BOLETIM EpidemiológicoLeishmaniose Visceral em Divinópolis
no período de 2010 a 2018
Secretaria Municipal de SaúdeVigilância em Saúde
Prefeitura de
Divinópolis
INFORMAÇÕES DISQUE:
37 3229-6870/6874
Introdução
A Leishmaniose visceral (LV) é uma grave enfermidade que pode
atingir o ser humano, inclusive levando-o a morte na maioria dos casos
não tratados1. Está presente em 21 dos 27 Estados do Brasil, e o processo
de urbanização desta parasitose se tornou um desafio para Saúde
Pública2. Casos de Leishmaniose visceral canina (LVC) estão fortemente
ligados à ocorrência de Leishmaniose visceral humana (LVH) em áreas
urbanas, pois é sabido que o cão doméstico é reservatório da Leishmania
infantum (parasito causador dessa enfermidade) e que casos caninos
precedem casos humanos em áreas endêmicas3.
O município de Divinópolis, região Centro Oeste de Minas Gerais,
é considerado endêmico para LV. Desde 2007 já foram confirmados 24
casos de LVH com três evoluções a óbito. No ano de 2018 foram
confirmados casos de LVH nos bairros São Judas Tadeu e Porto Velho,
localizados respectivamente nas regiões Sudoeste e Central do
município4.
Estudos realizados anteriormente em Divinópolis mostraram a
presença de Lutzomyia longipalpis, inseto vetor do agente causador da
leishmaniose, e ocorrência de casos de LVC5.
Tendo em vista a gravidade da LV e a importância do cão como
reservatório do parasito, algumas ações são realizadas de forma contínua
pela Secretaria Municipal de Saúde através do setor de Vigilância em
Saúde Ambiental e do Centro de Referência em Vigilância e Saúde
Ambiental (CREVISA) de Divinópolis:
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� Realização de testes de diagnóstico de LVC em cães
direcionados ao CREVISA pela população.
� Realização de testes de diagnóstico de LVC em cães errantes
(cães de rua) suspeitos (trabalho realizado pela equipe do
CREVISA).
� Realização de testes de diagnóstico de LVC em cães
domiciliados mediante demanda da população (trabalho
realizado pelas equipes do CREVISA e de Leishmaniose da
Secretaria Municipal de Saúde).
� Inquérito censitário canino próximo ao local onde for
confirmado caso humano de leishmaniose (trabalho
realizado pela Equipe de Leishmaniose da Secretaria
Municipal de Saúde).
� Inquérito amostral canino em todas as regiões sanitárias
com finalidade de mapear os casos caninos de LV (trabalho
realizado pela Equipe de Leishmaniose da Secretaria
Municipal de Saúde).
Objetivo
Avaliar a frequência de LVC em cães encaminhados e atendidos no
CREVISA, com suspeita dessa enfermidade, baseado no diagnóstico
imunológico preconizado pelo Ministério da Saúde (MS), no período de
2010 a 2018.
Metodologia e Fonte de dados
Conforme a metodologia proposta pelo Manual de Vigilância e
Controle da Leishmaniose Visceral (MS), os cães são avaliados por dois
testes de imunológicos para o diagnóstico de LVC, sendo considerados
reagentes para a enfermidade aquele com resultado reagente pelos dois
testes. As amostras de sangue do cão são colhidas pela Equipe de
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Leishmaniose e profissionais do CREVISA, e os testes são realizados no
Laboratório de Parasitologia da Universidade Federal de São João del-
Rei/CCO com kits produzidos e fornecidos pela Bio-
Manguinhos/FIOCRUZ, via Fundação Ezequiel Dias (FUNED BH), devido a
parceria estabelecida em 2010 e que encontra-se em andamento.
No período de 2010 a 2012, utilizando amostras de eluato de
sangue de cães em papel filtro, o protocolo estabelecido para o
diagnóstico considerava o ensaio imunoenzimático (ELISA) para a
triagem, e reação de imunofluorescência indireta (RIFI) para confirmação.
A partir de 2013 o protocolo foi alterado pelo MS6, com a inclusão do
teste de imunocromatografia rápida TR-DPP® (para triagem) e a
substituição da RIFI pelo ELISA como teste para confirmação.
Os kits para diagnóstico (TR-DPP®) são cedidos pela Secretaria do
Estado de Saúde, via Regional de Saúde (GRS) e realizados pela Equipe de
Leishmaniose e profissionais do CREVISA no local de trabalho. Dos cães
sororreagentes pelo teste TR-DPP®, amostras de sangue são coletadas
para a realização do teste ELISA realizado no Laboratório de Parasitologia
da Universidade Federal de São João del-Rei/CCO, com kits produzidos e
fornecidos pela Bio-Manguinhos/FIOCRUZ, via Fundação Ezequiel Dias
(FUNED BH).
Resultados e Discussão
Entre os anos 2010 e 2018 foram avaliados para o diagnóstico de
LVC 11.976 cães, dos quais 1.846 (15,4%) foram reagentes para LVC por
dois testes de diagnóstico imunológico (Tabela 1)7. Dos cães com LVC
1.541 (83,5%) foram eutanasiados conforme recomendações do Manual
de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral do MS8. Existe intensa
discussão sobre o real impacto da eliminação de cães soropositivos para
LV e a ocorrência de casos de LVH, mas estudos epidemiológicos em
centros urbanos concluíram que a LVC precede os casos humanos.
No ano de 2010, foram analisados no Laboratório de Parasitologia
da UFSJ/CCO, 2.637 cães pela metodologia vigente na época, teste ELISA
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como triagem e teste RIFI como confirmatório; dos quais 215 que
correspondem a 8,2 % encontravam-se reagentes para a LVC8. Em 2011,
foram analisados 1.129 cães, 86 foram reagentes por RIFI, confirmando
uma frequência de 7,6% de cães com sorologia reativa para LVC9.
Em 2012, das 3.510 amostras, 132 foram reagentes para os dois
testes, resultando em 3,8% de frequência de LVC nos cães10. Entre os anos
2010 e 2011 não observou-se diferença estatisticamente significativa
entre as frequências de cães diagnosticados com LVC. Mas foi constatada
uma diminuição na frequência de LVC na cidade entre os anos 2011 e
2012 (p<0,01).
Em 2013 ocorreu a alteração do protocolo de diagnóstico
imunológico recomendado pelo MS6, foram realizados 760 testes TR-DPP®,
sendo 422 (55,5%) reagentes para LVC e destes, 287 (37,8%) foram
confirmados pelo teste ELISA11.No ano seguinte (2014), das 745 amostras
testadas pelo TR-DPP®, 463 (62,1%) foram reagentes para LVC e destas,
369 (49,5%) foram confirmadas pelo teste ELISA. Foi constatado um
aumento significativo na frequência de LVC nos cães suspeitos avaliados
entre os anos 2013 (37,8%) e 2014 (49,5%) (p<0,0001)11.
Em 2015 foram realizados 763 testes TR-DPP®, sendo 334 (43,7%)
reagentes para LVC e destes, 240 (31,4%) foram confirmados pelo ELISA.
No ano de 2016, não houve fornecimento de kits para diagnóstico
sorológico pelo MS, portanto não foram realizados testes para LVC no
município. Em 2017, foram examinadas 1.232 amostras pelo TR-DPP®,
sendo 369 (29,9%) reagentes para LVC e destas, 209 (16,9%) foram
confirmadas pelo teste ELISA. Foi constatada redução significativa na
frequência de LVC nos cães suspeitos encaminhados ao CREVISA, entre
os anos 2015 (31,4%) e 2017 (16,9%) (p<0,0001)12.
No ano de 2018 foram avaliados 1.200 cães pelo TR-DPP®, dos
quais 410 (34,2%) reagentes para LVC, e 308 (25,7%) foram confirmados
pelo ELISA. Foi constatado aumento significativo na frequência de LVC
entre os anos de 2017 (16,9%) e 2018 (25,7%) nos cães avaliados pelo
CREVISA (p<0,0000001)7.
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Não houve uma diminuição significativa dos casos de LVC entre os
cães avaliados pela Vigilância em Saúde Ambiental no período de 2010 a
2018 em Divinópolis.
Estudo mostra que a ocorrência de casos caninos e humanos em
Divinópolis se dá em maior quantidade em áreas que apresentam
características semelhantes, como regiões próximas aos efluentes, áreas
de alta vulnerabilidade social e de infraestrutura escassa, com alto
número de cães errantes e cães domiciliados vivendo em casas com
quintais favoráveis ao desenvolvimento do inseto vetor13.
A presença de cães infectados tem sido frequentemente apontada
como um fator de risco para a infecção humana nas áreas urbanas3.
Tabela 1 – Cães avaliados pelo CREVISA em parceria com o Laboratório de
Parasitologia da UFSJ/CCO, no período de 2010 a 2018.
Ano Cães avaliados Cães com LVC Frequência
2010 2.637 215 8,2%
2011 1.129 86 7,6%
2012 3.510 132 3,8%
2013 787 287 36,5%
2014 745 369 49,5%
2015 763 240 31,4%
2016 0 0 0
2017 1.232 209 16,9%
2018 1.200 308 25,7%
Total 11.976 1.846 15,4%
Conclusões
As medidas de controle da LVC propostas pelos serviços de
vigilância e programas de saúde pública ainda são deficientes, pois, não
foram capazes de conter o aumento dos casos e nem a distribuição
geográfica da LV, favorecendo sua urbanização.
O município de Divinópolis como área de transmissão moderada de
LV, desenvolve medidas de prevenção e controle da doença. Medidas de
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educação em saúde e manejo ambiental estão sendo implementadas na
rotina de trabalho dos agentes de controle de endemias do município
para que a população seja esclarecida sobre as formas de combate e
controle da Leishmaniose Visceral. O controle populacional canino está
sendo realizado pelo CREVISA como medida de redução dos casos de LVC.
Para que seja possível adotar medidas de controle adequadas e
direcionadas a cada região de saúde do município de Divinópolis, um
inquérito amostral canino está em andamento desde janeiro de 2018.
Quando estiver concluído, ações de controle serão implementadas e
realizadas da forma mais efetiva e de maneira individual em consonância
com a realidade de cada setor de saúde avaliado, com objetivo de atuar
na redução dos casos humanos e caninos.
Referências bibliográficas
1 Ministério da Saúde. Manual de Leishmaniose Visceral , 2014. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_leish_visceral2006.pdf> Acesso em: 17 de novembro de 2018.
2 Carvalho, JKMR. Leishmaniose visceral canina: aspectos clínicos e de diagnóstico. (Tese de mestrado em Ciência Animal) – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2009.
3 Araújo, VEM; Pinheiro, LC; Almeida, MCM; Menezes, FC; Morais, MHF; Reis, IA; Assunção, RM; Carneiro, M. Relative risk of visceral leishmaniasis in Brazil: a spatial analysis in urban área. Plos Neglected Tropical Diseases, v. 7, p. 1-9, 2013.
4 SEMUSA – Secretaria Municipal de Saúde de Divinópolis, Minas Gerais. Boletim Epidemiológico, Leishmaniose Visceral Humana, 2018.
5 Nascimento, BW. Study of Sand Flies (Diptera: Psychodidade) in Visceral and Cutaneos Leishmaniasis areas in central western of Minas Gerais State – Brazil. In: Acta Tropica. v. 125. Issue 3, March 2013. p. 262 – 268.
6 FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Tecnologia em imunobiológicos – Bio-Manguinhos. TR DPP® Leishmaniose Visceral Canina. Manual de instrução de u s o , 2012.
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7 Laboratório de Parasitologia da UFSJ/CCO. Resultados de Testes Diagnóstico s LVC,2018.
8 SEMUSA – Secretaria Municipal de Saúde de Divinópolis, Minas Gerais. Boletim CREVISA, Leishmaniose Visceral Canina , 2018.
9 Manhani, MN; Nascimento, RA; Prado, TS; Vieira, GL; Gomes, AA; Fontes, G; Silva, ES. Leishmaniose visceral canina no município de Divinópolis - MG. In: XXII Congresso Brasileiro de Parasitologia, 2011, São Paulo-SP.
10 Oliveira, M; Fontes, G; Manhani, MN; Faria, MT; Teixeira-NetO, RG; Silva, ES. Leishmaniose Visceral Canina No Município de Divinópolis, MG no ano de 2012. In: XXIII Congresso Brasileiro de Parasitologia e III Encontro de Parasitologia do MERCOSUL, 2013, Florianópolis.
11 Gama de Melo, MO; Borges, AM; Barbosa, JR; Fontes, G. Leishmaniose visceral canina no município de Divinópolis, MG nos anos de 2013 e 2014. In: Anais do XXIV Congresso da Sociedade Brasileira de Parasitologia (XXIV CBP) e do XXIII Congresso Latino americano de Parasitologia –CLP/FLAP, Salvador, Bahia, Brasil. p. 790, 2015.
12 Gama de Melo, MO; Borges, AM; Soares, JO; Barbosa, JR; Fontes, G. Leishmaniose visceral canina no município de Divinópolis, Minas Gerais nos anos de 2015 e 2017 . In: Anais do 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop 2018), Recife, Pernambuco, Brasil.
13 Teixeira-Neto, RG; Silva, ES; Nascimento, RA; Belo, VS; Oliveira, C; Pinheiro, L; Gontijo, CM. Canine visceral leishmaniasis in an urban setting of Southeastern Brazil: an ecological study involving spatial analysis. Parasites & Vectors , v. 7, p. 485, 2014.
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Projeto Gráfico
Autora
Hamilton Costa - Equipe de Educação
Marcella Oliveira Gama de Melo
Diretora da Vigilância em Saúde
Janice de Oliveira Soares
Secretário Municipal de Saúde
Amarildo Sousa
FICHA TÉCNICA
Secretaria Municipal de Saúde de DivinópolisRua Minas Gerais, 55 CEP: 35.500-007 Fone: (37) 3229-6800