AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM CONCEITUAL
Vanize Aparecida Misael de Andrade Vieira1
Marta Sueli de Faria Sforni2
RESUMO
O presente artigo tem o objetivo de relatar a implementação do projeto desenvolvido com professores de uma escola pública como parte das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. O tema trabalhado foi “Avaliação da Aprendizagem Conceitual”. Avaliar a aprendizagem dos alunos é uma das incumbências de todo professor. Como se trata de uma ação que visa verificar o nível de apropriação do conhecimento pelos alunos, é importante que sejam compreendidas características do processo de aprendizagem de conceitos, já que cabe a educação escolar promover esse tipo de aprendizagem. Nesse sentido, foram buscados aportes teóricos nas produções de Leontiev, um dos autores da Abordagem Histórico-Cultural. Com base nesses estudos foi elaborado um material didático para o trabalho com os professores que versou sobre a formação de conceitos e o significado de sua apropriação. Os estudos junto aos professores permitiram compreender que tipo de operações mentais deve realizar o aluno e de que modo ele pode externalizar esse raciocínio para evidenciar a sua aprendizagem. A identificação desses indicadores de aprendizagem permite ao professor, de qualquer área do conhecimento, ter elementos mais objetivos para avaliar seus alunos.
PALAVRAS-CHAVES: Avaliação. Aprendizagem. Formação de conceitos
EVALUATION OF CONCEPTUAL LEARNING
ABSTRACT
This article aims to report the implementation of the project developed with teachers in public schools as part of the activities of the Program for Educational Development - PDE. The theme worked was "Evaluation of Conceptual Learning." Assessing student learning is one of the tasks of every
1 Professora Pedagoga da rede Pública Estadual, participante do PDE/2008.2 Doutora em Educação, Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá – UEM e Orientadora do PDE.2
teacher. As this is an action that aims check the appropriation level of knowledge by students, it is important to be understood process characteristics of the concepts learning, as it is for education to promote this type of learning .In this sense, theoretical contributions were sought in the Leontiev productions, an author of the Historical-Cultural Approach. Based on these studies was prepared an educational material to work with the teachers who spoke about the concepts formation and the meaning of their appropriation. Studies with teachers permited to understand that kind of mental operations must to perform the student and how it can outsource this reasoning to show their learning. The identification of these indicators of learning allows the teacher, in any area of knowledge, having more goals to assess their students.
KEY WORDS: Evaluation. Learning. Concept formation
INTRODUÇÃO
Embora a avaliação da aprendizagem seja um tema frequentemente
discutido em grupos de estudos, cursos de formação inicial e continuada,
seminários da área educacional, envolvendo professores, equipe pedagógica,
direção e profissionais das secretarias de educação, ainda é uma prática que
gera muita insegurança por parte dos professores.
Nas produções acadêmicas sobre a avaliação da aprendizagem afirmar-
se que ela é um importante instrumento no processo de ensino e
aprendizagem, que é de fundamental importância para o professor acompanhar
a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes, bem como, de que sua
prática não deve estar restrita a classificação e aprovação dos alunos para a
série subsequente. Nessa literatura defende-se a ideia de que a avaliação da
aprendizagem deve estar articulada ao processo de ensino e aprendizagem do
aluno, na medida em que o educador identifica o estágio de aprendizagem em
que se encontra o educando e tem elementos para redirecionar a prática de
ensino em sala de aula. É o que defende Luckesi:
[...] a avaliação não seria tão-somente um instrumento para aprovação ou reprovação dos alunos, mas sim um instrumento de diagnóstico de sua situação, tendo em vista a definição de encaminhamentos adequados para sua aprendizagem. Se um
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aluno está defasado não há que, pura e simplesmente, reprová-lo e mantê-lo nesta situação (LUCKESI, 1998, p. 81).
Reconhecemos que os resultados obtidos na avaliação devem ser
utilizados como instrumento que possibilite o professor acompanhar a
aprendizagem, possibilitando encaminhamentos adequados a aprendizagem
dos estudantes.
Na medida em que compreendemos que a avaliação serve de
instrumento para o professor repensar sua prática, contribuindo para uma
posterior mudança da ação docente, consideramos necessário que o professor
tenha conhecimentos acerca de como o aluno aprende.
Recorremos então, a alguns princípios da psicologia da aprendizagem e
do desenvolvimento, mais precisamente a Teoria Histórico-Cultural. Buscamos
nessa teoria subsídios teóricos que auxiliem o professor na compreensão de
como o aluno apropria-se dos conteúdos escolares, podendo desta forma, ter
mais elementos para identificar como o aluno pode expressar se aprendeu ou
não os conteúdos propostos. Para que desta forma, esses profissionais,
possam direcionar a sua prática pedagógica tendo em vista os conteúdos que
ainda precisam ser aprendidos pelos alunos.
Assim, nos debruçamos sobre a produção de autores dessa perspectiva
teórica, principalmente em obras de Leontiev, procurando analisar o que essa
teoria sobre a aprendizagem e desenvolvimento humano pode oferecer para o
avanço das discussões e práticas avaliativas.
Com base nesse estudo, elaboramos um material didático para ser
utilizado durante a implementação do projeto PDE3/2008. Essa implementação
foi realizada mediante um curso de formação continuada do qual participaram
professores e pedagogos do Colégio Estadual Juscelino K. de Oliveira, do
município de Maringá-PR. O curso intitulado “Avaliação da aprendizagem
conceitual”, foi desenvolvido mediante encontros quinzenais de 4 horas, em
horário extra-escolar, totalizando 32 horas.
3 O Programa de Desenvolvimento Educacional é uma política educacional de Formação Continuada dos professores da rede pública estadual. Propõe um conjunto de atividades organicamente articuladas, definidas a partir das necessidades da Educação Básica, e que busca no Ensino Superior a contribuição compatível com o nível de qualidade desejado para a educação pública no Estado do Paraná. Tem como objetivo, proporcionar aos professores da rede pública estadual subsídios teórico-metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, tendo em vista o redimensionamento de sua prática.
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Participaram desse grupo de estudo, 12 profissionais de diferentes áreas
do conhecimento, como pedagogos, professores de química, matemática,
inglês, português, história, educação física e das séries iniciais do Ensino
Fundamental.
Desenvolvimento
Para dar início as atividades de estudo realizadas na escola,
consideramos importante investigar como os professores concebiam a prática
avaliativa realizada em contexto escolar, quais as discussões mais presentes
acerca da avaliação, como o professor pode verificar se o aluno aprendeu ou
não o conteúdo ensinado. Para isso, elaboramos algumas questões e
solicitamos aos professores que respondessem. As respostas dadas pelos
participantes serviram como referência inicial para organização das discussões
e estudo.
Pudemos perceber, mediante essas respostas, que para os professores,
a avaliação é um importante instrumento no processo ensino e aprendizagem.
Pois, quando questionados sobre a importância dessa atividade, respondem:
“É o momento de o professor ter um retorno do aluno e ter noção do que foi aprendido para redirecionar sua prática”.
“É através dela que verificamos o grau de aprendizado do aluno, e até mesmo se ele entendeu o conteúdo. Ainda serve para refletir nosso plano de aula, a didática [...]”.
“É por meio de uma avaliação que podemos aferir, averiguar se a nossa prática tem alcançado os objetivos esperados e propostos”.
Com essas falas, os professores expressam a importância da avaliação
como um meio para verificar o que o aluno aprendeu, tendo em vista os
objetivos propostos no seu plano de ação docente, bem como, o que ainda
precisa ser ensinado.
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Nas respostas dadas pelos professores, são evidentes os pressupostos
das teorias que se opõem às práticas mais convencionais de avaliação. Eles
relatam que as discussões mais frequentes acerca da avaliação são: atribuir ou
não valores, coerência entre o que ensinou e o que avaliar, qual o momento
ideal de avaliar, como avaliar, avaliação diagnóstica, contínua, formativa,
processual. Desta forma, demonstram terem conhecimento das atuais
discussões presentes no meio acadêmico sobre a avaliação.
Questionados sobre como o aluno pode demonstrar que aprendeu um
conteúdo, afirmam que esse fato pode ser percebido nas seguintes ações do
aluno: na participação durante a aula, no cotidiano, na execução de tarefas, na
participação em discussões em debates; na resolução de questões solicitadas,
mesmo quando ele não chega ao resultado; na demonstração de interesse em
conhecer cada vez mais sobre o assunto e quando ele relaciona a questões
cotidianas, bem como com outros conteúdos.
Um aspecto a ser observado na resposta dos professores é que o
simples fato do aluno realizar a tarefa solicitada, acaba sendo considerado
como aprendizagem, sem uma análise mais específica da aprendizagem do
estudante.
Concordamos que a participação, o interesse e o envolvimento do aluno
com o conteúdo escolar são importantes elementos para a efetivação da
aprendizagem. Todavia, eles não evidenciam, em si, que houve apropriação do
conhecimento trabalhado. Além disso, afirmar que a avaliação deve ser
contínua, diagnóstica, formativa ou processual não explicita de maneira clara o
que o professor pretende avaliar, quais conteúdos são necessários o aluno
aprender, e ainda, como o aluno pode demonstrar que aprendeu.
Em síntese, comprovamos mediante a entrevista com os professores,
que a avaliação é considerada um importante elemento no processo de ensino
e aprendizagem, que é um tema amplamente discutido em contexto escolar e
que os teóricos que estudam a avaliação foram ouvidos pelos professores. A
análise dessas lacunas existentes nas discussões sobre a avaliação foi
realizada com o grupo de professores e pedagogos inscritos e com ela
iniciamos os estudos. Esclarecemos a eles os avanços educacionais relativos à
avaliação e traçamos uma meta de estudo e discussão.
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Consideramos que não basta dizer que a avaliação de aprendizagem
deve ser um instrumento se não temos claro o que é importante ensinar e
aprender e também como a criança se apropria dos conceitos. Somente
direcionando nosso olhar para essas questões é que poderemos ter a
avaliação como um instrumento do processo ensino e aprendizagem.
Desta forma, reafirmamos a importância de oferecer aos professores
subsídios teóricos que possibilite a eles compreender o que significa apreender
algo, tendo em vista que essa compreensão pode nos auxiliar na análise dos
resultados obtidos na avaliação escolar, certos de que na condição de
educadores precisamos desses subsídios para fundamentar nossa prática.
Com base no material didático elaborado para essa finalidade discutimos
nos encontros com os professores e pedagogos, alguns aspectos importantes
das teorizações elaboradas por Leontiev, estabelecendo a seguinte sequência:
os objetivos das investigações de Leontiev; trabalho e desenvolvimento
humano; objetivação, apropriação dos instrumentos físicos e simbólicos e
avaliação e formação de conceitos.
Passaremos a seguir a síntese do conteúdo estudado, utilizando a
mesma sequência acima citada.
Objetivos das investigações elaboradas por Leontiev
Aléxis N. Leontiev, A. R. Luria e Lev S. Vygostky faziam parte de um
grupo de jovens intelectuais da Rússia, pós-Revolução e que tinha como
objetivo investigar como ocorre o desenvolvimento e a natureza humana
pautando-se no materialismo dialético.
Pautados nos pressupostos do materialismo dialético esses teóricos
russos consideram o homem como sujeito ativo e entendem que nas interações
que ele estabelece com o meio e com outros homens desenvolvem-se suas
funções psicológicas superiores (memória, raciocínio, atenção voluntária,
imaginação, abstração) (VIEIRA, 2008).
De acordo com a Psicologia Histórico-Cultural, o desenvolvimento
psicológico humano está relacionado às relações que os homens mantêm com
o mundo exterior, ou seja, as características humanas não estão presentes no
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sujeito desde o seu nascimento; não são transmitidas por hereditariedade,
como também não são adquiridas passivamente pelos indivíduos. Nesta
perspectiva, o homem é um ser complexo e dinâmico, cujo modo de pensar e
de ser é formado pelas ralações estabelecidas com o meio. Neste sentido, o
desenvolvimento do indivíduo está intrinsecamente relacionado com o trabalho,
sendo que este influenciou a maneira de pensar, sentir e agir dos homens em
geral e de cada sujeito em particular.
Trabalho e desenvolvimento humano
Leontiev, pautado no materialismo histórico, toma como referência
principalmente a produção de Engels, para explicar o surgimento da
consciência humana. Engels ao analisar as primeiras formas de interação do
homem primitivo com a natureza demonstra que o trabalho está na base do
processo de hominização.
Toda riqueza provém do trabalho, asseguram os economistas. E assim o é na realidade: a natureza proporciona os materiais que o trabalho transforma em riqueza. Mas o trabalho é muito até afirmar que, sob determinado aspecto, o trabalho criou o próprio homem (ENGELS, 1984, p. 9).
Podemos perceber a relação direta entre a atividade laborativa e o
desenvolvimento da consciência quando nos remetemos há centenas de anos
e constatamos as transformações ocorridas com nossos antepassados,
evidenciadas nas modificações da própria estrutura anátoma-fisiológica do
homem, bem como nas alterações da estrutura do cérebro, nos órgãos dos
sentidos e as próprias modificações físicas (LEONTIEV, 1978).
Para esse autor, o trabalho foi o elemento principal no processo de
desenvolvimento humano, modificando as capacidades motoras e os órgãos
dos sentidos, sendo que essas modificações possibilitaram também mudanças
na estrutura de cérebro humano.
Leontiev confirma essa afirmação quando destaca que o cérebro humano
é quatro vezes mais pesado e que sua estrutura é bem mais complexa e
evoluída que o cérebro símio. O referido autor ainda destaca que as áreas
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corticais que foram se desenvolvendo em nossos antepassados atingem seu
pleno desenvolvimento no homem atual (LEONTIEV, 1978).
Os órgãos dos sentidos foram aperfeiçoados pelo trabalho, como a
capacidade olfativa que ficou bem mais acentuada ante a estimulação da
variedade de elementos oferecidos ao homem, assim como a audição que se
tornou mais sensível às diferenças e semelhanças entre os sons da linguagem
do homem (VIEIRA, 2008).
Também nas mãos dos homens podemos perceber as modificações que
foram ocorrendo o longo do tempo. À medida que nossos antepassados foram
transformando a natureza para o fabrico de instrumentos para a caça, pesca e
defesa própria, eles foram aperfeiçoando seus movimentos. Nesse processo de
criação foram necessários movimentos mais delicados e precisos, tanto para a
própria criação, como para a utilização desse instrumento e, dessa forma, a
mão foi adquirindo cada vez mais “[...] destreza e habilidade, qualidades que
iriam se transferir por hereditariedade e aumentar a cada geração” (ENGELS,
1984, p.11).
Ao utilizar os recursos disponíveis na natureza, criando novos
instrumentos para satisfazer suas necessidades, o homem também modifica
sua forma de pensar e agir, ou seja, o trabalho é responsável pelas
modificações físicas do homem que foram ocorrendo ao longo dos anos, como
também pelas modificações psíquicas. Leontiev fala sobre essas alterações:
As modificações anatômicas e fisiológicas devidas ao trabalho acarretaram necessariamente uma transformação global do organismo, dada a interdependência natural dos órgãos. Assim, o aparecimento e o desenvolvimento do trabalho modificaram a aparência física do homem bem como a sua organização anatômica e fisiológica (LEONTIEV, 1978, p. 73).
Leontiev ao investigar a relação entre o trabalho e o desenvolvimento da
consciência, observa que, ao nascer, o homem não se diferencia de seus
antepassados mais longínquos, ou seja, ele nasce, em todos os locais e
tempos, apenas com as funções psíquicas elementares, não herdando o nível
de desenvolvimento intelectual já alcançado por seus ascendentes. Diante
disso, esse autor procura compreender como, em apenas poucos anos, um
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sujeito pode alcançar o nível de desenvolvimento intelectual que a humanidade
levou milhares de anos para alcançar (VIEIRA, 2008).
Para o autor, no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade, os
homens criaram instrumentos físicos e simbólicos para satisfazer suas
necessidades. O uso e fabrico desses instrumentos contribuíram de forma
decisiva para o desenvolvimento humano, bem como esta criação é fator
imprescindível para que os homens adquiram as características humanas
próprias da sua espécie e que levaram milhões de anos para serem
construídas.
Objetivação e apropriação dos instrumentos físicos e símbólicos
No processo de desenvolvimento da humanidade os homens agem
sobre a natureza para garantir sua sobrevivência e satisfazer suas
necessidades básicas e, ao mesmo tempo, criam também outras
necessidades. De acordo com Duarte “Torna-se necessário conhecer mais a
natureza, desenvolver mais as habilidades necessárias à transformação de
objetos naturais em objetos sociais” (DUARTE, 2004, p, 49).
O homem, em determinado momento, utilizou-se dos elementos presentes
na natureza para garantir a sua alimentação através da caça e pesca.
Inicialmente utilizava, por exemplo, uma pedra para auxiliá-lo na caça de um
animal. Nesse processo, aos poucos, o homem substitui a pedra, e passa a
produzir esse instrumento com materiais que o substituem, como o ferro, o
barro, etc. Assim, durante o desenvolvimento da humanidade, os homens
foram criando instrumentos que o auxiliassem na pesca, na caça e na própria
defesa pessoal, denominados por Leontiev de instrumentos físicos.
Nesses instrumentos físicos criados pelos homens, estão presentes a
ideia, o pensamento e ação dos homens que os construíram - os instrumentos
simbólicos. Isso quer dizer que todos os instrumentos (material ou não
material) criados pelos homens, não representam apenas o objeto em si, mas
neles estão contidas as faculdades dos seres humanos “corporificadas” nesse
produto, o que por sua vez, carrega em si um significado socialmente
estabelecido.
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Os instrumentos físicos e os instrumentos simbólicos criados pelos
homens ao longo dos tempos são os portadores dos conhecimentos construídos
pela humanidade, estão disponíveis na cultura. As novas gerações, ao
apropriarem-se desses instrumentos, apropriam-se dos conhecimentos
construídos pela humanidade.
A apropriação dos instrumentos criados pelos homens ao longo dos
tempos é o grande diferencial da espécie humana, pois nenhuma outra espécie
é capaz de transmitir às gerações futuras a forma de uso desses instrumentos.
Outras espécies chegam a utilizar instrumentos para saciar a fome ou sede,
como por exemplo, o macaco que pode utilizar um graveto para alcançar uma
fruta e assim saciar sua fome. No entanto, o macaco não modificará esse objeto
adequando-o a sua finalidade. Como afirma Engels: “Nenhum macaco
conseguiu, por exemplo, construir um machado de pedra por mais rudimentar
que fosse” (ENGELS, 1984, p. 11). Retornando ao exemplo dado, esses
primatas repetem a mesma ação por gerações e gerações sem qualquer
modificação no objeto ou na maneira de utilizá-lo e assim, a sua forma de
interação com a natureza permanece a mesma por milhões de anos (VIEIRA,
2008).
Para Leontiev, diferentemente dos outros animais, o processo contínuo
de criação humana, passado de geração a geração, garante o desenvolvimento
da humanidade:
O indivíduo é colocado diante de uma imensidade de riquezas acumuladas ao longo dos séculos por inumeráveis gerações de homens, os únicos seres, no nosso planeta, que são criadores. Às gerações humanas morrem e sucedem-se, mas aquilo que criaram passa às gerações seguintes que multiplicam e aperfeiçoam pelo trabalho e pela luta as riquezas que lhes foram transmitidas e ‘passa o testemunho’ do desenvolvimento da humanidade (LEONTIEV, 1978, p. 267).
De acordo com esse autor, as características tipicamente humanas
desenvolvem-se durante a vida do indivíduo, mediante a interação do homem
com o meio cultural, ou seja, não são inerentes ao homem. Para esse autor, a
cultura constitui-se em uma herança social que cada novo membro da espécie
recebe, isto é, cada um “[...] herda uma forma de ser consubstanciada nos
instrumentos, na linguagem, nos costumes [...]” (SFORNI, 2004, p. 86).
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Nas palavras do próprio Leontiev:
Podemos dizer que cada indivíduo ‘aprende’ a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana (LEONTIEV, 1978, p. 267).
Assim, cada sujeito singular, ao apropriar-se dos instrumentos físicos e
simbólicos disponíveis na cultura, alcança o nível de desenvolvimento
intelectual já alcançado pelos seus antepassados, não sendo necessário que
cada geração inicie o processo de criação dos povos mais primitivos.
Mas, essa apropriação não ocorre espontaneamente. É necessário que
se desenvolvam relações práticas e verbais entre o sujeito e outras pessoas
que fazem parte do seu entorno.
Na cultura estão disponíveis os instrumentos físicos e os instrumentos
simbólicos criados pelos homens ao longo dos tempos e que são os portadores
dos conhecimentos construídos pela humanidade. Ao apropriarem-se desses
instrumentos, as gerações futuras, apropriam-se dos conhecimentos neles
presentes.
Na luta pela sobrevivência, os sujeitos criam instrumentos que passam
de geração a geração, dando continuidade ao desenvolvimento da
humanidade. Nos objetos culturais criados ao longo dos tempos está presente
a ideia, o pensamento e ação dos homens, está neste objeto um
“conhecimento materializado” que somente tem significado na relação entre os
homens.
Leontiev, seguindo a linguagem de Marx, denomina esse processo de
objetivação, processo em que a atividade física e mental dos seres humanos
transfere-se para os instrumentos físicos e para a linguagem, neles se
objetivando.
As palavras de Leontiev esclarecem com precisão o processo de
objetivação:
Qualquer objeto criado pelo homem – desde o mais simples utensílio à moderníssima máquina calculadora eletrônica – realiza tanto a experiência histórica do gênero humano como as capacidades intelectuais formadas nesta experiência. O
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mesmo pode comprovar-se com maior clareza na linguagem, na ciência, nas obras de arte (LEONTIEV, 2003, p. 64).
Em toda produção humana (a cultura material e não material) fica como
que em repouso a atividade que lhe deu origem. Ao se apropriar dessa cultura,
o sujeito torna sua a atividade intelectual que ali está objetivada. Processo esse
denominado de apropriação, sendo essa apropriação que garante o
desenvolvimento da sociedade humana na medida em que cada geração se
apropria das produções precedentes, num processo contínuo. Para Leontiev, a
apropriação é um processo:
[...] que tem como conseqüência a reprodução no indivíduo de qualidades, capacidades e características humanas de comportamento. Em outras palavras, é um processo por meio do qual se produz na criança o que nos animais se consegue mediante a ação da hereditariedade; a transmissão para o indivíduo das conquistas do desenvolvimento da espécie (LEONTIEV, 2003, p. 65).
Cada indivíduo, ao nascer, é colocado diante todas as riquezas
acumuladas ao longo dos séculos pelas gerações antecedentes. Para Leontiev:
Cada geração começa, portanto, a sua vida num mundo de objetos e de fenômenos criado pelas gerações precedentes. Ela apropria-se das riquezas deste mundo participando no trabalho, na produção e nas diversas formas de actividade social e desenvolvendo assim, as aptidões especificamente humanas que se cristalizaram, encarnaram nesse mundo (LEONTIEV, 1978, p. 266).
No decurso da história do desenvolvimento humano, os homens foram
construindo conhecimentos para atender às suas necessidades, compreender
os fenômenos da natureza e as relações humanas. Esses conhecimentos são
instrumentos que guardam em si o conhecimento construído e acumulado
historicamente pelos homens.
No processo de apropriação desses conhecimentos é atribuído um
importante papel à linguagem, já que ela carrega consigo os conceitos
generalizados que constituem a fonte do conhecimento humano. Para Leontiev:
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[...] o conteúdo da experiência histórica do homem, a experiência histórico-social, não está consolidada somente nas coisas materiais; está generalizada e reflete-se de forma verbal na linguagem. E precisamente nesta forma a criança acumula o conhecimento humano, os conceitos sobre o mundo que a rodeia (LEONTIEV, 2003, p.72-3).
Podemos dizer que uma palavra representa não somente os objetos em
si, não é apenas designação verbal, mas as palavras guardam em si as
significações abstraídas na atividade prática dos homens. Ao apropriar-se das
palavras, a criança apropria-se também da experiência humano-social,
possibilitando assim, a formação de “capacidades e funções especificamente
humanas, como as capacidades de falar e entender, as funções de ouvir e de
articular a linguagem falada” (LEONTIEV, 2003, p.65).
É por meio da linguagem que os indivíduos apropriam-se dos conceitos
e das formas de organização do real, ao apropriar-se da linguagem e dos
instrumentos físicos, apreende o que está disponível em sua cultura e dessa
forma se humaniza, pois, “para ser humano em particular, há que apropriar-se
da cultura dos homens, fazendo-a também sua” (PALANGANA, 1995, p. 23).
Podemos afirmar que a linguagem é instrumento do pensamento e
constitui a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Para Leontiev:
A aprendizagem da linguagem é a condição mais importante para o desenvolvimento mental, porque, naturalmente, o conteúdo da experiência histórica do homem, a experiência histórico-social, não está consolidada somente nas coisas materiais; está generalizada e reflete-se de forma verbal na linguagem. E precisamente nesta forma a criança acumula o conhecimento humano, os conceitos sobre o mundo que a rodeia (LEONTIEV, 2003, p.72-3).
Ao apropriarem-se da linguagem, os sujeitos apropriam-se da
experiência da humanidade, dos conhecimentos construídos ao longo do
tempo. Cabe a escola a função de garantir a apropriação desses
conhecimentos expressos nos conteúdos escolares das diferentes disciplinas,
por meio de um ensino sistematizado e organizado de tal forma que possibilite
ao aluno conhecer a realidade e dominar o saber e a cultura da humanidade.
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Para Leontiev a apropriação é sempre um processo ativo, por meio dela
são reproduzidas nos homens as capacidades desenvolvidas historicamente,
bem como é um processo mediatizado pelas relações entre os seres humanos.
Em relação ao caráter ativo desse processo pode-se dizer que a criança
apropria-se do ambiente cultural somente nas condições de um ser ativo, ou
seja, é necessário que ela exerça uma atividade efetiva em relação aos objetos
culturais pertencentes ao mundo. É preciso que o sujeito estabeleça com o
objeto uma relação adequada, mas não idêntica à que está cristalizada e
acumulada no objeto. “Assim, o indivíduo, a criança, não é apenas ‘colocada’
diante do mundo dos objectos humanos. Para viver, deve agir (activamente e)
adequadamente neste mundo” (LEONTIEV, 1978, p. 238).
Ao apropriar-se dos instrumentos, os sujeitos podem usá-los com
precisão, e isso implica na apropriação das operações motoras e mentais que
nele estão incorporadas, e ao mesmo tempo, é um processo de formação ativa
de “[...] aptidões novas, de funções superiores, ‘psicomotoras’, que ‘hominizam’
a sua esfera motriz” (LEONTIEV, 1978, p. 269).
Com base nos escritos de Leontiev, podemos afirmar que na
apropriação dos instrumentos simbólicos o processo é o mesmo. Podemos
citar o exemplo da linguagem, que nada mais é que o processo de apropriação
de palavras que são fixadas ao longo dos anos pela humanidade e têm a sua
significação em dada sociedade. Para Leontiev, o processo de apropriação é o
resultado de uma atividade efetiva do indivíduo, tanto em relação aos objetos,
como aos fenômenos do mundo circundante e que foram criados no
desenvolvimento da cultura humana (LEONTIEV, 1978).
No entanto, não é apenas o contato direto da criança com objetos e
fenômenos que permite a apropriação dos conceitos, pois essa apropriação
não ocorre espontaneamente:
Esta atividade não pode desenvolver-se na criança independentemente, mas desenvolve-se mediante as relações práticas e verbais que existem entre ela e as pessoas que a rodeiam, na atividade comum; quando o objetivo específico desta atividade é transmitir à criança determinadas noções, capacidades e hábitos, dizemos que a criança aprende e o adulto ensina (LEONTIEV, 2003, p. 68).
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Para que ocorra apropriação, é necessário que se desenvolva nesse
processo, uma relação com outros seres humanos, ou seja, a apropriação é
sempre um processo mediatizado pelas relações entre seres humanos.
(VIEIRA, 2008).
Leontiev afirma sobre o processo de apropriação:
As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente dadas aos homens nos fenómenos objetivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são aí apenas postas. Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, “os órgãos da sua individualidade”, a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenómenos do mundo circundante através doutros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a actividade adequada. Pela sua função, este processo é, portanto, um processo de educação (LEONTIEV, 1978, p. 272, grifos do autor).
Os sujeitos apropriam-se das aquisições históricas da humanidade
mediante a sua atividade, tanto com os objetos e fenômenos, como nas
relações que estabelece com outros sujeitos, sendo que nessas atividades
mediadas estão inseridas as condições para o desenvolvimento psíquico da
criança.
Isso quer dizer que a apropriação dos conhecimentos das diversas áreas
das ciências que foram construídos ao longo dos tempos pelos homens está
intimamente relacionada ao desenvolvimento psíquico dos indivíduos, ou seja,
a apropriação pelos sujeitos dos conhecimentos construídos pela humanidade
possibilita o seu desenvolvimento psíquico.
Avaliação da aprendizagem e a formação de conceitos
Os conhecimentos expressos nos conteúdos escolares das diferentes
disciplinas foram produzidos pelos homens para que pudessem compreender a
natureza e as próprias relações humanas, com vistas a atender certas
necessidades. São, portanto, instrumentos simbólicos ou mediadores culturais.
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Essa compreensão nos conduz a um entendimento desses conceitos e
que por sua vez, nos remete a uma compreensão do que seja a apropriação
desses conceitos.
À medida que concebemos os conceitos escolares como instrumentos,
reconhecemos que eles não têm uma finalidade em si, mas foram construídos
em uma atividade prática e intelectual para atender a uma necessidade.
Podemos então inferir que a apropriação desses conceitos implica não
somente na sua descrição, mas sabermos fazer uso deles, tanto na resolução
de problemas, como também, na explicação dos fenômenos presentes no
mundo objetivo. “O aluno demonstra a apropriação de um conceito quando faz
uso dele em diversas situações, quando por meio dele explica um fenômeno e
consegue resolver problemas” (VIEIRA, 2008, p.120).
As palavras de Leontiev possibilitam pensar em como verificar se o aluno
assimilou ou não os conceitos:
Quando dizemos, por exemplo, que a criança ‘assimila’ instrumentos, isto significa que começa a usá-los com precisão, que forma as correspondentes ações e operações motoras e mentais (LEONTIEV, 2003, p. 66).
Ao apropriar-se de um conceito, os sujeitos podem utilizar esse
conhecimento como instrumento do seu pensamento, ele toma esse
conhecimento para si, apropria-se de seu significado, usa esses conhecimentos
adequadamente, e esses conhecimentos passam a orientar automaticamente
sua ação.
Leontiev ilustra esse processo com o exemplo da assimilação do cálculo
da adição:
Com efeito, a criança aprende primeiro a adição como uma acção determinada, em que o meio, isto é, a operação, é a adjunção unidade por unidade. Depois tem de resolver problemas cujas condições exigem que se efectue a adição de grandezas (“para saber tal coisa, deve-se adicionar tais ou tais grandezas”). Neste caso, a acção mental da criança já não é a adição, mas a resolução do problema; a adição torna-se então uma operação e deve, portanto, tomar a forma de uma prática suficientemente elaborada e automatizada (LEONTIEV, 1978, p. 306).
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Os conceitos aprendidos, assimilados pelos alunos, assumem um caráter
diferenciado, tornando possível usá-los em situações diversas, realizar novas
tarefas e enfrentar novos desafios.
À medida que o professor compreende que o aluno pode expressar que
aprendeu um conceito quando o utiliza como instrumento do pensamento, ele
pode pensar em quais formas possibilitam de fato ao aluno exteriorizar conceito
aprendido. Assim, podemos verificar a apropriação de um conceito à medida
que o estudante utiliza o conhecimento aprendido para compreender os
fenômenos do mundo objetivo e na resolução de problemas tanto em ambiente
escolar, como além dele (VIEIRA, 2008).
O que se espera é que o aluno use os conceitos aprendidos orientando
automaticamente suas ações físicas e mentais. Por exemplo, ao se apropriar do
conteúdo de pontuação nas aulas de Língua Portuguesa, use adequadamente a
pontuação ao escrever diferentes textos; ao estudar hidrografia nas aulas de
Geografia, consiga elaborar mentalmente um roteiro de viagem com base nas
características hidrográficas de determinada região; ao ter acesso ao conceito
de cadeia alimentar, nas aulas de Ciências, possa compreender e analisar uma
reportagem de jornal que alerta sobre a superpopulação de certo animal em
determinado espaço.
Temos certeza que esses exemplos, longe de servirem como modelo
ideais de avaliação, permite um novo olhar para a realização da prática
avaliativa, pois à medida que o professor compreende que a designação verbal,
a descrição de fatos não implica necessariamente em apropriação de
conhecimentos e que o aluno pode expressar que aprendeu um conceito
quando o utiliza como instrumento do pensamento, ele pode pensar em quais
formas possibilitam de fato ao aluno exteriorizar conceito aprendido.
Para verificar em que medida o estudo realizado proporcionou aos
participantes uma nova maneira de pensar a avaliação da aprendizagem, em
pequenos grupos, professores de diferentes áreas do conhecimento, elegeram
uma disciplina, um conteúdo escolar específico de uma série e elaboraram uma
questão avaliativa que contemplasse a possibilidade de avaliar se os estudantes
passaram a utilizar um determinado conteúdo como instrumento simbólico na
sua relação com os fenômenos.
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Mediante os resultados dessa atividade realizada com os professores,
pudemos verificar que houve uma tentativa, por parte dos professores, de
colocar em prática as discussões teóricas realizadas no grupo de estudo.
Evidenciamos nessa atividade, sinais de que já há uma nova maneira de pensar
a avaliação da aprendizagem, mas também um caminho a percorrer para que
de fato, possamos estabelecer relação entre a apropriação de conceitos e
avaliação da aprendizagem. Certamente, não tínhamos a pretensão de esgotar
toda discussão, de modificar radicalmente a prática avaliativa dos envolvidos.
Sabemos que para romper com uma prática estabelecida é necessário muito
estudo, muita leitura, análise teórica e pratica. Reconhecemos que essa não é
uma tarefa fácil, mas temos convicção de que estamos no caminho certo.
Considerações finais
Consideramos que a nossa participação no PDE possibilitou um espaço
significativo para pensar a prática avaliativa, analisando os avanços até o
momento conseguidos, bem como a percepção do caminho a percorrer.
Na primeira etapa, na elaboração do projeto de implementação, o
momento foi de analisar o que fazemos em contexto escolar, os impasses que
frequentemente enfrentamos, os resultados positivos alcançados e
principalmente, vislumbramos o que ainda precisamos percorrer para a
realização de uma prática avaliativa que de fato verifique os conceitos
apropriados pelos alunos.
Reafirmamos a concepção que mediante a avaliação realizada com os
estudantes, analisamos não somente a aprendizagem dos alunos, mas também
nossa prática e desta forma, podemos pensar em novos caminhos, novos
encaminhamentos para que a aprendizagem ocorra.
O estudo sistematizado, os cursos, o respaldo teórico, o debate entre
colegas, as ricas discussões e as sugestões de leitura da orientadora
permitiram, certamente, um novo pensar sobre a avaliação da aprendizagem
dos alunos, e não somente sobre essa prática, mas de certa forma, em todos os
outros fatores que fazem parte dela. Podemos afirmar, sem dúvida, que o
resultado desse estudo foi individual, à medida que resultou em
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desenvolvimento pessoal, assim como coletivo, já que proporcionou subsídios
para uma prática mais consistente, repercutindo em contexto escolar.
Na etapa de implementação junto aos professores, novos desafios.
Adequar tempo e horário disponível possibilitando um maior número de
participantes no grupo de estudo. A vontade de acertar nos exemplos, no
encaminhamento, no referencial bibliográfico, tendo em vista os objetivos
propostos inicialmente. Enfim, toda insegurança gerada frente às novas
experiências, mas que proporcionou outro momento de aprendizado. O diálogo,
as opiniões contrárias, pontos de vista diferentes dos professores, as dúvidas
levantadas, as dificuldades muitas vezes declaradas dos participantes em
compreender as questões teóricas apontadas foram propícios para o
desenvolvimento do trabalho. A utilização do material pedagógico elaborado foi
um importante aliado nesse processo.
Consideramos que a implementação contribuiu para reafirmar a
necessidade de estudo, de reflexão e um novo olhar acerca da prática avaliativa
tendo como norte a concepção de que a avaliação implica em avaliar conteúdos
ensinados, objetivos propostos e alcançados (VIEIRA, 2008). Desta forma, a
avaliação da aprendizagem é uma atividade que permite acompanhar a
aprendizagem do aluno e para isso, é necessário estabelecer relações entre a
aprendizagem de conceitos e avaliação, redirecionando o foco da atenção para
o conteúdo da avaliação. Pensar a avaliação além do acerto e do erro do aluno
frente ao exigido pelo professor, analisar como o aluno está utilizando do
conceito apropriado, em que mediada o aluno consegue utilizar esse conceito
para analisar situações cotidianas e resolver problemas, bem como explicar os
fenômenos da natureza.
Essa forma de pensar a avaliação da aprendizagem é uma contribuição
importante para essa prática, mais do que isso, nos obriga também a pensar
em todo o processo ensino aprendizagem e nas possibilidades de organizar o
ensino, superando a metodologia baseada em definições ou descrições de
fatos, sem, no entanto, abandonar o conteúdo científico. É fundamental que os
conceitos sejam compreendidos pelos estudantes, como criação humana,
como instrumentos e dessa forma, podem ser utilizado para facilitar a vida dos
sujeitos ao ampliar as significações com as quais interagem com os objetos e
fenômenos da realidade.
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REFERÊNCIAS
DUARTE. Newton. Formação do indivíduo, consciência e alienação: o ser humano na psicologia de A.N. Leontiev. Caderno Cedes, V. 24, nº 62. Campinas. 2004.
ENGELS. Friedrich. Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem. 2. ed, São Paulo: Global Editora, 1984.
LEONTIEV, Aléxis. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Editora Livros Horizontes, 1978.
LEONTIEV, Aléxis. Os princípios do desenvolvimento mental e o problema do atraso mental. In: LURIA, A. R. at al.. Psicologia e Pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Tradução: Rubens Eduardo Frias. São Paulo, Centauro Editora, 2003.
LUCKESI, Cipriano Carlos, Avaliação da aprendizagem escolar. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
PALANGANA. Isilda Campaner. A função da linguagem na formação da consciência: reflexões. Caderno Cedes, São Paulo, n.35,1995.
SFORNI, Marta Sueli de Faria. Aprendizagem conceitual e organização do ensino: contribuições da teoria da atividade. Araraquara: JM Editora, 2004.
VIEIRA. Vanize Aparecida Misael de Andrade. Avaliação da aprendizagem conceitual: concepções, práticas e perspectivas. Dissertação de Mestrado: Universidade Estadual de Maringá, 2008.
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