configuração de
independência institucional serviu também como base para ampliar as tarefas
gerenciais, quando passou a avaliar o desempenho das administrações, tomando
como critério os objetivos e resultados previstos nas ações dos programas
governamentais.
Outra questão diferenciadora é a questão do momento do controle. A
maioria das instituições exerce um controle posterior, enviando suas conclusões para o
Legislativo ou para a Justiça, ou mesmo elas decidindo sobre as contas. Contudo, no
32
século XIX, a preocupação com danos irreparáveis levou a construções de modelo
concomitante, ou até prévio. Nesse caso, as despesas ou contratos poderiam ser
revistos ou impedidos enquanto ainda fosse tempo. Na prática, o Tribunal tinha que
autorizar as despesas de antemão, numa atuação de caráter administrativo e que, sem
dúvida, reflete uma preocupação gerencial.
O Tribunal de Contas no Brasil, apesar de vária tentativas infrutíferas no
Império1, que denotavam que a racionalização e o controle da despesa pública foram
um tema constante, só vingou com a instalação da República. Foi Rui Barbosa, então
Ministro das Finanças, que o Tribunal de Contas foi definitivamente implantado no
Brasil por meio da primeira Constituição republicana de 1891. A sua configuração inicial
teria um impacto profundo sobre o desenvolvimento da instituição no século seguinte
(Speck, 2000:40).
O artigo 89 da Constituição de 1891 pode ser resumido em duas frases, que
denotam as características básicas de criação do Tribunal de Contas no Brasil:
É instituído um Tribunal de Contas para liquidar as contas da receita e da despesa e verificar a sua legalidade, antes de serem prestadas ao Congresso. Os membros desse Tribunal serão nomeados pelo Presidente da República, com aprovação do Senado, e somente perderão os seus lugares por sentença (grifo nosso)
Rui Barbosa foi quem propôs que a escolha dos membros do Tribunal seria
indicação do Presidente e a confirmação pelo Senado com a finalidade do órgão ser
eqüidistante de ambos os poderes, na forma do modelo francês. A forma conjunta de
indicação pelos dois poderes coloca os integrantes do Tribunal próximo ao mundo
político. Os contrapesos para neutralizar a origem política dos ministros são a
vitaliciedade, garantias vinculadas ao cargo e a forma colegiada de decisões. Desde a
sua criação, os cargos de ministros do Tribunal eram vitalícios, e os seus integrantes
receberam garantias que os equiparavam aos juízes da mais alta corte do país.
A atribuição que causou mais impacto político, que perdurou até a
Constituição de 1967, foi o registro prévio das despesas pelo Tribunal. A questão do
33
momento do controle era visto com extrema importância, uma vez que despesas
ilegítimas dificilmente seriam recuperadas. Embora o Tribunal de Contas tenha se
originado com base no modelo francês, que nesse aspecto optava pelo controle prévio,
o parlamentar brasileiro por influência, sobretudo, de Rui Barbosa escolheu o controle
prévio que foi introduzido na Holanda, em 1820, e em seguidas em países como
Bélgica, Itália e Portugal.
A competência de julgar as contas dos administradores públicos foi outra
atribuição contestada. A constituição de 1891 só comenta sobre a função de “liquidar
as contas de receita e despesa e verificar a sua legalidade”. Mas na sua Lei Orgânica
de 1892, afirma-se que o Tribunal de Contas teria a função de julgar as contas dos
administradores. Enquanto a aprovação das contas estaria nas mãos do Legislativo, as
contas dos administradores seriam apreciadas e julgadas, em última instância, pelo
próprio Tribunal de Contas. Somente a partir da Constituição de 1934, na redação do
seu texto definitivo, foi que se inseriu às atribuições judiciais em relação às contas dos
administradores.
Uma alteração mais profunda aconteceu durante a ditadura militar, em
função de seu amplo projeto e reforma econômica para acelerar o crescimento do país.
Para isso fez-se uma considerável reforma administrativa que afetou o modo de
atuação do Tribunal de Contas. Através da Constituição de1967, o registro prévio de
despesa foi abolido, introduziu-se uma nova modalidade de controle através das
auditorias e fiscalizações e criou-se o sistema de controle interno. O término do
controle prévio foi por razões de ordem prática, pois com a expansão da administração
e a multiplicação das repartições, haveria necessidade do Tribunal de Contas abrigar
uma superestrutura para registrar previamente a despesa de cada repartição. Além de
emperrar administração porque atrasava a execução orçamentária. E de outro lado, os
prazos exíguos dados ao Tribunal para sua manifestação não permitiam uma efetiva
verificação da legalidade e da regularidade dos atos da administração.
34
O novo instrumento de fiscalização, a auditoria e a inspeção, foi uma
compensação a perda do controle global através do registro. As investigações in loco
realizadas pelo próprio corpo técnico do Tribunal de Contas melhorariam a qualidade
da base de dados para o julgamento das contas dos administradores , anteriormente
limitada meramente às informações e documentações fornecidas pela administração.
Essa modificação no arranjo legal alterou profundamente a forma de atuação da
instituição, que, entretanto, seria absorvida lentamente pela cultura administrativa do
Tribunal. Segundo alguns autores, até hoje o Tribunal de Contas não se livrou ainda da
cultura do registro prévio (Speck, 2000: 69)
1.4 O IMPACTO DA NOVA GESTÃO PÚBLICA NAS EFS: A EMERGÊNCIA
DA AUDITORIA OPERACIONAL
Para Barzelay (2002) a Nova Gestão Publica oferece um arcabouço teórico
para ampliar a competência legal das instituições de auditoria de forma a incluir a
auditoria de desempenho. São diversas organizações de vários países que já vem
desenvolvendo essa nova modalidade de auditoria, já incorporada ao vocabulário da
administração pública.
A auditoria tradicional está identificada com o modelo mental de
funcionamento do governo como uma máquina burocrática orientadas por normas e
regras rígidas (Mintzberg, 1998:163), opera na forma de processos e trabalhos
padronizados e apresenta um caráter punitivo. Já a auditoria de desempenho incorpora
idéias chaves da Nova Gestão Pública, tais como, eficiência, economia, efetividade,
boas práticas de gestão, boa governança, qualidade de serviço e atendimento de
metas (Gomes, 2002:36).
As auditorias de desempenho e conformidade, na visão de Gomes
(2002:37), são partes que complementam o controle burocrático. Não há registro de
alguma EFS que tenha abandonado a visão mais tradicional de guardiã da gestão
pública através de verificações da conformidade e legalidade dos atos que lidam com o
35
dinheiro, bem ou valor público. Entretanto, a mais recente modalidade de revisão e
controle da gestão estatal, com enfoque nos resultados, está cada vez consumindo os
recursos e esforços de diversas EFS que buscam, além dos aspectos da conformidade
da gestão, avaliar, revisar e pesquisar o desempenho de atividades, projetos,
programas políticas e órgãos governamentais.
Com o desenvolvimento dessa nova filosofia de administração pública
através do modelo gerencial, ou pós-burocrático, a função do controle governamental
passa a ser discutida como instrumento de grande relevância para que o Estado possa
garantir que os conceitos de eficiência, economicidade e eficácia, propostos pelo
paradigma gerencial, possam ser seguidos.
O paradigma gerencial estabelece para o controle governamental um novo
escopo na análise da aplicação dos recursos públicos, cuja ênfase prioriza os
resultados alcançados, possibilitando inserir a perspectiva de transparência das ações
governamentais, através do uso de novos instrumentos que possibilitem a fiscalização
e avaliação dos gestores públicos.
A administração gerencial requer, por partes dos órgãos e entidades da
administração pública, uma visão mais estratégica bem definida, os objetivos de longo
prazo em função de metas, estabelecimento de metas de longo prazo, assim como de
metas anuais de desempenho, as quais serão mensuradas através de indicadores de
desempenho desenvolvidos para esse propósito e também para contribuir para a
melhoria da efetividade dos programas (Nunes, 2004:65).
Tohá e Solari(1997:98), alerta contra a intensificação excessiva, por parte
das gestões públicas no mundo inteiro, de se privilegiar os controles ex-post, baseado
em resultados, em prejuízo dos ex-ante, que verificam às normas e o ajuste aos
processos. Uma vez que esse tipo de controle continua sendo necessário para prevenir
e identificar problemas de corrupção. No entanto, é importante criá-los de forma menos
formalista e burocratizada, que não se tornem empecilhos para a gestão, deslocando-
36
se assim a ênfase do sistema de controle, gradativamente, dos processos para o
resultado.
Esses autores enfatizam a necessidade de se buscar um equilíbrio
permanente entre a flexibilidade e os regulamentos, já que em contrapartida ao
desfazimento de formalidades e regulamentos do modelo racional-legal requer-se a
implantação de outros mecanismos que protejam a Administração contra os abusos e
ineficiências. Ao se criar condições de eficiência e eficácia em níveis elevados,
semelhantes aos das empresas privadas, desconsidera-se as especificidades do setor
público, onde não existe clareza quanto aos indicadores de desempenhos.
Nesse sentido, Pollit e Bouckaert (2002), criticam a impossibilidade de se
poder, na prática, utilizar certos tipos de dados exigidos para confirmar a eficácia das
reformas decorrentes da nova gestão pública. O rigor analítico de certas metodologias
de avaliação, que exige o emprego de grupo de controle, na vida real, no entanto, são
descartados por razões éticas e práticas. O teste da economicidade, de fácil
compreensão para o cidadão comum, além de poder ter vários sentidos – uma redução
absoluta nos gastos comparada com o período anterior; uma redução abaixo do nível
de gasto inicialmente previsto; uma redução em custos unitários - pode causar efeitos
negativos em outros critérios, como produtos (menor eficiência) ou resultados (menor
eficácia).
Assim, para esses autores, a retórica de eficiência trazida pela nova gestão
pública é muito mais alardeada pelos governos, que gostam de dar certa proeminência
sobre suas decisões, do que, de fato, concretizada. Já as informações sobre as
implementações das reformas são, em geral, mais difíceis de se encontrar, ainda que,
de fato,existem casos em que ocorreram melhorias nos processos. Em vários países
(mas não em todos) algumas importantes necessidades cotidianas, tais como carteiras
de habilitação, carteiras de identidade, passaportes, e formulários do imposto de renda
são muito mais facilmente obtidos do que há 20 anos atrás Porém, no caso de
fracasso, não é comum que políticos ou servidores públicos.participem de palestras
37
para explicarem como suas reformas fracassaram , ou aqueles casos mais complexos
que são prejudicados em razão da realização das metas quantitativas.
Não obstante as dificuldades e contradições, que não devem ser ignoradas,
a implantação progressiva da administração gerencial está associada à expansão e
sofisticação dos sistemas de informação, à ênfase no planejamento e à implantação de
critérios de desempenhos para os órgãos e entes públicos, o que colaborou para o
desenvolvimento das auditorias voltadas para resultados (Nunes, 2004:66).
Nesse contexto de reformas do Estado, ocorreram vários debates acerca de
como o controle externo pode contribuir para o aumento da responsabilização dos
agentes públicos, para o aperfeiçoamento das ações do governo e para o
desenvolvimento de informações confiáveis à sociedade. Como resposta, desenvolve-
se no âmbito das Entidades de Fiscalização Superior – EFS um tipo de fiscalização – a
auditoria de desempenho – que focaliza o mérito da ação pública quanto aos
resultados ao invés de enfatizar a conformidade dos procedimentos de gestão.
Barzelay (2002:6-7), comenta que há autores que concebem que as
auditorias de desempenhos não são um tipo de auditoria, elas são, de fato, avaliações.
Nessa perspectiva, o auditor governamental ao conduzir trabalhos de auditoria está
exercendo uma atividade que vai além do seu papel tradicional de verificar a
conformidade dos atos de gestão e, dessa forma, estaria invadindo áreas de outros
profissionais, como de: análise econômica, consultoria administrativa, pesquisas
sociais e análise de políticas públicas. Advogados e contadores – a espinha dorsal da
maior parte das EFS – deveriam, em vez disso, se dedicarem as formas tradicionais de
auditoria de conformidade e, ainda, aperfeiçoando-se em recentes elementos de
análise financeira, auditorias de riscos, trabalhos atuariais, e outros dessa natureza
(Gomes, 2002:40).
O contra-argumento a essa retórica de que as EFS não têm legitimidade
para desenvolvimento de trabalhos de auditoria de desempenho, expõe GOMES
38
(2002:40), é que essas instituições estão cada vez mais demandadas para realizarem
trabalhos mais qualitativos do ponto de vista da análise da eficiência, efetividade e
economicidade (3 E´s) da ação governamental. O profissionalismo, a independência
institucional, a capacidade técnica e a posição que ocupa nas administrações públicas
nacionais permitem-lhe realizar trabalhos de maior credibilidade e com maior grau de
independência sobre os aspectos dos três E´s. Tais enfoques do controle vêm
ganhando relevo para a consolidação de Estado democrático; para desfazer a imagem
pública de ineficiência e não efetividade das ações implementadas por governos; bem
como para conter a crise fiscal porque passam os governos desde meados de 1980.
Esse último, o argumento administrativo determinante para as reformas administrativas
que vem sendo implementadas por diversos países sob a rubrica de doutrinas da nova
gestão pública (Hood e Jackson apud Gomes, 2002:40).
Em estudo já clássico realizado por Barzelay (2002), que se baseou em uma
pesquisa efetuada em 1996 pelo Serviço de Administração Publica da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em pesquisa realizada
em 1996 junto às EFS dos países-membros, constatou-se que das 13 que
responderam à pesquisa, 12 informaram realizar modalidades de revisão que poderiam
ser enquadradas como auditoria de desempenho. O Tribunal de Contas de Portugal,
embora tenha competência legal, foi enquadrado como aquele que aparentemente não
realizava auditoria de desempenho.
Uma das conclusões desse estudo foi que os países em os órgãos centrais
de auditoria realizam auditoria de desempenho, as doutrinas de administração voltadas
para desempenho estão conquistando espaços significativos, com exceção de França
e Alemanha, países onde as suas burocracias são céticas quanto a essas novas
idéias..
Nesse estudo também se identificou, com base nas informações colhidas no
Simpósio da OCDE e em outras fontes, 7 tipos de auditoria de desempenho, a saber:
39
Quadro 4 – Tipos de Auditoria de Desempenho
TIPO DE
AUDITORIA
OBJETIVO
Eficiência Examinam as funções organizacionais, os processos, e os
elementos de programa para avaliar se os insumos estão sendo
transformados em produtos de forma otimizada, especialmente
no que concerne aos custos
Efetividade de
Programas
Examinam o impacto provocado pelos programas sobre
resultados finais
Capacidade de
gerenciamento do
desempenho
Buscam avaliar se um auditado tem capacidade para gerenciar
processos e programas de forma eficiente e eficaz
Informações de
desempenhos
Verificam a precisão de informações não-financeiras geradas
pelas próprias entidades examinadas. O órgão revisor não
avalia a economia, eficiência ou efetividade de uma organização
ou programa, mas, sim formula um parecer sobre as
veracidades das informações de desempenho fornecidas às
instâncias superiores
Revisões da melhor
prática de gestão
Idenificam onde um dado tipo de função está sendo
desempenhado de forma excepcional e procuram discernir as
razões daquele sucesso relativo
Avaliações de risco Indicam aos formuladores de políticas públicas e gerentes do
alto escalão os graves problemas que podem advir caso um
programa seja mantido na mesma linha da operação. Esse tipo
de auditoria de desempenho se diferencia das auditorias de
efetividade de programa uma vez que não necessita posicionar-
se quanto à efetividade do programa. O papel desse tipo de
auditoria é o de identificar formas pelas quais os programas
existentes possam sofrer interrupção no futuro e alertar os
políticos e os gerentes quanto a essa possibilidade
Revisões gerais de
gestão
Avaliam as organizações em vez de programas. Quando essas
revisões vão além das auditorias de desempenho da
capacidade gerencial, elas geralmente buscam as causas
significativas para problemas ou sucessos persistentes na
esfera do desempenho dentro de uma gama de atividades de
um programa
Fonte: BARZELAY, 2002
40
As auditorias de eficiências são desenvolvidas por quase todas as EFS
pesquisadas, as auditorias de desempenho por dois terços, as auditorias de efetividade
de programa por cerca de metade e as auditorias de informações por cerca de um
quarto dessas instituições.
Quadro 5 – Principais tipos de auditoria de desempe nho por país
Auditoria de
Eficiência
Auditoria de
efetividade
de programa
Auditoria de
Capacidade de
gerenciamento
do desempenho
Auditoria de
informações
de
desempenho
Austrália � � �
Canadá � �
Finlândia � � �
França � �
Alemanha � � �
Irlanda � �
Holanda � � �
Nova
Zelândia
� �
Noruega � �
Portugal
Suécia � � � �
Reino Unido � �
Estados
Unidos
� � �
Fonte: Barzelay, 2002
O fato da auditoria de eficiência ser a mais difundida modalidade, explica
Bazerlay (2002), é explicada com base nas teorias mais comuns de comportamento
burocrático que enfatizam a resistência às mudanças institucionais e a preferência por
autonomia organizacional. As auditorias de eficiência não implicam uma reformulação
radical da missão, do papel e da estratégia dos órgãos de auditoria, além do fato da
eficiência ser considerada um valor fundamental por unanimidade até mesmo na época
racional-legal. As EFS que realizam auditoria de eficiência podem continuar recrutando
41
seus técnicos dentro da estrutura tradicional (contadores e advogados), estruturar as
tarefas dos auditores de forma semelhante e manter normas similares de
relacionamento profissional com os órgãos auditados.
As auditorias de capacidade de gerenciamento de desempenho alteram a
missão dos órgãos de auditoria pois incorpora, de forma incisiva, o conceito de boa
gestão numa amplitude que vai além do simples aspectos de boa prática
administrativa. Porém, não necessariamente afeta o papel tradicional do órgão de
auditoria. Dentro da bipolaridade política/administração, a capacidade de gestão do
desempenho é conceitualmente uma questão administrativa, já que diz respeito à
implementação de políticas e não ao mérito ou efetividade dessa políticas. Assim, os
riscos para a autonomia organizacional são moderados, e a única ameaça consiste na
organização ser vista como não tendo competência técnica apropriada para
desenvolver esse tipo de auditoria. (Barzelay, 2002).
A missão, o papel e a estratégia organizacional dos órgãos de auditoria são
afetados com a inclusão das auditorias de efetividade no rol dos seus produtos. Nesse
caso, a definição da missão torna-se mais ampla e abstrata. Surge a necessidade de
diversificar a contratação de profissionais de outros grupos de carreira, incluindo
aqueles das áreas de ciência e de avaliação governamental, bem como o
desenvolvimento de novas rotinas para uma gama maior de processos de trabalho.
Além disso, e mais importante, a ênfase no aspecto político da bipolaridade
política/administração afetam o papel tradicional da entidade, já que os resultados da
auditoria de efetividade de programas suscitam questionamentos de natureza política
que podem ameaçar sua autonomia organizacional (Brazelay, 2002).
As teorias de resistência burocrática à mudança e da preferência pela
autonomia organizacional falham quanto a pouca difusão das auditorias de informações
de desempenho. Elas ampliam discretamente a missão, envolve mudanças marginais
na estratégia organizacional, e nenhuma alteração no papel institucional. Parece ser o
fato de que elas são realizadas nos países onde os governos assumiram
compromissos filosóficos com uma administração pública orientada a resultados, e
42
construção de novos sistemas e procedimentos de revisão e elaboração orçamentária
fundamentados nessa concepção, que explicam a sua utilização em poucos órgãos de
auditoria (Barzelay, 2002)
Segundo estudo de Pollit apud Gomes 2002:43, em cinco EFS (Inglaterra,
França, Holanda, Finlândia e Suécia) entre as categorias de auditoria de desempenho
– economia, eficiência, efetividade, boa prática de gestão1, boa governança2, qualidade
de serviço3 e atendimento de meta44 – concluiu-se que critérios relacionados com boa
prática de gestão constituem o tipo mais realizado por elas.
1 consiste em testes que verificam se um auditado possui bom sistema de contabilização, procedimento de determinações de metas, se existe boa ralação com clientes; a função recursos humanos é considerada a amais alta prioridade da empresa, entre outras. Compara-se as atividades atuais do auditado com modelos ou padrões de bom gerenciamento (benchmarking). 2enquanto boas práticas de gestão lidam com fatores mais internos à organização, o critério de boa governança estabelece uma visão mais sistêmica e externa à organização. Esse critério relaciona-se com a visão de coordenação das ações governamentais, que devido a uma série de fatores dentro das administrações públicas nacionais levam a fragmentação e perda de sinergia. 3o sucesso desse critério pode ser alcançado se um serviço público atinge as expectativas razoáveis de seus usuários 4envolve o estabelecimento da extensão na qual o órgão auditado fracassou ou obteve sucesso no atendimento de suas próprias metas, declaradas publicamente ou estabelecidas por normativos.
43
2- AUDITORIA OPERACIONAL
Esse capítulo é dedicado exclusivamente a auditoria operacional na ótica
governamental, apresentando a sua origem e evolução histórica, os seus conceitos e
métodos, as suas diferenças em relação as auditorias tradicionais, a sua limitação, bem
como o seu ciclo auditorial.
2.1 – ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA
A auditoria operacional, no setor governamental, desenvolveu-se em
função dos trabalhos realizados pelos órgãos centrais de auditorias dos Estados
Unidos da América, de âmbito federal (GAO) e estaduais. Segundo Araújo (2006:40-1),
suas pesquisas apontam no início da década de 1970 os primeiros indícios do
processo de sistematização da auditoria operacional como um ramo da auditoria na
área governamental. Especificamente no VII Congresso da INTOSAI, realizado em
1971, um dos marcos iniciais da auditoria operacional no mundo, no qual aconteceu a
aprovação do conceito de auditoria integrada ou integral, com o objetivo de se estender
além do enfoque tradicional, o universo de exame da auditoria financeira. Essa nova
conceituação incluiu não só a abordagem de verificação do cumprimento da
responsabilidade financeira1, como também os aspectos relacionados às questões
administrativas e programáticas2.
Em 1972, o GAO publicou a primeira versão das Normas de auditoria
governamental, logo denominado Livro Amarelo, em função da cor da sua capa. Tal
documento trata amplamente de todas as formas de auditoria, definindo o conceito e o
campo de atuação da auditoria operacional e apresentando os seus preceitos.
1 que envolve a adequação das informações apresentadas nas demonstrações financeiras, além do aspecto relacionado à obediência a leis e regulamentos aplicáveis. 2que abrangem questões de economia e eficiência na aplicação dos recursos públicos, bem procuram
verificar se os programas governamentais estão atingindo os resultados propostos, levando em consideração
os custos e benefícios alcançados
44
Outro fato marcante na evolução da história da auditoria operacional
(Araújo, 2006:41-2), na demarcação da competência legal do Escritório-Geral do
Auditor do Canadá, durante o período de 1973 a 1977, e que resultou na legislação
independente sobre auditoria. A análise do conteúdo desta Lei, em seu artigo 7º ,
revela a intenção do legislador canadense para que o relatório da apresentação da
prestação de contas (accountability) do governo tenha como suporte informações
examinadas com base metodológica na auditoria operacional.
Sintetizamos, outros importantes marcos que contribuíram para o
desenvolvimento da auditoria operacional no Brasil e no mundo, a saber:
Quadro 6 – Marcos da Auditoria Operacional no Bras il e no Mundo
ANO FATO DESDOBRAMENTO
1977 IX Congresso Mundial de
Tribunais de Contas, realizado
em Lima (PERU)
“O volume de recursos financeiros aplicados e a
importância dos objetivos a alcançar para o bem-
estar dos respectivos países determinam que se deve
evitar todo gasto inútil e antieconômico: portanto, os
organismos de controle deverão estender seus
exames para além da auditoria financeira, a fim de
penetrarem na auditoria operacional, condizente com
e eficiência, economia efetividade” (grifo
nosso)
1986 XII Congresso da INTOSAI,
em Sydney (Austrália)
Reconheceu-se a necessidade de melhorar a
divulgação das demonstrações financeiras e dos
resultados das atividades, bem como o aperfeiçoar a
gestão do setor público mediante o desenvolvimento
da auditoria operacional (que segundo a própria
INTOSAI objetiva avaliar a economia, eficiência e a
eficácia)
1988 Constituição da República
Federativa do Brasil
Atribui ao Tribunal de Contas da União a
responsabilidade das auditorias de natureza
operacional
1992 Lei de Finanças do Governo
Municipal, em 1982 na
Inglaterra
Determinou a obrigatoriedade da realização de
auditoria operacional nas unidades do governo
municipal
45
1994 INTOSAI Última revisão do Manual de Auditoria, que trata
amplamente de todas as forma de auditoria
operacional, conhecido como Livro Amarelo
1998 XVI Congresso da INTOSAI,
em Montevidéu (Uruguai)
Ficou definida a elaboração das Diretrizes para a
aplicação da Auditoria pelo Comitê de Normas de
Auditoria do INTOSAI, em conjunto com as EFS´s. O
projeto final foi elaborado em 2003
1998 Tribunal de Contas da União Publicou o seu Manual de Auditoria Operacional –
MANOP
Fonte: elaborado com base em Araújo (2006:41-4)
Embora os países que mais têm contribuído para a expansão,
desenvolvimento e aplicação dos métodos de auditoria operacional sejam Estados
Unidos da América, Inglaterra e Canadá, entretanto Gomes (2004:45), cita a
Dinamarca como pioneira, desde 1926. Nesse ano, promoveu-se uma reforma na
auditoria governamental que removeu o seu aspecto puramente financeiro e legalista,
acrescentando-lhes uma dimensão mais econômica ou de desempenho. O controle
externo nesse país é exercido de modo conjunto pelo Legislativo (Comitê Parlamentar
de Contas Públicas) e Executivo (Escritório do Auditor Geral). Em 1991, o Escritório
Dinamarquês foi transferido do Executivo para o Legislativo.
No Brasil, conforme Araújo (2006:44), antes mesmo da Constituição Federal
de 1988, mesmo que de forma embrionária, já se falava de auditoria operacional em
1982, pois no Tribunal de Contas da União, atento ao IX Congresso Mundial de
Tribunais de Contas, através de ato administrativo (Portaria nº 199, de 12-12-1982)
instituiu a auditoria programática, com características bem semelhantes às da auditoria
operacional. Contudo, Oliveira apud Leal (2006:38), afirma que somente em 1986
iniciou-se no Brasil, exatamente na administração pública federal, através do Decreto
93.874, cujo artigo 10, parágrafo segundo, estabeleceu-se que além de examinar os
atos de gestão, a fim de certificar a exatidão das regularidades das contas, a auditoria
deveria verificar a eficiência e a eficácia na aplicação dos recursos.
46
A Constituição Federal de 1988 institucionalizou o controle operacional na
legislação brasileira quando, por força do caput do artigo 70, atribuiu ao Poder
Legislativo com auxílio do Tribunal de Contas da União a competência para exercer a
“fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e
das entidades da administração direta e indireta” (Brasil, 2008b).
E, por sua vez, o Tribunal de Contas da União, por meio do artigo 71, inciso
IV, passou a dispor da competência constitucional de efetuar “... inspeções e auditorias
de natureza contábil, financeira, orçamentária e patrimonial nas unidades
administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário,...” (Brasil, 2008b). A
edição da Lei de Responsabilidade Fiscal1 (LRF) em 2000, atribui aos Tribunais de
Contas o dever de alertar as entidades públicas sobre os fatos que comprometem os
custos e resultados dos programas governamentais, tornando então o exame da
eficiência e eficácia desse programas um procedimento obrigatório no âmbito do
controle externo.
Entretanto, apesar de ter sido instituída em 1988 no TCU, a auditoria
operacional ainda está se processando, pelo fato de sua natureza ser mais complexa
que a auditoria tradicional, e exigir uma metodologia sofisticada para assegurar a
qualidade dos trabalhos. Numericamente, essa atividade ainda tem pouca
representatividade no total das fiscalizações efetuadas no TCU (quadro 7).
Quadro 7
Auditorias operacionais em relação a todas as fisca lizações
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Auditoria Operacional
ou Integral
30 31 31 45 17 46 29 51 14
Total das fiscalizações 821 1012 1015 1141 743 886 756 855 720
Fonte : Speck (2000:147)
1art. 59 O Poder Legislativo, diretamente ou com o auxílio dos Tribunais de Contas, e o sistema de controle interno de cada Poder e do Ministério Público, fiscalizarão o comportamento das normas desta Lei Complementar, com ênfase no que se refere a: (...) V- fatos que comprometam os custos ou os resultados dos programas ou indícios de irregularidade na gestão orçamentária. (...)
47
2.2 ASPECTOS GERAIS DA AUDITORIA OPERACIONAL
Nas últimas três décadas, nota-se um aumento crescente do interesse pelas
auditorias realizadas pelas EFS com foco no desempenho, contudo, não existe ainda
um consenso quanto ao melhor termo que designe o seu tipo de atividade.
Dependendo do país, região ou organização, receberá um rótulo diferente, dentre os
quais podemos citar: auditoria operacional, auditoria de desempenho (performance
audit); auditoria de valor pelo dinheiro (value-for-money audit), auditoria administrativa,
auditoria de gestão, auditoria de rendimentos e auditoria de resultados (Albuquerque,
2007:43).
Reider apud Araújo (2006:27) enumera outras importantes denominações que
a literatura técnica atribui à auditoria operacional, das quais destacamos: auditoria
abrangente, auditoria de amplo escopo, auditoria de avaliação, auditoria de economia e
eficiência, auditoria de eficácia ou resultado, auditoria dos três “Es” (Economia,
Eficiência e Eficácia).
A auditoria operacional, como expressão genérica, aplica-se tanto ao setor
público como ao privado. Alguns autores atribuem ao setor privado a origem da
auditoria operacional, que surgiu em decorrência da necessidade que a auditoria
interna tinha para verificar a adequação do sistema de controle interno implantado em
alcançar os resultados esperados. O aumento das atividades empresariais ampliou a
área de exames dos auditores internos, que além das necessidades financeiras
passaram a incluir também os aspectos relacionados com as questões operacionais.
Parte desta corrente, inclusive, trata auditoria interna como auditoria operacional, daí a
expressão auditoria das operações ou operacional para designar um “aprofundamento
do âmbito da auditoria interna” (Araújo, 2006:29).
Enquanto Gomes (2004b:32), apesar de concordar que auditoria operacional
pode ser considerada um sinônimo de auditoria de desempenho, vê na última a
incorporação de novos critérios e métodos investigativos, bem como busca responder
48
outras perguntas que não são do interesse da clássica auditoria operacional, tais como
análise de conteúdo de política pública, pesquisa com usuários, entre outros. Ambas
preocupam-se com a eficiência e o alcance dos objetivos operacionais, só que a
auditoria de desempenho não se restringe a elas. A auditoria de desempenho é, de
fato, essencialmente uma atividade exclusiva do setor público, pois o objetivo final
dessa atividade é revisar e avaliar o impacto de políticas públicas, sua boa condução e
o valor público que essas políticas agregam a sociedade. A auditoria operacional visa
agregar valor privado para os acionistas, à maximização do lucro ou minimização do
prejuízo, portanto, seu escopo é menos abrangente.
Através do seu Manual “ Diretrizes para a Aplicação de Normas da Auditoria
Operacional”, divulgado simultaneamente em cinco idiomas, a INTOSAI (Bahia,
2005b:15) afirma que o escopo da atuação da fiscalização pública abrange as
auditorias de regularidade e as operacionais ou de gestão, conceituando essa última,
com base em consenso profissional, assim:
A auditoria operacional é um exame independente da eficiência e da eficácia
das atividades, dos programas e dos organismos da Administração Pública,
prestando a devida atenção à economia, com o objetivo de realizar melhorias.
A GAO norte americana apud Araújo, 2006:30-1, afirma:
A auditoria operacional é um exame objetivo e sistemático de evidências, com
o fim de proporcionar uma avaliação independente do desempenho de uma
organização, programa, atividade ou função governamental, no sentido de
fornecer informações para a accountability pública e facilitar o processo de
tomada de decisões envolvidos na responsabilidade de supervisionar ou iniciar
ações corretivas.
As auditorias operacionais abrangem a auditoria de economia, a de eficiência e
a auditoria de programas.
As auditorias de economia e eficiência têm como propósito determinar: a) se a
entidade está adquirindo, protegendo e empregando seus recursos (tais como
pessoal, bens e infra-estrutura física) econômica e eficientemente; b) as causas
49
de ineficiências ou de práticas antieconômicas; e c) se a entidade tem
cumprido as leis e regulamentos aplicáveis em matéria de economia e
eficiência.
As auditorias de programas incluem a determinação do consiste nas grau em
que os resultados ou benefícios previstos pelo órgão legislador ou outro
autorizado estão sendo alcançados; b) da eficácia das organizações,
programas, atividades ou funções; e c) se a entidade tem cumprido as leis
pertinentes e regulamentos aplicáveis aos programas.
As auditorias de value-for-money da NÃO inglesa (apud Albuquerque,
2007:45) avaliam a economicidade, eficiência e eficácia praticadas nos campos de
receitas e gastos, bem como na administração dos recursos.
No Escritório-Geral do Auditor Geral do Canadá, as auditorias de otimização
de recursos se propõem a efetuar a avaliação do sistema de informação e controles da
Administração, inclusive as funções de revisão e avaliação da auditoria interna, a fim
de garantir de que a economia e a eficiência sejam devidamente consideradas e que os
procedimentos apropriados para avaliar e relatar a eficácia de um programa, onde isso
for viável, sejam adequados e satisfatórios (OAG, 1995:12 apud Albuquerque,
2007:45).
Uma definição, bem instrumental, de Gomes (2004b:22) para auditoria de
desempenho pode ser:
Um conjunto de procedimentos técnicos e métodos de investigação utilizados
por instituições centrais de controle da administração pública para obtenção,
processamento e disseminação de informações relevantes de revisão e
avaliação de atividades, projetos, programas, políticas e órgãos
governamentais quanto a aspectos de economia, eficiência e efetividade, boas
práticas de gestão, eqüidade, alcance de metas, capacidade de
gerenciamento, informações de desempenho, entre outros critérios orientados
para o resultado da atuação pública.
50
Leal (2006:42) observa que em 1998 o TCU publicou o seu manual de
auditoria de desempenho com base no conceito de auditoria de desempenho numa
visão semelhante ao conceito da GAO norte-americana. Porém, ao ser atualizado em
2000 a sua denominação passou a ser Manual de Auditoria de Natureza Operacional
(MANOP), firmando-se assim o termo auditoria de natureza operacional, cuja definição
ficou estabelecida como (Brasil, 2000:15):
A auditoria de natureza consiste na avaliação sistemática dos programas,
projetos, atividades e sistemas governamentais, assim como dos órgãos e
entidades jurisdicionadas ao Tribunal.
Peter & Machado (2007:44) numa definição bem semelhante a do TCU,
considera que a auditoria operacional avalia as ações gerenciais e os procedimentos
relacionado ao processo operacional, ou parte deles, dos órgãos ou entidades da
Administração Pública e dos programas de governo com a finalidade de emitir um
parecer. Essa avaliação tem como critérios: a eficácia de seus resultados em relação
aos recursos (humanos, materiais e tecnológicos) disponíveis; a economicidade; a
eficiência; efetividade e qualidade dos controles internos existentes para gestão do
recurso público.
Para Bazerlay (2002), na perspectiva da avaliação de programas, um
programa efetivo é um tratamento que cura (ou pelo menos controla) o mal social, sem
prejudicar a sociedade como um todo. Os programas dignos de méritos são aqueles
que atingem os objetivos de determinada política pública, ou geram benefícios que
excedam a soma dos custos dos recursos empregados e das conseqüências adversas
dos subprodutos. Por sua vez, as principais medidas embutidas no conceito de
auditoria de desempenho são a economia, a eficiência, e a efetividade. Economia
significa a eliminação dos desperdícios de insumos; eficiência refere-se à otimização
dos processos de transformação de insumos em produtos; e efetividade significa
influenciar positivamente o impacto por meio de geração de produtos.
51
Após analisar os diversos conceitos de auditoria operacional, na tentativa de
tornar mais fácil sua compreensão, Araújo (2006:34),definiu que auditoria operacional é
a auditoria que objetiva verificar se foi feita a coisa certa (efetividade), na forma melhor
(eficiência) e mais econômica.
Entretanto, apesar de corresponderem às principais medidas de mérito
embutidos nos conceitos de auditoria operacional, nem sempre os “Es” são definidos
uniformemente pelas ESF e pela doutrina.
Os conceitos de economicidade não apresentam divergências significativas.
Algumas entidades se reportam aos recursos adquiridos e outras aos recursos
utilizados na produção, mas ambas as hipóteses se ajustam ao conceito.
Apresentamos, no quadro a seguir, algumas definições para o termo economicidade
adotados pela INTOSAI e algumas EFS:
Quadro 8 – Definição para o termo “economicidade”
Entidade Definição
INTOSAI Reduzir ao mínimo o custo dos recursos utilizados para desempenhar uma atividade a um nível de qualidade apropriado
AGN (Argentina) Consideração dos custos dos insumos utilizados. Também recebe o nome de indicador de esforço ou inputs de produção
Algemene Rekenkamer (Holanda)
Compreende um juízo sobre os recursos humanos, financeiros e materiais utilizados. A pergunta central é: dado um contexto político e social, tem-se trabalhado com sobriedade na aquisição e emprego dos recursos?
NÃO (Inglaterra) Minimização de custo dos recursos adquiridos ou usados, considerando-se a qualidade apropriada
OAG (Canadá) Designa os termos e condições de aquisição de recursos financeiros, humanos e materiais. Uma operação econômica deverá adquirir esses recursos em qualidade e quantidade adequadas, ao mais baixo custo
TCU (Brasil) Minimização dos custos dos recursos utilizados na consecução de uma atividade sem comprometimento dos padrões de qualidade
Fonte: Albuquerque (2007:53)
52
A economia se refere à produção ao menor custo. Uma ação é econômica
quando proporciona a aquisição ou o emprego de um insumo ao menor preço, sem
prejuízo da qualidade. Ela deve ser avaliada no decorrer de um tempo, e nunca em
função de seu resultado imediato (Araújo, 2007:35).
A eficiência se relaciona com economicidade, já que também se refere aos
recursos utilizados como questão central, só que a segunda se preocupa igualmente
com os recursos adquiridos, ainda que não necessariamente utilizados em um dado
processo produtivo. O quadro abaixo enumera algumas definições de eficiência,
segundo a INTOSAI e órgãos centrais de auditorias:
Quadro 9 – Definição para o termo “eficiência”
Entidade Definição
INTOSAI Relação entre o produto – expresso em bens, serviços ou outros resultados – e os recursos utilizados para produzir-los
AGN (Argentina) Indica se a operação segundo as quais se maximiza o produto por unidade de recurso utilizado ou se minimizam os recursos para uma dada quantidade ou qualidade de produtos
Algemene Rekenkamer (Holanda)
Relaciona-se com a economia. A pergunta central é: com os recursos empregados tem-se obtido um rendimento máximo, ou com menos recursos alcança-se o mesmo resultado?
NÃO (Inglaterra) Relação entre os bens, serviços ou outros resultados, produzidos e os recursos utilizados para obtê-los. Até que ponto um resultado máximo é obtido de um dado insumo, ou um insumo mínimo é usado para um determinado resultado?
OAG (Canadá) Relação entre os bens ou serviços produzidos e os recursos utilizados para produzi-los. Uma relação eficiente produz o máximo de resultados para qualquer conjunto de recursos disponíveis, ou dispõe de um mínimo de recursos para qualquer quantidade e qualidade de serviços executados
TCU (Brasil) Relação entre os produtos (bens e serviços) gerados por uma atividade e os custos dos insumos empregados em um determinado período de tempo. O resultado expressa o custo de uma unidade no produto final em um dado período de tempo
Fonte: Albuquerque (2007:53)
53
A eficiência está diretamente relacionada com a utilização racional dos
recursos. Um aumento na eficiência corresponde proporcionalmente a um incremento
na produtividade, pois uma ação positiva contribui para melhorar aquilo que já era feito.
A eficiência corresponde à relação entre resultados alcançados e recursos consumidos,
como se vê na figura 6. Existem, portanto, duas estratégias para atingir a eficiência: 1ª)
se com a mesma quantidade de recursos (pessoas, materiais, espaço, tempo, etc.)
consumidos, conseguimos o melhor resultado; 2ª) se obtivermos o resultado esperado,
com o menor consumo de recursos.
Figura 5
Eficiência = Resultados alcançados Recursos consumid os Fonte: Araújo (2007:36)
Abrucio (1997); Aragão(1997) apud Albuquerque (2007:56) alerta,
entretanto, um dos primeiros problemas durante a primeira fase das reformas
britânicas, conhecida como “gerencialismo puro”, foi priorizar a estratégia de eficiência
com uma visão fortemente ligada ao corte de gastos em detrimento de outros valores
fundamentais na atuação dos gerentes, em especial, a flexibilidade para decidir e
inovar. Partiram do pressuposto de que um sistema eficiente seria aquele que
produzisse maiores quantidades de bens a partir da redução dos custos de produção,
acreditando, como os tayloristas, na existência de one best way.Critérios rígidos de
definição, implementação e avaliação de eficiência podem ser tornar tão ineficazes
quanto as regras e procedimentos do modelo burocrático weberiano, conduzindo ao
“engessamento pela eficiência”.
A eficácia corresponde à consecução dos resultados econômicos e sociais.
Na linguagem matemática corresponde a chegar à solução do problema. Uma ação é
considerada eficaz quando atinge os objetivos propostos, sejam eles materiais ou não.
Logo, a eficácia é a medida pela relação entre os resultados efetivamente alcançados e
os pretendidos, como mostra a figura 6.
54
Figura 6
Eficácia = Resultados alcançados Resultados pret endidos Fonte: Araújo (2007:36)
A INTOSAI em seus manuais refere-se ao terceiro “E” como effectiveness na
sua versão oficial no idioma inglês, e que no português ora é traduzido como eficácia,
ora como efetividade, embora tais palavras não tenham o mesmo sentido:
Eficaz. (...) 1. Que produz o efeito desejado; que dá bom resultado: medida
eficaz; tratamento eficaz, (...)
Efetivo. (...) 1. Que se manifesta por um efeito real; positivo: negócio efetivo;
promessa efetiva. (..) 4. O que existe realmente (...)
(Ferreira, 1968:p.620 apud Albuquerque:2007,59)
Da mesma forma Las Heras apud Albuquerque (2007:59), concorda que
eficácia e efetividade são usados, algumas vezes, indistintamente apesar de seus
significados serem diferentes. Efetividade, para ele, é o indicador mais apropriado para
enfocar o ponto de vista do cidadão, pois avalia a produção estatal sob a ótica de quem
a recebe. A efetividade é também denominada de indicador de satisfação, trata-se de
uma medida mais qualitativa do que quantitativa. As medidas das coisas que o Estado
faz ou produz estão mais relacionadas a eficácia, que não é adequada para medir a
qualidade de suas prestações.
Assim, a efetividade se afere no mundo real, fora da organização ou
programa, ao passo que a eficácia – do mesmo modo que a economicidade e a
eficiência - pode ser medida sem sair da organização ou programa.
Nas principais EFS, as auditorias operacionais consideram três “Es”:
economicidade, eficiência e effectiveness (eficácia ou efetividade), este último assim
conceituado:
55
Quadro 10 – Definições para o terceiro “E” (effect iviness, eficácia ou efetividade)
Entidade Definição
INTOSAI Medida em que se cumprem os objetivos e relação entre os resultados pretendidos e os resultados reais de uma atividade
AGN (Argentina) Cumprimento de metas e objetivos dos programas, projetos e operações, orientando-se a partir dos resultados não dos custos. Sistemicamente se pode também medir de forma relativa, definida como o grau em que os outputs atuais do sistema se correspondem com os outputs desejados
Algemene Rekenkamer (Holanda)
A pergunta a ser feita é: a política empregada tem conduzido aos efeitos previstos? Essa questão se divide em duas partes a saber: foram conseguidos os objetivos da política? Os objetivos alcançados são resultados da política seguida?
NÃO (Inglaterra) Relação entre os resultados pretendidos e os resultados reais alcançados de projetos, programas e outras atividade. Até que ponto os bens, serviços ou outros resultados produzidos alcançam os objetivos das políticas norteadoras, finalidades operacionais e outros efeitos pretendidos com sucesso?
OAG (Canadá) Medida em que os resultados reais de uma atividade correspondem aos objetivos das mesmas. Nos casos em que houve efeito negativos involuntários da atividade, deverá ser julgadas com base no saldo líquido dos resultados positivo e negativos
TCU (Brasil) Grau de alcance das metas programadas em um determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados
Fonte: Albuquerque (2007:60)
Não obstante o TCU seguir o referencial teórico e metodológico compatível
com as normas técnicas da INTOSAI e das principais EFS, se diferencia destes quando
adota quatro “Es” e não três, distinguindo auditoria de eficácia das de efetividade.
As chamadas “auditoria de natureza operacional” do TCU (BRASIL, 2000:15)
compreende duas modalidades: a auditoria de desempenho operacional e a avaliação
de programas.
56
A auditoria de desempenho operacional tem como objetivo examinar a ação
governamental quanto aos aspectos da economicidade, eficiência e eficácia.
Concentra-se no processo de gestão, investigando o funcionamento dos programas e o
cumprimento das metas quantificáveis, como por exemplo, o número de escolas
construídas, de vacinas aplicadas, de servidores treinados ou de estradas recuperadas
em relação ao previsto nos planos de governo ou na legislação específica.
A avaliação de programa visa examinar a efetividade dos programas e
projetos, priorizando os efeitos produzidos por essas ações governamentais. Suas
análises agregam dimensões que possibilitam o pronunciamento sobre a redução da
evasão escolar, a erradicação de doenças contagiosas, a qualidade dos serviços
prestados pela administração ou a redução dos índices de trânsito.
Em nossa pesquisa, utilizaremos os termos eficácia e eficiência com
significados diferentes, nos mesmos moldes adotados pelo TCU.
Alguns doutrinadores, recentemente, passaram a defender a inclusão de
mais três “Es” ao acervo da auditoria operacional. Além dos tradicionais
economicidade, eficiência, eficácia e efetividade, tem-se discutindo a inclusão da ética,
da eqüidade, e da ecologia1, perfazendo sete “E”2. Todavia, a literatura existente sobre
esse tema ainda é escassa (Araújo,2006:39).
A ética – obrigação de boa conduta – obrigatoriamente deve estar presente
em qualquer relação social e, portanto, ser considerada em qualquer tipo de auditoria.
O mesmo vale para eqüidade, que deve ser sempre considerada pelo auditor quando
da aplicação dos procedimentos de auditoria. Os impactos no meio ambiente devem
ser analisados pelo auditor quando da avaliação inicial e na aferição dos resultados
intermediários e finais de um programa.
1 Tradução em português para o termo environment 2 A INTOSAI considera apenas 6 “Es”: economicidade, eficiência, effectiviness (eficácia, efetividade), eqüidade e ecologia
57
Os 4 “Es” (economia, eficiência, eficácia e efetividade) englobam, outros
critérios de auditoria de desempenho, como boas práticas de gestão, boa governança,
qualidade do serviço e atendimento de metas. Boas práticas e boa governança
encontram-se na dimensão da eficiência; o atendimento de metas se confunde com
eficácia; e a qualidade do serviço tanto pode se identificar com a eficácia, se observada
na ótica dos planos da Administração, quanto pela efetividade, segundo a perspectiva
do cidadão usuário.
Auditoria Operacional versus Auditoria Contábil (Tr adicional)
Toda auditoria, seja operacional ou contábil1, visa efetuar exames
sistemáticos e analisar de forma objetiva as operações de uma entidade com o
propósito de emitir um relatório com seu parecer. Os limites comuns entre a auditoria
operacional e contábil, de acordo com Nascimento (2001:89), consistem em que ambos
os tipos realizam: revisão, avaliação e emissão de parecer. E que a principal diferença
reside no objeto do estudo, embora, possa-se considerar simplesmente a mudança de
enfoque na análise efetuada.
Enquanto a auditoria contábil está preocupado na consistência dos dados
apresentados nos demonstrativos contábeis, a auditoria operacional ocupa-se da:
economicidade, eficiência e eficácia. Por exemplo, o auditor operacional verifica se um
dos processos que compõem o demonstrativo da dívida flutuante está sendo executado
de forma a levar em consideração o princípio da economicidade.
Rocha apud Leal (2006:46) entende que:
Auditoria operacional é uma evolução natural da auditoria tradicional, que
deixou de ser especificamente contábil para torna-se abrangente,
acrescentando à verificação da legalidade e correção dos registros contábeis, a
determinação da economicidade e eficácia das entidades.
1 Outras denominações: auditoria financeira, auditoria tradicional, auditoria de conformidade, auditoria de regularidades e auditoria da legalidade
58
Araújo (2006:58) elabora um quadro comparativo entre a auditoria
operacional e a auditoria contábil.
Quadro 11 – Diferenças entre Auditoria Operacional e Auditoria Contábil
Auditoria
Diferença em relação a Operacional Contábil
Escopo dos exames Amplo ou abrangente Demonstrações contábeis
Área examinada Todas as relevantes Financeiras relevantes
Realização do planejamento Concentrada no campo Concentrada no escritório
Modificação dos programas Constantemente Raramente
Concurso de especialistas Normalmente Raramente
Questionários de avaliação
do controle interno
Raramente Normalmente
Utilização de entrevistas Normalmente Algumas vezes
Procedimentos adotados Alguns definidos e outros a
serem definidos
Completamente definidos
Critérios Alguns definidos e outros a
serem definidos
Completamente definidos
Conhecimentos e
Habilidades
Especiais Específicos da área
(financeira, pessoal,
tributária e áreas afins)
Quantidade de pessoal Varia muito Não varia
Fonte de evidência Diversas Registros e documentos
Relatórios produzidos Não possui modelo
padronizado
Modelo padronizado
denominado parecer
Conteúdo do relatório Comentários Opinião
Normas adotadas Adota algumas normas da
auditoria contábil
Definidas pelos órgãos de
classe
Periodicidade dos trabalhos Oportunidade definida em
parceria com a
administração
Anual, conforme a data de
elaboração das
demonstrações contábeis
Prazo de realização Normalmente são longos Normalmente são curtos
Áreas auditadas Diversas Financeira
Enfoque dos exames Passado, presente e futuro Passado
Fonte: Araújo (2006:58)
59
Para Speck (2000:146-7), a auditoria operacional diverge fundamentalmente
da auditoria contábil quanto ao maior grau de profundidade de suas investigações.
Esse maior grau de profundidade e a maior complexidade de iteração com o órgão
auditado impõem necessariamente a auditoria operacional ter um caráter mais seletivo.
Outra característica é que a auditoria operacional tende a produzir dados, que
constituem informações novas para a própria administração ou para o programa
auditado. A auditoria contábil é mais apropriada na identificação de irregularidades,
pois trabalhar com um número reduzido de informações para verificar o seu
descumprimento em relação às normas legais.
Gomes(2002:47-9) em seu quadro comparativo, entre auditoria operacional
e tradicional, subdivide a primeira nas modalidades adotadas pelo TCU: auditoria de
desempenho e avaliação de programas
Quadro 12
Comparação entre auditoria de desempenho, auditoria de conformidade e avaliação de programas
Auditoria de Desempenho Controle de Formalidade/
Legalidade Avaliação de Programas
Foco Gestão, processo, produto, impacto e formação.
Insumos e processos. Gestão e impacto.
Critérios 3 “Es” e outros vinculados ao desempenho.
Legalidade, conformidade, economia.
Efetividade, eqüidade, eficiência.
Método Auditoria, monitoramento, avaliação, pesquisa, pres-crição, análise.
Auditoria, investigação de denúncias, consultas públi-cas, audiências.
Pesquisa, monitoramento, avaliação.
Produtos Pontos de melhorias iden-tificados, informações de resultados (accountability de resultados).
Irregularidades, desconfor-midades detectadas, infor-mações de legalidade (accountability de conformi-dade).
Informações de causa/ efeito (accountability de impacto da ação do governo).
Impactos esperados
Funcionamento melhor do governo, de forma mais democrática e com maior transparência.
Funcionamento do governo nos limites da lei e dos regulamentos administrati-vos.
prestação de serviço melhor do governo à população. Mais equüidade, mais justiça so-cial.
Área de atuação Programas, órgãos, proje-tos, atividades, políticas públicas.
Todas. Programas e projetos públi-cos.
Destinatário das informações
Gerente público, executivo, Congresso, mídia, cidadão
Executivo, Congresso, Ministério Público, mídia, cidadão.
Congresso, Executivo, gerente público, mídia, cidadão.
Valores adminis-trativos
Eficiência, efetividade, economicidade, qualidade, desempenho, governança, boas práticas.
Conformidade da gestão, devido processo, economi-cidade, honestidade.
Efetividade, eqüidade, distri-buição de justiça social.
60
Tipo de questões Avaliaviativas, descritivas, de conformidade e expla-natórias.
De conformidades, descriti-vas.
Avaliativas e explanatórias.
Natureza da de-terminação/ reco-mendação
Ação governamental fun-cionaria melhor se....
Ação governamental mais correta se...
Bem-estar social melhorado se a ação governamental.
Concepção da administração pública
Provedora de serviços e normas que visam a regu-lar a sociedade de forma eficiente e efetiva.
Esfera burocrática do Esta-do que visa a implementar políticas públicas de forma correta e honesta.
Provedor de serviços que visam o bem-estar coletivo.
Ameaças para a EFS
Questionamento quanto à legitimidade do órgão para exercer determinados trabalhos (exposição poli-tica).
Insulamento do órgão, ima-gem de ineficaz, de inefi-ciente e de impedimento da modernização do serviço público.
Vulnerabilidade à medida que as conclusões de seus trabalhos tratem do mérito de política pública. Trabalho podem ser muito longos e de alto custo.
Oportunidades para EFS
Complemento de seus tra-balhos de controle da com-formidade da gestão com trabalhos de controle de resultados da gestão. Me-lhoria da imagem, fortale-cimento democrático .
Mostra-se como guardião do Erário contra improprie-dades administrativas, in-clusive corrupção.
Órgão gerador de informa-ções sobre efetividade de políticas públicas, que pode ser de grande interesse pa-ra o seu principal cliente – o Congresso. Contribuição para melhoria do bem-estar.
Requisitos inter-nos da EFS para conduzir trabalho
Independência, profissio-nalismo, conhecimento técnico abrangente do funcionamento estatal.
Independência, profissio-nalismo, conhecimento técnico de procedimentos administrativos.
Independência, profissio-nalismo, conhecimento téc-nico de funcionamento de projetos públicos.
Relação com o auditado
Trabalhos mais próximos. Média;baixa distância rela-cional.
Trabalhos estanques. Alta distância relacional.
Trabalho em conjunto. Baixa distância relacional.
Modalidade da aplicação
Avaliação, revisão e análi-se.
Atestação. Avaliação/pesquisa.
Habilidades do oUTRauditor
Nível de especialização abrangente (Economia, Gerenciamento público, Ciência Política, Direito, Administração Pública, análise de políticas pú-blicas e avaliação de programas).
Nível de especialização restrito (direito, finanças públicas, contabilidade pública).
Nível de especialização me-nos abrangente (análise de políticas públicas, economia e métodos investigativos de ciências sociais).
Concepção do controle externo
Provedor de informações sobre resultado da ação pública, identificando pon-tos de possível melhoria.
Provedor de informações sobre o bom funcionamen-to dos procedimentos da administração. Guardião do erário.
Provedor de informações sobre o impacto das ações do Governo. Guardião do bem-estar social decorrente da ação pública.
Fonte: Gomes, 2002:47-9
O livro amarelo da GAO (2005c:43-51) diferencia auditoria operacional da
contábil, através do objetivo a que cada uma se propõe. O objetivo da auditoria contábil
é emitir uma opinião sobre as demonstrações contábeis estão de acordo com as boas
práticas contábeis e atende as exigências legais, regulamentares, contratuais ou dos
convênios acordados. Por sua vez, o objetivo associado às auditorias operacionais é
61
buscar informações para melhorar o desempenho dos programas e facilitar o processo
de tomada de decisões dos encarregados de dirigir ou iniciar as ações corretivas e
aperfeiçoar a accountability perante o público.
Por ser tratar de um campo novo, auditoria operacional vem sendo forjada
com auxílio de outras fontes profissionais e disciplinares já estabelecidas, Pollit et al
apud Gomes (2002:54). A mistura particular dessas fontes varia de país para país.
Nesse sentido, esse autores identificaram que os auditores de desempenho exercem a
sua profissão em meios a quatro papéis distintos, conforme representado abaixo:
Figura 7 – Possíveis papéis do auditor operacional
Como um juiz / magistrado Como um contador
(base profissional em leis) público (base profissional
Accountability de em contabilidade)
regularidade
Accountability de
Como um pesquisador / cientista desempenho Como um consultor de
(base profissional em de gestão (base profissional
Economia e ciências em administração e
sociais) negócios)
Fonte: Pollit et al apud Gomes (2002:54)
Segundo Barzelay apud Albuquerque (2007:50), auditoria tradicional tem
como foco a observação de critérios e regrais formais, impedindo ou retificando
procedimentos que representam desvios (accountability de regularidades), enquanto
que as auditoria operacional buscam responsabilizar as organizações pelos resultados
obtidos, mais do que pelo seu funcionamento (accountability de desempenho).
Quando exercem os papéis de juiz/magistrado e de contador público,
dispostos na parte superior da figura 10, o auditor se orienta de acordo com os
62
preceitos da accountability de regularidade. A orientação no sentido da accountability
de desempenho, se dá a partir de uma maior aproximação à metade inferior da figura
10, acontece quando o auditor desempenha o papel de pesquisador/cientista, quando
busca gerar novos conhecimentos por meio de análises e avaliações, ou de consutor
de gestão, quando presta ajuda aos entes auditados.
Leal (2006: 49) com base no trabalho de Lima, elabora uma interessante
tabela que compara ambas as auditorias, operacional e tradicional, na qual a primeira é
enfocada sob a perspectiva da avaliação de programa.
Quadro 13
Diferenças entre Auditoria Tradicional e Auditoria Operacional
Tradicional Operacional
Agentes externos independentes Agentes externos parceiros
Punição de falhas Contribuição para sanar falhas
Fluxo de trabalho é padronizado e hierárquico O fluxo de trabalho assemelha-se a uma cadeia
de produção, contendo insumos, produtos, efeitos
Ambiente de comando e controle Ambiente político com prevalência de debate
democrático
Utilização de padrões legais Utilização de boas práticas, modelos,
conhecimento e experiência voltados para
resultados (results oriented management – ROM)
Obediência a procedimentos Empreendedorismo e liderança, escolha política e
administrativa
Uso dos conceitos do Direito e da Contabilidade Uso de informações obtidas através da pesquisa
social, análise de políticas, economia
Imperatividade Convencimento
Pouca participação popular Debate público
Individualização da responsabilidade Nem sempre possível individualizar (resultado)
Controle Hierárquico e administrativo Controle democrático e social
Os responsáveis são punidos com multas e
afastamento
A penalidade atribuída é o ostracismo, a censura,
danos a reputação
Fonte: Lima (2005) apud Leal (2006:49)
63
Assim, a auditoria tradicional se limita a área contábil-financeira e ao
cumprimento dos aspectos legais, enquanto o campo de atuação da auditoria
operacional alcança toda a organização, pretendendo inclusive avaliá-la.
Vale destacar que a auditoria operacional não substitui a auditoria
tradicional, ao contrário, a complementa quando atuam sobre um mesmo objeto Nesse
caso, quando tem o mesmo o objeto em comum, as suas conclusões são, no entanto,
diferentes, porém complementares, já que o foco de trabalho é distinto. Como bem
sintetiza Féder (1998:41), a relação entre a auditoria contábil e a auditoria operacional
“deve ser a de um dueto, jamais a de um duelo”.
Limitações da auditoria operacional
Com base nos estudos de Albuquerque (2007:117), para que a auditoria
operacional se consolide é necessário que importantes instrumentos da doutrina
gerencialista, como o desenvolvimento de indicadores de desempenho e a
disseminação de sistemas de gestão por objetivos e metas, sejam efetivamente
implementados. Apesar de em diversos países haverem ocorridos reformas e
implantação de novos mecanismos de planejamento governamental, na prática
sacrificou-se, pelo que se aparenta, no dilema entre controlar a burocracia e os gastos
públicos em função da necessidade do ajuste fiscal pretendido e dotar essa mesma
burocracia de maior flexibilidade e de sistemas de controle ex-post – medida de
implementação gradual e complexa essencial na concepção gerencialista no sentido de
institucionalizar as mudanças com foco no resultado -, a primeira parece ter contado
com maior e mais decisivo apoio dos atores estratégicos.
A ausência de sistemas de custos na Administração Pública e a ausência de
vínculos entre as dotações orçamentárias e os projetos executados no âmbito do
aparelho estatal, são fatores que contribuem para limitar os objetivos quanto às
questões de economicidade,bem como aquelas atinentes à chamada eficiência
operacional, voltadas para custos em sentido estrito e medidas através da relação
direta entre insumos e produtos.
64
2.3 O CICLO DA AUDITORIA OPERACIONAL
A auditoria operacional, como sabemos, compreende uma série de
procedimentos aplicados de forma independente com o objetivo de avaliar os aspectos
de economia, eficiência, eficácia e efetividade de uma gestão, em outras palavras, se
as operações estão proporcionando aumento de receitas e diminuição dos custos,
reduzindo práticas ineficientes e eliminando desperdícios, e, se for o caso, propondo
recomendações para melhorar o desempenho. Contudo, cabe ao administrador a
responsabilidade primária pelas implementações das ações capazes de assegurar o
incremento da performance operacional. E, ao auditor operacional a tarefa de
acompanhar e avaliar se o gestor está sua responsabilidade adequadamente.
Para alcançar seus objetivos, explana Araújo (2006:65-66), a auditoria
operacional é desenvolvida, basicamente, em quatros estágios: planejamento,
execução, relatório e acompanhamento.
A INTOSAI, em sua Diretrizes para Aplicação de Normas de Auditoria
Operacional (Bahia, 2005b:51), da mesma forma, estabelece que o processo de
auditoria operacional inclui as fases de planejamento, execução e acompanhamento.
O Livro amarelo da GAO (2005c), não informa especificamente as fases do
processo de uma auditoria operacional, aborda, contudo, o planejamento e o relatório.
O manual de auditoria de natureza operacional (MANOP) do TCU (Brasil,
2000c:21), por outro lado, define que devem ser observadas duas etapas:
levantamento da auditoria e execução. Sendo que a etapa de planejamento é
subdividida nas seguintes etapas: Planejamento do Levantamento de Auditoria; Análise
Preliminar do Objeto de Auditoria; Coleta de Dados sobre Desempenho; Especificação
dos Critérios de Auditoria; e Preparação do Relatório do Levantamento de Auditoria.
65
Planejamento
Planejar é a técnica de tomar ou não uma decisão hoje, em que se busca
antever as suas implicações futuras. É uma ação racional em que se tenta antever hoje
o que poderá ocorrer ou não no futuro. É uma das funções básicas da administração1
e, também da atividade auditorial. Significa o “trabalho de preparação para qualquer
empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados; elaboração, por etapas,
com bases técnicas (especialmente no campo socioeconômico), de planos, programas
com objetivos definidos”, conforme define o Dicionário Aurélio (Ferreira, 1986).
Segundo Megginson e outros (1998:129), o planejamento pode ser
concebido como:
O processo de estabelecer objetivos ou metas, determinando a melhor maneira
de atingi-las. O planejamento estabelece o alicerce para as subseqüentes
funções de organizar, liderar e controlar, e por isso é considerado função
fundamental do administrador.
O planejamento é a primeira etapa do processo auditorial, e é nela que se
obtém a percepção geral do trabalho a ser realizado, ou seja, definem-se as diretrizes
(princípios norteadores), os objetivos (o que se pretende realizar em termos de metas)
e as ações necessárias para implementação (procedimentos metodológicos), bem
como identificam-se as questões que deverão ser respondidas.
Uma diferença importante na fase do planejamento, ressalta Araújo
(2006:67-71), entre a auditoria contábil e a auditoria operacional, é que no momento de
se escolher as áreas a serem auditadas a primeira não se preocupa em ouvir opinião
da gerência, diferentemente da segunda que, sempre que possível, juntamente com os
gestores definirão quais as áreas que sofrerão auditorias. Segundo esse mesmo autor,
a fase do planejamento representa 40% em média do tempo gasto em uma auditoria
operacional, e divide-se em dois estágios: análise geral e análise específica.
1 As cinco funções definidas por Henri Fayol (1841-1925), um dos principais pensadores da Escola Clássica da Administração: Planejar, Organizar, Comandar (Dirigir), Coordenar e Controlar (Lódi,1984:46). Planejar era definido como: “examinar o futuro e desenhar um plano de ação.
66
A análise geral é o estágio do planejamento no qual se procura conhecer
melhor o objeto da auditoria. Nessa etapa, se avalia as principais informações
endógenas e exógenas inerentes ao trabalho a ser realizado. O objetivo fundamental é
obter e avaliar as principais informações sobre um programa, projeto ou ente
examinados, para fornecer subsídios à elaboração do plano de auditoria1 e permitir
uma adequada realização dos exames, com a identificação das áreas que serão
examinadas e os respectivos critérios auditoriais
A análise específica é o elo fundamental de ligação entre a fase de
planejamento e à execução. Nesse momento, efetua-se a avaliação dos pontos
identificados no estágio inicial do planejamento, de modo a estabelecer se será ou não
necessários examinar os assuntos de potencial importância e se estes serão
abordados com profundidade na fase de execução.
O resultado final da análise específica encontra-se consubstanciado em um
documento, que contém os resultados obtidos e a conclusão do cabimento ou não de
se fazer um exame mais profundo. Na hipótese de ser constatado a necessidade de
realização de exames mais detalhados, elabora-se o plano de auditoria, o qual, após
ser efetivamente aprovado, dará suporte a elaboração dos programas de auditoria2
específicos.
Na fase de planejamento são aplicadas técnicas e coletados dados que
facilitam a definição do foco do trabalho, isto é, as questões de auditorias. Entre essas
importantes ferramentas de modelagem de dados que podem ser empregadas,
destacamos: Modelo de Marco Lógico; e Modelo de Insumo Produto.
1 É o planejamento levado a termo (escrito), constituindo-se em um documento com todos os detalhes técnicos necessários à compreensão dos procedimentos que serão aplicados em termos de natureza, oportunidade e extensão (ARAÚJO et al,,2008:170). 2 É o instrumento que fornece ao auditor que executará os trabalhos os passos específicos a serem seguidos de acordo com o plano de auditoria (ARAÚJO et al,,2008:176).
67
O modelo do marco lógico (Brasil, 2000c:35) foi desenvolvido pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento – BID para orientar a formulação, execução,
acompanhamento e avaliação de programas ou projetos governamentais constantes na
sua carteira de financiamento. Toda organização pública que postula um empréstimo
junto ao BID, necessariamente adota esse modelo como instrumento de planejamento.
Esse modelo permite responder a questões como:
• Os objetivos fixados guardam nítida relação com a finalidade última do
programa ou projeto auditado, bem como definem precisamente os bens
e serviços que serão ofertados, e a clientela que será beneficiada?
• Os objetivos de cada nível hierárquico mantêm relações de casualidade
plausíveis entre si?
• O impacto (ou benefício) almejado é claro e plausível?
Para obter as respostas objetivas a tais questões, o modelo de marco lógico
trata os programas ou projetos como conjuntos logicamente estruturados de processos
organizacionais que devem atingir tanto a finalidade quanto os objetivos destes
programas ou projetos. Nessa estrutura lógica devem constar os seguintes itens.
• Atividades: tarefas que devem ser executadas para a geração de bens e
serviços;
• Produtos: bens e serviços ofertados (metas fixadas);
• Objetivos: resultados diretos associados à geração de bens e serviços;
• Finalidades: benefícios almejados (impacto da ação governamental).
O marco lógico deve evidenciar que as relações lógicas existentes entre
finalidade, o objetivo, os produtos e as atividades são sucessivamente compatíveis, ou
seja, conforme ilustrado na figura 8. Em outras palavras, a realização das atividades
deve resultar em produtos (bens e/ou serviços) que, entregues à clientela, possibilitam
alcançar o objetivo formulado. As conseqüências da realização do objetivo, por seu
turno, são o impacto esperado, ou seja, a finalidade do programa ou projeto.
68
Figura 8 – Estrutura Lógica
Fonte: TCUB (Brasil, 2001d:8)
Além de hierarquizar os processos organizacionais, os modelos de marco
lógico devem:
• Definir indicadores práticos, objetivos, mensuráveis e independentes para
cada nível, que devem ser expressos em termos quantitativos,
qualitativos e temporais;
• Indicar as fontes que contêm dados sobre os indicadores (meios de
verificação);
• Identificar os fatores exógenos (pressupostos) que podem afetar o
FINALIDADE
OBJETIVO
PRODUTO
PRODUTO
ATIVIDADE
ATIVIDADE
ATIVIDADE
ATIVIDADE
69
Esse modelo procura expressar como se processa as atividades no objeto
da auditoria, identificando: insumos: informações e recursos humanos, materiais e
financeiros necessários; processos de transformação dos insumos em produtos;
produtos: bens e serviços ofertados; benefícios: impacto proporcionado; os possíveis
indicadores de desempenho; a demanda existente para os produtos gerados; e os
benefícios desejados (escalas de preferências).
Figura 9 – Modelo de Insumo-Produto
INSUMOS PROCESSOS PRODUTOS BENEFÍCIOS • Informações • Recursos
humanos, materiais e financeiro
• Transformação dos insumos em produtos
• Bens e serviços
• Impacto
Fonte; adaptado por nós do TCU (Brasil, 2000c:39)
O modelo de insumo-produto facilita os trabalhos de análise acerca da
economicidade, eficiência, eficácia e, também, da efetividade do objeto da auditoria,
podendo ser, portanto, utilizados nos dois tipos de auditoria de natureza operacional:
auditoria de desempenho operacional e avaliação de programas. Ademais, a
identificação dos principais processos permite que se apure o controle que os gestores
têm obre esses processos.
ECONOMICIDADE
EFICIÊNCIA
EFICÁCIA
EFETIVIDADE
Auditoria de Desempenho Opera cional
Avaliação de Programa
Auditoria de Natureza Operacional
70
Outra técnica muito difundida, preferencialmente na fase de planejamento e
que pode ser revista durante a fase de execução dos trabalhos, conhecida como
análise de atores (stakeholder1) identifica inicialmente, através de entrevistas abertas
com os gestores, quais são os stakeholders relevantes para o programa ou entidade
auditado. Numa fase posterior, esses atores relevantes são submetidos a questionários
estruturados ou semi-estruturados, com o propósito de coletar informações para:
• identificar pessoas ou grupos de pessoas interessadas na melhoria do
desempenho de suas instituições e obter apoio para introduzir mudanças;
• identificar conflito de interesse entre as partes envolvidas, possibilitando,
dessa forma, diminuir os riscos envolvidos no desenvolvimento de um
programa/projeto;
• obter grande quantidade de informações sobre um determinado
programa/projeto;
• desenvolver estratégia que permitam implementar efetivamente a
melhoria do desempenho.
Quando se aplica a análise stakeholder na fase de planejamento,
recomenda-se o uso da análise do ambiente interno/externo (SWORT2) como
ferramenta complementar, cujo desenvolvimento ocorreu na Havard Bussiness School.
Essa análise proporciona uma visão global do programa ou entidade auditada e
consiste no levantamento dos pontos fortes e fracos por meio de informações obtidas
no ambiente interno, bem como das variáveis dos ambientes externos que podem
ajudar ou impedir o alcance das metas planejadas.
1 Stakeholder – são pessoas, grupos ou instituições interessadas ou envolvidas com um programa 2 SWOT – acrônimo formado por palavras de origem inglesa: Strengths = forças, Weaknesses = fraquezas, Opportunities = oportunidades e Treaths = ameaças
71
Quadro 14 – Análise SWOT
AMBIENTE INTERNO AMBIENTE EXTERNO
+ Forças Oportunidades +
Características positivas internas que uma organização pode explorar para atingir as suas metas.
Variáveis não controláveis pela organização e com potencial para ajudar ao seu crescimento e atingir ou até exceder as metas planejadas.
- Fraquezas Ameaças -
Características negativas internas que podem inibir ou restringir o desempenho da organização.
Variáveis não controláveis pela organização que podem impedir o alcance das metas planejadas e comprometer o seu crescimento.
Fonte: TCU (Brasil, 2001e:19)
Com base nos resultados da análise SWOT, é possível efetuar a Verificação
de Risco, importante ferramenta de diagnóstico que subsidia a formulação do problema
de auditoria, ao possibilitar a identificação dos riscos que podem afetar o desempenho
do programa, bem como assegurar que as áreas de risco do programa serão
investigadas com profundidade. O impacto e a probabilidade de ocorrência deverão se
combinados de modo a produzir um nível estimável de risco quantificado, se possível,
ou qualificado em uma escala de baixo a alto, como se visualiza no esquema a seguir.
Figura 10 – Diagrama de Verificação de Risco
ALTO
Impa
cto
no o
bjet
ivo
Baixa Probabilidade
Alto Impacto
Alta Probabilidade
Alto Impacto
Baixa Probabilidade
Baixo Impacto
Alta Probabilidade
Baixo Impacto
BAIXO BAIXA Probabilidade de Ocorrência ALTA
Fonte: TCU (Brasil, 2001e10)
72
Análise RECI1 é mais uma ferramenta empregada nos trabalhos de auditoria
operacional, que possibilita identificar quem é o responsável (R) pelas atividades
desenvolvidas, quem as executa (E), quem é o consultado (C) e quem é o informado
(I), seja de um órgão, entidade ou programa. A aplicação da análise RECI contribui
para aumentar a economia, a eficiência e a eficácia de uma instituição ou programa,
uma vez que pode ser empregada para: reduzir a necessidade de retrabalho; evitar
duplicidade de informações; tornar mais enxuta as estruturas organizacionais,
reduzindo os níveis organizacionais desnecessários; e compreender os impactos
político e psicológico de mudanças provocadas por alterações na estrutura
organizacional.
Figura 11 – Como elaborar a Matriz RECI
Fonte: TCU (Brasil,2001f:8)
Duas técnicas que cabem, também, serem destacadas são mapas de
processos e de produtos, as quais não devem ser confundidas. Mapa de Processo tem
como proposta fornecer a representação gráfica, por intermédio de diagramas, das
operações seqüenciais necessárias à geração dos produtos de uma determinada
organização ou programa, evidenciando os agentes envolvidos, os prazos e o seu fluxo
de documentos.
1 As iniciais RECI corresponde em inglês a sigla RACI , que corresponde as seguintes palavras da língua inglesa: Responsable (Responsável), Accountable (Executor), Consulted (Consultado) e Informed (Informado)
1º. Identificar as principais atividades / decisões na área em estudo
2º. Identificar agentes / órgãos envolvidos
3º. Atribuir as iniciais RECI para montar a matriz
4º.Rever a matriz de responsabilidade
5º. Desenvolver nova matriz de responsabilidade
6º. Redefinir comunicação, novos papéis e responsabilidades
7º. Elaborar matriz definitiva e confirmar as novas responsabilidades
73
Já a elaboração do mapa de produto de uma atividade do programa ou
instituição a ser auditada apresenta graficamente os produtos gerados pelas atividades,
e que permite comparar o desenho de diferentes alternativas de processos para obter
os mesmos produtos
Uma diferença muito importante entre mapa de produto e mapa de processo,
é que esse é mais sujeito a mudanças, já que processos e atividades mudam com o
passar do tempo; enquanto aquele é bem mais estável, especialmente, se os produtos
foram identificados adequadamente, pois devem permanecer os mesmos
independente das atividades para obtê-los (Brasil, 2000g:10).
Na fase do planejamento ocorre, ainda, a elaboração da matriz de
planejamento, que consiste na esquematização das informações relevantes do
planejamento de uma auditoria com o propósito de auxiliar na elaboração conceitual do
trabalho e na orientação da equipe na fase de execução (BRASIL, 2000c:46). É na
matriz de planejamento que se enuncia o problema de auditoria, isto é, a razão pelo
qual o trabalho de fiscalização é proposto. Constam também na matriz de planejamento
as questões de auditorias1, elementos centrais para direcionamento dos caminhos a
serem percorridos para que se obtenham informações necessárias à formação de um
juízo e da formulação de recomendações para enfrentar o problema declarado
inicialmente. Para obter a resposta de cada uma das questões, definem-se as fontes de
informações, as estratégias metodológicas a serem empregadas, as técnicas de coleta
e análise de dados, as possíveis limitações à utilização da abordagem proposta pela
questão de auditoria e o que a análise permita dessa questão permitirá dizer.
1 No caso da auditoria operacional, as questões de auditoria tratam de dimensões como eficiência, eficácia, efetividade e eqüidade, por serem estes as mais referidas e aceitas pela comunidade profissional (Albuquerque, 2007:78-79).
74
Figura 12– Matriz de Planejamento de Auditoria
PROBLEMA: Enunciar de forma clara e resumida o aspecto a ser enfocado pela auditoria, de acordo com o planejamento da auditoria previamente realizada
QUESTÃO DE AUDITORIA
INFORMAÇÕES REQUERIDAS
FONTES DE
INFORMAÇÃO
ESTRATÉGIAS
METODOLÓGICAS
MÉTODOS DE
OBTENÇÃO DE DADOS
MÉTODOS DE ANÁLISE DE
DADOS
LIMITAÇÕES
O QUE A ANÁLISE VAI
PERMITIR DIZER
Especificar os termos-chave e o escopo da questão: • período de
abrangência • população-
alvo • área
geográfica
Identificar as informações necessárias para responder a questão de auditoria
Identificar as fontes de cada item de informação
Especificar as comparações a serem feitas, as técnicas amostrais a serem utilizadas: estudo de caso; pesquisa; delineamento experimental; delineamentos quase-experimental; ; delineamento não-experimental
Especificar os métodos de coleta a serem empregados, quais sejam: Entrevistas (estruturadas ou não estruturadas); Questionário enviado pelo correio; observação direta; dados secundários.
Especificar as técnicas a serem utilizadas na análise de dados, quais sejam: Estatística descritiva; análise qualitativa; análise de conteúdo; outras
Especificar as limitações relativas: à estratégia metodológica adotada; à qualidade das informações; às condições operacionais de realização do trabalho.
Esclarecer precisamente que conclusões ou resultados podem ser alcançados a partir da estratégia metodológica adotada.
Fonte: TCU
Ao fim da fase de planejamento é emitido um relatório padronizado, que
agrega e ajusta as informações obtidas no estudo de viabilidade, contendo o Plano de
Auditoria e a Matriz de Planejamento. Em seguida, são elaborados os programas de
auditoria, devendo conter os procedimentos específicos e detalhados a serem seguidos
durante a execução dos trabalhos, com vistas a atingir os resultados almejados.
Execução
As normas da INTOSAI (Bahia, 2005b:91) consideram que realizar uma
auditoria pode ser considerado um processo analítico e, ao mesmo tempo, de
comunicação. No processo analítico se coletam, interpretam e analisam dados. O
processo de comunicação inicia quando a auditoria se apresenta pela primeira vez ante
a entidade auditada, e continua à medida que avança a auditoria, ao avaliar os distintos
resultados e temas, e prossegue até o momento em que se finaliza o relatório de
auditoria. O ideal consiste em manter sempre um diálogo aberto e construtivo, em que
a honradez seja um valor inquebrantável.
75
A execução consiste na aplicação dos procedimentos de auditoria, cujos
mecanismos são utilizados para se obter evidências ou provas que fundamentarão o
relatório de auditoria. Representam o conjunto de técnicas ou métodos que permite
obter elementos probatórios, de forma suficiente e adequada, para fundamentar os
comentários, opiniões e recomendações quando da elaboração do relatório de
auditoria. São os instrumentos utilizados para verificar se determinada condição está
em conformidade com determinado critério.
Os principais mecanismos dos procedimentos de auditoria, cujo emprego
podem variar de auditoria para auditoria, são: exame de registros; exame documental;
conferência de cálculos; entrevistas; inspeção física; circularização; observação e
correlação. E devem ser aplicados em razão da complexidade e do volume das
operações de cada entidade auditada, cabendo ao responsável pela auditoria, com
base na análise de riscos envolvidos e outros elementos de que disponha, determinar a
amplitude e o escopo dos exames probatórios.
Quadro 15 – Procedimentos de Auditoria
Procedimentos de auditoria Descrição
Exame dos registros Verificação da adequação dos registros contábeis e auxiliares paralelos.
Exame documental É a análise da adequação dos documentos comprobatórios dos fatos
auditados. Ao realizar o exame dos documentos originais, deve se
atentar para a autenticidade, normalidade, aprovação e registro.
Conferência de cálculos Revisão dos principais cálculos realizados pela entidade auditada, de
modo a verificar a sua exatidão; entre as principais conferências de
cálculos fundamentais está a revisão de soma.
Entrevistas Questões dirigidas de forma técnica aos auditados de modo a detalhar e
esclarecer procedimentos.
Inspeção física Exame da existência dos bens e títulos a receber, assim como de
documentos probatórios dos registros.
Circularização É a confirmação de saldos e informações mantidos com terceiros.
Solicitada pelo auditor, é elaborada pela entidade auditada. Todavia, é o
auditor quem deverá receber diretamente as respostas.
Observação É a análise dos fatos durante a sua ocorrência.
Correlação É a relação entre um fato examinado numa determinada área e seu
impacto em outras.
Fonte: Araújo (2006:78)
76
Evidência é toda prova obtida em decorrência da aplicação dos
procedimentos de auditoria para demonstrar se os critérios identificados estão sendo
ou não atendidos. Segundo, ARAÚJO e outros (2008:129), a evidência física possui o
maior valor probante e a testemunhal a menor, conforme esquema abaixo:
Figura 13- Evidência e nível de valor probante
Evidência física Maior valor probante
Evidência documental
Evidência Analítica
Evidência Testemunhal Menor Valor Probante
Fonte: Araújo et al (2008:228)
Deve ser considerado que o processo para se obter evidência em uma
auditoria operacional é bem mais complexo do que uma auditoria contábil tradicional.
Isso acontece pelo fato da identificação dos critérios nas áreas operacionais, na
maioria das vezes, não ser claramente definido como nas áreas financeiras.
Os achados de auditoria são fatos significativos, acerca das deficiências
encontradas, amplamente respaldadas e documentadas nos papéis de trabalho1, e
que dever ser comunicadas à autoridade máxima da entidade (Peter & Machado,
2007:81-82).
O desenvolvimento dos achados constitui um processo importante, visto que
fundamenta as conclusões e recomendações que serão, posteriormente, relatadas. As
conclusões são considerações lógicas feitas pelo auditor, devendo ser formuladas
explicitamente e sua força depende do grau de persuasão da evidência que suporta o
achado.
1 representam o conjunto de documentos ou apontamentos, elaborados e/ou colhidos durante o processo de auditoria, contendo informações e provas, preparados de forma a fundamentar a sua opinião. Neles são registrados todos os achados e servem como comprovação do trabalho efetuado (Peter & Machado, 2007:98).
77
Figura 14 – Achado de Auditoria
X
A situação encontrada A situação que deveria ser encontrada
Fonte: Araújo (2006:114)
Ao desenvolver um achado de auditoria, deverá ser necessariamente
considerado os seguintes atributos:
• Condição (o que é ): É a situação existente, documentada durante a
auditoria, constituindo-se no próprio achado;
• Critério (o que deve ser): Situação ideal ou esperada, conforme normas
de controle interno, legislação aplicável, princípios fundamentais de
contabilidade, boas práticas administrativas, padrões de economia, de
eficiência e de eficácia, etc. Constitui padrões usados para determinar se
uma entidade, programa ou atividade atende aos objetivos fixados;
• Causa 1 (por que ocorreu): é a razão pela qual a condição ocorreu, ou seja,
o motivo pelo qual não se cumpriu o critério ou norma. Representam os
motivos pelos quais um desempenho foi inadequado ou não. Para que as
recomendações sejam elaboradas de forma construtiva, é necessário que as
causas dos achados sejam corretamente identificadas. A simples afirmação
no relatório, de que o achado ocorreu porque as normas não foram
cumpridas não convence ao interessado na auditoria; 1 As causas típicas: falta de capacitação; negligência ou descuido; falta de recursos humanos, materiais ou financeiros; ausência de segregações de funções; normas inadequadas, inexistentes; obsoletas ou impraticáveis (Peter & Machado, 2007:87).
CONDIÇÃO CRITÉRIO
ACHADOS
Relatórios
78
• Efeito 1 (diferença entre o que é e o que deve ser): identificação detalhada
dos efeitos provocados pelo fato ocorrido. São os acontecimentos que
demonstram a necessidade de ações corretivas, em resposta aos problemas
identificados. Sempre que possível, as conseqüências deverão ser
quantificados em unidades monetárias.
No desenvolvimento do achado, deve-se procurar conhecer a opinião da
organização diante da condição encontrada. A prática de discussão dos achados,
durante a auditoria, seja através de reuniões informais ou, nos casos mais importantes,
de reuniões formais com a entidade organizada, proporcionará uma revelação dos
seus pontos de vista e opiniões.
Os achados de auditoria são registrados em uma matriz que especifica, por
questão de auditoria, os seguintes itens: achados principais, análises e evidências,
causas, efeitos, boas práticas e recomendações e benefícios esperados.
Figura 15 – Matriz de Achado
Questão de Auditoria: Questão de auditoria constante da versão final da Matriz de Planejamento Achados principais
Análise e evidências
Causas Efeitos Boas práticas Recomendações Benefícios esperados
Constatações de maior relevância, identificadas a partir de discrepâncias entre a situação encontrada na fase de execução e dos critérios de desempenho previstos para a ação auditada. Apresentam oportunidade de melhoria para o desempenho do órgão ou do programa auditado.
São registrados os métodos de análise de dados e seu emprego na produção de evidências. De forma sucinta, devem ser indicadas as técnicas utilizadas para tratar as informações coletadas durante a execução e os resultados obtidos.
São registradas as causas do baixo desempenho eventualmente observados, indicando-se aquelas ligadas à operacionalização ou à concepção do objeto da auditoria, bem como aquelas que estão fora do controle ou da influência do gestor, quando for o caso. Deve ser destacado que as recomendações conterão justamente as medidas consideradas necessárias para sanear as causas do desempenho insuficiente.
São registradas as conseqüên cias relacionada s às causas e aos correspond entes achados. É a medida da relevância
do achado.
São relacionadas as boas práticas identificadas na fase de execução, como forma de subsidiar a proposta de recomendações.
Relacionam-se aqui as recomendações, que deverão estar alinhadas com as causas subjacentes aos achados de auditoria, ou seja, devem ser elaboradas de forma a tratar a origem das deficiências e discrepâncias diagnosticadas pela equipe. As propostas devem ser objeto de análise criteriosa pela equipe de
auditoria.
São relacionados os benefícios quantitativos, sempre que possível, e qualilativos, que se espera alcançar com a implementação das recomendações.
Fonte: TCU
1 As conseqüências típicas: uso ineficiente de recursos humanos, materiais e financeiros; gastos indevidos; controles inadequados (Peter & Machado, 2007:87).
79
Relatório
A elaboração do relatório é a fase do processo de auditoria que formaliza os
trabalhos e exames realizados, os fatos apurados com base em evidências concretas,
as conclusões, opiniões, recomendações e as providências a serem tomadas pela
administração.
Os resultados dos trabalhos de auditoria direcionados para as
demonstrações financeiras ou contábeis são apresentados, preferencialmente, sob a
forma de parecer de auditoria1 ou sob a forma de relatório amplo, que é muito mais
adequado para a auditoria operacional. Assim, temos relatório como gênero, e parecer
de auditoria e relatório de auditoria operacional como espécies (Araújo, 2006:107-108).
A GAO (Bahia, 2005c:206) compreende que o conteúdo do relatório de
auditoria operacional deve incluir os objetivos, o escopo2, a metodologia utilizada; os
resultados da auditoria, inclusive os achados, conclusões; e as recomendações, se
cabível, uma referência ao cumprimento das NAGGAs3; os comentários dos dirigentes
responsável; e, se aplicável, a natureza de qualquer informação privilegiada e
confidencial que tenha sido emitida.
O relatório de auditoria operacional pode ser definido como a exposição
fundamentada de comentários de forma conclusiva, no qual se descrevem os fatos
1 É o documento que representa a opinião do auditor sobre a exatidão e regularidade (ou não) da gestão e adequação (ou não) das peças. Tipos de parecer: 1) parecer pleno: quando se verificar que na gestão dos recursos públicos forram adequadamente observados os princípios da legalidade, legitimidade e economicidade; 2) parecer restritivo: quando se constatar falhas, omissões ou impropriedades de natureza formal quanto à legalidade, legitimidade e economicidade que por sua irrelevância ou imaterialidade não caracterizam irregularidade;e 3) parecer de irregularidade: quando se verificar a não-observância dos princípios da legalidade, legitimidade e economicidade, constatando a existência de desfalque, alcance, desvio de bens ou outra irregularidade que cause prejuízo a fazenda pública (Peter & Machado, 2007:112) 2 Profundidade e amplitude do trabalho para alcançar o objetivo da auditoria (programa, atividade, projeto, processo ou sistema sujeito à fiscalização). É definido em função do tempo e dos recursos humanos e materiais disponíveis (Brasil, 2004h) 3 Normas de Auditoria Governamental Geralmente Aceitas: destinam-se aos auditores governamentais, visando assegurar que eles mantenham sua competência, integridade, objetividade e independência para planejar, executar e apresentar seus trabalhos, devendo ser observadas por auditores e organizações de auditoria, quando assim o exijam as leis, regulamentos, contratos, convênios e normas (GAO, 2003:25).
80
mais importantes – denominados achados de auditoria – constatados durante o curso
normal dos trabalhos de auditoria e sugeridas as respectivas soluções, através de
recomendações. Tais recomendações deverão ser soluções construtivas, que visem ao
aperfeiçoamento do controle interno, à redução de custos, ao aumento da economia,
da eficiência e da eficácia na utilização dos recursos públicos, ao melhoramento das
práticas contábeis e administrativas e até mesmo a uma forma mais apropriada de
gestão administrativa.
A INTOSAI (Bahia, 2005b:82-83) defende que o relatório de auditoria
operacional tem que ser justo, evitando apresentar os resultados com imparcialidade e
tendência a enfatizar em excesso as deficiências de desempenho, além de incluir os
aspectos positivos e não somente os negativos.
Quanto ao padrão para elaboração do relatório de auditoria o TCU define
que ele, por ser o instrumento formal e técnico por intermédio do qual se comunica aos
que são interessados, contenha o objetivo e as questões de auditoria; a metodologia
utilizada; os achados de auditoria; as conclusões e recomendações; e as propostas de
encaminhamento. E que a sua redação oriente-se pelos requisitos resumidos na
palavra “CERTO”:
QUADRO 16 – Atributos do relatório de auditoria
CERTO Descrição
Clareza Produzir texto de fácil que possa ser entendido por quaisquer pessoas, mesmo sendo leigas no assunto. Devendo evitar a erudição, o preciosismo, o jargão, a ambigüidade e restringir ao máximo o uso de expressões em outro idioma.
Convicção Relatá-lo de forma que as evidências conduzam qualquer pessoa prudente às mesmas conclusões. Expor os achados e as conclusões com firmeza e evitar o uso de expressões que denotem insegurança como “SMJ” ou “entendemos”.
Concisão Dizer apenas o que é requerido, de modo econômico, sem necessidade de explicações adicionais, eliminando o supérfluo, o floreio e os clichês.
Exatidão Apresentar as necessárias evidências para sustentar seus achados, conclusões e recomendações, procurando não deixar espaço para contra-argumentações.
Relevância Expor apenas o que tem importância dentro do contexto e que deve ser levado em consideração. Não discorrer sobre ocorrências que não resultem em conclusões.
Tempestividade Cumprir o prazo previsto para a elaboração do relatório, sem comprometer sua qualidade.
Objetividade Dever conter mensagem clara e direta, ir direto ao assunto e evitar comentários complementares desnecessários e nem fugir da idéia central.
Fonte: adaptado de TCU (Brasil, 2004h) e de PETER e MACHADO (2007)
81
O produto final da auditoria operacional é o relatório. Após a sua conclusão
pela equipe de auditoria, é encaminhado uma versão preliminar dele ao gestor da
entidade ou programa auditado, para se pronunciar sobre as recomendações
apresentadas e estabelecer um cronograma de implantação dessas recomendações. A
resposta do gestor é incorporada ao relatório final de auditoria em capítulo próprio
intitulado comentários do gestor (TCU, 2004h:18).
82
3. AUDITORIA OPERACIONAL NO TCE/RJ
Este capítulo apresenta um estudo de caso: os resultados da inspeção
realizada no período entre 25/06/2007 a 10/08/2007, com caráter de auditoria
operacional, na Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e de Terminais do Estado
do Rio de Janeiro - CODERTE.
Optou-se por utilizar técnicas de pesquisa qualitativa: análise documental e
entrevista semi-estruturada pelo fato do estudo buscar aprender recomendações de
caráter subjetivo, no qual a abordagem qualitativa configura-se como a metodologia
mais adequada.
Inicialmente, realizou-se a análise documental do principal instrumento
resultante da inspeção, o relatório, bem como outros instrumentos pertinentes ao órgão
auditado: legislação, normas e pesquisa na sua página da internet1.
As entrevistas foram estruturadas com pesquisas abertas, e realizadas com
técnicos do TCE/RJ experientes na realização de inspeção com caráter de natureza
operacional. As entrevistas foram organizadas a partir dos seguintes eixos: (a) analisar
a experiência do técnico do TCE/RJ em auditoria, especialmente na operacional, e a
forma como adquiriu o seu conhecimento neste novo ramo; (b) identificar as tarefas
desenvolvidas durante a etapa de planejamento da auditoria operacional, bem como a
sua opinião crítica a respeito das metodologia empregada na mesma; (c) aprender a
receptividade dos gestores e técnicos da CODERTE quanto a modalidade da auditoria
operacional, bem como a cooperação para a sua realização; (d) analisar se a
realização da auditoria contribuiu para melhorar o processo de gestão da CODERTE.
O processo de coleta de dados no TCE/RJ ocorreu de forma satisfatória,
havendo boas receptividades dos técnicos da casa em responder a todas as questões
que lhe foram formuladas e contribuir para a realização desta pesquisa.
1 www.coderte.rj.gov.br
83
3.1 A Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e Terminais do Estado do Rio de
Janeiro - CODERTE
A Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e Terminais do Estado do Rio
de Janeiro - CODERTE é uma sociedade de economia mista vinculada a Secretaria de
Estado de Transportes – SETRANS , tem personalidade jurídica de direito privado, com
patrimônio próprio, sediada no município do Rio de Janeiro, e foi criada através do
Decreto-Lei nº 87, de 02/05/1975.
A CODERTE é regida pelo Estatuto Social aprovado pela Assembléia Geral,
na reunião realizada em 08/10/1996, e pela legislação aplicável, tendo seu Regimento
Interno sido aprovado pelo seu Conselho de Administração.
Segundo o seu Estatuto Social, a CODERTE tem uma ampla e diversificada
gama de objetivos:
• Projeção e construção de terminais rodoviários, de passageiros e cargas, terminais
garagem, abrigos de ônibus e estacionamentos públicos, terminais marítimos e
fluviais;
• Cobrança e arrecadação de tarifas de pedágio e de utilização e arrendamento dos
bens e serviços disponibilizados;
• Promoção da análise de viabilidade técnico-econômica para implantação de vias
expressas e terminais;
• Execução de política comercial, criando fontes de receitas;
• Execução de política de exploração de publicidade nos locais sob sua jurisdição;
• Administração, fiscalização e operação desses locais;
• Zelo pela segurança e bem estar dos respectivos usuários;
• Recrutamento, preparo e seleção pessoal para seus serviços;
84
• Promoção da construção de rodovias municipais, vicinais e de acessos a sedes
municipais dos municípios do Estado do Rio de Janeiro que participem de seu
capital ou que tenham contratado seus serviços;
• Execução de programa de manutenção de estradas municipais, mediante
contratação e justa remuneração com os municípios interessados;
• Manutenção e exploração de usinas de asfalto ou similares para utilização própria
ou atendimento a órgãos públicos e empresas privadas mediante remuneração.
Entretanto, em sua página oficial na internet, a CODERTE confirma que, de
fato, os seus principais objetivos estão focados: na construção e administração de
terminais rodoviários na capital e interior fluminense, e na implantação e operação de
áreas de estacionamento na cidade do Rio de Janeiro.
A CODERTE é responsável pela implantação de 27 (vinte e sete) dos 34
(trinta e quatro) terminais rodoviários, com partidas intermunicipais e interestaduais,
existentes no Estado do Rio de Janeiro:
a. 7 (sete) não tem vínculo com a CODERTE e são administrados pelas
prefeituras municipais de: Angra dos Reis, Mangaratiba, Niterói, Piraí,
Santo Antônio de Pádua, São Gonçalo (dois terminais);
b. 15 (quinze) foram construídos pela CODERTE e foram entregues à
administração municipal de : Bom Jardim, Cabo Frio, Cachoeiras de
Macacu, Conceição de Macabu, Casimiro de Abreu, Itaperuna, Macaé,
Macuco, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Porciúncula, Rio Claro, Três
Rios, Vassouras e Laje do Muriaé;
c. 1 (um) é utilizado pelo DETRO1 para fiscalização (Itaboraí);
d. 2 (dois) – Terminal Rodoviário Novo Rio2 (Rio de Janeiro) e Terminal
Rodoviário Roberto Silveira (Niterói) - são administrados pela iniciativa
privada, através do Consórcio Novo Rio, cujo maior acionista é a
empresa Socicam Terminais de Passageiros;
1 Departamento de Transportes do Estado do Rio de Janeiro 2 O Terminal Rodoviário Novo Rio é o único do Estado com partidas internacionais com destino para Argentina, Chile e Paraguai, além de ser o principal terminal de linhas interestaduais.
85
e. 9 (nove) são administrados pela CODERTE1: Américo Fontenelle -
Central do Brasil; Campo Grande – Zona Oeste; Mariano Procópio –
Praça Mauá; Menezes Cortes – Castelo; Itatiaia; Mendes; Nilópolis; Nova
Iguaçu e Vassouras.
No tocante aos terminais rodoviários implantados pela CODERTE e
entregues a administração de terceiros, seja de prefeituras municipais ou iniciativa
privada, os instrumentos pactuados, que regem a relação entre as partes, estabelecem
os seguintes prazos e formas de pagamentos:
Quadro 16 – Situação contratual dos Terminais Rodov iários Administrados por Terceiros Terminal Rodoviário Termo Administração Vigência Forma de Pagamento
Cabo Frio Permissão de Uso Municipal 02/09/2006 a 01/09/2016
30% da arrecadação bruta Laje de Muriaé Permissão de Uso Municipal 14/10/2005 a 13/10/2015
Novo Rio (Rio de Janeiro) Contrato de
Concessão
Socicam 30/08/1990 a 29/08/2020 • 5 (cinco) taxas de embarque por partida;
• 10% da receita de arrecadação do estacionamento;
• 10% do valor dos aluguéis das lojas e dos guichês;
• 25% da receita das taxas de acompanhante;
Roberto Silveira (Niterói) Contrato de
Concessão
Socicam 30/08/1990 a 29/08/2020
Bom Jardim Permissão de Uso Municipal 29/05/2006 a 28/05/2016 50% da arrecadação bruta
Itaboraí Permissão de Uso DETRO 28/10/2004 a 27/10/2014 R$ 7.500,00
Andrade Pinto (Vassouras) Convênio Municipal 22/09/2007 a 21/09/2007
Não há repasse
Cachoeiras de Macacu Permissão de Uso Municipal 23/05/1988 a 22/05/1998
Casimiro de Abreu Permissão de Uso Municipal 23/05/1988 a 22/05/1998
Conceição de Macabu Convênio Municipal 07/11/1996 a 06/11/2006
Itaperuna Permissão de Uso Municipal 24/10/1989 a 23/10/1999
Macaé Permissão de Uso Municipal 23/05/1988 a 22/05/1998
Macuco Convênio Municipal 26/06/1997 a 25/06/2007
Paraíba do Sul Convênio Municipal 01/05/1997 a 30/04/2007
Paty do Alferes Convênio Municipal 28/06/1996 a 27/06/2006
Porciúncula Permissão de Uso Municipal 11/04/1997 a 10/04/2007
Rio Claro Convênio Municipal 06/12/1988 a 05/12/1998
Três Rios Permissão de Uso Municipal 23/05/1988 22/05/1998
Fonte: relatório de inspeção ordinário na CODERTE – processo TCE-RJ 108.920-7/2007
1 2 (dois) são oriundos de convênios com as prefeituras municipais de Mendes e Itatiaia, além de manter a fiscalização in loco nos terminais rodoviários administrados pela Socicam (Novo Rio e Roberto Silveira).
86
Uma importante fonte de receitas de terminais rodoviários, sejam
administrados pela CODERTE ou por terceiros – Prefeitura Municipal ou Empresas
Privadas - é a exploração comercial do seu espaço físico para aluguel através de lojas
e quiosques para entidades de utilidade pública, governamentais ou privadas. O quadro
a seguir apresenta a quantidade de espaços disponíveis por terminal rodoviário,
segundo a divisão comercial da CODERTE.
Quadro 17 – Quantidade de espaço comercial por Term inal Rodoviário Terminal Rodoviário Quantidade de
espaços Américo Fontenelle 19 Campo Grande 91 Itatiaia 2 Mariano Procópio 18 Mendes 6 Nilópolis 19 Menezes Cortes 13 Nova Iguaçu 16 Vassoura 17 Total 201
Fonte: relatório de inspeção ordinário na CODERTE – processo TCE-RJ 108.920-7/2007
Tarifa de Embarque em Terminais - TET
A maior fonte de receita arrecada pela CODERTE provém da Tarifa de
Embarque de Terminais, denominada TET, instituída através do Decreto “E” no 894, de
31/10/1965, que criou a, então chamada, Tarifa destinada ao Custeio da Administração
dos Terminais Rodoviários do Estado da Guanabara1.
Este decreto tinha com a finalidade fazer recolher aos cofres da denominada
Companhia de Transportes Coletivos do Estado da Guanabara a tarifa equivalente a
até 5% do valor de todas as passagens vendidas pelas empresas de transporte que
utilizem os terminais rodoviários do então Estado da Guanabara.
1 A cidade do Rio de Janeiro tornou-se o Estado da Guanabara m 21 de abril de 1960, após a mudança da capital da República para Brasília, até 1 de Julho de 1974 quando pela Lei Complementar nº 20 decidiu-se realizar a fusão do estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, a partir de 15 de março de 1975, mantendo a denominação de Estado do Rio de Janeiro (WIKIPÉDIA, 2008)
87
Por força do Decreto “E” nº 904, de 12/11/1965, a cobrança da citada tarifa
passou a ser efetuada pela Fundação dos Terminais Rodoviários do Estado da
Guanabara – FTREG.
Em 02/05/1975, por meio do Decreto-Lei nº 87, foi criada a Companhia de
Desenvolvimento Rodoviário do Estado do Rio de Janeiro – CODERTE, que absorveu
integralmente o patrimônio e as funções da FTREG.
Atualmente, as formas de cobranças são homologadas pelo Departamento
,de Transporte Rodoviário do Estado do Rio de Janeiro – DETRO1, cabendo à
CODERTE, apenas, o recolhimento dos valores das empresas de transporte, segundo
a legislação vigente2.
Existem três formas de cobrança da TET, que variam de acordo com o tipo
de linha e o percurso: 1) por passageiro transportado; 2) por partida de ônibus; e 3) por
passageiro embarcado (ou antecipada).
Basicamente, as TET´s relativas aos passageiros transportados e por partida
de ônibus são aplicáveis às linhas que partem de terminais rodoviários e cujos ônibus
têm características urbanas3; enquanto as TET´s referentes a passageiros embarcados
são aplicáveis às linhas que partem de terminais rodoviários e cujos ônibus têm
características de viagem de longa distância4.
1 O Departamento de Transportes do Estado do Rio de Janeiro –DETRO é uma autarquia, criada pela Lei nº 1.221, de 6/11/1987, vinculada à Secretaria Estadual de Transportes. Seus principais objetivos são: concessão, permissão, autorização, regulamentação, planejamento, coordenação, fiscalização, inspeção, vistoria e administração dos serviços intermunicipais de transportes remunerados de passageiros por veículos automotores. 2 Decreto “E” nº 894/1995 c/c o Decreto-Lei nº 87/1975. 3 Possuem duas portas e roletas para controle de usuários 4 possuem, normalmente, uma porta sem roleta e entrega de tíquetes para controle de usuários.
88
As metodologias de cálculo das três forma de tarifa de embarques –TET
são:
1- Metodologia de Cálculo para Tarifa referente a P assageiros Transportados
TPT= MVRQ x LO x VT
Onde: TPT = Tarifa referente a Passageiros Transportados
MVRQ = Média de Viagens Realizadas na Quinzena
LO = Lugares Ofertados
VT = Valor da Tarifa
Por sua vez, o número de lugares ofertados varia de acordo com a
modalidade de transporte:
� SA e SAC Metropolitanas1 - 27 lugares
� A e AC Metropolitanas – 20 lugares
� SA e SAC Não Metropolitanas2 – 17 lugares
As siglas acima têm os seguintes significados:
1. SA – ônibus simples sem ar condicionado;
2. SAC – ônibus simples com ar-condicionado;
3. A – micro-ônibus sem ar-condicionado;
4. AC – micro-ônibus com ar condicionado.
A média de viagens realizadas na quinzena são obtidas com base no
exercício anterior e são obtidas por meio de Boletins de Operação Mensal – BOM de
cada empresa que envia periodicamente tais informações ao DETRO que repassa à
CODERTE para efetivação da cobrança.
1 Nos ônibus e micro-ônibus metropolitanos são permitidos transportes de passageiro em pé 2 Nos ônibus que atuam fora da região metropolitana somente são permitidos transportes de passageiros sentados.
89
2 – Metodologia de Cálculo para Tarifa por Partida de Ônibus
MPD= (NPDU x 249) + (NPDS x 52) + (NPDF x 64) 365
Onde: MPD = Número de Partida Diária
NMPD = Número de Partida nos Diárias
NPDU = Número de Partida nos Dias Úteis
NPDS = Número de Partida nos Sábados
NPDF = Número de Partida nos Domingos e Feriados
TPO= MPD x 30 x VT
Onde: TPO = Tarifa por Partida deÔnibus
30 = número médio de dias de um mês
VT = Valor da Tarifa
Similarmente a metodologia anterior, o valor médio das partidas diárias é
calculado com base no exercício anterior com base nos Boletins de Operação Mensal –
BOM que cada empresa encaminha periodicamente ao DETRO, que por sua vez
repassa à CODERTE para efetivação da cobrança.
3 – Metodologia de Cálculo para Tarifa por Passagei ro Embarcado ou Tarifa
Antecipada
As empresas adquirem antecipadamente da CODERTE ou das Prefeituras o
talonário de tarifa de embarque e cujo valor é repassado ao usuário no momento da
venda da passagem, caso o usuário optar em embarcar no terminal rodoviário. Nos
casos em forem permitidos embarques fora do terminal rodoviário, o passageiro pode
optar pelo pagamento ou não da tarifa.
90
Frise-se que os valores relativos à tarifa deverão ser repassados à
CODERTE ou à Prefeitura Municipal, no caso desta administrar o terminal rodoviário.
Nos casos em que os terminais são administrados pela iniciativa privada, normalmente
é repassado à CODERTE uma parcela do valor relativo da TET.
O órgão que fixa nacionalmente o aumento da tarifa é a Agência Nacional
de Transportes Terrestres – ANTT1, através de Resoluções que são publicadas no
Diário Oficial da União – DOU. O aumento, contudo, só pode ser implementado após a
sua homologação pelo DETRO, entidade responsável pela autorização de aumento de
preço de tarifas para passageiro no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.
Assim, além dos valores relativos à locação de espaços nos terminais
rodoviários e das tarifas de embarques, a CODERTE tem como fontes de recursos
vagas de estacionamento cativas e rotativas e a utilização de sanitários em terminais
rodoviários.
3.2 - Pesquisa Documental no TCE/RJ
O Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro – TCE/RJ é o órgão no
Estado do Rio de Janeiro responsável pela fiscalização da aplicação dos recursos
públicos por parte dos governantes e administradores públicos. O uso de todo o
dinheiro do contribuinte aplicado em impostos é verificado por esse setor da
Administração Pública que tem sua missão e atribuição definidas pela Constituição2.
O TCE/RJ tem jurisdição própria e privativa, em todo o território estadual,
sobre pessoas e matérias sujeitas à sua competência, abrangendo todos os órgãos,
entidades e fundos da Administração Estadual e dos Municípios, com exceção da
capital. O número de órgãos sob sua jurisdição totalizava em 749, a seguir distribuídos: 1 Autarquia especial, com personalidade jurídica do Direito Público, integrante da Administração Federal indireta, instituída pela Lei no 10.233, de 5 de junho de 2001, é vinculada ao Ministério dos Transportes. Tem como missão atuar como órgão regulador da atividade de exploração da atividade de exploração da infra-estrutura ferroviária e rodoviária federal e da atividade de prestação de serviços de transporte terrestre. 2 De acordo com o artigo 123 da Constituição Estadual: “o controle externo, a cargo da Assembléia Legislativa, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado.....”
91
Quadro 18 – Órgãos e Entidades Jurisdicionados do T CE/RJ NATUREZA JURÍDICA ÁREA ESTADUAL ÁREA MUNIICPAL
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
ENTES 01 91
ÓRGÃOS 27 91
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
AUTARQUIAS 16 76
EMPRESAS PÚBLICAS 18 9
SOC. DE ECONOMIA MISTA 5 12
FUNDAÇÕES 20 53
FUNDOS 35 286
OUTROS 9 ---
TOTAL 131 618
Fonte: relatório de atividade do TCE/RJ no 2o trimestre de 2008
Entre as principais atividades de fiscalizações desenvolvidas pelo TCE/RJ,
destacam-se as auditorias e inspeções de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial nas unidades administrativas dos Poderes Estadual e
Municipal. No exercício de 2007 foram realizadas 307 inspeções, a saber:
Quadro 19 – Número de Inspeções realizadas pelo TCE /RJ em 2007 TIPO DE INSPEÇÃO EXERCÍCIO 2007
CONCLUÍDAS EM ANDAMENTO
ORDINÁRIA1 234 1
ESPECIAL 2 41 1
EXTRAORDINÁRIA 3 30 ---
TOTAL 305 2
Fonte: relatório de atividade do TCE/RJ no exercício de 2007
1 As inspeções ordinárias são realizadas segundo programação aprovada pelo Presidente do Tribunal, com o o objetivo de verificar, in loco, a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos, ou contratos, de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades dos Poderes do Estado, dos Municípios sob sua jurisdição e, bem assim, nas entidades da administração indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelos referidos Poderes, e nos fundos. 2 As inspeções especiais são realizadas, em cada caso, ex officio, por determinação do Presidente, por solicitação de Conselheiro, do representante do Ministério Público Especial, ou do Secretário-Geral de Controle Externo, sempre que houver necessidade de entendimento direto, visando coletar dados, esclarecer fato determinado, verificar, in loco, a execução de contratos, bem como dirimir dúvidas ou suprir omissões em processo que esteja em trâmite no Tribunal. Também poderão ser provocadas por iniciativa da Assembléia Legislativa, das Câmaras Municipais ou por denúncias apresentadas por qualquer cidadão ao TCE-RJ. 3 As inspeções extraordinárias são autorizadas, em cada caso, pelo Plenário, tendo por finalidade apurar fatos cuja relevância ou gravidade exijam exame mais detido e aprofundado.
92
Apesar da atividade de auditoria e inspeções estar plenamente consolidada
no TCE/RJ, a auditoria operacional ainda não ter atingido o nível de maturidade ideal,
assim como os demais tribunais de contas do Brasil. Um importante passo para o seu
desenvolvimento foi dado, entretanto, em 2004, com a realização de um curso de 164
horas-aulas ministrado para os seus técnicos e inspetores pela Fundação Getúlio
Vargas.
Outro passo importante foi o “Curso de Capacitação em Auditoria
Operacional” ministrado na Escola de Administração Fazendária – ESAF, em Brasília,
entre os dias 24 de setembro a 07 de dezembro de 2007, para representantes de todos
os 34 tribunais de contas brasileiros1 e de 2 tribunais de contas estrangeiros. Esse
curso com 184 horas-aula, para 4 módulos teóricos, foi financiado com recursos do
Programa de Modernização do Controle Externo dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios – PROMOEX, e ofereceu 4 vagas para cada Tribunal de Contas.
No caso do TCE/RJ, selecionaram-se quatro representantes da Secretaria
Geral de Controle Externo – sendo uma vaga para Subsecretaria de Pessoal (SUP2),
outra para Subsecretaria da Receita (SSR3), outra para Subsecretaria Municipal
(SUM4) e a última para Subsecretaria Estadual (SUE1) – com base no Ato Executivo
1 TCU; Tribunais de Contas Estaduais: TCE/RS, TCE/PR, TCE/SC, TCE/SP, TCE/RJ, TCE/ES, TCE/MG, TCE/MS, TCE/MT, TCE/GO, TCE/TO, TCE/DF, TCE/BA, TCE/SE, TCE/AL, TCE/PE, TCE/PB, TCE/RN, TCE/CE, TCE/PI, PCE/MA, TCE/PA, TCE/AP, TCE/RR, TCE/AM, TCE/RO; Tribunais de Contas Municipais: TCM/RJ, TCM/SP; Tribunais de Contas dos Municípios: TCM/BA, TCM/CE, TCM/PA, TCM/GO; Tribunais de Contas Estrangeiros: Tribunal Administrativo de Moçambique, Tribunal de Contas de Angola. 2 Coordena o trabalho desenvolvido por três Inspetorias-Gerais de Controle de Pessoal - IGPs, que abrange o exame da legalidade, para fins de registro, dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, excetuadas as nomeações para cargos de provimento em comissão, de concessões de aposentadorias, transferências para reserva remunerada, reformas, pensões e fixações de proventos, fixações de remuneração dos Vereadores, do Prefeito e do Vice-Prefeito, e, ainda, a realização de inspeções e o exame de denúncias, recursos, comunicações e solicitações relativas à área de pessoal, todos os órgãos, entidades e fundos. 3 Responsável pela coordenação e controle das atividades de auditoria de desempenho, de sistemas, em administração hospitalar e da receita estadual e dos municípios do Rio de Janeiro, bem como pelo acompanhamento da execução orçamentária do Estado, da análise das Contas de Gestão do Governo Estadual e dos respectivos relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal. 4 A SUM é responsável pela revisão de instruções e a coordenação do trabalho desenvolvido por sete Inspetorias Regionais, que abrange a realização de inspeções de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional, e o exame de processos relativos à relatórios da LRF, prestação e tomada de contas, atos de dispensa e de inexigibilidade de licitação, contratos, denúncias e recursos no âmbito municipal.
93
no 16.156/08. Este grupo de trabalho está desenvolvendo ao longo de 2008 um projeto
piloto como parte integrante do referido curso e que servirá como referência para
futuras auditorias operacionais a serem realizadas.
O Planejamento Estratégico do TCE/RJ para o quadriênio 2008-2011 prevê,
inclusive, ação concreta para incrementar a implantação da auditoria de desempenho
operacional, conforme se pode constatar na transcrição do seguinte objetivo:
Quadro 20 – Auditoria Operacional : objetivo do Pl ano Estratégico 2008-2001
Objetivo 3: Adotar novas modalidades e aprimorament o de técnicas de c ontrole externo
Programa 1.5 Ação Produto Indicador
Aprimorando o controle
externo
Difundir as Auditorias Operacional, de Desempenho e
Ambientais
Técnicas de Auditoria implementadas
Número de Auditorias realizadas
Difundir as auditorias de Tecnologia da Informação
Técnica de Auditoria implementadas
Número de Auditorias realizadas
Aperfeiçoar as Auditorias de
conformidade e financeira
Novas rotinas para as Auditorias de
conformidade e financeira implementadas
Número de Auditorias de conformidade e
financeiras realizadas
Fonte: Planejamento Estratégico do TCE/RJ para o qu adriênio 2008-2011
3.3 Análise da Inspeção de Caráter Operacional realizada pelo TCE/RJ na CODERTE
A Subsecretaria Estadual – SUE , dentro do TCE;RJ, é o setor que já vem
realizando, de forma programada e sistemática, inspeções de natureza operacional,
resultado da ação do curso de auditoria operacional ministrado pela Fundação Getúlio
Vargas em 2004. Outro fator importante, que explique a realização destas inspeções
ocorrer especificamente na área estadual, é a Administração Pública Estadual estar
mais estruturada do que as municipais, que não dispõem de complexos e modernos
sistema de informação gerencial2.
1 Tem como atribuições a revisão das instruções e a coordenação do trabalho desenvolvido por seis Inspetorias-Gerais de Controle Estadual - IGEs, que abrange a realização de inspeções de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, e o exame de processos relativos à prestação e tomada de contas, atos de dispensa e de inexigibilidade de licitação, contratos, denúncias e recursos no âmbito estadual 2 O Governo do Estado do Rio de Janeiro dispõe do SIG – Sistema de Informações Gerenciais, uma base de dados que interliga de modo on-line todas as secretarias, órgãos e entidades da administração estadual, inclusive o TCE/RJ
94
A auditoria realizada na CODERTE, a primeira a ser realizada neste órgão
com natureza operacional, estava dentro do cronograma de inspeções ordinárias
aprovado pelo TCE/RJ.
A primeira fase da inspeção, o planejamento, compreendeu um estudo do
assunto e da legislação específica nos sites da Agência Nacional de Transportes –
ANTT1 e do DETRO2, visitas preliminares à CODERTE, pesquisa na base de dados do
SIG do Governo Estadual para obter as informações orçamentárias, financeiras,
contábeis e patrimonial relativas ao órgão, bem como levantamento interno dos
processos de prestação de contas, de contratos e de inspeções anteriores.
Cabe frisar que no estudo e pesquisa da legislação específica houve
dificuldade na exatidão de determinadas informações, como foi o caso da diferenciação
entre as Tarifa por Passageiro Transportado, Tarifa por Partida de Ônibus e Tarifa por
Passageiro Embarcado, como se informa no relatório:
Vale destacar que não localizamos em nossas pesquisas, tanto por entrevistas aos profissionais da CODERTE quanto por visitas aos sites da Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT e do DETRO, legislação que suportasse tal diferenciação (Rio de Janeiro, 2007: 21)
Esse fato denota que o tempo para o planejamento da inspeção, neste caso,
deveria ter sido aumentado, já que normalmente o prazo previsto é de uma a, no
máximo, duas semanas, conforme verificamos nas pesquisas efetuadas juntos aos
técnicos e inspetores do TCE/RJ.
Quanto à metodologia empregada, os técnicos e inspetores do TCE/RJ,
utilizam como referência o Manual de Auditoria Operacional do TCU, o Manual de
Auditoria do TCE/BA e os Manuais da GAO.
1 www.antt.gov.br 2 www.detro.rj.gov.br
95
Na fase da execução foram realizadas visitas a 27 (vinte e sete) dos 34
(trinta e quatro) terminais rodoviários cadastrados pela CODERTE, a seguir
discriminados:
Quadro 21 – Terminais Rodoviários Visitados
Município Nome do Terminal Administração Rio de Janeiro Terminal Rodoviário Américo Fontenelle CODERTE Rio de Janeiro Terminal Rodoviário de Campo Grande CODERTE Rio de Janeiro Terminal Rodoviário Mariano Procópio CODERTE Rio de Janeiro Terminal de Ônibus Menezes Cortes Inic.Privada / CODERTE Rio de Janeiro Terminal Rodoviário Novo Rio CODERTE Niterói Terminal Rodoviário Roberto Silveira SOCICAM Nova Iguaçu Terminal Rodoviário de Nova Iguaçu CODERTE Nilópolis Terminal Rodoviário Nilópolis CODERTE Itaboraí Terminal Rodoviário Venda de Pedras DETRO Bom Jardim Terminal Rodoviário de Bom Jardim Prefeitura Cabo Frio Terminal Rodoviário de Cabo Frio Prefeitura Cachoeiras de Macacu Terminal Rodoviário de Cachoeiras de Macacu Prefeitura Conceição de Macabu Terminal Rodoviário Barbosa de Andrade Prefeitura Casimiro de Abreu Terminal Rodoviário de Casimiro de Abreu Prefeitura Itaperuna Terminal Rodoviário de Itaperuna Prefeitura Itatiaia Terminal Rodoviário de Itatiaia CODERTE – Convênio Macaé Terminal Rodoviário de Macaé Prefeitura Macuco Terminal Rodoviário Francisco de Oliveira Bittercount Prefeitura Mendes Terminal Rodoviário José Lúcio da Silva Prefeitura Paraíba do Sul Terminal Rodoviário Wander Ferreira da Cunha Prefeitura Paty do Alferes Terminal Rodoviário Naci Tamer Prefeitura Porciúncula Terminal Rodoviário de Porciúncula Prefeitura Rio Claro Terminal Rodoviário Jairo Guimarães Alves Prefeitura Três Rios Terminal Rodoviário de Três Rios Prefeitura Vassouras Terminal Rodoviário de Vassouras CODERTE Vassouras Terminal Rodoviário Prefeito Severino Dias Prefeitura Laje de Muriaé Terminal Rodoviário de Laje de Muriaé Prefeitura Fonte: Relatório da inspeção ordinário na CODERTE (Rio de Janeiro, 2007)
A inspeção envolveu a visita a 22 municípios fluminenses, de todas as
regiões do Estado do Rio de Janeiro- Sul-Fluminense, Baixada, Região dos Lagos,
Serrana, Noroeste e Norte Fluminense – demonstrando que o gasto de uma auditoria
operacional o seu custo é muito maior que uma auditoria de conformidades tradicional;
não só porque o seu escopo é maior; exige um prazo mais dilatado; o planejamento
demanda um bom percentual do prazo total da própria inspeção, tendo em vista que a
operacional, em geral, não segue uma forma rígida e padronizada como a tradicional.
96
A inspeção física nos terminais rodoviários focou os seguintes aspectos:
existências de estacionamentos; existência de lojas, quiosques e espaços comerciais;
cobrança de taxa de embarque; condições de higiene; condições de segurança; serviço
de sanitários; existência de serviços públicos de apoio ao usuário; cobrança de taxa de
acompanhante; condições de manutenção e sinalização e existência de estatísticas
para partidas de ônibus e passageiros embarcados.
Os onze estacionamentos, todos situados no município do Rio de Janeiro,
foram também inspecionados, conforme especificação abaixo:
Quadro 22 – Estacionamentos Visitados
Município Nome do Estacionamento Administração Rio de Janeiro Menezes Cortes CODERTE Rio de Janeiro Arcos CODERTE Rio de Janeiro Arcos “A” CODERTE Rio de Janeiro Miguel Couto CODERTE Rio de Janeiro Praça XI “B” CODERTE Rio de Janeiro Praça XI “F” CODERTE Rio de Janeiro Nilo Peçanha CODERTE Rio de Janeiro Campo Grande CODERTE Rio de Janeiro Rabicho da Tijuca CODERTE Rio de Janeiro Nova Iguaçu (Terminal) CODERTE Rio de Janeiro Nilópolis (Terminal) CODERTE Fonte: Relatório da inspeção ordinário na CODERTE (Rio de Janeiro, 2007)
Por sua vez, os aspectos examinados nas inspeções físicas realizadas nos
estacionamentos administrados pela CODERTE foram: condições de segurança;
condições de manutenção e sinalização; instrumentos de controles sobre receitas e
condições de trabalho.
Relatório
Na introdução do seu relatório, descreve-se como propósito da inspeção a
verificação in loco da legalidade, legitimidade e economicidade dos atos e fatos
praticados pela CODERTE no período de 01/01 a 30/06/2007, tendo como pano de
fundo responder a seguinte questão de auditoria: Quais são as condições de
funcionamento dos terminais rodoviários e dos estac ionamentos construídos
e/ou administrados pela CODERTE?
97
Além disso, considerou-se como necessário para auxiliar a responder a esse
problema incluir as seguintes questões secundárias:
1. Quantos Terminais foram construídos pela CODERTE?
2. Quantos estacionamentos e/ou terminais-garagem possui a CODERTE?
3. Dentre os terminais rodoviários e estacionamentos existentes no Estado do Rio de
Janeiro com alguma vinculação com a CODERTE, quantos estão sob a
administração da Companhia, quantos são administrados por prefeituras municipais
e quantos pela iniciativa privada?
4. As permissões de uso dos terminais rodoviários e estacionamentos concedidos a
terceiros estão devidamente regularizadas?
5. Nos terminais rodoviários administrados pela CODERTE que possuem
estabelecimentos comerciais, o uso de lojas, quiosques e espaços comerciais estão
devidamente regularizados?
6. Em média, qual a receita recebida pela CODERTE oriunda de serviços em terminais
rodoviários e estacionamentos?
7. Até 30/06/2007, qual o montante a receber pela CODERTE relativa a receitas de
aluguéis de serviços em terminais rodoviários e estacionamentos?
8. Em casos de inadimplência, que medidas a CODERTE vem adotando para
regularizar esta situação?
Quanto à estratégia metodológica utilizada, adotou-se, segundo o relatório
de auditoria, o estudo de caso em função do tempo e recursos disponíveis para
proceder a uma avaliação de questões que envolvem critérios de eficiência, eficácia e
efetividade das ações do Estado e ao impacto gerado pelas mesmas na esfera da
CODERTE.
Os procedimentos de auditoria adotados, para dar suporte as suas análises
e conclusões, foram: entrevistas, observações, exame físico dos documentos, exame
dos registros, circularização, e exame físico.
98
No que concerne às limitações impostas, o relatório acusa o número
significativo de terminais rodoviários espalhados pelo interior do estado que combinado
com o tempo exíguo disponível para realização das visitas e o reduzido número de
funcionários da CODERTE disponibilizados para acompanhar in loco os trabalhos
realizados pela equipe de auditoria nessas visitas, que dificultou especialmente o
acesso aos terminais municipalizados, obrigaram a exclusão de dois estacionamentos
e do terminal rodoviário de Iguaba Grande (em construção), além de reduzir o número
de parâmetros a ser avaliados.
No tocante aos terminais rodoviários implantados pela CODERTE e
entregues a administração de terceiros, seja de prefeituras municipais ou da iniciativa
privada, verificou-se um achado importante, diversos termos de permissão de uso1 com
prazo vencido2 e, embora todos com as minutas dos novos instrumentos de
regularização já enviadas desde o início em 2006, somente 2 (dois) municípios
responderam ao chamamento da Companhia.
Entretanto, o relatório de auditoria não indicou uma solução negociada com
a gerência da CODERTE, através de recomendação, mas sim determinou, com base
na lei, para que se esclarecesse as medidas a serem adotadas para regularização
das permissões vencidas, apresentando assim um caráter punitivo de auditoria
tradicional que conflita com a sua natureza de auditoria operacional.
Outro achado importante ocorrido, citado no relatório de auditoria, foi a
existência de instrumentos de convênio ou de permissão não localizados pela
administração da CODERTE, o que reflete a ausência de arquivos cronológicos
contendo os termos pactuados pela companhia. Igualmente, em vez de propor uma
solução consensual com a administração da CODERTE, como qualquer auditoria
operacional, ao contrário, sugeriu-se ao Corpo Deliberativo do Tribunal de Contas uma
1 No serviço público, a permissão é tradicionalmente considerada ato unilateral , discricionário e precário, pelo qual o Poder Público transferem a outrem a execução de um serviço público,para que o exerça em seu próprio nome e por sua conta e risco, mediante tarifa paga pelo usuário (DI PIETRO,2005:284). 2 Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Conceição de Macabu, Itaperuna, Macaé, Macuco, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Porciúncula, Rio Claro e Três Rios.
99
determinação, em sua conclusão, para o equacionamento dessa questão, advertindo
ao gestor para as possíveis sanções para o seu não cumprimento.
No que concerne às receitas com locações dos terminais administrados pela
CODERTE, constatou-se que 83,82%1 dos espaços disponíveis para aluguel estavam
ocupadas, e que desses espaços alugados 60,82% foram efetuados através de
contratos formais, os quais somente 36,70% apresentava prazo de vigência ainda
válido. Levantou-se, também, que todas as ocupações onerosas de lojas, quiosques e
espaços comerciais por particulares pelos menos 15% nunca sofreram reajuste no
valor do aluguel, no período de 1994 a 2005. Como justificativa, a assessoria jurídica
da CODERTE informou que não se realizou reajuste, em função dessas ocupações
onerosas estarem em processo de litígio com os particulares, visando à retomada dos
espaços para então realizar-se nova licitação visando conceder a sua reocupação.
Em relação a esses achados, o relatório não propôs, da mesma forma que
nas situações anteriores, mecanismos que pudessem preventivamente antecipar ou,
até mesmo, impedir o surgimento de tais questões. Ao contrário, ordenou ao
Administrador, por meio de determinação, o equacionamento dessas questões, sem
transparecer se a solução a ser implementada tem caráter duradouro – que projete um
sistema com rotinas consistentes e que dificultem a sua ocorrência futura – ou tem
cunho meramente imediatista – apaga o incêndio hoje, mas deixa a porta entreaberta
para a ocorrência de novos casos amanhã - , conforme de observa de sua transcrição
a seguir:
No tocante às questões pertinentes à regularização dos espaços concedidos
nos Terminais para comercialização e da inadimplência daqueles particulares,
entendemos que as medidas adotadas foram cabíveis; contudo, ressaltamos
que a CODERTE deve tomar medidas que acelerem o processo de retomada
daqueles espaços, bem como proceder imediatamente à regularização dos
particulares adimplentes que ocupam irregularmente imóveis da Companhia.
Tal fato será objeto de determinação ao término deste relatório (Rio de Janeiro,
2007: 20)
1 173 Unidades de espaços ofertados, dos quais somente 28 Unidades destas estavam desocupadas.
100
A arrecadação da CODERTE referente à competência do período de
Janeiro a Julho de 2007, segundo apurou a equipe de inspeção, alcançou o montante
de R$ 7.198.910,82, dentre as quais se destacam as receitas obtidas com a SOCICAM
(Terminais Novo Rio e Roberto Silveira) – R$ 3.066.207,42 (42,60%) -, Terminal
Menezes Cortes – R$ 941.003,27 (13%) -, e de Estacionamentos Próprios –
R$ 756.150,25 (10,50%), e cujo gráfico a seguir resume a situação:
Gráfico 1 – Receita da CODERTE – Período de Janeiro a Julho de 2007
Fonte: adaptado do relatório da inspeção ordinário na CODERTE (Rio de Janeiro, 2007)
No campo da arrecadação, entretanto, o achado mais importante foi o
levantamento do montante total de 68.299.313,12 UFIR1 devido à CODERTE até
31.07.2007, com base nas planilhas disponíveis em sua Tesouraria, discriminado pelos
valores relativos à locação, à bilheteria, à tarifa de embarque e aos estacionamentos
(vagas cativas), conforme apresentado no gráfico 2 a seguir:
1 Este montante ultrapassa a dotação orçamentária atualizada destinada à CODERTE fixada em R$ 43.631.785,00, bem como se encontra corrigido e inclui multas e juros.
101
Gráfico 2 – Valores devidos à CODERTE até 31.07.200 7
Fonte: adaptado do relatório da inspeção ordinário na CODERTE – processo TCE-RJ 108.920-7/2007
As tarifas de embarque (TET) representam 78,52% dos valores devidos à
CODERTE, constituindo-se os terminais rodoviários Nova Iguaçu e Américo Fontenelle
como os principais devedores, como demonstra o gráfico 3 abaixo:
Gráfico 3 – Terminais Rodoviários devedores da TET
Fonte: adaptado do relatório da inspeção ordinário na CODERTE (Rio de Janeiro, 2007)
A consequência deste achado foi a emissão da seguinte determinação no
relatório:
Que a CODERTE promova ações visando ao recebimento imediato dos débitos
relativos à locações, bilheterias e tarifas de embarque, como por exemplo,
descontos para quitação dos débitos, negociação para parcelamento de
valores,e principalmente, verifique junto à Procuradoria Geral do Estado que
medidas vem sendo adotadas visando a agilização das ações de despejo em
que a CODERTE é a dona do imóvel (Rio de Janeiro, 2007: 20).
102
As inspeções físicas realizadas nos vinte e sete terminais rodoviários
visitados, ao longo de vários municípios fluminenses visitados, identificou diversos
achados, a seguir destacados:
Tabela 1- Achados das inspeções físicas realizadas nos terminais rodoviários
Terminal Rodoviário Achado Medidas
Laje de Muriaé Inaugurado em setembro de 2004, após isso vem sendo usado apenas como posto policial;
• Ciência ao DETRO • Comunicação à CODERTE para
regularizar a forma de sua utilização
Administrados por terceiros, a excessão dos terminais Novo Rio e Roberto Silveira
• a CODERTE vem realizando a fiscalização periódica para verificar as condições de operacionalidade, desde a data quando foram entregues à administração municipal, e se os valores repassados a CODERTE são condizentes com o recebido pelas Prefeituras;
• não recebem das empresas de ônibus os valores relativos à tarifa de Embarque em Terminais (TET), de acordo com a legislação vigente
• Ciência ao DETRO quanto ao descumprimento das normas relativas ao pagamento das tarifas de embarques administrados pelas prefeituras municipais, uma vez que os valores repassados ou são aquém daqueles determinados pelo DETRO/CODERTE ou não são repassados;
• Comunicação à CODERTE para realizar inspeções periódicas, aqueles que em a concessão foi onerosa, com o intuito de comprovar se os valores repassados correspondem a realidade financeira
Américo Fontenelle, Campo Grande, Mariano Procópio, Menezes Cortes, Itatiaia, Mendes, Nilópolis, Nova Iguaçu e Vassouras
• quantitativo de funcionários insuficiente para realizar fiscalização dos espaços cedidos à comercialização, quanto para verificar todas as partidas de ônibus ocorridas no período;
• serviço de segurança insuficiente para atender aos usuários e aos servidores do terminal;
• imobiliário insuficente para garantir condições mínimas de trabalho: ausência de arquivos, mesas e cadeiras, computadores, calculadoras e condicionadores de ar
Comunicação à CODERTE para melhorar as condições de trabalho, seja mediante autorização governamental para contratatação de concurso ou outro meio permitido por lei, seja também pela aquisição de mobiliário que permita melhor desenvolvimento das atividades da CODERTE, especialmente nas atividades vinculadas aos terminais.
Américo Fontenelle Infração ao Decreto no 31.883, de 19.09.2002, que estabelece em seu artigo 2º que o embarque e desembarque de passageiros em transporte complementar deve ocorrer a 200 m de distância de terminais rodoviários
Ciência ao DETRO do derespeito ao Decreto no 3.883, artigo 2º
Nova Iguaçu e Nilópolis
Existência de guichês sem a identificação da correspondente empresa transportadora
Ciência ao DETRO de guichês sem a ientificação da empresa transportadora
CODERTE
Não possui equipe de manutenção os terminais por ela administrados. Atualmente composta por 1 adequada para atender carpinteiro, 1 bombeiro e 1 eletricista, os demais 5 funcionários estão inoperantes por motivos de saúde.
Determinação à CODERTE para ampliação da equipe de manutenção destinada aos terminais próprios.
103
Itatiaia • Caixa d´água apresenta vazamenos comprometendo a parte elétrica do terminal, pois o quadro de disjuntores se localiza logo abaixo da mesma;
• Necessidade de manutenção das instalações sanitárias
Determinação à CODERTE para reforma do terminal e da manutenção das instalações sanitárias.
Fonte:Adaptado do relatório da inspeção ordinário na CODERTE (Rio de Janeiro,2007)
Quantos aos achados apurados na inspeção física dos onze
estacionamentos visitados,a tabela 2, a seguir, informa:
Tabela 2- Achados das inspeções físicas realizadas nos estacionamentos Item da Inspeção Achados Medidas
Condições de Segurança • Somente 2 estacionamentos1 possuem apoio tecnológico para o melhor controle da entrada e saída de veículos, tais como câmara, filmadoras e cartão magnético;
• Estacionamentos2 com aspecto frágil na segurança – desprovidos de grades altas, sem muros ou muros baixos – que permitem a circulação de pessoas ou a saída de veículos;
• Estacionamentos3 com iluminação insuficiente, com vários pontos de acessos ao estacionamento e com no insuficente de fiscais para atuar na sua segurança, facilitando assim a ocorrência de roubo dos veículos estacionados; bem como ocasionar risco de atropelamento e arranhões de veículos decorrentes da circulação de pessoas.
• Determinação para a colocação de correntes ou outro elemento que a administração julgar pertinente para impedir a saída de veículos sem o devido pagamento;
• Determinação para melhorar as condições de iluminação
Condições de Manutenção e Sinalização
• Estacionamentos4 próximo a depósito de lixo de condomínios e que afetam o aspecto de limpeza do estacionamento;
• Estacionamento5 com parte do terreno com piso de terra, tornando-o irregular. No Menezes Cortes, embora tenha sido colocado placas de concretos, algumas estão se soltando e, assim, necessitando de reparo
• Estacionamentos sem sinalização vertical6 ou necessitando de manutenção7;
• Somente em 2 estacionamentos foi verificada a utilização de placas verticais auxiliares, além das indicativas do local dos estacionamentos na porta da entrada de veículos e tabelas de preços
• Determinação para a CODERTE melhorar as condições de higiene;
• Determinação para a CODERTE melhorar as sinalizações, bem como as condições dos pisos;
1 Menezes Cortes e Rabicho da Tijuca 2 Praça XI “B” e Arcos “A” 3 Praça XI (administração CODERTE) e Nilo Peçanha 4 Arcos, Arcos “A”, Miguel Couto e Nilo Peçanha 5 Arcos e Arcos “A” 6 Arcos e Arcos “A” 7 Miguel Couto e Nilo Peçanha
104
Instrumentos de Controles de Receitas
• Somente um estacionamento utiliza sistema automatizado de controle, permitindo uma administração mais eficiente da receita desta natureza. Os demais utilizam o sistema de cupom;
• Estacionamento1 com controle de acesso frágil, que possibilita a entrada e saída de veículo sem o devido pagamento do valor cobrado pela vaga no estacionamento. Devido ao fato de ser praticamente todo aberto, em uma área muito extensa.
• Determinação para a CODERTE realizar estudo de viabilidade para implantar, em todos os estacionamentos administrados pela CODERTE, sistemas informatizados de controle de entrada e saída de veículos;
• Determinação para melhorar a segurança por meio do uso de grades ou muros de proteção visando evitar o acesso de pessoas não autorizadas e não usuários naquele espaço
Condições de trabalho • Estacionamentos2 sem instalaçoes sanitárias para os funcionários, situação que contraria as Normas Regulamentadoras da Segurança do Trabalho3;
• Cabine de vinil, utilizada no estacionamento, oferece pouca proteção aos funcionários contra intempéries, compometendo a saúde destes pois quando chove ocorrem goteiras na cabine e que obriga, inclusive, o uso da placa de preços, como um escudo, para amenizar a situação
• Determinação para disponibilizar instalações sanitárias, separadas por sexo, em plenas condições de funcionamento;
• Determinação para reformar a cabine de vinil
Fonte:Adaptado do relatório da inspeção ordinário na CODERTE – (Rio de Janeiro, /2007)
Controle Interno
As diversas falhas apontadas ao longo do relatório de auditoria configuram a
fragilidade do Controle Interno da CODERTE, e são resultantes de fatores como:
� Descontrole do sistema de protocolo, que não registra fielmente a
movimentação dos processos e documentos que circulam na Companhia;
� Falta de comunicação entre os diversos setores da Companhia;
1 Praça XI “B” 2 Nilo Peçanha, Miguel Couto e Praça XI 3 Que estabelece, inclusive, a necessidade de existirem instalações sanitárias separadas por sexo
105
� Diversos documentos oficiais da Companhia nem sempre estão
arquivados, e que se utiliza, em muitas ocasiões, das memórias e
lembranças dos funcionários mais antigos da casa, em detrimento do
emprego das mais recentes técnicas de arquivamento;
� Sistema de arquivamento precário e ineficiente para atender as
demandas da Companhia, e baseado em mobiliário obsoleto e anti-
funcional;
� Parque de informática da Companhia ser obsoleto e os sistemas e
programas inadequados para suprir as suas necessidades atuais, além
de não conseguir promover a integração de todas as unidades da
Companhia através de uma rede interna, em especial aquelas que se
encontram fora da sua sede e não dispõe de um meio de comunicação
visrtual em tempo real, nem mesmo computadores com internet;
� Sistemas contábeis apropriados para atender exclusivamente as
exigências da Lei Federal 6.404;76, sem qualquer capacidade para
atender outras necessiades gerenciais.
Síntese dos Fatos
Um capítulo bem interessante do relatório de auditoria efetuado, apresenta
as respostas condensadas de todas as questões secundárias ao objetivo principal1 e
que são levantadas na sua introdução, com base no desenvolvimento analítico das
mesmas ao longo do corpo principal do relatório,cuja síntese ilustramos a seguir na
tabela 3.
1 Que tem como propósito identificar as atuais condições de funcionamento dos terminais rodoviários construídos e/ou administrados pela CODERTE
106
Tabela 3- Síntese das Respostas às Questões Secundá rias ao objetivo Principal Questões Secundárias Respostas
1- Quantos terminias rodoviários foram construídos pela CODERTE?
Dos 34 (trinta e quatro) com partidas intermunicpais e interestaduais existentes no Estado do Rio de Janeiro, a CODERTE implantou 27 (vinte e sete).
2- Quantos estacionamentos e/ou terminais-garagem possui a CODERTE?
14 (quatorze) estacionamentos e destes utiliza todos para arrecadar receita própria. Além destes, implantou mais 12 (doze) estacionamentos em terminais rodoviários que não são realizados cobranças por servirem, basicamente, de área de embarque e desembarque de passageiros.
3- Dentre os terminais rodoviários e estacionamentos existentes no Estado do Rio de Janeiro com algumas vinculação com a CODERTE, quantos estão estão sob sua administração, quantos são administrados por Prefeituras Municipais e quantos pela empresa privada?
a. 15 (QUINZE)construídos pela CODERTE e foram entregues à administração municipal de: Bom Jardim, Cachoeiras de Macacu, Conceição de Macabu, Casimiro de Abreu, Itaperuna, Macaé, Macuco, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Porciúncula, Rio Claro, Três Rios, Vassouras e Laje do Muriaé (desativado);
b. 1 (um) utilizado pelo DETRO para fiscalização – Itaboraí; c. 2 (dois) administrados pela iniciativa privada – Consórcio Novo
Rio, cuja maior participante é a empresa Socicam Terminiais de Passageiros, de Campinas - SP
d. 9 (nove) são administrados pela própria CODERTE: Américo Fontenelle, Campo Grande, Mariano Procópio, Menenezes Cortes, Itatiaia, Mendes, Nilópolis, Nova Iguaçu e Vassouras
4- As permissões de uso dos terminais rodoviários e estacionamentos, concedidos a terceiros estão devidamente regularizadas?
1. Os instrumentos relativos à permissão de uso dos terminais rodoviários dos municípios de Cachoeiras de Macacau, Casimiro de Abreu, Conceição de Macabu, Itaperuna, Macaé, Macuco, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Porciúncula, Rio Claro e Três Rios estão com prazos de vigência vEencidos, e as ações visando à regularização do fato remontam a 2006;
2. Das 3 (três) áreas de estacionamentos concedidos a terceiros, a única não regularizada é utilizada pelo Circo Escola na Praça Onze
5- Nos terminais rodoviários administrados pela CODERTE que possuem estabelecimentos comerciais, o uso de lojas, quiosques e espaços comerciais estão devidamente regularizados?
1. Das 173 (cento e setenta e três) unidades de espaço disponíveis, 28 (vinte e oito) estão vazias, apresentando uma taxa de ocupação de 83,82%;
2. 104 (cento e quatro) possuem termo próprio e 67 (sessenta e sete) não, perfazendo uma maioria de 60,82% que tem contrato formalizando a sua ocupação;
3. 69 (sessenta e nove) apresentavam prazo de vigência vencido e 40 (quarenta) dentro da validade, configurando uma maioria de 63,30% com prazo de validade vencido
6- Em média, qual a receita recebida pela CODERTE oriunda de serviços em Terminais Rodoviários e Estacionamentos?
A receita média mensal da CODERTE é em torno de um milhão de reais, destacando-se que o ingresso ocorre até o dia 10 do mês subseqüente.
7- Até 30/06/2007, qual o montante a receber pela CODERTE relativo a receitas de aluguéis e de serviços em Terminais Rodoviários e Estacionamentos?
As receitas dos terminais rodoviários englobam os valores relativos a bilheterias, tarifas de embarque, e locações. Enquanto as receitas de estacionamento inclui somente os valores relacionados às vagas cativas. O montante total devido a CODERTE até 31/07/2007, já atualizado e incluindo multas e juros, é de 68.299.312,12 UFIR. Sendo 53.630.064,77 UFIR (78,52%) referente à TET; 9.866.671,55 UFIR (14,45%) à locações; 4.418.060,47 UFIR (6,49%) à vagas cativas; e apenas 384.516,33 UFIR (0,56%) à bilheteria.
8- Em caso de inandimplência, que medidas a CODERTE vem adotando para regularizar a situação?
A CODERTE vem impetrando várias ações visando receber os valores devidos bem como efetuar à ordem de despejo, sem contudo lograr êxito no seu intento de reaver os recursos ou os imóveis.
Fonte:Adaptado do relatório da inspeção ordinário na CODERTE (Rio de Janeiro, 2007)
107
3.4 A percepção dos técnicos do TCE/RJ
As entrevistas buscaram verificar a percepção dos técnicos do TCE/RJ, com
experiência nos dois tipos de auditoria, a operacional e a contábil (tradicional ou de
conformidades), de forma a identificar se na opinião deles a auditoria operacional
poderia contribuir ou não para melhorar o processo de gestão nos órgãos e entidades
públicas.
Apesar de reconheceram que a auditoria operacional ainda não está
totalmente amadurecida, como é o caso das auditorias contábeis, dos técnicos
entrevistados reconheceram que já participam de inspeções ordinárias com natureza
de auditoria operacional, ou seja, na opinião deles ela já é uma realidade no TCE/RJ.
Entretanto, a maior parte informou que o órgão auditado desconhecia a
natureza da inspeção que estava sendo realizada. O que vai contra uma das
características fundamentais da auditoria operacional, que estabelece a participação
dos auditados na elaboração das recomendações emitidas nos relatórios.
Fato que é confirmado no próprio relatório de inspeção da CODERTE, pois
não existe um capíitulo ou seção no seu corpo dedicado a apresentar a opinião dos
auditados nas recomendações propostas, como é de praxe nos relatórios de auditoria
operacional.
Além disso, a maioria das medidas propostas para solucionar as falhas
identificadas foram estabelecidas através de determinações com base em leis e
regulamentos, e não através de soluções negociadas, como é da própria natureza das
recomendações.
A maioria dos técnicos entrevistados, respondeu que não adquiriu o
conhecimento em auditoria operacional através de cursos e treinamentos oferecidos
108
pelo TCE/RJ, mas sim por iniciativa pessoal através de: leituras de artigos, livros e
manuais de Auditoria Operacional disponibilizados na página da internet do Tribunal
de inspeção que já participaram de cursos e treinamentos patrocinados pelo TCE/RJ.
O técnico entrevistado que respondeu ter adquirido através de treinamento
realizado através do TCE/RJ, informou adicionalmente que particpou de “Curso de uma
semana na Regional RJ do TCU e do curso de auditoria de obras públicas na PUC/RJ”.
Assim, constata-se que, na amostra utilizada para entrevista, todos
inspetores e técnicos que realizam rotineiramente inspeções com ênfase na
modalidade operacional, a maioria adquiriu este conhecimento através de inciativa
individual e não mediante algum treinamento programado e direcionado pelo TCE/RJ.
E mesmo a parcela que tëm algum curso, no caso da amostra usada, a carga horária
do treinamento é insuficiente ou o seu conteúdo é correlato mas não específco.
Quanto ao planejamento da auditoria operacional, a totalidade dos
entrevistados respondeu que o tempo médio despendido de 7 (sete) dias é
insuficiente, e varia no prazo mínimo de 1 a 2 dias até o máximo de 15 dias,
dependendo da magnitude do escopo da inspeção. Nesse sentido, uma dos
entrevistados relatou textualmente que é mesmo “pouco tempo para estudar o objeto
da auditoria”, em outras palavras, ele admitiu a possibilidade de se iniciar a execução
da inspeção, portanto já em campo, sem ter ainda uma noção prévia bem definida do
problema a ser tratado.
Cabe destacar os comentário dos entrevistados, que enfatizam a
necessidade de se valorizar institucionalmente mais o planejamento da auditoria:
A nossa cultura am AOP é ainda incipente. Como é normal acontecer, o planejamento é pouco valorizado, seja pela cultura institucional, seja pelopouco tempo (prazo).
No máximo 15 dias, mas é insuficente. O tempo varia muito em função do que se pretende auditar. É uma fase muito importante, um bom planejamento faz você ganhar tempo na execução.
109
Todos os entrevistados responderam que a fase de planejamento não
elabora um documento, entitulado “relatório de planejamento”, consolidando tudo que
foi produzindo nesta fase, a ser submetido, inclusive, ao Plenário do TCE/RJ, como
acontece no Tribunal de Contas da Banhia – TCE/BA. A maioria, 60%, considera
necessário, de fato, este instrumento, também é verdade que nenhum deles considerou
como desnecessário. Alguns dos que aprovaram o seu uso, teceram as seguintes
considerações:
Um relatório preliminar serve para se obter uma melhor compreensão do objeto da auditoria e da entidade a ser auditada É importante para nortear os trabalhos de campo. Todavia, é necessário que seja observado um prazo mais dilatado para o planejamento
A matriz de planejamento é uma ferramenta que os entrevistados, de modo
unânime, confirmaram já utilizar habitualmente na fase de planejamento para
identificar e tratar as questões de auditorias a serem examinadas na fase de execução.
Contudo, a totalidade dos entrevistados respondeu que até o momento
nunca utilizou modelos analíticos - modelo marco lógico, modelo de insumo-produto,
modelo de condições-ambientes, entre outros - durante a fase de planejamento com o
propósito de melhor compreender os aspectos centrais do programa, projeto, sistema,
órgão ou ente auditado. E nem durante a fase de execução. Fatos que reforçam a
carência de treinamento dos técnicos entrevistados.
Quanto à participação dos administradores do órgão a ser auditado na
elaboração do planejamento da auditoria a maioria dos entrevistados respondeu que tal
fato não ocorre. Todavia, um dos entrevistados comentou que a primeira auditoria
operacional realizada pelo TCE/RJ foi de fato na CEDAE, nos anos de 1995/1996, e
que nessa houve grande participação dos seus administradores.
Em relação à receptividade dos servidores do órgão auditado durante a
realização da inspeção, todos declararam que foi positiva. Neste ponto, a auditoria
110
operacional - o auditor atua como consultor – gera uma reação oposta a auditoria de
conformidade, que tem o propósito de julgar e punir.
Os “achados” obtidos na execução da auditoria dos entrevistados, estão,
normalmente, correlacionados com as questões de auditoria estabelecidas na fase de
planejamento, fato que só acontece se o planejamento ter ocorrido e sido bem feito,
como ressalvou um deles.
Algumas críticas isoladas, porém reveladoras do pensamento dos técnicos
entrevistados, surgiram neste questionamento sobre os “achados” e que merecem
serem citados e analisados:
Como de um modo geral, os órgãos são muito desorganizados, o que inclusive dificulta muito, e até mesmo inviabiliza uma auditoria operacional, os achados quase sempre são relevantes.
Na minha opinião, nossa experiência com Auditoria Operacional se limitou a aplicação de alguns conceitos. Na prática, fazemos o que se chama de Auditoria Integrada ou de Amplo Escopo, um mix de Operacional com Conformidade. Os achados são típicos da conformidade, na minha opinião.
O primeiro comentário, embora tenha elementos contraditórios
aparentemente, frisa que não basta apenas o órgão de auditoria estar preparado para
realizar a auditoria operacional, mas o órgão auditado deve estar também, o que não é
o caso, entretanto, da maioria dos órgãos públicos e municipais do nosso Estado.
Mesmo que a auditoria operacional detecte achados relevantes, o órgão despreparado
e desorganizado não implementará a sua solução, pois quem não consegue fazer o
mínimo, muitos menos fará o máximo..
O segundo comentário reforça, novamente, a importância do TCE/RJ
procurar qualificar mais, de um modo geral e não somente determinados grupos, as
parcelas de seus técnicos e inspetores que ainda não se sentem seguros,
especialmente através de cursos específicos de auditoria operacional. Outro
desdobramento deste comentário, é a necessidade do TCE/RJ padronizar, de acordo
com os seus próprios valores culturais e históricos,, a metodologia ideal para
auditorias, em especial a operacional.
111
Em geral, as recomendações emitidas no relatório da auditoria operacional
são positivamente recebidas pelos gestores públicos, de acordo com as experiências
vividas pelos técnicos entrevistados, inclusive fortalecendo a imagem institucional do
TCE/RJ e contribuindo para melhorar a gestão pública, como se pode constatar nas
seguintes respostas:
Positiva, com o emprego da auditoria operacional o Tribunal de Contas não é apenas fiscalizador, mas também um parceiro na busca da excelência.
Acho que geralmente as recomendações provocam mudanças na forma como os órgãos realizam o controle da atividade
Os técnicos e inspetores entrevistados manifestaram a opinião de forma
unânime que as auditorias de conformidade e operacional têm relações
complementares e não antagônicas. Expõem-se, a seguir, algumas respostas, cujos
conteúdos inclusive expressam bem a definição destes dois tipos de auditoria:
A conformidade consolida e aumenta a confiabilidade dos indicadores utilizados na operacional A auditoria operacional não têm como foco o exame da legalidade e confomidade com as normas, e sim a análise da eficiência, efetividade e economicidade. Assim, ambas devem ser realizadas. A auditoria de conformidade continua sendo importante para identificar e prevenir problemas com corrupção A auditoria operacional tem como foco a análise da eficiência e a conformidade se os atos praticados pelo órgão encontram-se dentro das normas da administração pública. Quando, em uma AOP, detectamos possíveis irregularidades, urge que seja designada outra equipe para proceder a auditoria de conformidade para atuar neste caso específico.
O último comentário acima expressa uma atitude ética bem interessante, já
que a relação existente entre o auditado e o auditor na auditoria operacional é de
parceria, portanto, de total confiança mútua. O que já não é o caso da auditoria de
conformidade, cujo caráter, por natureza, é de punir, dentro dos moldes da lei.
112
Na pergunta central da presente pesquisa – a avaliação dos técnicos e
inspetores entrevistados sobre os resultados da auditoria operacional para o processo
da gestão pública, de acordo com a sua experiência vivenciada - foi totalmente
positiva, sem nenhuma resposta contrária. De acordo com os entrevistados, este tipo
de auditoria contribui para melhorar a gestão pública, como se verifica nos comentários
destacados a seguir:
A auditoria operacional é uma importante ferramenta para melhorar a gestão do órgão público, já que visa nortear os seus administradores em busca da excelência.
Muitas vezes os achados contribuem para que o órgão reveja e melhores seus procedimentos de controle Acho que pode contribuir muito para aperfeiçoar o processo de gestão, identificando e comparando com práticas bem sucedidas.
Novamente, a última opinião reflete um importante aspecto da auditoria
operacional, ela pretende identificar os pontos positivos das gestões auditadas e que
podem contribuir para melhorar a gestão de outros órgãos públicos, tendo, portanto,
um efeito multiplicador.
113
CONCLUSÕES
O trabalho de pesquisa realizado se propôs a verificar se efetivamente os
órgãos, entidades e setores da Administração Pública Estadual já são inspecionadas
pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro através de auditorias de natureza
operacional, instituída pela Constituição Federal de 1988, com o mesmo padrão de
qualidade e importância institucional de suas auditorias de conformidade; bem como,
em caso de não ser ou o seu nível ainda ser o ideal, quais as medidas administrativas
que o TCE/RJ deve implementar para que as suas auditorias operacionais alcancem o
prestígio adquirido por suas auditorias de conformidade.
Inicialmente foi efetuado uma pesquisa bibliográfica e em páginas da
internet dos Tribunais de Contas da União –TCU, Tribunal de Contas da Bahia –
TCE/BA e Tribunal de Contas de Pernambuco/PE para estudar os elementos
essenciais para uma auditoria ter classificada a sua natureza como operacional.
A denominada auditoria operacional ou auditoria de desempenho, por
definição, deve buscar precipuamente avaliar o nível de excelência das organizações
públicas, a partir de aspectos como eficiência, economicidade, eficácia e efetividade, e
surgem para auxiliar os órgãos de controle governamental, em especial os Tribunais de
Contas, no atendimento das novas demandas sociais.
Posteriormente, foi feito uma pesquisa documental no TCE/RJ, através
de sua Lei Orgânica, Regimento Interno, Deliberações, Resoluções, Relatório de
Atividades, Planejamento Estratégico, portal da internet e relatórios de inspeções, este
último em busca de uma inspeção com natureza de auditoria operacional. E que, em
conjunto com as entrevistas realizadas com técnicos e inspetores do TCE/RJ,
permitiram responder as questões centrais propostas.
114
Apesar de todos os técnicos entrevistados do TCE/RJ afirmarem que já
participaram de inspeções com natureza de auditoria operacional, o estudo de caso da
CODERTE, indica o contrário, ou seja sua natureza não é de auditoria operacional,
uma vez que o seu relatório de inspeção não apresenta qualquer avaliação de
desempenho ao longo de todo o seu corpo. Na realidade, essa inspeção abordou, tão
somente, as atividades operacionais da CODERTE sem contudo emitir um juízo de
performance de sua gestão. Outro elemento que sustenta esta opinião, é o fato da
conclusão utilizar mais instrumentos legais, através de determinações, para os
gestores providenciarem as correções dos achados obtidos, do que sugerir
recomendações para o seu equacionamento. O próprio relatório não tem em seu corpo
uma seção dedicada ao gestor da entidade auditada manifestar suas opiniões.
Alguns técnicos entrevistados, em determinados pontos da entrevista,
admitiram mesmo que as inspeções de natureza operacional realizadas pelo TCE/RJ
limitam-se a utilizar alguns conceitos de auditoria operacional, constituindo-se,
portanto, uma auditoria integral, parte auditoria operacional e parte auditoria de
conformidade.
Para que o TCE/RJ reverta tal situação e torne a auditoria operacional uma
realidade plena, segundo a literatura técnica especializada e os seus técnicos
entrevistados, é necessário valorizar mais a etapa de planejamento da auditoria, até ao
extremo de, como no Tribunal de Contas da Bahia – TCE/BA, ao final dessa fase
produzir-se o Relatório de Planejamento a ser submetido ao Plenário para verificar a
viabilidade ou não de sua realização.
Entretanto, conforme se constatou nas entrevistas com os técnicos do
TCE/RJ, a atividade de planejamento, de fato, não é valorizada, sendo o tempo
máximo despendido de 2 semanas, e em média 1 semana. O ideal segundo a literatura
seria que ele ocupasse 30% do prazo total da auditoria. Além disso, ainda não se utiliza
modelos analíticos – como o modelo insumo-produto, marco lógico, entre outros – para
estudar e conhecer melhor a organização a ser auditada.
115
Não obstante alguns técnicos entrevistados do TCE/RJ comentarem o uso da
matriz de planejamento, não foi identificado na pesquisa documental qualquer prova
que confirmasse tal assertiva.
O treinamento é outro passo também fundamental para a consolidação da
auditoria operacional no TCE/RJ, segundo os técnicos entrevistados, uma vez que a
maioria deles, executores de inspeções com natureza de “auditoria operacional”,
obtiveram o conhecimento nesse ramo através de iniciativas pessoais de caráter
informal – leitura técnica; repasse de conhecimento por outro técnico treinado em
auditoria operacional – do que por uma iniciativa estruturada patrocinada pelo Tribunal,
e por isso denotaram, nas entrevistas realizadas, até uma certa insegurança sobre a
matéria.
É importante, contudo, que o treinamento não seja direcionado a algum
grupo de técnicos, como já ocorreu em épocas passadas, com base na perspectiva de
seu repasse informal por agentes multiplicadores. O melhor é capacitar todo o seu
quadro técnico - que tenha atribuição funcional de realizar inspeções - em auditoria
operacional, tendo em vista que é uma modalidade mais complexa, e que, por
essência, não tem um modelo rígido e padronizado como as auditorias de
conformidade, além de exigir um amplo domínio de conhecimentos multidisciplinares.
Neste ponto, a Escola de Contas e Gestão – ECG1, pode desempenhar um
papel fundamental para suprir as necessidades de treinamento premente do corpo
técnico do TCE/RJ, a um custo baixo2, capacitando-o na área de auditoria operacional
através de cursos totalmente formatados as necessidades e realidades dos seus
órgãos jurisdicionados, no prazo e período mais conveniente às metas propostas no
1 Entidade vinculada ao TCE/RJ, criada através da Lei Estadual no 4.577, de 12 de julho de 2005, que transformou o antigo Instituto Serzedello Corrêa neste novo órgão autônomo e subordinado a sua Presidência 2 Basicamente constituído pelo Custo Variável – hora-aula do Professor, energia elétrica,apostilas, etc. – já que o Custo Fixo da manutenção da escola será rateado com outros cursos e atividades da ECG
116
seu Planejamento Estratégico de 2008-20111, que estabeleceu como um dos seus
objetivos a implementação desta modalidade de auditoria.
Todavia, não basta só o Tribunal de Contas está capacitado para realizar
auditoria operacional, o órgão auditado também deve estar apto a ser inspecionado
desta forma. Caso contrário, por mais significativo que sejam os achados identificados
durante a auditoria operacional, as correspondentes recomendações que se originam
para melhorar os desempenhos da gestão administrativa não serão implementadas ou
apenas parcialmente, já que a organização auditada não dispõe de recursos humanos
e/ou administrativos – como sistemas de informações gerenciais, sistema de
contabilidade de custos - preparados para transformá-las em realidade.
Novamente, a ECG pode contribuir com um papel estratégico, já que o
treinamento dos servidores estaduais e dos municípios do Estado do Rio de Janeiro
são também públicos-alvos de sua missão institucional.
A participação dos gestores das entidades auditadas na fase de
planejamento e na formulação das recomendações propostas, bem como, a inclusão
de uma seção do relatório de auditoria dedicada à livre manifestação de suas opiniões
sobre a auditoria realizada, são medidas que facilitarão a adesão da organização
auditada na implementação e monitoração das recomendações propostas.
Por fim, apesar da cultura de auditoria operacional ainda estar em estágio
embrionário, as mais recentes ações administrativas – a turma de mestrado em
Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas; o curso da ESAF patrocinado
através do PROMOEX; a criação da ECG e do seu curso de auditoria; e a inclusão no
Planejamento Estratégico 2008-2011 da implantação da auditoria operacional como
modalidade de inspeção – abriram excelentes perspectivas para superar o desafio de
sua consolidação no TCE/RJ.
1 A ECG, inclusive, está oferecendo um curso de Auditoria Operacional a ser ministrado pelos quatro técnicos, que participaram do curso realizado na ESAF promovido através do PROMOEX, no mês de Outubro de 2008.
117
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Desafios: Um Estudo a partir da experiência do Trib unal de Contas da União . Rio
de Janeiro: Livraria Editora Renovar: 2007
ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria – Um curso completo e moderno . 5ª
Edição. São Paulo: Editora Atlas, 1996.
ARAÚJO, Inaldo da Paixão Santos. Introdução à Auditoria Operacional. 3ª edição. Rio
de Janeiro: FGV Editora, 2006.
ARAÚJO, Inaldo da Paixão Santos et al. Auditoria Contábil – Enfoque teórico,
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APÊNDICE
ROTEIRO DA ENTREVISTA COM TÉCNICOS DO TCE/RJ
1) Em sua opinião você já realizou através do TCE/RJ de uma inspeção ordinária de
natureza operacional, com o propósito exclusivo de avaliar o desempenho quanto à
eficiência, economicidade, eficácia e efetividade do órgão, entidade, setor ou
programa auditado? Caso positivo, os seus gestores estavam cientes desta
modalidade de auditoria?
2) O conhecimento adquirido em auditoria operacional foi através de uma ação formal
e estruturada, mediante treinamento promovido pelo TCE/RJ, ou foi por esforço
próprio, baseado em leitura técnica ou repasse informal de informações por
profissionais com experiência prática na modalidade?
3) Qual a relação entre auditoria de conformidade e auditoria operacional, em sua
opinião? São antagônicas ou complementares? Por que razão?
4) O tempo gasto no planejamento da auditoria operacional é o ideal para garantir que
a sua realização seja bem sucedida? Por quê?
5) Nas inspeções com natureza operacional, em que você participou, durante a fase
de planejamento foram definidas previamente a Matriz de Planejamento, com as
questões de auditorias a serem examinadas na fase de planejamento?
6) Em sua opinião as inspeções com a natureza de auditoria operacional em que você
participou no TCE/RJ utilizaram modelos analíticos – modelo de insumo-produto,
mapa de processo, mapa de produtos - nas fases de planejamento e de execução
para estudar e conhecer os pontos fortes e fracos da organização auditada?
7) Em sua opinião quais as medidas a serem implementadas para a auditoria
operacional avançar e alcançar a importância institucional que as auditorias de
conformidade já têm no TCE/RJ? Qual o papel que a ECG pode contribuir para
tornar isso realidade?